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PUBLICÃO-SE

SEIS NÚMEROS MENSAKSCOM

QUATRO 2PIG

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OS

Em 4, 6, 14, 46, 21 ¦ 26 db cada mkz

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ASSIGNA-SK

NA LIVRARIA UNIVERSAL

l>E E. e II. LAEMMERTEDITOBES

Rua da Quitanda N." 77

Por um anuo R«. 12$, por 6 mer.ts Rs, 7^

ESPELHO FLUMINENSEou

NOVO GABINETE DE LEITURAweu>A88 3Pw*&s&$9: <&w&w&w-Mtà> »»«

A CllUZ DE PEDRA.(ooNctusÃa.)

Ora bem, Magdalena, lhe disse en,logo que ficamos sós, falla-me francamente;è lembra-te que do que vaes dizer dependea ventura, e talvez a vida de tres pessoas....Em primeiro logar, como sabes iu, que osenhor de Royan foi assassinado ?

,'l:J— Como seil.í. pois se eu sou da villa<le Monderpuis, onde o mataram, merespondeu Magdalena, atemorisada pelaminha excessiva agitação e pelo meu ar

.severo. "¦^*Ê~È—-Âh! tu éâ de Mònderpuisr então co-

nheceste o senhor êèt Royan ?-—Nadp^ eu nunca |o vi senão no dia em

que o mataram, e rfesse mesmo dia só viatirar a l^t homem, cujas íeições nãopodia descobrir, Mas soube depois, que erao senhor de Itóyarr que tinha sido....

Magdalena, eu so|i seu cunhado, seuamigo, não ttie iconhèétò tu ?

—- Nâo, e nada sei d^esse parentesco,senão agora.

bambem não conheces minha irmãà,a senhora de Royan ?

Também não: eu sou de Monderpuis,coitío )á tos disse, e para ir a Vervins,onde ttíiríhà mãe me levava algumas vezes,era preciso atravessar o bosque de S. Mi-guel, e passar pela frente tlò cástello deRoyan; e eis-ahicomo eu soube o nome eaicasa de vosso cunhado.

Oh! Magdalena, se me tens amer^

conta-me tudo o que sabes d'esse tristeacontecimento, e em-nome do céo não meoceultes cousa alguma.

Magdalena, continuou o senhor de Saint-Brice, -contou-me então toda a sua vida:tinha nascido em Monderpuis de parentespobres, e alli tinha vivido até ao dia doassassinio, em cuja tarde devia partir paraPariz, na companhia de uma sua tia, que afora buscar para sua casa para a ajudar nassuas obras de costureira, oecupação queagradava muito á joven Magdalena. Eramduas horas da tarde, e ella achava-se só nobosque , de caminho para a sua villa ,quando um tiro repentino a fez estremecer;era um caçador, o senhor de Royan, se-gundo depois se soube, que acabava deatirar, e a peça de caça veio cahir aos pésde Magdalena; no mesmo momento ouviu-se segundo tiro, eo senhor de Royan eahiuredondamente no chão. Magdalena não ou-viu um só grito, um suspiro; nem a quedafez rumor, sem duvida pôr ser abafadopela relva : somente um ligeiro novelão defumo indicava o logar d'onde tinha partidoo segundo tiro. Voltando para alli os olhosviu Magdalena por entre as arvores umhomem, com o rosto pallido.... Este ho-mem a viu também; e por um momentosuas vistas se fixaram um sobre outro, elogo este homem, que estava vestido comum jubão escuro, metteua sua espingardaácara, ameaçando-a com um terrivel gesto.Sem duvida o receio de ter uma testemunha

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9 espiem© immSÈsiKmmlivrar d'ella com outro crime; porém Màg-dalena deitou immediatamcntc a fugir, semcomtudo se lembrar do perigo que corria;ella não tinha idéa alguma de que um as-sassinio acabava de ser commcttido á suavista; os couteiros e caçadores amedrontamalgumas vezes assim as raparigas que que-rem affastar de si; mas o rosto (Testehomem, que a ameaçara com a sua espin-garda, a tinha aterrado a tal ponto, queella estremecia recordando-sc cTelle. Mag-dalena, assustada por certo terror que nãosabia definir, partiu para Pariz n'aqtiellamesma tarde, sem ter dito aos seus parentescousa alguma do que se passara. Pareceque ainda ninguém em Monderpuis sabiada morte do senhor de Royan, e ella temiaque referindo o acontecimento do bosque,ralhassem com ella, e que isso demorassea sua partida. Chegando a Pariz soubequem tinha sido o assassinado, e então otemor , um máo pejo, e a indifferença poruma desgraça quê lhe não tocava de perto,deteve a sua declaração; mas seu espiritoficou sempre impressionado pòr um certoterror, que não podia dissipar; seus sonhosrepresentavam-lhe o semblante do matador,e quando o viu na Opera, ainda que nãoestava vestido com o jubão com que com-mettera o delicto, mas sim com os tragesde um cortesão, ella o reconheceu logo.

— Vê bem o que dizes, repliquei eu aMagdalena; a pessoa a quem aceuzas cha-ina-se o senhor de Courtiz, é um mancebobem conceituado na sociedade, que temparentes e amigos de boa reputação, e alémd'isso deves saber que eile ama e devecasar talvez em breves dias com minhairmãa, a viuva do senhor de Royan.

Poisbem, disse Magdalena, elle matou^o marido para casar com a mulher.

Porém, como póde ser isso ? O senhorde Courtiz estava em Londres quando ocrime foi commettido. Eu alli o vi, e estavaem minha própria casa, quando eu recebia noticia da morte do senhor de Royan.

Asseguro-vos que foi elle, repetiuMagdalena; e em quanto eü viver nã* es-quecerei o seu semblante, nem o confun-direi com outro.

Então puz-me a reflectir nas diversascircumstancias do assassinio, confrontandoos factos e. as épocas. O senhor de Royantinha sido morto às duas horas da tarde;a sua morte só foi conhecida, quando ánoite encontraram o seu cadáver, e o leva-

ram para o castello. O portador encarregadode ira Pariz levar esta Iriste noticia a minhairmãa, partiu na manliãa seguinte, e docastello de Royan a Pariz ha uma distanciade trinta legoas. Minha irmãa, entregueinteiramente a sua dôr, e a sua primeiracommoção, oecupada além d'isso com asdiligencias inseparáveis de um semelhanteacontecimento, só me tinha escripto tresdias depois. Monderpuis é nas extremidadesdo departamento de 1'Àisne, que confinacom o do Pas-de-Calais; suppondo que osenhor de Courtiz fosse o assassino, ellepodia partir logo para Lille, d'alli dirigir-sea Calais, e chegar a Londres alguns diasantes da noticia fatal. Esta possibilidadenão me provava o crime, mas impedia-meao menos de tratar de absurda a narraçãode Magdalena , que continuava a protestar-me que se não enganava, e que o homemque tinha visto na Opera, no camarote deminha irmãa, era o assassino. Com eslassuspeitas toda a minha amizade pelo senhorde Royan se despertou; eu pensei que asua morte carecia de um vingador, e queesse vingador era eu. Até então todos osmeus esforços tinham sido baldados, e oacaso mais singular me apontava indicios,que devia seguir. Que horror! Se o assassinochegasse a herdar os bens da sua victima Ise minha irmãa se lançasse nos braços domatador do seu esposo! Nenhuma conside-ração me devia pois deter; era precisointentar tudo para esclarecer este mys-te rio. .. *%¦ ' w ; ¦

— Magdalena, disse eu, lu fizeste muitomal em te calar,,é preciso reparar essafalta; Só tu podias declarar o matador, eesclarecer a justiça! e tu o não tens feito.Agora esse homem que aceusas vae casarcom minha irmãa, e nenhuma prova hacon tra elle senão ^J;^^^eài^^ú|ih^, quede pouco vale, ippr ser unico; comtudonão devemos desconfiar de que a verdadevenha, a manifestar-se. Eu devo tentar todosós meios de salvar minha irmãa... Dize-me»ousarás tu sustentar diaüte d'essc homemo que acabas de me di^rl^l

_, — Certamente, me respondeu ella.—•Pois bem! vem commigoyMagdalena,

lhe disse eu ahraçando-a: eu vou conduzir -te á presença do senhor de Courtiz.

Era meia noite, e a Opera tinha acabadohavia meia hora. Chegamos a casa dosenhor de Courtiz poucos minutos depoisde eile entrar. Apenas me annunciei, todas

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as porlas se abriram. Elle avançou paramim com o sorriso nos lábios e os braçosabertos: eu não o quiz deixar por mais lempoindeciso.

Senhor, lhe disse com voz commovida,sabeis que o senhor de Royan morreu as-sassinado, e que o autor d'cste crime aindaé desconhecido: sabeis lambem que emquanto eu e minha irmãa vivermos , onosso dever mais sagrado é procurar des-cobrir o assassino, sem poupar meio algum,custe elle o que custar....

Que quereis dizer n'isso , senhorconde? perguntou cheio de admiração osenhor de Courliz.

Que, a acreditar o que diz esla rapa-riga, fostes vós quem assassinou meu cunha-do no bosque de S. Miguel. Olhae bempara ella, senhor, ella vos conhece. Dizendoisto ,* fiz chegar Magdalena que ficara umpouco atraz; levantei o véo que lhe cobriao rosto, e o aceusado e a acusadora seacharam em frente um do outro. O senhorde Courtiz estremeceu ; mas qual é ohomem que não estremece involuntária-mente vendo-se aceusado de uma morte ?Elle cobrou logo animo.

Meu querido conde, me disse o senhorde Courtiz, tudo se deve esperar n'esleinundo; mas confesso que isto excede muitotpdas as minhas previsões.... eu.... eu....— Sim, é elle, exclamou Magdalena queo olhavaSâxamente; é este o seu rosto, éesta a sua mesma pallidez.... O senhortinha um casucò escuro, uma gravatapreta, e estava na altura direita da mata,meio esepádido* com as arvores; o senhorde Royan estava na quebrada do caminho,e éu do outro lado da eslrada: o senhorde Royan, que não podia ver-me, atiroupara as arvores que estavam por cima daminha cabeça; eu olhei então para ondeelle estava.... nesse mesmo instante sen^tiu-se outro tiro.... foi o que matou osenhor de Royan.... eu o vi cahir; e olhandologo para o outro lado, vi aiiMa o fumo dotiro, e o senh(^;-quc retirava a espingardada cara.... o álhhor também me viu.... osnossos olhos encontraram-se como se en-contram agora; tudo isto sepassou nummomento, mas esse momento eu nunca oesquecerei.... então o senhor ameaçou-me,mettendo outra vez a espingarda á cara,e eu fugi.... Oh! foi o senhor, não tem

a... parece-me estar ainda vendo-o..,Durante este longo depoimento, que a

commoçao de Magdalena fazia ainda maislongo do que realmente era, o senhor dcCourliz ficou immovel; depois dirigindo-sea mim com ar desdenhoso, me disse:

Sabe-se o que o senhor conde perdecom o casamento de sua irmãa; mas cununca poderia acreditar que o interesse olevasse a uma lão odiosa calumnia.

Sim, lhe respondi, eu tenho interessocm que a morte do senhor de Royan sejavingada, e que minha irmãa não case como assassino cfelle; comtudo não sou eu quevos aceuso, ó esla rapariga; mas cu encar-rego-me da aceusação, c a sustentarei atéque vós proveis que ella é calumniosa.

É elle, é elle: repetia sempre Magda-lena, que não deixava de o encarar.

O senhor de Courtiz, perturbado poresla firmeza dc Magdalena, extremamentepallido, e fingindo uma cólera, dc quetalvez não estava possuido, avançou paramim com a mão levantada.

Já que vos esqueceis do que se devea um homem, disse elle , amado de vossairmãa, esquecerei pela minha parte o quejulgo dever a seu irmão.... Vós me dareissatisfação d'esta infâmia, o mais tardaramanhãa....

Sabeis, meus amigos, continuou o se-nhor de Sainl-Brice, que eu sou de umacompleição vigorosa, e aos vinte e umannos tinha uma força de Hercules : deium empurrão no senhor de Courtiz, quefoi cahir sobre uma cadeira.

Um cluello ! lhe disse eu, ura duellocom um assassino ! Não, senhor: eu o vouaceusar como matador do senhor de Royan.Se a justiça o julgar innocente, dar-lhe-heisatisfação d'esta injuria; alé então só oquero combater comas armas da lek

Dizendo es tas palavras, retirei-me, tra-zendo commigo Magdalena, toda tremulade susto. Eu eslava então bem certo cie terdescoberto o matador. Logo que deixeiMagdalena em sua casa, dirigi-me á deminha irmãa, onde eu também habitava.Tinha apenas entrado no meu quarto, ere%ctia no que devia fazer, quando umacriada veio chamar-me da parte da senhoradc Royan.

Meu irmão, me disse elia, quiz fal-lar-te antes de me deitar, para tratarmosdo meu casamento; mas antes d'isso querodar-te uma reprehensão.

A mim ?Sim, a ti. Ila fraquezas, meu amigo ,.

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que se podem disfarçar a um homem,quando d'ellas se não faz gala. Fecharei osolhos sobre os teus amores com essa rapa-riga costureira; mas para que havias dc

... apparecer com elia na Opera? Não sabesV que isso te está mal? Para que é expores-te.assim em um logar, onde estimarias que> ninguém te visse, e onde terias dc oceultar-

te a todos os olhos? É preciso não affrontara decência, para não perder a estima daspessoas de bem. Felizmente, continuouminha irmãa, o senhor de Courtiz não toviu, e tu estás bem certo de que eu nadalhe disse.... A propósito do senhor deCourtiz, já sabes que me resolvi a casarcom elle, e que espero ser muito feliz com

| este casamentp! Então elia me fez umalonga enumeração das boas qualidadesdo seu futuro marido : louvou a bondadedo seu caracter, a franqueza de suas ma-neiras, a generosidade de seu coração, aconstância do seu amor para elia,' e dasua amizade para commigo, e depois con-tinuou :

Eu sou rica, Saint-Brice, e tu nadaherdaste de nossos pães; cumpre-me poisemendar este erro da fortuna. Sempre foiminha tenção não tornar a casar sem tedeixar independente; mas o senhor deCourtiz preveniu a minha vontade.

Elle! exclamei eu, elle I o senhor deCourtiz!... Eu não quero nada d'elle.Orgulhoso! respondeu-me minhairmãa, é de mim que tu receberás e nãod'elle: unicamente o senhor de Courtiz mepediu, e eu de mui boa vontade annui,o deixar-te o uso-frueto da terra e castellode Royan; tu és caçador, e apreciarás estavantagem; poderás cultivar, arrendar,cortar madeiras, fazer tudo o que quizeres:o senhor de Courtiz não quer lá pôr ospés.

Eu comprehendi perfeitamente as vistasd'esse homem:¦ debaixo da ápparencia deum beneficio elle queria livrar-se do terrorque deveriam inspirar-lhe o castello deRoyan e o bosque de S. Miguel: e isto foipara mim uma nova prova do seu crime.Eu tive comtudo a força de me calar, edespedi-me de minha irmãa. Chegando aomeu quarto puz-me a pensar sobre o modoporque devia proceder n'este caso. Erannpossivel oceultar por muito tempo averdade a minha irmãa: e que terrívelgolpe eu lhe ia dar! Acharia eu n'ella umapoio, ou um inimigo? que escândalo, na

véspera do um casamento, não causariano mundo a aceusação que eu ia fazer ? efundada em que? na palavra de uma rapa-riga, minha amante, que por quasi unianno nada tinha dito a tal respeito....Comtudo era fácil saber em que dia osenhor de Courtiz tinha sahido de Pariz,e o em que embarcara era Calais. Se elleeslava em França, quando se commetteu oassassino, seria obrigado a dar conta doseu tempo, dia por dia, hora por hora,e a verdade se esclareceria assim fácil-mente.

Eu decidi procurar no dia seguinte umadvogado meu amigo, e confiar-lhe estenegocio tão intrincado. Deitei-me pois comesta resolução ¥ mas não pude pregar olhoem toda a noite. Na manhãa seguinte,muito antes que minha irmãa se tivesselevantado, entrou no meu quarto o <escu-deiro do senhor de Courtiz. Este rapaz,sabendo que seu amo devia mui brevementealliar-se com a nossa familia, julgou con-veniente dirigir-se primeiro a nossa casa.Seu amo tinha-se matado durante a noite.Isto era confessar o seu crime.

Oh! meu Deus! exclamou o jovenCarlos.Depois que eu sahi de sua casa com

Magdalena, continuou o coíide, o senhorde Courtiz, certo de que eu ia fazer publicaa sua aceusação, comprehendeu que estavaperdido; pois parece que Magdalena nãoera a única testemunha dò crime. Haviaoutra, como eu soube depois: era umvelho camponez, cujo segreda o senhor deCourtiz tinha comprado Com uma grandesomma de dinheiro, c com jnaiores pro-messas para o futuro; mas este homem sóse tinha obrigado a calar-se, se o negocionão fosse levado aos tribunaes, porquen'esse caso nada do mundo lhe faria con-sentir em deixar condemnar um innocentepor um culpado, nem em perjurar perantea justiça; e como elle era um dos que tinhaconduzido q^corpo do senhor de Royanpara o castello, necessariamepte havia deser chamado como testemunha. Emfim ,para uma mulher como minha irmãa, sóa presumpção de semelhante crime deviatornar o casamento impossível.

Tinha eu a cumprir o custoso dever deinformar de tudo a minha irmãa; eu nãotive valor para isso, e lembrei-me de en-viar-lhe Magdalena para esse fim.... Pare^ceu-me que a testemunha do crime era

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quem melhor a podia informar, e julgueique uma mulher era mais própria paraconsolar outra de que eu. A senhora deRoyan ficou peneirada de dôr, e dessepejo que acómmette sempre as almas ho-nestas e puras. Ella tomou amizade aMagdalena; e como então não era decenteque eu continuasse em relações com estarapariga i minha irmãa a persuadiu fácil-mente a deixar Pariz, e voltar a Monderpuis.Ahi Magdalena inspirou uma ardente paixãoa um moleiro, o qual, instruido do pas-sado, só exigiu juizo o honestidade para ofuturo; Magdalena lh'o prometteu, casoucom elle, e tem-lhe sido fiel. A senhorade Royan lhes deu um bom dote, e a mo-leira faz ha vinte annos a ventura de seumarido, de quem tem filhos já homens.Eis-aqui, senhores, porque eu não querocaçar, nem passar com uma alegre socie-dade pelo sitio da Cruz de Pedra.

Quando o senhor de Saint-Brice acaboua sua historia, Guilherme o couteiro ap-pareceu â porta da sala; elle hesitava emapresentar-se, e avançava com um passotimido : o conde o viu * e lhe disse :

— Entra, Guilherme, entra, eu já meesqueci do passado.,., Diz-me onde noslevarás a caçar?

—* Para outro lado, respondeu o couteiromais animado pelo modp affavel de seuamo, e espero que não seremos menosfelizes. #v *

**-. — Mas aonde?-~ Do lado dp Moinho, ao pé do rio.*«- Muitobctn, muito bem, disse o se-

nhor de Saint-Brice, Á caça, senhores,porque já são horas de partir.

Um frasco de rhum circulou pqlos con-vidados; os quaes desceram para o pateo,onde os cavallos estavam seliados, e os cãesatrelados; sahiranv do pateo, e entraramno bosque. 0 dia ainda rião tinha rompidoie já haviam andado uma legoa, quando áluz do crepúsculo distinguiram uma ear-reta carregada de saccos de farinha, sobreos quaes ia sentada, guiando sei* ^avalio,nma gorda camponeza.

—- Éis-rahi os meus primeiros, e ps meusúnicos amores, disse o senhor de Saint-Brice, aos seus companheiros depois decorresponder a saudação; ç os caçadox^espartiram ao galope.

Era j com effeito , Magdalena , que iavender a sua farinha a Vervins.

GRISTELLA.No fim do mez de Fevereiro do tfnno

de 1819, uma senhora já idosa e sua filhachegaram à pequena povoaçao deN..., afimdo aíü se estabelecerem. O governo lheiftinha concedido a administração do correiod'aquella coinarca, vago por queixas con-tra o antigo administrador, e em recom-pensa dos serviços que o marido da senhoratinha prestado ao paiz. No dia seguinte aoda sua chegada occupararo o edificio docorreio, que estavs^situado no melhorponto da rua principal da povoaçao; pqr-que o governo tinha lhe também concedidoo poderem habitar em parte do mesmoedificio.

Em conseqüência d'isto, pequenas mu^danças se fizeram na repartição das casasdo correio. Uma salla com duas janellaspara a rua, e que tinha entrada por qmpáteo, onde se viam symetriçamente al-rguns pedaços de cercadura, foi a habitaçãoordinária d'esta boa familia, tão rica emvirtudes como pobre de bens e até de es^peranças. Os adornos d'esta salla, se bemque de pouco valor, eram limpos e cuida-dosamente dispostos, o que testemunhavaque seus donos tinham pertencido a umadessas famílias, que nascidas na opulenciaaprendem a saber gqarnecer com elegânciauma salla.

As duas pessoas que acabavam de occn-par esta humilde habitação, e de se sugeitará dura condição-qwi seu-tfdev^rJ^_iínpüh^nha, estavam bem longe por sua vida pai>ticular de se acostumarem, sem queixar-se,a passar dias successivos diante d'aquella&duas monótonas janellas; mas se bem quoseja pousa rara, não acontecia assim. Amaisi velha d!estas senhoras era a baronezade M***, allemãa de nascimento e vipvad^m chefe de esquadrão, que Unha pior-rido em 1815, depois dos desastres 4o$cem dias, cheio de trabalhos e de desgostos.O barão de M*** era ainda apenas alferesás ordens de Moreau quando a vio emLintz; ampu-a e foi tão bem correspon^dido, que ella consentio em abandonarcom elle a casa paterna: e este desairosopasso mudou o carinho de sua illustre ppoderosa familia, no mais poRçentradoódio,

Catharina (era este o seu nome) nãp sóseguio sempre seu esposo, mas até o acom-panhou nas mais perigosas expedições. Sua

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filha nascida na Suécia veio depois passaros dias da infância debaixo do ardente soldo meio dia de Hespanha. Esla menina,que na época a que nos referimos apenascontava 13 annos, era o ídolo de sua mãie fazia as suas delicias. Durante os doisannos que se seguiram á morte do barãoa orgulhosa viuva tinha podido viver hones-tamente do fructo de antigas economias, eda venda de algumas jóias 3 restos de umasituação brilhante; preferindo isto a hu-milhar-se á sua familia paterna; e des-truindo um sentimepo de amisade e pa-rentesco com o sentimento do amor. Pôdeser que os necessários deveres para com ainfância de sua filha tivessem anniquiladoos sentimentos altivos da baroneza, poréma entrada no ministério do general Des-solles, despertou suas quasi extinetas espe-ranças. O barão tinha servido ás ordensd'este general, o qual em recompensa deseu bom comportamento no campo dabatalha, tinha concedido, como havemosdito , a direcção do correio á viuva d'estevalente e honrado official.

Tinham-se já passado dois mezes depoisque a baroneza e sua filha desempenhavamaquelle serviço, seu único recurso no pre-sente, e talvez sua ultima esperança nofuturo, pois que se dizia como cousa certaque o general Dessolles sahia do ministério.'Nunca sahiam de casa e nenhuma amisadetinham còntrahido: uma criada antiga,que as tinha acompanhado n'este novomodo de vida , as servia com aquelle cari-nho que a miséria commum cria, e que agratidão alimenta e fortifica.- A saude da baroneza achava-se bastantedeteriorada, e a sua fraqueza era tal, quea obrigava a permanecer quasi sempresentada n'uma cadeira ao pé da janella •pelo contrario Cristella sua filha, bella êgentil, ainda bem se não abria a por ta docorreio, já ella, como se toda a sua vidanao tivesse tido outra oecupação, tratavalogo dos seus aííazeres no correio, satis-fazendo ás prelenções de todos com graçae desembaraço, ora pondo os sobrescriptosdas cartas, ora escrevendo-as de todoaquellas pobres gentes do campo, e rece-bendo com sua branca e torneada mão oestipulado porte do correio. Cristella foibem depressa conhecida de todos, edetodos também amada; tonto como o podiaser dos habitantes de uma terra, tão áspera-fcd esabrid a; ¦

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Um dia ao começo da (arde, quando abaroneza dormia na sua cadeira, pois queestas eram as horas mais tranquillas deseu somno ; Cristella pensativa contem-pi ava as galas com que a nascente primaveratinha revestido o terreno do pateo docorreio, e distribuía ao mesmo tempo ascartas que tinham recentemente chegado ,pondo para um lado as que traziam decla-rada a morada das pessoas a que se diri-giam, e para outro as que só tinham osnomes; viu entre estas ultimas tres comomesmo sobrescriplo, para o conde Hervéde T..., e que deviam ter sido escriptaspela mesma mão, segundo se via pelo talheda letra, maneira elegante com que estavamfechadas e identidade do sinete. O aromasuave e delicado que exhalavam trazia invo-luntariamente á memória, a instância per-fumada e amorosa onde tinham sido escri-ptas, bem como que talvez magoadossuspiros e ardentes lagrimas se tivessemderramado no momento em que se escre-viam. Estes delicados caracteres, e o asse-linado papel em que estavam traçados,mostravam sem duvida a opulencia dequom pertenciam, e recordavam á pobreCristella os encantos d'essa vida mysteriosae abundante , d'essa sociedade rica paraque tinha nascido, e da qual estava sepa-rada por sua desgraça. Innocente e gene-rosa, capaz de qualquer sacrifício, pormaior .que elle fosse, Cristella tinha umfundo de honradez sem igual; e podia asse-

gurar-se, sem receio de ser desmentido,que n'aquellas veias girava mais de umagota de sangue da illustre familia da baro-neza, o qual auxiliado pelas sãas liçõesque esta lhe tinha dado, faziam quê séressentissem n'ella todas as vantagens deuma não preoecupada educação.

A resignação com que supportava a suamiserável sorte oceultava um tanto o or-gulho aristocrático de sua linhagem ma-terna. Cristella soíTria sem duvida, massoflria em silencio , e seu tormento cresceudesde este dia; não sairemos se tão tênueobjectolcomo as tres casta&de que falíamos,foi quem reproduziu com mais força osentimento das passadas grandezas, ou sefoi esse momento em que uma alma nobree elevada comprimida por tanto tempo porsentimentos contrários, reage finalmentepara aquélles que lhe são caros. Esta pobreÍ9MÍPA empregava todos os seus esforçospara occullar a sua mae a magoa que a

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devorava, mostrando-sc sempre risonhanasua presença; e só quando o somno acal-mava algum tanto os padecimentos dabaroneza, era quando sua filha se entregavalivremente ás suas meditações , e á suamelancolia. Cristclla não amava mais quesua mãe: seu coração estava puro, semesperanças e sem remorsos: nem uma sóvez se havia separado da autora de seusdias, e nem por isso abrigava em sua almaoutro sentimento mais doce, nem tambémmais enérgico. As desgraças de sua pátriatinham em seu coração logar privilegiado,e envolviam em uma escura nuvem outrasidéas e outras sensações.

Por tanlo, as recordações de sua infância,que na hora em que sua mãe descançavaoecupavam sua imaginação, eram os bos-quês da Alsacia, as janellas cie Burgos, eo brilhante e azulado céo da Hespanha, osquaes vinham á sua mente, bem como umprelúdio harmonioso, que nunca acabava;um quadro variado e ameno que lhe apre-sentava diante de seus olhos, uma mãodesconhecida, mas que esperava conhecerem tempos mais ditosos. Cristclla agarroutremula e sentida áquellas tres mysteriosascartas e as póz de parte. Que formoso diade abril, exclamava ella, cheia de com-moção, que cântico tão harmonioso paraque as ler, procurando ao mesmo temporeter as lagrimas, sem saber porque reben-tavam de seus olhos, e socegar a estranhacommoção que experimentava.

Não estava ainda bem socegada, quandose lhe apresentou um mancebo bello e muibem vestido, o qual com ^as mais delicadasmaneiras, lhe disse:

Senhora, ha cartaspara o conde Hervéde T..,? "

Sim, senhor, aqui estão.Um lindo colorido brilhou de repente

sobre ás faces de Crislella, como se tambémde repente houvesse nascido em seu coraçãoalgum estranho sentimento.

O conde Hervé estava demasiadamente,ocèupado com as tsáftas que recebia párareparar na: c<ft$g|A^isso saudou-a com a maior cortèzia, e sahiu.

Quando o conde passou por diante dasjanellas do correio, já Cristella lá se achava,e viu abrir uma d'aquellas cartis, quetalvez encerrassem presentes desgraças, efuturas felicidades.

Todos os dias havia cartas para o conde,e em todos elle triste e silencioso vinha

pessoalmente buscal-as. Crislella tinhaobservado com o maior cuidado os maisinsignificantes movimentos creste mancebo,e ju estava convencida de que estas cartasguardavam mysterios de amor. O condeHervé de T... contava apenas vinte e cincoannos; tinha começado a servir nas guardasde honra, d'onde passou depois em 1814para um dos regimentos cie caçadores acavallo. Tendo deixado o serviço foi paraPariz, e fixou a sua residência em umacasa de campo perto desta cidade: ellepertencia a uma das^tamilias mais ricas emais nobres da França. Como Cristellatinha sabido estes pormenores da vida doconde.... não queremos nós revelal-os,nem dos meios dc que se valeu para ave-rigual-os. Este interesse de Cristella peloconde teria talvez origem ri'essa curiosi-dade, que ó o distinetivo do caracter damulher, ou teria elle outro objecto? Nãose misturava n'elle uma perturbação cons-tante, uma melancolia profunda? O quenão padece duvida, e que sem receio revê-laremos aos nossos leitores, e podemosasseverar, é que Cristella tinha diariamenteem suas mãos essas cartas, parecendodeleitar-se em ohserval-as; mas que umdia no meio d'esse innocente intertenimentosentiu-se ferida no coração, como se dentro{Vellas se abrigasse o aspicle que se oceultaentre as flores. O papel era tão delicadoe fino, que quasi deixava ver as palavrasque se tinham escripto. Cristella fixou poralgum tempo a vista sobreessepapel aro-matico, um vivo rubor cubriu suas faces,e um tremor involuntário se apoderou deseus membros, empallideceu depois; emsumma Cristella amava o conde.

Amor, quem poderá penetrar um só deteus mysterios? Desde o principio do mundotu os suscitas cada dia mais novos e mais

.variados po intimo dos corações. Tudo seperpetua na terra, tudo se reanima com aprimavera, nada se parece* e cada milagreteu é sempre mais novo è mais brilhante.O mais incomprehensivel e mágico dosamores, é aquelle que se vê, e, se é possivel,aquelle que se sente. Não vale dizer quenasce uma só vez, por um mesmo objecto ye em um mesmo coração; pois que sabemosque até ás vezes se accende'das cinzas: nãovale tão pouco dizer, que nasce ou nãodc uma só vista> e que a amisade se oppõea elle; porque poderíamos citar em nossoabono a opinião dos mais sábios poetas;

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mas iamos divagando do nosso objecto,voltemos pois a elle.

(Contínua.)

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O CÃO DO SOLDADO.BALLATA.

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II a fui comme un «ongrEn.... disant: Jo revieiidraii

II a lei r.Rufaram às lusas caixas,

Rufaram toque de guerra ;— Que phalanges hg^andezasPisam já brasiiia teria.

O velho Anselmo debalde3 anto a si busca reter,Seu filho Affonso, que ardenteSó deseja combater.

Váe, e en que triste gema,Pobre velho abandonado!Que fique sem alimentoPor ter nm filho soldado i

Hade além aquelle tnonteO sol o dia trazer,teu chorarei de tristeza,Chorarei sem ter comer.

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Hade Vir a noite escuraE com fome inda estarei,£ chorarei de tristeza,E de ti me lembrarei 1 —

Rufaram as lusas caixas,Rufaram toque de guerra;Qne phalanges hollandezasJá pisam brasi Ji a terra.

Quando a sede1 as seccas faucesA sêcca lingua grudar- me,Quem buscar água na fontePara à sede saciar me ?

Vae ,eeu que triste gema,Pobre velho abandonado iQuem orra sem al im e n toPor ter um filho soldado !...

Teu braço, Affonso, que vale?Falta ahi quem combater?Queres ver de susto e magoaTeu velho pae perecer?^.

» %^ Vou-ínc flá que chama a Pátria,Vou-me lá que sou soldado,Juramento, que hontem dei-lhe,Wap o quero hoje quebrado.

Defendei-a de inimigos,Ou com cila me findar;Esta espada que ella deu-meDeu-me para pelejar.

Vae, e eu que triste gema,Pobre velho abandonado!Que morra sem alimentoPor ter um filho soldado....

Rufaram as lusas caixasRufaram toque de gt^rra!Ás phalanges inimigasAssolam já nossa terra.

— Dê hiè, ineü jpáe, sua abençani,Sua abençato. qúe mé vou lE o -pae abraçou o filho,E o filho a poz o abraçou 1

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Eo bravo Alfonso partiu se,O bravo Alfonso p'ra a guerra ;Amor dc pátria o anima,Terror de morte desterra.

Leva comsigo seu cão,Ninguém mais o acompanhou;Moço como elle tão bravo,Em nenhures se encontrou !

Mais trez dias sc passaram ,E mais trez c outros trez....E Anselmo espera o filhoUma vez..,, c outra vez....

Nâo rufaram mais as caixasAs lusas caixas de guerra!Que a espada do gran VieiraRegenerou nossa terra. .

Essa flor da mocidade,Que a voz da pátria chamou,De louros engrinaldadaAos seus lares se arrojou.

Porém Affonso não volta....Pobre velho abandonado!Que morra sem alimentoPor ter um filho soldadol

Esperou inda trez diasE cançou-se de esperar;Sempre a chorar de saudades,Sempre por elle a chamar!

E um dia, eis o cão que chega,Cão que levara o soldado....— Perto vem, pensou Anselmo ,O meu filho idolatrado l i

Esperou outros trez dias)E cançou-se de esperar;Sempre a chorar de saudade,Sempre por elle a chamar!

Lá á porta da choupana,Um gemendo, outro agrunhir....Ambos a espera de AffonsoQue nunca mais hade vir!

F. J. de Souza Silva.

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''iVr;; :-v-;~" ¦¦¦:. CHARADAS.Quando em leilão o mesmo muitos queremE isto o que costumam praticarAs vezes, claro, lindo, venturoso,Outras triste e cruel havei* achar.

, ©a Fiança, cidade;Indico maldade.

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Mando; 1. Mando: 1

vAffirmos 1De com elle íne encontrarO céo ine queira livrar.

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Be se te irmã as sou á quarta;Opulento imperio sou:Quando em guerra os LusitanosMuito que fazer lhes dou.

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A significação da Charada iíiseVlá uo numeroantecedente é: Leocádia.

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Rio de Janeiro 18/|3. — Ty0ng.api.iu Universal de LAEMMERT,rua do lia v radia 53,

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