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Trotskismo x Leninismo – Lições da História – Harpal Brar 1 Trotskismo X Leninismo Lições da História Harpal Brar Tradução – Pedro Castro

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Trotskismo x Leninismo – Lições da História – Harpal Brar

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Trotskismo X Leninismo Lições da História

Harpal Brar Tradução – Pedro Castro

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Trotskismo x Leninismo – Lições da História – Harpal Brar

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Índice

Apresentação...............................................................................................................................6

Prefácio.....................................................................................................................................................................8

Parte I

Sobre o Partido de Vanguarda da Classe Operária e a Teoria de Lênin da Revolução versus a Teoria de Trotsky da 'Revolução

Permanente'

Capítulo 1

Introdução à Parte I..............................................................................................................................................73

Capítulo 2

Partido do Proletariado

A Idéia de Lênin de um Partido Proletário de Novo Tipo e o Liquidacionismo de Trotsky.....................79

Capítulo 3

Teoria da Revolução

Teoria da Revolução de Lênin versus Teoria da 'Revolução Permanente' de Trotsky................................. 95

Capítulo 4

Conclusão da Parte I

O Trotskismo - Inimigo da Revolução Proletária e dos Movimentos de Libertação Nacional.................111

Parte II

Socialismo em um Só País

Capítulo 5

Socialismo em um Só País.....................................................................................................................................123

Capítulo 6

Coletivização - A Construção do Socialismo no Campo..................................................................................141

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Parte III

Os Julgamentos de Moscou

Capítulo 7

Introdução...............................................................................................................................................................159

Capítulo 8

Terrorismo.................................................................................................................................................................187

Capítulo 9

Destruição, Diversionismo e Sabotagem............................................................................................................203

Capítulo 10

Acordos Traiçoeiros com o Fascismo..................................................................................................................219

Capítulo 11

O Aspecto Militar da Conspiração - Planos para um Golpe de Estado ...................................................... 231

Capítulo 12

Críticas Burguesas dos Julgamentos de Moscou e Contestação dessas Críticas..........................................243

Parte IV

Duas Linhas sobre a Revolução Chinesa: A Linha do Comintern e a Linha da Oposição Trotskista

Capítulo 13

O Trotskismo em Relação ao Movimento Comunista Internacional...........................................................277

Capítulo 14

Por que a Oposição Trotskista na União Soviética Cometeu o Tipo de Erros que Cometeu em Relação à Revolução Chinesa?...............................................................................................................................................293

Capítulo 15

A Concepção de Frente Única que o Comintern Transmitiu ao Partido Comunista Chinês...................305

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Parte V

A Guerra Civil Espanhola

Capítulo 16

O Pano de Fundo da Guerra Civil Espanhola.....................................................................................................321

Capítulo 17

A Formação da Frente Popular e o Curso da Guerra..........................................................................................331

Parte VI

Sobre a Coletivização

Capítulo 18

A Coletivização.......................................................................................................................................................357

Capítulo 19

Crítica do Grupo de Estudos da Política Chinesa.............................................................................................385

Parte VII

Sobre a Mecânica da Luta de Classes na Ditadura do Proletariado

Capítulo 20

Sobre a Mecânica da Luta de Classes na Ditadura do Proletariado...............................................................411

Capítulo 21

Classes e Luta de Classes.......................................................................................................................................413

Capítulo 22

Intensificação da Luta de Classes sob o Socialismo.........................................................................................423

Capítulo 23

O Comunismo em um Só País..............................................................................................................................437

Capítulo 24

'Degeneração Nacionalista' .................................................................................................................................443

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Capítulo 25

Ausência de uma Linha de Massa.........................................................................................................................469

Capítulo 26

Stalin e a Intelligentsia..............................................................................................................................................................479

Capítulo 27

Conclusão...................................................................................................................................................................483

Apêndice 1

O Testamento de Lênin...........................................................................................................................................487

Apêndice 2

Trotsky e a Imprensa Imperialista........................................................................................................................495

Apêndice 3

Um Trotskista Assassina Trotsky.........................................................................................................................511

Bibliografia.............................................................................................................................................513

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Apresentação

Tomei conhecimento deste livro no ano de 2001, em um congresso de que participei em Toronto, Canadá, quando conheci pessoalmente o seu autor, de quem adquiri este e outros dois também de sua autoria, aqui citados.

Escolhi este para ler primeiro e, após lê-lo e traduzi-lo, pela relevância que ele representa no tocante à polêmica temática de que trata: "Trotskismo ou Leninismo?", como o chamou seu autor, preferi renomeá-lo de "Trotskismo x Leninismo".

O livro é composto de sete partes (abrangendo os temas das duas teorias da revolução socialista - a troskista e a leninista -, o socialismo em um só país, os julgamentos de Moscou, as linhas da Revolução Chinesa, a Guerra Civil Espanhola, a coletivização e a luta de classes na ditadura do proletariado), além de três apêndices (sobre o testamento de Lênin, a relação entre Trotsky e a imprensa imperialista e o assassinato de Trotsky) e vasta lista bibliográfica.

Desde sua dedicação inicial a V. I. Lênin, em página de rosto, o autor afirma sua posição favorável a este, na contenda entre os autores das duas correntes de pensamento supostamente circunscritas ao âmbito do comunismo, do socialismo, ou do marxismo, para usarmos m termo referido a correntes do pensamento mais usualmente tidas como filosófico-científicas.

Entre outras, sua relevância maior, ao meu juízo, se assenta em três pilares, a saber:

Primeiramente, representa uma ampla abordagem sobre teorias de posicionamentos políticos distintos e, no caso, contendoras, ao tempo em que referidas a pelo menos três processos históricos globais: as três revoluções russas de 1905 e 1917 (fevereiro e outubro), a Guerra Civil Espanhola e a Revolução Chinesa.

Em segundo lugar, resgata a experiência de ao menos duas grandes vertentes da teoria revolucionária socialista em combate, nos planos teórico e prático, representadas pelo que hoje é conhecido como "trotskismo" e "leninismo", além de passar, em níveis de abordagens diferenciados, por outras possíveis correntes dos "ismos" a que o marxismo em geral já deu ensejo, entre as quais bukharinismo, stalinismo e maoísmo.

Finalmente, na contenda entre as duas teorias, o autor tem a virtude de não assumir uma postura neutra ou indiferente, não só ao postular uma distinção teórica e política entre o trotskismo e o leninismo, como ao defender a tendência leninista como a teoria correta, quando confrontada com o "trotskismo", no plano da comparação entre as duas perspectivas, enquanto teorias no mínimo pretensamente revolucionárias interpretativas e transformadoras da realidade da transição entre o capitalismo e o socialismo, a teoria da revolução socialista de Lênin e a teoria socialista da "revolução permanente" de Trotsky.

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Com base em vastíssima documentação (relatórios, cartas, panfletos, resoluções de congressos e outras reuniões, jornais, revistas e livros), referida a períodos que vão de 1904 a 1993, além de breves citações que remontam a autores inclusive do século XIX, o livro oferece um recorte de significativos enfoques teóricos contundentes e às vezes opostos, bem corno indiscutível lição histórica de processos concretos da luta revolucionária tendo como objetivo o socialismo, e ainda do que se poderia chamar de "luta teórica" e/ou "ideológica", ou do "campo das idéias", inclusive, recentemente, no âmbito da Inglaterra.

Ao traduzi-lo e publicá-lo, minha pressuposição é de que se trata de obra indubitavelmente da máxima importância informativa, mesmo para leitores leigos em relação às contendas teóricas e ideológicas dos processos políticos globais já vividos pela humanidade, no caso ilustradas pelos exemplos específicos já aludidos. Mas, fundamentalmente, trata-se de matéria necessária e valiosa ao conhecimento por parte de leitores mais ou menos já iniciados ou detentores de conhecimento acumulado sobre tais questões, inclusive por novas divergências que tenda a germinar.

Para situar-me, ainda que inclinado a sugestivas digressões a partir das informações e reflexões de Harpal Brar, neste seu livro, concordo com ele, tanto em relação à indispensável distinção que faz entre "trotskysmo" e "leninismo", quanto à defesa que assume do leninismo, no embate entre as duas tendências, como a teoria mais de acordo, nas respectivas épocas e lugares, com a história dos povos a que dizem respeito e são alvo de referências do autor.

Se a realidade de nossos dias e de diferentes contextos exige, para sua compreensão e orientações de sentido, a fertilização de teorias já elaboradas, como as aqui abordadas, presumo igualmente que a possibilidade de sua mais rigorosa produção está também na razão direta do acúmulo de conhecimento e de sua aplicação prática em realidades anteriores, na luta concreta e teórica, com a perspectiva do socialismo ou, mais apropriadamente, do comunismo autêntico.

O livro de Harpal Brar reforçou o meu convencimento da necessidade de entendermos o mais seguramente possível, no plano da luta de classes e das contradições entre os amigos e inimigos do socialismo e do comunismo, o significado do combate de ontem, de hoje e do porvir, entre as correntes escancaradamente inimigas e as mascaradamente amigas e seus entrelaçamentos.

O tradutor

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Prefácio

Um dos mitos perpetrados pelos trotskistas, com considerável ajuda do imperialismo burguês, é o de que leninismo e trotskismo são sinônimos; que Trotsky foi, depois de Lênin, o mais brilhante e o maior bolchevique (alguns ainda acrescentam que Lênin foi um grande trotskista); que Trotsky foi o verdadeiro herdeiro do leninismo e seria um sucessor notável para Lênin, porém teria sido privado do seu lugar de direito por manobras ardilosas de uma mediocridade de terceira classe e um déspota oriental de botas, isto é, Joseph Stalin. Este mito anticomunista, repetido ad nauseam, década após década, na forma de Goebbels, não apenas em publicações trotskistas mas também por mestres pequeno-burgueses e professores de história e sociologia, para não mencionar a imprensa e a mídia eletrônica imperialista, este mito tem adquirido a força de um preconceito público. Este preconceito é o produto de uma distorção e falsificação, pelo trotskismo e seus aliados burgueses, do marxismo-leninismo, de invenções deliberadas, decepções, alusões, omissões e interpretações tendenciosas da história da Grande Revolução de Outubro e da prática e do papel revolucionários da URSS, por um lado, e a ignorância daqueles sobre os quais estas mentiras, distorções e inequívocas falsificações são aplicadas, por outro lado. Qualquer pessoa que tenha feito algum estudo, sem falar de estudos profundos, do tema não pode senão estar consciente da falsidade total desse mito. E objetivo deste livro expor esse mito e deixar clara a essência verdadeiramente reacionária da ideologia pequeno-burguesa do trotskismo, que é tão irremediavelmente hostil ao marxismo-leninismo como é a burguesia em relação ao proletariado - não obstante sua terminologia pseudo-marxista, ultra-esquerdista ta e ultra-revolucionária.

A tarefa a que me dediquei neste livro é mostrar que leninismo e trotskismo são mutuamente excludentes; que o trotskismo é inconciliavelmente oposto ao leninismo; que aqueles que se pretendem marxistas-leninistas são obrigados, no interesse do proletariado, a empreender uma implacável e firme luta contra o trotskismo; que eles têm de sepultar o trotskismo como uma tendência ideológica no movimento da classe trabalhadora. Ademais, procuro demonstrar que, após a morte de Lênin, em janeiro de 1924, como a bandeira do leninismo foi erguida pelo Partido Bolchevique, então sob a liderança de Stalin, o trotskismo continuou seu incessante assalto sobre o leninismo, com alguns ajustes táticos na forma de seu ataque. Então, passou a atacar o leninismo e a política leninista do Partido, à guisa de atacar o "stalinismo", em nome do leninismo. Com tudo isso, o trotskismo continuou sua luta contra-revolucionária contra o leninismo revolucionário, ainda que sem nomear abertamente e especificamente Lênin como seu alvo. Seja dito em honra do Partido bolchevique e de seu líder, Stalin, que o trotskismo recebeu golpes igualmente tão fragorosos quanto aqueles desferidos contra ele durante o tempo de vida de Lênin, o que o levou a sofrer ignominiosa derrota. Particularmente, busco enfatizar três aspectos específicos do trotskismo - aspectos que se apresentam em irreconciliável contradição com o leninismo.

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Três aspectos específicos do trotskismo

1. 'Revolução permanente'

O trotskismo representa a teoria da "revolução permanente", deixando de levar em conta a vasta massa do campesinato pobre como uma força revolucionária e confiável aliada do proletariado. Como Lênin acertadamente assinalou, a "revolução permanente" dos trotskistas equivale a "deixar de lado" o movimento camponês e "apostar na conquista do poder". Qualquer tentativa de tal revolução, como advogada por Trotsky, teria terminado em fracasso, pois teria negado ao proletariado russo o apoio de seu aliado mais fidedigno, o campesinato pobre. Somente isso explica a inflexível luta do leninismo contra o trotskismo de 1905 em diante.

Por sua parte, o trotskismo considerava o leninismo como uma teoria possuindo "aspectos anti-revolucionários" pela simples razão de que o leninismo corretamente advogava e sustentava a idéia da ditadura do proletariado e do campesinato no momento adequado. Considerando ir além dessa opinião indigna, o trotskismo assegurava:

"O edifício inteiro do leninismo no presente está construído sobre a mentira e a falsificação e comporta dentro de si próprio os elementos venenosos de sua própria decadência" (carta de Trotsky a Chkeidze, 1913).

O leninismo, por sua vez, afirmava:

"Trotsky nunca mantém uma opinião firme sobre qualquer questão importante do marxismo. Ele sempre dá um jeito de se insinuar nas brechas de qualquer diferença de opinião e oscila de um lado para o outro. No presente ele está em companhia dos budistas e dos liquidacionistas. E este senhor não faz cerimônia no que diga respeito ao Partido." (Lênin, Collected Works, vol. 20, p. 448, 1914).

Em uma carta a Zinoviev datada de 24 de agosto de 1909, Lênin escreveu:

"Trotsky comporta-se como um desprezível carreirista e fracionista do tipo Ryazanov-e-companhia. E necessária igualdade no conselho editorial, subordinação ao comitê central e nenhuma transferência para Paris, exceto a de Trotsky (o canalha quer 'consolidar' a banda vil completa do 'Pravda' às nossas custas!), ou então uma ruptura com este trapaceiro e uma denúncia dele no CO. Ele simula dedicação ao Partido e comporta-se pior do que qualquer outro dos fracionistas" (Collected Works, vol. 34, p. 400).

Quando Lênin estava empreendendo uma luta de vida e morte para expurgar do partido os liquidacionistas e otzovistas, Trotsky, assumindo o papel de um conciliador, tentou sem êxito reconciliar o Partido com aquelas duas tendências burguesas. Isto levou Lênin a denunciar Trotsky nestes termos:

"Já nas primeiras palavras de sua resolução, Trotsky expressou o pleno espírito do pior tipo de conciliação, conciliação entre aspas, conciliação sectária e filistéia, que

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tratava de 'dadas pessoas' e não de dadas linhas políticas, de dado espírito, do conteúdo ideológico do trabalho do partido."

"E nisto que está à diferença enorme entre a defesa real do partido, que consiste em expurgar dele o liquidacionismo e o otzovismo, e a 'conciliação' de Trotsky e Cia., que atualmente PRESTA O MAIS FIEL SERVIÇO AOS LIQUIDACIONISTAS E AOS OTZOVISTAS E É, PORTANTO, TANTO MAIS NOCIVO E PERIGOSO PARA O PARTIDO QUANTO MAIS ESPERTA, ARTIFICIOSA E RETORI-CAMENTE SE ABRIGA EM DECLAMAÇÕES PROFESSADAMENTE PRÓ-PARTIDO, PROFESSADAMENTE ANTIFRACIONISTAS." (Notes of a Publicist, Collected Works, Vol. 16, June, 1910, p. 211 - maiúsculas minhas).

Em novembro de 1910, acusando Trotsky de seguir "na trilha dos mencheviques, cobrindo-se de frases particularmente sonoras", de "colocar diante dos camaradas alemães uma visão liberal sob um verniz marxista", de constituir-se num mestre de "frases ressonantes, mas vazias", de não conseguir entender e de ignorar o "conteúdo econômico da Revolução Russa" e, portanto, "estar privado da possibilidade de entender o significado histórico da luta interna do Partido na Rússia ", Lênin prossegue, afirmando:

"A luta entre o bolchevismo e o menchevismo é ... uma luta sobre a questão de se apoiar os liberais ou destronar a hegemonia dos liberais sobre o campesinato. Portanto, atribuir (como o faz Trotsky) nossas diferenças à influência da inteligência, à imaturidade do proletariado etc., é uma repetição puerilmente ingênua de contos de fadas liberais."

Acrescentando: "Trotsky distorce o bolchevismo, porque ele nunca foi capaz de formar qualquer visão definida sobre o papel do proletariado na revolução burguesa russa."

Contestando as mentiras e falsificações de Trotsky na imprensa socialdemocrata alemã e acusando-o de seguir uma política de "propaganda", de "desavergonhadamente depreciar o partido e se exaltar diante dos alemães", Lênin conclui:

"Portanto, quando Trotsky diz aos camaradas alemães que ele representa a 'tendência geral do Partido', sou obrigado a declarar que Trotsky representa apenas sua própria facção e goza de certa confiança exclusivamente entre os otzovistas e os liquidacionistas". [O Significado Histórico da Luta Interna do Partido na Rússia, Collected Works, Vol. 16, pp. 374-392).

Quando o Vienna Club de Trotsky, ampliando suas atividades, passou uma resolução, em novembro de 1910, para organizar um "fundo partidário geral com o propósito de preparar e conduzir uma conferência do RSDLP", Lênin caracterizou isto como "um passo direto para a divisão... uma clara violação da legalidade do Partido e o início de uma aventura de que Trotsky vai se arrepender".

Continua Lênin:

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"E uma aventura no sentido ideológico. Trotsky agrupa todos os inimigos do marxismo, reúnem Potresov e Maximov, que detestam o bloco ' Lênin-Plekanov', como eles gostam de chamá-lo. TROTSKY REÚNE TODOS AQUELES A QUEM ATRAI A DECADÊNCIA IDEOLÓGICA, QUE NÃO ESTÃO INTERESSADOS NA DEFESA DO MARXISMO, todos os filisteus que não entendem as razões para a luta e não querem aprender, pensar e descobrir as raízes ideológicas da divergência de visões. Nesta época de confusão, desintegração e indecisão, é fácil para Trotsky tornar-se o 'herói do momento' e congregar todos os elementos mesquinhos ao redor dele. Quanto mais essa tentativa for feita abertamente, mais espetacular será sua derrota." (maiúsculas minhas).

Lênin termina esta sua carta clamando, entre outras, à "luta contra as táticas divisionistas e o aventureirismo sem princípios de Trotsky". (Carta ao Colégio Russo do Comitê Central do RSDLP, Collected Works, vol. 17, pp. 17-22 - Dezembro de 1910).

Em dezembro de 1911, farto do trabalho sujo de Trotsky, como agente e diplomata dos liquidacionistas e otzovistas, Lênin, expondo o divisionismo de Trotsky, escreveu:

"E impossível argumentar com Trotsky sobre os méritos dos acontecimentos, porque Trotsky não tem posição sobre coisa alguma. Nós podemos e devemos argüir com liquidacionistas e otzovistas assumidos; porém, não é possível usar argumentos com um homem cujo jogo é esconder os erros de ambas as tendências; neste caso, a única coisa a fazer é expô-lo como um diplomata do menor calibre" (A Diplomacia de Trotsky e Certa Plataforma do Partido, Collected Works, vol. 17, pp. 360-362J.

Em julho de 1912, em uma carta ao editor do Pravda, o jornal diário legal bolchevique, impresso em Petersburgo a partir de 5 de maio de 1912, Lênin aconselha ao editor não responder às "cartas destrutivas e caluniosas" de Trotsky, acrescentando:

'A campanha sórdida de Trotsky contra o Pravda é uma massa de mentiras e calúnias... Este intrigante e liquidacionista continua mentindo a torto e a direito" (Collected Works, Vol. 35, pp. 40-41).

Em A Dissolução do Bloco de Agosto' (março de 1914), Lênin escreveu:

"Trotsky, contudo, nunca teve 'fisionomia' alguma; a única coisa que ele tem é o hábito de mudar de lado, de saltar dos liberais para os marxistas e retornar depois, de vociferar fragmentos de chavões e bombásticas frases de papagaio."

E: "Atualmente sob a cobertura de frases tonitruantes, vazias e obscuras que confundem os trabalhadores sem consciência de classe, Trotsky está defendendo os liquidacionistas, ao silenciar sobre a questão da "ação clandestina", ao assegurar que não há política trabalhista liberal na Rússia e assim por diante.

"...Unidade significa reunir a maioria dos trabalhadores na Rússia sobre decisões conhecidas faz muito tempo e que condenam o liquidacionismo..."

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"Contudo, os liquidacionistas e Trotsky... que se separaram com seu próprio Bloco de Agosto, que zombam de todas as decisões do Partido e dissociam-se dos "clandestinos", assim como dos trabalhadores organizados, são os piores divisionistas. Felizmente, os trabalhadores já compreenderam isso, e todos os trabalhadores com consciência de classe estão criando sua própria unidade real, contra os liquidacionistas destruidores da unidade." (Collected Works, pp. 158-161).

No artigo Fratura da unidade sob a cobertura de clamores pela unidade, escrito em junho de 1914, Lênin denuncia Trotsky por seus fracionismo e liquidacionismo e expõe a completa falsidade da acusação de divisionismo atribuída por Trotsky e os liquidacionistas aos bolcheviques. Escrevendo em seu jornal Borba, alegadamente não facciosista, Trotsky, tendo acusado os bolcheviques de divisionistas, pela única razão de que eles expuseram e se opuseram ao liquidacionismo, prossegue admitindo que "as táticas divisionistas bolcheviques estão conquistando uma vitória suicida atrás da outra". Dito isto, Trotsky acrescenta:

"Numerosos trabalhadores avançados, em uma situação de total confusão política, muitas vezes tornam-se agentes ativos de uma divisão."

Eis a réplica de Lênin a esta acusação e 'explicação':

"E desnecessário dizer que esta explicação é altamente lisonjeira para Trotsky... e para os liquidacionistas. Trotsky está muito acostumado a usar, com o tom pedante de um erudito, frases pomposas e solenes para explicar fenômenos históricos de uma forma que lhe é lisonjeira. Desde que 'numerosos trabalhadores avançados' tornaram-se agentes ativos de uma política e linha do Partido (linha do Partido Bolchevique] que não se conforma à linha de Trotsky, Trotsky resolve a questão, sem hesitar, automaticamente: esses trabalhadores avançados estão 'em uma situação de total confusão política', enquanto ele, Trotsky, está, evidentemente 'em uma situação' de firmeza e clareza política e mantêm-se na linha correta! ...E este próprio Trotsky, batendo no peito, fulmina contra o fracionismo, o paroquialismo e os esforços dos intelectuais para imporem sua vontade aos trabalhadores!"

"Lendo coisas como estas, pode-se perguntar: é de um asilo de loucos que estas vozes vêm?" (Collected Works, Vol. 20, pp. 327-347).

Continua Lênin: "A razão pela qual Trotsky evita fatos e referências concretas é porque eles definitivamente refutam todos os seus clamores furiosos e suas frases pomposas. E muito fácil, certamente, fazer uma pose e dizer: 'uma imitação grosseira e sectária'. Ou acrescentar um chavão ainda mais convincente e pomposo, tal como 'emancipação do fracionismo conservador'.

'Porém não é isto muito vil? Não é uma arma tomada emprestada do arsenal do período em que Trotsky posava com todo o seu esplendor diante das audiências de jovens ginásianos?" (ibid).

Lênin conclui seu artigo com uma descrição brilhante da indecisão e vacilação de Trotsky entre o Partido e os liquidacionistas, chamando-o de um "vira-casaca

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Tushino", aparecendo diante do Partido "com afirmações incrivelmente pretensiosas, absolutamente relutante em levar em conta quaisquer decisões do Partido, que desde 1908 tinha definido e estabelecido nossa atitude frente ao liquidacionismo, ou com a experiência do movimento atual na Rússia, que tem produzido a unidade da maioria sobre a base do pleno reconhecimento das decisões já mencionadas" (ibid).

Mais ou menos à mesma época - início de 1914 - Trotsky, escrevendo no número 2 do seu jornal Borba, falsamente atribuiu aos "marxistas poloneses" - não apenas a Rosa Luxemburgo - a posição segundo a qual o direito à autodeterminação nacional "é inteiramente destituído de conteúdo político e deveria ser eliminado do programa". Esta falsidade recebeu de Lênin a seguinte observação:

"O amável Trotsky é mais perigoso do que um inimigo! Trotsky não produz provas, salvo de 'conversações privadas' (isto é, simples mexericos, dos quais Trotsky sempre viveu), classificando os 'marxistas poloneses' em geral como apoiadores de qualquer artigo de Rosa Luxemburgo."

Em sua carta a Henriette Roland-Holst, datada de 8 de março de 1916, Lênin perguntava:

"Quais são nossas diferenças com Trotsky?"

A esta questão ele deu a seguinte resposta:

"Em poucas palavras - ele é um kautskista, isto é, ele se inclina para a unidade com os kautskistas na Internacional e com o grupo parlamentarista de Chkeidze na Rússia. Nós somos absolutamente contra tal unidade..." (Collected Works, vol. 43, pp. 515-516).

Escrevendo a Alexandra Kollontai, em 17 de fevereiro de 1917, Lênin disse:

"...Que pessoa suja este Trotsky é - frases esquerdistas e um bloco com a direita, contra a esquerda de Zimmerwald!! Ele deve ser exposto (por você) mesmo que seja apenas em uma breve carta ao jornal Social-Democrata" (Collected Works, Vol. 35, p. 285j".

Finalmente, nesta carta de 19 de fevereiro de 1917, a Inessa Armand, Lênin escreveu, entre outras coisas:

"Há também uma carta da Kollontai, que... retornou da América para a Noruega. N. Iv. e Pavlov ... tinham conquistado o Novo Mir, ela disse, ... mas ... Trotsky chegou e este salafrário logo formou um grupo com a direita do Novo Mir contra a esquerda Zimmerwaldista! É isso!! Este é o Trotsky para você!! Sempre fiel a si próprio: ardiloso, trapaceiro, posa como esquerda, ajuda a direita tão logo ele pode..." (Collected Works, Vol. 35, p. 288).

A luz da evidência histórica citada, do tipo mais impecável e irrefutável, pode ser tranqüilamente afirmado que Trotsky foi durante longo período - entre 1903 e 1917 - um menchevique e um liquidacionista que empreendeu uma campanha suja e

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facciosa contra as tentativas dos bolcheviques de construir um Partido revolucionário do proletariado.

Embora as pessoas com conhecimento sobre a história do Partido Bolchevique saibam muito bem que de 1903 a agosto de 1917 Trotsky foi um menchevique e um liquidacionista, os trotskistas geralmente mantêm um silêncio estudado sobre esta questão ou, pior ainda, tentam recusar-lhe esta condição. E, portanto, muito gratificante descobrir algum trotskista ardente que condena o menchevismo, o centrismo, o conciliacionismo e o facciosismo de Trotsky. Nesta categoria estão os trotskistas da Liga Comunista Internacional (ICL), da denominada Quarta Internacional (a Quarta Internacional oficial, certamente, porque cada uma das milhares de organizações trotskistas pretende ser a Quarta Internacional oficial e descreve cada uma das outras organizações trotskistas como fraudulenta -um fenômeno hilariante que lembra o filme Life of Brian). A ICL publica o jornal teórico Spartacist. A oportunidade de sua franca admissão e condenação do menchevismo de Trotsky foi a resenha na Spartacist, números 45 e 46, do inverno de 1990-91, edição inglesa, por um certo membro da ICL, Daniel Daiget, de uma biografia de Leon Trotsky publicada em 1988 por Pierre Broué. Pierre Broué era professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Grenoble, que tinha sido por 40 anos um membro da "tendência ostensivamente lambertista trotskista na França" (descrição na dita revista do ICL), isto é, do Partido Comunista Internacional (PCI).

Broué louva Trotsky por ter sido um "freelancer" - louvação que incita a ICL à indignação e à clara afronta. Para que não se perca a plena força da prosa fluente da ICL, a plena e ardente fúria e vergonha, bem como a contundência de seu argumento, e para que não possamos ser acusados de citá-la fora de contexto, reproduzimos aqui a seção inteira da revista que se ocupava do facciosismo e do menchevismo de Trotsky, entre 1903 e 1917:

"Trotsky como 'free-lancer'

O tratamento, por Broué, da atividade política de Trotsky, entre o racha decisivo de 1903 e a Revolução de Outubro, está no coração de sua interpretação, porque é aí que ele trata dos debates dentro da Social-Democracia Russa, quanto à natureza, forma e estrutura que um partido revolucionário deve ter, se busca tomar o poder, assim como do papel do debate político e programático ao se forjar tal partido. Após o racha de 1903 entre os bolcheviques e os mencheviques, Trotsky tornou-se 'uma espécie de livre atirador no Partido'.

Broué louva Trotsky por isto, vendo aí a causa do papel de liderança de Trotsky na Revolução de 1905 como Presidente do Soviete de Petersburgo e seu brilhante uso propagandístico de seu processo judicial, após a derrota de 1905:

'De fato, efetivamente liberado de quaisquer obrigações fracionistas, com a boa distância dos altos e baixos dos conflitos entre as duas principais facções, satisfeito a esse respeito com sua posição 'unitária', cuja vitória no futuro parecia a ele assegurada, Trotsky ficou com suas mãos completamente livres

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para devotar sua atenção e sua atividade aos acontecimentos que estavam se desdobrando na Rússia...'(Broué, p. 97).

Ao se ler isso, poder-se-ia concluir que a luta fracionista de Lênin contra o menchevismo era irrelevante - senão completamente fora de propósito - para intervir no processo e conduzir a luta revolucionária. De fato, Broué via o papel de Trotsky, enquanto dirigente 'conciliador' entre os bolcheviques e os mencheviques, como exemplar.

Inicialmente, como assinala Broué, 'Trotsky, partidário da centralização e da autoridade do Comitê Central, mesmo quando foi deportado para a Sibéria, foi visto no círculo dos emigrados como capataz de Lênin'. No Congresso de 1903, Trotsky iniciou uma luta programática contra Lênin sobre a questão do Partido. Por exemplo, Trotsky opôs-se à soberania do Congresso do Partido: 'O Congresso é um registro, um controlador, mas não um criador' (Relatório da Delegação Siberiana, 1903).

Embora as implicações programáticas estivessem longe de ficar claras naquela época, o racha de 1903 foi uma divisão fundamental na questão do Partido. A posição federalista de Trotsky refletia-se também no 'Relatório da Delegação Siberiana', com sua rejeição à definição bolchevista de um membro do partido que exigia 'a participação pessoal nos órgãos do Partido'. Em termos práticos, era a favor da definição menchevique de um membro do Partido como alguém que dava 'assistência pessoal' ao Partido - ele desejava permitir às mais amplas 'organizações operárias' que existiam em torno dos comitês do Partido nas maiores principais cidades da Rússia, agirem em nome do Partido, sem levar em conta sua adesão aos estatutos ou decisões dos congressos do Partido.

Ao mesmo tempo que Broué entusiasmava-se com a independência de Trotsky, ele mencionava de passagem que Trotsky estava errado na questão do Partido durante todo este período. Porém o que ele diz destoa do próprio julgamento de Trotsky:

'As profundas diferenças que me separam do bolchevismo por incontáveis anos e em muitos casos colocaram-me em oposição dura e hostil ao bolchevismo estavam expressas mais claramente na relação com a facção menchevique. Eu comecei com a perspectiva radicalmente errada de que o curso da revolução e a pressão das massas proletárias deveriam ultimamente forçar as duas facções a seguirem o mesmo caminho. Portanto, eu considerava uma divisão como uma ruptura desnecessária das forças revolucionárias. Mas como o papel ativo na divisão cabia aos bolcheviques - desde que somente pela demarcação implacável, não apenas ideológica mas também organizacional, seria possível, na opinião de Lênin, assegurar o caráter revolucionário do partido revolucionário (e a história subseqüente inteira confirmou a correção dessas políticas) - meu "conciliacionismo" levou-me, em muitas encruzilhadas no caminho, a choques hostis com o bolchevismo.' (Trotsky, 'Our Differences', Nov. 1924).

/As alas do 'centro' e da direita tradicionais da Social-Democracia ficaram muito felizes de usar o nome e o brilhantismo jornalístico de Trotsky como uma fachada de esquerda para suas posições e como uma arma contra Lênin. Assim, Broué relata que Trotsky teve boas relações com Kautsky e o "centro" da Social-Democracia Alemã

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até pelo menos 1912 ... Foi Kautsky, durante este período, que, para grande raiva de Lênin, abriu as páginas do 'Die Neue Zeit' e do 'Vorwärts' para Trotsky. Broué também detalha as relações entusiasmadas de Trotsky com os austro-marxistas de Viena, afirmando que ele se tornou rapidamente "o chefe incontestável da colônia social-democrata de Viena' de 1909 a 1912. Ele passa rapidamente sobre o fato de que durante o mesmo período Rosa Luxemburgo via Trotsky com 'suspeição sistemática' e como um 'indivíduo dúbio", sem dúvida devido a seus laços com seus oponentes da direita da Social-Democracia Alemã.

A atitude de Broué para com Trotsky durante estes anos é exemplificada por seu tratamento do famoso Bloco de Agosto. O 'Pravda', de Viena, editado por Trotsky, tentava conciliar as facções bolchevique e menchevique - Broué assinala com aprovação o elogio do anticomunista profissional Leonard Schapiro ao 'Pravda' de Vie-na, por não ser tão polêmico quanto a imprensa bolchevique. Um acordo de 1910, entre as facções, gerou apoio financeiro bolchevique ao 'Pravda' de Viena, através de Kamenev (que era íntimo de Lênin e cunhado de Trotsky), responsável pela administração dos recursos bolcheviques. O acordo estipulava que os mencheviques deveriam desembaraçar-se de sua ala direitista e os bolcheviques de sua ala esquerdista. Enquanto os bolcheviques respeitaram o acordo, os mencheviques não o fizeram, e nas polêmicas subseqüentes Trotsky alinhou-se aos mencheviques e distanciou-se de Kamenev. Os artigos de Trotsky, dirigidos a militantes do interior da Rússia, que não estavam familiarizados com os detalhes da disputa, denunciavam os bolcheviques como uma 'conspiração de uma panelinha de emigrados'. Kautsky solicitou e publicou vários artigos de Trotsky atacando os bolcheviques, que provocaram justas réplicas iradas não só de Lênin, mas também de Plekhanov e Rosa Luxemburgo. Quando o Congresso Bolchevique de Praga, em 1912, proclamou que ele representava o Partido como um todo, Trotsky organizou uma 'contraconferência' unitária em Viena, em agosto.

'Na concepção de Trotsky, [a conferência] deveria ter sido a reunificação do Partido. De fato, a rejeição dela pelos bolcheviques reduziu os participantes a um bloco contra eles, que eles batizaram 'Bloco de Agosto'. Os social-democratas poloneses e Plekhanov também preferiram não aparecer ... De fato, o retorno de Trotsky à arena fracionista resultou particularmente desafortunado. Independente de sua intenção, e mesmo de suas pretensões, as posições que ele assumiu depois da Conferência de Praga e seu papel na formação do Bloco de Agosto fizeram com que ele parecesse ser, a despeito de si próprio, a alma de uma coalizão geral contra os bolcheviques e um apoiador indireto dos 'liquidacionistas'.' - Broué, pp. 139-140.

Todo adjetivo na descrição de Broué do papel de Trotsky no Bloco de Agosto está errado ou é enganador. Como está claro na denúncia de Trotsky dos bolcheviques como uma 'panelinha de emigrados', ele estava bem consciente de que o que Broué delicadamente chamou de 'unificação geral' era um porrete polêmico para atacar Lênin. Trotsky não só 'parecia' ser a alma da coalizão anti-bolchevique, ele era de fato esta alma, por ser a força mais à esquerda, mais respeitada fora dos bolcheviques. As ações de Trotsky não foram construídas 'a despeito dele próprio', mas eram um reflexo

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preciso do papel que ele desempenhou frente aos bolcheviques em todo o período de 1903 até pelo menos 1915."

"A eclosão da Primeira Guerra Mundial e a traição pelos partidos da Segunda Internacional, cuja maioria de líderes apoiava seus 'próprios' governos na sangrenta guerra imperialista, transformou o campo da disputa dentro do movimento socialista mundial, forçando realinhamentos e reagrupamentos. Lênin e Trotsky lutaram contra a guerra imperialista e ambos tentaram reunir os socialistas antiguerra em Zimmerwald, Suíça, em setembro de 1915." (pp.33-34).

Diga-se de passagem, que a última sentença nasceu da desonestidade ou de simples ignorância - a primeira é a mais provável - pois qualquer pessoa que tenha o menor conhecimento desta matéria sabe que o lema bolchevique de trabalhar para a derrota do próprio governo na guerra imperialista que se travava foi furiosamente contrarrestado por Trotsky com seu slogan chauvinista 'Nem vitória nem derrota'. Ademais, já apresentamos citações de Lênin no sentido de que, durante este período, Trotsky era um kautskista e lutou contra a esquerda de Zimmerwald, chefiada pelos bolcheviques de Lênin. Mas isto não nos interessa agora. A ICL continua:

"Broué argúi que, depois de Zimmerwald, a despeito dos 'desacordos reais' entre Lênin e Trotsky, havia 'uma previsão razoável de uma aproximação gradual entre os dois homens, que em realidade estiveram divididos apenas (sic) no racha de 1903, que já estava obsoleto'. O que Broué deixa de observar é que Lênin nunca repudiou a divisão de 1903 - ao contrário, ele generalizou daí para uma posição teórica plenamente formada sobre a necessidade de quadros revolucionários para organizar um partido de vanguarda, separado dos reformistas e das tendências centristas. Trotsky acabaria tomando o lado de Lênin nesta questão, em 1917.

Há algo de anacrônico e evocativo dos piores aspectos das tradições políticas francesas na repetida apresentação de Trotsky por Broué como uma simples estrela, um livre atirador, ocupado demais como 'líder de homens' e fazendo brilhantes discursos antes e depois da Revolução para ter sido um 'homem de partido' ou ter tido tempo para 'familiarizar-se com (as) lutas de facções nos corredores'. Trotsky foi um fracionista antes de 1917 - do lado errado. Contudo, seu programa de conciliacionismo nunca poderia ter construído o tipo de facção que poderia ganhar liderança no partido, nem o tipo de partido que poderia tomar o poder do Estado" (p. 34).

Muito bem dito, senhores trotskistas da ICL! Nós achamos que qualquer comentário sobre isso seria supérfluo.

Tudo isso, contudo, não impede os trotskistas da ICL de afirmarem, sem qualquer rubor, que Trotsky, após a morte de Lênin, estava melhor situado para "levar à frente o programa bolchevique autêntico contra os usurpadores de Stalin". Muito estranha lógica, realmente, de acordo com a qual Trotsky, o liquidacionista menchevique, que passou duas décadas em uma luta mortal contra todos os aspectos do leninismo, estava melhor situado para empreender o programa bolchevique autêntico do que Stalin, que tinha passado duas décadas e meia apoiando plenamente e conduzindo realmente o programa bolchevique. Eis como a ICL coloca isso:

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"Em sua admiração por Trotsky, o menchevique de esquerda, Broué também nunca considera a autoridade potencial que Trotsky teria ganhado e retido entre os bolcheviques leais por ter ele estado do lado de Lênin como um firme homem de partido em 1903 - uma autoridade que lhe teria bem servido no período subseqüente, quando ele lutou para levar à frente o programa bolchevique autêntico contra os usurpadores de Stalin" (Ibid. p. 35).

Os porcos voam! A declaração anterior da ICL implica, se implica alguma coisa, uma tautologia sem sentido, a saber, que tendo Trotsky sido um firme apoiador do leninismo no período 1903-1917, teria estado bem situado para conduzir o programa bolchevique autêntico após a morte de Lênin. O problema, entretanto, é que ele não foi durante este longo período, nem no período subseqüente, um firme apoiador do leninismo. Quem realmente foi um firme leninista, a saber, Joseph Stalin, foi muito corretamente o escolhido pelo Partido Bolchevique para liderá-lo na realização do programa bolchevique autêntico contra quem pretendia ser o usurpador, a saber, ou seja, Trotsky.

Há método na loucura da ICL. Eles admitem o menchevismo pré-1917 de Trotsky a fim de apresentar a leitores crédulos uma versão saneada de Trotsky que, alega-se, repentinamente viu a luz e após 1917 tornou-se um bolchevique melhor do que qualquer outro.

"O fato é". escreve a ICL, "que Broué ... concorda com o conciliacionismo de Trotsky antes de 1917 e prefere de 'longe o Trotsky antileninista ao Trotsky bolchevique."

Ao contrário de Broué, em vã tentativa de ganhar credibilidade para o trotskismo, a ICL preferiria admitir amplamente o menchevismo e antileninismo do Trotsky pré-1917, a fim de poder zelosamente afixar na lapela de Trotsky o rótulo de firme leninista. Este embuste não vingará, entretanto, pois à parte o curto período durante outubro quando ele escondeu seu equipamento antileninista no armário, Trotsky continuou a praticar seu antileninismo, seu antibolchevismo, com zelo digno de uma causa maior. Não se trata apenas de que Broué, como afirma com razão a ICL, "subitamente passa a atacar Lênin", a fim de ganhar a apreciação da "inteligência soviética antileninista" (estas palavras foram escritas no inverno de 1990-1991), mas também que os trotskistas da ICL, em comum com todos os outros trotskistas, estavam tentando substituir o leninismo pelo trotskismo, embora denunciando o trotskismo pré-1917. Nenhum subterfúgio, nenhum embuste, nenhum truque artificioso, nenhuma falsidade, podem ocultar este fato - nem mesmo a pretensão de louvar o leninismo.

3. Descrédito da liderança bolchevique

Trotsky pretendia pôr sob suspeita os dirigentes do bolchevismo, ao desacreditá-los e difamá-los. Como Stalin corretamente observou:

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"Não conheço uma única tendência no partido que pudesse ser comparada com o trotskismo em matéria de desacreditar os dirigentes do leninismo ou as instituições centrais do Partido" (Collected Works, Vol. 6, pp. 366).

Nas cartas de Trotsky a Chkeidze, já citadas, Trotsky descreveu Lênin como "um explorador profissional de todo tipo de atraso no movimento da classe operária russa".

Se Trotsky pôde expressar tal visão grosseira do leninismo, nada há de surpreendente no fato de que ele tenha lançado, após a morte de Lênin, injúrias ainda mais vis sobre o discípulo mais fiel de Lênin, Stalin.

Como pôde Trotsky terminar nas fileiras bolcheviques?

Como foi que Trotsky, tendo tal trajetória antibolchevique e antistalinista, penetrou nas fileiras bolcheviques no período da revolução de outubro? Stalin, em um discurso de 19 de novembro de 1924, perguntou e respondeu esta questão:

"Como pôde Trotsky, que carregava em suas costas um tal instrumental de sordidez, encontrar-se, depois de tudo isso, nas fileiras dos bolcheviques durante o movimento de outubro?Aconteceu porque naquela época Trotsky abandonou (realmente abandonou) suas ferramentas. Escondeu-as no armário. Se ele não tivesse levado a termo esta 'operação', teria sido impossível a cooperação real com ele. A teoria do bloco de agosto, isto é, a teoria da unidade com os mencheviques, tinha já sido vencida e lançada ao mar pela revolução, pois como poderia haver qualquer conversa sobre unidade quando uma luta armada estava se travando entre os bolcheviques e os mencheviques? Trotsky não teve alternativa senão admitir que aquela teoria era inútil."

"A mesma desventura 'aconteceu' com a teoria da revolução permanente, pois nenhum bolchevique contemplava a conquista imediata do poder logo após a Revolução de Fevereiro, e Trotsky não poderia deixar de saber que os bolcheviques não lhe permitiriam, nas palavras de Lênin, 'tentar a conquista do poder'. Trotsky não tinha alternativa senão reconhecer a política dos bolcheviques de lutar pela influência nos Sovietes, de lutar para convencer o campesinato. Quanto ao terceiro aspecto específico do trotskismo (descrédito dos dirigentes bolcheviques), este tinha naturalmente de ficar em segundo plano, tendo em vista o óbvio fracasso dos dois primeiros aspectos.

"Nessas circunstâncias, o que mais poderia Trotsky ter feito senão esconder seus instrumentos no armário e seguir os bolcheviques, considerando que ele não tinha nenhum grupo próprio de algum significado e que ele veio para os bolcheviques como um indivíduo político, sem um exército? É claro que ele não poderia!

"Qual é a lição a ser extraída disso? Apenas uma: que a colaboração prolongada entre os leninistas e Trotsky seria possível somente se ele abandonasse completamente seus instrumentos, se ele aceitasse completamente o leninismo. Trotsky escreve sobre as lições de Outubro, mas esquece ... esta que acabei de mencionar, que é de importância primordial para o trotskismo: o trotskismo também deve aprender aquela lição de Outubro" (Collected Works, vol. 6 pp. 366-367).

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O trotskismo, no entanto, não aprendeu esta lição, e suas velhas ferramentas, guardadas no armário no período do movimento de Outubro, foram trazidas à luz do dia mais uma vez, especialmente após a morte de Lênin, através de pronunciamentos literários de Trotsky objetivando minar os princípios do Partido Bolchevique, depreciando e desacreditando Lênin (embora à guisa de louvar e exaltar Lênin) e afirmando a correção da desacreditada teoria da revolução permanente, que fora sepultada pela experiência das três revoluções Russas - ou seja, a de 1905 e as de fevereiro e outubro de 1917.

Chegando a Petrogrado em 1917, Trotsky filiou-se ao Mezhrayontsi (inter-regional), um grupo que vacilava entre os bolcheviques e os mencheviques. Em agosto de 1917, declarando que eles não tinham diferenças com os bolcheviques, os Mezhrayontsi juntaram-se ao Partido Trabalhista Social-Democrata Russo (bolchevique). Trotsky juntou-se aos bolcheviques com eles. Juntando-se ao Partido Bolchevique, um número razoável de Mezhrayontsi rompeu com o oportunismo; contudo, como acontecimentos subseqüentes revelariam, para Trotsky e alguns de seus seguidores, juntar-se aos bolcheviques era apenas um ardil. Eles continuaram a propor suas visões nocivas e reacionárias, zombar da disciplina e minar a unidade organizacional e ideológica do Partido.

Enquanto o trotskismo, longe de ter abandonado seu sórdido instrumental, ao contrário trouxe-o para a luz do dia, estava determinado, devido a seu inteiro conteúdo interno, a tornar-se o centro e o ponto de reunião não apenas dos elementos não proletários na URSS, que estavam então (nos anos 1920 a 1930) lutando para desintegrar a ditadura do proletariado, mas também da burguesia imperialista, buscando por todos os meios possíveis derrotar o regime proletário que tinha sido introduzido pela vigorosa revolução de outubro. Em cada estágio crucial no desenvolvimento da revolução russa e da existência da ditadura do proletariado na URSS, o trotskismo continuou a manter sua posição reacionária antibolchevique e antileninista nos planos da teoria e da organização, ocultando-a sob espessas camadas de retórica 'revolucionária'.

Brest-Litovsk

Em 1918, a jovem República Soviética, privada de qualquer exército com vontade e habilidade para a luta, estava lutando por sua própria sobrevivência por meio da assinatura do Tratado de Paz de Brest-Litovsk com o imperialismo alemão, ganhando assim um alívio mais do que necessário para a população exaurida. No momento crucial destas negociações Trotsky, como o Chefe da Delegação Soviética para as conversas de paz, violando as instruções do comitê central do Partido e do governo soviético, declarou a retirada unilateral da Republica Soviética da guerra, a desmobilização do Exército Russo, e então deixou Brest-Litovsk sob o pretexto espúrio de que "nós só podemos ser salvos, no verdadeiro sentido da palavra, por uma Revolução Européia". (Sétimo Congresso Extraordinário do RCP(B)).

Isto deu ao comando alemão o pretexto de que necessitava para terminar o armistício, montando uma ofensiva e obrigando o governo soviético a assinar "uma paz muito mais humilhante, e a culpa disto cabe àqueles que se recusaram a aceitar a

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paz anterior" ( Lênin, Relatório Político do CC ao Sétimo Congresso Extraordinário do RCP(B), 7de Março de 1918, Collected Works, vol. 27).

A propósito da incapacidade da revolução européia de alcançar a maturidade, deixando assim a revolução bolchevique resolver seus problemas por si própria e forçando os bolcheviques a enfrentarem a realidade como ela era e não como eles desejariam que fosse, Lênin advertiu Trotsky e seus seguidores no Partido nos seguintes termos:

"Se vocês são incapazes de adaptar-se, se não estão inclinados a rastejarem sobre seus ventres na lama, vocês não são revolucionários mas uns tagarelas; e digo isto não porque me agrade, mas porque não temos outro caminho, porque a história não tem sido bondosa o suficiente para levar a revolução à maturidade em toda parte, simultaneamente." (Ibid.)

Assim, a jovem República Soviética pagou um preço muito alto pelo aventureirismo e derrotismo palavroso de Trotsky, que é a principal característica de sua teoria podre da revolução permanente, de acordo com a qual nada de bom pode resultar de qualquer revolução a menos que ela seja acompanhada por uma revolução mundial.

Debate sindical

Com a conclusão vitoriosa da Guerra Civil de 1918-1920, quando a República Soviética, sob a orientação de Lênin, mudou do comunismo de guerra para a Nova Política Econômica (NEP, na sigla em inglês) e embarcou em um programa de reergui mento e rejuvenescimento econômicos - de restauração da indústria através da expansão da agricultura e da arregimentação dos trabalhadores e dos sindicatos para uma construção socialista ativa, por meio da organização e persuasão planejadas (e não coerção), Trotsky e seus apoiadores forçaram no Partido uma discussão sobre a questão dos sindicatos (uma distorção e um desvio do trabalho de construção econômica, da luta contra a fome e o deslocamento econômico a que o Partido não poderia se dar ao luxo na época). Trotsky, o patriarca dos burocratas, como Stalin acertadamente chamou-o, insistia em "apertar os parafusos"e "sacudir" os sindicatos e transformá-los em agências estatais, e substituir a persuasão pela coerção.

A discussão no Partido sobre os sindicatos resultou na derrota total de Trotsky e seu apoiadores. Quando o Comitê Central do Partido rejeitou a proposta policialesca de Trotsky, este retirou-se e congregou um grupo de seus apoiadores com o objetivo de lutar contra o Comitê Central. Tão alarmado estava Lênin pelo fracionismo e insulto à disciplina do Partido por parte de Trotsky que aproveitou a ocasião do 10° Congresso do Partido (março de 1921) para passar uma resolução proibindo a formação de facções e dispersando incontinenti as facções existentes. Foi então estabelecido que o "não-cumprimento desta decisão do Congresso será seguido pela expulsão incondicional e imediata do Partido".

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Retorno de Trotsky ao completo fracionamento

Tal resolução provocou aversão e oposição amargas de Trotsky, já que, quando ele não avançava em seu próprio caminho em qualquer questão, rompia para formar uma facção dentro do Partido, mesmo se isso ameaçasse gerar um racha.

Durante 1921 a saúde de Lênin começou a declinar. A arteriosclerose cerebral já estava bloqueando sua circulação sanguínea e produzindo seus efeitos, resultando em que este homem de energia e disposição inexauríveis estava cansando facilmente e passava a maioria do verão descansando na cidade de Gorki, próxima a Moscou. O 11° Congresso do Partido, que teve lugar ao fim de março de 1922, criou o novo posto de Secretário Geral, para o qual, um dia após a conclusão daquele Congresso (isto é, em 3 de abril de 1922), por iniciativa e com o apoio de Lênin, foi designado Stalin. A 26 de maio de 1922, enquanto descansava em Gorki, Lênin sofreu um grave derrame, que lhe causou uma paralisia parcial do lado direito de seu corpo e perda da fala. Ele recuperou-se desse golpe com notável rapidez e voltou à sua mesa no início de outubro de 1922. Após dois derrames menores em 13 e 16 de dezembro de 1922, ele sofreu, em 10 de março de 1923, um derrame agudo, do qual nunca se recuperou e após o qual não mais tomou parte na política.

Depois do último derrame sofrido por Lênin, Trotsky, com um olho na liderança, aumentou sua atividade faccionista e intensificou seus ataques vis e caluniosos contra a direção do Partido, suas instituições centrais e sua política. A 8 de outubro de 1923, ele enviou uma carta ao Comitê Central na qual afirmava que o país estava sendo inexoravelmente levado pela direção do Partido a uma catástrofe, que para ser evitada ele exigia maior democracia interna no Partido. Descontando a sua verborréia trotskista, isto significava o direito de formar facções. Um grupo de 46 seguidores de Trotsky também apresentou um manifesto - conhecido como a Declaração dos 46 - do mesmo teor. A carta de Trotsky e a Declaração dos 46 foram discutidas e condenadas em uma reunião plenária conjunta do Comitê Central da Comissão de Controle Central, com representantes de 10 das maiores organizações do Partido, em outubro de 1923.

Trotsky deu seguimento a sua carta com um panfleto intitulado Novo Curso, no qual, em adição à proposta por maior democracia no Partido, ele acusava os velhos bolcheviques - a direção do Partido - de degeneração. Ele contrapunha jovens, especialmente estudantes, a bolcheviques veteranos, declarando que os primeiros seriam o barômetro do Partido.

Ao falar da degeneração da "velha guarda", Trotsky tinha usado a expressão, 'nós, os velhos bolcheviques', que provocou Stalin a fazer esta observação, plena de sarcasmo mordaz:

"Primeiro, devo dissipar um engano possível. Como é evidente... Trotsky se inclui entre os bolcheviques da velha guarda, mostrando-se assim disposto a assumir a culpa que pode ser atribuída aos da velha guarda, se de fato estes estão no rumo da degeneração. Deve-se admitir que essa disposição de auto-sacríficar-se é indubitavelmente um traço nobre. Contudo, devo proteger Trotsky de Trotsky, porque,

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por razões óbvias, ele não pode, e não deveria, assumir a responsabilidade pela possível degeneração dos principais quadros da velha guarda bolchevique..."

Com mais do que uma referência implícita ao longo passado menchevique de Trotsky, Stalin, embora admitisse a possibilidade de degeneração da velha guarda bolchevique, prossegue acrescentando:

"Não obstante, há uma série de elementos dentro de nosso Partido que é capaz de dar ensejo a um perigo real de degeneração de certas fileiras de nosso Partido. Tenho em mente aquela seção dos mencheviques que se juntou ao nosso Partido de má vontade e que ainda não se livrou de seus hábitos oportunistas" (Collected Works, Vol. 5 p. 395).

A Décima Terceira Conferência do RCP(B), ocorrida em 16-18 de janeiro de 1924, condenou fortemente o facciosismo de Trotsky e seus seguidores, declarando que "a atual oposição não é apenas uma tentativa de revisar o bolchevismo, não apenas um afastamento flagrante do leninismo, porém um patente desvio pequeno-burguês. Não há qualquer dúvida de que esta oposição espelha a pressão da pequena-burguesia sobre a posição do partido proletário e de sua política" (Resolução sobre os Resultados da Discussão e sobre o Desvio Pequeno-Burguês no Partido -PCUS, in Resoluções, etc. Vol. 2).

A morte de Lênin e a tentativa de Trotsky de substituir o leninismo pelo trotskismo

Lênin, após ainda outro derrame na manhã de 21 de janeiro, de 1924, morreu ao anoitecer. Trotsky, embora recém-chegado no Partido, tinha se convencido de que ele apresentava melhores qualificações para suceder Lênin do que velhos bolcheviques confiáveis e tarimbados, tais como Stalin. Assim, em outubro de 1924, Trotsky publicou uma introdução a suas obras escolhidas, intitulada Lições de Outubro, que pretendia tratar das razões para a vitória bolchevique na Revolução de Outubro. Tendo feito referências rituais gerais nela sobre a necessidade de um partido revolucionário para o sucesso de uma revolução, Trotsky depreciava o papel do Partido Bolchevique e exaltava sua própria participação na Revolução, insinuando que Lênin tinha subitamente mudado sua posição prévia para aquela de Trotsky, fato que seria a única razão do sucesso da Revolução de Outubro. Ele também retirou de dentro do armário sua velha e muito desacreditada teoria da 'revolução permanente', argüindo que colisões hostis entre a vanguarda do proletariado e amplas massas do campesinato eram inevitáveis. A leitura de suas Lições de Outubro dá a impressão de que foi Trotsky quem organizou a vitória de Outubro.

Em outras palavras, o homem que tinha lutado contra o bolchevismo e o leninismo por longos 14 anos, que tinha se juntado aos mencheviques e liquidacionistas para se opor à construção, pelos bolcheviques de Lênin, do Partido revolucionário proletário capaz de dirigir o proletariado e as amplas massas na conquista do poder político, que tinha passado sua vida opondo-se à teoria de Lênin da revolução proletária com sua absurda teoria da 'revolução permanente', que tinha se oposto ao lema bolchevique de derrota dos governos próprios de cada um, na guerra imperialista (a primeira guerra mundial) com sua divisa chauvinista demandando Nem

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vitória nem derrota, repentina e providencialmente, entrou em cena em Petersburgo para salvar a revolução do grupo assustado e inútil que constituía o Comitê Central do Partido Bolchevique, do qual a maioria, de acordo com este conto de fadas digno das Mil e Uma Noites, opunha-se à insurreição de outubro!!

Nada poderia ser mais falso. O papel especial de Trotsky em outubro originou-se em John Reed, o autor de Dez Dias que Abalaram o Mundo, que, estando distante do Partido Bolchevique, não tinha conhecimento da reunião secreta de seu Comitê Central a 23 de outubro de 1917 e por isso acreditou nos mexericos espalhados por gente como Sukhanov. Esses contos de fadas sobre o papel especial de Trotsky em Outubro foram mais tarde disseminados e repetidos em vários panfletos escritos pelos trotskistas, inclusive o panfleto de Syrkin sobre Outubro. Após a morte de Lênin, Trotsky apoiou fortemente esses rumores em seus pronunciamentos literários.

Como estava sendo feita uma tentativa sistemática pelos trotskistas de re-escrever a história de Outubro e envolver a juventude soviética em tais lendas, Stalin, em um discurso pronunciado no Pleno do Grupo Comunista do AUCC-TIP, refutou - referindo-se a fatos concretos - estas histórias fantásticas das Mil e Uma Noites com sua maneira caracteristicamente devastadora. Citando as minutas da reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique em 23 de outubro de 1917, ele provou que a resolução sobre a insurreição foi adotada por uma maioria de 10 contra 2; que o mesmo encontro elegeu um centro político, chamado de Burô político, para dirigir a insurreição, sendo os membros do Centro Lênin, Zinoviev, Stalin, Kamenev, Trotsky, Sokolnikov e Bubnov. Assim, o Centro incluiu mesmo Zinoviev e Kamenev, que tinham sido os únicos a votarem contra a resolução da insurreição. Isto foi possível a despeito do desacordo político entre eles porque havia na época uma unidade de visões entre esses dois (Zinoviev e Kamenev) e o resto do Comitê Central sobre questões fundamentais "como o caráter da revolução russa, as forças propulsoras da revolução, o papel do campesinato, os princípios de direção do Partido e assim por diante". (Stalin, Collected Works, Vol. 6, p. 341J. Assim, a decisão sobre a insurreição foi tomada pelo Comitê Central e apenas pelo Comitê Central. Donde, a direção política da insurreição estava firmemente nas mãos do Comitê Central.

Quanto à lenda de que Trotsky desempenhou um papel 'especial', tendo 'inspirado' e sido o 'único líder' da insurreição de outubro - esta lenda foi divulgada por Lentsner e Stalin lida com ela do seguinte modo:

"Os trotskistas estão vigorosamente espalhando os rumores de que Trotsky inspirou e foi o único líder da insurreição de Outubro. Estes rumores estão sendo difundidos com zelo excepcional pelo assim chamado editor dos trabalhos de Trotsky, Lentsner. O próprio Trotsky, ao evitar consistentemente mencionar o Partido, o Comitê Central e o Comitê de Petrogrado do Partido, por nada dizer sobre o papel dirigente dessas organizações na insurreição de Outubro, voluntária ou involuntariamente, ajuda a espalhar os rumores sobre o papel especial que supostamente desempenhou na insurreição. Longe de mim negar a Trotsky, indubitavelmente, um papel importante na insurreição. Devo dizer, entretanto, que Trotsky não desempenhou qualquer papel especial na insurreição de Outubro, nem poderia fazê-lo; sendo Presidente do Soviete

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de Petrogrado, ele meramente deu curso à vontade dos corpos apropriados do Partido, que dirigiram todos os passos que Trotsky deu. Para filisteus como Sukhanov, tudo isto pode parecer estranho, porém os fatos, os verdadeiros fatos, confirmam total e plenamente o que estou a dizer" (Ibid, pp. 341-342).

Stalin então passa a fazer um exame das minutas da reunião do Comitê Central ocorrida em 29 de outubro de 1917. Além dos membros do Comitê Central, estavam presentes à reunião representantes do Comitê de Petrogrado, assim como representantes de organizações militares, comitês de fábricas, sindicatos e ferroviários. Nesta reunião, a resolução de Lênin sobre a insurreição foi adotada por uma maioria de 20 contra 2, com três abstenções. Nesta reunião também foi eleito um centro prático para a direção organizacional da insurreição. Para este centro prático foram eleitos os cinco seguintes membros: Sverdlov, Stalin, Dzerzhinksy, Bubnov e Uritsky. Ouçamos Stalin:

"Funções do centro prático: dirigir todos os órgãos práticos da insurreição, em conformidade com as diretivas do Comitê Central. Assim, como vocês vêem, algo 'terrível' aconteceu nesta reunião do Comitê Central, isto é, 'é estranho relatar', o "inspirador', a 'figura chave', o 'único líder' da insurreição, Trotsky não foi eleito para o centro prático, que foi convocado para dirigir a insurreição. Como se pode reconciliar isto com a opinião corrente sobre o papel especial de Trotsky? Não há em tudo isso algo 'estranho', como Sukhanov ou os trotskistas diriam? E, todavia, falando estritamente, nada há de estranho sobre isso, pois nem no Partido nem na insurreição de outubro Trotsky desempenhou qualquer papel especial, nem poderia fazê-lo, pois ele era um homem relativamente novo no Partido no período de outubro. Ele, como todos os trabalhadores responsáveis, simplesmente cumpriam a vontade do Comitê Central e de seus órgãos. Quem tiver familiaridade com os mecanismos da direção do Partido Bolchevique não terá dificuldade em entender que não poderia ser de outro modo; teria sido bastante para Trotsky ir de encontro à vontade do Comitê Central para ter sido privado de qualquer influência sobre o curso dos acontecimentos. Esta conversa sobre o papel especial de Trotsky é uma lenda que está sendo espalhada por serviçais mexeriqueiros do 'Partido'.4

"Isto por certo não significa que a insurreição de outubro não teve seu inspirador. Teve seu inspirador e líder, porém foi Lênin, e nenhum outro senão Lênin, este mesmo Lênin, cuja resolução o Comitê Central adotou quando decidiu a questão da insurreição, este mesmo Lênin que, a despeito do que diz Trotsky, não foi impedido, por estar escondido, de ser o real inspirador da insurreição. E tolo e ridículo tentar agora, fazendo mexericos acerca de Lênin ter estado escondido, para obscurecer o indubitável fato de que o inspirador da insurreição foi o dirigente do Partido, VI. Lênin."

"Tais são os fatos"(Collected Works, vol. 6 pp. 342-344j.

Continua Stalin:

"E verdade, dizem-nos, que não se pode negar que Trotsky lutou bem no período de outubro. Sim, isso é verdade, Trotsky de fato lutou bem em outubro, mas Trotsky não foi o único que lutou bem no período de outubro. Mesmo pessoas como os

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Revolucionários Socialistas de Esquerda, que então se mantiveram lado a lado com os bolcheviques, também lutaram bem. Em geral, devo dizer que, no período de uma insurreição vitoriosa, quando o inimigo está isolado e a insurreição está crescendo, não é difícil lutar bem. Nestes momentos, mesmo pessoas relutantes tornam-se heróis."

"A luta proletária não é, entretanto, um avanço ininterrupto, uma cadeia ininterrupta de vitórias. A luta proletária também tem seus retrocessos, suas derrotas. O revolucionário genuíno não é aquele que demonstra coragem no período de uma insurreição vitoriosa, mas aquele que, embora lute bem quando do avanço vitorioso da revolução, também demonstra coragem quando a revolução está no refluxo, quando o proletariado sofre derrota; que não perde a cabeça e não se amedronta quando a revolução sofre reveses, quando o inimigo tem sucesso; que não entra em pânico ou se entrega ao desespero quando a revolução está em um período de retrocesso. Os Revolucionários Socialistas de Esquerda não lutaram mal no período de outubro e apoiaram os bolcheviques. Porém, quem não sabe que aqueles "bravos" lutadores foram tomados de pânico no período de Brest, quando o avanço do imperialismo alemão levou-os ao desespero e à histeria? É um fato muito lamentável, mas indubitável, que Trotsky, que lutou bem no período de outubro, no período de Brest, no período em que a revolução sofreu reveses temporários, não teve a coragem para revelar suficiente firmeza naquele momento difícil e abster-se de seguir as pegadas dos Socialistas Revolucionários de Esquerda. Sem dúvida, aquele era um momento difícil; tinha-se de manifestar excepcional coragem e frieza imperturbável para não desanimar, retrair-se na hora certa, aceitar a paz na hora certa, retirar o exército proletário para fora do alcance dos golpes do imperialismo alemão, preservar a reserva camponesa e, após obter um alívio desta maneira, golpear o inimigo com força renovada. Infelizmente, a Trotsky faltou esta coragem e firmeza revolucionária naquele momento difícil."

"Na opinião de Trotsky, a lição principal da revolução proletária foi a de "não amedrontar-se" durante outubro. Isto é um erro, pois a afirmação de Trotsky contém apenas uma parcela da verdade sobre as lições da revolução. A verdade total sobre as lições da revolução proletária foi não amedrontar-se, não apenas quando a revolução estava avançando, mas também quando ela estava em retrocesso, quando o inimigo estava levando vantagem e a revolução estava sofrendo reveses. A revolução não terminou em outubro. Outubro foi apenas o começo da revolução proletária. É mau amedrontar-se quando o curso da revolução está avançando; porém, é pior amedrontar-se quando a revolução está passando por severas provações, após o poder ter sido capturado. Manter o poder no amanhã da revolução não é menos importante do que capturar o poder"(Ibid, pp. 344-345j.

Stalin perguntou: "Com que propósito Trotsky necessita de toda essa lenda sobre outubro e a preparação para outubro, acerca de Lênin e do Partido de Lênin? Qual é o propósito dos novos pronunciamentos literários de Trotsky contra o Partido?... (ibid. p. 363J.

À guisa de resposta, Stalin continua:

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"Trotsky afirma que tudo isto é necessário para o propósito de 'estudar' outubro. Contudo, não é possível estudar outubro sem dar outro coice no Partido e em seu dirigente Lênin? Que tipo de 'história de outubro' é essa, que começa e termina com a tentativa de desacreditar o principal dirigente da insurreição de outubro, desacreditar o Partido, que organizou e conduziu a insurreição? ... Esta não é a maneira de estudar outubro. Esta não é a maneira de escrever a história de outubro. Obviamente, há um 'projeto' diferente aqui, e tudo leva a mostrar que este 'projeto' é que Trotsky, por meio de seus pronunciamentos literários, está fazendo outra (ainda outra!) tentativa de criar condições para substituir o leninismo pelo trotskismo. Trotsky necessita 'desesperadamente' desacreditar o Partido, e seus quadros que conduziram a insurreição, no sentido de, após desacreditar o Partido, proceder ao descrédito do leninismo. E é necessário para ele desacreditar o leninismo para introduzir o trotskismo como a 'única' ideologia 'proletária' (não riam!). Tudo isto certamente (oh, certamente!) sob a bandeira do leninismo, de tal forma que a operação de substituição seja feita 'tão indolor quanto possível'.

"Esta é a essência dos últimos pronunciamentos literários de Trotsky" (ibid., pp. 363-364).

Trotskismo - um ponto de encontro para a contra-revolução

Stalin prossegue concluindo que o perigo era "...que o trotskismo, devido a seu conteúdo inteiro, mantém toda a chance de tornar-se o centro e o ponto de encontro dos elementos não proletários que estão lutando para enfraquecer, para desintegrar a ditadura do proletariado", face ao que era "dever do Partido sepultar o trotskismo como tendência ideológica" (Ibid.p. 373).

Nos anos que se seguiram, o próprio Trotsky foi obrigado a admitir que "na esteira desta vanguarda (isto é, a oposição trotskista] arrastava-se a rabeira de todo tipo de carreiristas descontentes, desgostosos e mesmo aflitos", acrescentando, porém, que a oposição tinha decidido libertar-se de "seus companheiros de viagem acidentais e não convidados". Ao contrário, como o conteúdo das páginas que se seguem revela, foram precisamente os elementos não proletários, com sua hostilidade irresponsável para com a ditadura do proletariado, sua luta para a desintegração da ditadura do proletariado, que apoiaram a oposição trotskista na URSS e que continuaram a apoiá-la no exterior, após a expulsão dele da União Soviética. Foi precisamente o mesmo tipo de pessoa que desde aquela época tinha se reunido em torno do trotskismo, dirigida por um ódio inato ao marxismo-leninismo e à ditadura do proletariado.

Mesmo o trotskista Deutscher é compelido a dizer: "Fora do partido, a frustração revolucionária informe mesclava-se com as distintas tendências contra-revolucionárias. Desde que o grupo dirigente isolou Trotsky como alvo de ataque, ele automaticamente atraiu as simpatias espúrias de muitos que até então o odiavam. Quando ele fez seu aparecimento nas ruas de Moscou [na primavera de 1924], foi espontaneamente aplaudido por multidões nas quais comunistas idealistas caminhavam ombro a ombro com mencheviques, social-revolucionários e a nova burguesia da NEP, todos aqueles que, de fato, por diversas razões, clamavam por

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mudança [isto é, pela desintegração da ditadura do proletariado através do enfraquecimento e da desintegração do Partido Bolchevique]" {lsaac Deutscher, Stalin, Pelican, 1966,p.279).

Em sua reunião plenária realizada entre 17 e 20 de janeiro de 1925, o Comitê Central do RCP(B) caracterizou o trotskismo como uma "variante do menchevismo" e os ataques incessantes de Trotsky ao bolchevismo como uma tentativa de substituir o leninismo pelo trotskismo. Esta reunião resolveu remover Trotsky do cargo de Presidente do Conselho Revolucionário Militar da URSS, e ele foi "advertido nos termos mais enfáticos de que ser membro do Partido Bolchevique exige subordinação real, não verbal, à disciplina do Partido e à renúncia total e incondicional de qualquer ataque às idéias do leninismo".

Emergência da Nova Oposição

Após a reunião acima ter-se pronunciado contra Trotsky e o advertido de que sua atividade divisionista e sua propaganda antileninista era incompatível com a condição de membro do Partido, Trotsky recolheu-se por um tempo, aguardando uma chance. Esta chance veio quando Zinoviev e Kamenev - dois velhos bolcheviques -, amedrontados pelas dificuldades e dominados pelo derrotismo, passaram à oposição, após a 14° Conferência do Partido (abril de 1925) ter afirmado a possibilidade de construção do socialismo na URSS. Derrotistas e céticos incorrigíveis, Zinoviev e Kamenev negaram a possibilidade de construção do socialismo na União Soviética e deste modo encontraram-se no campo comum com o pessimismo, o ceticismo e o derrotismo personificado, a saber, Trotsky, o autor da teoria da 'revolução permanente', a essência da desesperança.

A Nova Oposição (como foi chamada), dirigida por Zinoviev e Kamenev, deslanchou ataques maliciosos à linha leninista do Partido (quanto à possibilidade de construção do socialismo) no 14° Congresso do Partido, que se iniciou em dezembro de 1925. Após sofrer acachapante derrota naquele Congresso, a Nova Oposição, chefiada por Zinoviev e Kamenev (que ainda recentemente tinha procurado remover Trotsky da direção e que Trotsky, por sua vez, tinha tentado eliminar da direção do Partido) abraçou o trotskismo abertamente. Assim, surgiu um bloco de oposição anti-Partido, para o qual convergiram os remanescentes dos vários grupos de oposição anteriormente esmagados pelo Partido - todos motivados por seu ódio e oposição à política do Partido de fortalecimento da ditadura proletária e de construção do socialismo na URSS.

Os dirigentes desta oposição, Trotsky, Zinoviev e Kamenev, "concedendo uns aos outros a anistia", como Stalin colocou, e usando como pretexto e ocasião o colapso da Greve Geral Britânica (pelo qual eles culparam a liderança do Partido Bolchevique, por supostamente não ter dado direção e orientação aos operários britânicos), produziram sua plataforma, escrita por Trotsky, que foi apresentada em parte no Pleno do Comitê Central de 6-9 de abril de 1926 e completamente na reunião de 14-23 de julho de 1926. Em flagrante quebra da disciplina partidária, a oposição organizou manifestações em fábricas, reivindicando ampla discussão de sua plataforma. Os operários comunistas veementemente denunciaram os dirigentes da

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oposição e fizeram com que se retirassem dessas reuniões. Confrontados com esta derrota humilhante, os dirigentes da oposição bateram em retirada e enviaram uma declaração, a 16 de Outubro de 1926, na qual eles confessavam seus erros e prometiam desistir, no futuro, de sua atividade divisionista contra o Partido. Nas palavras de Ian Grey:

"Assustados por sua própria temeridade e imprudência, os seis dirigentes -Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Pyatakov, Sokolnikov e Evdokimov - confessaram sua culpa em uma declaração pública e juraram não prosseguir na atividade faccionista no futuro. Eles também denunciaram seus próprios seguidores da ala esquerda no Cominterm e o grupo de Oposição dos Operários"(Ian Grey, Stalin, Man of History, Abacus, 1982, pp. 213-214).

Formação de um partido ilegal

A declaração da oposição de outubro de 1926 revelou-se totalmente insincera e completamente hipócrita. Na realidade, a oposição tinha se transformado em um partido ilegal, com um sistema de filiação separado, comitês distritais e um centro. O partido ilegal, com uma tipografia secreta, mantinha reuniões secretas nas quais a plataforma faccionista da oposição e as táticas a serem adotadas contra o Partido Bolchevique eram discutidas - tudo isto em violação das decisões do 10° Congresso do Partido, banindo a formação e manutenção de facções separadas dentro do Partido.

Em outubro de 1926, o Pleno do Comitê Central, em comum acordo com a Comissão Central de Controle, formulou uma severa advertência aos dirigentes da oposição, removendo Trotsky do Politburo e Kamenev de sua candidatura a membro deste órgão. Zinoviev foi removido do Cominterm.

A 15a Conferência do Partido de Toda a União (outubro-novembro de 1926) caracterizou a oposição Trotsky-Zinoviev como um desvio menchevique no partido, formulando a advertência de que continuar no caminho do menchevismo leva-ria a oposição a ser expulsa do Partido.

No começo de 1927, a oposição renovou seu ataque à política do Comintern frente à revolução chinesa, culpando o Comintern e o PCUS pelos reveses da revolução chinesa. Aproveitando-se das dificuldades internas, assim como da deterioração na posição internacional da URSS, a oposição retomou mais uma vez a assim chamada 'plataforma de 83'. Renovando suas calúnias contra o Partido, a oposição afirmava nesta plataforma que o governo soviético tinha a intenção de abolir o monopólio do comércio exterior e conceder direitos políticos aos kulaks. Tal calúnia não poderia senão encorajar os kulaks e igualmente o imperialismo a colocar pressão sobre o governo soviético, na tentativa de forçar precisamente tais concessões. Além disso, a oposição demagogicamente demandava maior liberdade no Partido, que para ela significava liberdade para formar facções e para "entregar-se a abusos sem paralelo e uma intolerável difamação do Comitê Central, do PCUS(B) e da ECCI. Eles se queixam do 'regime' dentro do Comintern e do PCUS(B). Essencial-mente, o que eles querem é liberdade para desorganizar o Comintern e o PCUS(B)" (Stalin, Collected Works, Vol. 9, p. 317).

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A luta do trotskismo contra o 'stalinismo' - uma continuação da luta contra o

leninismo

A oposição trotskista estava lutando era contra o regime estabelecido pelo 10° Congresso, sob a orientação de Lênin - um regime designado para fortalecer a ditadura do proletariado através da unidade e disciplina de ferro dentro do Partido Bolchevique, banindo o facciosismo. Os princípios subjacentes do regime estabelecido pelo 10° Congresso eram de que, "enquanto a democracia interna no Partido e a critica metódica dos defeitos e erros do Partido era permitida, nenhum facciosismo, qualquer que fosse, seria permitido, e todo facciosismo deveria ser abandonado, sob pena de expulsão do Partido" (Stalin, The Political Complexion of the Russian Opposition, Collected Works, Vol. 10 p. 166).

"Eu asseguro", dizia Stalin, "que os trotskistas já tinham começado sua luta contra o regime leninista no Partido no tempo de Lênin e que a luta que os trotskistas estão empreendendo agora é uma continuação da luta contra o regime no Partido, que eles já empreendiam no tempo de Lênin" (ibid.).

Como a plataforma da oposição não conseguiu nenhum apoio dos trabalhadores, ela retraiu-se outra vez e encaminhou outra declaração ao Comitê Central, em 8 de agosto de 1927, na qual prometia outra vez cessar sua atividade faccionista, apenas para violá-la um mês mais tarde.

Quando as preparações do 15° Congresso do Partido estavam em curso, a oposição formulou a terceira declaração de seus objetivos e políticas. Tinha de ser colocado um fim no facciosismo da oposição, em sua atividade desorganizadora e no absurdo das repetidas violações de sua declaração de admissão de culpa e de promessas de cessar sua atividade faccionista. Assim, ao final de outubro de 1927, o Comitê Central, em reunião conjunta com a Comissão Central de Controle, expulsou Trotsky e Zinoviev do Comitê Central, decidindo ademais submeter todos os documentos relativos à atividade faccionista da oposição trotskista ao 15° Congresso, para consideração por este.

Vale a pena destacar que durante a discussão no Partido que precedeu o 15° Congresso, 724.000 membros votaram pela política leninista do Comitê Central, enquanto irrisórios 4.000 votos aprovaram a plataforma do bloco de oposição trotskista-zinovievista, ou seja, cerca de metade de um por cento do número de membros que tomaram parte nesse debate.

Por que a oposição fracassou?

A oposição fracassou em obter apoio nas organizações do Partido, porque sua linha era de bancarrota total - a linha de pretender substituir o leninismo pelo trotskismo., enquanto o Partido desejava perseguir fielmente a linha do leninismo - aquela do bolchevismo revolucionário.

"Como, então," perguntava Stalin, "explicamos o fato de que, a despeito de sua capacidade oratória, a despeito de sua vontade de liderar, a despeito de suas

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habilidades, Trotsky foi derrubado da direção do grande Partido que é chamado o PCUS(B)?" E respondia: "A razão é que a oposição tentou substituir o leninismo pelo trotskismo, 'melhorar' o leninismo por meio do trotskismo. Mas o Partido quer permanecer fiel ao leninismo, a despeito de todas as diversas artimanhas dos aristocratas decadentes no Partido. Esta é a causa básica pela qual o Partido, que tinha feito três revoluções, achava necessário dar as costas para Trotsky e para a oposição como um todo" (Collected Works, vol. 10, p. 165).

Falando no 15° Congresso do Partido, Stalin voltou a esta questão outra vez. "Como pôde acontecer que o Partido, como um todo, e depois dele a classe operária também, assim radicalmente, isolasse a oposição? Afinal, a oposição é chefiada por pessoas bem conhecidas, com nomes bem conhecidos, pessoas que sabem como fazer tornar-se conhecidas ..., pessoas que não sofrem de modéstia e são capazes de tocar suas próprias trombetas, para cobrar muito caro por suas mercadorias."

"Aconteceu porque o grupo dirigente da oposição provou ser um grupo de intelectuais pequeno-burgueses divorciados da vida, divorciados da revolução, divorciados do Partido, distantes da classe operária"[Stalin, ibid., p. 345J.

Do facciosismo dentro do Partido para a luta contra-revolucionária contra o regime

soviético

Confrontado com a derrota total dentro do Partido, politicamente falido e isolado dos membros do Partido, o bloco trotskista-zinovievista mudou de uma atividade faccionista dentro do Partido para uma luta anti-soviética e contra-revolucionária contra o regime bolchevista, traindo nesse processo todos os elementos anti-soviéticos para o seu lado.

Em 7 de novembro de 1927, no décimo aniversário da Revolução de Outubro, Trotsky e Zinoviev organizaram demonstrações anti-Partido em Moscou e Leningrado. Pobremente concorridas, essas demonstrações contra-revolucionárias fo-ram facilmente dispersadas pelos representantes da classe trabalhadora, sob a liderança do PCUS.

Por suas ações em 7 de novembro, a oposição tinha dado plena prova de sua conversão em uma força contra-revolucionária abertamente hostil à ditadura do proletariado na URSS. Tendo infringido todas as normas e regras da vida partidária, os trotskistas agora embarcavam em uma carreira de violação das leis do Estado que, em devido curso, levou-nos a assassinato, sabotagem, vandalismo e, finalmente, aliança com o fascismo.

Em 14 de novembro de 1927, o Comitê Central expulsou Trotsky e Zinoviev do Partido, enquanto outros membros de seu grupo foram removidos do Comitê Central e da Comissão Central de Controle.

O 15° Congresso do Partido (dezembro de 1927), notando que a oposição tinha rompido ideologicamente com o leninismo, tinha degenerado em menchevismo, tinha tomado o rumo da capitulação ao imperialismo internacional e à burguesia interna e

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tinha se tornado um instrumento de luta contra a ditadura do proletariado, entusiasticamente, endossou estas expulsões. Além disso, expulsou mais 75 membros do Bloco Trotsky-Zinoviev, assim como 15 Centralistas democráticos. Por outro lado, o Congresso instruiu as organizações do Partido a expulsarem de suas fileiras trotskistas incorrigíveis e tomarem medidas para reeducar os soldados rasos da oposição no espírito do leninismo.

Após o Congresso, muitos membros ordinários das oposições reconheceram seus erros, romperam com o trotskismo e foram reintegrados como membros do Partido. Em janeiro de 1928 Trotsky foi exilado em Alma-Ata, na Ásia Central (Cazaquistão ). Mesmo ali ele continuou clandestinamente a dedicar-se a suas atividades anti-Partido, anti-soviéticas. Conseqüentemente, em janeiro de 1929 ele foi expulso da União Soviética.

Como a oposição tentava pouco a pouco mudar o Partido Bolchevique de uma postura leninista para aquela do trotskismo, e como o Partido desejava permanecer um Partido Leninista, foi apenas natural que o Partido desse as costas à oposição e levantasse mais alto a bandeira do leninismo. Isto, por si só, explica porque, como disse Stalin, "dirigentes do Partido de ontem tinham agora se tornado renegados". (Collected Works, vol. 10, p. 199).

Nenhum fator pessoal, senão o afastamento do leninismo, foi a causa do fracasso do

trotskismo

Em lugar de reconhecer esta verdade, a oposição trotskista em sua época, e os trotskistas desde então, têm explicado a derrota da oposição por fatores pessoais. Foi assim que Stalin descreveu as raízes históricas da luta de Trotsky contra o bolchevismo e as razões para o fracasso e a bancarrota da linha da oposição:

"A oposição pensa que sua derrota pode ser ' explicada' por fator pessoal, pela rudeza de Stalin... Esta é uma explicação muito fácil! É magia, não uma explicação.

Trotsky tem lutado contra o leninismo desde 1904. De 1904 até a revolução de fevereiro de 1917, ele esteve unido aos mencheviques, lutando o tempo todo contra o Partido de Lênin. Durante esse período, Trotsky sofreu uma série de derrotas nas mãos do Partido de Lênin. Por quê? Talvez a rudeza de Stalin fosse a culpada? Mas Stalin não era ainda o secretário do Comitê Central naquela época; ele não estava no exterior, mas na Rússia, em luta subterrânea contra o czarismo, enquanto a luta entre Trotsky e Lênin se dava no exterior. Assim, o que a rudeza de Stalin tinha a ver com isso?

Durante o período da Revolução de Outubro até 1922, Trotsky, já como membro do Partido Bolchevique, decidiu fazer duas "grandes" investidas contra Lênin e seu Partido: em 1918-na questão da paz de Brest; e em 1921 - na questão sindical. Porém, as duas investidas terminaram com a derrota de Trotsky. Por quê? Talvez a culpa fosse da rudeza de Stalin? Mas nessa época Stalin ainda não era secretário do Comitê Central. Os postos do secretariado eram então ocupados por trotskistas notórios. Assim, o que teve a ver a rudeza de Stalin com isso?

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Mais tarde, Trotsky fez uma série de novas investidas contra o Partido (1923, 1924, 1926, 1927), e cada investida terminou com Trotsky sofrendo uma nova derrota.

Isso tudo não torna óbvio que a luta de Trotsky contra o Partido Leninista tem raízes históricas de longo prazo? Isso tudo não torna óbvio que a luta que o Partido está agora empreendendo contra o trotskismo é uma continuação da luta que o Partido, dirigido por Lênin, desenvolveu de 1904 em diante?

Isso tudo não torna óbvio que as tentativas dos trotskistas de substituir o leninismo pelo trotskismo são a principal causa do fracasso e da falência de toda a linha da oposição?

Nosso Partido nasceu e cresceu no calor das batalhas revolucionárias. Não é um Partido que tenha crescido em um período de desenvolvimento pacífico. Por essa mesma razão, ele é rico em tradições revolucionárias e não faz um fetiche de seus dirigentes. Em certa época, Plekhanov era o homem mais popular no Partido. Mais do que isso, ele foi o fundador do Partido, e sua popularidade era incomparavelmente maior do que a de Trotsky ou Zinoviev. Contudo, a despeito disso, o Partido desviou-se de Plekhanov logo que ele começou a afastar-se do marxismo e passar para o oportunismo. É surpreendente, então, que pessoas que não são assim tão 'grandes', pessoas como Trotsky e Zinoviev, encontrem-se na rabeira do Partido, depois de começarem a se afastar do leninismo?"(Collected Works, Vol. 10 pp. 199-201).

Assim como a luta empreendida contra o trotskismo pelo Partido Bolchevique, dirigido por Stalin de 1924 em diante, era uma continuação da luta que o Partido dirigido por Lênin tinha empreendido de 1903 em diante, igualmente a luta de Trotsky contra o Partido Bolchevique, dirigido por Stalin, era a continuação da luta que o trotskismo empreendera contra o Partido Bolchevique quando ele era dirigido por Lênin. Lênin tinha sido o principal alvo das calúnias de Trotsky, de 1903 a 1917. Após a morte de Lênin, Stalin veio ocupar esta honrosa posição, tornou-se o principal alvo dos ataques da oposição. Isto foi porque Stalin, por defender fielmente e levar avante a linha leninista, tornou-se o principal porta-voz representante do Partido Bolchevique e, nessa condição, atraiu a ira da oposição, em suas repetidas e mal sucedidas tentativas de substituir o leninismo pelo trotskismo. Não foi por acaso a suposta luta leninista de Trotsky contra um suposto usurpador externo, Stalin, como colocado pelo conto de fadas trotskista; ao contrário, foi o firme e infatigável leninista (Stalin) que brilhantemente continuou o assalto leninista vitorioso à ideologia antibolchevique e pequeno-burguesa do trotskismo. Basta isto para explicar a aversão do trotskismo a Joseph Stalin, de quem a simples menção do nome faz espumar de raiva os aristocratas trotskistas. Assim Stalin descreveu a aversão da oposição a ele:

"Antes de tudo, sobre o fator pessoal. Vocês sabem como assiduamente os oposicionistas lançam injúrias contra Stalin, injuriam-no com todas as suas forças. A razão pela qual os principais ataques foram dirigidos contra Stalin é porque Stalin conhece todas as trapaças da oposição, melhor, talvez, do que alguns de nossos camaradas, e não é fácil, ouso dizer, enganá-lo. Assim eles lançam seus golpes principalmente contra Stalin. Bem, que eles lancem suas injúrias o quanto quiserem.

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E o que é Stalin? Stalin é apenas uma figura menor. Tomemos Lênin. Quem não sabe que na época do bloco de agosto a oposição, dirigida por Trotsky, empreendeu uma campanha ainda mais indecente de calúnia contra Lênin? Ouçam Trotsky, por exemplo:

"As desagradáveis discussões sistematicamente provocadas por Lênin, este velho conhecedor do jogo, este explorador profissional de tudo que é atrasado no movimento operário russo, parecem uma obsessão sem sentido (Ver a Carta de Trotsky a Chkeidze, abril de 1913).

Notem a linguagem, camaradas! Notem a linguagem! É Trotsky escrevendo. E escrevendo sobre Lênin.

É surpreendente, então, que Trotsky, que escreveu de tal modo maledicente sobre o grande Lênin, cujo cadarço de sapato ele nem merecia amarrar, agora lance injúrias sobre um dos numerosos discípulos de Lênin - o camarada Stalin?

Mais do que isso. Eu penso que a oposição honra-me ao dirigir todo o seu ódio contra Stalin. E assim que deve ser. Acho que seria estranho e ofensivo se a oposição, que está tentando destruir o Partido, fosse elogiar Stalin, que está defendendo os princípios fundamentais do Partido Leninista" (Collected Works, vol. 10 pp. 177-178).

As previsões regulares de ruína, de Trotsky

Procedente da teoria da 'revolução permanente', anticientífica e pessimista, para não dizer antileninista, que foi refutada pela experiência das três revoluções russas e por todo o desenvolvimento social na URSS e em outros lugares, Trotsky não poderia prever nada senão a ruína, e foi o que fez. O tema subjacente e o propósito de todas suas declarações entre 1923 e 1940 eram negar qualquer possibilidade de construção do socialismo na URSS e assim minar a confiança do proletariado soviético na construção de uma nova sociedade por seus próprios esforços, se a revolução mundial não viesse em seu socorro. Isto foi acompanhado por ataques virulentos à única garantia para o êxito da URSS, durante este período histórico de notáveis dificuldades e notáveis realizações, ou seja, a liderança leninista do Partido e do estado da ditadura do proletariado. Naturalmente, estes ataques estavam sempre escondidos sob a máscara de ataque ao 'aparato estatal burocrático', ou à 'burocracia stalinista', com o alegado desejo de melhorar a situação. E quando o desastre freqüentemente previsto não acontecia, isto só ensejava a Trotsky a oportunidade de discorrer sobre fictícios desastre geral, desilusão e desmoralização, como um meio de produzir o cumprimento de suas jeremiadas.

As previsões de degeneração do Partido no "Novo Curso", de Trotsky

Em 1923, na época da Nova Economia Política (NEP), Trotsky previu imediata ruína da ditadura do proletariado, através da "degeneração do aparato estatal em uma direção burguesa". Em seu Novo Curso,escrito em 1923, ele afirmava que o "Burocratismo tinha atingido desenvolvimento excessivo e verdadeiramente alarmante". Foi assim que ele previu a restauração do capitalismo através da NEP,

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afirmando que a quantidade em um certo estágio seria realmente transformada em qualidade.

"...O rápido desenvolvimento do capital privado ... mostraria que o capital privado está se interpondo cada vez mais entre o Estado dos operários e o campesinato, está adquirindo influência econômica e portanto política ... Tal ruptura entre a indústria e a agricultura soviéticas constituiria um grave perigo para a revolução proletária, um sintoma da possibilidade do triunfo da contra-revolução.

Quais são os parâmetros políticos pelos quais pode sobrevir a vitória da contra-revolução, se a hipótese econômica aqui prevista se realizar? ... O processo político assumiria em essência o caráter de degeneração do aparato do estado em uma direção burguesa ... Se o capital privado crescer rapidamente e terminar por fundir-se com o campesinato, as tendências contra-revolucionárias ativas dirigidas contra o Partido Comunista provavelmente prevalecerão ...

As tendências contra-revolucionárias podem encontrar apoio entre os kulaks, os intermediários, os varejistas, os concessionários, em suma, entre elementos muito mais capazes de circundar o aparato estatal do que o próprio Partido ...

...Os fenômenos sociais negativos que acabamos de citar e que agora alimenta a burocratização pode colocar a revolução em perigo, se continuarem a desenvolver-se ... o burocratismo no Estado e no aparelho do Partido é a expressão das tendências mais vexatórias inerentes à nossa situação, dos erros e desvios em nosso trabalho que ... podem minar as bases da revolução ... A quantidade, em certo estágio, será transformada em qualidade" (Capítulo 4).

Em tudo isso, Trotsky esquece completamente o papel da ditadura do proletariado. Certamente, a introdução da NEP liberou elementos capitalistas, no interior do país em particular; certamente era um retomo parcial ao capitalismo. Tudo isso era conhecido do autor da NEP, Vladimir Ilych Lênin. Porém, não havia outra forma de transição do comunismo de guerra para o socialismo, exceto através da NEP, ainda que esta última, expandindo elementos capitalistas no interior do país, implicasse o perigo de restauração capitalista. Este perigo, entretanto, esta possibilidade de restauração capitalista, nunca poderia ser realizada enquanto a ditadura do proletariado exercesse seu domínio férreo sobre as classes capitalistas hostis -os kulaks e os comerciantes. Era por isso que Lênin clamava pelo máximo fortalecimento da ditadura do proletariado. Isto, por sua vez, não poderia ser feito senão através da unidade da vontade e da disciplina férreas na direção do Partido Bolchevique. Por isso é que ele motivou o 10° Congresso do Partido a passar uma resolução, escrita por ele próprio, clamando para que as facções existentes dentro do Partido fossem desbaratadas incontinenti, que a formação de novas facções que no futuro fossem banidas e a declaração de não-aquiescência com esta resolução, por quem quer que fosse, resultaria em sua imediata expulsão do Partido. Trotsky, de sua parte, consistentemente minava a ditadura do proletariado, ao atacar virulentamente a direção do Partido, desacreditar o aparato do Partido e do Estado na URSS e desobedecer todas as normas e a disciplina do Partido Bolchevique.

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O fracasso das previsões de Trotsky

Não obstante a sabotagem trotskista, as previsões de Trotsky não se realizaram graças à direção leninista do Partido e do Estado durante este período muito difícil. Em lugar disso, a Rússia da NEP foi transformada realmente em uma vigorosa URSS socialista que então alcançou a coroação da glória de derrotar a poderosa máquina de guerra nazista quase por si só. Como a "degeneração", o "burocratismo destruidor das iniciativas", a "ossificação", a "alienação" e a "inquietude mórbida" previstas por Trotsky fracassaram em materializar-se, e a URSS começou a ser transformada através da coletivização e da industrialização orientadas pelos Planos Qüinqüenais, Trotsky intensificou, seus ataques à URSS e à direção do Partido Bolchevique - revelando no processo seu caráter horrendo de socialista de mercado, isto é, socialista burguês da variedade social-democrata.

Capitulacionista desprezível e covarde

Em 1933, Trotsky publicou seu panfleto Economia Soviética em Perigo, no qual ele se colocava em oposição a este segundo assalto ao capitalismo, isto é, o assalto montado através da industrialização e da coletivização - ambas medidas de significação histórica revolucionária mundial. Ele declarou que a "coletivização correta e economicamente sadia, em um dado estágio, NÃO DEVERIA LEVAR À ELIMINAÇÃO DA NEP, mas à REORGANIZAÇÃO GRADUAL DE SEUS MÉTODOS" (p. 32).

Em outras palavras, nenhuma tentativa deveria ser feita para eliminar o capitalismo em geral e o capitalismo no interior do país, em particular.

Ao estilo Gorbatchov, pretensamente defendendo algum tipo de controle do mercado, o método de Trotsky de controlar o mercado era deixar que ele controlasse a si próprio!

"A regulação do mercado", diz ele, "deve depender das tendências que estão sendo produzidas por intermédio dele" (p. 30).

Todo passo à frente revolucionário gigantesco da economia soviética naquela época, porque externo ao mercado, era retratado por este alto sacerdote do socialismo de mercado como desordem e "caos econômico". Diz ele:

"Ao eliminar o mercado e instalar em lugar dele bazares asiáticos, a burocracia tem criado ... as condições para as mais bárbaras flutuações de preços, e conseqüentemente colocou uma mina sob os cálculos comerciais.

Como resultado, o caos econômico tem sido redobrado" (p. 34).

Trotsky, que em dezembro de 1925, no 14° Congresso do Partido (CPSU), tinha tentado forçar no Partido a política de coletivização imediata do campesinato, quando as condições para tal coletivização estavam totalmente ausentes, este mesmo Trotsky, em 1933, quando a coletivização ia bem no caminho da consolidação, colocou-se em oposição à política de liquidação dos kulaks como classe, reivindicando em lugar disso

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o estabelecimento de "uma política de restringir severamente as tendências exploradoras dos kulaks" (p. 47).

Em outras palavras, o capitalismo não deveria ser eliminado no campo.

Rezando por milagres, Trotsky declarava: "As mercadorias devem ser adaptadas às necessidades humanas". A posição de Trotsky eqüivale a isto: "Contabilidade econômica é impensável sem relações de mercado'. Nesta visão, é deveras supreendente que Trotsky chegasse à conclusão de que: "É necessário deixar de lado o Segundo Plano Qüinqüenal. Fora com o entusiasmo histérico!'" (p.41).

Não admira então que Stalin, em seu Relatório ao 17° Congresso do Partido (26 de janeiro de 1934) tenha feito a seguinte observação sobre o programa trotskista:

"Sempre dissemos que os "Esquerdistas" são de fato Direitistas que mascaram seu direitismo com frases esquerdistas. Agora, os próprios esquerdistas confirmam a correção de nossa declaração. Tomemos os últimos pontos do "Boletim" trotskista. O que exigem os senhores trotskistas, sobre o que escreveram, de que forma o seu programa "Esquerdista" se expressa?Eles exigem: A DISSOLUÇÃO DAS FAZENDAS ESTATAIS, sob o argumento de que elas não compensam; A DISSOLUÇÃO DA MAIORIA DAS FAZENDAS COLETIVAS, sob o argumento de que são fictícias; O ABANDONO DA POLÍTICA DE ELIMINAR OS KULAKS; REVERSÃO PARA A POLÍTICA DE CONCESSÕES E ARRENDAMENTO PARA CONCESSIONÁRIOS DE UMA SÉRIE DE NOSSAS EMPRESAS INDUSTRIAIS, sob o argumento de que elas não compensam".

"Aí vocês têm o programa destes covardes desprezíveis e capitulacionistas - seu programa contra-revolucionário para restaurar o capitalismo na URSS!

Que diferença há entre este programa e aquele da extrema direita? Claro, nenhum. Segue-se que os "esquerdistas" associaram-se abertamente ao programa contra-revolucionário dos direitistas, afim de formar um bloco com eles e empreender uma luta conjunta contra o Partido''(Stalin, Collected Works, vol. 33 pp. 370-371).

As invectivas anti-soviéticas de Trotsky são úteis ao imperialismo

Embora os economistas burgueses não tenham aprendido nada com A Economia Soviética em Perigo, de Trotsky, já que ele tinha apenas repetido, de forma tosca, o que tinha sido dito uma década antes por economistas burgueses como Von Mises e Brutzkus, o texto foi de qualquer modo extensamente citado na imprensa imperialista pelos críticos burgueses da construção socialista, pois capacitava-os a reforçarem suas criticas "objetivas" e "imparciais" do socialismo e também seu dogma de que era impossível para a sociedade livrar-se do mercado, o que era plenamente aceito por este "velho bolchevique". (Para um tratamento mais completo deste tema, o leitor é remetido ao capítulo 11 do meu livro Perestroika -The Complete Collapse of Revisionism).

As invectivas de Trotsky contra o regime soviético foram acolhidas com entusiasmo pelos fascistas alemães e italianos: "Vejam, meus amigos," disse Goebbels

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aos socialistas e comunistas alemães, "o que Trotsky está dizendo acerca do Estado soviético. Já não é mais um Estado socialista, mas um Estado dominado por uma burocracia parasita, que vive às custas do povo russo", (ver Apêndice 2). Estes e argumentos similares, difundidos pelos fascistas, assim como por outros Estados imperialistas, foram utilizados para enfraquecer tanto a fé que as massas poderiam ter na URSS quanto sua fé em si próprias, em sua capacidade de construir uma nova vida para si próprias. Estes argumentos trotskistas foram, e continuam a ser, aproveitados pelos opositores do comunismo no movimento operário, assim como pela inteligentsia pequeno-burguesa radical. O trotskismo, assim, cumpria, e continua a cumprir, a função de confundir e desarmar, política e ideologicamente, o movimento da classe operária.

Contrapondo-se a toda a realidade, ignorando os desenvolvimentos na construção socialista da URSS, Trotsky continuou a prever o desastre e a advogar a derrubada da "burocracia stalinista" - um eufemismo para a direção leninista do Partido Bolchevique e do Estado soviético - em outras palavras, a derrubada da ditadura do proletariado. Em um artigo escrito em outubro de 1933, Trotsky previu a restauração do capitalismo, se a "burocracia stalinista" mantivesse sua influência:

"O desenvolvimento desimpedido do burocratismo deve levar inevitavelmente à cessação do crescimento econômico e cultural, a uma crise social terrível, ao naufrágio de toda a sociedade. Porém, isto não implicaria apenas o colapso da ditadura do proletariado, mas também o fim da dominação burocrática. Em lugar do estado dos trabalhadores não viria a 'burocracia social' mas as relações capitalistas"(A Natureza de Classes do Estado Soviético).

Em fevereiro de 1935, Trotsky previu o "colapso inevitável do regime político stalinista" e sua substituição pela "contra-revolução capitalista-fascista", a menos que a remoção do regime soviético viesse"como um ato consciente da vanguarda proletária", quer dizer, os mesmos contra-revolucionários trotskistas que negaram de início a própria possibilidade de construção do socialismo, que tentaram colocar todo obstáculo (embora infrutiferamente) no caminho da construção socialista, que de braços dados com a burguesia imperialista caluniaram o Estado soviético e a direção do Partido Bolchevique, que depreciaram e desabonaram toda e qualquer realização da indústria, da agricultura, da ciência, da tecnologia e das artes socialistas, e que terminaram por se tornarem aliados do fascismo alemão e japonês!! Esses covardes e contra-revolucionários desprezíveis, esses advogados ardentes do programa da restauração capitalista, no mundo confuso do faz-de-conta e da intriga trotskistas, convenceram-se de que eram a 'vanguarda do proletariado'! Ao mesmo tempo, Trotsky nos diz que o Partido Bolchevique, que, seguindo a linha leninista, não apenas acreditava na possibilidade de construção do socialismo na URSS, mas na realidade o estava cumprindo exitosamente, frente às dificuldades e inimigos internos e externos, era um regime de "bonapartismo" que estava destinado a abrir caminho à "contra-revolução" a menos que sua remoção viesse pelas mãos dos contra-revolucionários trotskistas, que tinham conferido a si próprios o título de "vanguarda do proletariado"!

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"O colapso inevitável do regime político stalinista levaria ao estabelecimento de uma democracia soviética apenas na hipótese de que a remoção do bonapartismo venha como um ato consciente da vanguarda do proletariado. Em todos os outros casos, em lugar do stalinismo poderia apenas advir a contra-revolução capitalista-fascista" (Trotsky, The Workers' State, Thermidor and Bonapartism).

Trotsky reconhece as realizações socialistas, como meio de ganhar credibilidade

No final do Segundo Plano Qüinqüenal, entretanto, mesmo os cegos não podiam deixar de ver as gigantescas, verdadeiramente heróicas e mundialmente históricas realizações da construção socialista. Mesmo os representantes inteligentes do imperialismo começaram a fazer alusões às realizações do socialismo em todos os aspectos da vida da URSS - o único país a ter realizado o pleno emprego, enquanto o mundo capitalista estava cambaleante sob os golpes de martelo. Trotsky estava em perigo de ser desacreditado por causa da discrepância notória entre a realidade soviética e a descrição que fazia dela. Assim, Trotsky, este mais anti-soviético de todos os anti-soviéticos, a fim de ganhar alguma credibilidade, foi compelido a escrever quase efusivamente sobre os ganhos do socialismo na URSS, outra vez, por certo, meramente como um prelúdio para uma campanha indecente de mentiras e difamações contra o regime soviético. Em sua Revolution Betrayed (1933), ele escreve:

"Realizações gigantescas na indústria, passos iniciais enormemente promissores na agricultura, um crescimento extraordinário das velhas cidades industriais e a construção de novas, um rápido crescimento do número de trabalhadores, uma elevação no nível cultural e das demandas culturais - tais são os resultados indubitáveis da revolução de outubro ...

"O socialismo tem demonstrado seu caminho para a vitória, não nas páginas de 'Das Kapital' mas em uma arena industrial compreendendo uma sexta parte da superfície da terra - não na linguagem da dialética, mas na linguagem do aço, do cimento e da eletricidade ... um país atrasado realizou em menos de dez anos sucessos sem exemplo na história.

"Isto também põe fim à disputa com os reformistas no movimento dos trabalhadores. Podemos comparar por um momento seu nervosismo espalhafatoso com o trabalho titânico realizado por este povo, que a revolução despertou para uma nova vida?" (p. 16).

Assim, muito misteriosamente, e sem qualquer explicação, para não falar de uma correção ou desculpa de Trotsky, constatamos que o "aparato presunçoso, negativo, arrogante, exclusivista, burocrático",caracterizado por um lado por "inércia" e por outro por "violência antagônica frente à crítica", composto apenas por "carreiristas e parasitas políticos", que estariam tão divorciados da realidade que ficavam em perigo de perder o apoio das massas e entregar o domínio do Estado às "tendências contra-revolucionárias" entre os "varejistas, intermediários... e kulaks - este aparato burocrático", isto é, a direção do Partido Bolchevique e o Estado soviético, de alguma forma mostraram-se à altura da situação e organizaram "dez anos de sucessos sem exemplos na história".

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Normalmente, o trotskismo pinta um quadro do povo soviético sendo conduzido e arrebanhado pela "burocracia stalinista", aceitando dócil e silenciosa-mente seu destino. Contudo, em algumas páginas desse livro, que são caracteristicamente contraditas por algumas outras páginas no mesmo livro, Trotsky descreve o entusiasmo com que a juventude soviética mergulhou na atividade econômica, cultural e artística, nos seguintes e exaltados termos:

"Por certo, os jovens estão muito ativos na esfera da economia. Na União Soviética há agora 1,2 milhão de membros da Juventude Comunista nas fazendas coletivas. Centenas de milhares deles têm sido mobilizados nos últimos anos para o trabalho da construção, da madeira, das minas de carvão, da produção do ouro, para trabalho na Ártica, em Sakhalin ou em Amur, onde a nova cidade do Konsomol está em processo de construção. A nova geração está formando brigadas de choque, trabalhadores campeões, stakhanovitas, capatazes, auxiliares de administração. Os jovens estão estudando e uma considerável parte deles está estudando assiduamente. Eles estão também ativos, senão mais ainda, na esfera do atletismo, em suas formas mais intrépidas e belicosas, como pára-quedismo e tiro ao alvo. Os empreendedores e audaciosos empenham-se em toda sorte de expedições perigosas.

A melhor parte de nossos jovens', disse recentemente o conhecido explora-dor polar Schmidt 'está ansiosa para trabalhar onde as dificuldades desafiam-nos'. Isto é sem dúvida verdadeiro...

Seria uma calúnia cruel contra os jovens se eles fossem retratados exclusivamente, ou mesmo predominantemente, como controlados pelos interesses pessoais. Não, na sua massa, eles são magnânimos, responsáveis, empreendedores ... Em suas profundezas estão várias tendências ainda não formuladas que têm base no heroísmo e apenas esperam ainda aplicação. É deste ânimo em particular que o mais novo tipo de patriotismo soviético está se nutrindo. É indubitavelmente muito profundo, sincero e dinâmico" (Cap. 7).

Mais ataques injuriosos ao socialismo

Tudo isso, entretanto, é apenas um prelúdio a uma denúncia odiosa do regime soviético, uma negação das realizações soviéticas e tudo que seja socialista e uma distorção - não, uma completa falsificação - da história soviética. Tendo sido forçado a admitir elogiosamente que o socialismo "demonstrou seu direito à vitória", que o Estado soviético alcançou "dez anos de sucessos sem exemplos na história", Trotsky devota o resto de seu livro a um ataque virulento à URSS e sua liderança. Diz-nos, a despeito de todas as afirmações sobre os "sucessos sem exemplos na história", que "o Estado Soviético, em todas suas relações, está mais próximo de um capitalismo atrasado do que do comunismo" (pg. 22); que, longe de atingir o estágio mais baixo do comunismo, o que a União Soviética tinha conseguido era um "regime preparatório transicional do capitalismo para o socialismo" (p. 52), que este regime estava engendrando crescentes desigualdades: "as diferenças salariais na União Soviética", ele assegurou, "não são menores, mas maiores do que nos países capitalistas" (p. 228). E que a industria era dominada por um "corpo de feitores de escravos" (p. 229). Antes que este regime transicional pudesse desenvolver-se na

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direção do socialismo, seria absolutamente necessário que houvesse "uma segunda revolução suplementar contra o absolutismo burocrático" (p. 272), porque "a burocracia pode ser removida exclusivamente por uma força revolucionária. E, como sempre, haverá tanto menos vítimas quanto mais ousado e decisivo for o ataque" (p. 271). Desde que a liderança soviética tinha o apoio avassalador da classe operária e do campesinato coletivizado, as referências de Trotsky à "força revolucionária" poderiam significar atos de terrorismo contra a direção do Partido Bolchevique ou uma conspiração militar, ou a intervenção estrangeira para a derrota do regime bolchevique - ou uma combinação de todos estes meios. Que isto era o que Trotsky tinha precisamente em mente, toma-se claro no curso das páginas do seu livro.

Reafirmação da desacreditada teoria da "revolução permanente"

Há também a inevitável declaração de que o avanço para o socialismo dependia em alguma medida da vitória inicial da revolução no resto da Europa (p. 274) - uma versão refeita e mais recente da desesperança permanente de Trotsky, esta mascarada como a teoria da 'revolução permanente'. Sendo este o caso, pode-se pedir licença para perguntar: o que a "revolução suplementar contra o absolutismo burocrático" realizará se a revolução está destinada a vegetar e degenerar na desesperança na ausência da "vitória da revolução no resto da Europa"?

Além disso, o livro contém denúncias virulentas de todas as tentativas de elevar a produtividade do trabalho, inalcançável sob as condições do capitalismo. Trotsky ataca todas as diferenças salariais, pagamento de trabalho por peça, impulsos de emulação socialista - tudo isso é denunciado como "uma fonte de injustiça, opressão e compulsões para a maioria, privilégios e vida feliz' para poucos" (pp. 244-245). A parte a demagogia disso tudo, o que transparece é a simples ignorância, para não mencionar desonestidade: pareceria que seu autor foi totalmente incapaz de apreender a essência da Crítica do Programa de Gotha, em que Marx trata, entre outras, das normas da distribuição nos estágios mais baixos e mais elevados do comunismo. No estágio mais baixo, a distribuição só pode estar de acordo com a fórmula "De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com o seu trabalho", uma fórmula que não "remove os defeitos da distribuição e da desigualdade do 'direito burguês'" (Lênin, State and Revolution).

Igualando socialismo e fascismo e ampliando a desmoralização derrotista

Movido por seu ódio intenso e insensato ao Estado soviético, subjetivismo impensado e espírito vingativo sem limites contra o regime bolchevique, por ter este último decidido expulsá-lo por seu incorrigível facciosismo, Trotsky tem o desprezível desplante de dizer, no capítulo 11 do seu livro Revolution Betrayed, que "o stalinismo e o fascismo ... são fenômenos simétricos. Em muitos de seus aspectos mostram uma similaridade implacável."

No apêndice a este livro, Trotsky diz:

"...com a classe operária e seus sinceros campeões entre a intelligentsia ... nosso trabalho na verdade causará dúvidas e evocará desconfiança - não da revolução,

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mas de seus usurpadores. Mas este é o próprio objetivo que fixamos para nós mesmos".

Previsões e apelos de Trotsky pela derrota da URSS na guerra

Como Trotsky, conduzido por uma combinação de facciosismo egoístico e subjetivismo burguês, sempre se referiu à liderança leninista do Partido Bolchevique e do Estado Soviético como uma "burocracia stalinista", "casta de usurpadores", "regime totalitário" etc., dificilmente pode-se negar que o propósito e a intenção por trás das loucas injúrias de Trotsky era caluniar o regime soviético, tentando convencer os operários ao redor do mundo de que o regime era indistinguível, de acordo com Trotsky, do fascismo, e exortá-los a negarem-lhe o seu apoio. Tal atitude era apenas o prelúdio para desejar e clamar pela derrota deste regime em qualquer guerra contra o fascismo, disseminando a sua desmoralização. Que Trotsky tomou este passo não apenas secretamente mas também abertamente, está claro nos seguintes pronunciamentos odiosos a respeito da então iminente Segunda

Guerra Mundial. Nesses pronunciamentos Trotsky previa, com alegria maliciosa, a derrota militar da URSS na guerra que se avizinhava. De fato, ia além, afirmando que uma guerra prolongada sem uma derrota militar "teria de levar a uma revolução burguesa-Bonapartista". Aqui estão as próprias palavras de Trotsky:

"Podemos esperar que a União Soviética saia da grande guerra vindoura sem derrota? A esta questão, colocada francamente, responderemos também francamente: se a guerra permanecer apenas uma guerra, a derrota da União Soviética será inevitável. Em um sentido técnico, econômico e militar, o imperialismo é incomparavelmente mais forte. Se não for paralisado pela revolução no Ocidente, o imperialismo varrerá o regime que surgiu da Revolução de Outubro" (Revolution Betrayed, p. 216).

Qual seria a situação se a União Soviética conseguisse sobreviver ao destino que Trotsky tinha previsto para ela? Bem, seguir-se-ia, da mesma forma, a destruição do Estado soviético. Não importava o que ocorresse - derrota militar ou não - a União Soviética não poderia sobreviver à guerra:

"A natureza prolongada da guerra", Trotsky escreveu, "revelará as contradições da economia de transição da URSS com seu planejamento burocrático ... No caso de uma guerra prolongada, acompanhada pela passividade do proletariado mundial, as contradições sociais internas da URSS não somente poderão levar mas terão de levar a uma revolução bonapartista-burguesa" (A Quarta internacional e a Guerra).

Em 1940, aproximando-se o fim de sua vida - uma vida plena de hostilidade inconciliável com o leninismo - Trotsky, com zelo digno de uma causa menor, outra vez previu a derrota da URSS e o triunfo da Alemanha hitlerista:

"Nós sempre partimos do fato de que a política internacional do Kremlin foi determinada pela incapacidade da nova aristocracia em conduzir a guerra.

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...a casta dirigente não é suficientemente capaz de pensar sobre o amanhã. Suas fórmulas são aquelas de todos os regimes condenados: 'depois de nós, o dilúvio'...

A guerra desestabilizará muitas coisas e muitos indivíduos. Artimanhas, tramóias e traições de nada servirão para escapar de seu severo julgamento" (Declaração à imprensa capitalista britânica sobre Stalin -Mestre Quarteleiro de Hitler).

"Stalin não pode fazer uma guerra com operários e camponeses descontentes e com um Exército Vermelho acéfalo" (Aliança Alemã-Soviética).

"O nível das forças produtivas da URSS proíbe uma guerra maior ... O envolvimento da União Soviética em uma guerra maior antes do fim deste período significaria em qualquer caso uma luta com armas desiguais.

O fator subjetivo, não menos importante do que o material, mudou radicalmente para pior nos últimos anos...

Stalin não pode empreender uma guerra ofensiva com qualquer esperança de vitória.

Se a URSS entrar na guerra com suas inúmeras vítimas e privações, a fraude total do regime oficial, suas atrocidades e violência, inevitavelmente provocarão uma profunda reação por parte do povo, que já levou a cabo três revoluções neste século...

A presente guerra pode esmagar a burocracia do Kremlin muito antes que estoure a revolução em algum país capitalista..." (As Estrelas Gêmeas: Hitler-Stalin).

Previsões de Trotsky refutadas pela épica vitória da URSS na Segunda Guerra

Mundial

Como de costume, e felizmente para a humanidade, todas as previsões de Trotsky foram totalmente desmentidas. Após os reveses iniciais nas primeiras semanas da guerra, atribuíveis principalmente à surpresa do ataque nazista, as defesas soviéticas firmaram-se. Logo elas reagiram. O resto do mundo, como Trotsky, tinha dado à URSS apenas umas poucas semanas antes de cair frente ao ataque da alegadamente invencível máquina de guerra nazista. O Exército Vermelho e o povo soviético, unidos sob a liderança do Partido Comunista da União Soviética e de seu comandante Supremo Joseph Stalin, derrubaram esse mito da invencibilidade nazista. As vitórias soviéticas nas batalhas titânicas de Moscou, Stalingrado, Kursk e Leningrado serão lembradas para sempre não apenas pelos povos da antiga, grande e gloriosa União Soviética, mas também por toda a humanidade progressista.

"A batalha de Moscou foi um evento épico... Ela envolveu mais de 2 milhões de homens, 2.500 tanques, 1.800 aviões de caça e 25.000 canhões. As baixas foram de uma escala horripilante. Para os russos, terminou em vitória. Eles tinham sofrido todo o impacto da ofensiva 'Blitzkrieg' alemã e, não obstante suas perdas, foram capazes de desfechar um contra-ataque efetivo. Eles começaram a destruir o mito da invencibilidade alemã ..." (Ian Grey, Stalin - Man of History, Abacus, p. 344).

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A rendição em Io de fevereiro de 1943, em Stalingrado, pelo general fascista Von Paulus e 23 outros generais, magnetizou o mundo. A vitória do Exército Vermelho em Stalingrado foi tão incrível quanto heróica. As perdas nazistas na área do Volga-Don-Stalingrado foram de 1,5 milhão de homens, 3.500 tanques, 12.000 canhões e 3.000 aviões de caça. Nunca antes a máquina de guerra nazista, que estava acostumada a esmagar países em alguns dias ou semanas, tinha sofrido uma derrota tão humilhante, uma derrota " em que a fina flor do exército alemão sucumbiu. Foi graças a essa batalha ... que Stalin alçou-se a uma estatura quase titânica aos olhos do mundo." (Deutscher, Stalin, p. 472). Daí em diante, os alemães defrontaram-se com nada além da derrota, abrindo o caminho para a entrada do Exército Vermelho em Berlim e o assalto dele ao Reichstag em abril de 1945 - o mesmo dia em que o Führer cometeu suicídio. Seis dias mais tarde, o Marechal de Campo Wilhelm Keitel, agindo em nome do Alto Comando Alemão, rendeu-se ao Marechal Zhukov.

Stalin e a Grande Guerra Patriótica

Embora o crédito pela vitória deva ser dado corretamente às forças armadas soviéticas e aos heróicos esforços do povo soviético, nenhuma narrativa desses fatídicos anos estará completa sem uma referência, de fato um significativo tributo ao indiscutível líder do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevista) e do povo soviético, o supremo comandante das forças soviéticas - Joseph Stalin. Mesmo um renegado como Gorbatchov é obrigado, a propósito da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, a admitir que "Um fator na conquista da vitória foi a tremenda vontade política, resoluta e persistente habilidade para organizar e disciplinar o povo exibidas nos anos da guerra por Joseph Stalin" (Relatório sobre o Encontro Festivo do 70° aniversário da Grande Revolução de Outubro, ocorrido em Moscou a 2 de novembro de 1987, p. 25).

Ian Grey, que é um escritor burguês, porém honesto, tem isto a dizer:

"Os pesados reveses e a ameaça imediata a Moscou teriam desanimado a maioria dos homens, mas o impacto sobre Stalin foi de fortalecer sua inflexível determinação de lutar. Nenhum fator isolado foi mais importante para proteger a nação contra a desintegração naquela época" (ibid. p. 335).

E mais:

"Foi, num sentido real, sua (de Stalin) vitória. Não teria havido vitória sem sua campanha de industrialização e especialmente o desenvolvimento intensivo da indústria além do Volga. A coletivização contribuiu para a vitória, ao capacitar o governo a estocar alimentos e matéria-prima para impedir a paralisação da indústria e a fome nas cidades. Mas também a coletivização, com suas estações de máquinas e tratores1, tinha dado aos camponeses o primeiro treinamento no uso dos tratores e outras máquinas" (ibid. p. 419).

Citando Isaac Deutscher, que está longe de ser amigo de Stalin, Ian Grey continua:

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"A agricultura coletivizada tinha sido a escola preparatória dos camponeses para a

guerra mecanizada...

Foi sua vitória, também, porque ele tinha dirigido e controlado todos os ramos das operações russas através da guerra. A extensão e o fardo de suas responsabilidades eram extraordinários, porém dia a dia, sem uma pausa durante os quatro anos da guerra, ele exerceu o comando direto das forças russas e o controle dos suprimentos, das indústrias da guerra e da política do governo, inclusive a política externa" (ibid.,pp. 419-420).

Finalmente, o mesmo escritor afirma:

"Foi sua vitória, acima de tudo, porque tinha sido alcançada por seu gênio e trabalho, numa escala heróica. O povo russo tinha-se voltado para ele em busca de liderança e ele não o decepcionou. Seus discursos de 3 de julho e 6 de novembro de 1941, que os fortalecera para as provações da guerra, e sua presença em Moscou durante a grande batalha da cidade, tinham demonstrado sua determinação para a vitória. Ele ... inspirou-os e deu-lhes uma orientação positiva. Teve a capacidade de se ater aos detalhes e manter em mente o quadro geral, e, embora lembrando do passado e imerso no presente, estava constantemente olhando à frente, para o futuro" (p. 424).476476

Inatamente hostil a Stalin, como é, Deutscher, no entanto, é obrigado a pintar este quadro do papel de Stalin durante a guerra:

"Muitos visitantes aliados que foram chamados ao Kremlin durante a guerra ficavam atônitos ao ver em quantas questões, grandes e pequenas, militares, políticas ou diplomáticas, Stalin pessoalmente tomava a decisão final. Ele foi, com efeito, seu próprio comandante-em-chefe, seu próprio ministro da defesa, seu próprio mestre quarteleiro, seu próprio ministro de suprimentos, seu próprio ministro do exterior, e até seu próprio chefe de protocolo. A stavka, o quartel-general do Exército Vermelho, estava em seu gabinete no Kremlin. De sua mesa, em contato constante e direto com os comandos das várias frentes, ele acompanhou e dirigiu as campanhas no campo. De seu gabinete, também, ele comandou outra estupenda operação, a evacuação de 1.360 plantas e fábricas da Rússia ocidental e da Ucrânia para o Volga, os Urais e a Sibéria, uma evacuação que envolveu não apenas máquinas e instalações mas milhões de trabalhadores e suas famílias. Entre uma função e outra, ele barganhava com, digamos, Beaverbrook e Harriman sobre a quantidade de alumínio ou o calibre dos rifles e canhões antiaéreos a serem enviados à Rússia pelos aliados ocidentais; ou recebia lideres das guerrilhas ... dos territórios alemães ocupados e discutia com eles sobre as incursões a serem realizadas em centenas de milhas adentro das linhas do inimigo. No auge da batalha de Moscou, ele encontrou tempo bastante para começar um sutil jogo diplomático com o general polonês Sikorski, que tinha vindo concluir um tratado russo-polonês... E ele entretinha-os (enviados e visitantes estrangeiros) usualmente noite adentro e até altas horas. Após um dia repleto de relatórios militares, decisões operacionais, instruções econômicas e barganhas diplomáticas, ele matutava de madrugada sobre os últimos despachos do Comissariado dos Negócios Interiores, a NKVD ... Assim ele persistiu, dia após dia, durante quatro anos de hostilidades - um

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prodígio de paciência, tenacidade e vigilância, quase onipresente, quase onisciente" (Isaac Deutscher, Stalin, pp. 456-457).

E adiante:

"Não há dúvida de que ele era o seu (das tropas soviéticas) verdadeiro comandante-em-chefe. Sua liderança não se limitava, de maneira alguma, ã tomada de decisões estratégicas abstratas, nas quais os políticos civis podem sobressair-se. O interesse ávido com que ele estudava os aspectos técnicos da guerra moderna, nos seus mínimos detalhes, mostra que ele de forma alguma era um diletante. Ele encarava a guerra primordialmente do ângulo da logística ... Assegurar reservas de mão-de-obra e suprimentos de armas, nas quantidades e proporções exatas, alocá-las e transportá-las para os pontos certos e nos tempos certos, reunir uma reserva estratégica decisiva e tê-la pronta para intervir no momento decisivo — estas operações representavam nove décimos de suas tarefas" (Ibid. p.459).

Deutscher também afasta qualquer noção de hostilidade popular ao regime soviético:

"Não se deve imaginar que a maioria do povo fosse hostil ao governo. Se fosse assim, nenhum apelo patriótico, nenhum incitamento ou coerção teria evitado o colapso político da Rússia, pelo qual Hitler estava confiantemente esperando. A grande transformação que o país experimentou antes da guerra ... fortaleceu a fibra moral do povo. A maioria estava imbuída com um forte sentido de seu avanço econômico e social, que estava ferreamente decidida a proteger do perigo externo ..."(ibid. p. 473).

Basta, então, dos disparates trotskistas acerca da "incapacidade da nova aristocracia para conduzir uma guerra", dos "trabalhadores e camponeses descontentes e um exército acéfalo" que tornavam impossível fazer guerra, da suposta inferioridade do armamento do Exército Vermelho, de Stalin sendo incapaz de "desfechar uma guerra ofensiva com qualquer esperança de vitória" e da guerra esmagando a"burocracia do Kremlin".

Longe de ser esmagado, o regime soviético emergiu da guerra muito fortalecido. Longe de esmagar o regime soviético por sua guerra contra a URSS, o próprio regime nazista foi esmagado, como foi a Alemanha. Mais do que isso, a vitória soviética demonstrou, amplamente, a correção das políticas de industrialização e coletivização perseguida a despeito da oposição trotskista e imperialista, ao regime soviético, antes da guerra.

"A nova apreciação do papel de Stalin não foi apenas resultado de noções geradas pelo entusiasmo da vitória. A verdade é que a guerra não poderia ter sido ganha sem a industrialização intensiva da Rússia, e de suas províncias orientais em particular. Nem poderia ter sido ganha sem a coletivização de um grande número de fazendas. O mujique de 1930, que nunca tinha manuseado um trator ou qualquer outra máquina, teria sido de pouca utilidade na guerra moderna. A fazenda coletivizada, com suas estações de máquinas e tratores, tinha sido a escola preparatória do camponês para a guerra mecanizada. A elevação rápida do padrão médio de educação tinha

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também capacitado o Exercito Vermelho a recorrer a uma considerável reserva de oficiais e homens inteligentes. "Estamos 50 ou cem anos atrás dos países avançados.

Temos de tirar esta diferença em dez anos. Ou fazemos isso, ou eles nos esmagarão"

- assim Stalin tinha falado exatamente dez anos antes de Hitler decidir conquistar a Rússia. Suas palavras, ao serem relembradas agora, não poderiam deixar de impressionar as pessoas como uma profecia brilhantemente cumprida, como uma muito oportuna convocação. E, de fato, um atraso de poucos anos na modernização da Rússia poderia ter feito toda a diferença entre a vitória e a derrota" (Deutscher, Ibid. p. 535).

É como se segue que Deutscher descreve a parada da vitória da Praça vermelha no fim da guerra:

"A 24 de junho de 1945, Stalin parou à frente do Mausoléu de Lênin e passou em revista uma grande parada da vitória do Exército Vermelho, que marcou o quarto aniversário do ataque de Hitler. Ao lado de Stalin estava o Marechal Zhukov, seu segundo homem, o vitorioso de Moscou, Stalingrado e Berlim. As tropas que marchavam passando por ele eram comandadas pelo Marechal Rokossovsky. Enquanto eles passavam a pé, a cavalo e em tanques através da Praça Vermelha, regimentos de infantaria, cavalaria e blindados varriam a lama do pavimento - era um dia de chuva torrencial - com inúmeras bandeiras e estandartes do exército de Hitler. No Mausoléu eles atiravam as bandeiras e estandartes aos pés de Stalin. A cena alegórica era estranhamente imaginativa ..."

No dia seguinte, Stalin recebeu o tributo de Moscou pela defesa da cidade em 1941. No dia seguinte foi aclamado como "Herói da União Soviética" e recebeu o título de "Generalíssimo" (Ibid. p. 534).

Nestes "dias de inimagináveis triunfo e glória", continua Deutscher, "Stalin estava no esplendoroso foco do reconhecimento e gratidão popular. Estes sentimentos eram espontâneos, genuínos, não arquitetados pelos propagandistas oficiais. Cartazes esmerados sobre 'os sucessos da era stalinista' transmitiam agora novo significado não apenas junto aos jovens, mas também aos céticos e descontentes da geração mais velha..." (Ibid., p. 534).

Assim, ao fim da guerra o trotskismo estava completamente desacreditado, completamente falido - considerado como não mais do que um escritório de informações e um aliado anticomunista do imperialismo - particularmente durante a guerra de agressão conduzida pelos Estados Unidos contra o povo coreano, quando a maioria dos trotskistas, consumidos pelo seu ódio genético à União Soviética, efetivamente tomou o lado do imperialismo norte-americano e contra as forças de libertação nacional e do socialismo.

A guerra fria - resposta do imperialismo ao prestígio do socialismo vitorioso

Os sucessos da URSS na coletivização da agricultura, a industrialização socialista maciça, o logro gigantesco na educação, ciência, tecnologia e cultura, com um padrão de vida para a classe operária e o campesinato coletivo continuamente crescente,

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coroados por sua vitória na Grande Guerra Patriótica antifascista, com a vitória resultante dos governos de democracia popular na Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, România, Bulgária e Albânia, o prestígio soviético elevou-se ao ponto máximo. Foi este espetáculo de triunfo, confiança e avanço do socialismo que colocou o temor de Deus nos corações da burguesia imperialista e ensejou a reação, sob a liderança do imperialismo dos EUA, que tinha emergido da guerra como o poder imperialista mais forte, de iniciar a guerra fria, a aliança militar provocadora de guerra da OTAN e rearmar a Alemanha, como um membro desta aliança.

A OTAN, provocadora de guerra, ameaçou a URSS com um bloqueio econômico e uma chantagem nuclear. Porém, a URSS desafiou tanto o bloqueio quanto a ameaça militar. Redobraram-se seus esforços para construir sua economia e destruir o monopólio dos EUA sobre a bomba atômica. No fim de setembro de 1949, na mesma semana em que o camarada Mao Tse-tung proclamou a República Popular da China e o sucesso da revolução chinesa, o mundo ouviu a detonação da primeira bomba atômica da URSS. Mesmo um escritor trotskista como Isaac Deutscher, cujo ódio de Stalin é total e que nunca perde uma oportunidade de descrever Stalin como "estúpido e tedioso" é forçado a admitir:

"Ele alcançou alguns de seus objetivos vitais. Resistiu às pressões ocidentais com firmeza suficiente para deter qualquer projeto norte-americano de disseminar a guerra; e a indústria nuclear soviética progrediu com grande rapidez e produziu sua primeira bomba de hidrogênio em 1953, logo após os norte-americanos terem realizado esta façanha. Os setores básicos da economia soviética, tendo atingido seu nível de produção do pré-guerra em 1948-1949, teve um crescimento de 50% nos últimos anos de Stalin. A modernização e urbanização da União Soviética foi acelerada. Somente no início dos anos 50, sua população urbana cresceu cerca de 25 milhões de pessoas. As escolas secundárias e as universidades estavam educando duas vezes mais alunos do que antes de 1940. Dos destroços da guerra mundial foram refundadas as bases para renovada ascendência industrial e militar da Rússia, que depois assombraria o mundo" (Stalin, pp. 585-586).

Poucas páginas adiante, Deutscher observa:

"... E um fato que 'Stalin encontrou a Rússia com o arado de madeira e a deixou equipada com reatores atômicos' ... Este resumo do governo de Stalin é, certamente, um tributo ao seu sucesso" (Ibid. p. 609). As palavras registradas por Deutscher são citadas de seu próprio obituário de Stalin, publicadas pelo Manchester Guardian, a 6 de março de 1953.

Certamente, só os trotskistas dementes podem argüir que os êxitos acima tiveram lugar automaticamente sobre o fundamento das relações de propriedade socialistas herdadas da revolução de outubro - não por causa, mas a despeito de sua liderança, por assim dizer. Não, tais êxitos não ocorreriam sem uma liderança correta. Basta apenas comparar a liderança, as políticas adotadas pela liderança, e as conseqüências e êxitos daquelas políticas na URSS até meados da década de 50 com aquelas da liderança do 20° Congresso do PCUS (1956) até o golpe de 1991, que resultou na desintegração da URSS, para verificar-se que abismo existe entre os dois

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períodos. Mesmo Roy Medvedev, nem um pouco amigo de Stalin e autor de Let History Judge ("Que a História Julgue"), inteiramente anti-Stalin, foi obrigado a reconhecer: "Stalin encontrou a União Soviética em ruínas e deixou-a como uma superpotência. Gorbatchov herdou uma superpotência e deixou-a em ruínas."

Triunfo do revisionismo kruchevista e ressurreição do trotskismo

Assim, em vista de seu êxito gigantesco, que fora fruto da tenaz persistência em seguir a linha leninista da construção socialista, o povo trabalhador tratou com completo desprezo os delírios trotskistas contra a União Soviética e sua lide-rança. Tudo isso, no entanto, mudou com o triunfo do revisionismo kruchevista no PCUS, após a morte de Stalin. O revisionismo kruchevista não poderia ter sucesso algum em seu desejo de solapar o socialismo, alcançar uma acomodação com o imperialismo e começar o longo processo de retorno ao capitalismo sem atacar a pessoa que, após a morte de Lênin e em uma luta implacável pela vitória da linha leninista na questão da industrialização e da coletivização, tinha se tornado o porta-voz mais representativo da construção do socialismo na União Soviética, com o qual seu nome estava indelével e inextricavelmente ligado, ou seja, Joseph Stalin. Daí o ataque de Kruchev a Stalin em seu relatório secreto ao 20° Congresso do PCUS, em 1956. Com esse ataque a Stalin e ao alegado 'culto à personalidade' - tudo, incidentalmente, em nome do leninismo e com o suposto propósito de retorno às verdadeiras normas leninistas - começou o longo processo político e econômico que gestou o maduro fruto capitalista, sob o cuidado terno e carinhoso do ultimo sucessor de Kruchev, Gorbatchov. Aqui, eu não posso me aprofundar nesta questão, da qual já tratei com maiores detalhes em meu trabalho Perestroika - The Complete Collapse of Revisionism.

O ataque de Kruchev a Stalin trouxe alguma credibilidade retrospectiva às diatribes contra-revolucionárias trotskistas contra a URSS, a partir de meados dos anos 20. Como sob a tutela de Kruchev e seus sucessores, o próprio PCUS, bem como os partidos revisionistas da Europa e de outras partes, realmente começaram a degenerar, as lamúrias trotskistas há muito repetidas sobre o alegado Thermidor e a degeneração em que teria mergulhado o PCUS de 1923 em diante acabaram adquirindo certa plausibilidade.

O trotskismo alinha-se a todos os movimentos contra-revolucionários

Como resultado do triunfo do revisionismo no 20° Congresso do PCUS, e sob seu estímulo direto, afloraram tendências burguesas nacionalistas dentro dos partidos da classe operária, agindo em íntima colaboração com as agências e meios de divulgação imperialistas, com a igreja, em algumas das democracias populares. Em uma série de lugares - mais notavelmente na Hungria - isto levou a levantes contra-revolucionários. Em todas as partes nesses levantes contra o socialismo e o governo da classe operária, os trotskistas estavam, como se poderia esperar, do lado do imperialismo, da reação, da contra-revolução, do fascismo clerical. O XI Congresso Mundial dos Trotskistas prestou homenagem à contra revolução húngara, incitada e conduzida pela CIA e pelo Vaticano, nos seguintes ardentes termos:

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"A revolução húngara de outuhro-novembro de 1956 foi mais longe no rumo de uma revolução política antiburocrática madura" (Imprecor, nov. 1979).

James Burnham, o trotskista norte-americano, e fiel lacaio de Trotsky até 1940, abertamente defendeu, a partir de 1950, a política dos EUA de "libertação das nações cativas" - uma política de desestabilização das democracias populares da Europa Oriental.

O trotskismo e a contra-revolução checa

Quando os revisionistas extremados na Checoslováquia, sob a liderança de Dubcek, impacientes com a lentidão da "reforma" objetivando a restauração da economia capitalista e da democracia burguesa multipartidária, começaram a chamada Primavera de Praga, declararam eufemisticamente que seu objetivo era "livrar o marxismo das distorções stalinistas e burocráticas" e "formular a vocação humanista do movimento comunista". O significado desses lemas aparentemente atraentes tornou-se muito claro durante 1989, quando se tornaram óbvios a liquidação dos Partidos Comunistas da Polônia e da Hungria, o desmantelamento do que restava de planejamento socialista da economia naqueles países e o mergulho no capitalismo e na democracia burguesa, sob a afável gratidão do imperialismo e de seu braço espiritual, o Vaticano. Dubcek, em uma carta à direção do Partido, conclamou-a a não condenar as reformas na Polônia e na Hungria. Assim fez também seu colega Jiri Pelikan, que exortou "o movimento democrático na Europa Ocidental a desenvolver um diálogo com o Solidariedade ...na Polônia, com o Fórum Democrático ... na Hungria, com a Carta 77 ... na Checoslováquia", isto é, com as forças da restauração capitalista. Então, em 1968, assim como subseqüentemente nos anos 1980 e no começo da década de 1990, os trotskistas, como se poderia esperar, ficaram do lado da contra-revolução.

O trotskista Peter Uhl era um dos mais ativos membros da Carta 77, anticomu-nista. Em 15 de outubro de 1988, os luminares da Carta 77 e outros grupos da oposição assinaram o Manifesto do Movimento pelas Liberdades Civis, que, entre outras coisas, exigia "o pluralismo econômico e político", a libertação do empresariado "do jugo da burocracia centralizada", "o completo restabelecimento da empresa privada ... no comércio, na indústria artesanal, nos pequenos e médios negócios" e a integração da economia checa ... de forma natural com a economia mundial, baseada na divisão internacional do trabalho. Embora se declarasse simpático àquele manifesto da contra-revolução de veludo, Uhl julgou inoportuno firmá-lo, até mesmo criticando-o como "democrático liberal" e "totalitário". Qual a conclusão? Em lugar de denunciá-lo e discordar dele, ele deu as boas-vindas ao manifesto por causa da inclusão nele da "demanda pelo controle dos operários nas grandes firmas" do tipo que prevalece nos países imperialistas, com seu embuste de uma democracia participativa.

Após o sucesso da contra-revolução e a implementação do mencionado manifesto, Uhl afirmou:

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"Pode-se discutir até que ponto a teoria de Trotsky da revolução política foi justificada. Eu entendo que é na Checoslováquia que a realidade está mais próxima desta teoria."

Ele prossegue acrescentando, à guisa de uma explicação desta 'revolução política' e da composição desta coalizão anticomunista: "enquanto as pessoas puderem dizer que estão contra o comunismo, o stalinismo e a burocracia, então todas estão de acordo" (Imprecor, n. 304, 1990, p .-26).

E adiante: "Há aqueles que viram na Carta 77 um passo na direção da revolução política - entre os quais eu me incluía; outros viam nela um meio de propagar a palavra de Cristo. Era um verdadeiro laboratório de tolerância" (Imprecor, n. 300, 1990. p. 8).

O camarada Ludo Martens, Presidente do Partido do Trabalho da Bélgica (PTB), em seu livro The Velvet Counter Revolution ("A Contra-Revolução de veludo"), que recomendo a qualquer leitor que deseje ter um relato detalhado desses eventos, afirma sobre isso, com justiça:

"Para derrubar e destruir o socialismo (seja um socialismo forte e vigoroso ou um socialismo erodido e enfermo), os clérigo-facistas, os nacionalistas reacionários, os agentes da CIA e os social-democratas todos se juntaram, e é desnecessário dizer que mostraram grande 'tolerância' para com ospseudo-socialistas que reforçavam sua agitação política com afirmações repetidas de Trotsky" acerca da chamada revolução política antiburocrática, que se revelava, como ele sempre pretendeu ser, não mais do que outra expressão, envolta em palavreado "esquerdista", para a simples restauração do capitalismo. Assim o trotskismo tinha chegado à sua "revolução política" contra a "burocracia stalinista"!!

O trotskista belga Ernst Mandel saudou os eventos de 12 de janeiro de 1990 como: "o acesso repentino de centenas de milhões de homens e mulheres dos países do leste ã vida política" (Imprecor, n°. 300, p.8) O mesmo arrogante e pomposo aristocrata trotskista deixou claro o significado desta hipérbole sem sentido apenas dez meses depois, a 23 de novembro de 1990: "De acordo com Petr Uhl, provavelmente há apenas uns poucos milhares, talvez mesmo umas poucas centenas de militantes do Fórum Cívico em nível regional e local."

Adiante: "O movimento estudantil, que inspirou amplamente os eventos de novembro de 1989, não existe mais" (Imprecor, n°. 319, 1990, p. 4).

Na Checoslováquia, "o acesso à vida política", sobre o qual Mandel fala tão liricamente, aconteceu em uma época em que as massas estavam seguindo o Fórum Cívico contra-revolucionário, sob a direção de Havei, um notório agente da CIA. Sobre isto, eis o que Pavel Pechacek, chefe da seção checa da Rádio Europa Livre, financiada pela CIA, tem a dizer neste caso:

"Nós sempre desempenhamos um papel importante. De acordo com o líder da revolta estudantil em Bratislava, foi a Rádio Europa Livre que acendeu o pavío. Nós sempre tivemos contato estreito com Havei, Carnogousky e Dienstbeir, que hoje são

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membros do novo governo, mas que por anos trabalharam para nós como correspondentes independentes."

Estas foram as pessoas - os Havels e Pechaceks - que "despertaram as massas para a vida política" na Checoslováquia. Sabendo muito bem que o Fórum Cívico lutava pela restauração do capitalismo, que Vaclav Klaus, chefe do Fórum Cívico desde outubro de 1990 e um dos principais conselheiros de Havei, estava não somente expressando, em relatório, sua admiração por Milton Friedman e Hayek, os dois economistas burgueses mais admirados por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, ex- Presidente dos EUA e ex-primeira-ministra da Inglaterra, respectiva-mente, mas também seu compromisso com "uma economia de mercado, incondicionalmente" - sabendo de tudo isto, Mandel disse a um jornal de finanças belga, em 21 de março de 1990:

"A transição para um modelo completamente ocidental é possível, porém este não é o caso em países como a União Soviética e a Checoslováquia" (De Financieel Ekonomische Tijd, 21.3.90).

Sabendo de tudo isso, por que os trotskistas ficaram ao lado do Fórum Cívico? Por seu ódio inato ao socialismo e ao comunismo é a resposta. Esta verdade é deixada escapar pelo esperto Uhl, que explicou que seu apoio ao Fórum Cívico e a Havei foi motivado por um desejo de livrar-se do sistema socialista reinante!

Após várias mudanças de posição política e contorções mentais, o trotskista Uhl finalmente, e nada inesperadamente, cavou para si próprio um pequeno belo nicho no novo Estado burguês checo, como chefe da Agência de Imprensa Checa, uma posição para a qual foi designado em 1990, para propagar as maravilhas da restauração capitalista e o "acesso à vida política" deflagrado por tal restauração -'revolução antiburocrática', como queiram.

Depois de tagarelar acerca do controle dos operários apenas no dia anterior, Uhl passou sem dificuldade para a tarefa de informar as massas que o Estado checo representava a sociedade:

"De modo geral entende-se que, se dependemos do Estado, apoiamos o governo, o que não é exatamente o caso. Por certo devemos 'respeitar' o governo, porém se há um conflito, deveria caber a um comitê parlamentar tomar uma decisão, porque o parlamento, mais do que o governo, representa o Estado. Nossa tarefa é propagar para o exterior notícias sobre a sociedade checa. Nisto se empenha o Estado checo, porque ele representa a sociedade checa no momento" (Imprecor, n°. 304, p. 27).

Se este disparate representa alguma coisa, representa a pior forma de cretinismo parlamentar, segundo o qual o parlamento checo e o Estado burguês checo são sinônimos, e daí, de acordo com este imbecil trotskista, o Estado representa a sociedade, é "nossa tarefa propagar para o exterior notícias sobre a sociedade checa"!! Isto é o começo e o fim, o único significado, da tão trombeteada "revolução política e antiburocrática" trotskista. Nada poderia ser mais claro do que isso.

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O trotskista belga Mandel e o trotskista francês Broué defendem de forma grosseira

a contra-revolução

Mandel, notável por seu antimarxismo e economicismo vulgar, manteve por mais de duas décadas a visão de que, na ausência de uma contra-revolução violenta, não se poderia restaurar o capitalismo nos países socialistas. Partindo desta premissa equivocada, ele por longo tempo advogou pela democracia multipartidária (democracia para todos). Como, de acordo com este raciocínio, não havia perigo para o socialismo, e o inimigo real estava na "burocracia", por meio da democracia multipartidária o socialismo adquiriria um caráter democrático. Perto do fim de 1989, a respeito do movimento contra-revolucionário em Timisoara, que resultou na derrota e assassinatos sórdidos de Ceaucescu e sua esposa, Helena, Mandel foi mais longe até mesmo do que a mentirosa mídia imperialista, ao denunciar os"terríveis crimes stalinistas em Timisoara", crimes que afinal acabaram se mostrando inexistentes. Os números inflamatórios da mídia burguesa, de 70.000 a 100.000 mortos em Timisoara e as estórias de horror sobre sepulturas comuns, mostraram-se uma completa invenção. O número corrigido, apenas 700 mortos, a maioria nas mãos do Exército, e não da Segurança, saíram em colunas de meia polegada relegadas a páginas internas.

No tocante ao movimento contra-revolucionário na República Democrática Alemã, Mandel declarou:

"Estou encantado com o que está acontecendo em Berlim. O movimento anti-socialista é realmente fraco". Dando as boas-vindas a esta "revolução", ele prosseguiu exclamando: "Tudo que Trotsky sempre esperou podia agora tornar-se realidade" (Dans Humo, 21.12.89).

Nos círculos trotskistas, como certamente nos imperialistas, enquanto Gorbatchov, Yeltsin e Trotsky são revolucionários, Stalin e o Partido Bolchevista que ele dirigiu são contra-revolucionários!!

Vale a pena reproduzir a visão de Mandel, considerado o teórico da 4a. Internacional trotskista, sobre o programa da contra-revolução da restauração capitalista, incorporada à Perestroika de Gorbatchov. Durante uma entrevista que ele deu a um jornalista do New Times, este lhe perguntou:

"Não é verdade que Mikhail Gorbatchov afirmou que a Perestroika é uma verdadeira nova revolução?"

Ao que Mandel respondeu: "Sim, ele o fez, e na verdade isto é muito positivo. Nosso movimento defendeu esta tese durante 55 anos e foi por isso rotulado de contra-revolucionário. Hoje as pessoas, tanto na União Soviética quanto em grande parte do movimento comunista internacional, entendem melhor onde estavam os reais contra-revolucionários" (n°. 38, 1990, edição francesa).

Outra vez, no mesmo documento financeiro belga já referido, Mandel expressa-se sobre esta questão nos seguintes termos:

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"O reformador Yeltsin representa a tendência que quer reduzir o gigantesco aparato estatal. Conseqüentemente, ele segue os passos de Trotsky" (21 de março de 1990).

Estas admissões maravilhosas do trotskista Mandel, pela qual agradecemos de coração, somente facilitam nossa tarefa de expor o anticomunismo e o antibolchevismo trotskista. Desta vez, Mandel está absolutamente certo. Gorbatchov, Yeltsin e Trotsky têm a mesma fisionomia ideológica - eles todos representam a restauração capitalista.

Este mesmo desprezível Mandel tinha antes descrito o arqui-reacionário Sakharov como um dos "esquerdistas radicais e progressistas" e o nacionalista burguês Sajudis da Lituânia como pertencendo ao"movimento popular democrático e nacionalista radical"!! (Imprecor, n°. 285, 3 de abril de 1989).

Sem exceção, todos os trotskistas, em toda parte, apoiaram aquela criação contra-revolucionária da CIA e do Vaticano, o Solidariedade, na Polônia, aplaudindo seu surgimento e sua ascensão ao poder - outra vez em nome da "revolução política antiburocrática" de Trotsky.

O trotskista francês Broué, já mencionado, por sua vez, aplaude os movimentos contra-revolucionários da Europa Oriental que, dois anos após a publicação de seu Trotsky, ocorreram nos regimes de restauração do capitalismo, e corretamente atribui a Trotsky a seguinte versão da "revolução política":

"As reivindicações que aparecem nesses movimentos de operários e jovens reconstituem aquelas que definiram o programa da "revolução política" conforme esboçado por Trotsky: democracia, liberdade para os partidos, destruição do aparato burocrático, sindicatos 'livres', liberdade eleitoral e direito de crítica, fim das transgressões dos direitos humanos, punição dos responsáveis por crimes, conquista dos direitos democráticos de expressão, reunião, manifestação, bem como o aparecimento de uma imprensa livre - e por isso estimuladora" (op. cit. p. 943).

A sofisticada defesa da contra-revolução pela trotskista ICL americana

Naturalmente a representação correta e cândida pelos senhores Mandel e Broué da "revolução política" trotskista contra a "burocracia stalinista" é altamente embaraçosa para os espartaquistas da ICL, que estão sempre apresentando uma versão pasteurizada do trotskismo, em um esforço para ganhar para este alguma credibilidade aos olhos dos trabalhadores progressistas, a fim de poderem levar a cabo com todo o êxito a propagação do trotskismo contra-revolucionário e da teoria da desesperança permanente. Por isso é que eles dirigem sua raiva contra as afirmações francas da verdade simples de Mandel e Broué.

Qual é então a posição da própria ICL? Embora possa parecer, a um observador descuidado ou superficial, que eles defendem os ganhos do socialismo e da construção socialista e o Estado dos operários, não é o que acontece. Ninguém os supera em matéria de caluniar os antigos regimes socialistas, especialmente o regime soviético de

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1923 a 1953, que eles sempre denunciam como "burocráticos", necessitando ser derrubados por uma "revolução política". Em momentos de descuido, contudo, arriando sua usual máscara, eles revelam a essência reacionária de sua linha política trotskista. Em um artigo escrito em novembro de 1992, com o único propósito de apresentar uma versão pasteurizada do trotskismo, a verdade literalmente escorre, a despeito de tudo, nas seguinte linhas:

"A idéia de que o 'socialismo' poderia ser construído em um só país (e por sinal atrasado), cercado pelo imperialismo, é uma perversão nacionalista do marxismo."

"O dogma de Stalin do "socialismo em um só país" foi a semente ideológica de uma contra-revolução política que DERROTOU o internacionalismo leninista e levou ao poder uma casta nacionalista burocrática."

Foi a idéia do socialismo em um só país realmente uma "perversão nacionalista do marxismo", foi ela realmente "dogma de Stalin" e a "semente ideológica de uma contra-revolução que derrubou o internacionalismo proletário e levou ao poder uma casta nacionalista burocrática"? Se o que os espartaquistas dizem fosse verdadeiro, valeria a pena para eles ou qualquer outro defender os ganhos dessa"perversão nacionalista"? Bastaria aos espartaquistas da ICL fazer esta pergunta para compreenderem que estavam se traindo, deixando transparecer todo o seu jogo de parecerem defender o socialismo em palavras enquanto o minavam em suas ações. Eram os espartaquistas realmente tão ignorantes quanto aos escritos de Lênin que não entenderam que esta "perversão nacionalista" do socialismo em um só país não era um "dogma de Stalin", mas de Lênin? A ele e apenas a ele deve-se o crédito (ou descrédito) da autoria deste 'dogma'. Os espartaquistas não deveriam ser tão ignorantes, para reivindicarem que eram leninistas e fazerem a mesma rei-vindicação para seu guru, Trotsky. Que leiam então o artigo de Lênin Programa Militar da Revolução Proletária e seu artigo sobre a cooperação no começo de 1923, justamente quando Trotsky estava escrevendo seu panfleto antileninista e contra-revolucionário Novo Curso. E que leiam o trecho seguinte, extraído do discurso de Lênin no Soviete de Moscou, em 20 de novembro de 1922:

"Nós temos nos aproximado do próprio âmago dos problemas atuais, o que é um avanço tremendo. O socialismo não é um assunto para o futuro distante, ou um quadro abstrato, ou um ícone. Nossa opinião de ícones é a mesma - muito ruim. NÓS TROUXEMOS O SOCIALISMO PARA A VIDA COTIDIANA e devemos aqui ver como estão as coisas. Esta é a nossa tarefa diária, a tarefa de nossa época. Permitam-me concluir expressando confiança em que, por mais difícil que esta tarefa possa ser, nova como possa ser comparada com nossa tarefas anteriores, e numerosas como possam ser as dificuldades que ela encerra, devemos todos - não em um dia, MAS EM POUCOS ANOS, - nós todos, unidos, cumpri-la a qualquer custo, DE MODO QUE A RÚSSIA DA NEPTORNAR-SE-Á A RÚSSIA SOCIALISTA" (V. I. Lênin,Collected Works, Vol. 33, p. 443 - ênfase minha).

Depois disso, se os espartaquistas tiverem a coragem de suas convicções, eles deveriam acusar Lênin do "dogma" que tentam afixar na lapela de Stalin; deveriam

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lançar a culpa por esta "perversão nacionalista" aos degraus da porta de Lênin em lugar de depositá-la nos de Stalin.

Os trotskistas do SWP dão boas-vindas à morte do comunismo

A maior organização trotskista britânica, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP), tendo aplaudido todo movimento contra-revolucionário na Europa Oriental, do levante húngaro incitado pela CIA-Vaticano à restauração capitalista Solidariedade e ao Fórum Cívico na Checoslováquia, saudou com alegre frenesi a queda do socialismo na URSS. Seu órgão, o Socialist Worker (Trabalhador Socialista),declarou alegremente: "O comunismo entrou em colapso. Agora lutemos pelo socialismo real" (31 de agosto de 1991). Prosseguia louvando a derrubada das estátuas de Sverdlov, Dzerzhinsky e outros "antigos ícones do Partido Comunista"; considerou mesmo oportuno publicar uma foto da estátua do grande Lênin no chão e declarou: "O comunismo entrou em colapso ... E um fato que deveria fazer todos os socialistas regozijarem-se".

O SWP chegou ao ponto de argüir que a vitória de Yeltsin teria levado "os operários da URSS a aproximar-se do espírito da revolução socialista de 1917 e não distanciar-se dela".

Bem, desde que o muro de Berlim veio abaixo, a 9 de novembro de 1989, o que esta "morte do comunismo" e a briga pelo "socialismo real" ensejaram como rastro? Exatamente o que o imperialismo tinha estado desejando e pelo que trabalhava fazia décadas. Exatamente o que todo observador inteligente, não consumido pelo ódio anticomunista, esperava que acontecesse. As forças do mercado tinham sido desencadeadas sobre os povos da Europa Oriental e da antiga União Soviética. A partir daí, a elevação do desemprego, a contração da produção, as catastróficas taxas de inflação, os conflitos nacionais, o crescimento do racismo,

do anti-semitismo e do fascismo, a criminalidade crescente, o tráfico de drogas, a prostituição, o mercado negro e a fome. Houve um aumento astronômico dos preços das necessidades básicas como alimentação, habitação, eletricidade e vestuário. Em outras palavras, todas as liberdades que foram desencadeadas, associadas à economia do livre mercado e à "revolução política" trotskista contra a"burocracia stalinista".

Na antiga República Democrática Alemã, por exemplo, entre o começo de 1990 e o fim de 1991, a economia retraiu-se de 20%, à medida que indústrias inteiras foram fechadas. Na primeira metade de 1990, o produto industrial caiu em aproximadamente 40%; na segunda metade do mesmo ano, em outros 40%! Na primavera de 1991, um terço dos alemães orientais tinham perdido seus empregos ou trabalhavam em meio expediente. De 270.000, em julho de 1990, o número de desempregados elevou-se para 1 milhão ao final de 1991 e 1, 5 milhão em 1992.

Na Polônia, 2 milhões de trabalhadores, representando 15% da força de trabalho, estão desempregados e, enquanto o salário real caiu 30%, o custo de vida elevou-se 40%.

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O quadro é o mesmo na Hungria e na Checoslováquia, onde a produção industrial caiu um quinto.

Na URSS, que tinha uma economia gigantesca antes de 1985, a produção industrial caiu 40% desde então; a taxa de inflação alcançou a cifra de 2.500%; a moeda chegou à ruína, com o rublo, que costumava valer mais do que o dólar, tendo agora uma taxa de câmbio de 800 rublos para um dólar (março de 1993).

Os mesmos estúpidos do SWP, que com tal alegria selvagem se regozijaram com a "morte do comunismo" quando do início da luta pelo "socialismo real", dois anos depois lamentavam, como se fossem virgens inocentes, o fato de que tais mudanças estavam prejudicando os trabalhadores. Escrevendo no Socialist Worker de 9 de novembro de 1991, eles diziam:

"Prosperidade, liberdade, democracia - Este, sustentava a mídia, seria o futuro da Alemanha oriental quando o Muro de Berlim veio abaixo, em 9 de novembro de 1989."

"Nas semanas que se seguiram, os checos, os búlgaros e os romenos livraram-se também do domínio stalinista. Poloneses e húngaros aumentaram a pressão pela reforma."

"Dois anos depois, aqueles mesmos políticos, comentaristas e peritos estão silenciosos. Nenhuma de suas previsões se confirmou, nenhuma mostra qualquer perspectiva de se confirmar."

"...a economia de mercado não levou à prosperidade, simplesmente aprofundou a miséria".

Ao contrário. Todas as previsões dos políticos burgueses e da mídia é que se confirmaram. O capitalismo está sendo restaurado e este processo, que era conhecido de todo mundo (inclusive dos tapados trotskistas, cuja "revolução política" contra o "stalinismo" e a "economia planejada", despida de toda a sua verborréia 'esquerdista', correspondia a esta restauração capitalista), só pode ter lugar em meio à miséria e à ruína para as massas de trabalhadores e o enriquecimento extraordinário de uns poucos. O movimento que envolve a demolição de todo planejamento central e a introdução da propriedade privada não poderia senão expressar-se em choques, sobressaltos e deslocamentos que estão prejudicando a classe operária dos antigos Estados socialistas.

São de fato os gurus do SWP que, se um pouco de vergonha na cara e um grão sequer de socialismo tivessem, deveriam estar calados, pelo menos, já que foram seus queridos Lech Walesa e seu Solidariedade na Polônia, Havei e seu Fórum Cívico na República Checa, Boris Yeltsin na Rússia etc., todos os líderes da "revolução antiburocrática" que estão introduzindo as maravilhas da 'democracia' e do 'livre mercado'. Em lugar de manter-se sabiamente calado, o Socialist Worker, tendo resumido os resultados da introdução da economia de mercado nos países da Europa Oriental, prosseguia queixando-se timidamente:

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"E no entanto isto, e a miséria crescente na Alemanha Oriental e na Polônia, não impediram o Presidente Boris Yeltsin, da Rússia, de propor um programa de rápida e ampla privatização e a urgente remoção dos subsídios de alimentos e aluguel."

Contudo, parece que eles ainda não estão satisfeitos com o resultado, pois acreditam que os novos regimes burgueses recentemente estabelecidos não tinham sido bastante eficientes na destruição de todos os traços, instrumentos e instituições ligadas aos regimes anteriores dos antigos estados socialistas:

"E não se passa uma semana sem revelações provando que os odiados Stasi, a Segurança, o AVO Húngaro e todas as outras escórias que forçavam o regime stalinista ainda estão por aí"!

A sentença anterior, além de revelar que o seu ódio é reservado principalmente para os regimes socialistas, é também uma tentativa esperta de enganar os ingênuos, que engrossam as fileiras de todas as organizações trotskistas e que têm uma queda pelos slogans enganosos, acreditando que os antigos regimes na Europa Oriental eram stalinistas, ou seja, leninistas. No prefácio de meu livro Perestroika, The Complete Collapse of Revisionism, referindo-me neste contexto aos trotskistas, revisionistas e social-democratas, eu dizia:

"Essa elite revoltante - em particular os trotskistas contra-revolucionários -têm aplaudido em delírio o suposto colapso, na Europa Oriental e na URSS, do stalinismo. E exatamente o contrário. O que entrou em colapso é o revisionismo e sua inevitável degeneração em capitalismo ordinário. O que é chamado 'stalinismo' por estas criaturas desprezíveis é, na prática, apenas o leninismo. Quando o leninismo foi praticado na URSS, como ocorreu indubitavelmente durante as três décadas sob a liderança de Stalin no PCUS, realizou proezas históricas mundiais em todas as frentes - econômica, social, cultural, diplomática e militar - o que foi precisamente a razão pela qual o próprio nome de Stalin tornou-se alvo de tanto abuso por parte da burguesia e de seus combatentes mercenários. Assim, o que entrou em colapso foi o revisionismo, ainda que, com o objetivo de confundir o proletariado, os trotskistas espertalhões, e ao mesmo tempo broncos, usando a palavra "stalinismo" como uma obscenidade em lugar de uma caracterização política, a têm aplicado aos próprios revisionistas que mantém um ódio mortal a Stalin" (pp. viii-ix).

Ao fim e ao cabo, o Socialist Worker está bem satisfeito com o êxito da contra-revolução na Europa Oriental e termina com a seguinte conclusão presunçosa, para não dizer indecente:

"O que o Socialist Worker disse em novembro de 1989 permanece verdadeiro até hoje: o que é realmente maravilhoso acerca dos novos movimentos na Europa Oriental é que eles fazem vislumbrar uma sociedade que é melhor, mais livre e mais democrática do que a que existe atualmente no leste ou oeste".

Em outras palavras, o que era uma coisa maravilhosa era ter substituído os regimes socialistas pelos regimes burgueses e pelas economias de livre mercado, o que

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teve como conseqüências o que o Sr. Alan Gibson, autor deste artigo do Socialist Worker, lamenta de maneira tão demente e autodestrutiva!!

O mesmo SWP que, em agosto de 1991, tinha com grande ardor contra-revolucionário declarado que a vitória de Yeltsin tinha conduzido "os operários da URSS mais perto do espírito da revolução de 1917",agora declara, através da coluna do desprezível John Molyneux que "é precisamente a natureza perversamente anticlasse operária da "reforma" de livre mercado de Yeltsin que o torna aspirante a poderes ditatoriais, afim de impor seu programa". Conseqüentemente, nenhum socialista deveria agora apoiar Yeltsin" (Socialist Worker, 10 de abril de 1993, "Rússia: que lado deveríamos tomar?").

Tal é a lógica da elite contra-revolucionária do SWP: apoio à contra-revolução de Yeltsin em agosto de 1991, sob o pretexto de que sua vitória tornaria o proletariado da URSS "mais perto do espírito da revolução socialista de 1917" e oposição a Yeltsin em abril de 1993 por sua tentativa de pôr em prática o declarado programa da própria contra-revolução que o SWP louvou tão eloqüentemente!!

Nada poderia revelar melhor a horrenda face social-democrata do SWP do que o fato de que o próprio Socialist Worker, que se regozijara com a morte do comunismo, sofreu uma profunda "depressão" e "desmoralização pós-eleitoral" na esteira da quarta derrota consecutiva eleitoral do Partido Trabalhista. O Socialist Worker berrou: "O resultado da eleição foi um desastre para todos que desejam uma sociedade melhor."

A crueza da defesa do capitalismo pelo SWP e seus representantes compeliu ainda os espartaquistas da ICL, outra organização contra-revolucionária trotskista, a fazer a seguinte e correta observação:

"Uma organização (isto é, o SWP-HB) que encontrou uma causa 'pela qual todos os socialistas deveriam ter-se regozijado, com a vitória das forças contra-revolucionárias de Yeltsin, que tinham produzido desemprego e pobreza em massa para as massas da antiga URSS, enquanto descobriam uma causa para fazer os 'socialistas' chorarem com a derrota dos pelegos traidores do trabalhismo, de Neil Kinnock, obviamente deu uma bela reviravolta no catavento..." (Workers Hammer, julho/agosto 1993).

E mais adiante, no mesmo artigo, continua o ICL: "A contra-revolução capitalista na Europa Oriental e na União Soviética significou incalculável miséria para as massas trabalhadoras daqueles países - pobreza, desabrigo e fome - e produziu um ataque violento de nacionalismo sangrento fratricida. A Europa - Ocidental e Oriental - enfrenta o desemprego maciço, o ameaçador ressurgimento do anti-semitismo, o terror racista e fascista, ataques aos direitos da mulher... Agora que a frente unificada anti-soviética não contém suas rivalidades, as classes dominantes imperialistas estão tentando apertar os parafusos da exploração sobre o proletariado 'em sua própria casa'. Ao mesmo tempo, tentam convencer a classe operária e os oprimidos de que 'o comunismo está morto', que qualquer tentativa de superar este sistema de exploração está condenado no futuro à inutilidade e até ao crime."

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"O SWP apresenta-se como uma alternativa de luta. Se houvesse qualquer justiça neste mundo, estes renegados da Terceira Via deveriam envergonhar-se até de tentar mostrar sua face ao público! Da Polônia à Alemanha Oriental e a Moscou, eles estavam entre os maiores torcedores da forças da contra-revolução que agora estão devastando a Europa Oriental e a ex-União Soviética. Enquanto a maioria do restante da esquerda segue atrás, urrando com os conquistadores imperialistas contra todo e qualquer 'movimento' anti-soviético, o SWP não somente apóia algumas das obscuras forças da reação mas se lhes oferece como um modelo para a luta contra o 'totalitarismo' stalinista."

"Assim, por exemplo, seguindo a retirada soviética do Afeganistão, os clijfistas 2 saudaram os reacionários islâmicos financiados pela CIA que estão agora afogando em sangue qualquer fiapo de progresso social naquele país. O Socialist Worker (4 de fevereiro de 1989) afirmou com entusiasmo que uma 'vitória dos Mojahedin encorajaria os opositores do domínio russo em toda a URSS e na Europa Oriental'!Certamente o SWP deveria agora estar feliz por terem sido precisamente esses 'opositores do domínio russo', isto é, os depravados reacionários nacionalistas, terroristas fascistas, clericalistas que têm ódio às mulheres, que tenham sido deixados à solta pela contra-revolução capitalista", (ibid.)

O SWP pode ser organizado independentemente mas, em termos de seu programa e fisionomia política e ideológica, é indiscutivelmente um Partido Trabalhista social-democrático - como de fato o são todas as organizações trotskistas, que em toda parte agem como uma ala militante anticomunista da social-democracia.

A hipocrisia da fraude da posição antitrabalhista do SWP é exposta por outro trotskista, Sean Matgamna. Escrevendo no Socialist Organiser de 19 de novembro dê 1992, a partir de uma perspectiva segundo a qual o SWP deveria estar dentro do Partido Trabalhista para ajudar a construir a 'esquerda' dentro dele, eis como ele arranca a máscara do falso antitrabalhismo da medonha face do SWP:

"Na Eleição Geral de 1979, o SWP enquanto se proclamava a "alternativa socialista" ao Partido Trabalhista, declinou de apresentar candidatos, apoiou o Partido Trabalhista!... Coube a Foot, em uma entrevista no London Evening Standard, expressar o dualismo do SWP, o enfoque que levava o movimento trabalhista político para a ala direita, em toda sua grosseria. Ele disse: "Nas próximas três

semanas serei um forte apoiador do trabalhismo. Estou muito ansioso para que não

retorne um governo Tory, estarei comparecendo a reuniões que estamos tendo,

dizendo a todos que votem no trabalhismo' (9 de abril de 1979)."

Conclui Mr. Matgamna: "Em seu papel de embaixador do SWP para a burguesia e a mídia, Foot muitas vezes deixa escapar a verdade sobre a política do SWP, sem a mistificação e fraseologia 'socialista' usual. Paul, sobrinho de Michael Foot, é, portanto, um homem útil para se estar ao redor."

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Os trotskistas seguidores de Healy detectam a linha de Trotsky e dão boas-vindas

à perestroika de Gorbatchov

O falecido e nada saudoso molestador de crianças e recebedor de fundos de uma grande variedade de fontes, desde os regimes árabes até a CIA, por sua vida inteira de devoção à causa do anticomunismo e do antisovietismo, a saber, o trotskista Gerry Healy, da velha e notória Liga Trabalhista Socialista (SLL), deu as boas-vindas à perestroika e a glasnost como a "revolução política para restaurar as perspectivas revolucionárias mundiais bolcheviques". Desde o colapso da União Soviética e sua desintegração, os seguidores de Healy, os troskystas de Redgrave do assim-chamado Partido Marxista, continuaram a difamar o desenvolvimento e a história soviéticas, ao afirmarem que Lênin tinha estado completamente errado e que a denúncia de Rosa Luxemburgo de Lênin como um "supervisor estéril" visando a"subordinação cega" de "uma elite intelectual faminta por poder" através de um "implacável centralismo", estava correta.

Com o desaparecimento dos antigos Estados socialistas e a chegada ao poder dos regimes burgueses, os trotskistas ficaram em palpos de aranha para explicar sua imprestável teoria da "revoluçãopolítica antiburocrática". Como resultado passaram a atacar uns aos outros. Os outros frutos dos extremistas lunáticos de Healy, os seguidores de North e Torrance, estão em convulsão sobre isto. Os northistas simplesmente atribuem a responsabilidade a Trotsky que, dizem, estava errado porque nada restara com o que fazer uma revolução:

"O que foi destruído entre 1936 e 1940 não foi apenas a flor do marxismo mas sua raiz."

"Não é detratar qualquer coisa do trabalho de Trotsky dizer que ele simplesmente poderia não ter sabido, mesmo quando estava escrevendo sua denúncia dos Julgamentos de Moscou, da escala do banho de sangue que estava tendo lugar na URSS."

Isto pode significar uma de duas coisas: ou que o socialismo tinha cessado de existir e o capitalismo tinha sido restaurado ao final dos anos 1930, em cujo caso, os northistas parecem estar argumentando que Trotsky deveria ter então denunciado o regime soviético mais veementemente do que fez realmente; alternativamente, poderia significar que o Estado dos trabalhadores, embora 'distorcido', continuava a existir na URSS mas que, após os julgamentos por traição de Moscou, não restara 'vanguarda revolucionária" capaz de realizar a 'revolução política' trotskista e que, portanto, a 'derrubada da burocracia' só poderia levar ao restabelecimento do capitalismo, para cujo fim, os trotskistas, com sua teoria da 'revolução política', tinham trabalhado todos esses anos. Nesse caso, Trotsky estava também errado ao advogar sua 'revolução política', com isso conduzindo seus seguidores para o beco sem saída que leva à restauração capitalista. De qualquer forma que se encare a citação northista acima, chega-se à conclusão de que esta gente está tão perdida quando se trata de explicar os momentosos desenvolvimentos da URSS quanto confortável com a conversa fiada trotskista.

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Do derrotismo anti-soviético, escondido por uma verdadeira verborragia, pela verdadeira fraseologia e falsa crença na quimérica "revolução política antiburocrática", os trotskistas northistas passam sem qualquer dificuldade para o seguinte derrotismo absoluto e sem reservas, caracterizando todo o período de outubro de 1917 em diante como um completo desastre:

"Devemos evitar usar frases que se banalizaram pelo excesso de uso; mas neste caso pode verdadeiramente ser dito que chegamos ao fim de um completo período histórico que foi aberto em 1917."

Seus rivais, da facção Torrance dos trotskistas, o núcleo do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (WRP) da linha Newsline, não gostam da 'explicação' northista, cujo derrotismo completo embaraça-os grandemente. Em uma tentativa de ganhar alguma credibilidade para o trotskismo e superar dúvidas entre as fileiras trotskistas quanto à possibilidade de que a teoria da "revolução política" de seu guru Trotsky e seu tempo de vida gasto em atividade anti-soviética contivesse um mínimo de conteúdo progressista, para não dizer revolucionário, os torrancistas passam a defender a caracterização do desenvolvimento contra-revolucionário na antiga URSS e na Europa Oriental como "revolucionário" por natureza. Ridicularizando os northistas, os torrancistas escrevem:

"O lado cômico de tudo isso é que, visto que a burocracia é a 'força determinante', se o assim-chamado 'complexo industrial militar' fosse derrotar Yeltsin, reinstituindo a URSS, então sem dúvida North teria de declarar que a URSS era outra vez um Estado dos trabalhadores. Ele teria de dizer 'Obrigado pela burocracia stalinista'."

Assim, encontramos uma seção dos trotskistas (os northistas) culpando Trotsky por não ter sido firme bastante em suas diatribes contra a União Soviética, com isso levando seus seguidores ao beco sem saída do apoio a um alegado Estado dos operários necessitando de uma revolução política, quando, dizem os northistas, o socialismo já tinha sido destruído e, portanto, nada restava contra o que fazer uma revolução. A outra seção (os torrancistas) exonerava-se de toda responsabilidade pela longa vida da atividade anti-soviética e anticomunista, fingindo que não tinha havido qualquer contra-revolução, que Yeltsin representa a "revolução política" que, no decorrer do tempo, vai "restaurar o bolchevismo".

Alguns outros trotskistas

Por sua parte, o pasquim trotskista Socialist Organiser, antes citado, assim exultava com a vitória das forças de Yeltsin: "Seu corajoso desafio ao sistema stalinista ajudará os trabalhadores a verem o que está em jogo - uma sociedade aberta, com o embrião do império da lei e algum grau de autocontrole democrático, de um lado, e uma sufocante ditadura stalinista da Era do Gelo, de outro" (SO Supplement, 20 de agosto de 1992).

Os trotskistas "militantes" não eram menos desprezivelmente desavergonhados em suas boas-vindas à contra-revolução de Yeltsin: "Em todo o

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mundo os trabalhadores vêem isto como o poder do povo reduzindo a ameaça da ditadura a uma tosca farsa. Todos os ditadores estremecerão face à perspectiva de que seus próprios cidadãos tomem tal posição."

O "Poder dos Trabalhadores", ainda outro grupo trotskista, estando plena-mente consciente da "natureza socialmente contra-revolucionária do programa de Yeltsin" e dos "vigaristas e escroques" que o apoiavam, mesmo assim sentiram-se obrigados a apoiar Yeltsin: "Por mais contra-revolucionária que seja a natureza do programa de Yeltsin, por mais vigaristas e escroques que se juntem às barricadas para defender o parlamento russo, seria suicídio revolucionário ficar do lado dos golpistas e apoiar o esmagamento dos direitos democráticos..."

"É muito melhor que as nascentes organizações de operários da URSS aprendam a nadar contra a corrente da restauração burocrática do que amontoarem-se no 'espaço aconchegante' da cela da prisão."

Olhando à frente com grande entusiasmo, "para o próximo estágio - a tarefa de desmantelar rapidamente os instrumentos do planejamento central" (Workers Power, setembro de 1991), o "Workers' Power",reduzindo ao absurdo sua lógica contra-revolucionária, conclama ao "controle pelos operários" da contra-revolução! - para um "Yeltsin dos operários" que não pararia no meio do caminho:

"Os revolucionários compartilham o ódio dos operários por todos os representantes reais e simbólicos de sua opressão. Apoiamos o fechamento dos suntuosos escritórios do PCUS, das lojas e sanatórios privados, o desenraizamento dos altos funcionários da KGB. Porém, não confiamos em Yeltsin ou na direção dos principais Sovietes nas principais vilas e cidades para conduzirem a destruição da ditadura stalinista."

"Procuramos em cada lugar envolver as massas, independentemente, no processo de destruição da ditadura do PCUS..."

"Os trabalhadores devem controlar o processo de destruição dos stalinistas até o fim e não deixar que Yeltsin preserve o que é útil para ele."

Como o Socialist Organiser, o Workers Power estava plenamente consciente das forças que apoiavam Yeltsin. Relatos locais diziam que aqueles que estavam nas trincheiras de Yeltsin "não eram, em sua maioria, os trabalhadores e estudantes de Moscou mais audaciosos", acrescentando:

"Em lugar disso, eram na maioria pequenos negociantes, especuladores e proprietários de cooperativas ('livre empresa'), a base tradicional das manifestações da (Rússia nacionalista) 'Rússia Democrática", mais umas poucas centenas de jovens entusiásticos. Embora tenha havido informações sobre ações de greve e mobilização de massas em outras partes da URSS, em Moscou, ao menos, a classe operária teve pequeno papel na resistência ao golpe."

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Há, certamente, inúmeros outros grupos trotskistas sobre os quais nada foi dito aqui. Mas não é possível ou necessário, ou mesmo desejável, fazer referência a todos eles, pois não representam mais do que variações sobre temas já encontrados no breve esboço que apresentei antes sobre as tendências trotskistas. O que os une a todos é que são todos trotskistas. São, portanto, contra-revolucionários até a raiz dos cabelos - não por que querem ser assim, mas porque não podem deixar de ser contra-revolucionários, enquanto seguirem a teoria da 'revolução permanente' de Trotsky, pequeno-burguesa, pessimista e contra-revolucionária.

A derrota do trotskismo e o triunfo do socialismo

Os eventos daqueles anos, que abalaram a Europa Oriental e a URSS, não apenas provaram a completa falência do revisionismo kruchevista como também expuseram, se é que tal exposição fosse necessária, a natureza inteiramente contra-revolucionária do trotskismo. Esses eventos provaram além de qualquer dúvida a afinidade íntima, não obstante as diferenças de forma, entre o revisionismo e o trotskismo. O revisionismo kruchevista, de direita na forma e na essência, buscava, através do Partido Comunista, o mesmo objetivo de restaurar o capitalismo na URSS e nos outros países da Europa Oriental que o trotskismo, de 'esquerda' na forma e de direita na essência, vinha tentando desde os anos 20, através da assim chamada "revolução antiburocrática". Esta afinidade e a prova, na prática, de uma forma mais viva da essência contra-revolucionária do revisionismo e do trotskismo, deveriam facilitar a tarefa de denunciar e combater ambas as tendências contra-revolucionárias.

Entretanto, estamos vivendo uma época de decadência ideológica, de confusão, de desintegração e hesitação- uma época em que a renegação e a deserção estão na ordem do dia. Com o colapso completo do revisionismo kruchevista, a desintegração da URSS e dos regimes socialistas da Europa Oriental, bem como a liquidação dos partidos revisionistas em outras partes, pode-se esperar que os trotskistas outra vez venham a dizer: 'Nós os avisamos. Os trotskistas estavam

corretos ao afirmarem que o socialismo não poderia ser construído em um só país

etc.' Nossa tarefa é refutar este palavreado insensato e contra-revolucionário. O colapso da URSS, longe de provar a correção do trotskismo, na realidade o pulveriza por completo. O que prova é que, tivesse o trotskismo (ou mesmo o bukharinismo) sido posto em prática na URSS de meados dos anos 20, ela teria entrado em colapso muito antes, há mais de seis décadas. O PCUS, no entanto, rejeitando o trotskismo e o bukharinismo, seguiu em frente na construção do socialismo e de um poderoso Estado soviético - um bastião e um farol do socialismo cujos êxitos épicos, na guerra e na paz, cujos feitos heróicos em todas as esferas do desenvolvimento social, econômico, educacional, artístico, militar e científico; cujos esforços sobre-humanos para construir uma nova sociedade baseada não na exploração do homem pelo homem mas sobre a base da lei do desenvolvimento equilibrado da economia nacional para a satisfação das necessidades continuamente crescentes da população, uma sociedade baseada na cooperação fraterna e não nos conflitos nacionais e no racismo, uma sociedade baseada na igualdade dos sexos e não na discriminação sexual; cuja luta titânica e vitória acachapante contra a Ale-manha Hitlerista - vitória que livrou a humanidade do

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flagelo do fascismo - levaram o socialismo para a Europa Oriental e forneceram um tremendo impulso aos movimentos de libertação nacional, assim enfraquecendo o imperialismo; e cujo irrestrito apoio ao proletariado revolucionário e às guerras de libertação nacional em toda parte, cujo internacionalismo proletário continuará a inspirar a humanidade em seu esforço para livrar-se de toda exploração e alcançar uma sociedade comunista sem classes através da ditadura do proletariado.

Trotskismo ou leninismo?

Neste período de confusão ideológica, os trotskistas estão reduzidos a se manifestarem com fragmentos de frases feitas pomposas, altissonantes, fúteis, obscuras e bombásticas, que confundem a intelligentsia e os trabalhadores sem consciência de classe, em uma tentativa de preencher o vazio ideológico e assim fazer o trotskismo passar por leninismo. Eles estão limitados a fazer ainda outra tentativa de substituir o leninismo pelo trotskismo. Não devemos permitir que o façam. Todo márxista-leninista, todo trabalhador com consciência de classe, deve desempenhar seu papel para frustrar esta tentativa e assegurar que ela fracasse tão miseravelmente como todas as tentativas similares no passado.

É como uma forma de contribuir para que esta tentativa de substituir o leninismo pelo trotskismo seja frustrada que este livro é oferecido. O autor não busca nenhuma outra recompensa senão a de atingir este objetivo. A escolha é clara: ou o trotskismo contra-revolucionário ou o leninismo revolucionário. Um ou outro: trotskismo ou leninismo?

Algumas palavras sobre o livro

Finalmente, algumas poucas palavras sobre o material de que este livro é constituído. As partes I a IV baseiam-se em uma série de palestras que fiz em Londres, a convite da Associação de Trabalhadores Comunistas (ACW), um grupo anti-revisionista que, embora pequeno em número, desempenhou um papel importante na defesa dos fundamentos do marxismo-leninismo tanto contra ataques dos trotskistas quanto dos revisionistas. Originalmente, estas páginas foram distribuídas como uma série de quatro panfletos separados, sob o título Some Questions Concerning the Struggle of Counter-Revolutionary Trotkysm Against Revolutionary Leninism (Algumas Questões Referentes à Luta do Troskyismo contra-revolucionário contra o Leninismo Revolucionário). As páginas tratando da Guerra Civil espanhola (Parte V) não foram produzidas na época prevista. Desde então, com base em algumas notas que eu possuía e outras de pesquisa de sua parte, minha camarada e amiga Ella Rule escreveu esta seção e apresentou-a como um documento para deliberação da Sociedade Stalin em 24 de março de 1991. As secções tratando da questão da coletivização e da luta de classes sob as condições da ditadura do proletariado foram ambas escritas na forma de um prefácio a coleções de escritos de Stalin sobre estas duas importantes questões. Elas também apareceram como panfletos separados, a primeira sobre coletivização, em 1975, e a sobre a luta de classes, em 1973. Neste último panfleto, a secção tratando do Pacto de Não-Agressão Germano-Soviético foi ampliada para incluir evidência comprovadora que não estava no panfleto original. Agora que este Pacto tem sofrido críticas renovadas, resolvi incluir este material. Também atualizei o texto

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para levar em conta trabalhos que têm sido publicados desde que o material original foi produzido, ou dos quais tenho tido conhecimento desde então. Pelo contexto, e pelas datas das publicações referidas o leitor terá pouca dificuldade em verificar quais são os novos materiais.

Estas duas últimas publicações foram necessárias devido a uma onda de ataques às políticas marxistas-leninistas do PCUS(B) durante a liderança de Stalin (1924-1953), por parte de indivíduos e organizações que se autodenominam anti-revisionistas e, portanto, por definição, deveriam opor-se tanto ao revisionismo quanto ao trotskismo. O que essas pessoas e entidades estavam pondo em prática, contudo, era algo incrivelmente confuso e incrivelmente reacionário - em muitos casos, mera repetição de proposições trotskistas. Seus escritos caracterizavam-se por uma mistura de banalidades equivocadas e arrogância ignorante. O movimento anti-revisionista britânico daqueles dias primou por uma considerável quantidade de "contra-sensos mais extremos", para usar uma expressão de Engels, produzindo vários personagens que se davam ares de conhecer a ciência do marxismo-leninismo, da qual realmente nunca leram uma palavra.

Na década de 1870, no Prefácio a seu Anti-Dühring, Engels lamentou amargamente a "doença infantil" que então afligia grande parte da intelligentsia alemã, inclusive parte da intelligentsia socialista, na qual "a liberdade da ciência é vista como significando que as pessoas escrevam sobre qualquer tema que elas não tenham estudado e passem isto adiante como o único método estritamente científico".

Esta "doença infantil"grassava entre uma grande parte do movimento anti-revisionista dos anos 1970 e seus companheiros, causando grande confusão. Outra vez, a convite da ACW, eu editei as duas coleções dos escritos de Stalin sobre os temas referidos antes, antecedendo cada coleção com um prefácio alongado, com o propósito de refutar os contra-sensos e as banalidades mais exaltadas de nossos opositores que, possuindo pouco conhecimento da ciência do marxismo-leninismo, mas usando um grande volume de pretensão e ignorância, estavam difundindo, em nome do marxismo, uma grande quantidade de contra-sensos confusos e reacionários. Visto que tal contra-senso reacionário vem de setores ao menos nominalmente anti-revisionistas, tinha que ser confrontado.

Já passou um largo tempo desde que o conteúdo deste livro foi publicado pela primeira vez, na forma de seis panfletos separados. Algumas das pessoas contra a qual se polemizou neles já estão mortas ou aposentadas, ou discreta e simplesmente abrigaram-se em nichos pequeno-burgueses que eles cavaram para si próprios. Igualmente, algumas das organizações já se liquidaram voluntariamente ou caíram no esquecimento político. Ainda outras não são facilmente reconhecíveis por terem mudado de nome uma ou mais vezes (o que é especialmente verdadeiro de organizações trotskistas). Nada disso tem a menor importância. O que é realmente relevante são os eventos e as questões que foram então, e mostram todos os sinais agora de se tornarem no futuro, temas de discussão e polêmica inflamadas. Neste caso, tudo que precisamos fazer é remover o nome da pessoa ou da organização e usar a substância do argumento contra aqueles que podem insistir em afirmar contra-

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sensos do tipo daqueles que foram defendidos pelas pessoas contra quem polemizei duas décadas atrás. Além disso, aqueles contra os quais polemizei são insignificantes hoje, ou eram talvez insignificantes também naquela época. Porém, contra-sensos similares têm emergido de setores mais significativos, cujos discursos têm peso, influência e autoridade. Minha esperança é de que minhas polêmicas contra meus opositores tenham o efeito desejado de contrariar contra-sensos igualmente perniciosos desses setores de alto nível.

Originalmente, quando o conteúdo deste livro foi distribuído como panfletos separados, cada panfleto foi precedido de uma introdução, de tal forma que cada um deles poderia ter sido lido isoladamente, se preciso. Este formato foi mantido no livro agora apresentado. Isto deve tornar fácil ler as diferentes seções em qualquer ordem que se queira. Elaborei deliberadamente um prefácio mais extenso a fim de, primeiro, atualizar o texto, ao incluir uma breve referência à queda do socialismo na URSS e na Europa Oriental, como a culminação de um longo processo da teoria e da prática revisionistas no campo da política, da economia política, da luta de classes e da filosofia, tudo em função do triunfo do revisionismo moderno kruchevista no 20° Congresso do PCUS, em 1956; segundo, para fornecer mais evidências da natureza completamente contra-revolucionária do trotskismo, fazendo referência à reação da direção atual de organizações e indivíduos trotskistas à restauração do capitalismo na Europa Oriental; e, finalmente, para proporcionar a todas as questões de que trata este livro um grau de coerência que, tendo sido originalmente publicadas como panfletos separados, talvez não possuíssem.

Decidiu-se, também, preparar três apêndices - um que veio a ser chamado O Testamento de Lênin, outro sobre as relações entre Trotsky e a imprensa imperialista e outro sobre o assassinato de Trotsky por um de seus próprios seguidores. Como são auto-explicativos, não é necessário acrescentar nada sobre eles aqui.

Com estas palavras concluo este prefácio, expressando a esperança de que ele constituirá uma útil contribuição, por menor que seja, na luta contra o trotskismo e o revisionismo e na defesa das proposições eternamente verdadeiras do marxismo-leninismo. Não tive a pretensão de dizer absolutamente qualquer coisa de original, ao escrever este livro. O que tenho a dizer nele será de conhecimento comum das antigas gerações de marxistas leninistas. Porém, para nossa desgraça, o conhecimento do que deveria ser verdade geralmente conhecida está se tornando cada vez menor na geração mais jovem. Nós encontramos camaradas jovens que desejam juntar-se ao movimento e ajudar-nos em nosso trabalho. O que devemos fazer com esses camaradas? Respondo essa questão com as seguintes palavras de Stalin: "Penso que a reiteração sistemática e a explicação paciente das verdades supostamente do 'conhecimento geral' é um dos melhores métodos de educar estes camaradas no marxismo" (Stalin, Economic Problems of Socialism in the URSS, FLPH, Pequim, p. 9).

Se tive êxito na reiteração correta e sistemática de pelo menos algumas das verdades do suposto "conhecimento geral" neste livro, considerar-me-ei inteira-mente satisfeito com o empreendimento assumido.

Notas

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1. Otzovistas: Grupo oportunista formado no RSDLP em 1908. Era dirigido por A. Bogdanov. Por Irás de um biombo de palavrório revolucionário, os otzovistas buscavam a destituição dos deputados social-democratas da Terceira Duma (parlamento czarista) e a cessação das atividades legais e semilegais do Partido, sustentando que, como a reação estava criando tumulto, o Partido tinha de confinar-se ao trabalho ilegal.

Isto teria isolado o Partido das massas e o tornado uma organização incapaz de reunir forças para outro levante revolucionário.

Lênin mostrou que a visão dos otzovistas era inconsistente, sem princípios e hostil ao marxismo. Em uma conferência de um extenso corpo editorial do jornal bolchevique Proletary, em junho de 1909, foi aprovada uma resolução afirmando que "como uma tendência nítida na RSDLP, o bolchevismo nada tem em comum com os otzovistas ou o ultimatismo " (uma variedade do otzovismo). A. Bogdanov, o líder do otzovismo, foi expulso do Partido Bolchevista.

2. Liquidacionistas: representantes de uma tendência oportunista no RSDLP durante o período da reação de 1907-1912. Os mencheviques foram totalmente desmoralizados pela derrota de 1905-1907. Eles queriam a dispersão das atividades ilegais do Partido e a cessação da atividade revolucionária clandestina. Seu objetivo era liquidar o Partido revolucionário da classe operária e estabelecer um partido abertamente reformista. Os liquidacionistas instavam a classe trabalhadora a aproximar-se da burguesia, para reconciliar-se com o regime reacionário na Rússia.

Os liquidacionistas eram chefiados por Martov, Axelrod, Dan, Martinov e outros dirigentes mencheviques. Trotsky de fato se alinhava com os liquidacionistas.

Na 6a Conferência de toda a Rússia (Praga) do RSDLP (janeiro de 1912). os liquidacionistas foram expulsos do Partido.

3. AUCCTU: Conselho Central dos Sindicatos de Toda a União.

4. "Entre essas lendas deve ser incluída também a estória muito difundida de que Trotsky foi o "único" ou "organizador principal" da vitória na frente da guerra civil. Devo declarar, camaradas, a bem da verdade, que esta versão não está de acordo com os fatos. Estou longe de negar que Trotsky desempenhou um papel importante na guerra civil. Mas devo declarar enfaticamente que a alta honra de ser o organizador de nossas vitórias pertence não a indivíduos, mas ao grande corpo coletivo dos trabalhadores progressistas de nosso país, o Partido Comunista Russo. Talvez não esteja fora de lugar citar alguns exemplos. Vocês sabem que Kolcjak e Denikin foram considerados os inimigos principais da República Soviética. Vocês sabem que nosso país só respirou livremente depois que esses inimigos foram derrotados. Bem, a história mostra que esses dois inimigos, Kolchak e Denikin, foram rechaçados por nossas tropas, A DESPEITO dos planos de Trotsky.

Julguem vocês mesmos:

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KOLCHAK. Isto ocorreu no verão de 1919. Nossas tropas estão avançando contra Kolchak e estão operando perto de Ufa. Há uma reunião do Comitê Central. Trotsky propõe suspender o avanço ao longo da linha do rio Belaya (perto de Ufa), deixando os Urais nas mãos de Kolchak, e que parte da tropa seja retirada da Frente Oriental e transferida para a Frente Meridional. Tem lugar um acalorado debate. O Comitê Central discorda de Trotsky, sendo da opinião de que os Urais, com suas fábricas e rede ferroviária, não devem ser deixados nas mãos de Kolchak, pois este poderia facilmente se recompor ali, organizar um força vigorosa e atingir o Volga novamente; Kolchak deve primeiro ser empurrado para além da cadeia dos Urais, para as estepes da Sibéria, e somente depois que isto for feito deve-se transferir forças para o sul. O Comitê Central rejeita o plano de Trotsky. Trotsky apresenta sua renúncia. O Comitê Central recusa-se a aceitá-la. O Comandante-em-chefe Vatsetis, que apoiou o plano de Trotsky, renuncia. É substituído por um novo Comandante-em-Chefe, Kamenev. A partir daquele momento, Trotsky deixa de tomar parte direta nas questões da Frente Oriental.

DENIKIN: Outono de 1919. A ofensiva contra Denikin não está obtendo sucesso. O anel de aço' em torno de Mamontov (ataque a Mamontov) está em evidente colapso. Denikin captura Kursk. Denikin aproxima-se de Orei. Trotsky é convocado da Frente Meridional, para comparecer a uma reunião do Comitê Central. O Comitê Central considera a situação alarmante e decide enviar novos líderes militares para a Frente Meridional e afastar Trotsky. Os novos líderes militares exigem 'nenhuma intervenção' de Trotsky nas questões da Frente Meridional. As operações na Frente Meridional, até a captura de Rostov-sobre-o-Don e Odessa por nossas tropas, prosseguem sem Trotsky.

Que alguém tente refutar estes fatos."

(Stalin, Collected Works. Vol. 6. pp. 350-352).

1 Nota do tradutor: organizações que forneciam equipamentos às fazendas coletivas.

2 Nota do tradutor: seguidores do trotskista Tony Cliff.