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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA SABER E TRADIÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS NA CIDADE DE ALTAMIRA-PA BRUNO AMÉRICO CARVALHO PEREIRA Altamira-Pará-Brasil 2010

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA

FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA

SABER E TRADIÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS NA

CIDADE DE ALTAMIRA-PA

BRUNO AMÉRICO CARVALHO PEREIRA

Altamira-Pará-Brasil

2010

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I

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA

FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA

SABER E TRADIÇÃO NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS NA

CIDADE DE ALTAMIRA-PA

BRUNO AMÉRICO CARVALHO PEREIRA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Faculdade de Engenharia

Agronômica da Universidade Federal do

Pará como requisito para obtenção do título

de Engenheiro Agrônomo.

Orientador(a): Msc. Juliete Miranda Alves

Altamira-PA-Brasil

Junho de 2010

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II

Todas as riquezas do mundo, ainda mesmo nas mãos de

um homem inteiramente devotado à idéia do progresso,

jamais trarão o menor desenvolvimento moral para a

humanidade. Somente seres humanos excepcionais e

irrepreensíveis suscitam idéias generosas e ações elevadas.

Mas o dinheiro polui tudo e degrada sem piedade a pessoa

humana. Não posso comparar a generosidade de um

Moisés, de um Jesus ou de um Gandhi com a generosidade

de uma Fundação Carnegie qualquer.

(Albert Einstein)

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III

Dedico, unicamente, este trabalho a

Mulher mais importante da minha vida, a

esta que me gerou na forma humana

dentro de seu ventre e humano fora dele.

A Mulher guerreira, exemplo de mãe

verdadeira que doa sozinha, suor e sangue

para criar e educar seus quatros filhos. A

Mulher humilde que além de alimentar

sua prole, ajudava quando podia a quem

precisava (e ainda ajuda). A Mulher

protetora e preocupada, que em muitas

noites tirei-lhe o sono e através dela recebi

várias orações. O ser terreno que me deixa

mais próximo de Deus. Dedico não só este

trabalho, mas todas as minhas vitórias, as

que conquistei e que irei conquistar.

Dedico a minha mãe, Heliana Maia

Carvalho, meu anjo da guarda, minha mãe

linda.

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IV

Agradecimentos

- Gostaria de expressar minha eterna gratidão ao grandioso Deus Onipotente e Bom

Senhor. A Ele reverencio com honra, glória e louvor, por ter me proporcionado a vida e

dela suas virtudes: respirar, falar, andar e correr, sentir, pensar, ajudar e amar. Agradeço

ainda por ter colocado em minha vida pessoas especiais, pessoas humildemente

importantes que me auxiliaram no curso da minha existência;

- A minha Mãe, por ser tão especial na minha vida, verdadeiro sentido das minhas

conquistas;

- A minha família que é meu alicerce;

- A minha Orientadora Juliete Miranda Alves que teve a paciência em me orientar;

- A Andréia Portugal bolsista do Projeto “Mapeamento das dinâmicas socioambientais

de populações tradicionais na Transamazônica”, parceira de trabalho;

- A Luciana estudante de Geografia que me ajudou nas entrevistas, parceira de

caminhada;

- A Profª Mônica Godinho por ajudar na minha entrada na Universidade;

- Aos meus amigos, companheiros e irmãos da turma de Engenharia Agronômica 2004,

em especial a galera do “baixo clero”;

- Ao corpo Docente da Faculdade de Engenharia Agronômica;

- Aos meu amigos de República;

- As Autarquias da Casa do Estudante Universitário – C.E.U, em especial a Adriane

Góis Vericimo, mais que amiga, parceira e companheira;

- A todos os funcionários da Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de

Altamira-PA;

- A Dona Osmarina que me deu o primeiro abrigo nesta cidade;

- A todos meus amigos e amigas que confortaram meu coração da saudade da minha

família;

- E, finalmente, a todos e a todas que direta ou indiretamente me auxiliaram nesta

conquista da minha vida, desta etapa que se finda, principalmente os que acreditaram,

mesmo na demora de sua conclusão.

Aqui deixo minha humilde e eterna gratidão.

Que o Grande Deus nosso Observador, nos guie sempre por caminhos corretos.

Que assim seja sempre!

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V

Sumário INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1- CAPÍTULO I: REFERÊNCIAS LITERÁRIAS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS .......... 4

1.1- Do surgimento das plantas medicinais: a etnobotânica .................................................... 4

2- CAPITULO II: RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 10

2.1 – As entrevistas realizadas ............................................................................................. 10

2.2 – Análise socioeconômica dos entrevistados .................................................................. 11

2.2.1 – Faixa Etária ............................................................................................................. 11

2.2.2 – Renda Familiar e Profissão ...................................................................................... 12

2.2.3 – Religião ................................................................................................................... 14

2.2.4 – Escolaridade ............................................................................................................ 15

2.2.5 – Origem .................................................................................................................... 15

2.3 – Dados etnobotânicos e etnofarmacológicos ................................................................. 16

CONCLUSÕES .................................................................................................................. 25

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................................... 26

APÊNDICE ........................................................................................................................ 28

Roteiro da entrevista socioeconômica .................................................................................. 28

Roteiro da entrevista etnobotânica e etnofarmacológica. ...................................................... 28

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VI

Índice de Figuras e Tabela

Figura 1: Casa do(a) entrevistado(a) (frente), Altamira-PA, 2010. ........................................... 10

Figura 2: Casa do (a) entrevistado(a) (lateral), Altamira-PA, 2010. .......................................... 11

Figura 3: Faixa Etária dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ................................................ 12

Figura 4: Renda dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ......................................................... 13

Figura 5: Profissão dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ..................................................... 14

Figura 6: Religião dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ...................................................... 14

Figura 7: Escolaridade dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ............................................... 15

Figura 8: Origem dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010. ....................................................... 16

Figura 9: Cultivo de babosa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010. ................................. 17

Figura 10: Cultivo de capim santo em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010. ........................ 17

Figura 11: Cultivo de folha santa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010. ......................... 18

Figura 12: Cultivo de malva grossa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010. ...................... 18

Figura 13: Cultivo de mastruz em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010. .............................. 18

Tabela 01: Uso das plantas medicinais mencionados pelos entrevistados e usos encontrados na

literatura....................................................................................................................................... 19

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VII

RESUMO

Os conhecimentos etnobotânico e etnofarmacológico transmitidos de gerações para as

gerações têm grande importância para as pesquisas farmacológicas que buscam

identificar novas drogas medicinais. No Brasil, os estudos sobre plantas medicinais

ainda é pequeno em relação à vasta e diversificada flora medicinal de seu território. Este

Trabalho de Conclusão de Curso, objetiva resgatar o saber etnobotânico e

etnofarmacológico sobre as plantas medicinais dos entrevistados comparando-os com

algumas literaturas farmacobotânicas. Objetiva-se também, demonstrar a importância

desta prática como uma alternativa de prevenção e cura, além do aspecto cultural do uso

e transmissão deste saber. Para coleta dos dados socioeconômicos, etnobotânicos e

etnofarmacológicos utilizou-se a técnica de entrevistas semi-estruturadas, para vinte e

cinco (25) infromantes, distribuídas em quatro bairros da área urbana do Município de

Altamira-PA: Mutirão, Brasília, Liberdade e Bela Vista. Os dados mostraram que a

maioria dos entrevistados apresenta baixa renda familiar, nível de escolaridade baixa, e

oriunda principalmente da região Nordeste. Os entrevistados acreditam na eficácia das

plantas medicinais na cura de doenças, e para muitos é o único recurso de saúde, dada a

ineficácia do sistema de saúde pública. Os dados mostram ainda uma grande

diversidade de plantas medicinais utilizadas no dia a dia pelos entrevistados,

apresentando o total de cento e trinta e oito (138) espécies nos vinte e cinco (25)

quintais medicinais dos bairros selecionados.

Palavras chave: Etnobotânico, Etnofarmacologia, Conhecimento popular

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INTRODUÇÃO

O uso das plantas medicinais constitui-se em uma das mais antigas práticas

curativas empregadas pela humanidade no tratamento de enfermidades de todos os

tipos. O seu cultivo resiste, mesmo diante dos grandes avanços tecnológicos, na busca

de melhorias das técnicas curativas e no surgimento de novas drogas alopáticas eficazes

para a saúde humana. Esse reconhecimento da importância medicinal das plantas é

antigo e vários são os progressos alcançados principalmente no que diz respeito ao

conhecimento dos princípios ativos e sua importância científica. Contudo, há um risco

iminente da perda total de tais conhecimentos empíricos em virtude principalmente da

rápida mudança do modo de vida das sociedades e da medicina popular, que se apóia

quase sempre em floras muito importantes a exemplo da babosa (Aloe vera), usada para

vários tipos de tratamento da saúde e estética e da andiroba (Carapa guianensis), usada

como repelente natural de insetos, além de bom cicatrizante e antiinflamatório.

Nesse sentido, há uma preocupação com o resgate dessas informações

medicinais empíricas, levando países como a China, a Coréia do Norte, o Japão e

outros, a um esforço significativo na investigação dos fármacos de uso tradicional, o

qual tem conduzido a importantes resultados sob o ponto de vista terapêutico, evitando

dessa forma a perda dessas informações.

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como campo de análise uma área de

conhecimento ainda pouco estudada nas Ciências Agrárias que refere-se aos saberes e

tradições de grupos sociais que utilizam plantas para uso medicinal. Refiro-me aqui aos

estudos e registros sobre a utilização das plantas na medicina popular e sua relação com

um sistema de regras e cultura que se transformam ao longo de décadas.

O saber popular sobre plantas medicinais é um importante meio para as

pesquisas dos laboratórios farmacológicos que estudam o descobrimento de novas

drogas fitoterápicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem-se mostrado muito

interessada nos sistemas terapêuticos indígenas, especialmente nos que usam

medicamentos vegetais. Este dado revela o quanto é importante o estudo e o resgate dos

saberes e tradições sobre as plantas medicinais.

A utilização de plantas medicinais é uma prática muito comum no território da

Transamazônica, principalmente pela precariedade dos serviços públicos prestados em

postos de saúde e hospitais, bem como pela ausência de profissionais dessa área que

possam atender aos diversos municípios – comunidades urbanas, rurais e “beiradeiros”,

nome utilizado para as pessoas que residem às margens dos rios.

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Várias são as comunidades que cultivam plantas medicinais, cada qual com sua

história, origem e cultura e que desenvolveram ao longo de suas vidas os chamados

“remédios caseiros” para a cura às suas enfermidades. Porém, é incontestável que

muitas destas culturas foram se transformado, adaptando e modificando.

Neste trabalho, a contribuição da Sociologia e da Antropologia, foram

importantes para uma investigação que tem como base o conhecimento etnobotânico1 e

etnofarmacológico2 dos entrevistados, tornando a análise mais interessante do ponto de

vista multidisciplinar, registrando as espécies, valorizando os elementos culturais que

compõe as origens dos grupos familiares estudados e seus saberes tradicionais na

utilização de plantas terapêuticas. Segundo Patzlaff & Peixoto (2009), a etnobotânica

aplicada ao estudo de plantas medicinais trabalha em estreita cumplicidade com a

etnofarmacologia.

Em virtude das constatações elencadas, o objetivo geral deste trabalho

primeiramente é resgatar o conhecimento etnobotânico e etnofarmacológico sobre as

plantas medicinais a partir dos usos que são mencionados pelos entrevistados fazendo

um paralelo com os usos mencionados na literatura especializada, ressaltando assim a

importância do conhecimento popular aliado ao conhecimento científico. Além disso,

objetiva-se também demonstrar a importância dessa prática como uma alternativa de

prevenção e cura, além do aspecto cultural do uso e transmissão deste saber.

Nos procedimentos metodológicos, utilizou-se a técnica das entrevistas semi-

estruturadas, organizadas a partir de perguntas gerais para todos os entrevistados:

origem, renda, idade, escolaridade, religião. Por se tratar do resgate etnobotânico e

etnofarmacológico de plantas medicinais, tornou-se necessário para a pesquisa a análise

qualitativa, baseada nos valores, crenças, representações, hábitos, atitudes, opiniões,

procurando aprofundar-se na complexidade dos fenômenos sociais (May, 2004). Foram

aplicados questionários para vinte e cinco (25) moradores da cidade de Altamira, no

Estado do Pará, que cultivam plantas medicinais, distribuídos nos bairros Mutirão,

Brasília, Liberdade e Bela Vista.

1 A etnobotânica é ciência que estuda a morfologia dos vegetais com base no conhecimento popular ou de

diferentes grupos sociais. Neste caso, este trabalho é engendrado sob a ótica do entendimento popular

sobre plantas medicinais. 2 A etnofarmacologia é uma ciência que procura entender o universo dos recursos naturais (plantas,

animais e minerais) utilizados como drogas terapêuticas sob a ótica de grupos sociais (Schultes, 1962;

Rao & Hajra, 1987 apud Rodrigues & Carlini, 2003).

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Para coleta dos dados, identificou-se nos bairros citados as casas que mais

chamaram atenção pela grande quantidade de plantas medicinais cultivadas nos quintais

na frente e/ou nas laterais das residências. Posteriormente, além dessa identificação

visual preliminar, também foi feita uma averiguação junto aos moradores dos bairros

pesquisados para se chegar às pessoas que cultivavam plantas medicinais.

As literaturas utilizadas para comparar aos usos mencionados pelos

entrevistados foram selecionadas aleatoriamente e foram principalmente livros

especializados em plantas medicinais.

Ao longo da pesquisa, verificou-se que as mulheres são as maiores cultivadoras

e usuárias de plantas medicinais, revelados no fato de que, em vinte e cinco (25)

entrevistados somente dois (2) são homens. A mulher tem grande importância na

transmissão do saber sobre as plantas medicinais e dividem muitas vezes essa prática

com a função de donas de casa.

A área em que são cultivadas as plantas medicinal, como já mencionado, é o

espaço ao redor da casa, ou seja, o quintal, que em geral se trata do aproveitamento de

área. O quintal fica caracterizado dessa forma como um laboratório empírico desse

conhecimento etnobotânico-farmacológico e a mulher como intermediadora desses

conhecimentos entre as gerações.

Este trabalho está dividido em dois capítulos: o primeiro, intitulado “Referências

literárias sobre plantas medicinais”, está organizado a partir da literatura em torno dos

estudos que compete ao campo da etnobotânica e etnofarmacológia; o segundo capítulo,

intitulado “Resultado e Discussão”, está organizado com a sistematização, discussão e

análise dos dados coletados nas entrevistas os quais estarão expostos em figuras e

tabelas explicativas.

Vale ressaltar que, o assunto aqui explanado, não possui um caráter exaustivo e

definitivo, uma vez que esta pesquisa e seus resultados fazem parte de um projeto

maior, intitulado “Mapeamento das dinâmicas socioambientais de populações

tradicionais na Transamazônica”, financiado pela Fundação de Apoio a Pesquisa do

Estado do Pará-FAPESPA, que engloba esse assunto em um contexto mais abrangente.

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1- CAPÍTULO I: REFERÊNCIAS LITERÁRIAS SOBRE PLANTAS

MEDICINAIS

O objetivo deste capítulo é apresentar alguns autores e literaturas que discutem e

analisam as plantas medicinais a partir de uma visão etnobotânica e etnofarmacológica.

1.1- Do surgimento das plantas medicinais: a etnobotânica

O surgimento das plantas dá-se durante o período da Era Paleozóica, entre o

período Cambriano e Siluriano, partindo do princípio da evolução a partir dos

organismos eucariontes fotossintetizantes ou algas verdes primitivas há cerca de 550

milhões de anos (RIDLEY, 2006). Desta forma, as plantas são alguns milhões de anos

mais velhas do que o homem. Cerca de 50 mil anos atrás o homem, Homo sapiens em

sua plena formação3, de acordo com suas necessidades e bem estar começou a usar as

plantas para fins alimentícios, ritualísticos e medicinais.

O descobrimento das propriedades curativas das plantas ocorreu no início de

maneira meramente intuitiva, bem como pela observação dos animais que quando

doentes buscavam nas ervas a cura para as suas afecções. O animal doente

instintivamente procura as ervas e o homem lhe observa e deduz que elas possuem

poder de cura. A natureza então se apresenta como o primeiro sistema de saúde ao qual

o homem recorreu (Balbachas, 1960; Oliveira & Silva, 1994 apud Marinho et al, 2007).

Cunha (2005), baseando-se nas informações transmitidas pelas escrituras

deixadas pelas primeiras civilizações, define o surgimento do conhecimento sobre

plantas que possuem poder curativo.

O conhecimento sobre as plantas sempre tem acompanhado a evolução do

homem através dos tempos. As primitivas civilizações cedo se aperceberam da

existência, ao lado das plantas comestíveis, de outras dotadas de maior ou menor toxicidade que, ao serem experimentadas no combate à doença,

revelaram, embora empiricamente, o seu potencial curativo (CUNHA, 2005, p.

1).

Dos primórdios da utilização medicinal das plantas aos dias de hoje, o seu uso

evoluiu bastante, passando pela cultura medicinal e religiosa das tradições populares do

mundo até o seu beneficiamento industrial. Sendo assim, Lorenzi & Matos apresentam

duas formas de uso de plantas medicinais.

(...) a de uso popular oriunda da etnocultura dos primeiros povos, geralmente

apresentada sob forma de chás, garrafadas, tinturas, banhos, pós e/ou uso

3 Formação física, estrutura corpórea segundo a evolução humana, do Homoneanderthalensis ao Homo

sapiens (RIDLEY, 2006).

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imediato de plantas frescas; a outra provém da indústria farmacológica, a

forma tecnológica de fabricação utilizada pelo homem moderno, que se

apresenta, a partir da substância pura isolada ou principio ativo da planta, sob

forma de cápsula, comprimidos, pomadas e em soluções concentradas

(LORENZI & MATOS, 2002, p. 12)

O uso de plantas medicinais como arte de curar4 é uma forma de tratamento de

origens muito antigas e, graças aos primeiros documentos deixados pelas civilizações

antigas, pode ser vista como a base da farmacologia de hoje. Cunha (2005), em estudo

dos aspectos históricos sobre plantas medicinais, faz um relato em ordem cronológica, a

partir do surgimento da escrita, o surgimento dos primeiros documentos que descrevem

as plantas com poder de cura. Essas informações eram passadas e documentadas para as

gerações posteriores de uma civilização e/ou entre civilizações contemporâneas.

Consideram-se como primeiros documentos escritos as placas de barro,

atualmente conservadas no “British Museum”, onde se encontram copiados,

em caracteres cuneiformes, por ordem do rei assírio Ashurbanipal, documentos

suméricos e babilônicos, datando alguns mais de 3000 anos antes da era cristã.

De referir que no conhecido código de Hamurabi já se descreve o ópio, o

gálbano, a assafétida, o meimendro e muitos outros produtos vegetais. (CUNHA, 2005, p. 1).

Esses documentos são de grande importância para estudos científicos sobre uso

medicinal das plantas, aliados também ao conhecimento popular. A partir desta relação

conhecimento cientifico e conhecimento popular, obtêm-se sucesso em pesquisas na

área de plantas medicinais.

A transmissão de conhecimentos de uma civilização a outra e sua importância

para as pesquisas científicas na medicina, pode ser observada em Camargo (1999), que

ressalta o quanto a medicina não teria conhecido os curares5 se não fosse pelos índios

terem transmitido esses saberes para os caboclos, e estes à comunidade científica em

pesquisas sobre etnobotânicos. Nesse sentido, a relação do conhecimento popular com o

conhecimento científico evidencia a importância da etnocultura6 no uso das plantas

medicinais para as pesquisas farmacológicas. O uso do conhecimento empírico popular

facilita a confirmação científica de novos produtos fitoterápicos e o aproveitamento

desse laboratório etnocultural reduziria consideravelmente as demasiadas quantidades

de testes laboratoriais para comprovação dos produtos finais. Isso porque,

4 Para Vilas Boas (2004) a arte de cura das antigas civilizações era caracterizada pela mistura de religião,

magia e drogas, e a pessoa que dominava tais práticas adquiria grande prestigio dos demais. 5 Os curares são extratos vegetais extraídos de certos cipós de extrema ação paralisante, que alguns povos

indígenas usavam para caçar levando suas flechas; estes extratos vegetais possuem vários alcalóides

(Ferreira, 2009) 6 Entende-se etnocultura como sendo uma analise ou estudo sobre a história dos povos e suas culturas,

aqui sob a ótica do uso de plantas medicinais.

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A fitoterapia explica, cientificamente, (...) as tradicionais plantas medicinais,

utilizadas há milênios por todos os povos da terra, curam, completando, desta

forma, o valioso conhecimento cultural sobre tão importante alternativa

terapêutica natural (VIEIRA, 1992 p. 5)

O significado da palavra Fitoterapia vem do grego phyto que significa vegetal,

planta e terapia do grego therapeia que quer dizer ato de aliviar ou curar doentes

(tratamento), sendo assim, a fitoterapia é o tratamento mediante o uso de plantas

(Oliveira & Akisue, 1997). Considera-se planta medicinal ou fitoterápica toda espécie

vegetal que possui propriedades benéficas à saúde humana. Os medicamentos

preparados utilizando-se exclusivamente plantas ou parte delas – cascas, raízes, folhas,

frutos, flores ou sementes – e que possuem propriedades reconhecidas de cura,

prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático de doenças são chamados de

fitoterápicos (Brasil, 2000). A fitoterapia é ainda pouco conhecida diante da grande

diversidade dos recursos vegetais do planeta e menosprezada pela supremacia da

medicina alopática, porém, alguns profissionais da área da saúde, principalmente os

farmacologistas, têm grande crença na importância desta nos cuidados e no bem estar da

saúde humana.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, preocupada com o uso

sem controle e ao desconhecimento das procedências dos medicamentos fitoterápicos,

emprega, no Regulamento Técnico sobre Registro de Medicamentos Fitoterápicos no

Anexo I, da Resolução –RDC nº 17, de 24 de fevereiro de 2000 que dispõe sobre o

registro de medicamentos fitoterápico, quatro diferentes tipos de apresentação: o

medicamento fitoterápico industrial, o medicamento fitoterápico novo, o medicamento

fitoterápico tradicional e o medicamento fitoterápico similar. A saber que,

O medicamento fitoterápico é todo medicamento farmacêutico obtido por processos tecnologicamente adequados, empregando-se exclusivamente

matérias-primas vegetais, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para

fins de diagnóstico. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos

de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade

(...) (BRASIL, 2000).

Medicamento fitoterápico novo é aquele cuja eficácia, segurança e qualidade,

sejam comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por

ocasião do registro, podendo servir de referência para o registro de similares (BRASIL, 2000).

Medicamento fitoterápico tradicional é aquele elaborado a partir de planta

medicinal de uso alicerçado na tradição popular, sem evidências, conhecidas

ou informadas, de risco à saúde do usuário, cuja eficácia é validada através de

levantamentos etnofarmacológicos e de utilização, documentações

tecnocientíficas ou publicações indexadas (BRASIL, 2000).

Medicamento fitoterápico similar: aquele que contém as mesmas matérias-

primas vegetais, na mesma concentração de princípio ativo ou marcadores,

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utilizando a mesma via de administração, forma farmacêutica, posologia e

indicação terapêutica de um medicamento fitoterápico considerado como

referência (BRASIL, 2000).

Essa organização da nomenclatura para fitoterápicos é mais para informar aos

consumidores interessados, esclarecendo-lhe a classificação de acordo com a

procedência dos medicamentos que são ou serão distribuídos nos centros ou postos de

saúde públicos.

Lorenzi & Matos (2002) citam que a Organização Mundial de Saúde, ao definir

que 80% da população mundial faz uso de medicamentos fitoterápicos e visando a

distribuição desses medicamentos para as classes desfavorecidas, passa a orientar os

órgãos responsáveis pela saúde pública de cada país que: procedam a levantamentos

regionais das plantas medicinais da cultura popular e identifique-as botanicamente;

estimulem o uso dos medicamentos fitoterápicos após sua comprovação; desaconselham

o uso de medicamentos sem o conhecimento de sua procedência; procedam a programas

com certificação de qualidade de cultivos de plantas de propriedades curativas.

No Brasil, além da grande diversidade de espécies de plantas com poder curativo

em todo seu território, existem também a diversidade e a construção do conhecimento

sobre cultivo e formas de uso dessas plantas em rituais religiosos, em virtude da

miscigenação de raças – o encontro do homem branco europeu com índios brasileiros e

escravos africanos – decorrente da colonização do país a partir do século XV.

Esse encontro de raças, segundo Lorenzi & Matos (2002), estabeleceu o alicerce

de toda a tradição de uso de plantas medicinais no Brasil. Os europeus, principalmente

os jesuítas da medicina naturalista, foram os primeiros médicos que exerceram as

praticas da medicina vegetal, aperfeiçoando técnicas a partir do saber indígena dos

nativos (Siqueira, 2006 apud Matos, 2008).

Lorenzi e Matos (2002) descrevem também que os escravos africanos ajudaram

na construção desse conhecimento no uso de plantas trazidas da África utilizadas para

rituais religiosos e curativos.

Muitas outras plantas (...), são empregadas nas mais diferentes situações

ritualísticas dos sistemas de crenças de influência africana no Brasil, a fim de

atender aos objetivos requeridos pelos rituais, tanto de cura como das

cerimônias religiosas propriamente ditas (CAMARGO, 1999, p. 1)

Na região amazônica, o conhecimento fitoterápico se estruturou entre os séculos

XVI e XIX, a partir da congregação dos saberes dos povos nativos amazônicos com as

praticas da medicina européia naturalista dos jesuítas, fundindo-se mais adiante, no

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grande movimento do ciclo da borracha, com o saber nordestino com forte influência

das tradições africanas (SANTOS, 2000).

As populações acostumadas a enfrentar, com seus próprios recursos, enfermidades que às vezes desconheciam, criaram novas técnicas de uso,

descobrindo novas finalidades para as plantas que já conheciam, a partir dos

dados recém-incluídos no seu dia-a-dia (SANTOS, 2000, p. 8).

Essa fusão etnográfica7 define a pajelança cabocla ou medicina popular

amazônica, com uma relação entre religião e medicina. Segundo Henrique (2009), a

eficácia desses rituais está em organizar simbolicamente baseado em um sistema de

crenças, dando respostas aos problemas dos indivíduos e que possibilitem às pessoas a

dar sequência no curso de suas vidas. Esses rituais são fortemente caracterizados no

interior amazônico, principalmente em comunidades ribeirinhas, localidades onde o

acesso às drogas alopáticas é restrito. Dessa forma, os dominantes desses rituais se

configuram na forma de benzedor, pajé e/ou experiente, segundo a linguagem cabocla

(MAUÉS, 1990).

Oliveira & Bartholo Jr (2008), sob um olhar mais holístico, define a pajelança8

como a representação que atua de forma sincrética sobre o corpo, implicando

fenômenos que podem ser definidos como mágico-religiosos, tanto quanto como

científicos e técnicos, a uma terapêutica que envolve prescrições e formulações a partir

da biodiversidade local, da natureza, de maneiras variadas. As receitas prescritas tanto

podem incluir remédios alopáticos como os remédios da terra feitos a partir de raízes,

ervas, folhas, óleos, animais ou outros produtos da farmácia popular (Oliveira &

Bartholo Jr, 2008)

A pajelança, mais do que o catolicismo, mais do que o espiritismo (...)

encontra-se mesclada na magia e medicina popular, (...) envolve também

práticas alimentares e a magia implica em representações que, se ás vezes

ligadas, de alguma forma, ao cristianismo, sobretudo em sua versão católica,

tem a ver com a medicina popular, com a cura e com a transmissão e/ou

provocação de doenças e outro males (ou benefícios) (MAUÉS, 2007).

7 As descrições culturais: catolicismo europeu com a espiritualidade dos rituais de magias dos índios e africanos formam o que se chama de pajelança rural ou cabocla. Uma forma de pajelança praticada,

sobretudo, por populações rurais ou de origem rural não indígenas resultante de múltiplas misturas e

influências culturais: dos tupinambás ao catolicismo, de crenças e lendas portuguesas aos cultos africanos,

e, mais recentemente, aos cultos mediúnicos kardecistas (Maués & Villacorta, 1998; Oliveira & Bartholo

Jr, 2008). 8 Pajelança, segundo Maués & Villacorta (1998) é o fenômeno da incorporação, sendo o corpo do pajé

tomado por entidades conhecidas como encantados ou caruanas. Dessa forma, possuído por essas

entidades, que o pajé realiza seus “trabalhos” ou sessões xamanísticas, ocupando-se, nelas,

principalmente com a cura de doentes.

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9

Esses indivíduos geralmente são conhecedores das ervas, inclusive de seus

efeitos curativos ou tóxicos, o que nos permite dizer, grosso modo, que são graduados

empiricamente na etnobotânica e na etnofarmacologia, íntimos da fauna e da flora e um

valioso recurso de conhecimento arquivado de suas gerações anteriores. Esses

conhecimentos têm grande importância para as pesquisas na área da farmacologia e para

o surgimento de novas drogas. Por isso,

Esse saber tradicional acerca dos recursos biológicos está despertando o

interesse das indústrias farmacológicas e de produtos naturais para fins

farmacológicos, biotecnológicos e de conservação, dessa forma, a diversidade

cultural está fortemente relacionada com a diversidade biológica, mas

precisamente das plantas cultivadas e manipuladas pelas sociedades tradicionais (PRIMACK, 1993 apud SIVA, 2002, p. 26)

Para Vieira (1992), a flora brasileira, mas precisamente da Amazônia, pela sua

diversidade de espécies medicinais, carrega importantes fontes de princípios ativos,

representando, desta forma, boas perspectivas para a fitoterapia nacional.

A comprovação científica dos efeitos benéficos das plantas brasileiras, tidas

popularmente como medicinais, tem despertado grande interesse junto aos

pesquisadores de todo mundo, com o objetivo de auxiliar os problemas sociais

da população universal, pois, aproximadamente metade dos remédios contém

material de plantas ou sintéticos derivados delas (SILVA, 2002, p. 14).

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10

2- CAPITULO II: RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo deste capítulo será apresentar os resultados e a discussão das

entrevistas que foram realizadas ao longo da pesquisa de campo. Foram aplicados em

cada domicílio dois formulários, sendo um para coleta de dados socioeconômicos e

outro para coleta de dados etnobotânicos e etnofarmacológicos.

2.1 – As entrevistas realizadas

Durante o trabalho de campo, foram realizadas vinte e cinco (25) entrevistas nos

seguintes bairros do município de Altamira-Pa, todos localizados na área urbana: oito

(8) no Mutirão, seis (6) na Brasília, quatro (4) na Liberdade e sete (7) na Bela Vista. O

critério de seleção dos bairros deu-se a partir daqueles considerados periféricos e a

seleção das casas, pela quantidade de plantas, sejam medicinais ou ornamentais, visíveis

na frente e/ou lateral das residências, como podemos observa nas Figuras 1 e 2, bem

como pela indicação dos próprios moradores sobre quem cultivava plantas medicinais.

Figura 1: Casa do(a) entrevistado(a) (frente), Altamira-PA, 2010.

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11

Figura 2: Casa do (a) entrevistado(a) (lateral), Altamira-PA, 2010.

2.2 – Análise socioeconômica dos entrevistados

2.2.1 – Faixa Etária

A idade média encontrada dos entrevistados foi de 53 anos. Dos vinte e vinco

entrevistados, dois são homens. As maiorias dos informantes possuíam idade entre 51 e

70 anos, com dezesseis pessoas (64%), seguida da faixa etária de 31 a 50 anos, com

apenas sete entrevistados (28%). Entre os entrevistados, havia uma mulher jovem, de

apenas 14 anos9 e uma mais velha, de 75 anos, representando 4% cada uma. Como

indica a Figura 3.

9 Apesar da pouca idade, optou-se em iserir no estudo por apresentar bastantes e precisas informações

sobre a medicina caseira, além da mesma já ser mãe e divide os estudos com a maternidade e os fazeres

domésticos.

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12

Figura 3: Faixa Etária dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

Os dados revelaram que são as mulheres, em todas as faixas etárias, quem mais

cultivam as plantas medicinais e também são as maiores difusoras do seu uso nos

bairros em que vivem. Observou-se também que o conhecimento, tanto da variedade

como da função curativa, é transmitido ao longo das gerações por pessoas mais velhas –

geralmente a mãe ou a avó – com grau de parentesco bastante estreito.

Os entrevistados utilizam as plantas medicinais cultivadas para o tratamento de

doenças e, mesmo convivendo em contato com a medicina moderna, ainda mantêm

vasta farmacopéia vegetal e utilizam diversos remédios derivados de plantas.

2.2.2 – Renda Familiar e Profissão

A fitoterapia constitui-se como opção na busca de soluções terapêuticas,

utilizada principalmente pela população de baixa renda por se tratar de uma alternativa

eficiente, barata e culturalmente difundida.

Procurou-se também investigar nas entrevistas a quantidade de pessoas

residentes nos domicílios e quantas destas tinham emprego ou algum outro tipo de

obtenção de renda. A renda apresentada é familiar. Encontrou-se quantidade de

residentes entre um (1) e onze (11) pessoas nas vinte e cinco casas visitadas.

Conforme se pode observar na Figura 4, a média da renda familiar dos

entrevistados é de menos de dois salários mínimos10

, dos quais: 56% dos entrevistados

possuem uma renda mensal entre R$ 500,00 e R$ 900,00; 20% dos entrevistados

possuem uma renda entre R$ 1.000,00 e R$ 1.500,00; 8% dos entrevistados possuem

10 O valor do salário mínimo, no 1º semestre do ano de 2010, é de R$ 510,00.

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13

renda entre R$ 1.600,00 e R$ 1.800,00; e 16% dos entrevistados se recusaram a

informar suas rendas.

Figura 4: Renda dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

Considerando a baixa renda familiar dos entrevistados, podemos concluir que o

cultivo de plantas medicinais e a sua utilização simbolizam, muitas vezes, o único

recurso terapêutico de muitas comunidades, pois a deficiência ou ausência de postos de

saúde e hospitais, bem como a dificuldade do acesso a medicamentos alopáticos, tornam

muitas vezes a prática e o consumo de fitoterápicos o único meio de cura.

Na Figura 5, podemos observar que entre os entrevistados, 56 % das mulheres

são donas de casa, 12% são aposentadas, entre elas uma artesã (4%). Dentre os homens

entrevistados, 8% são pedreiros. Além disso, entre os entrevistados, foram encontradas

uma estudante, uma vendedora de lanche, uma costureira, uma umbandista e uma

benzedeira11

.

11 A benzedeira, ao contrário da umbandista, não obtém lucros de seus serviços. O benzedor é um

especialista capaz de tratar de várias doenças, recitando orações próprias e assumindo um comportamento

ritualístico específico (MAUÉS, 1990)

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Figura 5: Profissão dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

As donas de casa e as aposentadas apresentam maior representatividade no

cultivo das plantas medicinais, pois dividem o tempo dos afazeres domésticos com o

cultivo das plantas medicinais.

2.2.3 – Religião

Na pesquisa, buscou-se também investigar a religião dos cultivadores de plantas

medicinais. A religião católica prevalece entre os entrevistados, ou seja, dos vinte e

cinco informantes, dezessete são católicos, o que equivale a 68% dos entrevistados. Sete

entrevistados são evangélicos e uma umbandista-católica12

, como exposto na Figura 6.

Figura 6: Religião dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

12 Apesar de ser católica, optou-se por essa separação por configurar-se como uma mistura de espiritismo

e catolicismo diferenciando-se assim do catolicismo tradicional.

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Verificou-se entre os entrevistados uma forte relação entre cura, crença e fé,

explicado pelo uso das plantas na pajelança, catolicismo, espiritismo e umbanda,

esclarecido por Maués (1990), onde as mesmas se unem, em graus diferentes, para

formar o corpo de crenças e práticas mágico-religiosas de uma população, do qual a

medicina é parte integrante. Na Amazônia, é muito comum a medicina popular

incorporada às crenças, representações e práticas religiosas na cura das populações

rurais.

2.2.4 – Escolaridade

Na Figura 7, podemos observar que dentre os vinte e cinco (25) entrevistados,

44% cursaram entre a 1ª e 4ª séries do Ensino Fundamental regular, 32% são

analfabetos, 12% cursaram entre 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental regular e 12%

estão com os estudos em andamento, dos quais, dois estão na modalidade EJA –

Educação de Jovens e Adultos e uma no Ensino Fundamental regular.

Figura 7: Escolaridade dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

Verificou-se também que a quantidade de pessoas analfabetas somada ao

número de pessoas que cursaram ou entre 1ª a 4ª série, resultam em 76%. Isso constitui

um indicativo da baixa escolaridade dos cultivadores de plantas medicinais nos bairros

selecionados, justificando a importância dos registros científicos dos saberes e tradições

que envolvem esta prática.

2.2.5 – Origem

A procedência dos entrevistados é um aspecto importante a ser observado no

tocante ao cultivo de plantas medicinais, pois como ilustra a Figura 8, a maioria dos

usuários é de origem nordestina, 60%, sendo que dentre quinze entrevistados, sete são

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nortistas – correspondendo a 28% dos entrevistados – dois entrevistados são oriundos

do Centro-oeste – 8% do total – e um, da Região Sudeste – correspondendo a 4%.

Figura 8: Origem dos entrevistados, Altamira-Pará, 2010.

Os entrevistados provenientes do Nordeste possuem um conhecimento bem

diversificado e inclusive, vale ressaltar que algumas espécies foram trazidas de seus

municípios de origem para Altamira e se adaptaram muito bem na comunidade em que

vivem, tendo em vista a intempérie climática diferente.

A presença de muitas pessoas oriundas de outros estados foi resultado do Projeto

de Colonização ao longo da Rodovia Transamazônica na década de 197013

. Dos vinte e

cinco entrevistados, apenas sete são paraenses; dos outros: um é de São Paulo, dois são

de Goiás e três são da Bahia, um do Piauí, três do Maranhão, três do Ceará, dois de

Pernambuco, um de Alagoas e dois do Rio Grande do Norte.

2.3 – Dados etnobotânicos e etnofarmacológicos

As abordagens etnobotânicas e etnofarmacologia consistiram em combinar as

informações adquiridas junto aos entrevistados que utilizam e cultivam plantas

medicinais nos bairros, com as informações coletadas em literaturas científicas que

tratam de química e farmacologia, inclusive de medicina caseira.

Em grande parte, a aquisição do conhecimento sobre plantas medicinais dos

entrevistados veio da transmissão Mãe – Filha. Outra forma encontrada de transmissão

13 A Rodovia Transamazônica foi construída no Governo do Presidente Emílio Garrastazu Médice

durante a década de 1970, no Programa de Integração Nacional (PIN), que visava à apropriação de terras

vazias para homem sem terras oriundos dos Estados com índice demográfico elevado, principalmente

Estados do Nordeste (BECKER,1994; UMBUZEIRO, 1999).

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dos saberes fitoterápicos veio de pessoas mais velhas como Avós e Avôs, bem como de

outros parentes e vizinhos.

As citações etnobotânicas dos entrevistados deram um total de cento e trinta e

oito espécies de plantas medicinais, desse total trinta e sete se destacaram pela grande

quantidade de citações. Dentre essas espécies mais citadas, têm-se a babosa (Aloe vera)

(Figura 9), o capim santo (Cymbopogon citratus) (Figura 10), folha santa (Bryophillum

pinnatum) (figura 11), malva grossa (Plectranthus amboinicu) (Figura 12) e mastruz

(Chenopodium ambrosioides) (Figura 13), cultivadas em todos os bairros selecionados.

As doenças que comumente são tratadas com plantas medicinais são: doenças

respiratórias, inflamações e problemas gastrointestinais. Essas informações estão

contidas na Tabela 1.

Figura 9: Cultivo de babosa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010.

Figura 10: Cultivo de capim santo em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010.

Foto: Bruno Américo

Foto: Bruno Américo

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Figura 11: Cultivo de folha santa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010.

Figura 12: Cultivo de malva grossa em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010.

Figura 13: Cultivo de mastruz em quintal medicinal, Altamira-Pará, 2010.

Foto: Bruno Américo

Foto: Bruno Américo

Foto: Bruno Américo

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Na literatura consultada, verificou-se que cada planta apresentava uma extensa

lista da farmacopéia14

medicinal, tendo em vista que seu conteúdo é o resultado de

pesquisas, enquanto que no conhecimento popular o saber é oralmente transmitido e

limitou-se apenas às doenças mais comuns, todavia, é importante mencionar que o

conhecimento etnobotânico e etnofarmacológico dos entrevistados está contido em

quase todas as citações literárias. A amora (Rubus brasiliensis Mart.) encontrada na

literatura se distingue da que foi coletada nas entrevistas, tanto nas informações

farmacológicas quanto na morfologia da planta. Tanto o vick (Mentha arvensis L.)

quanto o coqueiro (Cocos nucifera L.), segundo os entrevistados, possuem propriedades

medicinais, porém, não estão presentes na literatura farmacobotânica. As informações

sobre os usos tanto dos entrevistados quanto das literaturas estão contidas na Tabela 1.

Uma das perguntas das entrevistas foi direcionada para o aprendizado e os

motivos pelos quais passaram a utilizar plantas medicinais. Neste sentido, identificou-se

que para a maioria dos entrevistados (85%), o aprendizado se deu pelo fato de serem

oriundos de áreas rurais de seus locais de origem ou mesmo da Transamazônica.

14 Entende-se como farmacopéia o conjunto ou lista de informações a cerca de medicamentos. Neste

trabalho enfatizamos a farmacopéia vegetal medicinal.

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Tabela 1: Uso das plantas medicinais mencionados pelos entrevistados e usos encontrados na literatura

Planta medicinal (%

de citação pelos

entrevistados)

Nome científico/Família Usos mencionados na literatura Usos mencionados pelos entrevistados

Abacateiro (2.64%) Persea americana Mill / Lauraceae

A polpa é carminativa e útil contra o ácido úrico; os chás das folhas, da casca e da semente ralada são diuréticos, anti-reumático, carminativo, antianêmico, antidiarrêico e antiinfeccioso para os rins e bexiga, além de estimulante da vesícula biliar, estomático, emenagogo e balsâmico; o caroço quando seco é empregado contra tênia e outros

vermes intestinais e no tratamento de abscessos e panarícios; os botões florais são tidos como afrodisíacos, sendo utilizados para o tratamento dos órgãos sexuais femininos (Lorenzi & Matos, 2002; Vieira, 1992).

Chá do caroço e da folha para os rins; chá das folhas amareladas para o fígado, pressão alta; caroço ralado de molho n’água para anemia.

Amoreira (1,22%) Não identificado na literatura Não identificado na literatura Chá das folhas para controlar a menopausa (reposição hormonal)

Alfavaquinha (2,03%)

Ocimum gratissimum L. / Lamiaceae

Ações biológicas como larvisida e repelente de insetos. O óleo essencial tem ação

bactericida e analgésica de uso em odontologia. É carminativo, combate a gastrite, tosse, vômito, bronquite, gripe, resfriado (Lorenzi & Matos, 2002).

Decocção das folhas para banhos no tratamento de tosse, gripe, dor de cabeça. Chá das folhas para inflamação na garganta e catarro no peito.

Amor crecido (2,03%)

Portulaca olareceaL. / Portulacaceae

Tem ações sudoríficas, emolientes, antiinflamatória, diurética, vermífuga, antipirética e antibacteriana. Pode ser usada contra disenteria, enterite aguda, mastite e hemorróidas. As folhas são indicadas contra cistite, hemoptise, cólicas renais, queimaduras e úlceras. As sementes são consideradas emenagogas, diuréticas, anti-helmíntica (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para verminose, inflamação uterina, febre em bebês.

Alecrim (1.01%) Rosmarinus officinales L. / Lamiaceae

Medicamento para má digestão, gases no aparelho digestivo, dor de cabeça,

dismenorréia, fraqueza e memória fraca. Possui propriedades espasmolíticas sobre a vesícula e duodeno, colerética, protetora hepática e antitumoral. Presença de óleos nas folhas para uso tópico como cicatrizantes, antimicrobiano, estimulante do couro cabeludo. Para uso oral como diurético, colagogo, colerético, carminativo e antiinflamatório intestinal. O uso do chá das folhas para cistite, enterocolites e hemorróidas inflamadas (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas no controle da pressão alta, gripe e dor de cabeça.

Arruda (1,83%) Ruta graveolensL. / Rutaceae Uso na forma de chá para desordens menstruais, inflamações na pele, dor de ouvido, dor de dente, febre, cãimbras, doenças no fígado, verminoses e como abortivo. Tem atividade anti-helmíntica, febrífuga, emenagoga (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para atraso menstrual, antiinflamatório. Banhos para zumbido na cabeça, dor de ouvido, conjuntivite

Fonte: Trabalho de campo, 2010

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Algodão branco

(1,01%)

Gossypium hirsutum L. / Malvaceae

Chá das folhas para desinteira, hemorragia uterina e uso tópico das folhas como cicatrizantes. Chá da raiz para falta de memória, amenorréia, distúrbio da menopausa e impotência sexual. Chás das folhas e frutos ainda verdes para micoses. O óleo extraído das sementes usa-se como purgativo, vermífugo e como emolientes, além de combater piolhos do couro cabeludo e do corpo (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas inflamação uterina.

Açafroa (1,01%) Curcuma longa L. / Zingieberaceae

Seu rizoma tem propriedades anti-hepatotóxico, anti-hiperlipidêmica e

antiinflamatório. Tem ação colerética com estimulo da secreção da bílis, prisão de ventre e melhora o apetite, também para tratamento do cálculo biliar, da icterícia e outras disfunções hepáticas. Os extratos tem atividade anti-PAF, ação hipoglicemiante e antiinflamatório. O óleo essencial do rizoma apresenta atividades anti-histamínico, antimicrobiano (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá do rizoma no combate do sarampo, catapora, hepatite.

Babosa (3,65%) Aloe vera (L.) Burm.f. / Liliaceae

O sumo das folhas possui atividades cicatrizantes em casos de queimaduras e ferimentos superficiais da pele. Tem ação antimicrobianas. O gel extraído das folhas aplicado com auxílio do aplicador de creme vaginal como supositório para combater hemorróidas. Misturado com álcool e água para contusões, em torções e dores reumáticas (Lorenzi & Matos, 2002).

Sumo das folhas para erisipela, ferimento, câncer, furúnculo, dermatite, inflamação.

Boldo chinês (1,83%) Plectranthus neochilus Schlechter

/ Lamiaceae

Tratamento para controle da gastrite, da dispepsia, azia, mal estar gástrico, ressaca e

como amargo estimulante do apetite e da digestão (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas má digestão, inflamação

no fígado.

Capim santo (3,25%) Cymbopogon citratus (DC) Stapf. / Gramineae (Poaceae)

O chá das folhas frescas é empregado para alívio de pequenas cólicas uterinas e intestinais, bem como no tratamento do nervosismo (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para dissolver cristais na urina, calmante, insônia, anti-inflamatório, febre, gripe, hipertensão.

Cumaruzinho (1,83%)

Justicia pectoralis var. stenophylla Leon. / Acanthaceae

Medicação contra reumatismo, cefaléia, febre, cólicas abdominais, inflamações pulmonares, tosse; é também utilizada como expectorante, sudorífica e afrodisíaca. Em extrato hidro-alcoólico das folhas tem efeito antipirético, analgésico, espamolítico antiinflamatório e bronco dilatadora (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para tosse, pneumonia, gripe, febre, dor de barriga, anti-inflamatório, dor de cabeça.

Cajueiro (1,83%) Anacardium occidentale L. / Anacardiaceae

A entrecasca possui efeito antidiabético, adstringente, antidiarrêico, depurativo, tônica e antiasmática. O cozimento da entrecasca, com bochechos e gargarejos, como anti-séptico e antiinflamatório em casos de feridas e úlceras da boca e afecções da garganta (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá da casca do caule como anti-inflamatório, antiséptico, vermisida, moluscida. No combate da lepra, eczema, psoríase, filariose.

Coqueiro (1,62 %) Não identificado na literatura

Não identificado na literatura Entrecasca de molho n’água para diabetes e colesterol alto, a água para hidratação.

Tabela 1: continuação

Fonte: Trabalho de campo, 2010

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Canarana (2,03%)

Costus spiralis (Jacq.) Roscoe / Zingberaceae (Costaceae)

Possui propriedades depurativa, adstringente e diurética. O uso do rizoma como diurético, tônico, emenagogo e diaforético. O suco da haste fresca diluído em água tem uso contra gonorréia, sífilis, nefrite, picadas de inseto, problemas da bexiga e diabetes. O uso externo na forma de decocção é empregado para aliviar irritações vaginais, leucorréia e no tratamento de úlceras. Na forma de cataplasma é empregada para amadurecer tumores (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para infecção urinária, pedra nos rins.

Coquinho (1,01%) Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb. / Iridaceae

Os bulbos são empregados contra gastralgia, histeria, diarréia e vermes intestinais. Ao extrato atribuem-se propriedades antimicrobianas e ação dilatadora da coronária, potencialmente útil no tratamento de doenças cardíacas (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá do bulbo para dor de barriga, diarréia e ameba.

Erva cidrera (2,84%) Lippia alba (Mill.) N.E.Br. / Vebernaceae

O chá das folhas tem efeito calmante espasmolíticas suaves, além de atividade analgésica. Tem forte atividade sedativa, ansiolítica e mucolítica. Também o chá das folhas é eficaz no alívio de pequenas crises de cólicas uterinas e intestinas (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas calmante, insônia, hipertensão, má digestão e febre.

Elixir paregórico (1,22%)

Piper callosum Ruiz et Pav. / Piperaceae

O chá das folhas é adstringente, digestivo, antidiarréico e hemostático local, antiblenorrágico e contra a leocorréia (Vieira, 1992).

Chá das folhas para má digestão, malária, gripe, vômito.

Folha santa (3,25%) Bryophillum pinnatum (Lam.) Oken / Crassulaceae

Largo uso no tratamento de furúnculos e xarope para tosse associado com outras plantas. É usada também para tratamento de anexite e da gastrite. Possui atividades antialérgicas, antiúlceras e imuno-supressivas, além de antitumorais e ação inseticida. Combate a leishmaniose cutânea (Lorenzi & Matos, 2002).

Sumo das folhas para inchaço, inflamação uterina, gastrite, gripe, dor de ouvido, estômago.

Gervão (1,22%) Stachytarpheta jamaicensis (L.) Vahl / verbenaceae

É utilizado como tônico estomacal e estimulante das funções gastrintestinais, contra febre, dispepsia, como diurético e emoliente, para problemas hepáticos crônicos e, para promover a transpiração (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas como anti-inflamatório e cicatrizante e no combate da gastrite e gripe.

Gengibre (2,84%) Zingiber officinale Roscoe / Zingiberaceae

O óleo essencial do rizoma fresco possui ações antimicobriana, estimulante digestiva, com indicação nos casos de dispepsia e como carminativo nas cólicas flatulentas, além

de propriedade com ações antimicrobiana local no combate a rouquidão e a inflamação da garganta, antivomitiva, antiinflamatória, anti-reumática, antiviral, intensa atividade antitussígena, antitrombose, cardio-tônica, antialérgica, colagoga, e protetora do estômago (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá do rizoma para gripe, tosse, inflamação na garganta, rouquidão e febre.

Goiabeira(1,83%)

Psidium guajava var. pomifera L. / Myrtaceae

É usada no tratamento de diarréias na infância. O uso do chá com bochechos e

gargarejos para o tratamento de inflamações da boca e da garganta ou em lavagens locais de úlceras e na leucorréia. O extrato do broto tem uma forte atividade contra Salmonela, Serratia e Staphylococcus (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá do broto para dor de barriga, gastrite.

Tabela 1: continuação

Fonte: Trabalho de campo, 2010

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Guiné/Tipi (2,23%)

Petiveria alliacea L. / Phytolaccaceae

É considerada antiespasmódica, diurética, sudorífica e emenagoga. Na forma de infusão das folhas e das raízes contra hidropsia, artrite, reumatismo, malária, memória fraca. As raízes têm ação analgésica e anestésica. O uso externo contra afecções bucais e infecções da garganta na forma de chá por infusão das folhas e raízes. Em aplicação tópica contra contusões, traumatismos, dores lombares, reumáticas e de cabeça. Tem forte ação hipoglicemiante (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para reumatismo no sangue, gripe e tosse.

Hortelanzinho

(1,62%)

Mentha x piperita L. / Labiatae

(Lamiaceae)

Possui propriedades espasmolíticas, antivomítivas, carminativas, estomáquicas e anti-helmínticas por via oral e, antibacteriana, antifúngica e antiprurido por uso tópico. O

óleo essencial das folhas tem propriedades antiespasmódica, antiinflamatória, antiúlcera e antiviral (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para dor de barriga, gripe, febre, dor de cabeça, verminose, tosse e insônia.

Limoeiro (1,83%) Citrus limon (L.) Burm. F. / Rutaceae

O suco da fruta possui propriedades diuréticas, anti-escorbútica, anti-reumática, anti-desintérica, adstringente e febrífuga. É usada contra acidez estomacal, ácido úrico, varizes, hemorróidas, pedras nos rins, congestão dos brônquios, eczema, dor de garganta, picada de inseto e gripe. O chá do fruto ou das folhas para gripe e resfriados.

O cozimento da casca do fruto para facilitar a circulação sanguínea, como digestivo e para problemas estomacais (Lorenzi & Matos, 2002).

Suco do fruto para hipertensão. Decocção das folhas na forma de banhos para gripe, tosse e sumo das folhas para

furúnculo.

Laranjeira (2,64%) Citrus sinensis L. / Rutacea Indicada contra gripes e resfriados, pois tem ações depurativa e sudorífera. Digestiva, calmante, antiescorbútica, antifebril e dissolvente de cálculos renais (Barbosa Júnior,

2009).

Decocção das folhas na forma de banhos para gripe, febre. Chá da casca do fruto para dor de barriga, emagrecedor, calmante, hipertensão.

Mastruz (3,45%) Chenopodium ambrosioides L. /

Chenopodiaceae

É tida como estomáquica, anti-reumática e anti-helmíntica. Misturado com leite para tratamento de bronquite e tuberculose. A planta triturada é usada para tratamento de contusões e fraturas por meio de compressas ou ataduras (Lorenzi & Matos, 2002).

Com leite e mel como anti-inflamatório, para gastrite, inflamação uterina, gripe,

verminose e o sumo das folhas para fratura e ferimentos.

Mamoeiro (1,62%) Carica papaya L. / Caricaceae

O látex, algumas gotas por litro de água, é empregado para asma e diabetes, na forma pura como vermífugo. As sementes secas e trituradas na forma de chá também como

vermífugo. O fruto para intestino preso. A infusão das flores é emenagoga, antipirética e peitoral, já as folhas são estomáquicas, sedativas e calmativas (Lorenzi & Matos, 2002).

Flor do mamoeiro macho para dor no estômago e gripe.

Malva grossa (3,04%) Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng / Labiatae (Lamiaceae)

De suas folhas é feito xarope no tratamento de tosse, dor de garganta, bronquite. O sumo para o tratamento de feridas por leishmaniose cutânea, além de medicação oral para problemas ovarianos e uterinos, inclusive nos casos de cervicite (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá para gripe, inflamação uterina, asma e gastrite. Na forma de xarope para tosse e dor na garganta.

Manjericão (1,01%) Ocimum basilicum L. / Labiatae (Lamiaceae)

Alivia espasmos, baixa febre e melhora a digestão, além de ser efetiva contra infecções bacterianas e parasitas intestinais. O chá é estimulante digestivo, galactógeno, béquico e anti-reumático (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas como calmante e no tratamento da gripe, tosse, dor de cabeça e rins.

Tabela 1: continuação

Fonte: Trabalho de campo, 2010

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Pariri (1,42%) Arrabidaea chica (Bonpl.) B. Verl. / Bignoniaceae

É considerada antiinflamatória, antimicrobiana e vulnerária. O chá de suas folhas é utilizado como adstringente e empregado para espasmos intestinais, diarréia sanguinolenta, leucemia, lavagem de feridas, icterícia, anemia, albuminúria, psoríase e enterocolite (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para anemia e cicatrização.

Pião roxo (1,22%) Jatropha gossypiifolia L. /

Euphorbiaceae

As sementes são usadas como purgativo drástico e as folhas como medicação cicatrizante, hemostática, anti-reumática e anti-hipertensiva, enquanto as raízes são tidas como diuréticas (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para dor de cabeça e o

sumo para ferimentos e impingem.

Quebra pedra (2,43%)

Phyllanthus niruri L. / Euphorbiaceae

O chá promove relaxamento dos ureteres, aliado a uma ação analgésica, facilita a descida dos cálculos sem dor nem sangramento, além de ser empregado como diurético e antinfeccioso das vias urinárias. Análises em laboratório mostraram forte atividade contra o vírus da hepatite B administrado através de injeção (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas e raízes para tratamento de pedra nos rins.

Romã (1,42%) Punica granatum L. / Punicaceae

O uso da casca do fruto, para tratamento inflamações na boca e garganta e, do líquido do arilo das sementes contra catarata. A casca do caule e a raiz contra vermes chatos (solitária), diarréia crônica e disenteria amebiana. Externamente na forma de infusão

em bochechos e gargarejos é usada contra gengivites e faringites e, em banhos, contra afecções vaginais e leucorréia (Lorenzi & Matos, 2002).

De molho n’água para inflamação na garganta.

Vick (1,42%) Não identificado na literatura Não identificado na literatura Chá das folhas no tratamento de tosse, febre, dor de cabeça e gripe.

Vassourinha (1,01%) Scoparia dulcis L. / Scrophulariaceae

É usada no tratamento de febres, tosses, bronquites, diarréia, inflamações, dores, males estomacais e dor de dentes, além do tratamento de diabetes, da hipertensão arterial, retenção urinária e, sob a forma tópica, nos casos de hemorróidas e picadas de insetos. Pode-se empregá-la como antiácido no tratamento de dispepsia (Lorenzi & Matos, 2002).

Chá das folhas para rins, infecção urinária.

Tabela 1: continuação

Fonte: Trabalho de campo, 2010

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A Tabela 1 apresenta um registro importante da prática que envolve o cultivo de

plantas medicinais, principalmente pelas classes sociais menos favorecidas. Contextualizando

historicamente essa temática, os diversos autores estudiosos dos saberes e tradições populares

apontam para as transformações na Amazônia e como estas se consolidaram em um contexto

de trocas culturais intensas e diversificadas, vivenciadas pelos seus habitantes. As populações

acostumadas a enfrentarem, com seus próprios recursos, enfermidades que às vezes

desconheciam, criaram novas técnicas de uso, descobrindo assim novas finalidades para as

plantas que já conheciam ou mesmo usando várias plantas ou partes destas.

Nessas transformações, os saberes amazônicos estavam sistematizados em seus

diversos matizes: indígenas e caboclos, seringueiros, madeireiros, pescadores, colonos,

garimpeiros, regatões, etc.. Esses grupos sociais foram ao longo do tempo consolidando suas

práticas, destacando-se o uso dos “remédios do mato” como um dos seus traços culturais mais

marcantes. As tradições de uso de plantas medicinais na Amazônia guardam elementos de

várias culturas.

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CONCLUSÕES

Um dos objetivos importantes a que se propôs esse trabalho foi resgatar o saber e as

tradições que envolvem o uso e o cultivo das plantas medicinais, reconhecendo que essas

práticas estão comprometidas com os processos de modernização e urbanização, gerando o

risco de perda de grande parte desses saberes. Fato importante verificado é que as próprias

redes de transmissão desse conhecimento também estão comprometidas, pois eles são

passados oralmente de geração a geração.

Apesar do cultivo de plantas medicinais ser muito mais amplo e difundido

principalmente entre as classes populares, considera-se que o trabalho apresentado a partir de

uma amostra de quatro bairros no município de Altamira-PA, revelou o quanto é importante

que as Ciências Agrárias se comprometam com os aspectos sócio-antropológicos aos quais

estão envoltos o cultivo de plantas medicinais na Amazônia.

Nesse sentido, outras pistas de pesquisas podem ser apontadas para futuros trabalhos,

tais como: a investigação em áreas rurais com origens diferenciadas, muito comuns em áreas

de fronteira amazônica, permitindo verificar mais eficazmente as transformações desses

saberes já assinaladas pelos autores utilizados nas referências bibliográficas; bem como um

levantamento de espécies pouco reconhecidas na literatura cientifica, para investigação de

seus princípios ativos.

Finalmente, neste Trabalho de Conclusão de Curso, verificou-se que a ausência de um

sistema de saúde eficaz, com poucos postos de saúde, médicos mais comprometidos,

penalizam mais a população pobre, lhes restando a medicina popular como prevenção e cura

de suas doenças.

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APÊNDICE

Roteiro da entrevista socioeconômica

1- Entrevistador. Data:__/__/__

2 - Entrevistado (Nome)

2.1 - Idade

2.2 - Sexo: (M) (F)

2.3 - Endereço

2.4 - Naturalidade

2.5 - Estado civil: (solteiro/a) (casado/a) (divorciado/a) (viúvo/a) (concubinato/a) (outros)

2.6 - Grau de escolaridade

2.7 - Profissão e renda

2.8 - Filhos (sim) (quantos: ) (não)

2.9 - Número de pessoas que compõe o domicílio

2.10 - Religião

Roteiro da entrevista etnobotânica e etnofarmacológica.

3 - Saberes e práticas em relação ao uso de plantas medicinais.

3.1 - Com quem aprendeu a usar plantas medicinais (relação com esta pessoa)? Quais os

motivos pelos quais passou a utilizar (em que momento passou a utilizar, algum motivo

especial)?

3.2 - Prefere utilizar plantas medicinais? Por quê?

3.3 - Tem conhecimento de plantas tóxicas? Quais e seus efeitos?

3.4 - Com quem obteve ou obtém as plantas? De que forma?

3.5 - Você é consultado(a) pela comunidade sobre a forma de uso dessas plantas? Qual o tipo

de doença mais frequente e a planta indicada?

3.6 - Como são cultivadas as plantas (utiliza algum tipo de adubação orgânica)? Tem hora

certa para coleta das plantas ou parte delas?

3.7 - Há interesse dos filhos ou da comunidade no cultivo de plantas medicinais? Por quê?

3.8 - Com que frequência acessa o serviço público de saúde? Por quê?

3.9 - Quais as pragas e doenças comuns no cultivo dessas hortas medicinais?

3.10 – Possui alguma receita de preparo que aprendeu com seus parentes ou com outra

pessoa?

3.11 - Há outra finalidade dos remédios caseiros (ex.: para animais ou plantas)? Por que ou

para quê?

3.12 - Comercializa alguma espécie? Qual? Produto? Qual?

4 - Receituário.

Nome

comum

Parte

utilizada

Forma de

uso

Modo de

preparo

Doenças

tratadas

Outras observações: