teorias locacionais

13
GEOGRAFARES, nº 6, 2008 167 Tendências e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporâneo INTRODUÇÃO Há uma urgente necessidade de um escopo de re- ferência para o estudo da localização industrial, o qual está relacionado com a crescente atenção que vem sendo dispensada à pesquisa teorética em ge- ografia (Smith, 1971, p. 2). Precisamos desesperadamente de novos mapas cognitivos da paisagem econômica, para não falar em novas estratégias políticas de intervenção nes- sa paisagem (Martin, 1996, p. 56). A questão das decisões locacionais das indústrias é um tema bastante interessante e que merece maior aprofundamento teórico nas pesquisas re- alizadas na geografia industrial (Matushima, 2002, p. 5). As sentenças acima são ilustrativas da rele- vância dos estudos locacionais e sua redis- cussão e aprofundamento, não só aqui no Brasil, mas também no exterior. Isto é ainda mais válido se considerarmos o capitalismo contemporâneo (pós-1970) e a enorme velo- cidade de mudança do conteúdo dos lugares. O enfoque locacional em Geografia com- preende não só a distribuição espacial das atividades econômicas (em particular das empresas), mas igualmente as relações in- ternas e externas à produção. Como ressalta Corrêa (1986, p. 62): “Por estudo locacional – muitas vezes denominado de estudo sobre Tendências e perspectivas das teorias locacionais no Capitalismo Contemporâneo Rhalf Magalhães Braga Mestre em Geografia pela Universidade Federal Fluminense -UFF a organização espacial – entende-se a pro- cura de resposta para a questão central: por que o homem e suas atividades estão locali- zados do modo como estão?” Ainda segundo este autor, as teorias locacionais surgem com o advento do capitalismo e da necessidade por parte da classe dominante de planejar o uso racional e lucrativo do espaço de modo a alcançar o almejado “equilíbrio”. As inte- rações espaciais das grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas promo- vem a escolha de determinados lugares em detrimento de outros, ressaltando e amplian- do as diferenças entre eles (Corrêa, 1997). As teorias de localização industrial (“teorias burguesas” para Lipietz, 1987) foram margi- nalizadas com a emergência da corrente ra- dical/marxista da Geografia, estagnando em grande medida os possíveis avanços teóricos. Como afirma Silva (1995, p. 26): “Em função de uma postura crítica aparentemente mar- xista, os estudos de difusão espacial foram deixados de lado, tendo sido considerados ideológicos e de pouca substância”. Atitude esta que o autor chama de “macarthismo às avessas” (Silva, 1995, p. 48). Este artigo bus- ca uma postura contrária, conforme Ribeiro (1982, p. 420-21): “O importante é procurar entender sua validade [da teoria] e restrições

Upload: fabio-castro

Post on 11-Nov-2015

13 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

Breve estudo das teorias da localização industrial

TRANSCRIPT

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 167

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    INTRODUO

    H uma urgente necessidade de um escopo de re-ferncia para o estudo da localizao industrial, o qual est relacionado com a crescente ateno que vem sendo dispensada pesquisa teortica em ge-ografia (Smith, 1971, p. 2). Precisamos desesperadamente de novos mapas cognitivos da paisagem econmica, para no falar em novas estratgias polticas de interveno nes-sa paisagem (Martin, 1996, p. 56). A questo das decises locacionais das indstrias um tema bastante interessante e que merece maior aprofundamento terico nas pesquisas re-alizadas na geografia industrial (Matushima, 2002, p. 5).

    As sentenas acima so ilustrativas da rele-vncia dos estudos locacionais e sua redis-cusso e aprofundamento, no s aqui no Brasil, mas tambm no exterior. Isto ainda

    mais vlido se considerarmos o capitalismo contemporneo (ps-1970) e a enorme velo-cidade de mudana do contedo dos lugares.

    O enfoque locacional em Geografia com-preende no s a distribuio espacial das atividades econmicas (em particular das

    empresas), mas igualmente as relaes in-ternas e externas produo. Como ressalta

    Corra (1986, p. 62): Por estudo locacional

    muitas vezes denominado de estudo sobre

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no

    Capitalismo ContemporneoRhalf Magalhes Braga

    Mestre em Geografia pela Universidade Federal Fluminense -UFF

    a organizao espacial entende-se a pro-cura de resposta para a questo central: por que o homem e suas atividades esto locali-zados do modo como esto? Ainda segundo

    este autor, as teorias locacionais surgem com o advento do capitalismo e da necessidade por parte da classe dominante de planejar o uso racional e lucrativo do espao de modo a alcanar o almejado equilbrio. As inte-raes espaciais das grandes corporaes multifuncionais e multilocalizadas promo-vem a escolha de determinados lugares em detrimento de outros, ressaltando e amplian-do as diferenas entre eles (Corra, 1997).

    As teorias de localizao industrial (teorias

    burguesas para Lipietz, 1987) foram margi-nalizadas com a emergncia da corrente ra-dical/marxista da Geografia, estagnando em

    grande medida os possveis avanos tericos. Como afirma Silva (1995, p. 26): Em funo

    de uma postura crtica aparentemente mar-xista, os estudos de difuso espacial foram

    deixados de lado, tendo sido considerados

    ideolgicos e de pouca substncia. Atitude esta que o autor chama de macarthismo s avessas (Silva, 1995, p. 48). Este artigo bus-ca uma postura contrria, conforme Ribeiro (1982, p. 420-21): O importante procurar

    entender sua validade [da teoria] e restries

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008168

    Rhalf Magalhes Braga

    em funo do momento em que foram ela-boradas e, a partir da, avanar com novas perspectivas tericas que venham a contri-buir no entendimento do tema proposto.

    As teorias locacionais atuais perpassam o es-tudo das corporaes, que buscam a hegemo-nia econmica ao nvel mundial. Para Ribeiro

    (1982, p. 442), o estudo destes setores o leit-motiv das pesquisas atuais em geografia eco-nmica, em geral, e industrial, em particular:

    O que se tem verificado quanto s teorias de lo-calizao industrial uma preocupao com as unidades de produo, deixando de lado as modernas firmas industriais, que apresentam unidades espacialmente separadas mas interde-pendentes nos seus diferentes setores administra-tivos, produtivos e de servios. O importante hoje so as modernas corporaes que influenciam em muitas localizaes atravs de diferentes tomadas de decises. Esta deveria ser a verdadeira preocu-pao do gegrafo industrial, se ele quer expressar padres de localizao (Ribeiro, 1982, p. 442).

    O capitalismo contemporneo (ps-1970)

    chamado por alguns autores de ps-for-dismo (Benko & Lipietz, 1994) ou acu-mulao flexvel (Harvey, 2001) que se

    caracteriza pelo capitalismo financeiro, pela

    densidade informacional, fluxos em tempo

    real, importncia dos servios e conflun-cia de todos estes fatores na lgica espacial das corporaes. A solidariedade orgnica do espao (interdependncia entre aes e

    atores do lugar) se transforma em solidarie-dade organizacional, ou seja, uma interde-pendncia mecnica, produto de normas e in-teresses mercantis (Santos & Silveira, 2001).

    A seguir empreendemos um resgate, ain-da que incompleto, das principais teorias locacionais. Para uma viso global de boa

    parte delas sugerimos a leitura de Hamilton

    (1975), Haggett (1975) e Manzagol (1985).

    PRINCIPAIS TENDNCIAS E PERS-PECTIVAS

    Para a anlise da economia espacial conside-ra-se o trabalho de J. H. von Thnen (1783-

    1850) (O Estado Isolado)1 como pioneiro. Antes dele, poucos foram os estudos loca-cionais mais sistematizados. Corra (1986,

    p. 63) cita trs autores: o banqueiro francs

    Richard Cantillon, que publicou em 1755 um ensaio sobre a organizao espacial baseada

    nas diferenas de circulao de capital; o en-genheiro militar francs e co-editor de uma

    enciclopdia chamado Jean Reynaud. Entre

    1836 e 1841 este autor props um sistema hierrquico de centros com trs ou quatro

    nveis, cujas reas de influncia se constitui-riam em forma de hexgonos. Trs princpios

    eram fundamentais: sociabilidade (formao

    de aldeias agrcolas em funo dos custos de transporte), fator econmico (a populao

    agrcola se dispersa espacialmente e o co-mrcio e servios tendem a se unir de forma coesa) e administrao (ajuste do conjunto).

    O terceiro autor mencionado Leon Lalan-ne e seus estudos de organizao espacial

    em decorrncia da expanso ferroviria2.

    J. H. von Thnen utilizou sua experincia

    como economista e proprietrio agrcola no Norte da Alemanha e concebeu um modelo de padres de uso da terra na forma de cr-culos concntricos a um mercado central. O

    objetivo de seus estudos era a harmonizao

    e remunerao justa para a subsistncia dos

    produtores (Waibel, 1955; Mesquita, 1978;

    Barnes, 2003). Estabeleceu um estado iso-lado uniforme com os seguintes pressupos-tos: a) sistema primitivo de transporte terres-tre em linha reta para o mercado central; b)

    os custos de transporte so proporcionais distncia, ou seja, quanto mais longe do cen-tro, mais elevados; c) todos os agricultores

    do estado isolado possuem o mesmo nvel tcnico e pensam racionalmente, visando maximizao dos lucros; d) ausncia de co-municao com o mundo exterior; e) fatores

    fsicos constantes: rea finita, terra plana e

    arvel, fertilidade uniforme (Mesquita, 1978).

    1 - Segundo Waibel (1955, p. 273), a obra de Thnen est dividida em trs volumes. O primeiro traz como subttulo Anlise da influncia que exercem sobre a agricultura o preo dos cereais, a fertilidade do solo e os impostos e foi publicado em 1826. O segundo volume trata do salrio adequado e sua relao com a taxa de juros e com a renda e surgiu em 1850 (primeira parte) e em 1863 (segunda parte). Neste ltimo ano tambm veio a pblico o terceiro volume, cujo ttulo Bases para a determinao do rendimento do solo, da poca de circulao mais favorvel e do valor das reservas de madeira de diferen-tes idades no reflorestamento com pinheiros

    2 - Em Corra (1986) h uma pe-riodizao do enfoque locacional em Geografia. Um primeiro momento (sculo XVIII a meados de 1870) marcado pela ausncia de tais estudos na Geografia. Nesta etapa os estudos de localizao eram feitos por homens de negcios. O perodo 1870-1920, igualmente de ausncia, marca a presena dos estudos locacionais por parte da economia (espacial) e da ecologia humana de Robert Park. Entre 1920-1955 comeam a apa-recer estudos nesta temtica dentro da Geografia, sobretudo a partir da criao em 1925 do peridico Eco-nomic Geography. O apogeu seria no perodo 1955-1970 com o advento da Nova Geografia.

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 169

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    O estado isolado de Thnen possua seis

    crculos ou anis agrrios em torno da cida-de (Waibel, 1955, p. 274): o primeiro, mais

    interno, estava voltado para produtos que no suportavam um transporte demorado, como verduras, flores e leite; no segundo

    anel temos a silvicultura, pois o transpor-te de lenha em carros era difcil e caro; no

    terceiro crculo havia o cultivo de cereais e forragens na modalidade rotao de cultu-ras utilizando o arado; o quarto anel, muito

    largo, era utilizado para agricultura e pasta-gem por rotao de culturas; no quinto surge

    o sistema de trs campos com o alqueive; no

    sexto, igualmente muito largo, temos criao

    extensiva; e fora destas zonas eram encon-trados caadores espalhados pela floresta.

    Von Thnen retoma a teoria da renda da ter-ra de David Ricardo, que varia de acordo

    com a distncia do mercado e a fertilidade dos solos (teoria dos cultivos). Desenvolve

    em associao a teoria da intensidade, onde os sistemas agrcolas decrescem em inten-sidade com o aumento da distncia. Estava aberto o caminho para o desenvolvimento da escola neoclssica marginalista e a cin-cia regional de Walter Isard (Barnes, 2003).

    Destacamos cinco vertentes principais

    no que concerne s teorias locacionais: neoclssica, comportamental, sistmi-ca, marxista e as contribuies atuais,

    das quais selecionamos alguns autores.

    A ESCOLA NEOCLSSICA

    Dentro da vertente neoclssica, h os que bus-cam determinar as normas de localizao de

    uma empresa (Alfred Weber) e os que buscam

    leis para o equilbrio espacial (August Lsch).

    A escola neoclssica tem como caractersticas principais: a) encontrar a melhor localizao

    para a instalao de uma empresa; b) minimi-zar os custos totais; c) o fator determinante

    o custo de transporte, buscando-se aquelas lo-calizaes onde este seja menor. Nesta corren-te a contribuio dos economistas decisiva.

    Alfred Weber (1869-1958) procura expli-car a localizao tima da indstria e adota

    os seguintes pressupostos: a) um pas nico

    com clima e tcnica homognea; b) concor-rncia perfeita; c) os lugares e o tipo de abas-tecimento de matrias-primas e mercado so conhecidos; d) uma nica empresa que pro-duz um s produto; e) os custos de transpor-te variam em funo do peso e da distncia ao mercado; f) imobilidade do fator trabalho

    e oferta ilimitada (Ribeiro, 1982). Calcado

    em seus precursores (Roscher, Schffle e

    Launhardt) constri um tringulo locacional

    com vrtices na distribuio das fontes de matria-prima, posio das vias de acesso e os mercados (Costa, 2002, p. 2-3). Assim, a

    idia central encontrar o ponto de equilbrio, ou seja, buscar o menor custo de produo, considerando trs etapas: 1) determinao

    do custo mnimo de transporte; 2) conside-rar os impactos dos custos do trabalho e 3)

    as foras de aglomerao (Manzagol, 1985).

    August Lsch (1906-1945) critica as posi-es de Weber (demanda constante e ponto

    de custo mnimo) e centra a sua anlise na

    disputa por mercados. A empresa ter mais lucros se diversificar seus produtos e con-seguir manter exclusividade de mercados

    (Costa, 2002, p. 4). Lsch chega a comen-tar sobre a formao de regies econmicas polarizadas por uma cidade central, unifi-cando, assim, as teorias locacionais ante-riores (Barnes, 2003). Lsch concebe uma

    plancie em reas hexagonais de mercado

    cujo tamanho varia em funo dos custos de transporte e onde as empresas procuram ex-plorar adequadamente o cone de demanda.

    Outro autor relevante da escola neoclssi-ca , entre outros, Walter Isard. Foi criador

    da cincia regional, representa uma sn-tese weberiana e desenvolveu as equa-es gerais de Lsch. A sua teoria inte-gradora, no analisa isoladamente cada fator locacional (Costa, 2002, p. 5). O obje-tivo buscar o ponto timo, ou seja, o cus-to mnimo e o lucro mximo (minimax).

    No debate neoclssico se insere tambm o economista britnico Alfred Marshall, au-tor da formulao dos distritos industriais (conhecidos como distritos marshallianos).

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008170

    Rhalf Magalhes Braga

    Para Marshall, a concentrao de ativida-des econmicas e industriais ocorre em fun-o de fatores naturais, como a proximida-de a fontes de matria-prima e energia, mas igualmente importante a disponibilidade de mo-de-obra qualificada e a existncia

    de um ambiente poltico e econmico favo-rvel. A formao dos distritos est ligada fabricao do mesmo produto e o contexto

    de cooperao e complementao entre as empresas, o que permite a insero de in-dstrias menores (Matushima, 2002, p. 4).

    Becattini (1994, p. 20) define o distrito in-dustrial como uma entidade socioterritorial caracterizada pela presena ativa de uma

    comunidade de pessoas e de uma populao de empresas num determinado espao geo-grfico e histrico. H, nas palavras do au-tor, uma osmose perfeita entre comunidade local e as empresas. O distrito marshalliano marcado pela auto-suficincia e a diviso

    do trabalho cada vez mais acentuada, produ-o dos excedentes voltada para o mercado

    externo, formao de uma rede de relaes

    privilegiadas entre distrito, fornecedores e clientes, presena de trabalhadores ao domi-clio e a tempo parcial, entre outros fatores.

    A ESCOLA DO COMPORTAMENTO

    A escola do comportamento surge nos anos 1960 como crtica vertente econmica neo-clssica e ressalta a noo de comportamen-to satisfatrio. No se busca mais a melhor localizao, mas aquela adequada aos ob-jetivos da empresa. Assim, esta escola tem como idias centrais: a) busca de margens

    espaciais rentveis; b) anlise da concor-rncia e as decises de longo e curto prazo

    para a escolha da localizao industrial;

    c) as empresas buscam a maximizao do

    crescimento e com isso ocorrem interdepen-dncias entre elas (Matushima, 2002, p. 2).

    A teoria da difuso de inovaes faz parte des-ta perspectiva e tem o gegrafo norte-ameri-cano Carl Sauer como pioneiro. Sauer estudou a configurao espacial de reas culturais e a

    disperso da agricultura em trabalho clssico de 1925 intitulado Origem e disperso agr-cola (Silva, 1995; Santos, 2003). Seguindo

    esta tradio, o gegrafo sueco Torsten Ha-gerstrand publicou em 1953 um trabalho cha-mado Difuso de inovaes como processo

    espacial que trata da difuso de informaes em funo do comportamento humano. Ha-gerstrand, atravs de regularidades empricas, buscava entender como a informao era di-fundida, considerando redes de comunicao social em vrias escalas e de forma hierrqui-ca. Utilizando a simulao Monte Carlo, Ha-gerstrand desenvolve trs modelos: 1) adoo

    e sucesso pelo tempo; 2) difuso por hierar-quia; 3) difuso por contgio (Silva, 1995).

    Outros autores adotaram e desenvolveram esta teoria, como Lawrence A. Brown (pers-pectiva de sistema geral), Allan Pred (matriz

    comportamental das empresas baseada no acesso informao), Lackshman E. Yapa

    (considerando o contexto dos pases subde-senvolvidos). Para este ltimo, ver Figueire-do (1978). Silva (1995) resgatou a teoria sob

    um enfoque marxista. Mascarenhas (2001)

    utilizou a teoria da difuso espacial de ino-vaes para o estudo geogrfico do futebol.

    Santos (2003) criticou duramente a teoria da

    difuso espacial de inovaes, destacando o seu carter abstrato, matemtico, reduzindo

    o processo forma e desconsiderando as re-laes de poder entre os agentes. Seria ape-nas uma estratgia de vendas das grandes empresas. Para Milton, esta teoria se insere

    em um contexto de planejamento urbano do

    ps-guerra, voltado para a difuso do capital, disseminao da ideologia do crescimento, da sociedade de consumo, das noes de efici-ncia e racionalidade (os chamados grandes

    projetos). Assim, a Economia esqueceu do

    homem e do espao ao criar o homo econo-micus e a Cincia Regional serviu para disse-minar o capital em vrios espaos nacionais.

    A ESCOLA SISTMICA

    A escola sistmica correspondeu ao apogeu

    do enfoque locacional na Geografia (1955-

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 171

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    1970) (Corra, 1986). Identifica-se com a

    escola locacional (localizao dos fenme-nos sobre a superfcie da Terra) segundo Ha-ggett (1976). O contexto era da emergncia

    de teorias como a dos plos de crescimento de Franois Perroux, centro-periferia de John

    Friedmann, do desenvolvimento do subdesen-volvimento de Gunder Frank, das etapas do

    desenvolvimento econmico de Rostow, te-oria da dependncia, da Cincia Regional de

    Walter Isard. Perodo tambm da afirmao

    da Nova Geografia sob a orientao terica

    inicial de Fred Schaefer e William Bunge, que

    criticavam os parcos resultados do empirismo da Geografia Tradicional e postulavam uma

    atitude positiva, matemtica e cientfica

    para a Geografia. James (1970, p. 7) afirma

    que a Geografia a anlise de sistemas espa-ciais. Pred (1970) tem uma abordagem rica

    ao tratar do sistema urbano e industrializa-o dos Estados Unidos de 1800 a 1914. O autor relaciona urbanizao e industrializao

    e busca uma teoria de localizao geogr-fica com base no processo de causalidade

    circular e acumulativa de Gunnar Myrdal.

    A teoria geral dos sistemas, base da tendn-cia locacional em tela, provm da Biologia, elaborada nos anos 1930 por Ludwig von Bertalanffy. Um sistema um conjunto que estabelece trocas com o entorno que lhe con-ferem certa autonomia e coerncia, apesar

    de sofrer transformaes (Manzagol, 1985,

    p. 168). Na definio de Haggett (1976, p.

    27): ...[Sistemas] so sees arbitrariamen-te capturadas do mundo real que apresentam algumas conexes funcionais comuns. Bor-chert (1970) comenta o uso da teoria dos sis-temas na Geografia e destaca sua relevncia.

    Mencionamos a seguir duas teorias desta es-cola sistmica aplicada Geografia: a teoria

    dos lugares centrais de Walter Christaller, de

    importncia inegvel ainda hoje e a teoria dos dois circuitos da economia dos pases sub-desenvolvidos de Milton Santos, mais ade-quada realidade de pases como o Brasil.

    O gegrafo alemo Walter Christaller, in-fluenciado por von Thnen, elaborou a teo-ria dos lugares centrais em 1933 para o su-

    deste da Alemanha. Sua teoria foi difundida nos anos 1960 nos Estados Unidos e a partir da por vrios pases, inclusive o Brasil. Se-gundo Christaller, as localidades apresentam determinadas funes centrais que atraem os consumidores do entorno, dependendo do custo de deslocamento (Moraes et al., 2004,

    p. 2). As localidades centrais controlam de-terminadas hinterlndias ou regies comple-mentares, com alcance espacial mximo e

    alcance espacial mnimo. Cada produto tem um alcance espacial especfico. No primeiro

    caso, tem-se um raio a partir da localidade central at onde os consumidores se deslo-cam para obter determinados bens e servios. No segundo caso, tem-se a rea mnima para que determinada funo central possa se instalar lucrativamente (Corra, 1989).

    Para Santos (2003), a teoria dos lugares cen-trais seria vlida ainda hoje para justificar a

    existncia de grandes concentraes. Milton

    Santos lamenta que tenham esquecido da pre-ocupao de Christaller sobre as estruturas sociais. Alm disso, segundo o autor, seria in-teressante analisar o hexgono de Christaller

    em relao comercializao e relativizar o

    conceito de limiar, considerando a classe m-dia e os dois subsistemas do sistema urbano.

    A teoria dos dois circuitos da economia dos pases subdesenvolvidos de Milton Santos (1979; 2005) foi um enriquecimento da teo-ria dos lugares centrais. Santos afirma que h

    nos referidos pases duas realidades articula-das: a) o circuito superior, de produtos mo-dernos, controlados por grandes monoplios internacionais e de circulao nacional e in-ternacional (negcios bancrios, comrcio de

    exportao, indstrias, comrcio e servios

    modernos). Este segmento possui elevado n-vel tecnolgico, recursos para investimento, poucos e qualificados trabalhadores (at es-trangeiros), estratgias de venda e propagan-da, apoio governamental e articulao interna;

    b) o circuito inferior, das camadas de menor

    poder aquisitivo, de produtos mais simples, cuja circulao local/regional. Nesta par-te do circuito h contatos face a face entre vendedor e consumidor, reutilizao de bens

    durveis, empregos numerosos, pouco qua-

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008172

    Rhalf Magalhes Braga

    lificados e nativos, escassos recursos para

    investir (na verdade luta para sobreviver no

    mercado), porm elevado potencial criativo.

    Alm dos autores citados, Barnes (2003)

    identifica na cincia espacial norte-america-na duas escolas: a Universidade de Iowa e a Universidade de Washington (Seattle), todas

    inseridas na revoluo teortico-quantitativa e com base na escola alem de localizao,

    sobretudo Lsch. Como representantes da

    primeira esto Fred Shaeffer e Harold Mc-Carty. Este grupo realizava estudos sobre a

    obteno de lucros e a concentrao de ati-vidades em regies econmicas utilizando

    teorias da Economia (anlise de regresso

    e correlao) e o mtodo emprico da Geo-grafia. A escola de Seattle tem como patro-no William Garrison e seus expoentes so

    Brian Berry, Michael Dacey, Duane Marble,

    Richard Morril, John Nystuen e Edward Ta-affe. Este grupo utilizava recursos da Esta-tstica e Matemtica (equaes, graphos), da

    Fsica (gravidade e modelos de entropia), da

    Sociologia e Economia (modelos de uso da

    terra urbana, fsica social e ecologia urbana fatorial) e da Geometria (redes, teoria dos

    graphos e anlise de formas topolgicas).

    A ESCOLA MARXISTA E/OU ES-TRUTURALISTA

    No contexto de renovao crtica se destaca

    nos anos 1970 a escola estruturalista de locali-zao industrial, de nfase marxista, que alar-ga o campo de anlise ao incorporar questes sociais e polticas. As principais caractersti-cas so: a) o estudo da localizao industrial

    deveria balizar polticas de desenvolvimento

    econmico; b) os fatores econmicos so pri-mordiais nas anlises espaciais; c) no desen-volveu modelos abstratos de empresas indivi-duais; d) carter no apenas descritivo, mas

    tambm leva em conta as respostas das em-presas ao problema da localizao; e) introdu-o da varivel histrica (Matushima, 2002,

    p. 2). Deste modo, postula-se que o espao

    geogrfico no neutro, condio e produto

    material da lgica do capital (Lipietz, 1987).

    Destaca-se nesta vertente a Escola da Regu-lao Francesa (entre seus expoentes esto

    Alain Lipietz, Ph. Aydalot, M. Aglietta, R.

    Boyer, Georges Benko) que trata da nova di-viso inter-regional do trabalho e o papel do Estado local e suas especificidades (Benko &

    Lipietz, 1994a). Estes autores defendem que

    o capitalismo por natureza contraditrio e

    a explorao do trabalhador, as crises de su-perproduo e a queda dos lucros so ineren-tes ao sistema. A partir dos anos 1970 tem-se a crise do regime fordista e do seu modo de regulao calcado na interveno macia do Estado keynesiano na economia (Busato &

    Pinto, 2005). A revoluo tcnico-cientfica,

    a informtica e a microeletrnica, a globali-zao dos mercados financeiros e modos de

    produzir mais flexveis articulam os luga-res em uma complexa rede ps-fordista que

    coloca em xeque as velhas ortodoxias dos

    anos 1960/1970 (Benko & Lipietz, 1994a).

    Lipietz (1988) analisou especificamente a

    industrializao dos pases subdesenvol-vidos (o chamado fordismo perifrico).

    No campo da Sociologia Urbana destaca-se Manuel Castells. Em Castells (1978) ocorre

    a unio dos enfoques estruturalista/marxis-ta e sistmico. H uma relao entre tipos

    de empresas e os tipos de espaos relacio-nados. As firmas so classificadas quanto

    atividade tcnica, segundo seu lao eco-nmico com o espao ou conforme sua po-tncia econmica (capacidade financeira).

    Quanto atividade tcni-ca as empresas so divididas em:

    a) execuo de um produto;b) intermedirio, sem inovao, mas

    automatizada em relao produo;

    c) investigao e inovao como

    princpio da atividade tcnica.

    Quanto ao lao econmico com o es-pao as empresas so divididas em:

    1) empresas dependentes do espa-o do ponto de vista da clientela;

    2) empresas dependentes do espa-o quanto s condies de produo;

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 173

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    3) empresas livres no inte-rior de certo espao, cuja localiza-o no afeta seu funcionamento.

    Quanto potncia econmica as empresas

    podem ser grandes, mdias ou pequenas.

    Os espaos de implantao industrial podem ser: 1) espao denso do meio urbano (com rela-o populao e atividade);

    2) espao com facilidades fun-cionais (boa comunicao);

    3) espao de valorao social/simblica.

    Uma crtica que pode ser feita teoria es-truturalista a sua viso do papel das em-presas no processo de difuso industrial. Nas palavras de Matushima (2002, p. 3):

    Contudo, a teoria estruturalista ainda parece no ter conseguido explicar as funes exerci-das pelas empresas de capital endgeno, de atu-ao local, no processo de desenvolvimento, j que muitas dessas empresas no seguem uma das principais linhas de anlise estruturalista, e no se transferem de local em busca de maiores taxas de benefcios (Matushima, 2002, p. 3).

    Santos (2003) estabelece uma abordagem

    marxista envolvendo espao e dominao.

    Em todo o mundo o homem est sujeito im-posio de uma tecnologia imposta de fora. Os espaos agrcolas cada vez mais se espe-cializam e se subordinam indstria criando

    regies e homens-produtores alienados. As formas geogrficas auxiliam na expanso do

    capitalismo criando o que o autor chama de totalidade do diabo, onde os grandes proje-tos governamentais servem aos interesses do capital privado. A soluo estaria na produ-o voltada para o consumo da populao e a distribuio/desconcentrao do excedente.

    Ao nvel terico a proposta considerar o conceito de totalidade para interpretar todos os objetos e foras que atuam sobre eles e ca-tegorias analticas externas (tempo e escala)

    e internas (estrutura, funo e forma), todas

    perpassadas pela categoria processo, ou seja, a estrutura espacializada. nessa perspectiva

    que o autor prope o conceito de lugar como combinao particular de modos de produ-

    o concretos, por uma forma dialtica entre foras produtivas e relaes de produo.

    AS TENDNCIAS MAIS RECENTES

    As teorias mais recentes de localizao in-dustrial tm dois fundamentos bsicos:

    1) inegvel papel da informao em to-dos os setores; 2) nfase no poder eco-nmico em escalas locais e regionais.

    Alvin Toffler, escritor e futurista americano,

    editor da revista Fortune, escreveu vrios ar-tigos e livros sobre a revoluo tecnolgica, digital, corporativa e informacional e seus impactos na sociedade. Criou em 1996 uma associao para difuso de seus trabalhos, cuja influncia atingiu diversos estadistas.

    Toffler (1983) defende que o momento atual

    de reestruturao tecno-econmica da so-ciedade. A economia mundial passou por trs

    ondas em sua histria: a primeira onda ocor-reu h 10.000 anos com a agricultura nmade e a posterior fixao em aldeias; a segunda

    onda ocorreu h 300 anos com a Revoluo Industrial, o advento da fbrica, de mquinas e o consumo de massa; a terceira onda est

    calcada no conhecimento, no colapso da ve-lha economia industrial e de massa. As ondas podem conviver em conjunto e o autor cita o exemplo do Brasil. A informao substitui os

    fatores de produo clssicos (terra, trabalho

    e capital). A produo de mercadorias pelas

    empresas multinacionais tende a se regionali-zar ou ter um carter mais local e/ou setorial.

    No campo da Administrao, pelo menos trs autores so muito debatidos: Peter F.

    Drucker, Kenichi Ohmae e Michael E. Por-ter. Peter Ferdinand Drucker (1909-2005)

    filsofo e administrador austraco, presi-dente de uma associao que leva seu nome e foi professor de Cincias Sociais da Cla-remont Graduate University, na Califrnia.

    Drucker (1993) sustenta que desde 1945 vi-vemos uma Revoluo Gerencial baseada no conhecimento, que supera o capitalismo. O conhecimento informao eficaz em

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008174

    Rhalf Magalhes Braga

    ao focalizada em resultados. Hoje o co-nhecimento aplicado de forma a promover uma inovao sistemtica. As sociedades ps-capitalistas plenas esto no mundo de-senvolvido, onde h um pluralismo de orga-nizaes, onde a Nao-Estado no mais

    importante e sim os fundos de penso, os gerentes e a produo descentralizada e re-gionalizada (capitalismo sem capitalistas).

    A mo-de-obra desaparece como fator de produo. As corporaes passaram das ge-rncias nos melhores interesses equilibrados

    dos interessados para maximizar o valor

    do acionista. Neste contexto o foco est na

    produtividade e o trabalhador responsvel por ela: preciso exigir que os trabalha-dores assumam a responsabilidade pela sua prpria produtividade e que eles exeram

    controle sobre ela (Drucker, 1993, p. 62).

    Kenichi Ohmae engenheiro nuclear e con-sultor em administrao da Ohmae & As-sociates em Tquio. Trabalhou na Hitachi

    e foi por 23 anos scio da firma de consul-toria McKinsey & Company, especializada

    em estratgias internacionais para governos e grandes corporaes. No seu livro O fim

    do Estado-Nao sustenta que onde h a prosperidade, sua base regional (Ohmae,

    1999, p. 95). Esta base regional consiste nos

    Estados-Regies, verdadeiros portes de entrada dos Estados-Naes, espaos alta-mente conectados com a economia global. O sucesso destes estados est nos quatro is (investimento, indstria, informao e indiv-duos). O Estado-Regio ideal possui entre 5

    e 20 milhes de pessoas, ao menos um aero-porto internacional, um porto de classe inter-nacional e uma densa economia de servios e de propaganda para estimular o consumo personalizado. Estas concentraes regionais

    permitem o incremento crescente de ino-vaes e o bem-estar da populao ao con-sumir produtos de qualidade e mais baratos. A viso de Michael E. Porter, professor de ges-to empresarial na Harvard Business School,

    est calcada na busca de competitividade das empresas. Para Porter (1999, p. 8), a estru-tura e a evoluo dos setores e as maneiras como as empresas conquistam e sustentam a vantagem competitiva nas respectivas reas

    de atuao o cerne da competio. Com relao s localizaes mais competitivas,

    Porter prope o esquema de um diamante

    da vantagem nacional (Porter, 1999, p. 178),

    cujos vrtices so: 1) condies de fatores:

    posio do pas em relao mo-de-obra qualificada e infra-estrutura; 2) condies da

    demanda: mercado interno relativo ao setor;

    3) setores correlatos e de apoio: estado dos

    fornecedores deve ser competitivo internacio-nalmente; 4) estratgia, estrutura e rivalidade

    das empresas: natureza da rivalidade das em-presas no mercado interno, constituio, or-ganizao e gerncia destas empresas. O fator

    mais importante de todos estes a rivalidade domstica, pois estimula os demais (Porter,

    1999, p. 192). O foco da competitividade est

    na manuteno da produtividade, no impor-ta onde as empresas estejam localizadas. As

    empresas competitivas investem sobretudo em tecnologia e otimizao da produo.

    Na Sociologia uma obra de referncia o li-vro A sociedade em rede de Manuel Castells. Nele o autor trata do modo de produo capi-talista e do informacionalismo como modo de desenvolvimento. Desde o fim dos anos 1990

    estaria em voga uma nova economia basea-da na tecnologia da informao, nas finanas

    e na biotecnologia, todas tendo como plo propulsor os Estados Unidos. Outros alicerces importantes seriam a produtividade, a concor-rncia econmica, a expanso dos mercados e

    novas fontes de capital e mo-de-obra especia-lizada. Nas palavras do autor a nova economia

    informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regies ou naes) de-pendem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informa-o baseada em conhecimentos. global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulao, assim como seus componentes (capital, trabalho, matria-prima, administrao, infor-mao, tecnologia e mercados) esto organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexes entre agentes econmicos. rede porque, nas novas condies histricas, a produti-vidade gerada, e a concorrncia feita em uma rede global de interao entre redes empresariais (Castells, 2003, p. 119) (grifos no original).

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 175

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    Castells sustenta a hiptese de que na socie-dade organizada em rede o espao organiza

    o tempo (p. 467). O autor concebe o espao

    como expresso da sociedade, tempo cris-talizado, suporte material e simblico de

    prticas sociais de tempo compartilhado, ressaltando que no apenas contigidade.

    (p. 467-521). Os fluxos definiriam as formas

    e os processos espaciais, criando o que cha-ma de espao de fluxos, dividido em trs

    camadas: 1) composta por um circuito de im-pulsos eletrnicos (microeletrnica, teleco-municaes, processamento computacional, sistemas de transmisso e transporte em alta velocidade e as tecnologias de informao; 2)

    os ns ou centros com importantes funes estratgicas e os centros de comunicao; 3)

    organizao espacial das elites gerenciais do-minantes que exercem as funes de direo.

    O espao de fluxos necessita de um suporte

    material, este sim fornecido pelo espao de lugares, afinal, como afirma Castells (2003,

    p. 517), as pessoas ainda vivem em lugares.

    Na Geografia, um grupo de gegrafos da

    Universidade da Califrnia faz parte deste

    enfoque informacional e regional. So eles: Michael Storper, Allen J. Scott, John Ag-new e Edward W. Soja. Scott et al (1999,

    p. 11) discutem o que chamam de cidades-

    regies globais, ns espaciais essenciais na economia mundial. As cidades-regies globais criam um ambiente de eficin-cia do sistema econmico e intensificam a

    criatividade, aprendizagem e a inovao.

    Storper (1999) afirma que no atual capi-talismo de aprendizagem (ps-1970) h

    trs componentes da santssima trindade

    da economia regional: a tecnologia, as or-ganizaes e os territrios. A tecnologia

    marcada pela diversificao e flexibilida-de, processos no-hierrquicos e trabalhos em rede. As organizaes so as empresas

    e os sistemas de produo no verticais. Os territrios so os complexos, as economias

    externas de escala, as vantagens relacionais

    regionalmente especficas. Os territrios e as

    regies so os espaos de ao pragmtica bsicos do capitalismo (Storper, 1999, p. 57).

    Benko & Lipietz (1994a), da Escola da Regu-lao francesa, propem que hodiernamente h uma nova relao capital-trabalho em cur-so com a crise do taylorismo do ps-guerra e a importncia crescente dos sistemas locais na qualificao profissional. Conforma-se tam-bm uma nova organizao industrial calcada

    nas relaes entre empresas agindo em redes especializadas nas formas subcontratao e

    parceria. A rede seria uma forma de organiza-o interempresas cuja governana foi defini-da para alm do mercado, pois amplia as po-tencialidades espaciais dos novos objetos tomados em considerao (Benko & Lipietz,

    1994b, p. 249-250). A nova forma que surge

    destas interaes so os distritos de redes nas metrpoles centrais do mundo, ou seja, so as regies ganhadoras. Nos pases subdesen-volvidos ou perdedores as megalpoles so as formas espaciais das regies ganhadoras.

    Ainda nesta perspectiva, Veltz (1994) carac-teriza o perodo atual de flexibilidade din-mica onde cresce a procura de estruturas e de formas de gesto mais transversais, mais horizontais, suscetveis de ter melhor em

    conta parmetros como os prazos, a qua-lidade ou a inovao. Para isso tm papel

    central a logstica e a informtica. Formam-se empresas-sistema ou empresas-rede ou ainda redes de empresas (Veltz, 1994,

    p. 195). O territrio-zona, clssico, cont-guo, d lugar ao territrio-rede, pulverizado,

    atomizado e ao mesmo tempo conectado.

    Para uma abordagem geogrfica mais crti-ca das teorias locacionais citamos Harvey

    (2001) e Santos (1999). A tese de Harvey

    da condio ps-moderna possui os seguin-tes elementos principais: a) h uma mudana

    radical nas prticas culturais e poltico-eco-nmicas desde 1972; b) novas maneiras de

    experimentar o tempo e o espao; c) ascenso

    de formas culturais ps-modernas; d) modos

    mais flexveis na acumulao do capital; e)

    novo ciclo de compresso tempo-espao na organizao do capitalismo; f) as mudanas

    so superficiais, no a ponto de falarmos

    em ps-capitalismo ou ps-industrial.

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008176

    Rhalf Magalhes Braga

    No que tange s teorias locacionais, Harvey

    (2001) se apia em Lefebvre e as considera

    como estratgias (velhas e novas) do capital

    corporativo para aumentar seus lucros em um tempo de crise: As diferenciaes ge-ogrficas nas modalidades e condies de

    controle do trabalho, ao lado de variaes na qualidade e quantidade da fora de tra-balho, assumem importncia muito maior nas estratgias locacionais corporativas (Harvey, 2001, p. 265). Assim, as grandes

    corporaes disputam as vantagens de uma localidade baseadas na racionalidade: A competio intercapitalista e a fluidez do

    capital-dinheiro com relao ao espao tam-bm foram racionalizaes geogrficas em

    termos de localizao como parte da dinmi-ca da acumulao (Harvey, 2001, p. 214).

    Santos (1999) tambm ressalta a racionali-dade presente no espao atravs dos objetos tcnicos. O espao geogrfico seria um hbri-do entre sistemas de objetos (conjunto de for-as produtivas) e sistemas de ao (relaes

    sociais de produo). Em outra definio do

    autor, o espao une as formas mais a vida que as anima. H complementaridade entre divi-so social do trabalho (repartio no mundo

    ou no lugar do trabalho vivo) e diviso ter-ritorial do trabalho (distribuio e localiza-o dos diversos elementos). O atual sistema

    tcnico possui como elementos: a) univer-salidade e auto-expanso; b) vida sistmica;

    c) concretude; d) contedo em informao;

    e) intencionalidade (Santos, 1999, p. 171).

    Assim, os lugares so cada vez mais atraves-sados por verticalidades, ou seja, influncias

    externas que os alienam. As horizontalidades

    ou nexos locais so rompidos pela lgica do

    capital. O imperativo da fluidez ope mercado

    e sociedade civil. Os atuais espaos da globa-lizao so unificados pelas redes financeiras

    de forma nica na histria. O Estado chama-do na medida em que so necessrias normas para garantir a corporatizao do territrio.

    Na Economia, o norte-americano Paul Krug-man estabelece um debate com a Geografia

    ao retomar as teorias locacionais, um tanto es-quecidas por esta disciplina: Assim, o novo

    interesse pela geografia deve-se quarta (ou

    final?) onda e revoluo de retornos crescen-tes/competio imperfeita que veio de encon-tro economia h duas dcadas (Krugman,

    1998, p. 7). O papel da Geografia tambm se-ria, segundo o autor, importante para as pol-ticas de desenvolvimento: Felizmente, pode-mos afirmar com segurana: considerando a

    geografia como fator crucial para o desenvol-vimento e que existem sem dvida fortes im-plicaes polticas, um tema importante para pesquisa posterior (Krugman, 1998, p. 28).

    Para Krugman (1998), a Nova Geografia

    Econmica deve resgatar os modelos cls-sicos da economia espacial (Weber, Lsch,

    Christaller, Von Thnen), os modelos de

    potencial de mercado de Harris e as ma-trizes de deciso empresarial de Pred. Para

    isso, Krugman (ao lado de Masahisa Fujita e

    Anthony Venables) elabora um modelo com

    quatro pilares: 1) o modelo de competio

    monopolstica de Dixit-Stiglitz, que respei-ta a integridade natural de muitas decises locacionais; 2) a teoria dos icebergs das tro-cas internacionais de Paul Samuelson, que

    preserva a elasticidade da demanda ao unir o modelo de estrutura de mercado de Dixit-

    Stiglitz e os custos de transporte embuti-dos; 3) evoluo: os fatores de produo se

    movem gradualmente entre as localizaes

    que oferecem maiores retornos reais; uso

    da teoria dos jogos; 4) computador: utiliza-do para clculos e simulaes dinmicas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Concordamos com Barnes (2003), ao afirmar

    que a Geografia Econmica esqueceu cinco

    teorias: a teoria dos lugares centrais, a regra de Zipf (rank-size), a causao cumulativa,

    as economias externas locais e os modelos

    de renda da terra. inegvel que o enfoque locacional em geografia perdeu seu flego,

    ao contrrio de outras reas, como a Econo-mia e a Administrao. Esperamos que este artigo contribua de alguma forma para uma retomada mais sistemtica das teorias loca-cionais, pois o espao geogrfico organi-

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 177

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    zado de diferentes formas e por diferentes

    atores, em especial as grandes corporaes.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARNES, Trevor J. The place of lo-cational analysis: a selective and in-terpretive history. Progress in Human

    Geography, 27 (1), p. 69-95, 2003.

    BECATTINI, Giacomo. O distrito mar-shalliano: uma noo socioeconmica. In: BENKO, Georges & LIPIETZ, Alain

    (Orgs.). As regies ganhadoras: distritos e

    redes. Os novos paradigmas da Geografia

    Econmica. Portugal: Celta, 1994. 275p.

    BENKO, Georges & LIPIETZ, Alain. O

    novo debate regional: posies em con-fronto. In: As regies ganhadoras: distritos e redes. Os novos paradigmas da Geografia

    Econmica. Portugal: Celta, 1994a. 275p.

    ___. Das redes de distritos aos distritos de

    redes. In: As regies ganhadoras: distritos e redes. Os novos paradigmas da Geografia

    Econmica. Portugal: Celta, 1994b. 275p.

    BORCHERT, John R. A Geografia e a Te-oria dos Sistemas. In: JAMES, P. E. et al.

    Geografia Humana nos Estados Unidos.

    Traduo de Luiz Cludio de Castro e Cos-ta. Rio de Janeiro: Forum, 1970. p. 267-275.

    BUSATO, Maria Isabel & PINTO, Eduar-do Costa. A nova geografia econmica: uma

    perspectiva regulacionista. I Encontro de Eco-nomia Baiana, Salvador, setembro de 2005.

    CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede.

    7 ed. Traduo de Roneide Venancio Ma-jer com a colaborao de Klauss Brandini Gerhardt. So Paulo: Paz e Terra, 2003. 698p.

    ___. Problemas de investigacin en sociolo-gia urbana. 7 ed. Mexico: Siglo XXI, 1978.

    CHESNAIS, Franois. A mundializa-o do capital. So Paulo: Xam, 1996.

    CORRA, Roberto Lobato. Interaes Es-paciais. In: CASTRO, I. E.; CORRA,

    R. L. & GOMES, P.C.C. (Orgs.) Explo-raes Geogrficas. Rio de Janeiro: Ber-trand Brasil, 1997. 367p. p. 279-318.

    ___. A rede urbana. So Paulo: tica, 1989.

    ___. O enfoque locacional na Geografia.

    So Paulo: Terra Livre, 1(1), p. 62-66, 1986.

    COSTA, Jorge Lus Rodrigues da. As teorias da

    lgica locacional: do fordismo ao ps-fordis-mo. Anais do XIII Encontro Nacional de Ge-grafos. Joo Pessoa, UFPB, 2002. CD-ROM.

    DRUCKER, Peter F. Sociedade ps-ca-pitalista. Traduo de Nivaldo Montin-gelli Jr. So Paulo: Pioneira, 1993. 186p.

    FIGUEIREDO, Adma Hamam de. Difuso

    de inovao e involuo econmica: a con-tribuio de Lakshman S. Yapa ao estudo

    de difuso de inovao. Revista Brasilei-ra de Geografia, 40 (1), p. 162-166, 1978.

    HAGGETT, Peter. Analisis Lo-cacional en la Geografia Huma-na. Barcelona: Gustavo Gili, 1976.

    HAMILTON, F. E. Ian. Modelos de lo-calizao industrial. In: CHORLEY,

    Richard J. & HAGGETT, Peter. Mo-delos scio-econmicos em Geografia. Tra-duo de Arnaldo Viriato de Medeiros. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos/

    So Paulo: EdUSP, 1975. 284p. p. 178-236.

    HARVEY, David. Condio ps-mo-derna. Traduo de Adail Ubiraja-ra Sobral e Maria Stela Gonalves. 10 ed. So Paulo: Loyola, 2001. 349p.

    JAMES, Preston E. Continuidade e mudana

    do pensamento geogrfico americano. In: JA-MES, P. E. et al. Geografia Humana nos Estados

    Unidos. Traduo de Luiz Cludio de Castro

    e Costa. Rio de Janeiro: Forum, 1970. p. 4-15.

    KRUGMAN, Paul R.; FUJITA, Masahisa &

    VENABLES, Anthony. The spatial economy:

    cities, regions and international trade. Intro-duction. Disponvel na internet: http://web.

    mit.edu/krugman. Acesso em 20/05/2007.

    ___. The role of Geography in develop-ment. Paper prepared for the Annual World

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008178

    Rhalf Magalhes Braga

    Bank Conference on Development Eco-nomics. Washington D.C., April 20-21,

    1998. Disponvel na internet: http://web.

    mit.edu/krugman. Acesso em 20/05/2007.

    LIPIETZ, Alain. Miragens e milagres:

    problemas da industrializao no Ter-ceiro Mundo. So Paulo: Nobel, 1988.

    ___. O capital e seu espa-o. So Paulo: Nobel, 1987.

    MANZAGOL, Claude. Lgica do espa-o industrial. Traduo de Silvia Selingar-di Sampaio. So Paulo: Difel, 1985. 230p.

    MARTIN, Ron. Teoria econmica e geogra-fia humana. In: GREGORY, Derek; MAR-TIN, Ron; SMITH, Graham (Orgs.). Geo-grafia Humana: sociedade, espao e cincia

    social. Traduo de Mylan Isaack. Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar, 1996. 310p. p. 31-64.

    MASCARENHAS, Gilmar. Considera-es terico-metodolgicas sobre a di-fuso espacial do futebol. GEOUERJ,

    n 10, p. 73-82, 2 semestre de 2001.

    MATUSHIMA, Marcos Kazuo. Teorias

    de localizao industrial e distritos in-dustriais: uma breve discusso. Anais do XIII Encontro Nacional de Gegra-fos. Joo Pessoa, UFPB, 2002. CD-ROM.

    MESQUITA, Olindina Vianna. O mo-delo de Von Thnen: uma discus-so. Revista Brasileira de Geografia,

    40 (2), p. 60-130, abril/junho, 1978.

    MORAES, Dimas; SCOPEL, Iraci &

    SOUSA, Marluce Silva. Economia Espa-cial: perspectiva para uma anlise meto-dolgica na Geografia. Anais do VI Con-gresso Brasileiro de Gegrafos. Goinia, UFG, 18 a 23 de julho de 2004. CD-ROM.

    OHMAE, Kenichi. O fim do Estado-Nao.

    Traduo de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro:

    Campus; So Paulo: Publifolha, 1999. 214p.

    PORTER, Michael E. Competio: es-tratgias competitivas essenciais. Tra-duo de Afonso Celso da Cunha Ser-ra. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 515p.

    PRED, Allan R. Industrializao e urbanizao

    como processos espaciais interagentes: exem-plos da experincia americana. In: JAMES, P.

    E. et al. Geografia Humana nos Estados Uni-dos. Traduo de Luiz Cludio de Castro e

    Costa. Rio de Janeiro: Forum, 1970. p. 27-37.

    RIBEIRO, Miguel ngelo Campos. Princi-pais linhas de abordagem e estudos empricos a nvel intra-urbano: uma resenha em torno da localizao industrial. Revista Brasileira de

    Geografia, 44 (3), p. 415-444, jul./set., 1982.

    SANTOS, Milton. Os dois circui-tos da economia urbana e suas implica-es espaciais. In: Da totalidade ao lu-gar. So Paulo: EdUSP, 2005. p. 93-116.

    ___. Economia espacial: crticas e alter-nativas. 2 ed. So Paulo: EdUSP, 2003.

    ___ & SILVEIRA, Maria Laura. O Bra-sil: territrio e sociedade no incio do s-culo XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.

    ___. A natureza do espao. Tcni-ca e Tempo, Razo e Emoo. 3 ed.

    So Paulo: Hucitec, 1999. 308p.

    ___. O espao dividido: os dois circuitos da economia urbana dos pases subdesenvolvi-dos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

    SCOTT, Allen J.; AGNEW, John; SOJA,

    Edward W. & STORPER, Michael. Cidades-

    Regies Globais. Traduo de Daniel Julien

    Van Wilderode. Texto de palestra proferida na

    Conferncia Internacional Global City-Re-gions. Trends and Prospects Policis for Weal-th and Well-Being, outubro de 1999, School

    of Public and Social Research, University

    of Califrnia, Los Angeles (EUA). p. 11-25.

    SILVA, Carlos Alberto Franco da. Os ava-tares da teoria da difuso espacial: uma reviso terica. Revista Brasileira de Ge-ografia, 57 (1), p. 25-51, jan./mar., 1995.

    SMITH, David. M. Industrial Location:

    an economic geographical analysis. New York/Toronto: John Wiley & Sons, 1971.

    STORPER, Michael. Las econom-as regionales como activos relaciona-les. In: Cadernos IPPUR, Rio de Ja-

  • GEOGRAFARES, n 6, 2008 179

    Tendncias e perspectivas das teorias locacionais no capitalismo contemporneo

    neiro, ano XIII, n 2, p. 29-68, 1999.

    TOFFLER, Alvin. Previses e Pre-missas. Traduo de Ruy Jungmann.

    Rio de Janeiro: Record, 1983. 243p.

    VELTZ, Pierre. Hierarquias e redes na or-ganizao da produo e do territrio.

    In: BENKO, Georges & LIPIETZ, Alain

    (Orgs.). As regies ganhadoras: distritos e

    redes. Os novos paradigmas da Geografia

    Econmica. Portugal: Celta, 1994. 275p.

    WAIBEL, Leo. A lei de Thnen e a sua

    significao para a Geografia Agr-ria. Boletim Geogrfico, Rio de Janei-ro, v. 126, p. 273-294, mai/jun, 1955.

    RESUMO

    O objetivo deste artigo resgatar o tema das teorias locacionais e assim contribuir para o debate na Geografia, debate este um tanto es-quecido atualmente. Destacamos as principais

    tendncias do enfoque locacional: neoclssi-co, comportamental, sistmico e marxista.

    Alm disso, abordamos algumas perspectivas atuais, no s na Geografia, como tambm na

    Administrao, Economia e Sociologia. Nota-se que as abordagens caminham de um pen-samento mais abstrato e generalizante, pas-sando por uma considerao dos problemas sociais at um olhar mais regional e focado no paradigma do capitalismo informacional.

    Palavras-Chave: Teorias Locacionais; Capi-talismo Contemporneo; Geografia Urbana.

    ABSTRACTThe purpose of this article is to rediscuss lo-cational theory and contribute to this debate in Geography, especially considering that it is not so discussed recently. We selected five

    tendencies in locational theory: neoclassic, behavioral, systemic and Marxist. Beyond

    that, we debate some recent perspectives, not only in Geography, but also in Administration

    and Economy. Note that the tendencies start with generalized thinking, go to social pro-blems and then consider regional and infor-mational capitalism.

    Keywords: Locational Theory; Contempo-rain Capitalism; Urban Geography.