semana da arte moderna (1922)

17
ESCOLA DE ENSINO MÉDIO SÃO FRANCISCO DE ASSIS LITERATURA PROF. RICARDO MEES SEMANA DE ARTE MODERNA VAIAS, RELINCHOS E MIADOS VINÍCIUS DE MENEZES FABREAU 2014

Upload: vinicius-fabreau

Post on 11-Jul-2015

296 views

Category:

Education


2 download

TRANSCRIPT

ESCOLA DE ENSINO MÉDIO SÃO FRANCISCO DE ASSISLITERATURA – PROF. RICARDO MEES

SEMANA DE ARTE MODERNA

VAIAS, RELINCHOS E MIADOS

VINÍCIUS DE MENEZES FABREAU

2014

Para começo de conversa

Onde? São Paulo – Teatro Municipal;

Quando? 11 a 18 de fevereiro de 1922 (Centenário da Independência política do

Brasil);

Objetivo? Renovar e transformar o contexto artístico e cultural urbano (literatura, artes

plásticas, arquitetura e música);

Espanto do Público

Conferência de Abertura – 13/02 – Realizadopor Graça Aranha – A emoção estética na artemoderna – No espaço alugado por 847 mil réis,o Teatro Municipal de São Paulo;

Noite das Vaias – 15/02 – Quando Ronald deCarvalho leu o poema “Os Sapos”, no qualManuel Bandeira critica a estética parnasiana,a agitação virou confusão;

Os Sapos...

Os Sapos, poema de Manuel Bandeira (1886-1968), que não compareceu ao evento, seria

declamado por Ronald de Carvalho, em meio às vaias da platéia.

Ao ridicularizar os parnasianos por seu apego à métrica, Os Sapos representou uma espécie

espécie de declaração de princípios dos modernistas.

A partir de então, estavam liberados os versos sem rima.

Tiraram, enfim, os grilhões da poesia.

A última noite

Totalmente dedicada à música, foiestrelada pelas composições de HeitorVilla-Lobos, que apresentou-se decasaca e chinelo, pois havia sofrido um

um acidente;

O lema da Semana de 1922 era “sacudir aságuas estagnadas da arte brasileira”

Após a semana...

O lançamento do livro de Mário de AndradePauliceia desvairada:

Poesia urbana, sintética, antirromântica,fragmentária.

Retrata a São Paulo cosmopolita, egoísta eburguesa.

Leitor: Está fundado o Desvairismo.

Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontosde contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. (...) Pensei que sediscutiram minhas ideias (que nem são minhas): discutiramminhas intenções. Já agora não me calo. (...)

A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba emesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, nãoconsiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico paraavisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe quetropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema derepetições fastientas, de sentimentalidades românticas, depormenores inúteis ou inexpressivos. (...)

Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão demoda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem aeternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir anatureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, oraconsciente (Rafael das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven daPastoral, Machado de Assis de Brás Cubas), orainconscientemente (a grande maioria), foram deformadores danatureza. Donde infiro que o belo artístico, tanto mais subjetivosquanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o quequiserem. Pouco me importa. (...)

Mas todo este prefácio, com todo a disparate das teorias quecontém, não vale coisíssima nenhuma. Quando escrevi"Paulicéia Desvairada" não pensei em nada disto. Garantoporém que chorei, que cantei, que ri, que berrei... Eu vivo!

(...)

E não quero discípulos.

Em arte: escola=imbecilidade de muitos para vaidade dum só.

Poderia ter citado Gorch Fock.

Evitava o Prefácio Interessantíssimo.

"Toda canção de liberdade vem do cárcere".

(“Prefácio Interessantíssimo”. Em: ANDRADE, Mário de.Paulicéia desvairada, 1922.)

Revistas do Modernismo - Klaxon

A revista Klaxon: mensário de arte moderna é o primeiro veículo dedicadoà propagação das ideias lançadas pelos modernistas paulistas.

Sem a tradicional hierarquia dos jornais e revistas da época, a Klaxon temsua pauta definida em reuniões com seus idealizadores, funcionando como

como um órgão coletivo.

A primeira de suas nove edições surge em 15 de maio de 1922, aberta porum editorial-manifesto, é marcada pela contradição da necessidade de seabrir para as ideias estrangeiras, porém sem perder de vista o nacional.

Os dois últimos números aparecem em uma edição dupla, em janeiro de1923.

Revistas do Modernismo

Estética e Festa – Liderada por Sérgio Buarque de Holanda,foi lançada em 1924 no Rio de Janeiro. Em 1927, surge a revistaÉtica.

Terra Roxa e Outras Terras – Surge em São Paulo, no ano de1926, e sua pretensão era “interiorizar os debates” e “trazê-loslos para dentro do Brasil”. Publicação heterogênea, teve nomes

nomes como Sérgio Milliet, Oswald de Andrade e Mário deAndrade.

Antropofagia...

Condição, particularidade ou ação deantropófago; característica de quem comecarne humana; canibalismo.

ABAPURU (Homem que come gente) – Tarsilado Amaral

Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente.Filosoficamente.Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, detodos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. (...)

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o quenão é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos osmaridos católicos suspeitos postos em drama. Freud acabou com o enigmamulher e com os sustos da psicologia impressa. O que atropelava a verdadeera a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. Areação contra o homem vestido. O cinema americano informará. Filhos do sol,mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisiada saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país dacobra grande.Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. Enunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental.Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma consciência participante, umarítmica religiosa. (...)

Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente naspraças públicas. Suprimamos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros.Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. Contra Goethe,a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI. A alegria é a prova dos nove. (...)

A nossa independência ainda não foi proclamada.Frase típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes quealgum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espíritobragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – arealidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciáriasdo matriarcado de Pindorama. (...)

(ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça.Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principaismanifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.)

Revista de Antropofagia

Fundada em 1928;

Na sua 1ª fase existiu até fevereiro de 1929 com 10números e na 2ª fase durou de março a agosto de1929.

Iniciou com o Manifesto Antropofágico escrito porOswald de Andrade;

Esta revista foi radical na defesa da “brasilidade” emtodos os sentidos.

Para saber mais

ABAURRE, Maria Luiza M. ABARURRE, Maria BernadeteM. PONTARA, Marcela. Português: Contexto,Interlocução e sentido, 2008. Acesso em 9 abr. 2014.

CAMPEDELLI, Samira Yousseff. SOUZA, Jésus Barbosa.Literaturas brasileira e portuguesa, 2009. Acesso em 9abr. 2014.

http://www.MAC.usp.br/mac/templates/projetos/jogo/pa/pauliceia.asp Acesso em 9 abr. 2014.

Toda canção de liberdade

vem do cárcere.

(G. F.)