topalov, ganancias y rentas urbanas

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 CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p . 101-122 DOS NEGÓ CIOS NA CIDA DE À CIDADE COMO NEGÓCIO: UMA NOVA SORTE DE ACUMULAÇÃO PRIMI TIVA DO ESPAÇO CÉSAR RICARDO SIMONI S  ANTOS 1  [email protected] RESUMO O espaço das metrópoles contemporâneas vem passando por sucessivas transformações em sua forma física e em seus significados para os processos de acumulação do capital e para a vida das sociedades urbanas. A transformação, a transitoriedade e a efemeridade das configurações dos territórios urbanos têm sido a marca das cidades modernas desde a intensificação das atividades produtivas na modernidade. No entanto, o sentido dessas transformações nesta última passagem de século parece respeitar a uma nova lógica de atuação dos poderes públicos. A financeirização da economia e a insuficiência dos setores acionistas apontam para o imobiliário como a última saída para a crise de rentabilidade do capital. O Estado, que vem assumindo novos papéis diante da produção dos novos territórios do urbano, investe-se na reordenação geográfica de fragmentos da cidade para atender e atrair novos investimentos voláteis do setor financeiro – não sem que haja conseqüências para a vida nas metrópoles. P  ALA VRAS-CHAVE: Espaço urbano. Sobreacumulação. Acumulação primitiva. Setor imobiliário. Desvalorização. FROM B USINESS IN THE CITY TO THE CITY OF B USINESS:  A NEW K IND OF SPATIAL PRIMITIVE  A CCUMULATION   A BSTRACT The space in contemporary metropolises has been going through transformations in its shape and meanings towards processes of capital accumulation and life of urban societies. The transformation, the transitoriness and the ephemeral of the configuration of urban territories have been the brand of modern cities since the intensification of the productive activities in modernity. However, the direction of these transformations in the last turn of century seems to have respected a new 1  Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo

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Topalov, Ganancias y Rentas Urbanas.

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  • CIDADES, v. 3, n. 5, 2006, p. 101-122

    DOS NEGCIOS NA CIDADE CIDADE COMO NEGCIO: UMA NOVA SORTE DE ACUMULAO

    PRIMITIVA DO ESPAO

    CSAR RICARDO SIMONI SANTOS1 [email protected]

    RESUMO O espao das metrpoles contemporneas vem passando por sucessivas transformaes em sua forma fsica e em seus significados para os processos de acumulao do capital e para a vida das sociedades urbanas. A transformao, a transitoriedade e a efemeridade das configuraes dos territrios urbanos tm sido a marca das cidades modernas desde a intensificao das atividades produtivas na modernidade. No entanto, o sentido dessas transformaes nesta ltima passagem de sculo parece respeitar a uma nova lgica de atuao dos poderes pblicos. A financeirizao da economia e a insuficincia dos setores acionistas apontam para o imobilirio como a ltima sada para a crise de rentabilidade do capital. O Estado, que vem assumindo novos papis diante da produo dos novos territrios do urbano, investe-se na reordenao geogrfica de fragmentos da cidade para atender e atrair novos investimentos volteis do setor financeiro no sem que haja conseqncias para a vida nas metrpoles. PALAVRAS-CHAVE: Espao urbano. Sobreacumulao. Acumulao primitiva. Setor imobilirio. Desvalorizao.

    FROM BUSINESS IN THE CITY TO THE CITY OF BUSINESS: A NEW KIND OF SPATIAL PRIMITIVE ACCUMULATION

    ABSTRACT The space in contemporary metropolises has been going through transformations in its shape and meanings towards processes of capital accumulation and life of urban societies. The transformation, the transitoriness and the ephemeral of the configuration of urban territories have been the brand of modern cities since the intensification of the productive activities in modernity. However, the direction of these transformations in the last turn of century seems to have respected a new

    1 Mestre em Geografia Humana pela Universidade de So Paulo

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    logic in the action of State powers. The boom financier of the economy and the saturation of the share sections aim at real state as the last exit for the crisis of the capital profitability. The State, which has been playing new parts in face of the production of the new urban territories, aims at the geographical rearrangement of the fragments of the city in order to serve and attract the new volatile investments of the financial section not without consequences to the life in the metropolises. KEY-WORDS: Urban space. Superaccumulation. Primitive accumulation. Real state. Devaluation. A TRANSFORMAO DO ESPAO URBANO E A REPRODUO DO CAPITAL

    Para abordarmos o papel das cidades na realizao dos capitais e a raiz das transformaes do espao urbano na era da financeirizao da economia, necessrio recorrer s metamorfoses sofridas pelo capitalismo durante as sucessivas crises que ele enfrenta de maneira quase incondicional. O aparecimento de um aparente vigoroso mercado imobilirio como condio sine qua non da preservao dos mecanismos de reproduo capitalista deve tributo aos dispositivos internos de uma persistente lgica de acumulao. A migrao intersetorial dos capitais deve ser o caminho trilhado pela anlise, assim como foi aquele que conduziu a uma nova entrada do espao urbano nos processos de realizao do valor.

    Ana Fani Alessandri Carlos chega a uma formulao a partir da qual o espao urbano se coloca ao mesmo tempo como produto, meio e condio da atividade humana (CARLOS, 2001). Esses momentos simultneos que atribuem concretude ao espao social na vida das sociedades histricas podem ser lidos tambm como momentos de insero do espao nas relaes de reproduo do capital. No entanto, essa formulao terica recebe novos contedos de acordo com o instante sob o qual o olhar adentra na anlise sobre o espao urbano. A cidade efetiva seus momentos de insero na lgica da reproduo capitalista exercendo papis que se diferenciam de acordo com as caractersticas do tipo de acumulao que se d, predominantemente, num determinado momento e extenso das foras produtivas nas sociedades contemporneas. Ela atende, a cada transformao em seu significado para os processos de valorizao, a uma srie de demandas sociais elaboradas no interior de uma potente lgica voltada acumulao.

    Mesmo levando em considerao a morfologia da reproduo capitalista no Brasil, tpica de uma economia perifrica que conjuga

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    aspectos de um capitalismo maduro a formas primitivas de acumulao, possvel diagnosticar no s um comportamento econmico ajustado s mais atuais tendncias do capitalismo contemporneo, como tambm formas de atuao de mecanismos de acumulao intimamente dependentes da reproduo de uma sociedade intensamente urbanizada. Esses aspectos, ou melhor, esse elo da reproduo internacional do capital ser o alvo dessa breve apresentao sobre a mudana do papel das metrpoles brasileiras e, mais especificamente, de So Paulo, na circulao e realizao do valor em escala internacional.

    Dado o comportamento mais elementar de uma economia de tipo capitalista, a reproduo ampliada do valor exige transformaes significativas no espao urbano que comportem os mecanismos de circulao e realizao do capital. Ou seja, para se realizar a mais-valia produzida no interior dos processos de produo, a circulao deve se dar sem entraves que prejudiquem as taxas de retorno dos investimentos. Nesse sentido, as infra-estruturas espaciais e o espao produzido de acordo com algumas finalidades prprias de um estruturado mecanismo social de acumulao tm um papel decisivo a desempenhar. As cidades so modeladas, em grande medida, para satisfazer as necessidades de realizao do valor produzido no interior das fbricas. As megaestruturas que caracterizam as intervenes urbanas ao longo do sculo XX, como a construo de grandes avenidas, complexos virios, tneis, metrs e vias de comunicao e circulao de dados (infovias) transformam o espao no sentido de produzir uma infra-estrutura de monta que suporta, a cada novo passo, o aumento da velocidade das transaes e deslocamentos necessrios realizao local do valor. Essa cambiante geografia urbana das metrpoles modernas segue de perto o avano nas transformaes tcnicas produzido sob o capitalismo internacionalizado. David Harvey (1990, 2004 e 2005) reconhece, nos mecanismos reprodutivos prprios do modo de produo capitalista, uma tendncia expansionista que aponta para a constante necessidade de uma reestruturao espacial do capital. Nos textos de Harvey, a tendncia expansionista, que deriva diretamente dos mecanismos que levam sobreacumulao no modo de produo capitalista, conduz tambm ao que ele mesmo chama de uma ordenao (ou reordenao) espao-temporal do capitalismo. Isso quer dizer que o capital, quando estimulado pelas foras internas a se expandir, pode tanto buscar novos espaos de acumulao produzir espaos de acumulao em novos lugares a partir de uma lgica expansionista quanto voltar-se para a reproduo e uma nova ordenao espaciais do lugar em que teve sua origem. Isso implica dizer que as foras internas ao capital que estimulam o expansionismo capitalista tambm estimulam a reordenao

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    geogrfica dos capitais em regies j anteriormente voltadas reproduo capitalista. Um novo ciclo de expanso das foras produtivas exige, por assim dizer, uma nova estrutura espacial reprodutora dos mecanismos de acumulao em sua mais nova fase.

    DA TENDNCIA SOBREACUMULAO AO ESPAO URBANO VOLTADO CIRCULAO

    Para montar seu argumento, Harvey recorre teoria das crises elaborada em O Capital, por Karl Marx - j suficientemente trabalhada em Los Lmites del Capitalismo y la Teora Marxista (HARVEY, 1990) -, mas tambm se refere exaustivamente extensa produo marxista sobre o tema: de Lnin e Rosa Luxemburgo Robert Brenner. A tendncia sobreacumulao, elaborada internamente s prprias estruturas reprodutivas do capitalismo, demonstra exigir, nos textos de Harvey, uma nova ordenao espacial capitalista da sociedade, toda vez que desponta como horizonte inevitvel dos processos de acumulao (HARVEY, 2005). Das duas formas em que pode aparecer, seja a do expansionismo imperialista ou a da elaborao interna de novas estruturas espaciais para a reproduo do valor, a ltima a que mais nos interessa por aqui mesmo quando, o que relativamente comum, aparecem conjugadas. A reproduo do espao urbano como fator indiscutvel da circulao e realizao capitalista do valor exige a ininterrupta produo de novas infra-estruturas espaciais que atribuem agilidade aos momentos e transfiguraes do capital e seus ciclos de valorizao. A ligao entre as crises e a produo de uma nova realidade espao-temporal do capitalismo nas metrpoles modernas o eixo de transformao do espao urbano predominante durante quase todo o sculo XX.

    Sumariamente, o que define uma crise de sobreacumulao na economia capitalista se remete a uma situao em que um excedente de capital aparece e (a isso se deve sua condio de excedente) no encontra formas e meios lucrativos de investimento; ou seja, se permanecer nessa condio, esse excedente gerado encontrar lugar somente fora dos circuitos de valorizao e tendo, dessa forma, negada sua existncia enquanto capital, ser desvalorizado. A impossibilidade de se absorver lucrativamente esses excedentes, em inverses correntes numa economia determinada, sugere, portanto - para que no se perca capital novo e, assim, no se comprometa os mecanismos de acumulao e valorizao capitalistas -, uma reestruturao generalizada dos processos de circulao e realizao da mais-valia gerada. Uma nova condio em que se absorva

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    lucrativamente esses capitais deve ser rapidamente produzida e, para isso, uma srie de mudanas estruturais ocorrero.

    Ao longo do sculo XX, o espao urbano atendeu, a cada novo ciclo, s necessidades de acelerao da circulao do valor. A geografia urbana das metrpoles modernas foi alterada consecutivamente de acordo com as demandas pela reduo do tempo de giro do capital. Mas, para compreender a relao entre essas demandas e a iminncia da produo de excedentes na economia moderna, cabe demonstrar alguns processos repetitivos que assolam a tranqilidade dos investidores.

    A reproduo capitalista, e esse deve ser o nosso pressuposto, se d sempre de forma ampliada. O capital o movimento que resulta em seu prprio processo de valorizao. Portanto, a cada novo ciclo da acumulao capitalista, o capital se reproduz ao se conservar e se ampliar simultaneamente. Esse o estmulo incessante dos investimentos correntes. No entanto, para que esse capital se efetive enquanto tal, a produo de valor tout court no suficiente, ela no pode se restringir ao interior da fbrica ou da linha de produo. A realizao desse valor como capital, ou a realizao da mais-valia propriamente dita, se d no momento da circulao capitalista, com a transformao sucessiva desse capital em suas diversas formas, at se obter o retorno (lucrativo) do investimento inicial. Ou seja, o dinheiro que se investe num empreendimento produtivo e lucrativo deve se transformar em mquinas, fora de trabalho, instalaes fabris, matria-prima etc. Estes, por sua vez, articulados no processo de produo, devem produzir uma mercadoria nova e com valor agregado pelo dispndio de trabalho humano necessrio a essa nova transformao do capital momento no qual se produz efetivamente a mais-valia. Por ltimo, e sem isso de nada adiantaria todo o investimento de capital, essa mercadoria dever novamente se transformar em dinheiro para o capitalista no ato da troca momento em que se efetiva o retorno lucrativo do investimento e, portanto, a realizao da mais-valia. A partir daqui, um novo ciclo de valorizao dever se iniciar a fim de que aqueles valores permaneam existindo em sua forma capitalista. Portanto, somente com a segurana de que todas essas passagens e transies entre as sucessivas formas em que o capital pode aparecer ocorram (a transformao, propriamente dita, de um estado a outro no processo de valorizao) que se ter um vigoroso processo de acumulao capitalista. Assim definida essa circularidade dos processos de valorizao. Uma nova rodada de investimentos, agora com um montante de capital ainda maior, dever ser suportada pelas estruturas reprodutivas vigentes; ou seja, os nveis de demanda agregada, a velocidade do giro e as possibilidades fsicas para os

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    novos investimentos devem sugerir patamares satisfatrios de lucratividade. preciso conseguir transformar mais capital para que todo ele seja absorvido sob as formas correntes de investimento. Caso isso no ocorra, estaremos diante de uma produo excedente de capital; capital, portanto, gerado por sobre a capacidade de reinvestimento suportada pelas estruturas reprodutivas.

    Exemplos desse processo podem ser apresentados a partir de situaes em que a circulao de capital, na converso de uma forma a outra, fique prejudicada. A partir desse pressuposto geral, o aparecimento de capital excedente pode se dar em qualquer uma de suas fases ou momentos. No caso de haver escassez de mo-de-obra, de matria prima, de espaos para uma nova rodada de investimentos ou de maquinrio mais moderno e tecnologicamente superior, o excedente dever permanecer em sua forma mais visvel e fluida de capital-dinheiro. No caso de haver uma dificuldade geral de realizao do valor supostamente produzido, esse capital poder ser estancado sob a forma excedente de mercadorias superproduzidas (e no vendidas) ou, ainda, caso se reduza o ritmo dos processos de transformao no interior das fbricas, sob a forma de capacidade produtiva ociosa. De qualquer forma, a sobreacumulao sintomtica de problemas na circulao do capital, registro no qual est sempre pressuposta a transfigurao sucessiva do capital entre suas diversas formas ao longo do processo de realizao do valor. Mercadoria dever, portanto, ser convertida em dinheiro; este, por sua vez em investimentos produtivos (bens-de-produo, fora de trabalho, matria-prima); e, todos eles juntos, novamente em mercadoria, para se obter mais dinheiro ao final, e assim por diante. Quando esse processo est pouco azeitado, as formas de realizao do valor encontram entraves que sugerem uma sobreacumulao. Freqentemente, o aparecimento de problemas dessa ordem para os processos de acumulao capitalista surge com base numa precria ou desatualizada organizao espao-temporal, segundo Harvey (1990, 2004 e 2005).

    A circulao do capital pressupe formas de comunicao e transporte, assim como condies de deslocamento e espaos propcios (disponveis, segundo a lgica da acumulao), ajustados de acordo com os nveis de demanda prprios dos mais atuais mecanismos de acumulao. A velocidade de circulao das informaes, dos objetos tcnicos, do dinheiro, de trabalhadores, de mercadorias at os seus mercados finais tem relevante importncia para o uso lucrativo dos capitais. Na medida em que se operam descontinuidades nos mecanismos temporais de acumulao do capital, tem-se, necessariamente, escassez num dos plos do processo de

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    produo do valor e excedente no outro. A demora para a chegada de um maquinrio, a falta de agilidade para a liberao de um terreno para o funcionamento de uma fbrica e a interrupo da comunicao instantnea entre as ordens que advm da matriz para a filial representam complicaes nos processos de circulao do capital que sugerem o aparecimento de um montante no investido de capital. A desvalorizao decorrente desse capital em estado de espera pode ser catastrfica nos termos dos mecanismos competitivos da acumulao capitalista. A gesto do tempo atravs da produo do espao o centro da realizao de benfeitorias administradas em nome de uma certa coletividade capitalista (mesmo que essa coletividade seja reduzida a um nmero restrito de empresas). A geografia contempornea, a organizao dos espaos urbanos, regionais, nacionais ou mundial, revela o espao (e todo ele) como uma extenso das estratgias materializadas de realizao da mais-valia. A fluidez espao-temporal o veio que garante a reproduo de patamares cada vez mais elevados de produtividade do trabalho; o aumento da velocidade dos deslocamentos e das comunicaes, conquistado a partir de uma nova (e sempre nova) organizao do espao, gera a condio de reinvestimento de capitais em patamares evolutivos e sucessivamente superiores.

    As estruturas reprodutivas de fora da fbrica, para pensarmos ainda no caso estrito dos setores manufatureiros, devem dar o suporte necessrio para a realizao do sistema produtivo. O espao de circulao capitalista produzido de acordo com as necessidades do ajuste entre os momentos da circulao e da produo do valor. Um descompasso entre esses momentos pode ser trgico do ponto de vista da realizao do valor que assegura a reproduo do modo de produo capitalista. Uma crise de sobreacumulao pode surgir, por exemplo, de uma produo altamente tecnificada e veloz na justa medida em que os meios de deslocamento, as formas de consumo e o acesso aos mercados de consumo ou capital sugiram uma velocidade de circulao mais baixa. As transformaes no mbito da produo (tecnificao, gerncia, logstica) devem ser seguidas de perto por uma cambiante geografia urbana e regional que d suporte aos novos padres de acumulao. A industrializao brasileira demonstra bem essa relao. A opo por So Paulo, como o plo dinmico dessa nova fase da economia brasileira, teve ntimas ligaes, segundo Milton Santos, com a infra-estrutura herdada do perodo do caf (SANTOS, 2005). A rede de transportes e comunicao produzida segundo os elevados padres da economia primrio-exportadora desse perodo serviu como o apangio de um territrio que daria a infra-estrutura necessria para a circulao capitalista segundo aqueles nveis de exigncia de nossa primeira fase industrial. O espao urbano e intra-regional amparava os padres

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    demandados pela industrializao substitutiva a partir da oferta de um suporte suficiente para a circulao dos valores produzidos. A produo e realizao do valor, a partir da produo de mercadorias, implicam, no modo de produo capitalista, numa correlata produo do espao, e vice-versa.

    A exemplo desse grau de relacionamento prprio s estruturas reprodutivas, o espao urbano passou a ser gerido, principalmente no sculo XX, em funo da realizao dos capitais produtivos. A cidade moderna se transformou, primeira vista, num amontoado de infra-estruturas de circulao e transporte, de informao e comunicao, num aglomerado de viadutos, pontes, tneis, cabos, antenas, trilhos etc. A paisagem urbana que caracteriza a cidade moderna do sculo XX definida pela predominncia desses objetos tcnicos que povoam o horizonte metropolitano. Quando a exportao ou o deslocamento de capitais excedentes no mais lucrativo que uma reestruturao urbana e regional, a opo tem sido invariavelmente pela destruio das velhas estruturas materializadas nas cidades para a construo de outras tantas, mais novas e eficientes. DOS NEGCIOS NA CIDADE CIDADE COMO NEGCIO

    O espao urbano no atendeu s exigncias da valorizao simplesmente como produto, meio e condio da circulao capitalista para os setores manufatureiros, e aqui reside um salto qualitativo no papel de uma nova geografia urbana para a manuteno de padres de rentabilidade. A forma de atuao do poder sobre o espao tambm se altera quando a cidade modifica sua participao ou encontra novas funes dentro da realizao da mais-valia. Mas h de se ter clareza sobre quais foram os impulsos que originaram essa nova funcionalidade dos espaos urbanos para a realizao lucrativa dos capitais investidos no espao urbano.

    A sobreacumulao de capitais tem sido o calcanhar de Aquiles para os inversionistas que devem realizar sucessivamente novos investimentos lucrativos. Associadas sobreacumulao, as baixas taxas de lucro tm estimulado recorrentes processos migratrios intersetoriais e espaciais de capitais. Diante da dificuldade de realizao do capital manufatureiro a partir do aparecimento de barreiras circulao capitalista, ora mais evidentes em determinados setores, ora mais evidente em determinados lugares - vinculadas, portanto, a um conjunto que se manifesta mais especificamente em tal ou qual configurao regional ou empresarial-produtiva esse capital gerado e sobreacumulado sob algum arranjo espao-temporal busca novas formas de ser investido lucrativamente. Evidentemente, se o problema para

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    as taxas de retorno se apresenta localizado, devido a alguma manifestao local ou a um determinado arranjo espacial comprometedor ou insuficiente, esse capital se empenhar em lanar-se para novas pastagens mais frteis: opera-se aqui uma migrao espacial dos capitais, que busca, em novos lugares, condies promissoras de rentabilidade. Contudo, se o problema sugerido a partir de uma determinada organizao empresarial ou diagnosticado num determinado subsetor, como foi o caso recente das empresas de telecomunicaes ao se enredarem s voltas com o sobreinvestimento que deu origem a um excedente de capacidade de transmisso de dados, essa migrao ser determinada pela fuga de capitais investidos nesse nicho empresarial. Em ambos os casos, esto envolvidas novas transformaes no uso e nas funes do espao, tanto para o capital quanto para a populao em geral. Robert Kurz apresenta, como uma realidade constatada a partir da dcada de 1990, a macia migrao de capitais dos setores produtivos e manufatureiros para os setores financeiros, principalmente daqueles capitais internacionalizados que circulam nos espaos econmicos dos pases centrais (KURZ, 2003). As baixas taxas de lucro, as barreiras a novas inverses e o aparecimento de excedentes de capital nos setores manufatureiros de forma geral e principalmente naqueles ligados a uma alta composio de capital2 definiram uma retirada brusca e intensiva dos investimentos nesses setores para aqueles do financeiro. Essa busca de rentabilidade e novas possibilidades de investimentos lucrativos encontradas a, fora da slida rigidez que envolve os processos produtivos, levaram ao inchamento dos setores financeiros antes mesmo do fim da primeira metade dessa dcada. A formao e a j ameaa de rompimento dessa bolha especulativa e at mesmo os efeitos localizados, e nem por isso pouco catastrficos, do estouro em alguns nichos especficos , no curto perodo de pouco mais de meia dcada, exigiu uma nova sada para o adiamento de uma crise de propores ainda maiores. Segundo Kurz, isso somente foi possvel graas ao modelo de separao no tempo dos tipos de investimentos que poderiam suportar a entrada macia dos excedentes de capital gerados nos setores manufatureiros do mundo todo. Graas ao modelo migratrio de capitais da economia dos Estados Unidos que, diferentemente do Japo ou da Alemanha, contava ainda com um imobilirio pouco atingido pelos efeitos

    2 Brenner demonstra a fragilidade dos mecanismos de acumulao em um perodo como o atual a partir da leitura marxista da existncia de uma dificuldade de realizao capitalista do valor em processos correntes de valorizao. Essa fragilidade aparece ligada a uma alta composio do capital e se tornar ainda mais evidente em setores produtivos ligados alta tecnologia, como foi o caso exemplar da crise dos setores de telecomunicaes em 2000-2002. (BRENNER, 2003).

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    especulativos do financeiro, deu-se um segundo movimento de fuga: do financeiro acionista para o financeiro imobilirio.

    A separao no tempo, entre os investimentos nos setores financeiros acionista e imobilirio, e a opo mais ou menos generalizada de concentrao desses investimentos em ativos que se remetem casa prpria, moradia, foram as caractersticas que determinaram o imobilirio como alternativa crise do acionista, de acordo com o modelo verificado nos Estados Unidos. No Japo, os efeitos da crise do acionista foram somados aos do imobilirio pelo simples fato de que os dois setores receberam, juntos, investidas num mesmo instante e de mesma intensidade, com relevo para o fato de que a opo pela construo de prdios de escritrios, ligados, por isso, ao novo ramo das atividades altamente rentveis da economia capitalista mundial, com a crise do financeiro acionista, teve agravado o aparecimento de uma sobrecapacidade no setor. O modelo dos Estados Unidos, ento, o nico sobrevivente uma vez que a Alemanha nem sequer chegou a apresentar um crescimento significativo do setor imobilirio aps a crise do financeiro acionista serviu de orientao para o comportamento geral dos capitais internacionais. O setor imobilirio e o espao urbano, conseqentemente, sofrero novas e fortes investidas dos capitais excedentes (mas mesmo assim circulantes), dando origens a novas bolhas especulativas, a partir da segunda metade da dcada de 1990. Curiosamente, esse o perodo em que se intensificam tambm as aes da burocracia estatal sobre o espao urbano com o intuito de revitalizar antigas zonas degradadas das cidades. Essa revitalizao, que poderia ser entendida, segundo o argumento aqui apresentado, como um revigoramento capitalista do espao das cidades, atribui um novo papel ao espao urbano nos processos de circulao e valorizao do capital em mbito mundial, assim como inventa tambm uma nova forma de agir sobre o espao urbano, de um Estado comprometido com a elevao das taxas de rentabilidade pertinentes aos setores privados. Essa atuao do Estado se liga ao aparecimento de uma segunda bolha financeira: a bolha financeira imobiliria como adiamento da crise.

    Nesse momento, os capitais especulativos passam a ser atrados no simplesmente pela definio das taxas de juros dos bancos centrais, pelas manipulaes cambiais, pelo grau de abertura econmica ou pela existncia de programas de privatizaes, para os quais a dcada de 1990 foi um excelente exemplo. A valorizao do espao, disparada a partir do imprescindvel papel das burocracias estatais, faz parte da linha de frente das estratgias do poder pblico para atrair investimentos internacionais, assim como, ao mesmo tempo, funcionam como o ncleo duro das

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    inventivas privadas de valorizao capitalista em perodo de crise. A compra e venda de fragmentos do espao urbano tomam a dianteira no rol de estratgias dos setores privados para uma recuperao das taxas de lucro e a cidade contempornea deixa assim de servir ao capital somente a partir da funo de espao de circulao propcio realizao da mais-valia para se tornar, ela mesma, o objeto dessa valorizao capitalista, parte do capital empregado em processo de valorizao, a partir da valorizao do espao. Para atrair capitais a partir de seu potencial de valorizao, as cidades so reestruturadas e produzidas (revitalizadas); dessa forma, vende-se a cidade, como imagem de um potencial de valorizao, e tanto maior o seu preo (e a sua procura) quanto mais real e verossmil for a sua imagem enquanto potencial de valorizao. A cidade como negcio superou a condio da cidade como lugar do negcio. UMA NOVA SORTE DE ACUMULAO PRIMITIVA DO ESPAO

    Essa nova estratgia de produo do espao que envolve a valorizao capitalista conta com mecanismos prprios a partir dos quais o processo de reproduo do valor se realiza. Esses mecanismos devem ser expostos a fim de demonstrar o alijamento da sociedade do uso e dos processos de produo do espao social. Um processo negativo prpria condio, que ao mesmo tempo real e conceitual, do espao social.

    Francisco de Oliveira, na sua Critica Razo Dualista, chama a ateno, no que diz respeito ao processo de formao de uma economia capitalista em territrio brasileiro, para a existncia de uma reserva de acumulao primitiva que se mantm incrustada na prpria formao territorial do Brasil (OLIVEIRA, 1975). Bolses distantes de explorao no propriamente capitalista do trabalho alimentam um tipo de acumulao urbano-industrial fundado nas relaes liberais entre patro e empregado no Centro-sul do pas. Esses territrios, no transformados ainda completamente pela lei do valor, sustentam, a partir de um sobretrabalho no contabilizado em seu lugar de origem, o dinmico movimento de um Sudeste industrializado. Contudo, as horas de trabalho destinadas produo de artigos de subsistncia, que aliviam o empregador de encargos maiores contabilizados nos salrios pagos ao trabalhador da lavoura, o que implica numa diminuio dos preos correntes dos alimentos em todo o territrio, no so as nicas fontes extra-capitalistas do sucesso de nossa industrializao. A prpria configurao territorial brasileira, que pode contar com uma faixa Leste bastante urbanizada e mais suscetvel s transformaes de uma modernidade de ultramar e um Centro-oeste avesso velocidade dessas mesmas transformaes, deu origem formao de

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    um territrio com reservas expansionistas que seria, passo a passo, utilizado segundo o grau de exigncia de reproduo das foras produtivas (SANTOS, 2006). Diante da tendncia sobreacumulao, que parte de uma lgica de reproduo ampliada do capital, a existncia dessa reserva territorial garante a possibilidade de reproduo expandida do capital sem que este tenha que destruir, necessariamente, capital antigo. a essa relao que Milton Santos atribui uma vantagem aos territrios que no contam com um tipo de infra-estrutura herdada de ciclos imediatamente anteriores (SANTOS, 2005). Caso contrrio, os capitais, materializados em espaos que atendem ainda a processos reprodutivos com um grau de exigncia menor com relao velocidade e eficincia dos fluxos, teriam que ser desvalorizados, destrudos fisicamente, abandonados ou tornados obsoletos, para a produo de uma nova infra-estrutura de monta. A necessidade de acelerao dos fluxos ou de expanso das foras produtivas recai inevitavelmente sobre uma nova reordenao espacial, seja a partir do reequipamento infra-estrutural do espao ou de uma ampliao das capilaridades territoriais dos processos reprodutivos.

    Esse processo pode ser notado no interior das grandes cidades. As cidades, por excelncia, representam o lugar do acmulo dos diversos tempos; elas atribuem materialidade e conservam materialmente no espao as condies de reproduo do capital em suas diferentes etapas. No difcil encontrar, nas cidades contemporneas, um galpo construdo para atender a uma antiga instalao industrial, ou resduos dos trilhos de bondes que antes serviam como meio de transporte principal para o deslocamento de trabalhadores e viventes da belle poque. No entanto, a funo como no caso das instalaes industriais ou a utilizao como no caso dos bondes ficam comprometidas diante das sempre novas exigncias reprodutivas dos ciclos subseqentes. A desvalorizao do capital empregado nessas infra-estruturas ultrapassadas, que figuram como capital obsoleto, est prevista e definida a partir da velocidade das transformaes demandadas pelos posteriores ciclos de acumulao. A agenda de demolies e abandono das infra-estruturas urbanas para a construo de outras tantas marca o cambiante carter do espao metropolitano do sculo XX, assim como atribui o movimento responsvel pelo recorrente sentimento de estranhamento que marca a relao cidado-metrpole. As transformaes no espao urbano seguem de perto, no capitalismo, a produo de novas exigncias dos ciclos reprodutivos do capital.

    Quando, no entanto, entra em questo o valor imobilirio e as possibilidades de retorno nesse campo, esse jogo de valorizao-

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    desvalorizao passa a integrar as estratgias de rentabilidade do capital empregado no espao. Se at agora o espao urbano foi tratado, pela carga histrica materializada em suas estruturas, como um depositrio de capital obsoleto que deve ser destrudo pelos sucessivos ciclos de acumulao, hora de considerar a desvalorizao, decorrente da obsolescncia de certos espaos, em seus aspectos positivos para a acumulao, como um mecanismo de produo de uma reserva territorial de acumulao primitiva do espao. Isso trar repercusses tanto para o capital produtivo quanto para o especulativo.

    Diante do impulso expanso e acelerao dos ciclos de valorizao capitalista e da relativa impossibilidade de se encontrar em territrio urbano possibilidades de deslocamento de capitais para regies, de certa maneira, virgens em termos de infra-estrutura pertencente a ciclos com uma menor exigncia de eficcia e velocidade de circulao, o capital deve voltar-se para uma reordenao espacial no interior mesmo das cidades. Isso envolve um novo ciclo que se remete diretamente ao espao urbano enquanto materialidade das infra-estruturas produtivas e de circulao do capital. Logo, o eixo valorizao-desvalorizao-valorizao, decorrente da construo-obsolescncia-reconstruo de infra-estruturas espaciais para a circulao capitalista, apresenta o movimento seguido de perto pelos analistas imobilirios e que dar frutos aos seus investimentos. aqui que uma sorte de acumulao primitiva do espao comea a se desenhar no horizonte.

    A desvalorizao do espao urbano ou de fragmentos desse espao implica numa perda de significados de uma determinada territorialidade para o capital, seja ele produtivo ou especulativo. Conseqentemente, uma subtrao dos investimentos nessas reas se efetua a partir da busca por melhores rendimentos em outras regies, que passam agora por momentos de ascendncia no ciclo desvalorizao-valorizao. Esse o processo tpico enfrentado pelos centros das grandes cidades mundiais nos fins do sculo XX, com especial destaque para as metrpoles brasileiras. Os capitais batem em retirada e deixam aos circuitos inferiores da economia aquele espao pouco ajustado s demandas dos novssimos investimentos. A economia informal ambulantes, camels e um comrcio varejista que se alimentam de formas residuais de consumo para os padres atuais de circulao capitalista se apodera dessas antigas estruturas desvalorizadas e conserva, numa espcie de sobrevida, o espao produzido segundo os padres de inverso de ciclos anteriores. A desvalorizao visvel em seus efeitos, seja para novas possibilidades de investimentos, seja para a vida urbana que se desenrola no rastro de destruio deixado pelo

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    movimento migratrio do capital. Criam-se, dessa forma, estoques de espaos desvalorizados, verdadeiros territrios-reserva, como denominou Rosa Tello Robira (ROBIRA, 2005), que aguardam novos investimentos produtivos ou imobilirios de acordo com a prvia orientao do poder pblico.

    O movimento de valorizao que vai inserir esses espaos novamente nos circuitos de investimentos pblicos e privados relativamente simples. Assim como nos setores manufatureiros a sada de uma crise de sobreacumulao passa pela desvalorizao de ativos, no setor imobilirio a rentabilidade garantida sempre a partir do movimento de valorizao ou subida de preos dos terrenos na cidade. No entanto, para que isso ocorra, e preciso dar por sentado que esse processo no indefinido, em algum momento preciso desvalorizar territrios complexos nas mos de setores menos privilegiados da sociedade para que, novamente ento, se d incio escalada to lucrativa para os investimentos no espao. Dessa forma, ao mesmo tempo em que necessrio produzir espaos com potencial ou em franco processo de valorizao, h que se produzir um estoque territorial para futuros investimentos. A continuidade dos mecanismos de valorizao dos capitais investidos no imobilirio, que em nossa poca representa uma das escassas possibilidades de valorizao capitalista em geral (fictcia, verdade), depende da reproduo de estoques territoriais de ativos imobilirios desvalorizados.

    A PROPSITO DO CAPITAL

    A cidade aparece, na poca do recrudescimento de um vigoroso e ltimo esforo de investimentos pouco rentveis, como a alternativa para os negcios do grande capital internacionalizado. Ela supera, aqui, do ponto de vista do capital, a condio de lugar dos negcios para se colocar como objeto da valorizao capitalista. O movimento que sai de uma crise nos setores manufatureiros, passa pela crise do financeiro acionista e barrado no universo de um potente mercado imobilirio, como uma ltima alternativa de rentabilidade e possibilidade de adiamento da crise, pontua o papel do espao urbano para os processos de acumulao nesse fim e incio de sculos. As estratgias que envolvem a valorizao do espao urbano como pressuposto da realizao de alguns investimentos de capital assumem, nesse momento, a primazia para os mecanismos de rentabilidade.

    O mecanismo apontado por Rosa Tello Robira, que pressupe a existncia de territrios urbanos no-capitalistas, para a retomada de processos de valorizao diante do recorrente aparecimento de excedentes de capital, lana luz sobre a textura fina dos mecanismos de acumulao

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    em nossa poca. Segundo Rosa Tello Robira, os espaos metropolitanos, para que continuem a produzir tal acumulao devem ser capazes de manter no seu interior territrios no-capitalistas que, na forma de reservas, tenham a funo de resolver de maneira eficaz as sucessivas crises de expanso/acumulao do prprio sistema territorial metropolitano (ROBIRA, 2005, p. 10). Dessa forma, as crises de sobreacumulao poderiam ser absorvidas a partir do cumulativo envolvimento desses novos espaos nos processos de valorizao. No entanto, o que se advoga pela causa aqui justamente o fato de que, para que se dispare recorrentemente mecanismos de acumulao por espoliao, ou por despossesso, no h a necessidade de que sejam territrios no-capitalistas. Nesse sentido, a utilizao, sugerida no mesmo texto de Robira, dos termos territrios adormecidos ou territrios-reserva, parece-me mais potente para a compreenso dos mecanismos de reproduo que envolvem estratgias espaciais de acumulao.

    A absolutizao da condio de no-capitalista para a designao dos territrios-reserva, em Rosa Tello Robira, advm de um equvoco na compreenso do papel e contribuio do pensamento de Rosa Luxemburgo para as elaboraes de Harvey em O Novo Imperialismo (HARVEY, 2004). Para Rosa Luxemburgo, o comrcio com formaes sociais no capitalistas representa a nica forma de se manter estvel o processo de acumulao global do capital. Harvey tem nessa contribuio do pensamento de Rosa Luxemburgo um dos pilares de sustentao de muitos de seus textos, mas considera um equvoco pressupor que somente assim que o capital consegue se afastar dos problemas crnicos da sobreacumulao. Para ele, mecanismos de desvalorizao do capital (quando orientados ou no para tal ou qual setor ou territrio) exercem a mesma funo para a recuperao das taxas de lucro, uma vez que liberam ativos para o retorno dos investimentos lucrativos e findam, assim, com os excedentes de capital. No h a necessidade, portanto, de que territrios no descobertos pelo capital sejam infinitamente liberados para a continuidade dos processos de acumulao capitalista. Mecanismos internos ou externos de desvalorizao podem liberar novamente os mesmos espaos para uma nova rodada de investimentos, e aqui est o ncleo duro de um vigoroso processo de acumulao por despossesso, segundo os prprios termos de Harvey.

    A aniquilao da potncia reprodutiva atual de determinadas configuraes espaciais prepara esses mesmos espaos para ulteriores processos de acumulao. A possibilidade de uma nova rodada de investimentos lucrativos no espao aparece com a aniquilao do potencial lucrativo anterior. Esse um processo que se apresenta j nas estratgias

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    produtivas do capital, mas potencializado ao extremo diante do surgimento de uma pseudo-autonomia do imobilirio. Nesse contexto, a cidade se torna um negcio que se realiza a partir de mecanismos de acumulao por despossesso. Os contedos anteriores de uma determinada configurao espacial devem ser suprimidos, subtrados do horizonte de reproduo capitalista, para que novos investimentos se tornem lucrativos. Quando no h interesse no deslocamento espacial dos capitais excedentes para regies despovoadas de uma organizao capitalista anterior, uma reordenao espacial do espao construdo deve ser levada adiante com o intuito de se liberar novas fontes de investimentos para os excedentes sobreacumulados. Essa a razo da grande ateno prestada s cidades com potencial de valorizao na periferia do capitalismo mundial. Essas metrpoles mundiais da periferia do capitalismo conjugam normalmente um grande dficit habitacional com uma grande quantidade de riquezas e, tm sido, por isso, o alvo preferencial dos investidores internacionais. Zonas com um alto potencial de valorizao no interior dessas cidades, como os centros metropolitanos degradados, tambm sofrem, ainda mais incisivamente, com essa investida. A despossesso consiste justamente nessa subtrao de agentes (moradores, comerciantes: um cotidiano) e de objetos que prepara o espao para um novo ciclo de acumulao. Uma mimesis, no capitalismo avanado, dos mecanismos de acumulao primitiva. Uma acumulao primitiva do espao, segundo Amlia Lusa Damiani (DAMIANI, 2004).

    A PROPSITO DO ESTADO

    Assim como originariamente se deu na descrio de Marx o processo de acumulao primitiva, novamente aqui no se pode prescindir do papel da burocracia e fora estatais. Diante desses novssimos mecanismos de acumulao que o horizonte crtico da reproduo capitalista conduziu, as formas de atuao do Estado tambm se modificaram. Novas formas de atender s necessidades do capital, assim como novas formas de atrair investimentos so elaboradas no interior de uma administrao competente e comprometida com os imperativos da valorizao.

    Se hoje a cidade colocada disposio dos capitais que buscam se valorizar no imobilirio, o papel que o Estado desempenha nesse processo no desprezvel. Como forma de manter a governabilidade, mesmo que em estado crtico, esse Estado constri uma relao mais prxima e de dependncia com o capital. As intervenes no espao urbano e a cidade fazem parte, cada vez mais, das estratgias prioritrias de atrao desse capital. A produo da cidade pelo poder pblico leva em conta a cidade

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    como negcio a partir das possibilidades de valorizao ofertadas em determinados territrios do urbano. O potencial de valorizao do espao passa pela liberao desse espao aos investimentos privados atravs de uma atuao especfica do poder pblico. A regio da Luz, em So Paulo, para a qual pipocam inventivas e projetos chamados de revitalizao, tem sido alvo dessas aes. Ali, num antigo espao dinmico da vida urbana da dcada de 1920, projetos de revitalizao procuram reinserir aqueles territrios nos trajetos dos capitais especulativos internacionais atravs da valorizao imobiliria.

    O poder pblico, ento, desempenha um papel fundamental para a continuidade dos processos de acumulao, sendo o nico agente, com poder de lei e fora, que atua na remoo (despossesso) de outros agentes e objetos inconvenientes para os novos investimentos. Aps ter tido um longo tempo de valorizao, a regio da Luz foi sendo degradada e abandonada pelas classes mais altas e pelos investimentos de grande monta que permitiram aquela primeira valorizao. A regio tornou-se onerosa para os mecanismos de valorizao e novas possibilidades se ofertaram mais promissoras. A degradao, fruto da desvalorizao, manteve, na regio central de So Paulo, um enclave de capitais obsoletos e de atividades ligadas ao circuito inferior da economia normalmente associado s atividades ilcitas da pirataria, do contrabando, do narcotrfico e do comrcio informal. Essas atividades preservaram a condio de reserva territorial da regio para futuros ciclos de investimentos que por ora parecem despontar a partir das aes do Estado. Preparada pelo poder pblico para uma nova rodada de investimentos, a regio poder se colocar como uma das mais promissoras, em termos de rentabilidade em curto prazo, para os capitais que aflurem nesse sentido. Essa caracterizao in statu nascendi da disponibilizao de um territrio-reserva e de mecanismos de acumulao primitiva do espao, tipicamente disparados e dirigidos atravs da fora e do poder da lei. O Estado utiliza-se dos dispositivos legais e da fora para, em nome do que se convencionou chamar de utilidade pblica, promover a cidade como um negcio privado. Se no h mais atratividade para o capital no espao produzido, cabe produzir e reproduzir constantemente novas infra-estruturas espaciais e uma nova configurao territorial urbana, a partir das quais um novo potencial de acumulao se apresenta. O Estado moderno procura extrair vantagens territoriais obtidas pela disposio espacial que se encontra sob seu domnio; se no mais as tem cabe produzi-las ou reproduzi-las em caso de insuficincia. Foi assim tambm no caso da construo do eixo representado pela Avenida Nova Faria Lima, com a converso de antigos

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    espaos residenciais em promissores investimentos imobilirios s margens do novo empreendimento no espao urbano.

    No caso da construo da Avenida Nova Faria Lima, entra em cena um novo mecanismo de participao dos capitais privados. As Operaes Urbanas, assim denominadas, representavam a possibilidade de uma participao dos investimentos privados desde o incio das aes voltadas a uma requalificao e ressignificao espaciais do territrio urbano. A produo de um novo espao, a Avenida que arrasaria quarteires destinados residncia de populaes tradicionais do bairro Itaim Bibi, exigiria vultuosos investimentos pblicos; nessa poca, inexistentes. A capacidade de interveno do Estado no espao urbano passa tambm pela capacidade do poder pblico articular novas alternativas e estratgias de negociao que, muitas vezes, viabilizam por completo a obra sem deixar desvantagens, ou normalmente sendo ainda mais atrativo, para o capital financeiro. No caso, com a criao das Operaes Urbanas, a iniciativa privada participaria diretamente da produo do espao urbano a partir da mediao legal e jurdica do Estado evidentemente porque isso representava um novo ramo para os investimentos lucrativos no imobilirio. Das indenizaes pagas aos moradores removidos (que custaram aos investidores uma quantia bastante inferior ao valor de mercado estabelecido antes do anncio das aes de despejo) ao custeamento das obras (que equipavam e valorizavam vultuosamente aquele espao por cima do valor estabelecido alguns meses antes), o capital privado compareceu sob a forma de mantenedor do novo espao produzido3. Esse mecanismo diferencia-se dos tradicionais investimentos nos ttulos pblicos porque toma a valorizao do espao urbano como fonte da rentabilidade das inverses financeiras. Para fechar a ciranda financeira das Operaes Urbanas, os investidores, como uma espcie de recompensa suplementar pelo investimento na viabilizao das obras, alm de receberem os direitos de propriedade dos terrenos s margens da nova avenida aps o trmino das obras, como se no bastasse, receberam tambm o direito de construir para cima do permitido pela lei de zoneamento uma verdadeira exceo aberta aos parceiros do progresso da cidade de So Paulo. Analiticamente, trs diferentes momentos se conjugam nesse poderoso negcio privado levado a cabo pela imprescindvel mediao do Estado. So eles: a) o pagamento pelos terrenos (sob a forma de indenizaes) a preos deflacionados decorrentes da fragilidade dos antigos proprietrios diante do anncio de desapropriao; b) a supervalorizao desencadeada pela construo de

    3 Dados levantados em pesquisa nos anos de 1998 e 1999 na regio da Nova Faria Lima por conta de um trabalho de Iniciao Cientfica realizado com o apoio do CNPq/PIBIC.

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    um moderno e estratgico equipamento urbano representado pela Nova Faria Lima; e c) a possibilidade de se explorar, naqueles terrenos destinados aos investidores da Nova Faria Lima, um espao (vertical) legalmente recusado aos demais proprietrios que puderam contar somente com os resduos da valorizao dos terrenos na regio. evidente que o prprio processo de escalada dos preos nos imveis prximos nova avenida deu conta, ainda, de expulsar aqueles moradores que no estavam nos limites demarcados para as aes de desapropriao. Como resultado final dessa Operao Urbana, uma reestruturao lucrativa do bairro e entorno disponibilizou, para alm das margens da nova avenida, uma grande quantidade de terrenos para os investimentos imobilirios de carter secundrio. A transformao pela qual o bairro do Itaim Bibi passou, por conta dessa obra de propores monumentais, atingiu a vida de um nmero de residentes muito maior do que aquele estabelecido na zona prioritria de ao do Estado, quando da necessidade de desapropriao. A obra reinseriu, difundidamente, como um todo, aquela regio nos processos de valorizao que contam com o imobilirio como sua principal estratgia.

    Todo o mecanismo de rentabilidade proporcionado pelas Operaes Urbanas conta com um pressuposto infalvel: a aniquilao de configuraes, agentes e de toda a histria materializados no espao urbano destinado aos novos investimentos. Trata-se de um mecanismo que reformula e reapresenta, como condio da reproduo ampliada do capital, o pressuposto no s gentico, mas estrutural, da acumulao primitiva. A partir da fora de lei do Estado, os espaos do urbano so aniquilados, em forma e contedos, para serem liberados posteriormente para novos ciclos de acumulao. Com isso, a histria materializada naqueles espaos, as populaes residentes e o cotidiano se perdem (ou so expulsos para novas periferias) na reordenao espacial urbana. A PROPSITO DO ESPAO SOCIAL

    O espao urbano, entendido como produto social e histrico, constitui-se a partir dos contedos de uma relao indissocivel entre homem e espao. Nesse sentido, ele se distancia daquela concepo que o apresenta como espao geomtrico, pura forma sem contedo, um a priori. No entanto, estamos diante de um processo de negao das possibilidades de produo social do espao que no seja produo alienada, negao das possibilidades de apropriao e uso que no seja reduzida relao de propriedade pressuposta pela realizao do valor (de troca). Dessa forma, com fora de realidade, a representao ideolgica do espao enquanto um continente vazio parece sustentar e realizar a cidade como palco das aes

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    do capital e do Estado; o esvaziamento do espao de seus contedos histricos e sociais o pressuposto para a liberao de velhos territrios para novos investimentos. Surge da uma nova sorte de acumulao primitiva do espao (DAMIANI, 2004).

    Estamos diante, ento, de um processo sob o qual o espao social, que leva em conta o par uso-apropriao, somente vai aparecer como negao do espao enquanto pura representao do valor de troca. Por isso se estabelece o conflito entre o capital e o Estado, por um lado, e o habitante, por outro; um conflito no qual a tendncia que um desses plos seja constantemente anulado pelo outro. A maximizao da lgica e da lei do valor leva, ao extremo, a produo alienada da cidade e a substituio, em lugares centrais densos de contedos do urbano -, do uso pela troca e da apropriao pela propriedade. Realizado enquanto valor de troca, como plataforma da valorizao capitalista, o espao urbano nega seus contedos sociais e aparece como o negativo do conceito e realidade histricos do espao (SANTOS, 2003).

    O mecanismo de valorizao capitalista que passa pelo imobilirio conta com a disponibilizao recorrente de espaos para investimentos que, por uma somatria de fatores como custos, rentabilidade e riscos, recai sempre sobre um territrio restrito dentro da cidade. Como se trata de um processo reiterado de liberao de espao a cada nova rodada de investimentos, os mesmos territrios entram diversas vezes, com possibilidades, ordenaes, funes e significados diferentes, nos mecanismos de valorizao do imobilirio. Para que um mesmo espao, j desgastado ou sobrecarregado no mercado especulativo, retorne sob a forma de ativo imobilirio preciso que haja antes uma desvalorizao dos ativos representados por esse mesmo espao. Como esse processo se d no tempo em que os capitais migram de um espao j saturado para um mais promissor em termos de rentabilidade e segurana, at que ele retorne ao territrio de origem, um tempo de espera coloca, justamente, esse territrio abandonado (pelos capitais) desvalorizado, portanto na condio de um territrio-reserva; condio essa que somente abandonar quando novos investimentos macios de capital chegarem a na expectativa de uma promissora valorizao. Essa mobilidade territorial dos investimentos imobilirios refora aquela tendncia, identificada por Ana Fani Alessandri Carlos, de uma constituio mvel das novas centralidades metropolitanas (CARLOS, 2001), definidas, agora, por esse vigoroso processo de acumulao que se realiza atravs de determinados espaos urbanos inseridos no interior de um complexo relacionamento entre os fragmentos da metrpole. Investidores, em conjunto, direcionam, num dado

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    momento, uma grande monta de recursos para lugares definidos segundo os patamares de rentabilidade ofertados. No entanto, a mobilidade dos investimentos financeiros, quando aplicada na base dos valores imobilirios, produz toda uma sorte de incertezas e instabilidades decorrentes da volatilidade desses capitais. Assim como h uma chegada macia de investimentos, num dado momento, para um determinado lugar, h uma fuga na mesma velocidade ou numa velocidade ainda maior para novos espaos mais promissores. A desvalorizao e a fuga de capitais decorrentes desse processo, passados os primeiros e mais vorazes momentos da valorizao imobiliria, produzem, no lugar das antigas centralidades urbanas, novas periferias. Um rastro de destruio e degradao, diagnosticados a partir da sobreutilizao de mecanismos e infra-estruturas (capitais) obsoletos, do ponto de vista do grande capital internacional, deixado pela migrao macia de capitais nos territrios do urbano. Essa periferizao do centro consiste, no entanto, na produo de novas possibilidades futuras de investimentos no imobilirio, fazendo surgir aquilo que Rosa Tello Robira denominou territrios-reserva. Nesse sentido, a elaborao de periferias no interior dos territrios urbanos representa a reproduo de territrios-reserva, e sua posterior liberao para investimentos futuros do imobilirio pressupe a aniquilao de sua histria e contedos sociais anteriores, preparados para um novo ciclo de valorizao. por isso que, para Francisco de Oliveira, quando esse capitalismo cresce por elaborao de periferias, a acumulao primitiva estrutural e no apenas gentica (OLIVEIRA, 1975).

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    Recebido em 08/08/2006 Aceito em 18/10/2006