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1

Sumário

Realismo ................................................................................................................. 2

o realismo nas artes ............................................................................................. 4

o realismo na literatura ......................................................................................... 4

Machado de Assis ................................................................................................... 5

memórias póstumas de brás cubas ..................................................................... 8

quincas borba .................................................................................................... 10

dom casmurro .................................................................................................... 11

Naturalismo ........................................................................................................... 23

Aluísio de Azevedo ............................................................................................ 24

resumo de ―o cortiço‖: ..................................................................................... 25

Raul Pompeia .................................................................................................... 27

enredo de ―o ateneu‖: ..................................................................................... 28

Parnasianismo ....................................................................................................... 34

Olavo Bilac ......................................................................................................... 37

Alberto de Oliveira.............................................................................................. 38

Raimundo Correia .............................................................................................. 40

Simbolismo ............................................................................................................ 46

Cruz e Souza ..................................................................................................... 48

Alphonsus de Guimaraens ................................................................................. 50

Gabarito ................................................................................................................ 54

2

ETAPA 2

REALISMO

A segunda metade do séc.

XIX é um período de grandes

mudanças no mundo ocidental.

Ocorre um grande

desenvolvimento científico,

principalmente nas áreas da

biologia, física e química; e

decisivas transformações

políticas, socioeconômicas,

ideológicas, científicas e

tecnológicas.

Sendo assim, a visão de

mundo dos escritores começa a

mudar. Por que escrever de

forma tão subjetiva se estão

acontecendo grandes mudanças

no mundo? O Realismo surge,

então, como um movimento

artístico e literário em reação ao

Romantismo, nas últimas

décadas do século XIX. Iniciou

em 1857, na França, com o

lançamento de ―Madame

Bovary‖, romance de Gustave

de Flaubert e, no Brasil, o início

se dá com a publicação de

―Memórias Póstumas de Brás

Cubas‖, em 1881, de Machado de Assis.

Entre 1850 e 1880 esse movimento cultural predominou na França e se

estendeu pela Europa e outros continentes. Seus integrantes repudiaram a

artificialidade do Neoclassicismo e do Romantismo, pois sentiam a necessidade

de retratar a vida, os problemas e costumes das classes média e baixa não

inspirada em modelos do passado. O movimento manifestou-se também na

escultura e, principalmente, na arquitetura.

Clausen, G. Busto de uma camponesa,

1882. Nessa tela, o pintor procura registrar a

vida rural com um realismo quase

fotográfico.

3

CARACTERÍSTICAS DO REALISMO

Veracidade: demonstra o que ocorre na sociedade sem ocultar ou

distorcer os fatos.

Contemporaneidade: descreve a realidade, fala sobre o que está

acontecendo de verdade.

Retrato fiel das personagens: caráter; aspectos negativos da natureza

humana.

Gosto pelos detalhes: lentidão na narrativa.

Amor: a mulher objeto de prazer/adultério.

Denúncia das injustiças sociais: mostra para todos a realidade dos fatos.

Determinismo e relação entre causa e efeito: o realista procurava uma

explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de

fatores que justificasse suas ações. Na literatura naturalista, dava-se ênfase ao

instinto, ao meio ambiente e à hereditariedade como forças determinantes do

comportamento dos indivíduos.

Linguagem próxima à realidade: simples, natural, clara e equilibrada.

Correntes Filosóficas da época:

Positivismo (Augusto Comte)

Determinismo (Hippolyte Taine)

Darwinismo (Charles Darwin)

Evolucionismo social (Herbert Spencer)

Socialismo Utópico (Saint-Simon)

Socialismo Científico (Karl Marx)

4

O REALISMO NAS ARTES

O Realismo fundou uma Escola artística que surgiu no século XIX em reação

ao Romantismo e se desenvolveu baseada na observação da realidade, na razão

e na ciência.

Como movimento artístico, surgiu na

França, e sua influência se estendeu a

numerosos países. Esta corrente aparece no

momento em que ocorrem as primeiras lutas

sociais contra o Socialismo, progressivamente

mais dominador, ao mesmo tempo em que há

um crescente respeito pelo fato empiricamente

averiguado, pelas ciências exatas e

experimentais e pelo progresso técnico. Das

influências intelectuais que mais ajudaram no

sucesso do Realismo denota-se a reação

contra as excentricidades românticas e contra

as suas idealizações da paixão amorosa. A

passagem do Romantismo para o Realismo

corresponde a uma mudança do belo e ideal

para o real e objetivo. No Romantismo, três

palavras de ordem nortearam o pensamento da

sociedade na época: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No Realismo estas

palavras foram substituídas por Ciência, Progresso e Razão.

O Realismo na Literatura

Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores

realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não

bastava mostrar a face sonhadora ou idealizada da vida, como fizeram os

românticos; e desejaram mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano

massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência

do homem comum diante dos poderosos.

Uma característica do romance realista é o seu poder de crítica, adotando

uma objetividade que faltou ao Romantismo. Grandes escritores realistas

descrevem o que está errado de forma natural ou por meio de histórias, como

Machado de Assis. Se um autor desejasse criticar a postura de alguma entidade,

Rodin, A. O Pensador, 1880.

5

não escreveria um soneto para tanto, porém escreveria histórias que a

envolvessem de forma a inserir, nessas histórias, o que eles julgam ser a entidade

e como as pessoas reagem a ela.

MACHADO DE ASSIS

É o expoente máximo do Realismo no Brasil.

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 —

Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor amplamente considerado

como o maior nome da literatura nacional. Escreveu praticamente todos os

gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista,

folhetinista, jornalista e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país

quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos

eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do

Livramento, Rio de Janeiro, de uma

família pobre, mal estudou em

escolas públicas e nunca frequentou

universidade. Os biógrafos notam

que, interessado pela boemia e pela

corte, lutou para subir socialmente

abastecendo-se de superioridade

intelectual. Para isso, assumiu

diversos cargos públicos, passando

pelo Ministério da Agricultura, do

Comércio e das Obras Públicas, e

conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras

poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi

o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

Sua extensa obra pode ser dividida em duas fases – antes e depois de 1881.

A primeira fase possui tendências românticas. Por volta de 1860, publica suas

primeiras crônicas; logo após, produz artigos, críticas, peças teatrais, contos,

romances e poesias. No entanto, por esta época, Machado ainda buscava seus

caminhos. Trazia uma velha herança romântica e lia os mestres europeus da

atualidade, bem como todos os grandes clássicos da Literatura universal.

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A segunda parte de seu trabalho sofre grande influência do Realismo, sendo

considerado o introdutor desse período literário no Brasil com a publicação de

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de

todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e

Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes a sua segunda

fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja

rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas

melhores obras são as da Trilogia Realista. Sua primeira fase literária é

constituída de obras como Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia,

onde se notam características herdadas do Romantismo, ou ―convencionalismo‖,

como prefere a crítica moderna.

A obra machadiana constitui-se de nove romances e nove peças teatrais,

duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas

crônicas. Suas primeiras produções foram editadas por Paula Brito, e, mais tarde,

por Baptiste-Louis Garnier que havia chegado ao Rio de Janeiro em 1844 de Paris

e estabeleceu-se aí como uma figura notória do mercado livreiro brasileiro.

Características principais:

Análise crítica da burguesia carioca;

Ironia (desmascara o jogo das relações sociais);

Pessimismo, niilismo, humor amargo;

Análise psicológica em profundidade;

Conversa com o leitor;

Adultério, loucura, anticlericalismo.

Aspectos temáticos e ideológicos

É na realista que dois temas ganham destaque nos romances machadianos:

o adultério – real ou imaginário, pelo qual se desmascara a duplicidade

psicológica e moral das personagens e, no aspecto social, se questiona a

instituição do casamento burguês, frágil e convencional;

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a loucura – que põe em discussão os limites entre normalidade e

anormalidade, questiona a relatividade dos conceitos referentes à insanidade

mental, ao mesmo tempo em que revela o mundo dúplice em que se divide e se

debate o ser humano.

Associados a esses temas, outros também se destacam:

a hipocrisia – o jogo entre o ser e o parecer, em uma sociedade dominada

pela dissimulação, pela desonestidade, pelas aparências;

o egoísmo e o interesse – base das vontades e dos comportamentos, na

ânsia pelo dinheiro, poder, status;

a mediocridade – das personagens, de suas vidas, de seus valores, de

seus comportamentos. Não há grandeza moral nas personagens machadianas;

são vidas rasteiras ou feitas de ambições mesquinhas.

Nesse contexto, é fundamental em sua obra a questão do humor irônico e do

pessimismo como posturas filosóficas frente à hipocrisia, à mediocridade e aos

falsos valores do mundo burguês que, desmascarados, levam o autor à descrença

no homem e na sociedade.

Obras

Romances

Ressurreição (1872); A mão e a luva (1874); Helena (1876); Iaiá Garcia

(1878); Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Casa Velha (1885); Quincas

Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); Memorial de Aires

(1908)

Coletânea de Poesias

Crisálidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875); Ocidentais (1880);

Poesias Completas (1901).

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Coletânea de contos

Contos Fluminenses (1870); Histórias da Meia-Noite (1873); Papéis Avulsos

(1882); Histórias sem Data (1884); Várias Histórias (1896); Páginas Recolhidas

(1899); Relíquias da Casa Velha (1906).

Memórias póstumas de Brás Cubas

Importante por marcar o início do Realismo

no Brasil (1881), o romance constitui uma

revolução da estrutura e da linguagem. O público

do romance romântico estava acostumado ao

episódio, aos incidentes c ircunstanciais das

personagens. Machado de Assis escreve um

romance que se caracteriza pela lentidão e pela

análise exaustiva, narrado em primeira pessoa

por um defunto, Brás Cubas, preocupado em

reexaminar, de modo irônico mas radical, os

principais momentos de sua vida.

Brás Cubas é o defunto autor que faz um

inventário de seus fracassos. Escreve suas

memórias, já morto: ―não sou propriamente um

autor defunto, mas um defunto autor.‖ E assim,

livre das injunções sociais e conveniências pessoais expõe e analisa

impiedosamente o comportamento humano e suas motivações mais secretas.

As lembranças não aparecem linearmente, mas dependem das oscilações

da memória. Pondo a nu seus comportamentos e seus mais secretos desejos e

anomalias, põe igualmente a nu as hipocrisias de uma sociedade que estrutura

sua vida sobre falsos valores.

Brás Cubas conta seus amores por Marcela, paixão desenfreada de sua

juventude, seus ideais para vencer na vida, sempre equivocados; a sua relação

amorosa com Virgília, esposa de seu amigo Lobo Neves; analisa a teoria do

Humanitismo, do seu amigo filósofo Quincas Borba.

A análise individual e social é sarcástica, impiedosa, até corrosiva, e o

romance está impregnado de amargura cruel e niilista, cuja síntese encontramos

nas palavras de Brás Cubas: ―...ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me

com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.‖

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Brás Cubas vinha de uma família rica. Era um menino arteiro, mimado e

protegido pelos pais. Sem nunca ter responsabilidades e culpas, passou a infância

e chegou à mocidade. Foi nela que conheceu Marcela, uma espanhola, por quem

se apaixonou. Conquistou-a e viveu um romance. Brás enchia-a de caros

presentes e foi assim que gastou um pouco de sua herança.

Seu pai, nessas circunstâncias, o mandou à Europa para cursar a faculdade.

Ele acabou aceitando, mas pretendia partir levando Marcela, com quem tudo já

estava ajustado. Porém, sua partida foi repentina e ele foi sozinho. Durante a

viagem por muitos dias pensou em findar sua vida, no entanto, abandonou a ideia.

Chegado à Europa fez faculdade, formou-se e ficou vivendo lá. Voltou a chamado de seu pai, falando que voltasse ou não veria sua mãe viva. Poucos dias após a chegada de Brás sua mãe faleceu. Depois disso ele se trancou em casa e ficou a se dedicar à leitura.

Passado algum tempo seu pai esteve com ele. Tinha um plano para Brás: a carreira política e o casamento. Brás pensou por um tempo e acabou aceitando a proposta do pai. A noiva, Virgília, era bela e seu pai facilitaria a entrada na política. Mas antes de voltar para a casa do pai e seguir com os dois ideais, Brás fez uma visita à Dona Eusébia, conhecida da família ela cuidara de sua mãe antes da morte. Lá conheceu Eugênia, filha da senhora. Os dois viveram um breve romance, mas a moça era coxa, e assim como começou acabou.

Brás finalmente foi ter com a noiva e o futuro cargo na política. Mas os dois planos deram errado e Virgília acabou casada com Lobo Neves. Após tais acontecimentos o pai de Brás faleceu, a morte dele acarretou uma briga entre Brás e Sabina, sua irmã, devido à herança.

Brás voltou a viver sozinho, escrevia versos algumas vezes e era por isso que recebia a visita de Luís Dutra. Foi por intermédio desse que recebeu a notícia da chegada de Virgília e seu marido. Talvez o momento em que os dois noivaram não era adequado, mas nesse momento era o tempo e assim os dois iniciaram um romance. No início eram só valsas, mas logo arrumaram uma casa onde se encontravam.

Foi nesses tempos que Brás encontrou-se com um amigo de infância, Quincas Borba, infelizmente ele tinha se tornado um desgraçado. Mas Brás seguiu. Em certo momento de seu romance com Virgília chegou até as mãos de Lobo Neves uma carta anônima denunciando o romance dos dois. O que só desencadeou mais paixão. Brás já tinha proposto que os dois fugissem, mas a ideia foi abandonada e seguiam com o romance às escondidas.

Lobo Neves recebeu uma proposta de trabalho no ministério, na província, isso abalou o romance dos dois amantes. Mas Lobo convidou Brás para que fosse seu secretário e assim foi. Ganhada as eleições acabaram abandonando o cargo por pura superstição.

Seguiram o romance, que era acobertado por D. Plácida, que zelava da casa dos encontros. Por esse tempo Virgília engravidou e Brás sentiu o prazer da paternidade, entretanto ela perdeu a criança. Também nesse tempo, Brás tinha feito as pazes com sua irmã e ela lhe buscava uma noiva.

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Em uma vez, estando Virgília e Brás na casa onde se encontravam, apareceu por lá Lobo Neves sobre o pretexto de visitar D. Plácida. Brás se escondeu. Tudo acabou bem, mas daí para frente o romance dos dois amantes encerrou. Lobo acabou conquistando a presidência do ministério e eles partiram para a província.

Brás se reencontrara novamente com Quincas Borba, mas desta vez ele tinha se transformado por virtude de uma herança, os dois entraram em um estudo filosófico sobre a filosofia Humanista de Quincas. Já nesses tempos, Sabina arrumara uma noiva para Brás. Eulália Damasceno. Depois de muito refletir, Brás estava quase a firmar compromisso com a donzela, quando ela veio a falecer por febre amarela.

Daí pra frente, Brás se juntara a Quincas no praticar da filosofia Humanista, candidatou-se a político, cargo que logo perdeu, e criou um jornal que rapidamente morreu. Nos seus últimos dias, viu Quincas morrer e ter o início de uma loucura, por fim morreu.

Ao fim, Brás Cubas se vangloria por não ter tido um pão comprado com o suor de seu trabalho e não ter dado continuidade à humanidade.

Quincas Borba

Narrado em terceira pessoa, o romance

conta a história de um modesto professor mineiro,

Rubião, que tendo servido de enfermeiro a

Quincas Borba, o malucado filósofo do

Humanitismo, dele herda todos os bens, com a

condição de cuidar de seu cachorro, também

chamado Quincas Borba.

O Humanitismo, início e fim de todas as

coisas, manifesta-se, sobretudo, nos fortes.

Primeiro Rubião foi o vencedor, a o receber a

fortuna de Quincas Borba. Deixou, em seguida,

que Palha e Sofia, enganando-o, enriquecessem

às suas custas. Morre abandonado, louco e pobre.

―Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.‖ Esse é o fecho de uma

parábola que seu mestre, Quincas Borba, lhe contara. Na estória, duas tribos

famintas disputam um campo de batatas, condição de sobrevivência para quem

dele se apossasse.

Por fim, Rubião herdara de Quincas Borba a fortuna, o cão e a loucura.

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Dom Casmurro

Primeiramente, explica-se o nome do livro e o porquê da

alcunha a Bento Santiago de ―Dom Casmurro‖:

a)―Casmurro‖ faz referência a seus reclusos e calados;

b)―Dom‖ é o termo irônico que lhe fornece ares de fidalgo.

O romance se vale de uma situação cheia de incertezas

para sugerir quase tudo e revelar muito pouco.

O narrador-personagem, depois de tentar, sem sucesso, reconstituir a sua

história através de uma cópia de sua casa na infância, decide atar as duas pontas

da sua vida, através de um livro autobiográfico que o ajudasse a restaurar o

passado.

Dom Casmurro ou Bentinho, como era chamado o personagem na sua

infância, morava em uma casa com sua mãe a viúva D. Glória, tio Cosme, prima

Justina e, também, José Dias, agregado da família, que já era considerado como

membro desta.

Era novembro de 1857, Bentinho escutou José Dias conversando com sua

mãe, aconselhando D. Glória a colocar Bentinho no seminário o mais rápido

possível, a fim de cumprir uma promessa feita no passado, pois já havia a

desconfiança de que Bentinho estivesse apaixonando-se por uma vizinha, amiga

de infância, Capitu.

Após escutar a conversa, Bentinho percebe que realmente gosta de Capitu.

Ao declarar-se à vizinha, Bento vê que seu sentimento é correspondido e passa a

fazer planos para não precisar ir para o seminário. Mas Bentinho não tem êxito

com seus planos e não consegue escapar do destino imposto pela religiosidade

da mãe. Segue, então, ao seminário e lá conhece Escobar que veio a ser, mais

tarde, o seu melhor amigo.

Bentinho se empenhou em convencer a mãe a custear os estudos de outra

pessoa, fazendo dele padre em seu lugar. Dessa forma, o protagonista abandonou

o seminário e foi para a faculdade de Direito. Formou-se advogado e retornou ao

local da sua infância para casar com Capitu. O amigo Escobar também saiu do

seminário e se casou com a melhor amiga de Capitu, Sancha.

Os dois casais vão fortalecendo as amizades. Sancha e Escobar têm uma

filha que recebe o nome de Capitolina em homenagem à amiga Capitu. Depois de

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um longo tempo de espera, Bentinho e Capitu, também têm um filho, que recebe o

nome de Ezequiel, como também se chamava Escobar.

O tempo foi passando e a vida transcorrendo muito bem entre os casais.

Mas, um dia, Escobar morre afogado. No enterro do amigo, Bentinho percebeu em

Capitu uma tristeza enorme que lhe pareceu indevida. A esposa não só lhe

parecia triste demais, mais do que o normal, como também lhe aparentava

dissimular tal tristeza.

No dia seguinte ao da morte do amigo, Bentinho, ao olhar para uma

fotografia do falecido, notou certa semelhança entre ele e seu filho. Desde então

surgem fatos, situações e lembranças que o conduzem ao adultério da esposa.

Teria Capitu enganado Dom Casmurro? Será que a esposa o havia traído com o

seu melhor amigo?

O sentimento de traição passou a predominar e era horrível. Dom Casmurro

chegou a procurar o suicídio, mas Ezequiel fez com que percebesse que, além do

sentimento atormentador da traição e da condição de bastardo do filho, havia

também o sentimento amoroso entre pai e filho.

―Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desespero era grande,

e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora devagar, para dividir pelo tempo

da morte todos os minutos da vida embaçada e agoniada. Quando, porém,

tornava a casa e via no alto da escada a criaturinha que me queria e esperava,

ficava desarmado e diferia o castigo de um dia para outro.‖ (Capítulo CXXXII)

Ezequiel foi colocado em um internato, mas à medida que o tempo foi

passando sua semelhança com o falecido foi aumentando e nos finais de semana

era impossível para Bentinho sentir-se em paz.

Bentinho não conseguiu expor claramente suas ideias para Capitu, não

houve uma conversa muito clara entre o casal e Capitu por sua vez disse que a

semelhança do menino com Escobar era casualidade do destino, mas mesmo

assim decidiram partir para uma separação amigável, mantendo as aparências.

Bento resolveu então levar a família à Europa, e, de lá, voltou sozinho.

Embora tenha viajado outras vezes para a Europa, nunca mais voltou a ver

Capitu.

O tempo foi passando e morreram Tio Cosme, D. Glória e José Dias. Certo

dia, Ezequiel voltou da Europa anunciando a morte também de Capitu. Dom

Casmurro vê no filho a imagem perfeita de Escobar. Passados alguns meses

Ezequiel viaja para o Oriente Médio e, depois de um tempo, morre de febre tifoide.

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O narrador-personagem apresenta uma série de provas, e também

contraprovas como o fato de Capitu ser tão parecida com a mãe de Sancha sem

haver parentesco algum entre elas. Nenhuma das provas do adultério de Capitu

encontradas por D. Casmurro foram comprovadas.

Mortos todos, familiares e velhos conhecidos, D. Casmurro, em sua vida

fechada, ainda podia se consolar com algumas amigas, mas jamais se esqueceu

do grande amor que o havia traído com seu maior amigo. Será que o havia traído?

A narrativa de seu livro se mostra eficaz ao tentar atar duas pontas de sua

vida: a adolescência com a velhice e após o término, para esquecer o relembrado,

o revivido, nada melhor que escrever outro livro: Uma História dos subúrbios do

Rio de Janeiro.

―A minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão

queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me.‖

Exercício

Leia e analise o conto abaixo, de Machado de Assis.

Pai contra mãe

A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.

O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esqu erda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.

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Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.

Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: ―gratificar-se-á generosamente‖, — ou ―receberá uma boa gratificação‖. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.

Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à desordem.

Cândido Neves, — em família, Candinho, — é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua

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vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.

Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito.

Contava trinta anos. Clara vinte e dois. Ela era órfã, morava com uma tia, Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto que não namorasse o seu pouco, mas os namorados apenas queriam matar o tempo; não tinham outro empenho. Passavam às tardes, olhavam muito para ela, ela para eles, até que a noite a fazia recolher para a costura. O que ela notava é que nenhum deles lhe deixava saudades nem lhe acendia desejos. Talvez nem soubesse o nome de muitos. Queria casar, naturalmente. Era, como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe pegava, mas o peixe passava de longe; algum que parasse, era só para andar à roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a outras.

O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um baile; tal foi — para lembrar o primeiro ofício do namorado, — tal foi a página inicial daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar. Não negavam a gentileza do noivo, nem o amor que lhe tinha, nem ainda algumas virtudes; diziam que era dado em demasia a patuscadas.

— Pois ainda bem, replicava a noiva; ao menos, não caso com defunto. — Não, defunto não; mas é que... Não diziam o que era. Tia Mônica, depois do casamento, na casa pobre onde

eles se foram abrigar, falou-lhes uma vez nos filhos possíveis. Eles queriam um, um só, embora viesse agravar a necessidade.

— Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome, disse a tia à sobrinha. — Nossa Senhora nos dará de comer, acudiu Clara. Tia Mônica devia ter-lhes feito a advertência, ou ameaça, quando ele lhe foi

pedir a mão da moça; mas também ela era amiga de patuscadas, e o casamento seria uma festa, como foi.

A alegria era comum aos três. O casal ria a propósito de tudo. Os mesmos nomes eram objeto de trocados, Clara, Neves, Cândido; não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço. Ela cosia agora mais, ele saía a empreitadas de uma coisa e outra; não tinha emprego certo.

Nem por isso abriam mão do filho. O filho é que, não sabendo daquele desejo específico, deixava-se estar escondido na eternidade. Um dia, porém, deu sinal de si a criança; varão ou fêmea, era o fruto abençoado que viria trazer ao casal a suspirada ventura. Tia Mônica ficou desorientada, Cândido e Clara riram dos seus sustos.

— Deus nos há de ajudar, titia, insistia a futura mãe.

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A notícia correu de vizinha a vizinha. Não houve mais que espreitar a aurora do dia grande. A esposa trabalhava agora com mais vontade, e assim era preciso, uma vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo com retalhos o enxoval da criança. À força de pensar nela, vivia já com ela, media-lhe fraldas, cosia-lhe camisas. A porção era escassa, os intervalos longos. Tia Mônica ajudava, é certo, ainda que de má vontade.

— Vocês verão a triste vida, suspirava ela. — Mas as outras crianças não nascem também? perguntou Clara. — Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda que

pouco... — Certa como? — Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai

dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo? Cândido Neves, logo que soube daquela advertência, foi ter com a tia, não

áspero, mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já algum dia deixara de comer.

— A senhora ainda não jejuou senão pela semana santa, e isso mesmo quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter o nosso bacalhau...

— Bem sei, mas somos três. — Seremos quatro. — Não é a mesma coisa. — Que quer então que eu faça, além do que faço? — Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do

armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm um emprego certo... Não fique zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação que escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém.

— Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me abandona, e preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste, muitos entregam-se logo.

Tinha glória nisto, falava da esperança como de capital seguro. Daí a pouco ria, e fazia rir à tia, que era naturalmente alegre, e previa uma patuscada no batizado.

Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma esquina, conversando de coisas remotas, via passar um escravo como os outros, e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.

Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos não vinham já, como dantes, meter-se nas mãos de Cândido Neves. Havia mãos novas e hábeis.

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Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda, foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais de um competidor. Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A vida fez-se difícil e dura. Comia-se fiado e mal; comia-se tarde. O senhorio mandava pelo aluguéis.

Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a necessidade de coser para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente. Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não trazia vintém. Jantava e saía outra vez, à cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro, enganar-se de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia a serviço de seu senhor; tal era a cegueira da necessidade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem.

— É o que lhe faltava! exclamou a tia Mônica, ao vê-lo entrar, e depois de ouvir narrar o equívoco e suas consequências. Deixe-se disso, Candinho; procure outra vida, outro emprego.

Cândido quisera efetivamente fazer outra coisa, não pela razão do conselho, mas por simples gosto de trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou de pessoa. O pior é que não achava à mão negócio que aprendesse depressa.

A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de nascer. Chegou o oitavo mês, mês de angústias e necessidades, menos ainda que o nono, cuja narração dispenso também. Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não podiam ser mais amargos.

— Não, tia Mônica! bradou Candinho, recusando um conselho que me custa escrever, quanto mais ao pai ouvi-lo. Isso nunca!

Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar a criança que nascesse à Roda dos enjeitados. Em verdade, não podia haver palavra mais dura de tolerar a dois jovens pais que espreitavam a criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular... Enjeitar quê? enjeitar como? Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro na mesa de jantar. A mesa, que era velha e desconjuntada, esteve quase a se desfazer inteiramente. Clara interveio.

— Titia não fala por mal, Candinho. — Por mal? replicou tia Mônica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que

é o melhor que vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão faltando. Se não aparecer algum dinheiro, como é que a família há de aumentar? E depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior. Este será bem criado, sem lhe faltar nada. Pois então a Roda é alguma praia ou monturo? Lá não se mata ninguém, ninguém morre à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se viver à míngua. Enfim...

Tia Mônica terminou a frase com um gesto de ombros, deu as costas e foi meter-se na alcova. Tinha já insinuado aquela solução, mas era a primeira vez que o fazia com tal franqueza e calor, — crueldade, se preferes. Clara estendeu a mão ao marido, como a amparar-lhe o ânimo; Cândido Neves fez uma careta, e

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chamou maluca à tia, em voz baixa. A ternura dos dois foi interrompida por alguém que batia à porta da rua.

— Quem é? perguntou o marido. — Sou eu. Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em pessoa

ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse. — Não é preciso... — Faça favor. O credor entrou e recusou sentar-se; deitou os olhos à mobília para ver se

daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário; mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar a retorquir. Fez uma inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da casa não cedeu mais.

— Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo. Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao

desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança.

A situação era aguda. Não achavam casa, nem contavam com pessoa que lhes emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica, que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para os lados de um pátio. Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dois, para que Cândido Neves, no desespero da crise, começasse por enjeitar o filho e acabasse alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do obséquio e iriam dormir melhor do que cuidassem.

Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dois dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia Mônica insistiu em dar a criança à Roda. ―Se você não a quer levar, deixe isso comigo; eu vou à Rua dos Barbonos.‖ Cândido Neves pediu que não, que esperasse, que ele mesmo a levaria. Notai que era um menino, e que ambos os pais desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte.

Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos. As gratificações pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma, porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto e de vestido. Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora, porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia

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andar, segundo o anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta ou barata.

Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara de si mesma a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à Roda. O pai, não obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo. Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade. Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da Rua dos Barbonos.

Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que lhe cobria o rosto para preservá-lo do sereno. Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou a afrouxar o passo.

— Hei de entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele. Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que

lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta; digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la sem falta.

— Mas... Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a

rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a mesma, era a mulata fujona.

— Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio. Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o

pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus.

— Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo que quiser. Me solte, meu senhor moço!

— Siga! repetiu Cândido Neves. — Me solte!

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— Não quero demoras; siga! Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo, arrastava-se a si e ao filho.

Quem passava ou estava à porta de uma loja, compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, — coisa que, no estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar açoites.

— Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois? perguntou Cândido Neves.

Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes coisas. Foi arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede, recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que deveria. Chegou, enfim, arrastada, desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em casa, acudiu ao chamado e ao rumor.

— Aqui está a fujona, disse Cândido Neves. — É ela mesma. — Meu senhor! — Anda, entra... Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e

tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de cinquenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava abortou.

O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi o que ele fez sem querer conhecer as consequências do desastre.

Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria de amor. Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga. Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.

— Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.

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1. ―Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria‖. O enunciado acima se refere a uma das obras de Machado de Assis intitulada:

A) Dom Casmurro B) Memorial de Aires C) Memórias póstumas de Brás Cubas D) Quincas Borba E) Esaú e Jacó 2. “Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão

daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Daí, vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos.”

Podemos dizer que o trecho acima pertence ao Realismo, já que apresenta

as seguintes características: A) dúvida em torno da validade da religião; descaso pelo homem como ser

socializado; apologia dos sentimentos nobres; B) descrença dos sentimentos humanos; morbidez em face do amor;

conformismo diante da fragilidade do ser humano; C) apologia do materialismo; desprezo pela atitude místico-religiosa dos

homens; passividade diante da contínua presença da morte; D) visão materialista do mundo; desprezo pelos valores sociais

estabelecidos; desprezo pelo homem e pela vida; E) ausência de visão sentimentalista do mundo; descrença em valores

religiosos, consciência da fragilidade oral e física do ser humano. 3. Falar sobre Machado de Assis, sem sombra de dúvida, requer tempo e

argumentos, dada a preciosidade artística desse nobre representante de nossas letras. Assim, procure evidenciar, ainda que em simples linhas, um pouco das características inerentes ao trabalho que ele desenvolveu, o qual nos rendeu um legado cultural sem margens para discussões.

4. O Realismo foi um movimento de: A) volta ao passado; B) exacerbação ultrarromântica; C) maior preocupação com a objetividade; D) irracionalismo; E) moralismo. 5. Considerando-se iniciado o movimento realista no Brasil quando: A) Aluísio de Azevedo publica ―O Homem‖. B) José de Alencar publica ―Lucíola‖. C) Machado de Assis publica ―Memórias Póstumas de Brás Cubas‖. D) As alternativas a e c são válidas. E) As alternativas a e b são válidas.

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6. O Realismo, como escola literária, é caracterizado: A) pelo exagero da imaginação; B) pelo culto da forma; C) pela preocupação com o fundo; D) pelo subjetivismo; E) pelo objetivismo. 7. Podemos verificar que o Realismo revela: I – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que

romantismo se volta para o passado ou para o futuro. II – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a

síntese operam buscando um sentido para o encadeamento dos fatos. III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e

gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos. Assinale: A) se as afirmativas II e III forem corretas; B) se as três afirmativas forem corretas; C) se apenas a afirmativa III for correta; D) se as afirmativas I e II forem corretas; E) se as três afirmativas forem incorretas. 8. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo: Certo

não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o astro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.

Com base nesse texto, notamos que o autor: A) Preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária

deve decorrer de uma elaborada produção dos autores. B) Refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período

reivindicaram uma estética oposta à clássica. C) Entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados,

que não pode ser manipulado por movimentos literários específicos. D) Defende a ideia de que cada movimento literário deve ter um programa

estético rígido e inviolável. E) Entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideais

para pôr termo à falta de invenção dos românticos.

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NATURALISMO O Naturalismo é uma escola literária conhecida por ser a radicalização do

Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. A escola esboçou o que se pode declarar como os primeiros passos do pensamento teórico evolucionista de Charles Darwin.

O Naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica.

Os romances naturalistas destacam-se pela abordagem extremamente aberta do sexo e pelo uso da linguagem falada. O resultado é um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador. Ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de se estar a ler uma obra contemporânea, que acabou de ser escrita. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é um mero produto da hereditariedade e o seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age.

A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, que acreditavam ser a Seleção Natural impulsionadora da transformação das espécies.

Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.

Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista.

Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes e impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como a homossexualidade, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados pelos seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços da sua natureza animal.

No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em 1881. Esta marcou o início do Naturalismo brasileiro e a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.

A escravidão era o principal problema social, político e econômico do país nesta época. A nação vivia traumatizada por esse problema, que crescia na medida em que o sentimento republicano aflorava. Machado de Assis tratou, se bem que indiretamente, da escravidão; mas foi Aluísio de Azevedo que causou impacto com seus romances naturalistas.

CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO

O ser humano reduzido ao nível animal – instinto.

Detalhismo, descrição fotográfica.

Aspectos sórdidos, patologia, desvios de comportamento.

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ALUÍSIO DE AZEVEDO Aluísio de Azevedo (São Luís, 14 de

abril de 1857 — Buenos Aires, 21 de janeiro de 1913) foi um romancista, contista, cronista, diplomata, caricaturista e jornalista brasileiro; além de bom desenhista e discreto pintor.

Obras: ―Uma lágrima de mulher‖

(1880), ―O mulato‖ (1881), ―Mistério da Tijuca ou Girândola de Amores‖ (1882), ―Memórias de um condenado ou A Condessa Vésper‖ (1882), ―Casa de pensão‖ (1884), ―Filomena Borges‖ (1884), ―O homem‖ (1887), ―O cortiço‖ (1890), ―O coruja‖ (1890), ―A mortalha de Alzira‖ (1894), ―O livro de uma sogra‖ (1895).

―O Cortiço‖ – romance publicado em

1890. Considerando o cortiço como um personagem que determina tudo, o autor focaliza a miséria dos subúrbios cariocas em fins do séc. XIX. A partir do meio ambiente, procura evidenciar a sua influência sobre os personagens, inclusive suas taras sexuais e anomalias psicológicas. A prostituição e a miséria são temas comuns a todos os ficcionistas do Naturalismo.

É um marco do Naturalismo no Brasil, onde os personagens principais são os moradores de um cortiço no Rio de Janeiro, precursor das favelas, onde moram os excluídos, os humildes, todos aqueles que não se misturavam com a burguesia, e todos eles possuindo os seus problemas e vícios, decorrentes do meio em que vivem.

O autor descreve a sociedade brasileira da época, formada pelos portugueses, os burgueses, os negros e os mulatos, pessoas querendo mais e mais dinheiro e poder, pensando em si só, ao mesmo tempo em que presenciam a miséria, ou mesmo a simplicidade de outros.

Essa obra de Aluísio Azevedo tem alguns elementos importantes:

Determinismo - embalado pela onda científica, Aluísio escreve ‗O Cortiço‘ sob as bases do Determinismo (doutrina que acredita que o homem é produto do meio, da raça e do momento em que vive) e do Darwinismo, com a Teoria do Evolucionismo. Sob aspecto naturalista, isto é, sob olhar científico, a narração se desenvolve em meio à insalubridade do cortiço, propício à promiscuidade, característica do Naturalismo.

Autocaricatura de Aluísio

Azevedo, apresentando-se aos

leitores do rio de janeiro, para

onde se mudara após o

escândalo causado pela

publicação de ―O mulato‖.

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O extensivo uso de zoomorfismo - Ao contrário do que se desenvolvia no Romantismo, Aluísio descreve o coletivo, explicitando a animalização, que é o uso excessivo do zoomorfismo. Isso é o que dá ao ser humano a característica de agir como animal, movido pelo instinto e o desejo sexual, onde inaugura uma classe nunca antes representada: o proletário, evidenciando a desigualdade social vivenciada pelo Brasil, juntamente com a ambição do capitalismo selvagem.

Foi a primeira obra brasileira a expor um relacionamento lésbico. E, entre

outras características, é importante ressaltar a impessoalidade. Os escritores apresentavam os temas sem se colocarem subjetivamente, ou seja, ficavam de fora.

Resumo de “O cortiço”: O romance não se concentra em um

personagem apenas, mas no início, a ação está mais ou menos centrada no português João Romão, ganancioso e avarento comerciante que consegue enganar uma escrava trabalhadeira, chamada Bertoleza (Aluísio várias vezes menciona o conceito racista de que Bertoleza era submissa e trabalhadeira por ser negra), conseguindo assim, uma empregada que trabalhava de graça. João Romão privava-se de todo o luxo, e só gastava dinheiro em coisas que o faziam ganhar mais dinheiro. Foi assim que ele começou a comprar terreno e construiu o Co rtiço.

Miranda, vizinho rico de Romão, e também português, que vivia no luxo, começa a questionar o modo como conseguiu a riqueza e a invejá-lo por enriquecer por conta própria. João Romão, que continua enriquecendo, constrói uma pedreira, e contrata o português Jerônimo para supervisionar os trabalhadores.

O que se segue é a transformação de Jerônimo, de um português forte, trabalhador e honesto em um brasileiro malandro e preguiçoso (seguindo os preceitos naturalistas de que o meio determina o homem), graças à sua atração por Rita Baiana, uma mulata que morava no cortiço. Jerônimo briga com Firmo, namorado de Rita Baiana, é esfaqueado e vai para o hospital. Após sair de lá, embosca Firmo com a ajuda de dois amigos e o mata a pauladas, jogando seu cadáver no mar.

Enquanto isso, João Romão começa a invejar Miranda, que acaba de conseguir um título de nobreza (barão). E, quando o cortiço é destruído por um incêndio, ele o reconstrói, mas desta vez, para a classe média, ao invés da ralé que morava lá antes. Depois, ele começa a comprar coisas caras e pensa em casar-se com a filha de Miranda, para tornar-se nobre também. Porém, há um problema: Bertoleza.

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João Romão arma um plano para livrar-se de Bertoleza. Ele avisa ao dono dela (pois, ele havia forjado uma carta falsa de alforria) de seu paradeiro, esperando que ele a pegasse de volta. Mas, quando o dono dela vem buscá-la, ela se mata, fincando uma faca em seu ventre.

Logo após, João recebe um diploma de sócio benemérito de uma comissão de abolicionistas.

Aprofundamento

O livro, além de transformar o homem em um animal, personifica o cortiço, que vai nascer (tendo, simbolicamente, como pai João Romão), crescer, espalhar-se, reproduzir-se e morrer. Os personagens vão ser tratados como uma consequência do protagonista, não são causa, são efeito do cortiço, que vão determinar o seu comportamento.

Todo personagem que conviver com pessoas consideradas de baixo nível, irá desvirtuar-se, como Pombinha, por exemplo. Era loura, íntegra, moça de boa família. Foi rica até ser órfã de pai, que se suicidou ao falir, deixando-a pobre com sua mãe. Foi descrita como a flor do cortiço. No entanto, Pombinha convive em um lugar com pessoas humildes, que irão desvirtuá-la. Pombinha conhece Léonie, uma prostituta que irá se relacionar com ela, surgindo o lesbianismo.

Jerônimo era um rapaz trabalhador, honesto, vivia para a mulher, que também vivia para ele, ambos tinham se mudado de Portugal em busca de melhores condições no Brasil. Amavam-se profundamente. Jerônimo vai trabalhar numa pedreira e se hospeda com sua mulher, Piedade, no cortiço, lá conhece Rita Baiana, por quem se apaixona, deixando mulher e filha desamparadas. Piedade se torna alcoólatra, e a filha torna-se a nova ―Pombinha‖ do cortiço.

Trechos de “O Cortiço”:

―E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro e multiplicar-se como larvas no esterco.‖

―Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma

aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.‖

―Leandra... a ‗Machona‘, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e

grossos, anca de animal do campo.‖ ―Rita Baiana... uma cadela no cio.‖ ―Amara-o a princípio por afinidade de temperamento, pela irresistível

conexão do instinto luxurioso e canalha que predominava em ambos, depois

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continuou a estar com ele por hábito, por uma espécie de vício que amaldiçoamos sem poder largá-lo; mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.‖

―O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das

extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito da economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e deu-se todo, todo inteiro, à felicidade de possuir a mulata e ser possuído só por ela, só ela, e mais ninguém.‖

RAUL POMPEIA Nasceu em Angra dos Reis, RJ. Estudou no

internato Abílio, que serviria de modelo para o internato de seu romance O Ateneu.

Obra: ―O Ateneu – Crônica de saudades‖ (1888) Características:

linguagem artística: comparações, metáforas e sofisticação vocabular;

traços biográficos: personagem Sérgio, narrador em 1ª pessoa;

narrativa é construída a partir da perspectiva de Sérgio, já amadurecido;

Aristarco, diretor e pedagogo, é a síntese da dissolução de todos os valores;

Classificação de ―O Ateneu‖: Impressionismo, Realismo e Naturalismo.

―O Ateneu‖ foi publicado pela primeira vez em 1888. O livro, que possui fortes traços autobiográficos, conta a história de Sérgio, um menino que é enviado para um colégio interno renomado na cidade do Rio de Janeiro, denominado Ateneu. Comandado pelo diretor Aristarco, o colégio mantém regras rígidas e princípios da aristocracia da época. A obra critica a sociedade brasileira do final do século XIX, tomando como metáfora o Ateneu, seu reflexo, um lugar onde sempre o mais forte é o que vence.

Em desenho de sua

autoria, Pompeia

acentua pelo traço

caricatural a figura

grotesca do diretor

do colégio.

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Enredo de “O Ateneu”: A história é narrada pelo personagem principal, Sérgio, já adulto, em primeira

pessoa e de forma não linear. O livro inicia-se com os primeiros contatos de Sérgio com o Ateneu, colégio interno no qual o seu pai o matricula, ainda mesmo antes de ser admitido para matrícula pelo rígido diretor do estabelecimento, Aristarco. A entrada de Sérgio no Ateneu representa, para o próprio, a passagem para a idade adulta, por conta de seu afastamento dos pais, sobretudo dos carinhos e da proteção materna. Antes disso, cursara apenas algumas aulas num externato familiar e tivera aulas com um preceptor.

O Ateneu era uma instituição de ensino para filhos de famílias abastadas, ainda que admitisse alguns alunos pelas vias da caridade. Por isso, seus educandos representavam ―a fina flor da mocidade brasileira‖, recebendo alunos de diversos estados brasileiros que eram enviados à corte e ao estabelecimento de Aristarco por conta da fama do pedagogo e dos livros que este enviava a todos os cantos do país a guisa de propaganda de sua instituição. Localizava-se no bairro do Rio Comprido, que teve sua urbanização iniciada em 1812 e já no século XIX recebeu uma pequena leva de imigrantes ingleses, depois de ter sido usada como área de cultivo da cana-de-açúcar (século XVII) e do café (século XVIII e século XIX).

Antes de sua matrícula, Sérgio e o pai foram recebidos por Aristarco em sua residência, a qual se localizava ao lado do Ateneu. Nesta ocasião, Sérgio conhece D. Ema, a única pessoa que lhe iria tratar com candura desinteressada em seus anos no Ateneu e por quem irá nutrir uma paixão platônica. No primeiro dia de aula, Sérgio foi recebido na sala do professor, e vislumbra as diferenças na recepção dada pelo professor aos alunos, de acordo com o grau de importância de sua família. Após se despedir do pai, Sérgio sentiu-se deslocado, mas foi de imediato recomendado pelo professor, Mânlio, a um dos melhores alunos, Rebelo, que lhe deu, então, inúmeras recomendações sobre o ―microcosmo‖ do Ateneu – e as amizades que deveria evitar, as atitudes das quais deveria se esquivar, os tipos nos quais não deveria se transformar, sobretudo recomenda-o sobre as deturpações de gênero que se observam naquela realidade de colégio interno de rapazes, aconselhando-o a ser forte e não admitir protetores. A narrativa, então, faz uma pausa para uma descrição de alguns dos primeiros colegas de classe de Sérgio, com destaque para o Sanches, o primeiro da turma, de quem Sérgio iria se aproximar mais adiante. Conheceu também outros alunos do Ateneu, como o Franco, sempre usado por Aristarco como exemplo negativo e, por conta disso, continuamente humilhado.

Na primeira aula, ao ser chamado pelo professor Mânlio ao quadro, Sérgio sofreu um desmaio e é levado para a rouparia, onde vê por acaso um exemplar de folheto obsceno. Depois do vexame do desmaio, começa a ser ridicularizado e assediado por Barbalho, com quem tem sua primeira briga. Ao final deste primeiro dia de aulas, Sérgio sentiu que seus ideais de camaradagem, de crescimento pelo conhecimento, de grandeza moral, despertados pelos eventos que assistira antes de entrar no Ateneu dificilmente seriam aplicáveis àquela realidade.

A narrativa salta para um episódio no qual Sérgio é salvo de um afogamento por Sanches – um acidente que Sérgio suspeita ter sido provocado pelo próprio Sanches durante uma aula de natação; tal hipótese parece acertada pela

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proximidade que se criou a posteriori: por conta do salvamento, Sérgio sentiu-se em compromisso de gratidão com o Sanches, e se tornou muito próximo a este. Sérgio viu em Sanches um protetor e uma companhia vantajosa em termos acadêmicos, já que este último era o primeiro da classe. Com o tempo, contudo, Sanches forçou uma aproximação, insinuando-se para Sérgio, que o repeliu; isso fez com que Sanches se tornasse inimigo de Sérgio e, como vigilante que era ele começou a usar sua ascendência como tal para prejudicar e ferir Sérgio.

O episódio com o Sanches fez com que Sérgio se tornasse de bom aluno a um dos que frequentavam o temido ―livro de notas‖ de Aristarco, no qual os professores anotavam as supostas indisciplinas dos alunos faltosos, as quais sempre rendiam humilhações públicas comandadas por Aristarco por ocasião das refeições. Ele converteu-se também em religioso, mas para uma espécie de religiosidade particular, mística, sem respaldo dos sacramentos católicos. Sua condição de deprimido e faltoso contumaz fez com que ele se aproximasse do Franco – uma amizade que despertou o desprezo dos inspetores e do próprio diretor. Após uma terrível traquinagem de Franco que, por sorte, não rendera frutos, Sérgio decidiu-se por se tornar independente, sobretudo depois de uma breve aproximação com o Barreto, um aluno beato para quem a religião girava em torno de um sem-número de objetos de adoração e dos castigos do inferno guardados para os pecadores – uma religiosidade que fez apagar as últimas chamas de fervor de Sérgio. Tornou-se, depois de uma visita ao pai, na qual lhe contou a ―verdade‖ sobre o Ateneu, mais altivo e independente e, por isso, angariou a animosidade de muitos.

Chegou, então, à escola um novo aluno, o Nearco, filho de uma nobre família pernambucana e atleta valoroso, além de excelente orador, destacado no grêmio literário do colégio, chamado ―Grêmio Amor ao Saber‖. Nas reuniões do tal grêmio, Sérgio comparecia como simples assistente e, como a agremiação possuía farta biblioteca, Sérgio começou a frequentá-la, travando amizade com o Bento Alves, um aluno gaúcho, mais velho que ele e que trabalhava como bibliotecário. A amizade entre os dois tornou-se imensamente íntima e próxima; Sérgio assim o permitiu, e logo a proximidade entre ele e o Bento Alves começou a gerar comentários no Ateneu. Paralelamente a estes fatos, ocorre um assassinato passional nas dependências da escola: um jardineiro mata, a facadas, um outro funcionário, por amor a uma mulher, Ângela, uma espanhola que trabalhava em casa de Aristarco e D. Ema.

Sérgio narra, então, os exames primários e a ocorrência de uma exposição artística: é o início de um novo ano, e o narrador fala dos passeios e jornadas programados por Aristarco, em especial de um jantar no Jardim Botânico no qual ficam evidenciados os maus modos de alunos e inspetores. Bento Alves, que no início do ano mostra-se amoroso com Sérgio, repentinamente voltou-se contra este e espancou-o sem maiores explicações; Sérgio reagiu e, no calor da briga, acaba por agredir também Aristarco, que surgiu a tempo de apartar os dois alunos. Curiosamente, Sérgio não é castigado pelo gesto ousado. Há, a seguir, a revelação pelo diretor da descoberta de um caso de ―amor‖ entre dois alunos, feita a partir de uma carta encontrada por um dos inspetores na qual Cândido – que no bilhete assina como ―Cândida‖ – aceita um convite de outro aluno, Emílio, para um encontro no jardim. Aristarco humilha-os publicamente, a eles e aos supostos

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cúmplices, outros alunos que conheciam o fato e não teriam denunciado ao diretor. Em seguida ao evento, alunos amotinam-se contra Silvino, um inspetor que resolveu humilhar Franco sem razão aparente, e o motim de alunos é motivo de escândalo do diretor que, no entanto, por razões econômicas – para não perder os alunos – resolveu amainar a situação, conversando mansamente com todos e colocando ―panos quentes‖ no assunto.

Sérgio conquistou um amigo verdadeiro, Egbert, de origem inglesa, com quem o narrador construiu uma amizade sem interesses, com quem compartilhou o amor ao saber e arriscou-se a escrever seus primeiros versos. Com Egbert, foi também a um jantar em casa de Aristarco, por conta de terem se destacado nos estudos, e teve a oportunidade de rever D. Ema, que o reconheceu.

Chegaram, então, os tempos dos exames na secretaria de Instrução Pública. À época, Sérgio já dormia no alojamento dos alunos maiores, onde viveu um ambiente mais ―adulto‖ e, também, mais propício para novas peripécias, como a de espiar o sono do inspetor Silvino ou entrar no grupo dos que haviam criado uma passagem secreta por uma janela para o jardim de Aristarco; por conta desta passagem é que engendra uma vingança a Rômulo, que lhe espancara no passado, deixando-o do lado de fora do prédio, no jardim do diretor, sem jeito de voltar ao alojamento. Morre o amigo Franco, vítima dos maus tratos que sempre sofrera tanto em casa, quanto dos funcionários do Ateneu.

Ao término do ano letivo, os alunos cotizaram-se e mandaram erigir um busto em bronze do diretor que, orgulhoso, primeiramente se sente lisonjeado com a homenagem e, posteriormente, em insensata competição com a estátua. ―O Ateneu‖ termina com o fim da própria instituição, consumida por um incêndio que acreditam ser criminoso, causado por um aluno recém-admitido, Américo, que ali estava forçado pelo pai. Aristarco viu seu patrimônio ser dilapidado pelas chamas, enquanto Sérgio, que por dias e dias estava na casa do diretor sob os cuidados de D. Ema, que demonstrou ter imenso amor maternal pelo jovem, acompanhava a derrocada final do impassível diretor.

Trechos de “O Ateneu”:

―Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. ‗Coragem para a luta.‘ Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico.‖

―Um cáfila! (dizia Rebelo) Não imagina, meu caro Sérgio. Conte como uma desgraça ter de viver com esta gente, (...) Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos. Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos... Sócios de bandalheiras! Cheiram à corrupção, empestam de longe.‖

―Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. (...) Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. (...) Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.‖

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EXERCÍCIOS 1. Leia o texto abaixo, retirado de ―O Cortiço‖, e faça o que se pede: ―Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos,

mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. [...] O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.‖

Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do

fragmento citado: A) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo, sendo que o cortiço é

apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colmeia humana.

B) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.

C) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.

D) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de ―O Cortiço‖ o aspecto animalesco e rasteiro do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.

E) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.

2. Sobre O cortiço, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar que o personagem

João Romão é um português A) proprietário do cortiço e amante de Bertoleza, trabalhadora que se

considera livre, embora permaneça legalmente escrava. B) negociante de tecidos por atacado que se apaixona por Rita Baiana e

abandona sua mulher e seu filho para viver com a morena sensual. C) negociante de tecidos por atacado, cuja mansão é vizinha do cortiço e

cuja esposa o humilha com o adultério e o desprezo. D) proprietário do cortiço que deseja tornar-se fazendeiro do café, ascender

socialmente e conquistar Rita Baiana, a morena sensual. E) negociante de tecidos por atacado que se dispõe a comprar um título

nobiliárquico para conquistar a mulher adúltera de seu vizinho.

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3. Assinale a alternativa que apresenta os nomes dos personagens a que se referem, respectivamente, os trechos 1, 2 e 3 abaixo, transcritos de O Cortiço, de Aluízio de Azevedo.

1. Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação

ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha.

2. Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna quando o amigo andava ocupado lá por fora: fazia a sua quitanda durante o dia no intervalo de outros serviços, e à noite passava-se para a porta da venda, e, defronte de fogareiro de barro, fritava fígado e frigia sardinhas, que Romão ia pela manhã, em mangas de camisa, de tamancos e sem meias, comprar à praia do Peixe.

3. Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro freguês da casa.

A) João Romão –Bertoleza – Miranda B) Miranda – Rita Baiana – Jerônimo C) João Romão – Rita Baiana – Miranda D) Miranda – Bertoleza – João Romão E) João Romão – Rita Baiana – Jerônimo 4. Leia as afirmações abaixo sobre O Ateneu, de Raul Pompeia, romance de

1888. I. O Ateneu é uma narrativa de caráter autobiográfico, em que o menino

Sérgio enfrenta as vicissitudes da educação pré-republicana em um colégio do Rio de Janeiro.

II. O romance é inovador quanto ao modo de representar psicologicamente as personagens, mas, quanto ao estilo, ainda segue o modelo romântico de José de Alencar.

III. O livro realiza um mergulho na infância e na adolescência de Sérgio, e descreve, através das observações do narrador, os diferentes tipos humanos que compõem a população do internato.

Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas III. D) Apenas I e II. E) Apenas I e III.

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5. Leia as afirmações abaixo sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia. I. Sérgio, em seu relato memorialista, revela a outra face da fachada

moralista e virtuosa que circundava o Ateneu, a face em que se incluem a corrupção, o interesse econômico, a bajulação, as intrigas e a homossexualidade entre os adolescentes.

II. A narrativa, ainda que feita na primeira pessoa, evita o comentário subjetivo e as impressões individuais, uma vez que o narrador adota uma postura rigorosa, condizente com o cientificismo da época.

III. Através da figura do Dr. Aristarco, diretor do colégio, com sua retórica pomposa e vazia, Raul Pompeia critica o sistema educacional da época e a hipocrisia da sociedade.

Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas I e III. D) Apenas II e III. E) I, II e III. 6. O Ateneu, de Raul Pompeia, reúne diversas tendências do romance do

final do século XIX. A veracidade de tal afirmação pode ser comprovada com os seguintes argumentos:

( ) o romance apresenta traços do Realismo-Naturalismo, considerando-se que há um estudo do cotidiano do Segundo Império brasileiro e uma atenção ao meio social, entendido como responsável pelo condicionamento das personagens.

( ) o romance reafirma alguns procedimentos temático-formais da tradição romântica, como o triângulo amoroso vivido pelo narrador-personagem e o final feliz, que marca a reconciliação entre o jovem estudante e o diretor do colégio.

( ) o caráter memorialista do romance reforça as teses naturalistas apresentadas ao longo do relato, pois o tratamento objetivo dado aos fatos privilegia o caráter documental, em detrimento das recordações de um adulto ressentido com seu passado.

( ) os aspectos autobiográficos presentes na narrativa, uma das características fundamentais do Realismo, dizem respeito, principalmente, à personagem dr. Cláudio, médico do colégio e pai autoritário do estudante Sérgio, um adolescente que demonstra desconhecer o ambiente hostil do internato.

Qual a alternativa correta? A) V – F– F– F B) V – V – V – V C) V – F – F – V D) V – V – V – V E) F – F – F – F

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7. Considere as seguintes afirmações sobre ―O Ateneu‖, de Raul Pompeia. I – Narrado na 3ª pessoa, ―O Ateneu‖ é uma história de tom satírico em

relação ao sistema educacional e à sociedade do Brasil Império. II – O romance caracteriza-se por ser uma narrativa de caráter memorialista

na qual o narrador, já adulto, registra, através de lembranças, as impressões de sua infância passada no internato.

III – As relações de poder estabelecidas dentro do colégio reproduzem, aos olhos do autor, as relações encontradas na sociedade brasileira do final do século XIX, a exemplo da figura do diretor Aristarco.

Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas I e II. D) Apenas II e III. E) I, II e III.

PARNASIANISMO O Parnasianismo é um movimento

literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo, que se originou em Paris, a partir de 1850. Representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX em oposição ao Romantismo.

Nasceu com a publicação de ―Le Parnasse Contemporain‖, uma série de poesias que precederam em algumas décadas o Simbolismo, uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da antiguidade clássica. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega, era consagrada a Apolo e às musas e, segundo a lenda, era onde residiam os poetas.

O poeta parnasiano reage contra o sentimentalismo romântico e caracteriza-se pela sacralidade da forma, pelo respeito às regras de versificação, pelo preciosismo rítmico e vocabular, pelas rimas ricas e raras e pela preferência por estruturas fixas, como os sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido,

Mucha, Champenois. Observe

neste pôster, que divulga o nome

de um editor e impressor, a riqueza

da ornamentação.

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com a valorização do exotismo e da mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens. A descrição visual é o forte da poesia parnasiana, assim como para os românticos são a sonoridade das palavras e dos versos. Os autores parnasianos faziam uma ―arte pela arte‖, pois acreditavam que a arte devia existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo. O primeiro grupo de parnasianos de língua francesa reúne poetas de diversas tendências, mas com um denominador comum: a rejeição ao lirismo como credo. Os principais expoentes são Théophile Gautier (1811-1872), Leconte de Lisle (1818-1894), Théodore de Banville (1823-1891) e José Maria de Heredia (1842-1905), de origem cubana, Sully Prudhomme (1839-1907). Gautier fica famoso ao aplicar a frase ―arte pela arte‖ ao movimento.

CARACTERÍSTICAS DO PARNASIANISMO

Preciosismo: Focaliza-se no detalhe. Cada objeto deve singularizar-se, daí as palavras raras e rimas ricas.

Objetividade e impessoalidade: O poeta apresenta o fato, a personagem, as coisas como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado subjetivismo romântico.

Arte Pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de compromisso e se justifica por sua beleza. Faz referências ao prosaico, e o texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos.

Estética/Culto à forma: Como os poemas não assumem nenhum tipo de compromisso, a estética é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal.

Aspectos importantes para essa estética perfeita são: Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há uma

ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém também muito usada às rimas interpoladas.

Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição

dividida em duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a ―chave‖ do texto no último verso.

Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo

em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas (versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas, etc.

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Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em objetos

inertes, sempre optando pelos que exigem uma descrição bem detalhada como ―A Estátua‖, ―Vaso Chinês‖ e ―Vaso Grego‖ de Alberto de Oliveira.

Temática Greco-Romana – A estética é muito valorizada no Parnasianismo,

mas, mesmo assim, o texto precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da antiguidade clássica, características de sua história e sua mitologia. É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos.

Cavalgamento ou encadeamento sintático (enjambement) – Ocorre

quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou à décima sílaba), mas não terminou quanto à ideia, quanto ao conteúdo, que se encerra no último verso. O verso depende do contexto para ser entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de rimas.

No Brasil, o Parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo

brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922.

Na década de 1870, a poesia romântica deu mostras de cansaço, e mesmo em Castro Alves é possível apontar elementos precursores de uma poesia realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no Brasil à liquidação do Romantismo, submetido a uma crítica severa por parte das gerações emergentes, insatisfeitas com sua estética e em busca de novas formas de arte, inspiradas nos ideais positivistas e realistas do momento.

Dessa maneira, a década de 1880 abriu-se para a poesia científica, à socialista e à realista, primeiras manifestações da reforma que acabou por se canalizar para o Parnasianismo. As influências iniciais foram Gonçalves Crespo e Artur de Oliveira, este o principal propagandista do movimento a partir de 1877, quando chegou de uma estada em Paris. O Parnasianismo surgiu timidamente no Brasil nos versos de Luís Guimarães Júnior (Sonetos e rimas. 1880) e Teófilo Dias (Fanfarras. 1882), e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (Sinfonias. 1883), Alberto de Oliveira (Meridionais. 1884) e Olavo Bilac (Relicário. 1888).

O Parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu do Parnasianismo francês, não é uma exata reprodução dele, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade, de cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas não exclui o subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino de tipo francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o soneto. Quanto ao assunto, caracteriza-se pela objetividade, o universalismo e o esteticismo. Este último exige uma forma perfeita (formalismo) quanto à construção e à sintaxe. Os poetas parnasianos veem o homem preso à matéria, sem possibilidade de libertar-se do Determinismo, e tendem então para o pessimismo ou para o sensualismo.

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Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que configuraram a chamada tríade parnasiana, o movimento teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Luís Delfino, Bernardino Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de Meneses, Antônio Augusto de Lima, Luís Murat e Mário de Lima.

OLAVO BILAC

Além de poeta, foi um intelectual que liderou várias

campanhas cívicas (a luta contra o analfabetismo, a campanha pelo serviço militar obrigatório), foi o autor do Hino à Bandeira e participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. Foi o poeta mais popular do Parnasianis mo. Seu prestígio mantém-se até hoje. Poeta fluente , aproxima-se facilmente do gosto popular. Foi considerado ―O Príncipe dos Poetas‖.

Obras: ―Poesias‖ (1888), ―Tarde‖ (1918), ―Sarças de fogo‖.

Profissão de fé Não quero o Zeus Capitolino

Hercúleo e belo, Talhar no mármore divino

Com o camartelo. [...]

Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.

[...] Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem, A ideia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima

A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima,

Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:

[...] Porque o escrever – tanta perícia,

Tanta requer, Que oficio tal... nem há notícia

De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!

[...]

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Soneto XIII “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

ALBERTO DE OLIVEIRA Pode ser considerado o mais apegado aos ditames do estilo, muito embora

seu primeiro livro tenha ainda traços ro mânticos. Espécie de líder do movimento parnasiano, sua poesia é fria e intelectualizada. Na opinião de Manuel Bandeira, foi o que procurou seguir mais fielmente os princípios do Parnasianismo

Obras: ―Meridionais‖ (1884), ―Versos e rimas‖ (1895), ―O livro de Ema‖ (1900)

Vaso grego Esta de áureos relevos, trabalhada

De divas mãos, brilhante copa*, um dia, Já de aos deuses servir como cansada,

Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos** que a suspendia Então, e, ora repleta ora esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada***.

Depois… Mas o lavor da taça admira,

Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora**** e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira

Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

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Vocabulário: *taça; **Anacreonte (poeta grego) celebra o vinho, o amor e os prazeres sensuais; ***cheio; ****cantante.

Comentário: Soneto de forma fixa. Como tema, um objeto clássico: um vaso

grego. Com uma linguagem preciosa: “…áureos relevos, …divas mãos, …brilhante copa…”

Cenário grego: a situação é descrita, um vaso estilisticamente trabalhado,

com o objetivo de servir de gerações a gerações: “Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.”

Nas duas últimas estrofes, dois tercetos, uma volta ao presente, como que

transportando uma voz desconhecida, dando personalidade àquele vaso. Uma transformação da beleza lírica do vaso, numa personalização objetiva, característica bem parnasiana.

Este soneto concretiza a ideia de ―arte pela arte‖, em que a beleza é o seu valor maior.

Vaso Chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado

Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio

Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim

Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa.

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RAIMUNDO CORREIA É o mais filosófico (pessimismo filosofante), porque busca a explicação para

a vida que vê feita de angústia, amargura, desilusão e dor. Obras: ―Sinfonias‖ (1883), ―Aleluias‖ (1891).

As pombas Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais...

Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,

Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora

Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora

Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo,

Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste

Em parecer aos outros venturosa!

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EXERCÍCIOS 1. Leia o fragmento abaixo, do poema ―Música brasileira‖, de Olavo Bilac.

1 “Tens, às vezes, o fogo soberano 2 Do amor: enceras na cadência, acesa

3 Em requebros e encantos de impureza, 4 Todo o feitiço do pecado humano.

5 Mas, sobre esta volúpia, erra a tristeza 6 Dos desertos, das matas e do oceano:

7 Bárbara poracé*, banzo africano, 8 E soluços de trova portuguesa.”

9 És samba e jongo, chiba e fado, cujos 10 Acordes são desejos e orfandades 11 De selvagens, cativos e marujos:

12 E em nostalgias e paixões consistes. 13 Lasciva dor, beijo de três saudades, 14 Flor amorosa de três raças tristes.”

*Dança religiosa dos índios, ,ao som do maracá, do tambor e da flauta. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo, referentes

aos versos transcritos. ( ) A preocupação formal parnasiana de Bilac é visível no uso do verso

decassílabo. ( ) O gosto pela elaboração estética está presente no encadeamento

(enjambement) dos versos 01 e 02; 02 e 03; 05 e 06. ( ) Na primeira estrofe, o poeta exalta o sentimento patriótico como

inerente à música brasileira. ( ) Na segunda estrofe, o poeta contrapõe à volúpia e ao feitiço expressos

na primeira estrofe, a tristeza e a melancolia também existentes em nossas manifestações musicais.

( ) Nas duas estrofes predominam a visão moralista do poeta, ao condenar a feição demoníaca da música brasileira.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é A) V–V–F–V–F B) V–F–V–F–V C) F–F–V–F–F D) F–V–F–V–F E) V–F–V–F–F

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2. Leia o poema abaixo.

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Qual das considerações seguintes, colhidas em críticos brasileiros, melhor

descreve a natureza específica do poema? A) Os simbolistas não realizaram apenas uma revolução nos domínios da

palavra. (Franklin de Oliveira) B) Como movimento estético e ideológico, o Simbolismo serviu de núcleo a

manifestações espiritualistas. (Antonio Candido) C) Qual era o cânon do puro Parnasianismo? (...) inspiração clássica ou

exótica, ausência de emoção pessoal. (Tristão de Athayde) D) Talvez o que haja de melhor nos parnasianos seja o seu romantismo.

(Antonio Candido) E) Não houvesse o Parnasianismo ultrapassado o seu tempo histórico,

provavelmente o Modernismo teria tomado outro rumo. (Franklin de Oliveira)

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3. Leia o soneto abaixo, A um Poeta, de Olavo Bilac.

Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa De tal moda, que a imagem fique nua,

Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade.

Beneditino: religioso reconhecido por sua dedicação ao trabalho. Claustro: cela.

É correto afirmar que, em A um Poeta, o autor sugere ao poeta: A) evitar que a obra demonstre o esforço que foi empregado na sua

elaboração. B) abandonar os apelos do mundo para dedicar-se a atividades manuais. C) evitar que a obra esconda haver sido planejada como um edifício. D) abandonar o movimento da rua para dedicar-se ao ócio, que deflagra a

inspiração. E) evitar que o esforço excessivo torne a obra sóbria a ponto de parecer um

templo grego.

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4.Leia o seguinte soneto de Olavo Bilac.

Nel mezzo del camin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha

A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida

Nem o pranto os teus olhos umedece, Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.

Considere as afirmações abaixo sobre este poema: I – O eu-lírico relata, no primeiro quarteto, o encontro entre duas pessoas

marcadas pela fadiga e pela tristeza e imersas em sonhos. II – O encontro inesperado entre os dois amantes deflagra uma breve relação

marcada pela afinidade mútua. III – Nos tercetos, ao descrever a indiferença da amada que parte, o eu-lírico

retoma a imagem da estrada/caminho que já havia aparecido no poema. Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas III. C) Apenas I e III. D) Apenas II e III. E) I, II e III.

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5. Considere o soneto a seguir, de autoria de Alberto de Oliveira:

O Muro É um velho paredão, todo gretado,

Roto e negro, a que o tempo uma oferenda Deixou num cacto em flor ensanguentado E num pouco de musgo em cada fenda

Serve há muito de encerro a uma vivenda;

Protegê-la e guardá-la é seu cuidado; Talvez consigo esta missão compreenda, Sempre em seu posto, firme e alevantado.

Horas mortas, a lua o véu desata,

E em cheio brilha; a solidão se estrela Toda de um vago cintilar de prata;

E o velho muro, alta a parede nua,

Olha em redor, espreita a sombra e vela, Entre os beijos e lágrimas da lua.

Assinale a alternativa que contém uma característica do Parnasianismo que

o poema exemplifica. A) A utilização de temas mitológicos. B) O misticismo expresso em vocabulário religioso. C) A preferência pela descrição estática. D) O vocabulário marcado por termos latinos e gregos. E) A visão dolorida da existência. 6. (...) ―– Só tomando distância, escrevendo e reescrevendo, relacionando e

burilando você faria isto [um bom poema].‖ Essa fala revela uma concepção de texto literário compatível com a dos poetas:

A) românticos. B) parnasianos. C) simbolistas. D) árcades. E) barrocos.

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7. Com relação ao Parnasianismo, são feitas as seguintes afirmações: I – Pode ser considerado um movimento antirromântico pelo fato de retomar

muitos aspectos do racionalismo clássico. II – Apresenta características que contrastam com o esteticismo e o culto da

forma. III – Definiu-se, no Brasil, com o livro ―Poesias‖, de Olavo Bilac, publicado em

1888. Quais estão corretas? A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas I e III. D) Apenas II e III. E) I, II e III.

SIMBOLISMO

O Simbolismo é uma tendência

literária da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época.

A palavra Simbolismo foi usada pela primeira vez em Paris, em um manifesto anti-parnasiano. Três aspectos principais foram apresentados como enriquecimento à temática simbolista:

- a descoberta do inconsciente; - reabilitação da poesia; - redescoberta do sentido lírico da

realidade. A partir de 1881, na França,

poetas, pintores, dramaturgos e escritores em geral, influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e religiões orientais – procuram refletir em suas produções a atmosfera presente nas viagens a que se dedicavam.

Quanto à forma, os poetas pretendiam, sobretudo, uma arte musical, com forte poder sugestivo. Não se pode negar aos simbolistas a redescoberta do irreal como forma de libertação de espírito, em face do concreto e do irracional; a descoberta do subconsciente; as redescobertas das estranhas forças poéticas da expressão, quer pelo conteúdo, quer pela forma. Isso não significa, no entanto,

Monet, O Bulevar dos Capuchinhos.

1873 – 1874.

Como a literatura, a pintura também

passa a retratar paisagens urbanas.

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que os novos caminhos abertos à poesia tenham conduzido apenas a soluções positivas: como em todas as tendências estéticas, em meio a achados positivos, foram inevitáveis muito virtuosismo formal e muita excentricidade de atitudes e de ideias.

CARACTERÍSTICAS DO SIMBOLISMO

Subjetivismo: os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e, sim, está focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém, mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do ―eu‖ e buscam o inconsciente, o sonho.

Musicalidade: a musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista, segundo o ensinamento de um dos mestres do simbolismo francês, Paul Verlaine, que em seu poema ―Art Poétique‖, afirma: ―De la musique avant toute chose...‖ (― A música antes de mais nada...‖) Para conseguir aproximação da poesia com a música, os simbolistas recorreram a alguns recursos, como por exemplo a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela repetição de fonemas vocálicos.

Transcendentalismo: um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. O fato de preferirem as palavras névoa, neblina, e palavras do gênero, transmite a ideia de uma obsessão pelo branco.

No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento

simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira: ―Não há (na literatura brasileira) gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus‖.

Klint, G. ―As três idades da mulher‖.

1905.

Arte simbolista procura fazer com

que o publico perceba a relação

entre a realidade aparente e a

essência.

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São também escritores que merecem atenção: Augusto dos Anjos, Raul de Leoni, Emiliano Perneta, Da Costa e Silva, Dario Veloso, Arthur de Salles, Ernãni Rosas, Petion de Villar, Marcelo Gama, Maranhão Sobrinho, Saturnino de Meireles, Pedro Kikerry, Alceu Wamosy, Eduardo Guimarães, Gilka Machado e Onestaldo de Penafort.

CRUZ E SOUZA

Nasceu em Florianópolis. Estreou em

1893 com dois livros: Broquéis (versos) e Missal (prosa). Depois de sua morte apareceram Faróis (versos), Evocações (prosa) e Últimos sonetos. A novidade da escola poética por ele introduzida em pleno auge parnasiano, assim como a rebeldia à sintaxe regular portuguesa, suscitaram contra o poeta uma campanha de ridículo. Sua forte personalidade conseguiu criar um grupo de discípulos. Sua poesia destaca-se pela sondagem do mundo interior, pela visão trágica do mundo e pela intensa musicalidade de seu ritmo.

Características:

linguagem renovadora (metafórica e musical)

neologismos

cultivo da perfeição e o gosto pela métrica e pelo soneto

palavras com iniciais maiúsculas e palavras raras

Obras: ―Broquéis‖ (1893), ―Missal‖

(1893), ―Evocações‖ (1899), ―Faróis‖ (1900), ―Últimos sonetos‖ (1905).

“Violões que choram”

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos, Soluços ao luar, choros ao vento...

tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento.

Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Osbert, A. ―A musa ao nascer do

sol‖. 1918.

O amanhecer e o crepúsculo

eram fontes de grandes

inspirações para os simbolistas.

Por representarem a transição

entre o dia e a noite, eram vistos

como momentos especiais,

evocativos de diferentes

realidades a serem apreendidas

pelos sentidos.

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“Monja” Ó Lua, Lua triste, amargurada,

Fantasma de brancuras vaporosas, A tua nívea luz ciliciada

Faz murchecer e congelar as rosas.

Nas flóridas searas ondulosas, Cuja folhagem brilha fosforeada,

Passam sombras angélicas, nivosas, Lua, Monja da cela constelada.

Filtros dormentes dão aos lagos quietos,

Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos, Que vão pelo ar, noctâmbulos, pairando...

Então, ó Monja branca dos espaços,

Parece que abres para mim os braços, Fria, de joelhos, trêmula, rezando...

“Vida obscura”

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, Ó ser humilde entre os humildes seres.

Embriagado, tonto dos prazeres, O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro A vida presa a trágicos deveres

E chegaste ao saber de altos saberes Tornando-te mais simples e mais puro. Ninguém te viu o sentimento inquieto, Magoado, oculto e aterrador, secreto,

Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos Sei que cruz infernal prendeu-te os braços

E o teu suspiro como foi profundo!

“O Soneto” Nas formas voluptuosas o soneto Tem fascinante, cálida fragrância

E as leves, langues curvas de elegância De extravagante e mórbido esqueleto.

A graça nobre e grave do quarteto

Recebe a original intolerância, Toda a sutil, secreta extravagância Que transborda terceto por terceto.

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E como um singular polichinelo Ondula, ondeia, curioso e belo,

O Soneto, nas formas caprichosas.

As rimas dão-lhe a púrpura vetusta E na mais rara procissão augusta

Surge o Sonho das almas dolorosas...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS Afonso Henrique da Costa Guimarães, nasceu em Ouro Preto no ano de

1870. Aos dezoito anos presenciou um fato que marcaria profundamente toda a sua vida e suas poesias: a morte de Constança (filha de Bernardo Guimarães), sua prima e noiva, às vésperas do casamento. O poeta nunca conseguiu superar o trauma da perda, e toda sua obra parece refletir essa amargura.

Sua poesia estrutura-se tematicamente em torno de três linhas intimamente interligadas: Amor, Morte e Misticismo Religioso.

Obras: ―Setenário das dores de Nossa Senhora‖ (1899), ―Dona Mística‖

(1889), ―Câmara ardente‖ (1899), ―Kyriale‖ (1902)

Ismália Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...

E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu, Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu

As asas para voar... Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

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Soneto Mãos de finada, aquelas mãos de neve,

De tons marfíneos, de ossatura rica, Pairando no ar, num gesto brando e leve,

Que parece ordenar, mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve Alguém que ante os altares sacrifica:

Mãos que consagram, mãos que partem breve, Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas,

Brumosas mãos que vêm brancas, distantes, Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas, Grandes, magoadas, pálidas, tateantes, Cerrando os olhos das visões defuntas...

Soneto Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia.

Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: – “Ai! nada somos, Pois ela se morreu, silente e fria... “ E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,

Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: – “Por que não vieram juntos?”

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EXERCÍCIOS 1. Leia o poema Siderações, de Cruz e Souza.

Para as estrelas de cristais gelados As ânsias e os desejos vão subindo, Galgando azuis e siderais noivados,

De nuvens brancas a amplidão vestindo...

Num cortejo de cânticos alados Os arcanjos, as cítaras ferindo, passam, das

vestes nos troféus prateados, As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve

Claro incenso aromal, límpido e leve, Ondas nevoentas de visões levanta...

E as ânsias e desejos infinitos

Vão com os arcanjos formulando ritos Da eternidade que nos astros canta...

A respeito do poema, é correto afirmar que: A) o poeta idealiza seus desejos, projetando-os para uma instância

inatingível. B) o poema emprega descrições nítidas que garantem uma compreensão

exata dos versos. C) o poeta expõe a sua avaliação sobre a realidade objetiva, utilizando

imagens da natureza em linguagem precisa e direta. D) o poema, em forma de epigrama, traduz uma visão materialista do amor e

da sensualidade. E) se trata da descrição de fantasias e alucinações apresentadas nos moldes

de ficção científica.

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2. Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!...

Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras...

Formas de Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas...

O poema ―Antífona‖, do poeta Cruz e Sousa, apresenta as seguintes

características do movimento simbolista: A) expressões vagas e insólitas; sinestesias; musicalidade. B) subjetivismo; evasão no tempo; ilogismo. C) arte pela arte; preocupação com a forma; rimas ricas. D) objetivismo; espiritualismo; musicalidade. E) iniciais maiúsculas; sugestão; verso livre. 3. Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto

abaixo, na ordem em que aparecem. O Simbolismo, contrapondo-se ao ideário __________ mergulha no universo

do __________ dominado por associações estranhas, glorifica o __________ e o __________ resgatando traços da subjetividade

A) naturalista — subconsciente — misterioso— irracional — romântica B) naturalista — sonho — corpo — espírito — romântica C) romântico — símbolo — cientificismo — racional — realista D) romântico — real — corpo — cientificismo — realista E) naturalista — subconsciente — corpo — racional — realista

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Gabarito

Realismo 1.C 2.D 3.discursiva

4.C 5.C 6.E

7.B 8.A

Naturalismo 1.C 2.A 3.A

Impressionismo 1.E 2.C

3.A 4.D

Parnasianismo 1.A 2.D 3.A 4.C 5.C

6.B 7.C

Simbolismo 1.A 2.A 3.A