unidos contra o - agência ecclesia · 06 - foto da semana 07 - citações 08 - nacional 14 -...

41

Upload: others

Post on 08-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana
Page 2: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: José Luis Gonçalves22 - Opinião: LOC/MTC24 - Semana de.. José Carlos Patrício26 - Dossier A luz da Ressurreição

28 - Entrevista António Pinho Vargas58 - Multimédia60 - Estante62 - Concílio Vaticano II64 - Agenda66 - Por estes dias68 - Programação Religiosa69 - Minuto Positivo70 - Liturgia72 - Jubileu da Misericórdia76 - Fundação AIS78 - LusoFonias

Foto da capa: Santo Sepulcro, Jerusalém.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

2

Opinião

Unidos contra oterror[ver+]

Novo bispoauxiliar no Porto[ver+]

Celebrar aRessurreição[ver+]

António Rego | Eugénio FonsecaJoana Carneiro | José LuisGonçalvesLOC/MTC | Manuel Barbosa | PauloAido | Tony Neves | FernandoCassola Marques | Octávio Carmo

3

Page 3: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A última fronteira

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

Ano após ano, a Igreja Católica celebra aPáscoa, uma festa que ainda não foicompletamente engolida pelos interessescomerciais e que mantém vivas celebraçõesreligiosas marcantes, por muitas ruas do país,que evocam momentos fundamentais dojulgamento, morte e ressurreição de Jesus. E énesta última que se coloca a fronteira, aquelaque separa definitivamente os cristãos dos não-cristãos: acreditar na ressurreição. ARessurreição de Jesus - não a morte definitiva, areincarnação ou reanimação de um cadáver - ede cada um.Como o Papa Francisco já recordou, todo oEvangelho foi escrito à luz desta fé: Jesusressuscitou, venceu a morte. O mesmo Papa jáse mostrou preocupado com a diminuição da féna vida eterna entre os católicos, o que à partidadeveria ser um contrassenso: não há fé cristãsem Ressurreição e é desta convicçãofundamental que brota tudo o que pode,verdadeiramente, fazer a diferença na vida decada um. É a palavra de alegria que cadacatólica tem para oferecer, com um novo sentidopara a vida.É verdade que exige ir contra a corrente, namaior parte dos casos, e implica projetar nopresente uma mudança existencial que pareceinconcebível, tão embrenhados que estamos naefemeridade. Eterna, porventura, parece apenasa verdade humana, não a vida, e é por isso quea mensagem pascal é tão decisiva para cadapessoa.O Papa emérito Bento XVI na sua obra «Jesus deNazaré», considerava que a Ressurreição era

4

o elemento decisivo para decidir se?a fé cristã fica de pé ou cai?. Sema nova vida de Cristo, essa féestaria morta e a própria figura deJesus seria um falhanço.Esta nova possibilidade daexistência humana interessa todos,unidos pelo destino comum donascer, viver e morrer. Espanta, porisso, que o

anúncio cristão se esqueça tantasvezes desta verdade fundamentalda sua fé, embrenhado noutrosdebates e questiúnculas. ARessurreição é um salto ontológicoe a palavra definitiva de Deus sobrea morte. Que a Páscoa seja ocasiãopara voltar a falar do que importa,realmente.

5

Page 4: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Um abraço entre a França e a Bélgica, por Plantu. Pelo fim destes

dias!

6

“O Mistério que veneramos nestaSemana Santa é uma grande históriade amor que não conhece obstáculos”(Papa Francisco) "Tenho um sentimento de culpa,vivíamos o futebol 24 horas por dia,não víamos crescer os filhos. Não ouvio meu filho dizer pai pela primeira vez,não vi o meu filho aprender a andar debicicleta, não o abraçava todos os dias,passavam-se meses que não oabraçava e ele agora não está cá. Aculpa é do futebol, há um certodivórcio… o futebol saiu-me caro”(Quinito, antigo treinador de futebol) “O que nos une é a luta pelademocracia, liberdade e direitoshumanos. É nos momentos crucias decrise aguda que sentimento anecessidade de reafirmar essesvalores” (Marcelo Rebelo de Sousa,presidente da República) ¿Que bolá Cuba? (Barack Obama, notwitter, ao chegar a Cuba: "Como estás,Cuba?")

7

Page 5: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Novo bispo auxiliar quer ajudar narenovação da Diocese do Porto

A Sé do Porto acolheu a 19 demarço a ordenação episcopal de D.António Augusto Azevedo, que oPapa Francisco nomeou comoauxiliar desta diocese. Emdeclarações aos jornalistaso novobispo salientou a intenção de serum “colaborador próximo” de D.António Francisco dos Santos e de“contribuir” com “fidelidade plena”,com “alegria” e “entrega” para a“renovação” de “uma diocese degrande dimensão” e “importantepara o país”.O até agora reitor do SeminárioMaior da Diocese do Portosublinhou

a vontade de “levar a alegria doEvangelho às pessoas”, na“continuação do espírito dosapóstolos” e daquilo que o “PapaFrancisco tem ensinado”.D. António Augusto Azevedo querprivilegiar o “acolhimento” comoforma de “ir ao encontro daspessoas” e revela ter já “umaagenda carregada”. “Há muito quetrabalhar, com o espirito do Papa,pelo espirito de proximidade portodos”, frisou o novo bispo auxiliardo Porto, que vai continuar durantealgum tempo a acompanhar asnovas vocações que

8

estão a surgir na região, não só naDiocese do Porto mas também dedioceses vizinhas, como Vila Real eCoimbra.Sobre o futuro do clero no território,D. António Augusto Azevedo revelater “muita esperança” nos novossacerdotes, perspetivando “bonspastores, dedicados ao serviço dascomunidades”.“É uma geração de jovens muitodisponíveis, muito generosos,também muito corajosos, pois avocação sacerdotal hoje exige umagrande coragem. Terão também,como todas as gerações, as suasfragilidades, mas

dessas também tentaremos cuidar eestar atentos, para que sejam fiéis eservidores dedicados”, apontou oprelado.D. António Augusto Azevedo, de 53anos, é natural do Concelho daMaia e sacerdote na região do Portohá cerca de 30 anos.Para D. António Francisco dosSantos, que presidiu à ordenaçãoepiscopal na Sé do Porto, o facto deo novo bispo auxiliar ser da casa e“conhecer bem a diocese” poderáser fundamental para odesenvolvimento de uma IgrejaCatólica local atualmente "empercurso sinodal", de revitalização.

A Igreja do Porto congratula-se contigo, D. António Augusto, e com a tuafamília, na celebração festiva da nossa alegria de hoje, como amanhã esempre o queremos fazer no trabalho pastoral, que agora se inicia. Dougraças a Deus pela tua disponibilidade pronta, pela tua serenidade confiantee pela tua entrega generosa.

(Homilia de D. António Francisco dos Santos)

9

Page 6: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Braga, capital da Semana SantaA Semana Santa da Arquidiocese deBraga privilegia a força das imagense da encenação bíblica, nascelebrações, procissões eexposições que compõem oprograma, para ajudar as pessoas aentrarem no espirito deste tempopascal. Em entrevista à AgênciaECCLESIA, o cónego Luís MiguelRodrigues, presidente da Comissãoda Semana Santa, destaca “uma féque gera cultura, que se faz cultura”através de vários momentos e aolongo dos próximos dias.“Quem passa por Braga nestes diaspercebe um ambiente diferente,propedêutico à proposta de umatranscendência que só Deus podedar”, frisa o sacerdote.No programa da arquidioceseminhota para este tempo litúrgicopontificam as procissões, como a“chamada procissão da Burrinha”que sai à na Quarta-feira Santa.Uma tradição que tinha na suagénese salientar “as dores deNossa Senhora” e em que “aimagem ia em cima de umaburrinha, recordando o tempo emque Maria e a Sagrada Famíliafugiram para o Egito”, explica ocónego Luís Miguel Rodrigues.A Semana Santa de Braga tem

uma história de vários séculos e asua configuração atual continua ummodelo que vem pelo menos doséculo XVI. Em 2011 foi declaradacomo um projeto de interesse para oTurismo e dois anos depois foidistinguida com a Medalha Municipalde Mérito - Grau Ouro.Iniciativas como a já referidaProcissão da Burrinha mas tambéma Procissão do Ecce Homo ou“Senhor da Cana Verde”, na Quinta-feira Santa, e do cortejo do “Enterrodo Senhor” na Sexta-feira Santa,“congregam milhares de pessoas,100 mil, 120 mil, com a maior dasfacilidades”, realça o cónego LuísMiguel Rodrigues.Além de apontar para a vivênciaespiritual das comunidades locais, aSemana Santa de Braga procuratambém “integrar” todos quantosvisitam a região nesta altura.

10

Grupo Gólgotarecria últimos passos de CristoHá 25 anos que o grupo Gólgota,um conjunto de leigos ligados aosMissionários Passionistas,representa em Santa Maria da Feira(Distrito de Aveiro, Diocese doPorto) os últimos passos da vida deCristo. Em entrevista à AgênciaECCLESIA, o padre César Costa,coordenador deste projeto social,cultural e de evangelização,sublinha o objetivo de passar àspessoas um “evangelho palpável” e“feito realidade” através doempenho, da “garra” e do “rigorhistórico” posto em cadarepresentação.O grupo Gólgota iniciou as suasatividades a 29 de março de 1991,com uma representação ao vivo daVia-Sacra, dos passos de Cristorumo ao Calvário onde depois écrucificado e morto. Para o padreCésar Costa, a vivência da SemanaSanta, e a recriação dos últimosdias da vida de Jesus, é um conviteàs pessoas para “se abeirarem” deacontecimentos que podem parecer“horrendos aos olhos do mundo”,mas que à luz da fé têm um valoreminentemente “salvífico”.No seu programa para a SemanaSanta, o grupo Gólgota já recriouno

último Domingo de Ramos a“entrada triunfal de Jesus emJerusalém”, na igreja Matriz dosPassionistas.Esta quarta-feira, foi a vez deapresentar uma encenação da“Última Ceia”, pelas 21h30, noexterior do Museu Convento dosLóios.Um dos quadros mais fortes destesdias é o da “Crucifixão” que,segundo Maria do Carmo Soares,“mais do que uma representação éuma vivência” e “uma lição de vida”,a partir do “sofrimento”. Às vezesperdemo-nos em coisas tãopequenas, e zangamo-nos comtantas menoridades, que quandochegamos ali isso tudo deixa de terimportância, é uma prova de amorque nos ajuda a levar o nosso dia-a-dia”, conclui a leiga passionista, quedesempenha o papel de Maria.

11

Page 7: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

12

Cáritas Portuguesa solidária com a Bélgica

Reação de D. Manuel Clemente aos atentados de Bruxelas

13

Page 8: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Resposta unânimecontra o horror em Bruxelas

O Papa Francisco recordou noVaticano as vítimas dos atentadosterroristas de terça-feira na capitalda Bélgica e defendeu anecessidade de uma “condenaçãounânime” destes atos de “horror”.“Dirijo novamente um apelo a todasas pessoas de boa vontade, paraque se unam numa condenaçãounânime destas cruéis abominaçõesque estão apenas a causar morte,terror e horror”, disse, perantemilhares de pessoas reunidas naPraça de São Pedro para aaudiência pública semanal.

Bruxelas foi atingida esta terça-feirapor três explosões, duas noaeroporto internacional deZaventem e outra no metro, queprovocaram a morte de pelo menos34 pessoas e feriram mais de 200.“Peço a todos que perseverem naoração, pedindo ao Senhor nestaSemana Santa que conforte oscorações aflitos e que converta ocoração destas pessoas cegas pelofundamentalismo cruel”, referiu oPapa Francisco.Os atentados foram reivindicados

14

pelo grupo extremista EstadoIslâmico.“Com o coração entristecido, seguias tristes notícias dos atentadosterroristas que aconteceram ontem[terça-feira] em Bruxelas, quecausaram numerosas vítimasmortais e feridos”, começou pordizer o Papa.Francisco manifestou a sua “oraçãoe proximidade” à “queridapopulação belga”, a todos osfamiliares das vítimas e a todos osferidos.O pontífice argentino pediu depoisaos presentes que se unissem a sina recitação de uma Avé-Maria,antes de propor um momento deoração em silêncio.

“Rezemos pelos mortos, pelosferidos, pelos familiares e por todo opovo belga”, apelou.Já na terça-feira, Francisco tinhacondenado a “violência cega” dosatentados, num telegrama enviadoao arcebispo da capital belga.“O Santo Padre condena de novo aviolência cega que gera tantosofrimento e, implorando a Deus odom da paz, invoca sobre asfamílias provadas e sobre os belgasos bens das bênçãos divinas”,refere a mensagem divulgada pelasala de imprensa da Santa Sé.

15

Page 9: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Introdução ao Tríduo Pascal,pelo Papa FranciscoO Papa Francisco apresentou noVaticano uma reflexão sobre oTríduo Pascal, itinerário celebrativoque leva da Quinta-feira Santa àPáscoa, que considerou como o“coração do ano litúrgico” na IgrejaCatólica. “O Tríduo Pascal é omemorial de um drama de amor quenos dá a certeza de que nuncaseremos abandonados nasprovações da vida”, declarou,perante milhares de pessoasreunidas na Praça de São Pedropara a audiência pública semanal.“O Mistério que veneramos nestaSemana Santa é uma grandehistória de amor que não conheceobstáculos”, acrescentou.A Igreja Católica começa estaquinta-feira a celebrar os dias maisimportantes do seu calendáriolitúrgico, que assinalam osmomentos do julgamento, morte eressurreição de Jesus, culminandona Páscoa.“Na Quinta-feira Santa, com ainstituição da Eucaristia e o lava-pés, Jesus ensina-nos que aEucaristia é o amor que se fazserviço”, explicou o Papa. SegundoFrancisco, a Eucaristia é “apresença sublime de Cristo” quedeseja alimentar todos, “sobretudo

os mais fracos”, promovendo uma“comunhão de vida” com osnecessitados.Este conjunto de celebrações doTríduo Pascal remontam ao séculoIV, seguindo as indicações deixadaspelos Evangelhos sobre a Paixão deJesus Cristo, que para o Papa “duraaté o fim do mundo, porque é umahistória de partilha com ossofrimentos de toda humanidade”.“Na Sexta-feira Santa chegamos aomomento culminante do amor, umamor que quer abraçar todos semexcluir ninguém, com uma entregaabsoluta”, afirmou.O Sábado Santo, tal como a sexta-feira, é um dia dito ‘alitúrgico’, isto é,sem celebração da Eucaristia ou deoutros sacramentos, o “dia dosilêncio de Deus”, referiu o Papa.

16

Via Sacra do Coliseuvai evocar cristãos perseguidosO Papa Francisco escolheu ocardeal Gualtiero Bassetti, dadiocese italiana de Perugia, paracriar as reflexões da tradicional ViaSacra do Coliseu de Roma, naSexta-feira Santa. Os textospropõem meditações sobre asperseguições e a violência queatingem a humanidade.A evocação da prisão, julgamento econdenação à morte de Jesus, noesquema das 14 ‘estações’, incluireflexões sobre os cristãosperseguidos, o Holocausto dosjudeus na II Guerra Mundial, asfamílias em dificuldade e o dramados migrantes.O autor fala na “justiça de Deus quetransforma o sofrimento mais atrozna luz da ressurreição” e lamentaque alguns escolham outrocaminho, com medo do que édiferente ou de quem vem de outrasterras.Na reflexão sobre a terceira quedade Jesus, o cardeal italiana recordao sofrimento das famílias em crise,de quem não tem trabalho ou dosjovens com empregos precários.Os textos falam ainda das “criançasprofanadas na sua intimidade”, quesofreram abusos ou foramdesrespeitadas na sua dignidade.A celebração tem início marcadopara as 21h15 (menos uma emLisboa).

Nós Vos pedimos, Senhor,por todas as situações desofrimento que parecem não tersentido,pelos judeus mortos nos campos deextermínio,pelos cristãos mortos por ódio à fé,pelas vítimas de toda a perseguição,pelas crianças que são escravizadasno trabalho,pelos inocentes que morrem nasguerras.

17

Page 10: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

18

Francisco chega ao Instagram

Lugares da Paixão: percursos na Terra Santa

19

Page 11: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Dar sentido ao sofrimento: ocontributo de Viktor Frankl para otema da eutanásia

José Luís Gonçalves Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

A recente Nota Pastoral dos Bispos Portugueses,intitulada «Eutanásia: o que está em causa?Contributo para um diálogo sereno ehumanizador», constitui uma tomada de posiçãoesclarecedora contra a legalização da eutanásia.Nela é evocada a figura do psiquiatra ViktorFrankl que, na qualidade de sobrevivente a doiscampos de concentração nazi, testemunha que,mesmo em condições desumanizadorasextremas, é possível encontrar razões para viver(Cf. O homem em busca de sentido). Mais tarde,como docente universitário, dedica-se comnotável sucesso a ajudar estudantes comtendências suicidas.O que distingue a logoterapia V. Frankl dasoutras perspetivas terapêuticas na época,sobretudo da psicanálise de Freud ou dapsicologia individualista de Adler, é a ideia de que«a existência do homem sempre se refere aalguma coisa que não a ela mesma» (In Apsicoterapia na prática). Dito de outra forma,concebe a pessoa como alguém vocacionadopara dar sentido e propósito à sua vida,independentemente da situação concreta em quese possa encontrar. Denomina este movimentointerior de saída de si em busca do sentido de«autotranscendência da existência humana».Esclarece ainda que «a autorrealização nãoconstitui a busca última do ser humano. Não ésequer a sua intenção primária. Aautorrealização, se transformada num fim em simesmo, contradiz o caráter autotranscendenteda existência humana.

20

Assim como a felicidade, aautorrealização aparece comoefeito, isto é, o efeito da realizaçãode um sentido. Apenas na medidaem que o homem preenche umsentido lá fora, no mundo, é que elese realizará a si mesmo. Se eledecide realizar-se a si mesmo, aoinvés de preencher um sentido, aautorrealização perdeimediatamente a sua razão de ser»(In A psicoterapia na prática).De forma simplificada, podemosafirmar que Frankl preconiza umadescentração do sujeito a favor dosentido. Esta proposta pode parecerestranha. Todavia, só estadescentração cumpre um dosobjetivos da própria existência:tornar significativa a própria vida. Aafirmação antropológica da «autotranscendência da existênciahumana» confere valor espiritual eexistencial ao desenvolvimento decada pessoa e permite a esta darsentido às crises, ao sofrimento eaté às situações limite em que seencontra: «quando não podemosmudar certas circunstâncias da vida,somos desafiados a mudar-nos anós próprios» (In O Homem embusca de sentido). A vida em toda asua extensão e profundidade é,portanto, dom e tarefa!A perspetiva de V. Frankl contraria,pois, as conceções redutoras depessoa humana que têm vindo

a defender a legalização daeutanásia quando apoiadas noargumento de que seria defensávelpôr fim à própria vida quando nosencontramos em sofrimentoextremo. A proposta humanizadorade Frankl abre pistas psico-espirituais que não podem deixar deser levadas em consideração portodos os interessados no debateatual, conferindo um outro valor àpessoa, elevando-a ao patamarético do «ser digno», no sentidoempregue pelo filósofo Kant. Paraos crentes, a dignidade intrínsecade cada pessoa diante de Deusconstitui o fundamento da dignidadedo homem perante o outro homem.Uma sociedade justa só se realizano respeito por esta dignidadetranscendente da pessoa.

21

Page 12: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Trafico humano: Da morte à vida,sair da indiferença

LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos

O tráfico humano, também chamado de tráfico depessoas, é uma das atividades ilegais que maisse expandiu no século XXI, pois, na busca ouseduzidas por melhores condições de vida,muitas pessoas são ludibriadas por criminososque “oferecem” um futuro melhor.Uma sociedade baseada no dinheiro e no bem-estar, que mercantiliza a vida, cheia dedesigualdades e indiferente, bem como o cruzardos braços diante da exploração (vale mais istoque nada!), são as causas mais visíveis dotráfico humano. A que se junta a dificuldade emidentificar e criminalizar os “agentes”, que atuamem escala regional, nacional e internacional,através de redes muito sofisticadas, privando aliberdade de indivíduos que sonham um futuromelhor.De acordo com o Protocolo Adicional àConvenção das Nações Unidas contra o CrimeOrganizado Transnacional relativo à Prevenção,Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, emespecial de Mulheres e Crianças, o tráficohumano é caracterizado como: “o recrutamento,o transporte, a transferência, o alojamento ouacolhimento de pessoas, recorrendo à ameaçaou uso da força ou outras formas de coação, aorapto, à fraude, ao engano, ao abuso deautoridade ou à situação de vulnerabilidade ou àentrega ou aceitação de pagamentos oubenefícios para obter o consentimento de umapessoa que tenha autoridade sobre outra parafins de exploração.”

22

O tráfico de pessoas consiste,portanto, no ato de comercializar,escravizar, explorar, privar pessoasde liberdade, com o fim deenriquecer sujeitando-as àprostituição, a trabalhos forçados, a“serviços domésticos”, a trabalhosilegais em pequenas fábricas, abarrigas de aluguer, à feitiçaria,retirando-lhes órgãos, ou seja, é umatentado à dignidade humana, umaviolação dos direitos humanos. E éuma atividade que movimentamilhões, só superada pelo tráfico dearmas e de droga.As vítimas acabam por chegar ao“destino de trabalho” já endividadas,pois elas têm que pagar aostraficantes valores elevadíssimosreferentes à viagem, hospedagem,documentação, alimentação,roupas, etc. O problema é que essadívida financeira, e também de“favor”, nunca poderá ser paga.Sendo assim, muitas vezes oscriminosos passam

a ameaçar e torturar os “devedores”.As mulheres são o principal alvo,pois o retorno financeiro para ostraficantes é maior, uma vez que aprostituição, é o destino de 79% dasvítimas do tráfico humano. Otrabalho forçado, exercido porhomens, mulheres e crianças,representa 18%.Apesar de o papa Francisco nosquerer acordar da indiferença emrelação a “esta praga indigna deuma sociedade civilizada”, uma“intolerável vergonha” (Angelus,08.02.2016), e de o tráfico depessoas não ser apenas umaquestão religiosa ou simplesmentefeminina é verdade que párocos ecomunidades eclesiais estão poucosensibilizados para esta questão. Ea sociedade em geral também. Anão ser quando nos bate à portapor algum vizinho ou membro dafamília que é apanhado por estasredes.Esta também é uma questão demisericórdia.

23

Page 13: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Uma espiral de autoaniquilação

José Carlos Patrício Agência ECCLESIA

Esta semana não exige muitas palavras, masuma reflexão séria à volta da pergunta (ingénuadirão alguns) mas que se impõe: Em que é queestamos a transformar o mundo?Os atentados em Bruxelas, que aconteceram emsequência de outros atos de violência gratuitacontra pessoas e civis inocentes, mostram-nos aface mais negra de uma humanidade que foicapaz de evoluir até ir à Lua, até dominar ossegredos da ciência e da tecnologia.Mas que em tantos séculos foi incapaz de dar opasso definitivo para aquilo que realmenteinteressa, se queremos assegurar a subsistênciada nossa espécie: viver em paz, defender aspessoas na sua dignidade, na vida e na morte,assegurar a harmonia entre as sociedades e ofuturo do nosso planeta.O que fazer quando ouvimos a ameaça de quehoras mais duras e mais amargas ainda estãopara vir?As grandes potências já garantem que tudo vãofazer para que quem está por trás destesataques seja responsabilizado pelo que fez. Maspodemos confiar no juízo daqueles queatualmente também bombardeiam e matam civis,com ataques levados a cabo com drones?Ou em quem sabe que, na base desta questão,estão também interesses financeiros à volta dotráfico de armas e do domínio das grandesreservas de petróleo, mas não faz nada paratravar isso?Pelo contrário, o que vemos é que se continua aacalentar tudo isto porque é através disto, da

24

guerra, do negócio da morte, queessas grandes potências sustentama sua própria economia.Como Cronos, o deus que segundoa mitologia grega comia os seusfilhos como medo de serdestronado, a humanidade temvivido permanentemente numaespiral de autoaniquilação da suaespécie, por sua própria iniciativatem encurtado, tirado tempo ao seupróprio tempo.A religião, o Islão, as diferençasreligiosas, nada disto está aqui emcausa, é tudo uma questão depoder, de resposta à guerra pelaguerra, a supremacia de uma raçasobre outra.Todas as grandes religiõesassentam em pressupostos de paz,de um caminho que leva àinterioridade e à transcendência,ensinam valores e apontam para obem das pessoas, são respostapara a busca de sentido e defelicidade de todos os homens emulheres.São uma parte essencial daeducação

das pessoas: ainda há pouco tempose questionava o sentido de váriasescolas realizarem celebraçõescatólicas durante o tempo letivo. Areligião não é apenasespiritualidade, é cultura.E é de cultura, de educação, que omundo carece para ultrapassarestes tempos negros: não de umacultura de morte, como tem estadona moda com a defesa daeutanásia, mas uma cultura de vida.Quem coloca à sua volta um cintode explosivos e vai para o meio deuma multidão disposto a fazer-seexplodir por uma causa, nãocompreende que assim a sua causajá está perdida.Mas toda a humanidade perdequando acha que a solução chegaatravés das armas, do perpetuardos conflitos e não do diálogo.Falta educar as novas geraçõespara os mais altos valores, mudarmentalidades.Paz aos mortos e a todos osfamiliares das vítimas da tragédiaem Bruxelas.

25

Page 14: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Celebrar a Ressurreição A Igreja Católica celebra nas últimas horas de Sábado Santo e nas primeirasde Domingo de Páscoa o principal e mais antigo momento do ano litúrgico, aVigília Pascal, assinalando a ressurreição de Jesus. Um tema central para aIgreja Católica, que tem inspirado reflexões e criações teológicas e artísticasao longo da história que é abordado em entrevista ao compositor AntónioPinho Vargas, para além de vários testemunhos e mensagens deresponsáveis católicos.

26

27

Page 15: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A Música como LiturgiaO ano litúrgico, que percorre todos os mistérios da vida de Cristo, desafia amúsica a exprimir intensamente todos estes passos e sentimentos da vidacristã e é no espaço litúrgico da comunidade cristã que muitas das peçasencontram o seu total significado e o fim para que foram criadas. A SemanaSanta, de modo especial, está ligada a um mundo de sentimentos e detradições muito particulares, que procuram apresentar o mistério daredenção: a dor de Maria é acompanhada com o “Stabat Mater”; o salmo “DeProfundis” marca a Sexta-feira Santa; o Sábado Santo, dia alitúrgico, pedeum “requiem” pelo Senhor no sepulcro.António Pinho Vargas, compositor, músico e ensaísta, fala à AgênciaECCLESIA da experiência de compor a partir destes e outros episódios quemoldaram a cultura ocidental.

Entrevista conduzida por Lígia Silveira Agência ECCLESIA (AE) - Comocompositor que teve uma educaçãocatólica, o que o leva a aceitar oumesmo a propor criações detemáticas religiosas como oRequiem, a Oratória de Judas, oMagnificat, o Stabat Mater ou o DeProfundis?António Pinho Vargas (APV) - Nósocidentais, nós portugueses, temosuma relação histórica, forte,naturalmente, com a Cristandade.No meu caso, aos 15 anos li aBíblia, tinha dúvidas e dado o factode me interessar por questões decaráter histórico, lembro-me de leresses textos. AE - De fio a pavio?APV - Quase, quase, houve um mêsde

intervalo entre a leitura do AntigoTestamento e a do NovoTestamento. Sei bem que a nossacivilização ocidental é marcada poressa relação com os textossagrados da religião cristã, mastranscendem o Catolicismo. Todoeste conjunto é muito importante.Para além das minhas motivaçõesnaquele momento, eu tive asensação de que estava a ler, porum lado, obras de uma enormeriqueza literária, mas sobretudo ohumano - apesar de haverpermanentemente uma relação como divino. Estamos a ler histórias depessoas, acontecimentos. Nessesentido, o meu interesse pelostextos bíblicos deriva, em primeirolugar, desse fator. São muitoimportantes para todos nós.

2829

Page 16: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE - Isso marcou-o, mesmo com 15anos?APV - Sem dúvida, até porquetambém não é vulgar, com aquelaidade, ler tudo ou quase tudo. Poroutro lado, a história da músicaocidental, que teve lugar nesteespaço geocultural, tem umaenorme quantidade de peças apartir de alguns desses textos. Aquihá também uma motivação que tema ver com essa própria história.A primeira peça que eu fiz e que foiproposta por mim foi ‘Judassecundum Lucam, Joannem,Matthaeum

et Marcum’. No caso da segunda,que estreou em 2009, o ‘Requiem’,não tinha ainda decididocompletamente o que seria. Odiretor do serviço de música daGulbenkian disse-me que achavabem que fosse um ‘Requiem’,porque era importante, no sentidode saber o que um compositor dehoje tinha a dizer sobre uma peçacom tamanha história.Julgo que é a junção desses doisfatores que me leva,progressivamente, ao interesse porestes textos sagrados. Ao mesmo

30

tempo, aquilo que eles dizeminteressa-me em si mesmo, porqueeu posso dizer de uma formaresumida o que é um ‘Requiem’,enquanto que Judas tem umaespécie de estrutura dramática equase trágica, no sentido dasantigas tragédias gregas - porquehá personagens, há dois homensem que existe sofrimento, Jesus eJudas.Em relação ao ‘Requiem’, podemosdizer que no essencial a frase queune e podia resumir cada umadaquelas partes é uma frase naqual os homens, o ser humano,pedem a Deus que os receba noseu seio. A temática da morte écentral e, nesse sentido, éindiferente às crenças religiosas oude outra ordem.

AE - Já disse noutras ocasiões quenão passa muito tempo semregressar à Oratória de Judas.Porque é que esta obra é tãoparticular?APV - Primeiro, porque tenho umarecordação que ficará para sempreda sua estreia. Estrear uma peça éuma enorme responsabilidade epenso que ela é que me lançou numpercurso: passados 10 anos (2002-2012), escrevi à FundaçãoGulbenkian a propor uma segundaproposta para coro e orquestra,pensando noutro texto sacro - comodisse, não estava ainda decididoqual deles seria. Quase como porcoincidência, no ano a seguirestreou o Magnificat, ligado aos 20anos da Culturgest, foi umadecorrência natural: o Magnificattem ressonâncias festivas, emportuguês, e ali tratava-se decelebrar o aniversário de umainstituição. Transcendia osignificado da palavra.

31

Page 17: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

APV - Regresso ao Judas porqueeu gosto imenso daquela peça. Temmomentos de verdadeiro milagre. Omeu trabalho é profundamentehumano e, como tal, contingente,como o de todos os compositores.Umas vezes têm sorte e sai melhor,outras vezes não sai bem. Essacontingência está sempre,queiramos ou não. Não há nenhumsistema de composição queassegure à partida

que aquela peça vai ser muito boa,não há.O Judas foi um período duro paramim, ao estar em confronto comaqueles textos, com aquelesmomentos… Não foi fácil, às vezesia para casa devastado, não com amúsica, apenas, mas por causa dopróprio tema, do que estava escrito,das falas de Jesus e Judas, dadramaticidade que podemos retirardaquela circunstância: traição,

32

arrependimento, uma série deproblemas que estãopermanentemente presentes nasnossas vidas.Vivemos numa época em que poucagente se arrepende e ainda menosse suicida, a seguir a umarrependimento. Apesar de eu nãodefender o suicídio, evidentemente,aquele homem traz consigo um ladotrágico, em que se suicida numaespécie de tragédia grega. Não équalquer um que atira o dinheiroque recebeu para o chão, diz‘pequei, traí sangue justo’ e vai aoextremo de pôr fim à sua própriavida. AE - Este ato de contrição inquieta-o?APV - Sim. Nunca deixou de o fazer,aliás, eu recebi uma encomenda doFestival de Música Sacra de Vianado Castelo e fui eu próprio a proporesta temática. Depois, verifiquei naleitura dos quatro Evangelho estásobretudo presente no Evangelhosegundo São Mateus e menos nosoutros, pelo que tive de constituiruma narrativa que usasse osquatro, mas preservasse aquelemomento que só existe comoverdadeira descrição, pungente, deSão Mateus.

Eu não sou, longe disso, o primeiroagnóstico, digamos assim, a tratartextos sagrados. Há um ‘Requiem’de György Ligeti, uma peça de queeu gostava muito há 30, 25 anos,que não é crente, mas assumiu queisto interessa à humanidade emgeral. AE - Como é que se escolhe umtexto litúrgico para a composição?APV - Na verdade, cada peça é umapeça. Para mim, o texto ocupa oprimeiro lugar, a leitura, a suacompreensão, perceber de queforma é que pode ser abordado, oque pretende dizer, mesmo que sejauma língua morta, como é o caso dolatim. O texto é o início dacomposição.

33

Page 18: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE - É a partir dos ecos que essetexto possa suscitar que parte paraa composição.APV - Sim, sim. No caso do Judas,tive de fazer algumas leituras emparalelo, antes de ter constituído olivrete final, mas optei por não asincluir. Os Evangelhos, só por si,davam material suficiente para eupoder trabalhar. É o texto, elepróprio, as ressonâncias que tem naminha memória.É sempre preciso fazer uma seleçãoe, ao mesmo tempo, não possoignorar que conheço, por exemplo,o ‘Requiem’ de Mozart. Portanto,tenho uma consciência que meinteressa, no momento de lançar-mena composição: se calhar apenasna minha imaginação, mas estou adar resposta a peças que me sãocaras e das quais ficaram resíduosna minha memória. A pessoa está aresponder a uma herança, a umpassado. AE - Disse uma vez que qualquerartista responde a uma necessidadeinterior, quando cria. O que sentenesse ato de compor, a quenecessidade pretende responder?APV - Nem sempre écompletamente claro. Possoresponder ‘a contrario’,

para usar uma expressão latina: emcertos caso, eu recusei encomendarpor não me reconhecer no projetoque me era proposto. Érelativamente fácil, para mim, maisfácil até, saber quando não querofazer.Cada peça é, de uma certa maneira,uma autorreflexão sobre a nossacondição, sobre a minha condiçãoem particular, porque cada um falapor si. É uma espécie de posiçãoque, em si, por muito oculto queesteja, é uma declaração sobre asua condição.

34

AE - Procura isolar-se quandocompõe?APV - Na minha vida houvemomentos desse tipo, em que àsvezes ter de continuar a dar aulasse revelava de uma extremadificuldade, porque eu não queriasair da minha peça. Desse ponto devista, houve um período da minhavida em que, provocando umaenorme surpresa em todos osmúsicos que tocavam comigo, eufalava do

facto de gostar do isolamento, de teruma espécie de atração peloseremitérios, sítios em que a pessoase recolhe para meditar. Isso é ocontrário do nosso de modo de vidaatual.É necessário pensar sobre o que sevai fazer e quanto maior o pesosimbólico do texto que vai sertratado, mais aumenta anecessidade de pensar.

35

Page 19: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE - De que forma é que gostariaque os ouvintes se relacionassemcom estas obras de cariz maisreligioso?APV - Uma peça musical tem umtexto. No entanto, a peça é a minhapeça musical. Não é redutível a umamera música para o texto,transfigura-se numa outra realidadeterceira, que não é apenas umamúsica e uma poesia, é uma outraentidade. Isso é válido para o Judas,o ‘Requiem’, etc.O artista, que é um ser de umaenorme fragilidade - apesar dealguns não parecerem,propriamente -, o

compositor está consciente de que aestreia é o momento da verdade, apeça vai dizer o que tem a dizer, aopúblico. E nós nunca sabemos quemé que constitui o público, emquantidade ou em qualidade. Aquestão que se coloca é a da arte.Uma pintura de um grande artista dopassado é um objeto que está naparede de um museu e lá fica. Podeir visitar um dia, pode ir lá 10 diasdepois e lá continua. A música não,tem um princípio e um fim, no fimacaba. Esse momento para mim,normalmente,

36

é a entrada numa espécie deabismo, de vazio existencial, difícilde explicar aos outros. Verifica-se ofenómeno do ter sido - a músicacarateriza-se por não existir senãono momento em que é feita. Mesmocom a gravação, que podemos dizerque fixa para toda a eternidadeaquele momento, a audição é ummomento de decisão individual. AE - Mas isso não acontece quandose fecha um livro ou se viram ascostas a uma pintura?APV - Sem dúvida. Simplesmente,ao contrário do livro e da pintura, amúsica não é um objeto, a músicaem concerto. Até 1900 só haviamúsica quando havia homens atocar. AE - Fica-lhe essa inquietaçãoquando uma obra sua chega ao fim,depois de reproduzida? Precisa dodiálogo com o público?APV - Eu não tenho diálogo com opúblico, a minha peça é que vai terum diálogo, vai dizer o que tem adizer ou não.Nós, os artistas, trabalhamos para ooutro, no sentido mais amplo dotermo, aquele que não conhecemos,que é indefinível, mas que se vai

emocionar, nos melhores casos, sevai sentir tocado. Esse é ummomento em que o artista deve ficargrato, porque o seu trabalho, aoqual dedicou tanta energia, tempo eafeto, teve uma ressonânciapositiva.No momento em que a peça éestreada, em que sou chamado aopalco pelos artistas, foi aquelamúsica, aquele artista que está aser alvo de afeto, de gratidão. Aobra foi considerada boa, aplaudidacom entusiasmo, e esse é ummomento que não tem nada a vercom o sucesso que se mede com onúmero de espetadores no cinemaou o número de cervejas vendidasnum determinado evento, é outracoisa. Mais pequena no número depessoas envolvidas, mas que tem asua importância. Não é irrelevante

37

Page 20: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE – O que é que a gratidão e oafeto faz pelo vazio que sente aseguir?APV – Infelizmente nada. Porque éo vazio de ter sido. Às vezesaumenta-o. O ter sido exaltante,mas ter sido. Mesmo que a obraseja novamente executada, eigualmente com comoção, aquelemomento foi único e irrepetível. Eudiria que quanto mais extraordinário,exultante e único, maior é o vazio.Há uma satisfação porque sepassou uma mensagem para aspessoas.Nós vivemos no tempo, é no tempoque vivemos e é também nele quemorremos. A pessoa não seesquece do lado exaltante, continuaconsciente que foi incrível eextraordinário, mas tem de vivercom a consciência de que jápassou. AE – O compositor João Madureiradiz sobre si: “não é uma pessoareligiosa, mas há um lado onírico eintimista, uma reflexão sobre acondição humana que está presentena sua criação. Um compositor quefacilmente entra no universo damúsica que é vista como religiosa”.Como se revê neste comentário?APV – No essencial estou deacordo. Do ponto de vista social anossa

38

música em geral é tocada emespaços seculares, salas deconcertos. A estreia de Judas foinuma igreja, em Viana do Castelo,não em ambiente de culto; no diaprévio fiz uma conferência com apresença do bispo. Mas é umaexceção. A regra são os espaçosseculares.Eu estou sempre a compor sobre acondição humana, mesmo em peçasque não se relacionam com atemática religiosa, como porexemplo «Six portraits of pain». Ésempre sobre a condição humana ea sua dor.

AE – Gostaria de ver mais obrasmusicais, mesmo não religiosas,executadas em espaços de culto?APV – Sim. No passado a execuçãode peças de caráter religiosodecorriam em igrejas. Já tiveoportunidade de afirmarpublicamente que não deixa de mesuscitar alguma perplexidade o factode a Igreja católica, enquantoinstituição, estar completamentedivorciada das minhas peças e dealgumas peças de colegas meus.Isto não é válido individualmente. Hápadres individualmente que vieramfalar comigo e, de formacircunstancial, elogiam as minhaspeças.Como instituição manifesta-se pelosilêncio. Isso custa-mecompreender.

39

Page 21: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE – Fala em termos de mecenato?Como promotora de cultura?APV – Sim, na verdade faz issoalgumas vezes. Ocasionalmente háconcertos de órgão na Sé, emLisboa, ou em outros locais. Mas omeu ‘Requiem’ ou o meu ‘Magnificat’foram executados na FundaçãoGulbenkian, eu não tive notícianenhuma. No passado não foiassim. Julgo que alguma reflexãodeveria ser suscitada.

AE – A Igreja tem perdidooportunidade de construir pontescom a arte musical, por exemplo?APV – Julgo que sim. Por exemplo:Stravinsky estava no final da suavida e a peça Threni foi estreada emVeneza na presença do Papa JoãoXXIII. O Papa que lançou o ConcílioVaticano II não deixou de ir ouvir apeça daquele compositor que, doponto de visto simbólico, era o maiorcompositor do mundo. Eu não possodizer nada de semelhante, nemcreio que nenhum dos meus colegaso possa fazer.

40

AE – “Ressuscitar a capacidade denos reencantarmos com o mundo éuma forma de sobreviver àsdificuldades da crise”, disse numaentrevista. A música é um caminhopara a insurreição ou uma forma deRessurreição?APV – Julgo que sim. Sinto que paramuitas pessoas nas suas vidas, nassuas casas, como algo privado,esse é um momento deapaziguamento de angústias paramuitos. AE – As perguntas sobre a vidahumana deveriam estar presentemna sociedade?APV – O nosso mundo caracteriza-se pelo contrário. Não acredito quetodos vivam numa espécie de nãointerrogação. Há um fenómeno quenos permite estar em permanentecontacto com o que está no mundomas também em permanentecontacto com muitas outras coisas,que é a televisão. Quando se ligaeste aparelho liga-se umdesconversador com a sua família econsigo próprio.

AE – Nessas perguntas cabe apergunta sobre o divino?APV – Julgo que sim. Eu tenho aminha própria ideia, mas a minhaideia serve a mim. Há uma práticareligiosa convencional, o ir à missatodos os domingos… é necessáriocomeçar-se a pensar que sercatólico, cristão, judeu, ortodoxo,muçulmano eventualmente não écompatível com práticas humanasque não são defensáveis. Há umdivórcio entre a prática religiosaconvencional mas sem profundidadee com desconhecimento dos textossagrados, e a verdadeira relaçãocom o divino que deveria ser maisprofunda e mais ligada à vida daspessoas.A minha mãe, quando eu tinha 15anos, ficou muito preocupadaporque eu perdi a fé. E pediu-mepara ir falar com o padre da minhafreguesia em Vila Nova de Gaia,onde nasci. No final ele disse àminha mãe para não se preocupar.«Ele é bem formado, não sepreocupe. Sem o saber, será maisreligioso que muitas pessoas quevão à Missa».

41

Page 22: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

AE – Alguns pensadores indicamque os católicos terão muito aaprender com aqueles que seafirmam não católicos e quepoderão estar mais dentro de quealguns que se afirmam dentro.APV – Julgo que sim. Aquele queestá tranquilo numa fé temtendência a pensar com maissuperficialidade do que aquele queestá inquieto. AE – As perguntas, novamente…APV – Sim. AE – Oratória de Judas, Requiem,Stabat Mater caminham no mesmotom musical. Falta-se uma

composição mais em tom deressurreição e Aleluia?APV – Na música religiosa emmuitos casos passa-se por láporque o texto vai lá parar. Mas nãoé essencial. Oscompositoresconhecem o seu métier musical esabem que esse é um momento deelevação. A resposta musical, naspeças que eu conheço, érelativamente simples deconceptualizar e realizar. Seeuimagino que num dado momentoestou a escrever música paraexaltar a glória do divino não possousar se não um acorde perfeito.

42

AE – A palavra «Páscoa» significapassagem. Como traduzi-la num tommusical?APV – A ideia de passagem faz-memuito sentido. A vida é umaimpermanência. Como fazê-lomusicalmente é uma questão a queteria de me reter. De qualquerforma, no meu concerto para violinohá um momento delicado eimportante, é uma espécie de morte,é um falso fim. Há um grande clímaxe a música começa a descer.Finalmente termina numa nota. Essanota é tocada apenas por uminstrumento que são os tímpanos.Os tímpanos fazem um trémulo, umpequeno crescendo e diminuem,crescendo e diminuem, apenas comas notas Ré e Lá. Eu recordo istoporque me disseram que,

este momento que demora umminuto parecia uma eternidade. Naverdade estamos perto do nada.Quando o Lá desce meio-tom paraLá bemol começa o que chamamoso lamento final. A peça é dedicada àmemória de alguém que morreu.Aquele momento, consciente ouinconscientemente, para mim foiconcebido como ligação entre amúsica anterior e uma música queera necessário que existisse comcarácter de lamento - e lamento éuma expressão que existe nahistória da música há muitos séculos- esse lamento tinha que existir parapor fim à peça.Esse momento é impressionante. Eaquilo que se torna impressionanteé o quase nada, é o quase silêncio.

43

Page 23: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Estar com Jesus vivo nosinjustiçados

Por razões de sensibilidade pessoal,até atingir maior maturidade cristã, acelebração da ressurreição, noculminar de uma semana muito ricade ritos litúrgicos e tradicionais, foisempre, para mim, a festa religiosamais bela.Agora, sem ter perdido todo o seuencanto sentimental, a festa daressurreição adquiriu o seuverdadeiro sentido.Ao percorrer novos caminhos, no

encontro com outros cristãos quetestemunhavam a fé de maneiradiferente da minha, ao conhecermelhor a Sagrada Escritura e oPensamento Social da Igreja, sinto-me mais próximo de realidades ondese toca o divino, com maior nitidez.E esses caminhos não foram, nãosão, os que estavam ligados aosritos religiosos praticados dentro ouforados ditos “locais sagrados”.Esses já eu conhecia. Os caminhosque fui

44

descobrindo conduziram–me atélugares onde se experimentavamdiversas formas de morte quereclamavam por mais vida e “vidaem abundância” (Cf Jo 10,10).Entendi, então e para sempre, queser cristão não é, apenas, pertencera uma “religião”; adorar um ídolo eter como únicas referências osseres humanos “eleitos” para osaltares e prestar-lhes culto muitopiedoso; seguir cegamente asnormas imposta pela “religião”; odiaro mundo por criar dificuldades àminha salvação e possibilidade deser mais um dos eleitos.Descobri que ter fé é muito mais doque pertencer a uma “religião”. Éseguir, com todas as consequênciasdaí decorrentes, não um morto, masum vivente: Jesus Cristo, Deusencarnado e impregnado totalmentepelo Espírito Santo.Então, tudo mudou. As exigências edesafios passaram a ser mais, muitomais, exigentes. Os “combates” atravar mudaram de campo. Omundo passou a ser o lugar e otempo onde o Reino de Deuscomeça a acontecer, na medida emque eu seja capaz de “dar razões daminha esperança” (Cf 1Pe 3, 15).Passei a sentir que teria de sermaior o esforço de coerência entreaquilo em que acredito e o que vivono meu quotidiano. Enraizou-se emmimque a única lei da minha religião

é amar, dando a vida pelos meusirmãos (Cfr Jo 13,1-15).E a minha vida cristã recomeçou. Aminha espiritualidade transformou-se. Passei a estar mais com Jesusvivo nos injustiçados, nos pobres detodo o tipo, nos oprimidos porqualquer circunstância, nos mal-amados, nos que já estão mortos,socialmente, pela difamação esuspeição de qualquer ordem, e emmuitos mais!… E, como MariaMadalena, já tive a graça de sentir eanunciar: “Eu vi o Senhor” (Jo2,1.11-18).Agora sou cristão católico que amoa Igreja que me acolhe. Não a vejoagora como uma “religião” mascomo uma forma de vida. Por isso,não a dispenso, mesmo com todasas suas limitações. Porque nãoconsigo estar em processo deressurreição contínuo sem mealimentar de Cristo Ressuscitadoque está também na Eucaristia.Que pena ainda se confundir esteagir ressuscitado e ressuscitadorcom a pertença a “idologiashodiernas” (?!). Quando talacontece, o Senhor quer quesaibamos que não se chega àressurreição sem passar pela morte.Viver a ressurreição, em cada ano,é a possibilidade de retemperar asforças para transportar, comigo,evidências de que “o amor é maisforte que a morte”(Ct 8,6) .

Eugénio FonsecaPresidente da Cárias Portuguesa

45

Page 24: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A Tenda do MistérioQue penso da ressurreição? NestaQuaresma alguém, antes de iniciara Confissão, me perguntou:”acredita na ressurreição?”-“ Claro.Acha que estaria aqui se nãoacreditasse? Nem sei por ondeandaria.” Depois fui dizendo paramim próprio: “nem sei que sentidoteria a minha vida, por que terianascido, por que teria aceite serpadre, como acreditaria na bondadee na misericórdia de Deus”.De facto proclamo com acomunidade “creio na ressurreição”mas, dito isso, como que passa aum pressuposto silencioso masessencial da minha vida, que vaiatravessando os meus momentosmais decisivos, alegres oudolorosos, as razões maisprofundas da minha existência, osuporte mais sólido da minhaesperança.Depois, começo a não sentir-me tãoseguro quando me ponho a pensarno “como” e no “quando” e, aindamenos se ponho a desenharcenários a partir do que conheço,visualizar as formas como meexprimo. Vou aos teólogos, aosmísticos, Paulo, Tomás, Damascenoe vejo-os envolvidos na nuvem domistério como aconteceu no Montecom Pedro, Tiago, João, a Voz, oEstrondo, o Mistério e a

vontade de Pedro de ficar por ali.Pedro tinha razão: o melhor éinstalar uma Tenda de Mistério eprolongar essa contemplação. Decontrário aterramos como quedesiludidos, com os pés e as mãosmagoados da aspereza do real, asentirem a dimensão maravilhosamas estreita da terra que, por muitoque queiramos, nos recolhe por unstempos o corpo – venham agora osfilósofos explicar a dualidade – enos deixa a alma perplexa eincompleta – outro trabalho para osfilósofos. Nem Jesus se cansou emtransformar em sistema o factomaravilhoso de se definir como “aressurreição e a vida”. Na essênciada vinda de Jesus sempre ficouténue o admirável véu que nossepara de Deus ao mesmo temponos envolve e faz sentir envolvidospelo Seu Rosto que um dia veremosface a face.Parecendo tudo isto uma divagaçãointimista sobre um ponto essencialda nossa fé, acaba por tocar todasas franjas da nossa existência,porque tem a ver com a nossa vidaprofissional, as nossas óticas, aleitura da realidade, a interpretaçãoda história, a aceitação dos limites,a ultrapassagem das derrotas, a luzque

46

sempre se acende quando a noite eos vendavais parecemdevastadores de qualqueriluminação nas trevas que tantasvezes nos envolvem. Comoveríamos este mundo de hoje, destaPáscoa, com crianças vítimas detragédias, bombas suicidas arebentarem pelas praças maisarmadas, novos vírus e epidemias aimporem velhas ameaças,continentes e países a reforçaremfronteiros com

cortinas de ferro, refugiadosrepelidos como novos invasores,terroristas disfarçados derefugiados... e não vai a meio orelatório. Tudo isto poderia suscitarem todos a pergunta como dúvida:acredita na ressurreição?A resposta é simples: o que seria detudo isto, e sobretudo de nós, sem aressurreição?

Padre António Rego

47

Page 25: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A ressurreição convida-nos aconfiar A Ressurreição, um dos pilares doCristianismo, é um mistério paramim.Evidentemente não presenciei, nemfui uma das mulheres que visitaramo sepulcro de Jesus, “sabiam queestava morto e caminhavam nacerteza desse facto”.[1]A minha perspectiva, a única queposso partilhar, é de uma leiga quemuito indirectamente observa, lê,interpreta, se inspira e quesimplesmente e essencialmenteacredita.Acreditar, ter Fé, é natural paramim. A contemplação da Vida e doMundo deixa-me invariavelmenteagradecida e certa de que existe umCriador pleno de amor e bondade. Avida é essencialmente boa e todossomos um bocadinho dessaCriação. Acredito com máximanaturalidade no que o CardealPatriarca Senhor D. José Policarpouma vez me disse: “também tu tensum bocadinho de Deus”.Pelas mãos do meu marido (e doestimado Padre Alberto Sousa, sj),acabei de ver um documentáriosobre uma sobrevivente doHolocausto, a pianista AliceSommer.

Um testemunho inspirador pormuitas razões, entre elas pela formacomo fala da importância da músicana sua vida. Dizia Alice Sommer queMúsica é... Deus. Há uns anos, oPapa Bento XVI falava aos artistasreferindo que a Música tinha acapacidade única de nos elevarpara um plano imediatamenteespiritual, distante de um planofísico e do quotidiano. Escutar ainspiração de grandes compositoresao longo da história, a maravilha dacriação musical faz-me, de novo,certa no divino, num Deus e numahumanidade maravilhosos.Este forte sentimento que tenho deque a vida é essencialmente bela eboa (ou que para lá tende), de quetodos nós, artistas, fazemos parteda Criação através da geração deBeleza, acompanha-me nestareflexão sobre a Ressurreição;reforça em mim um pedido do PapaFrancisco, que nos alerta para nãonos concentrarmos nos mortos masnos vivos e na recordação d”asmaravilhas que o Senhor fez aolongo da vida”.Ressurreição, dizem os dicionários eos catecismos, significa erguer.

[1] Papa Francisco, Homilias Pascais

48

Para mim, o simples exercício decontemplação que nomeava - daCriação, da Natureza, dasimplicidade de uma flor que agoradesabrocha, do nascimento de umacriança - faz renascer em mim umacontínua esperança.Uma vez perguntaram-me, numaentrevista, o que pensava da morte.Penso que respondi de formasemelhante: penso ser impossívelcompreender o que será realmente,ao meu nível terrestre; mas tenho acerteza de que o que vier será bom.Se, no meio da desgraça humanaexiste sempre um gesto de caridadee misericórdia, se, no meio do maiorsofrimento existe um milagre, teráde ser bom. Repito, se somosconstantemente confrontados com apossibilidade do milagre na nossavida, terá de ser bom. Felizmente,estes sinais são reais, eu própriatenho tido o privilégio de os sentirao longo da minha caminhada, emmomentos muito bons e muito maus.A renovação deste sentimento deesperança e confiança de que o viráserá bom (ou pelo menossempremelhor), de que é possível(mesmo quando temos a certeza, nomaior sofrimento, do contrário) nosreinventarmos com a maiorsimplicidade, de que a felicidadeexiste realmente e que a podemosconstruir, é a minha forma poucocomplicada de sentir a

Paixão e Ressurreição em cada anoque passa.Ao longo da minha carreira tenhotido a sorte de tocar obrasmaravilhosas que me convidam daforma mais bela a reflectir sobre anatureza, a vida e todo o mistérioque envolve a Criação.Em 2009, em Sydney e anos depoisna Nova Zelândia, colaborarei com oextraordinário e profundoencenador, criador e pensadorPeter Sellars numa produção de“Oedipus Rex” e Sinfonia dosSalmos, de Igor Stravisnky.A narrativa era perfeita: a destruiçãoa que assistimos na história do ReiÉdipo é sucedida por redenção,esperança e confiança.Hoje, Ressurreição convida-nos aconfiar, como sempre. Stravinsky, nasua maravilhosa sinfonia dosSalmos, cita o salmo 40 que bemilustra esta convicção: Esperei com paciência no Senhor,e ele se inclinou para mim, e ouviu omeu clamor.Tirou-me dum lago horrível, dumcharco de lodo,pôs os meus pés sobre uma rocha,firmou os meus passos.E pôs um novo cântico na minhaboca, um hino ao nosso Deus,muitos o verão, e temerão, econfiarão no Senhor. Uma boa Páscoa para todos.

Joana Carneiro

49

Page 26: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

D. José Ornelas, Bispo de SetúbalMensagem de Páscoa 2016A aproximar-se a conclusão docaminho quaresmal, preparamo-nospara celebrar a festa maior dascelebrações cristãs: o tríduo pascal,memorial da morte e ressurreiçãodo Senhor Jesus.É um tempo para recordar osacontecimentos fundadores danossa fé, que continuam a inspirar anossa existência, a guiar o nossocaminho, a motivar o nossoempenhamento na família, nacomunidade cristã, na sociedadeonde nos inserimos.É sobretudo um tempo de recuperare renovar a esperança, sem ignoraros problemas dramáticos que nosrodeiam e sem deixar-se submergirpor eles. Ao celebrar a morte doSenhor, não podemos esquecer queEle assumiu voluntariamente odestino de cada homem e de cadamulher, neste mundo: a injustiça dosinocentes condenados à prisão, àmiséria, ao desemprego, à via dosexilados e desprotegidos; osofrimento dos doentes e dosferidos nos atentados e na guerra; asolidão de tantos anciãosabandonados; o desespero dosfamintos, das crianças sem carinho,dos que buscam em vão

um lugar seguro e digno para viver. Ele assumiu tudo isso sem seresignar ao medo ou ao comodismo,à violência ou à vingança.Ele experimentou todo este dramasubstituindo a vingança peloperdão, o ódio pelo amor, acrueldade pelo carinho para com avida, a arrogância pelo serviço, amiséria pela partilha e multiplicaçãodo pão, o esquecimento pelasolidariedade do samaritano que seaproxima e carrega quem foiabandonado à borda da estrada.Não se resignou nem se poupou aosofrimento e à morte, mas abriuatravés deles um caminho para avida, a alegria e a esperança.Por isso celebramos a Páscoa, semesconder sob o tapete docomodismo ou do medo o sofrimentoe a morte, mas expondo-os ao soldo amor e do poder de Deus, com oqual é possível construir um futuronovo e jubiloso, nesta terra e naplenitude da vida de Deus.Este não é um sonho de quem nãoabre os olhos aos dramas domundo, mas a teimosa esperançade quem os assume com amor edom de si mesmo, na certeza de queDeus, mesmo do

50

sofrimento, do ódio e da morte, écapaz de gerar alegria, carinho evida.É com a certeza desta esperançaque desejo a todos uma PÁSCOAFELIZ, porque o Senhor Jesusressuscitou. Setúbal, 21 de Março de 2016 + José Ornelas CarvalhoBispo de Setúbal

51

Page 27: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

MENSAGEM PASCAL

A maior obra de misericórdiaNa tarde daquele dia, o primeiro dasemana, estando fechadas asportas da casa onde os discípulosse encontravam, com medo, (…)veio Jesus…(Jo.20,19).Queridos irmãos e irmãs:Regressado da morte e trazendo noseu corpo as chagas gloriosas,Jesus saúda os discípulos compalavras habituais entre os judeusmas que neste momento alcançam aplenitude do seu significado e dasua eficácia: “a paz estejaconvosco!” Com esta saudaçãoentrega-lhes o precioso fruto daSua Páscoa: a paz e a alegria doperdão e da reconciliação com o Paique têm o poder de nos recriar, defazer de nós criaturas novas. Eenvia-os pelo mundo inteiro com opoder de anunciar e de dar essemesmo perdão a todos aqueles queacreditarem no Evangelho: “assimcomo o Pai Me enviou também Euvos envio a vós”. Dito isto soprousobre eles e disse-lhes: “Recebei oEspírito Santo: àqueles a quemperdoardes os pecados, ser-lhes-ãoperdoados e

àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos”. (Jo.20,21-23)Libertar as pessoas da escravidãodo pecado e do medo, esta é amissão da Igreja em todos ostempos e lugares, esta é hoje anossa missão e a maior obra demisericórdia que devemos praticar:anunciar a vitória de Cristo sobre amorte e ajudar as pessoas aencontrar-se com Ele para querecebam o perdão dos seuspecados, tenham Vida em seu nomee possam cantar connosco: é eternaa suamisericórdia!Desejamos a todos umavivência intensa da Páscoa.O Senhor vos abençoe evos dê a Sua paz e a Sua alegria!Rezai por nós. + António Vitalino+ João Marcos

52

53

Page 28: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Mensagem Pascal

Páscoa, a plenitude do amormisericordiosoPlatão, o filósofo grego, trata o temado amor de uma forma curiosa.Recorre a uma fábula –um “mito”,diz ele- segundo a qual o amor éfilho de Póros (o Engenho) e dePenía (a Pobreza ou Penúria).Então, a mãe do Amor chama-sePobreza e o pai, Engenho.Que é que este mito quer dizer?Que o amor se origina na pobrezaou carência humana. Que em todosnós há um vazio, uma insatisfação,que tentamos «engenhosamente»suprir com o amor. E que este seapresenta como uma porção mágicaou remédio que intenta trêsfunções: preencher o tal vazio,transformar a pobreza em riqueza econduzir a pessoa a um estado defelicidade.Mas se esta noção de amor valepara os humanos, não se aplica aDeus. Deus, que é a própriaplenitude, não tem necessidades dequalquer espécie. Não é um pobrecarente, como nós, um insatisfeito,um mendigo da atenção. Pelocontrário, é Ele mesmo asuperabundância da felicidade. Porisso, se nos criou, rigorosamentenão é por precisar do nosso amor,por esperar que

retribuamos o amor que nos dirige:Deus não nos criou para obter denós qualquer coisa que Lhe falte.Assim sendo, a criação do homem edo mundo que este habita só secompreende como produto de umamor que se difunde e que nãoespera nada em troca. Apenas queabramos o nosso coração a ele. É oamor ilimitado que vai de encontroàs nossas carências para aseliminar, que completa o que falta aonosso vazio interior e quetransforma em sentido para a vida ador da chaga originada no medo deque a nossa existência não serealize. E esse amor tem um nome:chama-se Misericórdia. OuSalvação, que é o mesmo.Então, na Páscoa, e muito mais naPáscoa do Ano Jubilar daMisericórdia, somos chamados acontemplar a enorme grandeza deum Amor –“Deus é amor”, garante-nos S. João (1Jo 4, 8)- que nosenvolve como graça, ternura,plenitude, felicidade, sentido,misericórdia, salvação. É o «Amorpuro», que colmata e branqueia onosso amor impuro, isto é, a perenetendência à posse e domínio daoutra parte: o instinto não defazermos os

54

outros felizes, mas a exigência deque os outros nos façam felizes anós. E como nos enganamos tantasvezes neste beco sem saída!… Precisamos de pensar mais nesteestranho paradoxo entre o quehabitualmente designamos por amore a misericórdia. Vulgarmente,quando falamos em amor, exigimosque o outro seja perfeito, para oamar sem reservas. Quando asimperfeições aparecem, o amordiminui. E o amor do bem conduz aoódio do mal. Com as consequênciasque se conhecem: tornamo-nosinsensíveis, rígidos, inflexíveis, mal-humorados. E facilmente chegamosao ódio.Pelo contrário, a misericórdiaaumenta quando o mal é maior.Quando a misericórdia vê um mal,sente-o como seu e compromete-sea libertar a pessoa. Ela destrói asbarreiras, todas as barreiras. Leva asacrificar-se para socorrer quemprecisa, mesmo a sofrer para fazera outra parte feliz.Eis, pois, a Páscoa de Cristo: nãose trata de um simples «amor», nasignificação que a nossa linguagemcorrente dá a esta palavra, mas damais completa e plena misericórdia.Não é o amor que aumenta oudiminui de acordo com a

correspondência da outra parte,mas a Misericórdia que abraça atodos, mesmo que o não mereçam eaté a rejeitem. Ela faz-nos ver agrandeza de Deus: o seu operarmagnânimo é completamentediferente da nossa mesquinhezinteresseira. E assim secompreende o mistério pascal:Jesus Cristo entregou a própria vidaà morte para que nós, pecadores ou«criminosos», possamos ter a vida.E vida em plenitude, pois se trata daparticipação da própria vida divina.Caros militares e polícias, no nossopróprio interesse, deixemos que amisericórdia do Redentor supra asnossas carências e infelicidades.Abramos o nosso coração aoSenhor da Misericórdia!A todos, feliz Páscoa!O vosso irmão e amigo,

+ Manuel Linda

55

Page 29: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

«Páscoa em oração» para pais efilhos

A Fraternidade Verbum Deipromove o retiro “Páscoa emoração”, na sua casa de Vale deLobos, em Sintra, uma atividadeaberta às famílias que visa ajudar aviver mais intensamente estaSemana Santa. “Muitas vezes aspessoas agradecem o silêncio eessa possibilidade de seencontrarem cara

a cara com Jesus”, explica PaulaJordão, uma das organizadorasda atividade, em declarações àAgência ECCLESIA.Orientada para pessoas de todas asidades, a iniciativa pretende levar osparticipantes a “sintonizarem” o seuespírito com o tempo da Páscoa.

56

Segundo Paula Jordão, no meio de“tantas celebrações”, de tanto“conteúdo”, torna-se por vezes“difícil” interiorizar “os impactos” queeste tempo litúrgico tem ou pode ter,na vida de cada um. “Deus passa àsvezes de uma maneirainsuspeitável, dá a cada pessoaaquilo que ela precisa”, aponta amissionária.Os quatro dias de retiro, até aoSábado Santo, são pontuados pelacelebração do Tríduo Pascal mastambém pelo lançamento de “pistasde oração”, pela “pregação” outestemunho, pelos “tempos comMaria”, tudo preparado pelosmissionários e missionárias VerbumDei.“Uma das grandes apostas quesempre temos feito é permitir quecasais com crianças até aos 12anos não deixem de poder rezarporque têm as crianças e precisamde tomar conta delas”, conta PaulaJordão.Para contornar esta questão, aFraternidade Verbum Dei disponibiliza para os mais novos umespaço chamado “Casa da Alegria”,com monitores e educadores.Assim, “enquanto os pais rezam,durante a manhã e a tarde, sabem

que os seus filhos estão a fazerjogos, brincadeiras e algumadinâmica parecida com a deles,apropriada à idade”.Deste modo, todos, pais e filhos,podem “viver” o retiro da melhormaneira, “cada um dentro das suasidades e necessidades”.Paula Jordão destaca a energiapositiva que as crianças, com a sua“alegria”, levam a todos osparticipantes, mesmo quando osono já leva a melhor e ospequenos deixam-se dormir “a partirda quarta ou quinta leitura da vigíliapascal”.“É também a alegria deexperimentar que elas fazem partedesta nossa fé à sua maneira”,realça aquela responsável.O retiro de Páscoada Fraternidade Verbum Dei emVale de Lobos termina com a vigíliapascal de sábado e com um espaçode ação de graças, “já naantecipação da ressurreição” deCristo.

57

Page 30: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

A dimensão social dos meiosde comunicação socialEm plena semana maior, vamoscontinuar a observar um poucosobre aquilo que a Igreja tem escritosobre os meios de comunicaçãosocial. Conforme nos diz oCatecismo da Igreja Católica, “odesenvolvimento positivo dos médiaao serviço do bem comum é umaresponsabilidade de todos e decada um”, devido ao forte impactoque os média têm na sociedade, aonível político, económico e social, éentão necessário fazer-se umaseleção que salvaguarde adignidade da pessoa humana e asociabilidade plena entre asdiversas pessoas. Assim sendo,deveremos ter em conta três opçõesfundamentais: a formação, aparticipação e o diálogo, diz JoãoPaulo II na carta apostólica “Orápido desenvolvimento”. Do pontode vista formativo é necessário fazercom que os meios de comunicaçãosocial sejam usados de maneiraconsciente e apropriados no espaçoe no tempo. As novas tecnologiasmodificam os processos e aqualidade das relações humanas,razão pela qual sem a adequadaformação se corre o risco de, emvez de estarem ao serviço

das pessoas, as instrumentalizar eas condicionar. Isto é válido paratodas as pessoas, mas tem maispertinência nos jovens devido à suaapetência natural para as inovaçõestecnológicas. Têm por issonecessidade de serem educadospara o uso responsável e crítico dosnovos meios tecnológicos. Por outrolado, no âmbito da participação co-responsável que é necessário existirna gestão do acesso aos meios decomunicação social há um longocaminho a percorrer. Se ascomunicações são um bem paratoda a humanidade, devem serencontradas formas dedisponibilização massiva e umaampla participação na sua gestãode maneira co-responsável. Porúltimo e não menos importante,deve-se favorecer o diálogo,fazendo das enormespotencialidades dos meios decomunicação social um veículo detransmissão de conhecimento, desolidariedade e de paz. “Elesconstituem um recurso positivo epoderoso, se forem postos aoserviço da compreensão entre ospovos; se forem usados paraalimentar injustiças e conflitos,tornam-se ao contrário uma "arma"destruidora. Concluindo

58

com uma reflexão espantosa deJoão Paulo II, “Não tenhais medodas novas tecnologias! Elasincluem-se "entre as coisasmaravilhosas" "inter mirifica" queDeus pôs à nossa disposição paraas descobrirmos,

usarmos, fazer conhecer a verdade,também a verdade acerca do nossodestino de filhos seus, e herdeirosdo seu Reino eterno.”.

Fernando Cassola [email protected]

59

Page 31: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Proteger a Criação: Reflexões sobreo Estado do Mundo«O grau de progresso de uma civilização mede-se precisamente pelacapacidade de salvaguardar a vida, sobretudo nas suas fases maisfrágeis, mais do que pela difusão de instrumentos tecnológicos.» - Papa Francisco Fez, no dia 13 de março, três anosque Jorge Mário Bergoglio foi eleitoPapa. Três anos de pontificadomarcado por inúmeras reformas eideias inéditas, nem todas bemaceites pela ala mais conservadorada Igreja.Através do seu carisma, simpatia,intimidade e afabilidade paterna —unidos à desarmante normalidadedas suas palavras e dos seusgestos, nada calculistas, livres detoda a formalidade e por vezes atéde toda a prudência diplomática, oPapa Francisco quer sensibilizar oscrentes e todos os homens de boavontade

sobre as dramáticas condiçõesatuais do planeta; um apelo paraque a criação volte a ser uma belacasa e uma família fraternal capazde gerar um futuro de justiça e depaz para todos.A pergunta-chave é esta: como sedeve agir, a nível político eeconómico, ético e espiritual, paracorrigir os desvios de umdesenvolvimento que não ameaçaapenas prejudicar a Terra, mastambém empobrecer e degradar oHomem que a habita?A sua advertência e o seu apelo sãodirigidos às responsabilidades

60

individuais e coletivas nouso racional dos recursosnaturais, que a todospertencem e que devem,portanto, ser distribuídos eutilizados em proveito detodos. É este o humanismoque Francisco tem vindo atraçar com toda a lucidezcomo projeto de civilizaçãopara a casa comum,apelando ao empenho econtributo de cada um,para que o mesmo setorne possível. Proteger a Criação:Reflexões sobre o Estadodo Mundo (Nascente l208 pp l 14,39€), já àvenda em todo o país, éum livro que nos falaprecisamente das ideias dePapa Francisco. A Nascente disponibilizaos primeiros capítulospara leituraimediata, aqui.

61

Page 32: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

II Concílio do Vaticano: Quando osseminaristas eram «estorninhos» e «melros pretos»

Cinquenta anos depois do II Concílio Vaticano II (1962-65), a realidade dos seminários em Portugal alterou-se radicalmente. Foram intensas as transformaçõesque muito contribuíram para uma renovação da Igreja.O Papa João XXIII quando anunciou (1959) a intençãode convocar um concílio marcou o início de uma novaera na vida da Igreja.Com a realização desta assembleia magna, naBasílica de São Pedro, durante o pontificado de JoãoXXIII e do Papa Paulo VI, e os documentos conciliaresnascidos neste período, a realidade posterior tinha,indubitavelmente, de ser diferente. Ora, a renovaçãotraz sempre consigo uma dinâmica que se contrapõe“dolorosamente ao imobilismo e à estagnação dasideias e dos costumes assentes num conservadorismoestagnado e perpétuo” (In: MENDES, João MariaBorges da Costa de Sousa; «O Seminário de Angra –150 anos de formação»).Na referida obra, o professor do Seminário Episcopalde Angra (Açores) realça que este confronto entre oestável e conservador e o inovador e progressistaprovocou, sem dúvidas, “transformações que unsaceitaram e acarinharam de bom grado enquantooutros opuseram sérias resistências a tudo o que eranovo”. Este debate de ideias marcou a vida daqueleseminário, naqueles anos da segunda metade doséculo passado, no entanto, aos poucos e poucos,“foi-se adaptando aos ensinamentos e à dinâmicaconciliar”.Para o padre João Maria Borges da Costa de Sousa

62

Mendes, esta dinâmica conciliarcomeçou a ganhar raízes, tanto navertente exterior como na vivênciaeclesial. Os seminaristas ficaramcada vez “mais arredados dastradicionais vestes talares e dospasseios em numeroso grupo pelasruas da cidade, ao ponto de seremjocosa e carinhosamente tratadospor «estorninhos» ou «melrospretos»” (lê-se na página 70 daobra citada). Por outro lado, a suaformação pós-conciliar começou aabordar uma .

vivência eclesial completamentediferente”.Sem querer fazer juízos de valor, osacerdote açoriano revela que estastransformações trazidas pela riquezae diversidade dos documentosconciliares tiveram “um tremendoimpacto” na vida do Seminário deAngra a partir de 1965, “gerandomesmo diversas controvérsiaspessoais e institucionais que só odecorrer do tempo e os futuroshistoriadores poderão analisar coma frieza científica”.

63

Page 33: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Março 2016 19 de março. Portalegre – Sardoal - Procissão do Enterro do Senhor integradanas celebrações da Semana Santado Sardoal . Viseu, 21h00 - Procissão doEnterro do Senhor no centrohistórico da cidade. O percurso teminício na Igreja dos Terceiros etermina na Sé Catedral . Algarve, Faro, 21h00 - Procissãodo Enterro do Senhor promovidapela Santa Casa da Misericórdia deFaro e presidida por D. ManuelQuintas, bispo do Algarve . Lisboa – Óbidos, 21h30 - Procissão do Enterro do Senhor integradanas celebrações da Semana Santade Óbidos . Coimbra - Estádio Municipal,21h30 - Via sacra na cidadepromovida pelo Arciprestado deCoimbra Urbana que vai circundar oestádio municipal. Guarda – Pinhel, 21h30 -Encenação da Paixão e Morte deJesus nas ruas de Pinhel e o elencoconta com jovens portadores dedeficiência

26 de março. Santarém - Museu diocesano - Encerramento (início a 08 dedezembro) da exposição sobre Sãofrei Gil de Santarém integrada nascomemorações dos 750 anos dasua morte . Lisboa – Óbidos, 15h00 - Concerto «Sinos da Terra - piano esinos» por Fernando António dosSantos e integrado nas celebraçõesda Semana Santa de Óbidos . Guarda - Pousade (Anfiteatro),21h00 - Encenação do «Drama daPaixão de Cristo» integrada nascelebrações da Semana Santa 27 de março. Portalegre – Sardoal - Procissão da Ressurreição integrada nascelebrações da Semana Santa doSardoal . Braga – Guimarães - Encerramento da exposição «APaixão em Guimarães»

64

. Guarda – Fundão – Encerramentoda Edição da Quadragésima, umciclo de turismo religioso dedicadoàs tradições da Quaresma e daPáscoa, com o tema «Rostos daPaixão». . Setúbal - Casa da Baía – Encerramento da Exposição «Viada Misericórdia» que retrata opercurso de «Cristo com a Cruz atéao Calvário», com 15 trabalhos dediversos artistas plásticos 28 de março. Porto - Valongo (Espaço paroquial)- Encerramento da exposição sobreMaria Madalena promovida pelaConfraria do Senhor dos Passos eda Paróquia de Valongo 30 de março. Fátima - Centro Pastoral Paulo VI - Congresso da Misericórdiaorganizado pela Congregação dosPadres Marianos da ImaculadaConceição (termina a 03 de abril). Terra Santa - Peregrinação à TerraSanta inserida no curso «O Mundoda Bíblia» (termina a 11 de abril)

65

Page 34: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Ao longo do tríduo Pascal, de norte a sul do país,existem várias formas de viver os últimos dias de Jesusaté à Ressurreição. - O Papa Francisco escolheu o cardeal GualtieroBassetti, da diocese italiana de Perugia, para criar asreflexões da tradicional Via Sacra do Coliseu de Roma,25 de março, na Sexta-feira Santa. Os textos propõemmeditações sobre as perseguições e a violência queatingem a humanidade. - A encenação da Paixão e Morte de Jesus volta àsruas de Pinhel, dia 25 deste mês, Sexta-Feira Santa, eo elenco conta com jovens portadores de deficiência.Este ano, enquadrada no ano jubilar, o texto e aencenação vão questionar sobre a Misericórdia esobre o papel da paixão e da morte de Jesus. - Diversas instituições religiosas e civis no Concelhoda Guarda promovem um roteiro que celebra aSemana Santa com iniciativas culturais e de fé comoprocissões, exposições, teatro comunitário, música etertúlias, até 26 de março. - A Semana Santa da Arquidiocese de Braga privilegiaa força das imagens e da encenação bíblica, nascelebrações, procissões e exposições que compõem oprograma, para ajudar as pessoas a entrarem noespirito deste tempo pascal.

66

67

Page 35: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

10h30 - Oitavo Dia 11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 20h30Domingo de Ramos, 27 demarço - Passos deressurreição: recriações doGrupo Gólgota RTP2, 15h00Segunda-feira, dia 28 -Entrevista sobre SílviaCardoso, com o cónegoÂngelo Alves e padre SamuelRodrigues Terça-feira, dia 29 -Informação e entrevista aMaria José Vilaça e Vanessa Machado sobre aTeologia do Corpo Quarta-feira, dia 30- Informação e entrevista aopadre António Valério sobre as II Jornadas Práticas deComunicação Digital Quinta-feira, dia 31 - Informação e entrevistaThereza Ameal e Pedro Rocha e Mello sobre o livro"Lúcia, a vida da pastorinha de Fátima". Sexta-feira, dia 01 - Análise à liturgia de domingopelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio. Antena 1Domingo, dia 27 de março - 06h00 - A música dePáscoa Segunda a sexta-feira, 28 de março a 01 de abril - 22h45 Páscoa: os lugares de Ressurreição na TerraSanta

68

69

Page 36: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Ano C – Domingo da Páscoada Ressurreição do Senhor Ver e acreditarque Cristoestá vivo

“Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos ondeO puseram”. No Evangelho deste domingo de Páscoa,Maria Madalena experimenta o vazio: não há nada,nem mesmo o cadáver do seu Senhor bem-amado. Elanão tinha nada a que se agarrar para fazer o luto.Sabemos bem como é mais dolorosa a morte de umente querido quando o seu corpo desapareceu,quando não há túmulo onde se possa ir emrecolhimento.A Igreja não cessa de repetir que Jesus está vivo,vencedor da morte para sempre. Todos os anos semultiplicam aleluias. Mas ressoa em nós a constataçãodos discípulos de Emaús, ao dizerem aodesconhecido, que se lhes juntou no caminho, quenão tinham visto o Senhor.Paulo grita: «Onde está, ó morte, a tua vitória?» Anossa experiência poderá perguntar: «Ressurreiçãode Cristo, onde está a tua vitória?»Apesar do primeiro anúncio «Jesus não está aqui,ressuscitou!», a morte continuou obstinadamente asua ação de trevas, com os seus fiéis acólitos:doenças, lágrimas, desesperos, violências, injustiças,atentados, guerras…Continuamos a entoar nas nossas igrejas: «Aleluia! Éprimavera! Cristo veio de novo!» Vemos a primavera,mas nem sempre vemos Jesus. Aqui está a dificuldadee a pedra angular da nossa fé.Dificuldade, porque a Ressurreição de Jesus não fazparte da ordem da demonstração científica. Ficamosencerrados nos limites do tempo, mas Jesus saiudesses limites, Ele está para além do nosso olharvisível.A Ressurreição é, ao mesmo tempo, a pedra angular

70

da nossa fé porque, como odiscípulo que Jesus amava, somosconvidados a entrar no túmulo, afazer primeiro a experiência dovazio, para podermos ir mais longe,como o discípulo que viu eacreditou. Daí a importância dosábado santo, tempo de passagempara a vida nova no Ressuscitado.Podemos apoiar-nos e confiar notestemunho das mulheres e dosdiscípulos. Também eles tiveramque acreditar. A sua fé é essencialpara enraizarmos a nossa fé emCristo Ressuscitado.Como os discípulos, procuremos vere acreditar que Cristo está vivo, semcorrer atrás do maravilhoso que

sempre nos escapa e dececiona.Durante o tempo pascal, a exemplode João, exercitemos o nosso olharpara descobrir o Ressuscitadoatravés dos sinais humildes da vidaquotidiana.Com os discípulos de Emaús,procuremos descobri-lo a caminharperto de nós na peregrinação davida e a abrir os nossos espíritos àcompreensão das Escrituras.Que a Páscoa de Jesus Cristoressuscitado seja a nossa alegria!Sejamos felizes em tempo pascal,intensamente vivido em jubilar anoda misericórdia!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

71

Page 37: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

O lava-pés da Misericórdiacom os refugiados

O Papa Francisco decidiu celebrar orito do lava-pés na próxima Quinta-feira Santa, com 12 refugiados erefugiadas de vários países,anunciou hoje a Santa Sé. Acelebração da tarde de Quinta-feiraSanta, início do Tríduo Pascal, vaidecorrer no centro de requerentesde asilo de Castelnuovo di Porto,cerca de 30 quilómetros a norte doVaticano, que recebe sobretudojovens refugiados.

O gesto quer ser "um sinal simples,mas eloquente" de atenção pelacondição dos refugiados, explica aojornal do Vaticano o arcebispo RinoFisichella, responsável pelaorganização dos vários eventos doJubileu da Misericórdia. "O Papa vaiajoelhar-se para lavar os pés a 12refugiados, como sinal de serviço eatenção à sua situação",acrescentou.A decisão de celebrar estacerimónia

72

fora do Vaticano é já uma tradiçãono atual pontificado: em 2015,Francisco foi ao complexo deRebibbia, onde o Papa lavou os pésa alguns detidos e a detidas de umaprisão feminina vizinha; em 2014, opontífice argentino deslocou-se aoCentro ‘Santa Maria dellaProvvidenza’, da Fundação DonCarlo Gnocchi, destinado àreabilitação de pessoas comdeficiência e idosos, em Roma; em2013 esteve numa prisão juvenil dacapital italiana.Uma das mudanças promovidaspelo Papa Francisco, a nívellitúrgico,

foi a decisão anunciada este ano demodificar a rubrica do MissalRomano relativa ao lava-pés deQuinta-feira Santa, estabelecendoque a participação no rito não sejalimitada só aos homens e rapazes.O Missa Romano passa a deixar defazer referência aos “homensescolhidos”, passando a falar nos“escolhidos entre o povo de Deus”,de maneira que os responsáveispelas comunidades católicas“possam escolher um grupo de fiéisque representem a variedade e aunidade de cada porção do povo deDeus”.

Ao longo dos difíceis e incómodos caminhos que levavam a Jerusalém,os pés dos peregrinos feriam-se e sujavam-se por ocasião das festasimportantes. Sobretudo os dos pobres e estrangeiros que, vindos delugares mais remotos, caminhavam com enorme sacrifício rumo à Grandee Santa Cidade, mesmo sabendo que como convertidos não receberiamum bom acolhimento. Se encontravam alguma família hospitaleira que osconvidava para comer e descansar, o primeiro gesto, o maismisericordioso, era lavar e curar os seus pés feridos. Não era tarefa dodono da casa, mas dever dos escravos; mesmo assim contudo era umgesto de enorme caridade humana e espiritual.Na ceia da festa de Pesach, enquanto Jesus se reúne com os seusdiscípulos, ninguém prevê tal gesto e ninguém está disposto a praticar taltarefa, considerada humanitária mas humilhante para quem a realiza.Exceto Jesus, que como exemplo da sua visão do serviço a faz a cada umdeles.

Marcelo Figueroa, ‘L’Osservatore Romano’

73

Page 38: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Confissão: «Uma prendaextraordinária»

A viver o ano da Misericórdia,proposto pelo Papa Franciscotrazemos o tema do perdão. AEcclesia foi ao encontro do padremonfortino Rui Valério, Diocese deLisboa. Ele é Missionário daMisericórdia e confessa várias horaspor semana. De voz calma e olharintenso o sacerdote explica que aspessoas ainda não perceberam aforça

impeditiva do pecado.“Ainda não aprendemos a descobrirque na origem e a montante detantos comportamentos que nãoaceitamos e ate condenamos masestá a presença e toda a força dopecado, aquela que impede e nãodeixa ser”.“O tempo de arrependimento servepara o Homem rasgar as suas noitese olhar com esperança porquerestitui

74

e resgata o Homem das suasprisões e limitações”.O sacerdote consagrado antes dese sentar para confessar nãonecessita de grande preparaçãoporque acredita que “a preparaçãoé contínua”“A melhor preparação que umsacerdote confessor faz é habilitar-se e treinar-se na escuta da voz deDeus. Quando faço espaço em mim,disponibilidade para ouvir Deus e oseu apelo, estou habilitado a ouvir ogrito sofredor do meu irmão que sesente esmagado pelas suas culpase faltas”.O sacerdote rui Valério é tambémele neste ano Missionário daMisericórdia enviado pelo PapaFrancisco, tem a faculdade deperdoar pecados “reservados”, ouseja, que só podem ser perdoadospela Santa Sé.Na conversa com a Ecclesia osacerdote mostrou-se feliz pelanomeação e olha para osacramento da reconciliação comoum espaço de luz.“Eu quando entro numa sala e estáàs escuras, pode estar suja oudesarrumada mas como está àsescuras nem vejo a sujidade, nemmanchas, nem desarrumação. Mas, pelo contrário, se abrir janelas,deixar entrar luz, então começo

a ver que tudo precisa de limpeza.Na vida do ser humano é o mesmo,quando mais me aproximar da luz deDeus mais eu enxergo a vidapecaminosa que me caracteriza”,refere.Em jeito de convite o Missionário daMisericórdia, padre Rui Valério,deixa a mensagem para todos osque andam a pensar aproximarem-se de um sacerdote para seconfessarem nestes dias queantecedem a Páscoa. “Não tenhammedo de Deus, o sacerdote éapenas um meio para receber algoque o próprio Deus te quer dar, obálsamo, o medicamento e umacura”.“Há esperança em cada vida, masisso só é possível quandodesfrutarmos, quando estivermos‘empapados’ da força do amor queDeus quer transmitir e comunicar.Há uma prenda extraordináriaatravés da reconciliação”, conclui.

75

Page 39: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Sudão do Sul: No meio do horror, uma história feliz

A rapariga escravaDesde Dezembro de 2013 que oSudão do Sul está a ferro e fogo.É uma guerra civil que já causoudezenas de milhares de mortose mais de dois milhões derefugiados. No meio deste ódioà solta, descobrem-se asmaiores atrocidades. Há atépessoas, rapazes e raparigas,escravizadas. Adut, teve sorte.Um padre resgatou-a quando jáestava meio moribunda No Sudão do Sul vive-se uma dasmais tenebrosas guerras daactualidade. Tudo começou poucosdias antes do Natal de 2013. Estaguerra não chega a ser ideológicaou religiosa. É meramente tribal eisso explica, em parte, todo o ódio àsolta, a violência descontrolada.Para além de tudoisto, há ainda um ambiente deviolência, na região fronteiriçacom o vizinho do norte, o Sudão,país islâmico cada vez maisradicalizado. Essa região, comcentenas de quilómetros, éterra de ninguém. Esse vaziotem sido terreno fértil paragrupos mercenários

actuarem na maior dasimpunidades. A tal ponto que por láé possível, hoje em dia, comprar evender pessoas fazendo com que aescravatura continue actual. Nomeio da indiferença com que tudoisto acontece, há pessoas que lutamcontra este estado de coisas. OPadre Aurélio Fernandez assumiu amissão de resgatar o maior númeropossível destes condenados a umavida de escravidão. Uma das jovensque salvou é Adut. Aurélioencontrou-a num mercado à esperade comprador.

76

“Um animal”Adut tinha as pernasensanguentadas e infectadas. OPadre Aurélio perguntou quantocustava. A resposta veio fria e seca:“Ninguém compra um animal emmau estado”. Por estar em “mauestado”, o Padre Aurélio conseguiuaté resgatar todo o grupo por umpreço mais baixo. Normalmente, umrapaz custa cerca de 300 euros. Asraparigas ficam por “apenas” 250…Hoje estão todos em liberdade e areaprender a viver sem grilhões.Adut era uma rapariga normal quevivia na sua aldeia quando ocorreuuma rusga de militares sudaneses.Todos fugiram em

alvoroço. Por ali ninguém confia nosmilitares. Adut também fugiu.Um soldado, a cavalo, viu-a, foi aoseu encalço, lançou-lhe uma cordae arrastou-a, pelo chão, durantevários quilómetros. Depois, como senão bastasse toda essa violência,violou-a. Era apenas “um animal emmau estado”, terá pensado. O PadreAurélio chegou a tempo ao mercadode escravos. Mais uns dias e,provavelmente, não sobreviveria.A Fundação AIS lançou umacampanha de apoio à Igreja doSudão do Sul. Sem os holofotes dasrádios e das TV´s, há, neste paísmergulhado em guerra, muitospadres Aurélio que todos os diasprocuram salvar alguém das garrasdos mercenários, do ódio tribal, dapobreza extrema. No Sudão do Sulhá pelo menos dois milhões dehomens, mulheres e crianças queestão de mãos estendidas e queprecisam de nós. Estamos no Ano da Misericórdia. Eles precisam da nossa ajuda e das nossas orações. Todos eles contam consigo.

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt

77

Page 40: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

Páscoa em Angola

Tony Neves Espiritano

Há terras, por esse mundo além, onde aspalavras podem dizer mais. É talvez o queacontece com a Páscoa em Angola. O povo viveuuma longa quaresma de sofrimento, desde oinício da guerra colonial até ao fim da guerracivil. Foram quarenta anos! As marcas são aindamuitas, embora o fim dos combates tenhaacontecido há 14 anos, após a morte do Dr.Jonas Savimbi em 2002.Um longo caminho de morte deixa sempre muitorasto que é difícil de apagar. Até porque assequelas de uma guerra tão longa e tão cruelfazem ainda parte da vida de muitos angolanos.Assim, o acesso a um trabalho bem remunerado,tudo quanto diz respeito a saúde, educação,habitação, segurança, distribuição e terras… istodeixa ainda muito a desejar. O país continua apertencer a poucos e a muita riqueza de Angolaestá nas mãos de uma minoria. As pessoas,regra geral, não confiam nos políticos, nãoconsideram a justiça independente, acham quefalta competência em muitas instituições. E épena, pois Angola deveria ser hoje umareferência mundial de cidadania responsável,uma vez que possui tem meios e gentecompetente para tal.Angola é um país onde a Fé cristã ganhouraízes. A maioria da população diz-se cristã, comprática dominical muito elevada. Olhando aoperíodo crítico do pós-independência (1975), emque o combate à Religião foi visceral, não eraprevisível que tanta gente se mantivesse fiel aosseus princípios e convicções religiosas. Mas averdade

78

é que as Igrejas estão cheias e ascelebrações são grandes e longasfestas.Esta Semana Santa encherá todasas medidas de Fé do povo. AQuinta-feira Santa celebra ainstituição da Eucaristia. A sexta-feira é de longo silêncio, jejum eabstinência para sintonizar com apaixão e morte de Cristo. A VigíliaPascal será uma festa de luz e debaptismos. A manhã de Páscoaamplificará o grito de Ressurreiçãode Cristo e espalhará pelo paísinteiro a vitória da vida sobre todasas formas de morte.

Sabe bem mudar de continente ecultura para viver, de formadiferente, estas celebraçõesmaiores do calendário cristão.Precisamos de ver crianças e jovensàs centenas a dizer-nos que a Féestá viva e que a Igreja tem futuro. Éesta a experiência que estou a fazernuma visita que me permitiu passarpelo Dundo, Lucapa, Saurimo,Malanje, Kalandula, Golungo Alto,Luanda, Huambo, Chinguar,Benguela, Lobito… Uma Santa e Feliz Páscoa paratodos.

79

Page 41: Unidos contra o - Agência ECCLESIA · 06 - Foto da semana 07 - Citações 08 - Nacional 14 - Internacional 20 - Opinião: José Luis Gonçalves 22 - Opinião: LOC/MTC 24 - Semana

80