uma cerveja antes do fim do mundo

7/25/2019 Uma Cerveja Antes Do Fim Do Mundo

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Por John Bogéa em umanoite insólita no finalzinho de 2015.

Para jogar este jogo você precisa ser maior de idade e gostar de cerveja.Se você é menor de idade, não leia este livro, não jogue este jogo.

Se você tem problemas sérios com bebidas, tipo muito sérios mesmo,melhor se livrar deste livro e dar uma ligada pro AA: (11) 3229-3611.



“Eu acordei essa manhã e tomei uma cerveja.O futuro é incerto e o fim está sempre próximo.”

(Roadhouse Blues - Te Doors.)

Talvez o mundo acabeamanhã. Talvez não.

Imagine que, poucos dias antes doréveillon, uma velha profecia de uma

civilização perdida genérica é interpretadade foma apocalíptica e aponta o primeirodia do ano novo como o dia definitivodo juízo final. Vai haver maremotos,terremotos, inversão dos polos da Terra, asgeleiras do ártico vão derreter, o planeta vaiinundar, secar, inundar de novo, congelar,

descongelar, incendiar com uma tempestadede ventos solares radioativos e explodir emuma linda, incandescente e aterradora bolade luzes coloridas no espaço.

Os cientistas dizem que é impossível,que não há evidências científicas queconfirmem a tal profecia sobre o fim do

mundo, mas a mídia televisiva andava tão

carente de sensacionalismo que aproveitoupara divulgar massivamente especulações

distópicas sobre os possíveis últimos dias dahumanidade. Os telejornais se concentramapenas nesse tema e, baseados em pesquisastendenciosas e artigos científicos duvidosos,mostram ao telespectador somente asopiniões que tendem a corroborar com suanarrativa de catástrofe global.

Os estudiosos discordam dos boatos,mas aquela última campanha publicitária dedesodorante, com aquele ator hollywoodianofamosíssimo, é definitivamente maisconvincente que qualquer tese acadêmica.Um produto caro, top, com embalagembonita e sustentável. “O final dos tempos é

agora, então morra com estilo” , a locução

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elegante encerrava o comercial mostrandoum homem forte, sensual, fumegante,

segurando um frasco do tal desodoranteenquanto é rodeado de modelos combiquínis cavados em um cenário másculo,explosivo e pós-apocalíptico.

Os pesquisadores afirmam que o mundonão vai acabar, mas aquele apresentadorcafona de programa de auditório afirmou

que o fim do mundo era uma certeza tãogrande quando a qualidade dos produtosde seus patrocinadores. Convidou para oprograma alguns videntes, clarividentes,ocultistas, telepatas e, claro, atores denovelas, que, como já era de se esperar,compartilharam suas sabedorias carregadasdaquela filosofia “do bem” tiradas de algum

livro barato de autoajuda. Criou realityshows sobre celebridades que estavam noostracismo mas dispostas a passar seusúltimos dias como atrações de zoológico.Entre um merchandising e outro, nos expõea todo o constrangimento alheio que é veralguém buscar desesperadamente seusúltimos minutos de fama.

Os metereologistas dizem que não hámotivos para pânico, mas aquele artistahipster-neotropicalista-intelectual cultuadopelo seu talento questionável, seu modode vida ousado e suas opiniões polêmicas,deu seu comentário definitivo sobre o caso:“O mundo vai acabar em uma bola de luz”

e, mesmo não sendo referência em quasenada além de seu nicho artístico, é sempre

levado muito a sério, independente deentender ou não do assunto. Ele tambémaproveitou o ensejo e convidou as pessoas adarem as mãos e, claro, cantarem seu últimosucesso composto exclusivamente para estemomento oportuno, mais uma daquelasmusicas de “mais amor, por favor” descritapela crítica-parceira-especializada comooriginal e criativa.

Os físicos garantem que o fim domundo é uma farsa, mas as redes sociaisestão enlouquecidas, cheias de verdadesabsolutas, fotos de gatinhos, especulaçõesfatídicas, vídeos de gatinhos, religiosidadeconveniente, desenhos de gatinhos e

teorias conspiratórias sobre como osIluminatis estão orquestrando tudo isso.Pessoas pseudointeligentes postam textõespseudointeligentes que são massivamentecompartilhados por pessoas que tem medode não parecerem tão inteligentes.

Os astrônomos que negam o fim do

mundo são chatos, mas aquela youtubercarismática e divertida, que recebeucinquenta milhões de visualizações noúltimo vídeo sobre a falta de sensibilidadede homens bêbados que urinam na rua,afirma que já tinha notado os sinais doapocalipse na desumanidade das pessoas, nafalta de poesia do dia a dia e nos alimentos

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Como jogar essa bagaça?Que diabos é um jogo narrativo?Um jogo narrativo é um jogo de contar

histórias em coletivo. Em Uma Cerveja Antesdo Fim do Mundo, que, especificamente, é

um jogo para mesas de bar, cada integranteda mesa, isto é, cada jogador, vai se autoinserir como personagem de uma históriafictícia sobre uma última noite antes do fimdo mundo que acontece no bar em que estãono momento do jogo, narrando uma cenadessa história por vez.

Preparação: Situações Inusitadas A base do jogo é contar histórias

inusitadas e constrangedoras, usando a simesmo como personagem e o bar em que se

está bebendo como cenário. Cada jogadorpega um guardanapo e escreve uma situação

inusitada que julgue interessante existir nahistória, pode ser uma experiência pessoal,algo que viu em um filme ou algo que acaboude inventar, o importante é que seja algoinusitado, bizarro ou até surreal.

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transgênicos. Dá conselhos abstratos eespirituais sobre como passar o final dos

tempos de bem com o meio ambiente, debem com a família, em paz consigo mesma euntada de óleo de linhaça.

Os céticos pedem mais razão, mais lógica,mas os religiosos estão convictos e esperam oarrebatamento que os pastores prometeram.Os pastores esperam um jatinho para passar

o último final de semana em Miami comseus amigos deputados com síndrome de

deus. Os direitistas acusam o esquerdistas,os esquerdistas acusam os militares, os

militares jogam bombas em todo mundo.No caos das ruas, os pregadores de esquinacom suas velhas placas que já anunciavamo armagedom, gritam descontroladamenteapontando na cara das pessoas: “Nósavisamos, seus babacas!”.

E você, bem, você não tem certeza se o

mundo vai realmente acabar e, atraído peloneon, saiu pra tomar uma cerveja.



Exemplos:

- Vai se sentir sexualmente atraído por outro personagem.

- Vai passar mal por causa da bebida e vaivomitar em alguém.

- Alguém do bar vai começar um briga comvocê e ameaçá-lo com um gargalo de garrafa.

- Alguém vai colocar drogas na sua bebida- O cara da mesa ao lado confessa ser umextraterrestre caído na terra nos anos 70

- A garçom é um ex-namorado violento deuma ex-namorada sua.

- Sua mulher coincidentemente está sentada

em uma mesa ao lado com um amante.- Alguém entra correndo no bar dizendo que éum viajante do futuro.

- Seu amor platônico está na mesa ao ladocom outros caras.

- Vai ganhar uma bebida especial de um

admirador secreto.- Vai ficar tão bêbado, que vai subir na mesa,dançar e tirar a roupa.

- Vai transar no banheiro com a pessoa mais feia do bar.

- O barman, supersticioso, acha que você é

um sinal de má sorte e pede para que se retire.

Depois passa oguardanapo para

o jogador daesquerda, recebeo guardanapodo jogadorda direita, eescreve maisuma situação

inusitada.Isso vai acontecer até quecada guardanapo tenha seis situaçõesinusitadas.

Quando você finalmente receber umguardanapo com seis situações, vocêescreve seu nome nele e as situações vão lhe

pertencer, prestes a serem vividas por vocêdentro da história.

Jogando o jogoUm jogador por

vez (na sequencia queo grupo achar maisconveniente) escolhe umadas situações inusitadasdescritas no seu guardanapoe narra sua cena na história,dizendo como vai viver aquela

situação.

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A narrativa de uma cena dura

em média 2 ou 3 minutos (ou mais),

geralmente começando como toda aboa história começa: “Estava bebendo

uma cerveja quando…” .

Automaticamente, todo o desfecho de

uma cena deve ser ruim pra o personagem,isto é, se é você que está narrando, você,

de alguma forma, vai se dar mal no final dacena. A não ser que beba cerveja suficiente

para mudar esse destino.

• Você pode virar meio copo de

cerveja ou um copo inteiro de cerveja e narrar a cena sedando bem no final.

• Outro jogador pode contestarsua cena virando a mesma

fração de cerveja que você virou ou mais e ditar ele

mesmo o que vai acontecer nasua cena.

• Você pode anular a

contestação virando a mesma

fração de cerveja que o

jogador que o contestou viroue manter sua cena como você

determinou.

A contestação sobre uma cena

pode acontecer uma quantidade

ilimitadas de vezes, vinda do mesmo jogadorou de vários jogadores diferentes. Você

precisa anular cada uma delas se quisercontinuar tendo poder sobre o desfecho desua cena.

Depois do desfecho da cena,independente de como acabar, você riscaessa situação inusitada de sua lista, passa a

vez para o próximo jogador narrar e esperasua vez chegar novamente. Quando todosos jogadores tiverem narrado todas as suassituações inusitadas, a história chega ao fim.

Mas.. e o fim do mundo?Vocês pedem uma parcial da conta para

o Garçom, se o valor for par, o mundo defato acaba, se o valor for ímpar o mundo nãoacaba e os personagens terão que convivercom as situações por qual passaram.

Quebrando regrasVocês podem aumentar ou diminuir a

quantidade de cerveja sugerida no jogo,podem até substituir cerveja por qualquerdose de qualquer bebida que quiserem.Vocês já são bem grandinhos, conhecem seus

limites, façam o que quiserem.

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