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SISTEMATIZAÇÃO (VERSÃO PRELIMINAR) OUTUBRO DE 2015 REALIZAÇÃO Conselho Regional de Psicologia Conselho Regional de Serviço Social Prefeitura da Cidade do Recife Governo do Estado de Pernambuco Ministério Público de Pernambuco

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SISTEMATIZAÇÃO (VERSÃO PRELIMINAR)

OUTUBRO DE 2015

REALIZAÇÃO

Conselho Regional de Psicologia

Conselho Regional de Serviço Social Prefeitura da Cidade do Recife

Governo do Estado de Pernambuco Ministério Público de Pernambuco

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DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2015

PÚBLICO

Membros e servidores do Ministério Público de Pernambuco - MPPE, Tribunal de

Justiça de Pernambuco - TJPE, Defensoria Pública de Pernambuco - DPE; membros de

organizações de direitos humanos e profissionais da Assistência Social do Estado de

Pernambuco e dos municípios; integrantes dos Conselhos Estadual e Municipais de

Assistência Social, bem como representantes dos Conselhos de Classe dos Trabalhadores do

Sistema Único de Assistência Social - SUAS.

LOCAL

Centro de Formação Paulo Freire

Rua Real da Torre, 226 – Madalena, Recife, PE.

HORÁRIO/CARGA HORÁRIA

Das 9h às 12h e 14h às 17h - 6 horas

Sistematização – Ana Paula Coelho Corrêa

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APRESENTAÇÃO

No mês de outubro, a cidade do Recife sediou o Seminário Estadual Sistema de

Justiça e Sistema Único de Assistência Social (SUAS) - Ações Integradas.

O evento foi uma iniciativa do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), em

parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude – SDSCJ, através

da Secretaria Executiva de Assistência Social (SEAS), além da Secretaria de

Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife, através da Secretaria Executiva de

Assistência Social e dos Conselhos Regionais de Serviço Social e de Psicologia.

Durante o evento, foi detalhada a estrutura normativa do SUAS, a importância da

atuação das instituições do Sistema de Justiça na relação com a Política da Assistência Social,

assim como seus desafios.

Foram abertas 300 vagas para inscrição de todo os municípios do estado de

Pernambuco que foram preenchidas em curto espaço de tempo e no total foram feitas 450

inscrições com uma lista de reserva de 50 pessoas. O número de inscrições denota o grande

interesse e importância do tema para os profissionais integrantes do Sistema Único de

Assistência Social e o Sistema de Justiça e Ministério Público. O evento teve 311

participantes e confirmou a iniciativa fundamental para a melhoria dos procedimentos de

trabalho dos dois Sistemas em tela.

O que se destacou no evento foi o reconhecimento da abertura para o diálogo e os

caminhos apontados para ações integradas. Destacou-se também a necessidade de realização

de outros eventos decorrentes do tema, para as demais regiões do estado e para

aprofundamento das discussões.

A sistematização foi feita parcialmente das transcrições das palestras/painéis

considerando a adaptação para a linguagem escrita. Foi seguida a sequencia dos painéis e

debates no Seminário.

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PROGRAMAÇÃO REALIZADA

ABERTURA OFICIAL

COMPOSIÇÃO DA MESA DE ABERTURA

Sra. Tanany Frederico dos Reis Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

Sra. Mônica de Souza e Cruz Representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE – 2ª Região)

Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife –

PCR, Presidente do COEGEMAS.

Dr. Isaltino Nascimento Secretário Estadual de Desenvolvimento Social Criança e Juventude.

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

Sra. Sabrina Durigon Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL/MJ) - Projeto

Pensando Direito.

Dra. Ana Célia Farias Secretária Executiva Estadual de Assistência Social – SEAS/SDSCJ

1º PAINEL - Manhã

A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NAS DIVERSAS ESFERAS

GOVERNAMENTAIS

Presidente da Mesa e Mediadora: Sra. Mônica de Souza e Cruz Representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE – 2ª Região)

Painelistas Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife –

PCR, Presidente do COEGEMAS.

Dra. Ana Célia Farias Secretária Executiva Estadual de Assistência Social – SEAS/SDSCJ.

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Joelson Rodrigues

Gerente Estadual do SUAS

1º PAINEL - Tarde

A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NAS DIVERSAS ESFERAS

GOVERNAMENTAIS

Dra. Ieda Castro Secretária Nacional de Assistência Social

2º PAINEL - Tarde

AS RELAÇÕES ENTRE O SUAS E O SISTEMA DE JUSTIÇA

Presidente da Mesa e Mediadora: Sra. Tanany Frederico dos Reis Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

Painelistas

Sra. Paula Lacerda Representante da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça

(SAL/MJ) e do Projeto Pensando Direito.

Prof.ª Dra. Ana Paula Motta Costa Professora Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),

Coordenadora da Pesquisa “As relações entre o Sistema Único de Assistência

Social – SUAS e o Sistema de Justiça”.

3º PAINEL - Tarde

RELATORIA E SISTEMATIZAÇÃO

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

Dr. Fernando Lapa Representante da OAB

Dr. Isaltino Nascimento Secretário Estadual de Desenvolvimento Social Criança e Juventude.

Dr. Aguinaldo Fenelon de Barros Promotor de Justiça e Secretário Geral do MPPE

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SIGLAS BPC – Benefício de Prestação Continuada

CAOP – Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa da Cidadania do

Ministério Público do Estado de Pernambuco

CEAS – Conselho Estadual de Assistência Social

CEBAS – Certificação de Entidades de Assistência Social

CIB - Comissão Intergestora Bipartite (municípios e estado)

CIT - Comissão Intergestora Tripartite (municípios, estado e união).

CMAS – Conselho Municipal de Assistência Social

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

COEGEMAS – Colegiado Estadual de Gestores Municipais da Assistência Social

CONGEMAS – Colegiado Nacional de Gestores Municipais da Assistência Social

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

CRP – Conselho Regional de Psicologia

DP – Defensoria Pública

FONSEAS – Fórum Nacional de Secretários de Assistência Social

ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social

LRF – Lei de responsabilidade Fiscal.

MDS – Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MPPE – Ministério Público de Pernambuco

PAIF – Proteção e Atenção Integral à Família

PAEFI - Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos

PBF – Programa Bolsa Família

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPCAM – Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte

SICONV – Sistema de Convênios

SIGAS - Sistema de Informação e Gestão da Assistência Social de Pernambuco

SNAS – Secretaria Nacional de Assistência Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

SUS – Sistema Único de Saúde

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TJ – Tribunal de Justiça

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Abertura Oficial

Os membros da Mesa Oficial de Abertura do Seminário afirmaram o principal

objetivo do encontro: reconhecimento da necessidade de se estabelecer o diálogo entre as

Políticas Públicas, com ênfase a Política de Assistência Social e o Sistema Judiciário.

Sra. Tanany Frederico dos Reis Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

A Sra. Tanany dos Reis agradeceu o convite para o evento e ressaltou a

importância do tema e a realização oportuna pela proximidade da Conferência Estadual de

Assistência Social que coloca essa política pública em tela.

A Política de Assistência Social, segundo a Sra. Tanany é uma política

relativamente nova. Foi a última política da Seguridade Social e ser implementada e é uma

luta diária para que a Assistência Social seja reconhecida como direito. Qualquer iniciativa de

pautar o Sistema Único de Assistência Social – SUAS é importante para fortalecer a política.

Ainda em sua fala, a representante do CRESS destaca que são observados

equívocos, algumas inquietações que ainda “mudam” a política e que se encontram na pauta

de discussão com trabalhadores e órgão fiscalizador como o Conselho. Para a Sra. Tanany é

importante participar do evento para contribuir na identificação de eventuais inquietações que

ainda existam entre o SUAS e o Sistema de Justiça ou Poder Judiciário, mas o campo do

sociojurídico em geral que tem uma relação muito significativa com a Assistência.

Afirmou que expectativa enquanto Conselho não se esgota nesse momento, e que

existe a disposição do CRESS para colaborar na discussão no campo sociojurídico e as

inquietações existentes nesse campo. Esse tema já vem sendo discutido no âmbito dos

Conselhos regionais e federal de Serviço Social que tem uma publicação sobre o assunto1.

Sra. Mônica de Souza e Cruz Representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE – 2ª Região)

A Sra. Mônica agradeceu o convite ao Conselho de Psicologia, na pessoa do

Presidente, o Prof. José Hermes de Azevedo e sublinhou a importância dos profissionais de

psicologia estarem participando do evento em função das ações desenvolvidas em conjunto,

dos trabalhos multiprofissionais realizados nas políticas públicas. A Sra. Mônica Souza e

Cruz afirmou que os conselhos regional e federal de Psicologia, já vêm desenvolvendo ações

em relação às questões relacionadas ao sistema de justiça. Ainda reforçou o fato de o

Conselho Regional se encontrar na busca do aprofundamento dessa discussão. Já foi incluído

no Planejamento de 2016, com destinação de recursos, a realização de levantamento das

demandas profissionais nesse campo para, a partir de então, estruturar as ações relacionadas

ao campo jurídico ou produzir notas técnicas para ajudar os profissionais.

1 Atuação de assistentes sociais no Sociojurídico – subsídios para reflexão. Conselho Federal de

Serviço Social – CFESS. Brasília (DF) 2014. (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, 4).

Disponível em http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESSsubsidios_sociojuridico2014.pdf

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A Sra. Mônica finalizou se colocando a disposição para quaisquer

esclarecimentos.

Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife – PCR,

Presidente do COEGEMAS.

A Dra. Ana Rita Suassuna, após a saudação aos presentes, chamou a atenção à

necessidade de aproximação na relação da Assistência Social e o Judiciário para o

fortalecimento do trabalho e o melhor atendimento ao usuário.

O Seminário foi resultado de uma reunião solicitada pelo Dr. Marco Aurélio e

como Presidente do Colegiado, concretizando o diálogo tão importante entre o SUAS e o

Sistema Judiciário, para garantir direitos no estado de Pernambuco. A Dra. Ana Rita afirmou

a importância de estreitar e aprimorar a relação entre os sistemas. Após dez anos do SUAS

são conhecidos os desafios para quem executa diretamente a política e também para os órgãos

que compõem o judiciário. Esse seminário estreita essa relação, no sentido de melhorar a

prática, no dia a dia. Como presidente do Colegiado, conversa com outros colegas gestores

que sabem das dificuldades enquanto rede. Seja rede de educação, de saúde e como precisa

estabelecer esse diálogo para encontrar saídas para os casos conjuntamente, principalmente

para os casos que não se encaixam em nenhum ponto da Política de Assistência Social.

Segundo a Dra. Ana Rita Suassuna, o objetivo de é qualificar o atendimento ao

usuário que precisa do sistema de proteção. Nessa perspectiva se espera que a partir do

Seminário comece a se estabelecer o fluxo e os encaminhamentos de como o trabalho será

desenvolvido de uma forma mais qualificada para o usuário.

Dr. Isaltino Nascimento Secretário Estadual de Desenvolvimento Social Criança e Juventude.

Saudando aos componentes da Mesa, em sua fala de abertura o Secretário Isaltino,

apresentou a experiência exitosa de visita às 12 Regiões de Desenvolvimento do Estado

(RD´s) para cotejar a construção da maneira como o Governo Paulo Câmara irá trabalhar nos

próximos quatro anos. Ressaltando a realização de oito Mesas Temáticas, e nesse processo a

Assistência Social apresentou uma importante mobilização em todo o Estado, tendo presença

e colaboração significativa. Segundo o Secretário foi grande o número de reclamações sobre o

modo como os atores do sistema de justiça encaram e veem os profissionais da Assistência

Social. Isso precisa ser analisado e avaliado e esse é o objetivo desse seminário, o que é muito

propício. A proximidade da Conferência Estadual de Assistência Social coloca a oportunidade

de discutir o tema. Segundo o Secretário é preciso discutir também com outras políticas

públicas, a exemplo da Saúde. Discutir não somente no estado mais a nível nacional.

Esse seminário é o “pontapé” inicial para construir outros momentos. É preciso

construir protocolos de ações, dependendo do que estabelece a legislação do SUAS que é um

sistema novo. Assim, o SUAS precisa ser “cuidado”, precisa de melhor atenção.

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O Sistema Único da Saúde (SUS) ainda está em aprimoramento e a Assistência

Social também procura saber até que ponto deve investir. São muitos os desafios, como o

ambiente de avanço de visões conservadoras, de retrocesso político, enfrentar as limitações

colocadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para os municípios investirem na

Assistência Social. Frente a Saúde e a Educação, a Assistência Social não é prioridade.

O Secretário encerrou destacando o grande interesse que o tema desperta e que a

Secretaria está aberta a estabelecer ações que possam de fato minimizar esse problema. O

evento representa uma abertura para minimizar o problema da definição do limite da

competência do Judiciário e da Assistência Social.

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

O Dr. Marco Aurélio iniciou expondo a ideia de construção do evento, que partiu

do Ministério Público, da Secretaria Estadual e da Secretaria Municipal, na pessoa da Dra.

Ana Rita e demais instituições responsáveis pelo evento.

Segundo o Dr. Marco Aurélio o grande problema da sociedade brasileira hoje é

encontrar caminhos, é gerar oportunidades. O momento é de fazer crítica e se colocar diante

da realidade política que estamos vivendo. Segundo o Dr. Marco Aurélio é necessário pensar

uma nova forma de construção da sociedade brasileira.

A construção do sistema de justiça é um constante ajustar. O SUAS traz uma

forma diferente de fazer justiça. Sua fala destacou que o SUAS é um modelo em construção e

provoca a todos a se apropriar desse sistema para efetivar a justiça. É um novo paradigma que

tem enfrentado dificuldades, inclusive na relação com outros sistemas, sendo o sistema de

justiça, um deles. Sistemas como sistema de saúde, de educação e todos os sistemas

importantes para as garantias coletivas, que todo/a cidadão/ã tem direito de acessar.

Nesse momento o Promotor falou da importância do registro das perguntas

dirigidas a Mesa durante o dia, pois representam contribuições, indicações para construção

dos encaminhamentos, para envidar esforços para que sejam direcionados às instâncias

adequadas.

Ainda segundo o Promotor, existe essa preocupação nos Ministérios Públicos do

Brasil, essa percepção de que o paradigma da justiça mudou. Mas é preciso ganhar força, e

para isso, na perspectiva da instersetorialidade, é necessário construir novas relações, novas

dinâmicas que sejam capazes de trazer uma nova cultura, para chegar ao ponto de poder

afirmar que “estamos preparados para o diálogo”. Estamos nos capacitando para atender às

novas demandas, às novas gerações que estão chegando com novas necessidades. Precisamos

nos capacitar, nos instrumentalizar para uma nova era, afirmou o Dr. Marco Aurélio. “A

humanidade não para, é inquieta, realmente surpreendente a cada dia que se passa, então é

preciso estar, enquanto instituição, preparado para esse diálogo”.

O Dr. Marco Aurélio, na oportunidade afirmou o compromisso de participar, na

medida do possível, da Conferência Estadual, se colocando a disposição dos delegados no

evento para já iniciar essa aproximação e essa construção de uma nova relação entre os

sistemas.

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Sra. Sabrina Durigon Representante da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL/MJ) e do

Projeto Pensando Direito

A Sra. Sabrina Durigon agradeceu pelo convite e saudou aos/as participantes.

Iniciou falando do papel do Projeto Pensando Direito e a pesquisa que foi feita e será

apresentada pela Profa. Dra. Ana Paula Motta. De acordo com a Sra. Sabrina Durigon, na

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça é desenvolvido um trabalho com

Política Legislativa, tanto na elaboração quanto análise de Projetos de Lei no Congresso

Nacional. O propósito da pesquisa é tratar o confronto que existe da aplicação legal nas

políticas públicas. O resultado é o que a pesquisa consegue apurar, seja uma forma de gestão,

seja sugestão para novas propostas legislativas. A ideia do Projeto é parar de construir

propostas apenas com doutrinas, que é um costume do Direito, e que já vem sendo

desconstruído, já vem mudando. Isso vem acontecendo no sentido de superar a dificuldade

que deve existir para profissionais da Assistência Social e de outras áreas ao entrar nesse

“mundo jurídico”, começado pela linguagem aplicada no Direito. A ideia é fazer com a

interdisciplinaridade, com a pesquisa empírica, com base na realidade, essa desconstrução

para facilitar o diálogo. Finalizou se colocando à disposição e desejando um ótimo trabalho no

Seminário.

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1º PAINEL - Manhã

A Política de Assistência Social nas Diversas Esferas Governamentais.

Presidente da Mesa e Mediadora:

Sra. Mônica de Souza e Cruz Representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE – 2ª Região)

A Sra. Mônica de Souza e Cruz deu início a apresentação do primeiro painel do

Seminário, passando a palavra a Dra. Ana Rita Suassuna, primeira painelista.

1ª Painelista:

Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife – PCR,

Presidente do COEGEMAS.

A Dra. Ana Rita Suassuna iniciou sua apresentação reafirmando a importância de

contextualizar a Política de Assistência Social, ainda que rapidamente para fortalecer essa

questão. Ainda afirmou que está no Seminário como Presidente do COEGEMAS,

representando os municípios do Estado, espaço onde tem sido feito um esforço, para discutir o

tema de forma descentralizada todas as questões pertinentes a Assistência Social em

Pernambuco. Têm sido realizados encontros de formação e capacitação de forma

descentralizada. O que se observa é que em todos esses encontros tem surgido essa discussão

da necessidade de estreitar a relação com o sistema judiciário. O convite para o Seminário,

segundo a Dra. Ana Rita, foi muito pertinente, pois é de conhecimento de todos, a importância

da integração entre os sistemas, não somente o judiciário, mas também todos os sistemas que

compõem a rede socioassistencial. Estreitar e aprimorar essa relação significa melhorar o

atendimento.

A partir da Constituição Federal de 1988 há uma mudança de visão da

Assistência Social quando é retirada do indivíduo a responsabilização da sua situação de

pobreza. A Constituição de 1988 reconhece que a pobreza e a vulnerabilidade não é

responsabilidade individual e que para superação dessas condições não requer apenas o

esforço pessoal. Depende da responsabilização, do compromisso de desenvolvimento do

estado, município, da sociedade. A Dra. Ana Rita lembra que com a Constituição de 1988 o

indivíduo passa ser reconhecido como sujeito de direito. A assistência social ganha o caráter

de direito. É preciso considerar o modelo de sociedade capitalista em que a gente vive que

implica em uma estruturação em que há uma desigualdade social muito grande.

Com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), começa a se ter uma

política de proteção social articulada com outras políticas setoriais. É importante esse

reconhecimento de que a Assistência Social “não dá conta de tudo”, precisa de outras políticas

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públicas, precisa se articular a outras políticas sociais, para responder às suas demandas.

Enquanto política pública deixa de atuar isoladamente.

De acordo com a apresentação feita a Assistência Social é uma “política de

proteção social articulada a outras políticas sociais que se destinam a promoção dos direitos

de cidadania, ou seja, um campo em que se consolidam os direitos sociais com plena

responsabilidade do Estado”. O Estado tem obrigação de prover a Assistência Social.

É com a Constituição de 1988 que a Assistência Social passa a integrar a tríade da

Seguridade Social, avançando com a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1993. E

em 2005 começa o SUAS atualmente com dez anos.

Com a estruturação da Assistência Social como política pública de direito é

quebrada a compreensão de que tudo relacionado à pobreza, a ajuda, ao assistencialismo cabia

no campo da assistência. O Estado tem a função de cumprir nesse campo, as suas obrigações.

Foi destacada a importância da construção da política da Assistência para o Brasil,

sendo ampliadas as discussões dentro das instâncias de participação, tem os conselhos, os

colegiados e fóruns de gestores.

Com o SUAS é criada a necessidade de articulação da rede socioassistencial,

com as demais políticas e com o Sistema de Garantia de Direitos. “No dia a dia cada um

sabe como se dá essa relação. Cada um com o seu papel, mas numa relação direta no dia a

dia”. Isso revela a importância de qualificar essa relação.

Começa a se organizar o sistema de Proteção Social, os programas, serviços e

benefícios sociais, dentre outros aspectos da política e seus diferentes níveis de proteção.

Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Cada

uma das proteções com seu campo de atuação. Há uma organização e classificação do

trabalho, da prática profissional, reconhecendo os serviços, programas e projetos da

Assistência Social.

De acordo com a apresentação da Secretária Municipal, cada ente tem seu papel

definido no Pacto Federativo: federal, estadual e municipal.

O município é que executa, é onde se efetiva a política pública. Cada município

com sua responsabilização no caminhar do atendimento.

Com o SUAS estruturado se destacam suas diretrizes: Primazia de

responsabilidade do Estado; Descentralização político-administrativa. Nesse ponto a Dra.

Ana Rita coloca o caso do município do Recife, que atualmente precisa melhorar a rede de

atendimento. Inclusive com relação da LRF, pois melhorar serviço/atendimento prescinde de

equipe, contratação de profissionais. É uma fragilidade do sistema. Existem recursos

financeiros do estado e da união, mas ainda é difícil estar bem estruturado, principalmente

para uma metrópole; Financiamento partilhado. Apresenta questões importantes que estão

sendo discutidas nacionalmente na Comissão Intergestora Tripartite (CIT): formas de

financiamento, bloco de financiamento e vem se aprimorando. Essa questão interfere, pois as

demandas chegam e agente não tem capacidade de atendimento; Matricialidade

sociofamiliar. Muito importante a centralidade da família, que se insere num contexto e a

situação não é vista mais apenas a partir do indivíduo. É nesse campo relacional que a

assistência social atua, para o fortalecimento de vínculos; Territorialização, fundamental,

uma vez que as relações se estabelecem no território. Desenvolver o sentimento de

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pertencimento é importante; Fortalecimento da relação democrática entre Estado e

Sociedade Civil, relacionada principalmente ao fortalecimento da rede socioassistencial, essa

rede complementar da assistência social; o Controle social e a participação popular, que

garante o espaço de participação da sociedade na política.

A Dra. Ana Rita seguiu nesse momento, enfatizando que é preciso entender como

a Proteção Social está organizada, para compreender a relação com o sistema jurídico.

A Assistência Social define como níveis: a Proteção Social Básica, Proteção

Social Especial de Média e Alta Complexidade. Na Proteção Social Básica, com a atenção

para o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários denota bem o campo relacional

que fundamenta esse nível de proteção. O CRAS vai trabalhar com o serviço de

fortalecimento de vínculos do idoso, da criança, da pessoa com deficiência e é o espaço de

trabalhar protagonismo, a autonomia do usuário.

A Proteção Social Especial de Média e de Alta Complexidade exige equipes mais

especializadas. São casos de direitos violados, vínculos fragilizados e na alta complexidade os

vínculos já rompidos em que as demandas são, principalmente, casos de acolhimento/

abrigamento, são pessoas em situação de risco pessoal e social.

O acolhimento é o último recurso para o usuário, é preciso esgotar todas as

possibilidades. Ás vezes esse recurso chega como uma imposição do Judiciário quando não é

a melhor resposta. A Dra. Ana Rita ainda ilustrou a coincidência da demanda pelo

acolhimento geralmente as sexta-feira à tarde. O final de semana, quando a maioria dos

serviços não funciona, dá esse caráter de urgência para que o usuário não passe os dias do

final de semana na rua.

Sobre a Assistência Social e a relação com a Justiça a Dra. Ana Rita Suassuna,

aponta como o primeiro passo, estabelecer uma relação, discutir os casos e ter uma resposta

mais positiva para o usuário e para o sistema.

Existem pontos como, por exemplo, a solicitação de parecer para assistentes

sociais e que não cabe à Assistência Social. Segundo a Dra. Ana Rita, o judiciário tem equipe

técnica. Ainda existe essa questão aqui em Pernambuco, de colocar para a Assistência Social

como se a Assistência pudesse dar conta sozinha dos casos. Pois considera que a demanda é

do profissional que está na ponta. Sabe-se que existem casos em que poderia ser resolvido

pelo judiciário. É uma via de mão dupla. É preciso discutir como vão ser trabalhados os

casos, quais os fluxos e o que realmente cabe ao profissional da Assistência Social e ao

profissional do Judiciário. Não cabe culpabilizar um ou outro sistema. As equipes são

insuficientes para uma demanda crescente.

O importante é estabelecer o diálogo, o fluxo, discutindo o caso, pensando

principalmente no usuário. Para relatar o que chega a acontecer em alguns municípios, pela

experiência nas reuniões do COEGEMAS, a Dra. Ana Rita falou de casos de profissionais

ameaçados de prisão para cumprir solicitações do judiciário. Esses são casos extremos, em

que deve se buscar não chegar a esse ponto, pois é ruim para o usuário e para os profissionais

que muitas vezes age por coação.

No caso da Assistência Social, as maiores demandas do judiciário estão

direcionadas para média e alta complexidade.

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O município do Recife fez um levantamento sobre as demandas (2012-2014)

para a Assistência Social. Destacam-se:

Do Ministério Público: acolhimento institucional, solicitações de informações

para instruir inquéritos civis, notificações para comparecer a audiências, cópias de

documentos para conhecimento e/ou providências, solicitação de informações diversas,

solicitações de informações para instruir procedimentos preparatórios, denúncia referentes a

crianças, adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, relatórios diversos, medidas

de proteção em favor de pessoas idosas.

Do poder Judiciário: Acompanhamento de famílias e indivíduos,

acompanhamento familiar com envio de relatórios, solicitação de informações diversas,

solicitação de providências, relatórios de casos relacionados a crianças e adolescentes, ação

para habilitação de adoção, acolhimento institucional, ação de perda, suspensão ou

restabelecimento de poder familiar, ação de medida de proteção à criança e ao adolescente,

decretação de perda do poder familiar, ação de guarda.

Dos Conselhos Tutelares: Acompanhamentos de crianças e adolescentes em

situação de violação de direitos, acompanhamento familiar com envio de relatório mensal e

trimestral com encaminhamentos para concessão de benefícios e inclusão em programas

sociais.

Não apareceram até o momento requisições das Defensorias.

Das Delegacias: Negligência, maus tratos, vulnerabilidade social e

abuso/exploração financeira.

Os desafios para construir propositivamente que caminhos a serem trilhados pela

Assistência Social. Destacam-se:

Desconhecimento da Política Nacional da Assistência Social (PNAS)

Imprecisão de fluxos entre os Sistemas (judiciário e SUAS)

Encaminhamentos incompatíveis com o campo da Assistência Social

A Secretária destacou o caso da população em situação de rua que possui algum

tipo de transtorno mental e demanda da Saúde. Mas são casos que não cabem na assistência e

não cabem na saúde. Existe um vácuo na política que precisa ser resolvida a nível nacional. O

município tirou como encaminhamento os secretários da saúde e da assistência provocarem os

respectivos Ministérios, para discutir o assunto. Os colegiados estadual e nacional já vem

discutindo mais ainda não avançou.

Existem as residências terapêuticas, mas o SUS só aceita egressos da reforma

psiquiátrica. Mas existem pessoas que precisam do atendimento, mas não passaram ainda pelo

sistema psiquiátrico. A solução precisa ser conjunta, da assistência com a saúde. Não está

prevista nas Políticas, mas as gestões e trabalhadores/as são capazes de propor, de discutir.

Um desafio grande é a capacidade da rede socioassistencial. É conhecida a

insuficiência da rede e que precisa melhorar. No caso do acolhimento, de acordo com a

demanda dos municípios a regionalização de alguns serviços é fundamental. Não cabe o

Judiciário solicitar implantação de um serviço de acolhimento para um município com 10.000

habitantes. Não existe demanda que justifique o custo benefício.

Para concluir a Dra. Ana Rita Suassuna pontua a necessidade de manter diálogo

permanente para se chegar à definição de como irão ser resolvidas essas questões sem a

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judicialização. Isso só acontece com o diálogo e a construção coletiva. Como profissional não

se pode perder a capacidade de se indignar.

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2ª Painelista

Dra. Ana Célia Farias Secretária Executiva Estadual de Assistência Social – SEAS/SDSCJ.

A Dra. Ana Célia Farias iniciou sua fala chamando a atenção para o significado da

iniciativa do evento que abre as portas para o diálogo.

Às vésperas da Conferência Estadual de Assistência Social em que serão

estabelecidas as diretrizes para os próximos dez anos, 2016-2026, “Consolidar o SUAS de vez

rumo a 2026”, a Secretária Executiva lembra que avançar no SUAS é garantir um estado

democrático de direito. Segundo a Dra. Ana Célia, o momento é de crise, que não é única,

muitas crises já passaram, mas é o momento de mostrar a união, a garra e a força para sair da

crise. Muitos desafios vêm para os próximos dez anos, mas o grande avanço foi o rompimento

com a lógica assistencialista.

Segundo a Secretária Executiva Estadual, é preciso aprimorar a relação da

Assistência Social e o Judiciário. Qual o papel, qual a função da Política da Assistência

Social? Assegurar o acesso aos direitos, monitorar as situações de vulnerabilidades, de risco

pessoal e social. A Política da Assistência Social é para quem dela necessitar. E o Sistema de

Justiça? Viabilizar o acesso à justiça, garantir os direitos sociais. “Estamos no mesmo foco da

dignidade humana, garantir esses direitos”.

A Dra. Ana Célia destacou que existe uma relação um pouco tensa entre a

Assistência Social e o Sistema Judiciário. Entende-se que há insuficiência das equipes no

judiciário, mas existe um movimento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que é

Provimento nº 36 que tem que garantir equipe técnica nas Comarcas com mais de 100.000

habitantes. Existe a necessidade de ampliar a capacidade de atendimento nas Varas. Mas

infelizmente em Pernambuco 80% dos municípios tem até 40.000 habitantes. O movimento é

a partir dessa tensão, por esse “incômodo”. Já não é possível para o profissional trabalhar no

fortalecimento de vínculos e chegar uma demanda judicial de adoção, por exemplo. PNAS é

nova, mas já houve avanços importantes como o repasse fundo a fundo, antes o repasse

acontecia através de convênios, já abolido. Esse ano há o “contingenciamento” dos recursos,

mas houve avanço.

Também houve avanço com a constituição de uma assessoria técnica na Secretaria

Estadual que acompanha os municípios e que supera a visão de que o estado é fiscalizador,

que essa assessoria tem papel de fiscalizar. O papel da secretaria estadual é oferecer

assessoria técnica. E nos municípios visitados esse ano, e 2015, foram identificadas essas

demandas judiciais e diante disso foi realizado um mapeamento que no momento o Gerente

do SUAS, o Sr. Joelson Rodrigues apresentou e falou também sobre a regionalização.

Existem municípios que se veem cobrados pela instalação de um serviço quando a demanda

não justifica essa ação.

Segundo a Dra. Ana Célia, é possível pensar numa central de regulação, pois já

foi identificado no levantamento feito, que a maior demanda de acolhimento está no

Agreste Meridional.

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Então se trata de fazer o trabalho em conjunto, o Recife na atual gestão conseguiu

que as crianças fossem acolhidas, mas são de outras regiões do estado. O trabalho passa a ser

de retorno à família de uma criança do município de Exu, por exemplo. A questão da

regionalização precisa ser considerada para a Proteção Social de Alta Complexidade, que é o

acolhimento institucional.

A iniciativa pensada e organizada pelo MPPE revela um olhar diferenciado para

essa questão que tem incomodado tantos técnicos, tantos profissionais que enfrentam o

desafio de ser de Pernambuco um estado contemplado com 1.772 pessoas contempladas pelo

Programa Bolsa Família, profissionais que muitas vezes estão em seus espaços de trabalho

precarizados. São esses profissionais que estão em busca dos “invisíveis”, que estão dando

sua contribuição para um Brasil mais justo.

Sobre as demandas do Judiciário para a Assistência Social no Estado foi passada a

palavra ao Gerente Estadual do SUAS.

Sr. Joelson Rodrigues – Apresentação “A Gestão da Política de Assistência Social em

Pernambuco”. Gerente Estadual do SUAS

O Sr. Joelson, iniciou fazendo referência ao complemento do painel do âmbito

estadual com alguns dados coletados. Lembrou que embora o Estado não atue diretamente

com o atendimento ao usuário, na divisão de tarefas do Pacto Federativo é responsável por

ajudar aos municípios, assessorando. Essa é uma demanda, de relação com o sistema

judiciário, que se percebe bem próxima. Destaca-se a referência ao SUAS, que possui

diretrizes, características e está fundamentado nesse Pacto Federativo e tem atribuições

específicas. Tem regulação estabelecida desde a Constituição de 1988, tem um marco legal

que define muito bem o seu lócus de atuação. O Sr. Joelson deixa claro que não estão sendo

tratadas ações voluntárias, trata-se de um Sistema estruturado, integrado e regulamentado.

Cabe ao estado não apenas acompanhar os serviços e programas, mas também a

coordenação da rede socioassistencial. Algumas demandas nesse campo inquietam e que os

municípios vêm relatando. São demandas como, por exemplo, definir sobre habilitação ou não

de adoção. A Política de Assistente Social é solicitada a definir se a família está apta ou não

para adotar ou não uma criança ou adolescente, definir sobre perda ou suspensão de guarda,

de poder familiar, apuração de denúncia de negligência, não como processo técnico, mas

diretamente na averiguação junto com a polícia.

Segundo o Sr. Joelson, foi feita uma consulta aos municípios do Estado sobre a

quantidade média de demandas do sistema judiciário. Um levantamento ainda incipiente, mas

para ter uma estimativa da questão. Foram obtidas respostas de 32 municípios, são dados

indicativos e não um dado de censo. Esses dados apontam que há uma grande variação na

média mensal de requisições. Observa-se que o maior número de demandas está na Região

Metropolitana do Recife (RMR), municípios de grande porte, onde existem Varas da

Infância. São municípios com mais de 100.000 habitantes que mais requisitam da

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Assistência Social. Nos municípios da RMR, a média mensal é de 18 requisições, exceto o

Recife (metrópole) 2.

Constata-se que o volume das requisições interfere na dinâmica das equipes de

trabalho da Assistência Social. As demandas não significa apenas um parecer, não requer

apenas uma palavra. São demandas que exigem uma visita, acompanhamento, toda uma

elaboração. Quando se faz um recorte por porte3 dos municípios, nos municípios de grande

porte a média mensal de demandas é de 17, de médio porte em torno de 6 e pequeno porte,

aparecem de 5 a 4 demandas.

De acordo com o Sr. Joelson, quando se faz uma assessoria técnica ao município e

os dados da assistência social são analisados, verifica-se que não estão sendo cumpridas as

metas, por exemplo, do acompanhamento de famílias do PBF que estão em descumprimento

das condicionalidades, da saúde e da educação, que é papel da Assistência Social fazer. Isso

porque o técnico está envolvido com todas essas requisições do sistema judiciário, que está

deixando de cumprir seu papel expresso na Política, que está previsto, que está sendo

monitorado, deixa de alimentar o registro mensal de atendimento, os sistemas de informação.

Essa questão tem aparecido de forma recorrente nos municípios que são acompanhados. O

Gerente Estadual do SUAS, revela ainda a preocupação com o fato de alguns técnicos estarem

sendo responsabilizados, sendo pressionados pelo poder judiciários com prazos para

responder às requisições. Isso mesmo enquanto o CNJ recomenda no Provimento 36 o não

uso desse tipo de ações.

Sobre a regionalização, o Sr. Joelson ressalta que é uma questão que passa pela

dinâmica da relação com o sistema de justiça e a assistência social. É uma questão nova para a

assistência social, tem destaque em 2013 na pactuação da CIT e deliberado pelo CNJ que

estabelece a regionalização como estratégia para garantir a universalização de acesso aos

serviços e integrar a proteção social. Municípios pequenos, por exemplo, não possui serviços

da proteção social especial. Mas, para a Assistência Social se efetivar todos os municípios

precisam integrar o SUAS que é composto pelas proteções sociais básica e especial de média

e alta complexidade. É preciso que as respostas sejam dadas diante da necessidade e a

regionalização vem atender isso. Foi aberta uma linha de cofinanciamento para os municípios

para implantação de CREAS.

Ainda de acordo com o Sr. Joelson, o Estado está com alguns encaminhamentos:

duas Unidades de Acolhimentos Institucional para Criança e Adolescente Regionais

atendendo a 8 municípios cada um, beneficiando 16 municípios no todo. Isso foi pactuado

pela CIB. A maior incidência de demanda para acolhimento está na região do agreste. Para

isso será instituída uma central de acolhimento não será uma central de vagas. Será pare do

processo de regulação, de acolhimento para essas demandas. Inicialmente para organizar o

2 A apresentação feita pelo Sr. Joelson Rodrigues, com os dados levantados está disponível na íntegra no

Anexo I desta sistematização. 3 A Política Nacional de Assistência Social utiliza a classificação dos municípios segundo total de

habitantes: pequeno porte I – até 20,000 hab.; pequeno porte II – de 20.000 a 50.000 hab.; médio porte – de

50.000 a 100.000 hab.; grande porte – de 100.001 a 900.000 hab.; e metrópole – mais de 900.000 hab. A PNAS

está disponível em

http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf

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acolhimento nos municípios diretamente envolvidos na regionalização em curso.

Posteriormente poderá ser pensada como central de atendimento para o estado.

Por fim, o Gerente Estadual do SUAS destacou os desafios: consolidar a rede

socioassistencial, não consegue atender a todas as demandas, é também um grande desafio

qualificar essa rede; reordenar os serviços, sobretudo de acolhimento; trabalhar a

municipalização ou cada municipalização; o cofinanciamento é essencial para que a

Assistência Social se efetive, sem recurso não se consegue avançar; a qualificação dos

recursos humanos, seja da assistência social, seja do poder judiciário. Sem recursos humanos,

sem concursos públicos, não é possível cumprir ou atender a outras demandas; avançar no

diálogo para normatização. É necessário discutir de forma continuada como atender aos

usuários e trabalhar para efetivar o Provimento 36.

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DEBATE - Manhã

Com a coordenação da Sra. Mônica de Souza e Cruz teve início a leitura das

questões encaminhadas a Mesa.

A primeira questão lida, possivelmente reflete alguns posicionamentos

importantes para serem considerados e levados para serem discutidos nas instituições.

Pergunta: Queria pedir compromisso do Conselho de Serviço Social, Psicologia que com

relação aos pareceres solicitados, por juízes e promotores sejam remunerados, existe a verba

no judiciário. Belém do Pará conseguiu que esta verba fosse repassada aos técnicos dos

municípios, uma juíza reconheceu o nosso trabalho.

Identificação (nome): Anne Delange Alves Ramos Entidade/órgão: Penitenciária Juiz Plácido de Souza Pergunta dirigida ao palestrante: Mesa

A Sra. Mônica seguiu com a questão. Segundo ela, o TJPE trabalha com as

equipes multiprofissionais. No caso de Petrolina, região da qual é representante, na equipe

multiprofissional tem o psicólogo, o assistente social e o pedagogo. Essa é considerada a

equipe mínima. Fica a questão: porque o TJPE não convoca os profissionais aprovados no

Concurso público 2011? Vários psicólogos e assistentes sociais foram aprovados e havia

vagas em vários municípios do interior do estado. O concurso tem sua validade até março de

2016, após ser prorrogado e o TJPE continua sem convocar suas equipes.

Sobre a questão direcionada ao apoio dos conselhos a Coordenadora da mesa

prosseguiu se colocando como representante do CRP.

A Sra. Mônica de Souza e Cruz recomenda que os profissionais não se intimidem

em procurar os seus respectivos conselhos profissionais. Existem muitas queixas, mas pouca

oficialização dessas reclamações. Então é impossível uma instituição enquanto conselho de

uma categoria, sem que se tenha a formalização. E direcionando aos psicólogos, ganhar força

para formalizar essas queixas.

É importante refletir porque que entre as equipes que já existem no sistema de

justiça não se relacionam com as equipes dos CRAS e CREAS. Essa é uma questão que pode

ser mais amadurecida e serem oferecidas propostas para maior aproximação dessas equipes.

A Coordenadora da Mesa e representante do CRP mencionou que em Recife o

TJPE tem equipes específicas para trabalhar com a infância, para trabalhar com famílias, com

situações criminais. Em Petrolina a equipe já tem 12 (doze) profissionais e grande parte

desses profissionais está trabalhando na Vara da Infância. Nessa Vara o Núcleo Psicossocial

está subdividido em três unidades: a equipe que trabalha com casos de menores infratores,

a equipe que trabalha com situações de guarda e a equipe que trabalha com situações de

vulnerabilidades sociais.

Pergunta: - Quais as articulações que podem ser estabelecidas entre as equipes

multiprofissionais do TJPE e as das Políticas Públicas?

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- Como o Ministério Público pode intervir junto ao TJPE para que este órgão da Justiça

convoque os psicólogos e assistentes sociais que foram aprovados no concurso público /

2011? - Como o MPPE pode estar divulgando as centrais de depoimento acolhedor já instaladas no

TJPE em Recife e alguns municípios dos interiores (Petrolina / PE).

Identificação (nome): Mônica Souza e Cruz – TJPE (Petrolina) Entidade/órgão: Conselho Regional de Psicologia - 2ª Região/PE Pergunta dirigida ao palestrante: Mesa

A Sra. Mônica Souza e Cruz na oportunidade pediu o apoio na relação do MP

com o TJ, pois acredita que existe um distanciamento, nas questões relacionadas às famílias.

E também como o MP pode se aproximar do TJ para solicitar a convocação dos profissionais

do concurso de 2011, já que o TJ alega que possui essa estrutura. Por isso, o TJ não oferece o

recurso às equipes, não remunera os profissionais que atendem às requisições feitas.

As duas questões seguintes foram direcionadas a Dra. Ana Rita e Dra. Ana Célia.

Pergunta: 1 – Como devemos proceder quando são apresentados no mínimo 10 solicitações

de visitas a famílias e emitir parecer relatório situacional vindas do poder judiciário e do MP

e com prazo de devolução de 05 dias.

2 – Cadê a equipe do judiciário? Nós somos da Política Municipal de Assistência Social.

Identificação (nome): Maria Auxiliadora Entidade/órgão: Secretaria de Assistência Social Amaraji

Pergunta dirigida ao palestrante: Ana Rita Suassuna

Pergunta: Como o Recife e o estado vêm respondendo a demanda de elaboração de

documentos técnicos (como laudos e pareceres) apresentada por instituições do campo

sociojurídico (especialmente TJ e MP)?

Identificação (nome): Tanany Reis Entidade/órgão: CRESS Pergunta dirigida ao palestrante: Ana Rita/ Ana Célia.

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna Falando da cidade do Recife, algumas questões, as respostas são elaboradas

deixando claro que não compete a Assistência Social, citando a Política, o que compete ao

CRAS, ao CREAS. Fundamenta e então retorna o ofício com a resposta. Enquanto gestora do

município tem atuado dessa forma, não em todos os casos. É preciso ver caso a caso. Mas

qual a alternativa? Existe um prazo, mas é preciso discutir com o MP e o judiciário e dizer se

é possível ou não cumprir o prazo determinado. Existem casos no município do Recife que se

responde com a verdade, discutindo prazos e atendimentos dentro das limitações. É preciso

estabelecer uma relação de conversa. Seja com o gestor da Assistência Social ou Prefeito. O

Juiz vai entender as limitações também. E no processo vai avançando, diminuindo os casos

que chegam e que não são de competência da Assistência.

Outra pergunta também para a Dra. Ana Rita.

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Pergunta: Dra. Rita porque em Recife não temos uma casa de acolhimento para pessoas que

vivem com AIDS ou até mesmo Casa Abrigo?

Identificação (nome): José Candido – Representante da BNP/PE Entidade/órgão: Rede Nacional das Pessoas que Vivem com AIDS – Núcleo PE

Pergunta dirigida ao palestrante: Dra. Rita.

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna Recife não tem na Assistência um atendimento exclusivo para pessoas com AIDS.

O abrigamento de portadores de HIV é feito sem distinção, assim como usuário de drogas.

Embora se use a palavra “abrigo”, o município trabalha com acolhimento temporário, sempre

na perspectiva da reinserção familiar e comunitária.

Outra questão que foi direcionada a Mesa, sem uma relação direta com a PNAS,

foi respondida pela Dra. Ana Rita.

Pergunta: Como atender os casos de jovens com ameaça de morte, que são encaminhados

pela Vara da Infância aos municípios? Não é de responsabilidade do governo do estado? O

que está sendo feito?

Identificação (nome):

Entidade/órgão: Pergunta dirigida ao palestrante:

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna Existe um serviço na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos que é o PPCAM.

Mas em Recife foi necessário criar um programa de acordo com a dimensão da cidade,

através de uma entidade e o atendimento é feito como uma entidade.

Pergunta: Como retirar do papel, políticas tão importantes, já que sabemos que sabemos que

é de costumes, todo “um modelo” (paradigma) repetitivo dos sistemas em tela?

Identificação (nome): Adeildo Aguiar. Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante:

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna As Políticas avançaram muito. Respondeu a Dra. Ana Rita, discordando da

questão colocada. Segundo ela as politicas não são repetitivas. Muita coisa ainda não foi

efetivada, às vezes por falta de condição, às vezes por imprecisão política. A Assistência

Social precisa avançar em ter definido um montante de recursos, campos em que a Educação

e a Saúde já avançaram. É o processo de construção do país com um processo de

democratização e com muitas vitórias. É preciso apostar na capacidade do ser humano de

transformar.

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A Coordenadora a da Mesa prosseguiu respondendo a questão direcionada ao

CRP.

Pergunta: Que tipo de apoio é oferecido ao profissional de psicologia quando há a procura

por orientação e respaldo do Conselho quanto ao judiciário?

Identificação (nome): Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante: Conselheira do CRP 02.

No Conselho existe um Núcleo chamado NUTEP – Núcleo Técnico e Político

onde atua o grupo de fiscalização e que possui acesso aos dispositivos legais e inclusive

alguns membros do Núcleo são formados em Direito. Possuem conhecimento das Resoluções

do Conselho Federal então podem enviar as questões e dúvidas sobre a atuação profissional.

Encaminhar ao NUTEP, pelo e-mail [email protected].

Encerrando o bloco de questões para a Dra. Ana Rita, ainda foram respondidas

duas questões.

Pergunta: Ana Rita, você não acha que o CRAS e o CREAS estão muito burocráticos? São

vários formulários a serem preenchidos que o usuário fica esquecido.

Identificação (nome): Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante: Ana Rita

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna Existem alguns sistemas e formulários que precisam ser respondidos em nível

nacional. Mas são necessários dados e indicadores para saber o quanto se avançou na Política.

Não basta somente atender. Monitorar a ação e ter os indicadores é muito importante. Mas, é

necessário estabelecer uma dinâmica de preenchimento desses sistemas e formulários que não

comprometa o dia a dia do trabalho. Deve-se ter o horário dividido para dar conta desse

universo. Geralmente se tem um dia para planejamento organização e resolver questões

burocráticas. Mas é uma parte importante do trabalho. Talvez precise melhorar os sistemas. É

um processo de construção, mas de acordo com a Dra. Ana Rita, é preciso ter os dados e ainda

assim alguns dados ainda não se conseguem. A categoria dos assistentes sociais, por exemplo,

não tinha essa prática. É muito ruim não ter a prática sistematizada, não ter indicadores de

avanços ou não.

A pergunta a seguir foi respondida mais detalhadamente, em questão anterior.

Pergunta: A partir das experiências exemplificadas no que diz respeito a responder ao Poder

Judiciário sobre a inviabilidade de atender demandas solicitadas que estão para além das

responsabilidades dos serviços de Assistência, os resultados tem sido positivos?

Identificação (nome): Gizely Couto

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Entidade/órgão: TJPE

Pergunta dirigida ao palestrante: Rita Suassuna

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna Já foi colocada a forma de atuação na cidade do Recife, que serve para qualquer

município. É da forma que foi falada anteriormente, dialogando e respondendo das

impossibilidades também.

A Coordenadora da Mesa passou a palavra a Dra. Ana Célia para resposta a

questão colocada a seguir.

Pergunta: Em que pé está o combate ao crack no estado de Pernambuco, notadamente na

cidade do Recife que te uma secretaria municipal específica de combate ao crack, tendo a

frente a Vereadora Aline Mariano:

Identificação (nome): Eduardo Figueirêdo

Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante: Ana Célia

Resposta da Dra. Ana Célia Farias No governo Paulo Câmara foi criada uma Secretaria Executiva de Política sobre

Drogas, a Secretária é Márcia Ribeiro e trata não somente a questão do crack, mas de outros

tipos de substâncias psicoativas. Anteriormente essa atuação era de uma Gerência que

formava a Proteção Social de Alta Complexidade na Assistência e foi dado esse destaque

agora como Secretaria Executiva. Existem os programas que estão sendo executados como “O

crack, é possível vencer”, Centro Pop, o “Atitude”. Esse último muito solicitado pelos

municípios, mas que precisam da regionalização dos serviços, muito importante, já que se

trata de atendimento de alta complexidade. É preciso dar a atenção por não se tratar de uma

problemática de municípios de grande porte, mas de todos os municípios.

Na oportunidade Ana Célia se referiu às demandas que chegam do judiciário e

existem municípios e que os prefeitos recomendam “não arrume problema, nem com o juiz,

nem com o promotor”. É buscar o diálogo para resolver esses casos. O MP está mais presente

no desenrolar dos casos, mas o poder judiciário é sempre um pouco ausente.

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna A criação da Secretaria de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas (SECOD) foi

criada agora em 2015 e na mesma linha do estado vai ser implementado o Programa Atitude,

voltado para a criança e ao adolescente. O estado já tem uma rede para a pessoa adulta. O

Recife não tem nenhum atendimento dentro do Atitude voltado para criança e adolescente.

A SECOD vem trabalhando na questão da formação e na prevenção. Fazendo

ações preventivas nas escolas em diversos serviços da Prefeitura. Tem o Projeto Fábrica que

trabalha com adolescentes e jovens usuários e tem o Projeto FOCO comunitário que trabalha

com multiplicadores de redução de danos nas comunidades.

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Para o fechamento do painel da manhã a Dra. Ana Rita pediu a palavra para dizer

da alegria do evento e desse pontapé inicial, para provocar essa aproximação com o MP e com

o sistema judiciário e contar com essa participação nos encontros regionalizados. É preciso

iniciar a construção desse processo, mostrar a disposição para o atendimento. Traçar os

caminhos mostrando de que forma, com que capacidade vai atender e também o que cabe a

Assistência. É nesse processo que vai ser traçado um caminho positivo para Pernambuco.

Agradeceu a atenção de todos e desejou um bom dia de trabalho.

A palavra passou a Dra. Ana Celia para suas considerações. Ela informou que

estaria à disposição de todos a partir do dia 21/10/2015, quando o Secretário Isaltino

Nascimento entregará ao Conselho Estadual de Assistência Social, o Anteprojeto da Lei

Estadual do SUAS. Após dez anos do SUAS o Estado não tem a Lei. Isso é uma conquista,

mas apenas três estados, Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal possuem a Lei.

Regulamenta a Assistência Social no Estado. No mesmo dia será apresentado o SIGAS –

Sistema de Informação e Gestão da Assistência Social de Pernambuco. Colocar a disposição

no SIGAS todo o material da discussão desse Seminário, atualizando as legislações e

resoluções da Assistência Social. O SIGAS é uma conquista, pois será um canal de acesso das

informações para todos. A Secretária Executiva, Dra. Ana Célia declarou que se sentia um

pouco mais aliviada e fortalecida, pela luta em conjunto para que o diálogo aconteça entre os

sistemas.

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1º PAINEL - Tarde

A Política de Assistência Social nas Diversas Esferas Governamentais.

Presidente da Mesa e Mediadora:

Sra. Tanany Frederico dos Reis Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

Dra. Ana Célia Farias Secretária Executiva Estadual de Assistência Social – SEAS/SDSCJ.

Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife – PCR,

Presidente do COEGEMAS.

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

Dr. Isaltino Nascimento Secretário Estadual de Desenvolvimento Social Criança e Juventude.

A presidente da Mesa e Mediadora Tanany Reis fez a abertura dos trabalhos da

tarde, dando continuidade ao Primeiro Painel, ressaltando sua satisfação em estar na Mesa

com a Dra. Ieda Castro, sua professora na UECE (Universidade Estadual do Ceará).

3ª Painelista

Dra. Ieda Castro Secretária Nacional de Assistência Social - SNAS

A Dra. Ieda Castro iniciou agradecendo ao Dr. Marco Aurélio a oportunidade e

afirmando a satisfação do MDS/SNAS em estar no evento dialogando sobre o SUAS e sua

relação com o Ministério Público, com o sistema de justiça de um modo geral. Segundo a

Secretária Nacional da Assistência Social existe a satisfação pelo reencontro de amigos e

companheiros. Ela já foi gestora por oito anos, foi assessora e agora está como Secretária

Nacional. Mas nos diferentes locais em que esteve, dialogou muito com o MP e este é um

bom parceiro para efetivar e materializar a Assistência Social como direito.

A Dra. Ieda Castro ressalta que conseguiu agenda em meio à “maratona” de

conferências estaduais e que a apresentação é resultado do esforço da equipe de assessoria e a

exposição seguirá pela linha colocada para reflexão.

Para discutir a Assistência Social nas diversas esferas governamentais, é preciso

um esforço, primeiro, de entender o sentido da Assistência Social dentro da proteção social.

Como o Sistema Único se organiza e como as tarefas são distribuídas entre os entes, quais

são os principais desafios que estão sendo vislumbrados nesse processo de conferências e

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trazer para o debate. É preciso ter a compreensão de que o SUAS é um sistema aberto, é um

sistema dinâmico. A realidade desafia a toda hora a rever algumas normas, algumas

decisões/escolhas que foram feitas ao longo do tempo. Não se pode olhar o Sistema como

algo estanque, mas como algo dinâmico que precisa acompanhar a realidade.

A Secretária Nacional enfatiza que no campo das necessidades, as necessidades

se reconfiguram. Então o que num dado momento era tido como certo para questões da

criança, do idoso, da pessoa com deficiência, da maternidade, mudou ao longo do tempo. As

questões permanecem, mas vão aparecendo novas formas de elas se manifestarem. Ao longo

do tempo as desproteções vão assumindo aspectos diferentes.

Então entender a Assistência Social é entender que muitas necessidades básicas

do ser humano são hoje reconhecidas pelo Estado como questões que precisam ser tratadas

politicamente, publicamente e as respostas precisam ser construídas coletivamente como

dever do Estado. Muitas das necessidades básicas como comer, como conviver, como ter uma

renda para viver, são necessidades que na LOAS estão escritas como mínimas. Mas já se

discute o significado do termo “mínima”, que possui a interpretação de “básica”. Ou seja, não

são mínimas no sentido de restrição, mas, são necessidades básicas e que podem ir se

alargando. Quando essas necessidades vão sendo supridas, novas necessidades vão surgindo,

vão se reconfigurando. É assim que o direito vai se configurando, é um reconhecimento

público do Estado e esse direito para ganhar materialidade precisa de política pública.

A Dra. Ieda Castro afirma então que nesse avanço a Assistência Social chega a

outro patamar. Quando na Constituição Federal foi reconhecido que a Assistência Social está

no campo da seguridade social, se criou um novo campo para a Assistência Social. Trata-se de

uma política não contributiva, mas na verdade todas as políticas públicas possuem uma

contribuição indireta, que são financiadas por impostos e pagos por todos. O termo “não

contributiva” se refere à previdência social, que possui a lógica de contribuir para ter acesso.

Nesse campo novo nasce a Assistência Social Pública, como dever do Estado e

credora de financiamentos públicos, credora de recursos públicos. Então o fundo público da

seguridade social começa a ter de bancar não somente a previdência e a saúde, mas

também a Assistência Social. Essa foi uma grande conquista naquele momento.

Mas, também a partir desse momento se criou uma fronteira, uma falsa fronteira

entre promoção e proteção. Por exemplo, a ideia de que a Educação promove e a Assistência

Social protege. A Assistência Social no novo modelo de níveis de proteção, a proteção básica

dialoga diretamente com todas as políticas que são de promoção social. É a proteção básica

que dialoga com a educação, com a moradia, com a saúde. “É um diálogo mais direto de

território”.

“O que se espera do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) é que

ele seja capaz de criar uma articulação com as outras políticas setoriais, para que as

necessidades que sejam ligadas a essas políticas setoriais possam ser satisfeitas”. Isso

significa dizer que é criada a acolhida das necessidades que se dá pela porta de entrada,

chamada CRAS. É a porta de entrada das necessidades básicas da população. No entanto, as

respostas a essas necessidades não estão exclusivamente na Assistência Social. Essa é uma

das primeiras dificuldades enfrentadas pela Assistência.

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Por exemplo, “a casa desabou”, pode chegar essa demanda de atendimento à

Assistência Social. O CRAS é uma unidade pública estatal, é o poder público acolhendo a

demanda daquela necessidade. A pessoa pode ir diretamente para uma política habitacional,

pode ir direto para a defesa civil, mas pode ser mediada pelo CRAS. Porém, é preciso ter

clareza que essa resposta não está na Assistência Social.

O CRAS pode ser o articulador de outras políticas para que se busque a

construção da resposta a essa necessidade.

Uma primeira observação destacada é o fato de que é comum o idoso ter alguma

dificuldade na questão saúde e isso chega ao CRAS diretamente pela família, diretamente

pelo idoso ou chega pelo MP no CREAS. O idoso precisa de um atendimento de saúde ou

cuidados médicos domiciliares. Essa demanda pode passar pelas unidades de atendimento da

Assistência Social, mas elas não são resolvidas pela Assistência Social. São resolvidas pela

política setorial que tem a “competência para”. Esse é o caso da atenção domiciliar da

Saúde.

Esse tem sido talvez, um dos maiores problemas da Assistência Social. Saber

qual é essa fronteira. A Assistência acolhe a necessidade, mas a resposta a essa necessidade

não está na Assistência Social. Ou seja, a Assistência Social acolhe a necessidade, mas a

resposta pode estar em outro campo. E é preciso ter clareza de quais são esses outros

campos. Chegarão à Assistência as mais variadas necessidades, pois foi afirmado que a

unidade pública estatal para ouvir e acolher é o CRAS. Em territórios muito vulneráveis isso

acontece com maior intensidade. Da mesma maneira que uma escola pode ser uma unidade de

acolhida de necessidade e ser capaz de fazer o encaminhamento devido. Esse é o ideal, a

utopia. Que as políticas setoriais sejam capazes de construir fluxos entre elas para o

atendimento das necessidades.

Para elucidar o campo da Assistência Social a Dra. Ieda seguiu sua exposição

questionando: O que cabe a Política de Assistência Social em especial? São três garantias que

estão nesse campo: Segurança de renda – exemplos: casos como idoso pobre com renda per

capta inferior a ¼ do salário mínimo tem direito ao BPC. Uma família pobre, o salário que

ganha é insuficiente, pode entrar também pelo Bolsa Família. O PBF não substitui renda, em

alguns casos pode ser que substitua, mas o objetivo do Programa não é substituir renda do

trabalho, mas complementar a renda da família; Segurança de convivência familiar e

comunitária. Exemplos: Isso significa dizer que não é preciso segregar, excluir pessoas com

deficiência, aquelas pessoas que cometeram algum ato infracional. Significa que as primeiras

formas de proteção ocorrem nas relações familiares e comunitárias; Acolhida, que é a

acolhida institucional. São os casos de pessoas em que houve ruptura de vínculos e precisam

da proteção do Estado, diretamente com o acolhimento institucional ou outras modalidades

como família acolhedora ou outras modalidades que permitam a continuidade da convivência.

Essas seguranças estão no campo da Assistência Social.

Para efetivar essas seguranças é necessário um conjunto de ações integradas com

instituições públicas e privadas. O serviço da Assistência Social não é 100% público estatal.

O PAIF (Proteção e Atenção Integral à Família) e o PAEFI (Proteção e Atendimento

Especializado a Famílias e Indivíduos) são públicos estatais, mas os outros serviços podem

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ser em colaboração com entidades sem fins lucrativos, que tenha Certificação de Entidades de

Assistência Social (CEBAS) ou que integre a rede e seja reconhecido como de assistência social.

A Secretária Nacional prosseguiu destacando a constituição do SUAS a partir da

questão: Como ficou o arranjo federativo do SUAS?

O SUAS foi criado para dar conta da efetivação do direito. O SUAS é um sistema

único nacional, mas é compartilhado entre os entes federados. Existem responsabilidades que

são próprias de cada ente e responsabilidade que são comuns. No modelo federalista

brasileiro, a União tem o papel de coordenador, fomentador, incentivador do Sistema, com

algumas responsabilidades próprias. O Estado tem alguns serviços que são próprios e tem os

municípios que no modelo federativo brasileiro executores diretos das ofertas de todas as

provisões de políticas públicas.

A execução direta dos municípios implica que os entes tem compartilhar

responsabilidades. Isso tem aspectos facilitadores e dificultadores.

Todo ente tem autonomia administrativa, normativa e politica. Então coordenar

um sistema nacional com três entes com autonomia, requer muito trabalho para criar sinergia

para todos caminharem no mesmo lugar. É o caso do financiamento da Assistência Social.

Todos os entes tem que destinar dinheiro público para a Assistência Social, governos

federal, estadual e municipal. No modelo de cofinanciamento da Assistência foi criada a

lógica de Piso. Mas alguns estados criaram seu próprio piso e isso dificulta o trabalho de reger

o Sistema. Existem antão, diferentes formas de financiamento que não conferem transparência

sobre o motante do aporte de recurso público que está sendo destinado para a Assistência

Social.

Outro ponto importante é que as transferências de recursos são regulares e

automáticas. Atualmente é fundo a fundo. Ou seja, do Fundo Nacional de Assistência Social

para os Fundos Municipais de Assistência Social.

A Dra. Ieda Castro destaca como o principal aspecto dificultador está no fato de

que, com esse modelo federativo, cada ente federado possui um ritmo, uma “cadência”

própria para o SUAS. Existem assim, municípios e estados, bem avançados, outros mais ou

menos e outros ainda bem atrasados.

Essa heterogeneidade de ritmos, por motivos variados como, gestão, capacidade

de recursos humanos, dentre outras razões, exige um esforço maior do governo federal

para coordenar de forma cooperativa o Sistema.

No SUAS todos os entes precisam ter: gestão orçamentária e financeira, seus

fundos regularizados; instâncias de pactuação estadual e federal para fazer seus acordos e

todos precisam ter órgãos deliberativos. Esse é o desenho estrutural do Sistema.

No SUAS também existe, segundo a Secretária Nacional, o problema de não

haver órgão gestor específico da Assistência Social. O órgão gestor da Assistência Social é o

órgão gestor do Trabalho, dos Direitos Humanos, da Segurança Alimentar e depende de cada

arranjo federativo. Então para o MP que vai demandar o serviço, a quem deve se dirigir?

No entendimento da Dra. Ieda é melhor demandar para a Prefeitura, que direciona

para o órgão competente para tal, do que encaminhar para a Assistência Social. O procurador

enviando a requisição para a Prefeitura pode chamar os órgãos que são competentes e faz a

distribuição das requisições de acordo com o campo de cada um. Isso facilita, pois quando se

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tem um órgão gestor que é de várias políticas sociais fica difícil até para o cidadão saber onde

ele reclama, pois não há um lugar específico em que ele se visualize. Diferentemente, por

exemplo, da saúde que ele sabe que existe a Secretaria da Saúde, sobre a escola o usuário vê a

Secretaria da Educação. No caso da Assistência Social não vê o nome da Assistência em lugar

nenhum, o que existe é Desenvolvimento Social, Habitação e outros nomes.

Além desses arranjos federativos tem a rede se serviços governamentais e não

governamentais, da qual todo gestor tem que ter o cadastro das entidades, dos serviços.

TODO MINISTÉRIO PÚBLICO DEVE RECEBER UMA RELAÇÃO DA

REDE SOCIOASSISTENCIAL - DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS

DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO

Essas informações constam no CADSUAS, cadastro de todos os serviços públicos

e privados. O gestor deveria ter essas informações para facilitar inclusive a relação com o MP.

A Dra. Ieda Castro apresentou as Competências dos entes na Política de

Assistência Social4. No SUAS, por exemplo, a Secretaria Municipal de Assistência Social é

responsável pela coordenação da gestão, no seu território, no seu município. É responsável

pelo planejamento, monitoramento, avaliação, pela gestão dos recursos humanos. São

competências comuns aos três entes assim como o cofinanciamento. O problema atualmente é

que não existe transparência dos gastos da União, não do Estado e municípios.

A União sabe a quantia de recursos repassados, mas não sabe se a aplicação

garante a qualidade do serviço prestado aos usuários. O MDS divulga o quanto ele cofinancia,

o que pode dar a ideia de que o Sistema é federal. O Sistema é nacional, não é federal.

Sobre as competências específicas, à União cabe à formulação de parâmetros de

técnicas, tipificação; financiamento como o BPC e o Bolsa Família, o dinheiro vai direto para

o usuário; apoio técnico aos entes estaduais e municipais; e apoio em casos de calamidade

pública.

O Estado tem como competência específica cofinanciar os municípios para oferta

do benefício eventual (auxílio natalidade, auxílio funeral ou outro auxílio que o município

ofereça); apoio técnico e capacitação aos municípios; oferta de serviços regionalizados. Sabe-

se que municípios com menos de 20.000 habitantes não tem CREAS, por isso a necessidade

de serviços especializados regionais para atender a esses municípios de pequeno porte; e

também nos casos de calamidade pública o estado precisa apoiar os municípios.

Os municípios implantam, executam os serviços, os programas; regulamentam os

benefícios eventuais e também atuam especificamente nos casos de calamidade pública.

Sobre o financiamento, antes o governo federal transferia os recursos para o

município que fazia os pagamentos, por exemplo, do Agente Jovem, do PETI, atualmente os

benefícios é repassado diretamente para o destinatário. Já para os serviços as transferências

são realizadas fundo a fundo, o mesmo acontece com programas como o ACESSUAS

Trabalho, BPC Escola e Ações Estratégicas do PETI. Existe também a modalidade de

transferência voluntária, através de convênio, para o caso de construção de CRAS e CREAS.

4 A apresentação feita pela Dra. Ieda Castro, está disponível na íntegra no Anexo I desta sistematização.

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Para construção de estrutura física, pode ser através de Emenda Parlamentar ou abre o Aceite

pelo MDS, com o SICONV – Sistema de Convênios.

A Secretária Nacional passou à apresentação das iniciativas do governo federal

para construir a necessária sinergia no Sistema. São criados Pactos de Aprimoramento com o

município e com o estado; o governo federal está reordenando os serviços e estimulando

municípios e estados a reorganizar as ofertas. Ainda existem funcionando ao mesmo tempo

modelos novos, já reordenados e modelos antigos. As instituições de longa permanência para

idoso (ILPI) continuam no modelo tradicional, não houve reordenamento. A atenção à pessoa

com deficiência ainda se encontra com o Piso de transição de média complexidade, que é da

antiga Legião Brasileira de Assistência (LBA). É muito provável que o MP tenha demanda de

atenção à pessoa com deficiência e esse ponto ainda está deficitário no SUAS. Esse processo

precisa ser construído.

O governo federal repassa recursos para os governos estaduais para manter a

política de capacitação e educação permanente, para capacitar e formar toda a rede. Por fim o

governo federal mantém os espaços de pactuação.

A organização do SUAS por proteção, a rede de atendimento já é conhecida. O

CRAS em todos os territórios de vulnerabilidade. O CRAS só deve ser demandado nos casos

em que a convivência familiar e comunitária ainda seja possível. Quando a situação tem uma

ruptura ou ameaça de ruptura é CREAS. Nesse ponto é preciso se pensar um fluxo com o MP.

O MP chama diretamente o CREAS e isso não é bom para o Sistema. Pois,

fazendo isso é desmontada a lógica do SUAS. É preciso criar o lugar que irá acolher a

demanda do MP, para que se possa distribuir. Por exemplo, quando o sistema judiciário aplica

uma medida socioeducativa ao adolescente e determina qual o CREAS irá atender ao caso ele

desmonta o Sistema. O correto seria encaminhar as demandas para o órgão gestor, que

pode ser uma coordenação de proteção especial, uma gerência. A unidade de interlocução

com o MP não deve ser o serviço, deve ser o órgão gestor. O MP pode depois avaliar. Isso

confere maior efetividade do atendimento. Quando é o órgão gestor que distribui, é possível

atender na medida certa.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DEVE DIRIGIR AS SOLICITAÇÕES AO

ÓRGÃO GESTOR E NÃO AO SERVIÇO DE ATENDIMENTO.

Os prazos são muito curtos, por exemplo, o prazo de 15 dias que o Estatuto do

Idoso define para atendimento de uma requisição do MP, frequentemente se encaminha

diretamente para o CREAS. Existem casos que são atendidos em um determinado CREAS,

mas acontece, na mesma unidade, de acumular casos e o MP cobrar novamente, com a queixa

de que os processos estão acumulando, e muitas vezes o gestor nem sabia dessas requisições.

É preciso melhorar esse fluxo para ganhar efetividade.

Sobre os CRAS, são unidades que possuem uma estrutura de recursos humanos,

lembrando que o Sistema é dinâmico, ele indica quantos trabalhadores deve ter. Cada

município, cada estado tem autonomia administrativa, para contratar, para demitir, para

conduzir essa área. O Sistema indica que os trabalhadores devem ser concursados. Mas, a

região nordeste é a que menos faz concurso. Apenas 28% dos trabalhadores do SUAS do

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Nordeste são concursados e o restante são outros vínculos, que nem é comissionado nem é

celetista. Isso significa o “pregão”. A SNAS sabe disso e está sendo discutido, mas o SUAS

tem sido muito pedagógico.

O SUAS foi criado por uma Resolução do Conselho Nacional de Assistência

Social, que se fez normativo pelo compromisso de cada gestor. A Lei do SUAS só foi

sancionada em 2011. Isso revela uma capacidade muito grande de fomentar de articulação e é

preciso continuar investindo nessas capacidades. De acordar, de pactuar o que é estruturante

do SUAS.

A Dra. Ieda Castro lembrou que o SUAS não está consolidado, daí o tema da

Conferência: o SUAS que temos o SUAS que queremos.

O importante é saber que existem o CRAS, o CREAS, as unidades de

acolhimento. É preciso criar central de vagas, pois o MP, o judiciário e a DP muitas vezes

encaminha direto para as unidades de acolhimento, e que muitas vezes não comporta a

demanda. O conselho tutelar faz muito esse procedimento.

CRIAÇÃO DE UMA CENTRAL DE VAGAS

Ás vezes o MP autua o município por estar acolhendo mais pessoas do que a

capacidade da unidade, mas são arranjos que se fazem para não deixar de atender e a SNAS

tem conhecimento disso. Sabe da dimensão do que estar por fazer e do quanto o MP e o

sistema de justiça pode ajudar.

O maior problema é com relação a pessoal. A LRF, que está virando mito na

Assistência Social. Os municípios não fazem mais concurso por causa da LRF. Um caso que

merece ser citado é o do estado do Mato Grosso Está fazendo concurso para 400

trabalhadores. Na verdade, são vagas já ocupadas por trabalhadores temporários. O concurso é

para regularizar a situação dessas pessoas. Isso também é importante. Não vai haver

ampliação de pessoal do Mato Grosso, mas vai dar estabilidade.

Para qualificar o serviço, é preciso capacitar e capacitar trabalhadores temporários

é um investimento de recursos que “vai embora”.

Um ponto em comum na fala dos representantes da Assistência Social é da

necessidade de vencer alguns desafios para melhorar o atendimento. São importantes também

as equipes volantes, para chegar mais perto. Mas é preciso considerar que existem diferenças

nos tipos de necessidades e de equipamentos para as equipes da Assistência Social atenderem

a população. De acordo com a região do país é significativo, por exemplo, as condições de

mobilidade da equipe. O trabalho da Assistência é o trabalho de busca ativa, de acesso aos

direitos, de acesso à segurança. Isso entendido como trabalho social com a família.

Quando o MP faz uma demanda e a pessoa a ser atendida, precisa ser localizada,

às vezes se procura em um cadastro da Assistência Social, mas não se consegue ter um fluxo

próprio da Assistência, um procedimento padrão da Assistência. Pois se a pessoa já é

beneficiário do Bolsa Família ou do BPC, já aparecer no cadastro da Assistência todo o

procedimento é facilitado. O problema é que toda demanda chega como nova e isso significa

sobrecarregar a equipe, mas quando a demanda que chega e é vista como demanda do

território que a equipe já trabalha isso facilitaria o processo. Se a requisição do MP ou sistema

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de justiça chega para o órgão gestor e sendo este município territorializado, a resposta é

facilitada. São procedimentos ainda não criados pelo SUAS.

A Secretária Nacional destacou que ainda precisam ser construídas no SUAS,

respostas para as demandas que chegam, inclusive pelas especificidades das necessidades de

cada região, cada território do país. Cada demanda que chega de fora tem que se ajustar a essa

engrenagem/SUAS. Existem assistentes sociais que se queixam de somente fazerem pareceres

ou visitas para manifestação de decisões. Pois fogem da engrenagem do sistema. Se estiver,

essas atividades incluídas nessa engrenagem farão parte do processo de trabalho e será

possível chegar a quem está desprotegido.

A Dra. Ieda Castro prosseguiu tratando dos impactos esperados na Assistência

Social. Que ela seja capaz de construir a rede do território; acesso ao mundo do trabalho, a

justiça, que a Assistência Social melhore as relações, que contribua para recompor, refazer

projetos de vida; que sejam criadas redes de apoio; que a cidadania se efetive, através do

protagonismo, da participação popular e que o território seja um espaço físico em que esses

elementos possam acontecer.

Sobre o que existe após 10 anos de SUAS, observa-se que ao longo do tempo a

lógica do direito foi construída, já faz parte da Assistência Social, embora essa lógica não

esteja consolidada. Já existem provisões próprias da Assistência e que não existiam, bem

como a existência de uma sistemática de cofinanciamento. O Sistema foi expandido e hoje

99,06% dos municípios já possuem CRAS. Os municípios que ainda não tem CRAS são

municípios muito pequenos nas regiões sul e sudeste e que optaram não ter CRAS. Foi

ampliado também o acesso ao BPC e ao Bolsa Família. Existe atualmente uma capacidade de

referenciamento muito boa com os CRAS.

Nos municípios com mais de 20.000 habitantes, 97,4% já existem CREAS. Mas,

os municípios com menos de 20.000 habitantes estão desprotegidos e é preciso encontrar uma

saída para essa situação.

Já existe unidade de acolhimento em 91,0% dos municípios, mas é preciso discutir

se o desejado é ampliar vagas de acolhimento. Pois é outro problema, a Assistência Social

está acolhendo demais e depois que se institucionaliza a pessoa é muito difícil recuperar

vínculos. É preciso se pensar em outros formatos e será preciso da ajuda do MP. Por exemplo,

o idoso é vítima de violência doméstica por cauda da renda dele e a Assistência Social está

sendo chamada pelo MP para tirá-lo de dentro de casa. É preciso ter o tempo para trabalhar

essa família. Hoje nos procedimentos para a Assistência não existe esse tempo. É preciso de

um acompanhamento para ir, periodicamente, avaliando como está indo aquela família. Na

primeira visita não define, na segunda visita define qual o prazo de visita de

acompanhamento. Isso pode ser negociado com o MP. Então, na análise da Secretária é

fundamental o apoio do MP para os casos que precisam de maior período de tempo para ser

encaminhados de acordo com procedimentos da Assistência Social.

É PRECISO CRIAR FLUXOS E ROTINAS EM ACORDO COM O MP

A agenda atual é de uma grande demanda/desproteções: de negros, mulheres,

transexuais, egressos do sistema carcerário, quilombolas, etc. Uma grande lista de questões

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que estão chegando a Assistência Social: imigrantes, refugiados e que estão na “conta” da

Assistência Social.

É preciso qualificar a oferta das redes físicas, que atualmente ainda são ruins e

com CRAS funcionando em lugares inadequados. É preciso pensar em estratégias para

recuperar essa rede. E a própria qualidade do serviço deixa a desejar.

Os municípios estão com 50% dos recursos para a Assistência Social, repassados

pela União, em caixa. De três bilhões, um bilhão e meio está parado nas contas dos

municípios. Há casos de municípios que não consegue dar conta do saldo que se acumula,

devido à capacidade de gestão, licitação, ou outros motivos. Assim, será necessário qualificar

as novas ofertas, qualificar o atendimento, qualificar a gestão.

O governo federal está fazendo um grupo de estudos sobre os custos dos serviços,

para que seja possível calcular de fato qual o cofinanciamento que precisa ter. É preciso

também colocar a Assistência na agenda de prefeitos, governadores e parlamentares. Ainda é

preciso tirar a Assistência da lógica privada do “primeiro damismo”, que é a lógica de tratar a

assistência não como política pública, mas como assunto de marido e mulher.

A Dra. Ieda Castro finalizou, chamando a atenção que em linhas gerais eram essas

as questões trazidas para essa conversa e agradeceu ao público.

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DEBATE - Tarde

No início do debate foi chamado para compor a mesa o Secretário estadual Sr.

Isaltino Nascimento.

Logo em seguida a Presidente da Mesa abriu o debate e leitura das questões

encaminhadas por escrito.

Pergunta: Como a Secretária Municipal, Estadual e Nacional poderia está apoiando a

criação do Fórum dos trabalhadores do SUAS em Pernambuco?

Identificação (nome): Entidade/órgão: Pergunta dirigida ao palestrante:

Resposta da Dra. Ieda Castro A Dra. Ieda frisou que não pode responder por Pernambuco, mas quando relatou

que quando foi gestora municipal, instalou a Mesa de Negociação do SUAS e foi muito

difícil. Porque existia uma incompreensão muito grande entre os trabalhadores, não existia

fórum de trabalhadores e então foi solicitada a realização de uma assembleia para escolha de

representantes. O que pareceu para alguns que a gestora, no caso a Dra. Ieda, estava

cooptando os trabalhadores. Então ficou resolvido montar primeiro o fórum. No governo

federal foi instalada a Mesa de Negociação da Gestão do Trabalho no SUAS.

É muito importante instalar Mesa de Negociação do SUAS a partir do Fórum de

trabalhadores. O que os gestores podem fazer é estimular a organização dos trabalhadores.

Mas, a tarefa é dos trabalhadores. Fica difícil financiar, pois quando se torna privado, órgão

de categoria é difícil apoiar financeiramente. O governo federal está estimulando

nacionalmente o fórum nacional dos usuários. Os usuários que são do fórum e que desejam

participar das conferências, o governo federal está financiando para ele ir para os estado,

municípios, para as capitais. Estimulando a organização dos usuários.

É muito difícil, pois são categorias diferentes, então o caminho é criar uma

identidade coletiva do/a trabalhador/a do SUAS, independente de ensino fundamental,

médio ou superior.

Esse é um exercício de organização do trabalho muito difícil também, pois a

tendência do trabalhador é ser corporativo e então se fecham nas corporações. O pessoal de

nível superior nas suas corporações. O pessoal de ensino médio não tem esse espaço e ainda

não existe o ensino técnico da assistência social. Está sendo discutida a formação técnica para

o pessoal de nível médio, para que tenham uma identidade de trabalho.

Resposta da Dra. Ana Rita Suassuna No caso do Recife, existe uma mesa de negociação coordenada pela

Administração. Anteriormente existia uma comissão dos serviços que se reunia mensalmente,

mas que parou de se reunir. Já aconteceram algumas reuniões esse ano no sentido de retomar

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os encontros com a comissão. Mas existe a Mesa de Negociação. No caso de Recife existe

uma distorção muito grande de salários dos funcionários como um todo. Cada secretaria tem

um salário diferenciado. Por exemplo, uma assistente social na Secretaria de

Desenvolvimento Social e Direitos humanos (SDSDH) recebe um salário menor do que o/a

assistente social que trabalha na Secretaria de Saúde. Na SDSDH no que se refere ao SUAS,

não tem ainda o Plano de Cargos e Carreira e nem tinha a tabela de progressão. A tabela foi

criada e foi criada a comissão para elaboração do Plano de Cargos e Carreiras e foi criado o

adicional de risco para os profissionais que estão nos serviços, no atendimento direto com o

público. Mas o trabalhador é que deve buscar se organizar.

Resposta da Dra. Ana Célia Farias

Chamou a atenção da Dra. Ana Célia saber que a maioria dos estados hoje tem

fóruns de trabalhadores, pois no dia anterior estava sendo discutido na SDSCJ. A Secretária

executiva chamou a atenção também que na maioria dos conselhos não há participação dos

usuários.

Cabe refletir sobre a importância de se organizarem nesse sentido e verificar os

estados que já estão organizados como está esse processo. Talvez esse Seminário ajude como

estímulo para o início da formação do fórum dos trabalhadores.

A Dra. Ieda Castro pediu a palavra nesse momento para complementar as

informações.

A Mesa de Negociação de Gestão do Trabalho do SUAS não é uma mesa para

discutir questões de relação de trabalho especificamente. Então a questão salarial, esses outras

questões, não fazem parte. Ela se diferencia das mesas de negociação de organização dos

trabalhadores. A Mesa de Negociação de Gestão do Trabalho do SUAS foi pensada para

discutir processos de trabalho no SUAS. Por exemplo, as formações, organização do tempo de

trabalho no CRAS que em que funcionar de segunda a sexta-feira, oito horas por dia.

Acontece que as cargas horárias dos trabalhadores seguirão as regras de relação de trabalho de

cada um. Então não é possível misturar hora de trabalho com hora de funcionamento de

CRAS. As questões de salário irão aparecer, mas não serão resolvidas nessa Mesa. As

instâncias de acordo sobre cargo, concursos são espaços criados pelas prefeituras e os

governos do estado criam para esse fim. No governo federal essa instância fica na Secretaria

do Planejamento, responsável por criar as oportunidades de crescimento e desenvolvimento

de cada trabalhador.

A Sra. Tanany Reis pediu a palavra para se colocar enquanto representante do

CRESS. Segundo ela o conselho não tem uma comissão temática de assistência social. Foi

deliberada a reativação da comissão de seguridade social, tentando discutir essa temática. Mas

está no planejamento reativar a comissão de assistência social ainda este ano (de 2015). Falta

o trabalhador participar e assumir esse compromisso. O conselho tem o papel de fomentar as

discussões que só podem acontecer com a participação dos trabalhadores. As pessoas que

acompanham o boletim do CRESS poderão verificar a comunicação da retomada da comissão

de seguridade.

Em seguida foi feita a leitura das questões.

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Pergunta: Se desde a Lei, o Sistema e a profissão com a nomenclatura de Assistência Social,

porque as secretarias não utilizam a mesma denominação? Não seria um preconceito com a

palavra Assistência, sendo assim um equivoco ligando-a ao assistencialismo? Assistir

significa neste caso dar suporte, propiciar mudança.

Identificação (nome): Entidade/órgão: Pergunta dirigida ao palestrante: Ieda Castro

Pergunta: 1 – O que dizer do cofinanciamento quando o ente federal ou estadual não cumpre

com suas obrigações? 2 – Qual o seu entendimento sobre ESPAÇO COMPARTILHADO no âmbito do SUAS,

mesmo acontecendo de forma positiva nos municípios, haja vista que nenhum perde sua

identidade?

Identificação (nome):

Entidade/órgão: Pergunta dirigida ao palestrante: Ieda Castro

A Sra. Tanany Reis chamou então a Sra. Ítala atendendo a solicitação para se

colocar verbalmente.

Pergunta: Eu tenho uma dificuldade muito grande de entender os benefícios eventuais. É um

terreno nebuloso.

Identificação (nome): Ítala

Entidade/órgão: Vara de Execução de Penas Alternativas. Pergunta dirigida ao palestrante: Ieda Castro

Resposta da Dra. Ieda Castro Sobre espaços compartilhados. O SUAS é um sistema que está sempre sendo

revisto. Nas normativas, existe a Resolução 21 da CIT, que apresenta que os CRAS que não

cumprindo com quatro dimensões básicas do Índice de Desenvolvimento do CRAS –

IDCRAS teria suspensão de recursos. Uma dessas dimensões é compartilhamento do CRAS

com outras unidades. Atualmente, diante da realidade está sendo feita uma reflexão sobre essa

questão. Analisar qual é o tipo de compartilhamento que compromete a natureza do serviço.

Até o momento com ONG é vetado o compartilhamento. Não pode, pois o CRAS é uma

unidade pública estatal. Já o compartilhamento com outra unidade pública está sendo

avaliado. Atualmente a maioria dos CRAS que está com os recursos suspensos é pelo

compartilhamento com outra unidade pública. Por exemplo, o CRAS funcionar num prédio

com uma unidade de saúde. Essa questão está sendo avaliada até que ponto isso se caracteriza

como irregularidade. Tem o Grupo de Trabalho discutindo e na próxima reunião da CIT será

pactuado se será flexibilizado o compartilhamento de espaços entre unidades públicas estatais.

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Sobre o cofinanciamento, a Dra., Ieda explicou como estavam sendo os repasses

de recursos do governo federal. Segundo ela, até março de 2014 os repasses estavam sendo

feitos sem atrasos. A partir de março de 2014 vem acontecendo atraso no repasse.

Isso se deve a diferentes motivos. Um dos motivos foi a não aprovação do

orçamento e foi necessário usar recursos de 12 meses em 16 meses.

No entanto, existe um montante significativo de recursos nas contas dos

municípios sem serem gastos. O repasse se dá pela contraprestação de um serviço. Assim, a

ideia que se passa é a de que ou o município não executou o serviço ou ele não precisa do

recurso para executar o serviço. Numa época de ajuste fiscal foi feita a leitura de que o

município não estava precisando de dinheiro. Saiu então uma Resolução do MDS, que diz que

os municípios que tinham mais de 12 parcelas em conta, não teriam prioridade no repasse.

Foram priorizados os pagamentos para os municípios que estavam executando bem os

recursos. O que se precisa saber é qual o impacto dos recursos federais na oferta dos serviços.

O governo federal não executa serviço, o que leva a possibilidade de que o município pode

estar colocando pouco recurso para o serviço ou o estado não está cofinanciando. Por isso está

sendo feito o estudo para saber o custo dos serviços para discutir a proporção de

compartilhamento de despesas.

Sobre a nomenclatura das secretarias estaduais e municipais, a Dra. Ieda

afirmou que tem a tese é por preconceito. Existe aquela falsa fronteira entre promoção e

proteção. É nobre para qualquer gestor investir em promoção e é pouco nobre investir

dinheiro em assistência social. Essa ainda é a visão que se tem sobre a assistência social.

Então a luta para mudar a lógica da Assistência Social para lógica do direito é uma luta muito

grande, profunda e os CRAS tem um papel nisso, pois é no território que o cidadão/ã tem que

construir a ideia do direito, da efetivação do direito. A impressão é de que falar de

desenvolvimento social confere uma nobreza e quando se fala de assistência social, se torna

pejorativo e menor. Segundo a Secretária Nacional, ela própria já falou no MDS que a

tendência é alinhar tudo nacionalmente. Atualmente com o ajuntamento, em nome da ressalva

fiscal, existem Estados no país, com seis políticas públicas setoriais, dentro de uma secretaria

que antes era de Assistência Social. A tendência é precarizar todas. São questões que

precisam ser discutidas.

Sobre os benefícios eventuais, no passado, auxílios como natalidade e funeral

eram do campo da Previdência Social e com a reforma da previdência esses dois auxílios

foram para a Assistência Social. E estes ficaram limitados à urna funerária e enxoval de bebê.

E tem outros benefícios que estão previstos dentro das necessidades. Um desafio trazido

sobre essa provisão é o que vai ser chamado de benefício eventual. Em Salvador, todo

benefício eventual é provisão financeira. Isso é importante, pois é dada liberdade à família de

responder a sua necessidade como for mais adequado. Foram criados três grupos de

benefícios eventuais por valor: ½ salário mínimo, um salário mínimo e três salários mínimos.

E o tempo é definido de acordo com a demanda. Hoje se discute o modelo mais adequado e

também hoje o braço mais conservador da Assistência está no benefício eventual. Porque

existe a entrega de um bem e por trás, a ideia de que existe alguém a quem se deve um favor.

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Isso é preciso mudar, é o lado mais conservador que se pode ter. Embora, ressalva a Dra. Ieda,

seja executado no município é regulado pelo governo federal e isso já está sendo discutido.

Para finalizar a Sra. Tanany Res passou a Dra. Ieda Castro a última pergunta

encaminhada a Mesa.

Pergunta: Como a Secretaria Nacional de Assistência Social – MDS vem acompanhando as

discussões junto ao CNJ sobre os encaminhamentos abusivos de demandas do judiciário, tais

como solicitação de pareceres de adoção, guarda e curatela, para os profissionais do SUAS

tendo em vista que alguns conselhos como o CFESS já requisitaram um posicionamento

orientando os Tribunais de Justiça no Território Nacional sobre a referida questão?

Identificação (nome): Alaíde Lima

Entidade/órgão: SAS Lagoa Grande - PE Pergunta dirigida ao palestrante: Ieda Castro

Resposta da Dra. Ieda Castro

É possível fazer Termo de Cooperação entre Defensoria Pública e Ministério

Público. Está sendo discutido inclusive o padrão do termo de cooperação. O que também é

necessário é ter um espaço permanente dessa conversa. Da mesma maneira que a Assistência

Social/SUAS tem dificuldade de alinhar esses procedimentos de trabalho o MP, a DP e o

Juizado também tem essa dificuldade.

Possivelmente formar um Comitê que depende da realidade local.

FORMAÇÃO DE COMISSÕES OU COMITÊS (MUNICIPAL, ESTADUAL

E FEDERAL) COM REPRESENTANTES DOS DOIS SISTEMAS (SUAS E

SGD) QUE ESTIMULE O DIÁLOGO.

Está se falando de acesso a direitos, que muitas vezes por trás de uma apuração de

violação de direitos existem muitas necessidades que não estão postas. E aquilo que chegou

através do MP é uma ponta do grande problema que a comunidade e/ou a família enfrentam.

Quando a Assistência define curatela ou tutela, está sendo criado um problema

para a própria Assistência. Porque se trata de uma política de atendimento. Então, é preciso

ser cuidado para que a aquela relação (de curatela ou tutela) seja efetivada. Se a Assistência se

antecipa decidindo quem tem direito e quem não tem é ruim para a Política de Assistência

Social. Os arranjos entre os sistemas precisam ser locais.

É preciso que muitas vezes a demanda do judiciário ou MP é de um profissional

da Assistência Social e não da Política de Assistência Social.

A palavra foi passada pela Presidente da Mesa, a Sra. Tanany Reis para o Dr.

Marco Aurélio fazer suas considerações.

O Dr. Marco Aurélio, agradeceu a presença da Secretária Nacional da Assistência

Social, a Dra. Ieda Castro e afirmou a satisfação em ouvir os pontos de vista que convergem

para um pensamento que todos em Pernambuco começam agora, com esse seminário a

colocar em prática. A complexidade da temática é conhecida. É importante trabalhar no perfil

dos profissionais, pois é preciso ter profissionais com a autoestima renovada, incentivado a

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cada dia a voltar ao seu local de trabalho e laborar com a mesma dedicação, com o mesmo

compromisso.

Esse compromisso deve se desdobrar em várias discussões, sendo importante

reafirmar que existe dentro do MP, do judiciário e dentro da própria assistência social,

profissionais que pensam de forma diferente. Trabalhar com diretrizes facilita para que não se

tenha ideia de que existe uma receita. É preciso ter diretrizes que unam os sistemas nos pontos

essenciais.

No MP existem promotores que são afeitos no diálogo, acreditam no diálogo. Mas

outros não. Mas também existe o controle externo do CNJ. Prazos para cumprir. É importante

saber que existem outras instâncias que interagem com o MP e judiciário e que possuem suas

dificuldades. Existe o desafio dos problemas com o Disque 100, com suas demandas muito

variadas e seus vários encaminhamentos. Para realizar o atendimento com o mínimo de

qualidade é preciso ter essa compreensão.

Encerrando o painel, o Dr. Marco Aurélio parabenizou a Dra. Ieda pela

apresentação feita.

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2º PAINEL

As relações entre o SUAS e o Sistema de Justiça

Presidente da Mesa e Mediadora:

Sra. Tanany Frederico dos Reis Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

Antes de passar a palavra para o início do segundo painel, a Sra. Tanany Reis, fez

um destaque a pedido da Sra. Shirley Samico da equipe de Vigilância Socioassistencial do

Estado, da SDSCJ: O levantamento das demandas do judiciário continuará sendo feito

junto aos municípios.

A Sra. Tanany na oportunidade comunicou que o CRESS tem interesse nesse

levantamento de requisições e já fez essa tentativa, esse esforço, mas não conseguiu os dados.

Para a atuação do Conselho esses dados são fundamentais. O Conselho quer estreitar e

qualificar essas relações entre o SUAS e o sistema sociojurídico e precisará dessas

informações, para saber qual é essa demanda e assim, estabelecer um diálogo com as

instituições competentes. Então a Sra., Shirley responsável pela Vigilância no Estado

continuará recebendo esses dados.

Em seguida foi passada a palavra a Sra. Sabrina Durigon.

Painelista

Prof.ª Dra. Ana Paula Motta Costa Professora Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Coordenadora

da Pesquisa “As relações entre o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e o Sistema de

Justiça”.

Introdução Sra. Paula Lacerda Representante da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça (SAL/MJ) e do

Projeto Pensando Direito

A Sra. Paula Lacerda iniciou sua apresentação destacando que se trata de fazer

uma introdução, no sentido de contextualizar a pesquisa que foi feita pela Profa. Ana Paula

Motta Costa, no âmbito do Projeto Pensando Direito.

O Projeto Pensando Direito foi criado no âmbito da Secretaria de Assuntos

Jurídicos no ano de 2007. Surgiu como uma tentativa de aproximação entre os atores do

governo, academia e a sociedade civil, com o objetivo de democratizar o processo de

elaboração normativa dentro do trabalho diário da SAL/MJ.

O Projeto financia pesquisas por meio de chamadas públicas e com o resultado

dessas pesquisas se consegue os subsídios para qualificar a produção da Secretaria.

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Desde a criação do Projeto houve duas formas de operacionalização do Projeto.

No período entre os anos de 2007 a 2014 houve a participação do Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a desde o ano de 2012 o Projeto conta com o

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) como parceiro.

O Projeto Pensando Direito foi criado numa concepção de crítica à pesquisa no

modelo de “parecer”, em que já existiam “concepções pré-formuladas e se buscava na

doutrina apenas uma maneira de comprovar o que se queria dizer”. O Projeto surge da ideia e

da necessidade de ter essas pesquisas interdisciplinares na área de Direito com métodos

empíricos e com características de ser uma pesquisa aplicada para que se possa depois

transformar a realidade que foi diagnosticada. Tem-se a qualificação com a democratização da

elaboração normativa.

Houve um grande avanço na concepção do Projeto que atualmente tem uma

participação em maior da sociedade civil e do cidadão, através dos debates públicos que são

promovidos.

Alguns desafios são frequentes, como a autonomia do pesquisador versus a

utilidade para o governo. A pesquisa tem que ter utilidade pública, mas ao mesmo tempo é

preciso preservar a autonomia do pesquisador.

A pesquisa realizada pela Profa. Ana Paula foi realizada em um curto período de

tempo com baixo custo e conseguiu um produto de recorte nacional. Foram feitos encontros

regionais nas cinco regiões do país. O Projeto é bastante ambicioso nesse sentido.

Ainda como desafio se tem a urgência da demanda, pois a SAL trabalha com

elaboração normativa, processo legislativo e sempre existe uma janela de oportunidade para

se tratar de cada tema. Faz parte do dia a dia essa urgência da demanda, do curto tempo

maturação da pesquisa. As oficinas costumam ter seis meses de duração o que em termos de

pesquisa é um tempo muito curto. Mas, com resultados importantes como os que serão

apresentados pela Profa. Ana Paula.

Há também o desafio de representatividade da amostra e a generalização dos

resultados como Política Pública. A Pesquisa que foi realizada foi qualitativa, a análise é

qualitativa, então nem sempre vai representar uma generalização de resultados no âmbito do

país, mas isso não quer dizer que não tragam muitos elementos para que se possa trabalhar e

produzir novas políticas.

E um último problema enfrentado é a dificuldade de acesso a informações de

órgãos públicos. Não foi o caso da Pesquisa a ser apresentada, mas se enfrente muito esse

desafio na realização de pesquisas.

A Sra. Paula Lacerda, apresentou então os investimentos e resultados da pesquisa.

Entre os anos de 2007 e 2015 o Projeto contou com um montante de recursos no valor de

nove milhões e cem mil reais. Com resultados muito positivos para elaboração normativa,

como leis de corrupção, lei de responsabilização da pessoa jurídica. Então, se tem um

montante significativo de recursos aportados e com isso se tem o retorno através dessas

pesquisas, que criam algumas possibilidades de reverter para o Estado esse investimento.

Foram destacados pela Sra. Paula Lacerda, como resultados, os quinze processos

seletivos realizados, 484 projetos apresentados, 82 temas propostos, 71 parcerias

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formalizadas. Tem ainda a Série Pensando o Direito, são 56 publicações estão disponíveis no

Portal da SAL/MJ e as pessoas podem consultar, são diversos temas.

A maioria dos projetos recebidos é do eixo Rio de Janeiro e São Paulo a maioria é

da região sudeste, com 54,46% dos projetos, enquanto na região norte é apenas 3% das

propostas. Com isso se tem feito um esforço de tentar equilibrar trazendo mais o Projeto para

as regiões nordeste e norte principalmente. No demonstrativo regional se verifica isso mais

claramente, foram apenas 10 propostas da região norte enquanto que da região sudeste foram

264 propostas. A diferença é considerável.

A Sra. Paula Lacerda, apresentou o portal do Projeto, convidando a todos/as a

acessar, a conhecer, pois existe muito material das publicações, tem material dos debates

públicos. Será feito em evento de publicação da Pesquisa coordenada pela Profa. Ana Paula,

no dia 19 de novembro de 2015. A partir dessa data a previsão é de que a pesquisa esteja

disponível no portal, na íntegra.

Para finalizar a Sra. Paula Lacerda, agradeceu a presença da Profa. Ana Paula, que

se colocou a disposição desde o primeiro contato sobre o Seminário. Agradeceu também pelo

convite ao MPPE na pessoa do Dr. Marco Aurélio. Destacou as consequências relevantes do

Seminário para o dia a dia de trabalho. Essa aproximação de quem faz a política pública e que

está distante dos atores que estão em campo, atuando na ponta é um momento muito

importante.

A partir do diagnóstico da Pesquisa, será possível sistematizar e planejar

algumas ações de gestão e que possam colocar em prática as recomendações que são frutos

da Pesquisa.

Por último a Sra. Paula Lacerda destacou a possibilidade de diálogo e articulação

entre esses diversos órgãos setoriais que tratam dessa temática de Assistência Social. Foi feito

o agradecimento ao MDS, na pessoa da Secretária Ieda Casto, que possibilitou essa pesquisa e

destacou que os encontros regionais que foram feitos, contaram com auxílio do MDS.

O que se observou nos encontros regionais foi uma grande adesão dos gestores

públicos e uma presença muito pequena dos atores do sistema de justiça Então é muito

significativo, o fato desse seminário, desse espaço ter sido aberto com o sistema de justiça.

Isso é muito importante e vai contribuir no avanço na resolução desses conflitos do dia a dia

nos dois sistemas.

Em seguida a palavra foi passada a Profa. Dra. Ana Paula Motta Costa.

Apresentação da Pesquisa

Dra. Ana Paula Motta Costa.

“As relações entre o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e o Sistema de Justiça”.

A Profa. Ana Paula saudou a todas as pessoas presentes e seguiu se apresentando.

Ela veio do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal e é professora do curso

de Direito, mas há muito tempo tem trabalhado com intersecção com a Assistência Social

Então em razão dessa possibilidade de interlocução com duas áreas, a Profa. Ana Paula

concorreu ao edital público do Projeto Pensando Direito no final do ano de 2013 com a

proposta de realização de um projeto de pesquisa a partir do tema proposto de relação do

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sistema de justiça e o SUAS. A pesquisa foi realizada no período de março de 2014 a

fevereiro de 2015com a fase final de entrega do relatório, que compôs um documento de

1.400 páginas, atualmente já reduzidas para 380 páginas que serão publicadas. Essa dimensão

se deu pelo fato de a Profa. e a equipe de pesquisa terem entrado em contato com muitas

pessoas, contato com muitas propostas e muito conteúdo.

Em primeiro lugar se tem o problema inicial de pesquisa, a que se propõe essa

pesquisa, definido como o conflito entre os dois sistemas (SUAS e Sistema de Justiça). O

olhar para esse conflito apresentava vários aspectos do que poderia significar. Havia várias

hipóteses: se trata de uma judicialização do SUAS, se trata de um conflito de autoridades, se

trata do conflito por não haver politicas públicas para dar conta da demanda social. A partir

daí foi visto que é um pouco de tudo e a equipe de pesquisa foi ajustando, nominando e

apurando os diversos aspectos do problema.

Num primeiro momento é possível dizer que o problema, conflitos entre os dois

sistemas, não é visto pelos dois sistemas da mesma forma.

O SUAS entende esse conflito, como foi dito por várias pessoas nesse seminário,

gerado pela demanda que vem de forma autoritária ou sem respeito à estrutura do SUAS

muitas vezes, por parte dos operadores do sistema de justiça, que tem órgãos componentes

diferenciados, embora aqui esteja sendo referido como sistema de justiça: MP, DP, o

judiciário, os funcionários, todos aqueles que trabalham nesses contextos.

Do outro lado, por parte do sistema de justiça esse caráter de demanda, autoritária

ou não, para o SUAS, não é visto com um problema em si. O problema está na falta de

atendimento por parte do SUAS das questões que são demandadas no que refere a direitos

socioassistenciais.

Ambos os sistemas trabalham com a noção de direitos socioassistenciais com

diferentes concepções do que sejam exatamente esses direitos e do que seja esse processo de

constituição e de garantia desse direito, Mas, ambos trabalham com a ideia de efetivar o que

está posto na Constituição Federal que diz respeito aos direitos socioassistenciais, direitos

fundamentais do povo brasileiro, especialmente das pessoas que deles necessitam. Essa

diferença de olhar sobre o problema, apontou que era necessário aprofundamento.

Segundo a Profa. Ana Paula, também se viu que a história de cada um desses

sistemas, que nesse momento histórico entra em conflito, se encontra numa intersecção de

reações. Essa história vem de caminhadas muito diferentes, de estruturas administrativas e

institucionais muito diferentes.

O sistema de justiça vem de uma história antiga, de uma instituição que tem a

tradição no Direito de trabalho a partir de direitos individuais. Demandas de direitos

individuais.

O SUAS é um sistema novo. Vem de uma cultura, que já foi dito aqui no

seminário, que está buscando mudar, mas ainda tem seu ranço assistencialista e que ao mudar

pretende garantir direitos, num outro modelo. Num modelo de proteção social mais amplo, no

sentido de uma coletividade, ainda que se tenham direitos individuais, mas numa perspectiva

de construir outra realidade social. São tradições diferentes, com linguagens diferentes e com

estruturas institucionais e práticas de trabalho diferentes.

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A pesquisa foi realizada em três etapas, sendo a primeira etapa o levantamento

normativo, sobre o que existiam de normas que regulavam esse quadro de relações entre os

dois sistemas. Um levantamento jurisprudencial, já que uma das demandas que aparecia era

da judicialização. O SUAS estaria sendo judicializado segundo a fala das pessoas e exemplos

do que vinham observando os estudiosos do SUAS. Esses estudiosos, que trabalham com

direitos fundamentais, percebia que o mesmo vinha acontecendo no campo da Saúde, com

demandas por medicamentos, por internação hospitalar, com processos na justiça, chegando a

um ponto de se constituir como uma gestão por parte do poder judiciário, em alguma medida

das atividades desenvolvidas pelo SUS.

O ponto de partida foi a questão: será que está acontecendo uma judicialização

dos direitos socioassistenciais? Então precisava pesquisar a jurisprudência dessa questão.

Entender nas decisões nos tribunais, de justiça, nos tribunais federais o que estava

acontecendo com relação ao direito socioassistencial.

A terceira etapa de pesquisa foram os encontros regionais que foram realizados,

numa metodologia de pesquisa participante, pesquisa ação e que foram organizados em cinco

regiões do país no ano de 2014. Foram agregados gestores, trabalhadores, representantes dos

conselhos profissionais, representantes do judiciário, do Ministério Público, da Defensoria

Pública, funcionários. Foram convidadas muitas pessoas nesse processo com ajuda dos

Ministérios de Desenvolvimento Social e da Justiça, mas a pesquisa não teve recursos para

levar os convidados aos encontros. Os participantes foram com o apoio dos recursos das suas

respectivas instituições. Isso não significou uma adesão representativa em igualdade de

condições, em todo o território do Brasil. Mas, todos os encontros foram realizados com um

público com 70 a 80 pessoas. E numa média de representação significativa dos vários órgãos.

O detalhamento do processo consta do relatório de pesquisa que será lançado no dia 19 de

novembro, em Brasília.

Considerações gerais sobre essas três etapas da Pesquisa. Primeiro sobre o

mapa normativo a conclusão que se chega é que existem muitas normas que regulam essa

relação. Normas produzidas pelo SUAS, existem num volume muito grande. Algumas delas

já contraditórias, pois no processo de dez anos de SUAS, muitas regulações foram feitas e não

houve até agora um processo de “limpeza”, pode-se dizer assim ou uma organização

normativa que facilite a interpretação. Existem resoluções, portarias, decisões, leis que foram

sendo feitas ao longo do tempo e por uma questão de interpretação normativa substituem a

legislação anterior naquilo que lhe cabem, ou seja, revogam. Mas essa quantidade,

proliferação e não limpeza, retirada da qualidade efetiva, gera dificuldade de interpretar.

Por outro lado, existem outras legislações. Existe a Lei Orgânica do Ministério

Público, a Lei Orgânica da Defensoria Pública, as normas que regulam a atividade

profissional do Assistente Social, dos Psicólogos, o decisões dos conselhos profissionais, que

não são normas gerais, são específicas que orientam seus profissionais. Tudo isso em tese,

não tem colisão. Mas, no caso concreto acaba tendo colisão. Uma determinada situação é

regida por uma norma que vem do SUAS, por uma lei que vem do Ministério Público, que

por isso tinha a prerrogativa de fazer a requisição. Mas, de outra parte o profissional se pauta

pela legislação da sua categoria sobre determinada função. Nesse campo, a equipe de pesquisa

percebe que seria necessário um processo diferente de elaboração de normas que afetassem as

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demais áreas do sistema. Um processo que levasse em conta a construção normativa mais

conjunta.

A orientação na Pesquisa é que no momento de discutir a construção de normas

para regular um sistema e que já se pressupõe que do outro lado vai haver relação com outros

setores, se possa construir essas normas de uma forma mais conjunta com os envolvidos para

evitar o grau de dificuldade interpretativa que se tem.

A Profa. Ana Paula destaca que existem linguagens diferentes e lógicas diferentes.

Difícil às vezes interpretar porque se utiliza siglas, nomes conceitos que para uma área tem

um significado e para outra área tem outro significado. É preciso então, unificar linguagens

desde as normas. Principalmente para a ação cotidiana.

Os operadores de cada um dos sistemas – com a heterogeneidade que os

caracteriza – aplicam tais regras a partir de suas respectivas culturas hermenêuticas.

Hermenêutica significa interpretação. Então há uma cultura de interpretação que cada

intérprete carrega. Além da norma a interpretação também segue a cultura daquela respectiva

instituição. Por exemplo, um promotor de justiça que foi trabalhar no Ministério Público e

desde que entrou nessa instituição vai adquirindo a cultura daquela instituição no que se refere

à interpretação das suas funções, aplica as normas de acordo com essa cultura de

interpretação. Ou seja, “olha a norma a partir do seu olhar”, do eu ponto de vista institucional.

O mesmo acontece com o judiciário, acontece também com o SUAS.

Tais práticas produzem efeitos recíprocos em cada um dos Sistemas, e, em

consequência, configuram conflitos de natureza variada.

Na segunda fase foram vistos os dados jurisprudenciais. Em primeiro lugar há

uma grande obscuridade, ausência de dados relativos aos sistemas de informações, de

dados no Brasil no que se refere à produção de jurisprudência. Para pesquisar se entra nos

sites dos tribunais para verificar a jurisprudência do que está publicado e que dizem respeito à

instância de primeiro grau, ou seja, assim que chegam ao tribunal.

Foram pesquisados os tribunais de todos os estados, os tribunais superiores e os

tribunais federais. No entanto, os dados não conseguem ser produzidos nacionalmente, pois

cada um dos tribunais tem um tipo de disponibilidade de dados. Possuem uma forma de

acessar, de catalogar palavras-chaves, que são palavras que se pode pesquisar como, por

exemplo, direito socioassistencial, benefício de prestação continuada, cada tribunal vai

caracterizando o acesso de forma diferenciada. É muito difícil e o dado torna-se obscuro.

Sabe-se que o dado existe, mas a cada tentativa de busca da informação se verificava uma

faceta do dado, produzindo algo que passou a ser característica dessa segunda etapa da

pesquisa que é a ausência da possibilidade de universalizar efetivamente uma informação.

O dado não era claro no sentido da disponibilidade e são dados públicos, disponíveis ao povo

em geral.

Outra questão importante é que essa obscuridade também está relacionada ao

conceito do direito à Assistência Social dentro do mundo do Direito. Esse direito que o

judiciário está acostumado a lidar, o ministério público está acostumado a lidar, enfim, a

informação sobre ele já está de certa forma sistematizada, porque faz parte da incorporação,

do reconhecimento daquele direito.

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Já o direito socioassistencial, não apenas tem um nome diverso, como tem

conceitos diversos. Por exemplo, o Benefício de Prestação continuada, BPC para quem é da

assistência é um nome fácil de entender. Mas, no judiciário se encontra referências ao mesmo

beneficio como: beneficio LOAS, o LOAS, o BPC, o benefício da Assistência. Tudo isso está

nas decisões, nos julgamentos. Então no momento de construir um dado que possa ser

generalizado, se verifica que o dado não pode ser confiável. Não apenas por não estar

disponível, mas o conceito sobre o dado não estar apropriado pelas pessoas.

Então vai se chegando a conclusão, diz a Profa. Ana Paula, que o direito

socioassistencial ainda é um direito invisível dentro do sistema de justiça. Além das

informações não disponíveis, ainda é um direito questionável, ainda é um direito com várias

definições, com vários conceitos, com vários preconceitos. Ainda é um direito

“invisibilizado”.

A partir dos dados obtidos, a judicialização relaciona-se ao Benefício de

Prestação Continuada (BPC), cuja demanda transforma-se em processo judicial.

Para o direito ao Benefício de Prestação Continuada há previsão do requisito de ¼

do salário mínimo de renda per capta familiar. Então o judiciário entende que isso já está

ultrapassado, que a sociedade mudou, que o Brasil mudou e que existem outras leis

posteriores que utilizam outro critério de renda. Essas outras leis, aqui a Profa. refere-se ao

quadro apresentado anteriormente sobre proliferação normativa, já mencionam outro valor per

capta para referência. Para além disso, o judiciário entende que para muitas decisões é preciso

ver o caso concreto. O judiciário entende que não é a renda per capta que vai definir a

necessidade e o direito do sujeito e sim as condições em que ele vive, as condições familiares,

enfim o contexto em que o sujeito, vive.

Quando a pessoa tem negado seu benefício no INSS (Instituto Nacional de Seguro

Social) vai ao judiciário através de um advogado ou defensor público e tem concedido o

benefício. Esse caminho passou a ser um caminho “normalizado” dentro da lógica geral do

sistema. Um caminho que gera muito custo, pois todo esse processo de judicialização, não

atrasa a fila de concessão do benefício. Pois, na medida em que a pessoa ingressa em juízo

pedindo o benefício, mesmo que se demore um ano, dois anos para receber a decisão judicial,

a pessoa vai receber os benefícios com a data retroativa ao ingresso na justiça. O custo do

pagamento do benefício é o mesmo, mas o custo de mover essa engrenagem, do INSS, da

Defensoria ou do advogado que ingressa, do próprio beneficiário que contratou um advogado

e paga por isso, do acesso à justiça diferenciado, pois uns chegam à justiça, vão buscar e

outros não vão buscar e ficam sem o benefício. Então uns tem o direito e outros não tem o

direito e estão na mesma situação. Além do custo da estrutura do judiciário que no caso é da

justiça federal.

A Profa. Ana Paula. Apresentou o quadro dos tipos de concessão5. Esse quadro

mostra um crescimento na concessão do BPC via judicial. Observa-se que no ano de 2011,

11,5% dos benefícios era concedido via judicial. Em 2012, era 13%. Em 2013 passou para

14,5% e até outubro de 2014 chegou a 16,5%. Há uma tendência de crescimento da

judicialização da concessão do BPC. Isso corresponde à hipótese inicial de pesquisa e que

5 A apresentação feita pela Profa. Ana Paula Motta Costa está disponível na íntegra no Anexo I desta

sistematização.

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pode levar a um problema como existe no SUAS. Ou seja, as pessoas passam a fazer esse

percurso, pois sabem que esse é o percurso que efetivamente vai garantir o acesso ao

benefício. É uma tendência, não se está afirmando que é uma realidade alarmante como a do

SUAS hoje.

A Profa. Ana Paula passou aos pontos apresentados pela pesquisa, começando

pela forma de como é tratado o mínimo existencial.

A condição humana no que se refere à condição material de vida é algo que não é

estanque num dado momento histórico. Há sociedades diferentes, nesse mesmo momento em

que a gente vive em que o conceito de dignidade é diferente. Na Suécia o conceito é diferente

do conceito no Brasil, que é diferente na África, diferente em cada lugar. Com relação ao

tempo, no Brasil mesmo já mudou. O que é o direito a uma casa digna, a alimentação digna, a

escola digna. Então o que é esse “mínimo existencial” que a sociedade brasileira entende que

todos os cidadãos devem ter. Por trás da divergência de entendimento sobre o BPC, todas as

análises qualitativas de jurisprudência apontam para o debate que de fato existe: qual

concepção se tem desse mínimo existencial, ou seja, que concepção se espera na sociedade

para conviver todos os brasileiros. Há visões que entendem que deve ser menos, há visões que

entendem que deve ser mais, há visões que entendem que deve ser o limite do Estado e não da

pessoa. O INSS não tem condições de pagar mais então é por isso que não se paga, então não

se trata de avaliar o quanto a pessoa precisa, mas a disponibilidade do Estado, na reserva do

possível do ponto de vista do Estado. Várias discussões nos processos giram em torno desse

conceito e que precisa ser definido, no sentido de ser pactuado, através de uma legislação,

através de uma orientação procedimento de acordo para o INSS. Procedimentos que

trouxessem ganho no sentido de cidadania, no sentido de mínimo existencial geral.

Por ouro lado, sendo o BPC, a demanda de judicialização, se chega à conclusão

que todas as outras demandas, os outros direitos socioassistenciais estão sendo resolvidos de

outra forma que para os operadores do SUAS. Em regra essas outras formas são e nominadas

por judicialização, mas se tratam muitas vezes de demandas individuais, que chegam ao MP, a

Defensoria, ao judiciário, às vezes dentro de um processo, por exemplo, de violência

doméstica e envolve a demanda. Às vezes fora de um processo e que não são judicializadas

em si. Ou seja, um processo de partes, em que existe a Prefeitura que se manifesta por meio

de seu procurador, tem o MP demandando a oferta de um determinado direito. Isso existe,

mas em um número muito restrito e no nível de instância de segundo grau, mais restrito ainda.

O que existe é a tratativa, individualizada e demandada administrativamente ao SUAS.

Isso remete a um conceito que pode ser pior do que a judicialização.

O que a Profa. Ana Paula quer dizer com isso? Num processo judicial o Direito

não é neutro, um processo judicial não é necessariamente democrático, ele é um processo de

partes. Em que, por exemplo, a Prefeitura afirma que não tem condições de atender as

demandas, as minhas condições dependem de tantos anos, de certo tempo, se negocia e se

chega ao final das contas, e num resultado e o processo termina com a participação da outra

parte.

O processo administrativo extrajudicial é unilateral. Existe a demanda por parte

do MP, por parte da Defensoria, por parte do Judiciário, para o outro lado, no caso é o SUAS,

a tarefa de prestar esse serviço. Às vezes se direciona para o profissional e não para o órgão

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gestor, não o gestor público, não para o prefeito. Isso gera o tensionamento que está no fato

de entender que não se trata de judicialização, mas do uso administrativo das requisições.

Esse então é o maior momento, a maior situação de conflito a tratativa entre a

administrativa extrajudicial, entre os órgãos de justiça e o SUAS.

Para ilustrar a situação dos direitos individualizados, a ser apresentada a Profa.

Ana Paula usou a figura “do cardume e do peixinho”: o peixinho aparece sozinho nadando

perto do MP, por trás do peixinho está o cardume inteiro. A solução para o problema daquele

peixinho pressupõe uma compreensão de onde ele está vindo, pressupõe uma compreensão,

portanto, de território, compreendendo o que está gerando o problema daquele peixinho que

está vindo para demandar no MP, na Defensoria. Quando esse peixinho chega com sua

demanda ao MP, provavelmente, já foi atendido no seu território e foi negado seu direito. Ou

então aprendeu o caminho das pedras, mais curto. Quando isso volta para o território, tende a

entrar em outro lugar da fila, diferente do que foi estabelecido pelos critérios do SUAS. Além

de atender a uma parte do problema e não dar conta do conjunto do problema que está no

território, pois o problema que está lá envolve todo o cardume, o SUAS passa a atender

demandas que não são da leitura de território, da leitura de diagnóstico da realidade, do

problema do “cardume” todo em todas as suas relações e sim de cada “peixinho”

individualmente.

Quais são essas requisições. Tipificar essas requisições é uma forma de organizar

e entender como vai se resolver problema. São os tipos que apareceu na maioria das vezes.

Não se exclui a possibilidade de existência de outros tipos ou que sejam tratadas por outros

nomes.

Requisições de perícia. Perícia é uma prova judicial ou manifestação técnica de

auxílio ao juiz. Quando uma perícia é solicitada se solicita de alguém de confiança do juiz. Ou

o juiz tem profissionais para fazer isso na sua estrutura, na área médica, por exemplo, ou o

juiz tem um acordo, convênio, uma parceria com instituição que fornece os peritos. Mas o juiz

não requisita, em regra, de outro órgão que não tenha a disponibilização de perícia para

atender a suas necessidades.

No caso do SUAS, sim. Nos casos referidos nesse seminário, de guardas, de

tutela, de curatela, de outras questões relacionadas à violência e questões relacionadas à

avaliação de benefícios variados como os do BPC, que também se referem à justiça federal, se

encontram várias demandas que estão relacionadas à perícia, no sentido do conceito geral:

auxílio à decisão do juiz.

Outra parcela de requisições está relacionada ao Disque 100. Requisições

relacionadas à verificação da situação. Porque o SUAS, como mostrou a Secretária Ieda,

está ramificado em todo o país. Tem CRAS em 99,8% dos municípios brasileiros. Em todo

lugar tem alguém perto da comunidade. Isso é muito bom para o país, mas, ao mesmo

tempo, informa a todos que quando for preciso naquele lugar, àquela comunidade pode

contar com alguém do SUAS que está lá.

É possível que haja necessidade de se verificar quais os fatos, que situações são

passíveis de verificação por parte dos profissionais do SUAS e quais são as situações que não

podem ser feitas, por não ter a estrutura protetiva inclusive e segurança para isso.

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Ao longo da pesquisa foram várias as informações relacionando a impossibilidade

dessa tarefa em alguns casos.

Requisições de atendimentos em serviços específicos. Trata-se da requisição por

atender, por exemplo, no PAIF uma família e a partir desse atendimento informar ao

judiciário que decidirá se desliga ou não essa família. Chega a ser uma leitura técnica do que é

necessário para o sujeito, de qual trabalho deve ser feito e de como aquele sujeito deve ser

desligado. Entende-se que não é assim que deve ocorrer. Uma coisa é a demanda por inclusão

dentro de um serviço que pertence ao SUAS. Cabe a avaliação da gestão do SUAS, a

compreensão de como vai atender a família em uma dada circunstância. Outra coisa é a

definição por parte do sistema de justiça de como deve ser esse atendimento.

Por último, requisições sobre informações de atendimentos que estão sendo

realizados. Esse ponto embora seja menos problemático, envolve um componente que é o

relatório, como esse relatório deve ser feito, que informações devem conter. Durante a

pesquisa foram feitas várias sugestões sobre como regular essa elaboração de relatórios, sobre

o que deve constar de um relatório técnico que informa sobre quem está sob o atendimento

técnico. O relatório técnico não pode informar questões que fazem parte do pacto do

atendimento sigiloso daquela pessoa ou família. Devem ser informações do atendimento que

está sendo prestado, mas não da intimidade, da realidade ou da situação específica da família

ou o sujeito vive. De acordo com a leitura feita e que consta da pesquisa, há possibilidades

dessa demanda não ter incompatibilidade tão grande como os dois primeiros pontos, com os

dois tipos de requisições. Mas, é preciso regular o que deve constar esse relatório.

Sobre os problemas decorrentes dessas requisições muito já foi falado e que no

momento será resumido. Existe a intervenção direta na organização do trabalho do

SUAS, ou seja, muda a ordem da fila. Em alguns casos, é bastante caótico pois ignora o

processo de leitura de território, priorização e definição de critérios do SUAS.

Ressalva-se que não se trata de uma função pericial ou de leitura da realidade do

sujeito para fins de controle sobre o sujeito. Na criminologia, existem os controles formais e

os controles informais da sociedade. O controle formal é Direito Penal, mas o controle

informal está em vários níveis e em várias instituições. Não quer dizer que não exista controle

social e informal no SUAS, assim como existe na escola, existe na família. Mas, a tendência

em si, em vez de uma função protetiva, garantidora de direitos, o SUAS passa a suprir uma

função fiscalizadora do comportamento das pessoas. A sua função de controle passa a ser

maior e o que se tem é uma desvirtuação da sua finalidade protetiva.

A pesquisa constatou limites que precisam ser estabelecidos quanto às

atividades que entra em conflito com as atribuições primordiais do SUAS. Ou seja,

acolhimento do atendimento e proteção dos usuários. Foi escrito sobre esse ponto na

pesquisa, da necessidade de se estabelecer alguns limites para esse processo, sob pena do

SUAS passar a ter uma outra finalidade que não a de direito de proteção.

Foram apresentadas então, algumas propostas que foram organizadas em um

quadro em que estão referenciadas todas as regiões de onde surgiram essas propostas e que

foram sistematizadas nos relatórios regionais. Não são propostas da equipe coordenadora da

pesquisa, são propostas que vieram dos encontros regionais.

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A primeira é a de estratégias envolvendo capacitação e unificação de

linguagem. Muitas propostas se referem à elaboração de cartilhas em comum, realização de

seminários em comum, processo de capacitação das duas áreas sobre as tarefas de cada

sistema, formação do SUAS sobre as funções e competências do sistema de justiça, formação

do sistema de justiça sobre o SUAS, formações conjuntas, produção de material conjunto,

divulgar para o usuário o que faz cada um dos sistemas. Essa é uma linha de proposta bastante

importante, significativa numericamente e que aponta para a conclusão de que é preciso

unificar a linguagem e avançar no conhecimento comum, já que está sendo tratado um

direito em comum.

A segunda proposta é a produção de material didático dirigido aos operadores

dos dois sistemas. Em todos os encontros havia representantes dos conselhos profissionais e

dos trabalhadores e nesse ponto é necessários diferenciar duas questões. Uma coisa é a

necessidade de equipe do poder judiciário, no MP e na DP. O CNJ já tem o Provimento 43 em

que diz da necessidade no sistema judiciário ter equipes próprias. Acrescente-se a isso, além

da equipe própria é preciso definir melhor quais das atribuições caberão efetivamente à equipe

própria. Porque essa equipe própria continua não capilarizada no território. Esteve presente na

coleta de dados a informação da existência de equipes que não vão ao território. Por exemplo,

atender, fazer parecer, fazer perícia. Porque a Assistente Social do SUAS conhece melhor,

sabe mais, conhece a realidade, pois ela trabalha na região. Já a equipe do judiciário, do MP

está centralizada. Então é preciso definir melhor as atribuições.

Para que haja uma interlocução com mais qualidade com o sistema de justiça,

os trabalhadores do SUAS, precisam ter mais segurança de trabalho. A estrutura precária

nas condições de trabalho no sentido de contratos de trabalho também é um dificultador.

Quando se fala de profissionais frágeis que não tem contrato de trabalho definido, que estão

sujeitos a uma vulnerabilidade muito grande em relação às condições de trabalho, isso se

torna um agravante no contexto da relação entre os dois sistemas.

Qualificação da gestão do SUAS. Os gestores foram várias vezes apontados

como o grande problema. O gestor é aquele que não consegue, às vezes por sua qualificação

política, mas não qualificação técnica, entender as dimensões das suas atribuições. Ou ao

contrário, por sua qualificação técnica, mas não qualificação política e que não consegue

construir uma rede de relações entre instituições. Então o gestor que deveria assumir o papel

de “para-raios” em relação às demandas vindas de outras instituições, definindo o que são

competências ou não do SUAS, muitas vezes não consegue fazê-lo. Esse também é um fator

agravante, no contexto atual que estamos vivendo no país, mais ainda. Então pode acontecer

de o Prefeito não dar o suporte necessário ao gestor para que ele haja de acordo com a

orientação técnica que ele precisa ter de dentro da instituição. Ele precisa atender a demanda,

que ganha uma conotação de risco à gestão do prefeito, ganha uma conotação de risco ao

próprio Secretário. Toma-se outro corpo, que não é um corpo técnico de ver se era

competência ou não era competência atender aquela demanda.

Articulação entre os sistemas, estratégias específicas de articulação entre os

sistemas. A pesquisa apontou a possibilidade de indução à articulação, indução ao diálogo.

Muitas sugestões vinham do seguinte ponto de vista: é preciso de uma normativa nacional que

defina que tem que se articular, então outra pessoa apontava outro ponto de vista: não adianta

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vir com uma ordem nacional porque as pessoas que estão “aqui” precisam ter essa

compreensão. De um lado se tem as propostas de que é preciso trabalhar a compreensão das

pessoas. Do outro lado estão outras propostas de que é necessário induzir o diálogo. A relação

dessas propostas parece estar apontando um caminho.

Estratégias de melhorar o trabalho entre os dois sistemas a serem realizadas

em nível nacional. Trata-se do que tem que ser feito nacionalmente para que chegue aos

estados com orientações mais claras.

Propostas sobre o BPC, no sentido de unificação desses critérios. E também

ações no sentido da coletivização desses direitos. Para os pesquisadores esse último é um dos

pontos principais. Está sendo tratado de um direito que precisa ser entendido de forma

coletiva, além de individual. É preciso uma indução, um fortalecimento da leitura de

coletivização, da compreensão de que se trata de um “cardume” e não de um “peixe”

individual.

Para a equipe de pesquisa o Problema de Fundo é o de encontro no tempo

contemporâneo de tradições diferentes, lógica de funcionamento diferente, como já foi

mencionado. E a busca de superação de dificuldades que são inerentes a esse processo

não se resume a pesquisa. É algo muito mais amplo. Mas, a pesquisa pode apontar

caminhos, principalmente os caminhos construídos com as pessoas que aconteceram nos

encontros regionais.

Os encontros regionais em si, depois de cada um deles houve vários sinais disso e

pessoas que entraram em contato, foram produtivos no sentido da possibilidade de apresentar

alguns caminhos. Por exemplo, a necessidade de construção de normativas que induzam o

diálogo. A proposição é a criação de comissões gestoras de direitos.

CRIAÇÃO, POR MEIO DE NORMATIVA CONJUNTA, DE “COMISSÕES

GESTORES DE DIREITOS ENTRE OS SISTEMAS”, NOS TRÊS NÍVEIS:

MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL.

Já existe a CIB, a CIT, mas que se tenham uma comissão municipal, outra

estadual e nacional, envolvendo organismos dos dois sistemas definidos a partir dos seus

representantes, promotores, gestores, trabalhadores enfim, uma comissão de trabalho

conjunto que vai num primeiro momento ter a tarefa prevista numa normativa de diagnóstico

do território, de planejamento para superar as dificuldades que esse território tem e de fluxo

para atender as demandas. Na leitura da equipe de pesquisa esse pode ser o caminho menos

autoritário, no sentido de uma definição de que não sirva para todos ao mesmo tempo, mas

que tenha a realidade local e também induza ao diálogo.

Ritos de procedimentos que ajudem também no diálogo. Por exemplo, na área

da infância juventude, com controversas possibilidades, as audiências concentradas. Uma

exigência da legislação que permite que se realize o encontro entre juiz, promotor, defensor,

pessoas que trabalham com os adolescentes, crianças e que possibilita uma conversa. É uma

previsão normativa que o juiz precisa fazer. Não quer dizer que o conteúdo da audiência vai

ser sempre bom, mas o procedimento é uma regra que precisa ser seguida.

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RITOS DE PROCEDIMENTOS PARA VIABILIZAR DIREITOS SOCIAIS

QUE INDUZAM O PROCESSO DE DIÁLOGO

Incentivos ao tratamento coletivo. Existem algumas experiências especialmente

de Ministério Público, Tem um MP no Rio Grande do Norte que possui uma Promotoria

especializada em direitos coletivos da Assistência Social, trabalha com demandas coletivas.

INCENTIVOS AO TRATAMENTO COLETIVO DE DIREITOS COMO

CRIAÇÃO DE PROMOTORIAS ESPECIALIZADAS, VARAS

ESPECIALIZADAS, VALORAÇÃO DE TRABALHOS ESPECÍFICOS

REALIZADOS NESSA DIREÇÃO.

Existem também na Pesquisa, vários mapeamentos de projetos, cartilhas,

inciativa, banco de dados de boas práticas em várias cidades e várias informações publicadas

no Brasil. Em Minas Gerais existe um trabalho bem importante do Ministério Público

Estadual. Portanto, é possível, tanto no nível do Ministério Público quanto no nível do

judiciário, orientações no sentido da coletivização de direitos. Ou seja, o tratamento jurídico

do direito socioassistencial ser realizado prioritariamente a partir de direitos coletivos e

não a partir de demandas individuais.

REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIAS COLETIVAS, FLUXOS DE

PROCEDIMENTOS ENTRE OS SISTEMAS, DEFINIÇÕES MAIS

PRECISAS DE COMPETÊNCIAS, CAPACITAÇÕES DE AMBOS OS

SISTEMAS, ENTRE OUTROS.

O Estado democrático de Direito é orientador da Constituição Federal, que se

consubstancia também no direito a assistência social. De outra parte o Estado democrático de

Direito é um Estado que precisa limitar poderes. O poder não é ilimitado quando a gente tem

democracia. A gente tem de conversar a partir dos limites de poderes que cada um tem.

Parece que esse é o desafio do fluxo entre os poderes, divisão de poderes, o respeito às

condições de trabalho, aos objetivos de cada um, às suas estruturas institucionais Enfim, é

preciso construir em conjunto, limites para essa intervenção.

A Profa. Ana Paula concluiu sua apresentação agradecendo aos presentes.

A Sra. Tanany Reis destacou que foram muitas questões importantes sobre as

quais é preciso não apenas pensar, mas trabalhar.

Foi decidido pela Mesa que os questionamentos ficariam para o debate após a

apresentação do terceiro painel e as respostas em bloco.

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3º PAINEL

Relatoria e Sistematização

Painelista

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

O Dr. Marco Aurélio iniciou sua fala agradecendo a todas/os que juntos

construíram esse momento. Parabenizando a Profa. Ana Paula se referiu à velocidade de fala e

eloquência da apresentação da pesquisa. Enfatizou que os representantes do MP presentes se

sentem contemplados com as observações e críticas apresentadas, motivo para agradecimento.

Agradeceu também a presença da Profa. Roberta Uchôa, que participa de outro trabalho com

o MP.

No momento o Dr. Marco Aurélio, destacou que na fala da Secretária Nacional de

Assistência Social, que é cearense, se lembrou das palavras do grande poeta Patativa do

Assaré, que dizia “Ser poeta é ter sentimento. Sentir da dor um espinho. É ter tudo no

coração e viver sempre sozinho”. Palavra de uma pessoa que era analfabeta, mas que

conseguiu demonstrar com imensa clareza, a certeza de que as pessoas precisam sonhar. E nas

palavras da Dra. Ieda Castro o Dr. Marco Aurélio afirmou que via bem que não se pode

perder essa capacidade. É preciso mudar e se apropriar dos conflitos. O que ocorre atualmente

é que os modelos de intervenção existentes, no MP e sistema de justiça, são modelos que de

certa forma, afasta os atores do conflito e da resolução desse conflito. O sistema de justiça

tem a capacidade de retirar aqueles que são os verdadeiros donos do problema e transferir

para um terceiro que passa, esse sim, a ser dono do problema, a decidir, a mandar e “ai

daquele que não obedecer”. Trata-se de trazer para discussão que o sistema de justiça é o

interessado no problema. Muitas vezes o MP não é.

Mas é preciso ter cuidado para o Sistema de Justiça e MP não agir de maneira

tutelar sempre. Sempre não pode ser a regra. Deve-se agir no intuito da emancipação das

pessoas.

Segundo o Promotor, é realmente uma mudança de modelos e revela estar muito

contente por compartilhar ideias. Foi dito a ele, por um técnico de informática da Secretaria

Nacional, um japonês, que o “conhecimento é a única coisa que dividindo cresce”. Então o

evento proporcionou o momento de compartilhar conhecimentos e que esse conhecimento

possa crescer.

Sabe-se que a dinâmica ainda é essa e em suas palavras o Sistema de Justiça é

“assaltante dos conflitos alheios”. Isso não é novidade, alguém disse isso. O sistema de

justiça, o MP “não está perguntando a sociedade se ela se sente contemplada”. Não está sendo

dada a sociedade a oportunidade de responder se ela gostaria de falar, sobre a resolução que

está sendo encaminhada. Essa referência foi feita tendo em vista as questões dirigidas a Mesa.

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Nesse ponto o Dr. Marco Aurélio iniciou a leituras das questões dirigidas a ele e

que para ele retrata a leitura que estão fazendo do trabalho do MP e do judiciário.

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DEBATE

As perguntas foram respondidas em bloco pelo Procurador, Dr. Marco Aurélio.

Pergunta: - É prática comum do MP ameaçar profissionais públicos (servidores públicos),

durante o seu exercício profissional e que não possuem nenhum vínculo trabalhista com a

instituição MP? - É prática comum do MP orientar usuários do MP e SUAS em comum, para que estes

tenham acesso a relatórios da equipe técnica dos CREAS/CRAS, oferecendo-lhe cópias dos

documentos ou realizando cobranças nos serviços do SUAS?

Identificação (nome): Luciana

Entidade/órgão: CREAS Pergunta dirigida ao palestrante: Marco Aurélio

Como as perguntas foram entregues antes do Painel, a fala do promotor foi feita

com base já nas questões colocadas.

É importante reconhecer que é preciso mudar, pois essa intervenção dos

processos, essa intervenção que às vezes o servidor faz pelo promotor, todas são movidas pela

dinâmica que o MP e o sistema judiciário são os donos dos conflitos alheios.

Pergunta: Gostaria de saber, por que o MP e o TJ exigem tanto dos profissionais das casas

de acolhimento, se eles próprios não têm profissionais suficientes em seu quadro, pois

acolhem várias crianças e adolescentes sem o mínimo diagnóstico inicial e também delega ao

Conselho Tutelar essa tarefa, pois segundo o Estatuto, o acolhimento pelo Conselho deveria

ser excepcional e não regra como vem acontecendo. Peço que expliquem a inversão desses

papéis.

Identificação (nome): Luana Silva

Entidade/órgão: Governo do Estado Pergunta dirigida ao palestrante: MP

Em relação a essa questão, coloca o Dr. Marco Aurélio, a sociedade tem

apresentado quatro formas de soluções para os conflitos, especialmente à justiça. Diante de

um conflito, primeiro: mata, ou seja, pena de morte; segundo: prende. Não mata, mas

prende. Prisão perpétua; não a prisão é desumana: interna. Após a terceira intervenção

equivocada é que vai pensar então em trabalhar a qualidade da liberdade. E é isso que é

preciso pensar. Diante de uma situação, quando o sistema de justiça “assalta” o conflito de

outros, se toma de imediato a decisão de definir os encaminhamentos. Essa é a leitura que a

plenária está fazendo da justiça.

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Pergunta: Dr. Marco Aurélio, como o MPPE poderia intervir junto ao TJPE para viabilizar

a convocação dos psicólogos e assistentes sociais aprovados no concurso público de 2011,

para formar as equipes multiprofissionais no interior do Estado?

Identificação (nome): Mônica Souza e Cruz Entidade/órgão: TJPE - Petrolina Pergunta dirigida ao palestrante: Dr. Marco Aurélio

Essa questão pode ser colocada para quem é de direito apurar. Por que o tribunal

de justiça ainda não convocou os aprovados. O Dr. Marco Aurélio pediu permissão para fazer

os encaminhamentos.

Todas as informações são para utilizar dentro do projeto, mas nada impede que se

façam os encaminhamentos a partir desse evento.

Pergunta: A equipe técnica dos CREAS DEVE responder ou efetivar a denúncia do MP

quando: retirar agressor da residência junto a Polícia Militar? Impor a família a receber um

membro pelo qual não há vínculos afetivos? Comparecer a reuniões ditas “mediações” com

pessoa do agressor, vítima e serviços intersetoriais (SUAS e SUS)?

Identificação (nome): Luciana Entidade/órgão: CREAS

Pergunta dirigida ao palestrante: Marco Aurélio

Sobre esse assunto já foi falado, mas o Dr. Marco Aurélio fez algumas

considerações.

A relação entre os servidores públicos é uma relação extremamente árida.

Ninguém utiliza o telefone. E-mail parece que é proibido, sequer (essa a é a fala do Dr.

Fenelon) se tem o número do telefone uns dos outros, porque o telefone, ninguém utiliza. O

MP já chegou a fazer Termo de Cooperação Técnica com outros Ministérios Públicos,

objetivando evitar a burocracia, ou seja, não utilização de ofícios. Segundo o Promotor,

parece que é proibido ter algum contato por telefone, se apresentar, pedir algumas

informações e evitar a instauração de um procedimento.

Existem vários desafios. Não estão sendo garantidos resultados a não ser muito

esforço e trabalho.

Nesse momento o Dr. Marco Aurélio passou a palavra ao Dr. Fernando Lapa para

que este fizesse suas considerações.

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CONSIDERAÇÕES DOS MEMBROS DA MESA

Dr. Fernando Lapa Representante da OAB

Cumprimentando os componentes da Mesa nas pessoas do Dr. Marco Aurélio,

companheiro e amigo Dr. Fenelon, Secretário Isaltino e todas as pessoas presentes, em nome

da instituição que representa, com muito orgulho, declarou que a Ordem dos Advogados do

Brasil, seccional pernambucana, se sente prazerosamente honrada em contemplar um

encontro dessa magnitude, onde se discute os problemas que afligem o dia a dia da sociedade

pernambucana, notadamente da parte da sociedade mais necessitada.

Espera-se que as discussões sobre os direitos possam contribuir para minimizar as

questões que afligem a nossa sociedade. Dirigindo-se ao Dr. Marco Aurélio, o Dr. Fernando

Lapa, em nome do Presidente Pedro Henrique, traz as congratulações para todos que direta ou

indiretamente participaram da organização do encontro e com muito mais ênfase a todos que

estavam presentes. Finalizou o Dr. Fernando Lapa agradecendo então a todos.

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

O compromisso dos envolvidos na organização do Seminário, nas fases regionais,

contar com a OAB, que tem uma divisão, as seccionais. Mas, será utilizado esse canal com o

Dr. Fernando Lapa, para manter a relação na ponta.

O Dr. Marco Aurélio aproveitou para lembrar o tempo para perguntas dirigidas a

Profa. Ana Paula e passou a palavra ao Secretário Estadual.

Dr. Isaltino Nascimento Secretário Estadual de Desenvolvimento Social Criança e Juventude.

O Secretário iniciou suas considerações se referindo a um evento que participou

no mesmo dia, relacionado à celebração de um programa muito exitoso chamado

“Oportunidades”, que atua com egressos do sistema socioeducativo. Foi uma celebração com

parceiros públicos e privados. Esse programa tem apresentado resultados muito bons.

O Dr. Isaltino Nascimento apresentou ao Dr. Marco Aurélio, como sugestão de

que todos os participantes das Mesas do dia se debrucem sobre as sugestões/recomendações,

independente da atividade que pode acontecer, centralizada ou regionalmente, para seguir as

pistas que foram dadas no encontro. São caminhos estabelecidos a partir desse momento.

O Secretário Estadual parabenizou o Promotor por ter provocado o debate com o

Ministério Público e sistema de justiça do Estado e se colocou a disposição para trilhar de

forma articulada esse caminho. Declarou estar se sentindo feliz de ser coparticipe desse

processo. O compromisso do Governo Paulo Câmara é fazer melhor, de forma mais eficaz

possível para que se possa construir caminhos e avançar nesse objetivo. O Seminário teve

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pleno êxito por aquilo que foi construído como ideia original, de abordar e tratar das questões

e trazendo também a contribuição do governo federal e na pesquisa apresentada.

O Dr. Marco Aurélio, coordenando os trabalhos, pediu para retornar à composição

da Mesa, a Dra. Ana Rita Suassuna e a Dra. Ana Paula Motta Costa, as representantes dos

Conselhos Regionais de Psicologia e de Serviços Social e a Dra. Ieda Castro.

Segundo o Dr. Marco Aurélio, o Dr. Fenelon, foi Promotor Geral e o colocou

como coordenador e isso foi uma coisa boa, “o bom mesmo é estar na pungagem do conflito

alheio”. É uma oportunidade de colaborar para construção da sociedade pernambucana, para

reduzir os seus conflitos e, como diz o professor gaúcho, Solon Viola, direitos humanos é a

parte do Direito que trabalha para reduzir a dor do ser humano. Uma forma muito bonita essa

descrição, essa percepção do conflito humano.

Apalavra então foi passada ao Dr. Aguinaldo Fenelon.

Dr. Aguinaldo Fenelon de Barros Promotor de Justiça e Secretário Geral do MPPE

Saudando a todas as pessoas presentes, o Dr. Fenelon afirmou que seria breve,

mas deixaria uma proposta. Cumprimentou a todos os membros da Mesa e registrou a

presença do Coordenador da Saúde e no próximo evento o Dr. Maviael que também está

presente. Registrou ainda a presença da Dra. Audilene Cabral.

Foram ouvidas as palestras sobre esse entrave que existe muitas vezes nas

requisições das autoridades do MP e judiciário. Foi possível ouvir um comentário de um

prefeito que disse a um colega, numa sexta feira, à tarde, com uma requisição, determinando

que em um prazo de 24 horas, fosse determinado ao seu setor de Assistência Social fazer uma

perícia. É possível, com esse exemplo, constatar como as “coisas estão soltas”. Não se trata de

lamentar, mas dar uma sugestão para sair do seminário com algo encaminhado.

O Dr. Fenelon, lembrou que teve a honra de ser o Procurador Geral do Ministério

Público de Pernambuco e foi possível aprender muito. É possível aprender uns com os outros.

Há quatro anos, logo no inicio do exercício do cargo, aconteceu uma reunião com

cerca de trinta autoridades numa grande mesa, sendo um dos assuntos a ser tratado, a

violência em João Pessoa, Paraíba, com altos números de homicídios. Logo que começou a

falar perguntou quem dos presentes possuía o número de telefone do outro. Somente um

secretário possuía o número de telefone do procurador. Ninguém tinha o número de telefone

do outro. Pensa-se então, como se quer combater o crime, construir uma sociedade melhor se

não há diálogo. Enquanto isso, os bandidos proibidos, dialogam, sentam no chão, não tem

vaidades e está ganhando para a justiça. Por que os membros da justiça, MP são muito

vaidosos.

Segundo o Dr. Aguinaldo Fenelon, é preciso acabar com essa cultura de um poder

ser maior do que outro. “uma requisição do judiciário”, todo mundo treme, da mesma forma

para cumprir o prazo da justiça. Como se trabalhar com o ser humano tivesse prazo. É preciso

trabalhar a sensibilidade dos membros, colegas do judiciário de uma forma geral. É

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necessário entender que trabalhar com o ser humano, não pode ser coisa determinada. Muitas

vezes tirar as pessoas de atividade que é relevante por essas determinações.

No caso da violência, que é um problema gravíssimo na sociedade, trata-se de um

trabalho com resultado voltado a uma sociedade invisível que hoje provoca medo.

É necessário dialogar com os modelos. Que esse seminário seja um forte pontapé

para sair ao final com uma proposta de uma reunião com o Presidente do Tribunal, uma

reunião com o Procurador Geral, para conversar com os promotores.

REALIZAR REUNIÃO COM O PRESIDENTE DO TRIBUNAL, UMA

REUNIÃO COM O PROCURADOR GERAL, PARA CONVERSAR COM

OS PROMOTORES.

Quando tiver um evento na Escola Superior do Ministério Público, colocar o tema

na pauta, para tratar não do promotor e não para falar do judiciário, mas para dizer que é

possível construir forma de trabalho diferente dialogando.

INCLUIR O TEMA EM EVENTOS DA ESCOLA SUPERIOR DO

MINISTÉRIO PÚBLICO.

Não tem autoridade maior do que outra nesse país, pois uma autoridade só é

grande dependendo do momento. Por exemplo, se o promotor denuncia alguém, o juiz

sentenciou, mandou prender, seja quem for, quem é que vai cumprir a ordem judicial? O

soldado. Nesse momento, o juiz sem o soldado é alguma coisa? Então as pessoas precisam ter

essa compreensão. Pode-se dizer, as pessoas presentes nessa plenária, que não é funcionário,

mas é tão importante quanto um promotor, é tão importante quanto um juiz.

O Dr. Fenelon dirigindo-se ao Dr. Marcos Aurélio, afirmou que gostaria de ter

outra oportunidade e preparar a fala, pois o tempo é curto, para conversar com as pessoas da

Assistência Social, pois são quem realmente entendem do assunto. Como Secretário Geral do

Ministério Público e Promotor de Justiça da Vara de Família, o Dr. Fenelon enfatizou ser

sensível ao problema e acredita que há solução. Não é hora para crítica, não e hora para

encontrar o errado, é hora de encontrar a solução. E como se encontra a solução? Dialogando,

conversando. E qual o caminho para a conversa? Aproximação. No campo do judiciário, as

pessoas são muito travadas, muitas vezes não se cumprimenta com um bom dia. São pessoas

com muita vaidade no seu interior e deixa a vaidade tomar conta. É preciso quebrar isso. É

possível fazer mais entendendo quais são as deficiências e procurando completar com a

eficiência do outro. Atualmente pode existir um juiz ou outro, ou um promotor que não

representam a instituição. Representam uma posição de um grupo ou de alguns isolados.

Como se quebra essa barreira? Com diálogo.

Esse diálogo pode ser “puxado” do poder judiciário, num encontro, um evento

com representante da Secretaria. O diálogo pode ser “puxado” com o Ministério Público, com

a Ordem dos Advogados, que tem um papel relevante nesse país, pode ainda ser puxado com

a Defensoria Pública. É preciso sentar, com pouca gente, com os representantes de cada setor

e encontrar um caminho. O que não pode é continuar com hoje que com uma “canetada”

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decidir a vida de alguém. O Dr. Fenelon, concluiu deixando a todos o seu abraço em nome do

Ministério Público, afirmando que veio ao evento para ouvir, para aprender.

Prof.ª Dra. Ana Paula Motta Costa

Professora Doutora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Coordenadora

da Pesquisa “As relações entre o Sistema Único de Assistência Social – SUAS e o Sistema de

Justiça”.

A Profa. Ana Paula começou suas considerações dirigindo-se a todos da Mesa,

mas em especial ao Dr. Marco Aurélio, que com essa iniciativa se mostrou uma pessoa muito

especial, pois nessa realidade que foi pesquisada no país, foi visto que onde pode ser diferente

ainda é porque existem pessoas especiais, que conseguem construir um diálogo, que tem outra

concepção por trás do seu trabalho. Uma concepção de construção conjunta e não uma

construção individual ou de soluções segundo um antigo modelo de diálogo de questões que

são atuais. Que dizem respeito a direitos coletivos e que devem ser construídos de forma

coletiva. E o Dr. Marco Aurélio é essa pessoa especial.

O resultado desse Seminário, no ponto de vista de pesquisadora, a Dra. Ana Paula

declarou se sentir muito feliz, pois é o resultado de pesquisa desejado. Ou seja, durante o

processo de produção de resultados agora conseguir propiciar o diálogo. E se conseguisse isso

em todos os estados, encontros como esse, da possibilidade de contato maior. Em tudo que foi

visto, não é só uma questão de contatos, de diálogo. Isso é representa 50% e os outros 50% do

problema é de concepção. Concepção de direito, concepção de metodologia da concessão de

direito. As pessoas que requisitam, que dão ordens, que encaminham as soluções de uma

forma autoritária, não estão imbuídas dessa tarefa, em regra, porque não querem garantir

direitos, estão fazendo isso porque acreditam estar fazendo o seu trabalho. Então há uma

concepção que precisa ser mudada. Para garantir os direitos sociais e em especial os direitos a

assistência social, é preciso outra forma de trabalhar o direito coletivo. Mudar a metodologia

da requisição individual. Essa é que é a questão. É como se tivesse só “enxugando gelo”,

quando na realidade se tem muita coisa para fazer, para construir outra realidade da política

pública, que atenda a todos que necessitam e não apenas da pessoa que chega primeiro. Essa

concepção precisa ser trabalhada, se não se fica numa ideia, o que é um risco, de só

estabelecer o diálogo. Não é somente estabelecer o diálogo, mas o diálogo como meio de

construção de outra concepção de trabalho. Enfim, a Profa. Ana Paula desejou a todo esse

projeto muito sucesso e que acompanhará mesmo de longe.

A Profa. Ana Paula leu então a pergunta dirigida a ela:

Pergunta: A Tipificação dos Serviços de Proteção Social Especial, cujo demandante é o

judiciário, será pertinente na discussão de que há judicialização da Assistência Social?

Identificação (nome): Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante: Profa. Ana Paula

Resposta da Profa. Ana Paula

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A tipificação é uma das normas que foi estudada na pesquisa. A tipificação é uma

referência e poderia ver claramente, do ponto de vista do SUAS, o que compete ao SUAS.

Pode ser usada para uma série de tarefas. Para respostas, por exemplo, dos profissionais

quando recebem uma requisição de um serviço que não consta da tipificação. No entanto, no

contexto atual normativo, a tipificação é uma das normas. Existem outras normas que faz com

que o judiciário requisite os serviços independente da tipificação. São muitas normas, todas

feitas do ponto de vista do SUAS e interpretados de acordo com a sua hermenêutica. É preciso

evoluir para além das normas.

Pergunta: Como será possível a integração de ações do Sistema de Justiça com o SUAS, se

um tem uma função protetiva e o outro tem a função punitiva?

Identificação (nome): Entidade/órgão:

Pergunta dirigida ao palestrante: Profa. Ana Paula

Resposta da Profa. Ana Paula Nem sempre a função do judiciário e MP é punitiva. O MP a partir da

Constituição Federal e a Defensoria também possuem uma tarefa muito importante no

sistema normativo que é de defesa de direitos, em especial dos direitos coletivos e difusos. A

questão é que a cultura institucional, ainda em alguns casos, não se pode generalizar, não

opera na proteção desses direitos, ou seja, na função protetiva, mas com outra cultura que não

aquela da função punitiva, que sempre observou a partir da integração do individual no

processo. Não significa que não façam a defesa dos direitos coletivos. Existem vários

promotores que trabalham nessa defesa, mas ainda mediante a uma cultura antiga. É preciso

construir uma outra forma de trabalhar os direitos coletivos e essa outra forma não quer dizer

que não tenha que ter força coercitiva, eventualmente. Por exemplo, existe um gestor público

que não cumpra de forma nenhuma suas metas de ampliação de uma determinada política

pública. Talvez precise de uma intervenção de garantia de direitos, Isso pressupõe um

processo de construção e não o que vem se observando hoje. A Profa. Ana Paula finalizou

agradecendo mais uma vez e se colocando a disposição.

Sra. Mônica de Souza e Cruz Representante do Conselho Regional de Psicologia (CRP/PE – 2ª Região)

A Sra. Mônica de Souza e Cruz agradeceu mais uma vez a todos e todas e leu um

agradecimento que, segundo ela, representa a categoria e a do serviço social, além das pessoas

presentes e que são do SUAS. “Parabenizamos a pesquisa da Dra. Ana Paula Motta, que

muito nos ajudou a responder e esclarecer muitas inquietações sobre a relação entre os dois

sistemas, por isso não foram necessárias tantas perguntas. Muito obrigada”.

Sra. Tanany Frederico dos Reis

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Representante do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/PE 4ª Região).

A representante do CRESS reforçou a fala da Sra. Mônica, se referindo à

apresentação da Profa. Ana Paula, que trouxe vários indicativos e o Conselho também se

coloca a disposição para esses momentos posteriores. É uma provocação da própria categoria,

dessas demandas equivocadas que a partir do momento que chegam, o Conselho é

recorrentemente tensionado e é preciso pensar sobre isso. Esse momento foi uma

oportunidade para verificar como se desenham essas relações num plano melhor, até mesmo

para fortalecer o próprio SUAS. Trata-se de lidar com uma política muito nova, como foi dito

na mesa. Um conceito que durante muito tempo transitou no campo do não direito. Então tudo

que for preciso para fortalecer a Assistência Social como um direito a gente vai fazer passa

necessariamente pela qualificação dos trabalhadores e pela qualificação das intervenções.

Essa confusão de papéis às vezes acaba inviabilizando isso. E o Conselho de Serviço Social

está a disponível para essa discussão e para as interlocuções que forem necessárias. O

Conselho está junto ao MP, junto ao TJ e acredita que fazendo isso em conjunto será mais

fácil, para poder atingir essas instituições na perspectiva de fortalecimento do sistema, pois de

fato ainda se tem muito para construir.

Dra. Ana Rita Suassuna Secretária Municipal de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife – PCR,

Presidente do COEGEMAS.

Dra. Ana Rita aproveitou a oportunidade para agradecer mais uma vez a iniciativa

do MP. O Dr. Marco Aurélio foi que provocou no sentido de fazer esse seminário e dizer que

o desafio está posto. Os caminhos já começam a aparecer com a pesquisa, coma as falas no

evento. Existe ainda muito imediatismo das solicitações que é preciso melhorar, nos prazos

curtos, na agonia de quem está operando a política na ponta que é preciso melhorar essa

interlocução e esse é o espaço. Enquanto presidente do COEGEMAS e também como

Secretária da capital do estado, a Dra. Ana Rita coloca que tem um papel importante de

provocar essa discussão, de estar junto nessa organização para conseguir em Pernambuco ter

um resultado positivo para o usuário, pois é esse o foco. Não se trata de buscar os culpados,

mas melhorar esse atendimento ao usuário e a qualificação da rede de serviços. Sabe-se que as

redes são insuficientes: da educação, da saúde, da assistência. Houve um avanço significativo,

mas ainda existem deficiências, então é preciso se complementar para atender bem ao usuário.

Por fim a Dra. Ana Rita agradeceu.

Dra. Ieda Castro Secretária Nacional de Assistência Social

A Dra. Ieda Castro iniciou agradecendo a oportunidade ao Dr. Marco Aurélio.

Segundo ela, depois da Oficina Nacional do Ministério da Justiça, MDS e a presença da

Profa. Ana Paula com certeza terão desdobramentos e talvez se possa avançar nesse processo

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de capacitação, de trocas de informações. A Dra. Ieda se despediu com um abraço para cada

um e agradecendo mais uma vez pela oportunidade.

Dr. Marco Aurélio Farias da Silva Promotor de Justiça e Coordenador do CAOP Cidadania – MPPE.

Antes de finalizar o evento, o Dr. Marco Aurélio apresentou suas escusas por não

ter convidado as colegas do Ministério da Justiça para a Mesa final. O Dr. Marco Aurélio,

convocou a todos para iniciar e trabalho.

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PROPOSTAS APRESENTADAS

Considerações Gerais

O Seminário Estadual Sistema de Justiça e Sistema Único de Assistência Social –

Ações Integradas proporcionou a partir dos painéis uma construção de conhecimentos

importantes para os trabalhadores dos dois sistemas como aproximação ao tema e

principalmente para compreensão de um conflito ainda pouco claro para todos.

Alguns pontos convergiram nos painéis apresentados. Destacam-se:

O SUAS é um sistema novo e em consolidação. Esse ponto foi abordado pela Dra. Ieda

Castro, sob o ponto de vista de como se encontra o SUAS no país e quais os desafios que

se colocam no processo de consolidação. A Profa. Ana Paula complementou com

informações com o significado da história do SUAS e do Sistema de Justiça. Colocando

ainda que o processo de consolidação e regulação do SUAS, tem gerado algumas

dificuldades para compreensão de suas normas e procedimentos. O que leva a outro ponto

abordado por mais de um palestrante.

A diferença de linguagens e de compreensão do mesmo direito – direitos

socioassistenciais. Tanto a Profa. Ana Paula quanto o Dr. Marco Aurélio e também a Dra.

Ieda destacaram a necessidade de discutir e unificar não apenas nas normas, mas na

aplicação prática do trabalho dos dois sistemas, tanto a linguagem como a interpretação do

direito.

A coexistência de modelos antigos e novos para realizar ações integradas, causa um

descompasso, dificultando a gestão do SUAS e a execução da Política no município.

A precarização das condições dos trabalhadores foi abordada pelas Profa. Ana Paula e

Dra. Ieda Castro. Ambas colocam essas condições como entraves na consolidação do

SUAS e na superação dos conflitos com o sistema de justiça e MP.

A Dra. Ana Célia, Dra. Ieda Castro e a Profa. Ana Paula apontaram a falta de apoio por

parte de prefeitos, aos gestores e profissionais do SUAS que lidam com as requisições do

sistema de justiça e MP.

A regionalização no SUAS foi indicada como importante pelas Dras. Ieda Castro e Ana

Célia e é um tema que precisa ser mais discutido pelos dois sistemas, sobretudo, para

compreensão do atendimento das Proteções Especiais de Média e Alta Complexidade, que

apresentam quantidade importante de requisições do sistema judiciário de MP.

Esses são pontos que apenas indicam a necessidade de compreensão e construção

de conhecimentos e procedimentos integrados. Muitos outros pontos podem ser destacados,

notadamente as propostas já indicadas nos painéis, vistas a seguir.

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Propostas para ações integradas entre o Sistema de Justiça e SUAS

Nas doze propostas apresentadas destaca-se a proposta de formação de comitês

nos níveis federal, estadual e municipal com representantes dos sistemas para garantir a

manutenção do diálogo.

Dr. Marco Aurélio 1. Realização de Seminários Regionalizados sobre Ações Integradas do Sistema de Justiça e

Sistema Único de Assistência Social.

Painel da Dra. Ieda Castro 2. Todo ministério público deve receber uma relação da rede socioassistencial - dos serviços

públicos e privados da assistência social no município

3. O ministério público deve dirigir as solicitações ao órgão gestor e não ao serviço de

atendimento.

4. Criação de uma central de vagas

5. É preciso criar fluxos e rotinas em acordo com o MP

6. Formação de comissões ou comitês (municipal, estadual e federal) com representantes dos

dois sistemas (SUAS E SGD) que estimule o diálogo.

Painel da Profa. Ana Paula Motta Costa – Resultado da Pesquisa 7. Criação, por meio de normativa conjunta, de “comissões gestores de direitos entre os

sistemas”, nos três níveis: municipal, estadual e federal.

8. Ritos de procedimentos para viabilizar direitos sociais que induzam o processo de diálogo

9. Incentivos ao tratamento coletivo de direitos como criação de promotorias especializadas,

varas especializadas, valoração de trabalhos específicos realizados nessa direção.

10. Realização de audiências coletivas, fluxos de procedimentos entre os sistemas, definições

mais precisas de competências, capacitações de ambos os sistemas, entre outros.

Painel do Dr. Aguinaldo Fenelon de Barros

11. Incluir o tema em eventos da Escola Superior do Ministério Público.

12. Realizar reunião com o presidente do tribunal, uma reunião com o procurador geral, para

conversar com os promotores.

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