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Sociologia 12º ano Resumo da matéria A sociologia é uma ciência social que estuda o comportamento e as relações entre indivíduos, numa determinada sociedade. Social é tudo o que se passa na sociedade. Complexidade do social É social todo um conjunto complexo de acções e omissões da sociedade, que podem ser observadas por diferentes pontos de vista e que são imbuídas de uma grande complexidade. Os fenómenos sociais não podem ser analisados de forma isolada, mas antes de forma complementar e interdependente. É que a sociedade não é só o conjunto de pessoas que a constituem, mas também o conjunto das relações recíprocas que entre elas se estabelecem. A estrutura própria do “todo” revela certas relações e atributos que existem para além da soma dos elementos considerados isoladamente. A sociedade tem de ser vista como um todo e não como a soma de diferentes aspectos. Todo o fenómeno ocorrido numa sociedade tem repercussões imediatas no “todo” e vem, portanto, perturbar as relações nas outras actividades. A análise de um aspecto isolado do todo que é a sociedade global não tem qualquer significado para além do fenómeno em si. O social é uno e indivisível O social é uno e indivisível. A sociedade não existe senão como um “todo” integral, ainda que possa ser observado por diferentes ângulos, por diferentes pontos de vista. Nada se compreende numa sociedade, senão em relação ao todo. Não existe nenhum fenómeno que não faça parte do todo social. ( Fenómeno social total) Interdependência das ciências sociais Nenhuma disciplina social, isoladamente, pode explicar o social. A sua explicação estaria incompleta. em complementaridade e interdependência com os conhecimentos das outras ciências sociais se pode ter um conhecimento integral dos fenómenos sociais. Características dos fenómenos sociais Condicionantes espaço e tempo (Relatividade) Qualquer fenómeno social está localizado no espaço e no tempo, ou seja, é relativo. Os fenómenos humanos não podem ser imputados a qualquer absoluto, não podem ser explicados por propriedades universais, e só podem ser analisados nas coordenadas de tempo e de lugar e nos contextos históricos em que se integram. 1

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Sociologia 12º anoResumo da matéria

A sociologia é uma ciência social que estuda o comportamento e as relações entre indivíduos, numa determinada sociedade.

Social é tudo o que se passa na sociedade.

Complexidade do socialÉ social todo um conjunto complexo de acções e omissões da sociedade, que podem ser observadas por diferentes pontos de vista e que são imbuídas de uma grande complexidade.Os fenómenos sociais não podem ser analisados de forma isolada, mas antes de forma complementar e interdependente. É que a sociedade não é só o conjunto de pessoas que a constituem, mas também o conjunto das relações recíprocas que entre elas se estabelecem. A estrutura própria do “todo” revela certas relações e atributos que existem para além da soma dos elementos considerados isoladamente.

A sociedade tem de ser vista como um todo e não como a soma de diferentes aspectos. Todo o fenómeno ocorrido numa sociedade tem repercussões imediatas no “todo” e vem, portanto, perturbar as relações nas outras actividades.A análise de um aspecto isolado do todo que é a sociedade global não tem qualquer significado para além do fenómeno em si.

O social é uno e indivisívelO social é uno e indivisível. A sociedade não existe senão como um “todo” integral, ainda que possa ser observado por diferentes ângulos, por diferentes pontos de vista.Nada se compreende numa sociedade, senão em relação ao todo. Não existe nenhum fenómeno que não faça parte do todo social. (Fenómeno social total)

Interdependência das ciências sociaisNenhuma disciplina social, isoladamente, pode explicar o social. A sua explicação estaria incompleta. Só em complementaridade e interdependência com os conhecimentos das outras ciências sociais se pode ter um conhecimento integral dos fenómenos sociais.

Características dos fenómenos sociaisCondicionantes espaço e tempo (Relatividade)Qualquer fenómeno social está localizado no espaço e no tempo, ou seja, é relativo. Os fenómenos humanos não podem ser imputados a qualquer absoluto, não podem ser explicados por propriedades universais, e só podem ser analisados nas coordenadas de tempo e de lugar e nos contextos históricos em que se integram.

Exterioridade dos fenómenos sociaisO fenómenos social é algo exterior aos indivíduos, ultrapassa-os. (Somos influenciados por eles e não eles por nós)A exterioridade dos fenómenos sociais manifesta-se porque no nosso nascimento a sociedade já está constituída.O sistema organizativo familiar e da sociedade vai condicionar o nosso ser. Esta situação é anterior a nós, é-nos exterior.

Coercitividade e imperatividade dos fenómenos sociaisOs fenómenos são-nos impostos.Todo o nosso comportamento, os papéis sociais que desempenhamos, os nossos hábitos, etc., obedecem a um normativo social que nos é imposto. No caso de não o cumprirmos, ficamos sujeitos a sanções mais ou menos pesadas.Este carácter coercitivo do fenómeno social decorre de estar inserido num jogo de expectativas entre os elementos de um grupo social.

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Relacionalidade dos fenómenos sociaisO fenómeno social é relacional. É uma acção cujo sentido se refere à conduta de outrem, orientando-se por ela ao longo do seu desenrolar.

Previsibilidade (relativa) dos fenómenos sociaisSe os fenómenos sociais são exteriores aos indivíduos e lhes são impostos, podemos prever os comportamentos de cada membro da sociedade.Esta previsibilidade é relativa, já que não só os fenómenos são determinados por diferentes tipos de códigos, eles próprios susceptíveis de mudança, como também existem limitações ao conhecimento social. Por isso caracterizamos os fenómenos sociais como sendo de uma previsibilidade relativa.

Totalidade dos fenómenos sociaisOs fenómenos sociais são unos e indivisíveis. Nada do que se passa na sociedade pode ser integralmente analisado, a não ser no seu todo. São totais.

Podemos assim concluir, que as características dos fenómenos sociais são 6:Totalidade – São unos e indivisíveisExterioridade – Existem fora das consciências individuaisCoercitividade – São dotados de um poder imperativo e coercitivoRelacionalidade – Estão inseridos num jogo de expectativas de um grupo socialRelatividade – Referem-se a um espaço concreto e a um tempo específicoPrevisibilidade (relativa) – Estão situados num leque de previsões condicionadas por novos conhecimentos ou utilização de códigos diferentes

Sociologia como ciência socialAs especificidades do objecto e do método vão dar à Sociologia o estatuto de ciência.A Sociologia distingue-se das outras ciências pela especificidade com que estuda a actividade humana pelo ângulo de visão próprio com que observa a realidade social.A análise sociológica é, sobretudo, uma análise das relações sociais.Examina qualquer acontecimento ou aspecto social do ponto de vista do conjunto dos relacionamentos sociais, das interacções e das interdependências entre os indivíduos e grupos relacionados com esse acontecimento ou aspecto. A Sociologia vê a actividade humana enquanto jogo de interacções entre os actores sociais.

Objecto da SociologiaActividade humana enquanto jogo de interacções entre actores sociais.Para o sociólogo, um fenómeno social é qualquer acção, omissão ou pensamento ditado por regras ou regularidades que pertencem ao campo das relações intersubjectivas e recíprocas, entendidas estas como as relações que se estabelecem entre actores sociais em função dos jogos de expectativas mútuos.

Sociologia Geral Vs Sociologias especializadasA Sociologia Geral define os conceitos teóricos fundamentais, os métodos e técnicas de investigação. Cria quadros gerais que permitam aos sociólogos referenciar teoricamente as suas investigações específicas localizadas.As sociologias especializadas têm por objecto categorias específicas de factos sociais, inseridas no todo social e contextualizadas teórica e metodologicamente pela Sociologia Geral.

Objectivo da SociologiaHá duas correntes dominantes em Sociologia, o funcionalismo e a sociologia crítica:Funcionalismo – Compara a Sociologia a uma espécie de engenharia social que constrói o “edifício social” (modelo de sociedade), onde cada indivíduo ocupa um lugar previamente definido.Sociologia crítica – Encara a Sociologia como uma ciência de análise e crítica global, que consciencializa os actores sociais e lhes permite dominar o processo social.

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Contribuições da Sociologia- A Sociologia contribui para uma melhor compreensão da vida social.Quanto mais elevado é o nível de consciência dos participantes, mais provável se torna que eles dominem o processo e controlem a vida social.- A Sociologia contribui para a análise crítica da sociedade.Quanto melhor conhecermos a sociedade onde estamos inseridos, melhor podemos contribuir para a sua análise crítica, isto é, para a construção colectiva de formas de organização mais justas.- A Sociologia ajuda a explicar e compreender a mudança.O fenómeno social é um processo que se desenrola num tempo determinado e que muda ao movimentar-se. A sociologia ajuda a explicar e compreender a mudança.- A Sociologia prevê comportamentos, desequilíbrios e conflitos.- A Sociologia permite-nos compreender a origem de pontos de vista e de atitudes que são bastante diferentes dos nossos.- A Sociologia contribui para outros saberes sociais.Contribuindo assim para um melhor e mais integral aprofundamento da análise dos fenómenos sociais.

O método científico em ciências sociaisMatéria-primaA matéria-prima (especifica) sobre a qual o cientista social trabalha é constituída:- por um conjunto de informações sobre a realidade social (evidências pré-científicas que é necessário comprovar);- pelas próprias teorias científicas com as quais o investigador poderá entrar em ruptura.

Instrumentos de trabalho (teorias, métodos e técnicas)A Sociologia recolhe informação sobre todos os aspectos da realidade social através de processos de observação, conduzidos de forma sistemática e controlada. Recorre a um conjunto de métodos (caminhos, vias) e técnicas (entrevista, inquérito, análise documental, etc.) de investigação.A teoria é um instrumento fundamental, na medida em que é nela que todo o processo investigativo está enquadrado. É com base numa teoria que orientamos a recolha de informação, a analisamos e a interpretamos. O resultado de uma investigação científica está sempre localizado num contexto teórico, refere-se a uma determinada teoria científica.

Quadro explicativo da especificidade do processo de produção de conhecimentos científicosA matéria-prima é constituída por:1 – Representações pré-científicas: noções ideológicas, teorias espontâneas, simples intuições.2 – Teorias – anteriormente produzidas.Os meios de trabalho teóricos são: as teorias, os métodos e as técnicas.O produto final é o novo conhecimento sociológico que surge da actuação dos meios de trabalho teóricos sobre as informações recolhidas da realidade social.

As técnicas e o métodoO método consiste na via seguida para se chegar a um resultado final.As técnicas têm um carácter instrumental prático, que conduz a resultados parciais.Cabe ao método a “responsabilidade” de escolha das técnicas a utilizar, do controlo da sua aplicação e da integração dos resultados parciais obtidos (apropriação cognitiva do real).

São elementos fundamentais de um método de investigação:- a selecção das técnicas operada por referência ao objectivo e à teoria que o constrói;- o controlo das condições úteis de exercício das mesmas técnicas para a produção de diversos resultados parciais;- a relacionação e integração dos resultados parciais em ordem à obtenção do resultado final.

Atitude científica Vs Atitude ideológicaA atitude científica estuda com a objectividade possível os fenómenos sociais, pondo sempre em questão as suas conclusões. Não entra em conta com valores e procura conhecer sempre as causas e as relações entre os fenómenos. Enfatiza os factos e não os valores.

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A atitude ideológica pronuncia juízos de valor em relação ao objecto de estudo – releva os valores.São duas atitudes complementares , pois é a reflexão sobre a prática social que permite ao cientista construir um novo conhecimento. A atitude científica implica sempre uma reflexão sobre a realidade social, já que os juízos e preconceitos ideológicos são matéria-prima do processo de investigação sociológica.

O senso comum como obstáculo epistemológicoO senso comum, não nos levando a um conhecimento propriamente dito, conduz-nos ao conhecimento em termos práticos do mundo a que pertencemos e das relações que os indivíduos com ele e entre si mantêm. Estamos no domínio do conhecimento empírico que, se não for posto em causa e, pelo contrário, assumido como um conhecimento comprovado, vai influenciar a nossa percepção do social e, consequente, produção de conhecimento.

As ideologias como obstáculo epistemológicoPara além das evidências comuns, o facto do investigador social pertencer ao objecto por si analisado vai obrigá-lo a ter de ultrapassar outra resistência provocada por certas concepções e interpretações da realidade social que servem para legitimar os interesses do seu grupo de pertença,As ideologias implicam sempre deformações e/ou ocultações de certos aspectos da realidade, viciando a cientificidade da produção de conhecimentos.

A explicação do social pelo socialA produção de conhecimentos científicos acerca da realidade social pressupõe o rompimento com as evidências do senso comum e com as ideologias justificadoras dos interesses de gruposA primeira grande base em que assenta o método sociológico é a de explicar o social pelo social.

Três tipos de explicações não sociais do social (Erros Epistemológicos)- Tese naturalista:Considera que as causas dos fenómenos sociais são “naturais” e não “sociais”, este tipo de explicação exclui qualquer necessidade de investigação. Exprimindo a “própria natureza das coisas”, tende a auto-erigir-se como verdade absoluta, indiscutível e controversa.- Tese individualista:Tende a produzir um género de explicação do que se passa na sociedade como efeito, a nível colectivo, de factores que se apreendem ao nível do indivíduo.As pessoas, como seres biológicos e psicológicos, são individualmente diferentes, mas, como seres sociais, apresentam características comuns que são socialmente determinadas.- Etnocentrismo:Caracteriza-se por o observador colocar a sua própria cultura no centro da sua explicação ou da sua descrição do mundo.

Quadro de ruptura com os erros epistemológicosExplicação do social pelo não social RupturaTese naturalista Relativização das teses naturalistas através da

exibição de realidades opostas às suas explicaçõesTese individualista Estabelecimento de tipologias e de correlações

entre os fenómenos sociaisEtnocentrismo Reflexão crítica sobre a adequação dos

instrumentos teóricos e técnicos à especificidade histórica e social do objecto de análise

O método científico em SociologiaEntendemos por método o meio, o caminho para atingir um fim ou objectivo.Fundamentalmente podemos distinguir dois métodos genéricos de investigação:- o método indutivo – procura encontrar as regularidades a partir da análise de fenómenos empiricamente observados. Através da acumulação de observações vamos procurar o que é comum em cada uma delas, definindo, assim, as regularidades sociais. Da acumulação de observações induzimos a generalidade

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- o método dedutivo – interpreta os fenómenos sociais por dedução lógica a partir de pressupostos previamente definidos da maneira o mais unívoca possível. Este método parte do geral para o particular.

O método das medidas, o método dos casos e o método experimental- Método das medidas ou de análise extensiva – É o método mais usado em sociologia. Tem por objecto populações relativamente amplas, o que impõe, o recurso à amostragem, à entrevista e ao inquérito por questionário. O tratamento dos dados é feito por análise quantitativa (contagem, classificação, ordenação) e a apresentação dos resultados pode ser quantitativa ou qualitativa.- Método dos casos ou de análise intensiva – Aplica-se quando se pretende fazer uma análise profunda de situações particulares. Depreende grande dificuldade de análise e relacionamento dos dados. Apresenta 3 aspectos característicos:

- a intensidade da abordagem ligada à multiplicidade de facetas a estudar na análise da unidade de investigação e profundidade do estudo;- a flexibilidade na selecção e utilização das técnicas;- o volume e heterogeneidade da informação recolhida.

- Método experimental – É o menos utilizado pelas ciências sociais na medida em que os fenómenos sociais dificilmente podem ser levados para o laboratório. Desempenha, essencialmente, a função de paradigma do rigor científico.Nenhum destes métodos deve ser estudado e, sobretudo, aplicado isoladamente dos outros. A complexidade da vida em sociedade exige que se aproveitem as virtualidades de cada um.A escolha de um método de análise extensiva é mais adequada a situações em que se procura abranger uma grande população com prejuízo da profundidade da informação. O método dos casos, pelo contrário, permite uma informação muito mais rica, mas não abrange senão os casos analisados.

Definição de regras metodológicas- Regra da objectividadeA regra da objectividade impõe ao cientista social um trabalho de análise e de síntese semelhante ao dos investigadores em ciências experimentais. Pela regra da objectividade, “os factos sociais devem ser tratados como coisas”.- Regra do concretoA regra do concreto diz-nos que as informações que vão constituir a matéria-prima do conhecimento sociológico são informações da realidade social, de situações concretas da vida em sociedade.- Regra da ignorância conscienteO sociólogo deve partir do “conhecimento zero” para a sua investigação, deve fazer “tábua rasa” das noções adquiridas empiricamente. A regra da ignorância consciente ou principio da não-consciência “significa que nos proibimos por questões de método, de fazer a hipótese de que é interrogando a consciência que se pode obter dela a explicação dos comportamentos humanos que se tentam explicar sociologicamente”. O sociólogo deve, conscientemente e por sistema, questionar qualquer conhecimento anterior do facto social que esta a estudar, testando-o ou ignorando-o.- Regra da determinação do factoPor ela, o investigador obriga-se a definir e delimitar com precisão, no espaço e no tempo, os fenómenos em estudo.- Regra da totalidade solidáriaÉ pela regra da totalidade solidária que dizemos que o uno está ligado ao plural. Qualquer investigação de um facto social específico não pode deixar de ser enquadrada no todo social a que pertence.

Estas regras estão enquadradas por princípios epistemológicos e metodológicos, dos quais vamos referir três: a neutralidade ética, o antidogmatismo e a consciência dos preconceitos.- Neutralidade éticaO sociólogo tem de ser eticamente neutro, tem de se guiar por critérios de cientificidade e não de valor. Deverá abster-se de proferir juízos de valor.- AntidogmatismoNa análise da realidade social não podemos partir do principio que existem verdades incontestáveis ou dogmas. Qualquer conhecimento científico produzido pode ser objecto de ruptura por outra investigação. Qualquer conhecimento só é verdadeiro até ser demonstrado o contrário.

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- Consciência dos preconceitosÉ exigível que comecemos o processo de investigação sem quaisquer preconceitos e da tomada de consciência dos tabus e conceitos pré-científicos e juízos (religiosos, éticos, estéticos, etc.) existentes no grupo social a que pertencemos. Em primeiro lugar, porque, tendo deles conhecimento, podemos traçar estratégias de acção que nos permitam ultrapassá-los de forma a garantir a cientificidade da investigação; depois, porque estes preconceitos podem ser sempre matéria-prima da nossa investigação.

Ao proceder a qualquer pesquisa científica, o sociólogo pode seguir um percurso metodológico que passa pela resposta a três questões:O que vou estudar?Quem vou estudar?Como vou estudar?Com a resposta à primeira questão o investigador define e delimita o tema da sua pesquisa, na segunda define a população a estudar e na terceira define o método e as técnicas mais adequadas à sua investigação.

O que vou estudar?A primeira tarefa que se põe em qualquer investigação é a definição conceptual do objecto de estudo. Esta deve respeitar três tópicos essenciais:- Clareza – temos de saber o que estamos a estudar e em que sentido estamos a orientar a nossa investigação.- Pertinência – o tema tem de ser motivador e atingível pela via da investigação.- Exequibilidade e factibilidade – tem de ser possível a investigação e, portanto, há que medir os custos e os benefícios, ter em conta as condicionantes e as necessidades da pesquisa.

Estudos exploratóriosConsiste em, antes de iniciar qualquer trabalho de recolha e tratamento da informação, tomar contacto com tudo o que já se sabe sobre o tema, para ajudar a delimitar o objecto de estudo e evitar de se estudar o que já foi estudado.A base dos estudos exploratórios assenta no recurso a:- Consulta da bibliografia disponível;- Entrevistas com os líderes locais

Condicionantes que se apresentam ao sociólogo- Condicionantes materiais – quer no que diz respeito aos dados a recolher e aos instrumentos a utilizar, quer aos custos do processo que se pretende iniciar. Não podemos iniciar um processo que preveja, à partida, a recolha de dados impossíveis de obter ou custos inacessíveis.- Condicionantes humanas – a informação é recolhida por pessoas em determinados estádios de desenvolvimento intelectual, cultural e técnico. Não podemos iniciar uma pesquisa sabendo, à partida, que não temos condições físicas, mentais ou sociais para as levarmos até ao fim.- Condicionantes temporais – os resultados em Sociologia correm o risco de desactualização rápida, já que o processo de dinâmica e mudança social é cada vez mais acelerado. Não podemos elaborar um projecto que não possamos concluir em tempo útil.

Quem vou estudar?Esta questão reporta-se directamente à sociedade (grupo) que vai ser objecto de estudo. Com a resposta a esta questão pretendemos que fique perfeitamente definida e delimitada a população a estudar, isto é, o universo conceptual.

Técnica da amostragemPela aplicação desta técnica o investigador social observa somente uma parte representativa (amostra) do universo conceptual, generalizando para este as conclusões alcançadas.

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Após definido o universo conceptual deve-se passar à recolha da amostra, tendo em atenção que a estrutura desta deverá coincidir com a estrutura do universo conceptual, de forma a validar a generalização das conclusões tiradas.Na posse da amostra, as operações seguintes são a recolha da informação, o seu tratamento e a apresentação das conclusões.Existem dois tipos de amostragem:- Amostragem probabilística ou aleatória – é conhecida e diferente de zero a probabilidade dos elementos da população fazerem parte da amostra; a possibilidade de erro na generalização é quantificável- Amostra não probabilística ou não aleatória – é igual a zero ou desconhecida a probabilidade de alguns membros da população fazerem parte da amostra, o que torna impossível a quantificação da possibilidade de erro na generalização.

Como vou estudar?Conjunto de técnicas disponíveis, das quais, o sociólogo, sob o comando da teoria, vai escolher as mais adequadas à sua pesquisa, de acordo, com o método definido.Estas técnicas podem ser:- Documentais

- Clássicas- Modernas

- Análise de conteúdo- Semântica quantitativa

- Não documentais (observação)- Observação participante

- Observação-participação- Participação-observação

- Observação não participante- Inquérito por questionário- Entrevista- Teste de opinião e atitudes- Sondagem

Técnicas documentais- ModernasAnálise de conteúdo – Visa isolar na massa dos textos (escritos e orais) as linhas mestras que lhe dão o seu sentido real. Permite captar, além da informação explícita das mensagens, as condições teórico-ideológicas em que as mesmas são produzidas.

Técnicas não documentais- Observação participanteAs técnicas de observação participante caracterizam-se pela inserção do observador no grupo observado:Observação-participação – Se o investigador apenas se integra no grupo a partir do momento em que se inicia o processo de investigação;Participação-observação - Se o observador faz parte integrante de um grupo e aproveita esta situação para o estudar.- Observação não participanteInquérito por questionárioTipos de inquérito:

- Quanto à administração das respostas- Directa ou auto-administrada: o inquirido regista as suas próprias respostas- Indirecta: o inquiridor formula a pergunta e regista a resposta do inquirido

- Quanto ao grau de abertura das perguntas- Questões abertas: o inquirido pode responder livremente (difícil tratamento)- Questões fechadas: o inquirido tem de optar por uma lista de respostas (fácil tratamento, análise extensiva)

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Fases do inquérito:- Planeamento- Preparação do instrumento de recolha de dados- Trabalho no terreno- Análise dos resultados- Apresentação dos resultados

EntrevistaTipos de entrevista:

- Abertas: carácter intensivo, questões de resposta livre, pequeno grau de estruturação. Permite aprofundamento da informação, mas é dificilmente generalizável.- Fechadas: carácter extensivo, perguntas curtas e estruturadas, alto grau de estruturação. Permite mais facilmente a generalização, sendo por isso mais superficial.

Testes de atitudes e de opinião – Utilizam um sistema pré-construído de proposições sobre as quais o inquirido toma posição, permitindo assim avaliar certas características individuais: Aptidões, inteligência, personalidade, atitudes, opiniões.Sondagens – Visa obter a opinião dos inquiridos sobre determinado assunto.Monografias – É uma forma de apresentação dos resultados quando se utiliza o método de casos ou de analise intensiva. Consiste numa descrição, minuciosa e aprofundada, de um grupo social.

Formas de sociabilidadeA sociabilidade pode manifestar-se de duas maneiras: por fusão parcial ou por oposição parcial.- Sociabilidade por fusão parcial: A esta forma de sociabilidade caracterizada pela identificação com o todo chama-se fusão parcial ou o “nós”. Um “nós” é uma forma de relacionamento caracterizada por uma identificação e convergência de objectivos. A sociabilidade tem vários graus de fusão:

- Massa: A forma de sociabilidade de massa estabelece-se em aglomerados de pessoas muito numerosos onde a intensidade de participação é, em geral, fraca.- Comunhão: Forma de sociabilidade estabelecida numa situação de grande emoção em que o indivíduo abdica de si mesmo. Caracteriza-se por um elevado grau de intensidade de participação e por um número reduzido de participantes.- Comunidade: Situação intermédia entre comunhão e massa.

Graus de fusão parcial Intensidade de participação Volume de participantesMassa Fraca Sem limites (Jogo/Concerto)Comunidade Média Médio (Família/Amigos)Comunhão Forte Reduzido (Namorados)

- Sociabilidade por oposição parcial ou das relações com outrem: Relações que se caracterizam por uma não identificação. O indivíduo ainda que pertencendo a uma colectividade, mantém a sua identidade e individualidade. Esta sociabilidade tem várias formas:

- Relações de aproximação- Relações de afastamento- Relações mistas

Processos associativos das formas de sociabilidadeOs processos associativos ajudam à integração e são sempre por fusão parcial ou por oposição parcial convergente. Podem ser de três ordens:

- Cooperação: Cada indivíduo mantém as suas características particulares. (Manifestações de solidariedade para com as vitimas de uma catástrofe)- Acomodação: Com o objectivo de facilitar a integração no grupo, o indivíduo faz determinado número de cedências ou concessões. (Mudança de residência, casamento)- Assimilação: Quando, com o objectivo de uma integração social, há uma alteração completa em relação ao modus vivendi anterior. (Mudança de país)

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Processos dissociativos das formas de sociabilidadeOs processos dissociativos impedem ou dificultam as integrações. São sempre por oposição parcial e podem ser:

- Oposição: Procura-se impedir outrem de atingir determinados objectivos. Atitude oposta à de colaboração. (Partido na oposição)- Conflito: Procura-se prejudicar o adversário. (Guerra)- Competição: Procura-se superar os outros na consecução dos objectivos. (Jogo de futebol)

As formas de sociabilidade são parciais pois existe liberdade individual de uma pessoa se relacionar ou não e da maneira como se relaciona com os outros membros do agregado e, também, porque o grau de fusão pode não ser sentido por todos da mesma forma e com o mesmo grau de intensidade.

Tipos de agrupamentosOs comportamentos de cada um de nós, as normas que o ser humano apreende e os valores que interioriza são as normas e os valores do grupo em que está inserido.Agrupamentos estruturados – Possuidores de uma organização, de uma estrutura e de uma finalidade, com funções bem distribuídas e que tendem a ser de longa duração. São os agrupamentos particulares ou, simplesmente, grupos.Agrupamentos não estruturados – Estrutura e organização débeis ou inexistentes, casuísticos e pontuais, efémeros, frequentemente espontâneos. São os agregados sociais e as categorias sociais.

Grupo como colectividade estruturadaO grupo é um sistema de interacção segundo o qual a acção de um serve de estímulo à acção dos outros.Pode definir-se o grupo como um conjunto de seres humanos em relações recíprocas. Os indivíduos que compõem um grupo, para além de uma certa duração, mensurável num período de tempo, têm em comum: relações de comunicação, interacções, uma organização, interesses, uma finalidade, valores e normas, uma linguagem.Os grupos têm três elementos mais identificadores:

- Estrutura: O que distingue o grupo face a multidões ou categorias sociais é a existência de uma estrutura interna que governa o jogo de interacções nele desenvolvido. A estrutura de um grupo consiste num sistema de estatutos e de papéis articulados entre si, que lhe dá consistência e lhe permite manter-se a funcionar.- Identidade semântica: Os membros de qualquer grupo, que durante um apreciável período de tempo vivem uma experiência de interacções prolongadas, tendem a desenvolver valores e regras de conduta comuns em que assentarão não só a regulamentação das relações entre eles, mas também a definição dos papéis dos vários membros. Ser membro de um determinado grupo significa ter uma idêntica concepção das coisas.- Coesão: É a força que leva os membros de um grupo a manter-se em conjunto e a resistir à força da desintegração. Há coesão e não ruptura quando os objectivos e os interesses do grupo estão entre si relacionados de modo cooperativo e não competitivo, quando as forças convergentes prevalecem sobre as forças divergentes, quando a unidade é mais forte que a pluralidade. A coesão de um grupo está relacionada com o grau de comunicação entre os seus elementos, com a predisposição destes para acatarem a influência do colectivo, com o maior ou o menor consenso entre eles sobre os valores a assumir, com a sensação de satisfação e segurança pessoal, com a sua eficiência.

Tipos de grupos Os grupos podem ser de vários tipos de acordo com vários critérios:- Função social (Grupo familiar, político, desportivo, religioso, ...)- Relação de pertença ou de modelo (Grupo de pertença, de referência)- Identificação e proximidade afectiva (Grupo primário, secundário)

Função socialEsta classificação tem por critério a função que os grupos se propõe a executar. Ao sermos membros de diferentes grupos estamos a conciliar actividades que, podendo não ser incompatíveis, são distintas. É

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uma classificação extraordinariamente simples, pois é fácil verificar que cada grupo foi constituído com objectivos diferentes e bem determinados.

Grupos de pertença e grupos de referênciaTem por critério a identificação de pertença ou de um modelo a seguir (ou a rejeitar). Grupos de pertença são os grupos a que sentimos que pertencemos por oposição aos grupos exteriores, que sentimos que não são os nossos. Grupo de pertença é o nosso grupo.Há outros grupos a que não pertencemos mas que nos servem de modelo. É o que se chama um grupo de referência. Os seus valores podem atrair os membros de um grupo estranho que os vêem como parceiros desejáveis, Grupo de referência é o nosso modelo de grupo.Em determinadas ocasiões o grupo de referência pode ser o grupo de pertença.Servem de padrão para compararmos o nosso comportamento, maneira de vestir, classificações académicas, etc.A referência a um grupo pode ser positiva ou negativa. Os grupos de referência podem ser modelos positivos, padrões a seguir, quando aparecem como grupos em que se ambiciona entrar ou cujo comportamento devemos imitar. São modelos negativos quando os seus valores e as suas normas comportamentais merecem a nossa oposição e censura.

Grupos primários e grupos secundáriosÉ uma classificação que tem por critério a proximidade afectiva e a identificação com um grupo de pertença.Falamos de grupos primários quando o relacionamento entre os seus membros é mais íntimo e informal e há uma identificação dos indivíduos com valores dominantes.É um grupo espontâneo, mais definido por motivações afectivas do que por finalidades utilitárias.Se o relacionamento for mais formal e distante, se os laços afectivos são menos apertados ou inexistentes, se a relação de pertença é mais de carácter funcional e pragmático, estamos a referir-nos a grupos secundários.O grupo secundário é uma colectividade mais ampla, mais organizada e menos espontânea que o grupo primário.

Colectividades ou agrupamentos não estruturadosOs agrupamentos não estruturados são as categorias sociais e os agregados sociais.

Categoria socialA categoria é formada por pessoas que têm em comum uma ou várias características, mas que não estão em contacto ou em comunicação umas com as outras.A categoria social é um conceito estatístico. (Ex: Pessoas nascidas no ano de 1982)

Agregados sociaisOnde as pessoas já estão fisicamente juntas. São um vasto conjunto indiferenciado de indivíduos que se encontram em estado de proximidade física, mas sem ou com fraca comunicação recíproca.Conforme o tipo de comunicação que se estabelece entre as pessoas, podemos distinguir:

- Multidão: É uma unidade concreta composta por todos os indivíduos que estão no mesmo local a fazer a mesma coisa. Contudo, as pessoas estão apenas lado a lado, não tem relações de comunicação e muito medos de cooperação ou coesão.- Ajuntamento: Ao iniciar-se um processo de comunicação e uma convergência, a multidão vai transformar-se em ajuntamento.- Assistência: A comunicação é estabelecida não com as pessoas que constituem o aglomerado mas com o objecto ou as pessoas que motivaram a reunião.- Manifestação: A comunicação dá-se com o próprio objecto provocador da aglomeração e, também, entre umas pessoas com as outras.

Multidão Ajuntamento Assistência ManifestaçãoComunicação com as pessoas

Não Sim Não Sim

Comunicação com o objecto

Não Não Sim Sim

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Elementos da culturaO comportamento humano é algo que se aprendeO conjunto de formas adquiridas de comportamento que um grupo de indivíduos, unidos por uma tradição comum, transmitem aos seus filhos e, em parte, aos imigrantes adultos que vêm incorporar-se neste grupo.

A cultura é construída para dar respostas às necessidades de um grupoA cultura é construída através das interacções sociais decorrentes da exigência de dar resposta às necessidades vitais de uma sociedade e é transmitida ao longo das gerações.Tudo o que, numa determinada sociedade, uma geração recebe da anterior, tudo o que ela constrói e tudo o que ela transmite para as seguintes é cultura.

Elementos materiais e espirituais da culturaA linguagem, as tradições artísticas, científicas e filosóficas, os monumentos artísticos e os documentos históricos, a música, a religião, o vestuário, a alimentação, as técnicas próprias, as práticas políticas e o cumprimento das tarefas quotidianas.Verificamos que dentro dos elementos da cultura encontram-se uns que são visíveis, palpáveis, constituídos por matéria: são os elementos materiais da cultura (monumentos, vias de circulação, documentos históricos, gastronomia, etc.). Em contrapartida, a linguagem, as festas, a música, as crenças, os valores, são elementos imateriais ou espirituais, que não são observáveis através de uma matéria concreta

Características da cultura- A cultura está intimamente ligada à realidade económica e social do meio- A cultura refere-se sempre à actividade humanaAs pessoas agem no dia-a-dia de acordo com os padrões culturais que foram criados naquela colectividade.- A cultura está formalizadaTal formalização é assumida pela lei, pelas cerimónias, pelos rituais, pelos protocolos, pela ciência, etc.- A cultura tem carácter colectivo- A cultura é transmissível e tem carácter cumulativoÉ cultura tudo o que se recebeu das gerações anteriores, tudo o que foi produzido pela sociedade e aquilo que cada geração transmite às que se lhe seguem. Mas esta transmissibilidade faz com que a cultura se vá acumulando ao longo dos tempos.- A cultura contribui objectivamente para a formação da sociedadeÉ objectiva porque as pessoas de uma colectividade, através da cultura, estabelecem entre si laços que cada um considera bem reais.- A cultura tem carácter simbólicoO carácter simbólico da cultura é a característica que dá a um agrupamento o seu carácter distintivo das outras colectividades.- A cultura tem carácter sistémicoOs diferentes elementos que compõem uma determinada cultura não estão simplesmente justapostos uns aos outros, são unidos por relações de coerência sentidas subjectivamente pelos membros da colectividade.

Diversidade cultural e os padrões de culturaPode um campo do comportamento ser louvável em determinada zona do Globo e condenado noutro mundo cultural.O suicídio pode ser o acto mais nobre e elevado que um homem pode cometer, como ser apelidado de covardia e falta de honra. Ser-se pai numa zona rural não é a mesma coisa que o ser numa cidade.Podemos assim dizer que cada sociedade, cada cultura específica, tem os seus padrões valorativos que enformam e orientam os comportamentos sociais dos indivíduos – os padrões de cultura.

O etnocentrismo culturalPreconceitos étnicos, racismo, xenofobia, chauvinismo são manifestações de uma visão unilateral e deformada da realidade social a que chamamos etnocentrismo (obstáculo epistemológico).Pretende demonstrar a superioridade de uma cultura sobre a outra com base única nas diferenças.

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Valores culturais de uma sociedadeOs valores inscrevem-se de uma maneira dupla na sociedade. Primeiramente como um ideal (ético, estético, metafísico) que solicita a adesão ou convida ao respeito, implicando, a ideia de uma qualidade superior de ser ou agir a que aspiramos ou em que nos inspiramos.O universo das ideias é uma realidade, e é esta a segunda forma como os valores se inscrevem na nossa vida. Os nossos comportamentos estão imbuídos de valores. São tão reais como qualquer outra dimensão do real.

A carga afectiva dos valoresA carga afectiva contida num valor é um factor poderoso na orientação das condutas das pessoas e dos grupos. Explicando, também, esta carga afectiva, a resistência que no seio de uma sociedade se depara a qualquer tentativa de mudança. É um factor de estabilidade normativa

Os valores como elemento de integração socialÉ como elemento de integração social que a acção dos valores se faz sentir. A “comunhão” dos mesmos valores pelos actores sociais implica que estes sintam uma atracção mútua, um sentimento de pertença que alimenta a estabilidade e a coesão social (solidariedade social). A cultura contribui assim para o equilíbrio e coerência do grupo social.

Os valores como quadro de referencia comportamentalOs valores são a referência pela qual um actor social pauta o seu comportamento em grupo.

As normas como expressão simbólica dos valoresNormas – Estas não são mais do que a expressão simbólica dos valores. São as regras de conduta fundamentadas nos valores. As normas estão à superfície da sociedade, estão à vista, sendo, assim, a forma como os valores (juízos, sentimentos) colectivos, situados no interior, nas camadas mais profundas (não visíveis) da sociedade se apresentam e se revelam. Normas e valores são duas expressões do mesmo sentir.

Comportamentos sociaisInteriorizados os valores e apreendidas as normas sociais, os membros de um grupo devem passar a comportar-se de acordo com essas normas e esses valores.Os valores (e as normas) são sempre específicos de um determinado grupo social e de um tempo histórico.

Valores Normas Comportamentos

Ordem socialComplexo normativo social aceite pelos actores sociais. Determina os comportamentos a ter pelos indivíduos enquanto membros de um grupo, de uma classe social ou de uma sociedade mais global. Estrutura normativa e coercitiva que vigora numa dada sociedade.

Anomia e os comportamentos anómicosActuam fora do campo de valores aceite pelo grupo e vivem à sua margem. Comportamento que se caracteriza pela ausência ou violação das normas sociais.

Comportamentos desviantes e comportamentos não conformistasDe entre os comportamentos anómicos devemos distinguir os comportamentos desviantes dos comportamentos não conformistas. Nos primeiros há uma violação clara das normas socialmente aceites, violando directa e profundamente os valores assimilados pela sociedade (Acto criminoso). Este tipo de comportamentos irá sofrer sanções mais ou menos pesadas de acordo com a gravidade dos mesmos.No comportamento não conformista o grau de violação é mais ligeiro e é justificado como uma alavanca ao dinamismo e às mudanças sociais. É socialmente tolerado e não envolve qualquer tipo de sanção. São exemplos de comportamentos não conformistas os comportamentos originais, por vezes provocadores, de alguns artistas e intelectuais e de estratos etários mais jovens. São, normalmente, apelidados de contraculturais, apresentando-se como uma alternativa cultural.

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Os indivíduos são socializados para terem comportamentos nómicos, isto é, comportamentos tidos como normais dentro do grupo social a que pertencem.

Sanções sociais e controlo socialA sociedade tem todo o interesse em impedir situações de comportamento desviante e em controlar os comportamentos não conformistas, para evitar a desagregação, recorrendo para isso a uma política de sanções, sendo elas positivas (prémios) ou negativas (castigos), consoante o comportamento for ou não conformista.À acção do grupo social sobre os seus membros de forma a evitar estes tipos de comportamentos chamamos controlo social.Controlo social é a acção que os agrupamentos humanos exercem sobre os seus membros de maneira a manter a coesão interna e a evitar a desagregação. Esta acção está ligada a todo o processo de socialização. O grupo exerce sobre cada um dos seus elementos uma influência que o submete às normas vigentes, coagindo-o a comportar-se de acordo com o que está estabelecido, castigando comportamentos desviantes e gratificando atitudes que devem servir de modelo.O conformismo é um mecanismo da adaptação do comportamento individual às suas próprias normas. Para tal, o grupo utiliza a sugestão de prestígio que advém de ser maioria e possui um sistema de punições e prémios que pode utilizar no caso de transgressões ou de acções conformistas.

Homem como produto/produtor de culturaO Homem é produto e produtor de cultura.Cada um de nós vive com as marcas culturais incorporadas, que vão sendo interiorizadas ao longo da vida.Por outro lado, o homem é produtor de cultura ao criar algo, ao passar a cultura às gerações seguintes e ao alterar a sua própria cultura ao longo do tempo.

SocializaçãoSocialização é o processo de transmissão cultural.As características que nos identificam como membros de uma sociedade são adquiridas ao longo da nossa vida, com maior incidência durante a primeira infância.

O processo de socializaçãoÉ a própria sociedade ou grupo em que estamos inseridos que nos inculca as normas e os comportamentos que nela estão institucionalizados.A socialização vai fazer com que o indivíduo tenha uma maneira de ser e de agir tida como ideal no grupo a que pertence.Os valores e a sua expressão simbólica, as normas, são duas formas de expressar o mesmo sentir, assimiladas pelos membros da sociedade através da socialização.

A socialização primária e a socialização secundáriaA socialização é um processo que dura o tempo de uma vida, mas com intensidades e ritmos diferentes. É durante a primeira infância que a socialização é mais intensa e mais marcante.A criança interioriza um código moral. Aprende o que é bem e o que é mal, fazendo corresponder, normalmente, cada uma destas situações a uma recompensa ou castigo.É durante a socialização primária, aquela que é recebida na primeira infância, que o processo de inculcação de normas é mais intensivo e mais marcante. É na socialização primária que recebemos as marcas mais significativas que nos identificarão como membros participantes de um grupo.A socialização secundária é sempre um processo de integração num mundo social específico e, portanto, não tem o carácter de generalidade da que é feita nos primeiros anos das nossas vidas.

A socialização é um processo de interacção recíprocaNinguém fica na mesma ao ser agente socializador. O socializado também exerce acção sobre ele. A socializaçao é um processo de acção recíproca (interacção) entre os membros de uma sociedade.

Agentes de socializaçãoHá os socializados, agentes passivos da socialização e os socializadores, os seus agentes activos.

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Papel social e estatuto socialO estatuto designa o conjunto de atributos ligados à posição de um indivíduo num sistema social e aos comportamentos que legitimamente pode esperar dos outros elementos do grupo a que pertence.O papel é o conjunto dos comportamentos que se espera de um indivíduo no desempenho das suas actividades sociais. O papel social define-se como um tipo de comportamento social de alguém em função dos esquemas sociais e culturais do grupo e por um modo de resposta à expectativa dos outros.

Complementaridade dos conceitos de papel e estatuto socialOs dois conceitos são complementares. O papel é o conjunto de modelos culturais associados a determinado estatuto. Por exemplo, ao médico é atribuído um estatuto social caracterizado por uma posição social prestigiada e bem remunerada. A este estatuto corresponde a expectativa dos membros da sociedade de serem tratados e curados quando necessitarem dos seus serviços. Este é o papel social do médico.O papel engloba as atitudes, os valores e os comportamento que a sociedade atribui a uma pessoa e a todas aquelas que possuem este estatuto. Se o médico espera um determinado comportamento da sociedade em relação a si (estatuto), é porque a sociedade espera dele um determinado comportamento (papel) no desempenho da sua função.

O papel social não se identifica com a função desempenhadaO papel social não é uma função desempenhada por um actor social. É um comportamento esperado no exercício dessa função.O comportamento do papel é a maneira como se executa determinado papel.

Evolução dos papéisOs actores sociais foram operando “desvios à norma”, de tal forma que ao longo dos tempos o consenso social sobre os papeis se foi alterando e com eles as expectativas do grupo. O papel social evoluiu.

Conflitos entre papéisA multiplicidade de papéis e o seu desempenho simultâneo é geradora de conflitos. Nem sempre os diferentes papéis que somos chamados a desempenhar são compatíveis entre si (Activista sindical que em período de greve vê o seu papel entrar em conflito com o papel de chefe de uma família que tem de sustentar, sacerdote católico que se apaixona por uma paroquiana).

Símbolos e estatuto socialO estatuto social é a resposta da sociedade ao papel desempenhado pelo actor social. Através do estatuto, a sociedade, coloca o indivíduo numa determinada posição da hierarquia social. Cada pessoa, ao saber o seu estatuto, sabe o lugar que ocupa na escala social, sabendo assim qual a sua importância e o comportamento que pode legitimamente esperar dos restantes membros da sociedade.Os estatutos estão ligados a certos sinais distintivos, uns mais ou menos informais (carro, roupa, etc.), outros bastante rígidos (galões militares, fardas, etc.).

Classificação dos papéis e dos estatutosEstatuto adquirido e estatuto atribuído Vs papel adquirido e papel atribuídoOs conceitos de papel adquirido e papel atribuído estão ligados aos conceitos de estatuto adquirido e estatuto atribuído.A sociedade a que pertencem definiu os papéis para a mulher e para o homem, atribuindo-lhes assim estatutos diferentes. É um estatuto atribuído.Situação diferente é a do papel e estatuto do marido e da esposa. Enquanto na situação anterior ninguém pode escolher o sexo com que nasceu, os estatutos de marido e de esposa são adquiridos de forma presumivelmente voluntária e intencional. É uma situação de estatuto e papel adquiridos.

Estatuto actual e o estatuto latenteO primeiro é que numa dada situação concreta se encontra em evidência, estando o papel latente como que desactivado.

Os sistemas de referênciaPapéis e estatutos que respeitam à sociedade global em geral e aos seus ideais e valores reconhecidos.

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A ligação a complexos biossociaisClassificação ligada a complexos biossociais; o papel da mulher e o estatuto da mulher, o papel do jovem e o estatuto do ancião, etc.

A ligação a classes sociais ou agrupamentosClassificar os papéis e os estatutos pela sua ligação a classes sociais ou agrupamentos; o papel do operário e o estatuto do encarregado, o papel do filho e o estatuto do pai.

Hierarquização socialA hierarquização social dá-se essencialmente de acordo com duas teorias, a teoria da estratificação social (estruturalista) e a teoria das classes sociais (marxista):

- Teoria da estratificação social (estruturalista)Estrato socialAgrupamentos constituídos por indivíduos com estatutos sociais comparáveis, com riqueza e prestígio social semelhantes, partilhando as mesmas condições de existência e expectativas de vida.

Estratificação SocialDistribui os membros de uma sociedade pelos diferentes estratos sociais previamente definidos.

A estratificação pressupõe a hierarquização socialPodemos definir estratificação “pelas oportunidades que o indivíduo pode ter, segundo a sua situação social, de receber em maior ou menor quantidade as coisas que na sociedade têm valor ou de participar mais ou menos nos valores essenciais”.

Critérios de estratificação socialPodemos definir estratos extraordinariamente largos, como os “estratos do Ancien Régime” (clero, nobreza e povo), ou criar categorias sociais mais pequenas, como por exemplo os diferentes esclões para a atribuição de um subsidio aos alunos de uma escola. Critérios como a riqueza, o rendimento, o prestígio, a profissão, o grau académico, o poder, a religião, a raça aparecem um pouco por todos os estudos de estratificação social. Servem de referência para a definição de desigualdades sociais.Os principais critérios de estratificação social são a riqueza, o poder e o prestígio.

Tipos de estratificação- Estratificação económica – baseada na situação patrimonial dos indivíduos.- Estratificação política – baseada na importância política de uma pessoa ou grupo.- Estratificação socioprofissional – baseada na importância social da profissão de cada um.A estratificação pode ainda ser dividida em:- Estratificação primitiva – fundamentada na hierarquia sexual ou na hierarquia das idades.- Estratificação complexa – fundamentada na hierarquia do código puro/impuro (castas), do militar, e da religião (as ordens e os estados do Ancien Régime), da profissão (divisão social do trabalho nas sociedades industrializadas democráticas).

Teoria das classes sociais (marxista)Classes SociaisAs classes sociais são macrocosmos parciais de agrupamentos que se opõem entre si, pela apropriação dos meios de produção. A classe não é uma simples estratificação ou um grupo profissional. Ela é um dado sociológico e uma realidade viva. A consciência de classes é um critério importante de qualquer classe social.É a luta pela apropriação do “excedente de produção” que está na origem da divisão das classes.

Classes possuidoras dos meios de produção

Esclavagistas Senhores feudais Burguesia

Classes despossuídas dos meios de produção

Escravos Servos da gleba Proletariado

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Socialização como processo de reprodução socialA socialização é um instrumento de controlo social e do processo da reprodução social.

A reprodução social é a acção da sociedade no sentido da manutenção da ordem social estabelecidaA socialização é geradora de conformismo e de uma aceitação acrítica e passiva das desigualdades sociais.

O papel da socialização primária na reprodução socialO défice cultural das pessoas pertencentes aos estratos mais baixos também vai ser utilizado como agente reprodutor ao nível da comunicação. É mais fácil comunicar com os nossos pares sociais do que com os indivíduos pertencentes a estratos superiores aos nossos. Há uma espécie de vergonha de classes que inibe e atrofia a comunicação. Esta vergonha, sendo um elemento inibidor, é mais um factor reprodutor da sua subalternização social.

Os conflitos entre os agentes de socializaçãoOs agentes socializadores nem sempre estão sintonizados uns com os outros.Estes conflitos representam a defesa de interesses particulares de um grupo.

Compreensão do sistema de estratificaçãoAs pessoas que vivem em determinada sociedade têm uma compreensão própria do sistema de hierarquia social, das graduações de prestígio e do modo como o poder está e deve estar distribuído.A estratificação social pode criar insatisfaçãoSe é certo que o processo de socialização cria obstáculos (acomodação e conformismo) a qualquer alteração ao socialmente estabelecido, também é verdade que as desigualdades geram desequilíbrios e que a estratificação cria insatisfações, rivalidades, lutas e, eventualmente, revoluções. Apesar dos mecanismos sociais tendentes à manutenção e reprodução da ordem social, podem ser geradas, dentro da própria sociedade, forças inconformistas que poderão provocar alterações mais ou menos profundas do sistema social.

Mobilidade socialA mobilidade social traduz-se na concretização dos anseios de melhoria de condições de vida.Falar de mobilidade social é falar da intercomunicação entre os estratos e classes sociais.A mobilidade social pode ser:- Mobilidade social vertical (traduz-se na mudança de estrato social)

- Ascendente- Descendente

- Mobilidade social horizontal (alterações no estatuto social mas que não provocam mudança de classe ou de estrato social. É o caso de uma pessoa que pelo casamento obtém um estatuto diferente (o de casado) mas continua no mesmo estrato social)A vida nas sociedades desenvolvidas tem mecanismos mais facilitadores de ascensão social que as sociedades tradicionais.A mobilidade social, vertical ou horizontal, ascendente ou descendente, é, nas sociedades modernas, uma constante que já passou a ser encarada como normal, não sendo, portanto, factor de instabilidade social.

Socialização por antecipaçãoAssumir os símbolos e os comportamentos das pessoas colocadas em estratos e classes superiores é estar a socializar por antecipação. Perspectivando uma ascensão social, as pessoas tendem a assumir os comportamentos e os símbolos das classes imediatamente superiores. Na socialização por antecipação, a aprendizagem para se ser membro de um grupo é feita antes de a ele se pertencer.

Produção e reprodução socialA sociedade só existe tal como é porque os seres humanos se relacionam uns com os outros.Quando duas pessoas entram em interacção carregam consigo um quadro de valores e de normas, de recursos, predisposições e interesses que dependem, para além da situação interactiva específica, da posição que cada um ocupa no sistema relacional institucionalizado.

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Natureza e condições sociais de produçãoOs actores sociais produzem a sociedade.Os comportamentos sociais, a produção de bens para a satisfação das necessidades individuais e sociais, o próprio conceito de necessidade, fazem aquilo a que chamamos produção social.A natureza social da produção manifesta-se numa dupla dimensão: social, criação dos meios indispensáveis para a satisfação das necessidades humanas e, natural, que não dispensa a contribuição do homem para a sua consecução.Na produção social assume especial destaque a produção de bens materiais, na medida em que representa um papel determinante no resto da população.

Condições sociais de produçãoTemos de definir na estrutura social uma infra-estrutura (o nível económico) sobre a qual se ergue uma superestrutura (os níveis político, jurídico, ideológico, etc.). É na infra-estrutura que são definidas as condições sociais de produção, isto é, as classes e as relações entre as classes, as relações de propriedade dos meios de produção, definindo assim as classes dominante e dominadas.Esta relação de classe vai reflectir-se na superestrutura. A produção social é determinada pelas condições sociais de produção de bens materiais.

A reprodução das condições sociais de produçãoAs classes dominantes vão actuar de forma a privilegiar os seus interesses e a prolongar a sua situação de superioridade. À estrutura económica compete a produção social e à superestrutura a reprodução social.A reprodução social é a forma como a sociedade vai procurar transferir para os novos membros os seus valores e a sua estrutura e organização sociais. Não é uma forma de estabilidade social e muito menos de consolidação da coesão social. Serve sim para explicar a continuidade de uma totalidade social.

IdeologiaÉ um conjunto de ideias que defendem os interesses de um grupo ou de um conjunto de grupos.As ideologias são produtos culturais colectivos que se constituem na própria prática social, fomentando a coesão dos grupos, das classes e das sociedades e dando significado à sua acção histórica.

A ideologia integra a cultura de um grupo socialA ideologia dominante faz parte da cultura dominante. Com o objectivo de reproduzir a sua organização social, a sociedade vai produzir um conjunto mais ou menos coerente de ideias, mitos, imagens, que correspondem aos interesses das classes dominantes e que vão ser assimilados pelas classes não dominantes.Através dos aparelhos ideológicos, a classe dominante, dissemina e inculca em cada indivíduo o lugar que lhe é destinado na sociedade.As ideologias variam no espaço e no tempo. A ideologia, fazendo parte da produção social (produção de ideias), não se confunde com cultura, mas integra-a.

A ideologia pressupõe acçãoA ideologia também pode ser um motor e fonte de mudança social. Procura transformar a ordem existente valorizando sistemas considerados melhores. A ideologia, ao orientar o grupo ou classe social no sentido dos seus objectivos, pressupõe a acção (reprodutora ou revolucionária). As grandes mudanças históricas estiveram carregadas de ideologia.

Noção de instituição socialConstrução normativa de uma sociedade.

Instituições sociais e controlo socialInstituição social é toda a forma estabelecida ou processo de funcionamento de um grupo social. É como que a “forma” ou “molde” onde somos colocados à nascença para assumirmos a forma normal de membro da sociedade onde vamos viver.O elemento normativo diz respeito às normas ou padrões de conduta a que obedece a actividade do grupo. Este, em combinação com o elemento estrutural, constitui o grupo ou sociedade.

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A instituição é uma estrutura relativamente permanente de padrões sociaisUma instituição é um sistema organizado de relacionamentos sociais que incorporam certos valores, normas e procedimentos comuns e atendem a certas necessidades básicas da sociedade.Institucionalização é a tradução dos elementos com carácter geral, em normas, papéis e grupos que exercem um controlo directo e imediato sobre a acção e a interacção dos membros. É o estabelecimento de normas definidoras que atribuem “estatutos” e “papéis” em conexão com determinados comportamentos.Um conjunto de relações sociais torna-se institucionalizado quando:- se desenvolve um conjunto regular de “papéis” e de “estatutos”;- este sistema de expectativas de “papéis” e de “estatutos” for amplamente aceite pela sociedade.Da institucionalização resulta a instituição representada pelo aspecto normativo e normador da organização em causa.

O papel das instituições sociais na reprodução socialAs instituições desempenham um papel essencial na reprodução social, na medida em que exercem o controlo dos indivíduos pela sociedade global.As instituições criam as condições para que a sociedade a que pertencem as continue a manter através dos tempos, contribuindo, assim, para a reprodução dos valores e normas da sociedade.

Características das instituições- A transcendência relativamente aos indivíduosAs instituições são experimentadas como algo dotado de realidade exterior. São algo fora do indivíduo. O indivíduo experimenta-as como alguma coisa que existe antes dele e fora dele, algo que o transcende.- As instituições são experimentadas como coisas objectivasAlguma coisa é objectivamente real quando todos admitem de que “de facto” a mesma existe, e que existe de uma maneira determinada.- A coercitividade e o direito à legitimidadeImplícita nas características enunciadas anteriormente (exterioridade e objectividade) está a coercitividade. Se um indivíduo quiser modificar o estado de coisas existentes, a força coercitiva das instituições apresentar-se-á de forma bastante rude.As instituições não se mantêm apenas através da coercitividade: invocam o direito à legitimidade. A coacção exige o respeito das interdições em função da legitimidade social e é moralmente reconhecida como indiscutível.

Funções das instituições- Função de estabilidade normativaConsiste em assegurar que os valores da sociedade sejam conhecidos e interiorizados pelos seus membros. Está essencialmente ligada à manutenção de reprodução da ordem social e, por conseguinte, é uma função que se identifica com o controlo social.- Função de integraçãoConsiste em assegurar a necessária coordenação entre as partes ou unidades do sistema social, para a organização e para o funcionamento do conjunto.Nestas funções de estabilidade e integração intervêm as estruturas e agentes de socialização.

Contracultura, contra-instituições e reprodução socialApresentando-se mais como alternativa do que como uma simples condenação da ordem social e do poder estabelecido temos a contracultura.A contra cultura não se define, exclusivamente, como a negação da cultura dominante tradicional. Ela apresenta-se como uma cultura alternativa. É gerada no seio da cultura tradicional, e define-se pela recusa da herança social recebida por parte das gerações mais novas.Quando os movimentos contraculturais se estruturam e organizam de modo a adquirirem forma própria no confronto com as instituições consagradas tradicionalmente, cria-se uma contra-instituição.Um problema que se põe após a aceitação da contracultura é a sua recuperação pela cultura dominante. Nesta altura a classe dominante “não os podendo vencer, junta-se a eles e trá-los consigo”. Ao apropriar-se comercialmente das contra-instituições criadas, faz com que estas passem a ser consideradas como mais uma moda que se vende. Assim, a máquina económica apodera-se da imagem e do trabalho dos

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artistas e dos intelectuais, publicita-os e vende-os desligados do seu significado inconformista e alternativo.

Mudança social como fenómeno socialDentro de cada grupo social e cada classe social ou sociedade concreta são geradas forças que impõem dinamismos sociais e que geram mudanças.

A dinâmica socialQualquer modificação social tem na sua génese, implícita ou expressamente, um conjunto de tensões e conflitos. Ao descrevermos qualquer elemento caracterizador da sociedade actual, estamo-nos a referir a uma força geradora de mudança.A mudança social é um fenómeno colectivo que implica alterações estruturais da sociedade dentro de determinado tempo.A mudança exige tempo e só pode ser apreciada e medida em relação a um ponto de referência no passado.Há mudança social quando num grupo ou sociedade:- Se processam alterações na estrutura e na forma de organização social;- É possível referenciar temporalmente estas alterações;- É uma situação previsivelmente duradoura.

Tipos de mudançaA mudança social é consequência de três categorias de fenómenos:- Mudanças produzidas no plano geográfico e biológico da sociedadeOs factores biológicos e geográficos não são predominantes na história da Humanidade, no entanto, são imensos os exemplos em que estes factores naturais tiveram parcial ou total responsabilidade no processo de alterações profundas de uma sociedade (A seca prolongada pode forçar um povo agricultor ao nomadismo, banditismo ou à conquista de outros territórios).- Mudanças explicitamente queridas e impostas voluntariamente por um ou vários grupos sociais. São mudanças decretadas ou mudanças impostasSão mudanças visíveis a curto prazo provocadas pela incapacidade de resposta da sociedade a dinâmicas geradas no seu seio que provocaram rupturas no tecido sociocultural.Este tipo de mudança é imposto à colectividade, restando a esta apenas a aceitação, mesmo que se verifiquem algumas resistências.- Mudanças que são o efeito inconsciente do funcionamento da sociedade. São as mudanças evolutivasPerspectiva evolutiva que nos permite constatar as alterações funcionais e estruturais da sociedade ao longo dos séculos como corolário necessário da evolução científica, tecnológica e cultural que a sociedade conheceu. Tudo se passa como se a sociedade “crescesse” como um ser humano.As mudanças evolutivas são mudanças visíveis a longo prazo que resultam do funcionamento de estruturas sociais e da sua adaptação sucessiva às diferentes transformações sofridas.

Alguns agentes de mudança- Carisma: é o conjunto das características de um líder que obtém da parte das massas uma adesão incondicional.O carisma é individual e raramente grupal, mas reflecte-se sempre na organização de um grupo e nas formas da sociabilidade deste.- Elite social: Grupos que estão na génese e na liderança das mudanças sociais.Uma elite social é uma minoria organizada que dispõe de meios económicos poderosos que lhes permitem deter o poder e daí usufruir as respectivas vantagens.A evolução social está grandemente ligada à capacidade empreendedora das elites. A ausência de elites pode conduzir a uma sociedade estagnada.- Movimentos sociais: Um movimento social é uma organização relativamente estruturada, condicionada pelas funções que pretende desempenhar, que visa agrupar membros com vista à promoção e defesa de certos interesses e objectivos definidos (migrações, movimentos revolucionários, ecologistas, artísticos, feministas, gay, etc.).Os movimentos sociais resultam de condições sociais de descontentamento dos cidadãos.Têm uma duração limitada à consecução dos seus objectivos.

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Os movimentos sociais tanto podem surgir como um esforço para a promoção como de resistência à mudança.- Grupos de pressão: Os grupos de pressão, muito conhecidos pela expressão americana de lobbies, visam influenciar as autoridades governamentais.Os grupos de pressão visam actuar sobre os detentores do poder no sentido da imposição de determinados interesses específicos.

Êxodo ruralCom o abandono da casa da aldeia, o camponês, agora operário, vai procurar alojamento na localidade onde está implantada a fábrica. Nem sempre os centros urbanos têm capacidade de resposta. A habitação e o alojamento cedo se transformam em problemas dos centros urbanos.O desenvolvimento da indústria da construção civil, o aparecimento dos bairros de lata e de outras zonas degradadas, a alteração paisagística, o desenquadramento dos trabalhadores habituados a outra forma de sociabilidade, são, já por si, mudanças sociais.O nascimento dos sindicatos é outra consequência da industrialização.Em todo este processo, a escolaridade tornou-se o canal mais importante de mobilidade social ascendente.

Difusão das culturasOcorre difusão sempre que as sociedades entram em contacto umas com as outras.A difusão é um processo selectivo. Um grupo aceita certos traços culturais de outros povos ao mesmo tempo que rejeita outros.

A cultura e a mudança socialNão há mudança social que não seja também mudança cultural.

Aculturação e desculturaçãoO contacto entre culturas pode ocasionar modificações nas maneiras de ser, de pensar e agir dos povos, pode fazer com que um determinado grupo social adquira características culturais de outro grupo e/ou perca algumas das suas.Ao fenómeno de inserção de elementos culturais de uma cultura noutra chamamos aculturação.Quando a modificação cultural se traduz na perda de características que até aí faziam parte integrante da cultura, estamos a falar de desculturação.

Contracultura e subculturaA contracultura é um fenómeno de mudança social. Apresenta-se como uma cultura alternativa à cultura dominante, não deixando de ser uma subcultura no seio de um grupo específico e, por conseguinte, uma mudança cultural concreta.

Uniformização dos comportamentosOs fenómenos de aculturação provocados pelos mass media levam à imitação dos comportamentos e ao abandono de outros, conduzindo, assim, a uma maior semelhança comportamental entre os povos.

Alteração dos papéis e estatutos sociaisO papel de pai ou de mãe no terceiro milénio não é o mesmo de há trinta ou cinquenta anos atrás.

Aceitação e resistência à mudança socialHá mudanças aceites por todos e que ocorrem rapidamente e outras que deparam com fortes resistências.Se a mudança vier responder a algumas carências apercebidas pela colectividade, ela far-se-á rapidamente e sem grandes resistências. Se as mudanças questionam a ordem e a estrutura sociais deparam-se com fortes obstáculos.A aceitação ou resistência à mudança é sistematizada de acordo com:- a utilidade da mudança;- a adequação ou conveniência da mudança;- a rotina de um sistema social.

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O elevado grau de integração cultural é factor que favorece a resistência à mudança. Uma zona fisicamente afastada é um local socialmente longínquo.Se uma mudança retira privilégios a algum grupo ou classe social encontra neles focos de resistência, já que vai interferir com os direitos adquiridos.Quando as decisões políticas e as suas repercussões públicas, os conteúdos culturais ou recreativos, a publicidade ou a propaganda ideológica chegam instantaneamente ao grande público, estamos numa sociedade moderna.

Barreiro, 02 de Maio de 2007 – muckey

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