seguro e resseguro: interdependÊncia e causalidade … e resseguro interdepe… · 2015, pp.1-48....

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Texto de Pesquisa 03 Fevereiro 2016 Claudio R. Contador Marco Krebs SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

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Texto de Pesquisa 03

Fevereiro 2016

Claudio R. Contador

Marco Krebs

SEGURO E RESSEGURO:

INTERDEPENDÊNCIA E

CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

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TEXTO DE PESQUISA

Publicação cujo objetivo é divulgar resultados de estudos direta ou indiretamente desenvolvidos pelo

CPES, os quais, por sua relevância, levam informações para profi ssionais especializados e estabelecem um

espaço para sugestões.

Fundação Escola Nacional de Seguros – FunensegRua Senador Dantas, 74 – Térreo, 2°, 3°, 4° e 14°

andaresRio de Janeiro – RJ – Brasil – CEP 20031-205

Tels. (21) 3380-1000Fax: (21) 3380-1546

Centro de Pesquisa e Economia do Seguro

Criado e mantido pela Escola Nacional de

Seguros, o Centro de Pesquisa e Economia

do Seguro – CPES atua nas áreas de Pesqui-

sa, Publicações e Seminários, promovendo

atividades ligadas a pesquisas acadêmicas.

O CPES tem a perspectiva de se tornar um

polo de excelência, funcionando nos moldes

de núcleos bem-sucedidos instalados em uni-

versidades e centros de excelência no Brasil e

no exterior.

Presidente

Robert Bittar

Vice-Presidente

Luiz Tavares Pereira Filho

Diretor Executivo

Renato Campos Martins Filho

Diretor do Centro de Pesquisa e

Economia do Seguro

Claudio R. Contador, Ph.D.

Diretor de Ensino Superior

Mario Couto Soares Pinto

Diretora de Ensino Técnico

Maria Helena Cardoso Monteiro

[email protected]

URL: http://www.cpes.org

Edição

Claudio Contador

Marco Krebs

Tradução

Christiane Sonoki

Amadeu Pumar

Diagramação

JLS Comunicação

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Carla Campos - CRB-7/4944

Responsável pela elaboração da fi cha catalográfi ca

C776s Contador, Claudio R.

Seguro e resseguro: interdependência e causalidade pós abertura / Claudio R. Contador e

Marco Krebs. – Rio de Janeiro : Funenseg, 2016. (Texto de Pesquisa, 3)

24 p. ; 28 cm

ISBN nº 978-85-7052-594-9

1. Seguro. 2. Resseguro. I. Krebs, Marco. II. Série.

III. Título.

0016-1657 CDU 368.022

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SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

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Claudio R. Contador

Claudio Contador é formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), M.A. e Ph.D. em Economia pela Universidade de Chicago, EUA. Atualmente, trabalha como diretor do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro, da Escola Nacional de Seguros. Contador também é professor titular de Economia (aposentado) da UFRJ, membro de diversos conselhos de instituições nacionais e internacionais e autor de 13 livros e mais de 200 artigos publicados em revistas científi cas no país e no [email protected]

Marco Krebs

Marco Krebs é economista, D.Sc., Programa de Engenharia da Produção, COPPE/UFRJ, além de ser Professor e Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Planejamento e Gestão – NPPG – COPPETEC – UFRJ.

[email protected]

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SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

RESUMO EXECUTIVO

1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7

2 – OS EFEITOS CRUZADOS DO RESSEGURO E SEGURO ....................... 8

3 – EFEITOS E CAUSALIDADE .................................................................. 12

3.1 Os dados

3.2 Estimação empírica ................................................................. 16

3.2.1 A contribuição do resseguro para o seguro

3.2.2 A causalidade entre seguro e resseguro ................................ 19

3.2.3 As resseguradoras locais como pilar de atração ................... 20

4 – CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS FINAIS ........................................... 21

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A abertura do mercado de resseguro em 2007 marcou o fi m do mo-nopólio do IRB nas mãos do Estado e abriu espaço para grandes mudan-ças no setor de seguros do Brasil.2 O objetivo deste ensaio é examinar em-piricamente quatro questões. Primeiro, a efetiva infl uência do resseguro no faturamento de prêmios de seguros, ou seja, se o resseguro contribui para o crescimento do mercado de seguros. Afi nal, o resseguro pode am-pliar a capacidade de retenção de riscos das seguradoras. Segundo, o tipo e a intensidade da causalidade entre seguro e resseguro. Em princípio, a existência do resseguro favorece o aumento da oferta de seguro, que, por sua vez, justifi ca a expansão da oferta de resseguro. Neste sentido, a rela-ção deve ser bi-causal, com a causalidade mais forte fl uindo do resseguro para o seguro, mas esta é uma questão empírica. A terceira questão é examinar o efeito da abertura no mercado de seguro. E a quarta questão diz respeito ao papel relativo das seguradoras locais vis-a-vis as eventuais e admitidas na confi guração do mercado pós-abertura. Procura respon-der se as resseguradoras locais atuam como pilar de atração e de estímulo para a atividade das resseguradoras eventuais e admitidas.

SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

Claudio R. Contador*

Marco Krebs**

TP 03 - Versão preliminar1

Fevereiro de 2016

1 – INTRODUÇÃO

* Economista, Ph.D. em Economia, Universidade de Chicago, EUA; Diretor do CPES – Centro de Pesquisas e Economia do Seguro, e Professor da ESNS – Escola Superior Nacional de Seguros, Escola Nacional de Seguros.

** Economista, D.Sc., Programa de Engenharia da Produção, COPPE/UFRJ; Professor e Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Planejamento e Gestão, NPPG/COPPETEC/ UFRJ.

1 Os autores agradecem a Annibal Vasconcellos, CIES-RJ/SUSEP; Priscila Grossi, Terra Brasis, e Camila Lazzaretti, CNSeg, que forneceram informações estatísticas de resseguro mais detalhadas; Lauro Faria e Carlos Percy, Escola Nacional de Seguros; Luiz Macoto Sakamoto e Roberto Castro, Escola Superior Nacional de Seguros; Ronald Poon-Affat, RGA Reinsurance; Mar-cus Clementino, Universidade Federal Fluminense; Paulo Marracini, Allianz Seguros; Eduardo Fraga, William Moreira Lima e Cesar Neves, SUSEP, e a Rodrigo Botti, da Terra Brasis pelos valiosos comentários e sugestões. Clarisse Ferraz contribuiu com comentários, organização das estatísticas e estimação dos modelos.

2 Para uma descrição da saga da abertura do resseguro no Brasil, ver Contador, Claudio R.,“Reinsurance in Brazil : challenges and opportunities of the opening of the market”, Revista Brasileira de Risco e Seguro, Vol.10, no. 18, abril 2014 – março 2015, pp.1-48. Ver também Andrade, Francisco Aldenor A., “Mercado internacional de seguro/resse-guro - antes e a partir do ano 2000”, Revista do IRB, vol.61, n.284, abr./jun. 2001. Um trabalho pioneiro sobre os efeitos potenciais que serviu de base para refl exões que antecederam a abertura é o de Faria, Lauro Vieira de, “Opening of the reinsurance market : the demand for reinsurance and impacts on the insurance market”, Revista Brasileira de Risco e Seguro International vol.1, no.1, 2007, pp.1-40.

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As seções 2 e 3 elaboram as questões acima, formalizam os modelos e tratam da estimação empírica. A seção 4 apresenta as conclusões e sugere pontos para novas pesquisas.

De forma simplifi cada, o resseguro é o seguro das seguradoras, e como tal se comporta como a demanda derivada do seguro. Visto pelo lado da demanda, os mesmos fatores determinantes do comportamen-to do mercado de seguro – macroeconômicos, sociais, regulatórios – in-fl uenciam direta e indiretamente o resseguro. Portanto, o comportamen-to do mercado de resseguro está atrelado ao do seguro. O resseguro é simplesmente uma transferência do risco das seguradoras para as resse-guradoras, e desta forma permite a seguradora diminuir a responsabili-dade em relação a um risco considerado excessivo para a sua capacidade fi nanceira.3

Por consequência, visto pelo lado da oferta, o resseguro corresponde a um capital adicional, que amplia a margem de solvência das segurado-ras, e como tal expande a oferta de capacidade de retenção bruta de risco das seguradoras, que podem assim ampliar a oferta de seguro. Portanto, deve existir uma relação bi-causal e um objetivo deste artigo é averiguar se as evidências empíricas confi rmam a sua existência e identifi car qual causalidade é mais forte.

O modelo do resseguro antes da abertura de 2007 era muito simples: o IRB recebia as apólices das seguradoras e as processava diretamente ou as repassava para o exterior. As empresas envolvidas eram apenas o res-segurador IRB e a seguradora cedente. O IRB defi nia os limites técnicos das seguradoras por ramos de seguros, os limites operacionais, margem de solvência e capital mínimo, que eram sancionados pelo CNSP – Con-selho Nacional do Seguro Privado. Com base nestes critérios, as segura-doras calculavam os limites técnicos e operacionais e informavam ao IRB semestralmente.

A abertura do resseguro em 2007, através da Lei Complementar 126, de janeiro, e a Resolução 168, de dezembro do mesmo ano, modifi cou a estrutura e o modus-operandi do mercado. A estrutura do mercado fi cou constituída por três tipos de resseguradoras: locais, admitidas e eventuais,

3 Blazenko, G., “The economics of reinsurance”, The Journal of Risk and Insurance. vol.53, 1986, pp.258-277; Outreville, J.François, “Reinsurance in developing count-ries”, Journal of Reinsurance, vol.2, no.3, Spring 1995, pp.42-51; Wehrhahn, Rodolfo, “Challenges for a credible and competitive market, insurance and reinsurance regulation and supervision: key issues”, CEBRI Conference, Rio de Janeiro, novembro de 2013.

2 – OS EFEITOS CRUZADOS DO RESSEGURO E SEGURO

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Texto de pesquisa 03 Fevereiro - 2016

com regimes jurídicos próprios e regras de operação especifi cas.4 Sob o ponto de vista macroeconômico, não há dúvidas de que a abertura do resseguro trouxe benefícios líquidos para a economia brasileira. Para o mercado de seguros como um todo, o resultado líquido também é po-sitivo, embora algumas empresas e segmentos do mercado possam ter problemas e sofrer perdas.

Tabela 1Prêmios de resseguro, cedentes brasileiras. Participação no total, %

LOCAIS ADMITIDAS EVENTUAIS

2007 99,8 0,2 0,0

2008 95,4 3,5 1,1

2009 73,4 20,7 5,9

2010 66,6 28,3 5,0

2011 58,5 36,3 5,2

2012 59,5 36,9 3,6

2013 66,9 29,8 3,3

2014 73,1 23,6 3,3

2015a 72,2 24,8 3,0

Elaboração dos autores. a Preliminar

4 Pela regulação da abertura, o ressegurador local tem sede no Brasil, e é constituído sob a forma de sociedade anônima, com capital mínimo de R$ 60 milhões. (A CNSP 321/2015, no artigo 65 alterou o critério para capital mínimo requerido para o maior valor entre o capital base de R$ 60 milhões e o capital de risco.) O ressegurador admitido recebe autorização para operar de acordo com as suas necessidades de negócios no Brasil, deve ter mais de cinco anos de operação no merca-do internacional; patrimônio líquido mínimo de US$ 100 milhões; preencher os requisitos mínimos de capacidade econô-mica e fi nanceira; ter avaliação de solvência por uma agência classifi cadora de risco, com registro pela SUSEP; e operar sob a forma de um escritório de representação. Deve ainda ter uma conta bancária em moeda estrangeira vinculada à SUSEP, como garantia das suas operações e fornecer garantias de capacidade de conversibilidade e de transferência de recursos para o exterior. O ressegurador eventual é uma empresa estrangeira em operação no país de origem há mais de cinco anos, com patrimônio líquido maior que US$ 150 milhões. Não precisa ter sede ou escritório de representação no Brasil, mas precisa ter avaliação positiva de solvência por agência classifi cadora reconhecida e designar um procurador residente no Brasil, com amplos poderes administrativos e judiciais, conforme exigência da legislação brasileira.

5 As proporções são baseadas em estimativas, que não coincidem com as informações gerais da SUSEP. Na Tabela 1, os prê-mios das resseguradoras locais têm uma participação maior, mas as conclusões gerais não se modifi cam.

Pelo seu compromisso, maior conhecimento e relação com o merca-do brasileiro de seguros, as resseguradoras locais são as mais importan-tes, tanto no tamanho relativo das suas operações, aporte de tecnologia e inovação, e contribuição para o país. Podem inclusive atuar como in-dutoras das atividades das não-locais, questão que será objeto da análise empírica. A Tabela 1 apresenta a participação dos tipos de ressegu-rado-ras no prêmio total.5 Após ter sua parcela reduzida até 2011, as locais au-mentam a sua importância relativa, com pouco mais de 70% atualmente.

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Os prêmios das resseguradoras admitidas, que haviam crescido à custa dos prêmios das locais até 2012, hoje são entorno de 25 % do mercado, e as resseguradoras eventuais têm uma contribuição residual nos prêmios totais. A Figura 1 mostra a evolução dos prêmios de resseguro cedido pelas cedentes brasileiras, em R$ bilhões de 2015, com o traço vertical assinalando o ano da abertura do mercado; a linha vermelha os prêmios totais, e em azul, os prêmios cedido aas locais após a abertura. A diferen-ça vertical entre as linhas corresponde aos prêmios cedidos às eventuais e as admitidas.

6 Faria, op.cit., apresenta uma lista mais completa de benefícios potenciais da abertura do resseguro. Ver também Bopp, Jutta, “Impact of a potential opening of the Brazilian reinsurance market”, Swiss Re, Economic Research & Consulting, 2005. Sobre as expectatvas do mercado, ver e KPMG, Abertura do mercado de resseguro no Brasil: percepções do merca-do, KPMG e Rating de Seguros, 2011.

7 No Brasil, os riscos de catástrofes são modestos, o que, por um lado é positivo para o mercado de seguros, por outro reduz a necessidade do resseguro para estes riscos. Mesmo sem grandes catástrofes naturais, o seguro e o resseguro são cruciais para a cobertura de grandes riscos no Brasil. O melhor exemplo é o acidente com a plataforma P36 da Petrobras, em março

Figura 1

2

4

6

8

10

12

2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Total

Local

Prêmios de resseguro, R$ bilhões de 2015

Diversos argumentos indicam outros benefícios do resseguro para o setor de seguro, potencializados com a abertura e com um mercado mais competitivo, além do aumento da capacidade de retenção de risco e da oferta potencial de seguro.6

• O resseguro aumenta a liquidez do mercado, estabiliza a sinistra-lidade (o que reduz o risco de volatilidade dos retornos das cartei-ras de apólices das seguradoras) e permite atender aos riscos de catástrofes, em geral vultosos.7 Como o resseguro uniformiza o

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comportamento das carteiras de seguros das seguradoras, a sua utilização amortece os desequilíbrios e evita que a severidade de alguns sinistros possa comprometer a estabilidade fi nanceira da seguradora.

• A pulverização dos riscos provenientes de diferentes mercados, regiões e de atividades permite que as carteiras de apólices das resseguradoras sejam diversifi cadas, com risco total mais baixo. Além disto, o conhecimento acumulado com a experiência de si-nistros ocorridos em diferentes regiões, ambientes e atividades, permite que, através do resseguro, as seguradoras nacionais te-nham acesso ao conhecimento do mercado internacional; de outros produtos, de novas práticas de gestão e de mitigação de risco, etc. Como o resseguro operando num ambiente competi-tivo é uma atividade essencialmente globalizada, as seguradoras nacionais são estimuladas ou eventualmente forçadas a adotarem práticas internacionais.

• Melhoria da efi ciência técnica das resseguradoras8, corretoras de resseguro, e seguradoras em geral, e da qualifi cação técnica geral do mercado de seguro e em especial na gestão de risco. Absor-ção de conhecimento técnico, tecnologia, e de novas linhas de produtos. Fomento da pesquisa e da busca de conhecimento de risco de ramos pouco explorados no Brasil (risco ambiental, rural, catástrofes),

• Ingresso de investimentos internacionais, através de instituições com rating elevado,

• Em princípio, a abertura e o mercado mais competitivo devem es-timular a criação de novos produtos de seguro, inclusive para ativi-dades menos tradicionais, e atrair capital humano mais qualifi cado, capaz de atuar num mercado internacional globalizado. Este efeito está ocorrendo embora num ritmo mais lento do que o esperado.

Neste ensaio testamos se existem evidências empíricas de que o res-seguro contribui para o faturamento do setor de seguro (e vice-versa), e os efeitos da abertura do resseguro.

de 2001, no qual a Petrobras recuperou US$ 490 milhões com o recebimento da indenização do seguro. Outros riscos, onde o resseguro é fundamental, são os acidentes aéreos, marítimos, ambientais, projetos de infraestrutura e os industriais de grande porte.

8 Existem evidências empíricas preliminares de uma pesquisa não fi nalizada de que a efi ciência técnica, medida pelo modelo DEA, das resseguradoras locais privadas (ou seja, exclusive IRB-Re) aumentou substancialmente no período 2008-2012. É, portanto possível às resseguradoras nacionais competirem com as estrangeiras instaladas no Brasil, desde que adotem práticas similares, com a melhoria da qualifi cação profi ssional e absorção de tecnologias. Maiores evidências estão em Contador, “Reinsurance in Brazil : challenges...”, op.cit.

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SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

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3.1 Os dados

Os testes empíricos utilizam dados anuais a partir de 1970, e mensais a partir de 2009. Os dados de prêmios de seguro e resseguro estão defl a-cionados pelo índice IGP-DI, média base 2015, para a análise anual, e de-zembro de 2015, para a mensal. A Tabela 2 resume as estatísticas anuais do mercado de resseguro, a partir de 2000, em R$ milhões de 2015. O prêmio bruto cedido pelas seguradoras brasileiras é distribuído por aproximada-mente 33 % para o IRB-Re, 38 % para as resseguradoras locais, e os 29 % restantes para as eventuais e admitidas. Os dados dos prêmios de seguro e de resseguro estão disponíveis no site da SUSEP, link SES.

3 – EFEITOS E CAUSALIDADE

Figura 2 - Distribuição dos prêmios de resseguro, 2014

• Riscos resseguráveis e não-resseguráveis As estatísticas de prêmios de seguro contêm ramos que não são ta-

lhados para as operações de resseguro, sendo o principal o VGBL. Com este ajuste, os prêmios de seguro, denominados de “resseguráveis”, devem fornecer melhores resultados na estimação empírica. A Figura 3 mostra a diferença de comportamento com a subtração do ramo VGBL. A linha vermelha apresenta a evolução dos prêmios resseguráveis, ainda uma super-estimativa, pois necessita de subtração de outros ramos me-nos importantes que o VGBL. A linha azul com notação diferenciada re-presenta os prêmios totais. A Figura 4, por sua vez, reproduz os mesmos conceitos com dados mensais. Em todos os gráfi cos é visível a tendência das séries e no caso dos dados mensais, a presença de sazonalidade. Estes componentes serão tratados na estimação empírica dos modelos.

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Texto de pesquisa 03 Fevereiro - 2016

Figura 3

9 Para a cronologia e detalhes das mudanças nas regras ver Contador, “Reinsurance...”, op.cit.

0

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Seguro total

Ressegurável

Prêmios de seguro, R$ bilhões de 2015

• As etapas da abertura do resseguro

A abertura do resseguro foi um processo que teve impacto no seguro anterior a 2007. Sem considerar as menções de fi m do monopólio estatal contidas no Plano Diretor de 1992 (que não chamaram atenção do mercado) e na Emenda Constitucional no. 13, Artigo 192, que fi cou esquecida no ci-poal da regulamentação, a proposta que efetivamente acendeu os interesses do setor foi a Lei 9932, de 1999, e como ela fi cava claro que a abertura do resseguro seria inevitável, embora faltasse determinar a estrutura do mer-cado e as regras de funcionamento. Em 2010, já com o novo mercado, as Resoluções 224 e 225 introduziram novas mudanças no marco regulatório.9

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2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Total

Ressegurável

Prêmios de seguro, R$ milhões de dezembro de 2015

Figura 4

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Locais

Admitidas

Eventuais

Prêmios de resseguro, R$ milhoes de dez.2015, Média móvel de 6 meses.

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Resseguro

Seguro, ressegurável

A B C

Prêmios de Seguro e Resseguro, R$ bilhões de 2015

Figura 5

Figura 6

Este ensaio testa os possíveis efeitos destas mudanças no resseguro através de variáveis dummy (valor um para o período posterior e zero, no anterior) em 2000 (efeito expectativa de abertura), 2008 (efeitos da abertura de 2007) e 2010 (mudanças na legislação). A Figura 5 resume com dados anuais os principais elementos para a análise empírica, onde as letras A, B e C mostram as datas das principais mudanças no mercado de resseguro. É interessante notar que, em valores corrigidos para 2015, os prêmios de resseguro na nova confi guração de mercado só supera-riam os de 1977 em 2013. A Figura 6 mostra a evolução dos prêmios de resseguro cedidos pelas resseguradoras locais, admitidas e eventuais, expressa em média-móvel de seis meses para aplainar as fl utuações das freqüências maiores.

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2001

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753

04.

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00

2002

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56.

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06.

135

06.

135

00

00

2003

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75.

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05.

857

05.

857

00

00

2004

5.30

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309

05.

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00

2005

5.09

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05.

091

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091

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2006

5.87

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05.

870

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2007

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297

5.29

70

5.29

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5.29

736

5.33

32.

696

2.63

7

2008

5.61

64.

755

486

5.24

037

55.

240

465.

285

2.86

12.

425

2009

6.21

94.

230

1.17

05.

399

820

5.39

912

25.

521

2.67

72.

844

2010

6.12

71.

623

1.32

92.

952

3.17

52.

952

164

3.11

61.

259

1.85

7

2011

7.44

43.

245

1.68

64.

930

2.51

34.

932

634.

995

2.73

02.

264

2012

7.72

62.

890

1.74

34.

634

3.09

24.

634

178

4.81

22.

166

2.64

5

2013

9.30

23.

049

2.89

75.

946

3.35

65.

946

499

6.44

52.

496

3.94

9

2014

9.62

52.

981

3.55

76.

538

3.08

86.

538

482

7.02

02.

997

4.02

2

2015

c10

.097

3.34

83.

999

7.34

72.

750

7.34

71.

161

8.50

83.

480

5.02

8

Fon

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SEGURO E RESSEGURO: INTERDEPENDÊNCIA E CAUSALIDADE PÓS-ABERTURA

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3.2 Estimação empírica

3.2.1 A contribuição do resseguro para o seguro

A estimação empírica da contribuição do resseguro para o seguro adota um modelo simples, onde o faturamento dos prêmios de seguro é explicado basicamente pelo seu passado (ou uma variável de tendência) e pelo faturamento do resseguro, com a inclusão de variáveis dummy 0,1 para capturar os efeitos de mudanças qualitativas. Neste enfoque evita-mos a discussão sobre os demais fatores determinantes do seguro, como PIB, infl ação, renda de consumidores, etc 10

Se o resseguro contribui para o mercado de seguro, o seu coefi cien-te é positivo (e signifi cantemente diferente de zero), e a regressão deve ter melhor ajuste que aquela sem a variável resseguro. Se o resseguro não contribui ou não o faz de forma estável, o coefi ciente é zero e/ou não estatisticamente signifi cante. Se a abertura do resseguro (nas suas diversas etapas) favoreceu o seguro, os seus efeitos devem ser positivos e signifi cantes.

A hipótese de que o resseguro infl uencia o seguro utiliza um modelo simples onde o faturamento real dos prêmios de seguro no período t é ex-plicado pelos prêmios de períodos anteriores, pelos prêmios de resseguro, e as variáveis dummies. Os valores nominais dos prêmios são defl aciona-dos pelo índice IGP-DI e as regressões adotam uma especifi cação com as variáveis em logaritmos, com o coefi ciente do resseguro com a dimensão de uma elasticidade.

O modelo geral tem o formato,

Segt = α + β Res(t) + δ Tend +φ1 D1 + φ2 D2 + φ3 D3 + ε t (1)

onde Seg representa os prêmios de seguro (ajustados para os ramos “res-seguráveis”); Res, os prêmios do resseguro; Tend, a variável tendência; e D1, D2 e D3, as dummies para as mudanças qualitativas em 2000, 2008 e 2010, respectivamente. Os resíduos ε(t) têm distribuição normal e são independentes entre si. O coefi ciente � é a constante; β, o efeito do resse-guro; δ, a variável tendência; e φi (i=1,2,3), os impactos das intervenções relacionadas com a abertura. Se o resseguro contribui para a explicação do comportamento do mercado de seguro, o parâmetro β é positivo e signifi cantemente diferente de zero, e o mesmo para a abertura do mer-cado e mudanças mais relevantes, sintetizadas nos φi.

10 Testes com regressões incluindo estas variáveis apontaram resultados não signifi cantes.

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Texto de pesquisa 03 Fevereiro - 2016

• Modelo anual, 1970-2015

O modelo com melhor resultado para explicação dos prêmios de se-guro “ressegurável” tem o formato,

Log Seg t = 7,250 + 0,404 Log ResTott + 0,003 Tend + (18,67) (15,72) (0,83)

(2)

+ 0,250 D1 + 0,303 D2 + 0,867 AR(1) (4,47) (5,52) (13,50)

R2 ajust = 0,969SER = 0,095DW = 2,38F = 231,04Akaike = -1,72 Schwarz = -1,44

com os prêmios de resseguro total ResTot como variável explicativa. A regressão abaixo examina a mesma especifi cação com os prêmios do res-seguro local ResLoc como variável explicativa. Os números entre parên-teses abaixo dos coefi cientes da regressão representam a estatistica t de Student. Com exceção da variável tendência todas as demais têm coe-fi cientes signifi cantemente diferentes de zero a 1%, pelo menos. AR(1) e MA(1) são componentes ARIMA auto-regressivo e de média-móvel de primeira ordem, respectivamente.

Log Seg t = 7,261 + 0,403 Log ResLoct + 0,003 Tend + (20,15) (16,26) (1,07)

(3)

+ 0,251 D1 + 0,306 D2 + 0,865 AR(1) + 0,975 MA(1) (4,76) (5,41) (13,77) (53,76)

R2 ajust = 0,973SER = 0,094DW = 2,25F = 224,85Akaike = -1,75 Schwarz = -1,46

Como comentário geral, os prêmios de resseguro local explicam um pouco melhor o seguro “ressegurável” do que o resseguro total. Cada 1 % de variação no faturamento real do resseguro gera aproxima-

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damente 0,4 % no faturamento dos prêmios de seguro. Além disto, a expectativa de abertura do mercado a partir de 2000 contribuiu para o crescimento do seguro, embora com menor impacto do que a abertura efetiva de 2007. As mudanças na regulação em 2010 não geraram im-pacto signifi cante no mercado de seguro. E embora não reportado, os modelos com o conceito de seguro “ressegurável” demonstraram me-lhor ajuste do que o total dos prêmios de seguro.

Modelo mensal 2008-2015

Os dados, os modelos mensais utilizam o período mais recente, pós-abertura. Portanto, não é possível testar os efeitos das mudanças qualita-tivas de 2000 e 2007. Alguns testes (não reproduzidos aqui) mostraram que as mudanças das regras de 2010 não tiveram efeitos nos prêmios de resseguro. A regressão com os efeitos do resseguro total tem o formato,

Log Seg t = 3,943 + 0,045 Log ResTott + 0,001 Tend +

(3,07) (2,08) (0,96)

(4)

+ 0,714 Log Seg t-12 + 0,502 AR(1) (4) (8,34) (5,10)

R2 ajust = 0,859SER = 0,075DW = 2,08F = 121,81Akaike = -2,28 Schwarz = -2,13

e a regressão com o resseguro das locais como explicativa,

Log Seg t = 3,221 + 0,089 Log ResLoct + 0,002 Tend + (2,44) (2,56) (2,72)

(5)

+ 0,668 Log Seg t-12 + 0,542 AR(1) (8,95) (6,05)

R2 ajust = 0,902SER = 0,077DW = 2,12F = 241,32Akaike = -2,24 Schwarz = -2,12

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Mais uma vez, o modelo (5) com o resseguro local como variável explicativa oferece melhor resultado. Cada 1 % de variação do valor real do resseguro gera 0,1 % no valor dos prêmios mensais do seguro “res-segurável”.

Apesar dos resultados satisfatórios sob o ponto de vista estatístico, o problema com os modelos acima é o fato do prêmio do resseguro como variável explicativa não ter defasagem, o que difi culta identifi car quem explica quem. Esta dúvida pode ser sanada com os testes de causalidade de Granger.

3.2.2 A causalidade entre seguro e resseguro

A causalidade entre as duas variáveis utiliza o teste de Granger11 que assume que toda a informação relevante para a explicação das variáveis está contida no passado das próprias variáveis, uma vez que. por defi -nição, o futuro não pode prever o passado. Devido ao sentido restrito do conceito de causalidade de Granger, o teste é usado também como precedência entre variáveis.12 Para os objetivos deste ensaio, a diferença entre causalidade e precedência assume importância secundária.

O teste estima duas regressões,

Segt = α1 + ∑ βi Segt-i + ∑ δj Rest-j + εt (6)

Rest = α2 + ∑ £k Segt-k + ∑ φm Rest-m + µt (7)

onde Seg e Res representam o valor real dos prêmios de seguros (“res-segurável”) e resseguros (nos conceitos de total, local, etc.), respecti-vamente, e os distúrbios ε e µ são serialmente não correlacionados. A equação (6) signifi ca que o prêmio de seguro em t é relacionado aos seus valores passados e aos valores presente e passados do resseguro. A equação (7) explica o prêmio de resseguro no momento t pelas mesmas variáveis. Se os parâmetros δ como um grupo em (6) são signifi cantemen-te diferentes de zero (e positivos pelas nossas hipóteses) – ou seja, ∑ δ >0 –, e também os parâmetros £ como um grupo em (7) - ∑ £=0 - não são signifi cantemente diferentes de zero, a hipótese de que a causalidade é unidirecional do resseguro para o seguro não pode ser rejeitada.

11 Granger, C.W.J., “Investigating causal relations by econometric models and cross-spectral methods”, Econometrica, julho de 1969, pp.424-438; Granger, C.W.J., “Some recent developments in a concept of causality”, Journal of Econometrics, vol. 39, nos.1-2, 1988, pp. 199-211.

12 Leamer, Edward E., “Model choice and specifi cation analysis”, em Griliches, Zvi e M. Intriligator (eds), Handbook of Econo-metrics, vol.1, (Amsterdam, North Holland Pub. Co., 1983), pp.300-301

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Se, por outro lado, estatisticamente ∑ δ =0 e ∑ £>0, a causalidade é unidirecional e não podemos rejeitar a hipótese de que ela fl ui do seguro para o resseguro. Se estatisticamente ∑ δ>0 e ∑ £>0, a causalidade é bidirecional, ou seja, o resseguro causa o seguro e o seguro causa o res-seguro, no conceito de Granger. Se estatisticamente ∑ δ=0 e ∑ £=0, as variáveis são ditas independentes.

A Tabela 3 reproduz os resultados com o teste de causalidade. O número de retardos (seis meses e quatro anos) foi identifi cado empiri-camente. A notação Res.tot. representa o valor total, ou seja, a soma dos prêmios de resseguros das empresas locais (Res.loc), as eventuais (Res.Event) e as admitidas (Res.Admit). Todos os testes rejeitam a hipótese nula de que o resseguro não causa o seguro, sendo a rejeição com maior signifi cância para as resseguradoras locais. Este resultado reforça o argu-mento de que as resseguradoras locais são mais importantes como indu-toras do crescimento do mercado de seguro do que as resseguradoras eventuais e admitidas, como esperado.

3.2.3 As resseguradoras locais como pilar de atração

A predominância das resseguradoras locais pode gerar três tipos de comportamento na liberdade de ingresso no mercado. Primeiro, de inibir ou desestimular o ingresso de novas resseguradoras estrangeiras; segundo, atuar como pilar de atração e de interesse para atividades de

Tabela 3Testes de causalidade de Granger entre seguro e resseguro

HIPÓTESE NULARETARDOS, PERÍODOS

ESTATÍSTICAF

PROBABILIDADE

Mensal, 2009-2015, 69 obs. 6

- Seg não causa Res.loc 0,273 0,948

- Res.loc não causa Seg 7,411 2,0E-06

- Seg não causa Res.total 1,887 0,097

- Res. total não causa Seg 2,406 0,037

Anual, 1970-2014, 42 obs 4

- Res. total não causa Seg 3,168 0,053

- Seg não causa Res.tot 0,481 0,622

- Res. loc não causa Seg 5,740 0,001

- Seg. não causa Res.loc 0,635 0,641

Elaboração pelos autores. Seg representa prêmios totais de seguro “ressegurável”; Res.loc, prêmios de resseguradoras locais; e Res.tot, prêmios totais de resseguro. Os números em negrito assinalam a hipótese de rejeição com maior signifi cância estatística.

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resseguro no Brasil; e terceiro, uma situação de indiferença, nem inibindo nem atraindo interesse de resseguradoras estrangeiras. Estas hipóteses são verifi cadas com o teste de causalidade de Granger.

Tabela 4Testes de causalidade de Granger entre resseguradoras locais e as

admitidas e eventuais, dados mensais, período 2009-2015

HIPÓTESE NULA : ESTATÍSTICA F PROBABILIDADE

- Res. loc não causa Res. Admit. 1,956 0,148

- Res. Admit. não causa Res. loc. 0,864 0,426

- Res. loc. não causa Res. Event. 1,773 0,184

- Res. Event. não causa Res. loc. 0,177 0,838

- Res. Admit. não causa Res. Event. 0,606 0,548

- Res. Event. não causa Res. Admit. 0,656 0,522

Elaboração pelos autores. Res.local, prêmios de resseguradoras locais; Res.Admit, das resseguradoras admitidas; e Res.Event., das eventuais. Os números em negrito assinalam a hipótese de rejeição com maior signifi cância estatística.

A Tabela 4 mostra os resultados do teste, onde incluímos a hipótese adicional de causalidade entre as resseguradoras admitidas e eventuais. O nível de signifi cância da rejeição das hipóteses é muito baixo e a conclu-são geral é de que as resseguradoras locais não infl uenciam as decisões das resseguradoras admitidas e eventuais, ou seja, as decisões são inde-pen-dentes. Da mesma forma, as resseguradoras admitidas e eventuais não têm qualquer evidência de causalidade cruzada entre si.

Sem dúvida, a abertura do resseguro em 2007 foi uma mudança ra-dical no mercado de seguro no Brasil, com impactos positivos que estão apenas começando.

Este ensaio apresentou uma análise empírica da relação entre seguro e resseguro, procurando enfocar o período pós-abertura do mercado. Cinco questões foram objeto da análise: (1) se o resseguro contribui para o mercado de seguro e em que intensidade, (2) qual a causalidade mais forte, se do resseguro para o seguro, o oposto ou se existe bi-causalidade, (3) os efeitos da abertura de 2007, as expectativas de abertura a partir dos anos 2000, e as mudanças de regras em 2010, (4) a importância relativa das resseguradoras locais vis-a-vis as resseguradoras eventuais e admitidas na causalidade no mercado de seguro, e (5) se as ressegurado-ras locais atuam como pilar de atração de outras resseguradoras.

4 – CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS FINAIS

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A análise empírica utilizou dados mensais do período pós-2009 e anuais a partir de 1970. Os resultados apontaram que as evidências mais robustas indicam que efetivamente o resseguro contribui positivamente para o mercado de seguro; que a causalidade mais forte é do mercado de resseguro para o de seguro; que as expectativas de abertura a partir de 2000 e depois a abertura em 2007 tiveram efeitos positivos no segu-ro; as resseguradoras locais tem maior importância para os efeitos po-sitivos no seguro do que as eventuais e admitidas. Apesar de sugerido, não foram encontradas evidências de que as mudanças nas regras do resseguro em 2010 (Resoluções 224 e 225) tenham infl uenciado signi-fi cantemente o mercado, nem de que as atividades das resseguradoras locais infl uenciem ou sirvam de fator de atração para as resseguradoras admitidas e eventuais.

O tema merece, entretanto novos esforços de análise empírica e para isto as informações estatísticas precisam ser melhoradas, com a disponibilidade de dados mensais de resseguro do IRB para o período anterior à abertura do mercado. Outra questão que merece atenção é a melhor mensuração do conceito e ramos de seguro mais relevantes para as operações de resseguro.

Apesar das limitações dos dados, os resultados abrem um próspero caminho para novas pesquisas.

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Texto de pesquisa 03 Fevereiro - 2016

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Textos de Pesquisa

Texto de Pesquisa 01 - Setembro - 2015

METODOLOGIA PARA QUANTIFICAÇÃO DA PERDA DO PRODUTO COM OS ACIDENTES DE TRÂNSITO E EVIDÊNCIAS PRELIMINARESJosé L. Carvalho

Texto de Pesquisa 02 - Novembro - 2015

ESTATÍSTICAS DA DOR E DA PERDA DO FUTURO: NOVAS ESTIMATIVASClaudio R. ContadorNatália Oliveira

Texto de Pesquisa 03 - Fevereiro - 2016

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