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Temas Contemporâneos Ciência, Cultura e Histórias de Vida Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma CE Manhã | 2017-2 Reportagem Perfil Entrevista Restauração dos Museus. O porquê da demora Superação através do esporte Bixa, preta e da quebrada Hortas comunitárias Áreas revitalizadas e grupos cada vez mais engajados

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Page 1: Temas Contemporâneos · com que Gaga é retratada, alguém frágil, que lida com constante pressão e dores, físicas e emocionais. Sua luta contra a fibromialgia é uma novidade

1Ciência, Cultura e Histórias de Vida

TemasContemporâneosCiência, Cultura e Histórias de Vida

Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma CE Manhã | 2017-2

ReportagemPerfil EntrevistaRestauração dos Museus. O porquê da demora

Superação através do esporte Bixa, preta e da quebrada

Hortas comunitáriasÁreas revitalizadas e grupos cada vez mais engajados

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2 Temas Contemporâneos

B A S T I D O R E S D E U M A A R T I S T A E M D E S C O N S T R U Ç Ã O

Documentar a rotina de alguém ainda em vida não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de uma artista mundialmente conhecida por sua personal-idade polêmica e extravagante. Em “Gaga: Five Foot Two”, Chris Mourkabel mostra ao espectador os bastidores da marcante apresentação que a cantora de 31 anos fez no Super Bowl em fevereiro de 2017 e sua rotina durante período de produção e gravação do álbum Joanne, considerado um marco de transição em sua carreira.

Stefani Joanne Angelina Germanotta, ou apenas Lady Gaga, já chocou o mundo ao aparecer vestida com pedaços de carne no tapete vermel-ho, sapatos com saltos em alturas inimagináveis e perucas nas mais diversas cores e tamanhos. Um dos principais objetivos do doc é desmistificar a imagem exótica da cantora, ver o distanciamento dessas duas “personalidades”. Muitos são os mo-mentos em que Joe e Cynthia Germanotta, seus pais, aparecem em frente às câmeras, reforçan-do que são figuras presentes o tempo todo em

sua vida e participam ativamente de suas ações e momentos marcantes. Ao encerrar o show no Super Bowl, o primeiro abraço e comemoração vem de seus familiares e amigos próximos. Um dos pontos fortes do filme é a forma com que Gaga é retratada, alguém frágil, que lida com constante pressão e dores, físicas e emocionais. Sua luta contra a fibromialgia é uma novidade para grande parte do público, afinal esse nunca foi um tópico debatido ou relatado nas grandes mídias. Durante a divulgação do álbum Joanne as dores crônicas foram constantes e vemos diversos momentos em que méd-icos a acompanham, fazem massagens e tratamentos acompanhados por injeções.

A primeira metade do longa pode soar como uma espécie de autopromoção. Reuniões constantes com o famoso produ-tor inglês Mark Ronson, o único homem da indústria no qual a estrela diz confiar, pes-soas do staff que negociam uma imagem “limpa” e com pouca produção para o trabalho atual e até mesmo um batiza-do com toda a família de origem italiana reunida em uma tradicional igreja de Nova Iorque, reforçam ainda mais esse “novo” papel humanizado e simples de Gaga. Ao se aprofundar de forma sutil em questões pessoais essa barreira de marketing pessoal é rompida e o espectador conquistado.

Lidar com a pressão constante de milhares de fãs e indústria musical realmente não é fácil e combinado com as fortes dores causadas pela doença, o processo é ainda mais exaustivo. Momentos antes de fazer uma apresentação de seu novo show, Lady Gaga mostra o quanto é forte, ao receber injeções de médicos para suas fortes dores nas costas e quadril e ao mesmo tempo ser maquiada por uma equipe de profissionais - “Se eu chorar fico com a cara inchada?”. O lado intimista também aparece nas con-versas e dedicação final do filme à Sonja Durham, uma de suas melhores amigas e que veio a falecer vítima de um câncer. Não há dinheiro ou influência capaz de comprar tranquilidade e saúde.

Cultura

FOTO: Divulgação

POR BEATRIZ OLIVEIRA

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3Ciência, Cultura e Histórias de Vida

H O R T A S C O M U N I T Á R I A S

Atividades de lazer e agricul-tura proporcionam troca de alimentos e experiências nas

grandes cidades

Produzir o próprio alimento não é tão difícil quanto pode parecer. É cada vez mais

comum o cultivo de pequenas frutas, flores e hortaliças no ambiente doméstico, e as

hortas comunitárias têm papel fundamental nesse crescimento. Elas nos fazem refletir

sobre o modo com que lidamos com os bens de consumo e nossa postura em relação à

alimentação.

POR BEATRIZ OLIVEIRA

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4 Temas Contemporâneos

Ter muito espaço não é um pré-requisito. É pos-sível organizar uma horta vertical na va-randa de um aparta-

mento ou na sala de estar. Outra opção é colocar al-guns vasos na cozinha ou o fazer o cultivo no quin-tal, para aqueles que têm um pouco mais de espaço. Com cuidado e dedicação, todo o trabalho pode ren-der bons frutos, literalmente.Na cidade de São Paulo tornou-se comum encon-trar pequenas hortas espa-lhadas por diversas regiões. Além do plantio, as hortas têm em comum o fator co-laborativo, são mantidas em sua maioria sem ajuda em-presarial ou governamental, com apoio de indivíduos in-teressados em um ambiente saudável e agradável. Mui-tos são os grupos em redes sociais em que dicas sobre manutenção de cantei-ros, cuidado com espécies doentes e eliminação de pragas são compartilhados. É através deles que alguns desses espaços foram con-cebidos. No Facebook, o grupo ‘Hor-telões Urbanos’ conta com a participação de mais de 76 mil pessoas de todo o Bra-sil. A comunidade, criada em 2011 por Claudia Visoni e Tatiana Achcar, amigas que queriam trocar suas ex-periências e dividir técnicas com hortelões experientes e iniciantes, é super variada. É possível encontrar entre os usuários pessoas dos mais diversos nichos e que divi-dem a paixão por agricultu-ra e plantio. Poucos são os que possuem algum tipo de curso ou especialização em áreas correlatas à lavoura. O principal objetivo do gru-po é compartilhar técnicas, trocar conhecimentos e se-mentes raras, sempre incen-tivando o consumo susten-tável e cuidadoso. Quase todas as dúvidas postadas

Ciência

são respondidas em pouco tempo, fazendo com que os posts interessantes tenham sempre muitos comentários. O grupo fortalece o debate, é comum encontrar pessoas explicando de onde surgi-ram, como cultivar, o que fa-zer, caso pragas apareçam, e como manter saudável di-versas espécies, sejam elas tradicionais ou não. Sempre há um hortelão disposto a ajudar dentro do que está ao seu alcance. E não se as-suste com o linguajar cientí-fico, eles costumam explicar a origem e diferença entre um vegetal e outro através de seus nomes técnicos. “Estamos ainda muito longe do cenário ideal. A população também precisa de engajamen-to, precisa entender que o rural pode sim se fazer presente no ur-bano, que terra não é sujeira, que folha seca não é sujeira, que é possível ter um alimen-to de qualidade dentro da cidade”, diz Guilherme Ranieri, que é um dos ad-ministradores do grupo dos hortelões no Facebook, cria-dor e responsável pelo site “Matos de Comer”, além de integrante participativo da Horta da Faculdade de Me-dicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Participante ativo de pági-nas sobre o cultivo e manu-tenção de hortas urbanas, Guilherme Ranieri decidiu criar seu site para compar-tilhar algumas de suas expe-riências, foi algo que surgiu como um fichamento das coisas que ele lia, via e pro-vava - inicialmente, em rela-ção a plantas espontâneas comestíveis. Depois, frutas, legumes e vegetais pou-co comuns, não necessa-riamente espontâneos. Em “Matos de Comer”, Guilher-me mostra que é possível ter em casa uma variedade de hortaliças, até mesmo as

não tão conhecidas, como as Pancs – plantas alimen-tícias não convencionais. “Na página, tento trazer conteúdo científico de forma clara e acessível, é uma página de divulgação de alimentos que pode-riam ser consumidos e não são, chamados por alguns autores de PANCs - plantas alimentícias não conven-cionais. Algumas plantas descritas na página são trocadas entre as hortas, fazemos experimentos in-formais com os ingredien-tes ou com os agricultores urbanos aqui da região metropolitana”. Guilherme é um ótimo exemplo de que é sim possível manter hábitos saudáveis dentro da rotina corrida da cida-de de São Paulo. Há pou-co tempo ele lançou uma cartilha, a convite do Ins-tituto Kairós (premiada or-ganização que fomenta a produção, distribuição, comercialização e con-sumo responsável através de políticas públicas e dis-seminação de conheci-mento), com o objetivo de alavancar o consumo de vegetais, frutas e hortaliças pouco comuns, mas que possuem grande potencial na cozinha e para a saúde. “A cidade de São Paulo tem muitos imigrantes que trazem consigo ingredien-tes com os quais estamos pouco familiarizados. Esses ingredientes são encontra-dos em feiras pela cidade, como no bairro do Pari, da Saúde, do Bom Retiro ou da Liberdade. Há também muitos produtores orgâni-cos com ingredientes in-comuns e maravilhosos. As pessoas acabam não com-prando por desconheci-mento. A ideia é fazer essa ponte, através do conhe-cimento científico, entre consumidor e produtor”.

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a horta do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Criada no ano de 2011, com a aju-da de voluntários em par-ceira com a Secretaria Mu-nicipal do Verde e do Meio Ambiente, o espaço, no jardim suspenso, abriga pés de alface, brócolis, rúcula, pimenta e até uma bana-neira, tudo isso ao lado da Avenida 23 de Maio. Assim como na FMUSP, eles não recebem apoio financei-ro ou investimentos de ter-ceiros. “A única vez que a gente recebeu algo na forma de financiamento foi por conta de um novo edi-tal que foi lançado, o Edi-tal de Mediação em Arte. Em 2015 eles abriram uma linha para agroecologia e a gente concorreu com o projeto e ganhou. Então, nessa época a gente fez um financiamento, mas continuou trabalhando vo-luntariamente, só com a di-ferença de que podíamos investir um pouco na es-trutura da horta e também chamar diversos oficineiros para virem dar cursos aqui, coisas que a gente queria aprender e aí podia remu-nerar as pessoas pelo co-nhecimento

AS HORTAS EM PRÁTICA

Na Faculdade de Medici-na da USP o processo de criar e manter uma horta surgiu com o apoio da pro-fessora Thais Mauad, que viu no grande espaço não aproveitado em uma das áreas externas do campus a oportunidade de plantar e revitalizar o local. O es-paço contou com poucas adaptações para receber a horta. Um dos principais objetivos é tornar acessível o consumo, qualquer um pode ir até o ambiente e colher o que precisar. “Mas sem querer fazer a feira, né! ”, diz Thais, sorrindo. “A gen-te tem uma escala mensal para a horta ser regada, in-clusive de final de semana, porque, se ninguém regar, não tem horta, né? Temos também duas vezes por se-mana um mutirão, sempre terças e sextas na hora do almoço e durante o verão quinta a tarde e sexta na hora do almoço”. Apesar de ocupar uma zona den-tro do prédio da Universi-dade de São Paulo, não houve qualquer tipo de doação ou financiamentos por parte da instituição. O

dinheiro utilizado na horta vem de ações colaborativas como a venda de camisetas e comidas, tudo organizado pelo grupo que luta para se manter em ordem mesmo com os poucos integrantes fixos. “Temos três participan-tes que são ponta firme, são os coordenadores. A gen-te deu sorte porque tem da universidade uns cinco alu-nos com bolsa então eles ajudam a gente na rega e tal. Tem voluntários que são flutuantes, vem e vai, vem por um tempo e depois não aparecem mais”. A profes-sora explicou que essa não foi a primeira iniciativa de horta dentro do espaço uni-versitário, e que esses proje-tos costumam não resistir ao tempo, justamente por falta de cuidado e comprometi-mento de seus integrantes. “O problema de trabalhar com horta é que ela requer um trabalho diário, tem que ter todo dia alguém olhan-do. Muitas hortas minguam por falta de voluntários. O Brasil é um país que não tem uma cultura de voluntariado forte e as pessoas não têm o costume de ajudar e princi-palmente se comprometer”.Outro exemplo de sucesso é

FOTO: Beatriz Oliveira - Horta FMUSP

Ciência

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QUALIDADE DE VIDA

Mais do que uma ativida-de de lazer, as pequenas “fazendas” espalhadas da cidade já são fonte de ali-mentação de muita gente. A cidade de São Paulo con-ta com espaços organiza-dos e administrados coleti-vamente em todas as suas regiões, sendo possível citar pelo menos uma iniciativa de sucesso por zona. “Essa horta fica num espaço que é aberto ao público, na verdade a gente não tem nenhum controle sobre a questão da colheita, qual-quer pessoa pode vir aqui e colher alguma coisinha. A gente com frequência vê alguém vir e tirar algumas folhinhas pra comer na sa-lada, no almoço e eu acho que isso é super legal! ”, co-menta Mariana sobre o es-paço do CCSP. A agricultura urbana ainda é desvalorizada, embora muito frequente em nosso país. “Seja uma horta feita no fundo do quintal, em es-paços institucionais como escolas e postos de saúde, ou ainda em espaços públi-cos e comunitários, elas es-tão presentes mesmo em ci-

dades grandes como São Paulo. É uma for-ma de complemento da alimentação e de gerar renda, assim como significa novas formas de viver o ur-bano, de ocupar o espaço público. O agricultor urbano re-cebe pouco ou ne-nhum apoio. Falta interesse institucio-nal para com essas questões dentro do urbano, subsídios, apoio técnico para a agricultura, para análise de solos, cap-tação de água da chuva, fornecimento de compostagem e logística de distribui-ção”, complementa Guilherme.

O QUE SÃO AS PANCS

São plantas alimentí-cias não convencio-nais, aquelas plantas que você já até ouviu falar, mas nunca teve a oportunidade de ex-perimentar. Atualmen-te o nosso consumo vem de pequena par-cela do que produzi-mos e consumimos em larga escala, todas as outras plantas que não conhecemos, não são comercializadas ou tem baixa procura são definidas como Panc.É necessário cuidado. Nem toda planta que cresce sozinha nas ruas, calçadas e terre-nos é necessariamen-te uma Panc.

ENDEREÇOS DAS HORTASHorta da FMUSP - Av. Dr. Arnaldo, 351-585 - Pacaembu,

São Paulo - SP, 01246-000

Horta CCSP – R. Vergueiro, 1000 - Liberdade, São Paulo - SP, 01504-000

que elas iam trocar aqui, o que é bastante justo”. Quem diz isso é Mariana de Toledo que, após algumas visitas, começou a partici-par de forma frequente do projeto e hoje é uma das responsáveis por sua orga-nização. Quem visita o es-paço se depara logo na entrada com plaquinhas de identificação para cada planta, avisos com datas dos próximos encontros co-laborativos e possíveis ofici-nas. Tudo é pensado coleti-vamente, é um princípio de autogestão.

FOTO: Beatriz Oliveira - Placa em Horta CCSP