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  • RESENHA DE GNERO: HISTRIA, TEORIA, PESQUISA, ENSINO

    REVIEW OF GENRE: HISTORY, THEORY, RESEARCH, EDUCATION

    Na obra Gnero: histria, teoria, pesquisa, ensino os autores Anis Bawarshi e

    Mary Jo Reiff apresentam uma completa perspectiva histrica e das teorias do estudo

    sobre gneros, alm de abordar a pesquisa sobre estes em diversos contextos. O texto

    traz ainda uma anlise das abordagens de gnero no ensino da escrita, muito pertinente a

    pesquisadores e professores ligados Lngua Portuguesa, Lngua Inglesa, Lingustica,

    Anlise do Discurso e Educao, para que possam conhecer diversas perspectivas a

    respeito dos gneros e utilizar melhor essa ferramenta em sala de aula.

    O livro possui 11 captulos distribudos em trs partes: Retrospectiva histrica e

    teorias de gnero (Parte 1); Pesquisa de gneros em contextos mltiplos (Parte 2) e

    Abordagens de gnero no ensino da escrita (Parte 3). Separado dessas partes, o

    Captulo 1, intitulado Introduo e panorama, faz um breve apanhado geral da obra,

    mostrando que, nas ltimas trs dcadas, houve uma revoluo no modo de se pensar os

    gneros, que deixaram de ser simples categorizaes para dar lugar a uma perspectiva

    que liga variedades de textos a variedades de ao social. Citam-se, aqui, os casos da

    Austrlia e do Brasil, em que o ensino e compreenso dos gneros so vistos como

    forma de acesso a avanados nveis de educao.

    Dando incio Parte 1, o Captulo 2, de nome Gnero nas tradies literrias,

    comea a delinear as vrias formas e trajetrias pedaggicas pelas quais passou o ensino

    de gneros. Isso feito analisando abordagens que vo desde as neoclssicas at as

    abordagens dos estudos culturais, mostrando que algumas delas, segundo os autores,

    mantm atitudes bipolares disseminadas culturalmente a respeito dos gneros, tidos

    como objetos meramente estticos ou como restries liberdade artstica, enquanto

    outras, mais recentes, seriam mais amplas e alinhadas com os estudos lingusticos de

    gnero. A ideia principal desse captulo mostrar como essas teorias definiram e

    utilizaram os gneros e as implicaes disso para o ensino da escrita.

  • O terceiro captulo, Gnero nas tradies lingusticas: lingustica sistmico-

    funcional e lingustica de corpus, mostra como as abordagens sistmico-funcionais

    contriburam amplamente para o ensino de lngua nas ltimas dcadas. Essas

    abordagens, baseadas principalmente nos estudos de Halliday (1978), ficaram

    conhecidas como Escola de Sidney e mostram, dentre outras contribuies, a ideia de

    registro, em que h a relao de um tipo de situao com padres semnticos e lxico-

    gramaticais. Essas contribuies consideram os gneros como processos sociais, ligados

    ao contexto de cultura dos indivduos. H, ainda neste captulo, a anlise dos gneros

    dentro da lingustica histrica/de corpus, com enfoque na chamada teoria dos

    prottipos, para descrever a variao de traos que constituem os diferentes gneros

    acadmicos e profissionais, e como os gneros so capazes de mediar relaes de poder

    histrica e linguisticamente.

    O Captulo 4, Gnero nas tradies lingusticas: ingls para fins especficos, faz

    uma diferenciao entre a abordagem conhecida como ESP English for Specific

    Purposes e a lingustica sistmico-funcional (LSF), especialmente em relao ao

    pblico-alvo de aplicao, o que desembocou na questo crucial sobre qual gnero

    ensinar e sobre as noes de contexto. Os autores relacionam, ainda, os conceitos de

    comunidade discursiva, propsito comunicativo e gnero para a rea de ESP, passando

    pelas tendncias recentes do estudo e as abordagens crticas aos gneros nessa rea, num

    debate conceitual que diferencia a ideia de contexto em ESP e nos estudos retricos.

    Enquanto para ESP o contexto usado na compreenso de textos e propsitos

    comunicativos, nos estudos retricos os textos que so usados para estudar contextos e

    aes sociais. Essa discusso introduz o assunto do captulo seguinte, Gnero nas

    tradies retrica e sociolgica.

    Esse quinto captulo amplia a discusso das distines no estudo dos gneros nas

    diferentes tradies (especialmente em ESP e nos estudos retricos de gnero ERG), e

    as implicaes destas no modo como os gneros podem ser estudados e ensinados. Um

    ponto de convergncia, entretanto, a compreenso fundamental dos gneros sempre

    ligados situao comunicativa. Aqui, chega-se compreenso dos gneros como ao

    social nos ERG e, aps, h uma breve abordagem das tradies francesa e sua no

    estudo de gneros e a sntese brasileira, comeando a obra a interessar mais aos

    pesquisadores do nosso pas. Para os autores, a pesquisa de gneros no Brasil

  • importante, pois consegue sintetizar diversas tradies, particularmente a teoria do

    interacionismo sociodiscursivo, calcada em Bakhtin, Vygotsky, Foucault, Dolz,

    Schneuwly e outros tericos, contribuindo para melhor compreender o funcionamento

    geral dos gneros.

    Fechando a primeira parte, o Captulo 6, Estudos retricos de gnero, apresenta

    uma extensa anlise de como os conceitos dos ERG tm ampliado a compreenso dos

    gneros como aes sociais. Nesta parte da obra, h a introduo de novos conceitos:

    conjuntos e sistemas de gneros, gneros e cognio distribuda, metagneros e gnero e

    sistemas de atividades, dentre outros, sempre numa perspectiva de que os gneros s

    ocorrem e adquirem sentido se estiverem em contextos. Na parte do sistema de

    atividades, o contexto a sala de aula, tornando a teoria mais palpvel ao professor. H

    uma pequena concluso que parte da compreenso dos gneros como rica ferramenta

    para o estudo das atividades humanas, enquanto traz o desafio de como ensinar gneros

    fazendo jus sua complexidade.

    A Parte 2 subdivide-se em trs captulos, que abordam a pesquisa de gneros em

    diferentes contextos. O Captulo 7, Pesquisa de gneros em contextos acadmicos,

    inicia-se com uma discusso interessante: o fato de como as teorias de gnero geraram

    pesquisas empricas consistentes, j que os gneros constituem-se como lugares de

    interao entre textos e contextos sociais. O captulo procura ilustrar mtodos para a

    coleta de informaes sobre textos e a compreenso que se tem destes, com base em

    diversos estudos de casos que apresentam pesquisas sobre aprendizagem, aquisio e

    sobre como o conhecimento de gneros se traduz em desempenho em contextos

    acadmicos. H, inclusive, exemplo de pesquisa feita no Brasil, pas onde, para os

    autores, h dilogo entre tradies acadmicas e entre pesquisadores de diferentes

    campos. A nosso ver, tais pesquisas se mostram muito profcuas, no sentido que se

    ligam prtica pedaggica e auxiliam o professor a fazer a ligao teoria-ensino.

    No oitavo captulo, Pesquisa de gneros no ambiente de trabalho e em contextos

    profissionais, h uma pequena retomada comparativa ao captulo anterior, em que se

    distinguem os contextos de produo e recepo de gneros em salas de aula e em

    ambientes de trabalho, mostrando que os objetivos da escrita acadmica e da

    profissional diferem-se bastante. Em seguida, so exemplificadas experincias de

    pesquisadores de diversos pases, que abordam desde a aprendizagem dos gneros no

  • ambiente de trabalho at o fato de como esses gneros so usados para criar,

    disseminar e negociar conhecimento, culminando na inter-relao entre gnero e poder

    instituda nos ambientes profissionais. O conhecimento dos gneros utilizados numa

    determinada organizao profissional confere a um novato, por exemplo, a insero no

    grupo. Isso mostra o carter ideolgico dos gneros, presente nas posies ocupantes

    pelos sujeitos que os utilizam nas organizaes.

    O nono e ltimo captulo da Parte 2, intitulado Pesquisa de gneros em

    contextos pblicos e de novas mdias, refora as discusses finais do oitavo captulo,

    aprofundando-se na ao ideolgica dos gneros como ferramenta para causar

    mudanas no interior de culturas e grupos sociais, ligadas s mudanas nas formas

    comunicativas com o advento das novas mdias. So abordadas pesquisas sobre os

    gneros pblicos usados para aconselhar e/ou modificar comportamentos em diversas

    mdias, especialmente as digitais. H, ainda, a anlise dos estudos de gneros

    eletrnicos em contextos acadmicos e profissionais, e fala-se da relativa flexibilidade

    da escrita nos contextos das novas mdias, levando ao conceito de multigneros. Ao

    final, os autores falam da necessidade de estudos mais aprofundados sobre a questo

    dos gneros, medida que as comunidades adotam e usam novas mdias, j que ocorre

    uma grande recontextualizao de gneros nas mdias virtuais.

    Dando incio terceira e ltima parte da obra, sobre as abordagens de gnero no

    ensino da escrita, o Captulo 10, de nome Da pesquisa ao ensino: mltiplas abordagens

    pedaggicas para o ensino de gneros, discorre sobre como a pesquisa pode contribuir

    a prtica do professor de escrita. H uma breve retomada das teorias da primeira parte e

    novamente citado o modelo brasileiro de ensino de gneros, baseado no conhecimento

    prvio e na experincia dos escritores a fim de promover a (re)produo do gnero. A

    seguir, os autores expem exemplos de pedagogias implcitas, explcitas e interativas de

    gneros, com a sugesto de uma pequena sequncia didtica para o gnero histria de

    detetive. Aqui, nossa crtica se pauta na ausncia de exemplos mais concretos de ensino

    de gneros, j que consideramos uma sequncia didtica de menos de uma pgina muito

    pouco para abordar a amplitude da questo.

    O ltimo captulo da obra, Abordagens dos estudos retricos de gnero ao

    ensino da escrita, traz algumas diretrizes para o ensino de gneros em diferentes

    contextos, calcado nos ERG. As primeiras diretrizes, ligadas ao ensino de anlise e de

  • conscincia crtica dos gneros, so bem completas e auxiliam o professor a criar uma

    sequncia didtica capaz de levar o aluno correta identificao, anlise e leitura crtica

    de determinado gnero. Os autores abordam, tambm, o ensino de gneros em outros

    contextos para, ao final, fazer uma pequena concluso em que se demonstra que as

    pedagogias de ensino de gneros so adaptveis a diversos contextos, e que devem

    refletir os objetivos e condies pedaggicas de cada situao.

    A obra , sem dvida, uma importante fonte de informao sobre a histria e a

    pesquisa sobre os gneros no mundo, a leitura fluida e capaz de ampliar e aprofundar a

    compreenso dos gneros a fim de enriquecer o trabalho de pesquisadores e professores.

    Vale ressaltar os vrios exemplos de pesquisas realizadas no Brasil que so abordadas

    pelos autores. Ao final da obra, o glossrio e a bibliografia comentada so muito bem

    escritos. No entanto, o livro peca no enfoque muito sucinto dado ao ensino, mostrado de

    forma muito ligada s teorias em detrimento da prtica efetiva de sala de aula. No que

    consideremos sem importncia as teorias, elas so sim fundamentais, mas a prtica

    poderia ter sido mais evidenciada, o que no tira o mrito dos autores na tima

    explanao das abordagens.

    Referncia

    BAWARSHI, Anis S.; REIFF, Mary Jo. Gnero: histria, teoria, pesquisa, ensino.

    Traduo de Benedito Gomes Bezerra [et al.].1 ed. So Paulo: Parbola, 2013, 275 p.