poesia pÓs moderna · 2016. 6. 16. · semana de arte moderna em 1922, mas recusou o convite....

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POESIA PÓS MODERNA ADÉLIA PRADA CORA CORALINA AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA THIAGO DE MELLO MÁRIO QUINTANA JOSÉ PAULO PAES

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POESIA PÓS MODERNA

• ADÉLIA PRADA

• CORA CORALINA

• AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

• THIAGO DE MELLO

• MÁRIO QUINTANA

• JOSÉ PAULO PAES

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• ADÉLIA PRADO

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TEMÁTICAS

Religiosidade;

Observação das coisas simples da natureza;

Processo de criação poética – metalinguagem;

Poema lírico – carga afetiva pessoal.

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Estrutura

• Paródia – Carlos Drummond de Andrade;

• Poemas narrativos;

• Intertexto com a Bíblia;

• Liberdade de expressão;

• Uso da oralidade

• Poemas curtos - quadras

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Um Salmo

Tudo que existe louvará.

Quem tocar vai louvar,

Quem cantar vai louvar,

O que pegar a ponta de sua saia

e fizer uma pirueta, vai louvar.

Os meninos, os cachorros,

os gatos desesquivados,

os ressuscitados,

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Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos— dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade de alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.

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CORA CORALINA

• Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas nasceu em 20 de agosto de 1889, no estado de Goiás, e adotou o pseudônimo Cora Coralina para escrever suas poesias.Foi tida como menina magricela e desengonçada. Porém, tomou uma decisão surpreendente, fugindo de casa em 1911 para se casar com Cantídio Bretas, um advogado divorciado. Morou então em São Paulo. Foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna em 1922, mas recusou o convite.

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Publicação

• Ainda jovem já produzia, mas sua primeira obra publicada foi aos 76 anos de idade com Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965).Voltou para Goiás onde morreu aos 95 anos, em 1985.

Obras:

Meu livro de cordel (1976);

• Vintém de cobre (1983);

• Póstumas: Estórias da casa velha da ponte;

• Os meninos verdes e

• O tesouro da casa velha da ponte.

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CRÔNICA DE DRUMMOND

• Jornal do BrasilCaderno B, 27/12/1980

• CORA CORALINA, DE GOIÁS

• (...)

• Este nome não inventei, existe mesmo, é de uma mulher que vive em Goiás.

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Assim é Cora Coralina, repito: mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na solidão e que pode ser contemplado em sua pureza no livro "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Não estou fazendo comercial de editora, em época de festas. A obra foi publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros comovedores, este é um deles.

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POEMA DO MILHO

• Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.Sou a planta primária da lavoura.Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.

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CARACTERÍSTICAS E TEMAS

Poesia de caráter telúrico, que demonstra o forte apego e amor à terra e ao que é gerado por ela.

Simplicidade, forte acento sertanejo.

Poemas voltados para questões sociais e históricas da região de Goiás.

Prosaísmo: os poemas possuem um tom de conversa, que ora beira a informalidade, ora o preciosismo da busca da expressão mais adequada para abordar os temas simples do cotidiano e da vida passada da autora.

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Poema: Todas as Vidas

• Vive dentro de mim uma cabocla velhade mau-olhado,acocorada ao pédo borralho,olhando para o fogo.Benze quebranto.Bota feitiço…

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• Ogum. Orixá.Macumba, terreiro.Ogã, pai-de-santo…Vive dentro de mima lavadeirado Rio Vermelho.Seu cheiro gostosod’água e sabão.Rodilha de pano.Trouxa de roupa,pedra de anil.Sua coroa verdede São-caetano.

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• Vive dentro de mima mulher cozinheira.Pimenta e cebola.Quitute bem feito.Panela de barro.Taipa de lenha.Cozinha antigatoda pretinha.Bem cacheada de picumã.Pedra pontuda.Cumbuco de coco.Pisando alho-sal.Vive dentro de mima mulher do povo.Bem proletária.Bem linguaruda,desabusada,sem preconceitos,de casca-grossa,de chinelinha,e filharada.Vive dentro de mima mulher roceira.

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• a mulher roceira.-Enxerto de terra,Trabalhadeira.Madrugadeira.Analfabeta.De pé no chão.Bem parideira.Bem criadeira.Seus doze filhos,Seus vinte netos.Vive dentro de mima mulher da vida.Minha irmãzinha…tão desprezada,tão murmurada…Fingindo ser alegreseu triste fado.Todas as vidasdentro de mim:Na minha vida –a vida meradas obscuras!