stj familia socio afetiva

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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 837.324 - RS (2006/0073228-3) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS RECORRENTE : G F E OUTRO ADVOGADO : MARILENE SILVEIRA GUIMARÃES E OUTRO(S) RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL INTERES. : V G L INTERES. : L F DA S ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS INTERES. : C R DOS S E OUTRO ADVOGADO : PAULO RICARDO DE SOUZA DUARTE E M E N T A CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA PROVISÓRIA. COMÉRCIO DE MENOR.INEXISTENTE. FAMÍLIA AFETIVA. INTERESSE SUPERIOR DO MENOR. OBSERVÂNCIA DA LISTA DE ADOÇÃO. - Mesmo em havendo aparente quebra na lista de adoção, é desaconselhável remover criança que se encontra, desde os primeiros dias de vida e por mais de dois anos, sob a guarda de pais afetivos. A autoridade da lista cede, em tal circunstância, ao superior interesse da criança (ECA, Art. 6º). ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 18 de outubro de 2007 (Data do Julgamento). MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS Presidente e Relator Documento: 731525 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 31/10/2007 Página 1 de 9

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 837.324 - RS (2006/0073228-3)

RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROSRECORRENTE : G F E OUTROADVOGADO : MARILENE SILVEIRA GUIMARÃES E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL INTERES. : V G L INTERES. : L F DA S ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS INTERES. : C R DOS S E OUTROADVOGADO : PAULO RICARDO DE SOUZA DUARTE

E M E N T A

CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA PROVISÓRIA. COMÉRCIO DE MENOR.INEXISTENTE. FAMÍLIA AFETIVA. INTERESSE SUPERIOR DO MENOR. OBSERVÂNCIA DA LISTA DE ADOÇÃO.- Mesmo em havendo aparente quebra na lista de adoção, é desaconselhável remover criança que se encontra, desde os primeiros dias de vida e por mais de dois anos, sob a guarda de pais afetivos.A autoridade da lista cede, em tal circunstância, ao superior interesse da criança (ECA, Art. 6º).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 18 de outubro de 2007 (Data do Julgamento).

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS Presidente e Relator

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 837.324 - RS (2006/0073228-3)

RELATÓRIO

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Glademir

Ferrari e Rosane Sperotto Ferrari, nos autos de ação civil pública de destituição de

poder familiar cumulada com busca e apreensão, interpuseram agravo de instrumento

contra decisão que lhe negou a guarda provisória do menor João Pedro da Silveira

Lima.

João Pedro foi doado por seus pais aos agravantes quando tinha dois

dias de vida. A guarda de fato foi registrada no cartório de Tapes/RS, antes de a

criança ser levada para a residência do casal, em Bento Gonçalves.

A ação foi promovida, em 25/08/2005, pelo Ministério Público, em

Tapes/RS, contra Valdomiro Gomes de Lima e Leni Forte da Silveira, pais de João

Pedro. O Ministério Público alegou que Valdomiro e Leni venderam a criança ao casal

Ferrari. Louvou-se em denúncia do Conselho Tutelar. Pediu a suspensão do pátrio

poder e a remoção do menor para o abrigo municipal.

A Juíza de Tapes deferiu o pedido de busca e apreensão (fls.

247/248).

A apreensão se realizou, em 30/08/2005, quando João Pedro estava

sob a guarda de fato do casal Glademir Ferrari e Rosane Ferrari, havia quase dois

meses.

O menor foi removido para o abrigo público de Bento Gonçalves. O

casal Ferrari, com autorização judicial, permaneceu no abrigo, acompanhando a

criança até sua remoção, em 05/09/2005, para o abrigo público de Tapes. A partir daí

foi impedido de ter contato com João Pedro.

O casal Ferrari, nos autos da ação civil pública, pediu a guarda

provisória de João Pedro, enquanto se esclarecia a questão da suposta venda. Nessa

petição, o casal negou o comércio de menor e afirmou que a criança estava recebendo

carinho e afeto, além de ter um lar adequado.

O pedido foi indeferido, em 1º/09/2005. A juíza considerou que havia

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indício veemente de comercialização da criança. Disse mais, que havia famílias

habilitadas na comarca, em condições de receber João Pedro. (fls. 31/32)

Em 06/09/2005, a juíza determinou o desabrigamento de João Pedro,

que foi confiado a família substituta (fl. 160).

Em agravo de instrumento, o casal Ferrari afirmou que não comprara

o bebê, que recebia carinho, cuidado e atenção.

O casal agravante reiterou o pedido de que João Pedro ficasse sob

seus cuidados até a apuração do suposto comércio, onde a prova seria apurada sob o

crivo da ampla defesa e contraditório.

A liminar foi indeferida, 05/09/2005. (fl. 34)

Glademir Ferrari e Rosane Sperotto Ferrari interpuseram, então,

agravo interno contra a negativa de concessão da liminar pedida. Frisaram que João

Pedro recebia amor e afeto, desde o primeiro dia de vida, tinha um lar e a possibilidade

de um futuro feliz. Alertaram quanto aos males de o menor ficar mudando de

ambientes e lares.

Afirmaram que os magistrados e membros do Ministério Público

esqueceram que estão lidando com vidas e sentimentos.

O E. Desembargador Alfredo Guilherme não conheceu do pedido,

porque não cabia agravo interno para modificar decisão liminar. (fls. 75 e v).

No inquérito policial, concluído em 21/09/2005, apurou-se que não

havia indício de que João Pedro fora vendido. Houvera, somente, irregularidade na

adoção. Diante dessa conclusão o casal Ferrari pediu reconsideração. (fls. 282/284)

O E. Desembargador Rui Portanova, diante do fato novo, determinou

o retorno de João Pedro à guarda do casal Ferrari. Fez assim, porque desaparecera o

motivo de sua remoção. (fls. 311/312)

João Pedro retornou para à casa de Glademir e Rosane, em

29/09/2005, após vinte e quatro dias de afastamento.

A família substituta, que cuidava da criança em Tapes (Carlos

Ronaldo dos Santos e sua mulher), interpôs agravo interno contra a decisão do

Desembargador Rui Portanova. (fls. 316/321)

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O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul julgou o mérito

do agravo de instrumento, em acórdão que diz:

"Se os pretensos adotantes não deram devida atenção aos caminhos legais para busca de uma criança, não podem comprometer regular ordem de habilitação da comarca local, preterindo-se a lista de preferência, sendo que já foi deferida a guarda provisória à família substituta, ainda que modificada por pedido de reconsideração, deferido por desembargador substituto, em face de férias do relator original. Preliminar rejeitada. Recurso desprovido." (fl. 360)

No recurso especial (alínea "a"), os recorrentes queixam-se de ofensa

aos Arts. 5º, 6º, 19 e 161, § 1º e 168, da Lei 8.069/90, 3º, 9º e 39, da Convenção

Internacional sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas.

Os recorrentes afirmam que o superior interesse do menor foi relegado

pelo acórdão recorrido.

É que o Colegiado ignorou o forte vínculo afetivo e familiar entre o

menor e o casal Ferrari. Também, não levou em conta a possibilidade de danos,

psicológicos, a João Pedro, caso seja consolidado novo afastamento da criança do lar

de seus pais afetivos.

Apresentaram laudos psiquiátricos elaborados por especialistas, que

ressaltam a importância de a criança permanecer no lar dos pais afetivos.

O Terceiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul deferiu efeito suspensivo ao recurso especial. (fls. 937/941)

O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul ofereceu

contra-razões ao recurso especial. Opinou pelo conhecimento e provimento do recurso.

(fls. 943/953)

Juízo positivo de admissibilidade. (fls. 990/991)

O Ministério Público Federal, em parecer lançado pelo e.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Fernando Henrique O. de Macêdo,

recomendou o conhecimento e provimento do recurso especial. (fls. 998/1.001)

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CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA PROVISÓRIA. COMÉRCIO DE MENOR.INEXISTENTE. FAMÍLIA

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AFETIVA. INTERESSE SUPERIOR DO MENOR. OBSERVÂNCIA DA LISTA DE ADOÇÃO.- Mesmo em havendo aparente quebra na lista de adoção, é desaconselhável remover criança que se encontra, desde os primeiros dias de vida e por mais de dois anos, sob a guarda de pais afetivos.A autoridade da lista cede, em tal circunstância, ao superior interesse da criança (ECA, Art. 6º).

VOTO

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS(Relator): Estes

autos narram a saga de João Pedro, sétimo filho do casal Valdomiro Gomes de Lima e

Leni Forte da Silveira, pessoas humildes e de poucos recursos financeiros, nascido em

12/07/2005, em Tapes no Rio Grande do Sul.

Quando tinha dois dias de vida, em 14/02/2005, foi confiado por seus

pais biológicos - que tinham outros seis filhos e parcos recursos - ao casal Glademir

Ferrari e Rosane Sperotto Ferrari. Este, após registrar a guarda de fato em cartório (fl.

30), levou João Pedro de Tapes para Bento Gonçalves/RS.

Perto do completar dois meses de vida, quando já estava batizado,

saudável, bem cuidado e ambientado no seio da família que o acolheu, João Pedro foi

removido (em 05/09/2005) para um abrigo público, em Bento Gonçalves.

Não ficou, porém, só: foi acompanhado e assistido durante toda a

estadia, integralmente, pelo casal Ferrari, até sua remoção para outro abrigo, em

Tapes. (conf. doc. fl. 54)

Em 06/09/2005, a Juíza de Tapes deferiu a guarda provisória do

menor, ao casal Carlos Ronaldo dos Santos e Marcelita B. dos Santos, que ficou com

ele até o dia 29/09/2005, quando foi devolvido para o casal Ferrari, por decisão do E.

Desembargador Rui Portanova, nestes termos:

"Acontece que os agravantes Glademir e Rosane, pela decisão de fls. 31/32, foram separados do recém nascido João Pedro sob o fundamento de que "existem fortes indícios na investigação ministerial de que os peticionários tenham efetuado o pagamento dos exames pré-natal, do parto e da laqueadura realizada na genitora." Contra essa decisão veio o presente agravo de instrumento.Agora, na fl. 282, os agravantes peticionaram renovando o pedido de

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efeito suspensivo e alegando fato absolutamente novo.O fato novo ao qual estou me referindo é o relatório e a conclusão do Sr. Delegado de Polícia de Tapes que investigou o fato que motivou a decisão agravada.O relatório está juntado as fls. 306/309. Depois de transcrever e resumir os relatos tomados no inquérito, o Sr. Delegado concluiu:"Não há nos autos indícios de que Valdomiro ou Leni (pais do infante) tenham entregue João Pedro (a criança) mediante paga ou recompensa. Não há demonstrativo de que Cristiane, Raul, Ivete, Glademir e/ou Rosane (esses últimos os agravantes) tenha (m) oferecido ou efetuado o pagamento ou recompensa da referida entrega."Ora, ainda que possa haver alguma irregularidade no processo de adoção que envolve João Pedro e os agravantes, não há perder de vista que o fato mais fundamental, mais significativo e concreto que levou à solução de retirada da criança da guarda fática dos agravantes fora os indícios de pagamento.Por isso entendo que se o Judiciário foi célere em afastar João Pedro dos agravantes por causa de um indício, e agora esse indício já não existe, é de justiça que o Judiciário também seja célere e viabilizar a reunião dos agravantes com o menino.Ante o exposto, dou provimento ao agravo interno para o fim de determinar a busca da criança João Pedro e que seja entregue aos agravantes no aguardo da solução final do presente agravo ." (fls. 311/312)

João Pedro enfim retornou, em 29/09/2005, para a família que

primeiro o abrigara. A saga, entretanto, não terminou.

Após mais 42 (quarenta e dois) dias com a família escolhida pelos

pais biológicos, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em

10/11/2005, julgou o mérito do agravo de instrumento, determinando a nova apreensão

de João Pedro, a fim de que se observasse a lista de espera para adoção.

A teor desse acórdão, o casal Ferrari deveria seguir o procedimento

legal e esperar nova oportunidade de adotar outra criança.

João Pedro deveria retornar para a família provisória de Tapes (o casal

Carlos Ronaldo e Marcelita Santos).

Em manifestação de lucidez, o Tribunal emprestou efeito suspensivo

ao REsp.

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Graças a tal decisão, a criança livrou-se de nova ruptura afetiva.

Livrou-se de ser mera cobaia, na discussão sobre o correto procedimento formal de

adoção.

Assim, João Pedro permaneceu no lugar que conhece como lar, com

as pessoas que reconhece como sua família.

Hoje, João Pedro, perto de completar dois anos de idade, conviveu

quase que a totalidade da sua vida com a família Ferrari.

Ora, à luz da Constituição Federal, João Pedro goza de todos os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sob proteção integral e prioritária do

Estado e da Sociedade. Tem direito de se desenvolver física, mental, moral e

socialmente, em condições de liberdade e de dignidade.

Veja-se o que diz a Constituição Federal, no seu Art. 227:

"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."

E o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), em

especial nos Artigos:

"Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade."

"Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, á profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária."

"Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punida na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais."

"Art. 6º - Na interpretação desta Lei levar-se-ao em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente

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como pessoa em desenvolvimento."

Diante de tais diretrizes, é necessário observar prioritariamente o

interesse de João Pedro. Como pessoa em desenvolvimento, ele tem direito a um

convívio familiar em um ambiente que lhe proporcione atenção, carinho, afeto,

cuidado, alimentação, lazer. Só assim, terá dignidade e condições de crescer física,

mental e socialmente.

Não é lícito, justo nem razoável provocar rupturas em seu

relacionamento familiar e afetivo. Tanto mais, em sua faixa etária, porque o ser

humano forma personalidade nos primeiros três anos de vida. Os vínculos afetivos

desenvolvidos nessa fase representam a base sobre a qual a personalidade de João

Pedro estará alicerçada.

João Pedro já sofreu quatro rupturas afetivas.

Agora, existe a possibilidade de uma quinta ruptura, em menos de dois

anos, na vida de João Pedro. Tanta rotatividade, por certo, já causa dano irreparável.

Nova mudança só aumentará o prejuízo.

Quanto à tão falada lista de adoção. Há notícia nos autos (fl. 964),

dizendo que todos as pessoas habilitadas a adotar no Município de Tapes, estão

desinteressadas na adoção de João Pedro, inclusive o segundo casal que cuidou dele

por vinte dias.

Estou certo que os fins sociais do ECA estarão melhor atendidas, na

medida em que enxergue João Pedro como uma pessoa humana e se lhe dê

estabilidade (ECA, Art. 6º)

Dou provimento ao recurso especial.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0073228-3 REsp 837324 / RS

Números Origem: 10500009786 10800009883 70012817771 70014033526

PAUTA: 14/08/2007 JULGADO: 18/10/2007

RelatorExmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS

Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. WASHINGTON BOLIVAR DE BRITO JUNIOR

SecretáriaBela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : G F E OUTROADVOGADO : MARILENE SILVEIRA GUIMARÃES E OUTRO(S)RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SULINTERES. : V G LINTERES. : L F DA SADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOSINTERES. : C R DOS S E OUTROADVOGADO : PAULO RICARDO DE SOUZA DUARTE

ASSUNTO: Civil - Família - Menor - Poder Familiar

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 18 de outubro de 2007

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOSecretária

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