sistema de gestão ambiental uma proposta para implementação na empresa via do mar pescados
TRANSCRIPT
FACULDADE BRASILEIRA - UNIVIX Pós-graduação Lato Sensu em Gestão Ambiental
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA
PARA A IMPLEMENTAÇÃO NA EMPRESA VIA DO MAR
PESCADOS LTDA
Marcelo Vidigal Rocha Orientadora: Liana Vidigal Rocha
Co-orientadora: Fanny Mori Vitória, 2007
MARCELO VIDIGAL ROCHA
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA
PARA A IMPLEMENTAÇÃO NA EMPRESA VIA DO MAR
PESCADOS LTDA
Vitória, 2007
MARCELO VIDIGAL ROCHA
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA
PARA A IMPLEMENTAÇÃO NA EMPRESA VIA DO MAR
PESCADOS LTDA
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Gestão Ambiental da Faculdade Brasileira - UNIVIX, como exigência parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Ambiental, sob a orientação da Profª. Drª. Liana Vidigal Rocha.
Vitória, 2007
SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA
PARA A IMPLEMENTAÇÃO NA EMPRESA VIA DO MAR
PESCADOS LTDA
Apresentada em ......... de ....................... de ........... Banca Examinadora
______________________________________
______________________________________
______________________________________
______________________________________
Para Liéte, João Guilherme e Gabriela e Maria da Graça
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS, por mais uma graça alcançada.
À minha tia Graça por ter me dado a oportunidade de fazer o curso.
À minha mãe Liéte que além de ficar no meu pé, ainda ficava com João aos
sábados para eu ir à aula.
Ao meu pai Antonio Jorge que, de alguma forma, acredita no meu potencial.
À minha esposa Kelli e aos meus filhos Gabriela e João. Foi por vocês que
enfrentei todos os obstáculos até aqui vencidos, além de serem fontes de
inspiração.
À minha irmã Liana que concedeu-me seu precioso tempo para orientar-me nessa
aventura e a meus irmãos Fabrízio e Laísa que sei que torcem por mim.
À minha co-orientadora e amiga Fanny Mori que teve paciência para tirar minhas
dúvidas e traduzir os textos em espanhol.
À Universidade Anhembi Morumbi que disponibilizou sua biblioteca, me
fornecendo a bibliografia básica para minha pesquisa.
Aos meus amigos Ângelo, Danton e Pavesi que sempre estiveram ao meu lado
nos momentos mais difíceis e por agüentarem minhas reclamações e decepções.
Aos meus avós Hevete e João Rocha e Conceição Vidigal por serem o início e o
alicerce da minha família.
Aos meus amigos e colegas de trabalho por entenderem a necessidade de
concluir esse projeto e ignorarem os meus dias perdidos de trabalho.
À Maria Ferreira, minha ‘mãe preta’, que está sempre preocupada comigo e me
conhece melhor que ninguém.
À Banda Planta & Raiz, por me acalmar nos momentos de tensão e possibilitar
minha vibração positiva para escrever este trabalho.
À empresa Via do Mar Pescados Ltda, por ter fornecido as informações que
motivaram a elaboração do trabalho, em especial, à Marli Francisco e Kelli
Dettmann pela paciência em responder o roteiro de perguntas.
“Não importa o quanto certas coisas sejam important es para mim,
tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguir ei convencê-las”.
William Shakespeare
Resumo
Este trabalho tem o propósito de estudar uma empresa que comercializa pescados
frescos e manufaturados, a Via do Mar Pescados Ltda, atuante no Estado do
Espírito Santo, propondo um plano de ação para a implantação de um Sistema de
Gestão Ambiental. Tendo como base uma pesquisa bibliográfica, foi possível
explorar conceitos pertinentes sobre Gestão Ambiental e normas ISO 14000 e ISO
14001:2004, estabelecendo, desta forma, um quadro teórico de referência.
Posteriormente, por meio de entrevistas com profissionais da empresa em
questão, foi realizado um levantamento de informações que possibilitaram a
análise e a interpretação do objeto de estudo. Finalmente, foi apresentado um
plano de implementação da um Sistema de Gestão Ambiental para a empresa.
Palavras-chave: Sistema de Gestão Ambiental, ISO 14001, ISO 14001:2004 Plano
de Implementação do SGA.
Abstract This work has the intention to study a company who commercializes cool and
manufactured fished, Via do Mar Pescados Ltda, operating in the State of the
Espirito Santo, considering a action’s plan for the implantation of Environmental
Management System. Having as base a bibliographical research, it was possible to
explore pertinent concepts on Environmental Management and standars ISO
14000 and ISO 14001:2004 norms, to establish, in this way, a reference’s
theoretical framework. Later, by means of interviews with professionals of the
company, a information survey was carried through that it make possible the
analysis and the interpretation of the study object. Finally, Environmental
Management System for the company was presented a implementation’s plan to
the company.
Keywords: Environmental Management System, ISO 14001, ISO 14001:2004 EMS
Implementation’s plan.
Siglas usadas no texto ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
CMMAD - Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNI - Confederação Nacional da Indústria
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (ECO-92)
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
DIS - Draft International Standard
EPC - Equipamento de Proteção Coletiva
EPI – Equipamento de Proteção Individual
GANA - Grupo de Apoio à Normalização Ambiental
GQT – Gestão pela Qualidade Total
ISO - International Organization for Standardization
ONG – Organização Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
PDCA – Planejamento, Execução, Verificação e Ação Corretiva
PEA - Programa de Educação Ambiental
PNUMA - Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
SGA – Sistema de Gestão Ambiental
TC-207 - Comitê Técnico 207
SUMÁRIO
1. Introdução 13
2. Procedimentos Metodológicos 18
3. Sistema de Gestão Ambiental 21
3.1 – Breve Histórico 22
3.2 – Os Sistemas de gestão Ambiental (SGA) 26
3.3 – Necessidade de uma cultura ambiental – Por que implantar? 31
3.4 – As normas ISO 14000 37
3.4.1 – Termos e definições básicas 40
3.5 – A norma ISO 14001: 2004 41
4. Plano de Implementação do Sistema de Gestão Ambi ental 44
4.1 – O que é? 44
4.2 – Requisitos Gerais 49
4.2.1 – Política Ambiental 50
4.2.2 – Planejamento 52
4.2.3 - Implementação e Operação 58
4.2.4 – Verificação e Ação Corretiva 64
4.2.5 – Análise Crítica 67
5. Proposta de Plano de Implementação do Sistema de Gestão
Ambiental para Via do Mar Pescados Ltda
69
5.1 – Breve Histórico da empresa 69
5.2 – Considerações sobre a Gestão Ambiental da empresa 70
5.3 – Proposta de Modelo 72
5.3.1 – Política Ambiental 73
5.3.2 – Planejamento 76
5.3.3 – Implementação e Operação 84
5.3.4 – Verificação e Ação Corretiva 95
5.3.5 – Análise Crítica 99
6. Considerações Finais 101
7. Referências Bibliográficas 104
Apêndice 107
13
1. Introdução
A evolução da gestão ambiental no mundo surgiu quando os seres humanos
passaram a viver em comunidade, havendo necessidade de gerenciar os recursos
naturais. Discutir este assunto está se tornando relevante, pois atualmente ao
apresentar soluções passageiras ou resolvidas em curtos intervalos de tempo, não
ameniza a crise ambiental vivida pela humanidade. A solução, talvez, seria tratar o
assunto como questão crucial e decisiva ao futuro da humanidade.
A expansão da capacidade técnico-produtiva e o aceleramento do crescimento
demográfico mundial colocaram em evidência, que os recursos naturais e os
serviços derivados deles não são ilimitados (ESPINOSA apud SEIFFERT, 2002, p.
19). A importância de tais recursos é fundamental para a sobrevivência da raça
humana, sobretudo, considerando-se que todo o desenvolvimento tecnológico
alcançado não possibilita a substituição completa dos elementos extraídos ou
fornecidos pela natureza.
De acordo com DIAS (2006, p. 04), a aglomeração humana em aldeias, vilas e
cidades desenvolveu a necessidade de atendimento dessa população,
aumentando a ocupação dos espaços naturais, desviando cursos d’água e
destruindo florestas. Em conseqüência de tal ocupação desordenada, surgiram os
primeiros impactos ambientais causados com o intuito de atender às necessidades
das comunidades, como habitação e saneamento básico.
No século XVIII, junto com a Revolução Industrial, inicialmente na Inglaterra,
surgiram as alterações no meio ambiente natural, que por conseqüência do
desenvolvimento na produção gerou a sua destruição. DIAS (2006, p. 05; 06),
afirma que a industrialização gerou o crescimento econômico e possibilitou maior
geração de riquezas, trazendo melhor qualidade de vida.
Infelizmente, o preço pelo desenvolvimento industrial e econômico traria
conseqüências graves ao meio ambiente, pois a utilização sem controle dos
recursos naturais causou a deterioração do meio ambiente. Já no século XX, os
problemas ambientais ficaram mais visíveis e começaram a aparecer com maior
14
freqüência aos olhos da população, afetando primeiramente os países mais
desenvolvidos.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em
Estocolmo na década de 70, originou a Declaração sobre o Ambiente Humano e
produziu um Plano de Ação Mundial, objetivando orientar a preservação e
melhoria no ambiente humano. O intuito desta conferência era reestruturar o
pensamento sobre a forma de desenvolvimento essencialmente apoiada na
degradação ambiental, surgindo uma abordagem de desenvolvimento sob a ótica
da preservação ambiental. Assim, tiveram início as primeiras discussões sobre
preservação ambiental e o que seria, posteriormente, desenvolvimento sustentável
que se entende como sendo “o progresso social e o crescimento econômico
aliados ao respeito ao meio ambiente” (DEGANI, 2003, p. 01)
Até a década de 1980, a preservação ambiental era considerada uma atividade de
custo elevado e as empresas deveriam evitá-la para não comprometer a
competitividade. Após a criação, pela ONU, da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), cujo objetivo era analisar e apresentar
propostas para a problemática entre meio ambiente e desenvolvimento, as
empresas passaram a visualizar os gastos com proteção ambiental como sendo
investimento para o futuro e para sustentação da competitividade.
Um fato marcante nessa década foi a divulgação do documento “Nosso Futuro
Comum”, que futuramente seria utilizado como referência na Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada
no Rio de Janeiro em 1992 (popularmente chamada de ECO-92), criando o
conceito de desenvolvimento sustentável (DIAS, 2006, p.19).
No Brasil, após a ECO 92 até 1998, não houve manifestação de interesse pelas
autoridades competentes, tanto privadas quanto públicas, no tocante à
preservação do meio ambiente. Para DIAS (2006, p.38), apesar de haver um
crescimento perceptível da mobilização em torno da sustentabilidade, as
empresas focavam seu ambiente interno, priorizando os processos e os produtos.
Tal prioridade, na opinião do autor, retardaria a metodologia para que as
15
empresas se tornem agentes de um desenvolvimento sustentável, socialmente
justo, economicamente viável e ambientalmente correto.
A partir de 1998, começaram a surgir mobilizações por parte do Governo Federal
em criar políticas ambientais. O Primeiro passo foi a criação do Protocolo Verde,
previsto na Política Nacional de Meio Ambiente, que disponibiliza créditos e
benefícios fiscais direcionados às organizações ambientalmente corretas,
conforme dispõe seu artigo 12: “As entidades e órgãos de financiamento e
incentivos governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a
esses benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das
normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA”.1
De modo geral, com a globalização dos negócios, a internacionalização dos
padrões de qualidade ambiental esperadas na ISO 14000, a preocupação do
governo na preservação ambiental, assim como, a conscientização crescente dos
atuais consumidores e a disseminação da educação ambiental nas escolas, é
possível prever que as empresas que não desenvolvam suas atividades e/ou
produtos levando em conta a preservação do meio ambiente e a qualidade de
vida, tendem a perder grandes fatias de mercados.
Com base na legislação vigente, empresas que retiram do meio ambiente a sua
principal matéria prima, passaram a elaborar sistemas de gestão, tanto de
qualidade como ambiental, visando ampliar a qualidade de seus produtos e
serviços e atuando com a eco-eficiência como diferencial competitivo. Desta
forma, conhecer melhor o campo de atuação destas empresas e seus pontos
fortes e fracos, possibilitará planejar seus objetivos e metas, bem como sua
política ambiental.
A utilização das normas ISO 14000 possibilita, assim mesmo, especificar e
qualificar os requisitos da empresa, levando em consideração os requisitos legais
sobre aspectos ambientais significativos. Do mesmo modo, o comprometimento de
todos os envolvidos, dentro e fora da empresa, será fundamental para a
1 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que “institui a Política Nacional do Meio Ambiente e dá outras providências” artigo 12. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em novembro de 2006.
16
aplicabilidade e funcionalidade do sistema, seu sucesso dependerá diretamente
da Alta Administração da empresa, que, por sinal, será responsável pela melhoria
contínua do sistema.
Portanto, este estudo pretende focalizar a empresa Via do Mar Pescados Ltda
para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental com base nas normas
ISO 14000. O tema escolhido para esta pesquisa, aponta para a aplicabilidade
junto à empresa, visto que as questões ambientais estão se tornando, cada vez
mais, fundamentais para o crescimento e desenvolvimento de uma empresa ou de
seus produtos num mercado competitivo. Assim, o objetivo geral que norteou este
estudo foi desenvolver um plano de ação para a implantação de um sistema de
gestão ambiental.
A justificativa do tema deste estudo apóia-se em dois aspectos: relevância e
viabilidade. É possível afirmar que o trabalho possui uma relevância prática, na
medida em que contribui para a qualificação da empresa em questão, no âmbito
dos assuntos ambientais junto aos setores públicos, privados e sociedade civil, no
Estado de Espírito Santo. Assim mesmo, o assunto se mostra ainda relevante na
medida em que pode oferecer subsídios para que a empresa pesqueira evolua
suas práticas de gestão ambiental e na reorientação de suas estratégias de
responsabilidade social.
Este trabalho foi estruturado da seguinte maneira: no primeiro e segundo capitulo
apresenta-se a Introdução e os Procedimentos Metodológicos. Já no terceiro e
quarto capítulo foram explorados os conceitos teóricos pertinentes ao Sistema de
Gestão Ambiental e as normas da ISO 14000, respectivamente. E no quinto
capítulo, encontra-se a proposta do modelo de Implementação do SGA para a
empresa Via do Mar Pescados Ltda.
Portanto, o capítulo 3, aborda o Sistema de Gestão Ambiental – SGA, que é
considerado como um conjunto de responsabilidades organizacionais,
procedimentos, processos e meios que se adotam para a implantação de uma
política ambiental em determinada empresa ou unidade produtiva. Neste capítulo,
também é apresentado um breve histórico sobre a evolução da Gestão Ambiental,
17
assim como são apresentadas as normas ISO 14000, cujas regras estão
destinadas à normalização das organizações na implantação ou no
aprimoramento de um SGA.
Já o quarto capítulo trata da definição dos requisitos da Norma ISO 14001:2004,
apresentando propostas de adequação a estes requisitos, apontando seus
principais pontos e justificando a necessidade de utilização da legislação
ambiental com intenção de agregar valores aos produtos e serviços da
organização.
Finalmente, o quinto capítulo apresenta uma proposta de sistema de gestão
ambiental para a empresa Via do Mar, uma vez que por atuar na área de
comercialização de pescados e mariscos, a empresa está diretamente relacionada
a degradação da natureza, precisando minimizar seus impactos ambientais e
atuar em conformidade com a legislação vigente no país, no que diz respeito a
captura de pescados e mariscos, além de adaptar seus processos de produção à
preservação do meio ambiente, além treinar e capacitar seus funcionários
reduzindo a quantidade de resíduos gerados.
18
2. Procedimentos Metodológicos
De acordo com GIL (2002, p. 17), uma pesquisa é um processo formal e
sistemático de desenvolvimento do método científico, que tem como objetivo
fundamental descobrir respostas para problemas mediante o emprego de
procedimentos científicos. Desta forma, é possível caracterizar a pesquisa
científica como um esforço cuidadoso para descobrir novas informações ou
relações, cujo objetivo esteja voltado para a verificação e a ampliação do
conhecimento existente.
Segundo LOPES (1990, p. 118), as fases da pesquisa e suas operações
estão diretamente relacionadas, como mostra o quadro abaixo:
COMPONENTES SINTAGMÁTICOS DO MODELO METODOLÓGICO
Fases Metodológicas Operações Metodológicas I) Definição do objeto (Teorização da problemática)
1) Problema de pesquisa 2) Quadro teórico de referência 3) Hipóteses
II) Observação (técnicas de investigação)
4) Amostragem 5) Técnicas de coleta
III) Descrição (técnicas e métodos de descrição)
6) Análise descritiva
IV) Interpretação (métodos de interpretação)
7) Análise interpretativa 8) Conclusões* 9) Bibliografia*
* As conclusões e a bibliografia não constituem operações da fase IV.
A definição do objeto, que constitui a primeira fase da pesquisa empírica, já foi
relatada e explicada anteriormente. Cabe agora esclarecer as demais fases
metodológicas.
Considerando que o objetivo deste trabalho é desenvolver um plano de
ação para a implantação de um sistema de gestão ambiental, ou seja, estudar
uma situação com base em possibilidades reais de verificação entende-se que o
19
presente trabalho enquadra-se na classificação de pesquisa qualitativa-
exploratória.
Uma vez definida a natureza ou tipo de pesquisa, é necessário a
definição do melhor método de pesquisa a ser utilizado. Entre os métodos
pertinentes à pesquisa qualitativa, pretende-se escolher aquele que melhor se
ajuste à natureza do problema investigado e aos objetivos da pesquisa.
De acordo com LOPES (1990, p. 129), para estudar uma organização
(grupo, instituição) é necessário utilizar o método do estudo de caso e o uso de
questionário, entrevista e/ou observação participante. Segundo YIN (2005, p. 28),
“em geral os estudos de caso representam a estratégia preferida quando o
pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em
fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real”.
Para GIL (2002, p. 54), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu
amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros
métodos alternativos.
Sobre as técnicas de coleta de dados é possível afirmar que são
instrumentos através dos quais são obtidas ou coletadas as informações ou dados
brutos da pesquisa. Tais informações devem ser rigorosamente coletadas,
analisadas, para finalmente serem interpretadas.
Inicialmente, foi utilizado como técnica de coleta de dados o levantamento
em fontes secundárias (documentação indireta), que compreende levantamentos
bibliográficos, levantamentos documentais e levantamentos de pesquisas
realizadas. Segundo KINNEAR e TAYLOR (1996), em levantamentos secundários,
o importante é descobrir idéias e explicações possíveis para o fato ou fenômeno a
ser posteriormente investigado e não tomá-los como verdades.
Com a pesquisa bibliográfica aprofundou-se o problema de pesquisa por
meio do conhecimento dos trabalhos já feitos anteriormente. A principal vantagem
20
da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao pesquisador a cobertura de
uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que se poderia
pesquisar diretamente (GIL, 2002). Este levantamento bibliográfico envolveu a
procura em livros e artigos científicos publicados em revistas especializadas.
Foi feito também um levantamento de informação em fontes primárias
(documentação direta), utilizando-se como técnica de abordagem a entrevista
semi-estruturada individual, por meio de um roteiro com questões abertas. O
caráter semi-estruturado implicou em combinar certa padronização das questões
abertas com liberdade para que o entrevistador explorasse aspectos específicos
em profundidade e fizesse questões oportunas que se mostraram necessárias no
decorrer da entrevista.
Portanto, a técnica de coleta de dados utilizou os seguintes elementos:
a) Dados Secundários - documentação indireta (obtenção de dados já existentes):
∼ Levantamento bibliográfico;
∼ Levantamento de artigos publicados em anais de congressos e revistas
acadêmicas;
b) Dados primários - documentação direta:
∼ Entrevista semi-estrutura individual com os executivos/profissionais
responsáveis pela empresa. O objetivo foi o de aumentar a familiaridade
com o ambiente e o fato;
∼ Observação direta
Vale ressaltar que o roteiro da entrevista foi elaborado posteriormente à
coleta de informações básicas sobre a empresa.
21
3. Sistema de Gestão Ambiental
A constante necessidade de preservar o meio ambiente designou ações
ambientais em determinados espaços geográficos, chamadas de Gestão
Ambiental.
Dentre as ações, podemos destacar a gestão ambiental empresarial, que está
voltada para as organizações e pode ser definida como sendo “um conjunto de
políticas, programas e práticas-administrativas e operacionais que levam em conta
a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente através da
eliminação ou minimização de impactos e danos ambientais decorrentes do
planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação de
empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de
um produto”2.
Na implantação do Sistema de Gestão Ambiental, as organizações utilizam,
freqüentemente, o grupo de Normas ISO 14000 que em conformidade com o
grupo das Normas ISO 9000, tornam-se um desafio quando, as instituições,
pretendem ser competitivas e gerir a questão ambiental, ou seja, produzir com
responsabilidade sócio-ambiental.
“O início de qualquer programa de melhoria ou de mudanças culturais na
organização deve se dar, de preferência, através do planejamento estratégico”
(VITERBO, 1998, p.13), com base nessa afirmativa, que as organizações
deveriam traçar e programar seus objetivos, metas, programas e atividades.
Lembrando que as organizações ao planejarem não devem, em hipótese alguma,
ignorar o negócio principal da instituição. Haja vista que o desvio de foco, não
agregaria valor algum aos programas propostos.
Neste primeiro capítulo, será abordado o interesse da sociedade mundial pela
preservação do meio ambiente, bem como as propostas apresentadas pelas
entidades competentes no combate à degradação da natureza. Além disso, serão
2 Disponível em www.ambientebrasil.com.br – Sistema de Gestão Ambiental - Acessado em 02 de fevereiro de 2007.
22
apresentadas as normas para que as organizações possam adaptar seus
processos produtivos e, também, funcionários à uma visão sustentável. A fim de
contextualizar o sistema de gestão ambiental, iniciar-se-á com um breve histórico.
3.1 – Breve Histórico
A evolução da gestão ambiental no mundo surgiu quando os seres humanos
passaram a viver em comunidade, havendo necessidade de gerenciar os recursos
naturais. Segundo DIAS (2006, p. 04), “a concentração humana em locais
específicos – aldeias, vilas, cidades - cresceu a necessidade de atendimento
dessa população, e principalmente aumentou a ocupação dos espaços naturais”.
Como exemplo, pode-se citar a alteração de cursos d’água, a destruição de
florestas e a ocupação desordenada das cidades. Como conseqüência, surgiram
os primeiros impactos ambientais causados com o intuito de atender às
necessidades das comunidades, como habitação e saneamento básico. Assim, “o
homem perdeu o controle sobre seu próprio poder de alterar o equilíbrio dos
ecossistemas em larga escala” (MOREIRA 2001, p. 23).
No século XVIII, junto com a Revolução Industrial, inicialmente na Inglaterra,
surgiram as alterações no meio ambiente natural, que por conseqüência do
desenvolvimento na produção gerou a sua destruição. De acordo com DIAS
(2006, p.05,06), “a Revolução Industrial promoveu o crescimento econômico e
abriu as perspectivas de maior geração de riqueza, que por sua vez traria
prosperidade e melhor qualidade de vida”.
Infelizmente, o preço pelo desenvolvimento industrial e econômico traria
conseqüências graves ao meio ambiente, no qual “o homem começou a produzir
freneticamente e, como conseqüência, a poluir na mesma intensidade”
(MOREIRA, 2001, p.23), utilizando, sem controle, os recursos naturais, gerando a
degradação contínua do meio ambiente.
Dando continuidade ao processo de industrialização, no século XX, os problemas
ambientais ficaram mais visíveis e começaram a aparecer com maior freqüência
23
aos olhos da população. “A poluição era visível, mas o benefício advindo do
progresso a tomava um mal necessário” (MOREIRA, 2001, p.23). Como não
poderia deixar de ser, os países desenvolvidos foram os primeiros a serem
afetados pelos impactos provocados pela Revolução Industrial.
Na década de 60, pela primeira vez, o tema Meio Ambiente foi abordado, com o
objetivo de avaliar a reconstrução dos países europeus, no pós-guerra, e os
negócios internacionais. A reunião do Clube de Roma3 abordou a poluição dos
rios europeus, considerado na época a problemática da nova dimensão que o
meio ambiente estava assumindo. Logo após, “a Conferência sobre a Biosfera
realizada em Paris, em 1968, mesmo sendo uma reunião de especialistas em
ciência, marcou o despertar de uma consciência ecológica mundial”. (ANDRADE,
2000, p.2)
Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em
Estocolmo, inseriu a questão ambiental nas agendas oficiais internacionais. O
objetivo da reunião, entre outros, foi o de lançar os primeiros passos do que se
tornaria, mais tarde, o conceito de desenvolvimento sustentável. O resultado final
foi a elaboração de um Plano de Ação Mundial, cujo objetivo era o de orientar a
preservação e a melhoria do ambiente humano. Outro resultado importante foi a
criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente – que recebeu o
nome de PNUMA – que visava monitorar o avanço dos problemas ambientais no
mundo.
Segundo MOREIRA (2001, p.24), o Brasil participou do evento e assumiu uma
postura de resistência (até então compreensível, levando-se em consideração a
mentalidade da época), alegando que para o País era mais importante investir no
desenvolvimento do que em controle ambiental.
No final do mesmo ano, a Assembléia Geral da ONU deu continuidade, com base
na Conferência de Estocolmo, ao debate sobre os problemas do meio ambiente
3 O Clube de Roma é uma organização internacional cuja missão é "agir como um catalisador de mudanças globais, livre de quaisquer interesses políticos, econômicos, ou ideológicos". A organização busca analisar os problemas chave diante da humanidade. Seus trabalhos, como a publicação em 1972 do notório "Limits to growth", possuem significativo impacto no cenário político internacional. Disponível em: http://www.ebape.fgv.br/novidades/asp/dsp_dados_comunicados.asp?rep=247 Acessado em abril de 2007.
24
aprovando a Resolução 2997/XXIV, “os representantes dos países mais
industrializados chegaram à conclusão de que deveria haver uma certa prudência
no processo de industrialização para se evitar o processo de degradação
ambiental no mundo” (ABREU, 1997, p.30), criando “um programa internacional
para salvaguarda do Meio Ambiente, com um Conselho Diretor formado por 58
Estados” (DIAS, 2006, p.17).
Em meados da década de 1980, a ONU criou a Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), objetivando analisar e apresentar
propostas para a problemática entre meio ambiente e desenvolvimento. Um fato
marcante dessa década foi a divulgação do documento “Nosso Futuro Comum”,
que seria utilizado, futuramente, como referência na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio
de Janeiro em 1992, quando o conceito de desenvolvimento sustentável se
popularizou.
“Como produto desse encontro foram assinados cinco documentos que direcionariam as discussões sobre o meio ambiente nos anos subseqüentes, quais sejam: - Agenda 21; - Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB); - Convênio sobre as mudanças climáticas; - Princípios para a Gestão Sustentável das Florestas; e – Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento” (DIAS, 2006, p.19).
A ECO-92, como ficou mais conhecida, discutiu entre outros assuntos a questão
da Mudança Climática, dando origem ao Protocolo de Kyoto, que virou objeto de
negociações nas conferências internacionais sobre o clima. O Protocolo, segundo
MOREIRA (2001, p. 24), propunha “a redução gradativa dos níveis de emissão de
dióxido de carbono” no mundo. Contudo, ficou evidente que a maior parcela das
emissões de poluentes que contribuem para o "efeito estufa" é emitida pelos
países desenvolvidos.
Se, por um lado, os países subdesenvolvidos degradam o meio ambiente por falta
de informação, de conscientização e de recursos, os países desenvolvidos, muitas
vezes, se esquivam de acordos internacionais para redução da geração de
poluentes industriais. O motivo seriam os problemas econômicos de difícil solução.
25
No entanto, é possível observar que a questão ambiental, infelizmente, não tem
fronteiras geográficas ou geopolíticas.
No Brasil, após a ECO-92, até 1998, não houve manifestação de interesse pelas
autoridades competentes, tanto privadas quanto públicas, no tocante à
preservação do meio ambiente. Nesse mesmo ano, a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) elaborou a “Declaração de Princípios da Indústria para o
Desenvolvimento Sustentável”, iniciando um novo ciclo de interação entre meio
ambiente e economia no meio empresarial.
A CNI, ao elaborar tal declaração, possibilitou a visão, por parte dos empresários,
da gestão eficiente com o intuito de desenvolver nas indústrias a eco-eficiência e
produção limpa, aumentando o interesse pelo desenvolvimento econômico
sustentável. Segundo DIAS (2006, p.38), apesar de haver um crescimento
perceptível da mobilização em torno da sustentabilidade, ela ainda está mais
focada no ambiente interno das organizações, direcionada, sobretudo, para os
processos e os produtos. “(...) mas ainda falta muito para que as empresas se
tornem agentes de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo,
economicamente viável e ambientalmente correto”.
No ano 2000, foi realizado o I Fórum Mundial de Âmbito Ministerial, em Malmo, na
Suécia, resultando na aprovação da Declaração de Malmo, que aborda as novas
questões ambientais para o século XXI e sugere compromissos no sentido de
contribuir mais, efetivamente, para o desenvolvimento sustentável.
Dois anos após a aprovação da Declaração de Malmo, foi realizada pela ONU, em
Johannesburgo, África do Sul, a denominada Cúpula Mundial sobre o
Desenvolvimento Sustentável, conhecida com Rio+10, cujo objetivo era reavaliar e
implementar as conclusões e diretrizes abordadas durante a ECO-92, que
“procurou examinar se foram alcançadas as metas estabelecidas pela Conferência
do Rio-92 e serviu para que os Estados reiterassem seu compromisso com os
princípios do Desenvolvimento Sustentável” (DIAS, 2006; p. 37).
26
3.2 – Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA)
DIAS (2006, p. 91) define o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) como “o conjunto
de responsabilidades organizacionais, procedimentos, processos e meios que se
adotam para a implantação de uma política ambiental em determinada empresa
ou unidade produtiva”. Para VITERBO (1998, p.15), o SGA “é a base para o
estabelecimento de um método de gerenciamento que vise à melhoria contínua
dos resultados e promova o desenvolvimento sustentável”.
CALDUCH (s/d, p. 07) define sistema de gestão ambiental como o método de
trabalho que toda organização deve seguir com o objetivo de alcançar um
determinado comportamento em função das metas fixadas. Assim mesmo, é uma
forma da empresa realizar suas atividades dando resposta às normas, aos riscos
ambientais e às pressões tanto sociais, financeiras, econômicas e dos
concorrentes.
De acordo ainda com a autora, um Sistema de Gestão Ambiental é composto por
duas partes:
a) descritiva: que inclui os procedimentos, as instruções específicas, as normas e
os regulamentos, etc.
b) prática: composta por duas variáveis:
• Aspectos físicos: locais, máquinas, equipamentos de informática e de
controle, instalações de tratamento de contaminação, etc.
• Aspectos humanos: habilidades da equipe, formação, informação, sistemas
de comunicação, etc.
Já a adoção de um SGA por uma organização dar-se-á por várias razões.
Portanto, uma empresa poderá adotá-lo por mero cumprimento à legislação
ambiental ou para fixar suas políticas ambientais, possibilitando a conscientização
e unificação de todo o pessoal da organização, envolvidos direta ou indiretamente.
Organizações que apresentam níveis mínimos de Gestão Ambiental normalmente
27
possuem um setor dedicado ao meio ambiente, que é responsável pelo
atendimento às exigências dos órgãos ambientais. Isso significa que “a empresa
demonstra quase sempre uma postura reativa, procurando evitar os riscos e
limitando-se ao atendimento dos requisitos legais, o que normalmente significa
investimentos” (MOREIRA, 2001, p.52).
Contudo, não se deve esquecer que a gestão ambiental não deverá ser tratada
isoladamente, mas sim, incluí-la na gestão dos negócios da organização, pois a
gestão ambiental está vinculada à Gestão pela Qualidade Total (GQT).
O Planejamento de uma organização é o ponto de partida para iniciar qualquer
programa de melhoria ou de mudanças culturais, ou seja, a partir do ponto futuro
desejado, as organizações devem desdobrar os objetivos e metas. De acordo com
VITERBO (1998, p.13), “nenhum programa deveria nascer dissociado do negócio
da organização, pois, não agregaria qualquer tipo de valor para as partes
interessadas”. Portanto, para se obter sucesso:
“um sistema de gestão ambiental (SGA) requer a formulação de diretrizes, definição de objetivos, coordenação de atividades e avaliação de resultado (...) tratar das questões ambientais de modo integrado com as demais atividades corporativas”. (BARBIERI, 2006, p.137)
Ao aplicar o SGA, a organização prepara-se para adequar sua estrutura, física e
pessoal, à redução de possíveis danos causados ao meio ambiente. Para DIAS
(2006, p. 89), o “objetivo é conseguir que os efeitos ambientais não ultrapassem a
capacidade de carga do meio onde se encontra a organização, ou seja, obter-se
um desenvolvimento sustentável.”
Segundo VITERBO (1998, p.15), “a sobrevivência da organização está
intimamente ligada ao conceito de desenvolvimento sustentável, pois a sociedade
não mais tolera ou tolerará as agressões ao meio ambiente”. Já MOREIRA (2001,
p. 50) afirma que ”a sociedade continua evidenciando sua necessidade quanto a
produtos e serviços, porém passa a valorizar cada vez mais a proteção do meio
ambiente”.
28
Assim sendo, entende-se que os fundamentos predominantes podem variar de
uma organização para outra. Tais fundamentos são adequados à área de atuação
da organização, possibilitando a aplicabilidade do SGA em conformidade com as
necessidades dos funcionários, bem como da comunidade do seu entorno.
Para MOREIRA (2001, p. 52), “uma empresa que implantou um sistema de gestão
ambiental adquire uma visão estratégica em relação a meio ambiente: deixa de
agir em função apenas dos riscos e passa a perceber também as oportunidades”.
Já DIAS (2006, p. 89) afirma que “o processo de gestão ambiental nas empresas
está profundamente vinculado a normas que são elaboradas pelas instituições
públicas (prefeituras, governos estaduais e federal) sobre o meio ambiente”, a fim
de limitar a organização na emissão de agentes poluentes, buscando a
sustentabilidade.
“A criação e a operação de um SGA, próprio ou baseado num modelo genérico, podem ser consideradas uma espécie de acordo voluntário unilateral, desde que a empresa se comprometa a alcançar um desempenho superior ao exigido pelas leis ambientais” (BARBIERI, 2006, p.137).
Então, espera-se, ao menos, que o SGA contribua para que a empresa atue em
conformidade com a legislação, mas sempre se comprometendo em promover
melhorias que a levem gradativamente a alcançar as exigências legais. Para isso,
cabe dizer que “os recursos naturais (matéria-prima) são limitados e estão sendo
fortemente afetados pelos processos de utilização, exaustão e degradação
decorrentes de atividades públicas ou privadas, (...) os bens naturais (água, ar) já
não são mais bens livres/grátis.” 4
VITERBO (1998, p.14) afirma que “cada vez mais as organizações devem se
preocupar em aumentar sua "eco-eficiência", ou seja, sua eficiência via utilização
de recursos não renováveis, matérias-primas, energias, água e uso do solo e do
ar”.
4 Disponível em: www.ambientebrasil.com.br – Sistema de Gestão Ambiental - Acessado em fevereiro de 2007.
29
O fato das organizações não atentarem para a preservação da natureza no início
da industrialização, com a Revolução Industrial, resultou na aplicabilidade, tardia,
das normas ambientais, outrora citadas. Assim sendo, as empresas que utilizam o
SGA, preocupam-se em recuperar os danos causados, para que, enfim, possam
atuar diretamente na preservação do meio ambiente.
Tal procedimento proporciona o aumento dos custos da organização,
possibilitando conclusões adversas sobre o assunto. No geral, o empresariado,
em sua maioria mal informada, deixa transparecer algumas percepções
equivocadas a respeito de Sistema de Gestão Ambiental. MOREIRA (2001, p.49)
aponta algumas destas declarações: “é caro e não dá retorno; isto é para empresa
rica; demanda muito tempo e esforço da empresa; pode ser uma ameaça, uma
vez que meus problemas ambientais serão expostos e passarão a requerer
soluções de curto prazo; controles ambientais exigem altos investimentos; obter
certificado exige comprometimento verdadeiro com a questão ambiental; será que
podemos sustentar isto?”.
No entanto, a organização durante o planejamento do seu SGA poderá incluir
estudos que comprovem os possíveis efeitos causados ao meio ambiente,
reestruturando os produtos e os processos envolvidos. À aplicação de métodos
preventivos estuda a eliminação dos impactos na origem, procurando as causas.
Isto não somente para os impactos diretos da empresa, mas também para os que
são produzidos por toda a vida do produto (DIAS, 2006, p.90).
Para a organização, é importante dar tratamento adequado aos resíduos
provenientes das suas atividades, dos seus processos, dos seus produtos e dos
seus serviços. Portanto, a gestão ambiental exige que se passe a combater os
resíduos no momento de sua geração e não no final do processo.
Mas, ao iniciar o planejamento do SGA, a empresa deve centralizar seus esforços
em “estabelecer e manter procedimentos que permitam avaliar, controlar e
melhorar os aspectos ambientais...” 5. Para tanto, deverá zelar pelo cumprimento
5 Disponível em: www.ambientebrasil.com.br – Sistema de Gestão Ambiental. Acessado em fevereiro de 2007.
30
da legislação e normas vigentes, bem como, a integridade (saúde e segurança)
dos funcionários e o uso controlado da matéria-prima e insumos, visando
minimizar os impactos e/ou danos ambientais causados.
“Os objetivos básicos do sistema de gestão são o de aumentar constantemente o valor percebido pelo cliente nos produtos ou serviços oferecidos, o sucesso no segmento de mercado ocupado (através da melhoria contínua dos resultados operacionais), a satisfação dos Funcionários com a organização e da própria sociedade com a contribuição social da empresa e o respeito ao meio ambiente”. (VITERBO, 1998, p.15)
A responsabilidade ambiental na organização e a adoção de uma postura pró-
ativa passam a ter seu verdadeiro papel na sociedade no momento em que uma
empresa existe e se mantém viva enquanto estiver atendendo a uma demanda da
sociedade. “Se esta demanda cessar, a empresa simplesmente deixa de existir”
(MOREIRA, 2001, p. 50). VITERBO (1998, p. 17) afirma que “se o sistema de
gestão não trouxer resultados para a empresa, ele não serve ao propósito a qual
se destina”.
Com isso, é possível afirmar que todo o procedimento para a implantação do SGA
está relacionado, diretamente, aos custos financeiros, uma vez que o não
cumprimento da legislação acarretará em penalidades e multas. Associando a
questão financeira à ambiental, entende-se que as organizações, ao traçar seus
objetivos no SGA, procuram a maneira menos onerosa de prevenir os impactos
ambientais e não necessariamente remediá-los.
“Os acionistas não querem comprometer resultados em função de problemas ambientais; por sua vez os investidores e agentes financeiros exigem uma avaliação ambiental antes de fechar qualquer negócio. Então, mais cedo (voluntariamente) ou mais tarde (obrigatoriamente), as empresas terão que ampliar seu sistema de gestão de modo a tratar também a questão ambiental” (VITERBO 1998, p.51).
Deste modo, surge a seguinte questão: qual é o principal benefício por parte de
uma empresa ao implantar o SGA? Para MOREIRA (2001; p. 51), a resposta é
simples: a empresa que investe em um Sistema de Gestão Ambiental terá uma
imagem que a tornará mais atraente aos olhos do mercado.
31
3.3 – Necessidade de uma cultura ambiental – Por qu e implantar?
A Educação Ambiental constitui, preliminarmente, um passo importante para a
implantação da Política Ambiental da empresa que se consolidará através de
um Sistema de Gestão Ambiental.
A implantação do SGA nas empresas deve vir acompanhada de uma mudança
cultural, na qual as pessoas devem estar mais envolvidas com a nova perspectiva.
Alguns hábitos e costumes já consolidados no ambiente exterior das empresas
podem e devem ser eliminados, enquanto os positivos devem ser adotados pela
organização (VITERBO, 1998; MOREIRA, 2001, VALLE, 2000).
A introdução dos conceitos do Desenvolvimento Sustentável e da
Conservação Ambiental no dia-a-dia da empresa requer uma mudança
cultural em todos seus níveis funcionais. Esses novos conceitos na cultura da
empresa exigem um sistema de comunicação eficiente entre os níveis
hierárquicos, através do estabelecimento de um programa de educação
ambiental que envolva todos os seus integrantes.
Na tabela a seguir, MOREIRA (2001, p. 50) apresenta os principais motivos que
podem despertar o interesse de uma empresa pelo sistema de gestão ambiental,
juntamente com uma nota de intensidade que varia entre 1 e 5. A nota 5 indica a
maior intensidade da motivação (com base em percepção empírica).
Tabela 1 – Motivação para a implantação do SGA
MOTIVO INTENSIDADE
Exigência por parte de um cliente significativo 5
Exigência por parte da matriz 5
A concorrência está adotando SGA 4
Apelo de marketing para manter ou ampliar mercados
(internacionais principalmente) 4
Perspectivas de ganhos para a imagem institucional 3
Pressões da comunidade (reivindicações, 3
32
reclamações, movimentos, manifestações pela mídia,
ações judiciais provenientes da comunidade ou de
ONGs)
Percepção de possibilidades de redução de
desperdícios e custos de controles ambientais 2
Interesse em financiamentos incentivados 2
Garantia do cumprimento das leis ambientais 2
Percepção das tendências mundiais 2
Fonte: MOREIRA, Maria Suely. Estratégia e implantação de sistema de gestão ambiental modelo ISO 14000.
Contudo, é sabido que a motivação depende exclusivamente da ‘percepção da
necessidade’. Em muitos casos, porém, por falta de informação e/ou outros
fatores, o indivíduo não percebe tal necessidade. Portanto, a realização de
eventos pode ser considerada fator-chave para que se possa tornar explícito o
interesse da alta administração da empresa na implantação do SGA; alertar para
os riscos envolvidos nas questões ambientais, evidenciar os benefícios, as
vantagens e oportunidades associadas à implantação do sistema.
É possível citar algumas das estratégias utilizadas para convencimento dos
funcionários nas empresas, tais como: promoção de palestras informativas; visitas
a empresas certificadas pela ISO 14001; investigação de concorrentes em
processo de certificação; clipping de notícias sobre meio ambiente na área
empresarial, principalmente no que se refere a acidentes e multas. Para
MOREIRA (2001, p. 59), são duas as principais estratégias para obter motivação:
33
Figura 1 – Estratégias para Motivação
Estratégia nº 1
Estratégia nº 2
Os funcionários da empresa devem eliminar a idéia de que a solução de
problemas ambientais compete tão somente às chefias ou aos setores de
segurança e higiene do trabalho da empresa. Todo empregado é responsável
pela proteção ambiental, da mesma forma que é pela segurança.
“Um Programa de Educação Ambiental (PEA) no âmbito de toda a empresa deve estimular a participação de seus funcionários na apresentação de sugestões e propostas para ação e deve permitir a reavaliação contínua dos resultados alcançados, através de campanhas de incentivo, seminários internos, eventos de congraçamento alusivos à proteção e à melhoria do meio ambiente”. (VALLE, 2000; p. 13)
A identificação dos efeitos ambientais produzidos pelas atividades produtivas
da organização deve ser percebida por todos os funcionários, o que auxiliará
na sensibilização para participarem da solução dos problemas. Os
funcionários devem receber informações sobre os impactos no meio ambiente
pelos materiais que são processados e pelos produtos que são gerados. Além
disso, devem tomar conhecimento dos regulamentos para a execução da
reciclagem e a separação de resíduos. Outra questão que não pode deixar de
ser abordada é em relação à tecnologia empregada, os produtos que
manuseiam e a rotina a ser adotada no caso de uma situação de emergência.
“É fundamental que os funcionários reconheçam na Educação Ambiental um novo fator de progresso, não a confundindo com treinamento profissional, muito embora os dois se complementem. (...)
Obter motivação para a mudança
Causar desconforto
Apresentar uma solução
Obter motivação para a mudança
Demonstrar a importância
Atuar na percepção (fundamentar a necessidade)
34
A obtenção da certificação ambiental por uma empresa e as condições para sua manutenção dependerão, inequivocamente, da participação consciente de seus funcionários e fornecedores” (VALLE, 2000, p. 13).
Um treinamento correto e a conscientização por parte dos funcionários são
fundamentais no processo, pois, na maioria das vezes, é por meio dos erros
operacionais que são gerados os piores resíduos e, consequentemente, são
provocados os maiores acidentes. Deste modo, a educação ambiental pode
antecipar esse processo de conscientização, possibilitando chegar mais
rapidamente à certificação por uma entidade credenciada.
Portanto, quais seriam os benefícios ao implantar um Sistema de Gestão
Ambiental? De acordo com DIAS REIS (2002, p. 25), é possível listar, no
mínimo, dez motivos para se implantar o SGA numa empresa. São eles:
1. Demonstrar aos clientes o comprometimento com a gestão ambiental -
inputs e outputs;
2. Manter e/ou melhorar as relações com a comunidade e público em
geral;
3. Facilitar o acesso a novos investimentos;
4. Obter diminuição dos custos de seguro;
5. Melhoria da imagem da empresa e aumento do "market share";
6. Melhoria do controle de custos;
7. Diminuição de custos via redução de desperdícios de fatores
produtivos;
8. Redução e/ou eliminação dos impactos negativos;
9. Cumprimento da legislação ambiental aplicável;
10. Redução do número de auditorias dos clientes;
Já MOREIRA (2001, p. 51) completa a lista com outros itens, como:
1. Garantia de melhor desempenho ambiental;
2. Redução de desperdícios;
3. Prevenção de riscos. (acidentes ambientais, multas, ações judiciais, etc);
35
4. Disseminação da responsabilidade sobre o problema ambiental para toda
a empresa (a área de meio ambiente passa a atuar como staft ou mesmo
se transforma em consultoria externa);
5. Homogeneização da forma de gerenciamento ambiental em toda a
empresa, especialmente quando suas unidades são dispersas
geograficamente;
6. Possibilidade de demonstrar consciência ambiental ao mercado nacional
e internacional (competitividade);
7. Boa reputação junto aos órgãos ambientais, à comunidade e ONGs;
8. Possibilidade de obter financiamentos a taxas reduzidas;
9. Benefícios intangíveis, tais como melhoria do gerenciamento, em função
da cultura sistêmica, da padronização dos processos, treinamento e
capacitação de pessoal e rastreabilidade de informações técnicas.
Sendo assim, ao implantar o SGA, uma empresa pode obter tanto benefícios
econômicos quanto estratégicos. Os benefícios econômicos dizem respeito à
redução de custos (consumo de água, energia e insumos); à redução de resíduos
e redução de multas e penalidades por poluição. Ao mesmo tempo, o SGA permite
que a empresa incremente a sua receita com os chamados “produtos verdes”,
agregando participação no mercado com produtos inovadores e aumentando a
demanda de produtos não-poluentes.
Já os benefícios estratégicos passam pela melhoria da imagem institucional
perante o mercado consumidor; aumento da produtividade; comprometimento do
quadro de funcionários; melhoria nas relações com entidades governamentais,
comunidades e ONGs e um possível acesso ao mercado externo.
Portanto, pode-se afirmar que os pontos fortes referentes à questão ambiental da
empresa são: produtos amigáveis ao ambiente; processos produtivos que
economizam recursos e não provocam riscos ao ambiente; imagem corporativa
em relação à causa ambiental; compromisso da gerência e do pessoal com a
proteção ambiental; capacidade da área de P&D para tecnologias e produtos
"limpos" (DONAIRE, 1999, p. 63).
36
Por outro lado, DONAIRE (1999, p. 64) aponta alguns pontos fracos relativos à
questão ambiental, tais como: “produtos que não podem ser reciclados;
embalagens, recipientes etc. não recicláveis; processos poluentes;
efluentes perigosos; imagem poluidora; pessoal não engajado na questão
ambiental”.
Na verdade, há maneiras pelas quais uma organização pode incorporar a questão
ambiental. A primeira seria verificar o posicionamento da empresa em relação ao
Desafio Ambiental, certificando-se em quais variáveis a empresa teve baixa ava-
liação. Uma outra abordagem envolveria a identificação das ameaças e
oportunidades, relacionando-as com os pontos fortes e fracos da empresa.
‘A discussão da situação da empresa o desenvolvimento de cenários futuros resultarão em novos direcionamentos e planos que permitirão tirar vantagens das oportunidades possíveis, prevenir as ameaças potenciais, manter os pontos fortes e minimizar ou eliminar os pontos fracos” (DONAIRE, 1999, p. 63).
Contudo, a existência de um plano ambiental formal não é suficiente, pois a
transformação da questão ambiental em um valor da organização dependerá das
ações da Alta Administração e de suas gerências. Os funcionários serão os
responsáveis por garantir a imagem ambiental da empresa internamente e fazer a
divulgação junto à comunidade local. Desta forma, os empresários e a Alta
Administração desempenham um importante papel na difusão dessa imagem para
o exterior da empresa junto à sociedade, ao governo e ao órgão de controle
ambiental.
A partir dessas considerações, é possível dizer que o SGA nada mais é que uma
vantagem competitiva para a empresa, pois ao alcançar a excelência na gestão
ambiental e a melhoria de sua imagem, esta se tornará estável junto ao mercado
que, a cada dia, exige produtos ambientalmente corretos, ou seja, empresa que
possuam o chamado “Selo Verde”. Pode-se dizer então que a adequação às
Normas da ISO 14000 é fundamental para a empresa buscar a padronização de
sua estrutura, visando a preservação do meio ambiente, bem como uma melhor
qualidade nos seus produtos e na execução de seus serviços.
37
3.4 – As Normas ISO 14000
O assunto meio ambiente está em destaque entre as preocupações da sociedade
e, ultimamente, vem sendo foco de um processo de gradativa reavaliação.
Atitudes que são tomadas em prol da preservação do meio ambiente, de forma
radical ou “romântica”, estão “cedendo espaço para abordagens mais racionais,
objetivas e sistêmicas dos problemas causados pela poluição e pelos impactos
das atividades humanas sobre o ambiente”. (VALLE, 2000, p.95)
À medida que as preocupações com a manutenção e a melhoria da qualidade de
meio ambiente e a proteção da saúde humana aumentam, organizações de todos
os portes voltam suas atenções para os potenciais impactos de suas atividades,
produtos e serviços. A partir disso, o desempenho ambiental de uma organização
consiste no “desenvolvimento de políticas econômicas e outras medidas, visando
adotar a proteção ao meio ambiente e de uma crescente preocupação expressa
pelas partes interessadas em relação às questões ambientais e ao
desenvolvimento sustentável”6.
Para tanto, a ISO (International Organization for Standardization) elaborou um
conjunto de regras destinadas à normalização das organizações na implantação
ou no aprimoramento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A ISO é uma
organização não-governamental, fundada no ano de 1947, com o objetivo de
reunir órgãos de normalização de diversos países e criar um consenso
internacional normativo. A sua sede está localizada em Genebra, na Suíça, e
possui cerca de 100 países membros que participam, com direito a voto, das
decisões ou apenas como observadores das discussões (ABREU, 1997, p. 44).
A série ISO 14000 foi escrita pelo Comitê Técnico 207 (TC-207) e define os
elementos de um SGA, a auditoria do sistema, a avaliação de desempenho
ambiental, a rotulagem ambiental e a análise de ciclo de vida. As normas só
entram em vigor após vencerem uma série de etapas de discussões, que
culminam numa votação dos países membros, quando, então, assumem o caráter
de normas internacionais ISO. “Antes desse estágio, a futura norma encontra-se
6 ABNT NBR ISO 14001:2004 – Sistema de Gestão Ambiental – Requisitos com orientação para uso.
38
na forma de DIS (Draft International Standard), uma espécie de minuta sujeita a
ajustes” (ABREU, 1997, p. 45).
Outras normas compõem a série ISO-14000, são elas:
• ISO 14001 - Sistemas de gestão ambiental Especificações e diretrizes para
uso;
• ISO 14004 - Sistemas de gestão ambiental Diretrizes gerais sobre
princípios, sistemas e técnicas de apoio;
• ISO-14010 - Diretrizes para auditoria ambiental - Princípios gerais;
• ISO-14011 - Diretrizes para auditoria ambiental - Procedimentos de
auditoria Auditorias de sistemas de gestão ambiental, substituída pela
norma ISO-19011;
• ISO- 14012 -Diretrizes para auditoria ambiental - Critérios de qualificação
para auditores ambientais;
• ISO-14014 - Diretrizes para auditoria ambiental - Guia para avaliações
iniciais;
• ISO-14015 - Diretrizes para auditoria ambiental - Guia para avaliações de
sítios;
• ISO-14020 - Rotulagem Ambiental Princípios básicos;
• ISO-14021 - Rotulagem Ambiental - Termos e definições para aplicação
específica e auto-declarações;
• ISO-14022 - Rotulagem Ambiental Simbologia para os rótulos;
• ISO-14023 - Rotulagem Ambiental - Testes e metodologias de verificação;
• ISO-14024 - Rotulagem Ambiental- guia para certificação com base em
análise multi-criterial;
• ISO-14031 - Avaliação de desempenho Ambiental;
• ISO-14040 - Análise do ciclo de vida Princípios gerais e prática;
• ISO-14041 - Análise do ciclo de vida Inventário;
• ISO-14042 - Análise do ciclo de vida Análise dos impactos;
• ISO-14043 - Análise do ciclo de vida Interpretação;
• ISO-14050 - Termos e definições Vocabulário;
• ISO GUIDE 64 - Guia de inclusão dos Aspectos ambientais nas normas do
39
produto.
O Brasil faz parte da ISO como membro fundador, tem direito a voto e está
representado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) através do
GANA (Grupo de Apoio à Normalização Ambiental). Este grupo foi criado com o
apoio de algumas empresas brasileiras, que colaboraram com cotas e colocaram
seus funcionários em disponibilidade para ajudar nas atividades do grupo e
participar das reuniões do TC-207.
A série ISO 14000, na visão de HARRINGTON (2001, p. 31), possui vantagens
significativas que podem complementar os requisitos regulatórios de uma
empresa, como: a) reduzir os conflitos entre agências reguladoras e indústrias; b)
encorajar a organização a se envolver mais com os programas ambientais; e c)
iniciar o processo de mudança por meio de debates.
Os autores ainda discorrem sobre as normas voluntárias geralmente mais bem
aceitas. São elas: a) o envolvimento das indústrias na criação dessas normas; b) o
desenvolvimento dessas mesmas normas num ambiente consensual; c) promoção
de um entendimento internacional; d) aceitação plena por parte dos detentores de
interesses; e) preparação por parte de pessoas capacitadas em suas áreas de
atuação e f) politicamente independentes.
Para DIAS REIS (2002, p. 25), as normas da série ISO 14000 foram
desenvolvidas com os principais objetivos:
1. Proporcionar meios ou condições para um melhor gerenciamento
ambiental.
2. Ser aplicável a todos os países.
3. Promover, da forma mais abrangente possível, a harmonia entre o interesse
público e os dos usuários das normas.
4. Possui uma base científica.
5. Ser prática, útil e utilizável.
MOREIRA (2001, p. 88) afirma que “um sistema deste tipo permite a uma
organização estabelecer e avaliar a eficácia dos procedimentos destinados a
40
definir uma política e objetivos ambientais, atingir a conformidade com eles e
demonstrá-Ia a terceiros”.
3.4.1 – Termos e definições básicas
A ISO 14000 possui termos e definições básicas, que são:
1) Organização: pode ser definida como companhia, corporação, firma, empresa
ou instituição, ou parte ou combinação destas, sociedade anônima ou limitada,
pública ou privada, com funções e administração próprias.
2) Meio Ambiente: local onde uma organização atua, incluindo “ar, água, terra,
recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações”. Neste caso,
o meio ambiente se alonga do interior da organização até o sistema global7.
3) Aspecto Ambiental: “elemento das atividades, produtos ou serviços
organizacionais que podem interagir com o meio ambiente” (HARRINGTON 2001,
p. 33). Fica a cargo da organização identificar os aspectos ambientais de seus
produtos, processos e serviços ao estabelecer um SGA.
4) Impacto Ambiental: qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou
benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços
de uma organização. HARRINGTON (2001, p. 33) explica dois tipos de impactos:
a) agudo – está associado a ocorrências de curta duração e b) crônico – é aquele
que ocorre por um longo espaço de tempo.
5) Sistema de Gestão Ambiental: Parte do sistema total que inclui a estrutura
organizacional, as atividades de planejamento, as responsabilidades, práticas,
procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, alcançar,
proceder à avaliação crítica e manter as políticas ambientais.
6) Auditoria do SGA: Processo de verificação sistemático e documentado para
obter e avaliar objetivamente evidências para determinar se o Sistema de Gestão 7 MOURA, L. A. R. O que é ISO 14000? Extraído do site http://www.gestaoambiental.com.br . Acessado em março de 2007.
41
Ambiental de uma organização está em conformidade com os critérios de auditoria
formados pela própria organização.
7) Desempenho Ambiental: Refere-se a resultados mensuráveis do Sistema de
Gestão Ambiental, relacionados com o controle dos aspectos ambientais de uma
organização baseados em suas políticas, objetivos e alvos ambientais.
8) Melhorias Contínuas: Processo de aprimoramento do Sistema de Gestão
Ambiental, visando atingir melhorias no desempenho ambiental global de acordo
com a política ambiental da organização.
HARRINGTON (2001, p. 35), esclarece que as empresas deverão encontrar suas
próprias respostas, no tocante a implantação do Sistema de Gestão Ambiental,
com base na sua situação mercadológica, ponderando o processo de tomada de
decisão.
3.5 – A norma ISO 14001: 2004
A Norma ISO 14001:2004 especifica os requisitos de um SGA, possibilitando uma
organização desenvolver e implementar uma política ambiental que leva em conta
os requisitos legais referentes aos aspectos ambientais significativos. Emprega-se,
a Norma, aos aspectos ambientais que a organização identifica como aqueles que
possam controlar e aqueles que possam influenciar, não estabelecendo critérios
de desempenho ambiental.
As Normas da séria ISO 14000 foram elaboradas com o objetivo de tratar
exclusivamente do SGA. Já a Norma ISO 14001, baseia-se no ciclo PDCA (plan,
do, check, act), ou seja: planejar, executar, verificar e agir corretivamente.
O ciclo PDCA, conforme figura 2, está dividido em quatro etapas fundamentais:
42
Figura 2 – Ciclo do PDCA
Fonte: MOREIRA, Maria Suely. Estratégia e implantação de sistema de gestão ambiental modelo ISO 14000.
1ª Etapa – Planejamento : inclui o estabelecimento de metas e a definição de
como alcançá-las, ou seja, define o plano que satisfaça as políticas da empresa;
2ª Etapa – Execução: inclui o treinamento necessário, a execução do processo e
a coleta de dados, ou seja, fornece os recursos e mecanismo de apoio;
3ª Etapa – Verificação: pressupõe a comparação dos resultados obtidos com as
metas estabelecidas, ou seja, a organização meda, monitora e avalia seu
desempenho ambiental;
4ª Etapa - Ação corretiva: visa eliminar a causa dos problemas identificados,
ou seja, programa continuamente melhorias para alcançar o desempenho
ambiental total.
MOREIRA (2001, p.88), afirma que: “o ciclo PDCA pode ser utilizado tanto para
manter um estágio alcançado, impedindo o retorno para o patamar inferior, quanto
para promover melhorias significativas, mediante redefinição de metas ao longo do
tempo”. O modelo de sistema de gestão ambiental proposto na Norma deixa claro
o compromisso com a melhoria contínua, conforme podemos verificar na figura 3.
43
Figura 3 – Modelo do Sistema de Gestão Ambiental para esta Norma (Diagrama da fl. vi, NBR ISO 14001:2004)
Fonte: ABNT NBR ISO 14001:2004 – Sistema de Gestão Ambiental – Requisitos com orientação para uso, 2004.
Portanto, observa-se que um SGA é um conjunto de responsabilidades
organizacionais, procedimentos, processos e meios que se adotam para
implantação de uma política ambiental em determinada empresa. Na maioria dos
casos, concentra-se na diminuição de custos e riscos associados a sanções na
reparação econômica de danos ambientais (DIAS, 2006).
44
4. Plano de Implementação do Sistema de Gestão Ambi ental
4.1 – O que é?
Um plano de implantação do SGA necessita ser estruturado com base em uma
abordagem diferenciada, distinguindo empresas de pequeno, médio e grande
porte. Isto é importante, considerando a relativa simplicidade de empresas com
estes perfis, relevando o número de funcionários, o que influencia drasticamente
na quantidade e na diversidade de treinamentos que serão realizados.
Necessita-se estabelecer um período de tempo para a implantação do plano, não
sendo muito longo, evitando que as empresas percam a noção de horizonte e,
nem muito curto, de modo que o sistema não tenha tempo hábil para consolidar a
integração de seus subsistemas.
Entretanto, as características do plano podem variar: em função do ramo de
atividade da empresa, perfil de capacitação de seu quadro funcional, nível de
impacto ambiental do processo, características específicas de seu processo e
existência de passivo ambiental. Num modo geral, segundo SEIFFERT (2002), o
plano de implantação para empresas de pequeno e médio porte pode variar de 8
(oito) a 12 (doze) meses. No entanto, o ritmo de implantação do plano deverá ser
determinado pela própria empresa.
Além disso, na opinião da autora, na elaboração do plano existem três cenários
que devem ser considerados, e que são determinados, em sua maioria, por
necessidades estratégicas da empresa:
1. A empresa já é certificada pela ISO 9001 e deseja receber o da ISO 14001;
2. A empresa deseja implantar as duas normas conjuntamente;
3. A empresa está interessada em implantar apenas a ISO 14001;
Para CLEMENTS apud SEIFFERT (2002, p. 152) um plano de implantação típico
para a ISO 14001 segue os seguintes passos:
45
1. Nomeação de um comitê diretivo para supervisionar a implantação;
2. Diagnóstico da organização;
3. Redação da política do SGA;
4. Elaboração de um plano de ação baseado nas discussões da diretoria;
5. Atribuição de funções específicas a diretores específicos;
6. Elaboração e implementação de um conjunto de projetos com prazos definidos;
7. Revisão ou criação do manual de procedimentos ambientais (nível II) para
refletir os requisitos da norma;
8. Seleção de uma entidade certificadora;
9. Ampliação ou redação das instruções de trabalho necessárias (nível II);
10. Organização de uma auditoria interna de todo o sistema;
11. Preparação para auditoria externa, revisando todos os pontos do SGA;
12. Auditorias externas (adequação e conformidade);
13. Correção das não conformidades identificadas nas auditorias.
De acordo com SEIFFERT (2002, p. 153), após o diagnóstico e durante a
preparação do plano de Implantação do projeto, é preciso ter em mente os tipos
de riscos relacionados à sua finalização, tais como:
1. Riscos do Negócio: são os que fogem ao controle do planejador, como uma
mudança administrativa, inviabilizando a continuidade do projeto, ou a perda de
apoio da Alta Administração, alterações orçamentárias, etc.
2. Riscos Técnicos: Identificam potenciais problemas de projeto, implementação,
interface, verificação e manutenção. Acrescente-se a estes: ambigüidade de
46
especificação, incertezas técnicas, obsolescência técnica e utilização de
"tecnologia de ponta".
3. Riscos de Projeto: Refere-se a problemas orçamentários, de cronograma, de
pessoal, de recursos e de requisitos, bem como ao impacto sobre o projeto.
Vale ressaltar que é necessário analisar os riscos e suas prováveis combinações,
os quais podem apresentar atraso ou encerramento do projeto, por implicarem em
aumento excessivo do custo e degradação do desempenho esperado. Portanto, é
fundamental a elaboração de um “Fluxograma de Implantação a partir do plano de
implantação, como forma de monitorar/gerenciar os riscos” (SEIFFERT, 2002, p.
154). Abaixo estão descritos os passos essenciais para a aplicação desta
ferramenta:
1. Definição de todas as atividades do projeto;
2. Definição da dependência e paralelismo entre elas;
3. Estimar o tempo que cada atividade consome;
4. Estimar os tempos mais cedo de início e término das atividades;
5. Estimar os tempos mais tarde de início e término das atividades;
6. Estimar as folgas existentes;
7. Determinar o caminho crítico das atividades.
O resultado desse processo está representado na figura 4, cujas atividades do
projeto foram descritas. É possível observar que as atividades desenvolvidas em
série e em paralelo devem “receber uma atenção especial em virtude de sua
criticidade para o andamento do projeto” (SEIFFERT, 2002, p. 154).
47
Tabela 2 – Cronograma de Implantação
Fonte: SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. Modelo de Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO14001) segundo a abordagem da Engenharia de Sistemas.
48
Figura 4 – Fluxograma de implantação de um SGA ISO 14001 adequada à
empresas de pequeno porte
Fonte: SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. Modelo de Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO14001) segundo a abordagem da Engenharia de Sistemas.
49
4.2 Requisitos Gerais
Para uma organização elaborar seu plano de implantação de SGA, segundo a
NBR ISO 14001:2004, ela deve estabelecer, documentar, implementar, manter e
continuamente melhorar o seu sistema. Determinar como irá atender os requisitos,
também é fundamental. Além de definir e documentar o escopo de seu SGA.
Os requisitos apresentados pela NBR ISO 14001:2004 são os seguintes:
1- Política Ambiental;
2- Planejamento:
• Aspectos ambientais;
• Requisitos legais e outros requisitos;
• Objetivos e metas;
• Programas de gestão ambiental;
3- Implementação e operação:
• Recursos, funções, responsabilidades e autoridades;
• Competência, treinamento e conscientização;
• Comunicação, Documentação e Controle de documentos;
• Controle operacional;
• Preparação e resposta à emergência;
4- Verificação:
• Monitoramento e medição;
• Avaliação do atendimento a requisitos legais e outros;
• Não-conformidade, ação corretiva e ação preventiva;
• Controle de registros e Auditoria interna;
5- Análise pela Administração.
Os requisitos acima citados serão estudados na continuidade deste capítulo.
50
4.2.1 – Política ambiental
Política ambiental refere-se a uma declaração pública e formal por parte da Alta
Administração de qualquer empresa sobre as intenções e princípios de ações
relacionadas com a proteção do meio ambiente. CALDUCH (s/d, p. 8) considera
que a política ambiental é o núcleo do sistema de gestão ambiental.
Ainda, de acordo com CALDUCH (s/d, p. 8), toda política ambiental deve estar
coerente com as políticas de prevenção de riscos laborais, qualidade e qualquer
outra política estabelecida na organização. Compete à Alta Administração
certificar-se que a política ambiental da empresas considera os seguintes
aspectos:
� A política ambiental está adequada para as atividades, produtos ou
serviços oferecidos pela empresa;
� A política é conhecida, compreendida, desenvolvida e mantida ao dia
por todos os níveis da organização;
� A política é acessível ao público;
� Está dirigida à prevenção e/ou minimização dos impactos ambientais e
ao desenvolvimento sustentável;
� Inclui compromissos de melhoria continua de todos os requisitos das
normas;
� Assume ou pode assumir a adoção e publicação dos objetivos
ambientais da empresa;
De acordo com a NBR ISO 14001:2004, a Alta Administração da empresa é quem
deve definir a política ambiental e assegurar, dentro do escopo elaborado, que os
seguintes itens sejam observados:
a) seja apropriada à natureza, escala e impactos ambientais e suas
atividades, produtos e serviços;
b) comprometimento com a melhoria contínua e preservação de poluição;
c) comprometimento em atender os requisitos legais aplicáveis aos seus
aspectos ambientais;
51
d) fornecer estrutura para o estabelecimento e análise dos objetivos e metas
ambientais;
e) documentar, implementar e manter;
f) comunicar aos funcionários e parceiros;
g) disponibilizar ao público.
Para MOREIRA (2001, p. 92) a política ambiental nada mais é que a carta de
intenções da empresa, podendo ser considerada a bússola do Sistema, contendo
as diretrizes norteadoras, servindo de base para a definição e revisão de objetivos
e metas. É claro, que isto depende da estrutura de decisão característica da
empresa.
A política ambiental deverá adaptar-se à natureza, escala e impactos ambientais
das atividades da empresa, produtos e serviços, na qual a grande questão é:
“Como garantir que ela é apropriada aos impactos das atividades, produtos ou
serviços se o procedimento para esta identificação ainda não foi desenvolvido?”
(VITERBO, 1998, p. 73)
O ideal para responder a questão acima é elaborar, num primeiro momento, uma
minuta da política ambiental e utilizá-la internamente para desenvolver seu
sistema de gestão. Devem-se utilizar representantes de cada setor, deixando claro
que o grupo de colaboradores esteja teoricamente mais capacitado a atender os
requisitos da Norma. O aconselhável é que participem do grupo até 12
colaboradores, sendo que um número maior de participantes poderia causar
dificuldades em obter o consenso comum.
Para DIAS REIS (2002, p. 36), “na elaboração da política ambiental deve haver o
cuidado de mantê-la simples e compreensível a todos os colaboradores, de forma
que possa ser auditável”. Já VITERBO (1998, p. 74) relata o fato de a política
fornecer estrutura, visando à revisão dos objetivos e metas, sendo capaz de gerar
ação e avaliar os indicadores, podendo rever a política e perceber como a
empresa fixou seus objetivos e metas.
52
MOREIRA (2001, p. 97) afirma que precipitar-se ao formalizar o “documento pode
provocar retrabalho mais tarde, pois a disseminação da política requer todo um
trabalho de reprodução gráfica, divulgação e treinamento”.
4.2.2 – Planejamento
A fase de planejamento inclui a identificação e classificação dos aspectos
ambientais, o levantamento de requisitos legais aplicáveis e a definição de
objetivos e metas ambientais.
Para tanto, a recomendação é a de que os empresários façam algumas perguntas
essenciais relativas a seus empreendimentos. Onde estamos agora e para onde
queremos ir?8 Responder a esses questionamentos significa seguir três passos:
- fazer avaliação ambiental inicial;
- obter uma visão clara do futuro;
- estabelecer uma política ambiental.
Ao planejar o Plano de Implantação do SGA, a empresa, segundo a NBR ISO
14001:2004, deverá observar os requisitos abaixo:
a) Aspectos Ambientais;
b) Requisitos legais e outros requisitos;
c) Objetivos e metas;
d) Programas de gestão ambiental;
a) Aspectos ambientais:
VITERBO (1998, p. 76) define aspecto ambiental como sendo “qualquer elemento
das atividades, produtos ou serviços que possam interagir com o meio ambiente”,
ou seja, um potencial impacto ambiental. MOREIRA (2001, p. 99) considera este
8 Dados coletados no site: www.sebrae.com.br . Acessado em março de 2007.
53
requisito fundamental para a elaboração do sistema, uma vez que os demais
requisitos dependerão do que estiver estabelecido nele.
De acordo com a NBR ISO 14001:2004, a empresa deverá estabelecer,
implementar e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais de
suas atividades, produtos ou serviços e determinar quais aspectos terão, ou
poderão ter, impactos significativos ao meio ambiente. Vale ressaltar que a
empresa deverá documentar as informações e mantê-las atualizadas,
assegurando que os dados sejam levados em consideração no estabelecimento,
implementação e manutenção do seu SGA.
Saber diferenciar aspectos de impactos é de suma importância para a empresa
durante a fase de planejamento do seu SGA. Para HARRINGTON (2001, p. 89),
“aspecto é uma interação com o ambiente, e um impacto é o resultado dessa
interação”. No entanto, em outras palavras, o aspecto é a causa e o impacto é o
efeito.
A importância, para a empresa, em saber determinar e gerenciar os aspectos
permitirá que ela possa classificá-los em: “os que possuem relação direta com a
legislação e regulamentos aplicáveis e os não regulamentáveis” (VITERBO 1998,
p. 76).
A NBR ISO 14001:2004 recomenda que o processo de identificação e avaliação
dos aspectos ambientais leve em consideração o local de atividade, os custos e o
tempo para realizar análise e a disponibilidade dos dados. Contudo, é importante
observar que tal procedimento não deve alterar ou aumentar, necessariamente, as
obrigações da organização.
b) Requisitos legais e outros requisitos:
DIAS REIS (2006, p. 38) afirma que “a organização deve estabelecer e manter
procedimentos para identificar a ter acesso à legislação e outros requisitos por ela
subscritos, aplicáveis aos aspectos ambientais de suas atividades, produtos e
serviços”.
54
O atendimento a legislação e normas ambientais aplicáveis é um dos
compromissos principais na política ambiental da empresa, bem como os
requisitos por ela subscritos. Saber identificar os requisitos implica em:
• Possuir acesso contínuo à legislação ambiental e outros requisitos;
• Obter mecanismos para:
o Identificar e interpretar os documentos legais;
o Verificar o grau de interferência de seus aspectos ambientais;
o Extrair requisitos básicos;
o Garantir seu atendimento;
o Gerenciar a informação.
A NBR ISO 14001:2004 identifica os requisitos legais como sendo os aplicáveis
aos aspectos ambientais, são eles:
• Requisitos legais nacionais e internacionais;
• Requisitos legais estaduais/municipais/departamentais;
• Requisitos legais do governo local.
A Norma cita ainda outros requisitos que uma organização poderá subscrever, se
aplicáveis. São eles:
• Acordos com entidades públicas, clientes, fornecedores, comunidade e
ONG’s;
• Princípios voluntários;
• Etiquetagem ambiental voluntária;
• Requisitos corporativos.
MOREIRA (2001, p. 141) apresenta outros requisitos que poderão ser
considerados pela empresa em seu SGA, que são:
• Regulamentos e Normas Técnicas relacionadas com a questão ambiental,
dando preferência às emitidas pela ABNT – Associação Brasileira de
Normas Técnicas;
55
• Normas emitidas pelo Ministério do Trabalho, preferencialmente as que
tratam de saúde ocupacional e segurança no trabalho;
• Normas direcionadas para aspectos ambientais específicos da empresa,
como por exemplo, material radioativo;
Entende-se, então, que o SGA deverá demonstrar com clareza seu compromisso
em atendimento à legislação, lembrando que a não execução de alguns dos
requisitos propostos pela empresa, deverá ser identificado e justificado junto às
autoridades ambientais. Vale lembrar que o SGA não exige que a empresa tenha
um nível de desempenho determinado, mas sim que exige uma melhoria contínua.
c) Objetivos e metas
Um sistema de Gestão Ambiental além de fornecer as medidas necessárias para o
cumprimento do regulamento da legislação existente, deve definir os objetivos e
os compromissos destinados à melhoria continua do próprio SGA. De acordo com
CALDUCH (S/D, p. 9), os principais objetivos de um SGA são:
I. Garantir a aplicação da legislação existente com relação à preservação
ambiental,
II. Fixar e promulgar as políticas e os procedimentos operativos internos
necessários para atingir os objetivos da organização com relação à
preservação do meio ambiente.
III. Identificar, interpretar, valorizar e prevenir os impactos que as atividades
do dia-a-dia da organização produzem sobre o meio ambiente, analisando
e administrando os riscos nos quais a organização possa vir a ter como
conseqüência da suas atividades,
IV. Estimar o volume de recursos e a qualificação do pessoal apropriado em
função do nível dos riscos existentes e os objetivos da empresa com
relação à preservação do meio ambiente.
Estes objetivos devem ser coerentes com a política ambiental definida pela
empresa, além disso, é necessário levar em consideração os seguintes aspectos:
56
• Impactos do meio ambiente,
• política econômica e financeira,
• Política Comercial
• tecnologias disponíveis
Os objetivos e metas de um SGA deverão ser especificados e mensurados
continuamente, o não estabelecimento tornará mais difícil que alguma melhoria
venha ser alcançada. Além disso, recomenda-se que os objetivos e as metas
ambientais deverão estar alinhados com as metas anuais do negócio,
considerando que a empresa elabore um planejamento de curto e longo prazo.
HARRINGTON (2001, p. 95) explica que “um objetivo é um alvo ambiental de nível
elevado. Uma meta é um requisito ambiental mensurável. Pode ser necessária
mais de uma meta para alcançar um único objetivo”.
Para MOREIRA (2001, p. 151), o objetivo ambiental é “um propósito ambiental
global, decorrente da política ambiental que uma organização se propõe a atingir,
sendo quantificado sempre que exeqüível”. Já a meta ambiental, é entendida pela
autora como um “requisito de desempenho detalhado, quantificado sempre que
exeqüível, aplicável à organização ou partes dela, resultante dos objetivos
ambientais e que necessita ser estabelecido e atendido para que tais objetivos
sejam atingidos”.
Para garantir que a empresa leve em conta os aspectos e impactos ambientais na
determinação de seus objetivos e metas, recomenda-se, para a Alta
Administração, identificá-los e fixá-los, considerando os de maior gravidade ou os
de cumprimento à legislação ambiental. VITERBO (1998, p. 92) defende que ao
identificar e fixar os objetivos e metas, a empresa deverá limitar o orçamento para
“que não coloque em risco a saúde financeira da organização”.
57
d) Programa de gestão ambiental
Programa de gestão ambiental é o plano de ação detalhado, na qual as metas são
estabelecidas e os meios (recursos) definidos para se atingirem tais metas, os
responsáveis pelas ações e os prazos.
A empresa deverá estabelecer e manter seus programas para atingir os objetivos
e metas traçados anteriormente no planejamento do Plano de Ação. Para isso,
deve incluir, segundo a NBR, os seguintes itens: - a atribuição de responsabilidade
em cada função e nível pertinente da organização, visando atingir os objetivos e
metas; - os meios e o prazo dentro em que devem ser atingidos.
HARRINGTON (2001, p. 97) alerta que, para projetos relativos a novos
empreendimentos e atividades, produtos ou serviços novos ou modificados, o
programa deve ser corrigido para assegurar que a Gestão Ambiental se aplique a
esses planos.
“Programa de Gestão Ambiental deve ser dinâmico e passível de correção sempre que necessário. Se tiver ocorrido uma reestruturação, ou modificações em produtos, atividades e serviços, ou outra coisa que possa afetar os objetivos e metas, o programa deve ser ajustado para refletir essas alterações” (HARRINGTON, 2001, p. 97).
Para a implantação dos requisitos, é necessário seguir os seguintes passos:
- desdobrar os objetivos e metas em programas;
- estimar prazos e custos;
- obter aprovação da autoridade competente, providenciando os recursos no
orçamento;
- definir responsabilidades pelas ações específicas;
- documentar os programas;
- acompanhar o andamento dos programas;
- incluir novos programas;
- manter o documento atualizado;
- registrar em ata eventuais atrasos ou alterações significativas.
58
4.2.3 - Implementação e Operação
A fase de implementação e operação do SGA está centrada nas diretrizes
expressas na política ambiental e especificada através dos objetivos e metas. Esta
etapa compreende os seguintes requisitos:
a) Estrutura e responsabilidades;
b) Competência, treinamento e conscientização;
c) Comunicação, Documentação e Controle de documentos;
d) Controle operacional;
e) Preparação e resposta à emergência;
a) Estrutura e Responsabilidade
A estrutura e as responsabilidades relacionadas ao sistema de gestão ambiental
encontram-se diretamente ligadas à implementação e operacionalização do
sistema. Depois de estabelecidas, tornam-se possíveis o desenvolvimento e a
continuidade. Para SEIFFERT (2002, p. 215), decorre do fato de que passa haver
uma definição de atribuições permanentes para os inúmeros sujeitos envolvidos,
assim como a coordenação dos esforços frente à estrutura desenvolvida para a
gestão ambiental na organização. Os recursos para a implementação e o controle
do SGA serão fornecidos pela administração, tanto os recursos humanos, quanto
qualificação específica, tecnologias e recursos financeiros.
Para CLEMENTS apud SEIFFERT (2002, p. 218), um dos passos mais difíceis na
implantação do sistema é convencer a Alta Administração da empresa da
necessidade de um SGA. Para tanto, podem ser utilizadas as seguintes
argumentações:
1. Exigência dos clientes: satisfação dos clientes, um dos principais objetivos da
organização;
2. A implantação representa uma vantagem de marketing;
59
3. A ISO 14001 ajudará a empresa a funcionar melhor e reduzir as preocupações
durante as auditorias ambientais.
HARRINGTON (2001, p. 99) defende a idéia de que a Alta Administração da
empresa deve nomear um representante específico para executar as funções,
responsabilidades e ter autoridade independente de outras atribuições. Portanto, o
representante, deverá assegurar que os requisitos do SGA estejam estabelecidos,
implementados e mantidos de acordo com a Norma da ISO 14001:2004, além de
relatar o desempenho do SGA, para análise crítica, buscando o aprimoramento do
sistema.
b) Competência, treinamento e conscientização
A NBR ISO 14001:2004 explica que a organização deve identificar a
conscientização, o conhecimento, a compreensão e as habilidades dos
funcionários, a fim de que estejam aptos a executar as tarefas determinadas, ou
seja, a organização deverá identificar a necessidade de treinamento dos
colaboradores. Estabelecer e manter procedimentos que façam com que seus
funcionários estejam conscientes sobre:
• Importância de conformidade com a política ambiental da empresa;
• Os impactos ambientais significativos que suas atividades possam causar
ao meio ambiente, bem como os benefícios resultantes da melhoria de seu
desempenho;
• Funções e responsabilidades em atingir a conformidade com a política
ambiental;
• Conseqüências da não execução correta dos procedimentos operacionais
especificados.
O treinamento visa assegurar tanto a conscientização das questões ambientais
quanto a competência para realizar as tarefas necessárias para a sua
administração. A identificação das necessidades de treinamento está sujeita à
compreensão do papel exercido por uma pessoa para alcançar objetivos e metas
ambientais e no SGA em geral.
60
c) Comunicação, Documentação e Controle de document os
De acordo com a NBR ISO 14001:2004, a comunicação interna é importante, pois
propõe assegurar a eficácia da implementação do SGA. Os métodos de
comunicação interna podem compreender reuniões regulares de grupo de
trabalho, boletins informativos, quadro de aviso e intranet. A organização pode
esquematizar a sua comunicação, levando em consideração as decisões sobre
grupos-alvo pertinentes, as mensagens e temas adequados e a escolha dos meios
de comunicação.
Com relação à comunicação externa, as organizações devem levar em
consideração os pontos de vista e as necessidades de todas as partes
interessadas. Os métodos para realizar tal comunicação podem incluir relatórios
anuais, boletins informativos, páginas de internet e reuniões da comunidade.
Portanto, a função principal da comunicação, seja ela interna ou externa, “é definir
os fluxos de informações. Isso significa não somente o destino da informação, mas
também o método de comunicação que deve ser utilizado” (HARRINGTON, 2001,
p. 103).
Já em relação à documentação, a norma sugere que haja um detalhamento que
seja suficiente para descrever os elementos principais do SGA e sua interação.
Deve-se fornecer também orientação sobre fontes de informação, detalhando o
funcionamento das partes específicas.
“A ISO 14001 não exige que a documentação esteja sob a forma de um manual
integrado” (HARRINGTON, 2001, p. 106). Ela pode ser ou estar integrada a outros
sistemas de gestão da informação dentro da empresa por meio de referência a
banco de dados e sistemas pré-existentes.
61
Figura 5 – Hierarquia da Documentação
Fonte: HARRINGTON, H. James. Implementação da ISO 14000 - como atualizar o sistema de gestão ambiental com eficácia.
No que diz respeito ao controle de documentos, a intenção é fazer com que a
organização estabeleça e mantenha procedimentos para o controle de todos os
documentos exigidos pela Norma a fim de assegurar que:
- possam ser localizados;
- Sejam periodicamente analisados, revisados e aprovados quanto à sua
adequação;
- as versões atualizadas estejam disponíveis em todos os locais onde são
executadas operações essenciais;
- documentos que não possuem interesse imediato para a organização
deverão ser retirados de todos os pontos de emissão e uso;
- os documentos obsoletos deverão ser adequadamente identificados,
visando a preservação de conhecimento.
62
A documentação deverá ser legível, datada e identificada, mantida de forma
organizada e retida por tempo especificado. O controle eficaz desses documentos
torna o processo de auditoria ordenado e eficiente. Vale lembrar que a circulação
desses documentos deverá ser controlada, visto que devem ser periodicamente
analisados e revisados. O procedimento de controle identifica a freqüência de
análise para adequação contínua, datando a revisão seguinte para que todos os
usuários tenham conhecimento.
A forma mais comum de controlar a documentação é por meio de uma lista
mestra, na qual estão relacionados todos os documentos que fazem parte do
sistema integrado de gestão (VITERBO, 1998, p. 113). O objetivo é informar quais
os documentos fazem parte do sistema, em que parte da revisão se encontram,
quais os setores estão utilizando e quantas cópias possui cada setor.
d) Controle operacional
A NBR ISO 14001:2004 recomenda avaliar quais as operações estão associadas
aos aspectos ambientais, identificando e assegurando que elas sejam conduzidas
de modo a controlar ou reduzir os impactos ambientais para que, desta forma,
atendam os requisitos de sua política ambiental e atinjam seus objetivos e metas.
HARRINGTON (2001, p. 109, 110) entende que a obrigação da organização é
planejar o controle operacional, incluindo a manutenção das atividades, de forma a
assegurar que sejam executadas sob condições específicas por meio:
- do estabelecimento e manutenção de procedimentos documentados, para
abranger situações na qual sua ausência possa acarretar desvios em relação
à política ambiental;
- de estipulação de critérios operacionais nos procedimentos;
- do estabelecimento e manutenção de procedimentos relativos aos aspectos
ambientais de bens e serviços utilizados pela organização, e da comunicação
dos procedimentos e requisitos a serem atendidos por fornecedores e
contratantes.
63
VITERBO (1998, p. 114) sugere que o controle operacional seja iniciado com as
atividades já padronizadas, incluindo parâmetros de controle necessários para
assegurar a conformidade ambiental. Em suma, o controle operacional implica em
gerenciar resíduos, efluentes líquidos e da qualidade da água, de emissões
atmosféricas e da qualidade do ar, aspectos significativos identificados,
manutenção, atuação junto a fornecedores e otimização do uso de recursos.
e) Preparação e resposta à emergência
Sobre este item, o texto da norma indica que a organização deve estabelecer e
manter procedimentos para identificar o potencial e atender a acidentes e
situações de emergência, bem como prevenir e diminuir os impactos ambientais
que possam estar associados a eles. É função ainda da empresa analisar e
revisar, quando necessário, seus procedimentos de preparação e atendimento à
emergências, preferencialmente após ocorrência de acidentes ou situações de
emergências. A organização deve também testar periodicamente tais
procedimentos, quando exeqüíveis.
Segundo DIAS REIS (2002, p. 79), os procedimentos de um plano de emergência
devem:
- ser descritos em função de cada tipo de evento;
- considerar o inter-relacionamento dos recursos disponíveis;
- considerar as formas de racionamento de outras atividades;
- considerar os incidentes que surjam ou que possam surgir como
conseqüência de: i) condições anormais de operação e ii) acidentes e
situações potenciais de emergência.
64
4.2.4 – Verificação e Ação Corretiva
De acordo com SEIFFERT (2002, p. 295) os subsistemas da ISO 14001 devem
assegurar os padrões de desempenho ambiental que foram estabelecidos e
documentados. Com exceção do subsistema de monitoramento e medição, os
requisitos desses subsistemas são similares a ISO 9001. As principais
adequações de tais procedimentos envolveram principalmente a inserção da
variável ambiental em seu contexto.
Em princípio, o SGA, em conformidade com a ISO 14001:2004, divide-se em:
a) Monitoramento e medição, avaliação do atendimento a requisitos legais;
b) Não-conformidade, ação corretiva e ação preventiva;
c) Controle de registros e Auditoria interna;
a) Monitoramento e medição, avaliação do atendiment o a requisitos
legais
A NBR ISO 14001:2004 esclarece que a organização deve estabelecer e manter
procedimentos documentados para monitorar e medir as características principais
de suas operações e atividades que possam ter um impacto significativo sobre o
meio ambiente.
Em outras palavras, segundo MOREIRA (2001, p. 229), “os aspectos ambientais
significativos devem ter suas características medidas periodicamente e seus
resultados comparados com os padrões legais aplicáveis”. O monitoramento e a
medição são requisitos contínuos e abrangentes. HARRINGTON (2001, p. 109,
110) afirma que a organização deve “reconhecer que um sistema eficiente de
monitoramento e medição também depende do emprego de indicadores de
desempenho úteis e confiáveis”.
Em relação aos requisitos legais, a ISO 14001:2004 recomenda que a empresa
seja capaz de demonstrar que esteja apta a fazer a avaliação do atendimento aos
requisitos identificados, incluindo autorizações ou licenças aplicáveis. A
65
organização deverá ser capaz também de demonstrar que ela tenha avaliado o
atendimento a outros requisitos subscritos identificados.
b) Não-conformidade 9, ação corretiva e ação preventiva
Fazem parte das atribuições de um dos subsistemas do SGA operar sobre as não-
conformidades e realizar ações corretivas ou preventivas. “Também devem ser
implementadas e registradas quaisquer mudanças dos procedimentos
documentados, que resultaram de ações corretivas ou preventivas” (SEIFFERT,
2002, p. 299).
Esse elemento da norma é crítico para o contínuo desenvolvimento do SGA e de
seu desempenho ambiental. O objetivo é analisar por que deu errado e realizar
alterações para que haja menos probabilidade de dar errado novamente.
As não-conformidades identificadas no SGA devem ser analisadas, de maneira
que detectem eventuais tendências do sistema. Antecipar tal identificação destas
tendências permitirá implantar ações preventivas que impeçam a ocorrência de
problemas futuros.
c) Controle de registros e Auditoria interna
A organização deve estabelecer e manter, segundo a norma, procedimentos de
identificação, de armazenamento, de proteção, de recuperação, de retenção e de
descarte. Os registros de treinamento e as conclusões de auditorias e análises
críticas deverão estar incluídos.
“Os registros ambientais devem ser legíveis e identificáveis, permitindo rastrear a atividade, produto ou serviço envolvido. Os registros ambientais devem ser arquivados e mantidos de forma a permitir sua pronta recuperação, sendo protegidos contra avarias, deterioração ou perda. O período de retenção deve ser estabelecido e registrado” (HARRINGTON, 2001, p. 116).
O gerenciamento adequado dos registros, assim como seu controle, é parte
essencial do SGA. Um auditor irá verificar se: os documentos necessários
9 Uma não-conformidade é um desvio a uma dada especificação ou a um critério estabelecido para o SGA. Ela também pode ser um desvio a uma determinação expressa pela Norma ISO 14001 (requisito).
66
existem, podem ser facilmente lidos e entendidos, se a mensagem é clara, podem
ser encontrados quando necessário e se estão protegidos contra danos ou perda.
Sobre auditoria interna, a organização deve estabelecer e manter um programa e
procedimentos para auditorias periódicas do seu SGA, realizando-as da seguinte
forma:
• Determinar se o SGA:
o está em conformidade com as planejadas para a gestão ambiental;
o se está implantando e sendo mantido.
• Fornecer informações, à Alta Administração, dos resultados das
auditorias.
Portanto, a auditoria é um importante instrumento de verificação e manutenção do
sistema como um todo e constitui um passo fundamental para as melhorias. O
processo está ilustrado na figura a seguir:
Figura 6 – Processo de Auditoria
Fonte: VITERBO JUNIOR, Enio. Sistema integrado de gestão ambiental - como implementar um sistema de gestão que atenda à norma NBR ISO 14001, a partir de um sistema baseado na norma ISO 9000.
“O plano anual de auditorias, mesmo em um sistema integrado, normalmente é
desenvolvido em virtude do número de não conformidades detectadas na auditoria
67
anterior e da eficiência das ações corretivas tomadas” (SEIFFERT, 2002, p. 309).
Sobre o período em que as auditorias devem acontecer, fica a cargo de cada
organização.
4.2.5 – Análise Crítica
A norma estabelece que a organização deve analisar o SGA, em intervalos
planejados, para assegurar sua contínua adequação, pertinência e eficácia. Essa
análise deve incluir a avaliação de oportunidades de melhoria e a necessidade de
alterações no SGA, inclusive da política ambiental e dos objetivos e metas. Os
registros dessas análises deverão ser mantidos pela empresa.
“Uma análise crítica deve considerar a necessidade de mudanças na política ambiental, seus objetivos e os componentes relacionados do SGA. Com base nos resultados levantados pelo subsistema de auditorias, além de mudanças contextuais, considerando sempre o comprometimento com a melhoria contínua” (SEIFFERT, 2002, p. 317).
Apesar de a análise crítica ser de responsabilidade da Alta Administração, ela
deve envolver também os demais níveis administrativos, desde que possuam
responsabilidade direta pelos elementos a serem julgados. O anexo da 14001
recomenda que a análise crítica inclua os seguintes itens: o resultado das
auditorias internas; nível de atendimento aos objetivos e metas; adequação do
SGA em relação a mudanças de condições e preocupações das partes
interessadas.
Após cada análise crítica, a organização deve avaliar a necessidade de efetuar
alterações em sua política ambiental. Caso haja realmente necessidade de fazer
alguma alteração, esta deve ser registrada. VITERBO (1998, p. 131) afirma que a
efetuação das análises pode ser proporcionada de diversas formas, como por
exemplo, por meio de “atas de reunião, de formulários-padrão preenchidos, de
planos de ação com as deliberações da Alta Administração ou outro registro que
descreva a análise efetuada e as conclusões”.
Com base nas informações descritas acima, o próximo capítulo trará um plano de
ação para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental direcionado à
68
empresa Via do Mar Pescados Ltda, localizada no município de Vila Velha,
Espírito Santo.
69
5. Proposta de Plano de Implementação do Sistema de Gestão Ambiental para Via do Mar Pescados Ltda. 5.1 – Breve Histórico da empresa
A empresa Via do Mar Pescados Ltda foi idealizada por dois associados da
Cooperativa de Pescadores da Prainha, em Vila Velha. Eles viram no mercado
pesqueiro uma grande oportunidade de constituir um empreendimento e
fundaram, assim, a empresa especializada em pescados. Atuando no mercado
capixaba há seis anos, a Via do Mar Pescados Ltda começou suas atividades
distribuindo pescados diretamente dos barcos para bares e restaurantes da
região.
A qualidade dos produtos permitiu que a Via do Mar ampliasse sua estrutura,
começando a atuar no mercado de atacado de pescados. Tal crescimento
proporcionou a comercialização de grandes volumes de seu produto, não só no
Espírito Santo como também em outros Estados, como São Paulo.
Devido a esse crescimento, a empresa constituiu sua sede no bairro de Jardim
Camburi, em Vitória/ES, e com o passar dos anos, a Via do Mar passou a utilizar
uma câmara frigorífica, localizada no bairro Vale Encantado, em Vila Velha/ES,
visando atender uma fatia maior do mercado.
Em 2004, decidiu então conquistar as redes de supermercados. Um passo
considerado ousado, pois precisava quebrar alguns paradigmas do mercado. Um
deles foi a resistência por parte dos supermercadistas com relação à
comercialização de pescados congelados e, principalmente, pescados frescos. A
partir deste momento, a empresa passou a investir na contratação de uma equipe
com mão-de-obra qualificada para trabalhar o produto, reduzindo assim as perdas
e maximizando os lucros.
Atualmente, a Via do Mar possui 60 funcionários que trabalham na área
administrativa e no tratamento dos pescados (congelados e frescos) preparando-
os para a comercialização. Entretanto, a empresa pretende aumentar o número de
70
funcionários, pois há planos de ampliação de suas atividades, mediante a
aquisição de um container refrigerado e novos caminhões, além da implantação
de uma indústria de beneficiamento dos pescados que, na visão da organização,
facilitará a comercialização dos produtos, principalmente camarão e peixes
congelados (inteiro, em posta e filé).
A Via do Mar Pescados Ltda atualmente atende o mercado da Grande Vitória,
tendo como principais clientes redes de supermercados como EPA, Casagrande,
Extrabom e Carrefour, além de atender os mercados de São Paulo e Natal. Sua
participação no mercado local é de aproximadamente 80% para produtos
congelados e 100% para produtos frescos, referente aos supermercados que
comercializam esse tipo de produto. Além disso, acumula 2% do mercado
nacional, correspondente ao fornecimento para a rede Carrefour.
5.2 – Considerações sobre a Gestão Ambiental da emp resa
Atualmente, a empresa não tem uma estrutura organizacional voltada para a
Gestão Ambiental, entretanto, existe uma preocupação por parte dela para
adequar-se.
De acordo com a gerente de recursos humanos, Kelli Dettmann, a empresa
necessita adaptar-se a uma cultura ambiental, implantando um programa de
Educação Ambiental, com o objetivo de mostrar sua importância na
conscientização dos funcionários. Entretanto, a Alta Administração ainda não está
voltada para essa vertente. Ela afirma ainda que seria interessante que a
empresa proporcionasse treinamentos aos funcionários como, por exemplo, o
manuseio do pescado e o descarte dos resíduos gerados, a fim de melhorar as
condições de trabalho.
Outro ponto citado pela gerente foi o destino dado aos resíduos gerados na
limpeza dos pescados, que são enviados para uma fábrica de ração no município
de Cariacica, no estado do Espírito Santo. Já o resíduo líquido, gerado em toda a
empresa é despejado na rede de esgoto, medida foi tomada em virtude do
71
aumento do índice de insetos e do mau cheiro, o que gerou reclamações
permanentes da comunidade, bem como a fiscalização constante dos órgãos
gestores.
Quanto à segurança dos funcionários ao manusear os produtos, a gerente afirma
que, anteriormente, o índice de acidentes com facas e espinhas de peixe era
recorrente. Hoje em dia, prevendo a diminuição de tais acidentes, a empresa
passou a utilizar Equipamento de Proteção Individual (EPI) obrigatórios no
beneficiamento dos pescados, conseguindo diminuir em até 75% os casos.
Na parte administrativa, segundo Dettmann, a empresa elaborou um processo de
profissionalização que estava baseado em: (1) aperfeiçoar os canais de venda; (2)
controlar as despesas e (3) desenvolver o fator humano. No primeiro objetivo, a
empresa espera atuar em todos os segmentos possíveis de forma conjunta,
competitiva e lucrativa, focando:
• o mercado externo mediante a exportação;
• a criação de uma rede de vendedores varejistas no Espírito Santo;
• criação de unidade de negócios em São Paulo;
• ampliação das vendas para grandes redes de Minas Gerais e Rio de
Janeiro;
• vendas em atacado para distribuidores no Norte e Nordeste do país.
Quanto ao controle das despesas, essas passaram a ser classificadas e
aprovadas antes de serem efetivadas, analisando e comparando mensalmente a
sua evolução. Esse controle permitirá a integração da empresa a um Sistema de
Gestão, que possibilitará um controle total de todas as unidades que vierem, um
dia, a existir.
No que diz respeito ao desenvolvimento humano, a empresa pretende
profissionalizar as funções-chave, disseminando uma cultura de trabalho e
buscando investir e qualificar seus funcionários.
72
Com base nas informações cedidas pela gerente de Recursos Humanos, é
possível perceber que a empresa Via do Mar Pescados Ltda necessita, em
primeiro lugar, estabelecer e definir suas políticas para realizar um sistema de
gestão da qualidade e, posteriormente, implantar um sistema de gestão ambiental.
No item a seguir, abordar-se-á o sistema de gestão ambiental na estrutura da
empresa, permitindo analisar alguns pontos da ISO 14000, bem como apresentar
uma proposta de modelo para implantação de um SGA, utilizando as normas da
ISO.
5.3 – Proposta de Modelo
São grandes os problemas que as empresas enfrentam quando decidem implantar
um SGA. Considerando que uma organização é um conjunto de sistemas e estes,
por sua vez, estão formados por um conjunto de subsistemas, na opinião de
ANDRADE (2000, p. 89), esta subdivisão das partes resultará em divergências
operacionais na implementação de um SGA, minimizando assim o resultado dos
esforços. Para o autor, torna-se necessário procurar adotar uma visão abrangente,
pois isto possibilitará à organização analisar as relações de causa e feito, dentro e
fora dela.
“A organização deve ser visualizada como um conjunto de partes em constante interação, constituindo-se em um todo orientado para determinados fins, em permanente relação de interdependência com o ambiente externo” (ANDRADE, 2000, p. 90).
Ao elaborar um modelo de gestão voltado para o meio ambiente, a organização
deverá observar alguns fatores que delinearão sua estratégia. São eles: análise da
missão e dos aspectos essenciais do mercado, os concorrentes, os fornecedores,
os órgãos normatizadores, seus processos produtivos e, principalmente, seus
produtos (TACHIZAWA, 2004, p. 111).
73
A fim de nortear o modelo de gestão proposto para a empresa Via do Mar
Pescados Ltda, o item a seguir apresentará um esboço da política ambiental além
de determinar os requisitos, anteriormente, apresentados pela norma ISO 14000.
5.3.1 - Política Ambiental
Dentro do que se refere à política ambiental, a Via do Mar Pescados Ltda ainda
está numa fase embrionária no que diz respeito a necessidade de elaborar tal
política, levando-se em conta que retira do meio ambiente sua matéria-prima. Para
desenvolver uma política ambiental na empresa, a Alta Administração deverá
planejar os objetivos e as metas, bem como prazos para atingi-los.
A empresa tem consciência da importância e do comprometimento com a proteção
do ambiente, com a saúde e a segurança de seus empregados, dos seus clientes
e da comunidade. No entanto, dado o alto custo para implantação de um SGA e a
falta de pressão por parte de fornecedores e consumidores, a Via do Mar
Pescados Ltda mantêm-se passiva em relação à criação de uma política ambiental
consistente.
Com base nas observações de CALDUCH (s/d, p. 8), inicialmente para elaborar
uma política ambiental, a Via do Mar deverá considerar os fatores discriminados a
seguir. São eles:
I - adotar um Programa de Educação Ambiental para conscientização dos
funcionários na importância da preservação do meio ambiente, treinando e
capacitando-os com procedimentos operacionais que visam à redução dos
impactos ambientais causados, diminuição no desperdício de matéria-prima e
coleta seletiva dos resíduos, obtendo a colaboração de todos;
II - adaptar sua política às necessidades da comunidade do entorno e torná-
la pública, conduzindo-a de maneira para proteger a saúde das pessoas e
proteger o meio ambiente local;
74
III - atender a legislação e normas ambientais vigentes, obtendo licença
ambiental para comercialização do produto, além de descrever todos os
elementos principais relacionados e, tornando-os acessíveis a todos os setores
essenciais da empresa, analisando-os periodicamente;
IV - utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), Equipamentos
de Proteção Coletiva (EPC’s) e ferramentas adequados para a execução das
atividades operacionais da empresa, principalmente na área de produção,
preservando a saúde dos funcionários;
V - gerenciar de maneira correta os resíduos gerados nas atividades da
empresa, desde sua origem até seu destino final, dedicando-se a reciclar e
reutilizá-los, principalmente os do setor de produção e administrativo;
VI - analisar se os procedimentos estão de acordo com o proposto,
buscando atualizá-los e preocupando-se com a melhoria contínua, realizando
auditoria interna e externa.
Ao assegurar a concretização das ações voltadas à proteção do meio-ambiente,
avaliando periodicamente e garantindo a adequação desta política aos impactos
ambientais das atividades, produtos e serviços pertinentes, a política ambiental
proposta para empresa Via do Mar Pescados Ltda deverá estar sustentada nos
seguintes passos:
1º - Prevenção
Conduzir as atividades da Empresa, levando em consideração o conceito de
prevenção, não adquirindo produtos (pescados e mariscos) em período de defeso,
nem fora dos padrões exigidos por lei. Capacitar os funcionários para que
identifiquem produtos em conformidade.
2º - Educação
Treinar, conscientizar e motivar os colaboradores para conduzir as atividades de
maneira ambientalmente responsável, através de palestras, simulados e um
75
programa de educação ambiental, além de incentivá-los com prêmios por
atingirem as metas ambientais.
3º - Desenvolvimento
Desenvolver processos direcionados ao desempenho ambiental da empresa, tais
como: educação ambiental, treinamento, cursos, palestras, simulados e
emergência, enfatizando o conceito de melhoria contínua, utilizando as auditorias
internas e externas e reuniões periódicas para identificar não-conformidades e
elaborar ações corretivas ou preventivas, de acordo com a necessidade.
4º - Recursos Naturais
Otimizar a captura do pescado através de mecanismos de uso eficiente, treinando
e capacitando os proprietários de barcos, incentivando a não utilização de redes
da arrasto e a pesca predatória e destinar corretamente os resíduos gerados.
5º - Inovação
Incorporar inovações tecnológicas viáveis que reduzam os impactos ambientais
significativos, adaptando exaustores nas câmaras frigoríficas, na intenção de
reduzir o mau cheiro, maquinário para embalar os produtos congelados, reduzindo
a emissão de resíduos sólidos, bem como evitando o desperdício de material.
6º - Transparência
Manter um diálogo aberto com as partes interessadas para troca de informações,
reconhecendo e respondendo as demandas pertinentes em relação aos aspectos
ambientais significativos da empresa, utilizando folder, cartazes, sites, reuniões
com a comunidade, palestras e audiências públicas para as tomadas de decisões
de interesse da empresa quanto da comunidade.
7º - Atendimento Legal
Buscar o atendimento à legislação e às normas ambientais aplicáveis a empresa,
ministrando uma atualização periódica da legislação e das normas vigente e
realização de auditorias identificando falhas na execução dos processos
relacionados à legislação e as normas.
76
5.3.2 – Planejamento
Ao planejar seu SGA, a empresa identificará e classificará os aspectos ambientais,
fará o levantamento de requisitos legais aplicáveis e definirá os objetivos e metas
ambientais.
É fundamental para a empresa analisar sua atuação no mercado e como pretende
estar após a implantação de seu SGA. Para tanto, se faz necessário levantar e
analisar os seguintes itens conforme a ISO 14001:2004:
a) Aspectos ambientais:
No capítulo anterior, definiu-se aspecto ambiental como sendo um potencial
impacto ambiental, oriundo de qualquer elemento das atividades, produtos ou
serviços da empresa, que possa interagir com o meio ambiente. Para uma
empresa do ramo pesqueiro como a Via do Mar, os aspectos ambientais estão
bem definidos, desde a obtenção da matéria-prima até o final do processo de
produção e descarte de seus resíduos.
A identificação de tais aspectos ambientais, num primeiro momento, será
considerada quanto a sua temporalidade, que indicará o período de ocorrência do
processo, atividade ou operação causadora do impacto ambiental. No entanto,
pode-se dividir essa temporalidade em três períodos, que são:
I – Passado: identificado no presente mais que foi causado por atividade
desenvolvida no passado. Um exemplo claro é a diminuição dos cardumes de
peixes de várias espécies, ocorrido pela falta de fiscalização. Não havendo na
época preocupação com o defeso para reprodução e a captura desordenada de
peixes fora da fase adulta.
II – Atual: decorrente de atividade atual. Um exemplo que afetaria
diretamente a atuação da empresa no mercado seria a aquisição de peixes
oriundos de barcos pesqueiros sem licença, como também não respeitar a época
de defeso das espécies. Além disso, o descarte dos resíduos gerados em locais
impróprios.
77
III – Futuro: decorrente de futuras alterações de processo, aquisições de
novos equipamentos, introdução de novas tecnologias. No caso da Via do Mar,
tais aspectos então relacionados à ampliação da empresa, que segundo
informado pela Dettmann, pretende instalar uma indústria para beneficiamento do
pescado, fornecendo produtos manufaturados. Sendo que tal fato acarretará em
uma nova fonte de resíduo (embalagem), pois passará a comercializar produtos
congelados.
Após identificação dos aspectos ambientais, bem como seus respectivos
impactos, requer da empresa sua continuidade, não podendo ser descuidada
pelos agentes envolvidos no gerenciamento ambiental. Desta forma, aspectos
ambientais assumem um importante papel no SGA, fornecendo as informações
necessárias para desempenhar o sistema, distinguindo processos, produtos e
serviços envolvidos na questão ambiental e suas conseqüências, ou prováveis
conseqüências deste envolvimento.
O nível de compreensão dos impactos ambientais associados à empresa é
reduzido e menos complexo quando considerado que estão associados
basicamente a efluentes hídricos, resíduos sólidos, emissões atmosféricas e
consumo de recursos naturais. Será fundamental identificá-los observando se
realmente apresentam um impacto de abrangência ambiental e não contextos
associados à saúde e segurança ocupacional.
Neste caso, considerar-se-á um impacto ambiental àquele que ultrapassar os
limites da empresa, proporcionando potencial para provocar reclamações de
partes interessadas (órgãos de controle ambiental, associações comunitárias,
ambientalistas, organizações não governamentais, mídia, etc) quanto ao
comportamento ambiental da empresa (SEIFFERT, 2002, p. 164).
Segundo Marli Francisco, sócia-gerente, da Via do Mar Pescados Ltda, houve um
interesse da empresa em realizar um levantamento sobre os problemas que
causou ao meio ambiente, com intuito de obter licença ambiental, mas por não ser
pressionada por fornecedores, clientes e comunidade, não realizou tal ação.
78
Entretanto, ela afirma que a empresa, após obter reclamações da comunidade
devido ao aumento significativo de insetos e o forte mau cheiro, passou a utilizar
produtos (desinfetantes, inseticidas e purificadores de ar) para combatê-los. A
sócia-gerente comentou, também, que a empresa foi autuada, apenas uma vez,
por despejar resíduos em áreas desapropriadas, além de adquirir produtos
(pescados) não autorizados pelo IBAMA.
b) Requisitos legais e outros requisitos:
Conforme descrito no capítulo dois, a organização estabelecerá e manterá os
procedimentos para identificar e ter acesso à legislação e demais requisitos por
ela subscritos, aplicando-os aos aspectos ambientais de suas atividades, produtos
e serviços.
Atender à legislação e as normas ambientais será um dos compromissos
principais da empresa, além dos requisitos por ela subscritos. No caso da Via do
Mar, alguns dos requisitos legais referentes ao setor de comercialização de
pescados, deverão ser analisados, interpretados e implantados no SGA, tendo
como base o que se refere a NBR ISO 14001:2004, são:
• Lei 6.938 de 21 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional de
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação a aplicação, e da
outras providências;
• Lei 10.366 de 24 de janeiro de 1997, que dispõe sobre a fixação da política
de defesa sanitária animal e adota outras providências;
• Lei 7.679 de 23 de novembro de 1988, que dispõe sobre a proibição da
pesca de espécies em períodos de reprodução e dá outras providências;
• Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e dá outras providências;
• Portaria IBAMA nº 113 de 22 de dezembro de 1997, que exige o registro no
Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais;
79
• Resolução CONAMA nº 001 de 23 de janeiro de 1986, que considera
impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente
afetam o meio ambiente;
• Resolução CONAMA nº 237 de 19 de dezembro de 1997, que institui a
revisão dos procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental;
• Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005, que dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências.
• Instrução Normativa nº 3/SEAP de 12 de maio de 2004, que estabelecer
normas e procedimentos para operacionalização do Registro Geral da
Pesca - RGP, no âmbito da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da
Presidência República -SEAP/PR10.
• Lei Estadual nº 5.736 de 21 de outubro de 1998, que dispõe sobre a fixação
da política de defesa sanitária animal e adota outras providências.
• Lei Estadual nº 4.701 de 01 de dezembro de 1992, que dispõe sobre a
obrigatoriedade que todas as pessoas, físicas e jurídicas, devem garantir a
qualidade do meio ambiente, da vida e da diversidade biológica no
desenvolvimento de sua atividade, assim como corrigir ou fazer corrigir às
suas expensas os efeitos da atividade degradadora ou poluidora por ela
desenvolvida;
• Decreto Estadual nº 4.344-N de 07 de novembro de 1998, que regulamenta
o sistema de licenciamento de atividades poluidoras ou degradadoras do
meio ambiente, denominado SLAP, com aplicação obrigatória no Estado do
Espírito Santo.
Outros requisitos que a Via do Mar poderá subscrever, se aplicáveis, são:
10 Associação Catarinense de Acaquicultura - www.acaq.com.br, acesso em 02 de maio de 2007.
80
• Acordos com entidades públicas, clientes, fornecedores, comunidade e
ONG’s, visando o aprimoramento da sua política ambiental, além de
proporcionar melhor desempenho em suas atividades, produtos e serviços;
• Princípio voluntário, pois a atuação no terceiro setor será interessante para
empresa, uma vez que o apoio a entidades beneficentes proporcionará uma
visão positiva da marca, bem como divulgação das atividades relacionadas
à proteção ambiental;
• Normas emitidas pelo Ministério do Trabalho, preferencialmente as que
tratam de saúde ocupacional e segurança no trabalho, também poderão ser
utilizadas;
Ao apontar e direcionar seus requisitos, a Via do Mar deverá demonstrar com
clareza seu compromisso em atendimento à legislação, observando que o não
cumprimento dos requisitos propostos acarretará em identificá-los e justificá-los
junto às autoridades ambientais. Vale lembrar que o SGA não exige que a
empresa tenha um nível de desempenho determinado, mas sim que exige uma
melhoria contínua.
c) Objetivos e metas ambientais:
A partir do conhecimento e da análise dos aspectos e impactos ambientais
considerados significativos, bem como dos requisitos legais e outros requisitos ora
propostos pela empresa, será possível constituir um conjunto de objetivos
ambientais duradouros para toda a organização.
Tais objetivos devem ser considerados desde a captura do pescado, realizada
pelos barcos pesqueiros até a comercialização dos produtos e serviços por parte
da empresa. Para tanto, a Alta Administração da Via do Mar deverá estabelecer a
sua política ambiental em conjunto com os seus objetivos permanentes,
garantindo sua aplicabilidade em conformidade com a norma ISO 14001, visando
atender à legislação, prevenir a poluição e melhorar continuamente.
Os objetivos e metas ambientais deverão ser coerentes com a política ambiental
definida pela empresa. Com base nas informações cedidas pela sócia-gerente da
81
organização, a Via do Mar Pescados Ltda não possui objetivos e metas
ambientais formalizados, possibilitando, assim, a formulação dos seguintes
objetivos:
• Aumentar o grau de relacionamento com as partes interessadas nas
questões ambientais, estipulando programas de pesquisa de satisfação dos
clientes e programa de comunicação social. Para tanto, a criação de
indicadores, como: o índice de satisfação ambiental dos clientes e o índice
de reclamação ambiental que possibilitará avaliar se as metas estipuladas
foram atingidas pela organização;
• Aumentar o nível de capacitação da força de trabalho com relação à área
ambiental. Desenvolver um programa de treinamento e conscientização
ambiental, visando obter um índice aceitável como meta, pois possibilitará à
empresa analisar o percentual de funcionários que estão ambientalmente
capacitados;
• Reduzir a poluição no ar, no solo e na água causada por produtos ou
dejetos presentes na empresa, sendo eles oriundos do setor administrativo
e/ou do setor de produção.
• Desenvolver programas de requisitos contratuais, auditorias ambientais e
reaproveitamento de resíduos. Com base nos índices provenientes de
relatórios de não-conformidades ambientais e de reaproveitamento de
detritos, será possível estabelecer uma análise crítica que permita
equiparar o percentual de não-conformidades ambientais relacionadas às
identificadas, além de avaliar o volume de resíduos reaproveitados com o
volume gerado;
• Garantir o atendimento da legislação e dos requisitos ambientais inclusive
pelos fornecedores, desde barcos pesqueiros até os fornecedores de
embalagens e material de escritório. O desenvolvimento de um programa
de auditorias ambientais e de reaproveitamento de resíduos facilitará a
82
continuidade do sistema. Tal procedimento proporcionará avaliar o número
de sanções ambientais, ou seja, avaliar a quantidade de multas aplicadas à
empresa por infrações ambientais.
Com a definição dos objetivos e metas ambientais, a Alta Administração deverá
garantir que tais pontos sejam identificados e fixados, ponderando os de maior
gravidade ou os de cumprimento à legislação ambiental, limitando seu orçamento,
evitando gerar o risco de deterioração financeira da empresa.
d) Programa de gestão ambiental
Após a elaboração dos objetivos e metas ambientais, será possível especificar
claramente os programas ambientais próprios às atividades da empresa,
detalhando suas ações na execução dos processos.
Estabelecer e manter seus programas facilitará à empresa alcançar os objetivos e
metas traçados anteriormente. Desta forma, segundo a ISO 14001, os seguintes
itens deverão ser verificados nessa etapa:
- a atribuição de responsabilidade em cada função e nível pertinente da
organização, visando atingir os objetivos e metas;
- os meios e o prazo em que devem ser atingidos.
Com base nos itens da ISO e dos objetivos e metas propostos acima, foram
idealizados alguns programas para serem aplicados à Via do Mar, ressaltando que
cabe à Alta Administração determinar os funcionários ou setores que deverão
acompanhar a execução dos programas, conforme quadro a seguir:
83
Quadro 1 - Descrição dos programas corporativos e e specíficos do SGA
PROGRAMAS DESCRIÇÃO RESPONSÁVEL
Pesquisa de Satisfação dos Clientes
Programa que atinge todos os setores da empresa, aplicado aos clientes para avaliar o grau de satisfação através de notas atribuídas aos produtos em relação a um conjunto de perguntas sobre meio ambiente e outras áreas.
SAC – Serviço de Atendimento ao Cliente. Poderá ser terceirizado ou gerenciado pelo setor de comunicação.
Programa de Treinamento e Conscientização Ambiental dos Funcionários
Programa corporativo de treinamento aplicado a todos os setores da empresa para suporte aos planos de treinamento específicos e aplicação de cursos, seminários e palestras sobre meio ambiente.
Departamento de Recursos Humanos.
Programa de Requisitos Contratuais
Programa corporativo de revisão dos contratos antigos e inclusão, nos contratos novos, de diretrizes ambientais alinhadas com os requisitos legais e requisitos de outras origens.
Gerência Administrativa-financeira
Programa de Auditorias Ambientais
Programa corporativo coordenado pela Alta Administração, estabelecendo e implementando um plano de auditorias internas e externas para avaliação do desempenho ambiental.
Presidência, Diretorias e Gerências.
Programa de Reaproveitamento de Resíduos dos Setores Administrativo e de Produção
Programa específico desdobrado diretamente nos setores através da implementação dos Planos Diretores de Resíduos (Coleta Seletiva de materiais).
Diretoria de Produção e Gerência Administrativa-financeira
Programa de Comunicação Social
Programa específico destinado a todos os setores através da aplicação de pesquisa de opinião e estabelecimento de plano de marketing e de canais de comunicação interno e externo.
Departamento de Comunicação
Programa de controle de efluentes líquidos
Programa específico destinado a todos os setores com o objetivo de controlar a emissão dos efluentes líquidos da empresa, utilizando tanques coletores, a
Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde e demais setores
84
fim de evitar que contaminem o solo e os lençóis freáticos, sem utilizar a rede de esgoto diretamente.
Adaptado de Fernando Luiz Affonso, Metodologia para Implantação de Sistema de Gestão Ambiental em Serviços de Engenharia para Empreendimentos Petrolíferos: Um Estudo de Caso – RJ, 2001, p. 93.
Vale salientar que para projetos relativos a novas atividades, produtos ou serviços,
os programas devem ser corrigidos, assegurando que a Gestão Ambiental se
aplique nesses planos e melhore continuamente.
5.3.3 - Implementação e Operação
a) Estrutura e Responsabilidade
Conforme descrito no capítulo anterior, a definição da estrutura e das
responsabilidades relacionadas ao sistema de gestão ambiental encontra-se
diretamente relacionada à implementação e operacionalização do sistema,
tornando possível seu desenvolvimento e continuidade. Isso decorre devido ao
fato da empresa definir atribuições permanentes para os vários sujeitos
envolvidos, bem como a coordenação de seus esforços. Os recursos para a
implementação e o controle do SGA serão fornecidos pela Alta Administração,
tanto os recursos humanos, quanto qualificação específica, tecnologias e recursos
financeiros.
Um aspecto fundamental relacionado à estrutura de suporte ao SGA diz respeito à
existência de um setor que se ocuparia desta questão dentro da organização. As
características deste setor, segundo MOURA apud SEIFFERT (2002, p. 215) são
os seguintes:
1. Possuir poucos profissionais especializados com dedicação integral.
Além das responsabilidades diretas, devendo atuar como consultores junto às
outras áreas da organização;
85
2. Forma de atuação frente aos problemas através de grupos de
trabalho que envolvam pessoas de outras áreas da organização, sendo
conduzidos por um integrante do setor ambiental;
3. Os funcionários de outros setores, que componham os grupos de
trabalho ambientais, devem atuar em tempo parcial, desempenhando o papel de
“facilitadores” junto aos seus setores de origem, serem apoiados por seus chefes
imediatos e serem reconhecidos explicitamente pelas boas atuações (elogios,
prêmios).
Com base nas características acima, pode-se dizer que a Via do Mar deveria
incluir em sua estrutura organizacional a Assessoria de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde, atuando de forma que facilite a execução e operação do SGA,
sendo responsável por tornar disponível a todos os setores da empresa os
objetivos e metas traçados pela política ambiental.
Portanto, para a idealização e execução do SGA, propõe-se que tal divisão
deveria ser composta por um profissional da área especializado em Gestão
Ambiental, a fim de realizar um trabalho em conjunto com os demais responsáveis
pelas unidades e departamentos da empresa.
Assim sendo, pode-se então propor o organograma da Alta Administração da
empresa Via do Mar, conforme descrito a seguir:
86
Figura 7 – Proposta de Estrutura Organizacional da Empresa
As responsabilidades dos vários agentes perante o SGA estão normalmente
estabelecidas de forma genérica de acordo com as seguintes orientações
propostas por MOURA apud SEIFFERT (2002, p. 221), adaptadas para a Via do
Mar Pescados Ltda:
DIRETORIA (Alta Administração)
Assessoria de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde
Diretoria Administrativa -
Financeira
Diretoria de Produção Diretoria
Comercial
Depto de Recursos Humanos
Depto de Produção
Peixe Fresco e Congelado
Depto de Apoio
Operacional
Depto de Vendas
Depto de Distribuição e Logística
Depto de Comunicação
87
1. Presidência e diretoria da organização → definição da política
ambiental, acompanhamento das etapas de implantação do SGA, integrar a
gestão ambiental à gestão organizacional, definir o processo de solução de
conflitos entre objetivos e metas ambientais frente aos outros objetivos e
prioridades da organização;
2. Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde → formação de
equipes, direção do planejamento, implantação, monitoramento e
responsabilidade sobre a eficácia do SGA, verificação de conformidade frente a
leis e normas e a prestação de contas frente a diretoria da organização;
3. Diretoria Comercial → identificação de necessidades e expectativas
dos clientes com relação aos produtos da organização, ligadas a aspectos
ambientais, bem como o transporte e acondicionamento adequado do produto;
4. Diretoria de Produção → identificar se o manuseio do produto está
em conformidade com o proposto e providenciar o armazenamento e
encaminhamento dos resíduos gerados no setor;
5. Diretoria Administrativa-financeira → utilizar a contabilidade da
organização para caracterizar os custos ambientais inseridos nos seus produtos e
serviços;
6. Demais membros da organização → cumprir as metas de
melhoramento, conforme instruções específicas e planos de ação das chefias
operacionais.
Assim, a Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde atuará em todos os
setores da empresa, sendo que para um bom desempenho ambiental será
importante a Alta Administração indicar os funcionários/colaboradores que serão
parte integrante dessa divisão, optando por profissionais com visão
ambientalmente correta, assegurando que os requisitos do SGA que foram
estabelecidos, sejam implementados e mantidos de acordo com a Norma da ISO
88
14001:2004, além de relatarem o desempenho do SGA para análise crítica,
buscando o aprimoramento do sistema.
b) Competência, treinamento e conscientização
Conforme a NBR ISO 14001:2004, a empresa - por meio da Alta Administração e
da Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde - deve identificar a
conscientização, o conhecimento, a compreensão e as habilidades dos
funcionários, a fim de que estejam aptos a executar as tarefas determinadas. Ou
seja, a organização deverá identificar a necessidade de treinamento dos
colaboradores, assegurando que seus empregados que atuam em setores cujas
atividades tenham potencial de causar impactos ambientais significativos,
possuam as competências necessárias, considerando os aspectos de formação,
treinamento ou experiência.
O treinamento, a conscientização e a competência representam uma forma da
empresa confirmar que seus funcionários/colaboradores são conhecedores da
importância da concordância com a política ambiental através do cumprimento de
procedimentos e requisitos do SGA. Entretanto, leva-se em conta que os
problemas que ocorrem estão associados à falta de conformidade, originários de
treinamentos inadequados (MOHAMED apud SEIFFERT 2002, p. 226).
Portanto, é possível dividir as competências em três fatores fundamentais11:
1 – Educação → cada ocupação tem o seu nível de escolaridade exigida
e definida pelo Departamento de Recursos Humanos, disponibilizado na rede
corporativa da empresa;
2 – Treinamento → Será adequado à ocupação e de acordo com o
conhecimento/escolaridade do funcionário;
3 – Experiência → a empresa deve exigir experiência prévia na
função/cargo, sendo o tempo de experiência definido como um dos critérios de
seleção/recrutamento. 11 Manual de Sistema de Gestão Ambiental da Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST/Arcelor Brasil.
89
O treinamento visa assegurar tanto a conscientização das questões ambientais
quanto a competência para realizar as tarefas necessárias para a sua
administração. A identificação das necessidades de treinamento está sujeita à
compreensão do papel exercido por uma pessoa para alcançar objetivos e metas
ambientais e no SGA em geral.
c) Comunicação, Documentação e Controle de document os
A NBR ISO 14001:2004 cita que a comunicação, sendo ela interna ou externa, é
importante para a organização, pois assegura a eficácia da implementação do
SGA. Os métodos de comunicação interna podem compreender reuniões
regulares de grupo de trabalho, boletins informativos, quadro de aviso e intranet.
Com relação à comunicação externa, a organização deve levar em consideração
os pontos de vista e as necessidades de todas as partes interessadas. Os
métodos para realizar tal comunicação podem incluir relatórios anuais, boletins
informativos, páginas de internet e reuniões da comunidade.
Neste caso, a Via do Mar pode esquematizar a sua comunicação, levando em
consideração as decisões sobre grupos-alvo pertinentes (comunidade,
fornecedores, clientes, órgãos ambientas, etc), as mensagens e temas adequados
e a escolha dos meios de comunicação. Os tipos de comunicação mais comuns e
mais usados, segundo SEIFFERT (2002, p. 245) são:
1 – Organização x Público: boletins, relatórios anuais, folder de
divulgação do SGA, home page, anúncios em jornais, folhetos de associação de
classe, divulgação de um telefone para consultas e reclamações (usualmente o
SAC), reuniões e outros eventos abertos ao público e malas-diretas;
2 – Público x Organização: cartas, mensagens via e-mail, telefonemas,
reuniões;
3 – Organização x Colaboradores: informativos periódicos, folhetos,
murais, cartazes, reuniões, mensagens pelo correio eletrônico, intranet;
90
4 – Colaboradores x Organização: formulário específico de comunicação
ambiental e correio eletrônico.
Portanto, a função principal da comunicação, seja ela interna ou externa, é definir
os fluxos de informações da política ambiental da empresa, podendo também ser
considerada como um fator determinante para o sucesso da implantação SGA.
Alguns recursos de comunicação podem ser efetivos na divulgação dos
programas da empresa não havendo limites para utilizá-los (SEIFFERT 2002, p.
248). São eles:
• Cartazes e placas;
• Quadros;
• Informativos periódicos e folders;
• Utilização do verso de holerite do colaborador;
• Papel de parede e protetor de tela para computadores;
• Através de películas autocolantes ou lâminas complementares a crachás
de funcionários e visitantes;
• Camisetas, etc.
No que se refere à documentação, a ISO 14001:2004 aconselha que haja um
detalhamento suficiente para descrever os elementos principais do SGA e sua
interação. Tais documentos devem fornecer a orientação sobre fontes de
informação, especificando o funcionamento das partes envolvidas no SGA, além
de estabelecer e manter as informações, em papel ou em meio eletrônico
atualizadas. O elemento mais significativo consolida-se na forma do manual de
gestão, o qual busca resumir as informações relativas aos procedimentos do SGA.
O manual atua como um índice do sistema, possibilitando a localização de
determinados itens para que possam ser acessados ou trabalhados.
SEIFFERT (2002, p. 257) sugere que alguns documentos, tais como Padrões
Técnicos e Operacionais, Registros, Legislação e Normas, devem ser mantidos
eletronicamente ou em disquetes com a devida identificação, proporcionando a
utilização quando necessário com facilidade.
91
No caso da Via do Mar este arquivo será mantido e desmembrado em: Programas
e planos; Treinamentos; Legislação; Resultados de monitoramento e auditorias;
Documentos e licenças legais; Projetos de sistemas de controle; Inventário de
produtos perigosos, Normas e procedimentos.
No que diz respeito ao controle de documentos, a intenção é fazer com que a
organização estabeleça e mantenha procedimentos para o controle de todos os
documentos exigidos. A documentação deverá ser legível, datada e identificada,
mantida de forma organizada e retida por tempo especificado. O controle eficaz
desses documentos torna o processo de auditoria ordenado e eficiente.
Na escolha pela forma de controle de documentos a Via do Mar pode optar pelos
meios digital, físico ou uma integração de ambos. Dependendo de uma série de
fatores, tais como: disponibilidade de um software eficiente e seu custo para
aquisição, disponibilidade de assessoria especializada, grau de informatização da
empresa, número de usuários, nível de conhecimento de informática de cada
usuário, credibilidade do fornecedor do serviço de rede, além de adequar um
espaço para a instalação de um arquivo geral com os documentos impressos.
Ressalta-se a necessidade de controlar a circulação desses documentos,
observando o fato de que devem ser periodicamente analisados e revisados,
determinando a freqüência de análise para adequação contínua, datando a
revisão seguinte para que todos os usuários tenham conhecimento.
A forma mais comum de controlar a documentação é por meio de uma lista
mestra, surgindo assim duas diferentes possibilidades de identificá-los:
1. Estruturação de acordo com temas ambientais: onde são formados
grupos de trabalho para a elaboração de procedimentos baseando-se em
temas ambientais (resíduos, efluentes, emissões, recursos naturais).
2. Estruturação de acordo com os requisitos da norma: onde cada grupo
ficará incumbido da elaboração dos procedimentos operacionais associados
a cada requisito da norma ISO 14001.
92
O objetivo é informar quais os documentos fazem parte do sistema, em que parte
da revisão se encontram, quais os setores estão utilizando e quantas cópias
possuem cada setor.
d) Controle operacional
A ISO 14001 aconselha avaliar quais as operações estão integradas aos aspectos
ambientais, identificando e garantindo que sejam administradas de modo a
controlar ou reduzir os impactos ambientais, atendendo os requisitos de sua
política ambiental e atingido seus objetivos e metas. O compromisso da Via do
Mar será planejar o controle operacional, incluindo a manutenção das atividades,
de forma a assegurar que sejam executadas sob condições específicas.
É recomendável, neste caso, que esses procedimentos sejam elaborados a partir
de um planejamento operacional, que é desenvolver uma planilha de identificação
de aspectos e impactos ambientais, que serão identificados numa série de
procedimentos, os quais deverão ser elaborados e associados diretamente a
impactos ambientais resultantes de atividades operacionais específicas. Tais
procedimentos, por apresentarem natureza operacional, são mais específicos em
determinados departamentos da empresa (SEIFFERT, 2002, p. 274).
A Via do Mar poderá realizar o controle operacional através de procedimentos
documentados abrangendo situações, onde sua ausência possa causar desvios
em relação a sua política ambiental e seus objetivos e metas. Será necessário que
o treinamento, nos procedimentos operacionais, seja aplicado ao setor
administrativo e produtivo da empresa, assegurando que a execução das
atividades, os cuidados e ações preventivas e corretivas com relação ao meio
ambiente estejam contextualizadas, da seguinte forma:
a. No setor administrativo – assegurar a qualidade e a segurança dos
processos propostos na política ambiental e aos objertivos e metas
do SGA, estabelecendo diretrizes de gerenciamento e destinação
final de produtos e resíduos, do controle ambiental de fornecedores e
serviços terceirizados, além de treinamentos onde serão abordados
93
assuntos relacionados ao SGA, palestras, quadros de aviso,
cartazes, exercícios simulados, cartilha de código de conduta, etc
• No setor produtivo – executar as diretrizes impostas pelo
procedimento operacional, garantindo a qualidade e a segurança dos
processos.
É pertinente que o controle operacional tenha início com as atividades já
padronizadas, incluindo parâmetros de controle necessários para garantir à
conformidade ambiental gerenciando os resíduos gerados, a qualidade da água, a
qualidade do ar, aspectos significativos identificados, manutenção, atuação junto a
fornecedores e otimização do uso de recursos.
e) Preparação e resposta à emergência
Após estabelecer e manter procedimentos para identificar e atender a acidentes e
situações de emergência, além de prevenir e diminuir os impactos ambientais que
possam estar associados a eles, a Via do Mar analisará e revisará, quando
necessário, seus procedimentos de preparação e resposta à emergências, de
preferência após ocorrência de acidentes ou situações de emergências, testando
periodicamente os procedimentos.
Nesse plano de emergência deverão ser descritos as funções de cada tipo de
evento, considerar o inter-relacionamento dos recursos disponíveis, as formas de
racionamento de outras atividades e os incidentes que surjam ou que possam
surgir como conseqüência de condições anormais de operação e acidentes e
situações potenciais de emergência (DIAS REIS 2002, p. 79).
A capacidade de agir corretivamente bem como preventivamente à sua
ocorrência, buscar diminuir os impactos ambientais ocorridos, além de atuar na
causa básica que o provocou, tomando as medidas necessárias de modo a evitar
que venha a se repetir. Assim, na opinião de CULEY apud SEIFFERT (2002, p.
285), devem-se considerar alguns preceitos básicos no decorrer da preparação
para atendimento a acidentes ou situações de emergência:
94
1. Orientação para novos empregados: uma orientação inicial para
apresentação do programa de emergências, com orientações básicas
quanto ao procedimento de evacuação, comunicação inicial em situação
de perigo, e um ponto específico que inclui equipamentos para resposta
a emergência.
2. Avaliações de risco: identificação dos equipamentos que serão
necessários para os diferentes tipos de emergência.
3. Sistemas de pesquisa e avaliação de emergência: após ter avaliado o
tipo e risco enfrentado, será necessário ter uma idéia do tipo de
equipamentos necessários para resposta a situações de emergência
detectadas.
4. Treinamento: estando o equipamento necessário disponível no lugar
correto é necessário o treinamento de pessoal para a sua adequada
utilização.
Com base no exposto, a Via do Mar poderá constituir sua estrutura de
atendimento a situações de emergência utilizando os seguintes itens:
1. Caracterizar fisicamente a empresa, definindo as dimensões do prédio
administrativo e das câmaras frigoríficas;
2. Descrever a infra-estrutura básica disponível para as atividades de
combate à emergência (treinamentos, sistema de alarme, sistema de
controle a incêndio, armazenamento dos resíduos, recursos externos
disponíveis e sua localização);
3. Identificar os cenários de emergência agrupados, com o objetivo de
elaborar planos de atendimento a emergência específicos;
95
4. Atribuir responsabilidades respeitando a estrutura organizacional da
empresa;
5. Elaborar um fluxograma de ações associadas às emergências;
6. Realizar simulados de emergência, visando o treinamento específico de
pessoal quanto ao uso de equipamentos de emergência e
procedimentos de primeiros socorros, além de acidentes com os
resíduos sólidos e líquidos gerados que possam, por ventura, acarretar
danos à comunidade do entorno.
5.3.4 – Verificação e Ação Corretiva
a) Monitoramento e medição, avaliação do atendiment o a requisitos
legais.
Os aspectos ambientais devem ter suas características medidas regularmente e
comparar seus resultados aos padrões legais aplicáveis. O monitoramento e a
medição são requisitos contínuos e abrangentes em um sistema eficiente que
depende da utilização de indicadores de desempenho úteis e confiáveis.
O monitoramento em escala de prioridade facilitará identificar os aspectos
ambientais que se referem aos parâmetros de desempenho que estão associados
a requisitos legais. Conforme o desempenho ambiental vai melhorando em relação
a estes parâmetros de monitoramento, a empresa, posteriormente, identificará
outros que podem ser eleitos tendendo à melhoria contínua. (SEIFFERT, 2002, p.
296).
Para atender a este requisito, a Via do Mar, poderá elaborar um plano de
monitoramento e medição definindo cada parâmetro que será monitorado,
podendo constar:
1. Aspecto/impacto ambiental significativo (poluição do solo, água e ar,
destinação incorreta dos resíduos, pesca predatória, etc);
96
2. Quando pertinente indicação da meta ao qual está associado bem como
o respectivo indicador de desempenho (reciclagem dos resíduos do
setor administrativo e produtivo, tratamento da água de limpeza das
câmaras frigoríficas, etc);
3. Local de coleta e método de coleta a ser empregado (utilização de
veículos especiais, câmara fria para os resíduos sólidos, etc);
4. Identificação do funcionário responsável (determinado pela Assessoria
de Segurança, Meio Ambiente e Saúde).
De acordo com a ISO 14001:2004 a empresa deverá ser capaz de demonstrar que
está apta a fazer a avaliação do atendimento aos requisitos identificados, incluindo
autorizações ou licenças aplicáveis. Para tanto a Via do Mar terá que avaliar de
forma contínua e por meio de diferentes instrumentos de monitoramento seus
requisitos legais, utilizando:
1- Relatório de monitoramento dos resíduos gerados e como estão sendo
destinados, os encaminhado ao órgão ambiental Federal, Estadual ou
Municipal;
2- Relatório de acompanhamento do cumprimento das condicionantes das
licenças ambientais;
3- Auditoria de conformidade legal e internas do SGA;
4- Reuniões específicas entre a Alta Administração e a Assessoria de
Segurança, Meio Ambiente e Saúde e os responsáveis pela auditoria
interna para avaliação dos requisitos impostos pela própria empresa.
b) Não-conformidade 12, ação corretiva e ação preventiva
O elemento Não-conformidade da norma ISO 14001:2004 é importante para o
contínuo desenvolvimento do SGA e do desempenho ambiental da instituição. O
12 Uma não-conformidade é um desvio a uma dada especificação ou a um critério estabelecido para o SGA. Ela também pode ser um desvio a uma determinação expressa pela Norma ISO 14001 (requisito).
97
objetivo é analisar por que deu errado e realizar alterações para que haja menos
probabilidade de dar errado novamente.
A identificação e tratamento de não-conformidades poderão ser identificados pela
própria Via do Mar, ou por órgãos ambientais, em reuniões de análise crítica e a
partir de avaliação de atendimento legal, em inspeções ambientais e nos relatórios
de auditorias internas e externas. Possibilitando verificar uma maneira para
detectar eventuais tendências do sistema, permitindo implantar ações preventivas
que impeçam a ocorrência de problemas futuros.
SEIFFERT (2002, p. 300), propõe uma lista de atividades que possibilitará a
identificação das não-conformidades num SGA:
b. Periodicidade e registros de análise crítica pela alta administração;
c. Comunicações ambientais internas ou externas inadequadamente
tratadas;
d. Atividades de monitoramento e medição sendo realizadas em
desacordo com as especificações definidas;
e. Atividades de controle operacional em geral;
f. Atendimento a situações de emergência;
g. Problemas associados à falta de cumprimento de leis e normas
ambientais;
Tendo como base a lista de atividades proposta, a Via do Mar poderá avaliar a
tendência de adequar outras atividades, que atuariam diretamente na identificação
das não-conformidades, quais são:
1. Revisar o projeto;
98
2. Treinamento e certificação de competência;
3. Grupos de ações corretivas e de melhoria;
4. Tratamento de reclamação de clientes descritas em relatórios
apropriados;
Assim, a empresa estará apta a identificar não-conformidades reais, que
resultarão em processos de ação corretiva, bem como as não-conformidades
potenciais podendo resultar em ações preventivas.
c) Controle de registros e Auditoria interna
A empresa deverá estabelecer e manter, de acordo com a norma ISO 14001:2004,
procedimentos de identificação, de armazenamento, de proteção, de recuperação,
de retenção, de descarte, treinamento e as conclusões de auditorias e análises
críticas.
Gerenciar adequadamente os registros será parte essencial do SGA. Os registros
estarão: arquivados em local apropriado, onde poderão ser facilmente lidos e
entendidos; em mensagens claras e objetivas; fácil localização, caso seja
necessário a sua utilização; protegidos contra danos ou perda e com período de
retenção pré-estabelecido e registrado.
No caso da Via do Mar, a implantação do sistema de controle de registros será de
forma centralizada, onde todos os registros gerados serão indexados e
controlados através de uma lista de registros, facilitando assim o acesso aos
registros.
A empresa deverá estabelecer e manter um programa e procedimentos para
auditorias periódicas do seu SGA, utilizando-se de uma lista de verificações que
deverá determinar se o sistema está em harmonia com as conformidades
99
planejadas, se está sendo implantado e mantido e fornecer informações, à Alta
Administração, dos resultados das auditorias.
Portanto, os procedimentos de auditoria deverão levar em conta o contexto de
aplicação, a freqüência, as metodologias, as responsabilidades e requisitos que
compõem a realização de auditorias e a apresentação de resultados. A auditoria
interna é um importante instrumento de verificação e manutenção do sistema
como um todo e constitui um passo fundamental para as melhorias.
Para uma empresa de pequeno porte, no caso a Via do Mar, o interessante é que
haja um plano anual de auditorias, pois permitirá a empresa desenvolver um
relatório com o número de não conformidades detectadas na auditoria realizada
anteriormente, bem como medir a eficiência das ações corretivas tomadas.
Referente ao período em que as auditorias devem acontecer, entende-se que a
empresa durante a implementação do seu SGA realizará uma auditoria a cada
seis meses. Estima-se que a auditoria aconteça nesse intervalo de tempo em
função da complexidade do sistema em implantação que deve levar em conta a
freqüência, as metodologias, as responsabilidades e requisitos que compõem a
realização de auditorias e a apresentação de resultados.
5.3.5 – Análise Crítica
A norma ISO 14001:2004 estabelece que a empresa deverá analisar o SGA, em
intervalos planejados, sendo em um período mínimo de 6(seis) meses ou quando
julgar necessário, assegurando sua contínua adequação, pertinência e eficácia.
Nessa análise deverá incluir a avaliação de oportunidades de melhoria e a
necessidade de alterações no SGA, inclusive da política ambiental e dos objetivos
e metas, originando relatórios que deverão ser mantidos e preservados para
consultas e análise futuras.
A Alta Administração da Via do Mar executará reuniões de análise crítica, nas
quais deverão estar presentes:
100
• O Diretor Presidente;
• Os Diretores dos setores pertinentes às atividades, produtos e serviços;
• Os Gerentes de Departamentos;
• O Responsável pela Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde.
O anexo da ISO 14001 recomenda que a análise crítica inclua os seguintes itens:
o resultado das auditorias internas; nível de atendimento aos objetivos e metas;
adequação do SGA em relação a mudanças de condições e preocupações das
partes interessadas.
Cabe à Assessoria de Segurança, Meio Ambiente e Saúde a responsabilidade de
planejar, coletar informações e registrar os resultados pertinentes à execução do
SGA, buscando a melhoria contínua do sistema.
101
6. Considerações Finais
A partir da década 70, é possível identificar uma preocupação constante por parte
dos governos com as questões ambientais, assim mesmo, observa-se que a
relação ambiente e empresa, transformou-se em tema cada vez mais importante
de política pública e de estratégia de negócios. Já a partir da década de 80 e início
dos anos 90, as melhorias ambientais eram resultado de regulamentações, nesse
sentido, a série ISO 14000 foi criada pela Organização Internacional de
Normalização - ISO e define os elementos de um SGA, constituindo o único
padrão normativo sobre sistemas de gestão ambiental.
Portanto, a abordagem conceitual apresentada neste trabalho mostrou-se
apropriada na elaboração de um modelo de implantação de Sistema de Gestão
Ambiental, seguindo o modelo normativo da ISO 14001. Possibilitou, também,
esquematizar e identificar os objetivos e metas ambientais, além de contextualizar
a política ambiental da empresa.
A contribuição da pesquisa documental e as entrevistas realizadas com os
profissionais da Via do Mar Pescados Ltda., foram importantes no
desenvolvimento do trabalho, pois possibilitaram a caracterização do objeto de
estudo e a elaboração da proposta e adequação contínua do modelo, identificando
possíveis soluções, promovendo reavaliação e readequação à realidade da
empresa conforme as suas necessidades.
No decorrer da pesquisa observou-se que as organizações ao planejar a
implantação de um SGA, deveriam utilizar como base as normas da ISO 14000.
Com a aplicação destas normas, a empresa estaria definindo os elementos-
chaves que constroem um SGA; desta forma, os objetivos básicos do sistema de
gestão aumentariam a satisfação do cliente nos produtos ou serviços oferecidos,
possibilitando a conquista de novos mercados.
Como ponto de partida, no caso da Via do Mar, pode-se dizer que a educação
ambiental, aplicada aos funcionários, estabelecerá um importante passo para a
102
elaboração da política ambiental, consolidado seus objetivos e metas através
de um Sistema de Gestão Ambiental. Contudo, é sabido que a motivação
depende exclusivamente da percepção da empresa na necessidade de
adequação de suas atividades, produtos e serviços à legislação norteadora do
sistema.
Ao identificar e administrar os efeitos ambientais produzidos pelas atividades
produtivas, a Via do Mar Pescado Ltda, promoverá a harmonia entre o interesse
público e o os usuários das normas, onde o meio ambiente se alonga do interior
da organização até o sistema global, identificando seus aspectos/impactos
ambientais e promovendo, através da melhoria contínua, um desempenho
ambiental aceitável. Contudo um SGA, se bem instruído, fornece as medidas
necessárias para o cumprimento do regulamento da legislação existente.
Na proposta apresentada à Via do Mar Pescados Ltda., pode-se estimar o volume
de recursos e a qualificação do pessoal apropriado em função do nível dos riscos
existentes e os objetivos da empresa com relação à preservação do meio
ambiente, conscientizando a Alta Administração de como utilizar o SGA com
eficácia. Apresentando-lhes elementos significativos que refletirão no desempenho
da empresa, tanto financeiramente, quanto publicamente.
Considerando que a empresa Via do Mar Pescados Ltda. foi idealizada por dois
associados de uma cooperativa de pescadores, atuando apenas no mercado
capixaba com a distribuição de pescados diretamente dos barcos para bares e
restaurantes da região, a qualificação de seus produtos permitiu a ampliação de
seus negócios, atendendo também a supermercadistas e até mercados de outros
estados.
Com base no levantamento realizado, pode-se afirmar que a Via do Mar Pescados
Ltda, ao conduzir suas atividades deverá considerar, sempre, a preservação do
meio ambiente, atentando para a aquisição de produtos ambientalmente corretos,
principalmente os pescados e mariscos. Além disso, a troca de informações com
as partes interessadas (governo, população, fornecedores, funcionários, etc)
103
proporcionará à empresa definir suas decisões relevando seus aspectos
ambientais significativos.
Outro fator importante será atender em conformidade a legislação e às normas
ambientais vigentes, buscando uma atualização periódica e, assim mesmo,
procurar identificar os aspectos ambientais e definir seus objetivos e metas
ambientais. Lembrando que ao agregar tais conformidades ao seu processo, a
participação da Via do Mar Pescados Ltda. no mercado, regional ou nacional,
poderá se ampliar significativamente.
Por fim, para a empresa Via do Mar Pescados Ltda. estabelecer e implantar seu
SGA, a Alta Administração deverá instituir uma Divisão de Meio Ambiente, com
objetivo de planejar, coletar informações e registrar os resultados pertinentes à
execução, buscando a melhoria contínua de seu sistema, além de atuar como
fator de diferencial perante as empresas do mesmo ramo no mercado capixaba e
brasileiro. A Divisão de Meio Ambiente trabalhará em conjunto com todas as
outras unidades da empresa para atingir o objetivo de ser a primeira empresa do
mercado pesqueiro capixaba a obter certificação ISO 14001:2004.
104
7. Referências Bibliográficas
ABREU, D. Sem ela, nada feito. uma abordagem da importância da educação ambiental na implantação da ISO-14001 . Salvador: Asset, Avaliações e Negócios Corporativos, 1997.
AFFONSO F. L., Metodologia para Implantação de Sistema de Gestão Ambiental em Serviços de Engenharia para Empreendimentos Petrolíferos: Um Estudo de Caso – Rio de Janeiro, 2001
ANDRADE, R.; TACHIZAWA, T.; CARVALHO, A. Gestão Ambiental – enfoque estratégico aplicado ao desenvolvimento sustentável. São Paulo: Makron Books, 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR IS0 14.001:2004 Sistemas de gestão ambiental – Requisitos com orientação de uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial – conceitos, modelos e instrumentos. Saraiva, 2006.
CALDUCH, V. R.. La gestion ambiental en la pequeña y mediana empresa. Departamento de Industria y Medio Ambiente Cámara de Comercio, Industria y Navegación de Castellón. Barcelona, s.d.
CST/Arcelor Brasil. Manual de Sistema de Gestão Ambiental da Companhia Siderúrgica de Tubarão. Espírito Santo: CST/Arcelor Brasil, 2006.
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.
DIAS REIS, L. F. S. S.; QUEIROZ, S. M. Gestão ambiental em pequenas e médias empresas. São Paulo: Qualitymark, 2002. DEGANI, C. M. Sistema de Gestão ambiental em empresas construtoras de edifícios. 2003. Dissertação (Mestrado) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil, USP, São Paulo, 2003. DONAIRE, D. - Gestão ambiental na empresa . São Paulo: Atlas, 1999.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.
HARRINGTON, H. J. Implementação da ISO 14000 - como atualizar o sistema de gestão ambiental com eficácia. São Paulo: Atlas, 2001.
105
KINNEAR, T. C.; TAYLOR, J. Marketing Research: an applied approach. 5 ed. New York: Mc Graw-Hill, 1996.
LOPES, M. I. V de. Pesquisa em Comunicação: formulação de um modelo metodológico. São Paulo: Loyola, 1990.
MOREIRA, M. S. Estratégia e implantação de sistema de gestão ambiental modelo ISO 14000. Belo Horizonte: Desenvolvimento Gerencial, 2001. SEIFFERT, M. E. B. Modelo de Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO14001) segundo a abordagem da Engenharia de Sistemas. 2002. Tese (Doutorado) em Engenharia de Produção. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2002.
TACHIZAWA, T. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa – estratégias de negócios Focadas na Realidade Brasileira. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2004.
VALLE, C. E. do. Como se preparar para as normas ISO 14000: qualidade ambiental. São Paulo: Pioneira, 2000.
VITERBO JR, E. Sistema Integrado de Gestão Ambiental - como implementar um sistema de gestão que atenda à norma NBR ISO 14001, a partir de um sistema baseado na norma ISO 9000. São Paulo: Aquariana, 1998.
YIN, R. K. Estudo de caso - planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
Sites Consultados AMBIENTE BRASIL. Sistema de Gestão Ambiental. Extraído de: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=./gestao/sistema.html . Acesso em fevereiro de 2007. ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE ACAQUICULTURA. http://www.acaq.org.br/legislacao.html. Acesso em maio de 2007. ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E EMPRESAS. FGV no Clube de Roma. http://www.ebape.fgv.br/novidades/asp/dsp_dados_comunicados.asp?rep=247 Acesso em abril de 2007. MOURA, L.A.R. O que é ISO 14000? Extraído de http://www.gestaoambiental.com.br/articles.php?id=10 Acesso em março de 2007.
106
BRASIL. Decreto-lei nº 6.398, de 21 de agosto de 1981. Extraído de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em novembro de 2006. SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Site Institucional: http://www.sebrae.com.br. Acesso em março 2007. Depoimentos RIBEIRO, K. A. D. Gerente de Recursos Humanos da Via do Mar Pescados Ltda. Entrevista pessoal concedida em abril de 2007. FRANCISCO, M. Sócia-Gerente da Via do Mar Pescados Ltda. Entrevista pessoal concedida em abril de 2007.
107
APÊNDICE 1
LISTA DE VERIFICAÇÃO PARA DIAGNÓSTICO INICIAL
1- Há sistema de gestão de qualidade (SGQ) formalizado?
2- Existe um documento que descreva os principais elementos do sistema de
gestão da empresa e a interação entre eles?
3- A empresa possui uma política formalizada sobre gestão ambiental?
4- Os objetivos e metas estão formalizados?
5- Existem programas específicos para atingir as metas determinadas?
6- Existe procedimento que mantém a empresa atualizada a respeito da
legislação aplicável ao meio ambiente?
7- Os objetivos e metas incluem referências à preservação ambiental?
8- Os procedimentos de trabalhos existentes abordam aspectos relacionados
à preservação do meio ambiente?
9- Há procedimentos que incluem medições de algum aspecto ambiental?
10- A empresa conhece o volume de resíduos gerados por serviços em seu
procedimento de trabalho?
11- Antes da implantação da empresa no local, foram coletadas informações
específicas a respeito do entrono, que sirvam de premissas para as
atividades produtivas, tal como, proximidade de hospital ou escola?
12- Foram realizados treinamentos de educação ambiental envolvendo todos
os funcionários?
13- Os funcionários recebem alguma orientação que contribua para a redução
do desperdício de materiais ou do produto na execução das tarefas?
14- Os procedimentos para estocagem de insumos atuam preventivamente
com relação a algum impacto ambiental?
15- Existem procedimentos especiais para o manuseio e descarte dos resíduos
gerados?
16- Existe alguma coleta especial de resíduos?
17- É feito o reaproveitamento de algum resíduo?
108
18- Buscam-se mercados para o reaproveitamento de seus resíduos?
19- Os resíduos do escritório administrativo são descartados em sacos de
plástico para a coleta pública?
20- Existem práticas para a gestão eficiente do uso da água?
21- Existe alguma ressalva no processo de aquisição que dê preferência ao uso
de produtos renováveis?
22- Existe alguma ressalva no processo de aquisição que dê preferência a
produtos provenientes de fornecedores de certificados ou selos ambientais?
23- Existe alguma ressalva no processo de aquisição que dê preferência para
produtos cuja embalagem gere menos resíduos?
24- A empresa já realizou estudos de impacto ambiental com a finalidade de
obter licenciamento ambiental?
25- São estabelecidos acordos com a vizinhança no que se refere aos períodos
de emissão de resíduos (líquidos ou sólidos), até mesmo fortes odores?
26- A empresa já recebeu solicitações ou reclamações da comunidade vizinha
com relação às suas atividades diárias?
27- A empresa já foi autuada por violação de alguma norma de proteção
ambiental? Se sim, quais as medidas que foram tomadas?
28- Há clientes (incorporadores) da empresa possuidores de sistema de gestão
ambiental?
29- Há pressão por parte de clientes e outras partes interessadas para a
implementação de um sistema de gestão ambiental?
30- As empresas concorrentes têm inserido práticas ambientais em suas
atividades?
31- A empresa conhece seus custos de produção para cada serviço?