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DIREITO CIVIL Prof. Giuliano Tamagno Transcrição | Aula 06 TJ-RS

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DIREITO CIVILProf. Giuliano Tamagno

Transcrição | Aula 06

T J - R S

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Direito Civil

AULA 06

Muito bom dia, pessoal do EAD! Pessoal do presencial já devidamente beijado. Estamos aqui novamente para falar de direito civil. Estamos aqui para falar de posse. Nossa! Que legal! Vamos falar de posse e propriedade!

Deixa eu contar uma coisa para vocês. Se vocês pegarem a nossa apostila… alguém tem a apostila aí? Sim. Se pegar a apostila, falta a gente ver apenas dois pontos do nosso edital, que seriam posse e servidão. Mas só falar de posse e só falar de servidão é muito pouco e não vai ter muita servidão com a nossa prova. Entenderam o trocadilho? Eu estou tri engraçadinho hoje. Então, a gente vai falar de posse e de propriedade. A servidão nada mais é do que um dos direitos reais sobre coisa alheia. Então a gente vai falar de vários pontos.

Me empresta? Posso pegar aqui um pouquinho só para ler com o pessoal? Olha só, povo do EAD, se vocês estiverem acompanhando a nossa apostila.

Giuliano, esse material de posse está na apostila? Não! Está nos materiais complementares, clica lá em cima na abinha do nome, daí junto está “materiais” e aí está aula 06. (…) Daí estará esse material aqui, que vai ser o mesmo material dessa aula e da próxima.

E aí, se vocês analisarem... Ah, não! Falta tutela e curatela ainda, depois disso, né? Então a gente vai ter… é que o problema é que o “retardado” que fez esse bagulho aqui, ele repetiu a parte final do nosso edital. Então parece que falta um monte, parece que a gente está só no meio. Mas se vocês forem ver está repetido. Então ele fala assim: prescrição e decadência, prova, mandato, e aí posse, servidão, tutela e curatela. E acabou.

Giuliano, mas ele segue falando de prova, mandato, posse, servidão, tutela e curatela. Sim, mas eu repeti sem querer. Então, aqui meninas, ele termina aqui. E tudo que tem para baixo é repetido. (…)

Mas como de praxe, para eventos desse nível, a gente vai falar um pouco mais do que a gente deveria.

E a gente começa falando da tal da posse.

Primeira coisa que a gente tem que distinguir (…) é posse de propriedade. Uma coisa é uma coisa. E outra coisa é outra coisa.

A propriedade (…) nada mais é senão um direito real. O CC enumera quais são os direitos reais. E a propriedade é um direito real. Giuliano, eu nunca ouvi falar em direitos reais. Direitos reais é a mesma coisa que direito das coisas, é o direito sobre determinado bem.

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Então a propriedade é um direito real. Ela está enumerado no 1.221 – salvo engano – como um direito real. A servidão, a hipoteca, a propriedade. A propriedade é amais autentica das formas de direito real. Então a propriedade é um direito real.

Já a posse não é um direito real. E se ela não é um direito real, ela é o quê? Vocês sabem que eu gosto de conversar, eu estou meio carente. A posse não é um direito real, ela é o quê? Um fato jurídico!

Como assim um fato jurídico? Sim! A gente não consegue enquadrar ela em outro lugar na legislação se não como fato jurídico. Ou seja: um fato que tem repercussão jurídica. E a gente vai ter, basicamente, duas distinções/explicações para a posse. Art. 1.196, acharam? Duas explicações, duas teorias sobre a posse.

Mas eu botei aqui que a posse é uma exteriorização da propriedade, na teoria de Savigny, que depois a gente vai ver. Então todo aquele que é proprietário também é possuidor. Mas nem todo aquele que é possuidor é proprietário. Explico. Se eu tenho um apartamento e resolvo alugar para o João. Eu, Giuliano, sou o proprietário, eu tenho todos os direitos inerentes à propriedade. Vocês lembram quais são?

Pessoal aqui é alto nível, né? Lembram quais são os direitos da propriedade? Nunca mais vocês vão esquecer, porque isso aqui gruda na cabeça (GRUD).

Gozar, reaver, usar e dispor. Esses são os direitos da propriedade.

O possuidor é um possuidor porque tem alguns dos direitos da propriedade. Mas Giuliano, e se ele tiver todos? Daí ele é proprietário, não é possuidor.

Quando eu alugo o meu apartamento para o João, eu, Giuliano, sou o proprietário. Tenho o direito de gozar, de reaver, de usar e de dispor esse bem. Já o João, que é o possuidor, que estará lá naquele meu imóvel, tem o direito de usar.

Talvez, se eu fizer com ele um contrato que ele pode sublocar, ele estará colhendo os frutos daquela sublocação, que é receber a grana da sublocação. Ele poderá usar, poderá gozar. Mas ele pode alienar esse bem? Não, ele não pode dispor. Ele não pode dispor, porque o possuidor tem apenas alguns dos direitos de propriedade.

Ele pode usar, mas ele não pode dispor.

Mas Giuliano, tu falou que, quando tu aluga para ele, ele se torna possuidor, certo. Ele se torna possuidor, ele tem a posse direta daquele bem. E uma coisa que é muito comum que se faça confusão é achar que a posse está ligada com o contato direto com o bem. A posse não tem

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nada a ver com contato direto com o bem. Eu posso ser o possuidor e não ter o contato direto com o bem. Vocês daqui a… vamos botar aí, edital 6 meses, prova 7 e meio, daqui 1 ano vocês compram uma casa na praia. Três salários já dá para comprar uma casa na praia. Daqui um ano vocês compram uma casa na praia. Vocês vão passar o tempo inteiro na casa da praia? Não, né? Vão passar só o verão, né? Isso significa que no inverno vocês não são os possuidores da casa de vocês na praia? Não faz sentido, né? Vocês são possuidores o tempo todo. Ainda que não tenha um contato direto com o bem.

E para que você seja possuidor não precisa desse contato direto com o bem.

Giuliano, mas eu vi que para fazer usucapião eu preciso ter o contato direto com o bem. Não te mete com usucapião, que a gente nem estudou ainda. A gente vai chegar lá.

A ideia é que, para que se tenha a posse, é preciso que tenha alguns dos poderes inerentes da propriedade. Mas, como eu disse, eu alugando o meu apartamento para o João, ele passa a ter o que a gente vai chamar de posse direta. Que é aquele que estará em contato direto com o bem. Eu, Giuliano, proprietário continuo tendo o poder de gozar daquele bem, que é nada mais que receber aqueles frutos. Eu tenho o direito de reaver, caso ele pare de me pagar. E eu tenho o direito de dispor, eu posso vender aquele bem. Só que o meu direito de usar está limitado.

Quando eu alugo o meu apartamento, a minha posse é anulada? Não! Ele tem a posse direta e eu tenho a posse indireta!

Até aqui, tudo certo?

A posse direta não anula a posse indireta. Por isso que o proprietário sempre é um possuidor, ainda que não um possuidor direto. Mas ele é sempre um possuidor. Já o locatário é um possuidor, mas ele não é um proprietário. Ficou claro isso? Essa distinção entre os dois?

Então a posse é uma exteriorização da propriedade. Basta, nesse caso aqui, que eu tenha aquele bem e eu me comporte como se dono fosse. Como a doutrina chama isso? Vocês vão lembrar: animus domini.

Que é o animus de dono. Já ouviram falar disso? Pessoal que está nos assistindo no EAD não sabe, mas todo mundo que está aqui no presencial é formado em direito, então eu fico falando as coisas e parece muito lógico, né? Mas, para quem está nos assistindo no EAD e nunca ouviu falar no animus domini, fica pensando que (…) é essa?

Animus domini é (…) o ânimo de dono. (…)

A posse, então, tem um ânimo transitório, enquanto a propriedade tem um ânimo permanente.

Existem, basicamente, duas teorias para explicar a posse. (…)

A teoria subjetiva e a teoria objetiva. Isso cai bastante em questão de prova. (…)

É uma questão que cai muito! Saber diferenciar a teoria subjetiva da teoria objetiva.

A teoria subjetiva que é a (…) do Savigny entende que a posse se configura quando houver a apreensão física da coisa (corpus), mais a vontade de tê-la como própria, mais o animus domini.

Eu preciso ter o corpo, ou preciso ter a coisa comigo, mais o ânimo de dono. (…) Essa é a teoria subjetiva, dizendo que não basta eu ter só a vontade de ser dono, eu preciso ter a coisa comigo.

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Diferente dela, a teoria objetiva, de Ihering, indica que a posse se configura com a mera conduta de dono, pouco importando a apreensão física da coisa e a vontade de ser dono da mesma. Basta ter a coisa consigo, mesmo sem a intenção de possuí-la.

Trocando por miúdos. Um diz que, para você ter a posse, é preciso ter contato físico com a coisa. Outro diz que, para você ter a posse, não precisa desse contato físico, basta você a intenção de ter aquela coisa com sua.

Essa, basicamente, é a diferença das duas teorias. Qual vocês acham que o Brasil (CC) adotou?

Vamos pensar, botar nossa “cachola” para pensar. Vocês acham que o Brasil (CC) adotou a teoria subjetiva ou a teoria objetiva? Ou não acham nada? (…)

O CC adotou a teoria objetiva de Ihering, pois não trouxe como requisito para a configuração da posse a apreensão física da coisa ou a vontade de ser dono. Exige-se tão somente a conduta de proprietário. Tão importante quanto saber quais são as duas teorias é saber qual é adotada pelo Brasil.

Mas Giuliano, a teoria do Ihering, essa teoria objetiva é adotada de forma absoluta? Não! Porque quando a gente for falar de usucapião, eu vou falar para vocês que para eu me tornar proprietário, para eu evoluir da condição de possuidor e me tornar proprietário é importante, é necessário que eu tenha o contato físico com a coisa. Não basta simplesmente ter o animus de dono, eu preciso ter o corpus, eu preciso ter a coisa comigo.

Então vamos de novo. Não confundam isso que a gente está falando aqui com o que a gente vai falar depois de usucapião, tá? São coisas completamente distintas. O usucapião começa sim com uma posse e vai terminar (se tudo der certo) com uma propriedade. Mas não se confude com o que a gente esta vendo aqui! Aqui são, basicamente, as teorias da posse. E azqui se explica o fato de que no inverno eu não perco a minha posse da casa da praia. Não é qualquer um que pode entrar na minha casa da praia no inverno. Justamentte pelo fato de que não importa se eu estou tendo contato físico com a coisa ou não. Basta que eu tenha esse animus de dono, essa intenção de dono.

Até aqui tudo certo? Juram?

Então vamos para a nossa legislação ver o que eles dizem sobre isso.

Diz o art. 1.196 que:

Art. 1.196, CC/2002. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

E quais são esses poderes inerentes à propriedade? Os poderes de “GRUD”: gozar, reaver, usar e dispor. Tá?

Então o art. 1.196 imprime a ideia da teoria objetiva. Eu não preciso ter o contato físico, mas tão somente uma intenção daquela coisa ser minha.

Aqui ele faz a distinção da posse direta da posse indireta.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

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Teve uma época da minha vida (não sei se vocês sabiam, mas eu sou corretor de imóveis) que eu tive uma imobiliária. Inclusive, se vocês não estiverem fazendo nada e quiserem se incomodar, montem uma imobiliária!

E aí um senhor foi lá para deixar o apartamento dele para alugar (…). Aluguei para um cara. O senhor deixou as chaves lá e tudo certo. Alugamos para o cara, o senhorzinho assinou o contrato, o cara assinou o contrato. Está tudo certo. O cara está morando lá no imóvel. Até que um dia o senhor lembrou que ele tinha esquecido umas coisas lá no apartamento. E o cara está morando lá. Tinha esquecido um armário e não sei mais o quê. O que ele fez? (…) Ele tinha uma chave, foi lá, abriu a porta… tu já pensou? (…)

Imaginem o rolo da situação! O cara foi no escritório da imobiliária, ele bufava, dava uns pulos desse tamanho” assim. E como é que eu ia imaginar que o senhorzinho ia lá? Pergunto, ele pode correr o senhorzinho lá de dentro? Claro que pode! Ele deve, inclusive!

O que eu estou querendo dizer para vocês? Que o possuidor (aquele que fez um contrato de locação, por exemplo) pode defender a sua posse inclusive contra o proprietário. Se, passados três meses que ele assinou o contrato de locação, o proprietário vai lá e bate na porta.

“Quero o apartamento de volta.”

“Não vou te dar, o contrato é de um ano.”

“Mas eu quero de volta, o apartamento é meu.”

Eu tenho o direito de defender a minha posse inclusive contra o proprietário!

Então, olha só, a posse direta de uma pessoa que tenha a coisa em seu poder, temporariamente (o inquilino), em virtude de um direito pessoal (o que é um direito pessoal? É um contrato de locação, por exemplo), ou um direito real (servidão) não anula a posse indireta de quem foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

Então aquele cara que é inquilino ali tem o direito de defender o imóvel contra terceiros e também contra o possuidor indireto, que, no caso, é o proprietário. Já caiu isso aqui na prova da OAB. Se o inquilino poderia proteger a sua posse contra o proprietário. Muita gente achou que não, porque o proprietário tem todos os poderes inerentes à propriedade. Mas não! É claro que ele pode, se não vai acontecer do senhorzinho poder invadir o apartamento do cara. Isso é real. Ainda bem que eu me livrei disso.

Existe um terceiro cara, uma terceira figura que aparece muito em questão de prova. É fácil de acertar para quem estudou e é fácil de errar para quem não estudou.

Então a gente viu a figura possuidor e a gente viu a figura do proprietário. A gente viu que a propriedade é um direito real e a posse é um fato jurídico. E uma não anula a outra.

Mas existe um terceiro cara que pe o chamado detentor. Quem é o detentor? Vou dar um exemplo para ti que está nos assistindo no EAD, que tu não vai esquecer. Você que está assistindo no EAD e mora no interior (Bagé, Dom Pedrito, Uruguaiana, Santa Cruz), imagina que você tem para fora um sítio e, nesse sítio, você tem um caseiro. E esse caseiro está cumprindo ordens suas. Esse caseiro é possuidor desse sítio? Não! Ele é proprietário? Óbvio que não!

Ele é apenas um subordinado seu, que, cumprindo as suas ordens, está naquele imóvel com a função de zelar por ele, guardar por ele, fazer a manutenção, enfim. Ele é apenas um detentor.

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Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

Pode ser, inclusive, uma dependência hierárquica. Vai que tu tenha o cara de carteira assinada (e se não tem é bom assinar, né?). Vai que tu tenha o cara lá como um funcionário seu. Existe uma dependência.

Ele conserva a posse em nome deste – em nome do possuidor.

Percebe, então, que o detentor conserva a posse do bem para alguém.

Ele é apenas um sujeito que tem dependência hierárquica quanto a outro. Ele não tem posse.

Giuliano, se um caseiro ficar 15 anos em um sítio, ele pode fazer o pedido de usucapião, mesmo que ele esteja no contato direto com o bem? Não, porque ele nunca teve a posse!

Mas ele sempre esteve lá. Sim, mas na condição de detentor!

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.

Então pode ser que ele diga assim: “Olha, eu estou fazendo a usucapião desse bem, eu era detentor, eu tinha carteira assinada com esse cara até o ano 2000, no ano 2000 ele me demitiu e eu continuei na posse do imóvel. Agora não mais sob suas ordens, não mais sob sua dependência. Mas continuei, agora sim, na condição de possuidor.”

Ele pode? Pode!

E do ano de 2000 até hoje (2019), ele continuou lá na condição, agora, de possuidor. Pode fazer usucapião? Daí pode, se ele provar que encerrou a condição de detentor no ano de 2000. Então não significa que porque ele começou como detentor ele vai terminar como detentor. Admite prova em contrário. (…)

Essa parte do CC é uma parte que, primeiro, aparece muito em prova, segundo, ela é difícil e, terceiro, eles usam umas expressões difíceis. Então eles usam, por exemplo, uma expressão que é assim: Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, tem uma presunção iure et iure, ou seja, de direito e por direito – uma presunção absoluta. Ele tem uma presunção absoluta de que ele era detentor? Não, não é absoluta, porque admite prova em contrário. É o que a gente chama de juris tantum – uma presunção relativa. (…)

O art. 1.199, para quem estiver anotando, fala de um instituto chamado composse. Já ouviram falar da composse? A composse, como o próprio nome disse, é a posse de mais de um cara. É uma posse de mais de uma pessoa.

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.

Imaginem que 3 irmãos herdam uma fazenda do pai. Os três são possuidores e são também proprietários. Todos têm o direito de gozar, reaver, usar e dispor. Todos eles, além de serem proprietários, nesse meu exemplo, são também possuidores.

Composse: posse de mais de uma pessoa.

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Agora a porca torce o rabo! Art. 1.200, questão da tua prova. (…) Está aqui uma questão de direito civil! (...)

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Isso significa dizer nada, porque a gente não sabe o que é uma posse violenta, clandestina ou precária. Então façam uma pausa mental nesses próximos artigos e a gente vai conversar agora sobre o 1.200.

Estão ligados? Boné vermelho, marchando: “vamos invadir”. Bandeira, lona e vamos ficando. Eles tomaram essa posse como? Posse violenta. Fazendo uso da força.

Os caras não tinham terras e aí eles vão lá e invadem. É uma forma de aquisição da posse. Esses caras terão a posse? Sim, mas não terão uma posse justa.

Depois a gente pensa em exemplos disso. E, terceira, a posse precária.

Então imaginem que eu empresto a minha casa da praia para alguém. (…) Pode ficar fevereiro inteiro. E o cara fica fevereiro, março, abril, maio, e nada de devolver a casa. É um contrato de comodato. Vocês estão ligados no que é comodato? É um contrato de empréstimo de um bem infungível. E o cara vai ficando. Essa posse que ele tinha no mês que eu havia emprestado era justa, mas se tornou precária.

Olha só, fiz isso aqui para tentar facilitar a vida de vocês. (...)

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A posse é injusta nesses 3 casos (clandestina, violenta e precária). Quando ela é clandestina? Feita às escusas daquela que detinha. Quando ela é violenta? Mediante emprego de força. Quando ela é precária? Com abuso de confiança.

A questão toda é saber quando aquela posse é injusta. Quando se inicia aquela posse injusta. (…)

Aquele cara que deveria ter me devolvido e não me devolveu o bem, ele está naquele bem com abuso de confiança. Eu deixei ele ficar e ele foi ficando. Aquela posse não é injusta desde o momento em que o cara entrou no bem. Ele ficou fevereiro inteiro na casa porque eu deixei. Naquele momento a posse não era injusta, mas quando ele deveria ter entregue e não entregou, aquela posse se tornou injusta.

Então percebam que a posse injusta, mesmo que seja injusta nesses três institutos, nem sempre a injustiça da posse começa com o início da posse!

Ficou confuso? (…)

Quando a posse é violenta, desde o momento em que eu entrei na posse, desde o momento em que eu entrei aquela posse é injusta.

Se ela é clandestina, desde o momento da posse.

Agora, quando o cara deveria me devolver e não devolveu, a partir dali é que a posse se torna injusta.

Ficou mais fácil? O art. 1.200 cai muito muito em prova! (…)

Quanto à posse clandestina, a gente poderia pensar como exemplo (…) aquele cara que engana alguém sob algum contrato ou sob determinada situação. Ele vai ficar naquele bem enganando o proprietário, por uma situação que não existe. Então ele faz isso enganando o proprietário. Com um contrato falso ou alguma coisa assim. Seja do jeito que for.

Ele tem aquela posse, ele efetivamente tem o contato com o bem, mas ele fez às escusas daquele que o detinha. É diferente, obviamente, do emprego de força.

A posse clandestina é feita, por exemplo, com contrato falso (um grilheiro, por exemplo). Lá na região norte é muito comum, eles fazem a grilagem para conseguir usucapião, por exemplo. (…)

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Então diz aqui que a posse é justa quando não for violenta, clandestina ou precária. Qual é a importância disso para a nossa vida real?

Por exemplo, um cara que tem uma posse injusta, não é que ele não vá poder fazer usucapião. Ele vai poder, mas a regra será diferente. Se o cara tem um justo título, olha só. Imaginem o que é muito comum acontecer. (…)

O cara compra um imóvel que era de área verde (são aquelas áreas que não têm registro) e ele comprou de boa-fé de alguém. Esse alguém fez um contrato de compra e venda. E esse cara está de boa-fé com base num contrato sobre aquele bem já faz 20 anos, faz 10 anos... Percebem que ele não invadiu aquilo ali, ele não tomou de modo clandestino, não tomou de modo precário. Ele tem um justo título, ele tem boa-fé, ele está naquele bem porque aquele bem é dele e ele comprou.

Só que, para ele se tornar proprietário daquele bem, ele precisará fazer usucapião.

É diferente a usucapião desse cara daquele cara que invadiu, porque ele tem um justo título e uma boa-fé. O outro não tem uma boa-fé, ele tem uma posse injusta.

Então, vamos combinar, que faz sentido eu impor a esse cara que tem uma posse injusta um prazo muito maior para que ele possa se tornar proprietário, do que aquele que tem uma posse justa.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Mais uma coisinha que aconteceu comigo. (…) Alugamos um terreno para um cara. O cara que estava alugando ia colocar lá uma quadra de futebol. (…) E o que ele fez com o terreno que ele alugou? Ele vendeu! Vendeu o terreno que ele alugou para um senhor, que começou a construir uma casa pré-fabricada. E um dia eu passei na frente do terreno e aquela casa pré-fabricada. Mas esse cara ia construir uma quadra de futebol, que estranho.

“O que está acontecendo aqui? Não vai mais ter quadras de futebol?”

“Não, eu comprei do rapaz e vou fazer a minha casinha aqui.”

“Comprou? Pagou como?”

“Paguei em dinheiro, tudo certo. Me vendeu de barbada.”

E aí, como explicar para esse senhor que ele comprou um imóvel que ele não poderia ter comprado?

Percebem que ele comprou de boa-fé? Ele comprou achando que estava fazendo um baita negócio.

E essa posse dele continua sendo de boa-fé. Claro que o cara que vendeu, vendeu de má-fé. Mas esse senhor comprou de boa-fé.

“Se o possuidor ignora” (art. 1.201): eu coloquei de vermelho, porque não é no sentido de saber que existe o risco e comprar mesmo assim. É no sentido de ignorância, no sentido de desconhecer aquela situação.

E aí a gente explicou para que ele que aquele imóvel, ele não poderia ter comprado, porque o imóvel nem era do cara. Mas ele comprou.

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Então a posse desse senhor, se ele ficasse lá por X anos, ele poderia fazer a usucapião na qual se exige uma posse justa. Porque a posse dele é justa. A posse dele é de boa-fé. Claro, o cara que vendeu não fez isso de boa-fé. Mas a dele é, porque ele desconhece o obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.

Daqui a pouco, se a gente conseguisse provar que ele estava em conluio com o cara, alguma coisa assim. Ou então (nesse caso não era isso), mas daqui a pouco ele nem pagou para o cara e o cara fingiu que vendeu para ele, para ele se tornar um possuidor de boa-fé, para ele poder usucapir como boa-fé. Pode acontecer. Os dois estarem de conluio. Não era o caso, mas poderia ser. Então: salvo prova em contrário, ou seja, é uma presunção juris tantum, é uma presunção relativa. A presunção de boa-fé é uma presunção relativa.

Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.

Autoexplicativo esse, né? Se o cara sabia que estava comprando algo que não podia ser comprado, daí não tem o que fazer, né?

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.

Se ele foi adquirida de má-fé, ela se mantém durante todo o período de má-fé. Se ela foi adquirida de modo injusto, ela vai se manter de modo injusto.

Até agora eram só disposições gerais sobre posse. Dúvidas até aqui? Nada? Está indo? Está rolando? Está tudo certo? Beleza!

Formas de aquisição da posse.

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.

Olha uma questão que ninguém, ou melhor, que pouca gente acerta.

Acerca do instituto da posse analise as assertivas (…). a posse pode ser adquirida por um terceiro, ainda que não tenha mandato. Tu pensa, na hora da prova, o cara não tem nem mandato, nenhuma procuração, ele poderá adquirir a posse de um bem? Pode!

Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:

I – pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;

II – por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

Lembrando aqui que ratificação é confirmação. (…)

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.

É muito comum o pai estar em uma área de terra que ele comprou, mas aquela área de terra não tem nenhum tipo de registro. Para ele se tornar proprietário ele precisará fazer usucapião. Ele já está lá há 8 anos, cria os seus filhos lá e morre. E aquela área de terra passa para seus

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filhos. Aquele tempo em que ele ficou na posse do bem é transmitido aos seus herdeiros para fins de usucapião, por exemplo. Para fins de tempo de posse.

Então, se o meu pai estava na posse de determinado bem há 10 anos e eu nem morava com ele. Ele morreu e eu herdei aquele bem. Vamos supor, num caso de usucapião, que eu precise de 15 anos – se eu ficar mais 5, eu posso usucapir. Eu tenho 15 anos de posse. Por quê? A posse transmite aos seus herdeiros! E o tempo de posse também!

Está claro isso?

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.

O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor – o pai do filho, né?

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

Imaginem que eu autorizo (isso, no interior, é bem comum) que, para facilitar o acesso de alguém, todo o dia ele cruze por dentro da minha terra, para acessar o seu bem. Ele poderia dar toda a volta e chegar no seu bem, mas eu autorizo que ele passe todos os dias durante 10, 15, 20, 30 anos por dentro da minha área de terra, porque para mim não tem nenhum prejuízo. Para ser mais cômodo para ele chegar na casa dele.

Esse ato de mera permissão ou uma tolerância de deixar que o cara passe não fará com que ele se torne possuidor. Tá?

Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem.

Se eu tenho a posse de um imóvel que tem uma casa, aquela casa faz parte da posse. Barbadinha. (...)

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. (...)

Existem três situações em que eu poderei manejar um tipo de ação possessória. E, olha só, agora a gente vai fazer um paralelo do civil com o processo civil. (…) Existem três tipos de ações possessórias: ação de reintegração de posse, ação de manutenção na posse e ação de interdito proibitório. (...)

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Para tentar facilitar a vida de vocês, eu dividi as três ações assim.

A gente chama de reintegração de posse quando se tem um esbulho, a gente chama de manutenção na posse quando tem uma turbação e a gente chama de interdito proibitório quando tem uma ameaça.

Mas Giuliano, que (…) é essa de turbação? O que é esbulho?

Vamos lá! Imaginem que eu estou sentado na varanda da minha fazenda (…), e, daqui a pouco, eu vejo, lá no horizonte, eu vejo uma massa de gente vindo, com foice e machado. “Vamos invadir” (…)

Eu posso manejar uma ação contra esses caras? Claro que posso, né? Eu posso entrar com uma ação para impedir que eles entrem na minha fazenda? Posso!

Ou, imaginem, são três fazendas. Os caras já invadiram a primeira, estão invadindo a segunda e eu penso que daqui uns dias será a minha. Eu posso entrar com uma ação mesmo sem ter perdido nada? Eu não perdi um grama de posse, não perdi um metro quadrado. Eu posso entrar com uma ação quando eu tenho um justo receio de perder essa posse ou de ter essa posse ameaçada? Posso! E o nome dessa ação será interdito proibitório.

Aí o oficial de justiça vai chegar lá: “Oi pessoal, tudo bem, eu vim aqui entregar um mandado. Não é para invadir a fazendo do Seu Fulano, viu? Estão avisados?” (…) E os caras: “vamos invadir”.

A primeira delas (interdito proibitório) é quando há uma ameaça, uma suspeita de esbulho ou de turbação. Mas Giuliano, eu ainda não sei o que é esbulho e turbação!

Esbulho nada mais é do que a perda total da posse. Lembrem assim que vai ficar bem fácil. Se eu perdi toda a minha posse, os caras invadiram e não me deixaram continuar no meu imóvel, eu tenho um esbulho. Preciso de uma reintegração de posse.

Final de semana fui para a praia, cheguei em Porto Alegre e tem alguém morando no meu apartamento. O que eu posso fazer? Ação de reintegração de posse. Eu perdi toda a minha posse. (…)

Agora, se os caras invadem parcialmente, se eu perco parcialmente a minha posse, eu chamo de ação de manutenção da posse. Quando eu tenho apenas uma restrição ao exercício pleno. Ou seja, eles não invadiram toda a área de terra, mas eles invadiram parte. Se eles invadiram parte da área de terra, eu entro com uma ação de manutenção da posse.

Percebem que são ações bem distintas uma da outra? Numa eu quero uma coisa, noutra eu quero outra coisa e noutra eu quero outra coisa.

Então, são três ações diferentes: ação de reintegração, ação de manutenção e ação de interdito proibitório.

Lembram que, na reintegração, tu só pode ser reintegrado naquilo que tu perdeu.

Cai direito administrativa para vocês? Cai, né? Não tem uma das formas de provimento que é a reintegração? O que é a reintegração? É aquele cara que foi demitido, entrou com processo judicial e voltou. (…) Fechou?

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Então o possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação, de ser restituído no de esbulho (e agora está mais claro isso, né?), e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Ficou claro agora? (...)

§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

Então eu posso defender a minha posse, ainda que com uso de força. (…)

§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Eu posso me opor, ainda que seja contra o proprietário.

Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso.

Então, se eu tenho duas pessoas que se dizem possuidoras de um determinado bem, o juiz precisa decidir. Enquanto ele não decidir qual efetivamente é a possuidora, ele precisa decidir quem é que vai ficar naquele bem. E ficará aquela que já está em contato imediato com o bem. (…)

Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.

Existe a possibilidade de eu reaver a coisa ou reaver um pedido de indenização.

Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve.

Deixem isso aqui em stand by, o 1.212 e o 1.213, que, quando a gente for falar de servidão, eu vou falar disso aqui. Tá? Servidão é um direito real e aí será um pouquinho diferente aqui.

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.

Posso plantar e posso colher.

Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

Por quê? Aquele possuidor de má-fé não tem direito aos frutos. E, se ele os colher, tem que indenizar o proprietário.

Olha só o 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.

Então, se eu emprestei a minha casa da praia por seis meses para alguém. Esse cara foi lá, plantou, fez uma hortinha, começou a vender agrião. Enquanto ele estava de boa-fé, está tudo certo, ele pode plantar e pode vender.

Agora, quando aquela posse dele se tornou de má-fé, não pode mais colher os frutos. E tem que indenizar, depois de deduzidas as despesas de produção e custeio.

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Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

Civis é, por exemplo, aluguel, juros, etc. E os frutos naturais e industriais é qualquer tipo de produção mecânica do homem.

Então, já que o possuidor de má-fé não pode colher os frutos, ele tem que responder.

Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

Imagina que os caras, para invadir, pisotearam por toda uma plantação. E aí o que eu ia colher, eu não pude colher. Então eles serão responsabilizados. (...)

Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa.

Essa última parte é bem importante. Se eu me tornei possuidor de um bem, esse bem tinha uma casa lá. Teve uma tempestade e essa casa veio à ruína. Eu não sou responsável por isso. Eu sou possuidor daquele bem, um imóvel alugado, por exemplo. E aquele imóvel veio à ruína por causa de uma chuva de pedra. Eu não dei causa a isso. Se eu não dei causa, eu não sou responsável.

Agora, se eu der causa, daí é diferente, né? Resolvi trocar o telhado, coloquei um telhado mais pesado e o telhado desabou a casa.

Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.

Olha só. O 1.217 e o 1.218 são bem comuns de aparecer em prova e tentar confundir os dois.

O possuidor de boa-fé não responde pela deterioração do bem, salvo se foi ele que deu causa. Beleza?

O possuidor de má-fé responde sempre, a menos que ele prove que aquela deterioração aconteceria ele estando lá ou não. Aí ele não responderá. (...)

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.(...)

Para o pessoal do EAD que não lembra: benfeitorias necessárias, o que é? Isso mesmo, aquelas para a conservação do bem. (…)

E as benfeitorias úteis? São aquelas que melhoram a comodidade do bem, aumentam o tamanho da cozinha, ampliam o banheiro.

E as benfeitorias voluptuárias? A piscina, o exemplo da piscina. Coloca uma banheira no banheiro. Benfeitorias voluptuárias também são chamadas benfeitorias de mero deleite. (…)

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Então o possuidor de boa fé tem direito à indenização daquilo que ele fez. Das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, ou tem o direito de levantar (bem “fácil”, né? Vai lá e retira a piscina), quando o puder sem detrimento da coisa.

Então, esse senhorzinho, lá do meu exemplo, que comprou o terreno que não podia ter comprado, se ele cercou o terreno, por exemplo. A benfeitoria é útil ou necessária? Sabiam que isso já foi objeto de discussão no STJ? Se a cerca é uma benfeitoria útil ou necessária. O que vocês acham? (...) Foi entendida como necessária. Então o cara tem o direito de ser reembolsado.

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

Percebem já uma diferença de tratamento entre o possuidor de boa-fé e o de má-fé. O de boa-fé tem o direito a reembolso das três. O de má-fé, só das necessárias. Mas ele aumentou a cozinha! Azar o dele! Mas ele colocou uma piscina! Azar o dele!

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.

Imaginem que o possuidor de má-fé cercou todo o bem. Gastou 50 mil para fazer toda a cerca, mas causou alguns prejuízos na plantação que chegam ao importe de 50 mil. Compensa e não paga nada.

Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

Mais uma distinção aqui. O código trabalha várias distinções entre o possuidor de boa-fé e o de má-fé.

Quanto à indenização das benfeitorias. Quanto ao cara de má-fé, eu posso indenizar ele pelo custo ou pelo valor atual. Se, daqui a pouco, o valor atual daquilo ali é menor do que o custo, posso indenizar pelo valor atual. Já o possuidor de boa-fé será indenizado pelo valor atual. Fácil até aqui? (…) A gente começa, depois do intervalo, a falar de perda de posse. (...)

Bueno, vamos seguir então! Falta a gente falar um pouquinho da perda da posse. É só isso aqui, dois artigos. E aí, então, vamos tentar colocar em prática aquilo que a gente aprendeu e vamos tentar fazer algumas questões. (…)

Da perda da posse. Dificílimo isso aqui, né? Quando que perde a posse?

Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.

Muito difícil isso, né? Qual o poder? Aquele pode inerente à propriedade, qualquer um daqueles poderes de “GRUD” (gozar, reaver, usar e dispor).

Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

A gente não vai falar agora, porque não é parte de direito civil. Mas eu, se fosse vocês, considerando uma questão interdisciplinar (…), acho legal estudar também sobre as ações possessórias. Mesmo que não esteja no nosso plano de estudo, dá uma estudada nas ações

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possessórias. E quando vocês forem estudar, estudem uma coisa chamada posse nova e posse velha. Já ouviram falar nisso? (…) Posse nova é aquela que é a menos de um ano e um dia. Posse velha é a mais de um ano e um dia. (…)

É que as duas mudarão o rito do processo de reintegração. Se for uma posse nova, tramitará sob um rito (das ações possessórias). Se for uma posse velha, tramitará sob outro rito (processo originário). Por exemplo, se for uma ação possessória o juiz é obrigado a dar a liminar. (…)

A gente terminou, então, a parte de posse. Espero que a gente tenha visto, principalmente, os principais tópicos de posse. Eu acho que foi. E a gente fala, agora, de direitos reais.

O art. 1.225, eu não sei se ele está na apostila, porque ele não está no edital antigo. Mas o que está no edital antigo? Servidão. Daí eu pensei: como eu vou falar de servidão para a galera sem nem falar o que é direito real? Fica um pouco confuso, né? Então, já que estamos aqui, vamos falar de direito real, porque se a gente fosse falar de só um dos tópicos ficaria muito vago. E eu acho muito pouco provável que, de novo, o edital venha e pincele um dos direitos reais para cobrar na nossa prova. Ou cobra tudo ou não cobra nada. Giuliano, tu acha que vai cobrar tudo ou cobrar nada? Cobrar nada, mas (…) vamos trabalhar e, se tiver, vamos ver. (…)

Tá, olha só, o art. 1.225 diz quais são os direitos reais. Até aqui nada. O que é um direito real? É um direito material sobre a coisa. E aí tem vários aqui. No próximo slide eu fiz um esqueminha para explicar para vocês como eles se dividem, mas, por enquanto, só lembrem que esses são os direitos reais.

Art. 1.225. São direitos reais:

I – a propriedade;

II – a superfície;

III – as servidões;

IV – o usufruto;

V – o uso;

VI – a habitação;

VII – o direito do promitente comprador do imóvel;

VIII – o penhor;

IX – a hipoteca;

X – a anticrese.

XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;

XII – a concessão de direito real de uso; e

XIII – a laje.

Onde está a posse? Em qual dos incisos?

Ela não pode estar, né? Porque a posse não é um direito real! (…) Ela é um fato jurídico!

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O último que foi incluído, aqui, foi o direito de laje. O direito de laje foi incluído há bem pouco tempo – que é o direito sobre a superfície. (…)

Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.

Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código.

Fácil. O que é tradição? Tradição é a entrega do bem. Se eu compro um carro, como que se dá a compra e venda? Através da entrega do carro. Se eu compro um imóvel, como que se dá a compra e venda desse imóvel? Por meio de uma escritura. E vocês já sabem que a escritura pública é indispensável nos negócios jurídicos de compra e venda de imóvel cujo valor ultrapasse 30 salários-mínimos. É indispensável a escritura.

Bem móvel, tradição. Bem imóvel, registro.

Olha só o que eu fiz para tentar facilitar a vida de vocês. (…)

Eu explico, porque olhando, assim, não dará para entender. Mas eu juro que foi de bom coração. (…)

Direitos reais se dividirão em direitos reais de gozo, em direitos reais de aquisição e direitos reais de garantia. Fica mais fácil a gente entender os direitos reais sob essa ótica.

O que é um direito real de garantia? Quando o banco me empresta uma grana para eu comprar a casa e ele quer uma garantia de que eu vou pagá-lo. O que ele faz? Ele faz uma hipoteca sobre essa minha casa. E, se eu não pagar a casa ou não pagar o financiamento, o que o banco faz? Me toma a casa.

Percebam que a hipoteca é um direito real. Mas não é um direito real de gozo nem de aquisição. Ela é um direito real de garantia.

Assim como o penhor, que é um direito real de garantia sobre um bem móvel.

Vocês lembram do penhor na Caixa? Vocês são do tempo do penhor na Caixa? Tu ia lá com o teu relógio, sexta-feira, para poder fazer alguma coisa no fim de semana, deixava o teu relógio, tua aliança penhorada lá, e aí, tu voltava na segunda-feira (…). O que eles faziam? Te davam uma grana e ficavam com uma garantia. Que garantia era essa? Nesse caso era um bem. Então é um direito de garantia.

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Em nome de Jesus, não confundam penhor com penhora! Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Penhor e penhora. Fechou?

Outra forma de garantia é a anticrese. Essa não é do tempo de vocês. (…)

A anticrese é uma forma de garantia, assim como a enfiteuse (que não existe mais). A gente nem precisa saber o que é, porque não vai aparecer para nós na prova. Mas são formas de garantia. Por exemplo, a enfiteuse. Estão ligados naqueles casarões antigos que tem ali na Padre Chagas, que agora estão tombados pelo patrimônio? Eles tinham os proprietários, os chamados enfiteutas. Aqueles patrimônios pertencem à União e ela entrega para uns caras com um direito real de garantia e, todo ano, eles têm que pagar uma certa quantia. E quando venderem têm que pagar uma certa quantia. E aquele bem continua sendo sempre da união. Enfim, é uma forma de garantia sobre um bem móvel.

Então, basta lembrar que esses três (hipoteca, penhor, anticrese) são direito real de garantia. Não direitos reais de gozo ou de aquisição. Até aqui, tudo certo, né?

Um direito de aquisição é, por exemplo, a promessa de compra e venda. Um contrato de promessa de compra e venda é um direito real de aquisição.

Outro direito real de aquisição é o direito de dispor do fiduciante. O que é o fiduciante? É nos casos de alienação fiduciária. Estão ligados no que é alienação fiduciária? Lá no rodapé do documento do teu carro, enquanto tu não passou no concurso, está escrito ali: alienado fiduciariamente ao Banrisul. Se for do Banrisul, né? Alienação fiduciária é uma espécie de direito real de aquisição.

E os direitos de gozo são: o direito de servidão, o direito de superfície, o direito de usufruto e o direito de uso/habitação.

Faltaram aqui (porque eu fiz de modo genérico) alguns. Faltou, por exemplo, o direito de propriedade, que seria o principal direito real. (…) O primeiro é o direito de propriedade. Faltou ele ali, mas também é um direito de uso de um bem próprio.

Deixa eu perguntar para vocês uma coisa. O direito de propriedade é um dos direitos mais caros ao direito civil. É um dos mais importantes ao direito civil. A gente vai colocar o direito à propriedade, no código civil, só abaixo do direito à vida. Ele é algo que, desde o início da evolução da sociedade, (…) um dos direitos/garantias mais importantes ao indivíduo. Pergunto. O direito à propriedade é um direito absoluto? É um direito iure et iure? Ou é um direito relativo?

Por que ele é relativo? (…) Porque ele pode sofrer uma limitação. Por exemplo, em razão da função social. Se eu não destinar a função social a determinado bem, eu posso sofrer a desapropriação. E a desapropriação pode ser por outros motivos também. Aqui, na Terceira Perimetral, para quem é do interior e não sabe. Aqui em Porto Alegre tem uma avenida que liga a Ipiranga até o aeroporto, que a gente chama de Terceira Perimetral. (…) Para construí-la, precisou-se desapropriar inúmeros imóveis ao longo dessa via. E essa desapropriação é uma limitação ao direito de propriedade, porque restringe a propriedade individual em prol da coletividade. (…)

Olha só.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

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§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

Eu posso limitar o direito de propriedade. O Zambeli, lá onde ele mora, em Gravataí, nos fundos do imóvel dele, tem um treco chamado área de preservação permanente. Ele não pode mexer naquilo lá. (…) Tem uma área de preservação ambiental que ele não pode mexer. Isso é uma limitação de propriedade, porque a legislação diz que devem ser preservados a fauna, a flora e as belezas naturais.

§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

Nunca é demais lembrar que defeso é sinônimo de proibido. Dois imóveis que o vizinho daqui não de bica com o daqui. Ele resolve, então, construir um muro de 30 metros de altura. Não pode, né? Não tem intenção nenhuma de valorizar o bem. É simplesmente para prejudicar para o cara não ter vista para o outro lado.

§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.

E a desapropriação, caso vocês lembrem, é uma espécie de responsabilização civil. O cara terá direito a uma indenização por um ato lícito. Lembram? Regra geral: as pessoas têm direito a uma indenização por um ato ilícito. Alguém que bate no meu carro deve me indenizar.

Mas um ato lícito também pode gerar o dever de indenizar, como é o caso da desapropriação. E essa desapropriação pode ser por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. Aquelas casinhas nas encostas dos morros (…).

Olha só, aqui, um Enunciado da Jornada de Direito Civil:

Tanto é que o possuidor pode se opor ao proprietário, né?

Giuliano, mas só propriedade que o cara pode perder por desapropriação ou ele pode perder a posse também? Ele pode perder a posse também, até porque, muitas vezes, a posse está intimamente ligada à propriedade. Se o proprietário tem a posse, ele vai perder a posse e a propriedade. (...)

§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

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Os caras invadiram determinada área de terra. Fizeram suas plantações. Já estão lá há mais de cinco anos. Eles podem reivindicar a propriedade daquela área de terra.

§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.

Se eu tenho determinada área de terra, essa área de terra foi invadida, os caras começaram a plantar e já estão lá há cinco anos. Claro que, para eles estarem lá há cinco anos, eu dormi no ponto, né? Eu já poderia ter proposto uma ação de reintegração de posse contra eles antes. E não o fiz. Então, eles já estão lá há cinco anos, é um número considerável de pessoas e eles têm obras e serviços. O juiz pode, então, fazer a desapropriação e me indenizar. É como se o Estado estivesse comprando aquela minha área de terra e dando para esses caras. É “como” não, é isso!

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.

Mais uma coisa que é comum de cair em questão de prova, né? Eu me lembro que eu brincava, quando era criança, que ia cavar, achar petróleo e ficar rico. Se tu cavar e achar petróleo, na tua casa, tu está é (…), tu não está rico. Porque desapropriarão a tua casa e o petróleo pertencerá à União, né?

Não tem porque, a 100 metros de altura, aquilo ser minha propriedade. Não faz sentido, né?

Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.

Foi fazer uma pracinha nos fundos de casa e achou um sítio arqueológico lá. Que pepino!

Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.

Ou seja, eu posso pegar areia para construir a casa. Recursos minerais na construção civil.

Se naquele meu imóvel tem areia e aquela areia eu posso usar para construir a minha casa, eu posso fazer. Agora, se tem determinado treco lá, que eu preciso industrializar para que ele vire uma areia para que eu possa construir, eu não posso. Eu só posso usar o que estiver pronto, porque o solo não pertence ao proprietário.

Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.

Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.

Barbada, né? Vocês viram isso lá na parte de processo civil. Tem uma casa (…), daí o teto saiu aqui para o lado para que fosse feita uma reforma na casa. É óbvio que continua sendo meu aquilo tudo, né? Inclusive isso aqui não pode ser penhorado, mesmo que esteja separado da casa, né?

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E, da propriedade, é isso! Simples como a vida. Fácil, né?

Giuliano, a gente vai falar sobre aqueles direitos reais sobre bens alheios? Sobre servidão, usufruto, essas coisas todas? Claro que vamos! A gente vai falar de todos eles, servidão, usufruto. Todos eles a gente vai falar.

Mas antes de chegar lá, pela sequência lógica do código, pede que a gente fale desse cara aqui. Da usucapião.

Então, eu acho que dá tempo de a gente falar da usucapião hoje, né? Dá, né? Nem que seja, pelo menos, os conceitos, daí depois, na próxima aula a gente começa com os artigos correspondentes a esses conceitos.

Mas, assim, é bem fácil. Bem fácil. Todo mundo faz um bicho de sete cabeças. Eu me lembro, quando eu aprendi isso aqui, até hoje eu não consegui… não, até hoje não. Agora eu já consegui! (…)

Então, olha só, que fácil. Vamos, primeiro, conceituar o que é esse tal do “usucampeão”, né? O “usucampeão”, o usucapião nada mais é (e vocês lembrarão agora, tenho certeza disso, aplicados que são – que eu falei pra vocês que a prescrição é uma forma de usucapião. Lembram disso?) do que uma prescrição aquisitiva.

O que é a prescrição? É determinado transcurso do tempo que pode me punir ou me beneficiar. Nesse caso, a prescrição, que é estar na posse daquele bem por X tempo, me beneficia. E a questão toda é saber diferenciar quanto tempo eu preciso estar naquele bem para que aquele bem se torne meu. A usucapião serve unicamente para uma coisa: transformar uma posse em propriedade. Então, é muito importante que a gente conheça os conceitos de posse para que a gente consiga entender a usucapião.

E a primeira delas, que está no art. 1.238, é a usucapião extraordinária. Se vocês quiserem anotar aí, eu sempre acho mais válido anotar do que depois simplesmente ler os slides. Por dois motivos: primeiro, porque vocês não vão ler; segundo que a gente aprende mais quando está escrevendo. Então, acho que vale a pena.

A usucapião extraordinária prevista no art. 1.238 é a mais comum. A mais tradicional, tá? O usucapiente, que é o nome do cara, para ser proprietário do bem, não precisa de justo título, não precisa estar de boa-fé e estes não são requisitos.

Justamente por isso ela é a que tem o maior prazo. Porque eu não preciso estar de boa-fé, eu não preciso de um justo título, estes não são requisitos. Quais são os requisitos?

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Posse de 15 anos exercida com animus de dono, uma posse contínua, ou seja, eu não posso ter ficado 3 anos, saído 3 anos, ficado 3 anos, saído 3 anos, ficado 3 anos, saído 3 anos, isso por 5 vezes para fechar 15. Né?

Então a posse tem que ser contínua, tem que ser mansa e pacífica, no qual se verifica os aspectos objetivos de tempo e posse sobressaindo sobre os aspectos jurídicos da boa-fé.

Então, vamos lá! Requisito da usucapião extraordinária é bem simples. Eu tenho que estar há 15 anos na posse de um imóvel e essa posse tem que ser um contato direto com a coisa. Essa posse tem que ser um contato direto com a coisa. Essa posse tem que ser contínua, não pode ser intercalada. Mas isso não significa que não possa ser uma posse de pai para filho. Pai, 10 anos. Filho, 5. Tudo certo.

A posse tem que ser contínua, mansa e pacífica. E percebe que ele exige que tu tenha o animus domini, ou seja, tu tenha o ânimo de dono. Isso aqui judicialmente como a gente prova? O cara paga todos os impostos daquele bem, paga IPTU todo ano, significa que ele tem intenção de dono, ele tem o animus de dono. Mas vocês se deram conta que aqui eu disse que eu preciso ter a posse direta, a detenção da coisa direta, e mais o animus de dono?

Então, vou fazer uma coisa que eu vou me arrepender, que é ir lá no primeiro slide. Para o usucapião, qual teoria da posse que se aplica? A gente já viu que, regra geral, a gente aplica a teoria do Ihering, mas para o usucapião, que tipo de teoria a gente utiliza?

Exatamente. A teoria subjetiva, porque não basta eu simplesmente ter uma mera conduta de dono. Ah, vou fazer usucapião de uma área de terra lá no interior, cerquei, coloquei umas vaquinhas e vim para Porto Alegre. Fico morando aqui na minha casa, vou lá fim de semana, dou comida para as vaquinhas, volto para Porto Alegre, vou lá fim de semana, dou comida para as vaquinhas, volto para Porto Alegre. Não! Eu preciso ter a coisa. Agora eu tenho que ir lá no slide que eu tava.

Aí. 15 anos, posse mansa e pacífica, e contínua. Até aqui tudo certo? Independentemente de justo título ou independentemente de boa-fé.

É importante dizer que quando ocorre a perda da propriedade imóvel pelo antigo proprietário pela usucapião, o fato se sustenta na sua inércia pelo período de quinze anos em tentar recuperar a coisa. Ele ficou 15 anos sem tentar buscar esse bem.

A usucapião é considerada (e, se vocês quiserem anotar, talvez essa seja uma das informações mais importantes) uma posse originária.

O que significa ser uma posse originária? É como se fosse a primeira posse daquele bem. Portanto, não há que se falar em IPTUs atrasados, por exemplo. Porque a posse é originária. É diferente de eu vender a minha casa para vocês e vocês venderem para outro. Essas seriam posses derivadas, ou seja, já teve mais de um proprietário. Vocês podem considerar então como uma ideia de que vai ser o primeiro dono daquele bem, você vai ser o primeiro dono daquele bem. Ah, mas se ela já tinha um proprietário anterior? Não importa. A usucapião traz uma ideia de uma propriedade originária. Tanto posse como propriedade originária. Beleza?

Giuliano, a usucapião extraordinária (15 anos, beleza) pode ter o tempo reduzido? Pode! E é aí que dá as confusões na hora da prova! Porque eu posso ter uma usucapião extraordinária, que vocês já sabem que é de 15 anos, em 10. E é aí que dá as questões de prova. Porque a gente memoriza extraordinária, 15 anos.

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Mas, segundo o art. 1.238 do CC, caso seja feita no imóvel a moradia habitual do possuidor, ou nele sejam feitam obras ou serviços de caráter produtivo (o cara está plantando ali para vender, sei lá, legumes, frutas), ele tem o tempo diminuído em 10 anos, porque ele está dando uma destinação social. Diminuído em 10 anos, não, diminuído em 5, daí vira 10. (…) Ele tem o tempo diminuído para 10 anos. Qual o requisito? Ele morar e transformar aquilo em algo produtivo. (…)

Tudo isso está no art. 1.238 do CC, tá?

Além da usucapião extraordinária tem a usucapião ordinária. Depois a gente lê os artigos, tá? Por enquanto vamos ler os conceitos. Está no art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente – e agora olha o que aparece aqui –, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 anos.

Tá, Giuliano, então olha só, vem cá. Se eu não fiz daquele bem a minha propriedade habitual e também não plantei nada naquele bem, eu posso fazer usucapião ainda assim? Pode! Mas não vai ser a usucapião extraordinária de 10 anos, né.

Olha só, que legal. Na usucapião extraordinária eu não preciso de um justo título, eu não preciso de uma boa-fé e, ainda assim, ele pode ser de 10 anos. Fechou?

Na usucapião ordinária, eu preciso de um justo título, eu preciso de uma boa-fé, mas ela também pode ser de 10 anos. Quando? Quando eu não preenchi aqueles requisitos que estavam ali embaixo. Quando eu não dei a ela obras ou serviços de caráter produtivo. Eu não fiz daquela área de terra uma área produtiva. Esse benefício é na usucapião extraordinária, que vai reduzir o prazo de 15 para 10.

Na usucapião ordinária, eu tenho o justo título, eu tenho a boa-fé, mas eu não transformei ela em algo produtivo. Ainda assim será de 10 anos.

Então quando a usucapião pode ser de 10 anos? Se a pergunta for assim: a usucapião de 10 anos é extraordinária ou ordinária? Não tem como saber! Só com essas informações não tem como saber. Tu precisa saber mais, tu precisa saber se ela temo justo título ou não. Se ela disser assim: uma usucapião com 10 anos, com justo título e boa fé, ordinária. Uma usucapião sem justo título e sem boa-fé é possível? É também, desde que tu dê um fim produtivo para esse bem.

Então, olha só. Distingue-se da extraordinária, principalmente no tocante do lapso temporal e a inclusão dos requisitos de justo título e boa-fé. Regra geral a extra são 15 e a ordinária são 10. Até aqui tudo bem? Tá.

Essa espécie de usucapião possui os mesmos requisitos que a extraordinária, quais são: ânimo de dono, posse continua, mansa e pacífica, e aí vai incluir mais dois que é o justo título e a boa-fé.

A vantagem de a gente ter estudado posse antes de estudar usucapião é que agora eu posso falar para vocês justo título, eu posso falar que é uma posse justa e vocês já sabem do que eu estou dizendo. É uma posse que não foi adquirida de forma precária, clandestina, nem violenta.

O justo título exterioriza-se e ganha solidez na boa-fé. Aquele que sabe possuir de forma violenta, clandestina ou precária não tem um justo título.

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E aí eu tenho mais um caso: a usucapião especial. São só três, não se assustem. Quer dizer, são mais de três, mas a gente vai estudar só três. Porque depois a gente poderia falar em usucapião indígena, a gente poderia falar em usucapião de bens coletivos, a gente poderia falar em usucapião coletiva, enfim. A gente não precisa ir tão longe, porque o resto, por exemplo, a usucapião do índio estará prevista lá na legislação específica. Então não vamos viajar tanto assim, né? Não vai cair usucapião do índio, se cair na tua prova, daí só um pouquinho né…

A usucapião especial, dentre os outros tipos, é a que mais se difere, porque ela tem peculiaridades que fazem jus à denominação dela. Ela tem vários artigos, tá? E ela vai ter, por exemplo, limitação no tamanho da área de terra e ela vai ter também uma limitação menor de tempo.

Aí a gente vai ter a usucapião especial rural e a usucapião especial urbana. (…)

Qual que é a diferença entre uma e outra? O tamanho do bem!

É imprescindível lembrar, que pode ser dividida em dois: rural, também chamado de “pro labore” e a urbana ou “pró-moradia”.

Na rural os requisitos são: a posse por cinco anos ininterruptos, sem oposição, tendo animus domini, mansa e pacífica, onde a área de terra em zona rural não seja superior a 50 hectares (é bem fácil de memorizar, porque os dois têm o número 50). Isso aqui não precisa saber tá? “Equivalente a 500 mil metros quadrados”. Todo mundo sabe que um hectare é 10 mil metros quadros, então é só multiplicar e está tudo certo.

Usucapião especial rural, 50 hectares. Usucapião especial urbano, 250 metros quadrados. Depois estará no próximo slide.

Para eu fazer uma usucapião de um bem urbano, de um imóvel urbano, esse imóvel… claro, desde que seja uma usucapião especial, né? Porque se for uma área de terra de 100 hectares, está tudo certo, tu pode fazer usucapião. Tu só não vai usar a especial.

Ah, mas Giuliano, qual a vantagem de usar a especial? Calma, a gente já vai chegar lá. (…)

Quanto ao usucapião urbano, do art. 1.240, também 5. Ah, eu não falei para vocês, mas o prazo é 5 anos. Tanto na especial rural como na especial urbana, o prazo é de 5 anos.

Ao lado disso, o que se deve analisar é área do imóvel requerido, neste tipo, comporta apenas 250 metros quadrados. “Apenas”, né? Dá dois apartamentos do meu. Dá para fazer usucapião de um imóvel, de um apartamento de 250 metros quadrados, que é um big apartamento. Então, 250 metros quadrados, urbano e 50 hectares, rural.

Fica fácil de lembrar porque um é 250 e o outro é 50. A gente não vai mais esquecer isso, né?

Também não acho que teria uma questão tão trouxa a ponto de trocar esse número, porque daí não é uma questão que quer saber se tu sabe ou não, né?

Diferente do rural, a usucapião especial urbana não detém a necessidade de produção de trabalho no imóvel.

Na usucapião rural é preciso que aquele imóvel seja utilizado para trabalhar (plantação). Então, na usucapião lá do 1.240 do CC, na usucapião rural, além de ter todos aqueles requisitos que a usucapião exige, eu preciso dar produtividade a ela.

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E outra coisa, além de dar produtividade a ela, quem tem que trabalhar é a família. Eu não posso dar uma produtividade a ela e explorar com fins econômicos, ter funcionários, etc. Claro, funcionário, um ou outro, tudo bem, mas não uma empresa.

Além desses dois pontos, urbano e do rural, a usucapião especial tem mais um tipo, que aí vai ser uma usucapião de 2 anos.

Uma usucapião de 2 anos. Sabe por que surgiu isso aqui? (…) Por causa do cara que ia comprar cigarro e nunca mais voltava pra casa. Lembra do famoso abandono de lar?

Existia um direito real sobre propriedade, que a mulher tinha um direito de habitação sobre aquele imóvel depois que o cara saía. Depois voltava e ele queria a partilha dos bens.

Se a mulher vaza e não volta em 2 anos, aquele cônjuge que ficou no bem pode se valer da usucapião especial contra o seu companheiro. E aí, se ele ficou naquele bem por 2 anos, adquire a propriedade plena.

O cara foi comprar cigarro e nunca mais voltou. Se volta 3 anos depois... “Ah, estou aqui, vim aqui para a gente vender aquela casa que a gente tinha, para partilhar”. Lamento muito, mas agora ela é minha. Como assim, tua? A gente comprou juntos, a gente estava junto há 20 anos. Não importa, tu saiu e eu fiquei 2 anos nela.

A modalidade em comento tem assento em face do ex-cônjuge que abandonou sua família e moradia. Para ocorrência desse caso é necessário que o imóvel seja urbano, com área não superior a 250 metros quadrados, que o cônjuge que ficou na posse do imóvel exerça-a durante dois anos ininterruptos, sem oposição, de forma mansa e pacífica e que, também, ele não pode ser proprietário de um outro imóvel urbano ou rural. Ele não pode ter outra propriedade, para que isso possa acontecer.

Na verdade, na usucapião especial urbana também não. Ele não pode ter outra propriedade, vai está lá no art. 1.240. Eu não posso usucapir um imóvel se eu já tenho outro. (…)

Mesmo que eles não tenham feito nada de divórcio, o cara simplesmente sumiu. Hoje em dia isso não é muito comum, né? Mas teve uma época que já foi. (…) É uma proteção daquele que ficou. Porque vai que o cara nunca mais volta, né? (…)

Nesse caso, o cônjuge que ficou no lar passa a ter o domínio com exclusividade do bem, não sendo mais a posse repartida com o outro que abandonou a moradia. Legal, né?

Porque saiu o que a gente tinha daquele direito real de habitação do cônjuge, lá na parte de direitos reais sobre bens alheios, e aí trouxe para cá. Tanto que o art. 1.240 é o art. 1.240-A, porque ele foi inserido no código depois. Então essa é a ideia, é uma forma de usucapião. (…)

A usucapião pode ser extraordinária, pode ser ordinária ou especial. Confere? Me ajudem aí, vocês fizeram o desenho agora. Dois prazos, 15 ou 10, é isso? Na ordinária? 10! Na especial? 5 ou 2.

Percebam que são esses os prazos da usucapião.

O que eu preciso na usucapião extraordinária? Seja na de 15 ou na de 10. Uma posse mansa e pacífica. Essa posse tem que ser ininterrupta. E eu preciso ter o animus de dono, animus domini. Sim?

Quando ela vai reduzir para 10? Quando eu der um fim produtivo.

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Lembrando também que não tem o requisito da boa-fé e não tem o requisito da posse ser justa. (…)

A usucapião ordinária, de 10 anos, o que eu preciso nessa posse aqui? Tá, eu vou copiar isso aqui, porque eu estou com preguiça de escrever tudo de dono. Tudo isso aqui mais, agora sim, justo título e boa-fé.

A usucapião especial, essa de 5 anos, se divide em dois, né? Que é a rural e a urbana. A rural são quantos hectares? 50 hectares. A urbana? 250 metros quadrados.

A de 2 anos é a do cônjuge. Fechou?

Qual a dificuldade da usucapião? Nenhuma, né? Três modalidades. 5, 10, 5 e 2. Quatro prazos. Fácil como a vida. (…)

Inclusive a usucapião, agora, pode ser requerida, não precisa de processo judicial, né? Pode ser requerida direto no cartório. Se alguém conseguir isso, pessoal do EAD, me manda uma foto que eu quero ver, porque eu nunca vi alguém conseguir fazer isso no cartório.

Fechou? Tá! Então vamos fazer, como a gente combinou e, na próxima aula, ver os artigos disso, para a gente até relembrar disso.

Pode ser? Então tá! Fiquem todos com Deus! Pessoal do EAD, beijo! Até a próxima aula.

Pessoal do EAD, está previsto para nós, só um aviso, pessoal do EAD também, essa hora, última parte da aula, já nem está mais aí, né? Ah, mentira, eu sei que vocês estão aí! A gente tem previsto 10 aulas, mas a gente não vai ter as duas últimas. A gente vai tentar trocar por alguma coisa, (…) vão ser só 8 aulas de civil. Talvez eu apareça, a gente está aventando a possibilidade de aparecer no Juizado Especial Cível, mas não é certo ainda. A gente está negociando isso. Tá?

Beijo, pessoal do EAD! Valeu!