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A Era em que vivemos!
Tempos líquidos, tudo é exaurível
O pensamento individualista e egoísta tem-se manifestado progressivamente na nossa
sociedade. Desde as práticas que só têm em prol o nosso proveito e não olham a meios,
não importa o quanto prejudicamos o próximo, os gritos ao invés de diálogo, enfim, em
praticamente todos os âmbitos da realidade social se manifesta aquilo que de pior em nós
mesmos: a perda de senso de colectividade, pois não habitamos neste mundo sozinhos,
nascemos em sociedade e morremos em sociedade, somos um ser social. Ouso em afirmar
que isto tudo é a propagação contínua e furiosa de um mundo cada vez mais marcado pelo
“salve-se quem puder”!
Tempos líquidos considero que seja uma expressão que mais caracteriza a era em que
vivemos, Bauman, autor desta expressão, põe em evidência todos os comportamentos,
atitudes que afectam desde a vida privada às relações de trabalho. Vejamos nas relações
de amor, o romantismo do amor parece estar fora de moda, o amor de verdade foi
banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas na qual se
referem a estas utilizando a palavra amor. Amor já não tem o mesmo significado, aliás,
os jovens de hoje em dia passam uma noite de sexo e denominam por fazer-amor. Tudo
é líquido, nada mais será que era. Nas relações laborais temos um exemplo em relação à
racionalização do trabalho. O poder na era da liquidez não é mais aquele que se
materializava na disciplina da fábrica fordista, na torre de controlo panóptico “(...) reduzia
as actividades humanas e movimentos simples, rotineiros e predeterminados, destinados
a serem obediente e mecanicamente seguidos, sem envolver as faculdades mentais e
excluindo toda espontaneidade e iniciativa individual.” (BAUMAN, Zygmunt, 2001, p.
33-34)1. Hoje, caracteriza-se mais por um sistema de constante necessidade de aumento
na produtividade, o proprietário industrial ordena que a velocidade de produção seja
aumentada, até que a linha chega a uma condição subumana de trabalho.
São vários os exemplos dos tempos líquidos, das relações momentâneas, do prazer
ocasional!
É um mundo de incertezas, cada um por si. Temos relacionamentos instáveis pois as
relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual e
com a facilidade de “desconectar-se” as pessoas não conseguem manter um
relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade actual (modernidade
líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. As
pessoas estão a ser tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se
ou até mesmo troca-se por versões mais actualizadas. Bauman neste sentido é radical,
todavia, só mostra as consequências da modernidade, ou seja, destas gerações cada mais
mais instáveis.
Será que reflectimos sobre o mundo em que vivemos? Será que as pessoas estão
importadas com o mundo em que vivemos? Haverá uma saída para melhorarmos o
1 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
mundo? Que tipo de mudanças são preciso serem feitas para uma mudança ideológica?
Um aprofundamento da perspectiva individualista? Ou a necessária actuação colectiva?
Quem faz História? São os seres humanos em sociedade, logo somos todos nós, é
necessário um esforço colectivo para o estado de calamidade mundial em que nos
encontramos.
Nós nos relacionamos com o mundo transformando-o e nos transformando. Cabe a nós
manter as coisas como estão ou não. Até quando aceitaremos ser produtos e produtores
de mercadorias?
Tiago Mendes de Sousa
Elo de Informação
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