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ACADEMIA DA FORÇA AÉREA Sistema Monetário como Componente da Defesa Económica Pedro Luís da Silva Leal ASPIRANTE A OFICIAL / PILOTO AVIADOR 137749-D Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Aeronáutica Militar, na Especialidade de Piloto-Aviador Júri Presidente: Coronel João Manuel Vargas Inácio Orientador: Professora Doutora Carla Guapo Costa Coorientador: Tenente-Coronel Luís Manuel Pinto de Almeida da Rocha Arguente: Professora Doutora Sandra Maria Rodrigues Balão Sintra, março de 2015

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ACADEMIA DA FORÇA AÉREA

Sistema Monetário como Componente da Defesa

Económica

Pedro Luís da Silva Leal

ASPIRANTE A OFICIAL / PILOTO AVIADOR 137749-D

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Aeronáutica Militar, na Especialidade de Piloto-Aviador

Júri

Presidente: Coronel João Manuel Vargas Inácio

Orientador: Professora Doutora Carla Guapo Costa

Coorientador: Tenente-Coronel Luís Manuel Pinto de Almeida da Rocha

Arguente: Professora Doutora Sandra Maria Rodrigues Balão

Sintra, março de 2015

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ACADEMIA DA FORÇA AÉREA

Sistema Monetário como Componente da Defesa

Económica

Pedro Luís da Silva Leal

ASPIRANTE A OFICIAL / PILOTO AVIADOR 137749-D

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Aeronáutica Militar, na Especialidade de Piloto-Aviador

Júri

Presidente: Coronel João Manuel Vargas Inácio

Orientador: Professora Doutora Carla Guapo Costa

Coorientador: Tenente-Coronel Luís Manuel Pinto de Almeida da Rocha

Arguente: Professora Doutora Sandra Maria Rodrigues Balão

ISBN:

Sintra, março de 2015

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Esta dissertação foi elaborada com finalidade meramente académica durante a frequência

do curso de Mestrado em Aeronáutica Militar, na Especialidade de Piloto Aviador. As opiniões do

autor, expressas com total liberdade académica, reportam-se ao período em que foram escritas, não

representando a doutrina sustentada pela Academia da Força Aérea.

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em memória da minha avó, Laura Rodrigues,

aos meus pais, irmãos e camaradas...

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"to foster those conditions which safeguard peace and will best contribute

to the restoration of order in international economic relations"

Secretary of Treasury Henry Morgenthau Jr., Tripartite Agreement, 25 set. 1936.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar quero expressar o meu agradecimento à Prof.ª Dr.ª Carla Guapo

Costa pelas discussões e orientações críticas durante todo o desenvolvimento do

percurso intelectual e escrito.

Destaco o meu reconhecimento ao Tenente Coronel Luís Manuel Pinto de Almeida

da Rocha que, imperativamente, foi responsável pela visão e componente

pragmática do conceito inicial, ao aqui refletido.

Expresso a minha eterna gratidão ao meu pai, que sempre se esforçou mais que

humanamente possível para garantir as nossas melhores condições. Aos meus

irmãos, pela vivacidade que dão à casa e por sempre me apoiaram durante este

longo percurso. À minha mãe, pela incrível compaixão e esforço em garantir sempre,

o meu melhor conforto.

Por fim, à Academia da Força Aérea por me ter permitido seguir este nobre percurso

académico, que culmina nesta investigação.

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Resumo

As relações económicas caracterizam-se por fenómenos de sensibilidade e

vulnerabilidade aos choques económicos adversos e às políticas monetárias

conflituantes. Atualmente, a maior parte das economias emergentes procuram uma

política de incentivo às exportações com impactos e protecionismos extremos sobre

as importações. Estas políticas monetárias, por vezes designadas de

desvalorizações competitivas, afetam e condicionam o valor do euro e

consequentemente a competitividade.

Face à neutralidade do Banco Central Europeu, as pressões apreciativas e

deflacionárias sobre o euro não são contrabalançadas, o que tem contribuído para

um euro sobrevalorizado face aos atuais interesses da Zona Euro como um todo.

Assiste-se por toda a Europa a problemas moderados de deflação, que suporta a

necessidade de um euro menos sobrevalorizado, principalmente, pelas economias

menos competitivas da Zona Euro.

Neste sentido, segue-se uma aproximação de um possível maior intervencionismo

por parte do BCE, que atualmente se encontra quase em exclusividade focado na

estabilidade dos preços. A intervenção monetária defensiva, já anteriormente

adotada por diversos países, representa uma possível medida de defesa face aos

controlos agressivos sobre a mobilidade de capitais, observada nos países

emergentes como a China.

Da mesma forma, a Zona Euro precisa de um Sistema Monetário Internacional

estável, equilibrado e funcional para a condução regular do comércio internacional.

Neste tópico, aborda-se uma aproximação idealista de um sistema de reserva

multilateral onde os países se abstêm de conduzir políticas objetivas ao ganho

desproporcional de competitividade em detrimento de outras economias.

Palavras-chave: Sistema Monetário Internacional, desvalorizações competitivas,

intervenção monetária defensiva, euro, Banco Central Europeu, política monetária.

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Abstract

Economic relations reflect a worldwide sensibility to economic distresses and

conflicting monetary policies. Most of the emerging economies seek growth by

leveraging exports and by implementing protectionism measures to reduce imports.

These monetary policies, sometimes leged as currency wars, severely affect the

euro. Due to a more neutral position by the ECB, deflationary and appreciative

pressures against the euro are not hedged and therefore induce an overvalued

European currency. Europe inflation is currently near negative values and thus

supporting the fact that less competitive European economies need a weaker euro.

Therefore we approach a possible more interventionism from the European Central

Bank, which is currently primarily responsible to address price stability.

Countervailing currency intervention has been adopted by several countries mainly in

East Asia on an effort to counter the effects of aggressive capital controls by the

People's Bank of China.

Eurozone, as one of the main world economies, also needs a properly functioning

international monetary system to conduct international commerce with other currency

countries. On this matter, we approach an idealist view of a multilateral reserve

system where countries refrain from conducting policies that may be understood as

mercantilist measures, or where, by contrast, there is a concrete legal framework that

sanctions countries that do so.

Keywords: International Monetary System, currency wars, countervailing currency

intervention, euro, European Central Bank, monetary policy.

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Índice

Índice de Figuras ...................................................................................................... xiv

Lista de Acrónimos .................................................................................................... xv

1 Introdução ................................................................................................................ 1

1.1 Âmbito e contextualização ................................................................................ 1

1.2 Problemática ..................................................................................................... 3

1.3 Metodologia de investigação ............................................................................. 7

2 Enquadramento teórico ........................................................................................... 9

2.1 Sistema Monetário Internacional ....................................................................... 9

2.1.1 Classical Gold Standard - 1870 até 1914 .................................................. 10

2.1.2 Currency War I (1921-1936) ..................................................................... 12

2.1.3 Currency War II e Bretton Woods (1967–1987) ........................................ 17

2.2 Uso internacional das moedas ........................................................................ 25

2.4 União Monetária Europeia ............................................................................... 29

2.4.1 Histórico e critérios de convergência de Maastricht .................................. 29

2.4.2 Modelos de ação do BCE ......................................................................... 34

2.4.3 Taxa de câmbio real e competitividade ..................................................... 36

3 Defesa económica e competitiva ........................................................................... 43

3.1 Intervenção monetária defensiva .................................................................... 45

3.2 Reservas de valor ........................................................................................... 51

3.2.1 Papel do euro e acumulação de reservas de valor ................................... 51

3.2.1 Modelos precaucionais de acumulação de reservas................................. 56

3.3 Acordos multilaterais e reformas do SMI ......................................................... 60

3.3.1 Sistema multipolar ..................................................................................... 60

3.3.2 Direitos de Saque Especial ....................................................................... 64

3.3.3 Quadro normativo do FMI ......................................................................... 66

3.3.4 Acordos multilaterais, G20 e G7 ............................................................... 67

3.4 Quantitative easing europeu ........................................................................... 71

4 Conclusões ............................................................................................................ 73

Referências Bibliográficas ........................................................................................ 81

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Índice de Figuras

Figura 1 - Taxa de inflação Zona Euro ..................................................................... 40

Figura 2 - Principais moedas de reserva de valor até 2014. .................................... 53

Figura 3 - Ganhos do papel do euro como reserva internacional (2007 - 2008). ..... 54

Figura 4 - Ganhos do papel do dólar como reserva internacional (2007 - 2008). ..... 55

Figura 5 - Previsões impacto papel do euro em 2020. ............................................. 56

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Lista de Acrónimos

1GM Primeira Guerra Mundial

2GM Segunda Guerra Mundial

BCE Banco Central Europeu

CECA Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

CEDN Conceito Estratégico de Defesa Nacional

CEE Comunidade Económica Europeia

DSE Direito de Saque Especial

ECU European Currency Unit

EEAG Economic European Advisory Group

EUA Estados Unidos da América

EUR Euro

FMI Fundo Monetário Internacional

GATT General Agreement on Tariffs and Trade

IHPC Índice Harmonizado de Preços no Consumidor

IMF International Monetary Fund

MDN Ministério da Defesa Nacional

OMC Organização Mundial do Comércio

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

PIB Produto Interno Bruto

RMB Renmimbi (Renminbi)

SDR Special Drawing Rights

SME Sistema Monetário Europeu

SMI Sistema Monetário Internacional

SRF Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos

UE União Europeia

UEM União Económica e Monetária

USD United States Dollar

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1 Introdução

1.1 Âmbito e contextualização

O Conceito de Defesa Nacional tem evoluído da tradicional defesa centralizada no

Estado, focada primariamente na segurança com base nas agressões militares, para

um conceito multidisciplinar abrangendo diversas áreas como a política, economia,

cultura social, tecnologia, ambiente e militar (SAMPAIO, 1996). De facto, quando

revisitamos a história, esta dita que os marcos relevantes das relações e conflitos

internacionais sejam focados em aspetos estritamente militares. Fatores como a

componente económica tinham diminuta importância no desenrolar dos conflitos

(ZUKROWSKA, 2000). Atualmente, sendo este conceito suficientemente redutor e

considerado o quadro das relações internacionais da atualidade, não existem

condições para a componente militar assegurar per si uma defesa efetiva

(VERÍSSIMO, 2005).

Na definição de poder, desde há muito tempo que os observadores políticos

debatem-se sobre qual a componente mais fundamental, se a militar ou a

económica. O marxismo1 defende a economia como estrutura basilar do poder

(GILPIN; GILPIN, 1987). Tonelson, por outro lado, refere o poder militar como "a

última forma de poder", mas sempre suportada por uma economia sólida (1979).

Joseph Nye defende que as capacidades económicas e militares concretizam as

bases do poder de um Estado2 (2011). A economia torna-se num instrumento

complexo de forte relevância no contexto das relações internacionais e

posicionamento estratégico (VERÍSSIMO, 2005). De facto, segundo Adriano

Moreira, quando nos enquadramos nas relações internacionais, “a maior parte das

relações entre os povos e entre os Estados são hoje de natureza económica” (2010,

p.418).

Estas relações económicas são hoje caracterizadas por grandezas de sensibilidade

e vulnerabilidade económica. A sensibilidade, dificilmente anulada, concretiza-se no

espaço temporal dos efeitos de um sistema sobre o outro (NYE, 2011). Em 1998, os

1 Doutrina filosófica, política e económica de Karl Marx (1818-1883), economista e filósofo alemão, que analisa

os processos históricos segundo métodos dialéticos e materialistas, à luz da luta de classes (GILPIN; GILPIN, 1987). 2 Joseph Nye refere a componente económica e militar como o hard power de um Estado, em complemento, o

soft power engloba desde a capacidade tecnológica à indústria cinematográfica (2011).

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efeitos negativos sentidos nos mercados emergentes asiáticos tiveram um efeito

quase imediato em países como o Brasil e a Rússia, traduzindo elevada

sensibilidade destas economias aos países asiáticos. Da mesma forma, a crise

provocada pelo colapso do banco Lehman Brothers em 2008, agravada pela atual

eliminação das barreiras financeiras internacionais, teve um rápido efeito global. A

vulnerabilidade, por outro lado, envolve os custos e a grandeza dos efeitos

provocados pela sensibilidade (idem, 2011).

Nos anos que se seguiram à crise económica de 2008, num contexto de degradação

social e económica, a pressão sem precedentes dos mercados financeiros revelou

fragilidades na arquitetura da União Económica e Monetária (UEM) (MDN, 2013). De

acordo com o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), "Portugal foi

obrigado a sujeitar-se a severas limitações orçamentais [...] com impacto,

designadamente, na segurança e defesa nacional" (MDN, 2013, p.6). O CEDN

destaca ainda "os desequilíbrios económico-financeiros e os níveis de

competitividade da economia", referindo que “uma das maiores debilidades

estruturais nacionais tem sido o perdurante desequilíbrio comercial [...] fenómeno

que, pela sua natureza, mina os alicerces da coesão nacional e que, quando

ultrapassa determinada dimensão, pode ser gerador de conflitualidade e

instabilidade social" (MDN, 2013, p. 40). Esta necessidade de se corrigir ou fazer

diminutas vulnerabilidades, enunciadas pela estrutura atual do CEDN, leva a que

cada vez mais se explore o estudo de componentes de defesa não militares como o

caso da componente económica.

A moeda e a defesa estão intrinsecamente relacionadas. A política externa e de

defesa depende não só da capacidade militar, mas também da economia que a

suporta. De facto, na sua base, a projeção militar depende fundamentalmente da

capacidade de alocar recursos às respetivas forças armadas (HERNANDEZ, 2014).

Esta capacidade económica passa pela correta defesa dos interesses competitivos

de um Estado, neste sentido, é condicionada e interfere ela própria no Sistema

Monetário Internacional (SMI).

O SMI é a forma como os fluxos de capitais coexistem durante tempos de paz e

guerra - o elo de ligação das economias. O seu princípio de funcionamento é a

estabilização dos mercados internacionais cambiais, encorajando a eliminação de

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problemas no financiamento externo e balanças comerciais (EICHENGREEN, 2008),

facilitando a expansão dos investimentos globais e a inserção das economias

emergentes (CINTRA; MARTINS, 2013). Foi no sentido deste último ponto que o

então Ministro das Finanças brasileiro Guido Mantega desencadeou especial

interesse dos fora económicos quando em 2010 referia a pressão internacional

provocada por uma combinação de desvalorizações cambiais dos EUA, China,

Japão, Coreia do Sul e Taiwan, numa tentativa de desvalorizarem o seu papel-

moeda e desencadear maior competitividade - o que Mantega designava de

currency wars (WHEATLEY; GARNHAM, 2010).

O termo expressivo currency wars tinha objetivamente colocado o problema noutra

perspetiva, incentivando o G203, assim como outras organizações internacionais, a

focarem esta problemática. O G20 já tinha anteriormente consagrado possíveis

reformas do SMI e maiores medidas de controlo sobre as manipulações cambiais4.

Em 2010, contudo, a agenda veio priorizar de entre os assuntos relevantes à data,

as desvalorizações competitivas (PORTES, 2010). Em questão, as políticas de

obtenção de vantagem desproporcional em rutura de outras economias através de

manipulações monetárias (idem, 2010).

No atual sistema monetário praticamente todos os países procuram a depreciação

cambial, ou pelo menos, a não-apreciação da sua moeda. As crises económicas

tornam-se cada vez mais frequentes e intensas, essencialmente, pela globalização e

consequente aumento da sensibilidade e de vulnerabilidade das economias

(BERGSTEN, 2013).

1.2 Problemática

A União Europeia (UE), sendo uma das maiores potências exportadoras mundiais,

procura defender os seus interesses económicos por forma a sustentar um

crescimento económico positivo. Como consequência, a UEM não é inerte às

problemáticas do atual SMI. Um sistema onde o poder geopolítico e os interesses de

alguns Estados regem a construção, manutenção, adaptação ou transformação dos

regimes monetários internacionais e onde as balanças comerciais assumem um

3 África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados

Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia (G20 RESEARCH GROUP, 2010). 4 vide G20 Summit 2007.

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papel crucial nas economias5. Um sistema assimétrico onde a liberdade da gestão

macroeconómica é limitada pelo poder monetário ou onde este garante privilégios

exorbitantes ao país emissor da moeda-reserva internacional (CINTRA; MARTINS,

2013).

Com esta dissertação objetiva-se o aprofundamento teórico sobre as consequências

das manipulações monetárias e possíveis políticas defensivas, procurando-se

qualificar a sua dimensão, num sistema de taxas cambiais flutuantes mas

frequentemente manipuladas para melhor servir os interesses dos Estados

(BERGSTEN, 2013).

De acordo com Dougherty e Pfaltzgraff, “em todas as ciências sociais […] é

impossível não colocar as questões de por onde começar, onde centrar a nossa

atenção ou por onde tentar abordar o objeto de estudo” (2011, p.37). A pergunta de

partida visa exprimir, tanto quanto possível, aquilo que o investigador pretende

saber, clarificar ou entender melhor:

Na defesa dos interesses competitivos da UEM, qual o quadro de políticas

para a redução das vulnerabilidades do Euro no Sistema Monetário

Internacional?

Neste sentido, identificam-se possíveis medidas e políticas para a redução da

sensibilidade e vulnerabilidade económica do Euro, objetivando a competitividade e

o crescimento económico.

Assim, pretende-se demonstrar inicialmente que os conflitos cambiais têm assumido

um caráter quase constante desde o início do séc. XX, afetando praticamente todas

as economias mundiais. Focam-se particularmente os efeitos destes conflitos nas

economias europeias da moeda única, que, como consequência, observam a

apreciação da sua moeda e pressões deflacionárias crescentes. A investigação

parte deste último ponto, de facto, perderia algum sentido analisar a problemática

das pressões apreciativas sobre o euro se atualmente e nos últimos anos esta

questão não tivesse proporcionado diversos desafios às políticas do BCE e Estados-

membros.

5 Caso particularmente agravado em Portugal e outros países europeus onde as variáveis monetárias estão

subjugadas a decisões externas, com reflexos inevitáveis, sobre as condições orçamentais e a projeção militar.

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Posteriormente, enquadra-se o uso internacional das moedas e algumas

condicionantes que provocam este fenómeno. Partindo da observação que estamos

perante um sistema de reserva assimétrico, onde domínio do dólar tem garantido

privilégios aos Estados Unidos da América (EUA).

A defesa dos interesses económicos e consequentemente da competitividade

europeia são abordados seguindo as três óticas do poder monetário referidas por

Jonathan Kirshner (1997). Na sua obra intitulada "Currency and Coercion: The

Political Economy of International Monetary Power", Kirshner refere que o poder

monetário concretiza-se essencialmente na intervenção monetária, na sensibilidade

provocada pelas reservas de valor e na capacidade de explorar lacunas na estrutura

do SMI (1997).

A intervenção cambial tem sido uma das medidas mais comuns de atenuação dos

impactos das políticas mercantilistas6 de países terceiros. Por outro lado, as

reservas de valor aumentam a sensibilidade económica de um Estado e provocam a

instabilidade na procura de ativos. Pressupõe-se ainda que exista uma falha no

quadro normativo do SMI e que igualmente, um conjunto de normas possíveis que

possam atenuar os desequilíbrios internacionais provocados por estas políticas.

Mais importante, procura-se analisar uma perspetiva idealista onde os diferentes

países do SMI se coíbem deste tipo de medidas obedecendo a um quadro de

normas concreto e soberano.

Assim, consagram-se diferentes hipóteses que podem fundamentar, refutar ou

suportar medidas, que reduzam os efeitos adversos sobre o euro e

consequentemente sobre a competitividade e estabilidade económica.

Uma hipótese é um pressuposto ou diretriz que necessita de ser verificada, ou seja,

é uma proposição provisória que prevê uma relação entre dois termos, conceitos ou

fenómenos consoante os casos (QUIVY; CAMPENHOUDT, 2005). É em torno da

hipótese que se conduz de forma ordeira e rigorosa uma investigação, traduzindo

igualmente o início de um espírito crítico, aventureiro e intelectual, através da sede

pela sabedoria e pelo conhecimento (idem, 2005). Em síntese, uma hipótese

apresenta-se como uma resposta provisória e inicial à pergunta de partida, sendo

6 O Mercantilismo determina que um país defenda os seus interesses às custas de terceiros – não acreditando

muitas vezes na possibilidade de um crescimento homogéneo global. Tem por base a ideia de poder relativo - o mais importante não é o poder absoluto mas a sua posição em relação a outros países (HELLENIER, 2003).

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necessário ser comprovada ou refutada. Assim, e com base no anteriormente

referido, definem-se as seguintes hipóteses:

H1. A intervenção cambial defensiva atua como contramedida às pressões

apreciativas do euro.

Medidas como a intervenção cambial defensiva têm sido fortemente adotadas por

alguns países asiáticos em defesa da sua competitividade. Consideram-se políticas

que devam ser adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) na defesa dos

interesses económicos Europeus.

H2. O papel do euro, enquanto moeda-reserva de valor, tem um impacto positivo

na defesa dos interesses económicos europeus.

O euro tem crescido como principal forma de reserva internacional, atuando em prol

dos interesses conjuntos dos Estados-membros da Zona Euro.

H3. A diversificação de reservas de valor por países terceiros beneficia a

estabilidade da economia europeia.

Num sistema de reserva multipolar as pressões apreciativas e deflacionárias são

distribuídas por um conjunto de moedas, como consequência, as moedas das

economias desenvolvidas sofrem menores pressões apreciativas.

H4. Acordos multilaterais e reformas do SMI potenciam maior controlo sobre

medidas mercantilistas e maior estabilidade internacional.

A defesa económica não é conseguida unilateralmente - depende fortemente de

acordos e interesses mútuos para cooperação e colaboração de medidas ajustadas

aos diversos objetivos políticos. A defesa económica coletiva deve ser baseada na

estabilidade do Sistema Monetário Internacional e possíveis reformas. Uma falha

dos acordos ou a não existência deles de todo gera situações de crise, tal como na

Grande Depressão económica da década de 1930, os países voltam-se para si

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próprios e inviabilizam relações multilaterais, adotam medidas mercantilistas e

provocam a desvalorização competitiva das suas moedas.

O foco desta dissertação restringe-se à componente do sistema monetário.

Considerando-se os efeitos da flutuação cambial, da acumulação de reservas, da

desvalorização competitiva e do quadro de normas pelas quais estas se regem.

1.3 Metodologia de investigação

O planeamento da investigação segue métodos científicos de modo a sintetizar

procedimentos, assegurando critérios rigorosos de análise e de percurso, rumo aos

objetivos e às conclusões finais. É este planeamento que caracteriza a metodologia

específica para investigação do objeto em estudo.

No processo de decisão sobre a metodologia a ser usada, que influencia os

resultados obtidos, denota-se os processos comuns a investigações dentro da área

das ciências socias. Assim, visa-se obedecer a uma estrutura enquadrada em Quivy

& Campenhoudt (2005), forçosamente adaptada que, pela especificidade da

problemática, obriga a consagrar outras metodologias de investigação.

Sucintamente, segundo Fortin, o método de investigação utilizado pode ser

primariamente qualitativo ou quantitativo. No primeiro, o investidor "observa,

descreve, interpreta e aprecia o meio e os fenómenos tal como se apresentam, sem

procurar controlá-los" (2003, p. 22). De outra forma, desenvolve-se um paradigma

construtivista e interpretativo de dados, sem quantificação, para provar ou refutar

hipóteses no seu processo de interpretação (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).

No segundo, existe análise empírica tradicional de dados quantificáveis, baseados

na observação de factos objetivos e de acontecimentos e fenómenos que existam,

independentemente do investigador (FORTIN, 2003). Dos métodos considerados por

Freixo, referencia-se o método indutivo, dedutivo e descritivo. O primeiro defende a

observação como fase primária e objetiva a uma teoria que traduza os

comportamentos observados, do particular para o geral. No método dedutivo, "as

conclusões são obtidas a partir das premissas, usando-se o raciocínio lógico e, uma

vez encontradas, as conclusões são incontestáveis", do geral para o particular

(2009, p. 95-98). Finalmente, o método descritivo visa estratégias de pesquisa para

observar e descrever comportamentos, incluindo a identificação de fatores que

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possam estar relacionados com um fenómeno em particular (2009). Esta dissertação

segue primariamente esta ótica, pretendendo descrever como se manifesta

determinado fenómeno, sendo necessário especificar o seu contexto, ambiente ou

comunidade com o objetivo de determinar aspetos da realidade e fazer um tipo de

previsão (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). Nos conceitos económicos, utilizar-

se-á o método dedutivo. Finalmente, assume-se o sentido qualitativo onde há lugar a

interpretação do autor, desejando-se profundidade dos dados, dispersão e riqueza

interpretativa, oferecendo um ponto de vista recente, natural e holístico dos

fenómenos (idem, 2006).

Independentemente do que foi dito, o investigador não se deve limitar com a

metodologia escolhida, devendo preocupar-se em contribuir para o conhecimento

científico (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).

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2 Enquadramento teórico

2.1 Sistema Monetário Internacional

A utilização de metais preciosos como moeda persistiu durante quase toda a

Humanidade. De acordo com registos históricos, o ouro serviu como meio de

pagamento desde o séc. XII7 a.C., e a prata antecede esta data com registos da sua

utilização em 1870 a.C. no Reino da Babilónia (KEMMERER, 1944). Estes metais

tinham um valor inerente ao seu aspeto, durabilidade e facilidade de moldagem.

Eram relativamente raros, de difícil contrafação e a sua exploração mineira

delimitava a oferta de moeda (GOLDSTEIN; PEVEHOUSE, 2013).

No final do Séc. XIX a Inglaterra, que tinha adotado o gold standard8 em 1717, tinha

já emergido como maior potência industrial e comercial (BORDO; KYDLAND, 1996).

Portugal, cujas relações comerciais se concretizavam muitas vezes com a Inglaterra,

adotou o mesmo regime em 1854 (REIS, 2005). O continente europeu, que ainda

não refletia integralmente um padrão monetário, viu um crescimento da circulação

de moedas de ouro e prata (bimetalismo) nos anos 1860, pela redução de taxas

alfandegárias e maior competitividade nos transportes, com o advento das máquinas

a vapor. Contudo, em 1862, novos desafios inerentes ao bimetalismo começavam a

surgir. A França, por exemplo, que adotara um grau de pureza da prata superior ao

de Itália deparava-se agora com a possibilidade das suas moedas saírem de

circulação. As populações utilizavam a prata italiana de pureza inferior nas

transações comerciais, reservando a prata proveniente da França (EICHENGREEN,

2008).

Quando a Alemanha, segunda maior potência europeia, liquidou a utilização da

prata em 1871, arrastou consigo diversos países vizinhos para o ouro

enfraquecendo o bimetalismo europeu. Países como Dinamarca, Holanda, Noruega

e Suécia, pela sua proximidade e interesses económicos mútuos, foram os primeiros

de uma transição generalizada por toda a europa. No final do século XIX apenas

7 Apesar de já se utilizarem pesos padrão, a cunhagem, isto é, a forma de certificação do valor e peso das

moedas apenas surgiu no séc. XII a. C. (KEMMERER, 1944). 8 Gold standard (padrão-ouro) - regime monetário em que o ouro é o meio de pagamento primariamente

utilizado. Estes podem diferir uns dos outros, consideram-se o uso de ouro-moeda ou papel-moeda ancorado ao ouro. Historicamente, o papel-moeda era ancorado ao ouro em valores fixados que variavam entre a totalidade do valor e os vintes pontos percentuais – como exceção, casos em que o valor do ouro ultrapassasse a oferta de moeda (RICKARDS, 2011).

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10

Espanha e Portugal9 assumiam um regime de papel-moeda não convertível

(SANTOS, 2005). A Itália e o Império Austro-Húngaro, apesar de não assumirem

oficialmente a convertibilidade do ouro10, tinham ancorado a sua moeda a outras do

gold standard (EICHENGREEN, 2008). Da mesma forma, os Estados Unidos,

omitindo a utilização da prata no documento Coinage Act de 1873, adotaram o

padrão-ouro e assumiram a convertibilidade da sua moeda em 1879. Com a adesão

da Rússia, do Japão, da Índia11 e mesmo de países como Argentina, Peru, México e

Uruguai, onde existiam fortes interesses na manutenção da prata pela sua

exploração mineira, a convertibilidade do ouro tinha-se globalizado em direção a um

regime monetário internacional padrão12, mesmo apesar dos regimes internos

diferirem na utilização real de moedas de ouro ou papel-moeda (idem, 2008).

2.1.1 Classical Gold Standard - 1870 até 1914

Durante este período13, considerado como a primeira grande época de globalização

(FERGUSON; SCHULARICK, 2006), observou-se um grande crescimento

económico, quase sem inflação monetária14, em que a tecnologia permitiu um

aumento de produtividade e níveis de vida, sem aumento substancial no

desemprego (RICKARDS, 2011). Segundo Gallaroti, os fluxos de capitais

irregulares15 eram pouco frequentes, as desvalorizações competitivas eram raras, o

comércio internacional demonstrava um crescimento substancial, os problemas

inerentes às balanças de pagamentos eram reduzidos e existia alta mobilidade de

capital. Mais importante, as taxas cambiais eram relativamente estáveis. O fator

especulativo era na maior parte estabilizador, os conflitos de interesses políticos

eram quase nulos e a confiança no sistema monetário era elevada (1995). Em

grande parte, o sucesso do gold standard deveu-se à sua simplicidade. Quando um

país aderia a este regime determinava quanto é que o seu papel-moeda valia em

9 Portugal tinha suspendido a convertibilidade da sua moeda principalmente pelo ultimatum de Inglaterra a

Portugal em abandonar territórios entre Angola e Moçambique; uma forte redução das remessas provenientes do Brasil e exigências de pagamentos da dívida pública (SANTOS, 2005). 10

Apesar de ter havido um período intermédio, na década de 1880, em que a Itália assumia a convertibilidade. 11

Com a correlação da rupia à libra em 1898. 12

Praticamente apenas a China e alguns países da América Central ainda consagravam um regime suportado na utilização da prata. 13

Alguns autores consagram outras datas, de facto, já existia um padrão-ouro em Inglaterra desde 1717, na Holanda desde 1918 e Portugal, desde 1854. Contudo, apenas após 1870 existiu um fluxo generalizado dos países à adoção deste regime (BORDO, 1981). 14

Taxa de subida generalizada dos preços de bens e serviços (deflação caso exista uma descida dos preços). 15

Entenda-se por fluxos de capitais predominantemente num único sentido, que geram elevadas pressões inflacionárias.

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11

relação ao ouro ou a outra moeda, comprometendo-se a comprar ou vender ao

preço estabelecido. Da mesma forma, quando duas moedas ficavam ancoradas a

uma percentagem de ouro padrão, estas ficavam também ancoradas entre si. Se a

oferta de ouro aumentasse (de forma severa) mais do que a economia - frequente

em descobertas significativas de minérios de ouro - o preço dos bens aumentaria

temporariamente. Isto significava um aumento do custo da exploração mineira de

ouro, prejudicando a produção e restabelecendo a tendência dos preços e inflação

(RICKARDS, 2011). Se os preços diminuíssem pelo aumento tecnológico ou maior

competitividade, o aumento do poder de compra gerava maior procura de ouro, que

por sua vez aumentava os esforços de produção com efeitos estabilizadores. Apesar

da intervenção dos governos ou bancos centrais existir, era transparente e vista

como equilibradora. Este regime, aliado a um dos períodos de maior harmonia nas

relações europeias, industrialização e liberalismo comercial, proporcionou um dos

períodos de maior prosperidade antes da Primeira Guerra Mundial (1GM) em 1914

(idem, 2011).

Contudo, nem todos os autores refletem esta visão na íntegra. Eichengreen refere

que alguns países, incluindo Portugal e Itália, foram forçados a suspender a

convertibilidade da sua moeda para permitir a desvalorização cambial (2008). Foram

base destas decisões, os períodos onde o défice comercial estava a permitir que

grandes quantidades de ouro saíssem do território nacional, ou quando a

desvalorização e inflação refletissem os interesses políticos (SANTOS, 2005). Em

grande parte dos países denotava-se a falta dos fatores políticos e sociais comuns

aos países centrais da europa - o que dificultou a estabilidade e manutenção deste

regime internacionalmente (EICHENGREEN, 2008).

Quando a exploração mineira deixou de acompanhar a tendência de crescimento da

economia mundial no final do séc. XIX, não havia certeza se a oferta de moeda

associada ao ouro permitia o equilíbrio do Sistema Monetário Internacional. As

balanças comerciais desfavoráveis, cada vez mais comuns, associadas ao aumento

de desemprego e a problemas sociais, levaram à adoção de políticas monetárias

mais agressivas e intervencionistas (EICHENGREEN, 2008). Segundo Eichengreen,

o aumento das tensões políticas e militares entre a Alemanha, França e Inglaterra

sobre os interesses em África inviabilizou políticas multilaterais de cooperação e

ajuda financeira, que poderiam estabilizar o sistema monetário nessa altura (2008).

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12

Se o princípio de estabilidade era suportado no esforço dos Estados em assegurar a

convertibilidade das moedas, a Primeira Guerra Mundial tinha terminado todos estes

esforços abruptamente. Os metais preciosos tornaram-se a principal forma de

comércio de bens militares e as políticas inverteram-se, proibindo qualquer

exportação de ouro (idem, 2008).

Em 1913, os Estados Unidos criaram o Sistema de Reserva Federal (SRF) com

poderes para regular as taxas de juro e de emitir moeda (WALLACE, 2013). Durante

o período da guerra, gera-se o hábito de emitir papel-moeda conforme necessário

para financiar os elevados encargos, assim como, o das populações, em o aceitar

livremente. A guerra termina com severas consequências sociais e económicas,

agravadas pelos crescentes problemas inflacionários (RICKARDS, 2011).

2.1.2 Currency War I (1921-1936)

Após a Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra já não sustentava o título de maior

potência mundial (KENNEDY, 2010). Os Estados Unidos, pelas consequências

circunstanciais deste conflito, assumiram uma posição favorecida na economia

mundial (idem, 2010).

Em 1922, reúnem-se em Génova diversos líderes políticos para tentar reintroduzir a

convertibilidade monetária. Pretendia-se um regime idêntico, mas mais flexível e

controlado pelas organizações internacionais e bancos centrais. Segundo Hawtrey,

isto refletia uma tentativa de restabelecer a ordem e estabilidade do SMI (1922).

Surgiu desta forma um novo padrão de ouro, que diferia do padrão-ouro clássico em

diversos pontos. Os países inseridos neste regime acordavam em diversificar as

suas reservas, não reservando valor apenas na forma de ouro, mas também em

outras moedas - restringindo a procura de ouro (EICHENGREEN, 2008). Os Estados

Unidos ficavam responsáveis por manter a convertibilidade do dólar em $20.67 por

onça16 de ouro, permitindo que outros países reservassem valor sobre a forma de

dólares (WALLACE, 2013). Este sistema de taxas cambiais fixas, conhecido como

gold exchange standard, comum ao período de 1925 a 1931, significava que os

bancos centrais passariam a controlar a sua política monetária com maior enfoque

nas taxas de juro e não nas taxas cambiais (BORDO, 1981).

16

Equivalente a 31,10 gramas (S.I.).

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13

Neste sistema, a estabilidade dependia de um conjunto de regras. As economias

com grandes influxos de ouro deveriam ajustar a sua política monetária, reduzindo

as taxas de juro e expandindo a sua economia. Por outro lado, aqueles que viam

grandes quantidades de ouro sair da sua economia deveriam aumentar as taxas de

juro, resultando numa contração económica e posterior reequilíbrio externo.

Eventualmente, os preços e os salários baixariam o suficiente para aumentar a

competitividade internacional e o crescimento económico. Segundo Rickards, isto

refletia um sistema estabilizador mas com um aspeto crítico (2011). Enquanto no

padrão de ouro clássico apenas a expansão ou contração do ouro afetava a oferta

de moeda, agora também as reservas de ouro interferiam. Isto significava que os

bancos centrais poderiam ajustar as políticas monetárias conforme as reservas de

valor que possuíam. As transações de ajustamento, ou seja, a conversão de

reservas de papel-moeda em ouro físico, eram geralmente severas ao invés de

graduais, o que gerava fortes desequilíbrios na oferta de moeda. Outro fator

comprometedor era a falta de concordância por parte de bancos centrais como o de

Inglaterra, Estados Unidos, França ou da Alemanha sobre o valor mais adequado da

relação dólar-ouro (RICKARDS, 2011).

No caso particular da Alemanha, assim como às restantes economias do Eixo, após

a 1GM, fora-lhe imposto diversas medidas e restrições. Estas traduziam-se

primariamente em encargos e custos de reparações dos danos causados pela

guerra. Em resposta, o Reichsbank17 adotou políticas monetárias mais agressivas

decidindo em 1921 desvalorizar a sua moeda - à altura o marco de papel alemão ou

papiermark18 - para fazer face aos encargos e financiar o investimento

governamental (RICKARDS, 2011). Na realidade, estas dívidas tinham sido

estabelecidas em goldmarks - moeda ancorada a um valor fixo de ouro ou o

equivalente noutra - e, acordos subsequentes, consagravam os valores da dívida

consoante as exportações. Esta resolução não permitia ser diretamente defendida

pelo governo alemão, contudo, o Reichsbank viu a oportunidade de alavancar as

exportações e o investimento estrangeiro com a desvalorização da sua moeda

(BRESCIANI-TURRONI, 2013). O aumento de inflação que começou a surgir em

1921 não foi de imediato percebido como uma ameaça. Os bancos alemães

17

Banco central da Alemanha de 1876 até 1945. 18

Moeda alemã com entrada em circulação a 4 Agosto de 1914 aquando da eclosão da Primeira Guerra Mundial e descorrelação ao ouro (KNAPP, 1924).

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14

estavam protegidos pelo passivo que possuíam e as empresas, no geral, possuíam

imóveis, equipamentos e inventários. O facto de as dívidas destas empresas

desaparecerem à medida que o valor da moeda caía era visto como positivo. Por

outro lado, as multinacionais viam os seus investimentos no estrangeiro cada vez

mais lucrativos, o que possibilitava maiores investimentos dentro do país. Até

mesmo alguns agentes privados estavam protegidos ao conseguirem converter as

suas poupanças em francos suíços ou ao possuírem ativos financeiros, que eram

inflacionados, à medida que a moeda colapsava19. Finalmente, aqueles que

trabalhavam para o Estado estavam protegidos com aumentos salariais prometidos

pelo governo. Contudo, nem toda a população tinha como fonte de rendimento o

Estado, sendo eventualmente forçados a vender os bens que possuíam para

alimentação e despesas correntes (RICKARDS, 2011).

Os crimes aumentaram exponencialmente e os tumultos e as manifestações eram

cada vez mais comuns. Quando em 1922, a inflação se transformou em

hiperinflação, o Reichsbank, já tendo desistido de controlar esta tendência, imprimia

cada vez maiores quantidades de moeda para responder à procura. A necessidade

era tão elevada que foram contratadas empresas privadas para fazer a impressão

da moeda, ao ponto de apenas ser impresso um dos lados do papel-moeda para

poupar tinta e expedir o processo (FRENKEL, 1979).

A Alemanha tentou finalmente estabilizar a inflação em 1923 ao criar uma segunda

moeda oficial, o rentenmark. Suportada por hipotecas, a sua circulação e emissão

ficou a cargo de Hjalmar Schacht, um banqueiro experiente que assumia funções de

presidência no Reichsbank (ROWLEY, 1994). Quando o marco alemão finalmente

colapsou, pouco depois da introdução do rentenmark, uma unidade da nova moeda

valia cerca de um bilião de marcos alemães (idem, 1994). Em 1924, com a entrada

em circulação do novo reichsmark, moeda novamente ancorada ao ouro, o

rentenmark tinha-se revelado apenas uma solução temporária. No mesmo ano, o

rentenmark e antigos marcos alemães eram, literalmente, varridos para caixotes e

sistemas de drenagem (RICKARDS, 2011).

Segundo Rickards, na realidade a hiperinflação alemã de 1922 alcançou diversos

objetivos políticos, mas com repercussões nas décadas de 1920 e 1930. A inflação é

19

Não era do senso comum, numa primeira fase, que apesar do valor estar a subir o seu valor ajustado à inflação poderia estar em colapso.

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15

bastante previsível quanto a vencedores e a perdedores, e por isso, é por vezes

utilizada para reorganizar relações sociais e económicas entre devedores e

credores, enquanto as reservas de ouro se mantém constantes permitindo intervir se

necessário (2011). Claro que os custos da hiperinflação foram vastos, destruindo a

confiança nas organizações alemãs e evaporando poupanças privadas. Contudo,

este episódio evidencia que um país com bastantes recursos naturais, recursos

operários, ativos tangíveis e reservas de ouro, consegue sair da hiperinflação

relativamente intacto (RICKARDS, 2011). De 1924 a 1929, imediatamente após a

hiperinflação, a capacidade produtiva alemã cresceu mais do que qualquer outra

economia, incluindo a dos Estados Unidos (SCHREIBER, 2012). Segundo Rickards,

o Reichsbank demonstrou que numa economia, uma moeda desancorada ao ouro

pode ser desvalorizada com objetivos políticos e que, é possível um Estado

descontroladamente emitir moeda, sabendo que um regresso ao ouro pode restaurar

a ordem na economia (2011).

Assim, a Alemanha, que era agora um dos países com maior défice, provocado por

uma das guerras mais devastadoras da história, tinha iniciado um processo de

intervenções e manipulações monetárias para desvalorizar a sua moeda, que levou

eventualmente à hiperinflação e ao colapso do papiermark.

Em 1925, face à recuperação alemã e crescente competitividade, a França

desvaloriza a sua moeda procurando recuperar vantagem competitiva sobre os

restantes países europeus, assim como sobre a Inglaterra e Estados Unidos, que

tinham restabelecido o padrão-ouro existente antes do conflito (CESARANO, 2006).

O início da Grande Depressão é atribuído a 28 de outubro de 1929 com a queda de

12.8% do Dow Jones Industrial Average num único dia (ROTHERMUND, 1996). Os

anos que se seguiram foram catastróficos em termos de desemprego e de

problemas sociais. A convertibilidade20 do ouro não estava a ser cumprida pela

incapacidade das economias mais afetadas em responder aos pagamentos aos

credores. Na europa, o Banco Central de França acumulava mais de metade das

reservas de valor mundiais em ouro, libras e dólares norte-americanos.

Preocupações sobre a inconvertibilidade da libra incentivavam o Banco de França

em liquidar as suas reservas da moeda esterlina. Contudo, a venda de enormes

20

A inconvertibilidade, apesar de não desconsiderar a utilização de ouro, era equivalente à saída do regime.

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16

quantidades de libras acumuladas pela França poderiam provocar o colapso do valor

da libra e induzir a França em enormes perdas. O Banco de França decide assim, ao

invés de liquidar as suas reservas, intervir num esforço de suportar o valor da libra

(EICHENGREEN, 1992).

No entanto, quando o Reino Unido quebrou a correlação ao ouro em 1931 tendo

como objetivo a desvalorização cambial, a França, para além de ver agora a sua

moeda apreciada face à libra, sofre enormes perdas pela anterior elevada exposição

à moeda esterlina (BERNANKE; JAMES, 1991). Com preocupações semelhantes

face ao dólar, a França decide converter de imediato as suas reservas de dólares

em ouro, precipitando o valor do dólar que acabou por desvalorizar face às restantes

moedas europeias (RICKARDS, 2011).

De facto, os países que abandonavam o padrão-ouro viam o custo das suas

exportações cair, quando comparado com as de países concorrentes. Segundo

Cesarano, os países que desvalorizaram a sua moeda ao sair do regime padrão

estavam a exportar deflação económica (2006). As políticas inflacionárias eram o

antídoto para a deflação, mas ainda com a hiperinflação alemã bem presente, a

questão era de como alcançar os níveis de inflação pretendidos. A inflação e a

desvalorização cambial são semelhantes nos seus efeitos económicos, ambos

tornam as importações mais dispendiosas e as exportações mais competitivas,

ajudando a criação de emprego e o crescimento económico (RIECHER; SPECIALE,

2014). O Reino Unido, outros membros da Commonwealth21 e o Japão, tinham

seguido a ótica da desvalorização em 1931 com algum sucesso (RICKARDS, 2011).

Os Estados Unidos podiam, caso pretendessem, desvalorizar contra a libra e outras

moedas, contudo, isto poderia facilmente desencadear mais desvalorizações. Ao

invés, em 1933, o Sistema de Reserva Federal norte-americano desvalorizou contra

a ultimate currency - o ouro (RICKARDS, 2011). Em resposta, diversas

desvalorizações competitivas se sucederam, com a França - uma das últimas

economias a sair da recessão económica, em 1936, e o Reino Unido, no mesmo

ano, competindo contra a desvalorização do dólar (idem, 2011).

Agora, aqueles que tinham beneficiado da primeira vaga de desvalorizações no

início da década de 1920 começavam a ser afetados pela deflação exportada dos

21

Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul (CWN, [s.d]).

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17

Estados Unidos e do Reino Unido. Isto levou eventualmente ao Tripartite Agreement

em 1936 (CESARANO, 2006). Um acordo informal entre o Reino Unido, EUA e

França que visava proteger o bloco do padrão-ouro. A versão oficial dos Estados

Unidos refere como objetivo deste acordo, “to foster those conditions which

safeguard peace and will best contribute to the restoration of order in international

economic relations" (MORGENTHAU, 1936, p. 277). Isto simbolizava um

compromisso de não-retaliação, um indicador que as desvalorizações competitivas

em forma de currency wars estavam, por agora, a abrandar. As versões do Reino

Unido e da França referiam objetivos semelhantes, porém, não os inibia de quebrar

o acordo em casos de extrema necessidade. Segundo Oliver, o acordo era

impotente mas marcava um momento de armistício económico (1984).

Em última análise, os países que desvalorizaram a moeda, como a França e a

Alemanha, ganharam vantagem competitiva sobre aqueles que tentaram regressar a

um modelo pré-guerra. O Reino Unido sofreu elevadas taxas de desemprego e

deflação, e os Estados Unidos, que tinham grandes influxos de ouro, falharam com

as suas responsabilidades internacionais ao condicionar o financiamento externo

(RICKARDS, 2011). Desvalorização após desvalorização, medidas intervencionistas

ou em resposta a desvalorizações justificadas pela necessidade de financiamentos

face aos encargos da guerra, numa ótica beggar-thy-neighbour22, provocaram uma

crise económica global que causou a rutura nos fluxos de comércio internacional e

crescimento económico (ROTHERMUND, 1996).

Depois de 1936, o que se seguiu não foi uma continuação das desvalorizações

competitivas mas sim uma das guerras mais marcantes da história.

2.1.3 Currency War II e Bretton Woods (1967–1987)

“The dollar is our currency, but it’s your problem.”

U.S. Treasury Secretary John Connally to foreign finance ministers, 1971.

Com o terminus da Segunda Guerra Mundial (2GM), as principais economias, em

que se insere os Estados Unidos e o Reino Unido, perspetivaram uma nova ordem

22

Em economia, representa um conjunto de políticas que visam o crescimento económico através da diminuição das importações com taxas alfandegárias, quotas ou desvalorizações competitivas. Estas políticas podem ser associadas ao mercantilismo e neomercantilismo (SINN, 1990).

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18

monetária mundial por forma a evitar a desinflação e o desemprego. Estes planos

vieram a concretizar-se em julho de 1944 com a conferência de Bretton Woods em

Nova Hampshire - moldando o SMI pelas três décadas seguintes (KIRSHNER;

BERNSTEIN, 1996).

O sistema de Bretton Woods constituía uma tentativa de regresso a um sistema

idêntico contudo modificado do padrão-ouro. Utilizando o dólar como reserva de

valor mundial, todos os outros países, exceto os países que utilizavam a libra

esterlina23, estabeleciam a sua balança de pagamentos em dólares. Os Estados

Unidos, fixavam o valor do ouro em $35,00 dólares por onça e asseguravam

reservas de ouro substanciais24 para satisfazer a procura, adicionalmente, a sua

balança de pagamentos era estabelecida em ouro (BORDO, 1981). Este sistema

diferia do gold exchange standard, regime observado de 1925 a 1931, em três

componentes primárias. O sistema de taxas cambiais fixas tornou-se ajustável,

sujeito a condições específicas. Cria-se uma nova instituição, o Fundo Monetário

Internacional (FMI), com funções de monitorização e controlo sobre as políticas

monetárias e, em caso de necessidade, financiamentos a curto prazo a países com

fragilidades económicas. E a intervenção monetária, era agora controlada, limitando

os fluxos internacionais de capitais (EICHENGREEN, 2008).

Estas medidas foram criadas tendo em vista os problemas refletidos nas décadas de

1920 e 1930, tentando evitar os riscos associados aos fluxos de capitais voláteis e

disruptivos. O FMI, presenteado com recursos económicos, poder de monitorização

e cláusula scarce-currency25, poderia agora sancionar países responsáveis por

políticas destabilizadoras e compensar os países adversamente afetados (idem,

2008).

A taxa cambial fixa ajustável tornava-se num instrumento importante para eliminar

défices comerciais com o exterior - uma alternativa às medidas inflacionárias

agressivas de 1921 a 1936 (idem, 2008). Os países apenas poderiam desvalorizar a

sua moeda com a permissão do FMI, o que era geralmente permitido apenas em

23

Países que tinham como moeda a libra, ou ancorada ao valor desta. 24

Em 1945, 60% das reservas mundiais de ouro pertenciam aos Estados Unidos. Um valor que viria a aumentar para quase 75% no final de 1949, excedendo 22 mil toneladas (CESARANO, 2006). 25

Esta cláusula permitia impor controlos sobre as importações a países com elevados superavit da balança de pagamentos e às economias cuja moeda atingisse baixas quantidades alocadas ao FMI.

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19

casos de défices comerciais consistentes, acompanhados de problemas de inflação

económica (BORDO; EICHENGREEN, 1993).

Contudo, o controlo e monitorização do FMI provaram ser ineficientes. As agendas

dos Estados rapidamente desconsideravam estes controlos face aos esforços de

crescimento e recuperação pós-guerra. A cláusula scarce-currency, criada para

proteger e sancionar políticas destabilizadoras, poucas vezes foi invocada e apenas

o controlo de fluxos de capitais teve impacto notoriamente positivo sobre a harmonia

monetária (BORDO; EICHENGREEN, 1993).

Em 1961, a relação das reservas de dólares face às reservas de ouro pressionavam

a subida do valor do ouro acima dos $35 dólares. No sistema de Bretton Woods, o

dólar não estava ancorado a outras moedas mas sim ao ouro. Uma desvalorização

do dólar significava uma subida do valor do ouro. Segundo Valery Giscard d’Estaing,

esta particularidade do dólar garantia um privilégio económico exorbitante aos

Estados Unidos (D’ESTAING apud CANZONERI et al., 2013). Já Charles de Gaulle,

presidente francês, relutava-se contra o privilégio automático dos EUA pela

ancoragem direta do dólar ao ouro (DE GAULLE, 1965).

“Thus believing it right for an international system to regulate monetary

relations, we do not recognize that the currency of any particular State has a

any automatic and privileged value in relation to gold, which is, which

remains and which must remain, under the circumstances, the only real

standard.”

Charles de Gaulle, Paris, 9 de setembro de 1965, p. “International Relations – 2”.

Charles de Gaulle, que já em fevereiro do mesmo ano tinha lançado uma discussão

aberta sobre o fim do dólar como moeda principal no Sistema Monetário

Internacional, considerando como um privilégio26 norte-americano assimétrico

(PATERSON, 2013). De Gaulle conclui apelando ao retorno ao ouro - “an

indisputable monetary base, and one that does not bear the mark of any particular

country” (DE GAULLE apud PATERSON, 2013). Estas palavras foram sustentadas

com ações, com a França convertendo $150 milhões de dólares em reservas de

26

À altura num regime em que o dólar assumia o papel de moeda reserva-valor mundial e de direta correlação ao ouro. Às políticas norte-americanas era permitido maior liberdade de ação que contrastava com as limitações da França e outros países (EICHENGREEN, 2011).

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20

ouro e anunciando planos para fazê-lo de novo num futuro próximo, seguindo-se a

Espanha, comprando o equivalente a $60 milhões de dólares em ouro, gerando

fortes pressões destabilizadoras (PATERSON, 2013). Estes acontecimentos vieram

numa altura em que diversas empresas europeias estavam a ser compradas por

investidores norte-americanos, o que representava um ataque à soberania dos

países da europa (idem, 2013). Apesar dos argumentos de Gaulle, um possível

retorno ao ouro iria criar uma pressão desinflacionária a nível global e dar vantagem

aos produtores de ouro como a África do Sul e o regime comunista da União

Soviética - considerações geopolíticas que desincentivavam o retorno ao padrão-

ouro (RICKARDS, 2011).

Em 1967, o Reino Unido, cuja balança de pagamentos já se deteriorava desde o

início da década de 1960, apresentava-se agora com severos problemas

económicos. Os Estados Unidos, do outro lado do atlântico, deparavam-se com

dificuldades em responder à procura, à medida que enormes quantidades de ouro

eram exigidas por parte dos países que tinham já abandonado o Gold Pool27. Os

dois países de referência no sistema de Bretton Woods viam-se assim obrigados a

rever as suas políticas económicas. A 18 de novembro de 1967, no espaço de um

dia, a libra esterlina desvalorizou 14.3% face o dólar norte-americano - penalizando

a confiança no sistema do dólar como reserva de valor (EICHENGREEN, 2008). Em

junho de 1967, o esforço em assegurar a convertibilidade e valor do ouro por parte

dos EUA - responsabilidade divida pelo Gold Pool - levou a que, em março de 1968,

os mercados de ouro encerrassem temporariamente, permanecendo parados por

duas semanas (idem, 2008). No final desse mês, o centro financeiro responsável

pela cotação do ouro em Londres tinha colapsado, forçando a adaptação do

sistema, permitindo uma dupla cotação. Apenas os bancos centrais teriam acesso

ao preço anteriormente estabelecido, outros compradores conseguiam valores de

$40 dólares ou mais (idem, 2008). A criação de um sistema duplo de cotação

permitiu o restauro de alguma ordem monetária, contudo, apesar dos Estados

Unidos ainda assumirem a convertibilidade, a necessidade da reforma do sistema de

Bretton Woods tornava-se evidente.

27

Estabelecido em 1961, refletia um conjunto de países desenvolvidos que acordavam assegurar a oferta de ouro ao preço estabelecido. A França abandonou o Gold Pool em junho de 1967 (EICHENGREEN, 2008).

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21

Em 1969, o FMI criava uma nova forma de reserva-valor, o Special Drawing Rights

(SDR) ou Direito de Saque Especial (DSE). Não suportada por nenhum ativo

tangível em particular, visava reequilibrar situações anormais, comuns em situações

de balanças de pagamentos inadequadamente suportadas pelas reservas de ouro

existentes (RICKARDS, 2011).

O período de 1967 a 1971 é fortemente caracterizado pela distorção das relações

monetárias e sociais. A desvalorização da libra em 1967 e de outras moedas, a

inflação, o desemprego e os resgastes financeiros, a par da inconvertibilidade do

ouro e respetivo colapso do seu mercado, marcaram fortemente este período. Os

Estados Unidos, que até agora tentavam a todo custo manter o valor do ouro em

$35 dólares, repentinamente deixaram de o fazer. Políticas associadas ao mandato

do presidente Richard Nixon vieram a implementar a não-convertibilidade e outras

barreiras comerciais na forma de taxas sobre as importações.

Em finais de setembro de 1971, membros signatários do General Agreement on

Tariffs and Trade (GATT)28 ou Acordo Geral de Tarifas e Comércio reuniram-se para

avaliar se a taxa excessiva de 10% sobre todas as importações norte-americanas

era uma violação ao comércio justo. Rickards defende que pelas regras do GATT

havia justificação suficiente para sancionar os EUA (2011). Contudo, as

consequências dos conflitos económicos internacionais da década de 1930 ainda

estavam bem presentes, e, por outro lado, os interesses políticos e geoestratégicos

desencorajavam novos conflitos comerciais (RICKARDS, 2011). Este ponto,

associado ao importante papel americano na defesa militar contra os países como a

União Soviética, dava margem aos Estados Unidos para impor os seus interesses

(VIOTTI, 2014). O Japão e a Europa teriam que suportar um dólar mais fraco (idem,

2014).

Numa conferência posterior do G1029, os Estados Unidos vieram a exigir um

reequilíbrio nas balanças comerciais de $13 mil milhões de dólares a seu favor.

Duas semanas depois, nos inícios de outubro, o Ministro dos Negócios canadiano

28

O Acordo Geral de Tarifas e Comércio, assinado em 1947, tinha como principal objetivo a redução substancial de taxas alfandegárias e de outras barreiras ao comércio internacional. A 1 de janeiro de 1995 o GATT é substituído pela Organização Mundial do Comércio. Atualmente fazem parte desta organização 160 membros (WTO, [s.d.]). 29

Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino Unido, Suécia e Suíça. Em 1964, a Suíça foi incorporada ao grupo, que manteve a denominação G-10.

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22

Jean-Luc Pépin afirma que a sobretaxa americana de 10% sobre as importações iria

ter impacto sobre 90 mil empregos canadianos no espaço de um ano (MUIRHEAD,

2004). A depreciação foi conseguida através da implementação da sobretaxa norte-

americana, contudo, estava ainda longe dos 12 a 15 pontos percentuais pretendidos.

Em resposta aos desequilíbrios, o FMI tenta reajustar a sua estrutura de taxas

cambias fixas criando uma margem possível de flutuação sem necessidade de

autorização prévia e aumenta a utilização dos DSE (RICKARDS, 2011). Havia ainda

outro importante ponto de reflexão - a inflexibilidade dos Estados Unidos em alterar

o valor ancorado ao ouro, ainda nos $35 dólares. Um aumento do valor do ouro iria

tanto desvalorizar o dólar como as restantes moedas e por isso, para os Estados

Unidos, era, em teoria, indiferente o valor representativo do ouro30 (EICHENGREEN,

2007). Com uma possível valorização do ouro, a França e a Alemanha, pela

dimensão das suas reservas, seriam dos principais vencedores europeus

(RICKARDS, 2011).

No início de dezembro, apesar do panorama geral apresentar uma apreciação das

moedas europeias face ao dólar, os Estados Unidos vieram agravar as suas

condições ao impor, como contrapartida do levantamento da sobretaxa, uma

valorização das moedas europeias de 11% e uma desvalorização do dólar face ao

ouro de mais 10%. Isto representava uma desvalorização efetiva muito superior à

que as economias europeias poderiam suportar (RICKARDS, 2011).

Após novas resoluções entre os Estados Unidos e a França, estabeleceu-se uma

desvalorização do dólar em 9 pontos percentuais face ao ouro e de 3 a 8 pontos

face a outras moedas principais. Com a exceção do Reino Unido e da França, que

não desvalorizaram para além dos 9 pontos percentuais, a imposição norte-

americana foi conseguida. Foi no Japão, no entanto, que estas medidas tiveram

maior impacto, representando um ajuste perto de 17%. O domínio do dólar e das

suas reservas de ouro, a agressividade das suas políticas e a imposição de taxas

sobre as importações tinham servido o seu propósito. Estes acontecimentos foram

extremamente positivos para a economia dos Estados Unidos. Num curto espaço de

tempo as bolsas dispararam e os sectores da indústria automóvel, aeronáutica e

cinematográfica beneficiaram da alavancagem nas exportações (KIRSHNER;

30

Recorde-se que os Estados Unidos já não assumiam a convertibilidade em pleno. Tecnicamente, a convertibilidade não estava descontinuada contudo, era recusado por vezes o valor anteriormente estabelecido de $35 dólares por onça de ouro (MACEDO; EICHENGREEN; REIS, 2005).

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23

BERNSTEIN, 1996). Contudo, mesmo este acordo entre os EUA e os países da

europa foi limitado na sua abrangência e perseverança. Menos de dois anos depois,

os Estados Unidos entravam na maior recessão desde a 2GM. Agravada pela crise

do petróleo, o desemprego atingiu níveis excessivos e a inflação arrastou as bolsas

de valores para o negativo. A prova de que se poderia alcançar a prosperidade e

pleno emprego exclusivamente pela desvalorização ficou assim prorrogada

(RICKARDS, 2011).

Em 1972, o Reino Unido tornou a desvalorizar a sua moeda perdendo um total de

10% do seu valor até o final do ano. As consequências de uma moeda

sobrevalorizada propagavam-se por toda a europa com especial impacto em Itália. A

3 de julho de 1972, o franco suíço e o dólar canadiano adotavam um novo regime

monetário, permitindo a flutuação cambial livre face a outras moedas.

O que começara como uma desvalorização da libra em 1967 tornou-se numa corrida

ao dólar e a outras moedas mais estáveis ou seguras, como o franco suíço e o

marco alemão31 (EICHENGREEN, 2008). Estava em vista a mudança para um

regime de flutuação cambial livre. Em 1973 o FMI declara o sistema de Bretton

Woods como oficialmente descontinuado e termina a correlação direta ao ouro. O

valor cambial era agora estabelecido pelos mercados, condicionado pelos governos,

bancos e especuladores (BORDO; EICHENGREEN, 1993).

Com o final de Bretton Woods, uma nova era monetária tinha surgido. As

economias, perante a incapacidade de controlar o valor cambial das suas moedas

em função dos seus interesses - muitas vezes com ganhos reais duvidosos,

permitiram que estas fossem cotadas livremente nos mercados internacionais. O

valor cambial passou assim a refletir, de uma forma mais transparente, as variações

da procura e de oferta, facilitando os fluxos de capitais internacionais e incentivando

a globalização económica. O regime cambial de taxas fixas tinha desaparecido

quase de forma global e os países viam-se agora a financiar os seus gastos

primariamente pelas reservas de valor e financiamentos externos (SPAHN, 2001).

Contudo, mesmo num regime de flutuações livres, as intervenções dos Estados e

bancos centrais permaneciam. Estas intervenções tinham impacto no comércio e na

31

Em 1971 observaram-se enormes fluxos de dólares para as economias europeias. A Alemanha, temendo a inflação, deixou a sua moeda apreciar. O mesmo se sucedeu com a Holanda e outras economias europeias (EICHENGREEN, 2008).

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24

economia. Representavam políticas mercantilistas com objetivos de manutenção do

valor cambial, que não eram vistas de todo, como políticas neutras.

Uma forma de evitar políticas defensivas ou reativas a estas intervenções era

geralmente a coordenação de acordos políticos com outros Estados (VIOTTI, 2014).

Se os Estados Unidos demonstrassem credibilidade e crescimento económico,

assim como controlo fiscal, os bancos centrais de outras economias podiam mais

rapidamente entrar em concordância com estas depreciações uma vez que as novas

reservas de dólares teriam tendência apreciativa (idem, 2014).

No início da década de 1980, os fundamentos do domínio do dólar moviam-se da

sua centralidade no SMI para o crescimento económico sentido nos Estados Unidos.

No entanto, segundo o Sistema de Reserva Federal, o dólar persistia

sobrevalorizado (SRF apud RICKARDS, 2011). Embora a relutância de alguns

países, os esforços norte-americanos em depreciar o dólar resultaram no acordo de

Plaza. Assinado em 1985, os ministros das finanças da Alemanha Ocidental, Japão,

França e do Reino Unido acordaram com a desvalorização do dólar primariamente

face ao franco, yen e marco alemão. De 1985 a 1988, apenas no espaço de três

anos, o dólar depreciou cerca de 40% face ao franco francês, 50% face ao yen e

20% face ao marco alemão (idem, 2011). Contudo os efeitos deste acordo e apesar

da depreciação resultante, ficaram aquém dos resultados económicos esperados. O

desemprego manteve-se nos 7% em 1986 e o crescimento ligeiramente acima dos 3

pontos percentuais em 1987. Na realidade, esta solução teve inclusive impactos

adversos sobre a inflação norte-americana, atingindo 6.1% no início da década de

1990 (idem, 2011).

Em 1987, o ouro já tinha perdido o papel de moeda-padrão, o dólar tinha depreciado

face ao yen e marco alemão; a libra tinha colapsado; o euro era apenas um projeto

de convergência monetária europeu e a China, ainda não tinha surgido como

economia de destaque no sistema internacional. Para já, o Sistema Monetário

Internacional mantinha-se estável, mas a sua estabilidade era suportada na

capacidade do dólar manter o seu valor. Apesar de diversos ciclos económicos,

estas condições prevaleceram durante toda a década de 1990 (VIOTTI, 2014).

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25

No início do novo milénio, o dólar era ainda caracterizado pela sua primacia. Em

oposição, o euro tinha apenas agora subido ao pódio das moedas mundiais. O

domínio do dólar tinha facilitado assim a política externa e de defesa dos Estados

Unidos desde a 2GM, tal como a libra tinha permitido nos finais do século XIX, a

Inglaterra assegurar-se como principal potência mundial (VIOTTI, 2014). O SMI

tentava agora reforçar e expandir medidas cooperativas para acomodar maior

competitividade monetária por parte das moedas emergentes, um passo importante

para o dia em que os Estados Unidos perdessem algum do seu domínio monetário

(idem, 2014).

2.2 Uso internacional das moedas

"The introduction of the euro, on the other hand, will challenge the status of

the dollar in the international monetary system and change the power

configuration. For this reason the introduction of the euro may be the most

important development since the dollar replaced the pound sterling as the

dominant international currency in World War I."

Robert Mundell, 2000. p.57.

A maioria dos autores considera três funções clássicas da moeda: meio de

pagamento, unidade de conta e de reserva de valor (KRUGMAN, 1992). Como meio

de pagamento ou moeda veicular, ou no caso dos Estados, moeda de intervenção,

observa-se o seu uso para transação de ativos mas também, como forma de

intervenção nos mercados, para influenciar a procura e a oferta. Atualmente, os

bancos centrais não conseguem, face à dimensão dos mercados, ter pleno impacto

no valor cambial através da compra e venda de moedas, no entanto, a intenção de

depreciação ou apreciação de uma moeda por parte destes, pode levar os

investidores a seguirem a mesma tendência (FRISCH, 2003). Como moeda de

unidade de conta ou referência, uma vez que uma economia pode ancorar a sua

moeda a outra (a referência). Por último, como moeda de reserva, funcionando

como subproduto das intervenções cambiais ou como forma de preservar valor para

o futuro (CUNHA; PRATES; LÉLIS, 2008). De facto, após a crise cambial do final da

década de 1990, diversos países, principalmente economias emergentes,

começaram a adotar modelos de acumulação de reserva precaucionais como forma

de se protegerem contra choques económicos externos (idem, 2008). Se uma

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26

moeda está ancorada, ou por outro lado, obedece a uma taxa cambial gerida, é

necessário que a autoridade monetária da moeda ancorada possua reservas

suficientes para intervir e contrariar qualquer tendência de subida ou descida.

Adicionalmente, se a moeda de referência utilizada é primariamente o meio veicular

de transação de bens num contexto internacional, a autoridade monetária poderá ter

ainda mais incentivos ao ancorar a sua moeda a esta, uma vez que pode funcionar

como defesa da sua economia a flutuações cambiais excessivas (CONTI; PRATES;

PLIHON, 2013). Existe, contudo, uma clara preponderância da função de reserva de

valor. Se uma moeda é utilizada como forma de reserva, esta terá maior

probabilidade de assumir mais destaque nas outras funções (idem, 2013). Aqui

observa-se uma clara vantagem do dólar face às outras moedas, assim como,

teoricamente, um fator positivo do aumento do papel do euro no SMI.

Assim, a acumulação de reservas internacionais é objetiva à transferência de valor,

do presente para o futuro, em contextos de incerteza (KEYNES, 1936). Da mesma

forma, serve para compensar eventuais desequilíbrios na balança de pagamentos e

para possibilitar intervenções nos mercados cambiais - seja para reduzir a

volatilidade cambial, seja no esforço de determinar um patamar adequado para a

taxa cambial (CONTI; PRATES; PLIHON, 2013).

Krugman defende que as moedas que adquirem uso internacional, não o fazem pela

imposição de tal, mas como resultado de processos dos mercados ou ratificados por

acordos internacionais (1992). Eichengreen e Hausmann entendem que a

determinação das moedas-denominação de ativos é fruto da escolha dos

investidores internacionais, mediante análises da relação custo-benefício e da

diversificação de portefólios (2010). No entanto, Paul Viotti afirma que o poder

económico relativo dos EUA após a 2GM, e mais tarde, poder geopolítico,

permitiram aos EUA impor a sua vontade nas reformas do SMI (2014). Assim, Viotti

defende que não são os agentes privados que determinam as moedas

preponderantes no uso internacional, mas sim a hierarquia monetária, determinada

por questões geopolíticas e económicas - influenciadas pelo hard power e softpower

de um Estado (VIOTTI, 2014).

Por outro lado, é praticamente irrefutável a relevância da capacidade económica no

papel da moeda. O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA representa cerca de 25%

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27

do PIB mundial, constituindo seguramente um dos principais fatores que potencia o

papel do dólar. O PIB da Zona Euro atinge valores perto dos referidos dos EUA e, da

mesma forma, tal tem fortemente contribuído para o aumento do papel do euro

(WEOD, 2014). No caso da China, contudo, apesar da sua dimensão, a falta de

integração económica tem inviabilizado um maior domínio do renminbi (RMB)

(VIOTTI, 2014).

Segundo Frisch, as moedas usadas em âmbito internacional são aquelas emitidas

pelos países que contam com uma política económica responsável32, ou seja, que

representem estabilidade macroeconômica, disciplina fiscal, políticas monetárias

transparentes e equilíbrio na balança de pagamentos (2003). A lógica subjacente é o

grau de confiança depositado na economia emissora. Por outro lado, quando

analisadas as taxas de inflação de uma economia, elevados valores associados a

uma moeda internacional poderão, a longo prazo, diminuir a procura da moeda. No

entanto, o contrário não é por si só verdade, uma vez que taxas deflacionárias

persistentes podem originar baixo crescimento e outros problemas económicos

(idem, 2003). Por outro lado, recorda-se que o poder geopolítico é também um dos

fatores determinantes do uso internacional das moedas. Lindert refere que as

influências geopolíticas podem ocorrer tanto nas relações bilaterais entre os países

como também sobre as instituições multilaterais (1969). De facto, durante a Guerra

Fria, a incidência do poder norte-americano sobre questões de segurança e defesa,

institucionalizadas na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), cimentou

os fundamentos de financiamento das forças destacadas assim como, apesar da

relutância de alguns países, da obrigação de aceitar e reservar dólares sem limite.

Desta forma, pode dizer-se que era permitido às forças americanas o financiamento

ilimitado de dólares, uma vez que os restantes países eram obrigados a aceitá-los

(VIOTTI, 2014). Outros fatores passam pelo poder de voto que um Estado detém no

FMI e, inevitavelmente, a capacidade militar dos próprios países (CONTI; PRATES;

PLIHON, 2013). Observa-se assim, os fatores que potenciam os EUA como principal

ator político e económico no cenário internacional. Os Estados-membros europeus

são também atores de peso nas decisões geopolíticas internacionais mas o facto de

não possuírem um governo central, agravado pelos recentes conflitos ideológicos

32

Não se defende que o domínio do dólar tem sido por uma política responsável dos Estados Unidos, uma vez que existe uma forte inercia das moedas predominantes do sistema de reserva global.

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28

internos, tem penalizado a credibilidade e por sua vez o papel do euro no contexto

internacional (CARTAPANIS, 2009).

Muitas vezes, os bancos centrais conseguem intervir ou ajustar as suas políticas

com objetivos de acelerar ou ampliar o uso internacional da sua moeda, podendo

contudo, assumir uma postura mais neutra ou até de evitar a exposição da sua

moeda (FRISCH, 2003). Como se observa, os países que detém um elevado poder

económico e geopolítico conseguem, até certo ponto, impor as suas vontades no

uso da sua moeda a outros países. Ainda que essa imposição não seja explícita, os

meios de persuasão são numerosos e existem diversas medidas que podem ser

adotadas pelos governos e bancos centrais para reforçar o papel das suas moedas

(idem, 2003).

Os Estados Unidos, por exemplo, desde sempre adotaram uma postura de estímulo

ao uso internacional da sua moeda (CONTI; PRATES; PLIHON, 2013). No início do

século XX, foi criada a Comissão Monetária Nacional norte-americana, cujo objetivo

era de analisar e discutir, entre outras questões, os meios necessários para reforçar

o papel internacional do dólar (FLANDREAU; JOBST, 2009). Após a 2GM, a

expansão do uso do dólar foi resultante do elevado crescimento económico, assim

como, dos elevados investimentos e financiamentos americanos no exterior e,

sobretudo, da promulgação do acordo de Bretton Woods, que colocou o dólar no

centro do SMI33 (RICKARDS, 2011). Por outro lado, o Japão, adotou uma postura

inversa ao desincentivar a utilização externa do yen, uma vez que poderia causar

efeitos negativos na sua estabilidade económica, assim como criar pressões

apreciativas e deflacionárias na moeda japonesa (idem, 2011). A China, de forma

extrema, possui uma política de elevada restrição à mobilidade de capitais e de forte

controlo cambial, o que impede o RMB de assumir um uso significativo no SMI. Na

Zona Euro em contrapartida, a posição oficial do BCE é de neutralidade. O BCE não

assume uma postura de incentivo ao aumento do euro como reserva de valor

internacional (BCE, 2014). De acordo com o BCE, o uso internacional do euro e de

outras moedas deve ser inteiramente baseado na procura externa e na credibilidade

da moeda (CARTAPANIS, 2009). No entanto, o euro tem-se mantido estável como

segunda maior forma de reserva de valor (COFER, 2015). O BCE calcula um

33

Note-se que durante as negociações de Bretton Woods, os EUA opuseram-se radicalmente à proposta de Keynes que defendia a criação de uma moeda supranacional – o bancor (RICKARDS, 2011).

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29

indicador do papel internacional do euro que confirma a tendência positiva de 1999 a

2003 e relativamente estável até 2014 (2014). Em parte, este aumento do papel do

euro deu-se pela ótica territorial ao abranger grande parte dos países europeus.

Atualmente, com a entrada da Lituânia a 1 de janeiro de 2015, fazem parte da

moeda única 19 Estados-membros (SYTAS, 2014). Por outro lado, o aumento do

uso internacional do euro deveu-se à sua liquidez, segurança e maiores taxas de

juro quando comparadas com as do dólar. O dólar permanece contudo, como

principal forma de reserva de valor e meio de pagamento (CONTI; PRATES;

PLIHON, 2013).

2.4 União Monetária Europeia

2.4.1 Histórico e critérios de convergência de Maastricht

As origens da criação da União Europeia como se conhece, precedem a momentos

do pós-guerra. Procurava-se recuperar a harmonia das relações europeias que já

tinham provado ser critério mandatório para o crescimento e prosperidade. Destaca-

se deste longo percurso a constituição da Comunidade Europeia do Carvão e do

Aço (CECA) em 1951 e o Tratado de Roma em 1957, que criou a Comunidade

Económica Europeia (CEE) (DINIZ; JAYME, 2013).

Entre 1973 e 1976 os progressos em si da integração monetária tinham sido

insuficientes. Apenas em abril de 1978, após o apelo da integração monetária feita

por Jenkins, presidente da Comissão Europeia (CE), se estabelece uma nova

ideologia para o Sistema Monetário Europeu (SME) (COSTA, 2004). Esta iniciativa

franco-alemã é finalmente acordada em julho de 1978 pelo Conselho Europeu de

Brema, encarregando os ministros das finanças da elaboração de um sistema em

que todos os países da comunidade devessem participar e que não dependesse do

dólar (idem, 2004). São assim definidos os objetivos do SME:

“1. A criação de uma zona de estabilidade monetária externa e interna na Europa,

visando baixos níveis de inflação e taxas de câmbio estáveis.

2. A constituição de uma estrutura-quadro, visando uma maior cooperação das

políticas económicas dos Estados-membros, a fim de se conseguir uma maior

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30

convergência em termos de resultados económicos, bem como o crescimento de

emprego.

3. A obtenção de estabilidade monetária global, através de políticas comuns

relativamente a moedas terceiras e da repartição do impacto dos choques

monetários externos por todas as moedas participantes” (COSTA, 2004, p. 239-240).

Com a criação de uma moeda artificial, é em 1979 que entra em vigência este

quadro de normas. A Unidade Monetária Europeia34 serviria assim como ponto de

referência para o resto das moedas europeias (SPAHN, 2001). Segundo Spahn,

com a criação do SME, a Alemanha procurava alcançar uma melhor defesa contra a

apreciação do marco alemão, criando uma área de taxas cambiais fixas com

moedas mais depreciadas (2001).

A liderança da moeda alemã no SME, imposta pela dimensão da sua economia35,

credibilidade e estabilidade, garantia-lhe o seu estatuto de reserva de valor

internacional e ancorava as restantes moedas do sistema ao marco alemão. A

Alemanha defendia políticas monetárias mais conservativas que tinham reflexos nas

restantes moedas dos países europeus, adicionalmente, “os países com a moeda

mais fraca acabavam por ficar muitas vezes desamparados no contexto das

intervenções intramarginais” (COSTA, 2004, p. 244). Era neste ponto que residia a

assimetria europeia, de facto, a política monetária alemã afetava todo o bloco

monetário europeu. Na realidade, nesta altura, “não fazia parte do Bundesbank

conduzir a sua política em função dos outros países” (idem, 2004, p. 245).

Em 1986 deu-se um importante passo para a liberalização dos fluxos de bens,

serviços e fatores de produção com a assinatura do Ato Único Europeu (CINTRA;

MARTINS, 2013). Em 1992 é assinado o Tratado de Maastricht, também conhecido

como Tratado da União Europeia, criando formalmente a União Europeia em

substituição da CEE e que veio estabelecer critérios de convergência para a UEM

(DINIZ; JAYME, 2013). Com uma clara ênfase dada à política económica e

monetária, os redatores deste tratado tinham em mente a criação de uma moeda e

mercado único com o objetivo de facilitar as relações comerciais e suprimir o risco

34

European Currency Unit (ECU) 35

A Alemanha como principal ator económico europeu, já advém desde o final dos anos 1980, uma vez "que a economia alemã representava mais de 30% do PIB comunitário, […] reforçado, também, por uma forte credibilidade internacional” (COSTA, 2010, p.40).

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31

cambial. Pretendia-se de igual forma reajustar o alinhamento de interesses nas

áreas de defesa, justiça e comércio, permitindo a livre circulação de pessoas, bens,

capitais e serviços (CINTRA; MARTINS, 2013).

Para aderir à UE, os Estados tiveram de cumprir com critérios não só de

convergência jurídica mas também de natureza económica, como por exemplo:

“1. Respeito, durante dois anos, pelos limites de flutuação do SME.

Este critério perdeu o seu sentido a seguir à crise do sistema monetário europeu de

julho de 1993 e à decisão de alargar as margens de flutuação entre as moedas do

SME de mais ou menos 2,25% a mais ou menos 15%.

2. Taxas de inflação em função da média dos três países europeus com melhor

desempenho económico.

3. Défices orçamentais inferiores a 3% do PIB.

4. Endividamento público limitado a 60% do PIB.

5. Taxas de juro a longo prazo não excedendo em mais de 2% a média dos três

países da comunidade em que estas taxas são mais baixas” (BONIFACE, 2008,

p.333).

O pacto de estabilidade e crescimento, assinado a 2 de agosto de 1997, foi a última

etapa antes da criação da moeda única e fim do antigo SME (DINIZ; JAYME, 2013).

O início de funcionamento do BCE (Banco Central Europeu), que veio substituir o

Instituto Monetário Europeu, tinha como objetivo a análise conjunta das

necessidades da Zona Euro, focado nas condicionantes de todos os Estados-

membros. No entanto, “questões relacionadas com níveis de desemprego,

produtividade, retornos do capital humano ou fatores de competitividade”, eram

menos focadas nestes tratados (COSTA, 2010, p.88).

Segundo Robert Mundell, a teoria das áreas monetárias ótimas aborda alternativas

às taxas cambiais flutuantes como fator de equilíbrio das economias. Uma das

alternativas é a criação de taxas cambiais fixas ou de uma moeda comum. No

entanto, como a moeda é parte da soberania nacional, a reorganização monetária só

é possível se acompanhada por grandes mudanças políticas (1961). Neste aspeto,

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32

Kenen reitera a importância de a política fiscal coincidir com a área monetária

através da distribuição otimizada das receitas de impostos entre países membros

para reduzir as divergências regionais (1969). A UEM aparece assim como forma de

reduzir o efeito negativo da instabilidade dos preços internos, fruto de variações

cambiais, além de favorecer a promoção da mobilidade de fatores e capitais entre os

países constituintes da moeda única.

Onze membros qualificaram-se inicialmente com os critérios de convergência e

adoção da moeda única. Estes incluíam a Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha,

Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal. Em janeiro

de 2001, o número de Estados-membros que adotaram o Euro aumentou para 12

com a entrada da Grécia e em 2007, com a entrada da Eslovénia, para 13.

Atualmente, com a entrada da Lituânia, fazem parte da moeda única 19 Estados-

membros (BCE, 2015a). Antes do Euro, a política monetária era tida como um

importante instrumento económico e político, a perda da política cambial por parte

dos Estados foi um dos custos da moeda única (CINTRA; MARTINS, 2013).

Um claro vencedor do Euro é a Alemanha. Entre 1996 e 2008 as suas exportações

cresceram a uma velocidade duas vezes superior às dos parceiros europeus. No

mesmo período, o superavit comercial da Alemanha com os outros membros da UE

passou de € 20 mil milhões para € 100 mil milhões por ano, que permitiu maiores

níveis salariais e empregabilidade (CINTRA; MARTINS, 2013). De facto, os critérios

de convergência inflacionária e orçamental de Maastricht foram atingidos pela

maioria dos países membros até 2008, no entanto, com consequências no

crescimento dos países membros menos competitivos (idem, 2013). Segundo Diniz

e Jayme, a evolução do grau de abertura e mobilidade de fatores de produção não

esteve de acordo com o ideal pela teoria das áreas monetárias ótimas, o que não

contrabalançou este problema (2013).

A crise financeira de 2008, os défices e o desemprego de alguns países membros

geraram a desconfiança do euro nos mercados internacionais. Isto provocou perdas

de credibilidade em relação às economias mais afetadas com reflexos sobre a Zona

Euro como um todo. A incomportabilidade dos défices públicos colocaram os

governos reféns de financiamentos externos e condicionalismo impostos pelo FMI e

UE (CINTRA; MARTINS, 2013). Segundo Cintra e Martins, a solução para a

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33

recuperação financeira na Europa passa pelo corte dramático nos gastos públicos,

congelamento de salários e pensões, fim de benefícios fiscais e aumento de

impostos, agravando a instabilidade social sentida nestes países. Imposições da

Alemanha e outros fortes vencedores da moeda única que prosseguem com a

estratégia de contrair as políticas fiscais internas dos países vizinhos (2013).

Procuram impor pactos de competitividade que segundo Cintra e Martins, são uma

tentativa de coagir reduções de salários, cortes e demissões no setor público (2013).

Wolfgang Münchau defende que os alemães cultivavam uma narrativa conveniente

sobre a crise europeia. Se há uma crise, ela é fiscal e a resposta é a austeridade

(2011).

As manifestações populares contra os programas de austeridade multiplicam-se. As

economias europeias mais afetadas resistem a medidas de austeridade, de redução

de salários, corte de benefícios sociais e aumento de impostos. Segundo Diniz e

Jayme, o impacto destabilizador está ligado à falta de integração política e

coordenação institucional da Zona Euro (2013). Esta falha, traduzida no número

reduzido de políticas comuns de natureza económica e fiscal que poderiam

minimizar as disparidades económicas, a par de fortes medidas de austeridade,

limitam a defesa e penalizam a credibilidade do Eurossistema (DINIZ; JAYME,

2013).

Por outro lado, políticas mais conservadoras, em parte pelos critérios de

convergência impostos aos Estados-membros, limitam a ação do BCE não

permitindo maiores incentivos ao crescimento e ao ajuste necessário da inflação. De

facto, com raízes no modelo de atuação do Bundesbank, estas diretivas foram

condicionalismos impostos pela Alemanha à altura da criação da UME (SPAHN,

2001).

Diniz e Jayme defendem que as disparidades dentro da UE residem na limitação dos

instrumentos dos Estados-membros, consequente de menor controlo sobre a política

monetária (2013). A política atual do BCE não permite assim servir em pleno os

interesses dos países e atua como entrave na promoção do crescimento e emprego

(DINIZ; JAYME, 2013).

As políticas fiscais e monetárias expansionistas colidem com as ideologias mais

conservativas, de países membros como da Alemanha e outros países do norte da

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34

europa. Estas assimetrias políticas dificultam a integração e viabilidade da moeda

única. Com as dificuldades sentidas nas economias da Grécia e mesmo Itália, a falta

de medidas internas à União Europeia e a incapacidade de atuação do BCE,

permitiram que as políticas destes países divergissem daquelas que criaram a União

Económica e Monetária em primeiro lugar. A possível saída da Grécia nos anos

seguidos da crise, ainda não totalmente afastada, coloca enormes pressões nos

mercados financeiros e na construção da integração europeia (MANGASARIAN,

2015).

2.4.2 Modelos de ação do BCE

Na Europa, após a Segunda Guerra Mundial, existiam dois principais modelos de

política monetária. As principais diferenças entre os modelos anglo-francês e alemão

prendem-se com os objetivos económicos e ideologias institucionais. No modelo

anglo-francês, as políticas monetárias estão subjugadas à concordância política. Em

contrapartida, o modelo alemão foi desenhado em volta da independência. Assim,

por exemplo, uma alteração das taxas de juro no modelo anglo-francês carece de

intenções políticas em concordância com tal, em contraste, no modelo alemão, os

bancos centrais atuam de forma independente e possuem completo poder de

decisão sobre a política monetária (ESTEVES, 2014). Quanto aos objetivos

primários, o modelo alemão prioriza a estabilidade dos preços enquanto o modelo

anglo-francês consagra diferentes objetivos ao focar, para além da estabilidade dos

preços, o crescimento económico, a elevada empregabilidade e a estabilidade

financeira (idem, 2014). Ressalva-se que a estabilidade dos preços por parte do

modelo alemão não possui um caráter de exclusividade, contudo, políticas que

beneficiem a empregabilidade ou crescimento económico não podem colocar a

estabilidade inflacionária em risco (idem, 2014).

Quando o BCE iniciou a sua operação em 1999 foi confrontado com a difícil tarefa

de gerir a política monetária num contexto diferente do que os países europeus

estavam habituados (JAEGER, 2003). A incerteza dos diferentes impactos sobre as

diversas economias da Zona Euro levou a políticas que focassem a estabilidade em

detrimento de outras. De facto, o princípio de independência e a definição de

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35

objetivos, ao encontro da estabilidade36 dos preços, foram claramente explícitos nos

estatutos do BCE e no Tratado da União Europeia (FRISCH, 2003).

Durante a década de 1980, as teorias monetaristas tinham prevalecido sobre os

bancos centrais e influenciaram eventualmente o documento The Delors Report

(1989) que veio a estabelecer os princípios-base da criação da União Monetária (DE

GRAUWE, 2009).

De Grauwe refere duas principais razões para o BCE ter seguido a ideologia

monetarista. Na primeira, refere a prevalência de teorias monetaristas à altura da

criação do BCE. De facto, apesar das teorias keynesianas se estabelecerem como

predominantes após a 2GM, estas foram severamente postas em causa na década

de 1970 com a crise petrolífera (2009). A aproximação da política monetarista segue

a ótica da estabilidade dos preços – que deve ser inteiramente da responsabilidade

dos bancos centrais. Políticas expansionistas que estimulam o crescimento e

reduzem o desemprego têm inevitavelmente efeitos sobre a estabilidade dos preços

- o monetarismo defende que cabe aos bancos centrais prevenir estas

irresponsabilidades (HAYO, 1998). A segunda razão foi a elevada prepotência da

economia alemã à altura da criação da UE. O governo alemão, como condição de

adesão à UEM, tinha expressado claramente que o BCE deveria ser independente e

priorizar a estabilidade dos preços (DE GRAUWE, 2009). Desta forma, o modelo

alemão prevaleceu e objetivos como crescimento económico e empregabilidade

foram colocados em segundo plano (COSTA, 2010). Tal como tinha acontecido com

o sistema de Bretton Woods, as economias e as moedas mais fortes conseguiam

agora impor as suas vontades aos restantes parceiros (VIOTTI, 2014).

Segundo De Grauwe, após a crise de 2008, os estímulos económicos por parte do

BCE, como a descida de taxas de juros e outros programas monetários, foram muito

mais tardios do que os definidos pelo banco central norte-americano (2009).

Observa-se assim que o BCE segue um modelo mais conservador do que o Sistema

de Reserva Federal norte-americano e outros, precisamente, por se focar

inteiramente no controlo da inflação económica.

36

O BCE define a estabilidade dos preços com base no indicador Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) para a Zona Euro abaixo, mas perto dos 2% ao ano (BCE, 2015b).

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36

2.4.3 Taxa de câmbio real e competitividade

“In terms of economic impact, Western Europe has been hit at least as hard as the

United States in 2008. This is partly because of the appreciation of the euro.”

Diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn, 2010. p.36.

O principal entrave ao crescimento económico e à recuperação financeira dos

países mais afetados pela crise económica, encontra-se na incapacidade da UEM

em superar diferenças estruturais entre Estados-membros. Até à data, os problemas

económicos demonstram este fenómeno de forma cabal (DINIZ; JAYME, 2013).

Segundo Smaghi, os principais tratados europeus referem valores de convergência

nominal. Isto não significa que a convergência real não seja alvo de políticas

europeias, no entanto, deve notar-se que a falta de convergência macroeconómica

apresenta dificuldades para a moeda única e atua como principal obstáculo à

integração europeia (2008). Por norma, a convergência aumenta os fluxos de

capitais para os países menos desenvolvidos através de investimentos e

financiamentos externos que, por sua vez, provocam a apreciação cambial real e

maiores taxas de inflação (SMAGHI, 2008). Apesar de, se observar a apreciação

cambial real de algumas economias mais afetadas, face às políticas fiscais

contracionistas e à incapacidade de reajustes salariais, não se tem observado taxas

de inflação mais elevadas nestes países (BCE, 2015c). Assim, apesar do alto grau

de integração das economias, representado na mobilidade de capitais e comércio

interno à Zona Euro, persiste a discrepância significativa da taxa cambial real

provocada pelos preços relativos (DINIZ; JAYME, 2013). Irlanda, Espanha, Itália,

Portugal e Grécia foram os países onde a taxa cambial real ficou mais valorizada,

exatamente por serem países menos desenvolvidos e com menor inserção nas

exportações mundiais se comparados com a Alemanha. Com efeito, a relutância de

políticas mais expansionistas e a defesa de um euro forte, impedem maior

competitividade cambial como solução para a recuperação económica (idem, 2013).

Com a capacidade competitiva relativa da Alemanha beneficiada pela crise

económica dos seus parceiros europeus, agravam-se os desequilíbrios estruturais

dos países da Zona Euro (REISENBICHLER; MORGAN, 2013). Só entre 1999 e

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37

2010 houve uma perda de competitividade de quase 30% da Irlanda face a

Alemanha - que vê agora a sua taxa cambial real mais depreciada (idem, 2013).

“This form of internal devaluation - an equivalent to currency devaluation

based on depressing wages - has fueled an export boom and made the

German economy more competitive than other eurozone countries. […]

Another blessing for German exporters has been the German-engineered

European Central Bank, given its obsession with low inflation and price

stability”.

Alexander Reisenbichler e Kimberly J. Morgan in Foreign Affairs, junho de 2013.

O Relatório do Economic European Advisory Group (EEAG) procurou demonstrar

que a convergência das taxas de juro do BCE e das demais condições de crédito

determinou um forte fluxo de capitais para os países mediterrânicos da UE

(BERTOLA et al., 2013). Nestes fluxos de capitais, tiveram um importante papel os

empréstimos às instituições financeiras espanholas, gregas, portuguesas e

irlandesas. Esta tendência de dispersão cambial real entre Estados-membros,

agravada pelo aumento dos défices estruturais e pela necessidade de maior

financiamento externo, atua como fator limitador do crescimento - problemas que

subjugam os países a especulações e a imposições políticas externas (SMAGHI,

2008). O que se demonstra é o aumento excessivo dos défices públicos, não só pela

deficiência na gestão de políticas fiscais internas, mas também pela falta de

competitividade provocada pela discrepância cambial real (MCCOMBIE;

THIRLWALL, 2004). O relatório do EEAG vem defender assim que os países

periféricos da Zona Euro necessitam de depreciar a sua moeda, como forma de

aumentar a sua competitividade e alavancar exportações e crescimento económico

(BERTOLA et al., 2013).

Assim, percebe-se que o aumento dos défices em conta-corrente dos países mais

afetados da Zona Euro relacionam-se com a perda de competitividade externa e

interna pela apreciação real do euro. Reitera-se que o problema principal da Zona

Euro repousa no modelo de união monetária concebido na Europa, que tendeu a

aprofundar as divergências estruturais entre os países e, consequentemente, não

permitiu o crescimento sustentado e convergente dos agregados macroeconómicos

(GUERRIERI, 2012). Segundo Feldstein, este rumo deu-se pela priorização de

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38

políticas monetaristas mais conservadoras e desajustadas aos múltiplos interesses

dos países membros, o que, em conjugação com a incapacidade de políticas fiscais

comuns levou a que não se tenha conseguido atenuar as diferenças estruturais

entre os países membros, com destaque, a divergência competitiva (2014).

Em teoria existem três formas de depreciação interna; pela queda dos preços nos

países menos competitivos, pela subida dos preços nos países centrais, ou ainda,

uma combinação das duas (BERTOLA et al., 2013). Adicionalmente, um possível

abandono controlado do Euro e posterior desvalorização - atualmente mais

frequentemente associado à situação da Grécia. No entanto, isto forçava a adoção

de outra moeda e por isso, essa possibilidade, é aqui desconsiderada. De facto e

segundo Soto, se tal acontecesse, seria pouco provável que a Grécia conseguisse

suportar os custos externos agora muito superiores - num sistema que Soto

caracteriza por padrão-euro inquebrável37 (2012).

A depreciação interna através da queda dos preços nos países periféricos tem

contudo efeitos secundários como a deflação económica e elevadas taxas de

desemprego. O aumento dos preços nos países centrais, apesar de não afetar

negativamente os países periféricos, faz com que estes países tenham que suportar

maiores taxas de inflação - o que encontra fortes resistências políticas (BERTOLA et

al., 2013). Por outro lado, como o Tratado de Maastricht considera valores relativos

à média europeia, uma grande discrepância inflacionária entre os países periféricos

e centrais poderia condicionar o tratado (GUERRIERI, 2012).

A principal dificuldade da depreciação interna reside na necessidade de cortes

salariais que se traduz em períodos de deflação e desemprego, o que destabiliza a

harmonia social e provoca manifestações e descontentamento. São estas as razões

pelas quais economistas como Keynes e Friedman realçavam os custos da

depreciação interna (BERTOLA et al., 2013). Atualmente, o desemprego da

população jovem atinge valores próximos de 50% em países como Espanha e

Grécia; a Europa, vive períodos de deflação económica e as manifestações contra

as restrições fiscais impostas são cada vez mais frequentes (EUROSTAT, 2014a).

Consequentemente, a Grécia move-se agora a favor de políticas anti-austeridade e

37

Soto vai mais longe afirmando que se existissem tantas dificuldades em abandonar o padrão-ouro no início do séc. XX como atualmente existem em abandonar o Euro, provavelmente os países teriam permanecido no gold standard e evitado muitos dos posteriores conflitos internacionais (2012).

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39

capazes de estimular a economia - políticas monetárias expansionistas, observadas

em países como Estados Unidos, Japão e Reino Unido (FORELLE; STAMOULI;

GRANITSAS, 2015).

Com a depreciação externa, o ajuste da moeda é relativamente rápido assim como o

impacto sobre as importações e exportações. Na depreciação interna, contudo,

estes ajustes são relativamente lentos e os efeitos positivos na balança de

pagamentos demoram a materializar-se. Tal significa que estes países necessitam

de financiamentos externos por maiores períodos, refletindo-se em maiores custos38.

No entanto, isto também implica que os efeitos negativos da depreciação,

especialmente agravados em países maioritariamente importadores, sejam diluídos

durante a depreciação interna (BERTOLA et al., 2013).

Na depreciação cambial externa, por outro lado, enquanto existem evidências

empíricas de que esta melhora a economia, as opiniões dos autores divergem.

Freund e Warnock afirmam que durante a fase de ajustamento cambial existe uma

queda significativa do crescimento económico (2007). Já Bussière, Saxena e Tovar

afirmam que após a depreciação cambial existe uma queda na capacidade produtiva

mas que é seguida de um forte crescimento económico, afirmando que findo o

aumento competitivo cambial, é duas vezes mais provável que a curto-prazo uma

economia cresça, do que sofra crescimento negativo (2012). De facto, a defesa de

que os países periféricos, ou a Zona Euro como um todo, necessitam de uma moeda

mais depreciada, ou em contraparte, não tão apreciada, ganha cada vez mais

relevância.

Segundo Odendahl, o euro encontra-se atualmente sobrevalorizado para os

interesses multidimensionais europeus (2014). Enquanto existem diversas maneiras

de determinar o valor mais justo de uma moeda, um método objetivo, é de analisar

as taxas de inflação correntes. Na Zona Euro, tanto a inflação como o crescimento

económico encontram-se em níveis extremamente baixos, o que defende a

sobrevalorização do euro face a outras moedas. Se o euro é demasiado forte para a

Zona Euro como um todo, quando reduzido às economias menos competitivas, a

situação é agravada (ODENDAHL, 2014).

38

Ressalvam-se situações em que, face à exposição da dívida pública em outras moedas, a depreciação cambial pode agravar os encargos financeiros com o exterior e não ao contrário. Este não é contudo o caso da Zona Euro, onde grande parte dos financiamentos são internos à moeda única (PERSSON, 2012).

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40

Figura 1 - Taxa de inflação Zona Euro (EUROSTAT, 2015).

Por outro lado, para a Alemanha, por exemplo, o euro poderia de facto estar mais

valorizado do que está atualmente. As razões refletem-se na procura externa

percentualmente reduzida, onde a taxa cambial tem importância. Além de um euro

forte assegurar um elevado poder de compra, a segurança económica que a

Alemanha possuí nas suas exportações faz com que, uma possível queda de

exportações com o exterior, não coloque a economia alemã em risco39 (ODENDAHL,

2014).

O modelo proposto pelo banco de investimento Goldman Sachs vem reiterar a

necessidade de uma depreciação do euro (GOLDMAN SACHS apud BERTOLA et

al., 2013). O modelo prevê que seja necessário uma depreciação real do euro

português de cerca de 35%. A Espanha e a Grécia precisam para estimular a suas

economias, uma depreciação de 30% e 20%, respetivamente. Já para a Itália, o

valor é menos pronunciado, aproximando-se de 10 a 15 pontos percentuais. Para a

Irlanda, o modelo prevê que uma depreciação real abaixo dos 5% seja suficiente

para reduzir os desequilíbrios internos (idem, 2013). O modelo prevê ainda que com

uma taxa de inflação média de 2% da Zona Euro, a taxa de inflação económica na

Alemanha atingiria cerca de 4% em contraste com valores perto dos 0% anuais nos

países periféricos (idem, 2013).

39

Dados de 2013 mostram que 57% das exportações da Alemanha foram dentro da UE, sendo 36.8% para países da moeda única (FMEAE, 2014).

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41

Tal como observado, o valor do euro ajustado às diferentes economias da Zona

Euro é constantemente tópico de discussão não só de entre os países periféricos,

mas como da França e da Alemanha. Segundo Magnani et. al., uma depreciação do

euro francês iria aumentar substancialmente a procura agregada, reduzir o

desemprego para níveis perto dos 6% e beneficiar as principais indústrias de

energia, extração mineira, têxtil, mecânica e elétrica (2014).

O BCE reafirma que não faz parte do seus objetivos assegurar nenhum determinado

valor do euro e que rege a sua política pela estabilidade dos preços e

consequentemente, controlo sobre a inflação (BCE, 2014). No entanto, o valor do

euro tem impacto no crescimento e inflação da economia. Se a moeda desvaloriza,

os preços das exportações tendem a ficar mais competitivos e as importações mais

dispendiosas, o que por sua vez, estimula maior crescimento e inflação. Da mesma

forma, Odendahl vem referir que a orientação do crescimento económico da UE não

passa pela orientação fechada nas exportações, mas admite que são necessárias

medidas mais expansionistas para estimular as economias europeias menos

competitivas (2014).

Feldstein vem contrapor o BCE, defendendo “um euro mais fraco para uma Europa

mais forte” (2014). Segundo Feldstein, uma descida de aproximadamente quinze

pontos percentuais da taxa cambial real do euro solucionaria muitos dos atuais

problemas económicos da Zona Euro (FELDSTEIN, 2014). Um euro mais fraco

aumentaria o custo das importações, o que elevaria a taxa de inflação da Zona Euro.

Por outro lado, a desvalorização aumentaria também o crescimento médio do PIB da

Zona Euro, ao estimular as exportações e ao encorajar os europeus a substituir os

bens e serviços importados por produtos internamente produzidos, impulsionando a

procura interna e o emprego (idem, 2014). Embora a competitividade da Zona Euro

não fosse imediatamente afetada, um aumento da competitividade cambial

espelhada num euro mais fraco, iria melhorar significativamente o balanço externo

com o resto do mundo, o que representa cerca de metade do comércio da Zona

Euro (idem, 2014).

Atualmente, a Europa encontra-se com um problema de deflação que afeta as

economias da moeda única (EVANS-PRITCHARD, 2015), o que, segundo Münchau,

representa um problema mais urgente que os atuais défices públicos (2014).

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42

Mario Draghi, presidente do BCE, tem enfatizado a sua preocupação de que a

valorização do euro nos últimos três anos possa ter aumentado o risco de deflação

(BERTOLA et al., 2013). Mas foi a sua famosa intervenção discursiva40, em julho de

2012, de que o BCE faria o que fosse necessário para preservar o euro que, embora

bem-sucedida na redução das taxas de juro nos países em dificuldades, contribuiu

para a força atual do euro (idem, 2013). A questão importante é de como evitar a

sobrevalorização do euro, ao mesmo tempo que se mantém a perceção de

estabilidade que Draghi ajudou a estabelecer em 2012 (FELDSTEIN, 2014).

Feldstein defende que, se o BCE pretender reduzir o valor do euro e aumentar a

taxa de inflação da Zona Euro, a única forma confiável de o fazer pode ser através

da intervenção direta no mercado cambial – ou seja, vender euros e diversificar as

suas reservas de valor. Ainda que a intervenção direta criasse desafios noutras

partes do mundo, os responsáveis políticos dos Estados Unidos e de outros Estados

devem reconhecer a importância de um euro mais competitivo para o futuro da

integração europeia (2014).

Conclui-se assim que existe uma forte defesa de um euro menos apreciado, de uma

maior adoção de políticas monetárias expansionistas e de um maior controlo sobre

as pressões deflacionárias. De facto, sem este último, o euro pode reapreciar,

prejudicando as exportações e afetando a, já crítica, inflação económica

(FELDSTEIN, 2014).

Assim como em outras moedas, o valor cambial do euro é uma função da procura e

da oferta influenciada pela perspetiva de segurança e crescimento da economia que

a emite - uma função sujeita a ataques, intervenções e especulações. Cabe à Zona

Euro, junto do BCE e de organizações internacionais, defender os interesses que

melhor suportam a economia europeia e a estabilidade do SMI.

40

vide Speech by Mario Draghi, President of the European Central Bank at the Global Investment Conference, London, 26 July 2012 (DRAGHI, 2012).

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43

3 Defesa económica e competitiva

Nos anos seguidos à crise, numa tentativa de rapidamente recuperar de todos os

efeitos económicos negativos, as economias mundiais mais afetadas iniciaram um

conjunto de políticas, pactos e acordos para que regressassem ao ritmo de

crescimento visto antes de 2008. Recorde-se ainda que grande parte destas

medidas, talvez inicialmente mais nos Estados Unidos, Japão e China que

propriamente na Europa, não eram de todo vistas como neutras (BERGSTEN,

2014). Atualmente, os principais conflitos de interesses geram-se em volta das

relações euro-atlânticas, euro-asiáticas e sino-americanas. Estes conflitos, não

confinados aos países emissores, tem impacto sobre todas as economias e

repartem responsabilidades pelas organizações internacionais (RICKARDS, 2011).

Por norma as relações euro-atlânticas são vistas como relações de interdependência

e não de confronto (RICKARDS, 2011). Em grande parte, isto deve-se à elevada

interconexão dos mercados financeiros e sistemas bancários. De facto, a

sensibilidade e vulnerabilidade provocada por esta particularidade (não tão

extensivamente observada noutras relações económicas) revelaram-se críticas nos

momentos pós-colapso e bancarrota do banco de investimento Lehman Brothers,

em setembro de 2008 (NYE, 2011).

Um euro mais forte mantém as importações de bens e serviços provenientes dos

EUA mais competitivos. Já um possível colapso do euro, pelas elevadas dívidas

soberanas dos países europeus, poderia condicionar todo sistema financeiro, assim

como quaisquer reservas de valor em euros (RICKARDS, 2011). Por outro lado, o

interesse da China em manter o valor do euro apreciado reflete-se no facto de a

Zona Euro ser um grande importador de bens asiáticos, para além da exponencial

exposição chinesa ao euro (idem, 2011). A crise fiscal dos países membros permitiu

à China e outros países, investimentos e aquisição de diversas empresas europeias,

conhecidas pela sua capacidade tecnológica e serviços de elevada especialização –

o que representa enormes transferências de conhecimento tecnológico (RICKARDS,

2011).

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44

Após 2010, a China manteve a sua posição de compra de dívida pública das

economias mais afetadas da Zona Euro, o que traduz um papel fundamental na

recuperação económica da Europa. Contudo, na realidade, as suas intenções

traduzem-se na diversificação do seu portefólio de reservas, que, pela sua política

monetária, começa a ficar excessivamente exposto ao dólar norte-americano

(BERGSTEN, 2014). De facto, o esforço continuado de manutenção de uma moeda

depreciada tem forçado a acumulação de enormes reservas de dólares, mas

também de euros, por parte da China (idem, 2014). O seu interesse principal passa

da mesma forma pela manutenção das relações comerciais com a Europa, que

superam em valores absolutos as que mantém com os Estados Unidos. Assim, para

além da manutenção do valor da sua moeda e a diversificação de reservas, a China

vê agora as suas relações com a Europa francamente melhoradas, permitindo

melhor acesso a investimentos e à aquisição de tecnologia europeia (RICKARDS,

2011).

Da mesma forma, os interesses norte-americanos pela manutenção de um euro forte

refletem-se nas relações comerciais entre estes. A depreciação do euro afetaria as

exportações americanas não só para a Europa, mas também para o resto das

economias mundiais, uma vez que os países europeus teriam agora moedas mais

competitivas (HILSENRATH, 2015). Os Estados Unidos e a China precisam de um

euro forte para alavancar as suas exportações e crescimento. Se o valor do euro

depreciasse substancialmente, ambos poderiam sofrer enormes prejuízos com a

compra de dívida pública e serem forçados a ver as suas moedas apreciarem face

ao euro.

As políticas monetárias das economias emergentes, e mesmo dos Estados Unidos,

interferem e condicionam as políticas europeias, provocando pressões deflacionárias

que por sua vez, contribuem para a sobrevalorização do euro observada no anterior

capítulo.

Assim e face à neutralidade do BCE, de seguida, é analisado um possível maior

intervencionismo do BCE como forma de combater a apreciação cambial do euro e

os desajustes cambias permanentes, em ligação com as políticas mercantilistas de

desvalorização competitiva e agravamento das relações económicas internacionais.

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45

3.1 Intervenção monetária defensiva

“If, with substantial justification, people and businesses in other countries see

themselves as the victims of substantial and prolonged competitive

depreciation practiced by the Chinese authorities, and if the Fund does not

even acknowledge the problem, then the disaffected will seek redress

through other channels - and will be justified in doing so.”

Michael Mussa, 2007. p.75.

A crise que se sentiu no seio da União Europeia após 2010, denominada de Crise

das Dívidas Soberanas é, como o nome indica, uma crise em que os Estados se

encontram demasiado endividados sem darem garantias suficientes de que irão

pagar aos seus credores. Segundo Carreira e Costa, contribuíram para os

posteriores resgates dos países europeus “o esgotamento das soluções

keynesianas, consequente da abertura dos mercados e da perda dos poderes de

intervenção macroeconómica do Estado nacional” (2007, p.17).

Após 2010, pelo aumento da exposição da dívida europeia aos países que adotam

outra moeda que não o euro, ainda que vastamente inferior à exposição interna41,

uma moeda forte poderia ser vista como medida política para a recuperação

financeira. Contudo, isto acarreta consequências para os cidadãos europeus, com

especial impacto nas indústrias exportadoras. As flutuações cambiais afetam

diretamente os preços, o comércio e os investimentos; se uma moeda sofre

apreciação, o poder de compra aumenta e as importações, turismo e investimentos

no exterior ficam mais apelativos. Adicionalmente, países em que recursos como

combustíveis e inventários alocados às forças armadas dependem primariamente de

fontes exteriores podem ver um ganho na sua capacidade e projeção militar

(LIEBSCHER; 2008). Por outro lado, se uma moeda sofre depreciação existem

efeitos contrários aos referidos, impulsionando a economia interna com

investimentos e turismo provenientes do exterior – sendo suscetíveis, contudo,

possíveis efeitos adversos nos défices públicos (idem, 2008).

41

Veja-se o caso da Grécia, onde segundo Persson, em 2012, mais de 70% da dívida pública grega era financiada pelos países internos à Zona Euro (2012).

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46

Sendo mais comum em tempos de crise financeira ou baixo crescimento, diversos

países adotam políticas monetárias expansionistas – que visam a depreciação

cambial como forma de alavancar o crescimento. Uma possível medida de

depreciação cambial é a intervenção direta nos mercados com a compra e venda de

ativos em diferentes moedas. Neste aspeto, Gagnon identifica mais de 20 países

que intervêm diretamente nos mercados cambiais com o objetivo de depreciar as

suas moedas. Como resultado, assiste-se à acumulação de enormes quantidades

de reservas de valor (2012). O objetivo persiste, a manutenção do valor depreciado,

incentivando a competitividade cambial e superavit da conta-corrente. A lista inclui

algumas das maiores economias mundiais, tanto países desenvolvidos, como

economias emergentes; destaca-se a China, mas também outros países asiáticos,

potências exportadoras de produtos petrolíferos e alguns países do continente

europeu (GAGNON, 2012).

Bergsten e Gagnon identificam como manipuladores monetários e responsáveis por

intervenções injustificadas, a China, Coreia do Sul, Dinamarca, Hong Kong, Índia,

Malásia, Singapura, Suíça e Taiwan (2012). A cessação das intervenções cambiais

por parte destes países poderia, provavelmente, persuadir outros países a fazerem o

mesmo - uma vez que grande parte destas intervenções é motivada pela

necessidade de corrigir perdas de competitividade, principalmente face à China

(SUBRAMANIAN; KESSLER, 2012). Segundo Bergsten e Gagnon, que utilizam na

sua investigação um critério de justificabilidade das intervenções, o Japão,

juntamente com a Arábia Saudita, Noruega e Rússia devem ser cuidadosamente

observados para não criarem pressões destabilizadoras no crescimento e

estabilidade da economia mundial (2012). Não são incluídas as economias do Brasil

e outras que, pela natureza das suas intervenções, agem de forma defensiva

(BERGSTEN; GANON, 2012). Percentualmente, a Suíça foi o país com mais

intervenções monetárias em 2012, em grande parte, para preservar o seu superavit -

afetado pela crise económica sentida nos seus parceiros europeus (BERGSTEN;

GANON, 2012). Recentemente, o Japão e a Rússia têm ocupado esta posição

(BERGSTEN, 2014). De facto, apenas no período de agosto de 2012 até dezembro

de 2014, o yen e o rublo da Rússia desvalorizaram face ao euro aproximadamente

57% e 50%, respetivamente (OANDA, 2015). Da mesma forma, poder-se-ia

considerar a componente defensiva em algumas intervenções dos países

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47

manipuladores, particularmente da Ásia, que tentam se proteger contra a

competitividade cambial da China. Contudo, segundo Bergsten, o grande superavit

destes países permite-lhes a adoção de políticas menos expansionistas sem sofrer

outras consequências económicas (2013). Mesmo a países como a Suíça, é

possível a adoção de políticas menos agressivas que, pelos grandes fluxos de

capitais e características do seu sistema bancário, não resultariam problemas

económicos significativos para além da apreciação cambial (BERGSTEN, 2013). A

inflação económica poderia atuar aqui como elemento estabilizador, contudo, as

economias absorvem a inflação de forma desigual42 (idem, 2013).

Gagnon demonstra que o superavit da conta-corrente destes países tem aumentado

$700 a $900 mil milhões de dólares por ano de 2006 até 2012 e, como resultado,

criou défices correspondentes noutros países com consequências na

empregabilidade e crescimento (2012). No mesmo período, a economia norte-

americana sofreu perdas na sua conta-corrente na ordem dos $200 a $500 mil

milhões de dólares anuais (GAGNON, 2012). Uma das principais contramedidas

norte-americanas tem sido a implementação de programas monetários de compra a

larga escala de ativos financeiros de bancos comerciais e de outras organizações,

aumentando a liquidez na economia e a oferta de moeda. O quantitive easing43

(QE), que serviu como incentivo fiscal desde 2009, foi um desses programas

monetários.

Com perdas médias anuais de $150 a $200 mil milhões de dólares entre 2006 e

2012, a União Europeia é a segunda economia mais afetada (GAGNON, 2012).

Estudos do FMI atribuem parte da responsabilidade dos efeitos adversos sentidos

nas economias mediterrânicas da europa, ao aumento de competitividade da China

e outros países asiáticos, assim como, à rápida apreciação do euro (CHEN; MILESI-

FERRETTI; TRESSEL, 2012). Estudos da Comissão Europeia, enquanto

diplomaticamente se abstém de acusar estes países pela sua manipulação

monetária, reiteram que a apreciação do euro afeta especialmente os países menos

competitivos da Zona Euro (COMISSÃO EUROPEIA, 2012).

42

Nos Estados Unidos por exemplo, a inflação tem-se mantido relativamente constante. Existem inúmeros fatores que influenciam o comportamento dos preços nas economias mas, a elevada procura de dólares por parte das economias emergentes, tem ajudado fortemente a manutenção de valores de inflação, na economia norte-americana, relativamente baixos (WASHINGTON, 2015). 43

Tipo de medidas frequentemente considerada quando as taxas de juro dos bancos centrais já não podem ser mais reduzidas.

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48

Em 2012, o levantamento de políticas mais expansionistas chinesas permitiram o

renminbi apreciar brevemente face ao euro e a outras moedas, contudo, as moedas

dos países manipuladores da Ásia, permaneceram substancialmente depreciadas

(CLINE; WILLIAMSON, 2012). Grande parte destes ajustamentos deveu-se aos

normais ciclos económicos, tendências inflacionárias e pelo interesse da China em

assegurar o valor das suas reservas. Contudo, as perspetivas de que a China siga

uma tendência estabilizadora podem ser demasiado idealistas. Com a procura

agregada interna e crescimento económico da China agora diminuídos, prevêem-se

políticas monetárias mais interventivas por parte da maior economia asiática

(BERGSTEN, 2014). De facto, as suas reservas têm aumentado exponencialmente

à medida que a sua economia cresce e os esforços multiplicam-se para assegurar a

subvalorização do RMB (idem, 2014).

O Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, à semelhança da Comissão

Europeia, não refere termos associados à manipulação monetária não justificada,

expressa no entanto, a sua atenção sobre as economias da Coreia do Sul e Taiwan,

afirmando ainda que a China retomou a intervenção monetária a grande escala,

concluindo que o RMB está significativamente subvalorizado (TREASURY, 2013).

Já em 2012, o governo francês apelava a um euro menos sobrevalorizado,

considerando como a única alternativa Europeia à estagnação económica,

especialmente se a Alemanha continuasse a resistir a políticas mais expansionistas

(FELDSTEIN, 2012). De facto, medidas que possam contrariar estes efeitos

negativos tem sido objeto de discussão com especial destaque no Brasil, Estados

Unidos, Nova Zelândia e mais recentemente, com o agravamento dos problemas

inflacionários, na Europa.

O BCE poderia assim intervir nos mercados como forma de assegurar o valor que

mais refletisse os interesses económicos generalizados da Zona Euro, um valor

justo, que seria determinado com base na taxas de inflação (ODENDAHL, 2014). De

facto, desde meados da década de 1980 que algumas autoridades monetárias de

países desenvolvidos como o Japão têm intervindo nos mercados cambiais

(RICKARDS, 2011). Muitas vezes, estas intervenções não se concretizam em

nenhuma compra ou venda de ativos, mas a política discursiva tem impactos

especulativos similares (FRATZSCHER, 2008). O uso predominante da intervenção

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49

discursiva tem contudo efeitos limitados e cada vez menos pronunciados à medida

que a capacidade de influência dos bancos centrais se vê diminuída, especialmente,

pelo aumento do número de grandes investidores privados (idem, 2008).

Assim, e tal como o banco central norte-americano, o BCE já não adota intervenções

diretas desde a década de 1990, ao invés, é frequentemente utilizada uma

intervenção baseada em políticas internas ou meramente discursivas (BCE, 2014).

Pela crescente limitação da intervenção discursiva e menor intervencionismo dos

bancos centrais, o recurso a programas como o QE norte-americano é um

instrumento cada vez mais comum nos países desenvolvidos, que, pelos défices

elevados, taxas de juro centrais perto de valores nulos e restrições fiscais, adotam

este tipo de medidas. Estes programas levam no entanto a acusações de

mercantilismo e de desvalorizações competitivas (LARRAIN, 2013). O FMI vem

refutar esta ideia, referindo que os objetivos do QE focam apenas ganhos

económicos internos (2011a). O sucesso do QE ajuda, ao invés de penalizar o

comércio internacional, uma vez que com este tipo de políticas estimula-se o

crescimento e por sua vez as importações do respetivo país (FMI, 2011a). A

distinção de QE e intervenção cambial deve ser clara, no entanto, como programas

como o QE afetam as relações cambiais no mesmo sentido que a intervenção

monetária, propicia-se a interpretação errada pelos governos e de forma geral, das

populações (idem, 2011a). As manipulações monetárias, intervenções defensivas ou

programas como o QE são igualmente, injustificáveis, contudo, compreensíveis, que

agravam a perceção dos conflitos cambiais (BERGSTEN, 2013).

No entanto, face à incerteza dos resultados do QE (WALKER, 2014), Mervyn King,

presidente do Banco de Inglaterra, afirmava em 2012 que nos próximos anos seria

expectável um aumento da manipulação das taxas cambiais como uma alternativa

às políticas monetárias (2012). Isto seria certamente mais provável nos espaços

onde se denotassem baixos crescimentos económicos, como no caso da UE e do

Japão (idem, 2012). O que, veio a verificar-se anos de 2013 e 2014, especialmente,

nos países asiáticos (BERGSTEN, 2014). Contudo, na ausência de acordos que

prevejam a justificabilidade destas intervenções, mesmo intervenções defensivas

podem ser vistas como medidas económicas mercantilistas.

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50

Assim, atua como agravante da sobrevalorização do euro a neutralidade do BCE ao

focar medidas primariamente internas e, segundo Liebscher, uma postura laissez-

faire dos órgãos de controlo do SMI e consequente falta de agressividade face ao

mercantilismo das economias emergentes (2008).

Tal como sucedeu em diversos conflitos de interesses durante o séc. XX, a

exploração de lacunas do SMI, numa ótica mercantilista, provoca a instabilidade na

defesa dos interesses económicos dos países europeus. Irwin, analogamente,

afirma que os desequilíbrios do SMI na década de 1930, sob regras similares às do

goldstandard clássico, foram igualmente incapazes de pressionar e sancionar a

exploração de lacunas do sistema monetário (2011). De facto, segundo Bergsten, a

maior falha do sistema financeiro internacional é a sua incapacidade de sancionar

efetivamente medidas mercantilistas, especialmente desvalorizações competitivas

que exportam deflação económica e que pressionam a apreciação do dólar e euro

(2013). Esta falha sistêmica permite que as desvalorizações continuem sem grandes

contramedidas (BERGSTEN, 2013).

Segundo Bergsten, a responsabilidade parcial destes factos é atribuída às falhas do

quadro regulatório do atual SMI (2013). Desde o sistema de taxas cambiais fixas

antes de 1971 ou depois, com as taxas cambiais flutuantes geridas, a ineficácia do

SMI tem sido constante (idem, 2013). Bergsten defende que não são necessárias

políticas internas que depreciem o dólar ou o euro face a outras moedas, é

simplesmente urgente reformular o SMI para que traduza, de facto, um sistema de

taxas cambiais flutuantes sem intervenções mercantilistas, ou que reflita a lei da

procura e da oferta de forma imparcial (2013).

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51

3.2 Reservas de valor

3.2.1 Papel do euro e acumulação de reservas de valor

Do atual Sistema Monetário Internacional destacam-se como principais formas de

reserva de valor o dólar, o euro e o renminbi. Outras moedas como o yen japonês, a

libra, o franco suíço e outras moedas das economias emergentes detêm um papel

significativo no SMI pela dimensão das suas economias e volume de comércio,

contudo, com um PIB combinado de aproximadamente 60% do PIB mundial, a Zona

Euro, os Estados Unidos e a China criam um centro gravítico em volta das suas

moedas (WEOD, 2014). No entanto, e apesar do euro assumir um forte papel na

contextualização internacional, o dólar ainda se caracteriza como principal reserva

de valor mundial (COFER, 2015). De facto, nos primeiros anos após a 2GM, quando

o PIB dos EUA equivalia a metade do PIB mundial, o dólar posicionou-se como

principal moeda e como base de cotação de commodities (MUNDELL, 1999).

Posteriormente, a introdução do sistema de Bretton Woods44 veio impulsionar o seu

domínio, tendo persistido desde então - dando vantagem àquele que emite a

principal papel-moeda reserva de valor (idem, 2014).

O decréscimo da libra como moeda-reserva internacional na década de 1970 mostra

que o reequilíbrio ocorre, não só pela crise ou liquidação da moeda mas, pela

aquisição de outras reservas de valor como o dólar. De 1969 até 1975, a

percentagem de reservas mundiais em libras caiu de 25% para 4%, $8 mil milhões

para $6 mil milhões de dólares, respetivamente (EICHENGREEN; FLANDREAU,

2008). Este declínio percentual não foi particularmente marcado pela liquidação da

libra esterlina mas sim pelo aumento da acumulação de ativos em dólares

(SCHENK, 2010). No mesmo período, as reservas mundiais de dólares cresceram

de $20 mil milhões para $120 mil milhões de dólares (MCKINNON, 2013).

Quando no final da década de 1970, com colapso do sistema de Bretton Woods e

crise petrolífera, a depreciação cambial, deflação e défices da balança de

pagamentos pressionavam o futuro do dólar como reserva de valor internacional,

isto, tal como na libra, não levou a uma liquidação dos ativos em dólares. Ao invés,

44

O sistema de Bretton Woods não foi a principal razão para este domínio, destaca-se também a capacidade económica americana e consequências europeias do pós guerra – principais economias que faziam face aos EUA.

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os esforços dos países eram agora em diversificar as suas reservas e estabilizar a

moeda norte-americana (HENNING, 1994). Pelo facto de em 1975, cerca de 80%

das reservas de valor serem em dólares, este tinha assumido um papel

predominante no SMI. Desta forma, se todas as economias interviessem vendendo

as suas reservas provocariam o colapso do dólar - induzindo em mais perdas.

Assim, apesar dos problemas de credibilidade do dólar, os países continuaram a

acumular reservas, atuando como estabilizador dos ativos em dólares45. Segundo

Horri, após correções às flutuações cambiais, não existem evidências de grandes

diversificações de reservas em outras moedas durante esta década, sendo comuns

os esforços estabilizadores em volta do dólar (1986). Assim defende-se que as

fragilidades de uma economia e moeda - desde que assuma funções de principal

reserva de valor internacional, leva a um esforço multilateral de estabilização e não

ao contrário. Segundo Viotti, este é um dos maiores pontos a favor da acumulação

de reservas de uma moeda soberana por países terceiros (2014).

Atualmente, as linhas de tendência de acumulação de reservas externas nominais

mostram-se francamente positivas, tendo apresentado picos nos anos pós 2008 e

2010 (COFER, 2015). Desde a criação da moeda única europeia e de todos os

organismos que a suportam, o euro tem vindo a estabelecer-se como segunda

moeda global e importante forma de reserva de valor para os outros países (BCE,

2014). Contudo, ao contrário dos EUA, que possuem políticas monetárias e fiscais

centralizadas, a União Europeia é penalizada pelo facto de ainda não existir uma

união fiscal. A maior parte das decisões fiscais, que fazem parte da soberania e

poder de decisão nacional46, tem caráter interno. Estas assimetrias políticas, apesar

de atenuadas com programas de integração europeia, afetam a unidade e

credibilidade económica da Zona Euro (FUEST; PEICHL, 2012).

45

Os principais fatores responsáveis pela estabilização do dólar na década de 1970 foram a elevada acumulação de reservas assim como as intervenções do bancos centrais dos Estados Unidos, Alemanha e Japão. 46

A UE tem certos poderes fiscais, ainda que limitados. Participa por exemplo, na decisão do IVA e taxas alfandegárias (FUEST; PEICHL, 2012).

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53

Figura 2 - Principais moedas de reserva de valor até 2014 (BCE, 2014).

Percentualmente, vemos que as três principais formas de reserva tem se mantido

relativamente constantes após 2003. Em 2014 a exposição do euro às reservas

internacionais aumentou ligeiramente atingindo $1 519 mil milhões de dólares no

final de agosto. De agosto até dezembro, porém, o euro sofreu uma forte queda,

sendo divulgadas no final do ano de 2014, $1 390 mil milhões de dólares em

reservas de euros - o que representava 22.63% das reservas mundiais. Em

contraste, o dólar aumentou o seu papel como reserva de valor, fixando-se em

62.32% da totalidade das reservas de valor no final do mesmo ano (COFER, 2015).

A acumulação automática de dólares pela diversificação de reservas estabilizadora,

resultado das intervenções monetárias, permite aos Estados Unidos elevados

défices a longo prazo, sem grandes consequências económicas negativas (VIOTTI,

2014). Adicionalmente, observa-se que, a pressão anti-inflacionária da acumulação

externa de reservas permite aos Estados Unidos a continuação de programas

agressivos de estimulação da economia, sem grandes problemas inflacionários

adversos (idem, 2014).

Não se deve assumir contudo que, ser a economia emissora da principal reserva de

valor internacional e moeda internacional não acarreta consigo desvantagens. O

BCE não defende como prioritário políticas que destaquem o euro como principal

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forma de reserva internacional (BCE, 2014). De facto, a acumulação externa de

dólares e euros coloca pressões de apreciação sobre estas moedas. Segundo

Bernanke, pelo papel do dólar enquanto principal forma de reserva, os fluxos

provenientes das economias emergentes provavelmente sobrevalorizaram mais o

dólar do que caso este não ocupasse o papel de principal moeda-reserva (2010).

Adicionalmente, pelo facto de diversas matérias-primas serem cotadas em dólares,

existe uma completa exposição à flutuação destas commodities47. Em contraste, o

valor do petróleo para os países europeus é influenciado pelo valor do barril de

petróleo e pelo par cambial EUR/USD.

O relatório do McKinsey Global Institute (MGI) determinou que o benefício do

estatuto de reserva do euro de 2007 a 2008 (23% das reservas divulgadas) teria

sido de apenas 0.03% do PIB da Zona Euro (2009).

Figura 3 - Ganhos do papel do euro como reserva internacional (2007 - 2008) (MGI, 2009).

Em contraste, o papel do dólar tinha aumentado o PIB norte-americano em $40 a

70$ mil milhões de dólares em igual período, o que representava cerca de 0.3% a

0.5% do PIB total (idem, 2009).

47

Isto pode ser visto como positivo ou negativo dependendo do valor relativo do dólar face a outras moedas.

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Figura 4 - Ganhos do papel do dólar como reserva internacional (2007 - 2008) (MGI, 2009).

O relatório do MGI demostra assim que os benefícios do papel do euro são

praticamente anulados pelos aspetos negativos. Os países da Zona Euro

conseguem créditos mais apelativos mas com custos na competitividade como

consequência de um euro mais apreciado (2009). O modelo estimava ainda em

2009, que no prazo de uma década, com um possível aumento do papel do euro

como reserva de valor, os custos de financiamento externo devessem cair entre 50%

a 100% e o euro valorizasse cerca de 10%. Esta apreciação teria no entanto efeitos

negativos na competitividade das economias da Zona Euro, anulando por completo

os benefícios económicos de uma moeda forte (MGI, 2009).

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Figura 5 - Previsões impacto papel do euro em 2020 (MGI, 2009).

Assim, percebe-se que as vantagens significativamente mais vastas de se emitir

uma moeda reserva de valor internacional são contrabalançadas com efeitos

negativos nas exportações. O BCE, ao contrário dos EUA, não defende um

voluntarismo político de aumento de uso internacional da sua moeda, o que é

refletido pelas diferentes políticas monetárias - tidas como mais conservadoras na

Zona Euro. De facto, Jean Claude Trichet, presidente do BCE à altura, veio afirmar

em 2009 que o euro não tinha sido criado com objetivos de se tornar a principal

moeda-reserva de valor internacional (2009).

3.2.1 Modelos precaucionais de acumulação de reservas

A crise financeira mundial e as assimetrias do SMI reacenderam discussões sobre o

impacto da diversificação das reservas de valor, principalmente das economias

emergentes que tentam reduzir a sua exposição ao dólar norte-americano. De facto,

o colapso do sistema bancário e imobiliário dos Estados Unidos em 2008 e posterior

downgrade do rating norte-americano exerceu enormes pressões sobre a relutância

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do domínio do dólar (FRANKEL, 2013). Estas pressões sobre a moeda norte-

americana e, principalmente após 2010, com o agravamento da crise europeia,

sobre o euro, induzem a diversificação e acumulação de ativos em outras moedas

como o dólar canadiano, dólar australiano e, apesar de problemas de

convertibilidade, do renminbi. Por norma, durante as crises financeiras e problemas

de credibilidade do sistema monetário, há também uma tendência positiva de

compra de matérias-primas como o ouro, uma vez que pelas suas características é

visto como uma alternativa ou safe haven48 (AIZENMAN; LEE, 2005).

O conceito de diversificação de reservas pode assumir três formas, passiva, ativa e

estabilizadora. A quantificação da importância relativa destes, no entanto, pode ser

de difícil análise empírica (WONG, 2007). A diversificação passiva consiste da

flutuação cambial das moedas e de taxas de juro dos países emissores e

reservadores de moeda. Um país que reserve valor na forma da moeda A e B, aqui

exemplificadas, se observar uma apreciação cambial da moeda A, ficará mais

exposto a essa moeda. Por outro lado, se o valor cambial ajustado de A e B for

semelhante, isto garante uma diminuição da exposição a uma determinada moeda.

O efeito estabilizador da diversificação de reservas concretiza-se na intervenção dos

bancos centrais, que com objetivos depreciativos sobre as suas moedas, acumulam

assim reservas de valor. Por norma, isto ocorre quando os bancos centrais tentam

estabilizar as suas moedas ou ancorar a outras. A diversificação ativa refere

estratégias opostas, os bancos centrais alteram a composição das suas reservas de

acordo com linhas de tendência macroeconómicas esperadas, aumentando as

pressões cambiais neste sentido (idem, 2007). Quando os bancos centrais intervêm

nos mercados cambias, estão a acumular ou a vender reservas de valor. Na

realidade, o impacto destas intervenções não é literal, estando interligadas a um

universo de condições como taxas de juro, fatores especulativos e balanças de

pagamentos (idem, 2007).

A manutenção de reservas de valor pode ser vista como um ajuste de precaução,

refletindo a defesa contra a exposição cambial e irregularidades dos fluxos de capital

(AIZENMAN; LEE, 2005). Estes modelos precaucionais de acumulação de reservas

são tidos como inertes. Isto significa que pequenas oscilações de uma determinada

economia são por norma rebalanceadas com o crescimento de outras. Outra

48

Tido como garantia. Sinónimo de segurança.

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consideração convencional, defendendo o ponto de vista estabilizador, é que os

países com largas reservas de valor são por natureza relutantes em vender grandes

quantidades das suas reservas, uma vez que isto poderia afetar o valor nominal do

seu portefólio e induzir perdas (BCE, 2013).

Em contraste, estas medidas podem ser vistas em ligação com o mercantilismo,

cujos objetivos refletem a defesa dos próprios interesses com prejuízo de interesses

de terceiros. Situação particularmente refletida na economia chinesa e outras que

procuram a competitividade cambial face ao dólar e euro. A acumulação de reservas

atua como subproduto de políticas monetárias expansionistas destes países

(AIZENMAN; LEE, 2005). Estas políticas, que privilegiam as exportações,

empregabilidade e crescimento económico através de uma moeda fraca, são vistas

como uma aproximação mercantilista das desvalorizações cambiais puras do séc.

XX. Pela enorme acumulação de dólares, esta interpretação tem especial destaque

nos debates que consideram o renascimento do sistema de Bretton Woods

(DOMINGUEZ; HASHIMOTO; ITO, 2011).

Assim consideram-se duas aproximações, por um lado, a acumulação de reservas

como prevenção contra as volatilidades cambiais, irregularidades de fluxos de

capital e crises financeiras. Por outro lado, aos países que veem as suas reservas

com crescimentos exponenciais, principalmente desde 1997 com a China e outras

economias emergentes como a India, associa-se a acumulação de reservas ao

mercantilismo (AIZENMAN; LEE, 2007). No caso dos países asiáticos, estas

medidas ganharam destaque quando o crescimento industrial das suas economias

colapsou. As medidas mercantilistas fiscais como subsídios e outras ajudas não

tinham sido suficientes para sustentar o crescimento destas economias, como

consequência, os bancos centrais adotaram políticas monetárias mais agressivas

(AIZENMAN; SUN, 2009). Como a adoção destas políticas coincide muitas vezes

com o colapso do crescimento e crises financeiras, torna-se difícil descorrelacionar

medidas de precaução ao mercantilismo económico. Tanto que, estas medidas são

vistas como mutualmente complementadas. O aumento de competitividade (não

cambial) pode reduzir o custo da acumulação de reservas, o que favorece a adoção

deste tipo de medidas. Por outro lado, o impacto adverso destas políticas, motivadas

pelo aumento de competitividade a curto-prazo, podem funcionar como espoleta de

medidas defensivas similares por outros países. Isto pode levar ao aumento global

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59

de intervenções cambiais e de acumulação de reservas, que, por sua vez, dissipa

possíveis ganhos competitivos (AIZENMAN; LEE, 2007). Assim, observa-se que

para o mercantilismo monetário ser eficiente, os preços e os salários devem ser

ajustados de forma extremamente morosa e os parceiros comerciais se devem

abster de adotar medidas idênticas ou contra produtivas (idem, 2007).

Por outro lado, e apesar da forte queda do papel do ouro no SMI a partir da década

de 1970, o ouro persiste como principal matéria-prima no sistema de reserva de

valor mundial. Nos anos que se seguiram à crise de 2008, com a diversificação

contínua dos bancos centrais, as reservas de valor em ouro aumentaram em cerca

de 1800 toneladas (SANDERSON, 2015). Só em 2014, observou-se a acumulação

de mais de 461 toneladas de ouro pelos bancos centrais, um valor 13% superior ao

do ano anterior e segundo mais elevado desde o colapso do SMI em 1971

(SANDERSON, 2015).

Dos países que divulgam os valores absolutos desta diversificação, a Rússia tem

ocupado o lugar de país com maior aquisição de ouro. Este tipo de

redireccionamento de políticas deve-se a um conjunto de fatores como a

diversificação através de ativos que não euros e dólares, assim como consequência

dos recentes cortes nas relações entre estes países (ROSENFELD, 2014). Segundo

Sanderson, esta redução da exposição da Rússia ao dólar deve-se à queda do

preço do petróleo, às sanções sobre a Rússia, e principalmente, porque os

mercados norte-americanos e europeus falharam ao assegurar a sua estabilidade

(2015). Adicionalmente e pelas recentes disputas internacionais, não há interesse

por parte da Rússia em comprar ativos que possam beneficiar a UE ou os EUA

(SANDERSON, 2015). Assim, observa-se que com o conflito da Crimeia e, à

posteriori, com a imposição de fortes sanções sobre a Rússia, levaram a que, em

resposta, esta diversificasse as suas reservas de valor e suspendesse a compra de

dívida pública e outros ativos financeiros europeus e norte-americanos (idem, 2015).

A Rússia, que já no final de 2014, tinha avançado com uma postura ofensiva contra

o dólar e o euro ao renegociar com a China e outros países, acordos que

consagrassem o renminbi nas suas relações comerciais. Na mesma altura, o

presidente Vladimir Putin admitia que a Rússia estava deliberadamente a afastar-se

do dólar (ADAMCZYK, 2014).

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60

3.3 Acordos multilaterais e reformas do SMI

O SMI é regulado por um conjunto de normas e organizações que asseguram a

estabilidade dos fluxos de capitais. Em particular, deve possibilitar o comércio de

bens e serviços, permitindo condições que garantam a estabilidade económica e

financeira e, da mesma forma, deve facilitar o ajustamento de choques económicos.

Pela enorme exposição das economias ao dólar, o atual SMI é, de facto, um dólar-

standard. Um sistema que permite grande liberdade cambial e de acumulação de

reservas, assim como, de restrição à mobilidade de capitais. Isto permite aos países

atingirem os seus objetivos internos mas com elevadas repercussões no

crescimento e comércio internacional. Reiteram-se lacunas do SMI, focando a falta

de mecanismos automáticos de reequilíbrio económico, os fluxos de capitais voláteis

e as taxas cambiais que, quando permanentemente desajustadas, podem ter efeitos

catastróficos. Adicionalmente, a acumulação exponencial de reservas em dólares e

euros que, consequentemente criam fortes pressões apreciativas e deflacionárias

sobre as respetivas economias.

O FMI, estabelecido após a Segunda Guerra Mundial, tem como objetivo a

cooperação e resolução de problemas do SMI. Os membros do FMI afirmam acordar

com os artigos do quadro normativo do Fundo, promovendo um sistema de taxas

cambiais estável com a adoção de políticas concordantes com este objetivo.

No entanto, diversos autores consideram como o cerne da necessidade de reforma

as assimetrias provocadas pelo atual sistema de reserva global. De facto, a

multilateralização gradual do sistema de reserva já existe, mas apresenta-se como

um processo extremamente moroso.

3.3.1 Sistema multipolar

Em 2010, quase meio século depois das visões Gaulistas, Nicholas Sarkozy, ex-

presidente de França, soa o eco ao reiterar a necessidade de cooperação entre UE

e os EUA na criação das regras para o amanhã, rejeitando a hipóteses que um único

país e moeda possam ocupar o papel dominante no atual sistema monetário

(VIOTTI, 2014). Segundo Eichengreen, a necessidade da reforma do SMI torna-se

novamente evidente. Uma importante reforma é o retorno a um sistema multipolar.

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61

De facto, o SMI consagrou durante a história quase sempre um sistema diversificado

de moedas-chave, o domínio do dólar desde a segunda metade do séc. XX,

representa, uma aberração histórica (2011).

No período da Guerra Fria, o domínio do dólar, assim como a dependência da

Europa e Ásia Oriental nos aspetos de segurança e defesa, representava um

importante instrumento para os Estados Unidos na imposição da sua política

monetária (VIOTTI, 2014). Os países ocidentais da Europa, o Japão, a Coreia do Sul

e outros países asiáticos, consideravam que a defesa do dólar era do interesse

norte-americano, mas também do seu próprio interesse. Após a Guerra Fria,

contudo, esta lógica de manutenção da posição do dólar, apesar de ainda existir, foi

perdendo suporte dando origem a uma visão mais multilateralista (idem, 2014).

Com o aumento da credibilidade europeia e resolução completa dos problemas

fiscais internos à UE, aliado a uma consolidação de maior integração fiscal e política,

o papel do euro deve assumir uma tendência francamente positiva nos próximos

anos (BCE, 2014). Como consequência, o dólar, como reserva mundial de valor tem

caído de valores perto dos 75%-85%, na década de 1970, para cerca de 62% no

final de 2014 (COFER, 2015). No entanto, a hegemonia do dólar permanece,

principalmente pelos países acionistas do FMI e Banco Mundial. Fundadas pelo

sistema de Bretton Woods, estas organizações têm como base de criação,

interesses norte-americanos que foram bem-sucedidos ao impor as suas vontades,

contribuindo para este ponto a forte economia49 norte-americana e a já pronunciada

utilização internacional do dólar.

Recorda-se que, o papel de reserva gera procura de ativos substancial pelos

governos e empresas - uma vez que são necessários para reservar valor e

assegurar relações comerciais. Isto permitiu ao governo norte-americano défices

públicos extremamente elevados, ano após ano; uma economia que cresceu com

políticas monetárias expansionistas e elevados investimentos públicos, garantidos

em boa parte, por financiamento externos baratos (CANZONERI et al., 2013).

49

A economia norte-americana era bem-sucedida relativamente às economias europeias e asiáticas. Contudo, este poder económico relativo deu-se em parte pela consequências da Segunda Guerra Mundial, que afetou principalmente os países europeus e asiáticos – economias que poderiam fazer face aos EUA.

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62

No entanto, apesar do SMI ainda estar longe de um sistema multilateral, as

alterações já começaram; a Rússia e outras economias, movem-se novamente para

o ouro; o bloco asiático, une-se, assegurando relações comerciais em moedas que

não o dólar, criam cestos de moedas que visam a estabilidade monetária interna da

região ao invés de esta ser assegurada pelo papel do dólar e, consequentemente,

pela economia norte-americana. A UE, mantém a sua posição de neutralidade,

concentrando-se na suas políticas internas em volta da moeda regional europeia. As

economias emergentes acordam e elaboram propostas de criação de novas

organizações internacionais em par com o FMI e Banco Mundial, que ao invés de

prevalecerem quase em exclusivo os interesses das economias desenvolvidas,

defendem os interesses dos países emergentes como Brasil, Rússia, India e China

(BRIC)50. De facto, o produto interno das economias emergentes tem aumentado de

forma significativa nos últimos anos. O produto combinado destas quarto economias

atingia em 2014 $16.7 biliões de dólares, o que se aproxima cada vez mais dos

$17.4 e $18.4 biliões de dólares dos EUA da EU, respetivamente (WEOD, 2014).

Adicionalmente, considere-se as reservas de valor destas economias que superam

mais de metade51 das reservas mundiais oficialmente divulgadas. Em contraste, os

países do G7, que controlam apenas 20% das reservas mundiais, menos de 7%, se

excluirmos o Japão (COFER, 2015).

Com base nestes valores, observa-se uma reforma estrutural significativa. O Novo

Banco de Desenvolvimento52, proposto pelas principais economias emergentes,

entrou oficialmente em funcionamento a 15 de julho de 2014, assegurando reservas

superiores a $100 mil milhões de dólares, que poderão servir como financiamento de

emergência a estas economias (DESAI; VREELAND, 2014). Estas reformas

unilaterais, e não a nível mundial, têm por base o mau funcionamento das já

implementadas organizações como o FMI. De facto, as economias emergentes

apelam a um maior poder de decisão sobre o atual funcionamento do SMI.

Assumindo a Bélgica, por exemplo, mais poder de decisão dentro do FMI do que o

Brasil53 (FMI, 2015).

50

Foi posteriormente reformulado para BRICS, ao englobar a África do Sul. 51

Este valor supera os 75% quando se abrange todas as economias emergentes. 52

New Development Bank (NDB) ou BRICS Bank 53

Em parte, isto deve-se ao facto do poder de voto ainda estar linearmente relacionado com a cota de DSE. Este sistema sofreu uma reforma em 2010 mas que ainda não se encontra ativa (FMI, 2010)

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63

Segundo alguns autores, as organizações mundiais falharam ao se ajustarem ao

novo poder económico dos países emergentes. Modestas reformas em 2007 e mais

tarde em 2010 previam maior capacidade de decisão para as economias

emergentes, contudo, diversas barreiras nos sistemas jurídicos dos países

desenvolvidos impediram que tal acontecesse (HALLIGAN, 2014). Os BRICS

moviam-se assim no sentido de estabelecerem novas regras e novas instituições

que pudessem defender os seus interesses (DESAI; VREELAND, 2014).

Relativamente à principal moeda veicular, tal como na principal forma de reserva

internacional, o dólar mantém-se como principal meio de transação de bens e

serviços, ativos e commodities (VIOTTI, 2014). Este domínio deu-se principalmente

por meio dos investimentos, financiamentos e empréstimos norte-americanos após a

2GM, ou seja, pelos défices da balança de pagamentos na fase de reconstrução da

Europa e do Japão, e, a partir dos anos 1980, pela inundação de dólares por meio

dos défices crescentes na conta-corrente americana (CONTI, PRATES, PLIHON,

2013).

Mas mesmo este domínio enquanto moeda de cotação e transação de matérias-

primas está e risco. A procura energética da China e consequentes acordos tem

aumentado o número de transações em RMB, o que significa que existira um forte

decréscimo do dólar neste aspeto. As transações em dólares atingiam apenas 33%

em 2013, uma queda significativa face aos 55% em 2001 (HALLIGAN, 2014).

Segundo Halligan, dentro de uma década poderemos ver a diversificação da

utilização de moedas pelos bancos centrais - englobando ativos em dólares, euros e

as quatro moedas dos BRIC. Até mesmo moedas virtuais como o caso do Bitcoin54

poderão servir de forma diversificadora das reservas de valor (2014).

Não se defende que a criação de um sistema monetário multipolarizado possa

resolver por completo as discrepâncias dos fluxos de capitais mundiais e, caso

aconteça, deverá ser um processo de várias décadas. Contudo, objetivando-se

menor sensibilidade do euro às pressões deflacionárias e apreciativas, a

diversificação em ativos alternativos às principais moedas, assim como a

implementação dos DSE, constituem um conjunto de fenómenos que se defende

como positivos.

54

O princípio do Bitcoin reflete o princípio de escassez do ouro e outras matérias-primas que sempre foram utilizadas como formas de reservar valor.

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64

3.3.2 Direitos de Saque Especial

Estes processos de multilateralização podem ser desenvoltos com novas ações

políticas como a criação de uma Conta de Substituição DSE, enfraquecendo o papel

do dólar como reserva-internacional e, consequentemente, dando mais destaque

aos Direitos de Saque Especial (MOGHADAM, 2011).

Em 2009, Zhou Xiaochuan, governador do Banco Popular da China, veio sugerir a

substituição do dólar pelos DSE, defendendo que traria maior estabilidade para o

SMI, sendo esta ideia também defendida pela Rússia e outros mercados

emergentes (2009). Transformar o padrão dólar num sistema baseado nos DSE

constituiria a rutura de uma política que dura há mais de 60 anos (WIJNHOLDS,

2009). Os DSE foram introduzidos em 1969 para complementarem aquilo que na

altura era visto como um nível inadequado de reservas globais, posteriormente, por

modificação nos estatutos do FMI, foram consagrados como principal futuro ativo de

reserva de valor (idem, 2009). Porém, isto não aconteceu, uma vez que as reservas

mundiais de dólares assumiram valores percentuais enormes e a proporção de DSE

revelou-se diminuída e incapaz de assumir o papel de moeda supranacional.

Como no caso da libra, o domínio do dólar no SMI pode ser reduzido de duas

maneiras. Uma possibilidade consiste na erosão gradual do dólar como moeda de

reserva, em prol do euro e outras moedas. No entanto, apesar do papel internacional

do euro estar a ser reforçado desde a sua criação, especialmente na sua utilização

nos mercados financeiros, é difícil prever que supere o dólar como moeda de

reserva dominante no futuro previsível. Segundo Wijnholds, um desfecho deste tipo

provavelmente só seria possível caso se reunissem duas condições: em primeiro

lugar, se o Reino Unido aderisse à moeda única e, em segundo lugar, os Estados

Unidos cometessem graves erros que abalassem a confiança no dólar. Esta última

condição poderá já ter sido parcialmente preenchida, mas as políticas norte-

americanas e de países terceiros de estabilização ajudam a evitar uma grande

queda do papel do dólar no SMI (2009). Face à improbabilidade de a hegemonia do

dólar ser seriamente afetada pelas forças do mercado, pelo menos a curto e médio

prazo, a única forma de se conseguir uma forte redução do seu papel como moeda

de reserva é através de um acordo internacional (XIAOCHUAN, 2009). A proposta

da China vai nesse sentido.

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65

Uma maneira de fazer com que os DSE se tornem uma moeda de reserva

importante em relativamente pouco tempo seria criar e atribuir um vasto montante de

novos DSE aos membros do FMI. Os líderes do G-20 teriam de acordar e decidir

apoiar a alocação de 250 mil milhões de dólares em DSE, porém isto apenas

amentaria a proporção dos DSE nas reservas internacionais em não mais de que

4% (WIJNHOLDS, 2009). Seria preciso desbloquear perto de três biliões de dólares

em DSE por via das alocações para que se tornassem no principal ativo de reserva,

o que é uma proposta irrealista (idem, 2009).

No entanto, há uma forma mais realista de aumentar o peso dos DSE. Em 1980, o

FMI esteve perto de adotar a chamada Conta de Substituição DSE (BERGSTEN,

2007). A ideia era permitir que os países que considerassem estar excessivamente

expostos ao dólar, mais do que aquilo que desejavam, pudessem convertê-los em

DSE. A conversão ocorreria fora dos mercados e, por isso, não pressionaria a

depreciação do dólar. Os países membros receberiam um ativo mais estável do que

o dólar, uma vez que era baseado num cabaz de moedas, dando-lhes assim uma

melhor proteção contra perdas (idem, 2007). Este plano foi eventualmente

abandonado porque alguns dos maiores acionistas do FMI não se mostraram

recetivos às modalidades necessárias com vista à partilha de riscos (WIJNHOLDS,

2009). Considerações políticas à parte, os grandes detentores de dólares poderiam

ser cativados pela ideia de uma conta de substituição que os protegeria contra fortes

oscilações do valor da moeda norte-americana. Contudo, mesmo que se crie uma

Conta de Substituição DSE, é pouco provável que a proporção do dólar nas reservas

internacionais diminua para um nível equivalente à do euro e outras moedas. O dólar

continuará a ser importante para muitos países como meio de intervenção nos

mercados cambiais e principal forma de reserva de valor.

A passagem para um regime de câmbios flutuantes pelas maiores economias na

década de 1970 tinha adiado a necessidade de implementação dos DSE, contudo,

esta mesma protelação veio gerar fortes instabilidades no sistema monetário e a

regressão em alguns países, para um sistema cambial manipulado (BERGSTEN,

2007). A Conta de Substituição DSE não seria a solução para todos os problemas

do SMI mas, a sua utilização antecipada poderia ter minimizado os riscos e

desequilíbrios do sistema financeiro mundial (MOGHADAM, 2011).

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66

Segundo Bergsten, a estabilidade do SMI é responsabilidade última do FMI (2007).

Um dos seus objetivos fundamentais é evitar a réplica das políticas beggar-thy-

neighbor que levaram eventualmente à Grande Depressão, criando medidas que

impeçam o mercantilismo e as desvalorizações competitivas (BERGSTEN, 2011).

Ainda assim, a China, que não revela a totalidade das suas reservas, intervém nos

mercados cambiais com a compra diária de mais de mil milhões de dólares,

enfraquecendo o renminbi e valorizando o dólar. Isto representava segundo

Bergsten e dados de 2011, uma subvalorização de cerca de 20%, equivalente a

subsídios às exportações de 20% e iguais taxas às importações (2011). This is by

far the largest protectionist measure adopted by any country since the Second World

War—and probably in all of history (idem, 2011).

3.3.3 Quadro normativo do FMI

"The result could ultimately be that - disgusted with the Fund's failure

reasonably to fulfill its assigned responsibilities- others will be given the job."

Michael Mussa, 2007. p.75.

Várias críticas são direcionadas ao funcionamento do FMI. Akyüz foca o artigo IV do

FMI relativamente à supervisão55, regulação e fiscalização das medidas e políticas

monetárias dos países (2010).

No entanto, os membros do FMI, muitas vezes não atuam em prol da estabilidade do

SMI, a não ser que tal beneficie a sua própria economia, e de facto, não estão

obrigados a fazê-lo. O sistema de Bretton Woods reconhecia que a disciplina de

todos os membros na condução das suas políticas monetárias exigia a determinação

de obrigações claras. Mudanças nas taxas cambiais significativas, por exemplo,

careciam de autorização do FMI (RICKARDS, 2011). Atualmente e apesar da

promulgação da Segunda Emenda do quadro normativo do FMI, as desvalorizações

competitivas persistem como um anátema (BERGSTEN, 2013). Os artigos do FMI

de facto não poderiam proibir que um país estabeleça as taxas cambiais que mais

reflitam os seus interesses (AHAMED, 2009). No entanto, o art.º IV do FMI refere a

obrigação de colaboração multilateral em assegurar um sistema de taxas cambiais

55

Silva refere que o artigo IV falha no seu conceito institucional, que é por norma bilateral e não consegue ter uma visão multidimensional (2013).

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67

estável e promover a redução de imparidades do SMI (FMI, 2011b). Adicionalmente,

compromete os membros a evitarem a manipulação cambial como forma de ganhar

vantagem competitiva.

“(iii) avoid manipulating exchange rates or the international monetary system

in order to prevent effective balance of payments adjustment or to gain an

unfair competitive advantage over other members” (idem, 2011b, p. 6).

Assim, observa-se que o quadro legal do FMI já suporta a defesa multilateral contra

as desvalorizações competitivas. Existem limitações às diferentes políticas cambiais,

impedindo que os membros adotem medidas mercantilistas, contudo, neste último

ponto existe uma variável de intenção, que é sempre de difícil análise

(BECKINGTON; AMON, 2011). O FMI, no entanto, que atualmente abrange grande

parte dos países desenvolvidos e economias emergentes56, aqui particularmente

focados - UE e China, possui autoridade suficiente para condicionar a política

cambial de um membro se existir razoável consenso que tal possa atuar como fator

destabilizador para o funcionamento do SMI. Porém, num sistema monetário que

não tem sofrido reformas substâncias desde a década de 1970, o FMI, em contraste

com a Organização Mundial do Comércio (OMC), não possui mecanismos

suficientes para impor estas normas. “The relevant text of the IMF's Articles of

Agreement on exchange arrangements is only sufficient if the members' political

consensus for meaningful enforcement is present” (BECKINGTON; AMON, 2011, p.

246).

3.3.4 Acordos multilaterais, G20 e G7

Durante a última década, os Estados Unidos têm exercido maior pressão sobre a

China para permitir a apreciação do renminbi face ao dólar mas o seu sucesso tem

sido bastante modesto, principalmente, pela falta de medidas internacionais efetivas

e procedimentos multilaterais para este propósito. No caso do FMI, a maior

necessidade é a criação de medidas que permitiam o emprego eficaz de duas

normas já existentes. A proscrição de políticas mercantilistas de desvalorização de

moedas, manipuladas através da intervenção cambial a larga-escala, e a

obrigatoriedade de acordos prévios entre os países intervenientes sobre a

56

Atualmente fazem parte do FMI 188 países, com objetivos de promoção de crescimento mundial, cooperação monetária e eliminação de possíveis barreiras ao comércio internacional.

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68

depreciação cambial objetivada (VIOTTI, 2014). O quadro de normas do FMI deve

assim ser reforçado e acordado de forma multilateral para sancionar efetivamente

países que visam medidas mercantilistas e que sejam responsáveis pela intervenção

monetária. "We underscore the importance of enhancing the credibility, legitimacy

and effectiveness of the Fund" (G20, 2013, p. 3).

Robert Scott, defendendo os interesses unilaterais norte-americanos, apela ao fim

da manipulação monetária como forma de criar milhões de postos de emprego nos

Estados Unidos (2014). Contudo, tenta-se analisar esta problemática de uma forma

mais liberal e multipolarizada. Para além da intervenção cambial defensiva57

anteriormente referida, uma nova medida, vista como estabilizadora do SMI, seria a

criação de taxas sobre as reservas internacionais (GAGNON; HUFBAUER, 2011).

Isto seria, pelo facto da acumulação de reservas ser um subproduto da intervenção

cambial58, uma forma progressiva de reajuste a uma escala mundial. Sendo prático

contudo, nenhuma economia bem-sucedida aceitaria este tipo de medidas. O que se

observa no entanto, é que quais quer que sejam as medidas do FMI, estas terão que

ser suportadas e acordadas pela maior parte dos países desenvolvidos e economias

emergentes.

Bergsten considera que as medidas pela ótica do comércio são substancialmente

menos eficazes que as alternativas monetárias e reajustes ao SMI (2013). Pela ótica

monetária, ao corrigir ou precaver as manipulações monetárias mercantilistas,

atuariam como medidas globais e uniformes ao invés das medidas comerciais que

se aplicam principalmente às relações comerciais bilaterais. No entanto, uma vez

que a OMC já possui os instrumentos e mecanismos para sancionar estes

desequilíbrios, as políticas comerciais da OMC não devem ser postas de parte. Em

contraste, o FMI necessita ainda de desenvolver medidas eficientes para

desempenhar o papel de organização internacional estabilizadora. Estes

fundamentos de reforma do SMI são contudo processos extremamente morosos

(BERGSTEN, 2013).

57

No caso particular da China, pelo facto de o renminbi não ser completamente convertível, a intervenção cambial defensiva também pode não ser completamente eficiente. Este problema observa-se principalmente nas relações Sino-nipónicas e, no geral, dos restantes países asiáticos com a China. 58

Uma questão técnica desde ponto cinge-se à intervenção discursiva, que a curto prazo pode ser tão efetiva ou mais do que intervenção efetiva nos mercados cambiais.

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69

Assim, a UE deve intervir neste aspeto como forma de garantir maior consenso

político, permitindo maior eficácia do FMI na definição expressa e sanção de

desvalorizações competitivas e objetivas ao ganho desproporcional. De facto, a

defesa conjunta dos interesses económicos europeus através de acordos

multilaterais não é algo novo. Os impérios britânicos, franceses, portugueses e

espanhóis do séc. XIX dependiam da coordenação e acordos de convertibilidade e

liquidez internacional do ouro e de reservas monetárias, assim como de

financiamentos externos (VIOTTI, 2014). Diferenças à parte, a ideologia multilateral

não é fácil de se alcançar.

A União Europeia deve seguir uma aproximação multilateral junto do G20, FMI e

outros países não manipuladores. Países como os Estados Unidos, Brasil, Canadá e

outras economias afetadas pela desvalorização competitiva são os potenciais

candidatos. O Japão, apesar de fortemente interventivo59, tem criticado da mesma

forma a China e poderia ser visto como potencial candidato, contudo, recentes

acordos bilaterais com a China têm reduzido as pressões sobre o yen.

O G7 tem mantido esforços em assegurar que todos os membros coordenem e

acordem previamente quaisquer intervenções cambiais.

"We, the G7 Ministers and Governors, reaffirm our longstanding commitment

to market determined exchange rates and to consult closely in regard to

actions in foreign exchange markets."

G7 Ministros das Finanças e Bancos Centrais, 12 de fevereiro de 2013.

O G20, de uma forma mais ampla, acordou em não intervir nos mercados cambiais

com objetivos cambiais competitivos.

"We reaffirm our commitment to cooperate for achieving a lasting reduction in

global imbalances [...] we reiterate our commitments to move more rapidly

toward more market-determined exchange rate systems and exchange rate

flexibility to reflect underlying fundamentals, and avoid persistent exchange

rate misalignments and in this regard , work more closely with one another so

we can grow together. [...] We will not target our exchange rates for

59

O Japão tinha instituído uma defesa unilateral de intervenção cambial defensiva contra a China mas sem sucesso.

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70

competitive purposes, will resist all forms of protectionism and keep our

markets open.

Comunicado G20, Ministros das Finanças e Bancos Centrais, Moscovo, 15-16 fevereiro 2013. p. 1.

Estes compromissos, contudo, têm carater limitado e ineficaz. Membros do G7

podem intervir nos mercados cambiais mesmo que isto possa suscitar respostas

negativas pelos restantes membros. Os membros do G20, apesar do referido

anteriormente, podem afirmar que as suas políticas monetárias expansionistas têm

outros propósitos, que não a desvalorização competitiva. Assim, estas declarações

pelos membros do G20 não devem ser tidas como fator suficiente para a

descontinuidade de medidas mercantilistas no SMI (TRUMAN, 2012). Reitera-se a

necessidade de um quadro de normas permanentes e globais, assim como a

definição explícita de conceitos chave.

Assim como todas as anteriores reformas estruturais, pode ser necessário choques

adversos significativamente graves para desencadear medidas mais agressivas ou

em maior concordância sobre como redirecionar estes problemas. Estes, desde o

séc. XX., foram a origem da maior parte das reformas estruturais do SMI. Defende-

se a possibilidade de que este tipo de políticas deve desencadear reações nas

restantes economias e organizações internacionais, sob normas e procedimentos

multilateralmente acordados. Os países que consagram políticas de desvalorização

competitiva devem ser claramente considerados pela Comunidade Internacional

como ameaças à estabilidade. Este era um dos objetivos do sistema Bretton Woods

mas, ironicamente pela relutância dos EUA, estas medidas permaneceram

ineficazes ao longo do tempo (BERGSTEN, 2013).

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71

3.4 Quantitative easing europeu60

Apesar da recente recuperação económica de alguns Estados-membros, a

economia da Zona Euro, com uma taxa anual de crescimento do PIB prevista para

2015 pouco superior a 1%, continua sem dinamismo (RANDOW, 2015). Mesmo a

taxa de crescimento da Alemanha foi em 2014 bastante modesta, fixando-se nos

1.5% (EUROSTAT, 2014b). O PIB de Portugal, Itália, Espanha e Grécia, assim como

de forma global, da Zona Euro, teve um desempenho negativo em 2013 (idem,

2014b). O abrandamento do crescimento e o elevado desemprego não são os

únicos problemas da Zona Euro. A taxa de inflação anual de apenas 0,5%, está

agora muito perto de valores nulos e, mesmo um pequeno choque poderia arrastar

este valor para território negativo e impulsionar uma espiral de descida dos preços

(EUROSTAT, 2014a). Uma possível deflação enfraqueceria a procura agregada

através do aumento dos preços, valor real das dívidas dos particulares e das

empresas, assim como pelo aumento das taxas de juro reais. Uma menor procura

poderia, por sua vez, agravar a descida dos preços provocando uma perigosa

turbulência deflacionária (FELDSTEIN, 2014).

Uma vez que o QE do BCE tem sido defendido como uma forma de estimular a

economia, enfraquecer o euro e desencadear maior inflação, torna-se relevante

analisar a utilização deste tipo de políticas pelo Sistema de Reserva Federal norte-

americano. Em suma, o seu impacto foi pouco pronunciado. Até meados de 2014, o

valor do dólar, ajustado à inflação, estava nos mesmos níveis de 2007 (FRED,

2015). O valor do dólar permaneceu então relativamente estável durante mais de

três anos de quantitive easing - e, na verdade, aumentou durante 2013 quando a

compra de ativos do SRF atingiu um máximo de mais de um bilião de dólares

(FELDSTEIN, 2014). Objetivamente, outros fatores influenciaram o valor do dólar

durante este período, no entanto, segundo Feldstein, o comportamento das

flutuações do valor do dólar durante o período do quantitive easing não oferecem

bases suficiente para a defesa de programas de compra de ativos a larga escala

como forma de levar à depreciação cambial e inflação (2014). Quanto às taxas de

inflação, o programa QE não provocou nenhum aumento significativo. O índice de

preços no consumidor atingia 1,6% em 2010, aumentando temporariamente em

60

Face às recentes medidas do BCE, que produzem efeitos semelhantes às medidas defensivas aqui referidas, foi adicionado este capítulo, propondo fazer uma pequena referência à ótica mercantilista das medidas do Banco Central Europeu.

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72

2011 e 2012, antes de regressar para níveis perto de 1.5% em 2013 - ano em que

se atingiu o pico na compra de ativos (BLS, [s.d]).

Nos últimos anos a intervenção do BCE manteve-se relativamente passiva, contudo,

no início de 2015, face ao agravamento dos problemas de deflação e de baixo

crescimento económico, o BCE adotou políticas monetárias mais expansionistas. As

taxas de juro do BCE aproximam-se do zero e tal como aconteceu nos Estados

Unidos, o BCE iniciou um processo de compra de títulos da dívida pública soberana

dos países europeus, injetando liquidez no Eurossistema (NEWLANDS, 2015).

Assim como do outro lado do Atlântico Norte, o FMI considera que se trata de

políticas internas e que não deverão ser consideradas como medidas mercantilistas.

Contudo, no breve espaço de tempo entre finais de 2014 e meados de janeiro de

2015, o euro depreciou face ao dólar norte-americano e ao yen cerca de 9% e 13%,

respetivamente. O primeiro ministro da Nova Zelândia, relembrando os casos do

Japão e Estados Unidos, veio comentar e defender que este tipo de medidas são

limitadas e que a UE deve procurar da mesma forma, reformas estruturais que

suportem os efeitos benéficos do novo programa europeu (BARNATO, 2015).

Assim, o BCE começa agora e apesar da relutância de alguns países, com medidas

alternativas como o QE. No entanto, segundo Soto, os problemas europeus são

causados pela persistente sobrevalorização do euro (SOTO, 2012), estas medidas,

são efetivamente demasiado contidas e tardias (NEWLANDS, 2015).

Apesar de internas e teoricamente não enquadradas na ótica mercantilista, estas

políticas têm efeitos negativos sobre países terceiros, principalmente economias

emergentes (FIC, 2013). Em 2011, muitos dos efeitos das políticas norte-americanas

começavam a surgir efeitos negativos nas economias do Brasil e Egito (RICKARDS,

2011). Na hipótese mais idealista, a desvalorização competitiva permite roubar

crescimento das economias emergentes, na pior contudo, degenera as relações

multilaterais de cooperação produzindo ciclos de contramedidas, inflação, recessões

e em último caso, conflitos (idem, 2011). Devem ser abordadas outras medidas pela

UE e BCE. A alteração de normas globais deve ser perspetivada, seguindo uma

aproximação multilateral de prevenção e não de correção.

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73

4 Conclusões

O SMI sempre consagrou os metais preciosos como o principal meio de valor e de

comércio, no entanto, este sistema proporcionava diversos problemas pois o

aumento da oferta de moeda, necessário a uma inflação adequada a um

crescimento sustentado, era condicionado pela exploração mineira.

Quando o padrão-ouro se globalizou, em parte pela influência das economias mais

desenvolvidas, a convertibilidade e a livre mobilidade de capitais chocavam com as

economias que necessitavam de uma moeda depreciada. Adicionalmente, os fluxos

irregulares de ouro, agravados pela procura descontinuada dos países

superavitários e fluxos de capitais severos, pressionavam os países devedores e a

estabilidade monetária.

No período entre-guerras, os problemas económicos levaram à exploração de

lacunas do SMI ao permitir políticas que objetivassem os desequilíbrios cambiais

como forma de se obter vantagem desproporcional. A década de 1930 foi um bom

exemplo disso. Após a Grande Depressão, os problemas económicos fecharam as

economias e levaram à adoção de políticas protecionistas e de desvalorizações

competitivas como forma de se recuperar e estimular o crescimento económico.

Apesar de existirem diversas semelhanças entre o período entre-guerras e a

atualidade, é importante destacar as diferenças. Tal como na Grande Depressão,

alguns países são atualmente atacados com pressões apreciativas e deflacionárias

como resultado de políticas mais agressivas de outros países, contudo, são

fenómenos relativamente isolados quando comparados com os das décadas de

1920 e 1930. Isto deve-se em parte à criação de novas organizações de supervisão

e de restrição de políticas que objetivassem o ganho desproporcional de

competitividade. Durante a 2GM, os decisores políticos tinham concluído que, sem

estas organizações, os choques adversos às economias levariam inevitavelmente ao

protecionismo extremo, desequilíbrios cambiais e a problemas inflacionários.

Com base nas visões de Keynes, White e outros grandes teorizadores, o FMI visava

agora um quadro normativo concreto como forma de controlar os fluxos de capitais e

as políticas monetárias dos países, numa tentativa de se acautelarem situações

idênticas às que destronaram o crescimento mundial, relações internacionais e a

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74

estabilidade social na década de 1930, que, eventualmente, levaram à eclosão da

Segunda Guerra Mundial. Atualmente, ainda se perspetiva o pleno funcionamento

destas organizações, que são ainda ineficazes nas suas medidas, e que, por razões

institucionais ou geopolíticas, não defendem em pleno os interesses múltiplos das

economias mundiais.

Desde a sua introdução, o euro estabeleceu-se como segunda principal moeda

internacional. De facto, o poder económico Europeu dita que tal aconteça. Suportado

por políticas objetivas à estabilidade dos preços, as economias emergentes agora

fortemente expostas ao dólar, consagram o euro como uma alternativa às restantes

moedas. A dimensão da economia europeia alterou efetivamente a estrutura do SMI

contudo, este persiste, face à hegemonia do dólar, assimétrico.

O domínio da moeda norte-americana, apesar de positivo para a orientação do

crescimento dos EUA - que visa políticas expansionistas, quando imposto ao BCE,

leva a que a elevada exposição do euro nas reservas internacionais entre em

conflito com o modelo europeu. De facto, a forte relutância às políticas

expansionistas tem permitido que os desequilíbrios cambiais se reflitam sobre a

competitividade das economias europeias, assim como, recentemente, sobre a

estabilidade dos preços com o agravamento da deflação económica. Conclui-se que,

neste sentido, a base da construção da União Económica e Monetária foi subjugada

a ideologias alemãs que atualmente condicionam o funcionamento do BCE. De

facto, os problemas inflacionários da economia alemã após a 1GM moldaram a

aproximação de crescimento e da política monetária não só na Alemanha, mas de

toda a Europa - fenómeno que, com reflexos históricos, marca irrefutavelmente a

atualidade.

Os problemas económicos sentidos após 2010, principalmente nos países

periféricos, podem ser abordados por duas óticas. A primeira, que aliás é pela teoria

das aéreas monetárias ótimas fator crítico para a estabilidade da Zona Euro, através

de uma depreciação interna dos países mais afetados e consequente reequilíbrio. A

depreciação interna obriga contudo a fortes cortes salariais, maior desemprego e

maior austeridade - o que, não tem acontecido de forma gradual. Assim, face aos

diversos problemas económicos, denota-se uma forte relutância social e política ao

agravamento das restrições fiscais impostas pelos países credores.

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A segunda aproximação, que vai ao encontro da instabilidade social provocada pela

deflação e austeridade, consiste na adoção de políticas mais expansionistas já

adotadas pelos EUA, Japão e Reino Unido, propondo-se de imediato a injetar

liquidez no sistema financeiro através de programas como QE ou a estimular a

economia com reajustes cambiais. O BCE, contudo, com fundamentos institucionais

diferentes destes referidos, prevê outro modelo de crescimento que, não se

refutando a credibilidade ou eficácia, produz efeitos mais morosos, agravando o

esforço das populações em se comprometerem com fortes medidas fiscais

restritivas.

O BCE afirma que não objetiva nenhum valor cambial, indiretamente implícito que

permite o valor do euro flutuar livremente, mas foram as suas intervenções

discursivas que, após 2010, asseguraram grande parte da pressão apreciativa. As

imposições da Alemanha e de outros países produziram assim um desequilíbrio

interno nos interesses refletidos pela moeda única. Desta forma, conclui-se que

existe um desalinhamento dos interesses europeus que, pela falta de convergência

macroeconómica, tem permitido que as políticas dos países mais afetados se

afastem daquelas que criaram a União Económica e Monetária em primeiro lugar.

Por outro lado, as políticas das economias emergentes, apesar de por vezes

alegarem uma ótica defensiva, visam a depreciação com base num crescimento

orientado para as exportações e ganho desproporcional de competitividade.

Observa-se que as pressões apreciativas externas ao bloco económico europeu são

igualmente responsáveis por pressões deflacionárias crescentes.

Relembre-se agora a pergunta de partida, base de investigação e fundamentação de

hipóteses:

"Na defesa dos interesses competitivos da UEM, qual o quadro de políticas

para a redução das vulnerabilidades do Euro no Sistema Monetário

Internacional?"

Procurava-se identificar medidas para a redução das vulnerabilidades provocadas

pelo aumento da exposição do euro e consequente aumento de pressões

apreciativas e deflacionárias, numa ótica de defesa dos interesses competitivos.

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Concluindo que na defesa da competitividade, o BCE deve adotar uma postura de

defesa dos interesses multilaterais dos Estados-membros. Adicionalmente a UE,

pelo poder geopolítico que detém, deve atuar junto de outros países e organizações

internacionais para assegurar condições que salvaguardem e promovam da melhor

forma a estabilidade das relações internacionais económicas.

A intervenção monetária é um instrumento fortemente utilizado para se corrigir

desequilíbrios cambiais, contudo, com a globalização financeira, mesmo os bancos

centrais deixam de ter capacidade plena de controlo do valor cambial. A curto prazo,

no entanto, a intervenção cambial defensiva tem efeitos mais significativos e

diversos autores recomendam este tipo de políticas à ação do BCE. No entanto, sem

registos de intervenção ativa desde meados de 1990, não se prevê que o BCE

assuma uma postura mais interventiva para expeditamente corrigir desequilíbrios

cambiais face aos interesses europeus. Isto significaria um fim da neutralidade

interventiva europeia que, apesar de expressamente declarada, não se tem

observado. De facto, as declarações do BCE poderiam significar isso mesmo, uma

neutralidade interventiva, mas na realidade observa-se que o fator crítico pode não

se refletir na não-intervenção do BCE, mas sim na sua ideologia, que, com base no

funcionamento do Bundesbank e princípios de independência, pode efetivamente

estar a defender os interesses unilaterais da Alemanha e outros países.

No entanto, com o agravamento da deflação, o modelo de ação do BCE começa

agora forçosamente a moldar-se. Apesar de tardios, programas como o QE adotado

pelo BCE produzem efeitos semelhantes à depreciação cambial, porém, não se

conclui que serão suficientes.

De qualquer forma, procura-se especialmente abordar os desequilíbrios cambiais

permanentes. As intervenções cambiais só produzem efeitos significativos se existir:

liquidez suficiente da autoridade monetária para comprar ou vender pelo valor

objetivado; efeitos especulativos dos agentes privados no mesmo sentido e

fundamentalmente, acordos ou resoluções que prevejam a depreciação cambial,

uma vez que a depreciação apenas funciona se os outros países se abstiverem de

fazer o mesmo. Caso contrário, os ciclos depreciativos levam a mais

desvalorizações, anulando qualquer anterior efeito positivo e, em última instância,

provocando problemas inflacionários nas economias.

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Conclui-se assim que, a curto prazo, se devidamente acordadas entre bancos

centrais, as intervenções cambiais devam ser adotadas pelo BCE. No entanto,

objetivando um SMI idealista, não se defende um forte intervencionismo do BCE.

Reitera-se que os efeitos a médio e longo prazo são ambíguos e um maior

intervencionismo pode agravar a estabilidade das relações económicas. Assim, pelo

acima exposto, a primeira hipótese não é validada.

H1. A intervenção cambial defensiva atua como contramedida às pressões

apreciativas do euro.

Não Validada.

Com o sistema de Bretton Woods, após a 2GM o voluntarismo político em torno do

dólar tinha conseguido estabelecer a moeda norte-americana como principal moeda

do SMI. Como se observou, a libra dominou enquanto principal moeda do SMI

durante o séc. XIX, apenas após a 1GM houve um aumento significativo do papel do

dólar, que se revelou em pleno após a 2GM.

Enquanto principal forma de reserva de valor, o dólar garante maior grau de

liberdade às políticas monetárias norte-americanas. Como analisado, existem

diversas consequências da procura externa das principais moedas do SMI. De facto,

as economias emergentes que adotam a diversificação estabilizadora intervêm com

a compra de ativos a larga escala nestas moedas – o que permite financiamentos

mais apelativos. Assim, conclui-se que a posição do dólar garantiu, no último meio

século, financiamentos extremamente acessíveis quando comparados com uma

situação hipotética de um sistema multipolar. Isto permitiu uma aproximação de

crescimento diferente daquela atualmente vista nos países europeus, mas com

graves repercussões nos défices orçamentais norte-americanos. Da mesma forma,

observa-se uma tendência de estabilização sobre as principais moedas-reserva,

uma vez que os principais países reservadores, face à sua elevada exposição, não

aceitam perdas significativas com o colapso do dólar ou do euro.

Na Europa, caso a ótica seja de suportar o papel do euro, a manutenção da

cooperação em torno da posição da moeda única deve ser alcançada através da

partilha de informação, coordenação de intervenções monetárias e finalmente,

adoção de medidas que garantam a sua estabilidade e utilização internacional.

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Com a recuperação económica das economias europeias, o euro deve estabilizar-se

como segunda principal moeda do SMI. A longo prazo, apesar do não-voluntarismo

político do BCE, estima-se que o euro se venha a estabelecer par-a-par com o dólar

e que existam outras moedas a destacarem-se - principalmente o RMB caso assuma

maior convertibilidade. Isto, por outro lado, agrava as pressões apreciativas e

deflacionárias sobre a moeda única. Conclui-se que os pontos positivos do aumento

do papel do euro são contrabalançados pela perda de competitividade e apreciação

do euro. De facto, é ambíguo se o benefício do papel reforçado do euro não será

totalmente anulado pela perda de competitividade.

Assim, não fica totalmente provado que o impacto do aumento do papel do euro seja

benéfico mas revoga-se que o contrário deva ser tido como positivo.

H2. O papel do euro, enquanto moeda-reserva de valor, tem um impacto positivo

na defesa dos interesses económicos europeus.

Não Validada.

A diversificação de reservas objetiva a um sistema multipolar deve melhorar

significativamente a estabilidade dos preços na Zona Euro – uma vez que as

pressões apreciativas são diluídas pelas diferentes moedas. Adicionalmente, os

países, ao consagrarem modelos de acumulação precaucionais e diversificação de

reservas, protegem-se contra choques económicos ao invés de estarem fortemente

expostos a uma única economia. Assim determina-se a terceira hipótese como

validada.

H3. A diversificação de reservas de valor por países terceiros beneficia a

estabilidade da economia europeia.

Validada.

A implementação da Conta de Substituição DSE seria extremamente positivo ao

ajudar a multipolarização do sistema monetário de uma forma mais expedita

Contudo, isto iria beneficiar extremamente a China que, até agora fortemente

exposta ao dólar e ao euro, viria uma diversificação automática do risco fora dos

mercados cambiais.

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Existem adicionalmente outras condicionantes neste aspeto. Face ao voluntarismo

norte-americano, não se conclui que os EUA devam acordar com uma reforma que

reduza o papel do dólar. No entanto, com o aumento do poder económico dos

países emergentes e crescente papel do euro, à semelhança dos EUA que

conseguiram impor as suas vontades sobre o SMI após a Segunda Guerra Mundial,

talvez agora as economias emergentes e outros países consigam moldar as

assimetrias do SMI, especialmente, após a criação de novas organizações

internacionais que procuram a defesa dos seus interesses.

O artigo IV do FMI visa concretamente precaver possíveis desequilíbrios cambiais,

no entanto, a supervisão e controlo do FMI é insuficiente e ineficaz. Assim, apesar

de diversas resoluções multilaterais do G7, G20 e FMI, os desequilíbrios cambiais

permanecem como condicionalismos à economia e política europeia. Como

resultado, na defesa dos interesses económicos europeus, a UE deve intervir

perante outros países e organizações internacionais para garantir meios que

permitam a eficácia do quadro normativo internacional já existente. De facto, a

história demonstra grande preponderância destes acordos na manutenção a longo

prazo dos interesses monetários e económicos multilaterais.

H4. Acordos multilaterais e reformas do SMI potenciam maior controlo sobre

medidas mercantilistas e maior estabilidade internacional.

Validada.

Assim, concluindo a análise e em resposta à pergunta de partida, a longo prazo e

face ao não-intervencionismo do BCE, as medidas junto das organizações

internacionais devem funcionar como medida defensiva mais eficaz contra as

pressões apreciativas e deflacionárias. A curto prazo no entanto, a intervenção

cambial defensiva ou programas de compra de ativos em grande escala deve ter

efeitos mais significativos, contudo, apenas se tal não desencadear contramedidas

por parte de outros países. Adicionalmente, pode ser necessária uma alteração ao

modelo de ação do BCE que de facto, já começou, para que, face a pequenos

desequilíbrios, o BCE prontamente corrija e reflita os interesses múltiplos dos países

europeus.

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Conclui-se assim uma abordagem mais interventiva do BCE ou em alternativa mais

idealista relativamente ao atual funcionamento e mecanismos de reequilíbrio do SMI.

Os desequilíbrios cambiais persistentes são de extrema complexidade de análise

mas com efeitos económicos negativos irrefutáveis. Um Sistema Monetário

Internacional que não permita o ajuste correto das taxas cambiais, não coexiste com

um crescimento mundial equilibrado e sustentável. As organizações como o FMI

necessitam de maior poder de decisão sobre países que, como a China, não

possibilitam que as suas taxas cambiais alcancem níveis de equilíbrio. Torna-se

necessário um maior empenho da Comunidade Internacional em reafirmar e

consolidar esforços no desenvolvimento de medidas e reformas que condenem as

desvalorizações competitivas mercantilistas.

A depreciação cambial funciona como estímulo económico em períodos de menor

crescimento, no entanto, se todas as economias adotarem este tipo de políticas, os

efeitos são ao invés, a mera destruição das relações entre Estados e da estabilidade

económica. ▄

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