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artes

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  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Educao

    Curso de Graduao em Pedagogia - Licenciatura Modalidade a Distncia

    Plo de Alvorada

    Sandra Bartikoski da Rocha

    Prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de

    alunos do 1 ano de Ensino Fundamental

    Alvorada 2010

  • Sandra Bartikoski da Rocha

    Prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de

    alunos do 1 ano de Ensino Fundamental

    Trabalho de Concluso apresentado Comisso de Graduao do Curso de Pedagogia Licenciatura, da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obteno do ttulo de Licenciada em Pedagogia.

    Orientadora: Beatriz Corso Magdalena Tutora: Simone Ramminger

    ALVORADA 2010

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann Pr-Reitora de Ps-Graduao: Prof Valquiria Link Bassani Diretorda Faculdade de Educao: Prof. Johannes Doll Coordenadoras do Curso de Graduao em Pedagogia Licenciatura na modalidade a distncia/PEAD: Profas. Rosane Aragn de Nevado e Marie Jane Soares Carvalho

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo em primeiro lugar a Deus, luz e fora que permeia minha

    trajetria de estudante desde os anos iniciais.

    Agradeo tambm a minha famlia. Aos meus pais Ins e Valdir que me

    deram a base necessria para chegar at aqui, me educando e mostrando o

    caminho certo a seguir, e ao meu marido Paulo por todo o seu apoio,

    compreenso e incentivo dedicados a mim nesta caminhada.

    A minha professora orientadora Beatriz pelo carinho, dedicao e

    comprometimento. A sua competncia e amor profisso ir deixar um pouco de

    si em minha vida.

    Minha especial gratido a todos os professores e tutoras que contriburam

    para minha formao acadmica. Em especial, as professoras ris e Bea por seu

    comprometimento, ajuda e profissionalismo.

    Agradeo tambm as tutoras do plo de Alvorada Vanessa, Grace,

    Rosaura e Adriana pela ateno, carinho e apoio nos momentos difceis e pelas

    horas dedicadas sempre no intuito de ajudar.

    As minhas colegas, amigas e companheiras Roselana, Lidiane e Jurema

    por existirem e fazerem parte dessa caminhada. Com certeza ficaro pra sempre

    em meu corao.

    Obrigada de corao!

  • Mulheres e homens, somos os nicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os nicos em que aprender uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lio dada. Aprender para ns construir, reconstruir, constatar para mudar, o que no se faz sem abertura ao risco e aventura do esprito.

    Paulo Freire

  • RESUMO

    O trabalho analisa as prticas artsticas realizadas durante a aplicao de um projeto com o tema Eu (identidade) e as pessoas que me rodeiam, desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2010 em uma turma de 1 ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual do municpio de Alvorada/RS. Visa analisar a questo das prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de alunos do 1 ano de Ensino Fundamental. O estudo foi norteado pelas seguintes questes: Qual a importncia das artes na Educao? Quais as formas de contribuio das diferentes linguagens da arte na aprendizagem? Qual a importncia das prticas artsticas como eixo facilitador da aprendizagem de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental? As anlises apiam-se nos Parmetros Curriculares Nacionais (1997), nos estudos de Borba e Goulart (2006) e Ferraz e Fusari (1999). As anlises indicam que realizar atividades artsticas contribui para desenvolver a expresso, a criatividade, a sensibilidade, a imaginao e a percepo, elementos que so importantes no processo criativo das crianas. Alm disso, as crianas aprenderam cores, formas, linhas e construram conceitos. As prticas artsticas utilizadas tambm favoreceram o desenvolvimento de habilidades motoras e a ateno que so necessrias e facilitam no processo de alfabetizao.

    Palavras - chave: aprendizagem, arte, linguagem, alfabetizao.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 7 1.1 Questes de investigao ............................................................................................... 8 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................................................ 9

    2.1 Importncia do ensino da arte ..................................................................................... 9 2.2 As linguagens da arte no Ensino Fundamental ..................................................... 13

    2.2.1 Artes visuais ou artes plsticas ......................................................................... 15 2.2.2 Dana ..................................................................................................................... 16 2.2.3 Msica ................................................................................................................... 17 2.2.4 Teatro ..................................................................................................................... 19

    2.3 As prticas artsticas na alfabetizao de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental ....................................................................................................................... 20

    3 RELATO E ANLISE DA EXPERINCIA ..................................................................... 24 3.1 Sobre o tema do projeto desenvolvido .................................................................... 24 3.2 Anlise do projeto aplicado ....................................................................................... 25

    4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 36 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 38

  • 7

    1 INTRODUO

    O presente trabalho de concluso do curso de graduao em Pedagogia

    tem como finalidade principal analisar a questo das prticas artsticas como eixo

    favorecedor da aprendizagem de alunos do 1 ano de Ensino Fundamental. Essa

    anlise ser feita a partir da prtica e dos embasamentos tericos sobre os anos

    iniciais do Ensino Fundamental, construdos durante a minha trajetria como

    acadmica do curso do PEAD.

    A Arte um componente curricular obrigatrio no Ensino Fundamental,

    garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Ela deve fazer

    parte do cotidiano escolar, pois atravs da arte, que o indivduo exterioriza suas

    emoes e sentimentos representados de diversas maneiras, como pintura,

    desenhos, dramatizaes, entre outras.

    Ao refletir sobre minha atuao como educadora, ao longo dos

    anos, percebi que uma das minhas mais fortes intenes foi a de trazer a Arte

    como uma linguagem de expresso presente nas tarefas do cotidiano, fazendo

    com que meus alunos sentissem prazer em realizar as atividades propostas e

    mais, que a sala de aula fosse vista como um lugar de descontrao, interao e

    criao, tornando-se um incentivador para que eles tivessem vontade de

    frequentar a escola.

    Assim, ao longo da minha prtica pedaggica, procurei incluir, alm de

    atividades ldicas, uma ligao com o fazer artstico do aluno, atravs de

    atividades (desenhos, criao de jogos, dedoches, dramatizaes, dobraduras,

    msica...) que despertam a imaginao e criao, pois acredito que alm de

    contribuir para o ensino/aprendizagem dos alunos, tornam as aulas mais

    divertidas e agradveis.

    Essa inteno ficou mais evidente durante a realizao do meu estgio

    curricular supervisionado, desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2010, no

    perodo de 12 de abril a 16 de junho de 2010, com uma turma de 1 ano de uma

    escola do municpio de Alvorada, no qual desenvolvi o projeto com o tema Eu

    (Identidade) e as pessoas que me rodeiam. O objetivo geral do projeto foi o

    de propiciar elementos para que os alunos, aos poucos, se reconhecessem como

  • 8

    sujeitos histricos e cidados, desenvolvendo a auto-estima, a afetividade e a

    tolerncia, capacidades necessrias para uma vivncia saudvel e solidria.

    No entanto, penso que, trabalhar o fazer artstico dos alunos, no

    pode reduzir-se reproduo de modelos prontos. fundamental oferecer

    oportunidades para que o educando expresse suas idias, suas vontades, suas

    criaes de forma autntica e autnoma, integradas aos mais diferentes

    momentos e conhecimentos em construo. Assim, ao conduzir a prtica

    pedaggica nesta linha, o educador estar respeitando e considerando, de forma

    positiva, a liberdade de expresso de seus alunos.

    A educao artstica encaminhada desta forma despertar a criatividade, a

    liberdade de expresso e, consequentemente, poder auxiliar o desenvolvimento

    da auto-estima dos educandos. Da mesma forma, as prticas artsticas tomadas

    como eixos para a construo do conhecimento e desenvolvimento de

    habilidades, parecem capazes de alavancar os processos de aprendizagem, to

    necessrios ao incio da alfabetizao e letramento.

    A contemplao e o fazer artstico favorecem elementos criana, para

    que ela crie novos significados para o cotidiano e para a suas abordagens e

    interaes com o mundo.

    1.1 Questes de investigao

    Questo principal do TCC

    De que forma as prticas artsticas podem favorecer a aprendizagem de

    alunos do 1 ano de Ensino Fundamental?

    Questes de trabalho

    Qual a importncia das artes na Educao?

    Quais as formas de contribuio das diferentes linguagens da arte na

    aprendizagem?

    Qual a importncia das prticas artsticas como eixo facilitador da

    aprendizagem de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental?

  • 9

    2 REFERENCIAL TERICO

    [...] a arte se constitui de modos especficos de manifestao da atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhec-lo. [...] Desde a infncia, tanto as crianas como ns, professores, interagimos com as manifestaes culturais de nossa ambincia e vamos aprendendo a demonstrar nosso prazer e gosto, por imagens, objetos, msicas, falas, movimentos, histrias, jogos e informaes com as quais nos comunicamos na vida cotidiana (FUSARI e FERRAZ, 1999, p.99).

    2.1 Importncia do ensino da arte

    A arte constitui um elemento essencial da histria da humanidade. Ela

    acompanha o homem desde sua origem, quando ele vivia nas cavernas e

    buscava atravs da arte a possibilidade de manifestar sua existncia.

    A arte uma forma de expresso e est presente em todos os lugares, em

    revistas, jornais, televiso, na natureza, na decorao das casas, na estampa das

    roupas... Segundo Ana Mae, Se a arte no fosse importante no existiria desde

    o tempo das cavernas... (BARBOSA, 2005, p. 27).

    A aprendizagem e o ensino da arte ao longo da histria foram se

    transformando de acordo com normas e valores estabelecidos, em diferentes

    espaos culturais.

    Na educao, o ensino da Arte s passou a ser obrigatrio a partir da Lei

    de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 9.394/96 que estabelece O

    ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis

    da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos

    (art. 26, inciso 2). Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais a Arte tem

    uma funo to importante quanto dos outros conhecimentos no processo de

    ensino e aprendizagem (BRASIL, 1997, p. 19).

    Apesar de a lei determinar a obrigatoriedade do ensino da arte, o que se

    observa que, ainda em muitas escolas, no dado o valor devido a essa

    disciplina. Em muitos casos, a disciplina de artes, a partir do 6 ano do Ensino

    Fundamental, utilizada como um tapa furo para fechar a carga horria de

  • 10

    professores de outras disciplinas, o que acaba prejudicando o seu

    desenvolvimento, pois esses professores no possuem a qualificao necessria

    ou possuem pouca qualificao.

    Outra questo que pode ser constatada a de que o ensino de artes ainda

    est muito vinculado ao uso de modelos prontos e estereotipados, provavelmente

    pela falta ou pouca qualificao dos professores. Eles entram em sala de aula e,

    como no sabem o que fazer, acabam oferecendo uma folha mimeografada com

    um desenho pronto referente s muitas datas comemorativas existentes para os

    alunos colorirem.

    Artes como conhecimento vai muito alm: trabalhar o fazer artstico dos

    alunos, no reduzir-se reproduo de modelos prontos. fundamental que o

    campo das Artes seja utilizado em toda a sua riqueza, oferecendo mltiplas

    maneiras e formas para que o educando expresse suas idias, suas vontades,

    suas criaes de forma autntica e autnoma. Assim, ao propor prticas

    pedaggicas nesta linha, o educador estar respeitando e considerando de forma

    positiva a liberdade de expresso de seus alunos.

    Segundo Fusari e Ferraz (1999, p.99),

    [...] h professores que restringem sua interferncia educativa em arte organizao de aulas somente com atividades de colorir desenhos prontos e j impressos... Muitos docentes que assumem essa postura desconhecem ou no se preocupam em interferir de um modo mais educativo na relao que os estudantes mantm com a cultura e as obras de arte, alm de pouco considerarem as elaboraes criativas pessoais deles, bem como as suas transformaes sensveis-cognitivas no entendimento da arte.

    s vezes, trabalhar com os alunos com modelos prontos mimeografados

    ou impressos, no nem uma questo de no saber desenvolver as aulas de

    artes, mas uma questo de comodismo e facilidade. Tal fato parece ser comum

    no s nos anos finais do Ensino Fundamental, mas tambm acontece muito nos

    anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse ltimo, o aproveitamento das Artes

    poderia ser bem mais rico, pois entrariam como componentes de um todo uma

    vez que o ensino globalizado e no fragmentado por disciplinas.

    Outro problema muito comum nas escolas a falta de recursos para o

    desenvolvimento das aulas de artes, que fortalece a utilizao de modelos

    estereotipados por parte do professor. Assim, preciso que as escolas

  • 11

    disponibilizem material adequado para que os professores possam desenvolver

    as aulas de artes, da mesma maneira que necessrio formao continuada

    para dar suporte qualitativo aos professores.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,

    Sem uma conscincia clara de sua funo e sem uma fundamentao consistente de arte como rea do conhecimento com contedos especficos, os professores no conseguem formular um quadro de referencias conceituais e metodolgicas para alicerar sua ao pedaggica [...] (BRASIL, 1997, p. 32).

    Outro fator que ajuda a aumentar o trabalho inadequado e simplrio com

    Artes a falta de conscientizao por parte das instituies e tambm dos

    professores sobre a importncia do ensino de artes e integrao com as outras

    disciplinas do currculo.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,

    A educao em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artstico e da percepo esttica, que caracterizam um modo prprio de ordenar e dar sentido experincia humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepo e imaginao, tanto ao realizar formas artsticas quanto na ao de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p. 19).

    A arte um recurso extremamente rico por sua versatilidade,

    temporalidade, diversidade cultural, acessibilidade, praticidade, pois est em

    qualquer lugar, basta que o professor esteja receptivo a essa linguagem. Por

    isso, os trabalhos com Artes devem incluir noes de arte produzidas no passado

    e no presente, para que, por comparaes possa desenvolver senso artstico o

    que promover o incremento da autoria do aluno.

    De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,

    importante que os alunos compreendam o sentido do fazer artstico; que suas experincias de desenhar, cantar, danar ou dramatizar no so atividades que visam distra-los da seriedade das outras disciplinas. Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos especficos sobre sua relao com o mundo. Alm disso, desenvolvem potencialidades (como percepo, observao, imaginao e sensibilidade) que podem alicerar a conscincia do seu lugar no mundo [...] (BRASIL, 1997, p. 44).

  • 12

    Ao lidar com a emoo, a sensibilidade e a fantasia, a arte promove

    encontros sutis e significativos dos educandos com a cultura, ampliando sua

    compreenso do aspecto humano e do que est em torno dele. Conforme os

    PCNS, a aprendizagem artstica envolve diferentes tipos de conhecimentos que

    possibilitam a transformao e crescimento do ser humano, alm de proporcionar

    a aproximao e compreenso de diferentes culturas.

    A aproximao de culturas faz da arte um agente formador de opinies. Os

    alunos podem ampliar seus pontos de vista acerca do seu mundo, ao estabelecer

    interaes entre o visvel e o oculto nas obras, ou seja, entre a obra criada e as

    inter-relaes que ela carrega consigo mesma. .

    A esse respeito, os Parmetros Curriculares Nacionais afirmam,

    Aprender arte desenvolver progressivamente um percurso de criao pessoal cultivado, ou seja, alimentado pelas interaes significativas que o aluno realiza com aqueles que trazem informaes pertinentes para o processo de aprendizagem, com fontes de informao e com o seu prprio percurso de criador (BRASIL, 1997, p. 47).

    Atravs da arte, a criana tem a possibilidade de manifestar seus

    pensamentos, sentimentos e comportamentos no tempo e espao. Ao trabalhar

    com a arte, atravs de aes de criar, apreciar, produzir, observar, se oportuniza

    a interao da criana com o mundo, bem como sua transformao.

    Segundo Borba e Goulart (2006, p.50),

    O acesso arte significa possibilitar s crianas, de qualquer idade, e aos professores (as), o contato e a intimidade com a arte no espao escolar e, dessa forma, abrir caminhos para a experincia esttica, provocando novas formas de sentir, pensar, compreender, dizer e fazer. Significa promover o encontro dos sujeitos com diferentes formas de expresso e de compreenso da vida.

    A arte um meio de livre expresso e, em suas diversas formas, influi de

    maneira significativa no desenvolvimento mental e no equilbrio pessoal do

    individuo. A criana ao se expressar livremente por meio de desenhos,

    dramatizao, msica, expresso corporal manifesta suas emoes, seu ritmo

    interior, seus interesses e sentimentos. As palavras, os gestos e os movimentos,

    a expresso plstica e a musical, so linguagens que constituem uma forma de

    comunicao com o mundo.

  • 13

    fundamental que o educador tenha conscincia dos movimentos

    expressivos, representativos, corporais e musicais da criana para que ele possa

    mediar aes pedaggicas contextualizadas, coerentes com os interesses e

    necessidades dos educandos, promovendo assim uma formao humana

    significativa.

    De acordo com Fusari e Ferraz (1999, p.21),

    [...] para desenvolver bem suas aulas, o professor que est trabalhando com arte precisa conhecer as noes e os fazeres artsticos e estticos dos estudantes e verificar em que medida pode auxiliar na diversificao sensvel e cognitiva dos mesmos. Nesta concepo, sequenciar atividades pedaggicas que ajudem o aluno a aprender a ver , olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artsticas e estticas do mundo cultural, deve contribuir para o aperfeioamento do aluno.

    A arte na escola cria a possibilidade de integrar esttica e sensibilidade s

    dimenses cognitivas do aprender. O ensino da arte deve ser planejado e

    organizado pelo educador segundos as necessidades naturais da criana,

    integrado no contexto escolar visando atingir os objetivos propostos. A arte deve

    fazer parte do cotidiano escolar, pois atravs dela, o individuo exterioriza suas

    emoes e sentimentos representando-os de diversas maneiras: pintura,

    desenhos, dramatizao, msica e outras formas de expresso. A educao

    artstica encaminhada desta forma despertar a criatividade, a liberdade de

    expresso e consequentemente ajudaro no desenvolvimento da auto-estima dos

    educandos.

    2.2 As linguagens da arte no Ensino Fundamental

    A arte faz parte do desenvolvimento humano. O homem desde os

    primrdios buscou nas linguagens da arte formas de manifestar seus

    pensamentos, seja atravs das artes visuais, da msica, da dana ou do teatro.

    De acordo com Borba e Goulart (2006, p. 47), A dana, o teatro, a

    literatura, as artes visuais e as artes plsticas representam formas de expresso

    criadas pelo homem como possibilidades diferenciadas de dialogar com o

    mundo.

  • 14

    A arte transita por smbolos e linguagens. Ela a expresso do

    pensamento contextualizado no tempo e espao.

    A criana desde o inicio de sua vida cria seus cdigos e linguagens a partir

    de referncias contextualizadas, os quais sero desenvolvidos conforme o meio

    em que vive e os estmulos recebidos.

    Segundo Borba e Goulart (2006, p. 48),

    A arte, a linguagem e o conhecimento fazem parte do acervo cultural do homem, como resultado de suas necessidades filosficas, biolgicas, psicolgicas e sociais, entre outras. Estabelecemos novas realidades, novas formas de insero no mundo e de viso deste mundo, quando, como autores e atores, danamos, pintamos, tocamos instrumentos, entre outras possibilidades, elaborando e reconhecendo de modo sensvel nosso pertencimento no mundo.

    Nessa perspectiva, o educador exerce um papel fundamental de mediador,

    estimulando vivncias significativas para o educando no ato de aprender a falar,

    ouvir, sentir, olhar, refletir, entre outros. De acordo com os Parmetros

    Curriculares Nacionais, [...] A arte solicita a viso, a escuta e os demais sentidos

    como portas de entrada para uma compreenso mais significativa das questes

    sociais [...] (BRASIL, 1997, p. 20).

    Um educador atento e consciente das necessidades e das caractersticas

    do educando, possivelmente se tornar um formador de indivduos mais

    humanos, crticos e reflexivos.

    Borba e Goulart (2006, p. 51) afirmam que,

    O prazer e o domnio do olhar, da escuta e do movimento sensveis construdos no encontro com a arte potencializam as possibilidades de apropriao e de produo de diferentes linguagens pelos sujeitos como formas de expresso e representao da vida: por meio da poesia, do conto, da caricatura, do desenho, da dana, da msica, da pintura, a escultura, da fotografia, etc.

    Para os Parmetros Curriculares Nacionais h quatro linguagens da arte

    para o ensino nos primeiros anos do ensino fundamental: Artes Visuais, Dana,

    Msica e Teatro. Em todas, um dos objetivos o de promover no educando a

    formao artstica e esttica, para que sua participao na sociedade seja mais

    significativa. Nessa dimenso, essas linguagens so elementos relevantes e

  • 15

    fundamentais no processo de aprendizagem dos alunos, principalmente os de

    sries iniciais.

    2.2.1 Artes visuais ou artes plsticas

    Artes visuais so formas importantes de expresso e comunicao,

    fundamentais no contexto da educao. Alm das modalidades tradicionais

    como desenho, pintura, gravura, modelagem, recorte e colagem, escultura,

    arquitetura, as artes visuais abrangem tambm outras formas resultantes dos

    avanos tecnolgicos como fotografia, cinema, vdeo, computao, artes grficas,

    entre outras.

    Essa multiplicidade j aparece nos Parmetros Curriculares Nacionais

    como elementos de forte apelo para aprendizagem:

    O mundo atual caracteriza-se por uma visualidade em quantidades inigualveis na histria, criando um universo de exposio mltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educao para saber distinguir sentimentos, sensaes, idias e qualidades... Tal aprendizagem pode favorecer compreenses mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente (BRASIL, 1997, p. 61).

    Por outro lado, sabe-se que a criana receptiva aos desafios do meio em

    que vive e influenciada pela cultura nos mais diferentes meios. Assim, parece

    fundamental unir esses dois lados de uma mesma moeda: as artes como

    elementos provocativos do meio e os alunos como provocadores ou provocados

    pelas mesmas.

    As Artes Visuais expressam pensamentos nas dimenses sociais,

    econmicas, polticas, culturais, ambientais de uma determinada poca e regio.

    Em vista disso, os Parmetros Curriculares Nacionais chamam ateno para a

    idia de que,

    A educao em artes visuais requer trabalho continuamente informado sobre os contedos e experincias relacionados aos materiais, s tcnicas e s formas visuais de diversos momentos da histria, inclusive contemporneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experincias de aprender e criar, articulando percepo, imaginao, sensibilidade, conhecimento e produo artstica pessoal e grupal (BRASIL, 1997, p. 61).

  • 16

    Assim, no trabalho com artes visuais importante que o professor oferea

    ao educando uma variedade de materiais e recursos como forma de estimular a

    produo artstica.

    O educador deve lanar mo de todas as linguagens visuais (desenho,

    pintura, modelagem, recorte e colagem...) no fazer artstico do educando a fim de

    diversificar sua ao. Embora todas as modalidades artsticas sejam importantes

    para o desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem do educando, o

    desenho ocupa um lugar de destaque principalmente na alfabetizao, pois

    atravs do desenvolvimento progressivo dele que o aluno constri os primeiros

    smbolos da escrita.

    Cabe aqui ressaltar novamente, que, oferecer trabalhos prontos limita a

    capacidade de expresso do educando. O desenho precisa ser utilizado pela

    criana como forma de se expressar, de se comunicar, assim como o gesto e a

    fala. necessrio que as crianas sejam estimuladas a desenhar criativamente,

    soltas, sem regras para que ele se torne um elemento que enriquece as

    possibilidades de expresso.

    Como salientam Borba e Goulart (2006, p. 54/55),

    O desenho uma forma de expresso de como a criana e/ou o jovem veem o mundo e suas particularidades. [...] As crianas surpreendem-nos com seus conhecimentos de vrios modos, narrando aspectos da realidade vivida e criada. [...] o desenho possui contedos prprios, os quais fornecem novas possibilidades de expresso e de compreenso do mundo e de si mesmo.

    Em sntese, as artes visuais devem ser valorizadas pela escola. O

    educador deve respeitar as peculiaridades e tambm o nvel de desenvolvimento

    de cada educando. Os trabalhos realizados devem ser significativos para o

    educando. O pensamento, a sensibilidade, a imaginao, a percepo, a intuio

    e a cognio do educando devem ser trabalhadas de forma integrada, visando

    desenvolver suas capacidades criativas.

    2.2.2 Dana

    De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,

  • 17

    A arte da dana faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as religies e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a dana, sendo est um bem cultural e uma atividade inerente natureza do homem. Toda a ao humana envolve atividade corporal. A criana um ser em constante mobilidade e utiliza-se dela para buscar conhecimento de si e daquilo que a rodeia [...] (BRASIL, 1997, p. 67).

    Pode-se dizer que dana movimento e que movimento significa vida. A

    criana toda movimento, portanto toda vida. A criana est em constante

    movimento e esta ao fsica que ela realiza por puro prazer, constitui a primeira

    forma de aprendizagem. Atravs de movimentos como correr, pular, girar, subir,

    entre outros a criana melhora suas habilidades e sua coordenao corporal.

    Aprender a se expressar atravs da dana possibilita a criana alm da

    compreenso de sua capacidade de movimento, o desenvolvimento de conceitos

    de tempo, espao e direo. Cabe ao educador criar diferentes atividades como

    forma de estimular as crianas a explorar seus corpos e suas habilidades

    motoras, reconhecer ritmos e explorar sua imaginao. Os temas escolhidos pelo

    educador para trabalhar dana devem respeitar o nvel de desenvolvimento do

    educando.

    Essa preocupao est em consonncia com a idia de que

    A dana uma forma de integrao e expresso tanto individual quanto coletiva, em que o aluno exercita a ateno, a percepo, a colaborao e a solidariedade. [...] a dana permite a experimentao e a criao, no exerccio da espontaneidade. Contribui tambm para o desenvolvimento da criana no que se refere conscincia e construo de sua imagem corporal, aspectos que so fundamentais para seu crescimento individual e sua conscincia social (BRASIL, 1997, p. 68).

    2.2.3 Msica

    Segundo o Referencial Curricular para a Educao Infantil,

    A msica uma linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensaes, sentimentos e pensamentos, por meio da organizao e relacionamento expressivo entre o som e o silncio (BRASIL, 1998, p. 45).

    .

  • 18

    A msica faz parte da cultura mundial, presentes nas mais diversas

    situaes entre as quais se destacam: publicidade, festas e comemoraes,

    rituais religiosos, manifestaes polticas, entre outras.

    Assim, na escola, quando se pensa em aprendizagem dos alunos precisa-

    se ter claro que,

    Qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir espao para o aluno trazer msica para a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciao e produo (BRASIL, 1997, p. 75).

    Atravs do uso da linguagem da msica, a criana desenvolve a

    expresso, o equilbrio, a autoestima e autoconhecimento. A msica propicia a

    integrao dos indivduos. A criana receptiva ao trabalho com msica. Os

    estmulos produzidos aguam sua curiosidade e revelam sua capacidade de criar

    e recriar.

    De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,

    [...] para que a aprendizagem da msica possa ser fundamental na formao de cidados necessrio que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, interpretes, compositores improvisadores, dentro e fora da sala de aula (BRASIL, 1997, p. 77).

    importante apresentar diversos estilos musicais para a criana

    independente da idade (forr, samba, clssica, rock, tango, entre outras) e

    evidenciar as caractersticas de cada estilo, para que ela possa ampliar seu leque

    sonoro, enriquecendo sua linguagem e promovendo assim a sua alfabetizao

    musical.

    Nessa seleo, cabe dar destaque msica brasileira, regional e local,

    prpria dos diferentes grupos do nosso pas uma vez que As canes brasileiras

    constituem um manancial de possibilidades para o ensino da msica com msica

    [...] (BRASIL, 1997, p. 76). Um exemplo so as msicas folclricas que fazem

    parte da tradio popular brasileira. O educador pode promover debates, a partir

    de uma escuta atenta com o objetivo de desenvolver uma escuta crtica por parte

    do educando.

    Trabalhar msica fazer desabrochar a musicalidade nos alunos, oferecer

    elementos diferenciados para que eles possam escolher e se posicionar, refinar o

  • 19

    gosto e saber aproveitar essa linguagem para expressar e comunicar o que j

    sabe ou aprendeu.

    Trabalhando diversos estilos musicais, o educador age como provocador e

    oportuniza ao educando o contato com diversas culturas e manifestaes

    sonoras.

    Para o Referencial Curricular para a Educao Infantil a msica uma

    das formas importantes de expresso humana, o que por si s justifica sua

    presena no contexto da educao... (BRASIL, 1998, p. 45).

    2.2.4 Teatro

    A criana extremamente ldica, espontnea e criativa. Seu corpo

    utilizado como instrumento de dilogo, pelo qual ela se expressa e estabelece

    comunicao. Assim, o teatro e a dramatizao so elementos que devem ser

    explorados. Pode-se dizer que,

    A dramatizao acompanha o desenvolvimento da criana como uma manifestao espontnea, assumindo feies e funes diversas, sem perder jamais o carter de interao e de promoo do equilbrio entre ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo (BRASIL, 1997, p. 83).

    Em vista disso, atividades de faz de conta estimulam a explorao das

    possibilidades expressivas do corpo e da voz e tambm de utilizao do espao,

    alm de favorecer a comunicao e o relacionamento com outros indivduos.

    Conforme os Parmetros Curriculares Nacionais,

    Ao participar de atividades teatrais, o indivduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsvel, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relaes entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opinies, respeitando as diferentes manifestaes, com finalidade de organizar a expresso de um grupo (BRASIL, 1997, p. 83).

    As crianas, normalmente, so muito participativas, espontneas e

    receptivas a realizao de atividades de dramatizao. O educador enquanto

    mediador exerce um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem teatral

    do educando, aguando a sua imaginao, a explorao do corpo e a

  • 20

    improvisao. A explorao de idias temticas significativas pertinentes ao

    contexto do educando nas atividades teatrais contribuem para o seu

    desenvolvimento global, tornando-a uma atividade prazerosa e criativa.

    2.3 As prticas artsticas na alfabetizao de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental

    Com a aprovao da Lei 11.274/06 foi institudo o Ensino Fundamental de

    nove anos de durao, passando a ser obrigatrio a incluso de crianas de seis

    anos de idade. Na prtica significa que foi retirada a ltima etapa, ou seja, o

    ltimo ano da Educao Infantil (a pr-escola) e acrescentado no Ensino

    Fundamental.

    Com essa mudana na Lei do Ensino Fundamental, o processo de

    alfabetizao que antes acontecia em um ano (1 srie) passa a acontecer em

    dois anos, ou seja, a criana entra no primeiro ano onde inicia o processo,

    passando automaticamente para o segundo ano onde deve concluir a

    alfabetizao.

    O que se observa que toda essa mudana causou muita polmica entre

    as escolas. Em algumas instituies mudou somente a nomenclatura, ou seja, o

    primeiro ano continuou igual pr-escola, enquanto em outras a lei foi levada ao

    p da letra e o primeiro ano passou a alfabetizar. No houve uma definio por

    parte da Lei sobre o currculo a ser desenvolvido com a mudana, o que deu

    margem a cada instituio interpret-lo da sua forma.

    Antes de seguir adiante, importante destacar que a pr-escola trabalhava

    mais habilidades motoras, cognitivas, perceptivas, entre outras e atitudes que

    eram consideradas pr-requisitos para a alfabetizao, deixando as atividades

    mais formais para o ensino fundamental.

    Com a mudana, a criana inicia sua vida escolar muitas vezes sem essas

    habilidades j desenvolvidas, pois no frequentou a educao infantil. O

    educador ento precisa trabalhar essas habilidades no educando junto ao

    processo de alfabetizao do primeiro ano.

  • 21

    Assim, as prticas artsticas, muito desenvolvidas na pr-escola, passaram

    a ocupar um lugar ainda mais especial e importante na alfabetizao de alunos

    do 1 ano do Ensino Fundamental. Sua utilizao proporciona o desenvolvimento

    e aprimoramento da imaginao, da criatividade e da expresso e facilita e torna

    mais suaves os processos ligados alfabetizao.

    Quando a criana desenha, pinta, brinca com massinha de modelar,

    recorta, faz dobraduras ela desenvolve habilidades motoras ampla e fina, o que

    facilita a aprendizagem da escrita; quando canta, a msica est contribuindo

    para a aprendizagem da leitura, pois desenvolve a memria auditiva; quando

    dana, desenvolve a coordenao motora e aprende noes de espao, tempo.

    Alm disso, a realizao de atividades artsticas serve para que o professor tenha

    uma viso avaliativa do aluno durante todo o processo, identificando as

    habilidades que ainda precisam ser trabalhadas, o que torna dinmico o

    planejando das estratgias de ao na sala de aula. J para o educando, a

    realizao de atividades artsticas no deve servir s para o desenvolvimento de

    habilidades de prontido para a leitura e escrita, mas para promover seu

    processo criativo em artes.

    O educando deve ser estimulado a todo o momento pelo educador a

    utilizar sua capacidade criadora. Quando estimulado, a criatividade, elemento

    essencial do processo criativo pode dar asas a imaginao.

    Para os Parmetros Curriculares Nacionais, um aluno que exercita

    continuamente sua imaginao estar mais habilitado a construir um texto, a

    desenvolver estratgias pessoais para resolver um problema matemtico

    (BRASIL, 1997, p. 19).

    As artes visuais, a dana, a msica e o teatro, quando utilizados pelo

    educador de forma adequada, atravs do incentivo de produes originais,

    inovadoras podem servir de fio condutor para desenvolver no educando a

    criatividade.

    Na viso de Queiroz (2003, p.75),

    Criatividade a mobilizao das capacidades, motivao, cargas afetivas, necessidades, interesses, aptides que possibilitam a criana a criar, conceber, imaginar, construir, por meio da ao fsica ou mental, fazendo surgir algo que ela sinta como nova inveno.

  • 22

    A criatividade um elemento fundamental para a resoluo de problemas

    que no podem ser resolvidos de forma convencional logo, um importante

    elemento para servir como eixo de provocao de aprendizagens, principalmente

    quando relacionadas ao trabalho de crianas em fase inicial de alfabetizao.

    Para os Parmetros Curriculares Nacionais,

    A imaginao criadora permite ao ser humano conceber situaes, fatos, ideias e sentimentos que se realizam como imagens internas, a partir da manipulao da linguagem. a capacidade de formar imagens que torna possvel a evoluo do homem e do desenvolvimento da criana; visualizar situaes que no existem, mas que podem vir a existir, abre acesso a possibilidades que esto alm da experincia imediata (BRASIL, 1997, p. 41).

    O exerccio e desenvolvimento da criatividade exigem flexibilidade de

    pensamentos e de atividades. Por isso, trabalhar apenas com atividades dirigidas

    e modelos estereotipados de material artstico limita a capacidade imaginativa

    do educando.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais afirmam que,

    A flexibilidade o atributo caracterstico da atividade imaginativa, pois o que permite exercitar inmeras composies entre imagens, para investigar possibilidades e no apenas reproduzir relaes conhecidas. No caso do conhecimento artstico, o domnio do imaginrio o lugar privilegiado de sua atuao [...] (BRASIL, 1997, p. 41).

    Assim, uma educao flexvel e provocativa tem muito a contribuir no

    processo criativo do educando, pois quando estimula que ele busque alternativas

    inovadoras para a soluo de situaes, possibilita que a criana crie autonomia,

    confiana e segurana.

    A criatividade faz parte do ser humano. Ele possui a capacidade de se

    expressar atravs da: msica, desenho, dramatizao, pintura, dana, entre

    outras estabelecendo formas de comunicao consigo mesmo e com os outros

    indivduos. O potencial criativo do educando se desenvolve e se manifesta

    quando incentivado pela ao pedaggica.

    O educador precisa exercer seu papel fundamental, que de mediador,

    incentivando no educando o prazer de descobrir, criar, ousar, observar, de fazer

    fluir sua imaginao no trabalho com artes.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,

  • 23

    Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artsticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, tambm, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produes artsticas individuais e coletivas de distintas culturas e pocas (BRASIL, 1997, p. 15).

    Alm disso, o professor mediador precisa estar atento no inicio do

    processo de alfabetizao, quando a criana precisa do visual como referncia.

    De acordo com Barbosa (2005, p.28), as artes plsticas tambm

    desenvolvem a discriminao visual, que essencial ao processo de

    alfabetizao: aprende-se a palavra visualizando.

    Para isso, o educador deve promover a alfabetizao visual do

    educando, a partir de aes que lhe permitam ver, olhar, observar, analisar,

    apreciar as belezas do mundo. Essas aes contribuiriam para a alfabetizao e

    tambm para que o educando aprenda elementos artsticos importantes como

    cores, texturas, formas e linhas.

    Para Freire (2001, p. 11) a leitura de mundo precede a leitura da palavra.

    Nessa perspectiva, no demais lembrar que a criana quando inicia sua vida

    escolar, traz consigo vivncias e percepes do mundo que a cerca. Nas

    palavras de Freire (1996, p. 138/139) Respeitar a leitura de mundo do educando

    significa tom-la como ponto de partida para a compreenso do papel da

    curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos

    impulsos fundantes da produo do conhecimento. Continuando, Freire (1996, p.

    98), afirma que o exerccio da curiosidade convoca a imaginao, a intuio, as

    emoes, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilizao do

    objeto ou do achado de sua razo de ser.

    Trabalhar artes agua a curiosidade do educando, desenvolve a

    capacidade de imaginao, criatividade, sensibilidade, ateno e permite que ele

    expresse sua leitura de mundo de uma forma alegre, divertida e prazerosa.

    Em sntese, quando o professor oportuniza que o aluno crie, experimente,

    descubra atravs da realizao de atividades artsticas ele est permitindo que o

    aluno aprenda. Isso faz com que ele fique mais atento e interessado o que

    contribui para tornar mais fcil o processo de alfabetizao.

  • 24

    3 RELATO E ANLISE DA EXPERINCIA

    Durante toda minha trajetria como docente procurei dar o melhor de mim,

    sempre com o intuito de buscar o aperfeioamento dentro do meu campo de

    ao, como forma de garantir uma melhor qualidade de aprendizagem aos meus

    alunos. O estgio curricular foi muito importante para o meu aperfeioamento

    enquanto profissional e acadmica do curso de Pedagogia, pois proporcionou

    unir a prtica que eu j possua com a teoria adquirida durante o curso do PEAD.

    Realizei meu estgio curricular em uma escola Estadual na periferia do

    municpio de Alvorada, em uma turma de 1 ano do Ensino Fundamental, do

    turno da manh. A turma era composta por 19 alunos, sendo 11 meninos e 8

    meninas, com idade entre 6 e 7 anos, de nvel socioeconmico baixo.

    A turma era distribuda em quatro grupos, sendo dois grupos de quatro

    componentes, um de cinco e um de seis componentes. Ela apresentava

    diferentes caractersticas, com alguns alunos calmos e outros bem agitados, mas

    nada significativo que tenha atrapalhado o desempenho e o processo de

    ensino/aprendizagem dos alunos.

    Durante todo o estgio os alunos se mostraram interessados e receptivos

    s atividades propostas, o que contribuiu para o crescimento e aprimoramento

    dos mesmos.

    3.1 Sobre o tema do projeto desenvolvido

    O projeto de estgio tinha como tema Eu (Identidade) e as pessoas que

    me rodeiam e possibilitou desenvolver no aluno o conhecimento de si mesmo.

    Esse tema no pode ser modificado, por se tratar de uma seleo para toda a

    escola, nessa etapa de ensino. Tal fato me levou a buscar estratgias e

    atividades mais interessantes para trabalhar com algo j definido, de uma forma

    inovadora. Assim, a partir da identidade do aluno e do seu cotidiano, partimos

    para a explorao das noes de tempo e espao, tomando como base as

    relaes que ele estabelece junto famlia, na prpria casa, na escola, na rua...

  • 25

    Segundo Rego (2002, p.109), para Vygotsky o sujeito se constitui como

    pessoa principalmente a partir de suas interaes sociais, a partir das trocas

    estabelecidas com seus semelhantes. Atravs de sua realidade, o aluno aprende

    a situar-se no mundo e no meio em que vive, conhece a relao existente entre

    ele e as pessoas e desenvolve a capacidade de pensar historicamente. Todas

    essas importantes noes vo permitir que se localize dentro do contexto

    histrico.

    Em vista disso, abordar a histria dos alunos parecia relevante como ponto

    de partida para que eles se identificassem mais facilmente como sujeitos capazes

    de agir e transformar o mundo ao seu redor. A ideia foi a de propiciar elementos

    para que os alunos aos poucos, se reconhecessem como sujeitos histricos e

    cidados, desenvolvendo a auto-estima, a afetividade e a tolerncia, capacidades

    necessrias para uma vivncia saudvel e solidria.

    Para isso, o projeto de estgio procurou resgatar a histria de vida de cada

    criana, buscando salientar que cada um possui uma natureza singular,

    mostrando que cada pessoa possui caractersticas prprias, que todos so

    diferentes e nicos no mundo, no intuito de fazer com que cada um deles fosse

    capaz de ver-se e aceitar-se como parte integrante do meio, inserida em uma

    famlia e em sociedade. Conhecendo-se mais e melhor, os alunos desenvolvem a

    auto-estima e consequentemente melhoram o desenvolvimento nas relaes e

    conflitos pessoais e as relaes com o mundo exterior.

    3.2 Anlise do projeto aplicado

    Gostaria de destacar que, ao longo da prtica pedaggica, sempre

    procurei incluir como eixo centralizador dos trabalhos, a ligao entre o fazer

    artstico do aluno, atravs de atividades (desenhos, criao de jogos, dedoches,

    releitura de imagens, dramatizaes, mmicas, dobraduras, msica...) e as

    atividades ldicas, pois acredito que essa dupla, alm de contribuir para o

    ensino/aprendizagem dos alunos, tornam as aulas mais divertidas e agradveis.

    Com isso, as atividades artsticas, alm serem utilizadas como um meio

    dos alunos se expressarem, tambm serviu como eixos para a construo de

  • 26

    novas expresses do conhecimento construdo, aumentando as probabilidades

    de desenvolvimento de habilidades necessrias no processo de alfabetizao.

    Entre todas as atividades artsticas a que mais se fez presente na prtica

    foi o desenho, que faz parte das artes visuais ou artes plsticas. Ele ocupa um

    lugar de destaque na alfabetizao, pois atravs do desenvolvimento

    progressivo dele que o aluno constri os primeiros smbolos da escrita.

    Segundo Ferraz e Fusari (1999, p. 67),

    [...] a criana, como sujeito ativo, desenha o que sabe, o que ela conhece de si prpria e do mundo ao seu redor, e no apenas o que ela v. [...] a criana vai desenvolvendo conceitos medida que vai crescendo e adquirindo novas experincias.

    Logo na primeira atividade que deu incio ao projeto Eu (identidade) e as

    pessoas que me rodeiam, os alunos realizaram um autorretrato (desenho).

    Depois fizeram uma linha do tempo onde tinham que desenhar diferentes fases

    de sua vida. Foi um trabalho muito rico, pois, contribuiu para resgatar

    lembranas da infncia dos alunos, da sua histria. Assim, com a linha do tempo,

    alm dos alunos se expressarem, tambm construram noes de tempo e de

    etapas de crescimento, percebendo caractersticas deles em cada uma das

    etapas da linha temporal.

    Numa etapa posterior, a atividade tinha como objetivo resgatar a histria

    dos alunos e de seus familiares. Eles foram ento provocados a imaginar e

    desenhar os brinquedos que seus pais brincavam quando tinham a sua idade. A

    maioria dos alunos pensou em boneca para as mes e carrinhos para os pais, o

    que foi confirmado quando pesquisaram junto aos pais.

    Logo depois, eles tambm desenharam seus brinquedos favoritos e

    fizeram uma comparao. Eles relataram que possuem muitos brinquedos como

    carrinhos de vrios modelos, bonecas, jogos de computador, entre outros e que

    seus pais quando eram pequenos no tinham muitos. Um aluno relatou que sua

    me brincava com uma boneca feita de espiga de milho, outro que seu pai tinha

    um carrinho de madeira. Com isso, eles perceberam que muitos brinquedos eram

    confeccionados pelas prprias crianas (seus pais) e que hoje em dia no

  • 27

    precisa. Afinal nos dias de hoje muito fcil para os pais proporcionarem que

    seus filhos tenham brinquedos, pois existem muitas lojas de 1,99, o que facilita a

    aquisio. Alm do mais, as crianas ganham muitos de presente e tambm

    compram seus prprios brinquedos quando ganham algum dinheiro, j que o

    valor relativamente baixo.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais, encarar a arte como

    produo de significaes que se transformam no tempo e no espao permite

    contextualizar a poca em que se vive na sua relao com as demais (BRASIL,

    1997, p.45).

    Tomando essa ideia como ponto de partida, foi apresentada atravs da

    hora do conto a histria A Colcha de Retalhos das autoras Conceil Corra da

    Silva e Nye Ribeiro Silva, que trata de temas relacionados histria pessoal de

    uma av e seu neto bem como (lembranas de acontecimentos importantes)

    sentimentos de saudade. No livro, a av costura uma colcha de retalhos e conta

    ao neto que cada pedacinho tem uma histria que a faz sentir saudades e se

    emocionar. Inclusive um dos retalhos era de uma roupa que ela fez ao neto,

    quando ele rasgou a sua subindo em uma rvore. No final, ele ganha uma colcha

    da av e aprende o que sentir saudade. A partir da histria, propus aos alunos

    que relembrassem um fato importante de suas vidas, algo que ficou marcado. A

    princpio, eles ficaram meio tmidos, mas assim que algum iniciou contanto que

    quase se afogou na piscina quando tinha cinco anos, todos queriam relatar ao

    mesmo tempo sua histria. Foi um momento bem descontrado. Entre os fatos

    relatados o mais citado foi o tombo de bicicleta.

    Depois conversamos sobre os sentimentos de tristeza e saudades, o que

    causou muita emoo em todos. A maioria relatou que sente saudade dos avs

    j falecidos por quem tinham muito carinho e que gostariam que eles no

    tivessem morrido. Para a minha surpresa, eles pediram para ao invs de um,

    fazer dois desenhos de coisas que sentiam saudades. No primeiro predominou o

    desenho dos avs, o segundo ficou dividido entre praia e banho de chuva, por ser

    algo inesquecvel e que eles adoram.

    Ainda dentro da ideia de conhecimento do eu, foi sugerida a construo

    de um painel com o desenho do corpo. Para desenvolver a atividade foi escolhido

    um aluno para fazer o contorno do corpo e, como precisava ser algum bem

  • 28

    pequeno por causa do tamanho do papel, todos elegeram o aluno M que o

    menor da turma, que por sinal ficou muito contente em participar. Em seguida, os

    alunos coloriram o desenho, cada grupo pintou uma parte. Aps, com a ajuda dos

    alunos, foram identificadas as partes do corpo e escritas no painel pela

    professora. Aproveitamos para explorar as palavras quanto letra inicial e final, o

    nmero de letras e de slabas. Conversamos sobre o corpo e principalmente

    sobre os cuidados (hbitos de higiene) que devemos ter.

    No final, ouve a sugesto de escolher um nome para o boneco, depois de

    uma votao o nome escolhido foi Michael Jackson em homenagem ao cantor.

    O painel foi afixado na parede da sala de aula.

    Com o que aprenderam os alunos tambm confeccionaram um livrinho

    sobre os cuidados com o corpo (hbitos de higiene), eles desenharam a partir da

    contao de histrias. A cada dia era trabalhado um hbito de higiene a partir de

    uma histria da coleo infantil Cuidando do corpo da autora Gina Borges. Na

    coleo, os personagens so animais. Ela composta por doze livrinhos, cada

    um trata de um hbito de higiene. Aps cada contao, os alunos interpretaram

    oralmente e desenharam no livrinho sobre o que aprenderam com os

    personagens. Aproveitamos tambm para explorar a escrita do nome das

    histrias, dos hbitos de higiene e tambm dos personagens. Foi uma maneira

    divertida dos alunos aprenderem. importante destacar que o livro tambm um

    recurso visual riqussimo, pois contribui para a formao da criana. Ele estimula

    a imaginao, a criao, a sensibilidade, a percepo visual e auditiva e a

    fantasia. A criana tambm aprende formas, cores, linhas, alm despertar o gosto

    pela leitura.

    Segundo Gomes (2001, p. 109),

    [...] O trabalho artstico importante para que as crianas aprendam a explorar o mundo sua volta. Existem inmeros materiais que utilizamos como recurso de expresso, que nos auxiliam a criar e a colocar um pouco daquilo que somos no mundo[...]

    No trabalho sobre famlia, iniciado a partir do livro Um Amor de Famlia

    do autor Ziraldo, ns conversarmos sobre os tipos de famlia e as pessoas que

    compem a mesma. Exploramos a escrita das palavras pai, mame, filho, irmo

    e irm, tio, tia, vov entre outras. Aps foi proposto que cada aluno representasse

  • 29

    atravs de um desenho a sua famlia e que identificasse as pessoas. Alguns

    sabiam escrever o nome dos familiares, os outros precisaram de ajuda dos

    colegas e da professora. Eles tambm deveriam pesquisar em casa o nome dos

    avs paternos e maternos e preencher com ajuda de um familiar a rvore

    genealgica da famlia. Os desenhos das famlias foram retomados, em grupo os

    alunos deveriam comparar as famlias estabelecendo as semelhanas e

    diferenas e depois teriam que apresentar aos colegas. O primeiro grupo teve

    mais dificuldades, quando foram chamados at a frente da turma para

    apresentar, a princpio eles ficaram mudos, olhando um pro outro. Ento comecei

    a question-los sobre suas famlias, quais as pessoas que faziam parte, quais

    das famlias representadas tinham o mesmo nmero de integrantes, qual a que

    tinha mais e menos... Os prximos grupos j se sentiram mais seguros no

    momento de apresentar, necessitando menos de interveno para estabelecer as

    semelhanas e diferenas. O trabalho proposto a partir do desenho proporcionou

    a interao entre os alunos. atravs das interaes com o meio, na troca, no

    convvio, na cooperao que o aluno constri seus conhecimentos.

    Os alunos tambm realizaram uma pesquisa sobre a descendncia das

    famlias e com os dados construmos um grfico das etnias. Foi um trabalho

    muito interessante, eles ficaram entusiasmados e tambm surpresos, pois ao

    analisamos os dados eles se deram conta de que a maioria da turma de origem

    afro-descendente e tambm que existe uma mistura muito grande de etnias entre

    as famlias.

    A partir da hora do conto da histria Menina Bonita do Lao de Fita da

    autora Ana Maria Machado, conversamos sobre as diferenas entre as pessoas,

    diferenas essas que herdamos de nossos pais, avs, bisavs. Essa conversa

    deu margem a que fosse estendida para uma conversa mais ampla, relacionada

    s diversas etnias existentes. Aps foi proposto aos alunos uma atividade em

    dupla, onde primeiro cada um deveria se desenhar observando suas

    caractersticas fsicas como cor de pele, cor dos olhos, da pele... Depois teriam

    que observar o colega e desenh-lo. Foi possvel observar que muitos alunos

    tiveram dificuldades de se desenhar, ou melhor, de ressaltar suas caractersticas,

    principalmente em relao cor da pele, pois normalmente a cor atribuda o

    salmo a que eles se referiram como cor de pele. Isso s veio a confirmar o

  • 30

    meu pensamento sobre a necessidade de se trabalhar a ancestralidade dos

    alunos, resgatar a sua histria, fazendo com que os alunos se sintam parte dela,

    que aceitem e respeitem sua origem e que tambm aprendam a respeitar a

    histria dos outros.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais, A aprendizagem artstica

    envolve um conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam criao

    de significaes, exercitando fundamentalmente a constante possibilidade de

    transformao do ser humano (BRASIL, 1997, p. 45).

    A ao acima abriu para um trabalho sobre Diversidade, no qual os alunos,

    em grupo, confeccionaram telas, a partir da releitura de imagens de diferentes

    pessoas retiradas de revistas. Os grupos no tiveram dificuldades em estabelecer

    as diferenas entre as imagens, pois quando trabalhamos as famlias e as etnias

    conversamos sobre as diferenas entre as pessoas. Com isso aproveitei a

    oportunidade para trabalhar o respeito que devemos ter com as pessoas,

    independente das suas caractersticas fsicas (aparncia), da sua religio, de sua

    condio financeira, que no devemos pr apelido nas pessoas. Um aluno falou

    que tem gente que chama o outro de macaco s porque ele negro,

    imediatamente uma menina respondeu que isso muito feio, falta de respeito.

    Complementei dizendo que existe uma lei que determina que crime ofender

    uma pessoa por causa da sua cor e que ela pode ser presa por causa disso.

    Conversamos sobre a escravido, uma aluna disse que tinha uma novela tarde

    que mostrava os negros escravos, que batiam neles e que eram acorrentados

    para no fugir. Toda essa conversa contribuiu para uma reflexo sobre o papel

    da escola que de respeitar e valorizar os afro-descendentes, compreender suas

    lutas e valores, ser sensvel ao sofrimento, revertendo os perversos efeitos de

    sculos de preconceito, discriminaes e racismo para que tenhamos uma

    sociedade democrtica, justa e igualitria. Segundo Freire (1996, p. 67),

    qualquer discriminao imoral e lutar contra ela um dever por mais que se

    reconhea a fora dos condicionamentos a enfrentar.

    Para que as escolas desempenhem bem o seu papel, necessrio que se

    constituam em espao democrtico, mobilizando toda a comunidade escolar.

    Ainda segundo Freire (1996 p.39,40),

  • 31

    Faz parte igualmente do pensar certo a rejeio mais decidida a qualquer forma de discriminao. A prtica preconceituosa de raa, de classe, de gnero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.

    Para confeccionar as telas, cada grupo escolheu um recurso: um fez com

    tinta guache, outro com lpis de cor, outro com canetinha hidrocor e o outro

    utilizou recortes de imagens de revista. Ficou muito diversificado o trabalho e

    percebi que eles ficaram contentes com o resultado. Tambm confeccionaram

    um painel sobre a presena do negro no mundo artstico, poltico e esportivo.

    Para isso retomamos o grfico das etnias, onde constatamos que a maioria era

    de origem afro-descendente. Conversamos sobre os negros famosos, eles

    lembraram da novela que tinha a Helena (Thas Arajo) no papel principal, outra

    que era delegada em outra novela, mas falaram que isso est acontecendo

    agora, pois antes o negro aparecia sempre como empregado. Eles tiveram

    dificuldades em realizar o trabalho. A atividade demorou mais do que o

    planejado, j que foi difcil encontrar nas revistas imagens de negros famosos,

    apesar disso, foi muito interessante por que os alunos mesmos se deram conta

    de que o nmero de pessoas negras famosas seja no meio artstico, poltico ou

    esportivo ainda muito pequeno em relao s pessoas brancas.

    O desenho tambm esteve presente no trabalho desenvolvido no ambiente

    informatizado, onde alm dos alunos utilizarem o site da Turma da Mnica para

    colorir desenhos, eles tambm utilizaram o Paint para desenhar livremente. O

    uso do computador um importante recurso de linguagem do qual ns

    educadores no podemos abrir mo, pois ele favorece o processo de ensino

    aprendizagem, a interao e cooperao. Cabe destacar aqui que, segundo

    Costa e Magdalena (2008),

    As tecnologias so usadas como meios que permitem a comunicao, as trocas e a realizao de atividades em redes cooperativas de aprendizagens, capazes de superar a concepo linear e dicotomizada, ainda presente em grande parte das instituies escolares.

    Alm dos desenhos, realizamos trabalhos de recorte e colagem utilizando

    imagens como em um trabalho sobre o corpo. A atividade consistia em montar um

    corpo humano usando partes de diferentes imagens de recortes de revistas. A

  • 32

    atividade despertou a imaginao, a criao dos alunos e tambm proporcionou

    momentos de descontrao e interao, na medida em que eles trocaram

    imagens entre si. Alguns colaram uma cabea de mulher num corpo de homem,

    outros colaram uma cabea de homem num corpo de criana ou de mulher,

    alguns tambm trocaram os ps e as mos dos corpos. Eles se divertiram e no

    final riram das produes, pois ficou muito engraado. Os alunos tambm

    montaram jogos de memria e quebra-cabea com imagens. Cabe ressaltar que o

    jogo alm do seu carter ldico, acima de tudo, um meio para desenvolver a

    socializao, o respeito, a valorizao do prximo, as regras, os limites, que sero

    empregados pelas crianas em outras reas de sua vida. Segundo Dohme (2003,

    p. 122), [...] os relacionamentos suscitados atravs de jogos levam ao

    conhecimento de valores, importantes para um convvio tico na sociedade.

    Portanto devem fazer parte do cotidiano escolar.

    A msica foi outra atividade artstica muito presente na prtica. Ela era

    muito apreciada pelos alunos. Trabalhar com a msica contribuiu para o

    desenvolvimento de muitos aspectos da aprendizagem dos alunos tais como

    percepo auditiva, a memria, a expresso oral e corporal, o ritmo, os limites,

    entre outros. O Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil afirma

    que aprender msica significa integrar experincias que envolvem a vivncia, a

    percepo e a reflexo, encaminhando-as para nveis cada vez mais avanados

    (BRASIL, 1998, p. 48).

    Um exemplo do uso pedaggico da msica foi o trabalho realizado em

    comemorao ao Dia do ndio, onde os alunos cantaram a msica Os

    Indiozinhos e tambm fizeram gestos. A partir da msica foi possvel trabalhar a

    expresso oral e corporal, e tambm matemtica. Isso mostra que msica

    contribui para integrar muitos componentes curriculares, alm de ocasionar a

    socializao e o bem estar das crianas. Segundo Snyders (2008, p. 66) a

    msica na sala de aula desempenha papel de atividade criativa e integradora do

    currculo escolar.

    Com a contao da histria Os trs porquinhos trabalhamos os tipos de

    casas existentes, o quanto importante ter uma casa prpria e tambm sobre a

    situao difcil de algumas pessoas que no tem uma casa para morar. Na

    ocasio, uma aluna relatou que sua famlia j ficou sem casa para morar e que

  • 33

    no ficaram na rua porque uma tia os convidou para morar com ela. Em seguida,

    eles desenharam sua casa, tambm pesquisaram o endereo junto aos

    familiares, desenharam o trajeto da casa at a escola, escreveram os tipos de

    comrcios existentes no trajeto. Aps confeccionaram dedoches dos

    personagens e depois em grupos fizeram dramatizao da histria. Como foi a

    primeira vez, percebi que eles ficaram tmidos e tambm tiveram dificuldades em

    decidir quem ficaria com qual papel, pois todos queriam ser o lobo mau. Apesar

    disso, fiquei feliz com a atividade, pois eles gostaram muito dos dedoches que

    no tiraram dos dedos. A partir dessa atividade, pude perceber a necessidade de

    propor mais atividades de dramatizaes, pois contribuem para a desinibio dos

    alunos e tambm desenvolvem a socializao, a expresso oral, a criatividade e

    a cooperao.

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,

    O teatro no Ensino Fundamental proporciona experincias que contribuem para o crescimento integrado da criana sob vrios aspectos. No plano individual, o desenvolvimento de suas capacidades expressivas e artsticas. No plano coletivo, o teatro oferece, por ser atividade grupal, o exerccio das relaes de cooperao, dilogo, respeito mtuo, reflexo sobre o agir com os colegas, flexibilidade de aceitao das diferenas e aquisio de sua autonomia com resultado do pode agir e pensar sem coero (BRASIL, 1997, p. 84).

    Outra atividade de dramatizao aconteceu durante o trabalho com o

    corpo. Na, atividade desenvolvida sobre higiene os alunos tiveram que

    representar atravs de mmica os hbitos de higiene para os colegas

    descobrirem. Foi possvel perceber que alguns tiveram dificuldades de se

    expressar s corporalmente. Esse tipo de atividade importante, pois

    proporciona a desinibio, a criatividade e a percepo visual.

    Com essa atividade, foi possvel perceber a importncia de oferecer

    oportunidades s crianas para vivenciarem situaes em que estabeleam

    relaes com o mundo ao seu redor. Dramatizar expressando-se somente com o

    corpo faz que a criana utilize criatividade e exponha seus conhecimentos sobre

    aquilo que esto pretendendo representar, alm de ser uma tima atividade, para

    que os alunos se desinibam e interajam melhor com os outros.

  • 34

    A dramatizao uma forma de a criana entrar em contato consigo

    mesma e com o universo que a rodeia.

    Conforme foi possvel observar nas atividades relatadas, as atividades

    artsticas so formas do aluno se expressar, de se comunicar, assim como o

    gesto e a fala.

    Segundo Oliveira (2001, p. 90),

    A partir do momento em que a criana torna-se capaz de imaginar, ela passa a desenvolver diferentes formas de expresso como a oralidade, a expresso plstica, a msica e a expresso dramtica, atravs das quais estabelece relaes com o mundo.

    Por isso, importante oferecer aos alunos diversos materiais e oportunizar

    que eles produzam, que eles criem a partir de aes como ver, olhar, analisar,

    observar, imaginar, entre outras. necessrio tomar a criana como ponto de

    partida e compreender como ela , envolvendo sempre afeto, o prazer, o ldico, o

    movimento, a expresso oral e escrita e a arte.

    A criana que est iniciando sua vida escolar muito receptiva. Ela est

    aberta a descobertas, tem um desejo imenso de aprender e precisa ser

    incentivada a todo o momento. A linguagem visual muito importante nessa fase.

    Como ela ainda no domina a escrita e a leitura, necessita da imagem como

    referncia. Realizar atividades artsticas constitui um excelente recurso, pois elas

    contribuem para desenvolver a expresso, a criatividade, a sensibilidade, a

    imaginao e a percepo que so importantes no processo criativo das

    crianas. Alm disso, as crianas aprendem cores, formas, linhas, constroem

    conceitos. Sua realizao tambm favorece o desenvolvimento de habilidades

    motoras e a ateno que so necessrias e facilitam o processo de alfabetizao.

    Realizar atividades artsticas alm de ser algo prazeroso, alegre e

    divertido favorece o ensino/aprendizagem, pois ao abordar temas significativos

    para as crianas que do origem aos trabalhos artsticos, possvel explorar as

    letras, as slabas, as palavras, as frases e os nmeros correspondentes e com

    isso motivar a criana a aprender a se expressar atravs da leitura e da escrita.

  • 35

    importante ressaltar que o educador deve sempre respeitar o nvel

    cognitivo, afetivo e motor de cada aluno. Oportunizar as interaes com o meio e

    os outros e tambm valorizar os conhecimentos prvios dos alunos.

    A escola tem a funo de educar com comprometimento e

    responsabilidade, priorizando sempre o aluno como ser em desenvolvimento

    capaz de mudar as coisas e o mundo ao seu redor. Por isso, o educador deve

    estar sempre oportunizando e mediando experincias voltadas para o

    desenvolvimento integral da criana.

  • 36

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Como diz Ferraz e Fusari (1999, p. 56) sentir, perceber, fantasiar,

    imaginar, representar, fazem parte do universo infantil e acompanham o ser

    humano por toda a vida.

    A arte realmente desempenha um papel fundamental na vida do ser

    humano. Atravs dela o indivduo expressa seus pensamentos, sentimentos,

    desejos e vivncias. A arte o permite transitar pelo mundo da imaginao, dos

    sonhos, da fantasia e da criatividade. Ela abre um leque de possibilidades dele se

    comunicar e interagir com o mundo, de conhecer e apreciar outras culturas.

    Baseado na anlise realizada a partir do referencial terico foi possvel

    constatar que a realizao de prticas artsticas pode servir de eixo favorecedor

    da aprendizagem de crianas do 1 ano do Ensino Fundamental, pois a criana

    que est iniciando sua vida escolar tem na arte uma forma prazerosa, divertida e

    alegre de se expressar e tambm de desenvolver habilidades importantes no

    processo de alfabetizao.

    importante destacar que as atividades devem ser contextualizadas,

    sempre respeitando as vivncias e o conhecimento prvio do aluno. O educando

    no deve realizar atividades artsticas somente para desenvolver habilidades

    motoras importantes para o processo de alfabetizao: ele deve ser estimulado a

    criar, ousar, observar, imaginar como forma de desenvolver seu processo

    criativo.

    A partir da anlise realizada possvel levantar outras questes sobre

    arte, plausveis de estudos. De que forma a realizao de atividades artsticas a

    partir de modelos prontos e estereotipados influencia na aprendizagem? A

    criana que no realiza atividades artsticas menos criativa? Se a arte

    desempenha um papel importante na aprendizagem de crianas do 1 ano do

    Ensino Fundamental, ela tambm seria importante em sries mais adiantadas?

    Essa ltima questo relevante na medida em que se observa que as prticas

    artsticas muito valorizadas no primeiro ano muitas vezes so abandonadas ou

    menosprezada nos anos seguintes do Ensino Fundamental, ou seja, como o

  • 37

    educando j domina a leitura e escrita, os educadores priorizam essa rea

    atravs de atividades direcionadas e colocam a arte em segundo plano.

    De acordo com LDB Lei n. 9.394/96, a Arte um componente curricular

    obrigatrio no Ensino Fundamental e tem como funo promover o

    desenvolvimento cultural do educando. Apesar dos Parmetros Curriculares

    Nacionais no estabelecerem contedos e objetivos de Arte delimitados por ano,

    e sim objetivos gerais para o Ensino Fundamental, a escola deve assegurar que

    as prticas artsticas faam parte do currculo escolar, como forma de garantir o

    ensino/aprendizagem dos alunos. Importante salientar que no basta escola

    incluir a Arte no currculo escolar, preciso disponibilizar material de apoio

    pedaggico aos educadores e tambm recursos para o desenvolvimento das

    prticas artsticas.

    Entendo que falta incentivo e at investimentos por parte da escola e da

    mantenedora na qualificao e aperfeioamento dos educadores para trabalhar

    Arte. Entretanto quando falta essa qualificao, o professor deve ir em busca de

    conhecimento para melhor desempenhar sua prtica. Afinal somos seres em

    constante construo, precisamos ter a humildade de compreender que tambm

    somos aprendizes, pesquisadores e no apenas professores.

  • 38

    REFERNCIAS

    BARBOSA, A.M.T.B. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. So Paulo: Perspectiva, 2005. BORBA, A. M.; GOULART, C. As diversas expresses e o desenvolvimento da criana na escola. In: BEAUCHAMP, Janete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Ariclia Ribeiro do. (orgs). Ensino Fundamental de Nove Anos. Orientaes Para a Incluso da criana de seis anos de idade. Ministrio da Educao, Braslia, 2006. BRASIL. Ministrio da Educao e Cultura. Parmetros curriculares nacionais: arte. Braslia: MEC/SEF, 1997. BRASIL, Ministrio da Educao e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. Braslia: MEC/SEF, 1998. COSTA, I. E. T; MAGDALENA, B. C. Revisitando os Projetos de Aprendizagem, em tempos de web 2.0. In: Anais do XIX Simpsio Brasileiro de Informtica na Educao. Fortaleza: Universidade Federal do Cear, 2008. Disponvel em http://sbie2008.virtual.ufc.br/CD_ROM_COMPLETO/workshops/workshop%204/Revisitando%20os%20Projetos%20de%20Aprendizagem,%20em%20tempos%20de%20web%202.0.pdf Acesso em: 07 de nov. de 2010 DOHME, Vnia. Atividades Ldicas na Educao: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Petrpolis: Vozes, 2003. FERRAZ, Maria Helosa C.Toledo; FUSARI, Maria F. Rezende. Metodologia do ensino da arte. So Paulo: Cortez, 1999. FREIRE, Paulo. A importncia do ato de ler: em trs artigos que se completam. So Paulo: Cortez, 2001. ________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1996. GOMES, Paola Basso Menna Barreto. Os Materiais Artsticos na Educao Infantil. In: CRAIDY, Carmen; KAERCHER, Gladis E. P. S. (orgs.). Educao Infantil: para que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. OLIVEIRA, Zilma de Moraes. et. al. Creches: crianas, faz de conta e companhia. Petrpolis: Vozes, 2001. QUEIROZ, T. D. Dicionrio Prtico de Pedagogia. So Paulo: Rideel, 2003. REGO, Teresa C. Vygotsky: uma perspectiva histrico-cultural da educao. 13. ed. Petrpolis: Vozes, 2002.

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    SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da msica? So Paulo: Ed. Cortez, 2008.