sociologia do crime

27
Introdução 1

Upload: o-allen-boane

Post on 23-Oct-2015

18 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Sociologia

TRANSCRIPT

Page 1: Sociologia do crime

Introdução

1

Page 2: Sociologia do crime

Breve perspectiva histórica: Contextualizando a relação recluso – reinserção social

Etimologicamente a palavra preso provém do vocabulo latim prehensus, tendo como

sinónimo a palavra recluso, que significa indivíduo que está preso, encarcerado prisioneiro.

Na modernidade segundo a visão de Michel Foucault, a expressão preso toma novas

directrizes e está intrinsicamente ligada as regras de funcionamento da prisão que são

impostas ao preso com rigor e coerção. Este, por sua vez, também dispõe de um conjunto

de regras, chamado "código dos presos" e que tem vigência entre eles e é aplicado por

alguns sobre os demais.

Segundo o moçambicano Sucar, J. ( 1998) reinserção social é entendida como o processo

que o indivíduo, família, comunidade e Estado desenvolvem para a recuperação, integração

ou reintegração do indivíduo na sociedade. Concretiza-se com a conscientização do

indivíduo no aprendizado ou resgate de valores morais e éticos, devendo a família,

sociedade e o Estado prestar-lhe apoio, criando mecanismos de educação, saúde, trabalho,

desporto, lazer, cultura, apoio psicológico e espiritual para o exercício de sua cidadania.

Tanto para o indivíduo como para família e a comunidade, destacam-se, entre as

recomendações propostas para favorecer a reinserção social, a promoção, conscientização e

a necessidade do respeito à voluntariedade, o favorecimento de actividades socioculturais e

de modificações de comportamentos e valores.

Para melhor entendermos o processo de Reinserção ou Reintegração Social é necessário

que nos reportemos ao conceito de exclusão, que é o acto pelo qual alguém é privado ou

excluído de determinadas funções.

A exclusão social implica, pois, numa dinâmica de privação por falta de acesso aos

sistemas sociais básicos, como família, moradia, trabalho formal ou informal, saúde, dentre

outros. Não é outro senão, o processo que se impõe à vida do indivíduo que estabelece uma

relação de risco com algum tipo de droga, cuja fronteira para a exclusão é delimitada pelo

início dos problemas sociais.

A reinserção assume o caráter de reconstrução das perdas e seu objetivo é a capacitação da

pessoa para exercer em plenitude o seu direito à cidadania. O exercício da cidadania para o

paciente em recuperação significa o estabelecimento ou resgate de uma rede social

inexistente ou comprometida pelo período de abuso da droga. Neste cenário, ajudar o

2

Page 3: Sociologia do crime

paciente a entrar em abstinência deixa de ser o objetivo maior do tratamento. Assim como

as técnicas de prevenção à recaída representaram nos últimos anos grandes avanços no

tratamento do paciente, a sua reinserção social torna-se, neste milênio, o grande desafio

para o profissional que se dedica à área das dependências químicas.

O processo de reinserção começa com a avaliação social, momento em que o profissional

mapeia a vida do paciente em aspectos significativos que darão suporte ao seu novo projeto

de vida,desenhado a partir das suas características pessoais e da etapa do tratamento em

que se encontra. No processo de aprender a lidar com a sua relação com a droga, via

tratamento (independente da sua modalidade), o paciente é exposto às demandas do mundo

externo com todas as suas contradições. Sentimentos de rejeição, insegurança, culpa,

incapacidade, dentre outros, vão colocá-lo em freqüentes situações de risco.

Por isso, já no primeiro contato, o profissional deverá assumir uma postura de acolhimento

do paciente, no qual a atitude solidária e a crença na capacidade de o mesmo construir e/ou

restabelecer sua rede social irão determinar o estabelecimento de um vínculo positivo entre

ambos. É uma parceria onde a porta para a ajuda estará sempre aberta, desde que, o trânsito

seja de mão dupla. Assim, o profissional e o paciente devem entender a reinserção social

como um processo longo e gradativo que implica, inicialmente, na superação dos próprios

preconceitos, nem sempre explícitos.

Os assuntos individuais e sociais de maior relevância no contexto do paciente devem ser

discutidos abertamente com o objetivo de estimular uma consciência social e humana mais

participativa. É nestas discussões que se percebe a energia vital manifestada, quase

milagrosamente, naquele paciente que havia feito da condição de excluído, o instrumento

privilegiado de suas relações sociais, resgatando a sua auto-estima.

Problemática

Nesta fase da pesquisa temos como propósito construir o objecto

sociológico sobre o qual vamos esmuiçarmo-nos ao longo do nosso

trabalho empírico, assim sendo, nossa principal tarefa consistirá em

fazer a passagem da reinserção social da reclusa, enquanto problema

social para problema sociológico, o que culminará com a elaboração da 3

Page 4: Sociologia do crime

pergunta de partida que vai servir de fio condutor da nossa pesquisa e

dos objectivos a que nos propomos alcançar. Portanto vamos construir

teoricamente a nossa problemática.

A reintegração social do preso é possível ou não no ambiente carcerário, levando-se em

consideração as mazelas existentes na prisão e alguns outros tantos factores negativos

suscitados em relação à ressocialização.

A ideia de punição, os conceitos de reinserção, reabilitação social, ressocialização da

reclusa, assim como a punição passa não só a se destinar a sancionar a infração, mas a

controlar o indivíduo, a neutralizar a sua periculosidade, a modificar suas disposições

criminosas, cessando somente após obtenção de tais modificações (Foucault, 2000, p. 20).

Na mesma senda, a tese da reinserção social é ressaltada por Jason Albergaria, segundo o

autor a reinserção consiste no processo de introdução do indivíduo novamente na

sociedade, enquanto que a reeducação é o processo de desenvolvimento das personalidades

do preso, em consonância com os direitos fundamentais.

Por tudo que foi exposto acerca dos vocábulos utilizados no sentido de compreender um

mesmo ideal, entende-se que a melhor terminologia para designar a atividade do pessoal

penitenciário em colocar, à disposição do condenado, meios e condições propícias que

permitam a este, em adesão positiva e voluntária, retornar de forma harmónica à vida livre

em sociedade e não voltar a cometer novos delitos, de modo que neste mesmo processo

pautado sob um enfoque moderno e humanista esteja garantida a proteção de suas

liberdades e direitos não alcançados pela sentença condenatória, é o termo reintegração

social.

Com o escopo de compreender as atitudes da sociedade moçambicana com relação a

reinserção social, é capital captar as estrategias que as instituições dos meios de controlo

social, junto com a sociedade adoptam para o processo de reabilitação do recluso. No

mesmo fio de pensamento, nos é mister perceber como é que o próprio recluso assimila

uma série de procedimentos, técnicos, normativos, disciplinares que estas instituições

adoptam para reintegra-lo na vida social.

Particularmente aos serviços penitenciários moçambicanos, questiona-se as condições de

ressocialização sob o argumento de que ao Estado Democrático de Direito não cabe impor 4

Page 5: Sociologia do crime

ao condenado determinados estilos de comportamentos e concepções de vida, como forma

de oprimir e diminuir sua liberdade interna de aceitar ou não tais valores.

Não obstante, a ressocialização não é um entendimento de todo modo condizente com a

proposta ressocializadora, já que, "o sentido imanente de reinserção social deve ser

compreendido como ajuda ou apoio a fim de que o condenado possa, livremente, eleger

seus caminhos futuros". Enfatiza o autor que "o fim da reinserção social deve ser entendido

como possibilidade de participação nos sistemas sociais e não como reforma ou

metamorfose da personalidade". (René Ariel Dotti, 2008), então em que medida o

comportamento dos indivíduos face a reinserção social é influenciado

pela imagem que a sociedade moçambicana cria em relação ao preso?

Qual é a imagem que se tem das intituições de reabilitação social em

Moçambique? O que faz com que a sociedade crie rotulos face ao

recluso?

Justificativa

Este trabalho foi desenvolvido não com a pretensão de apresentar soluções, ou esgotar a

discussão, mas sim com o escopo de tentar compreender em que circunstâncias a

reinserção social torna os indivíduos vulneráveis a este processo. Por outra, este trabalho

visa estudar o processo de ressocialização dos indivíduos do sexo feminino concretamente

na cadeia feminina de Dlavela, tendo como grupo alvo mulheres com idades

compreendidas entre os 18 aos 42 anos de idade.

Achamos que a reinserção social tem grande relevância sociológica pois, é por via disso

que proposemo-nos a estudar este fenómeno. No âmbito deste trabalho empírico esperamos

encontrar uma oportunidade de aliar o nosso aprendizado teórico com a realidade social

moçambicana, no tocante a reinserção social do recluso. Com efeito, como nos referimos

acima, não temos a pretensão de esgotar a discussão, mas sim tentar captar as causas que

estão por detrás da realidade vivida em Moçambique com relação a reintegração social do

recluso. A outra questão, tem a ver com a capacitação do pessoal e de toda vasta gama de

parâmetros jurídicos, normativos, ressocializadores que estão directamente envolvidos

nesta causa.

5

Page 6: Sociologia do crime

Uma vez que a sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos,

preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. É mister

perceber qual o papel da sociedade face a reabilitação social do preso e como é que esta

mesma sociedade o reintegra após a reclusão.

Pergunta de Partida

Do ponto de vista da reintegração social, qual é o impacto da sociedade com relação a reinserção social do preso?

Hipótese

Em função da construção social do preso, a sociedade tende a estigmatiza-lo criando

mecanismos para a sua exclusão social.

Relação entre as variáveis

As nossas escolhas indicam a relação assimétrica exposta nas nossas hipóteses, que se

caracterizam pela relação causal entre a reinserção social e as estratégias que a sociedade

adopta quotidianamente para a reintegração social do preso.

Objectivo Geral

Compreender o processo de reeducação do recluso para a sua reintegração social, na

família, comunidade e Estado.

Objectivos Específicos

Qual é a expectativa do recluso após o cumprimento da pena perante a sociedade.

Procurar perceber, quais as estratégias adoptadas pela sociedade para a reintegração

do recluso.

Captar o papel dos meios de controlo social para a reabilitação do recluso.

Tentar compreender se nas condições em que o recluso esta exposto esta apto para

assimilar os processos de reabilitação, impostos pelos meios de controlo social.

6

Page 7: Sociologia do crime

Relevância Sociológica

Nesta fase vamos de acordo com Marconi e Lakatos (2007) esmiuçarmo-nos sobre a

relevância teórica e académica da pesquisa que pretendemos empreender, portanto vamos

nesta etapa responder a pergunta o porquê desta pesquisa?

Antes de mais importa referir que Baratta (1999, p.161), utiliza a concepção "reintegração

social", já que esta condiz com um processo de comunicação e interação entre o cárcere e a

sociedade, devendo, portanto, existir uma profunda transformação nesta, pois é o lugar

decisivo para se buscar a solução do problema carcerário.

Na mesma linha, Romeu Falconi defende a utilização do termo "reinserção", o qual, pela

sua atenciosa análise, não se afasta da terminologia sustentada por Baratta, já que não

altera o escopo pretendido. Para ele, a reinserção está voltada para a reintrodução do

condenado no contexto social e visa criar um modus vivendi entre ele e a sociedade

externa, precisando apenas que ambos aceitem limitações mínimas. Com isso, os efeitos

que se esperam é a diminuição da reincidência (ex-condenado) e do preconceito

(sociedade).

A reinserção social do recluso é um fenómeno sociológico por natureza e carece de um

estudo sociológico na medida em que a reinserção social consiste no processo de

introdução do indivíduo novamente na sociedade, enquanto que a reeducação é o processo

de desenvolvimento das personalidades do preso, em consonância com os direitos

fundamentais (Jason Albergaria).

Segundo Monteiro (2007), a sociedade (re) inclui aqueles que ela exclui, através de

estratégias nas quais esses “excluídos” tenham uma participação activa, isto é, não como

meros “objectos de assistência”, mas como sujeitos (Baratta, 1990, cit. Por Sá, 1998).

Enquadramento teórico e Conceptual

Interaccionismo de Erving Goffman

Erving Goffman, embora tenha reivindicado não ter sido um interationista simbólico, é

reconhecido como um dos principais contribuintes à perspectiva.

“Sempre que olhamos para o social, fazemo-lo a partir de uma certa perspectiva. Através

dela apreendemos a realidade de forma muito específica” (Macamo, 2004: 13), é desta

7

Page 8: Sociologia do crime

feita que no capítulo que se segue vamos procurar expor o quadro teórico que nos vai

servir de suporte analítico, sendo que este tem como base o interaccionismo trazido por

Erving Goffman.

Goffman, advoga que de um modo geral as instituições sociais possuem mecanismos de

interacção entre seus participantes, em que se conquista, gradualmente, o tempo e o

interesse dos mesmos. Erving Goffman, em sua obra Manicômios, Prisões e Conventos, dá

as características gerais de instituições sociais, em especial as chamadas “instituições

totais”, as quais são tipicamente identificadas como instituições fechadas que,

simbolicamente, são categorizadas pela barreira à relação social com o mundo externo e

por proibições à saída.

Assim, o indivíduo ao ingressar no sistema imposto pela instituição total é submetido a

uma nova cultura onde é despido de sua cultura aparente que traz consigo e lhe é imposto

um novo mundo ao qual o indivíduo deve adaptar-se e internalizar a cultura carcerária,

relegando relevantes conceitos sociais do mundo externo, o que torna a ideia de uma

ressocialização totalmente inviável, restando para o detento a marca do estigma que se

origina desta fase.

Instituição total é aquela que controla ou busca controlar a vida dos indivíduos a ela

submetidos substituindo todas as possibilidades de interação social por "alternativas"

internas. (Erving Goffman).

O sentimento de reabilitação está fadado ao fracasso caso se constate efectivamente que a

pena de prisão estigmatiza o recluso, além de todos os problemas crónicos que a mesma

apresenta. Nessa linha, é perceptível que nas cadeias moçambicanas não há possibilidades

reais de regenerar ou ressocializar alguém, uma vez que a prisão se encontra em evidente

falência (assim como anúncia o título da brilhante obra de Cezar Roberto Bitencourt).

Ou seja, já seria uma contradição segregar um indivíduo e ao mesmo tempo pretender sua

reintegração social, ainda mais num ambiente reconhecidamente hostil e desfavorável a

este propósito, qualificado para muitos como uma instituição total da qual Erving Goffman

escreve.

Dessa forma, na visão de Mirabete, não mais se sustenta o pensamento de que é possível

castigar e, ao mesmo tempo, reeducar o delinqüente através do cárcere.

8

Page 9: Sociologia do crime

Seguindo o mesmo entendimento, Bitencourt analisa que a reintegração social do preso

não pode ser conseguida num ambiente tal como é a prisão. Esta instituição, segundo ele,

tende a se converter num microcosmos, onde as mazelas do cárcere e a estrutura social de

dominação acabam reproduzindo e agravando as contradições existentes no sistema social

exterior.

A ressocialização, para Giddens (1994, p. 113), refere-se a uma reestruturação da

personalidade e das atitudes. Giddens (1994, p. 113 - 114) parte do pressuposto de que esta

reestruturação pode ser benéfica ou maléfica aos indivíduos, dando como exemplos a

internação em um manicômio, ou a passagem por um campo de concentração, onde

haveria uma quebra na personalidade dos prisioneiros, devido ao medo, a privação e a

incerteza sofridos.

Outro elemento que gostaríamos de incluir neste quadro teórico é a problemática do

estigma, a partir da discussão trazida por Goffman (1988).

Goffman (1988) parte da tese que é a sociedade quem estabelece os meios de categorizar

as pessoas, atribuindo a algumas a classificação de normais, e a outras, a de estranhos. Essa

segunda categoria, a quem a sociedade considera “estragada” e diminuida, é o que

Goffman conceitua como estigmatizada.

Procedimentos Metodológicos

Este estudo foi metodologicamente orientado para a linha qualitativa, onde o principal

instrumento de recolha de dados foram os próprios estudantes. Pois, a abordagem por nós

escolhida tem como o fim apreender e compreender as formas em que ocorre a reinserção

social da reclusa. Reflectir sobre as formas que as famílias das reclusas adoptam para as

reintegrar no convívio familiar e na comunidade, apesar de terem sido presas mais de uma

vez. Nessa ordem de ideias, não pretendemos esgotar a discussão muito menos explicar os

factores inerentes à reinserção social das reclusas, mas sim uma tentativa de compreensão.

É com abordagem qualitativa, que procuaramos relacionar a realidade concreta vivenciada

pelas reclusas com a teoria em voga. Os relatos ou depoimentos, apresentados pelas

inquiridas ajudaram-nos a compreender o dilema vivido quotidianamente pelas vitimadas

9

Page 10: Sociologia do crime

no cometimento dos desregramentos das normas sociais. Embora, nem todas inquiridas

assumiram a reincedência, alegando que da segunda vez foram presas sem a justa causa.

Mas com todos efeitos, clamam o dilema que enfrentam na reinserção social, nas suas

comunidades e mais agravante nas suas famílias.

De referir que o estudo tem como base a amostragem não probabilística do tipo

intencional, em que os elementos que formam a amostra estão relacionados com a forma

como planeiamos a pesquisa.

Caracterização das Entrevistadas

Neste capítulo temos como objectivos traçar o perfil sócio-demográfico das nossas inquiridas,

para tal consideraremos componentes como idade, religião e nível de escolaridade.

Começando por analisar a variável idade, verificou-se que das 15 inqueridas tem idade

compreendida entre os 18 aos 42 anos, tal como atesta o quadro abaixo:

Tabela 01: Distribuição das inquiridas por idades

Idade N˚ de Inquiridas

18-25 anos 7 26-33 anos 5 34-42 anos 3 Total 15

Fazendo uma análise da variável idade em relação ao número total das inquiridas,

constatamos que as mulheres com idades compreendidas entre os 18 aos 25 anos são mais

propensas a prática do crime. Em relação as mulheres com idades que variam entre 26 aos

33 anos, verificamos um decréscimo na tendência à pratica do crime e as mulheres com

idades entre 34 aos 42 anos a realidade observada no terreno monstrou-nos que são ainda

menos propensas ao crime. De realçar que esta variável idade, não obdeceu nenhum

critério de escolha de idades, mas sim ilustra simplesmente a realidade encontrada no

terreno.

10

Page 11: Sociologia do crime

“Quando eu vim na cadeia a primeira vez eu tinha 18 anos (...) o meu pensamento era

pegar nas minhas coisas e ir embora, fugir deste lugar. Mas daí, conforme foi passando o

tempo, não adiantava, onde eu estava não adiantava querer fugir, pois era segurança

máxima.” (Efigênia, 22 anos).

“Muitas mulheres entram para a reclusão por ter cometido um crime em reacção à uma

situação. No caso de fatalidade, acabam condenadas a penas pesadas e passam muito

tempo das suas vidas encarceradas. Outras, porque efectivamente são reincidentes na

prática de certos actos ilícitos, têm passado de forma repetida parte da sua vida dentro

das instalações prisionais. Homicídio voluntário, furto qualificado, tráfico de drogas e

rapto de menores são alguns dos crimes mais frequentes. Entrevistámos a directora

daquela penitenciária, que entre outros aspectos defende uma crítica construtiva as que lá

estão porque antes de criticar tem que se ter em conta que “todos nós temos um potencial

criminoso escondido.” (Judite Florêncio, 2013).

Situação Carcerária da Cadeia Feminina de Dlavela

Neste momento temos 141 reclusas, mas este número oscila pois de tempos em tempos há

gente que sai e há também gente que entra. Por isso, torna-se difícil falar do número exacto

da população prisional. Das 141, temos 37 em prisão preventiva (que estão à espera de

julgamento) e as outras 104 são condenadas. As molduras variam e não diferem das que

são aplicadas para os homens. Temos neste universo de 141 reclusas, 46 por homicídio

voluntário e com penas máximas. (Judite Florêncio, 2013).

Gráfico 1

Tabela 02: Distribuição das inqueridas em relação a religião.

Idade Tipo de Religião

Católica Muçulmana Outras Religiões

Nenhuma Religião

18-25 anos 4 1 2 0

11

Page 12: Sociologia do crime

26-33 anos 2 0 1 2

34-42 anos 1 0 1 1

TOTAL 7 1 4 3

Como se pode verificar na tabela acima, constatamos que das 15 mulheres inqueridas

7 professam a religião católica, 1 professa a religião muçulmana, 4 professam

outras religiões 3 não professam nenhuma religião.

“Eu rezava muito, conheci meu primeiro namorado na igreja, sonhava casar, ter

um lar e filhos. mas por má influência das amigas, minha vida mudou da noite

para o dia, passei a perder noites, frequentava bares e discotecas, comecei a

drogar-me e a consumir alcool e num belo dia estavamos na discoteca um moço

traiu minha amiga e por raiva esfaquiei o moço e ele morreu, por isso estou aqui,

arrenpendi-me bastante mas já era tarde demais.” (Antonieta,26anos).

“O facto de uma mulher ter que ser reeducada na prisão não implica necessariamente que

esta seja conotada ou rotulada com o crime que praticara para o resto da sua vida pois, a

sua entrada lá é exactamente na perspectiva de corrigir o erro e regenerá-la de forma a

ser reintegrada socialmente.” (Judite Florêncio, 2013).

Tabela 03: Distribuição das inqueridas em relação a residência

Residência da Inquirida

Bairro Frequência Percentagem

Chamanculo 2 13,3

George Dimitrov 2 13,3

Mafalala 3 20

12

Page 13: Sociologia do crime

Malhampsene 1 6,7

Maxaquene B 2 13,3

Zona Verde 1 6,7

Polana Caniço 3 20

Sommerschield 1 6,7

TOTAL 15 100

A tabela acima, ilustra as origens sociais das inqueridas pois, depreende-se que a

maior parte delas é oriunda dos bairros sub-urbanos da cidade de Maputo e Matola, onde

os bairros Mafalala, Polana Caniço tem a frequência absoluta de 3 o que corresponde a

20% do total, seguidos de Chamanculo, George Dimitrov e Maxaquene B 13,3% e o

resto das inquiridas distribuem-se pelos restantes bairros como mostra a tabela acima.

Tabela 04: Distribuição por nível de escolaridade.

Nível de Escolaridade

Idade

Total18-25 26-33 34-42

Analfabeta - - - 0

Nível Primário 1 0 2 3

Nível Secundário (1º ciclo) 5 2 1 8

Nível Secundário (2º ciclo) 1 1 0 2

Nível Superior (Licenciatura)0 2 0 2

A tabela acima mostra q u e d a s 1 5 inqueridas, zero (0) são analfabetas, três (3) tem o nível

primário, oito (8) tem o nível secundário do 1º ciclo, duas (2) tem o nível secundário do 2º ciclo e

duas (2) tem o nível superior. De realçar que esta amostra, não foi intencionalmente pretendida

13

Page 14: Sociologia do crime

mas fruto da escolha aleatória. Pelo facto de a amostra conter inqueridas dos principais níveis

de escolaridade, achamos possível testar a influência do nível de escolaridade na percepção e

expressão da realidade social. Contudo notamos que existe uma maior representatividade de

reclusas com nível secundário do 1º ciclo em número de oito (8).

Tabela 05 - Caracterização das reincendentes inqueridas quanto ao crime cometido

e o número de vezes do comentimento

Tipo de crimeIdade

Total18-25 26-33 34-42

Homicídio voluntário 0 1 0 1

Furto qualificado 3 1 0 4

Tráfico de menores 1 1 2 4

Tráfico de órgão humanos 0 0 1 1

Raptos de menores 0 1 0 1

Tráfico de drogas 3 1 0 4

A tabela acima ilustra que das 15 inquiridas uma (1) praticou homicídio voluntário, 4 furto

qualificado, 4 tráfico de menores, 1 tráfico de de órgãos humanos, 1 rapto de menores e 4

tráfico de drogas.

“Conheci um senhor brasileiro, ele conquistou-me e eu aceitei, namoramos dois meses e

depois viajamos para o Brasil onde ficamos duas semanas e ele disse-me que era para

engolir umas capsulas e que a vida dele só dependia daquelas capsulas e que ele não

podia vir com as capsulas porque o seu passaporte havia expirado e que ele viria ao meu

encontro cá em Moçambique quando regularizasse a situação do seu passaporte, eu na

qualidade de namorada aceite (...) sem saber que estava a me envolver num problema tão

grande este e por isso estou aqui.” (Sheila, 36 anos).

14

Page 15: Sociologia do crime

Tabela 06: Estado civil das inquiridas

Estado CivilIdade

18-25 26-33 34-42Solteira 4 1 0Casada 0 2 1Divorciada 0 1 1Viúva 0 1 1União de Facto 3 0 0Total 7 5 3

15

Grupos de idade 8-8

Page 16: Sociologia do crime

16

Page 17: Sociologia do crime

17

Page 18: Sociologia do crime

18

Page 20: Sociologia do crime

Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-preso#ixzz2SzN2iVhs

[19] DOTTI, René Ariel. A Crise do Sistema Penitenciário. Artigo disponível em www.mj.gov.br, acesso em 19.08.2008.

Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/12153/execucao-da-pena-privativa-de-liberdade-e-ressocializacao#ixzz2T5T9YZT1

Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT):

MACHADO, Vitor Gonçalves. A reintegração social do preso. Uma análise sobre os

principais discursos contrários e favoráveis à finalidade ressocializadora da pena. Jus

Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2733, 25 dez.2010 . Disponível em:

<http://jus.com.br/revista/texto/18118>. Acesso em: 11 maio 2013.

Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-preso#ixzz2SzO83XqS

Introdução

20