modelo monetário civil (1.5)

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MODELO MONETÁRIO CIVIL Proposta matematicamente viável de política monetária humanista de João Alves Marrucho

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Modelo monetário matematicamente viável de política monetária humanista

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  • Mode lo Monet rio

    Civil

    Proposta matematicamente vivel

    de poltica monetria humanista

    de Joo Alves Marrucho

  • Agradeo as contribuies na reviso e debate deste livro de:

    Maria do Cu Martins (professora de enfermagem)Jos Albino Marrucho (enfermeiro)Jos Marrucho (msico)Cristiana Bastos (antiquria e mdica)Antnio Manuel (estudante de economia)Joo Santos (economista)Dinis Santos (realizador)Virgnia Pinho (designer)Helena Menino (artista e produtora)Lusa Martelo (designer)Pedro Borrata (farmacutico)Pedro Baltazar (matemtico)Rodrigo Neto (artista)Joana Miranda (economista)Assembleia Popular do Porto

    Agradeo tambm de antemo a todos os que queiram questionar e criticar este livro. Peo que, sempre que o faam, me enviem um exemplar ou um link com os contedos que resultarem para o e-mail: [email protected] com a palavra Contacto (filtro).

    proibido fazer uso deste livro, adulterando contedos, lucrar com a venda de exemplares, ou cobrar direitos de autor em meu nome ou em nome de qualquer associao de proteco dos direitos de autor que alegue ser minha representante, sem o meu consentimento expresso por escrito.

    Este documento no foi alvo de reviso profissional, portanto provvel que contenha alguns erros gramaticais e ortogrficos.

    Joo Marco Martins Alves Marrucho, Maro de 2014

  • Mode lo Monet rio Civil

    Modelo matematicamente vivel

    de poltica monetria humanista

    Joo Alves Marrucho

  • 4LA LMPARA MARINA

    PORTUGAL,

    vuelve al mar, a tus navos,

    Portugal, vuelve al hombre, al marinero,

    vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,

    a tu razn libre en el viento,

    de nuevo

    a la luz matutina

    del clavel y la espuma.

    Mustranos tu tesoro,

    tus hombres, tus mujeres.

    No escondas ms tu rostro

    de embarcacin valiente

    puesta en las avanzadas del Ocano.

    Portugal, navegante,

    descubridor de islas,

    inventor de pimientas,

    descubre el nuevo hombre,

    as islas asombradas,

    descubre el archipilago en el tiempo.

    La sbita

    aparicin

    del pan

    sobre la mesa,

    la aurora,

    t, descbrela,

    descubridor de auroras.

    Cmo es esto?

    Cmo puedes negarte

    al cielo de la luz t, que mostraste

    caminos a los ciegos?

    T, dulce y frreo y viejo,

    angosto y ancho padre

    del horizonte, cmo

    puedes cerrar la puerta

    a los nuevos racimos

    y al viento con estrellas del Oriente?

    Proa de Europa, busca

    en la corriente

    las olas ancestrales,

    la martima barba

    de Camoens.

    Rompe

    las telaraas

    que cubren tu fragante arboladura,

    y entonces

    a nosostros os hijos de tus hijos,

    aquellos para quienes

    descubriste la arena

    hasta entonces oscura

    de la geografa deslumbrante,

    mustra-nos que t puedes

    atravesar de nuevo

    el nuevo mar escuro

    y descubrir al hombre que ha nacido

    en las islas ms grandes de la tierra.

    Navega, Portugal, la hora

    lleg, levanta

    tu estatura de proa

    y entre las islas y los hombres vuelve

    a ser camino.

    En esta edad agrega

    tu luz, vuelve a ser lmpara:

    aprenders de nuevo a ser estrella.

    Pablo Neruda, Las uvas y el viento, 1954

  • 56 introdUo

    8 liberdade, lei e Poder10 A natureza do dinheiro

    13 Por uma economia subjugada Declarao Universal dos Direitos Humanos

    14 Bruxos-adivinhos

    15 deUS eX-MaCHina? *

    18 Doutrinassociaisvindasdocampofilosfico

    20 Compreenderamaiorcrisefinanceira

    23 Um mercado baseado na dvida perptua

    31 MoedaRiqueza

    35 Algicadesumanadamacroeconomia

    38 A Lei da Oferta e da Procura aplicada moeda

    41 A escala

    43 Liberdade de deslocao

    44 a ProPoSta: UMa Moeda UMa Moeda 44 Umamoedadevalorfixo

    48 Ofimdosistemadereservafraccionada

    49 novaS reGraS MonetriaS e PoltiCaS51 Criao de moeda

    62 Sofisticaodademocracia

    63 Sistemas de representao poltica

    64 Comunicaoeinformaooficialemestadosdemocrticos

    67 Umnovopoderqueamplieademocracia

    72 Servioseprofissesessenciais

    74 Definiodosvaloressalariais

    90 Contas

    92 Lgicasdosmecanismosdemanutenoeeliminaodemoeda

    97 UM CdiGo internaCional Sobre ProdUo97 Legislaosobrerecursosambientais(particularidadesdumataxaecolgica)

    100 Sumriodeimpostosetaxas

    102 Legislao laboral internacional

    105 Equilbrioentrepreosepoderdecompra

    106 MUndo de Moeda diGital109 Viabilidade de um sistema global

    indCe

  • 6introdUo

    Um problema um conjunto de caractersticas existentes num

    contexto que impede o alcance das expectativas de um ou mais

    sujeitos. Como seres humanos somos capazes de agir no sentido de

    mudar as caractersticas de um meio. s vezes para melhor, outras

    vezes para pior. Espero sempre a primeira.

    O que me fez comear escrever, nunca foi nem criar con-

    senso, nem radicalizar posies. Foi algo bem mais mundano e

    pequeno como escapar, com a conscincia tranquila, s meias

    verdades e barbaridades proferidas por amigos e conhecidos nos

    cafs. O que me levou a pensar sobre economia, foi tentar manter

    um pensamento crtico relativo ao jornalismo de opinio que con-

    stitui o grosso da actividade informativa contempornea, ques-

    tionando e refutando o contedo das constantes palestras televisi-

    vas dadas por comentadores profissionais que me assaltavam com

    as certezas mais cruis, diariamente, sem que neles vislumbrasse

    algum tipo de viso, coragem ou bom senso. Desconfio sempre de

    quem discursa em nome da inevitabilidade de um caminho negro

    para as construes humanas.

    Com o passar do tempo tornou-se desafiante, pensar num

    modelo monetrio alternativo. Nestas pginas est o resultado

    dessas reflexes. No aprofunda teorias sobre relaes entre os

    actuais indicadores econmicos nem pretende eliminar pequenos

    ndulos do corrente sistema monetrio. Pelo contrrio, considera

    a natureza da moeda e as premissas que lhe esto associadas para

    justificar a falncia ideolgica e matemtica do que agora nos

    imposto, sugerindo uma nova forma de olhar para o dinheiro. O

    actual sistema monetrio (operando atravs do sistema de criao

    de moeda pela reserva fraccionada), apresenta-se como a raz de

    um problema que se ramifica em muitas e perversas limitaes

    liberdade e dignidade humana, incluindo minha prpria. Este

    um documento de carcter criativo e, espera-se, que criador tam-

    bm. Desde que encontre um pequeno espao e algum respeito no

    debate especializado e acadmico j ter alcanado uma das suas

    grandes expectativas. Se alm disso conseguir permear o debate

  • 7pblico, fantstico, mas sei bem que tambm corre o risco de ser agil-

    mente engavetado com um qualquer chavo. Se algum dia existir uma

    tentativa de traduzir a filosofia aqui proposta para um sistema mon-

    etrio efectivo, o desafio ser ento outro.

    Hoje em dia as responsabilidades e o poder sobre a criao de

    dinheiro esto afastadas dos cidados, que se remetem a uma falsa

    zona de conforto alheada de preocupaes sobre a criao de moeda.

    Como a maior parte de ns sabe, muitas das decises das nossas vidas

    so tomadas de acordo com a quantidade de dinheiro que se tem. A

    produo de moeda, no entanto, est no controlo de uma percentagem

    absurdamente pequena da sociedade, que delibera sobre a criao do

    dinheiro (ferramenta essencial da economia).

    Este livro nasce da crena de que prefervel viver numa so-

    ciedade mais responsvel por si mesma do que numa limitada pelas

    decises de uma elite. Dizer que a proposta aqui desenhada tem uma

    componente restritiva do poder dos bancos, e que est pensada para

    funcionar dentro de uma economia global, incentivando um entendi-

    mento entre naes, no significa dizer que seja um modelo concebido

    para um regime global totalitrio. Alis, um pequena zona administra-

    tiva, um pas ou um pequeno grupo de naes que possuam todos os

    recursos dos quais necessitam podem adopt-lo.

    Porque foi pensado para pessoas e no para uma entidade per-

    feita, este um modelo imperfeito. insuficiente para eliminar a

    estratificao social mas, permitindo uma maior mobilidade social e o

    cumprimento dos direitos humanos, atenua-a.

    As disciplinas que estudam a economia abordam quase sempre o

    assunto da criao monetria dentro do actual cenrio. A minha for-

    mao no a de economia e talvez por isso me tenha sido possvel es-

    crever isto, assim. Eu tenho uma licenciatura em design de comunicao.

    Este livro no complexo. Se eu o consegui escrever, qualquer

    pessoa que saiba ler letras e nmeros consegue vir a perceb-lo, ainda

    que seja preciso um pouco de concentrao e algum interesse pessoal.

    Acontea o que acontecer, espero que, como eu, o leitor d o tempo

    que nele investir como bem gasto.

  • 8liberdade, lei e Poder

    A troca de coisas por coisas, a permuta de mercadorias por mer-

    cadorias, pela sua simplicidade, e sempre ser um gesto comum

    na sociedade. Mais que uma possibilidade indubitavelmente uma

    necessidade social.

    Antes de existir dinheiro, a troca directa, ou escambo, era

    o nico modo de comrcio. No entanto, por muitas razes, no se

    pode considerar que a simples troca directa seja um sistema flxiv-

    el o suficiente para abranger a maior parte das trocas numa econo-

    mia contempornea. Num mercado de tendncia global, espao

    onde se encontram culturas com facilidades e dificuldades to

    distintas, tentar legislar um sistema de trocas para uma economia

    de recursos um gesto demasiado afastado do modelo de organi-

    zao civilizacional em que vivemos. Por outro lado inventar um

    mecanismo de definio de valores dos produtos e servios tarefa

    condenada a falhar partida e, receio bem, que qualquer tenta-

    tiva de o fazer se possa rapidamente transformar num trabalho

    inglrio. O valor de uma mercadoria, no normalizvel porque

    alm de depender de contextos mutveis, o valor de uma coisa

    deve permitir aos agentes da troca uma interpretao pessoal. Por

    outras palavras, o valor de uma mercadoria tambm em parte

    subjectivo. Legislar no sentido oposto ditar atentando contra a

    prpria liberdade de interpretao de acordo com valores pes-

    soais. Por estes motivos, esta proposta ainda usa a moeda enquan-

    to ferramenta socio-econmica, variando apenas as regras da sua

    utilizao.

    Nenhuma lei capaz de estabelecer o exacto valor mon-

    etrio de uma sopa. No entanto, e tambm esse o propsito deste

    livro, possvel compreender a natureza da produo para tentar

    legislar sem retirar liberdade. J Immanuel Kant escreveu, sobre a

    procura de justia:

    Liberdade e lei (pela qual a liberdade limitada)

    so os dois eixos em torno dos quais gira a legis-

    lao civil. Mas, a fim de que a lei seja eficaz, em

  • 9vez de ser uma simples recomendao, deve ser

    acrescentado um meio-termo, o poder, que, ligado

    aos princpios da liberdade, garanta o sucesso dos

    da lei. possvel conceber apenas quatro formas

    de combinao desse nico elemento com os dois

    primeiros:

    A. Lei e liberdade sem poder (Anarquia).

    B. Lei e poder sem liberdade (Despotismo).

    C. Poder sem liberdade nem lei (Barbrie).

    D. Poder com liberdade e lei (Repblica).

    Immanuel Kant, in Antropologia do Ponto de Vista Pragmtico

    Se fosse obrigado a optar j e a considerar que apenas existem

    estas quatro formas de organizao, para este modelo mone-trio,

    optaria pela Repblica. Felizmente no sou, e apesar da viabilidade

    deste sistema monetrio se perder nas outras opes (Anarquia,

    Despostismo e Barbrie), mais prximo do fim do livro se per-

    ceber que com este modelo, at os orgos de poder dos Estados

    devem sofrer alteraes aos seus moldes de funcionamento, sendo

    necessria uma sofisticao da democracia, a fim de aproximar a

    lei, a liberdade e o poder dos cidados.

    Voltando economia, todos os grupos de pessoas foram

    encontrando, mais cedo ou mais tarde, a necessidade de desen-

    volver ento, um meio legtimo de representar valor. Com con-

    chinhas ou metais raros, foram-se inventando maneiras de medir,

    guardar e transportar o valor para efectuar pagamentos. Essas

    maneiras foram sendo aceites pela maioria das pessoas dentro uma

    determinada comunidade no sentido de agilizar as trocas comerci-

    ais. Quase invariavelmente, chegmos ao sculo XXI com sistemas

    monetrios aceites por milhes de pessoas. O dinheiro hoje, e

    talvez seja durante mais algumas dcadas, quem sabe sculos, a

    ferramenta social mais usada nas trocas econmicas.

  • 10

    Uma economia de recursos, tecnologicamente desenvolvi-

    da, que no precise de moeda nem lei, pode ser considerada um

    horizonte que assenta em premissas mais puras, mas enquanto os

    cidados encontrarem na moeda e na sua lei, um obstculo a essa

    viso, dificilmente podero alterar o seu comportamento. Por este

    motivo este documento apresenta uma tese que tenta explanar

    uma proposta para um passo intermdio. Um passo que necessita

    de um sistema monetrio e de um sistema jurdico, assim como

    de outras instituies, mas que tenta aproximar estas ferramentas

    sociais dos mais elementares direitos humanos.

    A natureza do dinheiro

    A natureza do dinheiro distinta da de um produto pela simples

    razo de que foi precisamente para esse efeito que o dinheiro foi

    inventado: para simbolizar o valor de um produto e no para o

    substituir em forma ou funo. Apesar de ser usado nas trocas

    comerciais e ter uma representao fsica, o dinheiro uma ferra-

    menta significante: um conceito. Uma ideia que pode ser to preci-

    sa quanto uma conta de somar ou subtrair. A compreenso da na-

    tureza do dinheiro enquanto uma mera ideia essencial para que

    se perceba mais adiante, como os sistemas de criao de moeda

    vigentes* ainda no conseguiram aproveitar, todo o potencial de-

    sta ferramenta social no sentido de criar um mundo melhor. Pelo

    contrrio, o dinheiro tem sido usado para fazer estagnar as guas

    da evoluo social. Se o dinheiro uma coisa to precisa quanto a

    matemtica, pode tambm ser uma coisa to preciosa quanto um

    poema.

    Idealmente o dinheiro tm trs funces bsicas:

    Medida de valorEsta funo muito importante, porque permite medir o valor

    das coisas. E.g. se uma pessoa tem cabras, e outra tem galinhas,

    e quiserem trocar, se uma cabra no vale exactamente 10 nem

    Vrios tipos de criao de moe-da sucintamente descritos em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Cria%C3%A7%C3%A3o_de_moe-da

  • 11

    11 galinhas, (talvez valha 10,5) e como a dona das cabras quer

    galinhas vivas no se pode dar meia galinha. O dinheiro serve

    como medida exacta das coisas.

    reserva de valorSe uma pessoa quiser guardar o fruto do seu trabalho, em vez de

    guardar ouro, galinhas ou cabras debaixo do colcho e no quintal,

    troca o seu trabalho por dinheiro. O dinheiro enquanto represen-

    tao de valor armazenvel e transportvel.*

    Meio de pagaMentoVoltando s cabras e s galinhas, o dinheiro substitui conchas ou

    sal (antigas moedas) na nossa troca comercial. Com dinheiro con-

    sigo ir ao supermercado sem levar as minhas cabras para a caixa a

    fim de pagar as compras com elas.

    O sistema monetrio, enquanto construo humana, pode e deve

    ser reformulado, sofisticado ou at abandonado, sempre que deix-

    ar de servir sociedade que o legitima. Se verdade que o actual

    sistema monetrio criou muitos ricos, e que o sistema capitalista

    conseguiu criar uma classe mdia, infelizmente inegvel que no

    evitou o aumento do fosso econmico entre os mais ricos e os mais

    pobres, no conseguindo garantir s classes sociais com menos

    moeda, acesso a todos os seus direitos. A prpria representao de

    poder, os governos que representam as naes, v os seus antigos

    campos de deciso altamente limitados quando tenta agir dentro

    do actual quadro monetrio. possvel afirmar, sem qualquer difi-

    culdade, que os polticos so hoje actores secundrios, que deix-

    aram de intervir em nome da populao que lhes concede, e lhes

    mantm, o poder para legislarem sobre matrias comuns a todos

    os cidados e para administrarem os recursos pblicos, na procu-

    ra de uma sociedade livre e justia. De modo geral podemos dizer

    que, presentemente, a poltica delegou as decises que mais afec-

    tam a vida dos cidados, nas disciplinas econmicas e actividades

    do mercado.

    Estas duas primeiras funes do dinheiro esto enfraqueci-das pelo actual sistema finan-ceiro, que apesar de permitir e at fomentar a acumulao de dinheiro, necessita que a moeda possa variar de valor para funcionar (mercados de cmbio)

  • 12

    Assim, hoje apenas natural que o discurso sobre poltica e

    economia tenha sempre que ver com esta luta ingrata entre polti-

    ca e mercado. Enquanto as apelidadas polticas de direita aplicam

    os ensinamentos da escola econmica neoclssica, que reza que

    o governo deve reduzir a legislao sobre a actividade econmica

    ao mnimo possvel, na crena que o mercado encontre solues

    prprias, as chamadas polticas de esquerda, acreditam que o gov-

    erno deve sofisticar e fazer aplicar as leis fundamentais do comrcio.

    Para a maior parte do Mundo a globalizao, como

    tem sido conduzida, assemelha-se a um pacto com

    o diabo. Algumas pessoas nalguns pases ficam

    mais ricas, as estatsticas do pib pelo valor que

    possam ter aparentam melhoras, mas o modo

    de vida e os valores bsicos da sociedade ficam

    ameaados. Isto no como deveria ser.

    Joseph E. Stiglitz* Joseph Eugene Stiglitz foi presidente do Conselho de Assessores Econmicos no governo do Presidente Bill Clinton (1995-1997), Vice-Pres-idente Snior para Polticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, onde se tornou econ-omista chefe. Recebeu, juntam-ente com A. Michael Spence e George A. Akerlof, o Prmio Nobel de Economia em 2001 por criar os fundamentos da teoria dos mercados com infor-maes assimtricas. Stiglitz defende a nacionalizao dos bancos americanos e membro da Comisso Socialista Interna-cional de Questes Financeiras Globais.http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo-seph_E._Stiglitz

  • 13

    Por uma economia subjugada Declarao Universal dos Direitos Humanos

    Antes de me alongar sobre o porqu deste ttulo, necessrio sub-

    linhar que os sistemas econmicos contemporneos so comple-

    tamente dependentes dos sistemas monetrios com que operam.

    a reviso e reformulao do modo como o sistema monetrio

    e o sistema econmico se interligam que pode permitir manter a

    liberdade de mercado preconizada pelo sistema capitalista (lib-

    eral) sem comprometer a possibilidade do existir um Estado de

    Bem-Estar Social. Quero com isto dizer que se a moeda, ferra-

    menta essencial da economia estiver correctamente associada

    base da produtividade, o trabalho, talvez a justia social e a liber-

    dade voltem a entrar no vocabulrio poltico.

    Tentar erradicar o capitalismo com uma revoluo s faz

    sentido se no percerbermos que apenas a mecnica de produo

    do dinheiro, e no a raiz do liberalismo, que sentencia a sociedade

    a uma morte lenta e dolorosa.

    ELEAnORROOSEvELtCOMA

    DECLARAOUnivERSALDOS

    DiREitOShUMAnOS

  • 14

    Apesar de se considerar que necessria a completa re-

    criao do sistema monetrio, no parece que o liberalismo, en-

    quanto sistema onde alguns meios de produo so de propriedade

    privada, possa ser posto de parte por decreto. As premissas do

    liberalismo podem muito bem funcionar numa economia mista.

    Numa onde os bens e direitos essenciais sejam providenciados pela

    administrao pblica, e onde os bens e direitos secundrios pos-

    sam ser disponibilizados pela adminitrao privada. Ou, sendo ain-

    da um pouco mais liberal, num sistema onde a actividade do sector

    privado possa tambm ser no campo dos bens essenciais, desde que

    tal exerccio nunca ameae o acesso a esses bens e direitos. A dis-

    tino entre bens essenciais e bens secundrios, no tanto objecto

    de anlise da economia como da tica. No obstante este livro no

    contenha nenhum captulo sobre tica, a teoria geral sobre econo-

    mia que aqui proposta dever ser praticvel sem prejuzo dos

    direitos humanos. Os valores afectos aos processos aqui propostos

    so os que vejo subjacentes maior parte das aces humanas tam-

    bm reiterados na Declarao Universal dos Direitos Humanos *.

    Bruxos-adivinhos

    O trabalho dos economistas que fazem previses econmicas tem-

    se revelado menos til que o dos bruxos-adivinhos. Por isso mes-

    mo, quando percebi o processo de criao de dinheiro pelo sistema

    de reserva fraccionada*) decidi investigar um pouco mais a fundo,

    lendo sobre a matria, questionando especialistas, acadmicos,

    funcionrios bancrios, intelectuais, gestores e contabilistas.

    Ningum conseguiu responder satisfatoriamente questo

    colocada neste web-movie: onde e quando, num mundo de livre

    circulao de capitais e de regrada produo de moeda, criado o

    dinheiro para pagar os juros?

    Cruzei vrias respostas: uma pessoa licenciada em gesto,

    que trabalha num banco, disse-me que a moeda necessria para

    pagar os juros aos bancos vinha dos clientes que conseguiam, do

    trabalho, tirar resultados para pagar os juros. Esta resposta

    Declarao Universal dos Dire-itos Humanos em portugus: http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.aspx-?LangID=por

    Link para vdeo (em ingls) Modern Money Mechanics, excerto do filme Zeitgeist Add-edum.Este filme, realizado e produz-ido em 2008 por Peter Joseph, tenta identificar as causas da corrupo, oferecendo um mod-elo social distinto. O caminho para a proposta apresentada nest filme, no est definido, mas aponta para uma socie-dade que vive imagem dos conhecimentos e tecnologias actuais.http://www.youtube.com/watch?v=vm3DixfL9o0

  • 15

    parcial e no argumento vlido. Alis, ludibriante. Os clientes

    dos bancos (governos, empresas e trabalhadores) apenas esto no

    meio de uma cadeia de trocas comerciais de produtos e servios e,

    apesar de usarem dinheiro nas suas trocas, nunca podem produ-

    zir moeda (so agentes intra-econmicos e no supra-econmi-

    cos). Uns meses depois, completou, um amigo de longa data (cuja

    inteligncia e perspiccia admiro desde h muito), que quando um

    devedor de dinheiro conseguia produzir riqueza nesta cadeia de

    trocas, no s pagava o capital (e os juros) como contribuia para

    o aumento do pib*, valorizando a moeda permitindo ao banco

    central emitir mais dinheiro repondo o valor que esta tinha antes

    da riqueza ser criada. No entanto, nem o aumento de riqueza de

    um determinado produtor obriga a que o pib aumente, (e.g. dum

    qualquer exerccio econmico em que um produtor obtenha suces-

    so, pode sair outro produtor lesado sem que haja uma notificao

    aos bancos do sucedido), nem existe qualquer tipo de lei que o

    obrigue os governadores dos bancos centrais a imprimirem mais

    moeda caso isso acontea. Mesmo que partssemos do princpio

    que os ndices financeiros tm uma relao prxima com a reali-

    dade econmica dos cidados chegaramos a concluses tristes.

    deUS eX-MaCHina? *

    Em Portugal, num sbado de Agosto de 2010, na segunda pgina

    do suplemento Economia do jornal Expresso podia ser visto um

    grfico onde estava sobreposta a evoluo durante o perodo de

    20 anos dos ndices bolsistas da grande derrocada evoluo dos

    ndices bolsistas do sculo XXI. O que se registou entre 1912 e 1922

    apresenta muitas semelhanas com o que se passou desde 2000

    at 2010. Num exerccio de lgica um pouco grosseira, consid-

    erando que duas situaes com as mesmas caractersticas tm as

    mesmas consequncias, em 2015/16 se no antes, talvez possamos

    assistir a uma nova grande depresso.

    Mesmo que os nmeros do pib subam, nada mas absoluta-

    mente nada, no actual sistema financeiro, garante que as condies

    De grosso modo o PIB um indicador financeiro que agluti-na o valor total dos produtos de um pas. Se um pas tem muita riqueza (recursos, produo, etc.) e tem poucas moedas, a sua moeda vale mais. Se pelo contrrio, tem pouca riqueza e muitas moedas, a sua moeda vale menos.

    Deus ex machina expresso latina vinda do grego (...)signifi-ca literalmente Deus surgido da mquina e utilizada para indicar uma soluo inespera-da, improvvel e mirabolante para terminar uma obra de fico ou drama.http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus_ex_machina

  • 16

    de vida da populao sejam mantidas ou melhoradas pela sim-

    ples subida dos valores estatsticos. Alm de que, como se explica

    matematicamente mais frente, como a dvida de moeda paga

    com moeda, mesmo injectado mais dinheiro na economia (com

    taxa de juro adjacente) a quantidade de dvida existente sempre

    maior que o todo o dinheiro existente para a pagar. Essa dvida ser

    perpetuada a ampliada se o sistema monetrio no for alterado.

    A reformulao das crenas algo de natural na evoluo

    das civilizaes, e os momentos de crise so sempre o ponto de

    partida para novos e mais largos horizontes. Algumas pessoas,

    numa situao de crise passam de uma situao de excesso de con-

    fiana, calma e passividade, para um estado de depresso, pnico

    ou revolta. Este texto foi escrito para que o leitor se mantenha

    fora de uma situao de letargia, pense um pouco sem radicalizar

    posies, e depois contribua com o que quiser para a construo

    de um mundo melhor. Nunca o desespero resolveu coisa alguma.

    Para uns, alguns excertos deste livro podero ser de difcil

    entendimento. Outros, podero detectar concluses erradas e cons-

    tataes infundadas. Espero que no, mas em qualquer um dos casos

    agradeo um contacto para que possa explicar melhor, melhorar e

    corrigir este documento, ou simplesmente abandon-lo, caso seja

    argumento de fora maior.

    No est longe o dia em que a problemtica

    econmica se voltar a sentar onde pertence, e a

    arena do nosso corao e da nossa cabea ser ocu-

    pada ou reocupada, pelos nossos problemas reais/

    os problemas da vida e das relaes humanas...

    John Maynard Keynes *

    Qualquer aluno de primeiro ano de Gesto ou Economia sabe que

    a definio de uma empresa uma pessoa colectiva (representao

    oficial de uma ou mais pessoas) que vende bens e/ou servios com

    o objectivo do lucro. Todos os agentes econmicos se regem por

    esta premissa. Isto a regra base do capitalismo/liberalismo. O

    Traduo livre a partir de: http://en.wikipedia.org/wiki/Steady_state_economy

  • 17

    capitalismo assim, e quanto a isso no h grande coisa a fazer. O

    lucro est para o capitalismo como o golo para o futebol. O din-

    heiro, esse, a bola.

    As Finanas (enquanto arte ou cincia que estuda a ad-

    mi-nistrao dos recursos) tambm funcionam segundo a procura

    do lucro. Agora, a poltica monetria, infelizmente definida pelos

    mesmo agentes que operam dentro das regras do sistema finan-

    ceiro. Durante o sculo vinte foi-se estabelecendo que mesmo as

    instituies financeiras autorizadas a produzir moeda (como o

    Banco Central Europeu na ue, ou a Fed nos eua), instituies cuja

    finalidade deveria ser a da manuteno de um sistema econmico

    equilibrado, tambm devem procurar a acumulao de riqueza. E

    aqui reside uma grande parte do problema:

    uma das principais questes da microeconomia

    a busca da validade da intuio de Adam Smith,

    saber se os indivduos na busca dos seus interesses

    prprios contribuem para promover os interesses

    da sociedade no seu conjunto

    Paul Krugman *

    Em macroeconomia a questo repete-se mas com o agravamento

    da distncia emocional. A sucesso de falncias, a falta de em-

    prego, a falta de liquidez dos bancos menos poderosos, o agrava-

    mento da dvida soberana, o aumento do fosso econmico entre

    pessoas (individuais ou colectivas), tm sido sinal que algo neste

    sistema no est a funcionar bem. No muito fcil perceber de

    repente o que est a correr mal porque este sistema no tem sido

    transparente para todos os seus agentes. Os meios de comunicao

    social tambm no conseguem ser independentes, porque operam

    dentro da mesma lgica, e hoje em dia, mesmo as cadeias televisi-

    vas mais poderosas, esto to centradas em reduzir custos que j

    pouco investem em jornalismo de investigao, procurando modos

    mais baratos de informar ou at abdicando da informao para dar

    lugar ao entretenimento.

    Krugman, Paul R; Wells, Robin.. Economic. New York, NY: Worth Publishers, 2009. p. 27. ISBN 978-0-7167-7158-6

  • 18

    A mais recente tentativa de precaver uma crise monetria de

    larga escala, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (mee ou, na

    sigla em ingls, esm). Este um fundo de 700 mil milhes de euros

    (2100 euros por cidado da eurozona e, fala-se j na necessidade de o

    aumentar para 1500 ou 2000 mil milhes, portanto duas a trs vezes

    mais). Supostamente servir para ajudar pases com grandes dfices.

    O seu modo de reunir os fundos to simples como a exigncia dessa

    quantia aos estados membros que as devem enviar em sete dias. Os

    julgamentos que faz para decidir moeda muito similiar ao de um

    fundo como o fmi, ou at parecido ao de um banco comercial, com a

    agravante de proteger os seus trabalhadores, garantindo-lhes direitos

    e poderes que no so cedidos populao europeia, e retirando ain-

    da mais autonomia poltica aos estados membros. Se isto por alguma

    razo at puder ser debatido enquanto ferramenta de manuteno da

    estabilidade financeira, tambm ter que ser encarado como um me-

    canismo empobrecimento do patrimnio social, no tanto porque faa

    exigncias de somas astronmicas, mas mais porque transforma as

    funes da Unio Europeia nas de uma instituio ditatorial. Diz esta

    tentativa de tratado que o mee competente para encetar proced-

    imentos jurdicos, mas o mee, suas propriedades, seus meios finan-

    ceiros e seus activos, desfrutam de imunidade jurdica, ilibando os ser

    administradores de responsabilidades caso o processo no corra bem.

    Muitas pessoas no fazem ideia, mas a grande maioria dos mer-

    cados financeiros nem sequer so regulados e no tem sido possvel

    efectuar qualquer tipo de fiscalizao criteriosa. Apesar de se estar a

    fazer algum esforo poltico no sentido de contrariar esta situao, no

    preciso investigar muito para concluir que este esforo inglrio.

    Permitam-me partir deste problema: ser possvel que um capitalis-

    mo/liberalismo slido possa continuar a ter o lucro como objectivo,

    quando se ajoelha Declarao Universal dos Direitos Humanos.

    certo que isso no tem sido conseguido, mas as possibilidades no

    esgotam no que j foi tentado. Que fazer? Esperar pela resposta deste

    sistema? No.

    Doutrinas sociais vindas do campo filosfico

  • 19

    De grosso modo possvel afirmar que todas as ideologias modernas tm como objectivo, acabar com o Estado:

    O capitalismo (pelo menos a corrente mais radical, o neoliberal-

    ismo, ou ultraliberalismo) tem f que o mercado, livre de legis-

    lao imposta por um governo eleito democraticamente, consi-

    ga resolver todos os problemas sociais. Os governos neoliberais

    apelam a esta crena quando implantam medidas que comprome-

    tem o Estado Providncia*.

    O socialismo, de acordo com seus tericos, depois da abolio da

    propriedade privada, atravs da eliminao das diferenas en-

    tre classes, tendo a humanidade controlo e conscincia de todo o

    processo social de produo, abandona a fase de transio, atinge o

    seu ltimo grau de emancipao (comunismo) deixando de precis-

    ar de um governo central.

    O anarquismo por sua vez, no sendo contra a ausncia de or-

    dem, cria as suas formas organizao recusando qualquer tipo

    de ordem hierrquica que no seja livremente aceite. Assim sendo,

    logo partida, para um anarquista, um governo eleito apenas por

    alguns, carece de legitimidade para legislar para todos.

    Todas estas ideologias sem excepo so fundamentadas em va-

    lores supremos do Homem, mas nenhuma delas se conseguiu dis-

    seminar e implantar sem negligenciar outros valores ou at mesmo

    os seus prprios postulados.

    A ttulo de exemplo (e sem dissertar sobre as contradies, e atropelos aos valores humanos que as tentativas de pr em prctica estas trs ideologias podem ter gerado):

    No liberalismo, a liberdade de organizao socio-econmica, defendida enquanto valor essencial na luta contra o autoritarismo

    socio-econmico.

    No comunismo, a igualdade entre indivduos a palavra de or-dem em favor de uma sociedade mais justa.

    Estado de bem-estar social (em ingls: Welfare State), tam-bm conhecido como Esta-do-providncia, um tipo de organizao poltica e econmi-ca que coloca o Estado como agente da promoo (proteCtor e defensor) social e organizador da economia.http://pt.wikipedia.org/wiki/Esta-do-provid%C3%AAncia

  • 20

    No anarquismo, a automomia e a espontaneidade de um sujeito racional so ideais fortes contra todas as formas de submisso e ser-vido.

    A necessidade de repensar as ferramentas conceptuais pelas quais

    a sociedade se organiza na procura de valores to nobres quanto a

    liberdade, igualdade ou automomia, existe mesmo fora dos guar-

    da-chuvas ideolgicos, das doutrinas ou das religies. A abolio dos

    Estados (quer seja pela via transitria da concentrao do poder na

    administrao pblica, quer seja pela delegao da responsabilidade

    social na administrao privada, ou mesmo pela recusa de qualquer

    forma de poder) objectivo transversal a estas trs ideologias. Mas

    existe uma espcie de pragmatismo, que no nos vai permitir extin-

    guir, pelo menos de modo pacfico e eficaz todas as formas de poder

    centralizado, sem que primeiro se alcance a capacidade de aceitao

    de um novo modelo de organizao que amplie a liberdade, igual-

    dade de direitos e autonomia dos cidados alargando o espectro de

    aco da democracia. Pelo menos no de imediato. Se a democracia

    for sofisticada no h necessidade de acabar com o conceito de Es-

    tado. E assim se abre um caminho menos penoso e mais responsvel

    para que tal possa vir a acontecer.

    Compreender a maior crise financeira

    Serve este captulo para se tentar perceber se podemos ter f nalgu-

    ma das propostas polticas actuais. Enquanto os socialistas apontam

    o dedo s polticas neoliberais, os neoliberais exaltam-se contra ao

    excesso de interveno Estado, paralela e marginalmente as comuni-

    dades anarquistas continuam a sua aco...

    Podemos afirmar sem grande risco de errar que o agigantar

    dos mercados, criado pela globalizao, aglutinou pequenas, mdi-

    as e grandes empresas em corpores multinacionais. No mundo

    ocidental as estruturas empresariais cresceram ao ponto de terem

    mais poder socio-econmico que as prprias naes. Convm hoje

    em dia relembrar que o Estado a figura abstracta que representa a

  • 21

    totalidade de pessoas de um pas. Curiosamente, nas ltimas dca-

    das temos visto governos um pouco por todo o mundo (Pinochet,

    Nixon, Reagan no sculo passado, ou Merkel, Sarkozy, Cameron,

    Passos Coelho * j neste sculo) empenhados em salvar a liberdade

    dos mercados e pouco importados com a liberdade dos indivduos.

    Como j foi referido, a ideologia neoliberal acredita que mesmo

    um Estado democrtico governado atravs de um sistema de ad-

    ministrao pblica predeterminado e aceite pela populao, no

    deve colocar a mo no mundo dos negcios. Ora, essa pretenso

    apenas defendida pelas pessoas que ainda no querem perceber

    que o bem de uma grande empresa no significa necessariamente

    o bem comum. E que o governo legitimamente escolhido para, em

    nome do Estado que representa, tentar melhorar as condies de

    vida de todos, tem a autorizao e legitimidade para negociar e

    legislar sobre comrcio.

    John Stuart Mill, considerado um dos pioneiros do lib-

    era-lismo, escreveu os Princpios da Economia em 1848, mas entre-

    Angela Merkel (na Alemanha), Nicolas Sarkosy (na Frana) ou Pedro Passos Coelho (em Portugal), apesar de aumen-tarem as os impostos, podem ser entendidos como lderes de uma fase de transio para uma verdadeira sociedade de merca-do livre.O que permite encaixar este tipo de polticas dentro da ideologia neoliberal a prpria argumentao dada por estes governos, que crm piamente na reduo dos poderes da administrao pblica. A Austeridade to somente o nome correcto para uma polti-ca que mantem ou aumenta a carga fiscal, mas deixa de zelar pelo Estado Providncia. Mas em tese, numa democracia, os recursos arrecadados pelos governos deviam ser revertidos para o bem comum, para inves-timento em bens e servios p-blicos, como sade, segurana, vias de transporte e educao.

    SUffRAgEUnivERSELDDi

    LEDRU-ROLLin,pintADOpOR

    fRDRiCSORRiEUin1850.

    EStALitOgRAfiAUMtRiBU-

    tOAEStADiStAfRAnCSAL-

    EXAnDRELEDRU-ROLLinpOR

    tEREStABLECiDOOSUfRgiO

    UnivERSALEM1848,nOSE-

    gUiMEntODAREvOLUO

    fRAnCESA.

  • 22

    tanto, os polticos neoliberais do sculo xxi parece que se foram

    esquecendo deles:

    a influncia do governo tratado no livro cinco.

    Simplificando a posio de Mill, podemos dizer

    que a interferncia do governo tem aspectos bons e

    aspectos maus; portanto, a interferncia deve ocor-

    rer de forma a maximizar os aspectos bons e a min-

    imizar os aspectos maus. Um critrio fundamental

    de bom e mau o efeito sobre a liberdade do

    indivduo; se esta restringida, mau; se amplia-

    da, bom.

    Autor colectivo *

    Em meados do sculo xx, Ludwig von Mises, homem de crenas

    liberais escrevia que o objetivo do capitalismo era a cooperao

    pacfica de todos os homens. Ningum duvida que tambm a teoria

    neoliberal tenha por objectivo a paz entre as naes. Alis para

    este pensador do neoliberalismo, as fronteiras de um pas seri-

    am irrelevantes se a propriedade privada e os meios de produo

    estivessem em todos os lugares, e tratassem as leis e as adminis-

    traes, todos os estrangeiros e cidados de forma igual.

    Se algum rejeita o laissez-faire por causa da falib-

    ilidade e fraqueza moral humana, deve-se tambm

    pela razo rejeitar todos os tipos de aco governa-

    mental.

    Ludwig von Mises *

    Este argumento pode ser refutado de muitas formas. um erro de

    lgica pouco inocente. A priori, a grande diferena entre o governo

    e os gestores privados exactamente a responsabilidade social.

    isso que os administradores neoliberais (por ingenuidade ou in-

    teresse) no querem entender. Colocam-se as seguintes questes:

    uma administrao privada de uma corporao que produz bens

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpios_de_Econo-mia_Pol%C3%ADtica#Princ.C3.ADpios_da_Economia_Pol.C3.ADtica

    Traduo livre a partir de:If one rejects laissez-faire on account of mans fallibility and moral weakness, one must for the same reason also reject ev-ery kind of government action.von Mises, Ludwig - Planning for Freedom (1952), p. 44

  • 23

    para uma sociedade eleita democraticamente? Existem ferra-

    mentas legais para retirar administradores privados do exerccio

    das suas funes caso no contribuam para o bem comum? Devem

    essas ferramentas ser to acessveis e democrticas quanto o poder

    voto? Talvez no.

    certo que devemos acreditar nas boas intenes de todos

    os intervenientes da economia (sejam eles gestores privados ou

    pblicos), mas das intenes aos actos vai algum caminho. O que a

    doutrina neoliberal efectivamente est a pedir aos cidados que

    confiem nos actos e no nas intenes. Que se confie na mo in-

    visvel do mercado e no num crebro/corao invisvel do mer-

    cado. Se de mo que falamos, tambm de responsabilidades

    sobre os actos.

    Um Estado, tem leis, criadas pelos governos eleitos, que

    servem precisamente para garantir que a liberdade de uma pessoa

    (colectiva ou individual) no seja causa da priso de outra.

    Um mercado baseado na dvida perptua

    Em poucos pases, mesmo nos mais desenvolvidos, tem existido

    por parte dos Ministrios da Educao empenho na promoo

    da educao econmica. Em Portugal, por exemplo, uma pessoa

    que no siga Economia e no tenha uma boa carga de experincia

    empresarial oriunda da sua prpria famlia, pode chegar ao fim de

    um longo investimento em educao sem saber a diferena entre

    as contribuies para a Segurana Social, as taxas de irs e de irc,

    sem saber preencher um cheque, fazer uma compra online, calcular

    o iva ou saber calcular juros.Hoje em dia, a maior parte das pessoas, e mesmo alguns em-

    presrios e economistas, ainda vivem na iluso de que foi criado

    num sistema econmico matematicamente equilibrado. Isso no

    verdade.

    As bases do nosso sistema econmico no so ms por na-

    tureza mas existem valores completamente esquecidos pelas in-

    stituies que desenham a actual estrutura social. O crescimento

  • 24

    desregrado do mundo financeiro, baseado no sistema de criao

    monetria pela reserva fraccionada, dita que a dvida seja sempre

    maior do que o total de dinheiro existente para a pagar.

    Como? simples.

    Na Europa, o Banco Central Europeu produz moeda em

    troca de um documento que prova que algum lhe deve. Antes do

    Euro, os Bancos Nacionais tinham esta funo; nos Estados Unidos

    a Fed que o faz. Na Europa o bce apenas empresta aos bancos de

    retalho*. Quando os bancos emprestam, exigem quase sempre uma

    certificao de que o pedinte tem em seu nome posses, rendimen-

    tos (activos) que sejam pelo menos iguais ao montante empresta-

    do, hipotecam o valor assegurando assim o retorno do investi-

    mento. E como esse valor fica assegurado os bancos tm o direito

    de criar cerca de 90% desse montante do ar. Este contracto de

    emisso de moeda sempre celebrado com uma taxa de juro adi-

    cional. Assim, quem pede o dinheiro fica sempre a dever a quantia

    criada mais taxa de juro. Quando isto feito: as naes nas quais os

    bancos criam mais moeda, ficam tambm com uma moeda de valor

    mais baixo porque, como j foi explicado na nota lateral sobre o

    pib, havendo mais dinheiro em circulao, ele desvaloriza, para

    tentar corresponder riqueza existente e, consequentemente, os

    preos dos bens sobem. Como isto se passa num mercado tenden-

    cialmente global, de livre circulao de capitais, foi sendo criado

    um mecanismo de comparao do valor das moedas: as taxas de

    cmbio. Estas taxas, desde de 1971 que no esto dependentes do

    padro do ouro. Regra geral o valor de uma moeda depende muito

    simplesmente do valor cobrado pelos bancos de um determinado

    pas a um agente comercial de outro pas que, por exemplo, precise

    de importar activos com essa moeda*.

    Excusando-me a explicaes sobre os mtodos usados para

    definir o valor de uma moeda em relao a outra, adianta-se o

    discurso para um exerccio de lgebra elementar capaz de expr a

    natureza fraudulenta do actual sistema monetrio.

    Como foi dito, o Banco Central Europeu, tal como a Fed, e

    todos os bancos que actuam dentro deste sistema de criao mon-

    Os bancos de retalho so aque-les que, no passo seguinte da criao da moeda, investem o dinheiro atravs de emprsti-mos com juros.

    Existem outras particularidades deste mtodo de clculo mon-etrio mas, invariavelmente, radicam a sua construo e validao no sector bancrio. Em casos extremos, quando se precisa de uma matria prima ou se quer vender um produto a um pas que no tenha uma moeda conversvel, ou que no tenha reservas internacionais da sua moeda, so criadas moe-das-convnio onde os bancos negoceiam linhas de crdito nessa moeda, por um perodo de tempo limitado (para tro-carem um determinadas merca-dorias) acertando as contas no fim.

  • 25

    etria, nunca produzem o dinheiro que chegue para que se possa

    pagar o acrscimo dos juros. Sempre que h um emprstimo com

    uma taxa de juro, cria-se mais dvida do que dinheiro. Muitos

    economistas podem desacreditar na possibilidade de termos um

    sistema financeiro sem juros mas em algumas economias contem-

    porneas essa a prtica. Apesar de ser bastante bvio, para ns no

    ocidente, que a lei islmica no respeita todos os direitos humanos,

    em matria de poltica monetria existe uma diferena fulcral. O

    Banco Islmico*, submete-se aos princpios da lei islmica (Sha-

    ria*) e nesse sistema, a atividade bancria estava, at h bem pouco

    tempo (2004), legalmente impedida de praticar juros. No sistema

    monetrio islmico, os bancos, se quiserem emprestar dinheiro

    fazendo desse servio o seu negcio, so obrigados a comprar a

    propriedade, alugando-a depois at que a dvida esteja paga, pro-

    longando o pagamento durante um perodo extraordinrio previa-

    mente aceite.

    A dvida total de um sistema monetrio ocidental pode ser

    calculada assim, onde: M = montante, j = juros, C = capital inicial ou

    base monetria, i = taxa de juro, t = tempo, D = dvida infinita.

    Dvida total (com juros simples, juros que incidem sempre sobre o

    capital inicial):

    M = C + (C i t)

    Se C>0 (se se empresta um euro que seja), se i>0 (se a taxa de juro

    for maior que 0) e t>0 (se o tempo de pagamento for maior que 0),

    ento o capital existente em circulao sempre menor que a dvi-

    da a pagar, (atente-se nas explicao da pgina seguinte).

    moeda em circulao moeda devida

    Ca + Cb + Cc + ... < Ma + Mb + Mc +

    Clculo isolado do total de dvida impossvel de pagar:

    (Ma + Mb + Mc + ...) - (Ca + Cb + Cc + ...) = D

    Recapitulando e pormenorizando. O actual mtodo para a criao

    O termo Banco islmico se refere a um sistema ou ativi-dade bancria que seja coerente com os princpios da lei is-lmica (Sharia) e sua aplicao prtica atravs do desenvolvi-mento da economia islmica.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ban-co_isl%C3%A2mico

    A Sharia, ou Chari, o cdi-go de leis do islamismo. O princpio bsico de operao bancria islmica a partilha do lucro e da perda e a proibio de riba (usura).

  • 26

    de dinheiro na Unio Europeia e nos eua, chama-se sistema criao de

    moeda pela reserva fraccionada. Neste sistema, enquanto uma empre-

    sa normal no pode criar dinheiro do ar para acumular riqueza, uma

    instituio bancria pode faz-lo, embora ambos procurem o lucro. A

    possiblidade que concedida aos Bancos Nacionais e Internacionais de

    criarem dinheiro em troca de um documento comprovativo de dvida,

    estende-se num segundo passo a qualquer banco de retalho. Um banco

    comercial pode criar dinheiro a partir do dinheiro que no lhe pertence,

    se mantiver cerca de 10% do depsito inicial como reserva. O dinheiro

    quando devolvido passa a ser propriedade do banco.

    Bancos Centrais 100 Bancos comerciais 90,0 Empresas/trabalhadores base monetria

    Bancos comerciais 90,0 + juros 8 1,0 Empresas/trabalhadores

    Bancos comerciais 81,9 + juros 73,7 Empresas/trabalhadores

    Bancos comerciais 73,7 + juros 66,3 Empresas/trabalhadores Bancos comerciais 66,3 + juros 59,7 Empresas/trabalhadores

    Bancos comerciais 59,7 + juros

    53,7 ... expanso da base monetria (90+81+ 73,7+66,3+59,7+53,7...)

    E.g.: Um banco comercial que tenha 100 moedas depositadas por um cli-

    ente pode, se lhe for pedido um emprstimo de 90 moedas, criar virtual-

    mente 90 moedas, e pode ainda cobrar uma taxa de juro adicional para

    reforar o lucro. A lei assim o permite. Desta forma o actual funciona-

    mento da Banca, assegura que um emprstimo concedido a uma deter-

    minada pessoa nunca possa ser impedimento para outro emprstimo

    deste que mantenha nos seus cofres uma fraco dos depsitos inciais).

  • 27

    Em pases economicamente menos poderosos da zona euro,

    como nem sempre existe liquidez que baste, um banco comer-

    cial tm que se financiar junto de bancos internacionais com mais

    liquidez (bce ou outros bancos que, sem excepo, cobram taxas

    de juro). O sistema corrente ainda tenta garantir que nem todo o

    dinheiro que um banco comercial empreste tenha origem num

    outro emprstimo. Para isso, cada pas criou legislao que exige

    que uma parte de cada emprstimo seja capital prprio do banco.

    Assim, dos 100% de um emprstimo que um banco queira conced-

    er, para garantir a percentagem do emprstimo de capital prprio

    exigida por lei, esse mesmo banco obrigado a criar e vender pro-

    dutos novos (normalmente so produtos financeiros, como de-

    psitos a longo prazo, plano de poupana, fundos de investimento,

    mas tambm pode passar venda de patrimnio), e ainda tem que

    se endividar junto de Bancos mais fortes para conseguir o resto da

    moeda para o emprstimo.

    Em Portugal, se a memria ou uma eventual alterao desta

    lei no me falharem, a percentagem de capital prprio exigida de

    8%, sendo que o banco pode emprestar 92% de dinheiro que efec-

    tivamente no lhe pertence e do qual apenas depositrio.

    Observa-se que estas regras de criao de dinheiro, por si s,

    oferecem ao sector da banca um modo gil mas relativamente frgil

    de se autofinanciar, mas tentam garantir que ao mesmo tempo que

    se empreste dinheiro exista uma garantia liquidez, caso algum de-

    cida resgatar o seu depsito. Assim, os juros, so efectivamente uma

    simples margem de lucro sobre a venda do dinheiro.

    Expresses como o preo do dinheiro confundem

    qualquer criana. E no de espantar pois se uma das funes do

    dinheiro precisamente a reserva de valor, conceber um siste-

    ma financeiro onde esse valor varivel paradoxal. A economia

    moderna no tem qualquer dificuldade em aceitar que, no que diz

    respeito ao valor de um produto ou servio, o excesso de pro-

    duo/oferta cause uma descida do seu valor, porque a procura

    em relao oferta diminui, mas fatal aceitarmos que se con-

    siga aplicar esta mesma lgica ao dinheiro. Como se o dinheiro

  • 28

    fosse um produto ou um servio igual aos outros e como se fosse

    possvel haver menos procura de dinheiro. Num modelo de vrias

    moedas, bvio que isto pode acontecer mas este comportamen-

    to de variao de valor do dinheiro de acordo com critrios de

    deciso centralizados extremamente perigoso num mercado

    global como o que temos hoje em dia. Esta contradio terica,

    (por um lado o capitalismo tem sempre o lucro como objectivo e,

    por outro, as moedas podem aumentar e diminuir de procura) est

    enterrada nas razes do actual sistema monetrio. Se o capitalis-

    mo tem sempre o lucro como finalidade, a procura de moeda no

    pode ser menor. Reflectir sobre se algum precisa ou no de din-

    heiro, um fenmeno pertencente ao campo da liberdade desse

    mesmo algum e no deve ser um facto ditado pelas instituies

    bancrias. As leis gerais de funcionamento de um sistema mon-

    etrio no podem, portanto, contradizer o princpio da medida e

    reserva de valor. Apenas possvel considerar que o dinheiro pode

    ter menos procura, e consequentemente variar de valor, quando

    acima do juzo baseado na Necessidade prevalece o juzo basea-

    do no Investimento. O valor com a qual a economia tem que estar

    comprometida o da Necessidade (certamente mais que com o

    do Investimento se quisermos continuar a garantir a liberdade do

    indivduo). A situao torna-se insanvel quando so as prprias

    instituies legitimadas para agir no processo de criao e aval-

    iao do valor monetrio que pervertem os princpios da reserva e

    da medida de valor.

    Por vezes as mesmas leis de aplicaes de juros que per-

    mitem que os bancos singrem, condenam os bancos mais fracos,

    e ningum pode garantir que um dia no vir a aplicar a mesma

    sentena aos bancos mais slidos. Este processo de gesto de acti-

    vos financeiros de valor flutuante gerou, s nos eua um mercado

    to gigantesco como o visvel no grfico* que na pgina seguinte

    representa o custo da crise financeira por comparao ao capital

    envolvido noutros grandes projectos mundiais.

  • 29

    INFOGRAFIA E FONTES DA SEGUINTE PGINA DISPONVEL NESTES LINKS PARA CONSULTA

    The Billion Dollar GramDavid McCandless, V1.2, Se-tembro 2009http://www.informationisbeauti-ful.net/visualizations/the-billion-dollar-gram/

    Fontes do autor: New York Times, The Guardian, Fortune, etc. Para ver todos os detalhes so-bre as fontes consulte o docu-mento neste endereo https://docs.google.com/spread-sheet/ccc?key=0AmCeWwNK-r6FmdEhUMkhOLTdqMjducD-FkT05qVzRqSkE&hl=en#gid=0

  • 30

    The Billion Dollar GramMilhares de milhes gastos em coisas

    $60ORA-

    MEntO

    EXRCitO

    USA

    $206BigtOBACCOSEttLEMEnt

    $102gUERRA

    iRAqUE2006

    $135gUERRAiRAqUE2007

    $515gAStOSAnUAiSpARAtRAnSitAROMUnDOtUDOpARAEnERgiA

    SOLAREOUtRASEnERgiASREnOvvEiS

    $230MiSSOtRipULADA

    AMARtE

    $534MERCADOfARMACUtiCOgLOBAL

    $570pACOtEDEEStMULOECOnMiCODOgOvERnOChinS,

    nOv.2008

    $238RESgAtESfinAnCEiROS

    fEitOSpELOgOvERnODAgR-

    BREtAnhA

    $67RESgAtES

    gOvERnO

    ALemAnHA

    $35RESgAtES

    gOvERnO

    fRAnA

    $115pLAnOMAR-

    SHALL

    (EMDLARES

    ACtUAiS)

    $500nEwDEAL,pACOtEDEEStMULOAMERiCAnOpARARECU-

    pERARAECOnOMiADEpOiSDAgRAnDEDEpRESSODE1933

    $200DviDAtOtALDOSpASES

    AfRiCAnOS

    $2800CUStOtOtALDACRiSEfinAnCEiRApARAOgOvERnOEStADUniDEnSE(AtAgOStODE2009)

    DiSfUnOERCtiL Anti-DEpRESSivOS

    $21 $19

    $4pRMiOS

    AOSMDiCOS

    $316SUBORnOSRECE-BiDOSpOROfiCiAiS

    RUSSOS

    $76vALORDEMERCADO

    DAnintEnDO

    $175gOOgLE $46

    BiLLgAtES

    $15

    fACEBOiOk

    $440ORAMEntOEXRCitOUSA

    $352RECEitASwALMARt

    $300RECEitASAnUAiSvinDASDECARiDADEnOS

    EStADOSUniDOS

    $41jOgOSOLMpiCOS

    pEqUiM

    $7800pREviSODOCUStOtOtALDACRiSEfinAnCEiRApARAOgOvERnOEStADUniDEnSE

    $54ALiMEntAR

    tODASASCRiAnAS

    DOMUnDOpORUMAnO

    $21SALvAR

    AAMAzniA

    $18

    inDStRiA

    DOyOgA

    $29 VALeS De OfERtA

    $32MERCADODE

    vDEO-jOgOS

    $520RECEitASAnUAiSDAOpEC(ORgAnizAODOSpASES

    EXpORtADORESDEpEtRLEO)

    $97inDStRiA

    pORnOgRfiCAintERnEt

    $103AjUDAEStRAngEiRA

    DADApELASMAiORES

    nAESDOMUnDO

    $320MERCADOgLOBALDEDROgAS

    iLEgAiS

    $385gAStOSMUnDiAiS

    EMpUBLiCiDADE

    fUnDOpARADiMinUiRAqUECiMEntOgLOBAL

    pUBLiCiDADEOnLinE

    LUCROSwALMARt

    $60ChinA

    $11RSSiA

    $465ALiMEntAEEDUCARtODASASCRiAnASDOpLAnEtA

    tERRADURAntE5AnOS

    $3000gUERRAEUAvSiRAqUE

    $11

    $3

    $20

  • 31

    Moeda Riqueza

    Brevssimacrticadosvaloresmatemticosehumanos inerentes ao corrente sistema de emisso de moeda

    Muitos economistas ainda acreditam que a criao de moeda

    (emitida de acordo com a anlise de indicadores como o pib, ou a

    taxa de cobertura da balana comercial) est eficazmente asso-

    ciada riqueza de um estado, e que o sistema financeiro consegue

    sempre, por um qualquer mecanismo indirecto, equilibrar a econo-

    mia. Convencionou-se tambm que os bancos, pelo emprstimo do

    dinheiro, podem retirar uma fatia de lucro que aparece ao cliente

    na forma de juros. Este mtodo usado h muitos anos, e no sen-

    do matematicamente vivel e claramente injusto.

    Para perceber bem isto importante reforar a distino

    entre as instituies que tm capacidade para produzir moeda (os

    Bancos Centrais e os Bancos de Retalho) e as que no tm esse

    direito (todas as outras). Assim, no actual quadro econmico, as

    outras tm que produzir riqueza (produzindo e comercializando

    bens) para conseguirem moeda, enquanto os bancos no necessi-

    tam de produzir riqueza para acederem moeda. H assim dois

    mercados que operam segundo regras monetrias diferentes. O da

    criao de moeda (que deveria depender da riqueza de um pas)

    e o da criao de riqueza (que depende de muita coisa, incluindo

    do prprio acesso ao dinheiro). No entanto, ambos os mercados

    perseguem assumidamente a acumulao de riqueza e de moeda.

    No mnimo, isto preverso.

    Os defensores da poltica de criao de moeda pela reserva

    fraccionada argumentam que a quantidade de dinheiro no tem

    realmente qualquer interesse e que o dinheiro s existe como re-

    flexo de um valor comparado de algo na economia mundial. Este

    argumento contraditrio. Na prtica, em economias complexas,

    para algum criar riqueza/lucro, o acesso ao dinheiro quase sem-

    pre imprescindvel, nem que seja para a alimentao e hidratao,

    que do fora ao homem para trabalhar. No caso dos bancos, o

  • 32

    mero direito criao de moeda serve para aceder a mais moe-

    da. Atravs de emprstimos e da formulao de juros, conseguem

    ampliar as suas reservas. Mas este mecanismo fora os agentes

    intra-econmicos, sem os mesmos direitos que os bancos, a produ-

    zirem riqueza pela fora do trabalho, ou ento a alienarem-se dos

    seus bens para conseguirem pagar a dvida.

    E.g.: Imaginemos, como em muitos casos acontece, que existe

    um indivduo portugus sem moeda nem recursos, e existe tambm

    um ndivduo espanhol nas mesmas circunstncias. Numa econo-

    mia global regida pelas premissas actuais, este portugus pede 10

    moedas emprestadas para tentar criar riqueza. Se conseguir produ-

    zir e vender coisas ao indivduo espanhol (que por sua vez tambm

    pediu 10 moedas emprestadas a um banco espanhol para comear

    o seu negcio), como o banco espanhol e o banco portugus criam

    dinheiro do mesmo modo, vo exigir a ambos o retorno do que lhe

    deram, mais os juros (que nunca foram injectados na economia

    inicialmente). Algum tem que falir, ainda que a economia esteja

    a tentar funcionar. Este exemplo de 4 intervenientes resulta para

    uma economia global, onde os bancos pedem sempre mais do que

    o que do. Se dvida tem que ser paga com moeda, tem que exist-

    ir moeda para a pagar. Se se parar de emprestar/criar dinheiro,

    algum tem que falir, neste caso seria o espanhol, mesmo que a sua

    empresa pudesse encontrar viabilidade econmica.

    Como foi explicado, se perguntarmos a pessoas que per-

    cebam as regras deste sistema monetrio onde criada a moeda

    para pagar os juros, muito provvel que nos respondam que os

    juros so pagos criando riqueza, usando matrias primas, tecno-

    logia e trabalho para fazer um produto ou gerar um servio. Se

    uma empresa fizer um hamburger Big Mac, por exemplo, pode

    troc-lo por moeda. Em macroeconomia, estando a riqueza criada,

    argumenta-se que esta mensurvel por aproximao (atravs da

    interpretao de centenas de ndices e rcios distintos). A moeda

    valoriza e os bancos centrais podem depois decidir emitir mais

    moeda (repondo o seu anterior valor). Tambm podem optar por

    manter a quantidade de moeda, e aproveitar o aumento do valor

  • 33

    da mesma para importarem produtos mais baratos de pases com

    moedas mais fracas.

    Em pleno sculo xxi, de um ponto de vista matemtico, os

    cenrios macroeconmicos apenas conseguem ser representados

    em ndices, mas estes no reflectem com nenhuma preciso as

    idiossincrasias que decorrem durante actividade socioeconmica.

    Essa tarefa executada um pouco por todo o mundo por milhares

    de trabalhadores da rea financeira, atrs de computadores topo

    de gama, no obstante ser um trabalho exaustivo praticamente im-

    possvel e inglrio (para a sociedade).

    Trs razes simples para a falibilidade dos ndices:

    Os mercados de concorrncia perfeita s existem na teoria.

    Entende-se por mercado de concorrncia perfeita aquele onde ex-

    istem muitos pequenos compradores e vendedores; onde o produ-

    to transacionado homogneo; onde h livre entrada de empresas

    no mercado; perfeita transparncia para os vendedores e para os

    compradores de tudo que ocorre no mercado; perfeita mobilidade

    dos insumos produtivos.

    Os valores e hbitos humanos so mutveis no tempo e no es-

    pao. O ndice Big Mac* por exemplo, que tem como elemento da

    sua equao o preo de um hamburguer da multinacional Mc-

    Donalds, no assume qualquer relao com um hbito ou norma

    socio-econmica. Os diferentes franchisados tm receitas comple-

    tamente imprevisveis. Na Bolvia, por exemplo, a cadeia de fast-

    food teve prejuzos consecutivos durante mais de dez anos at sair

    do pas em 2011.

    O avano tecnolgico altera os modos de produo espontanea-

    mente. Uma economia de mercado tem que aceitar as mudanas

    tecnolgicas com agilidade. Muitas descobertas cientfcas poten-

    cialmente proveitosas para o progresso, no conseguem produzir

    resultados porque no possvel que um sistema financeiro como

    o actual lhes reconhea directamente o valor. O actual funciona-

    mento da indstria farmacutica e ambiental prova disso.

    O ndice Big Mac, um ndice calculado sobre o preo do Big Mac tendo como objectivo medir o valor de uma moeda em relao ao dlar ameri-cano, comparando os preos do hamburger Big Mac nos Estados Unidos com o preo do Big Mac do pas ao qual se pretende comparar a o dlar americano.O princpio que os procedi-mentos da cadeia de fast food McDonalds so os mesmo em todos os pases.

  • 34

    Apesar do conceito de riqueza ter sido deformado pelo sistema fi-

    nanceiro*, incorrecto afirmar que o dinheiro deve estar dissocia-

    do da tentativa de clculo da riqueza. No faz sentido sequer. Em

    suma, a riqueza no pode ser apenas entendida pela quantidade

    de terras e imveis que se possui e pela capacidade de trabalho.

    tambm possvel considerar que a reserva de valor em moeda seja

    parte integrante da riqueza. Numa economia tendencialmente

    global, inserir moeda no mercado por indicadores imprecisos e

    sem qualquer correlao com valores humanos, no inteligen-

    te. Torna-se cada vez mais bvio que este sistema de controlo

    monetrio centralizado nos bancos se baseia em mtodos arcai-

    cos, falveis quando confrontados com as exigncias das transfor-

    maes sociais da nossa era.

    A natureza das civilizaes no a da estagnao, a da

    emergncia. Assim como acontece micro-escala, onde mesmo

    um pequeno nmero de molculas origina incalculveis possibi-

    lidades de interao, tambm impossvel calcular o nmero de

    arranjos possveis entre agentes econmicos simples que operam

    num determinado ambiente, formando comportamentos com-

    plexos enquanto conjunto. Esta caracterstica dos sistemas com-

    plexos origina quase sempre novos nveis de evoluo dos sistemas

    de organizao. Isto tudo para dizer que nenhum mecanismo de

    criao de moeda onde o poder de deciso centralizado poder

    ser suficientemente orgnico para resultar bem um sistema com-

    posto por muitos agentes. Na prtica a moeda nunca valoriza em

    medida directamente proporcional riqueza criada mas ainda

    possvel dizer que, neste sistema, ter mais ou menos moeda, am-

    plia ou aumenta a contruo de riqueza.

    Estes processos devem ser simplificados, democratizados e

    tornados transparentes o quanto antes, no s porque as tentati-

    vas de equilibrar a economia atravs deles resultam em constan-

    tes fracassos, mas tambm porque so falseveis. O maior centro

    comercial da China, por exemplo, movimentou enormes quanti-

    dades de dinheiro e gerou emprego, mas o capital natural e de in-

    fra-estruturas foram desperdiados num investimento que apesar

    Por exemplo h produtos financeiros em que se ganha dinheiro se terminada empresa falir. I.e. actividades financei-ras em que gerada riqueza atravs da perda real de pro-duco.

  • 35

    de ser significativo para o clculo do pib nesse ano no conseguiu

    criar riqueza*. Uma depresso de macro-potncias econmicas

    um cenrio mais que plausvel se nada mudar neste sector. Ter um

    sistema monetrio como o actual a depender dos actuais indica-

    dores pura tolice.

    Existem mais maneiras de distorcer o sistema econmico.

    O livro Confisses de um Assassino Econmico (em ingls, Confes-

    sions of an Economic Hit Man) a autobiografia de John Perkins.

    Descreve a actuao do consultor da empresa Chas. T. Main., John

    Perkins. Durante alguns anos usou recursos financeiros do Banco

    Mundial, da Agncia Americana para o Desenvolvimento Inter-

    nacional (usaid), alm de outras organizaes com objectivos

    traados fora das funes oficiais destas organizaes. Atravs de

    emprstimos, foram endividados pases, canalizando essas mes-

    mas verbas para corporaes e famlias abastadas que controlari-

    am grandes fontes de recursos naturais.

    A lgica desumana da macroeconomia

    Como foi explicado, a mecnica do dinheiro actual , ao contrrio

    do que a grande maioria da populao pensa, bastante fcil de

    compreender.

    Recapitulando: os bancos centrais so responsveis pela

    criao de moeda. Na Europa, as instituies, Banco Central

    Europeu e bancos nacionais, no s esto em constante comuni-

    cao umas com as outras como recebem os relatrios dos bancos

    comerciais e dos bancos de investimento dos seus pases. No Esta-

    dos Unidos, a Fed, a partir de contractos com o Departamento do

    Tesouro, pode emitir mais dinheiro ao governo. Na Unio Euro-

    peia o artigo 123 do Tratado de Lisboa probe que o Banco Cen-

    tral Europeu conceda qualquer emprstimo aos pases membros.

    Estes emprstimos devem ser concedidos unicamente a bancos

    privados que depois podem ceder emprstimos com taxas de juros

    mais elevadas. Estes emprstimos, alm dos impostos cobrados aos

    seus cidados, e da venda de ttulos de dvida so as maneiras que

    Link para vdeo (em ingls)Chinas Ghost Cities and Malls. As bolhas so sem dvida alguma uma maneira de falsear indicadores de act-vidade econmica, simulando a criao riqueza atravs de indicadores econmicos que no representam a realidade. Alguns economistas contestam a sua existncia mas aconte-ceram ao longo da histria do capitalismo inmeras vezes.http://www.youtube.com/watch?v=rPILhiTJv7E

  • 36

    um estado (relembro que o conceito de estado engloba a adminis-

    trao pblica e privada), tem para conseguir fazer face s neces-

    sidades da economia. Apesar desta e de outras ligeiras diferenas,

    a mecnica de emisso de moeda a mesma. Quando se analisam

    ambos os casos repara-se que ambos se baseiam num poder de

    deciso centralizado que age de acordo com o pricpio da mximi-

    zao de lucros, tal e qual uma empresa de produo e venda de

    batatas.

    Hoje, o dlar americano e o euro dominam a maioria dos

    mercados financeiros. Nestes mercados, as taxas de cmbio so

    expressas em termos de dlares americanos e euros. Actualmente,

    o dlar americano e o euro somam cerca de 50% de todas as tran-

    saes de cmbio de moedas no mundo. Ao acrescentarmos as

    libras, os dlares canadianos, os dlares australianos e o iene

    lista, a soma de mais de 80% de todos os cmbios de moedas do

    mundo. Quando a Unio Europeia foi criada, e as moedas nacio-

    nais foram convertidas, o bce emitiu todos os euros que passaram

    a existir em circulao. Basicamente no incio da era Euro, o bce

    criou dinheiro, entregou-o aos pases. chamada a Base Mon-

    etria. A partir da, os pases, quando se querem financiar, fazem-

    no no mercado de dvida, passando em troca um documento que

    comprova que os pases devem essa quantia com uma taxa de juro

    acrescida: os ttulos de dvida soberana que podem ser comprados

    por outras potncias econmicas que depois so livres de revender

    esses ttulos no mercado. em alternativa, os governos podem pedir

    grandes emprstimos a bancos privados. Em suma, toda a emisso

    de moeda feita quando se assume um contrato de dvida. Dvida

    essa que depois passa para a responsabilidade de todos os cidados

    dos Estados que elegeram os governos que as contraem.

    Na ue, quando concedido um emprstimo adicional a

    um estado membro, o bce fica com ttulos de dvida nesse val-

    or, obrigaes dos estados membros que ele prprio pode vender

    nos mercados internacionais. Nos ltimos anos, pases em acel-

    erado crescimento econmico como a China, o Brasil ou a ndia,

    inves-tiram somas avultadas em ttulos de dvida das mais respeit-

  • 37

    adas economias mundiais (ue e eua). Isto significa que, se houver

    um crash monetrio de mdias muito provvel que seja impos-

    svel evitar o contgio entre macropotncias econmicas, pois no

    h garantias de reserva de valor nem na zona euro nem em lado

    algum. Nenhuma instituio monetria, (bce, Fed, fmi, nem mes-

    mo o ainda em construo mee - Mecanismo Europeu de Estabili-

    dade) consegue suportar uma crise de dimenses multinacionais.

    Embora existam organismos que tentam regular as Finanas,

    estes mercados internacionais de contratos de dvida no so reg-

    ulamentados e muito menos so fiscalizados. Esta situao no

    garante nenhum tipo de segurana, transparncia ou eficcia. Os

    banqueiros dominam a vida poltica da maior parte dos pases.

    da banca pblica e privada que saem muitos dos polticos, minis-

    tros e deputados destacados pelos meios de comunicao de mas-

    sas. Muitas vezes os administradores das corporaes de comuni-

    cao tradicional de massas tambm pertencem esfera poltica. E

    tambm nos bancos e nas grandes empresas que se asilam muitos

    ex-polticos. Estes administradores podem argumentar que nas

    ltimas dcadas tem sido desenvolvido um sistema internacional

    de mtua vigilncia cada vez mais apertado que rege a produo e

    o valor da moeda dos pases. Pode dizer-se que para esse contro-

    lo tem sido desenvolvido um grande conjunto de mecanismos

    cada vez mais inventivos. Mas tambm possvel dizer que essas

    tcnicas so cada vez mais idiotas e cada vez menos eficazes. Este

    conjunto de tcnicas inclui: a anlise risco internacional da dvida;

    o balano de pagamentos que descreve as relaes comerciais de

    um pas com o resto do mundo; os regimes cambiais que definem a

    variao das taxas de cmbio; as supresses da inflao por decre-

    to-lei que impem o congelamento dos preos dos bens e servios;

    os perdes de dvida monetria em troca de riqueza natural;

    acordos de explorao e cedncia de empresas pblicas; o clculo

    da inflao atravs de cabazes de produtos; entre outros.

    Estas formas esto a contribuir para o aumento das contas

    de dbito em relao s de crdito e, mais grave, no esto a con-

    seguir resolver o problema social do fosso entre os seres humanos

  • 38

    que tm excesso e os que precisam do mnimo.

    No soar a disparate se dissermos que estes instrumentos

    se encontram desactualizados e que se tm revelado incuos na

    aplicao de justia enconmica entre estados e infrutferos na

    promoo da liberdade e igualdade de direitos entre os cidados

    desses estados.

    A Lei da Oferta e da Procura aplicada moeda

    Existe uma regra basilar da Economia para definir o valor de

    uma coisa: a lei da oferta e da procura. Esta lei garante o funciona-

    mento saudvel entre a produo e o consumo de um certo mer-

    cado e permite a livre formao de um preo atravs da interao

    entre as espectativas (elemento varivel) de ambos os agentes da

    troca. Quando o preo pretendido pelo vendedor, encontra o preo

    que o comprador est disposto a pagar, achado o preo para essa

    mercadoria.

    Sempre que a lei da oferta e da procura aplicada dentro

    de um contexto de uma economia simples tem-se revelado eficaz.

    Mas foi indevidamente transportada para o sector monetrio. Du-

    rante os ltimos sculos, o dinheiro assim com outros documentos

    que o representam, tm sido tratados como produtos ou servios,

    Preo

    QuantidadeProcura

    Oferta

  • 39

    enquanto no passam de ideias. Esta transposio automtica da

    Lei da Oferta e da Procura para o dinheiro um erro de lgica

    com resultados cruis. Ao contrrio dos produtos de consumo,

    o dinheiro nunca tem menos procura, porque faz parte da sua

    concepo, da sua natureza, poder ser trocado livremente por

    qualquer produto, sendo que reserva e medida de valor. Todos

    sabemos que o capitalismo s funciona porque mesmo um homem

    com muito dinheiro quer sempre mais dinheiro.

    At aos dias da depresso mundial, que est a tomar forma

    na ltima dcada, sempre que mais dinheiro foi sendo criado, ele

    tem descido de valor. este o fenmeno da inflao. Tendo em

    conta que j foi produzida uma tal quantidade de moeda, injec-

    tar moeda numa economia contempornea a partir de pontos de

    emisso e gesto centralizados no resulta. humanamente im-

    possvel administrar correctamente tamanhas quantidades.

    Capacidade de desvalorizao da moeda pela constante injeco de capital

    Ao lado vemos uma economia imaginria onde foi injectada anualmente exactamente a mesma quantidade de unidades monetrias.Mesmo a criao de, digamos, quinhentos mil-hes de euros no espao de um trimestre, no hoje suficiente para conseguir inflacionar. Na figura ao lado, podemos ver um grfico com uma frmula que sintetiza a capacidade de des-valorizar o dinheiro. Enquanto numa economia recm criada a produo de dinheiro implica a acentuada desvalorizao do mesmo, numa economia global e secular como a nossa, a pro-duo da mesma quantidade de dinheiro apenas consegue desvalorizar a moeda a um nvel microscpico. por esta razo que em economias com sistemas monetrios recentes se consegue activar a econo-mia eficazmente e em sistemas monetrios antigos a economia tende a estagnar entrando em recesso antes das crises.

    100%=Moeda criada

    Moeda existente no mercado

    Capacidade de desvalorizao da moeda (em relao moeda emitida)

    Anos

  • 40

    Num mercado global, que opera com vrias moedas de valor

    flutuante, relativamente fcil apresentar e compreender razes

    que impedem os bancos centrais de emitirem moeda na tentativa

    de melhorar as condies de vida dos seus cidados.

    A desvalorizao da moeda tem sido um dos truques mais utiliza-

    dos. Quando se desvaloriza moeda, injecta-se dinheiro na econo-

    mia, podem pagar-se grandes dvidas internas e abre-se espao

    para o investimento. As exportaes podem aumentar porque os

    bens embaratecem aos olhos de moedas de valor mais constan-

    te. No entanto, internamente, o preo dos bens sobe e o consumo

    diminui por falta de confiana dos intervenientes e, sendo que os

    salrios no crescem ao mesmo tempo dos preos, a economia

    tende a estaganar. Alm de que existindo dvida externa, esta au-

    menta violentamente. Injectar dinheiro na economia num merca-

    do como este apenas pode ser feito em pases com um crescimento

    econmico brutal baseado em exportaes de larga escala, porque

    a demanda de activos na sua prpria moeda grande. Qualquer

    pas que faa isto sem estar a exportar massivamente corre o risco

    de ser comprado pelo pas vizinho.

    Como vemos, a emisso de mais dinheiro a partir dos actuais

    pressupostos macro-econmicos, no soluo completa que baste

    quando existe todo um sistema que usa a moeda negligenciando

    pelo menos duas das suas funes primordiais (a de medida de valor

    e, consequentemente, a de reserva de valor). Ademais, o problema

    no est s nos ndices econmicos. O problema tambm humano,

    alm de matemtico. Mesmo que fosse possvel activar eternamente

    a economia desta forma (imaginemos que todos os estados concorda-

    vam em criar mais moeda, na mesma proporo, ao mesmo tempo)

    todas as experincias apontam para um resultado socialmente dese-

    quilibrado. Quando existe desigualdade econmico-social pratica-

    mente impossvel resolver o problema injectando moeda para o topo

    da pirmide econmica esperando que o grupo que constitui esse topo

    consiga criar emprego e distribua o dinheiro pela sociedade. Recor-

    rentemente, quase que por uma lei gravitacional da moeda, a rique-

    za continua a ser distribuda de modo previsivelmente desequilibrado.

  • 41

    Nveis elevados de desigualdade econmica acen-

    tuam os desequilbrios de poder poltico pois os que

    esto no topo usam seu peso econmico para moldar

    a nossa poltica de forma a obterem ainda mais poder

    econmico.

    Joseph E. Stiglitz, 2012 *

    Quantidades maiores de dinheiro, tm-se revelado de impossvel

    gesto, e completamente desnecessrio produzir mais moeda,

    quando se sabe que j foi criado dinheiro mais que suficiente (dis-

    tribudo de modo desigual) nos pases desenvolvidos para que to-

    dos possamos viver com acesso sade, educao e a outros bens,

    mesmo que no essenciais. O que nos leva ao ponto seguinte.

    A escala

    Num passado recente a populao dos Estados era menor. Era

    mais fcil para um governo redistribuir justamente a riqueza e

    esperar que o mercado continuasse o natural ciclo de trocas. Esta

    facilidade foi posta em causa com a exploso demogrfica dos lti-

    mos sculos.

    Existem hoje correntes de pensamento desesperado que

    acreditam que qualquer sistema que leve a um aumento da igual-

    dade a nvel mundial conduz inevitavelmente a uma destruio de

    recursos, e ao implodir social associado. So correntes de pensa-

    mento que apregoam que todas as espcies dominantes esto des-

    tinadas a reproduzir-se, destruindo todos os recursos disponveis,

    e a implodir como consequncia inevitvel da sua existncia.

    verdade que com o capitalismo, com o aumento de produo e a ex-

    ploso demogrfica, j ultrapassmos a fronteira do que os recursos

    do nosso habitat permitem. Por isso mesmo, um arqutipo mon-

    etrio que tenha como desgnio a eliminao da pobreza a um nvel

    global (ou que se predisponha pelo menos a atenuar o actual fosso)

    tem que ter isso em considerao.

    http://www.rollingstone.com/politics/blogs/national-af-fairs/the-price-of-inequali-ty-interview-with-joseph-e-sti-glitz-20120625#ixzz1yz8F54U2

  • 42

    Alguns polticos defendem que se o capital for emprestado

    s grandes empresas e se baixarem os impostos aos ricos, a din-

    heiro tem tendncia a escorrer pela pirmide social chegando ao

    sop. Este tipo de argumento recorrentemente apresentado por

    administradores, ou pessoas de ideologia neoliberal. Sobre esta

    matria talvez seja importante dar alguma ateno s concluses

    de um estudo de Mehrun Etebari realizado nos Estados Unidos em

    2003, disponvel para consulta na internet:

    Em ampla perspectiva, os dados dos ltimos 50

    anos refutam veementemente quaisquer argumen-

    tos que suportem que o corte de impostos para os

    americanos mais ricos vai melhorar a capacidade

    econmica das classes mdia e baixa, ou a nao

    como um todo. Para ter certeza, os indicadores

    econmicos apresentados neste relatrio foram

    examinados a partir de uma variedade de fatores

    que no apenas a poltica fiscal. Pelo contrrio, o

    que este estudo mostra que qualquer tentativa de

    estimular o crescimento econmico, redu-zindo os

    impostos para os ricos no vai fazer absolutamente

    nada se no tem funcionado nos ltimos 50 anos,

    ento por que razo h-de funcionar no futuro?

    Mehrun Etebari, 2003 *

    A viso que se apresenta neste texto estabelece como prem-

    issa, que o dinheiro, enquanto parcela essencial da activao da

    economia, no pode continuar nas mos de poucos. Como todas as

    ideias, a moeda pode ser regrada nesse sentido. E para que se pos-

    sa democratizar, quem sabe escala mundial, a sua emisso e o seu

    valor no podem estar dependentes dos mecanismos que foram

    sendo descritos. Numa economia matematicamente saudvel, o

    dinheiro, ao contrrio do po, no pode valorizar nem desvalorizar

    porque no como o po. O po mata a fome e estraga-se quando

    no comido, por isso pode valorizar e desvalorizar, o dinheiro

    no. A moeda a medida essencial da economia. Foi tambm para

    http://www.faireconomy.org/re-search/TrickleDown.html

  • 43

    isso que foi concebida, para ser medida de valor. uma das suas

    funes primordiais. Permitir que os bancos (e o sistema finan-

    ceiro em que operam) alterem o valor do dinheiro como alterar o

    valor do centmetro sempre que crescemos um pouco. Alm de ser

    desleal, impede o desenvolvimento colectivo baseado na igualdade

    de oportunidades.

    Liberdade de deslocao

    Como sabemos, nem todos os pases tm os mesmo recursos, as

    mesmas oportunidades, nas mesmas alturas. O desenvolvimento

    dos meios de comunicao e transporte criaram um paradigma

    onde a deslocao de pessoas, bens e informao sinnimo de

    liberdade de opo. Privar um ser humano da possibilidade de

    deslocao entre pases por questes do foro monetrio uma

    privao da liberdade. Pensar que um regresso ao passado de

    economias fechadas, possa ser uma soluo para esta ingern-

    cia global, apenas uma ideia romntica para quem nunca viveu

    afastado do desenvolvimento socio-econmico-cultural que uma

    sociedade tendencialmente global trouxe civilizao humana. A

    necessidade de deslocao no s nos liberta das proposies de

    onde estamos como nos vai livrando de comportamentos etnocn-

    tricos pondo-nos em contacto com seres humanos com culturas

    distintas. A viagem no mera coisa de negcio ou turismo. um

    percurso feito entre ns e o outro, que nos permite no s trocar

    produtos e servios apenas possveis com o contacto com outras

    culturas, como nos permite conceber outras formas de viver. A

    viagem est na nossa natureza. O nomadismo, o mercantilismo e,

    hoje, a globalizao so disso prova.

  • 44

    a ProPoSta: UMa Moeda UMa Moeda

    Uma moeda de valor fixo

    Uma moeda de valor fixo, cuja produo seja regrada pelos esta-

    dos (de preferncia em conjunto) e fiscalizada pelos sistemas de

    justia, aplicando uma lei monetria, cdigo laboral e cdigo de

    produo de amplitude internacional. So estes os vectores da

    proposta deste livro.

    A moeda vale coisas diferentes para pessoas diferentes. Bas-

    ta pensarmos que pessoas distintas esto dispostas a pagar quan-

    tias diferentes pelo mesmo objecto. Por isso mesmo, impossvel

    de legislar sobre o valor de um bem. J o trabalho, actividade

    humana feita por necessidade ou livre escolha, e que quase toda

    a gente pode desempenhar, pode ser legislado. Fazer operaes

    econmicas entre duas naes que tenham cdigos de trabalho

    distintos e moedas distintas sem desvalorizar a moeda do pas com

    menos gastos laborais sobre o mesmo trabalho, d, como se tem

    visto, maus resultados. Seria mais inteligente e economicamente

    eficaz legislar internacionalmente o nico acto humano sobre o

    qual existe uma espcie de consenso em que deva ser compensado

    com moeda (o trabalho) do que acrescentar ao preo de uma coisa

    ndices e rcios relativos ao valor econmico da fora do trabalho

    necessria para a produzir. Esta lei laboral que aqui se prope tem

    que ser desenhada para promover a liberdade individual e a igual-

    dade de direitos entre homens. No pode descurar a individuali-

    dade de quem trabalha, assim como no pode deixar ao abandono

    quem no consegue trabalhar ou quer deixar de trabalhar.

    Todos vs, que amais o trabalho desenfreado (...),

    o vosso labor maldio e desejo de esquecerdes

    quem sois.

    Friedrich Nietzsche *

    Nietzsche ocupa-se com muito trabalho. D aulas sobre squi-lo e palestras, como: Sobre a personalidade de Homero, O drama musical grego. Redige um texto, A origem e finalidade da tragdia. Alguns no concor-dam com Nietzsche, mas todos o consideram um jovem de futuro promissor.http://www.culturabrasil.pro.br/nietzsche.htm

  • 45

    O trabalho uma necessidade de uma civilizao, mas no

    uma obrigao do indivduo e, por isso mesmo, a grande maio-

    ria das pessoas concorda que ele deva ser pago. Quando algum

    realiza uma tarefa da qual o outro tira proveito, a remunerao no

    serve apenas para compensar quem trabalha, mas tambm para

    garantir liberdade a quem no trabalha, pois a liberdade no s

    tempo livre, tambm moral. Ningum tem dificuldade em aceitar

    que quando se remunera o trabalho, quem realiza a tarefa no se

    sente explorado. Ao mesmo tempo ao sentimento de culpa no vai

    pesando nos ombros de quem no trabalha e usufrui dos resul-

    tados do trabalho (porque v que apesar de tudo quem trabalhar

    recebe um prmio monetrio). Estas ideias j existem dentro do

    actual quadro econmico, mas ainda h imensas limitaes cau-

    sadas pelo sistema monetrio que resultam em injustias sociais.

    Para que a Declarao dos Direitos do Homem tenha alguma hip-

    tese de ser cumprida, a relao entre a poltica laboral e mecanis-

    mo monentrio tem que mudar. Tm que lutar os trabalhadores,

    porque o que vir tem que partir do princpio de uma compen-

    sao justa, e igualitria: um mdico portugus que t