teoria do domínio do fato na doutrina e na jurisprudência - 2014 (pablo rodrigo alflen)

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Revista Eletrônica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 Nº2 Dezembro 2014 138 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA Considerações sobre a APn 470 do STF PABLO RODRIGO ALFLEN Professor Concursado da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutor e Mestre em Ciências Criminais (PUCRS). Área de Direito Penal; Processo. RESUMO O artigo analisa a teoria do domínio do fato desde o ponto de vista da doutrina nacional e da jurisprudência. Parte-se do argumento de que a doutrina pátria dispensa um tratamento absolutamente incongruente no tocante à teoria do domínio do fato, pois há muito confunde as concepções de Welzel e de Roxin, misturando categorias e fundamentos dogmáticos incompatíveis entre si. Demonstra-se que tal problemática assumiu reflexo na jurisprudência pátria e que, portanto, o julgamento da APn 470 do STF foi apenas expressão de uma práxis jurisdicional absolutamente incongruente que advém de longa data. PALAVRAS-CHAVE Domínio do fato- domínio final do fato autoria - participação ABSTRACT The article analyzes the theory of the domain of the fact from the point of view of national doctrine and jurisprudence. The starting point is that the homeland doctrine dispenses an absolutely incongruous treatment regarding the theory of the domain of the fact, because it confuses, longtime, the concepts of Welzel and Roxin, mixing dogmatic categories and arguments incompatible. It is shown that this problem reflects in homeland jurisprudence and that, therefore, the judgement of APn 470 of the Brazilian Supreme Court - STF was just expression of an absolutely incongruous judicial praxis, that comes from longtime. KEYWORDS domain of the fact - final domain of the fact - authorship - participation Sumário Introdução; 1. Domínio do fato na perspectiva brasileira: 1.1. A doutrina; 1.2. A jurisprudência: 1.2.1 Homicídio qualificado e ocultação de cadáver; 1.2.2 Roubo majorado; 1.2.3 Latrocínio; 1.2.4 Furto qualificado; 1.2.5 Roubo majorado; 2. APn 470 do STF: o “caso mensalão” – 4. Incompatibilidade da teoria do domínio do fato com a ordem jurídica brasileira Conclusão Referências INTRODUÇÃO Os principais problemas verificados no direito penal brasileiro vigente parecem surgir justamente a partir dos déficits de interação entre teoria e prática. Um olhar mais atento permite observar que a dissonância daí resultante segue em uma via de mão dupla: de um lado, a doutrina brasileira, por vezes, funde concepções teórico-dogmáticas incompatíveis entre si, formando um mixtum

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O artigo analisa a teoria do domínio do fato desde o ponto de vista da doutrina nacional e da jurisprudência. Parte-se do argumento de que a doutrina pátria dispensa um tratamento absolutamente incongruente no tocante à teoria do domínio do fato, pois há muito confunde as concepções de Welzel e de Roxin, misturando categorias e fundamentos dogmáticos incompatíveis entre si. Demonstra-se que tal problemática assumiu reflexo na jurisprudência pátria e que, portanto, o julgamento da APn 470 do STF foi apenas expressão de uma práxis jurisdicional absolutamente incongruente que advém de longa data.

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  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

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    TEORIA DO DOMNIO DO FATO NA DOUTRINA E NA JURISPRUDNCIA BRASILEIRA Consideraes sobre a APn 470 do STF

    PABLO RODRIGO ALFLEN Professor Concursado da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutor e Mestre em Cincias Criminais (PUCRS).

    rea de Direito Penal; Processo.

    RESUMO O artigo analisa a teoria do domnio do fato desde o ponto de vista da doutrina nacional e da jurisprudncia. Parte-se do argumento de que a doutrina ptria dispensa um tratamento absolutamente incongruente no tocante teoria do domnio do fato, pois h muito confunde as concepes de Welzel e de Roxin, misturando categorias e fundamentos dogmticos incompatveis entre si. Demonstra-se que tal problemtica assumiu reflexo na jurisprudncia ptria e que, portanto, o julgamento da APn 470 do STF foi apenas expresso de uma prxis jurisdicional absolutamente incongruente que advm de longa data.

    PALAVRAS-CHAVE Domnio do fato- domnio final do fato autoria - participao

    ABSTRACT The article analyzes the theory of the domain of the fact from the point of view of national doctrine and jurisprudence. The starting point is that the homeland doctrine dispenses an absolutely incongruous treatment regarding the theory of the domain of the fact, because it confuses, longtime, the concepts of Welzel and Roxin, mixing dogmatic categories and arguments incompatible. It is shown that this problem reflects in homeland jurisprudence and that, therefore, the judgement of APn 470 of the Brazilian Supreme Court - STF was just expression of an absolutely incongruous judicial praxis, that comes from longtime.

    KEYWORDS domain of the fact - final domain of the fact - authorship - participation

    Sumrio Introduo; 1. Domnio do fato na perspectiva brasileira: 1.1. A doutrina; 1.2. A jurisprudncia: 1.2.1 Homicdio qualificado e ocultao de cadver; 1.2.2 Roubo majorado; 1.2.3 Latrocnio; 1.2.4 Furto qualificado; 1.2.5 Roubo majorado; 2. APn 470 do STF: o caso mensalo 4. Incompatibilidade da teoria do domnio do fato com a ordem jurdica brasileira Concluso Referncias

    INTRODUO

    Os principais problemas verificados no direito penal brasileiro vigente parecem surgir justamente a partir dos dficits de interao entre teoria e prtica. Um olhar mais atento permite observar que a dissonncia da resultante segue em uma via de mo dupla: de um lado, a doutrina brasileira, por vezes, funde concepes terico-dogmticas incompatveis entre si, formando um mixtum

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    compositum de coisas que no deveriam ser misturadas1; de outro lado, a prxis jurisdicional em matria penal, de maneira autossuficiente, ou despreza construes terico-dogmticas na fundamentao de suas decises2, ou, ainda, quando as utiliza, na maioria das vezes, desvirtua seu contedo.

    No entanto, este ltimo aspecto, qual seja, o desvirtuamento de concepes terico-dogmticas pela prxis jurisdicional embora no seja uma peculiaridade brasileira3 acentuado pelo fato de a doutrina penal brasileira salvo raras excees4 manifestar um dficit de identidade, pois digere concepes dogmticas estrangeiras, muitas vezes, de forma irrefletida e apartada do seu contexto. Isso se reverte em uma certa incongruncia sistmica, facilmente identificvel nos manuais; ao mesmo tempo, porm, acaba por transferir prxis jurisdicional o difcil encargo de concretizar tais concepes tericas, de modo que seu desvirtuamento consequncia inevitvel. Exemplo paradigmtico, nesse sentido, foi a deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar a APn 470 conhecida como caso mensalo , principalmente, no que diz respeito ao concurso de pessoas (Beteiligungslehre) e delimitao da autoria e de suas respectivas formas (autoria direta, autoria mediata e coautoria).

    Tal caso, na verdade, demonstrou o acerto das palavras de Kantorowicz ao afirmar, j em 1910, ser a teoria da participao (concurso de pessoas) o captulo mais obscuro e confuso da cincia penal (alem).5 Porm, cumpre fazer uma ressalva, a de que este aspecto no fica restrito a determinado plano territorial, sendo a teoria da participao (concurso de pessoas), portanto, o captulo mais obscuro e confuso da cincia penal. A gravidade dos equvocos cometidos ao longo da deciso proferida no caso mensalo, especialmente no que diz respeito teoria do domnio do fato, no mais do que expresso de uma prxis incongruente que advm de longa data. Para compreender tal problemtica, realizar-se-, em primeiro lugar, uma breve anlise do emprego da teoria do domnio do fato como critrio de delimitao da autoria, desde o ponto de vista da doutrina e da jurisprudncia brasileiras, com a finalidade de demonstrar alguns dos principais equvocos cometidos. Em segundo lugar, identificar-se-o alguns dos principais argumentos sustentados pelo Supremo Tribunal Federal ao empregar a teoria do domnio do fato no famigerado caso mensalo e as principais incongruncias evidenciadas. Por fim, analisar-se-o alguns aspectos atinentes (in)compatibilidade da teoria do domnio do fato, em especial a de Roxin, com a ordem jurdico-penal brasileira.

    1. Domnio do fato na perspectiva brasileira

    1.1. A doutrina

    As expresses domnio do fato e domnio sobre o fato, como se tem conhecimento a partir dos trabalhos de Schroeder e de Roxin, foram empregadas pela primeira vez no direito penal alemo por Hegler, em 1915, no trabalho intitulado Die Merkmale des Verbreches6; logo aps, por Bruns, em 1932, no trabalho intitulado Kritik der Lehre vom Tabestand7; em seguida, por Lobe, em 1933, em seu Reichs-Strafgesetzbuch, Leipziger Kommentar8; por Berges, em 1934, no trabalho intitulado Der gegenwrtige Stand der Lehre vom dolosen

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    Werkzeug in Wissenschaft und Rechtsprechung; por von Weber, em 1935, no trabalho intitulado Zum Aufbau des Strafrechtssystems9 e por Eb. Schmidt, em 1936, no trabalho intitulado Die militrische Straftat und ihr Tter. Todavia, como adverte Roxin, os pontos de partida dogmticos que levaram ao desenvolvimento da ideia de domnio do fato so muito diferentes10. Da a dificuldade em se proporcionar um histrico dogmtico de tal teoria, de modo que seu avano em direo a uma concepo predominante acaba necessariamente por se reportar a Welzel.11 Apesar de Welzel ter apresentado, em 1939, pela primeira vez, uma teoria do domnio do fato propriamente dita, como critrio de delimitao da autoria12, no h dvida de que os maiores esforos e a maior construo edificada at ento, a respeito da temtica, partiram de Roxin, o qual levou sua concepo a pblico no ano de 196313. O ponto de partida de Roxin na elaborao de sua teoria foi a singular vagueza e a intangibilidade da concepo welzeliana, que o levaram a rechaar a ideia de domnio do fato finalista. Inclusive, em sua crtica, Roxin foi categrico ao esclarecer, de um lado, que Welzel introduziu o conceito de forma absolutamente repentina e sem explicao, como se seu significado fosse compreensvel por si mesmo14 e, de outro lado, que a unilateralidade dos critrios compreendidos de forma lgica e exata e a sua incapacidade de satisfazer as diversas formas de manifestao da vida em suas expresses individuais no servem como critrios para definir a ideia de domnio do fato.15

    Embora na doutrina alem o debate acerca desta teoria tenha prosseguido de forma latente e profunda a ponto de Schild demonstrar a existncia de diversas variantes na atualidade16 a ideia de domnio do fato somente adentrou no plano terico-dogmtico brasileiro no ano de 1979 e ficou restrita s concepes de Welzel e Roxin. O mrito imperecvel de Nilo Batista em trazer a teoria para o Brasil, na sua clssica obra Concurso de Agentes, j na primeira edio, no entanto, no impede a crtica no sentido de o jurista brasileiro no ter deixado claro o limite e as diferenas entre estas duas concepes. Tal esclarecimento, naquela ocasio, era imprescindvel, quer seja por se tratar de uma nova concepo a adentrar no cenrio terico-dogmtico brasileiro, quer seja por no haver ponto de confluncia entre ambas as teorias. Por conseguinte, tanto o desenvolvimento histrico-dogmtico da ideia de domnio do fato, quanto o estudo pormenorizado da teoria e de seus respectivos critrios, por muito tempo, permaneceram distantes dos trabalhos cientficos brasileiros, os quais limitavam-se a abordar ou a concepo de Welzel ou a de Roxin, ou, ainda, as duas conjuntamente (da o referido mixtum compositum), porm, ainda assim, elaborando um exame superficial, confuso e acrtico das teorias.17 Naturalmente, a inexistncia de qualquer estudo posterior a respeito da teoria do domnio do fato, em carter aprofundado, no Brasil, permitiu que a mesma fosse propalada em meio doutrina e jurisprudncia de forma obscura e equivocada. fundamental, ento, ter em vista que a teoria de Roxin no consistiu em um simples aprimoramento da concepo de Welzel, mas, sim, em uma construo absolutamente nova e original, de modo que a doutrina brasileira deveria ter se preocupado em identificar sistematicamente as diferenciaes tericas e prticas de ambas as teorias, a fim de fornecer subsdios para a sua aplicao jurisdicional no mbito nacional. As principais diferenas dogmticas entre as teorias podem ser sintetizadas levando-se em considerao os seguintes aspectos: a) Welzel entende que a autoria depende de dois pressupostos, a saber: 1)

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    pressupostos pessoais, os quais decorrem da estrutura do tipo e se subdividem em 1.1) objetivos, tais como a posio especial de dever do autor (funcionrio pblico, militar, comerciante, me, mdico, advogado, etc.), e 1.2) subjetivos, tais como intenes especiais, tendncias ou tipos de sentimentos (os chamados elementos subjetivos do injusto); e 2) pressuposto ftico: o domnio final do fato (o autor o senhor sobre a deciso e sobre a execuo da sua vontade final)18. Logo, para o penalista alemo, o domnio final do fato (finale Tatherrschaft) no o nico critrio para determinar a autoria, mas to s o seu pressuposto material.19 Roxin, no entanto, desenvolve a ideia de domnio do fato sob o argumento de que o autor a figura central (Zentralgestalt), a figura chave (Schlsselfigur) do acontecimento mediado pela conduta20, o autor sempre a figura central de um acontecimento executrio (Ausfhrungsgeschehen), isto , a figura central da conduta executria (Ausfhrungshandlung)21 e que a figura central do processo delitivo quem domina o acontecimento dirigido realizao do delito22. Da referir ser autor aquele que domina o fato, isto , que desempenha o papel decisivo na realizao do tipo23, de modo que tem o domnio do fato e autor, quem aparece como a figura central, a figura chave na realizao do delito, por meio de sua influncia decisiva para o acontecimento24. Para Roxin, portanto, o domnio do fato critrio suficiente para determinar a autoria. b) Welzel reconhece as trs modalidades de autoria, a saber: a autoria direta, a autoria mediata e a coautoria. Porm, por entender que o conceito de domnio do fato um pressuposto ftico da autoria, no faz diferenciao entre espcies ou formas de domnio do fato. Roxin, diferentemente, desenvolve um modelo tripartido de domnio do fato, distinguindo entre as formas de domnio da ao, domnio funcional e domnio da vontade, os quais correspondem, respectivamente, autoria direta, coautoria e autoria mediata.25 c) Para Welzel, a melhor representao visual da coautoria a da diviso de papeis (Rollenverteilung) em um plano elaborado conjuntamente26, ou, ainda, a diviso de trabalho (Arbeitsteilung)27, sendo a deciso conjunta e a execuo conjunta do fato seus requisitos imprescindveis. Esclarece, contudo, que o coautor no possui o poder de deciso sobre a realizao do fato integral, mas to s sobre a sua parcela de contribuio. Embora Roxin parea coincidir com Welzel, quando afirma que a coautoria ocorre com a realizao do tipo por meio da execuo pela diviso de trabalhos (arbeitsteilige Ausfhrung)28, de forma absolutamente diversa estabelece trs pressupostos para a coautoria, a saber29: 1) a existncia de um planejamento conjunto do fato; 2) a execuo conjunta do fato, no sendo suficiente uma participao na preparao (diferentemente de Welzel, para quem a contribuio do coautor pode consistir em ato preparatrio e de apoio30); 3) a prtica de uma contribuio essencial etapa da execuo31. d) Para Welzel, a autoria mediata consubstancia-se na ideia do domnio final do fato por parte daquele que est por trs do instrumento (Werkzeug), sendo que este ltimo em hiptese alguma pode possuir o domnio pleno do fato, caso contrrio, aquele que est por trs ser mero indutor ou instigador.32 Para a autoria mediata, de modo algum exigvel que o autor se sirva de um instrumento mecnico realmente eficaz, visto que ele pode adaptar em certa extenso a conduta final de outrem sua atividade final, desde que conserve ao contrrio do outro o pleno domnio do fato sobre o fato integral33. Com isso, deixa claro que a autoria mediata pode se dar no caso de o instrumento ser um indivduo que atua

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    de maneira consciente ou inconscientemente final, tanto punvel quanto impunvel, e desde que o autor mediato tenha o domnio integral do fato. Roxin, por seu turno, considera que a autoria mediata ocorre quando um indivduo se serve de outro (um intermediador) para atingir seus fins, de tal modo que, por meio da instrumentalizao deste (isto , de seu uso como instrumento), aquele domina o acontecimento de forma mediata (como homem de trs).34 Assim, esclarece que, enquanto no domnio da ao a realizao da conduta tpica pelas prprias mos fundamenta a autoria, na autoria mediata falta justamente uma conduta executria por parte do homem de trs, de maneira que o domnio do fato somente pode se basear no poder de conduzir a vontade, e isto, alis, s se pode imaginar no caso de uso de um indivduo que no atua livremente35, o qual, ao contrrio do preconizado por Welzel, um sujeito impunvel (embora, mais recentemente, Roxin tenha modificado sua concepo no tocante ao domnio do fato pelo domnio da vontade em virtude de aparatos organizados de poder, admitindo, assim, um instrumento punvel fungvel). O esclarecimento de tais diferenas, por ora, j so suficientes para identificar os principais equvocos cometidos pela doutrina brasileira. Assim, por exemplo, Batista comete inmeras falhas, pois designa a teoria do domnio do fato de critrio... final-objetivo e refere ter sido elaborada por Welzel, e mais tarde por Gallas e Maurach, bem como ressalta que, atualmente, conta com o endosso, entre outros, de Roxin...36. Quanto a isso seria suficiente ressaltar que Roxin afirmou ser sua teoria construda a partir do rechao concepo finalista, de modo que Batista j estaria incorreto em sua afirmao (no h endosso por parte de Roxin). Porm, tratar-se-ia de uma crtica limitada, sobretudo, em face de equvocos maiores cometidos pelo jurista brasileiro, a saber: refere Batista que autor direto aquele que tem o... domnio da ao... pela pessoal e dolosa realizao da conduta tpica, com isso, o jurista brasileiro faz referncia categoria desenvolvida por Roxin, qual seja, o domnio da ao, porm, prossegue afirmando que o domnio do fato (na forma de domnio da ao) apenas o elemento geral do autor..., ao qual se devero agregar, como ensina Welzel, os elementos especiais da autoria37. Evidentemente, trata-se de uma confuso inaceitvel, uma vez que o jurista brasileiro funde duas concepes que no podem ser fundidas. Como j referido, para Roxin, o de domnio do fato critrio suficiente para determinar a autoria enquanto, para Welzel, critrio complementar. A incongruncia, no entanto, corroborada a partir da anlise elaborada por Batista acerca da coautoria, pois afirma que o fundamento dessa (co-) autoria reside tambm no domnio do fato, especializado agora naquilo que Roxin chamou de domnio funcional do fato e, logo aps, ressalta que a co-autoria se sujeita a duas exigncias: a comum resoluo para o fato e a comum (sob diviso de trabalho) realizao dessa resoluo38, os quais so delineados por Welzel. Trata-se de uma absoluta contradio, pois Roxin, diferentemente de Welzel, estabelece trs pressupostos para a coautoria, a saber: 1) a existncia de um planejamento conjunto do fato; 2) a execuo conjunta do fato, no sendo suficiente uma participao na preparao; 3) a prtica de uma contribuio essencial etapa da execuo39. Em sentido semelhante cumpre destacar a confuso causada por Cirino dos Santos, o qual afirma ter sido a teoria do domnio do fato desenvolvida essencialmente por Roxin embora, anteriormente, Welzel tivesse falado em domnio final do fato40. O equvoco na afirmao est em que Welzel no apenas falou em domnio final do fato, pois o jurista alemo criou, de forma

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    absolutamente original e coerente, a primeira teoria propriamente dita do domnio do fato, sendo que isto foi reconhecido no s pelo prprio Roxin como pela doutrina alem em geral.41 Alm disso, ao abordar a coautoria, Cirino dos Santos refere que a realizao comum do fato constituda pelas contribuies objetivas de cada co-autor para o acontecimento total, que explicam o domnio funcional do tipo de injusto. Trata-se de afirmao totalmente equivocada, pois assim como Batista Cirino dos Santos emprega o critrio desenvolvido por Welzel, da realizao comum (gemeinsame Tatausfhrung)42, e o vincula ao conceito de domnio funcional do fato (funktionelle Tatherrschaft), o qual categoria jurdica criada por Roxin e no contempla aquele critrio welzeliano43. O mesmo equvoco, inclusive, cometido por Greco, o qual, apesar de tomar como diretriz a teoria welzeliana, faz referncia ideia de domnio funcional do fato44, sendo que esta forma de domnio jamais foi referida por Welzel (como dito anteriormente, trata-se de categoria jurdica prpria da concepo de Roxin). Logo, tanto Batista, quanto Cirino dos Santos e Greco, ao lado dos quais insere-se Galvo e Mayrink da Costa45, de forma inconcebvel, misturam ambas as teorias. Todavia, os equvocos de Greco no ficam restritos a este aspecto, pois afirma, ainda, que a teoria do domnio do fato considerada objetivo-subjetiva, o que, desde o ponto de vista adotado (ressalte-se, Greco parte da teoria do domnio final do fato) incorreto, pois Welzel no considera o domnio do fato como dotado de aspecto objetivo-subjetivo, mas sim como pressuposto ftico (material) da autoria46. Incongruncia maior parece cometer Rgis Prado, o qual, apesar de declarado finalista, mistura na integralidade as concepes de Welzel, Maurach e Roxin, sendo oportuno transcrever sua afirmao, devido gravidade dos equvocos:

    c) Teoria do domnio do fato, objetiva final ou objetiva-subjetiva de base finalista (Welzel, Maurach), conceitua autor como aquele que tem o domnio final do fato (conceito regulativo), enquanto o partcipe carece desse domnio. O princpio do domnio do fato significa que o autor final senhor e dono de sua deciso e execuo (...). Vale dizer: tomar nas mos o decorrer do acontecimento tpico compreendido pelo dolo. Pode ele se expressar em domnio da vontade (autor direto e mediato) e domnio funcional do fato (coautor).47

    O equvoco da afirmao propalada pelo jurista brasileiro causa perplexidade: de um lado, Rgis Prado cria uma colcha de retalhos (um tpico Frankenstein), pois funde as concepes de Welzel (domnio final do fato), Maurach (tomar nas mos o decorrer do acontecimento tpico compreendido pelo dolo) e Roxin (domnio da vontade... e domnio funcional...), o que terica e metodologicamente inadmissvel, sobretudo, porque tais concepes so absolutamente distintas, incompatveis entre si e, em muitos casos, conduzem a resultados distintos48; de outro lado, afirma que a ideia de domnio da vontade expressa a autoria direta e mediata, de modo que isso deixa claro que Rgis Prado desconhece a tripartio elaborada por Roxin entre domnio da ao (autoria direta), domnio da vontade (autoria mediata) e domnio funcional (coautoria)49. Por sua vez, Queiroz afirma ter sido a teoria do domnio do fato impulsionada por Welzel e Roxin, porm, deixa obscurecida sua posio em relao a uma destas

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    concepes. Em meio a esta obscuridade, o jurista brasileiro igualmente comete graves equvocos, pois afirma que a co-autoria , pois, uma forma de autoria, cuja peculiaridade consiste em que o domnio do fato unitrio comum a vrias pessoas e, diferentemente da participao, em que o partcipe atua com animus socii, ou seja, quer o fato como alheio, o coautor atua com animus auctoris, isto , ele quer o fato como prprio, de sorte que a diferena decisiva entre um e outro reside no mbito subjetivo50. A incongruncia da afirmao, ictu oculi, surpreende, pois o jurista brasileiro funde a ideia por ele referida de domnio do fato unitrio com os critrios da obsoleta teoria subjetiva (animus auctoris e animus socii), de Kstlin e Buri, a qual havia sido adotada pelo Tribunal do Reich, difundida por Kohlrausch e Lange, e veementemente combatida por Welzel51. No h como vincular os critrios da teoria subjetiva (animus auctoris e animus socii) com a teoria do domnio (final) fato, e isso, inclusive, sequer foi feito por Welzel ou por Roxin. Pois bem, a ausncia de um referencial terico-dogmtico a evidenciar as ntidas diferenciaes entre ambas as concepes, naturalmente, tem dificultado aos tribunais brasileiros a utilizao da teoria do domnio do fato como diretriz para delimitao da autoria e de suas respectivas modalidades (autoria imediata, mediata e coautoria). A consequncia disso radica em que, assim como ocorre com o BGH alemo, de um lado, no se encontra homogeneidade nos critrios utilizados pelos tribunais brasileiros, e, de outro lado, evidenciada certa incongruncia na utilizao dos prprios critrios dogmticos estabelecidos, seja por Welzel, seja por Roxin, e isso, inegavelmente, dificulta a controlabilidade dos atos jurisdicionais. Ademais, na diferenciao entre as modalidades clssicas de autoria (imediata, mediata e coautoria), verifica-se a utilizao, por parte dos tribunais nacionais, de ideias de domnio do fato, mas no necessariamente de uma teoria unssona e coerente como fundamento de suas decises, que possibilite caracterizar a autoria de forma legtima. Com isso, quer se dizer que, algumas vezes, apenas mencionada a expresso domnio do fato sem ser apresentada uma fundamentao da autoria com base em critrios que informem quando o indivduo detm tal domnio e, outras vezes, assim como ocorre na doutrina, conjugam-se critrios das teorias de Roxin e Welzel.52 O exame de alguns casos extrados da jurisprudncia brasileira53, por conseguinte, permitir observar claramente esta problemtica.

    1.2. A jurisprudncia

    Um exame mais detido da jurisprudncia brasileira, como referido, permitir observar facilmente as dificuldades encontradas, no que diz respeito aplicao da teoria do domnio do fato aos casos concretos submetidos apreciao do aparato jurisdicional estatal. Alis, permitir concluir que os dficits evidenciados ao longo da deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal no famigerado caso mensalo, no so nada mais do que o ntido reflexo dos equvocos h muito cometidos pela doutrina e jurisprudncia brasileiras. Nesse sentido, cumpre analisar alguns casos paradigmticos, que demonstram claramente tais dificuldades54.

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    1.2.1. Homicdio qualificado e ocultao de cadver Ao julgar Recurso de Apelao Criminal interposto contra deciso condenatria de primeiro grau, o Tribunal de Justia do Estado de Alagoas utilizou o domnio do fato para fundamentar a coautoria em hiptese de crime de homicdio qualificado. No caso, o policial E, juntamente com N, tambm policial, em abordagem a B, efetuou um disparo para assust-lo, no entanto, B foi atingido. Temendo lev-lo ao hospital local por serem muito conhecidos, os policiais decidiram lev-lo a um hospital vizinho. Contudo, no trajeto, enquanto N dirigia o veculo, E efetuou vrios outros disparos contra B, que causaram a sua morte. Em virtude disso, E e N desovaram o corpo de B em um matagal beira da estrada. Ambos restaram denunciados e condenados pela prtica dos crimes tipificados nos arts. 121, 2., II e 211, combinados com o art. 29, do CP, em coautoria. No recurso interposto por N, o Tribunal entendeu que o s fato de no ter ele puxado o gatilho no afasta, em absoluto, a co-autoria, visto que participou da esdrxula deciso de levar a vtima, contribuindo decisivamente para o desfecho do delito, porquanto tinha o poder (domnio) de sustar a evoluo criminosa a qualquer instante, mas assim no o fez e com tudo aquiesceu55. Em tal situao o Tribunal aplicou parcialmente a concepo de domnio final do fato de Welzel, pois levou em conta o critrio da deciso comum em relao ao resultado perpetrado por E e N, (seja porque decidiram conjuntamente levar ao hospital vizinho, seja porque, aps, conjuntamente desovaram o corpo em matagal), bem como o critrio da execuo comum, ao ressaltar que, embora no tenha acionado o gatilho da arma da fogo (ato executrio), N realizou atos de apoio, os quais permitiam caracteriz-lo como codetentor da deciso conjunta do fato. Todavia, o critrio do poder de sustar a evoluo criminosa, utilizado pelo Tribunal, no coaduna com a ideia de domnio final do fato, mas sim com a concepo desenvolvida por Maurach, no sentido de deter nas mos o curso do acontecimento tpico, que se traduz pelo deixar prosseguir, impedir ou interromper a realizao tpica56. Alm disso, a ideia de contribuio decisiva para o desfecho do delito coaduna com a ideia de contribuio essencial etapa de execuo ou de pressuposto imprescindvel (unerlliche Voraussetzung), criada por Roxin57. Logo, h uma conjugao de critrios, que no permitem dizer se o tribunal adotou especificamente uma ou outra concepo.

    1.2.2. Roubo majorado

    O Tribunal de Justia do Estado de Alagoas tambm utilizou o domnio do fato para fundamentar a coautoria na hiptese de crime de roubo. No caso, aps ingerirem bebidas alcolicas, C e J dirigem-se a um ponto de txi da cidade e solicitam V, taxista, que os leve a determinado local. L chegando, com o intuito de roubar o automvel, J aponta uma arma de fogo para a cabea de V, enquanto C investe contra este com uma faca, ferindo-o no pescoo. Logo aps, fogem com o automvel para a cidade vizinha, onde so presos. C e J so denunciados e condenados pela prtica do crime tipificado no art. 157, 2., I e II do CP, em coautoria. O Tribunal entendeu ser autor do delito todo aquele que possui poder de deciso sobre a realizao do fato, decidindo acerca da prtica (se realiza) e da forma desta (como realizar), bem como que para ser configurada a

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    co-autoria, no se faz necessria a exata concretizao por parte dos agentes da hiptese normativa, bastando que exista a diviso das tarefas para atingir a finalidade vedada pelo sistema legal. No caso, C no tinha o controle do carro quando da fuga, nem foi ele que determinou vitima parar o automvel, porm, o fato de ter utilizado uma faca, colocando-a no pescoo da vtima e causando-lhe ferimento, evidencia que sua participao foi decisiva para a consumao do delito.58 Na presente situao, o Tribunal se equivocou quanto aos critrios welzelianos do domnio final do fato, pois utilizou o critrio prprio da autoria direta, a saber o poder de deciso sobre a realizao do fato, para delimitao da coautoria. Para Welzel, o coautor no possui o poder de deciso sobre a realizao do fato integral, mas o poder de deciso sobre a sua parcela de contribuio, da dizer que a coautoria assenta na deciso comum e na diviso de papis. Ademais, o critrio da participao decisiva no integra a concepo de domnio final do fato, mas sim a concepo de Roxin, como o terceiro elemento delineado pelo jurista alemo para caracterizao da coautoria, a saber, a relevncia da contribuio. O Tribunal, inclusive, no esclarece o porqu de a contribuio de C ser considerada decisiva face conduta de J, visto que C atuou com uma faca, quando a vtima j estava sob a mira da arma de fogo de J. Mesmo se se levasse em conta este ltimo critrio, para fins de coautoria, deveria ser demonstrada a imprescindibilidade da contribuio de C.

    1.2.3. Latrocnio

    O Tribunal de Justia do Estado de Rondnia, do mesmo modo, procurou utilizar o domnio do fato para fundamentar a coautoria em crimes contra a o patrimnio. No caso, L e V entraram na casa de P e M e anunciaram um assalto. Na ocasio, pediram vtima M para ficar parada, porm, quando esta se moveu em direo ao fogo, V, que portava uma arma de fogo, efetuou um disparou que atingiu sua cabea, matando-a instantaneamente. Assustada com a situao, a vtima P travou luta corporal e acabou matando o assaltante V, sendo que L fugiu do local levando um videocassete. L restou condenado pela prtica do crime tipificado no art. 157, 3. (final), do CP. Ao julgar o recurso interposto por L, o Tribunal entendeu que o agente tambm tinha o domnio do fato delituoso pela realizao conjunta da conduta criminosa, dentro do prvio ajuste e da colaborao material, ainda que seu comparsa tenha sido o nico autor dos disparos contra a vtima59. Em tal situao, apesar da manifestao concisa, o Tribunal utilizou a teoria do domnio final do fato, especificando o critrio da deciso comum (dentro do prvio ajuste) e o da realizao comum (realizao conjunta da conduta criminosa), mas no especificou o que se deveria entender por colaborao material, ou seja, no esclareceu se estas compreenderiam atos preparatrios, de apoio, ou atos propriamente executrios. Aqui, portanto, no houve incongruncia na aplicao dos critrios da respectiva teoria adotada, mas sim parca fundamentao no tocante espcie de contribuio. importante esclarecer tal aspecto, porque Welzel diferentemente de Roxin entende ser coautor tanto quem realiza uma ao de execuo, quanto quem realiza atos preparatrios e de apoio, mas desde que seja codetentor da deciso conjunta do fato.

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    1.2.4. Furto qualificado O Tribunal de Justia do Distrito Federal, seguindo no mesmo sentido, utilizou o domnio do fato para fundamentar a coautoria em crimes patrimoniais, como no caso a seguir: J aproximou-se do veculo VW pertencente a L, arrombou a porta e ingressou no seu interior, do qual subtraiu o aparelho de som automotivo. Com o bem em mos, J fugiu do local em um carro conduzido por F, que o aguardava. Em razo disso, J e F foram denunciados e condenados pela prtica do crime tipificado no art. 155, 4., IV do CP. Em recurso interposto por F, para fundamentar a coautoria o Tribunal afirmou que vem ganhando primazia nos tribunais a teoria do domnio do fato, idealizada por Claus Roxin, que considera tambm co-autor o agente que participa de um plano adredemente preparado, com diviso de tarefas, influindo, decisivamente, com a sua conduta, no resultado final do ilcito, e esclareceu que h relevncia causal significativa, quando o ru fica na situao de garante e na posio de quem se presta no s a levar o outro agente cena do crime, mas tambm a de lhe permitir, com a fuga, a consumao e o prprio exaurimento do crime60. No caso, o Tribunal, aplicando a teoria do domnio do fato de Roxin, especificou tanto o planejamento conjunto baseado na diviso de tarefas o qual se verifica pela atribuio da tarefa de assegurar a fuga, a F quanto a realizao conjunta, observando-se que, segundo Roxin, no necessrio que as contribuies dos diversos coautores devam ser realizadas ao mesmo tempo, nem mesmo necessria a presena no lugar da realizao do resultado.61 Porm, em relao ao terceiro pressuposto, a saber, a relevncia da contribuio, no foi suficientemente esclarecido se a conduta de F consistiu em um pressuposto imprescindvel (unerlliche Voraussetzung), no sentido de Roxin; e isso decisivo para fins de caracterizao da coautoria, pois, do contrrio, estar-se-ia diante de uma hiptese de participao.

    1.2.5. Roubo majorado

    Ao julgar Recurso de Apelao Criminal interposto contra deciso condenatria de primeiro grau, o Tribunal de Justia do Distrito Federal aplicou a teoria do domnio do fato, novamente, com o propsito de fundamentar a coautoria, ao seguinte caso: M, V e R subtraram, mediante ameaa com emprego de arma de fogo, R$ 7.000,00 e cheques da empresa L. Na ocasio, V, com o emprego de arma da fogo, intimidou as funcionrias S e I, enquanto M recolheu os valores. A participao de R, que era funcionrio da empresa, consistiu em informar a M e V o horrio mais adequado para a prtica do crime, em aguardar a chegada dos comparsas ao local simulando estar trabalhando e em indicar a localizao do escritrio onde os valores estavam guardados. Com isso, M, V e R foram condenados pela prtica do crime tipificado no art. 157, 2., I e II, combinado com o art. 29 do CP, na qualidade de coautores. O Tribunal entendeu que M atuou com domnio do fato, dividindo tarefas com seu comparsa, pois pouco importa se somente este portava arma de fogo, inclusive, entendeu que apesar da pluralidade de condutas, todas se revestiram de relevncia causal e se enquadraram diretamente no tipo descrito na denncia62. Na hiptese, o Tribunal utilizou a ideia de domnio do fato, de Roxin, para

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    fundamentar a coautoria, sendo que restou identificado o planejamento conjunto, sobretudo, em virtude da diviso da tarefas claramente delimitada entre os participantes. Todavia, no foram esclarecidos os pressupostos da execuo conjunta e da relevncia da contribuio. Em primeiro lugar, Roxin afirma que somente quem desempenha algum papel na execuo pode codomin-la63, porm, quem realiza alguma contribuio na etapa da preparao, ainda que ela seja importante, cede a execuo a outrem e, por conseguinte, renuncia ao seu domnio. Tal critrio no suficiente para delimitar a coautoria neste caso, pois no se pode afirmar com clareza que R tambm possua o domnio do fato. Sua participao apresentava muito mais um carter facilitador. Ademais, foi justamente o dficit resultante deste critrio que levou Roxin a desenvolver um terceiro, a saber, a relevncia da contribuio. Assim, em segundo lugar, o simples fato de o Tribunal referir que as condutas se revestiram de relevncia causal no suficiente, pois, de acordo com a teoria de Roxin, esta relevncia radica na imprescindibilidade da contribuio, e, no caso, ter-se-ia que indagar se o fato no teria se concretizado sem a contribuio de R. Por fim, o Tribunal afirmou que todas as condutas se enquadraram diretamente no tipo, mas, quanto a isso, deve-se fazer duas consideraes: a primeira radica no fato de que este critrio no integra a concepo de Roxin, e, a segunda, no fato de que a conduta de R no se enquadra no tipo penal referido (art. 157, 2., I e II do CP), de modo que no haveria que se falar em coautoria em relao a R. A partir de tais casos, observa-se que os tribunais tem utilizado critrios diversos para a determinao da coautoria, tais como a deciso conjunta64, a diviso de tarefas65, o poder de decidir sobre o se e o como realizar o fato e de interromp-lo66, a desnecessidade da prtica da conduta executria descrita no tipo67, a realizao conjunta da conduta criminosa68, a contribuio decisiva69 ou relevante70 para o resultado e o prvio ajuste. Portanto, os dficits decorrentes da inexistncia de coeso e uniformidade nos critrios utilizados so evidentes.

    2. APn 470 do STF: o caso mensalo

    Conforme foi possvel verificar at aqui, os equvocos praticados pela jurisprudncia brasileira, no que diz respeito ao emprego da teoria do domnio do fato para fins de delimitao da autoria, so evidentes, a ponto de no se poder afirmar se h uma concepo predominante, quais os critrios realmente adotados ou, inclusive, se a jurisprudncia se disps, deliberamente, a construir uma nova vertente (o que no parece ser o caso, devido falta de uniformidade e coeso verificada entre as decises). Logo, como referido inicialmente, o julgamento do famigerado caso mensalo no destoaria da confusa prxis jurisdicional brasileira at ento evidenciada. Porm, devido relevncia, complexidade e repercusso nacional e estrangeira do caso importante analisar de forma mais detida alguns aspectos da deciso proferida, mais especificamente, aqueles atinentes chamada teoria do domnio do fato. Pois bem, em 20 de julho de 2005 foi instaurado Inqurito perante o Supremo Tribunal Federal, para apurar esquema de corrupo e desvio de dinheiro pblico, caracterizado pelo pagamento mensal de propinas a membros do Congresso Nacional em troca de apoio ao governo federal, envolvendo tanto membros da cpula do governo quanto parlamentares. Com base na investigao realizada, o Ministrio Pblico Federal promoveu a acusao de 40 (quarenta)

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    indivduos em razo da prtica dos crimes de quadrilha ou bando (art. 288, do CP), peculato (art. 312, do CP), corrupo passiva (art. 317, do CP), corrupo ativa (art. 333, do CP), lavagem de dinheiro (Art. 1, V, VI e VII, da Lei n. 9.613/1998), gesto fraudulenta de instituio financeira e evaso de divisas (respectivamente, art. 4 e art. 22, pargrafo nico, da Lei n. 7.492/1986).71 Tal acusao foi recebida em 28 de agosto de 2007, pelo Supremo Tribunal Federal, e, por conseguinte, culminou na APn 470.72 Por ocasio do julgamento da referida ao penal, na tentativa (e no af) de proceder delimitao da autoria dos acusados, o Supremo Tribunal Federal utilizou de uma anomalia, a qual intitulou de teoria do domnio do fato. De forma absolutamente incongruente, ao longo de mais de oito mil pginas que integram o acrdo, a Corte fundiu teorias incompatveis entre si, no especificou os critrios que utilizou para nortear aquilo que denominou de domnio do fato, e, sobretudo, deixou de indicar analiticamente dados empricos hbeis a fundamentar o suposto domnio do fato enfatizado na deciso. De maneira surpreendente, a Corte tentou, inclusive, proceder a um retrospecto histrico sinttico da teoria do domnio do fato, sem sequer chegar ao seu contedo (o qual, no entanto, deveria ter sido o principal aspecto a ser discutido). Na deciso restou demonstrado de forma clara, que a teoria foi utilizada como simples retrica para fins de atribuio de responsabilidade. Descabe proceder a um exame minucioso e analtico do acrdo em sua integralidade, sobretudo, em virtude da sua dimenso estratosfrica, de modo que suficiente, para os fins aqui pretendidos, analisar as principais passagens em que se faz meno teoria do domnio do fato. Como primeiro aspecto a ser analisado, pode-se apontar a afirmao de que a teoria do domnio fato constitui uma decorrncia da teoria finalista de Hans Welzel73. Tal assertiva equivocada e incoerente, por duas razes: a) em primeiro lugar, tal afirmao no pode ser utilizada em relao teoria do domnio do fato de modo geral, mas to s em relao teoria do domnio final do fato, conforme originariamente desenvolvida por Welzel. Isso, porque a teoria elaborada por Roxin no decorrncia da teoria finalista, ao contrrio, foi desenvolvida justamente a partir do rechao absoluto concepo de domnio final do fato, de Welzel74; b) em segundo lugar, ao longo da deciso h referncia constante concepo de Roxin e s formas de domnio do fato por ele desenvolvidas e denominadas (principalmente, o chamado domnio funcional), de modo que, evidentemente, a deciso procurou encontrar amparo muito mais na concepo de Roxin do que na de Welzel. Logo, deveria ter sido levada em conta a estrutura dogmtica delineada por Roxin e, com isso, observado que a mesma no coaduna com o sistema de Welzel. Um exame mais acurado, inclusive, permite observar que a Corte aderiu, de forma expressa, concepo delineada por Roxin, conforme se verifica a partir do seguinte excerto da deciso:

    Com efeito, a moderna dogmtica jurdico-penal apregoa que os coautores so aqueles que, possuindo domnio funcional do fato, desempenham uma participao importante e necessria ao cometimento do ilcito penal. Nas palavras de Claus Roxin, principal artfice desta teoria do domnio funcional do fato:

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    se pone de manifiesto que entre las dos regiones perifricas del dominio de la accin y de la voluntad, que atienden unilateralmente slo al hacer exterior o al efecto psquico, se extiende um amplio espacio de actividad delictiva, dentro del cual el agente no tiene ni otra classe de dominio y sin embargo cabe plantear su autoria, esto es, los supuestos de participacin activa em la realizacin del delito em los que la accin tpica la lleva a cabo outro75.

    Todavia, a incongruncia da deciso como um todo manifesta, pois, apesar de haver inmeras referncias em seu teor, no sentido de se adotar a teoria de Roxin, encontram-se vrias passagens nas quais, ao tentar fundamentar a autoria com base no domnio do fato, procede-se a um mixtum compositum entre a concepo de Welzel e a forma de domnio do fato em virtude de aparatos organizados de poder (Organisationsherrschaft), de Roxin76, in verbis:

    JOS DIRCEU detinha o domnio final dos fatos. Em razo do cargo elevadssimo que exercia poca dos fatos, o acusado JOS DIRCEU atuava em reunies fechadas, jantares, encontros secretos, executando os atos de comando, direo, controle e garantia do sucesso do esquema criminoso, executado mediante diviso de tarefas em que as funes de cada corru encontrava ntida definio.77

    A afirmao de que um determinado indivduo detinha o domnio final dos fatos, supe uma tomada de posio pela concepo welzeliana, a qual absolutamente incompatvel com a ideia de domnio do fato pelo domnio da vontade em virtude de aparatos organizados de poder (domnio por organizao), sendo que a ideia de cargo elevadssimo, igualmente citada na deciso, utilizada claramente no sentido referido por Bloy, de que uma conduta coordenada verticalmente em regra aponte em direo autoria mediata78, cujo argumento foi desenvolvido com a finalidade de fundamentar a teoria do domnio por organizao, de Roxin. Ademais, a fundamentao no sentido de que o acusado executava atos de comando, direo, controle e garantia do sucesso do esquema criminoso se aproxima da concepo de Bottke, do domnio da realizao (Gestaltungsherrschaft) desde uma posio relevante, em vez de domnio da vontade, o qual afirma existir autoria mediata quando dentro de um aparato organizado de poder, com atitude crimingena global, como detentor de posio superior, d instruo a um subordinado para cometer um crime que, devido atitude criminosa do coletivo, j estabelecida, ao poder de mando e disposio, muito provavelmente pode contar com o seu cumprimento79. O carter teratolgico da deciso decorrente da mais absoluta falta de percepo das diferenas terminolgicas e, sobretudo, terico-dogmticas acentuado pelo fato de o Supremo Tribunal Federal utilizar como referencial terico para a teoria do domnio do fato, que afirma ter adotado (de Roxin), a obra de autores brasileiros declaradamente finalistas, os quais, inclusive, como j demonstrado supra, elaboram um mixtum compositum das teorias existentes (Greco, Cirino dos Santos, Batista e Rgis Prado). Em outras palavras, a deciso embasada em doutrina brasileira orientada pela concepo welzeliana, mas, com

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    isso, procura fundamentar a teoria a partir dos critrios desenvolvidos por Roxin (o que constitui uma contradictio in adjecto). Pode-se observar, por exemplo, que a Corte fundamenta a deciso, ainda, na doutrina de Cezar Bitencourt, o qual segue expressamente a concepo de Welzel e sequer faz referncia, em sua obra, teoria do domnio do fato de Roxin. Assim, refere a Corte:

    Ensina, ainda, CZAR ROBERTO BITENCOURT: 5.3. Teoria do domnio do fato (...) Autor, segundo esta teoria, quem tem o poder de deciso sobre a realizao do fato. no s o que executa a ao tpica como tambm aquele que se utiliza de outrem, como instrumento, para a execuo da infrao penal (autoria mediata). [...] A teoria do domnio do fato tem as seguintes consequncias: 1) a realizao pessoal e plenamente responsvel de todos os elementos do tipo fundamentam sempre a autoria; 2) autor quem executa o fato utilizando outrem como instrumento (autoria mediata); 3) autor o co-autor que realiza uma parte necessria do plano global (domnio funcional do fato), embora no seja um ato tpico, desde que integre a resoluo delitiva comum.80

    Todavia, observa-se que, apesar de no fazer referncia Roxin, o jurista brasileiro menciona a forma de domnio funcional por este ltimo criada, cometendo, assim, o mesmo equvoco de Greco, Cirino dos Santos, Rgis Prado, Galvo e Mayrink81. Ademais, para fundamentar a responsabilidade penal dos acusados, a Corte utilizou de entendimento obsoleto, que se orienta por critrio absolutamente inaceitvel.82 Trata-se do critrio da presuno de participao, o qual conduz responsabilidade penal objetiva dos acusados83 e que a Corte utilizou sob o argumento de que aquele que integra o quadro social da empresa, na condio de gestor ou administrador, tem o domnio do fato e, por conseguinte, autor; vejamos:

    Presumidamente, aos detentores do controle das atividades do Banco Rural, conforme dispe o ato institucional da pessoa jurdica, h de se imputar a deciso (ao final) do crime. Nessa ao coletiva dos dirigentes interessante a lio de CLAUS ROXIN sobre a configurao do domnio do fato[...]84.

    Este critrio frise-se, atualmente superado foi estabelecido h muito tempo pela jurisprudncia brasileira, a partir de uma interpretao inadequada do art. 25 da Lei n. 7.492/1986 e do art. 11, da Lei n. 8.137/1990, e, portanto, deve ser rechaado85, pois o domnio do fato deve ser aferido materialmente e no com base em presuno. Alm disso, em um Estado Democrtico de Direito no se pode conceber a atribuio de responsabilidade a gestores se no foi averiguado e devidamente comprovado o exerccio efetivo dos poderes de gesto que lhes eram atribudos (inclusive, tal aspecto rechaado pela prpria legislao vigente86). Alis, como j afirmou Oliveira, a responsabilidade penal no pode ser ficta, presumida, diversa daquela proveniente da prpria conduta do agente e de sua postura psicolgica em relao ao evento delituoso87. Portanto, no se pode

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    admitir na ordem jurdica brasileira a presuno de domnio do fato, pois a simples disposio de ato institucional ou contrato social constitutivo de uma organizao, indicando quem so gestores, no atribui aos mesmos o efetivo poder de conduo do fato delitivo. De outra sorte, observa-se que a Corte sequer conseguiu situar o domnio do fato na estrutura do conceito analtico de crime, chegando esdrxula afirmao de que o domnio do fato consiste em elemento da culpabilidade, ao referir

    [...] o fato de se tratar de empregada e, como tal, de trabalhadora subordinada, e de no dispor de poderes sobre o patrimnio da sociedade empresria no afasta, isoladamente, o domnio do fato delitivo, elemento da culpabilidade88.

    Trata-se de equvoco inadmissvel, sobretudo, em um caso desta magnitude, pois na dogmtica jurdico-penal, a nica referncia a mencionar o domnio do fato como pressuposto da culpabilidade est em Hegler, o qual, em 1915, afirmou que somente age com culpabilidade quem tem o domnio do fato, porm, o jurista no utilizou a ideia de domnio do fato como critrio de delimitao da autoria.89 Logo, procedendo transcrio de passagens doutrinrias absolutamente incompatveis entre si, a Corte acreditou fundamentar a autoria dos acusados, quando sequer fez referncia ao contedo da teoria do domnio do fato e aos critrios utilizados para afirmar se e por que algum detinha o domnio do fato. Isso fica evidenciado, sobretudo, em razo de que, em determinado momento, orientando-se nitidamente por uma concepo welzeliana, afirma-se que um dos acusados detinha o domnio final dos fatos e, logo em seguida, afirma-se que o mesmo acusado detinha o domnio funcional dos fatos. Os problemas identificados na deciso se acentuaram pelo fato de a Corte utilizar como referencial terico-dogmtico a obra de Rgis Prado, o qual, como j referido, confunde totalmente as concepes de Welzel e Roxin. Para compreender tal afirmao, suficiente observar o seguinte excerto do acrdo:

    importante destacar, neste ponto, fragmento da lio exposta por LUIZ REGIS PRADO (Curso de Direito Penal Brasileiro, vol. 1/475-476, item n. 2, 6 ed., 2006, RT), na qual, com muita propriedade, enfocou a matria ora em exame: e) Teoria objetiva final, objetiva-subjetiva ou do domnio do fato de base finalista, conceitua autor como aquele que tem o domnio final do fato (conceito regulativo), enquanto o partcipe carece desse domnio. O princpio do domnio do fato significa tomar nas mos o decorrer do acontecimento tpico compreendido pelo dolo. Pode ele se expressar em domnio da vontade (autor direto e mediato) e domnio funcional do fato (co-autor). Tem-se como autor aquele que domina finalmente a realizao do tipo de injusto. Co-autor aquele que, de acordo com um plano delitivo, presta contribuio independente, essencial prtica do delito no obrigatoriamente em sua execuo.

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    A situao somente no seria pior se o citado autor no tivesse cometido o gravssimo equvoco de atribuir teoria do domnio final do fato (de Welzel) a diviso entre as formas de domnio da vontade e domnio funcional. Welzel jamais fez meno s formas de domnio da vontade e domnio funcional em sua teoria do domnio final do fato. Logo, v-se que a prpria Corte foi induzida em erro, devido aos graves equvocos cometidos, sobretudo, pela doutrina ptria, pois, embora deva-se a Roxin o mrito de ter elaborado a diviso entre as formas de domnio da ao, domnio da vontade e domnio funcional90, a doutrina ptria insiste em atribu-las Welzel.

    3. Incompatibilidade da teoria do domnio do fato com a ordem jurdica brasileira Como se no bastassem as incongruncias e os equvocos cometidos ao longo da deciso proferida pelo STF na APn 470, no tocante ao emprego da teoria do domnio do fato, maior gravidade apresenta a afirmao da Corte no sentido de que a teoria do domnio do fato, de Roxin, no ofende o ordenamento brasileiro, ao contrrio, revela-se compatvel com a disciplina que o nosso Cdigo Penal estabeleceu e que a adoo, pela legislao brasileira, da teoria unitria em matria de concurso de pessoas no afasta a possibilidade de reconhecimento, em nosso sistema jurdico-penal, da teoria do domnio do fato91. Tal afirmao tambm encontra respaldo na doutrina brasileira, pois, Batista, ao analisar a teoria do domnio do fato de Roxin, afirma que para o direito penal brasileiro, nenhum obstculo terico existe contra a utilizao desse critrio para os crimes comissivos dolosos92. Evidentemente, o Cdigo Penal brasileiro de 1940, ao dispor no art. 25 atual art. 29 que quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas adotou um sistema unitrio de autor.93 Apesar de o legislador parecer, com isso, estar equiparando todos os participantes do crime figura de autores, certo que a parificao legal no tem o condo de fazer desaparecer as diferenas reais que distinguem as vrias formas de participao, uma vez que, como j esclareceu Esther Ferraz, so, todas essas, diferenas reais que a lei pode ignorar sem, contudo, ter foras para eliminar, bem como, porque tal diferenciao importante para os efeitos da aplicao da sano punitiva94. Todavia, a opo por um sistema unitrio desenvolvido originariamente em 1828 por Stbel foi uma consequncia inevitvel da influncia italiana sobre a a doutrina e a legislao brasileira da poca. Inclusive, tal opo foi mantida no art. 29 do CP (alterado pela Lei n 7.209/1984), ao dispor que quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade95. Embora o legislador brasileiro tenha adotado o sistema unitrio, tambm deixou claro dois aspectos: em primeiro lugar, que o sistema unitrio no incompatvel com a distino entre as modalidades de autoria e participao; e, em segundo lugar, que, apesar de a legislao no definir os conceitos, apresentou alguns critrios, os quais devem nortear a doutrina nessa tarefa. Da dizer Mestieri ser a referncia culpabilidade, disposta no final do art. 29, uma clusula salvatria96 frente aos excessos a que poderia levar uma interpretao radicalizante orientada por uma concepo parificadora, e que, em virtude disso, o legislador teria adotado uma teoria unitria temperada97. Todavia, cumpre observar que a denominao teoria unitria temperada,

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    referida por Mestieri, no consistiu em uma nova teoria, mas uma simples forma de designar uma concepo peculiar, divergente daquela apresentada originariamente por Stbel e adotada em 1940 no Cdigo Penal brasileiro. Isso, evidentemente, deve-se ao fato de que a doutrina brasileira poca da reforma da Parte Geral (1984) desconhecia a tradicional distino entre sistema unitrio formal e sistema unitrio funcional, cuja diviso e denominao havia sido elaborada por Diethelm Kienapfel, em 197198. Como sistema unitrio formal o jurista denomina o sistema unitrio de autor que admite expressamente como consequncia a unificao de todas as formas de cometimento do fato e renuncia s diferenciaes conceituais-categoriais no plano da tipicidade. Tal sistema elimina as diferenas valorativas e existenciais entre as tradicionais formas de autoria e participao. O sistema unitrio funcional, assim como o formal, renuncia a qualquer diviso valorativa de determinadas forma de cometimento do fato, mas, ao contrrio deste, no renuncia sua diferenciao conceitual99. Logo, a ordem jurdico-penal brasileira adotou um sistema unitrio funcional, e somente neste sentido pode ser entendida a chamada teoria unitria temperada. Esclarecido este aspecto, cumpre responder questo se um sistema unitrio admite a teoria do domnio do fato. Dois fatores conduzem a uma resposta para esta questo, a saber: em primeiro lugar, Roxin no s rechaa categoricamente a adoo de um sistema unitrio100, como esclarece que desenvolveu sua teoria (do domnio do fato) sobre o pilar do sistema diferenciador; em segundo lugar, a concepo de domnio do fato (tanto finalista quanto funcionalista-normativista) est assentada no absoluto rechao a premissas causais-naturalistas, as quais, diferentemente, so o pilar de sustentao do sistema unitrio. Por conseguinte, no h como transpor a teoria do domnio do fato ao plano brasileiro, face sua absoluta incompatibilidade com a ordem jurdica vigente e com a opo do legislador brasileiro por um sistema unitrio funcional. Com isso, verifica-se o total desconhecimento tanto da doutrina brasileira, quanto da jurisprudncia, acerca do absoluto rechao por parte de Roxin ao sistema unitrio de autor, o qual foi recepcionado pelo Cdigo Penal brasileiro, e, principalmente, que a teoria do penalista alemo foi criada tendo em vista o sistema diferenciador adotado pelo Cdigo Penal alemo.101

    4. CONCLUSO

    O exame realizado at aqui permite concluir que a deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da APn 470, no adotou a teoria do domnio final do fato, desenvolvida por Welzel, nem a teoria do domnio do fato, desenvolvida por Roxin, mas sim, utilizou uma anomalia resultante da conjugao dos critrios de ambas as concepes, o que conduziu a uma absoluta contradio. Ademais, tal equvoco foi decorrente da prpria dificuldade que a doutrina brasileira apresentou (e apresenta) no tocante compreenso de ambas as concepes e de suas diferenciaes, o que, inevitavelmente, se refletiu em uma prxis jurisdicional incongruente e, por ora, em uma deciso absolutante incorreta. Por fim, cabe ter em vista que a teoria do domnio do fato de Roxin no compatvel com a ordem jurdico-penal brasileira, em virtude da opo do legislador brasileiro por um sistema unitrio funcional no tocante ao concurso de pessoas. Todavia, isso no implica o rechao ideia de domnio do fato, mas a necessidade de construo de uma teoria compatvel com a ordem jurdica

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    nacional.

    REFERNCIAS

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    1 Assim, por exemplo, GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal, Parte Geral. So

    Paulo: mpetus, 2012, vol. I. p. 422, o qual comete vrios equvocos ao fundir critrios e

    conceitos inerentes s concepes de Welzel e Roxin, equvocos tambm claramente

    perceptveis em BATISTA, Nilo. Concurso de agentes. 3. ed., Rio de Janeiro: Lumen

    Juris, 2005. p. 101; SANTOS, Juarez Cirino. A moderna teoria do fato punvel. 3. ed.,

    Curitiba: IPCP/Lumen Juris, 2004. p. 275 e s.; SANTOS, Juarez Cirino. Direito Penal,

    Parte Geral. 2. ed., Curitiba: IPCP/Lumen Juris, 2007. p. 353 e s.; tambm PRADO,

    Luiz Rgis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9. ed., So Paulo: Revista dos Tribunais,

    2010, vol. 1. p. 461; situao mais grave encontra-se em REALE JNIOR, Miguel.

    Instituies de Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, vol. I, 2002. p. 315

    e ss., o qual utiliza a expresso domnio do fato com o propsito de delimitar a autoria,

    porm, dialoga com Welzel, Roxin, Jakobs e outros, sem sequer especificar seu ponto

    de partida, qual seja, o que se deve entender por domnio do fato. 2 Assim, por exemplo, reiteradas decises do Tribunal de Justia do Estado do Rio

    Grande do Sul (no que segue TJRS): Recurso em Sentido Estrito n 70011117629, julgado em 19/05/2005: o processo no um fim em si mesmo nem serve de palco para discusses acadmicas; bem como Habeas Corpus n 70052941077, julgado em 20/02/2013; Habeas Corpus n 70057208472, julgado em 11/12/2013; Habeas Corpus

    n 70057686677, julgado em 18/12/2013; Habeas Corpus n 70058088691, julgado em

    29/01/2014; Habeas Corpus n 70058394966, julgado em 26/02/2014; Habeas Corpus

    n 70058332800, julgado em 26/02/2014; disponveis em www.tjrs.jus.br. 3 Veja-se, por exemplo, o desvirtuamento da teoria do domnio por organizao

    (Organisationsherrschaft) pelo BGH ao aplica-l aos chamados crimes empresariais, entendimento j expressamente rechaado por ROXIN, Claus. O domnio por

    organizao como forma independente de autoria mediata, Trad. Pablo Rodrigo Alflen,

    Panptica. Law E-Journal, n 04, 2009, p. 91 e ss., disponvel em

    www.panoptica.org; compare a respeito da posio do BGH: BRAMSEN, Joerg;

    APEL, Simon. Anstiftung oder Tterschaft? Organisationsherrschaft in Wirtschaftsunternehmen. ZJS, n 03, 2008. p. 256; fundamental URBAN, Carolin.

    Mittelbare Tterschaft kraft Organisationsherrschaft, Eine Studie zu Konzeption und

    Anwendbarkeit, insbesondere im Hinblick auf Wirtschaftsunternehmen. 1. Aufl.,

    Gttingen: V&R unipress, 2004. p. 205 e ss.; RBENSTAHL, Markus. Die

    bertragung der Grudstze zur Tatherrschaft kraft Organisationsherrschaft auf

    Unternehmen durch den BGH. HRRS, n 10, 2003. p. 210; tambm ROTSCH, Thomas.

    Tatherrschaft kraft Organisationsherrschaft. ZStW, n 112, Heft 3, 2000. p. 536 e s.;

    ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. So Paulo: Saraiva, 2014. p. 147 e

    ss. 4 Cite-se, por exemplo, TAVARES, Juarez. Teoria do injusto penal. 3. ed., Belo

    Horizonte: DelRey, 2003; bem como, em relao ao concurso de pessoas e a teoria do

    domnio do fato: MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Parte Geral.

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    158

    21. ed., So Paulo: Atlas, 2004. p. 229 e ss., o qual, apesar de abordar de maneira

    sucinta a teoria, segue uma posio coerente; DOTTI, Ren Ariel. O concurso de

    pessoas. Revista da Faculdade de Direito da UFG, n 5 (1-2), jan./dez., 1981, p. 77 e ss. 5 Cfe. KANTOROWICZ, Hermann. Der Strafgesetzentwurf und die Wissenschaft.

    Monatsschrift fr Kriminalpsychologie und Strafrechtsreform, Bd. 7, 1911, p. 257-344. 6 Cfe. SCHROEDER, Friedrich-Christian. Der Tter hinter dem Tter. 1. Aufl., Berlin:

    Duncker & Humblot, 1965, p. 59; no mesmo sentido ROXIN, Claus. Tterschaft und

    Tatherrschaft. 6. Aufl., Berlin: Walter de Gruyter, 1994. p. 60; igualmente SCHILD,

    Wolfgang. Tatherrschaftslehren. 1. Aufl., Frankfurt a. M.: Peter Lang, 2009, p. 9, o

    qual refere ainda que a teoria do domnio do fato foi fundada por Welzel, mas teve seus

    princpios em Hegler (1915), Frank e Goldschmidt (1931), Bruns (1932), H. v. Weber

    (1935), Eb. Schmidt (1936) e Lobe (1933). 7 Cfe. SCHROEDER, Fr.-Christian. Der Tter hinter dem Tter. p. 60; tambm

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 61-62. 8 Cfe. HAAS, Volker. Die Theorie der Tatherrschaft und ihre Grundlagen. Zur

    Notwendigkeit einer Revision der Beteiligungslehre. 1. Aufl., Berlin: Duncker &

    Humblot, 2008. p. 15; SCHROEDER, Fr.-Christian. Der Tter hinter dem Tter. p. 60-

    61; em sentido semelhante SCHILD, Wolfgang. Tatherrschaftslehren. p. 9, o qual

    menciona tambm a figura de Lobe como um dos precursores da teoria do domnio do

    fato. 9 Cfe. ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 63, fazendo referncia ao

    trabalho de von Weber intitulado Zum Aufbau des Strafrechtssystems, de 1935; ademais, SCHROEDER, Fr.-Christian. Tter hinter dem Tter. p. 61, o qual menciona,

    alm deste trabalho de von Weber citado por Roxin, o artigo intitulado Die garantierende Funktion der Strafgesetze, DJZ, 1931, p. 663 e ss. 10

    Cfe. ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 64; exame mais aprofundado

    em ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 81 e ss. 11

    Cfe. ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 64. Tal argumento procede,

    uma vez que a doutrina, de modo geral, ao se reportar a teoria do domnio do fato

    aponta Welzel como seu precursor, compare ainda HAAS, Volker. Die Theorie der

    Tatherrschaft und ihre Grundlagen. p. 15. 12

    WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts, In: Abhandlungen zum

    Strafrecht und zur Rechtsphilosophie, Berlin: Walter de Gruyter, 1975. p. 161 e ss.

    (publicado originariamente in ZStW, Bd, 58, 1939). 13

    Compare a tese de habilitao do autor, publicada em sua primeira edio no ano de

    1963: ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 25 e ss.; bem como ROXIN,

    Claus. Straftaten im Rahmen organisatorischer Machtapparate. GA, 1963. p. 192 e ss.;

    tambm ROXIN, Claus. Strafrecht, AT. Bd. II, Mnchen: Beck, 2003. p. 9 e ss.;

    ROXIN, Claus. Organisationsherrschaft und Tatentschlossenheit. ZIS, n 07, 2006, p.

    293 e ss.; ademais ROXIN, Claus. O domnio por organizao como forma

    independente de autoria mediata. p. 69 e ss. 14

    Cfe. ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 109. 15

    Cfe. ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 112. 16

    Cfe. SCHILD, Wolfgang. Tatherrschaftslehren. p. 33, o qual refere, alm das teorias

    de Welzel, Maurach, Gallas e Roxin, as variantes desenvolvidas por Schnemann,

    Bottke, Jakobs, Murmann/Bolowich/Noltenius, Renzikowski, Heinrich, Schneider, Otto,

    Buse/Schwab, Gropp/Ransiek/Schild/Schlsser, Sinn/Lampe, Schmidhuser, Luzn

    Pena/Diaz y Carcia, Jescheck/Rogall/Rudolphi, sendo que a estas acrescentamos nossa

    concepo em ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 184 e ss.

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    159

    17

    Com brevssima e lacunosa referncia histrica, veja BATISTA, Nilo. Concurso de

    agentes. p. X; sem qualquer referncia histria e com anlise absolutamente superficial

    da teoria, compare o opsculo de JESUS, Damsio de. Teoria do domnio do fato no

    concurso de pessoas. 3. ed., So Paulo: Saraiva, 2002. p. 17 e ss., no qual o autor sequer

    procura analisar o que se entende ou deve entender por domnio do fato e limita-se a referir que aderiu teoria do domnio do fato de Welzel. 18

    Cfe. WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 164; ademais WELZEL,

    Hans. Das Deutsche Strafrecht: Eine systematische Darstellung. 11. Aufl., Berlin:

    Walter de Gruyter, 1989. p. 82 a 84: senhor sobre o fato quem o realiza finalisticamente com base na sua deciso de vontade. Inclusive, este o fundamento pelo qual Bockelmann, que adere ao domnio do fato finalista, ressalta que o domnio final do fato uma caracterstica da autoria, compare BOCKELMANN, Paul. Strafrechtliche Untersuchungen. Gttingen: Verlag Otto Schwartz & Co, 1957. p. 52. 19

    Cfe. SCHROEDER, Fr.-Christian. Der Tter hinter dem Tter. p. 63, o qual refere

    que o domnio do fato um momento complementar, que se apresenta no mbito do concurso de pessoas junto ao conceito de ao; ainda HAAS, Volker. Die Theorie der Tatherrschaft und ihre Grundlagen, p. 15. 20

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 25, 108 e 527; uma anlise sinttica

    e crtica desta diretriz roxiniana em SCHILD, Wolfgang. Tterschaft als Tatherrschaft.

    p. 6 e ss. 21

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 9: immer ist er die Zentralgestalt der Ausfhrungshandlung. 22

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 10: Zentralgestalt des Deliktsvorganges ist, wer das zur Deliktsverwirklichung fhrende Geschehen beherrscht; igualmente ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 527: die Zentralgestalt wird durch die Merkmale der Tatherrschaft, der Sonderpflichtverletzung oder der Eigenhndigkeit

    gekennzeichnet (a figura central caracterizada pelos elementos do domnio do fato, da violao de um dever especial ou pelas prprias mos). 23

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 11: der die Tat beherrscht, d.h. bei der Tatbestandsverwirklichung die magebliche Rolle spielt. 24

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 14: Die Tatherrschaft hat und Tter ist, wer bei der Deliktsverwirklichung durch seinen mageblichen Einflu auf das Geschehen

    als Schlsselfigur, als Zentralgestalt erscheint. 25

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 527: o domnio do fato, que nos delitos comissivos dolosos determina o conceito geral de autor, ocorre nas formas de

    manifestao do domnio da ao, do domnio da vontade e do domnio do fato

    funcional; refere tambm que com o propsito de preencher este conceito da espcie de clusula geral e, antes de tudo, formal com contedo, ns encontramos os critrios do

    domnio da ao, do domnio da vontade e do domnio do fato funcional, que se

    apresentam todos os trs como formas de um princpio mais abrangente do domnio do

    fato (p. 335); veja a respeito, tambm, AMBOS, Kai. Tatherrschaft durch Willensherrschaft kraft organisatorischer Machtapparate. GA,1998, p. 226: Roxin distingue trs formas de domnio do fato (domnio do fato pela ao, pela vontade e

    funcional)...; tambm SCHILD, Wolfgang. Tterschaft als Tatherrschaft. p. 7. 26

    WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 171. 27

    WELZEL, Hans. Das Deutsche Strafrecht. p. 107. 28

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 77. 29

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 78. 30

    WELZEL, Hans. Das Deutsche Strafrecht. p. 90; em sentido semelhante, na doutrina

    alem contempornea, compare KINDHUSER, Urs. Strafrecht. AT. 2. Aufl., Baden-

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    160

    Baden: Nomos Verlag, 2002. p. 400-401, o qual afirma que, segundo o entendimento

    predominante, suficiente a colaborao na etapa de preparao quando esta possui

    significado decisivo para o decurso posterior e o xito do fato, sendo que s para a

    teoria do domnio do fato necessria a colaborao direta na realizao do fato; no

    mesmo sentido refere OTTO, Harro. Grundkurs Strafrecht. Allgemeine Strafrechtslehre.

    7. Aufl., Berlin: Walter de Gruyter, 2004. p. 268. 31

    Nesse sentido, tambm WESSELS, Johannes; BEULKE, Werner. Strafrecht. AT. Die

    Straftat und ihr Aufbau. 35. Aufl., Heidelberg: C.F.Mller Verlag, 2005. p. 191-192, os

    quais afirmam que para o xito do fato exigido de qualquer coautor uma colaborao

    essencial na etapa de execuo (wesentliche Mitwirkung im Ausfhrungsstadium). Este aspecto tem sido muito discutido na dogmtica jurdico-penal, sendo que Roxin

    tem plena conscincia disso, compare ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p.

    657, referindo que o ponto de diferenciao material decisivo no momento radica na questo se [...] basta para a fundamentao da coautoria uma participao na etapa da

    preparao ou se, para isso, exigvel uma colaborao complementar contribuio de

    outrem na prpria execuo. 32

    WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 165. 33

    WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 164. 34

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT, Bd. II. p. 22. 35

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 142. 36

    BATISTA, Nilo. Concurso de agentes. p. 69-70. 37

    BATISTA, Nilo. Concurso de agentes. p. 77. 38

    BATISTA, Nilo. Concurso de agentes. p. 102. 39

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 657. 40

    SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punvel. p. 275 e s.; SANTOS,

    Juarez Cirino. Direito Penal, PG. p. 353 e s. 41

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 64: difcil oferecer, afinal, um desenvolvimento histrico dogmtico a teoria do domnio do fato. Seu avano em

    direo a uma concepo predominante remonta, sem dvida, a Welzel e mais somente Welzel conferiu eficcia a esta teoria e finalmente ajudou a implement-la; compare, ainda, por todos Schild, Tatherrschaftslehren, p. 9: a teoria do domnio do fato... foi fundada por Hans Welzel em 1939. 42

    WELZEL, Hans. Das Deutsche Strafrecht. p. 108-109. 43

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 275 e ss. 44

    GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal. vol. I. p. 422 e 424: se autor aquele que possui o domnio do fato, o senhor de suas decises, coautores sero aqueles que tem

    o domnio funcional dos fatos, o mesmo absurdo verifica-se em GRECO, Rogrio. Cdigo Penal Comentado. 8. ed., So Paulo: mpetus, 2014. p. 100, onde refere que

    autor o senhor de suas decises, afirmando, ainda, que pode-se entretanto afirmar com Roxin que cada coautor tem a sorte do fato total em suas mos e, logo aps, na lapidar lio de Welzel, a coautoria autoria; sua particularidade consiste em que o domnio do fato unitrio comum a vrias pessoas. 45

    GALVO, Fernando. Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: mpetus, 2004. p.

    440 e 442, o qual faz referncia teoria do domnio final do fato, de Welzel, porm,

    logo aps, prossegue citando as formas de domnio criadas por Roxin (domnio

    funcional e domnio da vontade); tambm COSTA, lvaro Mayrink. Direito Penal.

    Parte Geral. 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, vol. 2, 2009. p. 1637, o qual refere, ainda,

    de forma errnea, que: este o objetivo da doutrina do domnio final do fato que, iniciada por Lbe, foi impulsionada por Roxin. O mesmo equvoco cometido, na doutrina brasileira, por CALLEGARI, Andr Lus. Teoria Geral do Delito. Porto

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    161

    Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 117. De forma absolutamente confusa no

    tocante ao concurso de pessoas: BRANDO, Cludio. Curso de Direito Penal. PG. Rio

    de Janeiro: Forense, p. 271; CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral.

    12. ed., So Paulo: Saraiva, 2008. p. 337, os quais sequer observam a distino entre os

    conceitos extensivo e restritivo e as teorias objetivas e subjetiva e do domnio do fato,

    colocando-as, todas, no mesmo nvel terico. 46

    WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 164. 47

    PRADO, Luiz Rgis. Curso de Direito Penal Brasileiro. p. 461. 48

    ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 96 e s. 49

    ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 111 e s. 50

    QUEIROZ, Paulo. Direito Penal. PG. p. 291, surpreende, inclusive, o fato de o jurista

    brasileira utilizar como fonte desta afirmao (em nota rodap) a figura de Welzel,

    quando o jurista alemo rechaou a teoria subjetiva, criticou veementemente os

    conceitos de animus socii e animus auctoris, e jamais em sua vasta obra (entre artigos e

    livros) afirmou o que afirmado por Queiroz. 51

    ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 73-74 e 88: Para determinar a autoria nos crimes dolosos, Welzel parte da crtica ao critrio adotado pelo Tribunal

    do Reich alemo poca e amplamente difundido por Kohlrausch e Lange , a saber, o critrio da vontade de autor (Tterwillen), ou seja, da vontade de cometer o fato como

    prprio; veja-se, ainda, WELZEL, Hans. Studien zum System des Strafrechts. p. 163. 52

    Tal

    questo tambm foi colocada, recentemente, por HAAS, Volker. Die Theorie der

    Tatherrschaft und ihre Grundlagen. p. 23: existem critrios para determinar qual medida de domnio do fato deve ser alcanada para legitimar a responsabilidade penal

    como autor?. 53

    Os casos que seguem foram extrados de uma pesquisa realizada no perodo de 2006 a

    2009, na Universidade Luterana do Brasil, a qual consistiu no exame de mais de 1700

    acrdos coletados junto aos 27 tribunais estaduais estaduais e 05 federais brasileiros,

    com o objetivo de analisar se a teoria do domnio do fato era utilizada e quais os

    critrios eram empregados nas decises para fundamentar a autoria direta, a autoria

    mediata e a coautoria luz da teoria do domnio do fato. 54

    Com detalhes acerca da jurisprudncia: ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio

    do fato. p. 170 e ss. 55

    TJAL, Apelao Criminal n. 1999.001465-7, Cmara criminal, Rel. Des. Jos

    Fernando Lima Souza, Julgada em 24/04/2003. 56

    MAURACH, Reinhard. Strafrecht, AT. Karlsruhe: C.F. Mller, 1954. p. 504: das vom Vorsatz umfate In-Hnden-Halten des tatbestandsmigen Geschehensablaufes. 57

    Cfe. ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 120 e 122; bem como

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 280. 58

    TJAL, Apelao Criminal n. 1998.000387-3, Cmara Criminal, Rel. Des. Jos

    Fernando Lima Souza, Julgada em 10/04/2003. 59

    TJRO, Apelao Criminal n. 100.501.2004.010245-4, Cmara Criminal, Rel. Sandra

    Maria Nascimento de Souza, Julgada em 19/01/2006. 60

    TJDF, Apelao Criminal n. 20020110414487, Primeira Turma Criminal, Rel. Des.

    Edson Alfredo Smaniotto, Julgada em 30/10/2006. 61

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT. Bd. II. p. 82. 62

    TJDF, Apelao Criminal n. 20000610044842, Primeira Turma Criminal, Rel. Des.

    Ana Maria Duarte Amarante, Julgada

    em 29/11/2001. 63

    ROXIN, Claus. Strafrecht, AT. Bd. II. p. 82, quanto a isso Roxin ressalta, ainda, que

    sua concepo est em absoluta oposio ao entendimento jurisprudencial, visto que

    tanto o RG quanto o BGH fixaram o entendimento de que suficiente para caracterizar

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    162

    a coautoria uma colaborao mnima na etapa da preparao; compare, ainda, ROXIN,

    Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 657; no mesmo sentido PUPPE, Ingeborg. Der

    gemeinsame Tatplan der Mittter. ZIS, n 06, 2007. p. 241: O coautor deve realizar sua contribuio para o fato na etapa da execuo. 64

    Nesse sentido, compare tambm TJRJ, Apelao Criminal n. 2005.050.04643,

    Primeira Cmara Criminal, Rel. Des. Marcus Basilio, Julgada em 27/12/2005. 65

    Nesse sentido, compare tambm TJGO, Apelao Criminal n. 19820-0/213, Primeira

    Cmara Criminal, Rel. Des. Paulo Teles, Julgada em 25/04/2000; bem como a deciso

    do TJES, Apelao Criminal n. 023.04.000188-7, Segunda Cmara Criminal, Rel. Des.

    Manoel Alves Rabelo, Julgada em 30/11/2005; e, do mesmo modo, TJDF, Apelao

    Criminal n. 20030110018160, Primeira Cmara Criminal, Rel. Des. Edson Alfredo

    Smaniotto, Julgada em 02/06/2005; assim como o TJDF, Apelao Criminal n.

    20020110414487, Primeira Turma Criminal, Rel. Des. Edson Alfredo Smaniotto,

    Julgada em 30/10/2006; ainda TJPR, Apelao Criminal n. 0262992-3, Terceira

    Cmara Criminal, Rel. Des. Rogrio Kanayama, Julgada em 16/06/2005. 66

    Nesse sentido tambm TJMT, Apelao Criminal n. 19153/2005, Terceira Cmara

    Criminal, Rel. Des. Pedro Sakamoto, Julgada em 15/08/2005. 67

    Nesse sentido TJMS, Apelao Criminal n. 2006.002348-4, Segunda Turma

    Criminal, Rel. Des. Jos Augusto de Souza, Julgada em 19/04/2006; bem como TJMG,

    Apelao Criminal n 1.0701.05.109770-0/001, Quinta Cmara Criminal, Rel. Des.

    Hlcio Valentim, Julgada em 25/04/2006; igualmente TJRS, Apelao Criminal n.

    70003039930, Oitava Cmara Criminal, Rel. Des. Roque Miguel Fank, Julgado em

    20/02/2002. Tambm STJ, REsp 1.068.452, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Julgado

    em 02/06/2009: aplicvel a teoria do domnio do fato para a delimitao entre coautoria e participao, sendo coautor aquele que presta contribuio independente,

    essencial prtica do delito, no obrigatoriamente em sua execuo; bem como STJ, HC 191.444, Rel. Min. Og Fernandes, Julgado em 06/09/2011: a autoria pode se revelar de diversas maneiras, no se restringindo prtica do verbo contido no tipo

    penal. 68

    Nesse sentido TJRS, Apelao Criminal n. 70039361084, Sexta Cmara Criminal,

    Rel. Des. Cludio Baldino Maciel, Julgada em 16/12/2010. 69

    TJMG, Apelao Criminal n. 1.0460.05.017607-8/001, Quinta Cmara Criminal,

    Rel. Des. Hlcio Valentim, Julgada em 17/04/2007. 70

    Nesse sentido TJMG, Apelao Criminal n. 1.0261.04.027123-9/001, Quinta

    Cmara Criminal, Rel. Des. Alexandre Victor de Carvalho, Julgada em 17/10/2006. 71

    Cfe. Pea acusatria (denncia) disponvel no site

    http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-

    site/copy_of_pdfs/INQ%202245%20-%20denuncia%20mensalao.pdf/view. 72

    STF, Tribunal Pleno, APn 470/MG, Julgado em 17/12/2012, p. 1061, disponvel em

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3678648. 73

    STF, Tribunal Pleno, APn 470/MG, Julgado em 17/12/2012, p. 1161, disponvel em

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3678648. 74

    ROXIN, Claus. Tterschaft und Tatherrschaft. p. 109. 75

    ROXIN, Claus. Autora y Dominio del hecho em Derecho Penal. 7 ed. Barcelona: Marcial Pons, 2000, p. 305. 76

    Cfe. ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 136 e ss.; compare,

    ainda, ROXIN, Claus. Straftaten im Rahmen organisatorischer Machtapparate. p.193. 77

    STF, Tribunal Pleno, APn 470/MG, Julgado em 17/12/2012, p. 4673, disponvel em

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3678648.

  • Revista Eletrnica de Direito Penal AIDP-GB Ano 2 Vol 2 N2 Dezembro 2014

    163

    78

    AMBOS, Kai. Direito Penal: fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e

    outros aspectos. Traduo e comentrios de Pablo Rodrigo Alflen. Porto Alegre: Fabris

    Editor, 2006. p. 51. 79

    BOTTKE, Wilfried. Tterschaft und Gestaltungsherrschaft: zur Struktur von

    Tterschaft bei akiver Begehung und Unterlassung als Baustein eines

    gemeineuropischen Strafrechtssystems. Mnchen: Mller Verlag, 1992. p. 71 e s.;

    compare tambm SCHILD, Wolfgang. Tatherrschaftslehren, p. 42 e ss.; ademais

    AMBOS, Kai. Direito Penal: fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e

    outros aspectos. p. 52. 80

    STF, Tribunal Pleno, APn 470/MG, Julgado em 17/12/2012, p. 4703, disponvel em

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3678648. 81

    BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. 16. ed., So

    Paulo: Saraiva, 2011, vol. 1. p. 488 e 489. 82

    TRF 4. Regio, Habeas Corpus n. 5011346-88.2012.404.0000, Stima Turma, Rel.

    Des. Fed. lcio Pinheiro de Castro, Julgado em 17/07/2012: Nos delitos empresariais, a presuno de autoria daqueles que so legalmente investidos na administrao da

    pessoa jurdica decorrncia do exerccio, de fato ou de direito (domnio do fato ou da

    organizao), dos atos de gesto, notadamente o adimplemento das obrigaes

    tributrias. 83

    ALFLEN, Pablo Rodrigo. Teoria do domnio do fato. p. 179 e ss.; bem como SILVA,

    Paulo Cezar. Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. 1. ed., So Paulo: Quartier

    Latin, 2006. p. 79. 84

    STF, Tribunal Pleno, APn 470/MG, Julgado em 17/12/2012, p. 1162, disponvel em

    http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3678648. 85

    OLIVEIRA, Antnio Cludio Mariz. A responsabilidade nos crimes tributrios e

    empresariais. In: ROCHA, Valdir de Oliveira. Direito penal empresarial. So Paulo:

    Dialtica, 1995. p. 29; tal orientao, igualmente rechaada por Kuhlen, havia sido