ukl por um anuo r». 12$, por 6 ninei ri. espelho...

8
Mo 3 D SABKJAIS)© Sil m, ®HSTWBMJ> il&tiü PUBLICiO-SE SKIS M Vll.ltOS Ml-NSAI S COM quatro aniaumifos Dit ultimas Morinn de Pariz 12*1,6, H, IO, 2l«26üK CADA UKl i ASSICNA-SIi NA I.1VIA1IA IMIViaSAI. »K K. R ||. LAEMMKKT . í.aíi ..'a •', , ,. EDXTO&CS Roa da Quitanda N. 77 ., Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. 7J> ESPELHO FLUMINENSE ou aV.V." MO tlMSm DE LEITURA .-¦ i f ,'í:. zt Í\f' sí* ; ,, ,¦*'.' AMOR E CORAGEM. (continuação e fjm.) Dorme-se cedo em Oneille, onde meia noite é verdadeiramente o meio da noite, e é a hora em que todo o mundo está dormindo desde muito tempo, e em que as ruas estão desertas: Luiza Balbi tiriha escolhido bem o seu momento p e chegou antes do instante marcado. O doutor ouviu os passos precipitados dos dous jovens amantes e suas primeiras palavras entre- cortadas de perguntas e de suspiros. ²Estaes maravilhado, Matheus, disse emfim Luiza; perguntaes-vos porque venho eu a vossa casa, de noite, como uma rapa- riga louca ou criminosa ? É porque te amo, Matheus, *e não quero casar comtigo. A esta declaração, Matheus deu um grito agudo. ²Não, proseguiu brandamente Luiza, nao quero casar comtigo; é mister que fujas, é mister que partas, e meu coração se teria despedaçado si outra pessoa que não eu te tivesse forçado a esta fatal sepa- ração, si eu não tivesse podido dizer-te que é porque te amo que recuso a tua mão. Matheus, furioso9 percorria o aposento a passos largos; seu peito arquejava, sua lingua embaraçada não podia exprimir as sensações diversas que o opprimiam. A moça o attrahiu junto a si, fez-lhe partilhar da larga poltrona em que estava sentada^ e, passando o braço em roda do pescoço de Matheus, lhe disse : ²Nós somos çreançás que nos amamos, c que, por estarmos cheios de amor, jui- gamos "que n'este mundo não ha sinão amor, emquanto que outra idade e outros interesses tem outras paixões.... Lembra-te de teu pae. ²Lembro-me! exclamou Matheus com precipitação. ²Pois bem, meu amigo, continuou Luiza, essas bellas planícies de oliveiras que constituem a tua riqueza, pertenciam oulr'ora a meu pae; deviam ser o meu dote, eram a fortuna de minha mãe, e deviam constituir o palrimonio de meu irmão José. ²Sim, minha Luiza, respondeu Ma- theus, essas terras eram vossas; mas teu pae devia ao meu muito além do seu valor, e, si vieram a ser nossas, foi porque meu pae as acceitou como uma compensação muito inferior ainda ao que lhe era devido. ²Bem sei isso, Matheus, mas tudo nessa divida oífendeu minha mãe, tanto a divida mesma como a maneira porque foi paga.... E não é nada sinão isto, Matheus; ha sangue entre nossas duas familias, e que sangue, grande Deus! o de meu pae. ²Tens rasão, Luiza, porém.... ²Sim! sim! exclamou a moça fora de si, uma mulher, uma amante que ambos amavam.... lançaram mão das espadas, e teu pae matou o meu!... Assim, eis o motivo do ódio que nos separa: a mãe e os filhos arruinados por uma divida de jogo, a mãe privada ainda moça de um marido *K '

Upload: others

Post on 20-Jan-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

Mo 3 D SABKJAIS)© Sil m, ®HSTWBMJ> il&tiü

PUBLICiO-SESKIS M Vll.ltOS Ml-NSAI S

COM

quatro aniaumifosDit ultimas Morinn de Pariz

12*1,6, H, IO, 2l«26üK CADA UKl

i

ASSICNA-SIiNA I.1VIA1IA IMIViaSAI.

»K K. R ||. LAEMMKKT. í.aí i ..'a •', , ,.

EDXTO&CS

Roa da Quitanda N. • 77.,

Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. 7J>

ESPELHO FLUMINENSEou

aV.V."

MO tlMSm DE LEITURA

.-¦ '¦ i f ,'í:. zt Í\f' sí*

; ,,¦*'.'

AMOR E CORAGEM.

(continuação e fjm.)

Dorme-se cedo em Oneille, onde meianoite é verdadeiramente o meio da noite,e é a hora em que todo o mundo já estádormindo desde muito tempo, e em queas ruas estão desertas: Luiza Balbi tirihaescolhido bem o seu momento p e chegouantes do instante marcado. O doutor ouviuos passos precipitados dos dous jovensamantes e suas primeiras palavras entre-cortadas de perguntas e de suspiros.

Estaes maravilhado, Matheus, disseemfim Luiza; perguntaes-vos porque venhoeu a vossa casa, de noite, como uma rapa-riga louca ou criminosa ? É porque te amo,Matheus, *e não quero casar comtigo.

A esta declaração, Matheus deu um gritoagudo.Não, proseguiu brandamente Luiza,

nao quero casar comtigo; é mister quefujas, é mister que partas, e meu coraçãose teria despedaçado si outra pessoa quenão eu te tivesse forçado a esta fatal sepa-ração, si eu não tivesse podido dizer-teque é porque te amo que recuso a tua mão.

Matheus, furioso9 percorria o aposentoa passos largos; seu peito arquejava, sualingua embaraçada não podia exprimir assensações diversas que o opprimiam. Amoça o attrahiu junto a si, fez-lhe partilharda larga poltrona em que estava sentada^e, passando o braço em roda do pescoçode Matheus, lhe disse :

Nós somos çreançás que nos amamos,c que, por estarmos cheios de amor, jui-gamos "que n'este mundo não ha sinãoamor, emquanto que outra idade e outrosinteresses tem outras paixões.... Lembra-tede teu pae.Lembro-me! exclamou Matheus comprecipitação.Pois bem, meu amigo, continuouLuiza, essas bellas planícies de oliveirasque constituem a tua riqueza, pertenciamoulr'ora a meu pae; deviam ser o meudote, eram a fortuna de minha mãe, edeviam constituir o palrimonio de meuirmão José.

Sim, minha Luiza, respondeu Ma-theus, essas terras eram vossas; mas teupae devia ao meu muito além do seu valor,e, si vieram a ser nossas, foi porque meupae as acceitou como uma compensaçãomuito inferior ainda ao que lhe era devido.Bem sei isso, Matheus, mas tudo nessadivida oífendeu minha mãe, tanto a dividamesma como a maneira porque foi paga....E não é nada sinão isto, Matheus; ha sangueentre nossas duas familias, e que sangue,grande Deus! o de meu pae.Tens rasão, Luiza, porém....Sim! sim! exclamou a moça fora desi, uma mulher, uma amante que ambosamavam.... lançaram mão das espadas, eteu pae matou o meu!... Assim, eis omotivo do ódio que nos separa: a mãe e osfilhos arruinados por uma divida de jogo,a mãe privada ainda moça de um marido

*K '

Page 2: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

8 mwissM® wbtMwwss&m

mf-(-

que adorava apezar de seus dcsmanchos,os filhos deixados orphaos.

Eu sabia isso, Luiza, c por essarazão, quando pela primeira vez vi o leulindo rosto, quando teus bellos olhos meseduziram, desesperei a principio de alcan-çar-te; mas emfim enterneci tua mãe, cpieteve dó do meu amor e do teu, e a minhafortuna vae pertencer-lhe: não lhe rcsli-tuirei um marido, porém ella terá maisum filho.

Sim, respondeu Luiza, eu fui educadaem odiar-te, em praguejar de teu nome,e, des que nos amamos, previ como tuque o nosso amor seria infeliz; qual nãofoi o meu espanto quando vi minha mãeapproval-o! Pensei então que seu coraçãose tinha abrandado, e que ella acceilavaa reparação que lhe offerecias. Porque não ?não foste tu que mataste meu pae, nãofoste tu que nos arruinaste! Em que enganoestávamos, grande Deus! Julgamos que oódio podia extinguir-se, que o desejo davingança podia amortecer-se.... Sabe, Ma-theus, que minha mãe te odêa até appetecertua morte, que ella te considera semprecomo o descendente de um homem dequem ella amaldiçoa a memória; sabe que,si meu irmão José te não tem pedido vintevezes conta do sangue derramado, não épor falta de animo, é sim porque minhamãe se lhe lançou aos pés, por saber queés destro, forte, e que ella teria podidoperder um filho como perdeu um marido,no e int anto que quer uma vingança segura...essa vingança tu lh'a vieste offerecer por timesmo; vieste lançar-te nos braços queté devem suffocar. Amanhãa casas com-migò; desde amanhãa tua vida te nâo per-ténce mais, estádevoluta a mãos que gotaa gota te ministrarão o veneno que tematará.... Primeiramente querião-me paracúmplice, porque pensam que tambem eutenho que vingar-me; mas reconhecerãologo que çu tinha mais amor do que ternurafilial: esconderam-se de mim, e eu descobritudo; sua alegria criminosa não se pôdeconter, e, graças ao Céo, eu sei tudo. Ellescalculam sua vingança segura e sem perigo;depois de tão longo tempo de paciência,quem os accusará de se terem desfeito deum genro?... Foge pois, Ma theus; nãoentres n'uma casa onde encontrarias amorle, abandona uma noiva homicida!...Foge; deixa-me amanhãa ir sozinha aoaltar..,.

Que ou fuja ! exclamou Ma the ti & ,que le abandone ás mãos d'csscs envene-nadores!...

Elles nao saberão nada; julgão-meescondida no meu quartinho, e eu estoucerta de me recolher com tanto segredocomo sahi. Além d'isso, estão longe de mesuspeitarem, e náo sabem que estou ins-truida.

Pois bem, fugirei, porém comligo ,Luiza; não le deixo mais. ^p

Oh! não, replicou a moça com roso-lução, eu amo minha mãe, e, criminosaou não, não a abandono; é muito bastantetrahil-a.

Houve longo silencio; durante algumtempo o doutor applicou debalde o ouvido,e por fim elevou-se a voz de Ma theus:

Fugirei, disse.A moça se levantou, depoz um beijo na

testa de seu desposado, e deixaram amboso aposento. Quando Matheus tornou aapparecer no seu quarto, foi o doutor tercom elle.

Meu amigo, disse-lhe, espero queseguireis o conselho de uma moça quevos ama, e que, segundo vos ella pede,não consummareis umas nupeias que ellamesma chama homicidas.

Eu teria querido, respondeu Matheuscom semblante sereno, que tivesseis podidovêl-a; como estava bella, doutor! porémao menos otivistes o som harmonioso desua voz.

*¦ ¦ *t- ¦

Cumpre fazer vossos preparativos departida, dizia o doutor; meu caro Matheus,esta hospitalidade que hoje me daes, euvol-a restituirei daqui a alguns dias; nãovos deixo, vireis commigo a Pariz, c euprocurarei fazer-vos esquecer esta cruelaventura.

Por única resposta, Matheus despiu-se ese metteu na cama. *

Boas noites , doutor , disse , boasnoites.

E apegas encostou a cabeça no traves-seiro, adormeceu profundamente.Este phenomeno physico occupoü a Igumtempo o doutor:

Um homem namorado, dizia ellecomsigo, ameaçado em sua vida e cm seuamor!

Depois, como não eslava nem namoradonem em perigo de ser envenenado, e corpoa viagem o tinha cançaclo, passou ao seu

Â

~ #-' ''¦*

, *'•?'/¦i.

'*'

Page 3: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

fflgra&fflf<»Q> IPIIsIonSíüKyUfiíTSB

quarto, incltcu-sc na cama, e não tardoua imitar Matheus.

No dia seguinte, desde a aurora, repi-cavam Iodos os sinos da cidade pelo casa-mento dc Matheus. liste sc levantou, vestiusuas roupas de nupcias e entrou no quartodo doutor para lhe estimular a preguiça.— Está namorado, pensou o doutor,quer esposar aquella que ama; tem razão.Quanto a mim, sei o que tenho a fazer;raptal-os-hei ambos por vontade ou porforça, depois da ceremonia, e lhes fareipassar a lua de mel em Pariz.

Tomou o tempo de dizer a $eu criadoque lhe preparasse a sege deposta ecncom-mendassc cavallos, e depois seguiu a noiva.• Foram direito para a cathedral de Oneille,já cheia de gente. Toda esta multidão estavacuriosa de ver um casamento que ia reunirduas familias separadas por quinze ou vinteannos de ódio; lembravam a ruina deBalbi, sua morte, o lucto da viuva, avictoria dePedamonte, e geralmente cen-suravam seu filho Matheus.

Para que, diziam, approximar-seassim de seus inimigos? para que revolvercinzas ensangüentadas, c offerecer repara-ções impossíveis?

N'isto a população de Oneille seguia osantigos hábitos d'essas vinganças italianasque se entorpecem, que dormem e nãomorrem. Pensavam alguns que, no mo-mento de ligar-se assim como o ia fazer,Matheus recuaria, e que a joven Luiza,posto que já com a fronte cingida da ca-pella de desposada, esperaria em vão porseu esppsq no altar.

Não, não, respondiam os amigos domancebo, elle ha-de vir; elle a esposaria,embora devesse transpor, para chegar atéa ella, uma muralha de íbgo.

Esses conheciam bem Matheus, e em-qxiaptp Lqi^a, junto cie sua mãe e jàajoelhada nos degráos do altar, estava fa-zendo votos cara que já o mancebo tivessedeixado Oneille, appareceu Malheus nolumiar da igreja, com o rosto radiante dealegria; vinha acompanhado do doutor L....cujo semblante melancholico contrastavacom a fronte alegre do desposado. Não foilonga a ceremonia, e, apenas terminada,tomou o prcslilo todo o caminho da casade Matheus, onde estava preparado umesplendido almoço. Luiza, pallida e des-feita, parecia caminhar ao supplicio ; odoutor estava espreitando um momento

lavoravel para sc chegar á casada c apressaruma partida indispensável, quando Ma-tlieus tomando-o pelo braço, lhe disse:— Doutor, ide oecupar o vosso logar novosso escondrijo de hontem á noite; vósconneceis o principio da historia, mister éque saibaes o fim.

O doutor pasmado obedeceu, mas d'estavez suspendeu a armação que cobria orepartimento , e, alargando um pouco umafresta que sc achava entre duas taboasmal unidas, arranjou-se para ver ao mesmotempo que ouvisse. Estava apenas collo-cado, quando no quarto entrou Matheusseguido de sua nova sogra e de seu novocunhado. José, pesado, de cara commume sem expressão, parecia adversário poucoformidável; mas a senhora Balbi, com suaelevada estatura, seus olhos brilhantes,seu nariz de águia e seus lábios finos,apresentava com seu filho um contrastepasmoso, c era realmente a única inimigaque era preciso combater. O doutor lia-lheno rosto a astúcia, a dissimulação, o ódioencoberto e paciente, e, no contorno ar-queado da boca, essa alegria feroz da mulhervingativa que tem emfim segura a suapresa. Matheus, logo que se viu só comestas duas pessoas, se lançou nos braçosda senhora Balbi, beijou-lhe a enrugadatesta, os lábios, os olhos;

O' minha mãe, disse, quanto sou^ditoso ! devo-vos a única felicidade quejamais appeteci! Luiza, vossa filha, que éminha agora! Oh! bemdita sejaes mil vezes,,minha mãe, vós que esquecestes um mo-mento o vosso ódio para me fazerdes umpresente tão bello!... Eu o gozarei pouco,bem o sei, mas que importa! sou daquellesque dariam um seeulo de vida por um diade felicidade e de amor.

Que dizeis? exclamou a senhora Balbi,procurando soltar-se aos abraços dc seugenro.

Tendes as vossas injurias que vingar,repetiu Malheus; o sangue de vosso maridobrada contra mim, e vós me quereis en-venenar.

Quem vol-o disse, Matheus? quemvol-o disse ? exclamou a senhora Balbirepellindo inteiramente o mancebo.

Sim , replicou tranquillamente Ma-theus, vossa fortuna perdida, vosso maridomorto, tudo isto exige que eu me extinguagota a gota nas vossas mãos; èu o sei e meentrego., tanto amo Luiza!.., Outro teria

Page 4: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

4 BtiftEUBiò wmmmmmsmfugido, eu fico; antes quero a morte do

3ue o desterro, quero morrer á sombra

as minhas bellas oliveiras, circumdadodo perfume de minhas larangeiras....Tomae, minha mãe, eis-aqui uma doaçãode meus bens, que serão para Luiza, evós os desfructareis com ella.... Tomaemais, eis-aqui um veneno seguro, nãomuito doloroso, e que não deixa vestígioalgum; pegae, porém dae-me oito dias,ah! são-me precisos oilo dias de vida e desaúde; depois opprimireis a vossa íilhacom a desgraça que vós mesma experi-mentastes; joven e bella, vós a privareisde seu esposo.

A estas ultimas palavras saltaram dousrios de lágrimas dos olhos da sogra, quese arrojou para Matheus, pegou no vidroenvenenado que elle lhe apresentava e oquebrou sobre o soalho; apoderou-se dadoação è fel-a pedaços : foi ella entãoquem lançou os braços em roda do pescoçode Matheus e o cobriu com seus beijos.

Esqueçamos os mortos, disse, tu ésmeu filho.

—- BUe está salvo, pensou o doutor.Abriu-se a porta do quarto: era Luiza

qüe, pallida e tremula, vinha informar-sede seu marido; sua mãe correu a ella, e,apertandó-lhe as mãos, lhe disse comaquella expressão que só as almas italianassabem dar ás suas palavras :

Elle acaba de vencer, e eu t9o dou.As nupcias se terminaram alegremente,

ó doutor escreveu o facto no seu livrinhode leiiabranças de viajante, e hoje emOnéille se cita a inalterável amizade dasogra e do genro.

Mame Aycard.• - -' Aí:

.-:<• 'Hí*%

.... ^ Jl* - * ãr^

ELISA E ALFREDO.Acabavam de dar duas horas da üia-drugada no relógio da quinta de Meudon,e tudo alli era silencio erepouso, exceptoa um lado dos jardins, em que interrom-

piam o silencio freqüentes suspiros quesoltava a linda e encantadora joven Elisa deMeudon.Mas, o que a deteria só nos jardins, auma hora lão avançada ?Porque terá a dor pintada em seuformoso

semblante?

à Nj° é ella-fiíha unica tíos senhores deMeudon, herdeira de suas immensas ri-

quczas, amada delles em extremo, eobjecto das homenagens de quantos arodeiam.

Certamente: porém dc que lhe servemtodas essas vantagens?

Uma só desejava , e era precisamente aque não lhe permiltiam.

Achava-se apoiada no parapeito do ter-raço do jardim, c tinha fitos na correntedo Sena seus lindos olhos humedecidospelas lagrimas; cahiam-lhe pelos hombrose costas os louros cabellos entrançados ámoda da Suissa, e um ligeiro véo brancolhe cobria a cabeça, c parte do bello rostomais branco ainda que o véo.

Apertava sobre o coração, e beijavarepelidas vezes um papel, que tinha nasmãos, e esle papel era um bilhete concebidon estes termos:

« Tua inapreciavel bondade, e teusnobres sentimentos phra com todos osdesgraçados, minha querida Elisa , meanimam a escrever-te e rogar-te, que meconcedas uma conferência. Tenho quecommunicar-te cousas de maior importan-cia, e para o fazer virei embarcado pelorio, afim de fallar-te junto aos muros dojardim, sem que ninguém nos possa vêr;ás duas horas estarão todos recolhidos, e atua criada de Confiança poderá abrir-te aporta que deita para o jardim. Elisa, nãotens que oppôr-me objecção alguma. Mo-tivos fortíssimos me obrigam a pedir-te estáconferência; não deixes pois de vir a ella, esê o meu anjo tutelar. Se faltasses, juro-te(e já sabes que nunca juro em vão) queamanhãa achariam o meu cadáver juntoaõs muros do jardim, e tua crueldade seriaa unica causa da minha morte. Adeus Elisa,adeus meu anjo; ás duas horas te espera oteu—Alfredo. /

. -T- Ah! exclamava Elisa apertando acarta contra o seu seio; poderia eu fallar?Pérdoae-me, meu Deus, eu não podia1deixar de vir; o meu dever ó exigia. Massua voz enfraquecia-se ao pronunciar asultimas palavras, porque a sua consciênciamais forte que o seu coração lhe gritavaque o dever lhe prohibia que viesse aquellesitio.

Porém sempre que desejamos fazer al-guma cousa, procuramos persuadir-nos deque não podemos deixar de a fazer, é deque o mesmo dever nol-a ordena. Apoioujhsa a cabeça em sua branca mão, sentin-do-se agitada altcrn^ivainente pelo prazer

A-

Page 5: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

r^wMfKnaiHMKI

JffiMM© MOTSBSMOT&

*

c temor; mas este ultimo desappareceucompletamente, quando sentiu o sussurrodos remos, c viu approximar-se a barca ,em que vinha o seu amado Alfredo, o qualparou debaixo dos muros do jardim.TendoTo reconhecido, ella lhe disse comvoz terna e suave :

— Porque me escreveste esta caria tãocruel, ameaçando-me com a tua morto?.Não sabes que a tua existência está intima-mente ligada com a minha, e que o teuultimo suspiro seria tambem o meu derra-deiro alento.

»- Perdoa-me, Elisa. Conheço-te, esabia que este era o unico meio para quecedesses aos meus rogos. Não ignoro queteu pae prometteu a tua mão ao conde deLagnac; e tu nada me tens dito! Nãoduvido de ti nem um só momento , porémsó te aceuso de não mo teres communi-cado. «

ã- Temi, Alfredo, que o teu gêniofogoso te arrojasse a commelter algumaviolência, que nos fizesse mais desgraçados,pois espero vencer meu pae por meio dadoçura.

Quanto le enganas, Elisa! Nuncateu pae consentirá na nossa união, e teobrigará a que dês a mão ao conde._ — Ah! não. Antes morrer, exclamouElisa.

Para o evitar sollicitei este encontro.Fujamos para a Escócia, minha Elisa, ealli, ao pé dos altares, receber-me-has poresposo; tenho tudo disposto para a fuga,alcancei uma chave da porta do jardim quedeita para a parte do rio, e não precisosenão uma palavra tua para voar a teu lado,e não separar-me jamais. Atfasla lodo otemor. Tua mãe, que é um anjo como tu,nos perdoará, e o tempo desarmará acólera de teu pae. Vem, vem, não demoresum projecto, que nos promette a felicidade.

Ao ouvir estas palavras perdeu Elisa acôr, e levantando as mãos e os olhos ao céo,exclamou:

— Perdoae-me, meu Deus, o sonho deventura a que se ha entregado por algunsmomentos a minha imaginação, e perdoaetambem a Alfredo!

É voltando-se para esle lhe disse comvoz suave, porém firme: Que te atrevesa propôr-me ? Ainda quando meu pae nosperdoasse, nunca eu perdoaria a mimmesma tal acção. Esperava que formassesde mim melhor concçjto.

Perdoa, minha amada; amo-lc maisque a minha vida, e se me atrevi a pro-pôr-te este meio, é porque conheço ser ounico que nos resla para sermos felizes.A felicidade nunca se pôde alcançarpelo crime, cantes quero mil vezes quesejamos desgraçados, do que criminosos.Porémporque havemos perder a esperança?Meu pae cederá por fim a meus rogos, c osde minha mãe.

Ceder, teu pae! Ah! Elisa. Não oconheces, e sem duvida ignoras que a am-bicão e o egoísmo são a base do seu caracter.Pchloa-me. devia respeital-o porque é teupaé; mas é necessário que letalle <daro,parti que conheças bem as difficuldades<jue se oppõem à nossa união. Teu pae érealista, e se não emigrou foi por não per-der as riquezas que possue em França;odeia a minha familia, porque sabe quemeu pae e eu somos liberaes; gloriaino-nosde o ser, e não trocaríamos o seu antigobrazão pelo nosso , que devemos única-mente aos nossos feitos: elle nos despresaapezar da nossa riqueza, porque não atemos herdado, mas só adquirido com aespada.

— Basta, Alfredo. É meu pae, e devesrespeital-o, senão por elle, ao menos pormim. Torno a dizer-te, não obstante todasessas reflexões, que meu pae estima suaesposa; que o padre Anselmo, meu con-fessor, tem sobre elle grande poder devidoá sua virtude, e que havendo-me promet-tido que será nosso protector, estou segurade vencer tudo.., ~ El'sa> queria evitar-te este golpe; masjá vejo que é preciso não oceultar nada paraconvencer-te. Hontem pedio meu pae aoteu a tua mão para mim; mas respondeu-lhe que havia já dado a sua palavra de honraao conde de Lagnac, e que não podia fallara ella. Meu pae, por comprazer-me, humi-lhou-se a pedir c supplicar; mas o orgulhososenhor de Meudon não cedeu, porque sáquer que sejas esposa de um fidalgo daantiga nobreza, e realista como elle.Ah! exclamou Elisa suspirando. Com;que está perdida toda a esperança ?Não, minha querida Elisa, não, se-gue-me e seremos felizes.

Por compaixão , Alfredo, não meproponhas semelhante cousa ; condoe-teda minha afflição, e não a aggraves mais; *pois nunca poderei annuir a tal desejo.

Está bem, Elisa. A minha paixão cede í

Page 6: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

esfdlsso w^Timsmw^sjsao teu império, eu me retiro, porém queroque me jures que serás só minha, que des-presarás o conde, e que me escreverás,pois isto será um allivio que diminuirá emparte meus soffrimenlos.

Eu te juro , querido Alfredo, que sereisó tua, e prometlo escrever-te, mas coma condição de que minha mãe ha delêr astuas cartas e as minhas. E pondo um joelhoem terra. c levantando para os céos seuslindos olhos, continuou:

Perdoai-me, meu Deus, o juramento queacabo de fazer sem consentimento de meupae, e o ler^cedido aos rogos de Alfredo,promettendo-lhe a nossa união.

Alfredo a contemplava admirado, e hãopôde deixar de dizer: Até agora, minhaElisa, te hei amado com paixão, mas n'cstcmomento pareces-me um anjo a quem sóé dado adorar e respeitar.

A tua virtude te ha feito sublime, mulherencantadora, e ella te dá a força necessáriapara sacrificar-te, conserva sempre essavirtude, que se em alguns momentos meatormenta, é lambem o laço mais forte queme une a ti.

Elle ajoelhou como ella, e exclalnou :Meu Deus, ouvi os rogos dá minhaElisa, fazei que seja o anjo tutelar quedomine minhas paixões: Adeus, Elisa,não te esqueças de tuas promessas, e ama-mé como eu te amo.

Partiu a barca, e Elisa seguiu-a comos olhos até ao ultimo momento de desap-parecer.

Voltando depois para o seu quarto, emvão procurou descançar, a esperança quequeria manter no coração de Alfredo des-vaneceu-se logo que se viusó, porque sabiaque seu pae tinha empenhado com o condea sua palavra, c que nunca faltaria a ella.Isto mesmo não o tinha nunca queridodizer a Alfredo, porque conhecendo a suapaixão, e seu gênio ardente, temia umdesafio entre-«Uc e o conde j e se bem eraconhecido o valor de Alfredo, a soa cons-ciência se horrorisava com a idéa de poderser a causa da morte do conde.

Não amava certamente a este homem,mas tão pouco o aborrecia, pois não erapossível aborrecer uma pessoa tão honradae de tãobeUàs qualidades. Na affliccão emque se achava Elisa,-. escreveu a Alfredo,pedmdò-Jhe, em nome de seu amor, quênunca por causa delia desembainhasse aespada, nem provocasse a desafio a homem*. >

algum, a não scr que o olfendessem cm suahonra; e ajuntava que a prova dc amorque acabava de dar-lhe, lhe conferia odireito a pedir islo; tanto mais, quantose horrorisava com o simples pensamentode que poderia scr causa de uma morte :assegurava-lhe que nunca a sua mão per-tenceria a um homem que se tivesse man-chado com o sangue do seu semelhante; econcluía fazendo-lhe mil protestos de amor,e dizendo-lhe que esperava conseguir tudopelo carinho de sua mãe, o influencia dopadre Anselmo, se bem isto o dizia uni-camente para o consolar, pois estava bemcerta de que a sua sorte se achava decidida,e via-se condemnada á desgraça.

Todavia tornou a fallar ao padre; maseste lhe disse, que quando tinha promel-tido proteger seu amor, era por ignorarque o senhor de Meudon tivesse empenhadaa sua palavra; mas logo que o soube tinhasido o primeiro a dizer que seria precisonão ler honra, e ser perjuro para faltar àpromessa, que por tanto não tinha outroremédio senão callar e obedecer. Elisaouviu-o e calou-se, não se atrevendo adizer-lhe que também tinha dado a suapalavra de honra, e o céo tinha escutadoos seus juramentos.

O padre Anselmo era um homem vir-tuoso, porém demasiadamente austero, evalendo-se da influencia que exercia sobreo animo do senhor de Meudon, o tinhareprehendido de haver dado a sua palavrasem consultar antes sua filha; mas aomesmo tempo lhe declarou, que uma vezdada não devia faltar a ella, porque comoElisa era umamenina, e o bom homemnunca tinha conhecido a força das paixões,persuadia-se de que o tempo e as distrac-ções lhe fariam esquecer o amor que sentiapor Alfredo. Queria a Elisa como um pae,e como sempre a tinha conhecido cheia decandura e timidez, não podia imaginar quosob aquelle exterior sé occultasse uma almacheia de firmeza.

Achava-se Elisa entregue á maior agi-tação : pois os dias passavam, e Alfredonão linha ainda respondido a sua carta;conhecia que era incapaz de enganai- a, epersuadia-se de que não querendo accederaos seus desejos, por isso nunca respon-dera. Pensava com remorsos que Deus acastigava por ter concedido a conferêncianocturna a Alfredo, e em vão a consolavasua mãe; pois a sua saude delicada não

A

•?'•?'•

Page 7: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

BSPJnUBIO F&TOSIÍlfiro^fl

pôde resistir a tantas commoçõcs, e cahiuperigosamente enferma.

A senhora de Mcudon escreveu a Alfredo,parlicipando-lhe o estado dc sua filha, eelle justamente assustado respondeu logoa Elisa, promettendo-lhe quanto cila lhehavia pedido, aceusando-sc de ser umbárbaro, c não ler força bastante paravencer suas paixões; concluía pedindo-lhemil perdões, e assegurando-lhe seu eternoamor.

Logo que Elisa recebeu esta carta tran-quillisou seu espirito, e dizia a sua mãe :« Deus se compadeceu da minha afflicçãoc me perdoou. . A febre foi desapparc-cendo, e ella se restabeleceu em poucosdias. Seu pae, louco de contentamentopelas suas melhoras, não sabia o que fi-zesse para as celebrar; queria muito a suafilha, e se a obrigava a casar com o conde,era porque de boa fé suppunha fazer comisto a sua felicidade. Sabia que sua filhaamava Alfredo; porém imaginava que como tempo desappareceria aquella paixão; e

julgando pela sua alma da de sua filha,cuidava que logo que fosse condessa, e sévisse rodeada de homenagens, não se lem-braria mais de Alfredo , e lhe agradeceriater feito a sua felicidade.

Se elle houvera imaginado que dál-a aoconde era causar a sua morte, não teriapensado em tal, e de certo a concederiaa Alfredo fazendo por ella qualquer sacri-ficio ; mas desgraçadamente conheceu averdade muito tarde.

O senhor de Mcudon annunciou a suaidha, que ia dar um baile para celebraro seu restabelecimento, e convidou paraelle Alfredo c seu pae, pois o senhor deMeudon era mui civd para deixar de con-vidar pessoas tão conhecidas e consideradasna povoação, e que não teriam sofFridoimpunemente um desaire publico.No dia de S. João de 1801, em que secelebravam os annos do senhor de Meudon,estavam magnificamente armadas e illumi-nadas as salas do bello palácio do mesmo inome, e achavam-se n ellas mais de milpessoas.

Quando Elisa se apresentou conduzidapela mao de seu pae, ouviu-se em toda asala um murmúrio de applausos, tantoarrebatou a todos a sua formosura! Vinhana verdade tão linda, e a sua physionomiatinha tanto de dmnf, que parecia não

pertencer já á terra, e que era um anjo emfigura de mulher.Seus olhos encontraram os de Alfredo,

que a contemplava n*um extasi de prazer,c perdendo a côr licou immovel, e fria degelo a mão que tinha unida â de seu pae;mais isto não durou mais que um momento,e no mesmo instante tornaram a corar-sesuas faces, a expressarem seus olhos o fo«oda ternura, e aquecer de tal maneira a suamão, que seu pae não pôde deixar dc onotar, c lhe disse em voz baixa:

« Como é possivei, que debaixo detanta timidez oceultes uma alma tão ar-dente? »Elisa abaixou os olhos, e nada res-

pondeu.O senhor de Meudon foi sental-a aolado de sua mãe, e immediatamentc seformou um circulo á roda d'ella. Sentia-sealegre, nao porque a rodeassem aquellashomenagens, mas porque Alfredo estavaalli, olhando-a transportado de ternura eamor; e elle, apesar de ser em extremozeloso, não podia deixar dc desvanecer-seao pensar que todos a adoravam, e que sóelle era correspondido e amado. Mas, ah!a pena segue mui de perto o prazer, ceste ia brevemente terminar para Alfredo.O pae de Elisa íiproximou-se a ellatrazendo pelo braço o conde de Lagnace lhe disse: » O senhor conde deseja quèlhe taças o obzcquio de ser o seu par por estanoite, todas as vezes que dancares; e nãose atrevendo a pedir tal distineção, encar-regou-me de o fazer por elle ,* e espero,minha filha, que terás a bondade dc con-sentir.,, Elisa perdeu a côr, e nada respon-deu ; mas o senhor de Meudon voltou-se

para o conde, e lhe disse : « Minha filhaacceita com prazer, não é verdade, Elisa!>,,e lançou-lhe um olhar severo. A joven tre-mula mal articulou um sim, que apenas seouviu, c não se atreveu a olhar para Alfredocujos olhos respiravam furor dirigindo-sêao pae de Elisa e ao conde; mas estes, ounao viram ou fingiram não vêl-o, e retira-ram-se d alli.Poucos minutos depois começou a tocara orchestra, c o conde veio ofTerecer ooraço a Elisa, que se levantou: atreveu-seella então a olhar para Alfredo, e vendo oíuror pintado em seu semblante, apartou-sedepressa d'alli, receosa de que Alfredo asegiusse, c provocasse o conde a um desa-ho. Com este pensamento resolveu fazer

Page 8: UKl Por um anuo R». 12$, por 6 ninei Ri. ESPELHO FLUMINENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00023.pdf · teve dó do meu amor e do teu, e a minha fortuna vae pertencer-lhe:

^T

• ....11 ..».,....

© IflSFMlLIBIO _P2_._r_C3Ciy3_KEfg.l_B

-íí- i -i *

¦'•J*\?~' a ¦¦.'.¦-.:

í^R •*-*-: "'A--- '¦'.

-.'-'¦"'' .

* - - '-¦¦¦ _

'-..'.'-¦ -

,; A *'..-'¦'¦•-- . ;_. • :

-*-*£it*. r- ¦ ¦¦ *'.¦'. A. .'¦¦-'-.' . -¦ ./¦*'**¦¦ -A ''."¦¦:-

«TT-.ri

Aí.-' ^ '..¦**' ¦ -'-.,.. .

"¦-¦¦'

7 ¦' v

A '•'-'

OS BEIJOS.Poesias eróticas.

O DESEJO.E nem dormindo e nem desporto «obe

A mais o meu desejo.

Ardo, oh! bellapTum desejo,Dê le um beijoOfferecer;Mas receioA cada instante,incessanteTe offelider.

Sim receio....Mas as facesMais vivacesSão na côr!Oh! que rosasTão perfeitas!Que colheitasPara amor!

E o receioSc èsvàeccQue recresceO desejar.... :E a esperaiiça >Que me alenta,Sc accrèsccníaA me inspirar!...

tudo quanto estivesse da sua parte para .não ter que recear pela vida de seu amante,e para o conseguir fingiu que ouvia comgosto tudo quanto o conde lhe dizia, aco-lhendo suas palavras com engraçado sor-riso. Alfredo, sem que Elisa o visse,observava tudo, cheio de raiva e dè zelos,tendo encerradas em seu peito todas asfúrias, e aceusando-a em seu coração deinfiel e perjura. Se tivera ouvido a conver-sação, não haveria pensado assim, porqueo pobre conde não fallava de amor, queéra sentimento muito elevado para elle;a sua conversação só recahia sobre cousasindifferentes.

Terminada a contradança, ia Elisa sen-tar-se, quando o conde lhe pediu que déssecom elle um passeio, e ella cedeu, persua-dido de que este era talvez o unico meio deimpedir alguma desgraça, affastando oconde de Alfredo; mas logo que este osviu passear juntos, não pôde reprimir seuszelos por mais tempo, e com o objectode se vingar da infiel, foi sentar-se aolado de Henriqueta de Equivilhes , umadas senhoras mais formosas que haviamconcorrido ao baile, e entabolou com ellauma animada conversação.

(Continua.)

)"..

Mas tu voltasO semblante,IN'uin instanteA mo fugir,Não inc queres,Náo me attendes,Só pretendesMc aíHigir!

Vés a abelha,Que í\ roseiraVae ligeiraOsculo dar?Eil-a todaDc venturaE doçuraA se fartar!. Vôs as aves,Que arrulhandoE beijandoLá seslão?Que doçuraN'essa estreita ,Tào perfeitaUnião!

Vês a brisaSobre o lago ?Com que afagoSc espraiou !Oh! nas águas ,Que ventura,Que doçuraRespirou!

E eu somenteDesgraçado,DespresadoSou de amor!Gomo 6 duroMeu destino!(Jue ferinoE teu rigor!

•*»

;¦:%¦

lià TA i

":¦-¦• .»¦ tr-- v-^r-ssif

, . ¦ ¦¦

J. NORBEETO DE S. S.

. -

7-:{ ?-¦¦-- ' .¦¦- .', 7,

- '777;;, ;S«*:

CHARADA.Dos invios bosques na ramagem densaAlegre ou triste-vou levarfdo a vida,E ás vezes, como o som, eu rompo os aresQuando passo do repouso a qualquer lida. 2Gomo o escudo que ampara audaz guerreiraQue sohe lavar em sangue armas e solo;Assim do frio amparo o branco urso,Que habita o bpreal gelado polo. 4

CONCEITO.Minha mãe nasceu no reino vegetal;

Eu nasci, e criei-me nos seus braços:ímpia mão, apesar d*eu ser pequena ,Ousa roubar-uic dos maternos laços.

.:'-" '- y.F/da c. p.

.•a,.;».

( A significação da Charada inseria no huíhèroantecedente é: Macaiié. à :; ! • í -

Rio dle Janeiro, 1843. — Typógraphia Um.cYsal de LAEMMERT,rua dn t/aWdío , 53, '"' " '"