teoria geral dos contratos

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DIREITO CIVIL TEORIA GERAL DOS CONTRATOS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 1) Princípio da Função Social (Art. 421) - Existe projeto de lei para modificar : liberdade de contratar x liberdade contratual (A liberdade de contratar é ilimitada; já a liberdade contratual é limitada pela função social). O correto deveria ser liberdade contratual. Enunciados: - I Encontro: 20,22, 23, 26, 29; - III Encontro: 166, 167; - IV Encontro: 360 e 361; - V Encontro: 431. CONSIDERAÇÕES: O contrato deve ser submetido a um controle de merecimento para ver ser o mesmo se encontra averiguado pela ordem social , não deve ser tratado cmo uma bolha. Objetivo da Função Social: nada mais é, do que a busca da justiça contratual. As partes de buscar o equilíbrio contratual. Deve haver proporcionalidade entre os parceiros contratuais (direitos individuais relativos (À dignidade da pessoa humana; Hoje o contrato acaba acarretando uma eficácia interna – endógena (efeitos baseados na função social do contrato), e externa ou exógena (proteção dos interesses da coletividade (interesses metaindividuais) - Ver enunciado nº 23, do I Encontro Eficácia interna dos contratos (Endógena): Art. 827 (Contrato de fiança) Efeitos da fiança: observação do beneficio de ordem: o fiador até a contestação pode pedit primeiro a execução do devedor principal par depois executar os seus bens.

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DIREITO CIVILTEORIA GERAL DOS CONTRATOSPRINCPIOS CONTRATUAIS

1) Princpio da Funo Social (Art. 421)

- Existe projeto de lei para modificar : liberdade de contratar x liberdade contratual (A liberdade de contratar ilimitada; j a liberdade contratual limitada pela funo social). O correto deveria ser liberdade contratual. Enunciados:- I Encontro: 20,22, 23, 26, 29;

- III Encontro: 166, 167;

- IV Encontro: 360 e 361;

- V Encontro: 431.CONSIDERAES: O contrato deve ser submetido a um controle de merecimento para ver ser o mesmo se encontra averiguado pela ordem social , no deve ser tratado cmo uma bolha.

Objetivo da Funo Social: nada mais , do que a busca da justia contratual. As partes de buscar o equilbrio contratual. Deve haver proporcionalidade entre os parceiros contratuais (direitos individuais relativos ( dignidade da pessoa humana;

Hoje o contrato acaba acarretando uma eficcia interna endgena (efeitos baseados na funo social do contrato), e externa ou exgena (proteo dos interesses da coletividade (interesses metaindividuais)

- Ver enunciado n 23, do I Encontro

Eficcia interna dos contratos (Endgena): Art. 827 (Contrato de fiana)

Efeitos da fiana: observao do beneficio de ordem: o fiador at a contestao pode pedit primeiro a execuo do devedor principal par depois executar os seus bens. Geralmente os contratos de fiana so contratos de adeso (Art. 54 do CDC).

O Art. 828: no aproveita o direito do beneficio de ordem se o autor renuncia ao direito do beneficio de ordem, mas isso so se aplica nos contratos paritrios. Nos contratos de adeso esta clusula pode ser anulada. Ver art. 424, do Cdigo Civil.

Ver Enunciado n 364, da III Jornada de Direito Civil.Eficcia externa dos contratos (Exgena)

Smula 308 do STJ: a hipoteca firmada entre o agente construtor e o agente financeiro no traz prejudicialidade ao terceiro (vitima by stander) adquirente do imvel. * Hipoteca tem direito de sequela 2) princpio da relatividade dos efeitos do contrato (res inter alios acta) Por este princpio, entende-se que o contrato somente gera efeito entre as partes;

Este princpio mitigado pela funo social;

3) Pacta Sunt servanda (Fora obrigatria do contrato) A parte pode forar a outra de cumprir a sua obrigao;

A Pacta sunt servanda pode ser mitigada pela funo social do contrato: se o contrato no for dotado de funo social, no se pode exigir que a outra cumpra a sua parte);

4) Principio da conservao do negcio jurdico

Enunciado n 22:

A doutrina e a jurisprudncia entendem que a extino do contrato ser sempre a ltima ratio. O magistrado deve sempre buscar resolver o contrato em vez de resolv-lo;

5) Princpio da boa-f objetiva: dever de conduta que dever ser observada em todas as fases do contrato 1. Art. 422 do Cdigo Civil = Confiana (Glauben) e Lealdade (Treu)

2. STJ: para que haja a completude da boa-f objetiva devemos estar diante soma dos deveres principais e anexos (laterais, satelitrios) do contrato; Violao do direito principal: estaremos diante do inadimplemento (Pode ser total, absoluta, parcial e relativo)

Violao dos deveres anexos: Nova modalidade de inadimplemento: chamada de violao positiva do contrato. Ver Enunciado 24 da I Jornada

3. Enunciados:

- I Jornada: 24, 25, 26, 27 e 29

- III Jornada: 166, 167, 168, 170

- IV Jornada: 361, 362, 363

- V Jornada: 432

- VI Jornada: 546

4. Este princpio deve ser observado em todas as fases de formao do contrato (Enunciado 25 da I Jornada)

5. A boa-f objetiva nada mais que um dever de conduta que dever ser observada em todas as fases de formao do contrato, e deve ser baseado na probidade, na correo, na proteo, na cooperao, na informao.

Fases contratuais:

1) Negociaes Preliminares (Puntuao; proposta no formalizada): - Debates prvios

- No gera a obrigao da realizao do contrato;

- Excepcionalmente pode-se falar aceca da responsabilidade civil - de natureza extracontratual (tambm conhecida como aquiliana) se violada a boa-f objetiva - Maria Helena Diniz sustenta esse posicionamento.

2) Proposta (Policitao; oblao):

- Art. 427;

- A proposta obriga o proponente (Art. 427, do CC)

- Responsabilidade civil contratual

- Pode se dar entre:

a) presentes: existe facilidade na comunicao dos parceiros contratuais;

b) ausentes: dificuldade na comunicao. Ex.: contrato via carta (epistolar).

Ver Art. 434, CC (Teoria da agnio. So duas: 1) Teoria da Expedio (regra); 2) Recepo (Exceo todos os incisos do Art. 434, CC) 3) Contrato Preliminar (Art. 462 a 466, do CC)

- No possui forma ( livre);

- Tem que conter todos os requisitos essncias ao contrato definitivo, exceto a sua forma;

- Ver Enunciado 435 da V Jornada de Direito Civil;

- Ver Art. 170, do CC

- Pode possuir clusula de arrependimento (deve ser expressa-Ver art. 463, CC)

- Ver Enunciado 30 da I Jornada = Pode ser levado a registro. O fato de no ser levado a registro no deixa de produzir seus resultados (eficcia inter partes);4) Definitiva

- A boa-f objetiva tambm deve estar presente nesta fase;

5) Execuo (Pos pactum finitum)

- A boa-f objetiva tambm deve estar presente na fase de execuo do contato;

Figuras Parcelares da boa-f objetiva 1) Venire contra factum proprium (teoria dos atos prprios):

- veda-se o comportamento contraditrio

- Enunciado 362, da IV Jornada

- Requisitos para configurar o venire contra factum proprium:

a) comportamento:

b) gerao de uma expectativa

c) investimento a expectativa gerada

d) comportamento contraditrio

2) Supressio:

- reduo do contedo obrigacional em razo de uma inrcia prolongada

-

3) Surrectio:

- a ampliao do contedo obrigacional

Exemplo: Art. 330, do Cdigo Civil: figura do pagamento. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir a renncia de outro pactuado. Ocorre quando o credor todo ms se dirige na casa do locatrio receber os alugueis, mas no contrato esta escrito que o devedor deve pagar na casa do locador. Pagina 4) Duty to mitigate the loss (Enunciado 169, da III Jornada)

- Enunciado 169 da III JIOrnada

- REsp 758.518 PR (Pagina 327 do livro do professor)

- Deve o credor evitar o agravamento de seu prprio prejuzo

5) Adimplemento substantcial (Substancial performance)

- Vinculada a um inadimplemento mnimo;

- Enunciado 361, da IV Jornada de Direito Civil

6) Tu quoque

- At tu meu filho: no faa aos outros o que no gostaria que fizesse aos outros;

- Exemplo: exceo do contrato no cumprido

6) Princpio da interpretao mais favorvel ao aderente (Art. 423, do CC)

- aplicvel nos contratos de adeso

Fique de olho:

Pacta corvina (aRt. 426, do Cdigo Civil

- Proibio da realizao de contrato que envolva herana de pessoa viva.

- NULO DE PLENO DIREITO.

VCIOS REDIBITRIOS (Art. 442 a 446, do Cdigo Civil)

- aquele que acarreta a impropriedade ou a inadequao do bem (bem mvel ou imvel);

- um vcio oculto que s se aplica em contratos onerosos;

- Ver Pargrafo nico do Art. 441, do CC (Doao modal ou com encargo: h uma onerosidade)

- S aplicvel aos contratos comutativos

- No aplicvel a contratos aleatrios (evento incerto e casual). Alea = incerteza

O que fazer quando h vcio redibitrio?- Aquele que adquire um bem pode mover as seguintes aes edilcias (Art. 442, CC):

1) Ao redibitrio: visa extinguir, resolver - as partes retornar ao estado anterior; 2) Ao estimatria: visa um abatimento. chamada tambm de Quanti minoris. Fica-se com um bem, mas requer um abatimento.

- Trata-se de um concurso eletivo de aes: ou seja, a parte somente pode propor uma das aes. Posio majoritria da doutrina

- Pode cumular com perdas e danos (Art. 443, do CC): se provar que o alienante sabia do vcio no bem. O adquirente que tem que provar (Art. 333, do CPC). Se o alienante no souber s devolve o valor do bem.

- Prazos (Art. 445, do CC):

- Enunciado 28 da I Jornada de Direito Civil: Natureza jurdica do prazo Decadencial

- 30 dias para bens mveis;

- 1 ano para bens imveis.

Ateno:

Se a pessoa nunca possuiu ela ter o prazo de 30 dias dias para bens mveis e de 1 ano para bens imveis, contados da entrega efetiva. Se a pessoa j tinha a posse do bem o prazo cai para a metade (15 dias para bens mveis e 6 meses para bens imveis), contados da alienao.

- A segunda parte do Art. 445 do CC um exemplo claro de tradio ficta (traditio brevi manu).- A tradio ficta se divide em duas partes:

a) traditio brevi manu: aquele que possui em nome alheio passa a possuir em nome prprio; = b) constituo possessrio: aquele que possui em nome prprio passa a possuir em nome alheio. - Art. 1.196, do Cdigo Civil: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exerccio pleno ou no de um dos poderes inerentes da propriedade.

- Possuidor = Art. 1.228 do Cdigo Civil: GRUD (Gozar, Reaver, Usar e Dispor)- Prazos de garantia

- Art. 445, 2 do CC: Art. 4 da LINDB = Processo de colmatao = Regra de acordo com a LINDB (aplicabilidade de costume - regra de integrao) = Princpio do nom liquet: ou seja, vedado ao juiz deixar de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade na lei ele deve se valer da analogia, dos costumes ou dos princpios gerias de direito.

* Art. 445, 1, CC = e a sua CONFUSO (Vcio oculto)- Enunciado 174, do III Encontro do CJF: Prazo do Paragrafo para conhecer o vcio e o prazo do Caput para demandar.

- Exemplo: 1) Bem imvel: compra de um apto comprou o apto e descobriu o vcio com 8 meses (prazo para descobrir o vcio at 1 ano), ter o prazo de mais 1 ano (data da descoberta) para a propositura da ao. 2) Bem mvel: prazo mximo para a descoberta no bem = 180 dias.

Se descobrir o vcio com 70 dias da compra, ter mais 30 dias para a propositura da ao.

*Art. 446, CC: quando se fala de garantia conta-se primeiro a garantia contratual e depois se inicia o prazo da garantia legal. Descoberto o vcio a parte deve notificar a outra, sob pena de perda da garantia. Cdigo de Defesa do Consumidor: alm de proteger o vcio oculto protege tambm o vcio aparente de fcil constatao (Art. 26). Evico:

(Livro do professor: pgina 354)

7.2. Evico (Art,. 447 a 457, do CC)- a perda ou desapossamento judicial, ou excepcionalmente administrativo, de um bem, em razo de um defeito jurdico anterior alienao. Quem alienou o bem no poderia t-lo feito, e o adquirente o perdeu, tendo ao de indenizao contra o alienante. O adquirente que perde o bem o evicto, e o terceiro que dele o toma o evictor.

- S se aplica nos contratos onerosos;

- Pode-se falar em evico mesmo que a aquisio se d mediante hasta pblica/leilo (bens mveis) ou praa (bens imveis);

- Partes na evico:

1) Alienante: aquele que responde civilmente

2) Adquirente: chamado de evicto/evencido

3) Terceiro que apresenta melhor fundamentao jurdica: chamado de Evictor ou Evencente. Esse terceiro

Para entender meljor a figura da evico:

Esse 3, (o Evictor) toma o bem do adquirente. O adquirente por sua vez entra com uma ao contra o alienante, visto que o responsvel civilmente. - Exemplo: estelionatrio invade terreno e, falsificando a escritura pblica, vende-o. O verdadeiro dono ajuza ao reivindicatria reclamando seu terreno. Ao se constatar a falsidade da escritura pblica, o comprador perder judicialmente o imvel, o que chamamos de evico, tendo apenas direito indenizatrio contra o alienante.

- Constate que a evico pode se dar excepcionalmente atravs de uma perda administrativa do bem, pois, em alguns casos, a jurisprudncia do STJ tem admitido a evico independente de deciso judicial.

- Destaque para o caso em que h apreenso policial da coisa em razo de furto ou roubo anterior alienao, podendo o caso ser resolvido no prprio mbito da delegacia.

Exemplo: ladro que vende carro roubado, sendo o evicto parado em uma blitz e o carro levado delegacia e devolvido ao seu real dono.

Ateno!

Nos termos do artigo 448 da Lei Civil, as partes podem por clusula expressa reforar, diminuir ou at mesmo excluir a responsabilidade do alienante pela evico. Cuidado, pois a excluso s valer se o evicto foi informado do risco da evico e o tenha assumido (art. 449 do CC).

Dao em pagamento (Art. 356, CC) X Evico

- modalidade de pagamento diverso da pactuada.

- Exemplo:

- Art. 359: Aquele que era o credor volta ao estado anterior.

*Art. 448, do CC: ler com o art. 449, do CC:

- tem uma aplicao perfeita se o contrato for paritrio. Caso seja um contrato de adeso, h de se destacar que caso haja uma clusula de excluso da responsabilidade pela ocorrncia da evico, ela ser tida como nula pela ruptura, fratura pela quebra da funo social do contrato ( nula de pleno direito). Art. 421, Art. 424 e Art. 448.

*Art. 450, do CC: trata dos direitos do evicto;

- Tem direito a todo e qualquer valor que foi pago pelo bem, a no ser que haja uma exceo;

*Art. 455, do CC: A evico pode ser:

1) Total:

2) Parcial. A parcial pode ser:

a) Considervel: tem direito a todo o valor pago pelo bem;

b) No considervel: aquele que perdeu o bem, somente tem direito a indenizao;

*Art. 456, do CC:

- Enunciado 29 do I Encontro do CJF:

- Enunciado 434 do V Encontro do CJF: traz posicionamento da jurisprudncia. A falta da notificao no impede que a pessoa proponha uma ao autnoma para ver ressarcido esses valores.

*Art. 457, do CC:

- Litgio ou bem alheio: no pode demandar pela evico, pois assumiu o risco de adquirir um bem que no se comprovou a posse.

- Ao perder o bem, o evicto poder cobrar indenizao do alienante. A regra o ressarcimento da integralidade do dano do evicto, o que lhe permite cobrar do alienante no s a devoluo do que pagou pelo bem, como tambm as perdas e danos em razo da evico, os frutos que eventualmente tenha sido obrigado a restituir ao evictor e o que gastou com custas judiciais e honorrios advocatcios (art. 450 do CC).

- Ainda dentro da regra da indenizao da integralidade do dano, o alienante responder perante o evicto por eventual valorizao do bem entre a poca da alienao e da evico. Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrar do alienante o preo que lhe pagou, porm se houver valorizao, cobrar o valor do bem da poca em que se evenceu, ou melhor, da poca em que perdeu o bem pela evico.

- Mais uma vez, ainda dentro da regra da indenizao da integralidade do dano, ainda que o bem esteja deteriorado, o evicto poder cobrar do alienante o valor total do bem, a menos que tenha sido causado dolosamente por ele, quando s poder cobrar do alienante o valor que passou a valer o bem. Note que, se a ttulo de culpa em sentido estrito a deteriorao, ainda assim o evicto cobrar do alienante o valor integral do bem.

- Conforme ser visto no estudo da posse no captulo de direitos reais, o possuidor que realiza benfeitorias no bem e vem a perd-lo, tem direito de ser indenizado quando as benfeitorias forem necessrias e teis. o caso que ocorre aqui, pois o evicto tem a posse do bem e a perde para o evictor.

- Assim, se ele realizou benfeitorias necessrias ou teis no bem antes da perda, poder reclamar indenizao do evictor. O artigo 453 do Cdigo Civil diz que o evicto pode cobrar do alienante o que gastou com benfeitorias necessrias e teis, se no foram abonadas, quer dizer, se no foram pagas pelo evictor. No entanto, completa o artigo 454 da atual Norma Civilista, se as benfeitorias foram feitas pelo alienante e abonadas, ou seja, pagas ao evicto pelo evictor, o valor ser deduzido quando o evicto cobrar a indenizao do alienante.

- Para cobrar o direito que da evico lhe resulta, o evicto poder denunciar ao alienante da lide, para, em caso de sentena decretando a perda do bem, j determine o juiz na sentena a indenizao por ele devida ao evicto. Em havendo sucessivas vendas antes de o dono reclamar o bem, poder o evicto cobrar indenizao no s do alienante imediato, e sim qualquer dos anteriores (art. 456 do CC).

Por fim, fechando o tema evico, precisamos entender o que evico parcial, tema que tratado no artigo 455 do Diploma Civil. Haver evico parcial quando o evicto perder apenas parte do que adquiriu na alienao, por exemplo, quando compra cem cabeas de gado e perde vinte ou trinta delas pela evico. Qual a consequncia? Depende se a evico considervel ou irrisria, pois uma coisa perder uma ou duas cabeas de gado, outra perder noventa delas. Se a perda for considervel, o evicto pode pedir a resciso do contrato ou restituio da parte do preo correspondente ao desfalque sofrido, isto , devolver o que sobrou e cobrar devoluo do que pagou ou ficar com o que sobrou e cobrar apenas o equivalente sua perda. Se, todavia, a perda for irrisria, s poder o evicto cobrar a indenizao pela perda sofrida, permanecendo com o que sobrou.

Seo VI

Da Evico

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evico. Subsiste esta garantia ainda que a aquisio se tenha realizado em hasta pblica.

Art. 448. Podem as partes, por clusula expressa, reforar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evico.

Art. 449. No obstante a clusula que exclui a garantia contra a evico, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preo que pagou pela coisa evicta, se no soube do risco da evico, ou, dele informado, no o assumiu.

Art. 450. Salvo estipulao em contrrio, tem direito o evicto, alm da restituio integral do preo ou das quantias que pagou:

I - indenizao dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;

II - indenizao pelas despesas dos contratos e pelos prejuzos que diretamente resultarem da evico;

III - s custas judiciais e aos honorrios do advogado por ele constitudo.

Pargrafo nico. O preo, seja a evico total ou parcial, ser o do valor da coisa, na poca em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evico parcial.

Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigao, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deterioraes, e no tiver sido condenado a indeniz-las, o valor das vantagens ser deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante.

Art. 453. As benfeitorias necessrias ou teis, no abonadas ao que sofreu a evico, sero pagas pelo alienante.

Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evico tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas ser levado em conta na restituio devida.

Art. 455. Se parcial, mas considervel, for a evico, poder o evicto optar entre a resciso do contrato e a restituio da parte do preo correspondente ao desfalque sofrido. Se no for considervel, caber somente direito a indenizao.

Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evico lhe resulta, o adquirente notificar do litgio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores (denunciao da lide), quando e como lhe determinarem as leis do processo.

Pargrafo nico. No atendendo o alienante denunciao da lide (Per saltum=por saltos), e sendo manifesta a procedncia da evico, pode o adquirente deixar de oferecer contestao, ou usar de recursos.

Art. 457. No pode o adquirente demandar pela evico, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.

6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS A TERCEIROS (arts. 436 a 440, CC) Em razo do princpio da relatividade de seus efeitos, o contrato s atinge as partes, isto , s quem parte pode ter direito e deveres que dele decorrem. Entretanto, h trs contratos em que um terceiro por ele atingido, pois tero direitos e deveres decorrentes de um contrato em que no celebraram originariamente:

6.1. Estipulao em Favor de Terceiro - o contrato em que um dos contratantes estipula um terceiro para quem o outro contratante dever cumprir a prestao. um terceiro ao contrato tendo um direito dele decorrente. Exemplo: contrato de compra e venda em que o estipulante determina a entrega do bem para um beneficirio. Se a prestao no for cumprida, o estipulante poder exigi-la em juzo. - O beneficirio tambm tem esse poder, desde que no haja essa restrio no contrato. Caso tenha sido retirado do beneficirio esse poder, poder o estipulante exonerar o devedor de cumprir a prestao.

E a substituio do beneficirio possvel?

Sim, independente da anuncia dele e do outro contratante, se reservar esta faculdade no contrato.

6.2. Promessa de Fato de Terceiro o contrato em que um dos contratantes promete que um terceiro cumprir a prestao para o outro contratante. terceiro ao contrato com um dever dele decorrente. Exemplo: contrato por meio do qual uma das partes promete que seu irmo, um cantor famoso, conceder uma entrevista exclusiva a um programa de rdio.

Se o terceiro no cumprir a prestao, o promitente (quem prometeu) responde por perdas e danos, mesmo que tenha feito todos os esforos para o cumprimento da prestao.

O promitente no responder, mas sim o terceiro, se este aceitar a prestao e depois no cumpri-la.

Ademais, o promitente no responde pelo descumprimento da prestao do terceiro se, pendendo sua aceitao, forem casados e, a depender do regime de bens do casamento, a cobrana sobre o promitente recair de alguma forma sobre o terceiro.

6.3. Contrato com Pessoa a Declarar aquele em que um dos contratantes pode indicar uma pessoa que ir assumir a sua posio no contrato. um terceiro ao contrato tendo direitos e deveres que dele decorrem. Exemplo: uma pessoa quer comprar uma casa, cujo dono jamais lhe vender por problemas pessoais, podendo se valer de uma pessoa para contratar com o proprietrio, inserindo no contrato clusula que lhe permite indic-lo a assumir sua posio no contrato.

Essa indicao deve ser feita em 15 (quinze) dias, se outro prazo no for estipulado, contudo tem efeito retroativo data da celebrao do contrato, pois o indicado assume os direitos e deveres do contrato desde a sua celebrao e no apenas a partir da sua nomeao.

Esse contrato exige muita confiana entre quem indicar e quem ser indicado, pois se no houver nomeao ou se esta no for aceita pelo indicado, o contrato produz efeitos entre os contratantes originrios.

CONTRATO ALEATRIO (Art. 458 a 461, do CC)

- aquele que nasce das esperanas em que h uma incerteza. aquele que existe um evento incerto e casual.

- Pode dizer respeito a:

1) coisas ou fatos futuros (Art. 458, do CC):

- Art. 458, do CC: trata da venda de uma esperana. Tambm chamada de Emptio Spei. O contratante assume o risco total da coisa no existir.

- Art. 459, do CC: trata tambm da venda de uma esperana. Venda da esperana quanto quantidade (Emptio Rei Speratai.). Se nada vier a existeir no haver venda. 2) Coisas j existentes expostas a riscos (Art. 460 e 461).

-

b) Aleatrio: as partes no podem antever os seus efeitos, ou melhor, ao celebrar o contrato no h como saber os efeitos que sero produzidos. A razo simples: contrato aleatrio o contrato de risco (lea significa risco). Exemplo: contrato de seguro, pois o segurado pode ou no receber a indenizao, a depender se ocorre ou no o sinistro, o que no se sabe quando o contrato celebrado.

O contrato aleatrio pode ser naturalmente aleatrio (aleatrio tpico) ou acidentalmente aleatrio (aleatrio atpico). O contrato naturalmente aleatrio quando for da sua essncia ser aleatrio, por exemplo, contrato de seguro. O contrato acidentalmente aleatrio quando for da sua essncia ser comutativo, mas aleatrio em razo de uma circunstncia que lhe especfica. Exemplo: contrato de compra e venda comutativo, no entanto o contrato de compra e venda de uma safra que est sendo plantada aleatrio, pois no se sabe qual ser a quantidade da produo.

Os artigos 458 a 461 do Cdigo Civil trazem duas categorias de contratos de compra e venda atipicamente aleatrios: compra e venda de coisa futura e de coisa exposta a risco.Seo VIIDos Contratos Aleatrios

Art. 458. Se o contrato for aleatrio, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de no virem a existir um dos contratantes assuma, ter o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte no tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avenado venha a existir.

Art. 459. Se for aleatrio, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, ter tambm direito o alienante a todo o preo, desde que de sua parte no tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior esperada.

Pargrafo nico. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienao no haver, e o alienante restituir o preo recebido.

Art. 460. Se for aleatrio o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, ter igualmente direito o alienante a todo o preo, posto que a coisa j no existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

Art. 461. A alienao aleatria a que se refere o artigo antecedente poder ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante no ignorava a consumao do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.

8. EXTINO DO CONTRATO (arts. 472 a 480, CC)

- A extino do pagamento pode se dar por quatro causas:

1) Pagamento;

2) trmino do prazo

3) Causas anteriores;

4) Causas posteriores: distrato, clusula resolutiva, exceo de contrato no cumprido, resoluo por onerosidade excessiva, e a morte

1) Pagamento:

- a extino normal da obrigao, ou seja, do contrato.

- Em regra, o pagamento feito pelo:

1) pelo devedor (solvens); ou

2) por terceiro:

- Interessado: tem interesse jurdico. Quando terceiro interessado paga a dvida ele se sub-roga nos direitos creditcios.

- No interessado: no tem interesse jurdico. Exemplo: o fiador que paga a divida do locatrio. Quando o terceiro no interessado paga a dvida ele tem direito ao reembolso dos valores que foram pagos.

- Ver Arts. 304 e ss, do CC

- Credor (accepiens): o prprio credor da divida ou algum que o represente.

- Credor putativo: credor imaginrio. Se o pagamento for feito de boa-f, o pagamento ser considerado vlido.

- Local do pagamento (Art. 327, do CC): pode ser pactuado. Se no for estabelecida regra, o pagamento deve ser efetuado no domicilio do devedor. Ento em caso de silncio: qurable, quesvel (domiclio do devedor). Mas tambm pode ser portable, portvel (no domiclio do credor).

- Tempo do pagamento: aplica-se o princpio da satisfao imediata, ou seja, o pagamento deve ocorrer de forma imediata, a no ser que as partes prevejam de forma diversa.

2) Trmino do prazo:

- ocorrido o trmino do prazo, extingue-se a obrigao.

3) Causas anteriores:

- Vcios ou defeitos dos negcios jurpidicos

]Escada Ponteana (Planos do negcio Juridico

EFICCIA

VALIDADE

EXISTNCIA

Existncia: vontade, agente, objeto, forma

Validade: vontade, agente capa, objeto licito, possvel, determinado ou determinvel e a forma prescrita ou no defesa em lei. (Art. 104, do CC)

Eficcia: pagamento, elementos acidentais (condio, termo e encargo); clusula penal, juros, mora, perdas e danos. Se o negcio jurdico no valido ele ser invalido e os vcios ou defeitos do negocio jurdico esto no plano de validade.

Vcios de consentimento (Anulabilidade):

- Erro

- Dolo

- Estado de perigo

- Leso

Vcio social

- Fraude contra credores

A Simulao continua sendo vcio, mas no mais considerada um vcio social.

- Quatro anos para a anulao do contrato. 4) Causas posteriores

4.1) Distrato (Art. 472): o distrato feito da mesma forma que o contrato. Pelo principio da liberdade das formas ele no tem forma especfica a ser que a lei exija.

4.2) Resilio: se d por meio da vontade, que pode ser unilateral (Art.473, do CC) ou bilateral (ou mutuo acordo - Art. 9 da Lei 8.245)

4.3) Resoluo: inadimplemento.

Resilio e resoluo so formas de resciso do contrato

4.4) Clusula resolutiva: expressa (ocorre de pleno direito) ou tcita (depende de interpelao judicial). Ver Art. 474, do CC.

*Art. 475, do CC:

- Enunciado 361 do IV Encontro do CJF: Substancial perfomace ou adimplemento substancial: a parte devedora vem a inadimplir o contrato, porm este inadimplemento mnimo, o pedido de resoluo do contrato no atender o princpio da funo social do contrato, nem a boa-f objetiva. Deve-se lembrar que a parte credora dever cooperar com a parte devedora para que esta venha a adimplir o contrato, sob pena de incorrer em violao positiva do contrato. Enunciado 24, do I Encontro do CJF. Ento se inadimplido o contrato de uma forma mnima, e um adimplemento substancial, a resoluo do contrato 4.5) fratura a ideia da funo social e da boa-f objetiva. 4.4.1) Exceo de contrato no cumprido (Exceptio nom adimpleti contractus)

- Art. 476, do CC.

- Aplica-se a contratos bilaterais.

- Exceo meio de defesa em face de um contrato no cumprido.

- Se uma parte no cumpre com a sua parte no contrato no tem como requerer o cumprimento da outra parte.

* Exceo de inseguridade (Art. 477, do CC):

- Ver Enunciado 438 do V Encontro do CJF:

Observao:

Clusula solve et repete (cumpra e depois cobre)

- Se esta clusula for inserida no contrato, no possvel alegar a exceo de contrato no cumprido.

- A clusula Solve et repete cabe perfeitamente em contratos paritrios.

- Se esta clusula for inserida em contratos de adeso ela ser tida como nula de pleno direito (Art. 424, do CC).

4.4.2.) Resoluo por onerosidade excessiva:

Onerosidade excessiva: o contrato se tornou desequilibradoX

Leso: o contrato j nasceu desequilibrado- Teoria da impreviso (art. 478, do CC):

Requisitos para se configurar a teoria da impreviso:

- Execuo continuada/diferida

- Onerosidade excessiva/extrema vantagem para a outra parte

- fato extraordinrio/imprevisvel

Contrato de Execuo Continuada aquele de trato sucessivo, ou seja, aquele pago todo ms, quinzena. J o contrato execuo diferida aquele que se projeta para o futuro e executa de uma nica vez, somente. Exemplo: comprou com cheque pr para pagar tudo de uma nica vez em determinada data. Observe: que o fato de uma parte estar em extrema vantagem, no quer dizer que a outra parte esteja em onerosidade excessiva.

- Poder a parte lesada reclamar a resoluo do contrato (extino/reviso do contrato).

Enunciados 17 e 35 da I Jornada

Enunciados 175 e 176 da III Jornada

Enunciados 365, 366 3 367 da IV Jornada

Enunciados 439 e 440, da V Jornada

- Se o juiz reconhecer a onerosidade excessiva em sentena ela ir produzir efeitos ex tunc (retroage data da citao).

Observao:

Dialogo das fontes (Conversa entre as plrimas fontes legislativas)

- Ver Enunciado 167 da III Jornada

- No confundir a Teoria da impreviso com a Teoria do rompimento da base objetiva do negcio jurdico (Alemanha): Art. 6, V, 2 parte do Cdigo de Defesa do consumidor.

V- Modificao de clusula em caso de prestao desproporcional (leso

Ou

Reviso de clusula em caso de onerosidade excessiva decorrente de fato superveniente (previsto, mas inesperado).

Cdigo Civil

(Art. 478)Cdigo de Defesa do Consumidor

(Art. 6, V, 2 parte)

Teoria da imprevisoTeoria do rompimento da base objetiva do negocio jurdico

Contrato de execuo continuada/diferidaContrato de execuo continuada/diferida

Onerosidade excessiva e

extrema vantagemOnerosidade excessiva

Fato extraordinrio/imprevisvelFato superveniente

ResoluoReviso

possvel aplicarmos a teoria da impreviso nos contratos aleatrios?

Resposta: Enunciado 440, da V Jornada.

Sim, possvel desde que o evento no se relacione com lea assumida. 4.7) Extino do contrato decorrente de Morte: s acarreta a extino, se o contrato for personalssimo, ou seja, intuitu personae. Obrigao de fazer infungvel: extingue-se a obrigao em decorrncia da morte. Se a obrigao for fungvel no extingue a obrigao. RESUMO DO PROFESSOR:

A extino do contrato o fim de sua existncia, a sua morte, o seu desaparecimento do mundo jurdico. Extino o gnero, que contempla vrias espcies, pois a expresso mais ampla para o fim do contrato, seja pela causa que for.

Quando falamos em extino do contrato, esta pode se dar, em princpio, por duas formas diferentes: por causa anterior ou superveniente formao do contrato.

Se a causa de extino do contrato anterior ou at concomitante sua formao, temos um caso de imperfeio do contrato, pois ele j nasceu viciado. Nesse caso, o contrato invlido, podendo ele ser nulo ou anulvel, a depender do vcio. No tema para aqui ser visto, pois assunto da parte geral do direito civil, para onde remetemos sua leitura.

Se a causa de extino do contrato superveniente sua formao, estamos tratando de um contrato perfeito, ou melhor, que se formou de forma vlida, no sendo caso de nulidade nem de anulabilidade. O contrato perfeito pode ser extinto de duas formas diferentes: por execuo ou por inexecuo do contrato. Execuo do contrato quando ele cumprido, o que pode ocorrer pelo pagamento ou at pelas formas anormais de extino das obrigaes, quais sejam: pagamento em consignao, pagamento com sub-rogao, novao, imputao ao pagamento, dao em pagamento, compensao, confuso ou remisso. Tambm no tema para aqui ser tratado, pois assunto de obrigaes, para onde remetemos a sua leitura.

O caso de inexecuo quando no h cumprimento de um contrato perfeito, que o tema que aqui estudamos. Perceba a impropriedade da presente Legislao Civilista ao tratar do tema sob o ttulo da extino do contrato, quando, na verdade, deveria t-lo intitulado de inexecuo dos contratos ou at mesmo da extino dos contratos pela inexecuo.

A inexecuo pode causar trs espcies de extino do contrato: resilio, resoluo e resciso. Vamos definir cada um dos institutos, para em seguida aprofundar o estudo.

a) Resilio: extino do contrato por vontade de um ou de ambos os contratantes, quer dizer, quando eu termino o contrato porque quero ou quando terminamos porque queremos, sem ter qualquer razo jurdica para isso. Exemplo: celebrei contrato de aluguel pelo prazo de trs anos e decido resili-lo com dois anos por questo pessoal.

b) Resoluo: extino do contrato em razo do inadimplemento da outra parte, ou seja, um dos contratantes no cumpre o contrato, legitimando a outra parte pedir sua resoluo. Exemplo: mesmo contrato de aluguel de trs anos, resolvido pelo locador em razo do inquilino no pagar o aluguel.

c) Resciso: no h consenso na doutrina sobre o significado de resciso do contrato. Muitos usam o termo resciso como sinnimo de extino do contrato, at mesmo por causa antecedente, sendo, inclusive, o sentido que caiu no gosto popular, que s fala em resciso do contrato quando este chega ao fim. Autores clssicos, como Orlando Gomes e Caio Mrio, entretanto, com base na doutrina italiana, ensinam que resciso em sentido tcnico s ocorre quando um contrato extinto em caso de leso ou de estado de perigo. Modernamente, esse no o entendimento, at porque so defeitos do negcio jurdico, portanto, causas antecedentes ou concomitantes formao do contrato, caso de invalidade e no de inexecuo, quando pressupomos um contrato perfeito. Outros autores mencionam resciso como uma espcie de resoluo do contrato, significando a resoluo culposa ou voluntria, isto , quando o contrato extinto por inadimplemento culposo do outro contratante. O conselho evitar o uso do termo resciso, pois, como no h consenso, um risco desnecessrio em prova.

8.1. Resilio do Contrato De acordo com o que foi visto, a resilio do contrato ocorre quando h a sua extino unicamente em razo da vontade das partes. Ela pode ser unilateral ou bilateral, a depender se o desejo de apenas um dos contratantes ou de ambos. No se discute aqui culpa da parte fazendo surgir uma causa de extino do contrato, pois no h causa jurdica que motive o seu fim, simplesmente a pessoa no quer ou eles no desejam mais.

a) Resilio unilateral: ocorre quando apenas uma das partes no quer mais manter o contrato, sem precisar externar qualquer razo para isso. O artigo 473 da Lei Civil diz que se opera mediante denncia notificada outra parte, ou melhor, o contratante deve notific-la formalmente. A resilio unilateral do contrato pode se dar quando a lei permitir ou quando houver expressa previso no contrato. H casos em que a lei permite a resilio unilateral do contrato, razo pela qual no ser devedor em perdas e danos outra parte. Por exemplo: o direito de revogao de contrato de mandato. Pode a lei no permiti-la, contudo a vontade das partes sim, quando inserem no contrato clusula permissiva, podendo ou no ser fixada uma multa a ser paga ao outro contratante se esta ocorrer. Se no houver previso legal nem contratual, a parte no poder unilateralmente resilir o contrato, podendo ser o caso de reclamao judicial para sua execuo forada. Exemplo: contrato de locao em que h previso apenas para o locatrio o resilir, tendo o locador que esperar o fim do contrato pela total execuo.

b) Resilio bilateral: ocorre quando a extino do contrato se d unicamente por vontade, porm de ambas as partes, sendo chamado de distrato. um acordo das partes, pondo vim avena contratual, sem se externar qualquer causa para isso, razo pela qual, em princpio, nenhuma das partes deve qualquer indenizao ao outro contratante. Importante sobre o tema o artigo 472 do Cdigo Civil, que diz que o distrato dever ser feito na mesma forma exigida para ser feito o contrato. Como exemplo, se o contrato de compra e venda de um imvel de valor superior a trinta salrios mnimos deve ser por escritura pblica, o distrato assim tambm deve ser.

8.2. Resoluo do Contrato Resoluo do contrato a sua extino em razo do inadimplemento ou da mora da outra parte. Aqui o contrato no termina apenas em razo da vontade das partes, pois h uma causa que autoriza uma delas a pedir sua extino: o no cumprimento do contrato.

Esse descumprimento pode ser com culpa ou sem culpa do contratante inadimplente, o que faz com que existam duas categorias de resoluo do contrato: com culpa (voluntria) ou sem culpa (involuntria). A grande diferena que no caso de resoluo culposa, o inadimplente ser devedor de perdas e danos junto com a resoluo; o que no ser devido se a resoluo no for culposa. Perceba que aqui falamos de mora e de inadimplemento, tema que abordamos no estudo das obrigaes neste livro, valendo ressaltar que s h mora e inadimplemento indenizveis em perdas e danos quando com culpa do devedor, pois, se sem culpa, apenas haver resoluo do contrato.

Clusula resolutria aquela que permite ao contratante resolver o contrato diante do inadimplemento da outra parte. O contrato pode trazer uma clusula resolutria expressa, mas esta tambm pode ser implcita aos contratos. Quando isso ocorre?

Todo contrato bilateral tem implcita a clusula resolutria. A razo que todo contrato bilateral sinalagmtico, o que significa que a prestao de uma das partes causa da prestao da outra parte. Como uma das partes s cumpre a sua prestao porque a outra cumpre a sua, o descumprimento autoriza a outra parte pedir a resoluo do contrato, mesmo que no tenha nele clusula permissiva expressa. Sendo contrato unilateral ou plurilateral, necessria a clusula resolutiva expressa no contrato, para que uma das partes possa pedir a resoluo em razo do inadimplemento ou mora da outra parte.

H vantagem da clusula resolutria expressa em relao implcita, o que justifica sua insero inclusive no contrato bilateral. Vindo expressa no contrato, haver extino automtica do contrato em caso de inadimplemento, enquanto, se implcita, depende de interpelao judicial (art. 474 do CC). Alm disso, vindo expressa no contrato, j se insere clusula penal prefixando o valor da indenizao por perdas e danos.

8.2.1. Exceo de contrato no cumprido (exceptio non adimplenti contractus) Se uma das partes inadimplente, legitima a outra a pedir a resoluo do contrato. Agora, idealize que antes disso o inadimplente ajuze uma ao cobrando o cumprimento da prestao da outra parte. O que ela poder fazer? Sendo um contrato bilateral, poder alegar a exceo de contrato no cumprido, quer dizer, que no cumprir sua prestao em razo do autor da ao no ter cumprido a sua. A razo j foi exposta: como o contrato bilateral sinalagmtico, a prestao de uma das partes causa da prestao da outra parte, razo pela qual quem no cumpre a sua prestao no pode exigir o cumprimento da prestao da outra parte (art. 476 do CC).

8.2.2. Resoluo sem culpa ou involuntria A extino do contrato se d pelo inadimplemento da outra parte, sem ela ter tido culpa no descumprimento contratual. Aqui no h indenizao por perdas e danos, no entanto apenas resoluo do contrato, pois o contratante quer cumprir o contrato, mas no consegue. Isso ocorre em dois casos: caso fortuito ou motivo de fora maior e no caso de aplicao da teoria da impreviso ou da onerosidade excessiva.

a) Caso fortuito ou motivo de fora maior: so situaes inevitveis, insuperveis, que impedem o contratante de cumprir sua prestao. Imagine contrato de compra e venda de produto agrcola, que no pde ser entregue em razo de violenta tempestade que destruiu toda a plantao. No h culpa no inadimplemento, havendo simples resoluo do contrato, retornando as partes ao estado em que se encontravam antes de sua celebrao, sem direito de indenizao da parte prejudicada.

Ateno! H dois casos em que acontecer resoluo sem culpa do contratante inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou motivo de fora maior, todavia haver dever de indenizar o outro contratante em perdas e danos:.:

(i) quando houver previso expressa no contrato impondo o dever de indenizar perdas e danos pelo seu descumprimento, mesmo em razo de caso fortuito ou motivo de fora maior (art. 393 do CC); e

(ii) sempre que a impossibilidade da prestao se d por caso fortuito ou motivo de fora maior que ocorre durante a mora do contratante (art. 399 do CC).

b) Teoria da impreviso ou da onerosidade excessiva: o tema j foi visto neste livro, neste captulo dos contratos, quando do estudo do princpio da obrigatoriedade mitigado pela clusula rebus sic stantibus, para onde remetemos a sua leitura. resoluo do contrato sem culpa, pois acontece fato superveniente e imprevisvel que desequilibra economicamente o contrato, legitimando o pedido de resoluo do contrato pelo fato da lei no exigir mais o seu cumprimento.

8.2.3. Resoluo com culpa ou voluntria A extino do contrato se d pelo inadimplemento da outra parte, tendo ela culpa no seu descumprimento. Exemplo: contrato de aluguel resolvido em razo do no pagamento do inquilino porque no quis ou porque foi negligente. A diferena para a resoluo no culposa que aqui o inadimplente, alm de suportar a resoluo do contrato, deve pagar indenizao por perdas e danos ao outro contratante (embora isso possa ocorrer na resoluo sem culpa, entretanto por exceo nos casos supramencionados). Importa mencionar que para alguns autores o instituto sob comento considerado como resciso.

A resoluo com culpa no pode ser bilateral, apenas podendo ser unilateral. Se ambas as partes tiverem culpa no inadimplemento, a culpa ser daquele que primeiro tinha a obrigao de cumprir sua prestao. A razo disso o princpio da exceo de contrato no cumprido, pois, se houver prestaes simultneas e um dos contratantes no cumpre sua prestao, o outro est legitimado a no cumprir a sua prestao.

8.3. Efeitos no Tempo da Resoluo e da Resilio dos Contratos Havendo resoluo do contrato, essa deciso tem efeito retroativo ou noretroativo? Depende se o contrato for de execuo instantnea, diferida ou continuada.

Se o contrato de execuo nica, ou seja, de execuo instantnea ou at diferida, a deciso produz efeitos retroativos ou ex tunc, desfazendo-se o que foi feito at ento, pois resolver o contrato fazer retornar ao estado em que as partes se encontravam antes da sua celebrao. Assim, se estamos diante da resoluo de um contrato de compra e venda, o comprador devolve o bem e o vendedor devolve o dinheiro recebido, buscando-se eventual indenizao diante da perda ou deteriorao do bem ou at em razo de algum melhoramento por que passou.

Se, contudo, o contrato for de execuo prolongada no tempo, isto , de execuo continuada, os efeitos sero no retroativos ou ex nunc, mantendo-se os efeitos at ento produzidos. A razo disso evitar um enriquecimento sem causa de um dos contratantes. Suponha um contrato de locao: se a resoluo tivesse efeito retroativo, faria com que o locador devolvesse o valor recebido durante o contrato, no tendo como o inquilino devolver o tempo que usou o bem, o que lhe geraria um enriquecimento sem causa por ter alugado o imvel por um tempo sem por isso pagar.

O efeito retroativo (ex tunc) da resoluo dos contratos de execuo instantnea ou diferida e o efeito no retroativo (ex nunc) da resoluo dos contratos de execuo continuada valem tanto para a resoluo com culpa quanto para a resoluo sem culpa. A nica diferena entre eles que na resoluo culposa o inadimplente ser devedor de indenizao por perdas e danos, o que no ocorre, em regra, na resoluo sem culpa.

Ateno! No caso da resoluo sem culpa decorrente da aplicao da teoria da impreviso ou da onerosidade excessiva, para cuja abordagem remetemos sua leitura, seja contrato de execuo continuada ou diferida, o efeito ser, por expressa previso legal, retroativa, porm at data da citao do processo em que o contratante pede a sua resoluo (a teoria no se aplica aos contratos de execuo instantnea).

E se o caso for de resilio do contrato, a deciso tem efeito retroativo ou no retroativo? Quando falamos em resilio, estamos falando de contrato de execuo continuada, pois na resilio o contratante quer interromper o cumprimento da sua prestao prolongada no tempo. Por isso, a resilio do contrato tem efeito no retroativo ou ex nunc, no se desfazendo os efeitos produzidos at ento, no entanto apenas afastando a produo de efeitos da para frente, at porque no h qualquer causa jurdica a gerar o seu trmino, apenas o acordo de vontades em acabar com um contrato que produziu efeitos normalmente at ento.