sidereum ana iii · 2020. 6. 17. · el río guadiana y tartessos javier jiménez Ávila (ed.)...

30
Serie Compacta 1 Serie Compacta 1 S Se Se S S S S Se Se S S Se Se S Se S S S S S S S S Se Se Se S S Se S S Se Se S S S Se S S Se Se Se S S Se Se Se Se Se Se Se S Se Se Se S Se S S Se e S S S S S S S S Se Se e Se Se Se Se S Se S Se Se Se S S S Se S Se Se Se Se Se Se S S S S S Se Se Se Se S S S Se S S Se S S S S Se Se Se Se Se Se Se S S S S S S Se Se e e e Se Se e e e S S S Se S Se Se Se e e e Se e e e e Se e e Se S Se S S Se Se e Se e Se e Se Se e Se Se e e e S Se S S S S Se e e e Se Se Se Se e e e e e e e e e S S S S Se Se S Se Se e e Se e e e e e e e e e e e e e S S S S Se e e e e e e e e e e e e e S S S S Se e e e e e e e e e e e S S S S S S S S Se e e e e e e e e e S S Se S S S S S S Se e e e e e e e e e e e S S S S S Se e e e e e e e e e S S S S S S S Se e e e e e e e e S S Se e e e e e S Se e e e e e e e e e e e e S S Se Se e e e e S Se Se e e S S Se e e e S S S Se e e e e e e S S S S S S Se e e e e e S S S S S Se e e e e i i i i i i i i i i i ri i i i r r r ri i ri ri i ri r r ri i ri ri ri ri ri i r ri ri ri ri r ri ri i i r ri ri ri ri ri i ri ri i ri ri ri ri ri r ri r r r ri ri r r ri ri ri i r r ri ri ri i ri r r r r r ri ri r ri r ri ri ri ri r ri ri r ri ri r ri ri r ri ri i ri r rie e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e e C C C Co Co Co Co Co Co Co C Co C Co C C Co C C Co C C C C C C C Co Co o C C C C Co Co Co C C C Co C C Co C Co Co Co C C Co Co Co Co Co Co C C Co Co C Co Co Co Co Co Co C Co Co Co Co Co C Co C Co Co Co C Co Co C Co Co o Co C Co Co C Co Co Co Co C Co C Co Co Co Co C Co Co Co C C C C Co Co Co C Co C C Co C C C Co Co Co C C Co Co Co C Co C C Co Co Co C C C Co Co C C C Co C C Co o o o Co Comp m mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp m m mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp mp m mp mp mp p m m mp m m mp p mp m mp mp mp m m m m mp mp mp m mp mp m mp mp mp p m m mp mp m mp mp mp m m mp mp m mp m mp mp m m m m m m m m m m m m mp mp m m m m mp m m m m m mp mp mp m m m mp mp mp m m m m m mpa a a a a a a a a a a a a a a ac c c c c c c c c c c c c c a a a a a a a a a a ac c c c c c a a a a a a a ac c c c c c c a a a a a a a ac c c c c c a a a ac c c c c c c c a a a ac c c c a a ac c c c c c c a ac c c c ac c c a ac c c c a a a ac c c c c c c c a ac c a a a a a ac c c c a ac c c c a ac c c c c c c c c ac c c c c ac c c c c c c c c c c c c ac c c c c c c ac c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c ac c c c c c c c a ac c ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta a ta ta ta ta a ta t ta t ta a a ta a ta a ta ta ta t ta ta ta a ta a a ta a ta a a a a ta a a a a ta a a t ta ta a a a 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Serie Compacta 1 SIDEREUM ANA III El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.)

Upload: others

Post on 22-Aug-2021

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

Serie Compacta 1

Serie Compacta 1

SSeSeSSSSSeSeSSSeSeSSeSSSSSSSSSeSeSeSSSeSSSeSeSSSSeSSSeSeSeSSSeSeSeSeSeSeSeSSeSeSeSSeSSSeeSSSSSSSSSeSeeSeSeSeSeSSeSSeSeSeSSSSeSSeSeSeSeSeSeSSSSSSeSeSeSeSSSSeSSSeSSSSSeSeSeSeSeSeSeSSSSSSSeSeeeeSeSeeeeSSSSeSSeSeSeeeeSeeeeeSeeeSeSSeSSSeSeeSeeSeeSeSeeSeSeeeeSSeSSSSSeeeeSeSeSeSeeeeeeeeeeSSSSSeSeSSeSeeeSeeeeeeeeeeeeeeSSSSSeeeeeeeeeeeeeeSSSSSeeeeeeeeeeeeSSSSSSSSSeeeeeeeeeeSSSeSSSSSSSeeeeeeeeeeeeSSSSSSeeeeeeeeeeSSSSSSSSeeeeeeeeeSSSeeeeeeSSeeeeeeeeeeeeeSSSeSeeeeeSSeSeeeSSSeeeeSSSSeeeeeeeSSSSSSSeeeeeeSSSSSSeeeeeSSSee iiiiiiiiiiiriiiirrrriiririirirrriiriririririirririririrririiirriririririiririiriririririrrirrrririrrriririirrriririirirrrrrririrrirririririrririrririrririrririirirrieee eee eeeeeee eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee eeee e eee eee e eee eeeeeeeeeeeeeeeeeeee CCCCoCoCoCoCoCoCoCCoCCoCCCoCCCoCCCCCCCCoCooCCCCCoCoCoCCCCoCCCoCCoCoCoCCCoCoCoCoCoCoCCCoCoCCoCoCoCoCoCoCCoCoCoCoCoCCoCCoCoCoCCoCoCCoCooCoCCoCoCCoCoCoCoCCoCCoCoCoCoCCoCoCoCCCCCoCoCoCCoCCCoCCCCoCoCoCCCoCoCoCCoCCCoCoCoCCCCoCoCCCCoCCCooooCoCompmmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmmmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpmmpmpmppmmmpmmmppmpmmpmpmpmmmmmpmpmpmmpmpmmpmpmppmmmpmpmmpmpmpmmmpmpmmpmmpmpmmmmmmmmmmmmmpmpmmmmmpmmmmmmpmpmpmmmmpmpmpmmmmmmpaaaaaaaaaaaaaaaaccccccccccccccaaaaaaaaaaaccccccaaaaaaaacccccccaaaaaaaaccccccaaaaccccccccaaaaccccaaacccccccaaccccacccaaccccaaaaccccccccaaccaaaaaaccccaaccccaacccccccccacccccacccccccccccccacccccccaccccccccccccccccccccccccccccaccccccccaaccaccctatatatatatatatatatatatatatatatatatatatataatatatataatattattaaataataatatatattatataataaataataaaaataaaaataaattataaaaaaa 1 1 11 1 1 1 1 111 111 1 1 1 1 11 1 11 11 11 1 11 1 111111111111111 11 111

Serie Compacta 1

SIDEREUM ANA IIIEl río Guadiana y Tartessos

Javier Jiménez Ávila (ed.)

Page 2: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

SERIE COMPACTA

(Compendia et Acta)

1

SIDEREUM ANA III

El r�o Guadiana y Tartessos

CONSORCIO DE LA CIUDAD MONUMENTAL, HISTÓRICO-ARTÍSTICA Y ARQUEOLÓGICA DE MÉRIDA

MÉRIDA, 2016

JAVIER JIM�NEZ çVILA

(ed.)

Page 3: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

!"#$%$&'()*)("""+(,-(./0(12345363(7(83.9,::0:(+(;3<93:(4,(-3(.,265=6(<5,69/><3?(@(A3B5,.(A5CD-6,E(FB5-3G(,4H(I('D.543+(J06:0.<50(4,(-3(J52434('062C,693-G(K5:9=.5<0L).9/:95<3(7().M2,0-=N5<3G(OPQRH(I(STP(UH(+(5-H(V(TP(<CW!,.5,(<0CU3<93H(J0CU,6453(,9()<93(V(QX(((((((((((((((((((((((((((((((

"!Y*(ZR[L[\LSZRL\R[[LZ

QH$]<3B3<506,:( W).M2,0-0N/3XI$:U3^3L12345363G( J2,6<3( 4,-LJ06N.,:0:H( OH( 12345363G( J2,6<3(4,-(W$:U3^3XLK5:90.53LK3:93(POQ[()H(AHJH(W_,./040(U.,..0C360XLJ06N.,:0:(H(TH(12345363G(J2,6-<3( 4,-( W$:U3^3XL)695N`,434,:LJ06N.,:0:H( \H83.9,::0:( W%,560XLJ06N.,:0:H( "H( A5CD6,EG(FB5-3G( aH(A3B5,.G(,4H(-59H(""H(!2b959H(+($-(./0(12345363(7(83.9,::0:H("""H(J06:0.<50(4,(-3(J52434('062C,693-G(K5:9=.5<0L).9/:95<3(7().M2,0-=N5<3(4,('D.543G(,4H("cH(J0-HZPOW\SPLQdXeSTReWPSTXZP\W\SPLQdXeSTReWPSTX

$:9,(-5b.0(<0695,6,(-3:(3<93:(4,(-3(.,265=6(<5,69/><3(f!54,.,2C()63( """G($-( ./0(12345363(7(83.9,::0:eG( <,-,b.343(,6('D.543(,6( :,U95,Cb.,(4,(OPQO(7( .,3-5E343( ,6( ,-(C3.<0(4,-(U.07,<90((Prehistoria del Territorio de M�rida a trav�s de la Colecci�n Comarcal W_%"PZ)Qd\X(>636<5340(U0.(-3(A2693(4,($]9.,C342.3(4,69.0(4,-("""(_-36(%,N5063-(4,("6B,:95N3<5=6G(#,:3..0--0(,("660B3-ci�n.

_0.9343+(a.3NC,690(4,(U-390(4,(<,.gC5<3(N.5,N3(W:H(c"(3HJHX(U.0<,4,69,(4,($-(J2<0G(12343h5.3(WY343h0EXH(a090(cH(*0B5--0H

i(J06:0.<50(4,(-3(J52434('062C,693-(K5:9=.5<0L).9/:95<3(7().M2,0-=N5<3(4,('D.543H

© de los textos: los autores.

#5:,^0(7(C3M2,93<5=6+(A236(J3.-0:(J064,H"CU.,:5=6+("CU.,693(%37,N0G(!HjH"!Y*+(ZR[L[\LSZRL\R[[LZ#,U=:590(j,N3-+(Y)LPPPTOQLOPQR"CU.,:0(,6($:U3^3H(_.569,4(56(!U356H

Page 4: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

Presentaci�n. Sidereum Ana: diez a�os de encuentros transfronterizos y arqueol�gicos A3B5,.(A5CD6,E(FB5-3 ................................................................................................................................................. 9

!"#$%&'()*%+"#,"-(./)"#*-).%("0)1"%(.'3.9/6()-C3N.0L10.b,3(I()-k.,40(',4,.0:('3.9/6(I('3.5360(80..,:(l.95E ..................................................... Qd

El Alto Guadiana entre los siglos VIII y VI a.C.2*3.4"4./#./(-"()5-6&'"/#.%#.0#6-."#7#4.#Sisapo Ð La Bienvenida (Almod�var del Campo, Ciudad Real) '3.(m3.E3-,h0:(_.5,90(I(1,.Cg6($:9,b36(Y0..3h0(I(_39.5<53(K,B53(1=C,E ....................................................... TZ

$%'8"#./#,"-(.//*/9El Periodo Orientalizante (siglos VIII-VI a.C.) en el tramo extreme�o del GuadianaA3B5,.(A5CD6,E(FB5-3 ............................................................................................................................................... SZ

!"#*':;"')<%#*-).%("0)1"%(.#4.#0"#=/':.0"#4.#>*/(.0.-+"#4.#?@-)4"#

A3B5,.(A5CD6,E(FB5-3(I(a.36<5:<0(A3B5,.(K,.3:('0.3 ........................................................................................ 107

Povoamento ÒorientalizanteÓ na margem esquerda do GuadianaUma leitura a partir do Passo Alto e do Castelo de Serpa)63(!0>3()6926,:(I()69=650('H('06N,(!03.,:(I('362,-3(4,(#,2:(I(%25('H(!03.,: .................................... QTQ

?*%(.#4*#A*0*-#BC#?*%(.#4*#D*EF"0#GC#H"0/"#B#.#,*--.#I.08"#BJK*%(.L(*/#4.#D0"%+').#4"#M#M4"4.#4*#N.--*#4*#$0.%(.O*#M%(.-)*-)63(!0>3()6926,:(I('362,-3(4,(#,2:(I(!2:363($:9.,-3(I(A3B5,.(j3..3E3b3-)69=650('H('06N,(!03.,:(I(%0:3('H(!3-B340.('39,0: ..................................................................................... QdZ

$#%.'-<;*0.#4"#I)%8"#4"/#K"0)P"/#QA.O"C#D*-(:5"0R)63('3.N3.543()..243(I(%25(Y3.b0:3(I(a.36<5:<0(10C,:(I($-5:3(4,(!02:3 .................................................... 187

$#%.'-<;*0.#4.#D"08")/#QA.-)%5.0C#A.O"Ra5-5U,(AHJH(!3690:(I()63(!0>3()6926,:(I('362,-3(4,(#,2:(I(J3.0-563(1.5-0 .................................................. 227

$#%.'-<;*0.#4"#M#M4"4.#4*#N.--*#4*#?*%(.#4*#A*0*-#STG#QH#U*#A-)//*/C#A.O"R%25('H(!03.,:(I(j/453(Y3U95:93(I(%25(_56n,5.0(I(j2.4,:(l-5B,5.3(I(mD-53(%04.5N2,:(I(*,-:06(c3-, ............... OST

$0.%(.O*C#"#H:0#4.#A.O"J#"#%.'-<;*0.#/)4@-)'"#4"#V:)%("#4*#=/(6')*#W853N0(40(_,.,5.0(I(%25('393-090(I(*,-:06(Y0.N,: .............................................................................................. TPT

$#;")/"5.E#X:%.-6-)"#"#Y./(.#4.#A.O"#%*#D.-+*4*#Y-).%("0)1"%(.J"/#%.'-<;*0./#4.#K"-0*("#QHU*#A-)//*/R#.#K)%'*#Z.)/#[#QH"%()"5*#?")*-R%0:3('H(!3-B340.('39,0:(I(A0:D()69=650(_,.,5.3 .............................................................................................. TTT

H\?$ZMY

Page 5: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

2.'-<;*0./#-:-")/#/)4@-)'"/#4*#A")L*#$0.%(.O*#/.(.%(-)*%"0J#/*').4"4..#E:%4*#X:%.-6-)*#%*/#A"--*/#4.#A.O"#'3.N3.543(a5N2,5.,40(I(%25('393-090( ................................................................................................................. TdT

!"#H.;:0(:-"#B[#4.#V:)%("#4*#K"/(.0*#]#QH"03"4"C#A.O"R9#2*("#;-.0)E)%"-$B,.(J3-B0(%04.5N2,E(I(_39.5<53(!5Co0 ............................................................................................................... TZZ

$#%.'-<;*0.#4.#D)/^./#QA.O"R_39./<53(Y3.No0(I(#2-<,(a,.6364,: ...................................................................................................................... 407

Y#K"F.P*#Z.4*%4*#Q?*:-"R9\E#.4)X+')*#E*%:E.%("0#.#/)%5:0"-#%"#E"-5.E#./_:.-4"#4*#`:"4)"%"%25('06N,(!03.,:(I()69=650('H('06N,(!03.,: ................................................................................................. 421

K"/(-*#?"-)E#.%(-.#)%4+5.%"/C#N.%+')*/#.#,"-(@//)'*/)63('3.N3.543()..243(I(J3.-0:(a5-5U,(4,(l-5B,5.3(I(c,.3(8,5],5.3(4,(a.,593: ................................................. \\T

D-)E.-#"3"%'.#/*F-.#.0#"/.%("E).%(*#X.%)')*#4.#$a"E*%(.#Q>:.03"RA236()2.,-50(_D.,E('3</3:(I(Y,6h3C/6(J3b3<0($6<563:(I($-5:3b,9(13.</3(8,7::3645,. ................................. \SR

=0#4./':F-)E).%(*#4.#0"#%.'-<;*0)/#X.%)')"#4.#$a"E*%(.C#>:.03"#Q/)50*/#IMMMbIMM#"9K9R$-5:3b,9(13.</3(8,7::3645,.(I(#5.<,('3.E0-5(I(Y,6h3C/6(J3b3<0($6<563:Yp.b,-(K,2q6,.(I("6N.54(13C,.Lr3--,.9 ...............................................................................................................................\ZT

La orientalizaci�n de Huelva (siglos VIIIÐVI a.C.)a.36<5:<0(1=C,E(80:<360 ..................................................................................................................................... dTQ

Una vivienda rural orientalizante en la chora#4.#0"#>:.03"#c("-(@/)'"dJ.0#X*%4*#4.#'"F"e"#]ff#4.#!"#Y-4.%TH.E)%"-)*J.5:9563(j=U,E(J3b09(I(A236(J3.-0:(c,.3L%04./N2,E ......................................................................................... ddR

2:.3*/#4"(*/#/*F-.#0"#>:.03"#("-(@/)'"9#!"#.L'"3"')<%#"-_:.*0<5)'"#4.#0"#'"00.#K*%'.;')<%#B#'3.<0:(13.</3(a,.6g64,E ..................................................................................................................................... dRZ

,-"4)PU*#)%4+5.%"#.#*-).%("0)1"%(.#%"#E.("0:-5)"#4*#F-*%1.#4"#F"')"#4*#`:"4)"%".%(-.#*/#/@':0*/#IMMM#.#IM#"9K9_,4.0(c3-D.50(I()69=650('H('06N,(!03.,:(I('3.53(ag95C3().3sh0(I(%25(AHJH(!5-B3 ....................................... SPd

Conclusiones Ð Conclus�es_30-0(Y,.63.4565(I(%25('393-090(I(A236(_,.,5.3(!5,:0(I(!3b3n(r3-54(!b,56395 ............................................... SQR

Relaci�n de autores............................................................................................................................................... SOd

Page 6: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos
Page 7: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS,

FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Ana Margarida ARRUDA(UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa) Carlos Filipe P.P. DE OLIVEIRA(UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)

Vera TEIXEIRA DE FREITAS(Museu de Portimão; UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)

RESUMO

As escavações realizadas no castelo de Castro Marim, desde a década de 80 do sé-culo passado até 2003, revelaram uma intensa ocupação humana durante a Antiguida-de, que foi já alvo de diversas publicações. Apresentamos aqui alguns contextos que considerámos representativos da sua ocupação durante os séculos VII e VI a.n.e., os quais se integram nas fases II, III e IV do faseamento arquitectónico estabelecido para o Sector I. Os vestígios postos a descoberto revelaram, desde os primeiros momentos da ocupação sidérica, evidentes características de tradição mediterrânea, plasmadas quer nas técnicas construtivas utilizadas, quer na arquitectura, ortogonal. A baixela cerâmi-ca associada aos primeiros momentos da Idade do Ferro é dominada pelas produções manuais, constituindo uma completa novidade a presença de cerâmica a torno, nomea-damente contentores anfóricos, pithoi e pratos cobertos com engobe vermelho. Ao longo dos séculos VII e VI a.n.e., o espólio mantém a sua matriz “orientalizante”, notando-se que a cerâmica manual diminuiu consideravelmente. A relação com o “mundo Tartés-sico Orientalizante” permaneceu inquestionável, sendo perceptível a existência de um estreito vínculo entre Castro Marim e a Andaluzia Ocidental.

ABSTRACT

Excavations carried out in Castro Marim castle between the 80´s of last century until 2003 revealed an intense human occupation during Antiquity, which was already refereed in several publications. Here, we publish some contexts considered representa-tive of its occupation during the 7th and 6th centuries B.C.E., which are integrated in phases II , III and IV of the architectural phasing set of the Sector I. The data revealed obvious characteristics of Mediterranean tradition from the fi rst moments of the Iron Age occupation, shown in the construction techniques, as well in the orthogonal archi-tecture. The ceramic associated with the early moments of Iron Age is dominated by hand made production, constituting a complete novelty the presence of wheel made pottery, especially amphorae, pithoi and plates covered with red glaze. During the 7th and 6th centuries B.C.E. the material is still orientalised, and hand made pottery decreased considerably. The relationship with the Tartessian world remained unquestioned, being perceived the existence of a close link between Castro Marim and western Andalusia.

Page 8: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

SIDEREUM ANA IIIEl río Guadiana y TartessosJAVIER JIMÉNEZ ÁVILA (ed.) Publicaciones del Consorcio de la Ciudad Monumental de MéridaSerie Compacta (Compendia et Acta) n.º 1. Mérida 2016pp. 443-466

Page 9: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

vários momentos construtivos e respectivos planos arquitectónicos, abrindo caminho para uma pro-posta de faseamento (Figs. 2 e 3).

Os dados de que dispomos permitem afi rmar que a Idade do Ferro em Castro Marim se divide em dois grandes momentos:

1) Um primeiro, no qual se centra este traba-lho, que denominamos de Orientalizante, evidencia relações intensas com o mundo fenício ocidental e pode datar-se entre os fi nais do século VIII/inícios do VII a.n.e. e os fi nais do século VI/inícios do sé-culo V a.n.e.

2) Um segundo, que poderá designar-se de “tur-detano” ou “púnico-gaditano”, iniciou-se na segun-da metade do século V a.n.e., terminando nos fi nais do III a.n.e.

Este trabalho centra-se nos momentos mais an-tigos da ocupação do sítio, balizada entre fi nais do século VIII a.n.e. e fi nais do século VI a.n.e., que, de acordo com o faseamento estabelecido, corres-ponde às fases II, III e IV.

1. ESTRATIGRAFIA E CULTURA MATERIAL

1.1. OS NÍVEIS FUNDACIONAIS

Os dados que possuímos relativamente aos ní-veis mais antigos da Idade do Ferro (fase II) são limitados, facto que se deve, por um lado, à escassa preservação dos respectivos vestígios arquitectóni-cos e, por outro, à exiguidade das áreas escavadas, o que foi determinado pela opção de conservar as estruturas de épocas mais recentes. Não obstante, na zona central da escavação, foi possível identi-fi car, parcialmente, uma área edifi cada, com um orientação E-O, cuja planta evidencia a plena adopção da arquitectura ortogonal. Do ponto de vista estratigráfi co, os níveis desta fase situam-se entre as construções da ocupação posterior e o afl oramento rochoso. Esta situação estratigráfi ca poderia constituir prova de que a primeira ocu-pação do sítio se teria iniciado durante a Idade do Ferro. Todavia, alguns parcos, mas consistentes,

INTRODUÇÃO

O castelo de Castro Marim implanta-se numa pequena colina, com cerca de 42 m de altura. Si-tua-se na margem direita do rio Guadiana, muito próximo da sua foz e possui excelentes condições naturais de defesa e grande domínio visual (Fig. 1).

Os trabalhos arqueológicos realizados decor-reram ao longo de dez campanhas de escavação, tendo sido intervencionadas quatro áreas distintas, que, em conjunto, perfazem cerca de 500 m2.

A mais relevante para a caracterização da ocu-pação proto-histórica do sítio é, sem dúvida, o Sector 1, onde se registou uma espessa estratigra-fi a, que corresponde a uma longa diacronia. Esta abrange praticamente toda a Idade do Ferro (sécu-lo VIII – III a.n.e.), e as épocas romana e moderna. Desta última, conservaram-se as fundações de um edifício religioso, que seccionou as estruturas ante-riores. Não obstante, a considerável dimensão da área escavada permitiu uma leitura horizontal dos

Fig. 1.— Localização do castelo de Castro Marim.

Page 10: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

testemunhos arqueológicos identifi cados no Sector 1 e 3 demonstram, claramente, que a colina onde se implantou o castelo medieval foi habitada desde o Bronze Final.1

Embora se tenha registado níveis da primeira ocupação sidérica em praticamente todo o Sec-tor 1, os materiais a associados a esse momento são em número reduzido e encontram-se bastante fragmentados, difi cultando uma análise pormeno-rizada. Ainda assim, foi possível verifi car que a ce-râmica é dominada pelas produções manuais, que perfazem cerca de metade da amostra recolhida, facto que denuncia o carácter eminentemente “in-dígena” desta ocupação. Nesta categoria cerâmica, e à semelhança do que se verifi cou nos níveis do Bronze Final, as formas abertas continuam a ser maioritárias, encontrando-se representadas por re-cipientes de morfologia muito diversifi cada. Entre as taças, cabe destacar o esmagador domínio dos exemplares de perfi l hemisféricos (Fig. 4, n.º 10-12), o que contrasta com o cenário observado para o período anterior, quando os recipientes de per-fi l carenado eram predominantes. Nos recipientes de menores dimensões (tigelas-“copas”), os vasos de perfi l carenado característicos do Bronze Final também quase desaparecem do registo arqueológi-co, sendo substituídos pelas tigelas de suave per-fi l em S (Fig. 4, n.º 13-15). Tal facto é consistente com os dados conhecidos na Andaluzia Ocidental, onde a tendência para o “aligeiramento” dos perfi s se fez sentir a partir do segundo quartel do sécu-lo VIII a.n.e., prolongando-se durante todo sécu-lo VII a.n.e. Ao nível das decorações, verifi ca-se a persistência das técnicas de brunimento e pintura, assim como o aparecimento dos primeiros exem-

1 Oliveira 2012.

plares com digitações, que correspondem a reci-pientes fechados de média e grande capacidade (Fig. 4, n.º 6). Apesar da reduzida dimensão dos fragmentos, foi possível reconhecer parcialmente os motivos brunidos: reticulados (Fig. 4, n.º 7) e triângulos preenchidos com traços oblíquos (Fig. 4, n.º 8). Este último motivo parece corresponder ao mesmo esquema decorativo parcialmente do-cumentado num exemplar com decoração pintada a negro (Fig. 4, n.º 9). A pintura a vermelho foi igualmente registada num fragmento de uma tigela (Fig. 4, n.º 5), dita de “paredes fi nas”,2 integrável no estilo “Guadalviquir II/S. Pedro II”, de acordo com a proposta de Ruiz Mata,3 cujo enquadramen-to cronológico pode ser balizado entre fi nais do sé-culo VIII e o século VII a.C.

No que se refere à olaria a torno, deve salien-tar-se a sua escassa relevância para a atribuição de cronologias, na medida em que todo o conjunto se enquadra em tipologias de largo espectro. Contu-do, ao nível cultural, a sua presença reveste-se da maior importância, uma vez que evidencia a exis-tência de contactos ou mesmo a presença física de comunidades fenício-ocidentais no local, documen-tando a integração do sítio no denominado hori-zonte “tartéssico-orientalizante”. A este respeito, parece importante referir que se registaram alguns fragmentos de cerâmica de engobe vermelho, os quais mostram uma limitada variabilidade formal (Fig. 4, n.º 16-21). O prato é a forma mais bem representada, surgindo quer variante onde o lábio se diferencia das paredes (Fig. 4, n.º 20), quer na-quela em que apenas se destaca na superfície inter-na, possuindo bordo arredondado (Fig. 4, n.º 18).

2 Cabrera 1981: 329.3 Ruiz Mata 1984-85.

446 ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Fig. 2.— Perfi l estratigráfi co do Sector 1 onde surgem representados níveis de todas as fase da ocupação sidérica de Castro Marim.

Page 11: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

Em menor número, estão presentes também alguns exemplares de taças (Fig. 4, n.º 16 e 19).4 No que se refere à cerâmica cinzenta, cumpre referir a exis-tência de um fragmento de taça hemisférica (Fig. 4, n.º 21), forma também presente na denominada cerâmica comum. Contudo, esta categoria integra igualmente recipientes de morfologia fechada (Fig. 4, n.º 1-2), indispensáveis no âmbito actividades domésticas e quotidianas de qualquer comunidade.

O espólio metálico associado a este primei-ro momento da Idade do Ferro reforça, uma vez mais, o seu carácter marcadamente indígena, evi-denciado pela ausência de quaisquer artefactos de ferro. Os dois contos de lança (Fig. 4, n.º 22-23) remetem igualmente para tradições enraizadas no Bronze Final, uma vez que surgem normalmente associados a pontas de seta com pedúnculo, confor-me se verifi cou no depósito da ria de Huelva.5 Não obstante, estes artefactos estão também presentes em contextos antigos da Idade do Ferro, podendo funcionar como ponteiras de bainha de punhal ou espada, como se verifi cou por exemplo em Pics del Corbs, onde a datação sugerida está balizada entre o século VIII e o século VII.6

Parece, portanto, evidente que os dados estra-tigráfi cos e os materiais recuperados sugerem uma cronologia de fi nais do século VIII a.n.e./primeira metade do século VII a.n.e. para início da ocupação

4 Freitas 2005; 2006.5 Pereira 2008: 35; Almagro Basch 1940.6 Apud Pereira 2008: 35; Barrachina e Neumaier 1996: 97.

sidérica do castelo de Castro Marim, hipótese que não é desmentida pelas datações radiocarbónicas efectuadas.7

1.2. A OCUPAÇÃO DO SÉCULO VII A.N.E.

O momento de ocupação subsequente (fase III) caracteriza-se pela existência de duas áreas edifi ca-das com orientação distinta, cuja utilização e aban-dono deverão ter ocorrido ao longo do século VII a.n.e., conforme demonstra o espólio associado e as datações de radiocarbono (Fig. 5).8

Na área central da escavação, identifi cou-se um edifício composto por vários compartimentos de planta rectangular. Destes, o 10 foi o único onde foi possível uma escavação em extensão e em profun-didade, tendo-se registado vários testemunhos de remodelações, o que indicia uma considerável dia-cronia de utilização. No seu interior e ao nível da organização do espaço, verifi cou-se uma sequência construtiva, observável também no respectivo mo-biliário associado, que culminou com a edifi cação de dois novos compartimentos – 5 e 8 – a Sul , dis-postos em torno de uma área de circulação comum. Este espaço dava também acesso ao compartimen-to 6, que se encontrava pavimentado com conchas, que, em algumas áreas, surgiam meticulosamente

7 Arruda et al. 2013.8 Ibidem.

447CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Fig. 3.— Planta do Sector 1 com representação de todas as estruturas de alvenaria documentadas nas ocupações sidéricas e romanas.

Page 12: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

alinhadas em fi adas paralelas, apesar de, em outras, se encontrarem dispostas de forma aleatória, suge-rindo que o referido pavimento foi sujeito a várias obras de reparação e/ou manutenção. A Este do compartimento 10, detectou-se vestígios de mais dois espaços, dos quais apenas foi possível esca-var áreas bastante restritas, impedindo perceber a forma como se articulavam as várias células deste edifício. Com efeito, no compartimento 7 apenas se escavou a sua esquina SO, tendo-se constata-do que esta se encontrava ocupada por uma larei-ra construída com argila. A Norte, implanta-se o compartimento 11, no interior do qual se regista-ram pormenores arquitectónicos que evidenciam um especial cuidado na sua concepção, designa-

damente um pavimento argiloso de cor vermelha, e, na zona central, uma peculiar estrutura de com-bustão quadrangular, com uma “cabeceira” sobre-levada a Oeste. O espaço perímetral deste edifício corresponde a uma área descoberta, relativamente ampla, onde se detectaram vestígios que sugerem a existência de um piso de circulação construído com conchas, do qual, no entanto, apenas se preserva-ram os níveis relativos à sua destruição.

Algumas das particularidades arquitectónicas reveladas pelo complexo construtivo acima descri-to serviram de fundamento para uma interpreta-ção que relaciona, pelo menos alguns dos espaços, com uma funcionalidade de carácter cultual. Neste contexto, o compartimento 11 assume especial re-

448

Fig. 4.— Amostra do conjunto artefactual recolhido nos níveis mais antigos da ocupação sidérica (Sector 1 – fase II). Cerâmica comum (1 e 2); cerâmica manual (3-15); cerâmica de engobe vermelho (16-20); cerâmica cinzenta (21); bronze (22-23).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 13: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

449CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Fig. 5.— Planta geral correspondente à ocupação do século VII a.n.e. (Sector 1 – fase III).

levância, podendo a invulgar lareira destacada na zona central ter funcionado como um altar. A pre-sença de áreas pavimentadas com conchas é tam-bém bastante sugestiva, não se podendo ignorar as evidentes semelhanças com os pisos associados ao complexo monumental do Carambolo,9 cujas es-cavações mais recentes permitiram avançar com a proposta de este se tratar de um santuário de fun-dação fenícia.10 Contudo, importa ressalvar que este tipo de pavimentos não é exclusivo nem de sí-tios de tradição oriental, nem espaços dedicados ao culto, encontrando-se também documentado em vários sítios de habitat, sobretudo na Andaluzia.

Uma funcionalidade distinta pode ser propos-ta para o conjunto de compartimentos localizado a Norte, que parecem ter sido construídos com uma orientação que respeita os contornos da colina, deixando antever a sua associação a uma eventual muralha. Aparentemente, tratar-se-á de um único edifício, do qual foi possível escavar parcialmente quatro compartimentos anexos entre si, que, aten-dendo à sua proximidade da encosta, poderiam ser interpretados como “casamatas” ou “cajones”. Destes, o 1 merece particular destaque, pois foi o

9 Fernández Flores e Rodríguez Azogue 2005; Rodríguez Azogue e Fernández Flores 2005.

10 Fernández Flores e Rodríguez Azogue 2005; 2007a; 2007b; Rodríguez Azogue e Fernández Flores 2005.

único onde se documentou a utilização de tijolos de adobe, um tipo de material que habitualmente surge associado à arquitectura de tradição oriental.

Deve ainda referir-se a presença de dois fornos: um no compartimento 8 e outro na zona sul desta área edifi cada. Apesar das diferenças ao nível das dimensões, a morfologia e modo de construção de ambos é bastante semelhante e remete para uma utilização doméstica de âmbito culinário, também sugerida pelos níveis arqueológicos associados.

De um modo geral, pode dizer-se que a cultura material mantém a matriz “orientalizante” já evi-denciada na fase anterior. Ao nível da cerâmica, é evidente o incremento do uso de recipientes fa-bricados a torno e o consequente decréscimo das tradicionais produções manuais, que, proporcio-nalmente, correspondem, nesta fase, a um terço da amostra recuperada. No conjunto da cerâmica ma-nual, assiste-se a uma diminuição dos recipientes abertos, em particular das taças e das tigelas, que, no entanto, continuam a ser as formas maioritárias (61%). Tal facto contrasta com a situação verifi ca-da nas colónias fenícias, onde a técnica manufac-turada está atestada, sobretudo, em contentores de formas fechadas, associáveis a actividades culiná-rias e, mais raramente, de armazenagem.

A cerâmica manual desta fase apresenta evi-dentes coincidências tecnológicas, tipológicas e

Page 14: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

450

Fig. 6.— Amostra do conjunto de cerâmica manual recolhido nos níveis do século VII (sector 1 - fase III).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 15: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

decorativas com o chamado “horizonte tartéssico – orientalizante”. A este nível, destacam-se, as de-corações brunidas (Fig. 6, n.º 5) e pintadas (Fig. 6, n.º 6-8), cujo centro de difusão parece ter sido a área Onubense e o Baixo Guadalquivir, uma vez que é precisamente nestas regiões onde se con-centra o maior número de recipientes assim or-namentados. No entanto, deve reconhecer-se que em Castro Marim estes tipo decorativos surgem em quantidades muito reduzidas, demonstrando bem o seu carácter periférico em relação a essas regiões. Para além das técnicas já referidas, nos recipientes de morfologia aberta, identifi cou-se uma outra modalidade decorativa, que consiste na pintura a amarelo e branco sobre uma superfície previamente pintada de vermelho (Fig. 6, n.º 9). Exemplares análogos ao de Castro Marim estão bem atestados na Baixa Andaluzia, por exemplo no nível 21 do Cerro Macareno,11 na sepultura n.º 2 da necrópole de Cruz del Negro12 e na Colina de los Quemados,13 todos com uma cronologia da 2ª metade do século VII a.n.e. Nos contentores de morfologia fechada, são comuns os exemplares decorados com motivos incisos e digitados, ainda que os recipientes lisos continuem a ser claramen-te maioritários.

Durante o século VII a.n.e., a relação de Castro Marim com o mundo dito Tartéssico parece inques-tionável, tendo em consideração não só a cerâmica manual, mas também, a fabricada a torno, da qual se recolheram vários exemplares enquadráveis neste ambiente cultural, designadamente fragmentos de contentores anfóricos de tipo R1 (mais exactamente 10.1.1.1. e 10.1.2.1), de pithoi, e de uma grande va-riedade de formas revestidas por engobe vermelho, algumas das quais constituem uma completa novi-dade no registo arqueográfi co do sítio. No conjun-to da cerâmica de uso comum, destaca-se algumas formas afi ns de pithoi (Fig. 7, n.º 1) mas, principal-mente, a grande abundância de taças hemisféricas, com dimensões muito variáveis (Fig. 7, n.º 3). Esta mesma forma é também a mais comum na amostra da cerâmica cinzenta (Fig. 7, n.º 19), categoria em que os pratos e as taças carenadas ou de perfi l em S constituem tipos claramente residuais (Fig. 7, n.º 17-19). A cerâmica de engobe vermelho refl ecte um momento intermédio no seu processo evolutivo, in-tegrando formas evolucionadas de tradição oriental e outras de cariz eminentemente indígena. Nas pri-

11 Pellicer et al. 1983: fi g. 60, n.º 409.12 Jiménez Barrientos 1987.13 Ruiz-Mata e Luzón 1973: lám. XV.

meiras formas insere-se a taça carenada de bordo triangular, que deriva dos pratos carenados, bastan-te comuns na metrópole fenícia, mas as formas fe-chadas parecem também ser reproduções de mode-los orientais, destacando-se a presença de exempla-res de “ampollas” com as superfícies cobertas com engobe vermelho, tratamento decorativo raro neste tipo de recipientes (Fig. 7, n.º 15). Outros recipien-tes característicos deste momento (embora bastante raros) são os exemplares das jarras de colo cilíndri-co (Fig. 7, n.º 13) e do jarro de “boca de seta”. Os pratos encontram-se representados por tipos evolu-cionados (Fig. 7, n.º 6-7).

Este conjunto apresenta características mor-fológicas que o distancia dos de âmbito ocidental, inserindo-se cronologicamente entre meados e o fi nal do século VII a.n.e. No entanto, a cerâmica de engobe vermelho caracteriza-se, não tanto pela presença de formas de inspiração oriental, mas por espelhar o repertório habitualmente presente nos sítios indígenas orientalizados. Neste contexto, deve destacar-se a presença de tigelas com canelu-ras na superfície externa (Fig. 7, n.º 10) e também os suportes ditos de “carrete” (Fig. 7, n.º 16), cuja forma deriva de exemplares do Bronze Final.

No que se refere ao espólio metálico, a desco-berta de dois pequenos blocos de ferro demonstra a recolha ou receptação desse tipo de minério pela comunidade sediada em Castro Marim. Todavia, a escassez deste tipo de restos afasta a possibilida-de de existir uma actividade de redução efectiva do ferro, mesmo de cariz doméstico, pelo menos no espaço até agora intervencionado. Os artefac-tos fabricados com cobre/bronze continuam a ser maioritários, destacando-se a presença dos que se podem relacionar com a actividade comercial (pon-derais), com os cuidados higiénicos (pinça) e com actividades domésticas do quotidiano (tenaz para lidar com espaços de combustão).14

Parece importante referir que, a maior parte do material associado a este plano arquitectónico foi recuperado nos níveis que ocupavam o espaço en-tre as duas áreas edifi cadas, sendo bastante raros os artefactos fragmentados in situ, no interior dos respectivos compartimentos. Tal facto, remete para um momento de abandono programado e, prova-velmente, de curta duração, uma vez que, confor-me se verá já de seguida, sobre as ruínas desta fase construíram-se novos edifícios.

14 Pereira 2008: 34.

451CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Page 16: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

452

Fig. 7.— Amostra do conjunto de cerâmica a torno recolhido nos níveis do século VII (Sector 1 – fase III). Cerâmica comum (1-15); cerâmica de engobe vermelho(6-16); cerâmica cinzenta (7-19).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 17: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

1.3. A OCUPAÇÃO DO SÉCULO VI A.N.E.

Uma parte importante dos dados relativos à ocupação de Castro Marim durante o século VI a.n.e. (fase IV) encontra-se já publicada nas actas da primeira reunião do Sidereum Ana.15 Por este motivo, no presente artigo, optámos por centrar a análise no seu momento mais tardio, correspon-dente à ocupação do sítio entre fi nais do século VI a.n.e. e meados do século V a.n.e., considerando que esta época não foi então extensivamente apre-sentada. Não obstante, importa referir que, duran-te o século VI a.n.e., parece assistir-se ao incre-mento da ocupação do espaço (pelo menos no que respeita à área intervencionada), facto perceptível pela existência de um maior número de edifícios, que, contudo, e como seria expectável, mantêm a arquitectura ortogonal já evidenciada nas fases an-teriores, organizando-se em torno áreas de circula-ção comuns (Fig. 8).

Neste novo plano arquitectónico, as constru-ções mais próximas do limite da colina mantêm uma orientação distinta das demais áreas edifi ca-das, sendo curioso notar que o aproveitamento do espaço foi feito de forma muito semelhante à fase anterior, coincidindo até no número de divisões. Assim, e tal como havíamos proposto para os com-

15 Arruda e Freitas 2008.

partimentos do século VII a.n.e., a posição topográ-fi ca destas construções, bem como as suas dimen-sões e relação entre si, sugerem que estas pudessem estar anexadas a uma eventual muralha, podendo ter funcionado como casamatas ou “cajones”.

Na área central da escavação, foi identifi cado um edifício composto por vários compartimentos, que terão sido construídos em diferentes momentos ao longo do século VI a.n.e. As suas características arquitectónicas e os níveis arqueológicos escavados no seu interior remetem para uma funcionalidade de carácter habitacional. A Sul deste complexo, de-senvolve-se um outro edifício do qual se pôs a des-coberto duas células, que defi nem uma planta em “L”. O de maiores dimensões (27) está equipado com vários bancos laterais e é dotado de uma ampla lareira central. A sua interpretação enquanto espa-ço de culto tem vindo a ser defendida, atendendo, sobretudo, à singularidade da arquitectura em comparação com os restantes espaços desta fase.16

Genericamente, pode dizer-se que este momento ocupacional vem na sequência directa das ocupa-ções anteriores, mantendo-se a mesma matriz orien-talizante, quer no espólio, quer na arquitectura. Com efeito, o conjunto da cerâmica a torno denun-cia a integração do sítio numa koiné orientalizante, sendo incontornáveis as suas relações com o mundo

16 Arruda 2005; Arruda et al. 2007; 2009.

453CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Fig. 8.— Planta geral correspondente à ocupação do século VI a.n.e. (Sector 1 – fase IV).

Page 18: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

454

Fig. 9.— Amostra do conjunto de cerâmica a torno recolhido nos níveis do século VI (Sector 1 – fase IV). Cerâmica pintada em bandas (1-2); cerâmica comum (3-5); cerâmica de engobe vermelho (6-13); cerâmica cinzenta (14-17).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 19: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

fenício da região Onubense e vale do Guadalquivir. Na cerâmica cinzenta, as taças de perfi l hemisférico são o tipo de recipiente predominante (Fig. 9, n.º 14-15), enquanto os pratos e taças carenadas ten-dem a cair em desuso (Fig. 9, n.º 16-17). As formas fechadas são ainda mais raras, à semelhança do que sucede com a cerâmica dita de “uso comum”, onde as taças hemisféricas são igualmente preponderan-tes no conjunto (Fig. 9, n.º 4). Nesta categoria cerâ-mica, documentou-se também o uso de pratos, taças e vasos trípode (Fig. 9, n.º 5). No que diz respeito às formas fechadas, assinala-se a presença de recipien-tes do tipo pote/panela (Fig. 9, n.º 3), jarros e for-mas afi m de pithoi. Recolheram-se também alguns fragmentos de pithoi (Fig. 9, n.º 1) e de urnas tipo Cruz del Negro, ornamentados com faixas pintadas a vermelho (Fig. 9, n.º 2). Deste último tipo de re-cipientes, merece particular destaque um exemplar fragmentado in situ recuperado num contexto fun-dacional do compartimento 27 (Fig. 13, n.º 1).

O repertório da cerâmica de engobe vermelho altera-se relativamente ao que foi documentado nos níveis do século VII a.n.e., não se encontrando re-presentadas quaisquer formas fechadas ou supor-tes. Tanto as taças (Fig. 9, n.º 6 e 10-13) como os pratos (Fig. 9, n.º 8-9) apresentam um maior núme-ro de variantes, notando-se, particularmente nesta última forma e na tigela com caneluras na superfície externa (Fig. 9, n.º 7), uma evolução morfológica que acompanha a tendência verifi cada nos restantes sítios orientalizantes ou conectados com a coloniza-ção fenícia ocidental. A analogia com esse tipo de sítios é ainda reforçada pelo conjunto dos recipien-tes anfóricos, cuja totalidade se integra na forma ge-nericamente designada de R1. O tipo 10.1.2.1. é o mais frequente, tendo-se também registado algumas formas aparentadas com o 10.2.2.1. Em ambos os casos, as pastas dos exemplares de Castro Marim não permitem uma identifi cação exacta do lugar de produção, englobando-se no que J. Ramon17 desig-nou de grupo ocidental indeterminado.

Relativamente à importação de cerâmicas fi nas, salienta-se a presença de um fragmento de cerâmi-ca grega de época arcaica, decorado com fi guras negras. Trata-se de um alabastron ou olpe de produ-ção coríntia, inserido do Coríntio Médio, a que se atribui uma cronologia balizada entre os fi nais do século VII e o século VI a.n.e.18

No que diz respeito ao conjunto da cerâmica manual, assinala-se uma considerável quebra na

17 Ramon1995.18 Arruda 2005; 2007.

sua importância estatística, que é proporcional ao incremento das produções fabricadas a torno, representando, nesta fase, cerca de um quinto da cerâmica. Esta circunstância acompanha, de novo, a tendência registada nos sítios conectados com a infl uência orientalizante, ainda que, em alguns da área Onubense e do baixo Guadalquivir, essa pro-porção seja bastante inferior à registada em Casto Marim, que se aproxima mais dos sítios interio-res, como por exemplo Medellín, onde nos estra-tos 8 e 7 (correspondentes à ocupação do século VI a.n.e.) se obteve 24% e 18,5%, respectivamen-te.19 O repertório formal das produções manuais continua muito próximo do do século VII a.n.e., mas a distribuição das principais categorias mor-fológicas inverte-se, sendo agora maioritários os contentores fechados em detrimento das formas abertas. Este decréscimo é particularmente visível nos exemplares de menor dimensão, geralmente associados ao consumo individual de alimentos, tornando-se assim evidente que esta funcionalida-de é agora cumprida quase exclusivamente pelas cerâmicas produzidas a torno. Por outro lado, a frequente ocorrência de recipientes das mais va-riadas dimensões interpretáveis como potes e/ou panelas (Fig. 10, n.º 2-5), assim como de alguns exemplares de vasos à chardon (Fig. 10, n.º 1), é reveladora da importância que a olaria manual continua a deter no que respeita a algumas activi-dades domésticas quotidianas, nomeadamente na confecção e armazenagem de produtos alimenta-res. Ao nível das técnicas e gramáticas decorativas, salienta-se o desaparecimento da decoração pinta-da e “beliscada”. Os motivos digitados mantêm-se, surgindo agora sempre associados a outros, inci-sos, nomeadamente os denominados “bordos den-teados” (Fig. 10, n.º 3 e 5).

1.4. A OCUPAÇÃO DE FINAIS DO SÉCULO VI – PRIMEI-RA METADE DO SÉCULO V A.N.E.

A sequência estratigráfi ca registada no Sector 1 demonstra que o abandono dos vários edifícios ocupados durante o século VI a.n.e. (fase IV) ocor-reu de forma desfasada, tendo-se iniciado com a desactivação dos compartimentos identifi cados na zona norte da área de escavação (compartimentos 12 a 19, 23 e 24). Com efeito, neste espaço docu-mentou-se a presença de cinco estruturas negativas

19 Almagro-Gorbea e Martin Bravo 1994.

455CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Page 20: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

456

Fig. 10.— Amostra do conjunto de cerâmica manual recolhido nos níveis do século VI (Sector 1 – fase IV).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 21: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

que foram escavadas sobre as ruínas dos referidos compartimentos, sendo posteriormente ocultadas pelos edifícios da fase seguinte, cuja construção re-monta a meados do século V a.n.e. Estas estruturas testemunham o lapso de tempo em que aquela área já não se encontrava edifi cada, embora continuasse a ser utilizada, podendo este uso estar relacionado com as construções implantas a Sul, construções essas que se mantiveram ocupadas durante a pri-meira metade do século V a.n.e, uma vez que aos respectivos derrubes (em particular os do compar-timento 27) se sobrepõem a níveis datados da 2ª metade da mesma centúria, conforme demonstram os vários fragmentos de cerâmica ática aí recupe-rados. A construção daquelas estruturas negativas e a consequente desactivação dos compartimentos que interpretámos com eventuais casamatas permi-tem supor que, neste momento tardio da fase IV, a muralha, se de facto existiu, terá sido alvo de uma reformulação estrutural ou, em ultima instância, encontrar-se-ia desactivada (Fig. 11).

Relativamente às cinco estruturas negativas identifi cadas, parece importante referir que, embo-ra todas partilhem a mesma posição estratigráfi ca relativa, não é possível estabelecer relações de an-terioridade ou posterioridade entre elas, uma vez que, quase sempre, cortam e são sobrepostas por camadas arqueológicas sem contacto entre si. A sua

morfologia e dimensões apresentam algumas varia-ções, assim como a quantidade de espólio recolhido nos respectivos enchimentos, sendo abundante em algumas das estruturas, enquanto que em outras é praticamente inexistente. A análise do contexto mais expressivo em termos de dimensão, de onde é proveniente um maior número de materiais, per-mitiu fundamentar a proposta de datação anterior-mente avançada. De facto, tomando como exemplo o enchimento (215/775) verifi cou-se, para além da evidente manutenção de formas e tipos cerâmicos presentes ao longo de todo o século VI a.n.e., a pre-sença de recipientes cuja morfologia e, em alguns casos, as técnicas decorativas apresentam os me-lhores paralelos no espólio da fase posterior (fase V), adscrita já à centúria seguinte. A este propósito deve referir-se o caso das taças com bordos exva-sados de cerâmica comum e de engobe vermelho (Fig. 12, n.º 3 e 11), bem como a aplicação de de-coração pintada em bandas, em taças hemisféricas e em grandes recipientes do tipo “lebrillo” (Fig. 12, n.º 8), surgindo estes também sem pintura (Fig. 12, n.º 4). Por outro lado, no que respeita à cerâmi-ca manual, verifi cou-se a ausência de exemplares com decorações digitadas, uma técnica frequente ao longo de todo o século VI a.n.e.

Os quatro compartimentos que permaneceram ocupados durante este momento tardio da fase IV

457CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Fig. 11.— Planta geral correspondente à ocupação de fi nais do século VII a.n.e. – primeira metade do século V a.n.e. (Sector 1 – fase IV).

Page 22: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

458

Fig. 12.— Amostra do conjunto cerâmico recolhido no enchimento de uma estrutura negativa - (215 / 775). Cerâmica comum (1-4); cerâmica manual (5-7); cerâmica pintada em bandas (8-10); cerâmica de engobe vermelho (11-14); cerâmica cinzenta (15-16).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 23: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

parecem corresponder a um mesmo edifício, que, em função dos dados obtidos num desses espaços (compartimento 27), temos vindo a interpretar como um santuário.20 A proposta de reconstituição que apresentamos na Figura 11 baseia-se em três premissas fundamentais, que apenas poderão ser confi rmadas através de novos trabalhos arqueoló-gicos, mas que se nos afi guram bastante prováveis, sendo a primeira delas a de que o compartimento 27 ocuparia uma posição central neste complexo. Por outro lado, parte-se também do princípio que o muro que limita a Oeste os compartimentos 26 e 27 se prolonga até se cruzar com o que delimita a Norte os compartimentos 21 e 22, circunscrevendo assim o espaço ocupado pelo santuário. Por último, perspectiva-se que todo o complexo derive de um planeamento arquitectónico simétrico, originan-do assim uma planta que compreende um amplo átrio exterior, através do qual se acede a um edifí-cio tripartido localizado a Oeste que corresponde à área central do culto (compartimento 26 e 27), assim como a outras quatro dependências laterais (compartimentos 21 e 22) que devem ter funcio-nado espaços de apoio às actividades cultuais ai desenvolvidas.

A interpretação desta área como santuário ba-seia-se sobretudo em dados de índole arquitectóni-ca, salientando-se, desde logo, o cuidado posto na construção do compartimento 27, cujas caracterís-ticas do respectivo derrube sugerem ter sido edifi -cado integralmente em alvenaria de pedra, consti-tuindo uma verdadeira excepção face ao restantes espaços identifi cados. Por outro lado, a presença de uma peculiar lareira no seu centro e o recurso a conchas para pavimentar o degrau que lhe dava acesso são também evidências da singularidade de que se reveste este espaço. A presença de vários bancos adossados às paredes dos compartimentos 22 e 27 é também sugestiva da sua utilização como espaço de culto, encontrando vários paralelos nos edifícios religiosos identifi cados em torno do Bai-xo Guadalquivir, designadamente El Carambolo, 21 Coria del Rio22 e Carmona.23

O resultado desta proposta de reconstituição mostra uma planimetria paralelizável com as fases mais avançadas do santuário do Carambolo, coinci-dindo com este complexo inclusivamente na orien-tação do recinto, cuja entrada se faz a Este, respei-

20 Arruda 2005; Arruda et al. 2007; 2009.21 Fernández Flores e Rodríguez Azogue 2005.22 Escacena e Izquierdo 2000.23 Belén et al. 1997.

tando o nascer do sol, durante o solstício de Verão.24 Tal facto constitui mais um importante argumento favorável à interpretação de estas estruturas de Cas-tro Marim como um recinto sacro, uma vez que essa orientação é comum a outros edifícios religiosos do-cumentados no Sul Peninsular, como por exemplo o de Coria del Rio.25 As comparações com o santuário do Carambolo são também inevitáveis no que diz respeito às estruturas negativas a que antes aludi-mos, na medida em que, na fase III do complexo do Baixo Guadalquivir, também se documentou a exis-tência de fossas similares,26 ainda que neste caso, es-tas se encontrem dentro do próprio recinto, ao con-trário do que se verifi cou em Castro Marim. Apesar das evidentes semelhanças entre dois sítios, convém sublinhar que as dimensões são bastante distintas, uma vez que o santuário andaluz, pelo menos nas fases mais recentes, é constituído por um número muito maior de compartimentos e ocupa uma área com mais do dobro do que a que estimamos para o complexo que subjaz ao castelo de Castro Marim. Também ao nível da cronologia, os dois recintos não são comparáveis, uma vez que, no geral, não são contemporâneos, ainda que possam ter coexis-tido em algumas, poucas, décadas. Com efeito, se-gundo os dados disponíveis, o Carambolo teve uma duração balizada entre os fi nais século IX/meados século VIII a.n.e. e os fi nais do século VII/início do século VI a.n.e.,27 período durante o qual sofreu várias transformações arquitectónicas. No caso de Castro Marim, a cronologia desta construção foi es-timada em torno do século VI a.n.e., atendendo à descoberta de uma urna Cruz del Negro (Fig. 13, n.º 1) fragmentada in situ que, provavelmente, terá sido depositada como parte do ritual de fundação da lareira do compartimento 27, classifi cável como altar. Por outro lado, e como se verá de seguida, o espólio recuperado nos níveis correspondentes ao abandono deste compartimento remete o momento da sua desactivação para a primeira metade do sé-culo V a.n.e. A este respeito, parece importante re-ferir que os dados estratigráfi cos registados durante a escavação sugerem a possibilidade de este recinto ter sido construído em duas fase distintas, sendo o núcleo original constituído pelos compartimentos 27 e 26, aos quais foi depois acrescentado um muro perímetral e novas dependências laterais. Este processo teve como consequência o abandono e a

24 Fernández Flores e Rodríguez Azogue 2007a: 185.25 Escacena e Izquierdo 2000.26 Fernández Flores, Rodríguez Azogue 2007b.27 Ibidem.

459CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Page 24: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

460

Fig. 13.— Amostra do conjunto artefactual recolhido no compartimento 27. Cerâmica pintada em bandas (1-3); contas de colar de cerâmica (4-7); cerâmica comum (8-10); cerâmica manual (11-13); cerâmica de engobe vermelho (14-16); cerâmica cinzenta (17-18); bronze (19).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 25: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

demolição parcial de alguns espaços habitacionais pré-existentes, situação bem ilustrada pela posição estratigráfi ca do compartimento 21, em relação aos espaços situados a Norte. Todavia, não é possível aprofundar esta questão, pois convém não esquecer que todo este complexo construtivo foi amputado pelas fundações do edifício religioso de época mo-derna, e por outras estruturas negativas recentes, difi cultando a leitura estratigráfi ca, em plano, dos vários espaços.

Conforme antes se referiu, o carácter cultual deste complexo é sugerido, principalmente, pela sua arquitectura, não existindo, ao nível da cultu-ral material, importantes indicadores que susten-tem essa interpretação. Parece, contudo, relevante mencionar que, da análise global à baixela cerâmi-ca recuperada nestes espaços, resulta óbvio que a grande maioria do conjunto é constituída por re-cipientes habitualmente conectados com consumo individual de alimentos, designadamente taças de perfi l hemisférico e, em menor quantidade, pratos, factos que poderão sugerir a existência de ritos de comensalidade associados ao culto praticado neste recinto.

Apesar de constituir um conjunto numeroso, o espólio recolhido nos níveis associados à ocupa-ção desta área apresenta-se bastante fragmentado, sendo poucos os artefactos de que se conseguiu reconstituir o perfi l e, ainda menos, os preserva-dos in situ. Não obstante, constituem-se como os elementos mais fi áveis para determinar o momento de abandono do complexo a que nos temos vindo a referir. No compartimento 27, destaca-se a reco-lha de um recipiente de formato “barrilóide” (Fig. 13, n.º 8), que se encontrava, fragmentado in situ, sobre o pavimento, entre a lareira/altar e o banco anexo à parede norte. Este tipo de recipientes não encontra, até este momento de ocupação, quais-quer paralelos no repertório cerâmico de Castro Marim, não sendo frequente nem nos sítios ditos “orientalizantes”, nem nas colónias fenícia do Sul peninsular. A distribuição geográfi ca dos “barris” desenvolve-se preferencialmente na chamada área ibérica, estando também documentados na Me-seta, na Extremadura espanhola e Alentejo, em todos os casos sempre em cronologias a partir do século V a.n.e. A este respeito, deve referir-se que, nos enchimentos da estruturas negativas a que aci-ma aludimos, também se recolheram, igualmente intactos, dois recipientes da mesma tipologia.

Também no interior do compartimento 27, mas em área mais afastada da lareira central, encon-

trou-se uma taça de hemisférica coberta por en-gobe vermelho (Fig. 13, n.º 14) e, na esquina SE, depositadas numa pequena concavidade, um con-junto de 23 contas de colar moldadas em barro, com uma aparência bastante tosca, das quais se apresentam agora quatro exemplares, exemplifi ca-tivos das várias morfologias documentadas (Fig. 13, n.º 4-7). Os níveis de derrube deste mesmo compartimento incorporavam um abundante con-junto de fragmentos cerâmicos, do qual merecem destaque duas taças de cerâmica cinzenta, pratica-mente intactas (Fig. 13, n.º 17-18), que deveriam estar fi xadas na parede através de um elemento ligado aos dois orifícios existentes junto ao bordo de ambos os exemplares. Esta proposição é igual-mente válida para um prato cerâmica de engobe vermelho (Fig. 13, n.º 15), identifi cado no mesmo contexto, embora, neste caso, o recipiente se en-contre num grau mais elevado de fragmentação. Com as mesmas características tafonómicas e tam-bém bastante truncados, recolheram-se ainda vá-rios fragmentos de taças e de potes e/ou panelas de cerâmica manual (Fig. 13, n.º 11-13), bem como diferentes tipos de recipientes de outras categorias cerâmicas, nomeadamente cerâmica comum (Fig. 13, n.º 9-10), e pintada em bandas (Fig. 13, n.º 2-3), sendo evidente, uma vez mais, o predomínio de formas associáveis ao consumo individual, em particular das taças de perfi l hemisférico. Também de um nível formado pelo derrube das paredes do compartimento 27, provém um fragmento de fíbu-la enquadrável no tipo Acebuchal (Fig. 13, n.º 19), que corresponde a um pé atípico, dobrado em es-piral, com descanso em meia cana, de perfi l trian-gular, que encontra o melhor paralelo num exem-plar exumado na necrópole de El Raso, o qual foi datado do século V a.n.e.28

Contrariamente ao verifi cado no compartimen-to 27, o espólio recuperado nas restantes células deste edifício forma conjuntos menos numerosos, facto que se pode explicar pela menor dimensão da área escavada, e ainda pelo facto de, como já antes se referiu, estes terem sido parcialmente des-truídos pelo alicerce de uma construção de época Moderna. Com efeito, no compartimento 26 não se identifi cou qualquer material fragmentado in situ e, mesmo o conjunto de fragmentos cerâmicos em-balados nos níveis correspondentes ao colapso das paredes, constitui uma amostra pouco relevante, quer do ponto de vista quantitativo, pois abrange

28 Fernández Gómez 1997: 91; apud Pereira 2008: 50.

461CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

Page 26: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

462

Fig.14.— Conjunto artefactual recolhido nos niveis de abandono do complexo arquitectónico interpretado como santuario (sector 1 - fase IV). Recipientes recolhidos no compartimento 22: Cerâmica manual (1); cerámica comum (3-5); Recipiente de cerâmica manual recolhido no interior do compartimento 21 (6); Recipiente de cerâmica manual recolhido num nivel de derrumbe do compartimento 26 (7); Recipientes de cerâmica manual recolhidos na “pátio” entre os

compartimentos 26, 27, 21 e 22 (8 e 9).

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 27: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

463CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

um reduzido número de exemplares, quer do pon-to de vista qualitativo, uma vez que maioritaria-mente engloba formas comuns e de amplo espectro cronológico, sendo a única excepção um fragmen-to de um recipiente de cerâmica manual, classifi cá-vel como “sertã” (Fig. 14, n.º 5) e cuja morfologia remete para tradições de panifi cação de infl uência oriental.29 O mesmo cenário, de escassez de espó-lio, foi também documentado no compartimento 21. Não obstante, recolheu-se aqui um pote de ce-râmica manual praticamente intacto (Fig. 14, n.º 6), que apresenta uma forma pouco comum, uma vez que é mais aberto do que a maioria dos reci-pientes deste tipo, facto que, aliado à ausência de marcas de fogo nas paredes, sugere uma funciona-lidade relacionada com a pequena armazenagem. No caso do compartimento 22, importa salientar a descoberta de quatro recipientes fragmentados in situ: um pote de cerâmica manual (Fig. 14, n.º 1) e três taças de cerâmica comum (Fig. 14, n.º 3-5), uma das quais possuía duas perfurações que permitiam a sua fi xação na parede. A estes exem-plares poder-se-ia juntar também um outro, possi-velmente uma ânfora ou um barril, cuja defi ciente preservação não permitiu a reconstituição gráfi ca do respectivo perfi l.

A área correspondente ao átrio central encon-trava-se, igualmente, bastante destruída pelas ocu-pações posteriores, tendo fornecido um conjunto limitado de materiais arqueológicos, dos quais dos quais se destaca, por ser o único recipiente encon-trado intacto, uma taça de cerâmica produzida à mão (Fig. 14, n.º 8), que deverá ter sido intensa-mente utilizada, conforme sugerem as evidências de ter sido reparada. Este facto é comprovado pela existência de várias perfurações destinadas à fi xa-ção de “gatos”. O conjunto de materiais recolhido neste espaço integra também alguns fragmentos de alguidares e de potes/panelas de fabrico manu-al (Fig. 14, n.º 9 e 7, respectivamente), ainda que as forma mais frequentes sejam as taças e tigelas. Esta situação repete-se no repertório da cerâmica comum, mas, nos conjuntos da cerâmica cinzenta e da cerâmica de engobe vermelho, as respectivas baixelas eram compostas, exclusivamente, por reci-pientes de morfologia aberta.

Em termos genéricos, pode dizer-se que o espó-lio recolhido nos níveis de abandono do complexo construtivo interpretado como santuário mostra, por um lado, uma assinável continuidade ao ní-

29 Oliveira 2008: 452.

vel dos fabricos cerâmicos e repertórios formais característicos da ocupação do século VI a.n.e., reconhecendo-se, por outro, algumas novidades ti-pológicas e decorativas, que têm os melhores para-lelos na baixela associada ao plano arquitectónico da fase V, cuja construção terá ocorrido durante a segunda metade do século V a.n.e. Neste contex-to, importa referir a presença no compartimento 27 de taças hemisféricas com bandas pintadas na superfície interior, bem como de outras duas taças (Fig. 13, n.º 10 e 16), cuja inclinação do lábio re-mete para tipologias próximas dos pratos de bordo pendente, recipientes bastante comuns nas cerâ-micas utilizadas a partir do século V a.n.e. Esta consideração é igualmente válida para a contentor barrilóide encontrado no mesmo compartimento, cujos melhores paralelos são exemplares de crono-logias a partir do século V a.n.e., podendo, a este respeito, citar-se o que foi recolhido no recinto R3 do povoado de Alarcos, um espaço que está da-tado por radiocarbono entre 520 e 380 a.n.e.30 O perfi l de algumas das taças encontradas no com-partimento 22 sugere também uma datação de meados do milénio, pois evidencia um desenho algo evolucionado, sobretudo ao nível da base, comparativamente com exemplares do século VI a.n.e. Os dados procedentes do estudo da cerâmi-ca manual argumentam também a favor de uma cronologia posterior ao século VI a.n.e., uma vez que, em todo o conjunto associado a este momento tardio da fase IV, não se identifi caram exempla-res decorados com digitações, técnica que, quer em Castro Marim, quer em vários sítios do litoral andaluz, tende a desaparecer a partir do século V a.n.e. Neste sentido, importa também voltar a refe-rir a recolha de um fragmento de pé de uma fíbula tipo Acebuchal que encontra um paralelo quase exacto no espólio da necrópole de El Raso, onde está datada do século V a.n.e. Em conclusão, pode afi rmar-se que alguns indicadores revelados pela análise da cultura material e os dados de índole estratigráfi ca se conjugam no sentido de se poder defender que o abandono do recinto interpretado como santuário ocorreu durante a primeira meta-de do século V a.n.e, assumindo neste aspecto uma particular relevância, sobretudo ao se chamar à colação o processo de transição entre o chamado horizonte “tartéssico-orientalizante” e um outro de características distintas habitualmente denomina-do de turdetano.

30 Fernández Rodriguez 2008: 75 e 76.

Page 28: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em consideração os dados apresentados podemos afi rmar que o início da ocupação da Idade do Ferro do castelo de Castro Marim está intima-mente relacionado com o fenómeno de orientaliza-ção que o Sul peninsular sofreu na sequência da chegada de colonos fenícios à região do Estreito de Gibraltar. Mas também parecem indiscutíveis as relações estabelecidas com a Andaluzia ocidental e o próprio Baixo Guadalquivir, onde a cerâmica ma-nual de Castro Marim tem os seus melhores parale-los. Esta ligação prolonga justamente a que existiu durante o Bronze Final.

As características da ocupação sidérica demons-tram que estamos perante um povoado indígena fortemente orientalizado, onde deverão ter coexis-tido populações de matriz indígena com outras de origem oriental. Com efeito, os dados actualmente disponíveis para o sítio fenício de Ayamonte permi-tem verifi car que este foi abandonado num momen-to indeterminado da segunda metade do século VII a.n.e.,31 propondo-se que a sua população se tenha transferido, parcialmente ou na sua totalidade, para Castro Marim. Tal hipótese parece ser corroborada pelo registo arqueológico de Castro Marim, no qual se verifi ca, precisamente num âmbito cronológico próximo, um incremento na densidade de ocupação urbanística. Importa contudo referir que o espó-lio conservou os atributos distintivos da infl uência orientalizante, sendo de salientar a manutenção das suas relações com o “mundo fenício ocidental” da região Onubense e do vale do Guadalquivir.

A relação entre os sítios de Ayamonte e Castro Marim assume particular relevância no âmbito do

31 Pérez Macías et al. neste volume.

modelo recentemente avançado por J.L. Escace-na.32 Este autor intuiu que na foz dos grandes rios da costa atlântica, como o Guadiana, o Guadal-quivir e ria de Huelva, coexistiriam um povoado de considerável importância numa das margens e um complexo sagrado na margem oposta. A este respeito não podemos deixar de recordar que al-guns dos espaços de Castro Marim têm vindo a ser interpretados do ponto vista funcional como áreas destinadas ao culto. Para essa interpretação con-tribuíram as estruturas de combustão identifi cadas como altares da Fase “Orientalizante/Tartéssica” e da própria arquitectura e detalhes construtivos desse mesmo momento. Um depósito, que parece corresponder a um bothros, e os enterramentos in-fantis, ambos da “Fase turdetana/púnico gaditana”, contribuíram para valorizar essa mesma interpre-tação.

Independentemente da validade desta proposta, parece certo que tanto Castro Marim como Aya-monte, atendendo à sua localização estratégica, as-sumiram um papel relevante na interacção com as comunidades das regiões mais interiores. Embora o Guadiana seja apenas navegável até Mértola, o rio terá constituído, certamente, uma importante via de penetração no interior, facilitando e promo-vendo o contacto entre as populações estabelecidas no Alentejo Central e Extremadura espanhola e as comunidades litorais orientalizantes, veiculando bens, pessoas e ideologias. Castro Marim, pode, portanto, ter funcionado como uma importante plataforma de interacção entre indígenas, fenícios e tartéssicos, representando importante papel nas relações entre as diversas comunidades que ocupa-ram a bacia do Guadiana.

32 Escacena 2010-11: 224.

464

BIBLIOGRAFIA

ALMAGRO BASCH, M. (1940): “El hallazgo de la Ría de Huelva y el fi nal de la Edad del Bronce en el Occidente de Europa”. Ampurias 2: 85-143.

ALMAGRO-GORBEA, M. e MARTÍN BRAVO, A.M. (1994): “Medellín 1991. La ladera Norte del Cerro del Castillo”. In M. Almagro-Gorbea e A.M. Martín Bravo (eds.): Castros y oppida en Extremadura. Complutum Extra 4. Madrid: 77-127.

ARRUDA, A.M. (2005): “O 1º milénio a.n.e. no Cen-tro e no Sul de Portugal: leituras possíveis no início de um novo século. O Arqueólogo Português (série IV) 23: 9-156.

ARRUDA, A.M. (2007): “A Idade do Ferro no Al-garve: velhos dados (e outros mais recentes) e novas histórias”. Percursos de Estácio da Veiga. Ac-tas do 4º Encontro de Arqueologia do Arqueologia do Algarve. Xelb 7. Silves: 116-130.

ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS

Page 29: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

465CASTRO MARIM ENTRE INDÍGENAS, FENÍCIOS E TARTÉSSICOS

ARRUDA, A.M. e FREITAS, V.T. DE (2008): “O Cas-telo de Castro Marim durante os séculos VI e V a.n.e.”. In J. Jiménez Ávila (ed.): Sidereum Ana I. El rio Guadiana en época post-orientalizante. Ane-jos de AEspA XLVI. Mérida: 429-446.

ARRUDA, A.M., FREITAS, V.T. DE e OLIVEIRA, C.F.P.P. DE (2007): “Os Fenícios e a urbani-zação no Extremo Ocidente: o caso de Castro Marim”. In J.L. Lopez Castro (ed.): Las ciudades fenicio-punicas en el Mediterráneo Occidental. III Co-loquio Internacional del centro de Estudios Fenicios y Púnicos. Almería: 459-482.

ARRUDA, A.M., CARRETERO, P., FREITAS, V.T. DE, SOUSA, E. DE, BARGÃO, P., LOURENÇO, P. e OLI-VEIRA, C.F.P.P. DE (2009): “Castro Marim: um santuário na foz do Guadiana”. In P. Mateos, S. Celestino, A. Pizzo e T. Tortosa (eds.): Santua-rios, oppida y cuidades: Arquitectura sacra en el ori-gen y desarrollo urbano del Mediterrâneo Occidental. IV Simpósio Internacional de Arqueologia de Mérida. Anejos de AEspA XLV. Mérida: 79-88.

ARRUDA, A.M., SOARES, A.M.M., FREITAS, V.T. DE, OLIVEIRA, C.F.P.P. DE, MARTINS, J.M.M. e PORTELA, P.J.C. (2013): “A cronologia relativa e absoluta da ocupação sidérica do Castelo de Castro Marim”. Sagvntvm 45: 101-114.

BARRACHINA, A. e NEUMAIER, J. (1996): “Nue-vo tipo metálico de los campos de urnas en la Península: la punta de vaina de Pic dels Cor-bs (Sagunto, Valencia)”. Cuadernos de Prehistoria yArqueología de Castellón 17: 197-206.

BELÉN, M., ANGLADA, R., ESCACENA, J.L., JIMÉ-NEZ HERNÁNDEZ, A., LINEROS, R. e RODRÍGUEZ RODRÍGUEZ, I. (1997): Arqueología en Carmona (Sevilla). Excavaciones en la Casa-Palacio del Mar-quês de Saltillo. Sevilha.

CABRERA, P. (1981): “La cerámica pintada de Huel-va”. Huelva Arqueológica V: 317-335.

ESCACENA, J.L. (2010-11): “Los santuarios feni-cios”. In M.D. López de la Orden e E. García Alfonso (eds.): Cádiz y Huelva. Puertos fenicios del Atlántico (Catálogo da exposição). Sevilha: 222-226.

ESCACENA, J.L. e IZQUIERDO, R. (2000): “Altares para Baal”. Arys 3: 11-40.

FERNÁNDEZ FLORES, A. e RODRÍGUEZ AZOGUE, A. (2005): “Nuevas excavaciones en el Carambolo Alto, Camas (Sevilla). Resultados prelimina-res”. In S. Celestino e J. Jimenez Ávila (eds.): El Período Orientalizante. Actas del III Simposio In-ternacional de Arqueología de Mérida. Anejos de AeEs-pA XXXV, vol. II. Mérida: 843- 862.

FERNÁNDEZ FLORES, A. e RODRÍGUEZ AZOGUE, A. (2007a): Tartessos desvelado. La colonización fenicia del Suroeste peninsular y el origen y ocaso de Tartes-sos. Córdoba.

FERNÁNDEZ FLORES, A. e RODRÍGUEZ AZOGUE, A. (2007b): “Sobre el Carambolo: un hippos sagra-do del santuario IV y su contexto arqueológico”. Archivo español de Arqueología 80: 5-28.

FERNÁNDEZ GÓMEZ, F. (1997): La necrópolis de la Edad del Hierro de “El Raso” (Candeleda, Ávila) “Las Guijas B”. Arqueología en Castilla y León. Me-morias 4. Toledo.

FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, M. (2008): “El oppidum de Alarcos en los siglos VI-V”. In J. Jiménez Ávila (ed.): Sidereum Ana I. El rio Guadiana en épo-ca post-orientalizante. Anejos de AEspA XLVI. Mé-rida: 62 -79.

FREITAS, V.T. DE (2005): “Observações preliminares sobre a cerâmica de engobe vermelho do Castelo de Castro Marim”. In S. Celestino e J. Jimenez Àvila (eds.): El Período Orientalizante. Actas del III Simposio Internacional de Arqueología de Mérida. Ane-jos de AeEspA XXXV, vol. II. Mérida: 911-918.

FREITAS, V.T. DE (2006): As cerâmicas de engobe ver-melho orientalizantes do Castelo de Castro Marim. Produção, consumo e comércio na Idade do Ferro Orientalizante Peninsular (Tese de mestrado, Uni-versidade de Lisboa).

JIMENÉZ BARRIENTOS, J.C. (1987): “Un vaso à mano con decoración pintada procedente de la Cruz del Negro (Carmona, Sevilla)”. Habis 17: 477-490.

OLIVEIRA, C.F.P.P. DE (2008): “A cerâmica manual do Castelo de Castro Marim durante os séculos VI e V a.n.e”. In J. Jiménez Ávila (ed.): Side-reum Ana I. El río Guadiana en época post-orienta-lizante. Anejos de AEspa XLVI. Mérida: 447-467.

OLIVEIRA, C.F.P.P. DE (2012): “O Bronze Final no Castelo de Castro Marim ”. In J. Jiménez Ávila (ed.): Sidereum Ana II. El río Guadiana en el Bronce Final. Anejos de AEspa LXII. Mérida: 345-362.

PELLICER, M., ESCACENA, J.L. e BENDALA, M. (1983): El Cerro Macareno. Excavaciones Arque-ológicas en España 124. Madrid.

PEREIRA, T.R.M.V.M. (2008): Os Artefactos Metálicos do Castelo de Castro Marim na Idade do Ferro e em Época Romana. Metalurgia em transição: a amostra numa análise de conjunto (Tese de mestrado, Uni-versidade de Lisboa).

PÉREZ MACÍAS, J.A., CABACO, B. e GARCÍA TEYS-SANDIER, E. (neste volume): “Primer avance sobre el asentamiento fenicio de Ayamonte

Page 30: SIDEREUM ANA III · 2020. 6. 17. · El río Guadiana y Tartessos Javier Jiménez Ávila (ed.) SERIE C OMPACTA (Compendia et Acta) 1 SIDEREUM ANA III El r’o Guadiana y Tartessos

(Huelva)”. In J. Jiménez Ávila (ed.): Sidereum Ana III. El río Guadiana y Tartessos. Publicaciones del Consorcio de Mérida. Serie Compacta 1. Mérida: 493-529.

RAMÓN, J. (1995): Las ánforas fenicio-púnicas del Me-diterráneo Central y Occidental. Barcelona.

RODRÍGUEZ AZOGUE, A. e FERNÁNDEZ FLORES, A. (2005): “El santuario orientalizante del Cerro del Carambolo, Camas (Sevilla). Avance de los resultados de la segunda fase de la intervenci-ón”. In S. Celestino e J. Jimenez Àvila (eds.):

El Período Orientalizante. Actas del III Simposio In-ternacional de Arqueología de Mérida. Anejos de AEs-pA XXXV, vol. II. Mérida: 863- 872.

RUIZ-MATA, D. (1984-85): “Puntualizaciones so-bre la cerámica pintada tartésica del Bronce Final Estilo carambolo o Guadalquivir I”. Cua-dernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid 11-12: 225-243.

RUIZ MATA, D. e LUZÓN, J.M. (1973): Las raíces de Córdoba. Estratigrafía de la Colina de los Quemados. Córdoba.

466 ANA MARGARIDA ARRUDA - CARLOS FILIPE DE OLIVEIRA - VERA TEIXEIRA DE FREITAS