um olhar para a cultura japonesa e para a sustentabilidade ......pelo cultivo de alimentos e pela...
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Foi a partir de uma imersão na cultura da
comunidade de ascendência japonesa Yuba
que Fernanda Yamamoto estabeleceu os
conceitos que guiam a coleção Verão 2019.
Fundada na década de 1930, foi o japonês
Isamu Yuba que, inspirado nas obras de
Liev Tolstói e Jean-Jacques Rousseau,
dedicou-se a criar uma comunidade
autossustentável agrícola nos arredores de
Mirandópolis (600 km distante de São Paulo,
SP). Em Yuba tudo é de todos: um lugar onde
a circulação de dinheiro não existe e onde a
arte e o trabalho possuem o mesmo valor.
Como princípio fundamental, a
comunidade tem sua rotina diária definida
pelo cultivo de alimentos e pela prática
de atividades artísticas. Sua filosofia
autossuficiente estabelece que seus
integrantes plantem tudo aquilo que
necessitam para comer, preparem as suas
próprias refeições – realizadas sempre
coletivamente no grande refeitório – e
construam todas as casas e construções
que habitam. Na década de 1960,
levantaram em mutirão o famoso Teatro
Yuba, cujos espetáculos anuais também
contam com figurinos feitos por eles.
A estilista e sua equipe visitaram e
vivenciaram o dia a dia da Comunidade
nikkei e puderam constatar a preservação
de tradições como o idioma, a
celebração das datas comemorativas
típicas, dentre outras atividades.
“Fiquei bastante sensibilizada pela
simbiose entre a lavoura e as artes, e como
essas atividades podem se influenciar
mutuamente: a delicadeza com que se
toca um instrumento pode também ser
percebida no momento de tratar um alimento.
Da mesma forma, a dureza e peso de um
trabalho braçal na roça são suavizados
com a sutileza das artes”, conta Fernanda.
Isamu Yuba dizia que “para ser um lavrador,
é preciso ser artista, e vice-versa”.
Teatro, balé, dança, violino, piano,
violoncelo, saxofone, haikai, cerâmica e
bordado são algumas das artes praticadas
na comunidade, sempre no período da
tarde, após o trabalho diário no campo.
Foi o Teatro Yuba que estabeleceu uma
relação ainda mais intensa da comunidade
com as artes e que, também, influenciou
fortemente Fernanda. É sua imagem que
aparece na estampa Retratos, criada
por Clarisse Romeiro a partir dos desenhos
de Katsue Yuba (filha do fundador
Isamu Yuba) e que exibe também
rostos de membros da comunidade.
Conceito imperativo da vida na
comunidade, o contraste entre a aspereza
do trabalho na roça e a leveza da prática
artística aparece de diversas maneiras
na coleção: na escolha dos tecidos, tanto
leves quanto encorpados – organza, gazar,
shantung, viscose, algodão e malha block
–, e na cartela de cores que passeia por
tons terrosos quentes e frios. A criação das
peças parte de apenas três formas muito
simples: o círculo, o triângulo e o quadrilátero,
mas que não deixaram de resultar numa
construção de roupas sofisticada e
trabalhosa, mas com o mínimo de desperdício.
“Quisemos incorporar a filosofia yube
em nosso processo criativo. Do tingimento
à confecção, procuramos dominar todos os
processos, diminuir o desperdício, trabalhar
manualmente cada peça e construir um
trabalho coletivo feito à muitas mãos.
O forte senso comunitário que vimos em
Yuba guiou todo o processo coletivo de
concepção.” Bom exemplo desta busca
foi a exploração do processo tradicional
do shibori (meticulosa técnica japonesa
de tingimento conseguida através de
costuras e amarrações) que deu origem
aos plissados totalmente manuais feitos
no próprio ateliê e às texturas utilizadas.
Todas as cores dos tecidos foram
obtidas através de processos de
tingimento natural, tendo grande parte
das plantas usadas sido coletadas na
própria comunidade, como urucum, folha
de caju, casca de cebola e flor de cosmos.
A extração dessas cores se realizou
transformando flores, frutas, sementes
e cascas em diversos pigmentos, num
processo lento e inteiramente manual.
Priorizou-se também materiais de descarte
ou que pudessem ser consumidos após o
uso, como é o caso da semente de avocado,
feijão preto, arroz negro e repolho roxo.
Claudia Fugita, diretora de arte e estilista,
é quem assina o tingimento natural deste
trabalho. Por dois anos trabalhou ao lado
de Fernanda Yamamoto, e, desde então,
já atuou em diversas colaborações para
a marca. Claudia acompanhou a equipe
nas viagens à Yuba e supervisionou
as experimentações feitas no próprio
ateliê da estilista, que resultaram em
cerca de trinta cores diferentes.
Para reforçar a equipe de especialistas
em tingimento, Fernanda convidou
Marina Stuginski, pesquisadora de
tingimento natural, para desenvolver
algumas cores da coleção, incluindo o
índigo, planta utilizada há milênios pelos
japoneses como corante natural.
Mais trabalho manual: Maria Fernanda
Sodré, da A Mafalda criou oxfords e botas
em todas as cores da coleção. Anne Galante
desenvolveu tricôs de algodão em obis,
aventais, toucas, faixas e bolsos. Cristina
Matsuzaki e Magda Catapani assinam
cerâmicas associadas às três formas
geométricas da coleção e seus negativos
que se tornaram bordados pelas mãos
de Gabriel Pesagno. Além disso, outro
valor yube: menos desperdício. Todas os
retalhos de tecidos foram aproveitados
e transformados em casacos de tricô
manual pela designer Susana Fernandez.
Para o casting Fernanda buscou
diversidade trazendo para o desfile
moradores de Yuba, artistas, bailarinos,
músicos, atrizes e modelos que se
identificam com a filosofia yube e que
têm a arte presente em seu dia a dia.
As milenares tradições japonesas
nunca pareceram tão atuais.
fernanda yamamoto [verão 2019]
um olhar para a cultura japonesa e para a sustentabilidade por meio da comunidade yuba
ficha técnicadesfile direção Renata Jay styling Paulo Martinez beleza Marcos Costa trilha Hisato cenário Gustavo Menegazzo
ateliê fy
direção Fernanda Yamamotocriação Fernando Jeon e Luciana Bortowskimodelagem Fernando Jeon assistentes Juliana Yamaji e Marina Zomignancoordenação de produção Luciana Salazarpiloteiras Silvia Batista e Simone Barbosacortador Oseias Araujopassadoria Marcia Xavierestagiárias Ana Carolinna Gimenez e Gabriella Peres
direção tingimento natural no ateliê Claudia Fugitacoordenação Isabella Luglio e Luciana Bortowski tingimento natural fora do ateliê Marina Stuginskiplissados e shibori Ana Carolinna Gimenez, Gabriella Peres, Isabella Luglio, Juliana Yamaji, Marina Zomignan.
estampa retratos desenhos de Katsue Yuba, trabalhados por Clarisse Romeirocerâmicas Mattinna Design em Cerâmica por Cristina Matsuzaki e Magda Catapanibordados Gabriel Pesagnotricôs Anne Galante [algodão], Susana Fernandez [retalhos]sapatos A Mafaldadesign gráfico Tereza Bettinardi
loja fy Sueli Freitas apoio Ionildes Castro e Mayara Silvainstagram Maria Caneppa
agradecimentos Daniel Corsi, Fazenda Jaguacy, Francisco Ferreira, Iracema Coronato, João Batista, Kyoko Hirano, Ozenir Ancelmo, Silvia Sasaoka, Suely Yamamoto, Uataú Fernandes
comunidade yuba no desfile Akiko Ohara, Assaka Yuba, Aya Ohara, Daigo Yuba, Katsue Yuba, Haruko Yuba, Hitomi Yuba, Issamu Yazaki, Lena Yuba, Missao Mochizuki, Nozomo Yuba, Rie Ishikawa, Satie Yuba, Satiko Yuba, Subaru Kumamoto, Terumi Mochizuku, Yumiko Kumamoto
Yarani Assaka Yuba no violoncelo (feito pelo lutiê Kensaku Yuba) toca a música “Taiyou Ga Atsuikara” (Porquê o sol está quente), composta pela Comunidade (letra: Sestsuko Higuchi, melodia: Masakatsu Yazaki). A música fala de um dia de sol: as crianças brincando na terra e a luz do sol formando sombra entre as árvores. É usada em um repertório de dança que representa o cotidiano da Comunidade, montada em 1976 para a primeira turnê ao Japão por ocasião dos 70 anos da imigração japonesa no Brasil.
ficha técnicatingimento natural
pigmento cores
cúrcuma amarelo
urucum laranja queimado
cascas de cebola amarela
terracota
sementes de avocado (da Fazenda Jaguacy)
rosé; rosé queimado
repolho roxo lilás; verde petróleo
arroz negro violeta; tabaco; cinza azulado
feijão preto lavanda; cinza; cinza chumbo; violeta;
azul noite; azul petróleo; azul oceano
carvão cinza; prata
spirulina verde água
cúrcuma + feijão preto verde folha; oliva
cascas de cebola roxa oliva
índigo azul
rubia tinctoria salmão; vermelho
indigo + madder + rubia + camomila
preto
rubia + indigo noite (uva escuro)
cochonilha púrpura
1950 meninas com lenço
essência a Yuba: simplicidade e zero waste para criação das formas
1968 poster, na ocasião do espetáculo em São Paulo
Rua Aspicuelta 441Vila MadalenaSão Paulo 05433 011
[11] 3032 7979 whatsapp [11] 97418 8338
fernandayamamoto.com.br [email protected]
fernandayamamotooficial
fernandayamamoto_loja
Compre online
loja.fernandayamamoto.com.br 1962 coreografia Flor de Cardo por Akiko Ohara. Figurino Hisao Ohara
1962 ensaio fotográfico em Yuba. Akiko Ohara e bailarinas
1962 coreografia Akiko Ohara, figurino Hisao Ohara 1949 em frente a Casa Japonesa
Um agradecimento especial à todos os membros da Comunidade Yuba que nos mostram como os valores da simplicidade e da coletividade, vividos em sua essência, evidenciam sua pertinência cada vez mais fundamental nos dias de hoje