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TEMATIZAÇÕES DE PROFESSORES PAULISTAS SOBRE A ARTE DA LEITURA, NO SÉCULO XIX Franciele Ruiz Pasquim. Mestranda em Educação (Bolsa FAPESP). FFC-UNESP- Marília/SP e-mail: [email protected] Palavras-chaves: História do ensino de leitura e escrita; Antonio da Silva Jardim; História da Educação. Introdução Com os objetivos de contribuir para a compreensão da história da formação de professores primários e da história da alfabetização, nas décadas finais do século XIX, no estado de São Paulo-Brasil, focaliza-se 1 , neste texto, a proposta: do professor Antonio da Silva Jardim 2 (1860-1891) para ensinar a ensinar a “arte da leitura” 3 ; e o estudo sobre a “arte da leitura” elaborado pelo professor José Affonso de Paula e Costa (187?- ?). Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, analisou-se a configuração textual de dois documentos, que contêm aspectos relativos à formação do professor primário para o ensino da leitura, na Escola Normal de São Paulo, a partir da década de 1880. São eles: Reforma do ensino da lingua materna (1884), de Antonio da Silva Jardim; e Dissertação pedagogica: ligeiro estudo sobre a arte de leitura (qual o methodo de leitura verdadeiramente scientifico)?(1884), de José Affonso de Paula e Costa. No livro Os sentidos da alfabetização: São Paulo/1876-1994, com base em rigorosa e extensa pesquisa documental, Mortatti (2000) apresenta a história da alfabetização do Brasil com ênfase no estado de São Paulo, no período entre 1876 e 1994. A autora divide esse período histórico em “quatro momentos cruciais”, com ênfase na questão dos métodos de alfabetização e classifica os documentos em: a) tematizações contidas especialmente em artigos, conferências, relatos de experiência, memórias, livros teóricos e de divulgação, teses acadêmicas, prefácios e instruções de cartilhas e livros de leitura; b) normatizações contidas em legislação de ensino (leis, decretos, regulamentos, portarias, programas e similares); e c) concretizações contidas em cartilhas e livros de leitura, “guias do professor”, memórias, relatos de experiências e material produzido por professores e alunos no decorrer das atividades didático-pedagógicas. (MORTATTI, 2000, p. 29). É com base nessa classificação de Mortatti (2000) que considero os documentos Reforma do ensino da lingua materna (1884), de Antonio da Silva Jardim, e Dissertação pedagogica:

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TEMATIZAÇÕES DE PROFESSORES PAULISTAS SOBRE A “ARTE DA

LEITURA”, NO SÉCULO XIX

Franciele Ruiz Pasquim.

Mestranda em Educação (Bolsa FAPESP).

FFC-UNESP- Marília/SP

e-mail: [email protected]

Palavras-chaves: História do ensino de leitura e escrita; Antonio da Silva Jardim; História da

Educação.

Introdução

Com os objetivos de contribuir para a compreensão da história da formação de professores

primários e da história da alfabetização, nas décadas finais do século XIX, no estado de São

Paulo-Brasil, focaliza-se1, neste texto, a proposta: do professor Antonio da Silva Jardim

2

(1860-1891) para ensinar a ensinar a “arte da leitura”3; e o estudo sobre a “arte da leitura”

elaborado pelo professor José Affonso de Paula e Costa (187?- ?).

Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica,

desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião,

seleção e ordenação de fontes documentais, analisou-se a configuração textual de dois

documentos, que contêm aspectos relativos à formação do professor primário para o ensino da

leitura, na Escola Normal de São Paulo, a partir da década de 1880. São eles: Reforma do

ensino da lingua materna (1884), de Antonio da Silva Jardim; e Dissertação pedagogica:

ligeiro estudo sobre a arte de leitura (qual o methodo de leitura verdadeiramente

scientifico)?(1884), de José Affonso de Paula e Costa.

No livro Os sentidos da alfabetização: São Paulo/1876-1994, com base em rigorosa e extensa

pesquisa documental, Mortatti (2000) apresenta a história da alfabetização do Brasil com

ênfase no estado de São Paulo, no período entre 1876 e 1994. A autora divide esse período

histórico em “quatro momentos cruciais”, com ênfase na questão dos métodos de

alfabetização e classifica os documentos em:

a) tematizações – contidas especialmente em artigos, conferências, relatos de

experiência, memórias, livros teóricos e de divulgação, teses acadêmicas, prefácios e

instruções de cartilhas e livros de leitura;

b) normatizações – contidas em legislação de ensino (leis, decretos, regulamentos,

portarias, programas e similares); e

c) concretizações – contidas em cartilhas e livros de leitura, “guias do professor”,

memórias, relatos de experiências e material produzido por professores e alunos no

decorrer das atividades didático-pedagógicas. (MORTATTI, 2000, p. 29).

É com base nessa classificação de Mortatti (2000) que considero os documentos Reforma do

ensino da lingua materna (1884), de Antonio da Silva Jardim, e Dissertação pedagogica:

ligeiro estudo sobre a arte de leitura (qual o methodo de leitura verdadeiramente

scientifico)?(1884), de José Affonso de Paula e Costa, como “tematizações” sobre o ensino da

leitura, por se tratarem de documentos que contêm aspectos do modo como esses autores

compreendiam e propunham o ensino da leitura às crianças, no final do século XIX.

A opção por analisar esses documentos deveu-se ao fato de que neles há importantes

formulações sobre o ensinar a ensinar leitura na Escola Normal da Província de São Paulo, no

final do século XIX, às quais se disseminaram para outros estados brasileiros, sobretudo com

o advento do regime político Republicano.

Para a análise desses documentos que considero emblemáticos para a compreensão de um

importante momento da história da formação de professores alfabetizadores e da “arte do

ensino da leitura”, utilizo o conceito de configuração textual, proposto por Mortatti (2000), o

qual consiste em enfocar o:

[...] conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais se

referem: às opções temático-conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais

(como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta

como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar

social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas

necessidades (por quê?) e propósitos (para quê), visando a determinado

efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) e logrando determinado

tipo de circulação, utilização e repercussão (p. 31).

Dentre os aspectos da configuração textual desses documentos, destaco, neste texto, os

seguintes: quem eram os professores Antonio da Silva Jardim e José Affonso de Paulo e

Costa; a quem destinava a Conferência e a Dissertação; com qual finalidade foram publicadas;

em que momento histórico educacional foram publicadas; quais eram os conteúdos que Silva

Jardim e Paula e Costa consideravam indispensáveis para o ensino inicial da leitura para a

formação do professor primário paulista.

1. Aspectos da Escola Normal de São Paulo no Império brasileiro (1884)

Durante o século XIX, a urgente necessidade de formar professores para ensinar as crianças

brasileiras a ler e escrever pode ser observada no o art. 170, da Constituição de 1824, que

prescrevia a instalação de escolas de primeiras letras nas províncias brasileiras. Passados 22

anos da publicação dessa Lei, foi criada, em 1846, a Escola Normal4 na capital da província

de São Paulo a fim de suprir a falta de professores para essas escolas de primeiras letras, à

época.

Desde a segunda metade do século XIX, a questão política da educação

popular envolveu, em todo o Ocidente, a discussão sobre a organização

administrativa e didático-pedagógica do ensino primário. Tratou-se de

definir as finalidades da escola primária e os meios de sua universalização.

Esse processo implicou debates acerca da democratização da cultura e da

função política da escola nas sociedades modernas. Dessa forma, a discussão

sobre o conteúdo da escolarização popular tornou-se uma temática central e

oscilou em decorrência de diferentes interesses políticos, ideológicos,

religiosos, sociais, econômicos e culturais. (SOUZA, 2000, p.9).

Durante o período imperial brasileiro foram criadas 15 Escolas Normais, a maior parte delas

nas décadas de 1870 e 1880. Durante o Primeiro Reinado, foram criadas as de Niterói-RJ

(1835) e Salvador-BA (1836). Durante o Segundo Reinado, foram criadas as de: Cuiabá-MT

(1842); São Paulo-SP (1846); Teresina-PI (1864); Porto Alegre-RS (1869); Curitiba-PR

(1870); Aracaju-SE (1870); Vitória-ES (1873); Natal-RN (1873); Fortaleza-CE (1878); Rio

de Janeiro-RJ (1880); Florianópolis-SC (1880); João Pessoa-PB (1883); Goiás-GO (1884).

(ARAÚJO; FREITAS; LOPES, 2008). Essas Escolas Normais tinham por objetivo alimentar

a formação de corpo docente que, no Império, se encontrava limitada e ineficaz para as

demandas sociais.

A Escola Normal de São Paulo, considerando a classificação utilizada por grande parte dos

pesquisadores da História da educação brasileira, passou por três fases, nos seguintes

períodos: 1846 a 1867 (Criação); 1875 a 1878 (Reabertura); e 1880 a 1890 (Reforma).

Ressalto que, destacarei, neste texto, aspectos relativos à terceira fase da Escola Normal,

período em que Silva Jardim lecionou nessa instituição e que, presumivelmente, deu aula para

José Affonso de Paula e Costa.

Na visão dos governantes do Império, a Escola Normal de São Paulo representava um local

no qual poderiam ser ensinados conteúdos eficientes no controle do povo, porém, para alguns

professores dessa instituição, a educação estava diretamente relacionada à formação de uma

nação, com a bandeira do consertar melhorando. Dentre esses professores que almejavam a

formação de uma nação, destacam-se professores Silva Jardim e Paula e Costa.

1.1 A reabertura da Escola Normal de São Paulo em 1880

A Escola Normal de São Paulo foi “[...] reaberta pelo presidente da província Laurindo

Abelardo de Brito5, liberal e ex-aluno da escola, a sancionar em 25 de abril de 1880, como lei

n°. 130, o projeto apresentado por Inglês de Souza, um deputado de seu partido”

(HILSDORF, 2008, p.6). Essa instituição de ensino “[...] deu origem ao Instituto de Educação

‘Caetano de Campos’, da Praça da República” (REIS FILHO, 1995, p.151).

Em 30 de junho de 1880, foi aprovado o Regulamento de 1880... , o qual estabeleceu que a

finalidade da Escola Normal de São Paulo era “habilitar”, gratuitamente, “[...] pessoas que se

destinam ao magisterio publico primario” (SÃO PAULO, 1880, p. 3).

A reabertura da Escola Normal de São Paulo representou uma tentativa de reorganização de

forma sistemática de muitos dos anseios previstos com a criação dessa instituição em 1846.

Segundo Reis Filho (1995), a organização dessa instituição era mais complexa que a anterior,

pois nela havia um diretor “[...] subordinado diretamente ao Presidente da Província, possuía

cinco cadeiras, distribuídas em três anos de curso” (p.151).

De acordo com Art. 84°., da Lei nº. 130, de 25 de abril de 1880, da província de São Paulo, ao

final do 3°. ano, uma semana antes de encerrar as aulas, o aluno, futuro professor primário,

deveria apresentar uma dissertação pedagógica, na qual defenderia um ponto de Pedagogia

indicado por um professor da Escola Normal de São Paulo.

Em relação a esse aspecto da formação dos normalistas na província de São Paulo, o Art. 88°.

dessa Lei, prescreve, também, que depois da aprovação dessa dissertação, por parte dos

examinadores, o aluno aprovado receberia da Secretaria do Governo a carta de Professor

Normalista.

No dia da entrega do diploma, de acordo com Art. 89°., estariam presentes o Presidente da

Província, o Inspetor Geral da Instrução Pública e os demais professores da Escola Normal de

São Paulo. Portanto, de acordo com o Art. 140º. seria considerado Professor Normalista

aquele que tivesse recebido a carta (diploma) de Professor pela Escola Normal de São Paulo.

1.2 O ensino da leitura na Escola Normal de São Paulo entre 1880 e 1884

As mudanças na legislação sobre a formação de professores, ocorridas após a reabertura da

Escola Normal de São Paulo em 1880, a Escola Normal de São Paulo tornou-se um dos polos

de anseio de modernização do Brasil por meio da formação de professores que ensinariam,

dentre outros aspectos, a leitura e a escrita para crianças.

Após a reabertura da Escola Normal de São Paulo em 1880, o ensino da leitura aos

normalistas passou a ocorrer por meio de aulas práticas, na chamada “Aula anexa” à Escola

Normal de São Paulo. Silva Jardim, nesse período, lecionava nessa “Aula Anexa” a fim de

completar sua renda e pagar as despesas quando ainda era estudante de Direito na Faculdade

de Direito de São Paulo.

Quanto à formação “prática” do futuro professor primário, ocorria no 3º. ano, em que os aluno

da Escola Normal deveriam aprender “[...] a conveniente aplicação das regras que devem ser

observadas na pratica dos methodos” (SÃO PAULO, 1880, p. 6) nas aulas anexas à Escola

Normal de São Paulo, uma vez por semana, sob a direção do professor da Cadeira de

Pedagogia e do professor da Aula Anexa, de acordo com o Artigo 6º. do Regulamento de

1880... .

Os alunos da Escola Normal de São Paulo aprendiam por meio das aulas práticas como

ensinar a leitura e escrita na “Aula anexa” à Escola Normal de São Paulo. A “Aula anexa”

ocorria no curso primário anexo à Escola Normal de São Paulo.

O curso primário anexo à Escola Normal de São Paulo era dividido em duas seções, uma

feminina e outra masculina. No curso primário as crianças da província aprendiam os

rudimentos do ler, escrever e contar.

Bauab (1972) enfatiza a atuação de Silva Jardim como professor da “Aula Anexa”, uma vez

que ele colaborou para a “renovação dos métodos didáticos” e para um modo de pensar o

ensino da leitura e escrita, por meio de um novo e revolucionário método da leitura, o método

da palavração6 concretizado na Cartilha Maternal ou Arte da Leitura

7, de João de Deus

8.

Principalmente num momento histórico educacional marcado pela utilização do

[...] método greco-romano de iniciar o ensino da leitura pela aprendizagem

das letras do alfabeto, seguida toda a combinação silábica possível, as lições

de Silva Jardim representavam de fato o ‘alvorecer da didática’ em São

Paulo, como a elas se refere João Lourenço Rodrigues (REIS FILHO, 1995,

p.154).

Segundo Reis Filho (1995, p.152), com a reorganização da Escola Normal de São Paulo, em

1880, foi dada ênfase à “inovação dos processos de ensino”, de modo que “[...] a atuação de

alguns professores renovava em suas disciplinas os métodos de ensino. Esse é o caso de Silva

Jardim”. A esse respeito, Hilsdorf (2008, p.93), ressalta que, a partir da

[...] década de 1880, de abertura do país às inovações pedagógicas que eram

associadas na Europa e nas Américas à educação escolar atualizada,

representadas aqui, entre outras aqui, entre outras, pela inclusão das matérias

científicas e a adoção e adoção do método intuitivo.

Em 1882, após a exoneração do professor Vicente Mamede de Freitas9, do cargo de professor

da 1ª. Cadeira da Escola Normal de São Paulo foi aberto concurso público para o

preenchimento desse cargo. Depois do encerramento das inscrições, em 1883, inscreveram-se

para concorrer ao cargo os professores: Manoel José da Lapa Trancoso10

, Silva Jardim e Júlio

Ribeiro. Após a realização das provas, ocorridas em 1883, Silva Jardim foi aprovado no

concurso (D’AVILA, 1946).

A Escola Normal de São Paulo, em 1884, passou a ter seis cadeiras de ensino. São elas: “1ª.

Grammatica e Lingua Nacional”- Antonio da Silva Jardim; “2ª. Arithmetica e geometria” –

Godofredo José Furtado; “3ª. Elementos de Cosmographia, Geografia e Historia”; “4ª.

Pedagogia, methodologia e instrução religiosa”- Antonio da Silva Jardim (substituto interino

em 1884) - Manoel José Trancoso da Lapa; “5ª. Noções de physica e Chimica”- Cypriano

José de Carvalho; e “6ª. Grammatica e Lingua Franceza”- Arthur Gomes; Carlos Marcondes

de Toledo Lessa” (SÃO PAULO, 1884).

2. Reforma do ensino da lingua materna (1884), de Antonio da Silva Jardim11

Devido a sua aprovação, em 1884, Silva Jardim foi empossado professor vitalício da 1ª.

Cadeira – “Grammatica e Lingua Nacional” – da Escola Normal de São Paulo. Após assumir

esse cargo, em atendimento ao Regulamento de 1880..., Silva Jardim proferiu, no dia 21 de

abril de 1884, a Conferência Reforma do ensino da lingua materna, na qual apresentou sua

proposta para o ensino da leitura e da escrita aos alunos da Escola Normal de São Paulo e às

demais autoridades escolares presentes.

A versão escrita do resumo da Conferência proferida por Silva Jardim em 1882 foi publicada

em formato de opúsculo pela Typographia a vapor Jorge Seckler & C.ª de São Paulo, em

1884, e foi divulgada aos alunos da Escola Normal de São Paulo. A versão escrita do resumo

da conferência proferida por Silva Jardim está organizada em três tópicos, indicados por

algarismos romanos (I, II e III). Pode-se perceber que, Silva Jardim apresenta aspectos

relativos à função social e sobre o ensino da língua, à formação do professor primário, ao

ensino da gramática e ao ensino da leitura pelo método da palavração.

Silva Jardim apresenta a função da língua materna que, segundo ele, “seu destino deve ser

social”, uma vez que possibilita a comunicação entre os homens (p.2). Por essa razão, Silva

Jardim considera que é pela linguagem “[...] que os entes colletivos, a familia, a pátria, se nos

revelam, influindo na nossa natureza: os esforços isolados dos sábios seriam incapazes de

formar uma lingua”. (SILVA JARDIM, 1884, p.9-10).

Contribuiriam, segundo Silva Jardim, para o aperfeiçoamento da língua, os futuros

professores primários (alunos da Escola Normal de São Paulo), que deveriam aprender “[...]

os meios de aperfeiçoar a expressão, oral e escripta” (SILVA JARDIM, 1884, p.10-11). A

atuação do professor primário quanto ao aperfeiçoamento da língua é um “serviço social”, por

isso a importância atribuída à Silva Jardim no tópico III da Conferência. Silva Jardim (1884)

buscou ensinar como os futuros professores poderiam auxiliar seus alunos no

aperfeiçoamento da língua. Segundo Silva Jardim, ensinar como ensinar a língua era “uma

necessidade urgente no magistério primario” (SILVA JARDIM, 1884, p.11).

De acordo com essas fases, Silva Jardim considera que o método da palavração é o mais

eficaz para o ensino da leitura e da escrita, uma vez que esse método é a fase científica e

definitiva. Silva Jardim compara o método da palavração para o ensino da leitura ao modo

espontâneo com que se aprende a falar, como se pode observar no seguinte trecho: “[...] meus

senhores, só se vence pelo aperfeiçoamento; como aprendemos a falar? falando as palavras;

como aprenderemos a lêr? é claro que lendo essas mesmas palavras” (SILVA JARDIM, 1884,

p.12).

Essas três fases da “arte da leitura”, apresentadas por Silva Jardim, estão diretamente

relacionadas ao Positivismo que

[...] admite uma lei fundamental que recebe o nome de lei dos três estados,

ou modo de pensar, que é a base de sua explicação da História: o estado

teológico-fictício, que tem diferentes fases (feitichismo, politeísmo

monoteísmo) e em que o espírito humano explica os fenômenos por meio de

vontades transcendentes ou agentes sobrenaturais; o estado metafísico-

abstrato, onde os fenômenos são explicados por meio de forças ou entidades

abstratas, como o princípio vital etc.; e o estado positivo-científico, no qual

se explicam os fenômenos, subordinando-os às leis experimentalmente

demonstradas (RIBEIRO, 1988, p.19-20, grifos do autor).

Porém, segundo Silva Jardim, não bastaria ensinar a leitura por meio da Cartilha Maternal,

seria necessário “[...] para sua efficacidade, além da maneira especial de seu ensino, esse

processo pede pronuncia clara e gradativa dos vocábulos, e a explicação dos sentidos das

palavras empregadas” (SILVA JARDIM, 1884, p.13). As palavras utilizadas deveriam estar

relacionadas com o cotidiano da criança, uma vez que Silva Jardim julgava necessária a

adaptação do método de acordo com as crianças de cada lugar.

Quanto ao professor primário, Silva Jardim era contrário à ideia de “[...] simplificação da

educação do mestre” (SILVA JARDIM, 1884, p. 20). Para ele, havia necessidade em melhor

preparar os mestres, uma vez que esses deveriam “[...] ensinar a elocução (fala, leitura,

expressão, etc.) e composição em seus multiplos ramos, prosa e poetica, que o mandar decorar

grammatica e analysar grammatical e logicamente” (SILVA JARDIM, 1884, p. 20, grifos do

autor).

Silva Jardim era contrário ao ensino mútuo prescrito no Artigo 4°. da Constituição de 1824.

Para ele, seria necessária a formação dos professores primários de acordo com o método de

ensino intuitivo12

.

Embora o método intuitivo somente tenha se tornado oficial com a Reforma “Caetano de

Campos”, em 1890, pode-se observar que Silva Jardim já apontava os benefícios desse

método para o desenvolvimento mental das crianças. Além disso, Silva Jardim ressaltava a

importância da função do professor no âmbito do ensino pelo método intuitivo, pois, segundo

ele, o professor bem preparado poderia melhor desenvolver exercícios e atividades, de acordo

com as necessidades de seus alunos.

3. Dissertação pedagogica: ligeiro estudo sobre a arte de leitura (qual o methodo de leitura

verdadeiramente scientifico)?(1884), de José Affonso de Paula e Costa13

Aluno da escola Normal de São Paulo (e de Silva Jardim), José Affonso de Paula e Costa, em

atendimento ao disposto na Lei nº. 130, de 1880, apresentou, para ser diplomado professor

normalista, a Dissertação Pedagógica Ligeiro estudo sobre a arte da leitura (Qual methodo

de leitura verdadeiramente scientífico). Essa dissertação foi publicada em versão escrita em

1884, também em formato de opúsculo, pela Typographia a vapor de Jorge Seckler & Cª.

(SP).

A dissertação está organizada em sete capítulos, a saber: “Considerações geraes sobre

educação”; “A escola primária e o professor”; “As tres phases da arte da leitura”; “A

linguagem e o apparelho de fonação”; “Analyse da falla”; “Plano da Cartilha Maternal”; e

“Conclusão”.

No tópico “Duas palavras” dessa dissertação, Costa (1884) enfatiza que a escolha por

dissertar sobre a arte da leitura se deveu ao fato de que “[...] é a parte do ensino escolar em

que e professor encontra mais recursos para o desenvolvimento mental e para a educação

moral das crianças” (COSTA, 1884).

Costa (1884) defende a ideia de que educação “[...] varia com o tempo, porque está

subordinada ao conjuncto de ideias que dominam uma ephoca” (p.2). Ao longo da história, os

povos passaram pelas épocas “fitichista, polytheica e monotheica”, dentre essas se destaca a

“epocha positivista ou epocha normal”, na qual as faculdades physica, intellectual e moral são

desenvolvidas por meio da educação.

Depois de apresentar a concepção de educação que obedece às leis científicas e a doutrina

positivista e que a educação dos filhos compete à figura feminina, a mãe. Além da educação

recebida no lar, Costa (1884) propõe uma reforma no ensino primário e da escola, pois

segundo ele, a educação de sua época é

[...] anti-scientífica e immoral porque accumula no cerebro da creança um

montão de absurdos e de erros que a sciencia nã sanciona; immoral porque

faz da creança um ser egoista e vaidoso: − atrophia-lhe a intelligencia (p.8).

Os professores deveriam ser aqueles que desenvolveram “[...] amor á Familia, á Patria e á

Humanidade; devem ser dotados de exemplar moralidades, possuindo uma certa intuição

social, a dedicação e o preciso desapego pessoal que leva o homem a viver para outrem”

(COSTA, 1884, p.9). Nesse sentido, o professor “[...] desempenha as funcções dos paes,deve

a escola ser uma representação do lar domestico, e o professor cuidar simultaneamente da

educação physica, intellectual e moral dos meninos” (COSTA, 1884).

Costa (1884) assim como Silva Jardim se baseia na lei dos três estados (ficticio, abstracto e

scientifico) para explicar os estágios que a Humanidade passou quanto ao ensino da arte da

leitura.

A arte da leitura, então, passou por três fases, são elas: a soletração, a silabação e a

palavração.Segundo Costa (1884) o ensino da arte da leitura é impossibilitado por meio da

soletração, uma vez que as crianças devem decorar as letras do alfabeto, o que torna, segundo

ele, o ensino vicioso, pois as crianças recitam as letras “sinais mortos, sem significação”.

Em relação ao ensino da arte da leitura pela silabação, Costa (1884) apresenta esse estado

como um período de transição, no qual o alfabeto é ensinado por parte, ou seja, posto que

“[...] ha palavras formadas de uma unica syllaba, e portanto essa syllaba já representa uma

ideia, d’onde uma certa concretisação no ensino” (p.13).

Por último é apresentado o ensino da arte da leitura pela palavração, que é a fase definitiva e

científica em que se ensina a leitura pela palavra, pelo valor das letras na palavra. Segundo

Costa (1884) é a Cartilha Maternal, do poeta João de Deus que melhor apresenta a fase da

palavração e esse método por sua vez “[...] é baseado na lingua viva, e isto por uma razão

natural: porque se o homem começa a fallar palavras e não syllabas e letras mortas, tambem a

litura deve ser palavrada, não syllabara ou soletrada” (p.15). Ainda, acrescenta que, a palavra

é a “representação da ideia e a combinação de sons” e que por esse motivo é científica, pois se

lê aquilo que se fala.

Costa (1884) apresenta aspectos da teoria cientítifica sobre a origem da linguagem

apresentada por Augusto Comte em que

[...] elle demonstra que a linguagem nasceu a inspirada pelo sentimento e

esclarecida pela intelligencia; filha da necessidade de expansão, de

communicabilidade com outrem, destina-se á manifestação de nossas

emoções; e de preferencia, dos nossos impulsos sympathicos, unicos

plenamente transmissiveis (COSTA, 1884, p.16).

Ainda acrescenta que, a palavra é uma “[...] superioridade intellectual de nossa especie, como

o mostram o exemplo dos idiotas e dos diversos animaes, nos quaes não existe verdadeira

linguagem, se bem que o apparelho de phonação seja completo” (COSTA, 1884, p.19).

Portanto, as ideias são expressas pela voz, por sua vez essas são compostas de

[...] phrases, formadas de um certo numero de palavras, que resultam de

uma reunião de varias syllabas, sendo estas constituidas pelo ajuntamento

determinado de letras subdivididas em vogaes e consoantes, ou, de modo

mais racional, em vogaes e invogaes, como passamos a demonstrar

(COSTA, 1884, p.21, grifos do autor).

Ao final da dissertação, Costa (1884) enfatiza a superioridade do método da palavração

concretizado na Cartilha Maternal, de João de Deus; e o prejuízo do método mútuo, posto

que nesse método de ensino o professor abdica de sua missão, que é a de ensinar. E acrescenta

que por meio de sua dissertação buscou apresentar

[...] a necessidade de uma reforma no ensino primario, e poder estabelecer

esta these: que o methodo da leitura verdadeiramente scientifico é o da

palavração applicado por João de Deus na sua utilissima producção- Cartilha

Maternal (COSTA, 1884, p.33).

Como aluno de Silva Jardim e disseminador das ideias de seu mestre, Paula e Costa também

defendia o método da palavração como o método mais científico e eficaz para o ensino da

leitura de acordo a lei dos três estados do positivismo.

Considerações finais

A partir dos resultados da análise da configuração textual dos documentos pude constatar que,

o pensamento do mestre Silva Jardim e do discípulo Costa sobre o ensino da leitura e escrita

está diretamente relacionado ao Positivismo em que se destaca o papel dos bons sentimentos

na formação da criança e na civilização do povo.

Os resultados obtidos por meio dessa análise têm contribuindo para a compreensão dos

aspectos que eram considerados necessários à formação de professores primários, no final do

século XIX, relativamente ao ensino da leitura. Dentre esses aspectos, como se pôde observar,

o método da palavração era defendido como o método mais eficiente na “arte da leitura” e

Cartilha Maternal ou arte da leitura, de João de Deus, como a concretização mais adequada

desse método. Por fim, destacam-se a atuação dos professores Silva Jardim e Costa na história

do ensino da leitura no Brasil, visto que, dentre outros, eles contribuíram para a disseminação

de uma concepção sobre ensino da leitura, segundo eles a que mais auxiliaria no

desenvolvimento mental e moral das crianças.

Fontes documentais

JARDIM, Antonio da Silva. Reforma do ensino da lingua materna (1884), de Antonio da

Silva Jardim. São Paulo: Typ. Seckler, 1884. (Conferência realizada no dia 22 de abril de

1884 na Escola Normal de São Paulo)

COSTA, José Affonso de Paula e. Dissertação pedagogica: Ligeiro estudo sobre a arte da

leitur ( Qual o methodo de leitura verdadeiramente scientífico?). São Paulo: Typ. Scklr, 1884.

( Apresentada a Comissão Examinadora da Escola Normal de São Paulo).

Referências

ARAUJO, J. C. S.; Freitas, A. G. B. de; Lopes, A. de P. C. As escolas normais no Brasil: do

império à república. Campinas: Editora Alínea, 2008.

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SAPERE AUDE, ano 8, n.9, São José do Rio Preto, p. 1-38

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1Este texto resulta de pesquisa de mestrado em Educação (bolsa FAPESP), desenvolvida sob orientação da Profª.

Drª. Maria do Rosário Longo Mortatti. Essa pesquisa vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da FFC-UNESP-Marília e ao GPHELLB – Grupo de Pesquisa “História do Ensino de

Língua e Literatura no Brasil”, coordenado pela professora mencionada. 2 Antonio da Silva Jardim nasceu em 16 de agosto de 1860, na cidade de Capivari (RJ), atual município de Silva

Jardim. Em 1874, com 14 anos, Silva Jardim foi estudar no Colégio Mosteiro de São Bento, em Niterói (RJ). No

ano seguinte, em 1875, estudou no Externato “Jasper”. Entre 1875 e 1878, Silva Jardim iniciou os estudos

preparatórios para o curso de Direito no Rio de Janeiro (RJ). Entre 1875 e 1878, Silva Jardim iniciou os estudos

preparatórios para o curso de Direito no Rio de Janeiro (RJ). No ano de 1878, mudou-se para São Paulo e

ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo (SP) e bacharelou-s em 1882. Durante o período no qual

permaneceu nessa faculdade fez importantes amizades esse e se tornou adepto do Positivismo e da Maçonaria.

Em 1882 foi professor da Aula Anexa da Escola Normal de São Paulo e em 1884 tornou-se professor da 1ª.

Cadeira “Grammatica e Lingua Nacional”. Na Escola Normal de São Paulo destacou-se pelo ensino pelo

“método João de Deus” e foi também divulgador desse método na província de Vitória (ES). Entre os anos de

1888 e 1889 foram marcados por um período de efervescência política na vida de Silva Jardim, nos quais ele

passou a desempenhar o papel de propagandista da República, propriamente brasileira. (PASQUIM, 2013). 3 De acordo com Silva Jardim (1884) e Costa (1884), a “arte da leitura” ao longo da história passou por três fases

(ficticia, abstrato e definitiva). Essas fases se referem à lei dos três estados de Augusto Comte. Percebe-se que a

arte de ensinar a leitura está diretamente direcionada a um método de ensino e ao professor bem formado, caso

contrário não haveria eficiência no desenvolvimento físico, moral e intelectual da criança. 4 A Escola Normal de São Paulo teve diferentes denominações: “Escola Normal da Capital”, “Escola Normal

Secundária”, “Escola Normal da Praça”. Em 1911, a Escola Normal da Capital passou, pela Lei n. 1341 de 16-

12, à denominação de Escola Normal Secundária. A respeito da história dessa escola, ver, especialmente, o

trabalho pioneiro de Tanuri (1979), Hilsdorf (2008). Reis Filho (1995) e Dias (2002, 2008). 5 Laurindo Aberlardo de Brito nasceu no ano de 1828 e faleceu em 1885. Foi um dos 19 alunos da primeira

turma de 1846, diplomado pela Escola Normal da capital. De acordo com Rodrigues (1930), ele foi o grande

“restaurador da Escola Normal”. Em 1851 bacharelou-se em Direito pela Academia de São Paulo (ROCCO,

1946, p. 86). 6 O método da palavração “[...] inicia-se esse ensino com palavras, que depois são divididas em sílabas e letras”

(MORTATTI, 2004, p.123). 7 A Cartilha Maternal ou arte da leitura foi escrita pelo poeta, pedagogo e republicano João de Deus (1830-

1896) e publicada, em 1876, em Portugal. 8 João de Deus nasceu em São Bartolomeu de Messines no Algarve, Portugal, em 8 de Março de 1830 e morreu

em Lisboa em 11 de Janeiro de 1896. Estudou Direito na Universidade de Coimbra entre 1849 e 1859. Foi poeta

e tinha Antero de Quental como amigo. Autor da Cartilha maternal ou arte da leitura que se baseava no método

da palavração (BRAGA, s.d). 9 Vicente Mamede de Freitas: Nascido em São Paulo, 1836, Vicente Mamede de Freitas bacharelou-se em

Direito em 1855, pela Academia de Direito de São Paulo. No ano de 1856, passou a dirigir o Colégio Culto à

Ciência, em Campinas-SP. Nesse mesmo período, fundou um colégio na cidade de São Paulo. No ano de 1859,

defendeu uma tese na área do Direito, pela qual recebeu o título de Doutor. Em 1860, atuou como promotor

público e, entre 1864 e 1866, atuou como Deputado da Assembleia Provincial de São Paulo. Entre os anos de

1880 e 1882, Vicente Mamede de Freitas foi Diretor da Escola Normal de São Paulo de São Paulo e Inspetor

Geral da Instrução Pública da Província de São Paulo. Após sua atuação na Escola Normal de São Paulo de São

Paulo, no ano de 1882, foi aprovado em concurso para o cargo de lente substituto da Academia de Direito de São

Paulo, passando, em 1887, ao cargo de lente catedrático. Ainda no âmbito de sua atuação junto a Academia de

Direito de São Paulo, foi nomeado, em 1902, vice-diretor dessa instituição, e, em 1904, diretor. Vicente Mamede

morreu em São Paulo, em 1908. (FACULDADE..., s.d.) 10

Júlio César Ribeiro Vaugham nasceu no dia 16 de abril de 1845 em Sabará (MG) e faleceu no dia 1° de

novembro de 1890 em Santos (SP). Foi professor na Escola Normal de São Paulo e ocupou a Cadeiras de Latim

no Curso Anexo da Faculdade de Direito. Além disso, teve publicado o livro Grammatica portugueza (1881)

(ROCCO, 1946). 11

Sobre a reforma do ensino da leitura proposta por Silva Jardim, ver especialmente, Mortatti (2000) e Pasquim

(2013). 12

Segundo Valdemarin (2004), o método de ensino intuitivo estava diretamente relacionado à observação e a

ideia de que a escola deveria ensinar os conteúdos vinculados ao cotidiano das crianças, ou seja, os elementos da

realidade do aluno eram trazidos para os exercícios da sala de aula. 13

Até o momento não foi possível localizar informações sobre esse professor.