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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS MARIA ARAGÃO SALES CAVALCANTE SAÚDE BUCAL DO IDOSO A HUMANIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL NO CUIDAR FORTALEZA 2007

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO

E POLÍTICAS PÚBLICAS

MARIA ARAGÃO SALES CAVALCANTE

SAÚDE BUCAL DO IDOSO A HUMANIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL NO CUIDAR

FORTALEZA

2007

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MARIA ARAGÃO SALES CAVALCANTE

SAÚDE BUCAL DO IDOSO

A HUMANIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL NO CUIDAR

Dissertação submetida à Universidade Estadual do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Políticas Públicas.

Orientadora: Prof. ª Dr.ª Lucilane Maria Sales da Silva

FORTALEZA 2007

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO

E POLÍTICAS PÚBLICAS

Título do Estudo: Saúde Bucal do Idoso: a humanização como diferencial no cuidar

Autora: Maria Aragão Sales Cavalcante

Defesa em: 28/02/2007 Conceito obtido: Satisfatório

Banca Examinadora:

Prof. ª Dr.ª Lucilane Maria Sales da Silva Universidade Estadual do Ceará

Orientadora

_____________________________________________

Prof. ª Dr.ª Maria Irismar de Almeida Universidade Estadual do Ceará

_____________________________________________

Prof. Dr. José Osmar Vasconcelos Filho Universidade de Fortaleza

___________________________________________

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Dedico no passado: ao Papai – o Cel. Sales, e a Vovó Zulmira, cujos tempos não permitiram ver o Ano 2000.

Dedico no presente: aos septuagenários de nossa família e, em especial, a mamãe Marieta, homônima, companheira e âncora de nossa vida.

Dedico no futuro: àqueles que chegarão à terceira idade, aos quais desejamos o acesso à atenção humanizada, conferindo-lhes uma boa condição de saúde bucal.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela longevidade dada aos meus familiares e a possibilidade de, em conviver com eles ter aprendido a respeitar e amar os mais velhos.

Aos irmãos de sangue Herbene Solange, João Rufino e Fernando Antônio, a quem quero agradecer por serem sementes e tomarem conta tão bem dos outros que lhes foram e serão confiados.

Às irmãs Núbia Helena, Maria Helena, Maria Eduarda, Ligiane e Maria Fernanda, frutos de nossas escolhas, a perpetuação de nossa existência.

Ao Antônio, compromisso exclusivo e especial, com quem irei, se Deus quiser, partilhar a melhor idade.

Ao professor Dr. Francisco Horácio da Silva Frota, Coordenador do Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas - MPPPP da Universidade Estadual do Ceará, agradeço sensibilizada pelas lições aprendidas na valorização da sociedade brasileira.

À Prof.a Dr. a Lucilane Maria Sales da Silva, minha orientadora, tão jovem e já doutora da ciência e da vida. A minha mais nova amiga, a quem dedico a confiança e a intimidade somente peculiar aos velhos amigos.

Aos professores, Dr.a Maria Irismar de Almeida e Dr. José Osmar Vasconcelos Filho que, na pressa da academia e da vida, com especial solicitude, tiveram tanto tempo a nós todos dedicado, com zelo e conduta ética voltada à produção científica, sem tirar o realce pessoal e a autenticidade da produção individual.

Aos professoras Dr. Francisco Horácio da Silva Frota, Dr.a Liduína Farias Almeida da Costa e Dr.a Maria do Socorro Ferreira Osterne, do MPPPP da UECE, pela dedicação em estimular seus alunos a discutirem novos horizontes para as políticos públicas.

À Marlene Lopes Cidrack, cirurgiã-dentista, amiga e incentivadora da minha opção por aprender - o ser idoso.

Às Dr.as Léa Maria Bezerra de Menezes e Ismênia Maria Barreto Ramos, supervisoras dos Núcleos de Saúde Bucal e Planejamento em Saúde da SESA, respectivamente, e aos amigos da Saúde Bucal/ SESA, da Saúde Bucal/ ESP-CE, do Planejamento em Saúde/ SESA e da Coordenadoria de Políticas em Saúde/ SESA, pela tolerância com esta funcionária - estudante.

Ao José Cláudio Cid Pereira, Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Ceará- CRO-CE, conselheiros e funcionários, a minha outra turma de Odontologia que, embora jovens, são sábios em lidar com a categoria odontológica do Ceará de todos os tempos.

Aos amados colegas do Mestrado, espaço e tempo onde partilhamos conhecimento e experiências e a lidar com as novas possibilidades.

Por fim e com especial reconhecimento, agradeço aos idosos, gestores e profissionais da saúde, anônimos, observados no mês de setembro de 2006, que possibilitaram a realização deste estudo, no Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, a Unidade de Referência em Saúde Bucal mais antiga do Estado do Ceará.

E muito obrigada a você, que neste momento conhecerá esta história.

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Meu querido, meu velho, meu amigo

Esses seus cabelos brancos, bonitos Esse seu olhar cansado, profundo Me dizendo coisas, num grito Me ensinando tanto, do mundo... Esses passos lentos, de agora Caminhando sempre, comigo Já correram tanto, na vida: Meu querido, meu velho, meu amigo. Sua vida cheia de histórias E essas rugas marcadas, pelo tempo Lembranças de antigas, vitórias Ou lágrimas choradas, ao vento... Sua voz macia, me acalma E me diz muito mais, do que eu digo Me calaram fundo, na alma Meu querido, meu velho, meu amigo. Seu passado vive, presente Nas experiências, contidas Nesse coração, consciente Da beleza das coisas, da vida Seu conselho manso, me anima Seu sorriso certo, me ensina Beijo suas mãos, e lhe digo: Meu querido, meu velho, meu amigo. Eu, já lhe falei de tudo Mas tudo isso é pouco Diante do que sinto Olhando seus cabelos, tão bonitos Beijo suas mãos e digo: Meu querido, meu velho, meu amigo.

Roberto Carlos e Erasmo Carlos

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RESUMO

Saúde bucal do idoso: a humanização como diferencial no cuidar é um estudo exploratório e descritivo, com enfoque qualitativo que, por meio de observação simples no Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, Unidade de Referência da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, em Fortaleza, teve como objetivo geral analisar se a atenção em saúde bucal proporcionada ao idoso é humanizada. Quanto aos objetivos específicos, buscou: investigar o conhecimento e a aplicabilidade das linhas do cuidado das Políticas de Saúde Bucal e de Humanização para a pessoa idosa; identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam esta atenção; e propor ações que venham a possibilitar o atendimento humanizado e contextualizado. As observações foram precedidas da descrição dos critérios de inclusão para os sujeitos da pesquisa e realizadas durante o mês de setembro de 2006, acompanhando o percurso de quarenta e cinco idosos, desde o acolhimento na recepção até a conclusão do atendimento no CEO. Os dados foram registrados em diário de campo e classificados em duas dimensões: a primeira relatando, como “descrições e reflexões”, as interpretações da pesquisadora em relação a atendimentos; a segunda decorrente do confronto das observações com as “linhas do cuidado” definidas nas políticas, distribuída em três categorias de análise - comportamento, rotinas e relações. Da análise dos resultados, concluiu-se que: o CEO está situado em local conhecido, porém o acesso é seletivo e burocrático; o acolhimento na recepção é realizado por vigilante armado, e é irrelevante para os idosos; a marcação de consultas permite agendas paralelas; a espera fica comprometida, em virtude da superlotação de pessoas e aquelas encaminhadas pela Direção e funcionários que são privilegiadas no atendimento, o que não incomoda nem causa reclamações entre os idosos; os procedimentos odontológicos são escolhidos pelos profissionais, geralmente são executados os mais simples e que requerem o menor tempo de execução; ocorre um descompasso do número de radiografias realizadas em relação aquelas utilizadas no tratamento; o cuidado humanizado ao idoso é tímido e está mais relacionado aos comportamentos e relações pessoais entre os profissionais e seus pacientes idosos, do que a rotinas estabelecidas. Superando estas dificuldades, verificou-se que os idosos ficam satisfeitos, o atendimento é satisfatório, as situações de dor são resolvidas, condições favoráveis são criadas, os fluxos estão, gradativamente, se estabelecendo e o sucesso esperado é alcançado, principalmente na Emergência, na Radiologia e na Estomatologia. De acordo com as conclusões, sugerem-se: redefinição de competências e habilidades para os profissionais com relação ao cuidado humanizado ao idoso; implantação de ações preventivas aos agravos inerentes à terceira idade; democratização das experiências exitosas no atendimento ao idoso, já desenvolvidas no CEO; redefinição dos critérios para utilização dos serviços, principalmente quanto a exames radiográficos e de verificação da pressão arterial; e desenvolvimento de um processo de Educação em Saúde focado em medidas intervencionais com aproveitamento dos comportamentos, rotinas e relações positivas, para garantir atenção mais humanizada à saúde bucal dos idosos e maior aplicação de referidas políticas públicas para este segmento da população. Palavras-chave: saúde bucal, humanização, idoso, cuidado.

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ABSTRACT

Elderly Oral Health: the humanization as the difference in the care is an exploratory and descriptive study with qualitative focus that through simple observation in the Dentistry Specialized Center – CEO Centro, Reference Unit in the Ceará General Health Office, in the municipal district of Fortaleza, had like general objective to analyze if the attention in proportionate oral health to the elderly were humanized. In what he refers to the specific objectives intended: to check the known and the application levels of the guidelines of the Oral Health Politics and Humanization for the elderly; to identify the factors that contribute to the humanized care; to know the elements that hinder this attention and; propose some actions that focus humanized and context attention. The observations were coming before the description of the subjects profile inclusion and it felled in September 2006 in the route of forty five elderly, since the reception places until the clinical service conclusion in the CEO. The informations were registered in diary of field and classificated in two dimensions: the first refereed like “descriptions and reflections”, the researcher interpretation in front of the deals; the second resulted confrontation between the observations and the health guidelines legislation of the Politics Public and were distributed in three category: behaviors, routines and relationships. The analysis of the result, drawled conclusions that: the CEO is well known and localized, but the access is selective and bureaucratic; the welcome is sloppy and carried for the arm guard, and isn’t importance for the elderly; the appointment service led others diary; the wait isn’t importance, but it is compromised for packed population and the persons that are indicated by the management and employees, but the elderly don’t bother neither demand; the oral procedure are choose for the dentists, between the more simple and quick; exist confrontation and the X-ray carried and used to the care; the humanization care is shy and is more related to the behaviors and persons relationships between the professional and their patients, that the routines.To overcome these difficulty, checked that the elderly are satisfied; the attention is satisfactory; the situations of pain are solved; favorable conditions are created; the flow are, in order, established; and the success waited is reached, main in the Emergency, in the X-ray, and in the cancer service. In accordance with the conclusions; were suggested: definition of the competence and skills over the humanization care for the elderly; introducing of the prevention’s actions for the worse of the third age; application of success experience’s; to spread the old worsening; to show the criterion of the X-ray and the health pressure; and the use of Health Education, with the suggest, to transform the behaviors, the routines and the relationships, in clinic prototype like means to guarantee the humanized oral health attention to the elderly and one more application of the public politics. Key words: oral health, humanization, elderly, care.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACD - Auxiliar de consultório dentário ACS - Agente comunitário de saúde ANEO - Assembléia Nacional de Especialidades Odontológicas APCD - Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas BPA - Boletim de Produção Ambulatorial CD - Cirurgião-dentista CEO - Centro Especializado de Odontologia CIES - Centro Integrado de Educação e Saúde CNS - Conferência Nacional de Saúde CNSB - Conferência Nacional de Saúde Bucal CPOD - Índice de dentes cariados perdidos e obturados COELCE - Companhia Energética do Ceará CRO-CE - Conselho Regional de Odontologia do Ceará CTO - Centro de Treinamento Odontológico DA - Descrição de ambiente DP - Descrição de pessoal ESP-CE - Escola de Saúde Pública do Ceará FDI - Federação Dentária Internacional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IJF - Instituto Dr. José Frota ILPI - Instituição de longa permanência para idosos ONU - Organização das Nações Unidas PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PEA - População economicamente ativa PNH - Política Nacional de Humanização PNHAH - Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar PSF - Programa de Saúde da Família RA - Reflexão de ambiente RP - Reflexão de pessoal SESA - Secretaria da Saúde do Estado do Ceará SESP - Serviço Especial de Saúde Pública SIA-SUS - Serviço de Informação Ambulatorial do SUS SUS - Sistema Único de Saúde THD - Técnico em higiene dental

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 SAÚDE BUCAL DO IDOSO E HUMANIZAÇÃO: o percurso na literatura................................................................................................................ 17 2.1 O Idoso e a humanização no contexto das políticas públicas de saúde...... 17 As Políticas Públicas de Saúde....................................................................... 23 2.2 Avanços e limitações da humanização da atenção à saúde: o panorama.. 34 3 CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia.............................................. 40 3.1 Natureza da pesquisa...................................................................................... 40 3.2 O contexto do estudo....................................................................................... 42 3.3 A coleta de dados............................................................................................ 3.4 Aspectos éticos................................................................................................. 44 4 PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados................................................ 47 4.1 1º Movimento: descrições e reflexões............................................................ 47 Observando os idosos.................................................................................. 52 5 POLITICAS E AÇÕES: a discussão............................................................... 72 5.1 2º Movimento: categorias de análise e os objetivos do estudo.................... 73 Fatores que contribuem para o cuidado humanizado............................ 73 Elementos que dificultam esta atenção.................................................... 77 Conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas............................ 6 ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais............................................. 67 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 91 APÊNDICE ........................................................................................................... 101 APÊNDICE A: Autorização Institucional ......................................................... 102

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1 INTRODUÇÃO

Enquanto há vida, há esperança. E a esperança de vida é um indicador de

mortalidade global que mensura o número médio de anos de vida esperados nas diversas

faixas etárias, mantido o padrão de mortalidade na população residente, num determinado

espaço geográfico, no ano considerado, portanto, correspondente à situação de saúde de uma

população, estando estritamente associado às condições sociais e econômicas (BRASIL,

2007).

No caso brasileiro, são sensíveis a variações de gênero, localização geográfica,

condições de vida, principalmente decorrente das imensas desigualdades sociais coexistentes

no País, que vão de realidades de extremo glamour a situações subumanas de vida (VIANA et

al., 2001; BRASIL, 2007).

De acordo com dados da Contagem Populacional e Projeções Demográficas do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE no ano 2000, a esperança de vida ao

nascer do brasileiro tem um valor médio de 68,5 anos, variando de 62 anos na população

masculina do Estado de Alagoas a 75 anos na população feminina do Estado do Rio Grande

do Sul (BRASIL, 2006c).

O ritmo de crescimento mais lento da esperança de vida masculina (5,5 anos) em

relação à feminina (6,9 anos) no Brasil, decorre, entre outras causas, do aumento gradativo da

sobremortalidade masculina nas idades jovens e adultas jovens, principalmente por causas

externas, relacionadas entre as mortes evitáveis (BRASIL, 2006c).

Este indicador também permite analisar por igual a posição relativa de cada

unidade federada do País, no que concerne à aproximação das condições de vida da situação

de saúde e verificar o efeito distributivo das políticas públicas, portanto de significativa

relevância para estudos sobre envelhecimento (VIANA et. al, 2001).

Neste sentido, o Sistema Único de Saúde - SUS contribui para a redução das

desigualdades em saúde nos diversos ciclos de vida em meio ao desenvolvimento de seus

princípios constitucionais da universalidade do acesso, integralidade e eqüidade da atenção,

reconhecendo a Lei Nº 8.842/2004, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e os

indicativos da Organização das Nações Unidas - ONU (1982), e da Federação Dentária

Internacional - FDI (1982), entre outros, que consideram idoso o indivíduo com idade igual

ou superior a 60 anos (BRASIL, 2000; COLUSSI et al, 2004).

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Os passos, entretanto, estão descompassados na relação externa do SUS com as

políticas públicas de distribuição de renda e, no contexto interno, é notório o tímido destaque

concedido à eqüidade em saúde, comprometendo a maior atenção requerida por aqueles que

muito precisam, como é o caso das pessoas idosas, desejosas de viver mais com melhor

qualidade de vida e com acesso facilitado aos serviços de saúde.

De acordo com o Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento do

Ministério da Saúde, no ano de 2005, registrou-se um percentual de 73% de idosos brasileiros

dependentes, exclusivamente, do SUS, somados às dificuldades quanto ao acesso e

condicionantes da pobreza, que vão da falta de dinheiro para condução à aquisição de

medicamentos a serem prescritos (REIS; MARCELO, 2005).

No Estado do Ceará, território de aplicação do presente estudo, a esperança de

vida ao nascer atinge 62,81 anos para o sexo masculino e 69,42 anos para o sexo feminino,

com um crescimento populacional acumulado de 8,9% na faixa etária de 60 a 75 anos, numa

população de 8.097.276 habitantes, perfazendo um total de 490.505 pessoas neste segmento

etário (VIANA et. al).

Entre estes, a maioria também está dependente do SUS, que mantém uma posição

de vanguarda entre as políticas públicas nacionais, apostando na possibilidade de garantir sua

efetividade, porquanto foram elaboradas ou implementadas num cenário de risco, verificando-

se as condições demográficas, sociais, políticas e econômicas do semi-árido do Nordeste

brasileiro.

Neste mesmo território de efervescência de saberes e atitudes, todavia, conforme

dados do Levantamento das Condições de Saúde Bucal do Ceará - SB Ceará, ampliação do

Levantamento das Condições de Saúde Bucal do Brasil - SB Brasil, realizado entre 2003 -

2004, em 22 municípios cearenses, envolvendo 240 pessoas do sexo masculino e 381 pessoas

do sexo feminino, entre 65 e 74 anos de idade, os resultados revelaram alta prevalência de

cárie dentária e doença periodontal, porém os dados mais preocupantes na população idosa

foram aqueles relativos a prevalência de edentulismo e de uso e necessidade de próteses

dentárias, embora compatíveis com a realidade nacional (CEARÁ, 2005a).

Neste grupo etário, os resultados do SB Ceará apresentaram os seguintes valores:

0,33% usa prótese fixa superior e 0 para inferior; 0,49% usa prótese fixa e outra superior e

0,66% para inferiores; 2,30% usam prótese parcial removível superior e 2,46% inferior;

2,79% usam prótese parcial removível e outra superior e 2,79 inferiores e ainda 52,55% usam

prótese total superior e 37,15 % usam prótese total inferior (CEARÁ, 2005a).

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Os números apresentados na pesquisa e a suposição de que outros cearenses

idosos e edêntulos não utilizam nenhum tipo de prótese dentária sugerem que vários motivos

podem estar relacionados no quadro de culpas, omissões e conseqüências, de menor e maior

gravidade, embora em sua maioria supostamente estejam relacionadas ao modelo de atenção

(MOREIRA, 2005; REIS et al, 2005; COLUCCI; FREITAS; CALVO, 2004).

Este modelo, ainda centrado na doença, sem predição de danos nem economia

dental, certamente permite o acúmulo de necessidades não resolvidas que, entre outros

motivos decorrem da tímida operacionalização e não-elegibilidade de políticas públicas

focadas nestas pessoas, que, mesmo diante da impossibilidade de eliminação dos danos,

buscam minorar a sua situação de saúde, sem preconceitos ou privilégios (REIS; MARCELO,

2005).

Nestas condições, as pessoas idosas peregrinam pelo SUS sozinhas ou

acompanhadas de seus cuidadores, sem pressa e com muitas histórias para contar, embora

entre elas tenha lugar privilegiado a encenação cruel das perdas dentais e da adesão e

adaptação à terceira dentição.

Prioritariamente, estas pessoas buscam os serviços públicos de saúde bucal

movidas pelo interesse e necessidade de realização de exodontias ou colocação de prótese

dentária, tal como consagrado no imaginário popular, o que pode ser traduzido pelo

desconhecimento das formas de tratamento mais conservadoras, ou representar as

conseqüências dos serviços historicamente disponíveis para este grupo etário, num modelo de

atenção biologicista, mecanicista, ainda hegemônico nas práticas de saúde.

Existem, no entanto, chances de este processo ser invertido e possibilitar

longevidade para o aparelho mastigatório, tanto pelo desenvolvimento de tecnologia em saúde

e humanização das práticas como pela adesão e protagonismo desses sujeitos em manter uma

saúde bucal de qualidade alicerçada em políticas públicas exeqüíveis e direcionadas para este

segmento (TORRES, 2002).

Segundo Brasil (2005c), a interação dos usuários do SUS com os trabalhadores da

saúde deverá centrar-se nas necessidades sociais locais por saúde e na implementação da

humanização do cuidado à saúde, que tratarão histórias e os estados de saúde-doença como

elaborarão vivências individuais ou coletivas e não apenas como efeito de histórias e estados

biológicos.

De acordo com Brasil (2005 a), a qualidade e a humanização dos serviços de

saúde bucal deverão ser valorizadas no cotidiano e nas práticas de saúde, tanto nas ações

técnicas como nas rotinas de trabalho e isto somente acontecerá com mudanças na formação e

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na qualificação profissional e da definição do papel da humanização como eixo estruturante

da gestão da saúde bucal nas três esferas de Governo.

Quanto à aplicação destas propostas para os idosos, deverão ser adotados critérios

de cobertura em consonância com os dispositivos do Estatuto do Idoso com orientações

preventivas aos agravos inerentes à terceira idade, respeitando as questões éticas, de gênero e

de orientação sexual. Nas instituições de longa permanência para idosos – ILPI, serão

desenvolvidos programas nutricionais que possibilitem a oferta de alimentação regionalizada,

balanceada e menos cariogênica (BRASIL, 2005 a).

Para Ceará (2003), citado por Pozzo (2001), quando o idoso se integra a um

grupo, acontecem o crescimento da auto-estima, a melhoria do humor e maior entendimento

da realidade cotidiana, conscientizando-se dos desafios a enfrentar e de como lidar com as

novas situações.

A realidade mostra que o envelhecimento gradativo da população, propiciando a

sobrevida de um maior número de pessoas com anos a mais de vida aproxima e requer

atenção para este grupo etário nos serviços de saúde bucal, onde já se constata a

impossibilidade de pronto atendimento às suas necessidades pela existência de filas reais e

virtuais, que comprometem a humanização e o acesso, principalmente, às próteses dentárias

possibilitadoras de recuperação das atividades funcionais de estética, fonética e mastigação,

além do sorriso, impulsionador primordial da auto-estima.

Ademais, há um contingente significativo de pessoas que ainda não conhece a

legislação do idoso, principalmente com relação ao atendimento diferenciado e preferencial,

determinantes do cuidado humanizado que lhe é assegurado; desconhece os serviços ou não

percebe o perigo e seqüelas conseqüentes aos atos ilegais de falsos profissionais, o que

justifica os esforços em realizar pesquisas, acerca das ações públicas em andamento, bem

como propor estratégias, principalmente neste caso, na área de humanização da atenção, que

possam melhorar e adequar o atendimento proporcionado a estas pessoas.

A convivência profissional da pesquisadora nas áreas de planejamento, gestão e

assistência em unidades ambulatoriais do SUS, no Município de Fortaleza, testemunha fatos

que sinalizam desde a execução de procedimentos simples e de média complexidade,

modernos e inovadores para os idosos, até a pouca visibilidade das “linhas do cuidado”

preconizada nas políticas públicas de saúde bucal e de humanização vigentes, permitindo a

elaboração de alguns pressupostos que possam interagir na atenção e provavelmente impedir a

atenção humanizada para saúde bucal do SUS, tais como:

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� As “linhas do cuidado” são conhecidas e aplicadas pelos profissionais da

saúde?

� As pessoas idosas requisitam uma atenção em saúde bucal mais

humanizada?

E, se estes pressupostos interferem ou ameaçam o desenvolvimento das ações,

alguns fatores devem favorecer as suas influências nos serviços, mantendo-se contrários à

humanização da atenção, como sejam:

� a formação tecnicista dos trabalhadores possivelmente confere maior

valorização à produção de procedimentos e discursos, em detrimento da

observância das linhas do cuidado humanizado?

� os idosos não discutem nem cobram seus direitos?

� as discordâncias gerenciais e as práticas de poder permitem o

descumprimento das linhas do cuidado em saúde bucal e de humanização?

Ademais, outros interesses coletivos de igual significância foram arrolados, e

também justificaram o estudo, tais como: a elaboração de informações sistematizadas, a partir

da observação dos sujeitos; a conscientização da importância da humanização da atenção à

saúde bucal do idoso como fator de inclusão social; e o esclarecimento, para os gestores,

profissionais da saúde bucal e usuários do sistema, de que uma política de saúde bucal

humanitária é um forte parâmetro para vigilância à cidadania, uma vez que valoriza usuários,

trabalhadores e gestores na produção do cuidado (CEARÁ, 2004b, 2005b).

Neste sentido, este estudo realizou dois movimentos: um percurso histórico -

bibliográfico sobre a temática da humanização do cuidado à saúde bucal do idoso,

prioritariamente, revendo os estudos realizados nestes últimos vinte anos, tendo como marco

inicial a VIII Conferência Nacional de Saúde, ocorrida no Brasil em 1986, berço dos atuais

movimentos populares em defesa das condições de vida e de saúde para todos os brasileiros e,

como marco final, o Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e da Gestão, publicado em 2006,

representando um compromisso entre os gestores do SUS em torno de prioridades mais

recentes que apresentam impacto sobre a situação de saúde da população brasileira e, entre

estas, a saúde dos idosos (BRASIL, 2006b).

O outro movimento foi mais instigante, principalmente porque observou o nível

de conhecimento e aplicação dos princípios detalhados no primeiro, acompanhando, passo a

passo, o percurso realizado por quarenta e cinco idosos atendidos no Centro Especializado de

Odontologia - CEO Centro, em Fortaleza, no mês de setembro de 2006, na perspectiva de

verificar a humanização do cuidado no acolhimento, nos atendimentos e nos

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encaminhamentos, relacionando os flagrantes da realidade com as linhas-guias do cuidado

humanizado.

E estes percursos somente tiveram consistência porque permitiram observar a

realidade, ante as ações planejadas, executadas e sonhadas durante vinte e oito anos de

serviços, desnudada do viés da proteção administrativa, porém centrada nas pessoas e com um

desafio para toda essa gente: revirar e mexer nas relações e práticas dos serviços que impedem

uma atenção humanizada e dificultam a garantia de longevidade para o aparelho mastigatório,

condição necessária para melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa.

Assim, estando eleito o campo para observação e internalizado o modo de lidar

com as informações organizou-se o estudo em capítulos, a saber:

Capítulo 1 - Esta Introdução.

Capítulo 2 - SAÚDE BUCAL DO IDOSO E HUMANIZAÇÃO: percurso na

literatura. Trata-se de uma revisão bibliográfica e histórica sobre a evolução das políticas e

práticas em torno da saúde bucal, do envelhecimento e da humanização da atenção,

exemplificadas com experiências vivenciadas nestas áreas e suas influências nos serviços.

Capítulo 3 - CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia. Apresenta-se a

maneira como foi observada e interpretada a trajetória silenciosa dos sentidos da pesquisadora

ante os movimentos articulados ou passivos dos idosos, respeitando as regras do método

científico da observação simples.

Capítulo 4 - PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados. São expressos os

dados obtidos no campo a partir de observações no percurso realizado por idosos, no decorrer

dos acolhimentos, atendimentos e encaminhamentos, traduzidas em descrições e reflexões a

serem consolidadas em três categorias de análise.

Capítulo 5 - POLITICAS E AÇÕES: a discussão. A partir da classificação nas

categorias de análise; comportamentos, rotinas e relações, os resultados foram discutidos,

relacionando-os com os objetivos do estudo, à luz do referencial teórico, histórico e

metodológico.

Capítulo 6 - OS ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais. Procura-se

evidenciar a relevância dos achados, suas influências nos serviços e na atenção humanizada à

pessoa idosa, propondo-se algumas intervenções, a serem discutidas entre gestores,

profissionais de saúde e seus usuários idosos, respeitando as peculiaridades loco-regionais e

buscando estratégias de organização dos serviços e de utilização permanente de medidas

intervencionais focalizadas.

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Daí, foi definido, como objetivo geral, analisar se a atenção à saúde bucal

dispensada à pessoa idosa tem enfoque humanizado; e, como objetivos específicos:

� identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado;

� conhecer os elementos que dificultam esta atenção;

� investigar o conhecimento e a aplicabilidade das diretrizes da Política de Saúde

Bucal e de Humanização para pessoa idosa; e

� propor ações que venham a possibilitar atendimento humanizado e

contextualizado.

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2 SAÚDE BUCAL, IDOSO E HUMANIZAÇÃO: percurso na lit eratura 2.1 O idoso e a humanização no contexto das políticas públicas de saúde

A partir da primeira década do século XX foram notórios no Brasil o surgimento

de uma nova massa de trabalhadores e a adoção de um Estado planejador e centralizador, cuja

materialização para o setor saúde ocorreu na criação do Departamento Nacional de Saúde, em

1920, e do Ministério do Trabalho, Saúde e Educação, em 1930, dando-se início à redução da

autonomia dos diversos Estados e a institucionalização de uma Política Nacional de Saúde

(BRAGA, 1986).

Até então, segundo Ribeiro (1993, p. 20);

[...] questões ligadas à população, como saúde e higiene pública mostravam-se compatível com uma sociedade baseada no trabalho escravo. O que vale dizer que os problemas de governabilidade vêm à tona somente na presença da organização do trabalho assalariado.

No Estado do Ceará, neste período, segundo Lira Neto (1999), o cenário político

apresentava oligarquias em extinção, um governo intervencionista, a ascensão de fábricas,

burguesia, classe média e trabalhadores pobres, num contexto de efervescência política e

cultural e discussão dos problemas de saúde, induzindo a mobilização dos trabalhadores para

fundação de entidades classistas.

De conformidade com Lira Neto (1999), em Fortaleza, alguns médicos,

farmacêuticos e cirurgiões-dentistas, sob a presidência do Barão de Studart, resolveram criar

uma entidade classista, o Centro Médico Cearense e sob condições semelhantes, os

farmacêuticos e cirurgiões dentistas ousaram e em 22 de novembro de 1914 implantaram a

primeira Escola de Saúde do Ceará, em Fortaleza - a Faculdade de Farmácia e Odontologia,

ambiente propício a discussões, acordos, avanços e elaboração de políticas.

Somente a partir dos anos de 1930, no entanto, as questões sociais tornaram-se

foros políticos no Brasil e as políticas públicas de saúde passaram a fazer parte das agendas de

governo e, quando a acumulação capitalista passou a ser dominada pelo capital industrial,

ganharam também respaldo econômico (BRAGA, 1986).

Para Cohn (1997, p.157);

Na relação entre o Estado, políticas públicas e a sociedade, ocorrem articulações entre a acumulação de capital econômico e a garantia de patamares mínimos ou satisfatórios de bem estar social.

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Neste contexto de discussões e disputas no Estado do Ceará ocorreu um convite

para o sanitarista Amílcar Barca Pélon executar uma reformulação nos serviços sanitários do

Estado (Reforma Pélon), instituída pelo Decreto Nº 1.013, de 9 de maio de 1933, vindo a ser

uma revolução administrativa no âmbito da saúde pública estadual, culminando com a criação

de um Sistema de Serviços de Saúde Distrital, com cinco distritos sanitários e um Centro de

Saúde em Fortaleza, que era o distrito - sede, aglutinando, com ajustes, o novo modelo

americano progressista de serviços de saúde, o Serviço de Higiene e Saúde existente e as

propostas do Departamento Nacional de Saúde, criado recentemente (LIRA NETO, 1999;

CEARÁ, 2007).

No que se refere a Saúde Bucal, a implantação de ambientes públicos que

atendessem às demandas sociais ficou configurada em unidades ambulatoriais desde a origem

do Centro de Saúde em 1933 e do Serviço de Saúde do Escolar em 1936, prioritários até a

presente data, fato corroborado por Souza (1994, p. 87):

A unidade é um espaço privilegiado para o reconhecimento e a intervenção sobre os fatores que comprometem à saúde da sua comunidade e da cidade.

Daí em diante, em todo o País, a organização da atenção, dos serviços e as

políticas públicas seguiram as orientações das assessorias técnicas centrais, gradativamente

buscando a ampliação da capacidade instalada de consultórios médicos e odontológicos e

incorporação de novos órgãos como os ministérios, os departamentos de higiene e saúde, as

unidades de serviço, as secretarias estaduais e municipais, os institutos de aposentadoria e

pensões e o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP.

Criado em 1942, o SESP tornou-se uma das estratégias mais relevantes

desenvolvidas no Brasil para incorporação de políticas de saúde pública e a pioneira na área

de saúde bucal coletiva, norteada pela premissa de que saúde pública era uma questão de

hábitos individuais ou no máximo de pequenos grupos, visão incorporada até 1967 pelo

Ministério da Saúde (COSTA, 1998).

Os resultados deste Serviço e das ações contingenciais até então existentes foram

representados pelo desenvolvimento de: atividades de campanhas, assistência à saúde

dependente das contribuições previdenciárias das categorias profissionais; duplicidade da

gestão; falta de comunicação, competitividade, complementaridade; forte apelo à intervenção

clínica nos serviços, à proporção que geraram uma parcela substancial de indigentes excluídos

dos direitos fundamentais inerentes à cidadania e um saldo cumulativo de lesões, permitindo

uma fragmentação dos serviços e uma cidadania fragmentada numa população em

crescimento e com avanço na concentração urbana (SOUZA, 1996).

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Ademais, segundo Oliveira e Teixeira (1995), surgiram dicotomias entre o

governo central e as unidades federadas, entre os Ministérios da Saúde e da Previdência e

Assistência Social permitindo um largo e descontrolado privilégio ao setor privado, que

passou a ser o maior prestador, exigindo tecnologias, produtos e insumos internacionais

sofisticados e caros, muitas vezes desconhecidos e até difíceis de manipular.

Segundo Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996, p.157);

[...] as práticas em saúde eram centralizadas mediante rotinas normalizadas em manuais. A mentalidade era de uniformidade de ações mínimas em saúde pública a serem desenvolvidas pelos recursos humanos da área da saúde, fossem eles técnicos ou burocratas, envolvendo desde as rotinas administrativas até a rotina para treinamento dos funcionários para o desenvolvimento de programas ou de ações de vigilância.[...].

Neste contexto, os trabalhadores da saúde envolveram-se com o Sistema e, ainda

para Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996, p.157);

[...] as políticas de saúde são os modos pelos quais a saúde e concebida e praticada em determinada época, em determinado lugar, por determinado governo. E os recursos humanos de uma dada administração sempre foram e serão meios para concretizar e por em prática as políticas de saúde de um determinado momento.[...].

Destes envolvimentos, surgiram crises ideológicas e, consoante Mota (1997), a

partir de 1970, foi se fundamentando um processo de mudanças no setor saúde com a

participação efetiva de intelectuais, políticos e profissionais de saúde, vislumbrando a

implantação de um novo modelo em condições de contrapor-se ao modelo privatista

implantado e desenvolvido às custas do setor público.

Assim, mais intensamente, tudo se refez em 1986, com a realização da VIII

Conferência Nacional de Saúde – CNS, movimento de caráter nacional, representando um

embate democrático e popular em torno da saúde pública, jamais visto no Brasil, que ficou na

história, principalmente pela discussão social do projeto institucional do Sistema Único de

Saúde – SUS com seus princípios constitucionais da universalidade do acesso, integralidade e

eqüidade da atenção, democraticamente regulado por instrumentos e instâncias de controle

público nas três esferas de governo (BRASIL, 1986a).

Conforme Brasil (1986a, p. 6);

[...] A concepção de participação coloca a população como protagonista do projeto de construção social do direito à saúde.[...]. [...] para assegurar esse direito a “toda população brasileira”, considera-se imprescindível estimular a participação da população organizada nos núcleos decisórios.[...].

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Fazendo uma retrospectiva histórica nestes vinte anos, constata-se a relevância da

VIII Conferência como marco histórico da democratização das políticas e pela afirmação do

direito à saúde (BRASIL, 1986a).

Várias propostas da Conferência foram contempladas na Constituição Federal de

1988, elaborada com base na igualdade de direitos, estabelecendo o arcabouço jurídico do

SUS, onde o princípio da eqüidade é interpretado como igualdade com justiça social e prevê

disponibilizar recursos e serviços de acordo com as necessidades de cada um, concentrando

maior atenção naqueles que mais necessitam (BRASIL, 1988).

Foi num dos momentos de avaliação da VIII Conferência que surgiu a idéia de

realização da 1ª Conferência Nacional de Saúde Bucal - I CNSB- SAÚDE COMO DIREITO

DE TODOS E DEVER DO ESTADO, compreendida como um assunto que não tinha sido

devidamente esgotado na primeira (BRASIL, 1986b).

Nesta conferência, foram significativas as discussões pluralistas, as propostas

cidadãs relativas à melhoria das condições de vida da população brasileira e ao

aprimoramento das formas de atendimento e trabalho odontológico, além das denúncias

relativas à situação caótica da saúde bucal, como a definição incorreta de prioridades, dando-

se o atendimento mediante a livre demanda e com insumos sofisticados na execução de

tarefas que poderiam ser realizadas com menor custo (BRASIL, 1986b).

Ademais, denunciou-se o fato de que o modelo atendia somente 5% da população

e caracterizava-se como ineficaz, ineficiente, monopolizador, de altos custos, de tecnologia

densa, elitista, iatrogênico e mutilador, conseqüente da falta de uma política nacional de saúde

bucal voltada para os interesses da maioria da população e do não repasse de conhecimentos e

informações à população.

Ainda, não se falava claramente em atenção a grupos prioritários como os idosos

nem estratégias operacionais como a humanização, embora reconhecendo as vulnerabilidades,

como a necessidade de ampliação da atenção primária em saúde bucal extensiva a todas as

pessoas e a tentativa de desmonopolizar o saber odontológico pelo incentivo à formação do

técnico em higiene dental - THD e do auxiliar de consultório dentário - ACD (BRASIL,

1986b).

Segundo o Relatório Final da I CNSB;

O encaminhamento político das resoluções e recomendações é matéria e bandeira futura para entidades e instituições realmente comprometidas com transformações concretas em benefício da sociedade globalmente considerada. Já é momento da Odontologia amadurecer social, técnica e politicamente, dando seu salto definitivo do individual para o coletivo e assumindo, também, sua parcela de responsabilidade no combate aos caóticos índices epidemiológicos constatados em todas as regiões do

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País. A 1ª Conferência foi uma semente inicial plantada neste sentido. (BRASIL, 1886b).

Vale ressaltar que, no Estado do Ceará, não ocorreram pré-conferências e que os

trabalhos se limitaram a reuniões das entidades odontológicas e profissionais da saúde,

conforme informações verbais de representantes do Conselho Regional de Odontologia do

Ceará - CRO-CE e do Sindicato dos Odontologistas do Estado do Ceará.

De acordo com Guizardi. et al (2004), em 1992, foi realizada a IX Conferência

Nacional de Saúde, num contexto de restrições da participação ao controle social, apesar do

fato de o controle social ser um componente intrínseco da democratização da sociedade e do

exercício da cidadania.

Após sete anos da realização da 1ª CNSB, ocorreu a 2 ª Conferência Nacional de

Saúde Bucal - II CNSB A SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA, deliberação da

IX Conferência Nacional de Saúde, em 1993, que descreveu novamente o modelo de atenção

à saúde bucal como iatrogênico, excludente e ineficaz, necessitando inversão para um modelo

de atenção integral com valorização da promoção da saúde e prevenção semelhante ao valor

dado aos procedimentos cirúrgico-restauradores, assim como uma atenção humanizada a

grupos vulneráveis e priorização de políticas direcionadas para conquista da cidadania

(BRASIL, 1994).

As pré-conferências no Estado do Ceará reuniram um número significativo de

municípios em conferências municipais e regionais, mediante consórcio de municípios,

culminando na I Conferência Estadual de Saúde Bucal que, entre várias propostas, contribuiu

decisivamente com a etapa nacional nos seguintes pontos relativos a grupos prioritários e

humanização:

[...] Promover cursos de humanização dos serviços em saúde; manter o usuário informado quanto à programação de atendimento e quanto ao dia e horário de trabalho, fixado em local público adequado; criação de uma comissão mista para supervisão sistemática dos consultórios odontológicos em relação à pratica de acolhimento e garantia de acesso.[...]. [...] Assegurar que a atenção secundária oferecida pelo CEO se dê de forma mais completa e que no serviço de prótese dentária deva ser oferecido, não apenas prótese total, mas também a prótese parcial removível. (CEARÁ, 1994).

De acordo com Guizardi et al (2004), em 1996, foi realizada a X Conferência

Nacional de Saúde, na qual a saúde foi enfatizada como direito universal de cidadania,

reafirmando as resoluções das conferências anteriores e do Texto Constitucional, sem grandes

avanços nas articulações intersetoriais. De um modo geral, as posições marcantes da

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conferência estão relacionadas à proposta para normatização do controle social e da inserção

institucional do SUS, semelhante a especificações técnicas.

No ano 2000, foi realizada a XI Conferência Nacional de Saúde, com

singularidades que a distinguem das demais, a saber: propostas argumentativas e articuladas

em extensa análise conjuntural; proposta da dimensão constitutiva para a participação como

ação e intervenção no campo social; reconhecimento da produção de saberes e práticas

políticas, discursivas e paradigmáticas; debate sobre a constituição de sujeitos sociais,

definidos como todos os conselheiros de saúde e todos aqueles que possam intervir na

formulação e na fiscalização do SUS (GUIZARDI et al, 2004).

Segundo Brasil (2004b), às X CNS e XI CNS não foram vinculadas conferências

específicas de saúde bucal e em 2003 foi convocada a XII CNS com o tema “Saúde: um

direito de todos e dever do Estado – A saúde que temos, o SUS que queremos”, cognominada

XII CNS Sérgio Arouca, homenagem póstuma ao sanitarista, idealizador, coordenador e

organizador desde a VIII CNS, em um contexto de grandes expectativas para o povo

brasileiro na perspectiva de fazer acontecer reivindicações relacionadas à saúde e à saúde

bucal.

Em 2004, passados onze anos, é convocada a 3ª Conferência Nacional de Saúde

Bucal – III CNSB: ACESSO E QUALIDADE SUPERANDO A EXCLUSÃO SOCIAL que

prioritariamente sugeriu:

Uma cultura de intersetorialidade que deve se manifestar no cotidiano e prática dos setores, nas ações técnicas e nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário. Para isto devem ocorrer mudanças no setor educacional e da formação profissional. Conhecimento das políticas públicas do idoso e suas implicações, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual. (BRASIL, 2004, p.24).

Especificamente, estabeleceu propostas relativas à atenção humanizada aos

idosos, relatadas a seguir:

Conhecer a Política Pública de Saúde Bucal existente para o idoso, desenvolver programas nutricionais em várias instituições, inclusive naquelas de Longa Permanência para Idosos – ILPI, no sentido de oferecer alimentação regionalizada, balanceada e menos cariogênica (33); capacitar os profissionais da rede básica para atendimento ao idoso, (14e); garantir financiamento para cobertura de grupos vulneráveis e especiais, tais como indígenas, idosos e pessoas portadoras de deficiências, doenças crônico-degenerativas e necessidades especiais. (94). (BRASIL, 2005 a).

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E literalmente, a III CNSB propôs;

Implementar a política de saúde do idoso nas três esferas de governo, em consonância com os dispositivos do Estatuto do Idoso, com orientações preventivas aos agravos inerentes a terceira idade, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual. (BRASIL, 2005a, p. 125).

Quanto às pré-conferências municipais e a etapa estadual no Ceará, registrou-se a

realização de conferências municipais com adesão maciça de participantes nas duas etapas.

De acordo com Brasil (2005) no documento preparatório para 3ª Conferência

Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – Trabalhadores da Saúde e a Saúde

de Todos os Brasileiros: práticas de trabalho, gestão, formação e participação, no que se refere

a Educação em Saúde, foram discutidas e propostas e ações foram direcionadas à

humanização do cuidado, que deverão contribuir com a atuação dos trabalhadores em saúde.

Conforme o documento Brasil (2005, p. 44);

[...] A humanização do cuidado em saúde deverá ser implementada a partir do entendimento do processo saúde-doença como propício à construção de vivências individuais e coletivas.[...].[...] O trabalho em saúde passa a ser construído em torno das questões locais e da humanização das ações e serviços.[...].

Revisitando as diversas contribuições das conferências no sentido de interpretá-las

e efetivá-las, percebe-se uma movimentação entre saberes, atitudes e vontades de

profissionais da saúde, gestores públicos e da população organizada, consubstanciada na

sociedade, práticas e políticas públicas.

As Políticas Públicas de Saúde

Decorrentes das conferências e movimentos dos gestores, de profissionais da

saúde e outros grupos constituídos, as políticas públicas são delineadas e, no que se refere às

Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (2004) vigente, entre vários assuntos, a

proposta de humanização para atenção à pessoa idosa está intimamente relacionada à

produção de “linhas do cuidado” com estabelecimento de fluxos e ações resolutivas referentes

aos atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido, identificando

cada local da estrutura do serviço, a partir de sua vivência nele, como também estabelecer

atenção voltada para condições de vida.

Ademais, no sentido de garantir o acesso, sugere a organização de grupos de

pessoas idosas nas unidades de saúde com desenvolvimento de atividades de educação e

prevenção. Do mesmo modo, prevê a garantia de atendimento clínico individual, evitando

filas e barreiras burocráticas que dificultem o acesso, inclusive com reserva de horários e dias

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específicos para o atendimento, observando às disposições legais do Estatuto do Idoso e

evitando tratamentos dolorosos e extraordinários, e ainda foram traçadas algumas diretrizes

que norteiam o atendimento com colocação de prótese, caso necessário, para todas as pessoas

acima de 60 anos (BRASIL, 2004b).

No que se refere à saúde do idoso, o conhecimento das relações conflitantes da

sociedade é fundamental no entendimento do processo saúde-doença, sendo o setor da saúde

pública o que mais absorve estes conflitos e se as relações conflitantes são o berço do

processo saúde-doença, também produzem, alteram e determinam os modelos e modos de

produzir saúde e gerar melhorias na qualidade de vida (SOUZA, 1994).

Em meio a estes conflitos, ao desenvolvimento econômico e pela introdução de

medidas de saúde pública, a população brasileira atravessa uma transição epidemiológica na

qual se verificam um acúmulo de doenças infecto-contagiosas e uma predominância de

doenças crônico-degenerativas, ao lado de uma transição demográfica, onde o envelhecimento

populacional é um fato incontestável e presente na prática diária dos serviços, observando-se

que há um despreparo dos profissionais da área da saúde e de setores afins para lidar com a

população idosa e propiciar uma atenção cuidadosa e paciente para este segmento etário.

(BERQUÓ, 2004; BRASIL, 2007; CAMARANO, 2005).

De acordo com a Portaria nº 1.395/ GM, de 10 de dezembro de 1999, que aprova e

define a Política Nacional de Saúde do Idoso, o crescimento da população idosa brasileira tem

superado o percentual de crescimento das demais faixas etárias em detrimento ao esforço

disponibilizado para o seu cuidado, que muitas vezes tem sido anônimo, portanto, carecendo

de maior visibilidade.

Conforme Brasil (2005c, p. 21);

O atual quadro demográfico brasileiro é resultado de várias transformações, tais como a queda de fecundidade, a redução da natalidade, o aumento da esperança de vida e o progressivo envelhecimento da população. A comparação das pirâmides etárias da população brasileira entre 1980 e 2000 mostra progressivo estreitamento da base, revelando acentuada diminuição da proporção de jovens e expressivo envelhecimento da população.

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Segundo Freire e Resende (2001, p. 73);

Viver e envelhecer hoje, neste tempo de mudanças sociais e econômicas, de grandes afirmações científicas ao lado da incerteza do dia-a-dia tem sido uma experiência difícil para muitas pessoas. [...] Pela obsolescência e pela descartabilidade de objetos, pessoas e relações, com um certo menosprezo pelo valor da vida.

Para Papaléo Neto e Borgonovi (1996) e Papaléo Neto e Ponte (1996) existem

outros desafios que a sociedade deve enfrentar com o envelhecimento, inclusive, talvez, o

principal seja o que se refere à previdência social, pois à medida que a população envelhece, a

população economicamente ativa - PEA diminui, existindo cada vez mais idosos no

contingente populacional e menor número de pessoas trabalhando.

A Gerontologia Social, normalmente, analisa todos estes aspectos – culturais,

econômicos, familiares, posição perante a vida, amigos e redes sociais visando sempre

proporcionar ao idoso um envelhecimento saudável e com qualidade de vida (MORAGAS,

2004; MOREIRA et al, 2005; NÉRI, 1997, 2001; PISSINI, 1997; VAN PRAAGH, 2001;

VASCONCELOS, 1997; VELASCO, 2005).

Moreira et al (2005), fazendo uma revisão sistemática sobre a saúde bucal do

idoso brasileiro no que tange ao acesso aos serviços de saúde, identificaram vinte e oito

aspectos que podem influenciar o acesso e a utilização dos serviços de saúde pela população

idosa e os relacionaram em quatro categorias: aspectos sócio demográficos, envolvendo

variáveis relacionadas ao indivíduo e ao meio social e do trabalho; aspectos indicadores de

saúde geral em idosos, traduzidos pela capacidade funcional e a auto-avaliação em saúde;

aspectos comportamentais, incluindo desde as crenças pessoais até os tipos de tratamentos

preferidos; e a organização e planejamento das ações de saúde, composta dos tipos de serviços

oferecidos que compõem a rede de atenção.

Portanto, a acessibilidade aos serviços de saúde, de acordo com a pesquisa, é

complexa e pluralista, necessitando do conhecimento da rede local. Quanto à saúde bucal para

as pessoas idosas, há necessidade de formulação de políticas públicas de promoção da saúde

que minorem as conseqüências de um modelo curativo e mutilador, neste segmento da

sociedade.

De acordo com Reis e Marcelo (2005), as políticas, os indicadores e os serviços

definem metas a serem perseguidas em prol destas pessoas, no entanto a percepção da velhice

é um fenômeno pessoal somente percebido no coletivo, uma vez que o envelhecimento não

tem sintomas.

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As relações afetivas mais estreitas experimentadas pelos idosos provavelmente

determinarão uma velhice bem-sucedida, alicerçada em experiência de vida, que deverá ser -

respeitada e valorizada, quando da procura e atendimento nos serviços de saúde (FORTES;

NERI, 2004; FREIRE; HADDAD, 1996; LEGRAND, 2004; LOPES, 1999; LUFT, 2004;

SIQUEIRA, 2001).

De acordo com Torres (2002) o entendimento da situação de saúde e dos estados

de doença permite aos idosos a aceitação de mudanças que possam garantir a saúde geral e

bucal, possibilitando boa qualidade de vida na velhice.

Reconhecer a importância de envelhecer com as funções mastigatória, fonética e

estética influi sobremaneira nas relações pessoais, familiares e sociais, inclusive para os

idosos que estão em instituições de longa permanência – ILP (ALBUQUERQUE, 2002;

FLÓRIO, 2003; MEZZONO, 1994).

A percepção da saúde bucal na velhice, no entanto, mostra-se diversificada entre

os indivíduos, grupos sociais e gerações e, na maioria das vezes, está associada a aspectos

físicos e subjetivos relacionados à boca e influenciada por fatores econômicos, sociais, idade,

sexo e classe social e sem muita distinção da saúde geral. Já as imagens e impressões da

atenção à saúde bucal são percebidas pela presença de pessoas idosas nos serviços públicos e

privados; na valorização dos procedimentos estéticos em detrimento dos demais; ausência e

presença de dor e pelo interesse demonstrado pela higiene bucal, entre outros (REIS;

MARCELO, 2005).

Mensurando o índice de dentes cariados perdidos e obturados – CPOD na

população brasileira aos 60 anos de idade, o Plano Nacional de Saúde (2005, p. 34) demonstra

que;

[...] Os idosos apresentam um CPOD de 27.79, sendo a perda dental o principal problema (quase 26 dentes extraídos, em média, por pessoa). Menos de 8% dos idosos apresentam gengivas sadias e três a cada quatro idosos não possuem dente funcional, dos quais mais de 36% precisam de pelo menos uma dentadura.

Ademais, o envelhecimento se reveste de características específicas que devem ser

levadas em consideração no atendimento odontogeriátrico, como deficiência auditiva, visual e

cognitiva, exigindo do profissional habilidade e paciência, inclusive para repetir manobras

técnicas, tantas vezes quantas forem necessárias (LUZ, 2005).

De acordo com Saintraim (2004), na velhice, ocorrem alterações hormonais,

associadas às carências nutricionais que predispõem à osteoporose, podendo alterar o

complexo maxilomandibular pela reabsorção óssea, o que irá interferir sobremaneira na

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confecção e uso de próteses dentárias. Outras alterações, tais como a xerostomia, que

representa ausência ou diminuição de saliva, são características da idade avançada.

Já o edentulismo, perda total dos dentes, atualmente prevalente na pessoa idosa

poderá trazer grandes implicações psicológicas e exclusão, influenciando seus

relacionamentos (SHIMAZAKI e cols. 2001).

E estes relacionamentos, uma vez restabelecidos, influenciarão no seu bem-estar

psicológico, contribuindo para um envelhecimento com dignidade, que já é difícil ante as

desigualdades econômicas e sociais (DEPS, 2003; FERRARA, 1999; FERREIRA, 1997).

Para Moriguiti, Matos e Ferriolli, (2002, p. 381);

A perda dos dentes não é uma conseqüência inevitável do envelhecimento. Sem dúvida, essa perda representa o resultado de uma complexa interação entre doenças dentárias, a falta de medidas preventivas e terapêuticas utilizadas tanto pelo indivíduo, em questão, como pelo profissional que o assistiu.

Conseqüentemente, lutar pela melhoria da gestão e da qualidade dos serviços de

saúde bucal além de capacitar os recursos humanos para lidarem com uma população

envelhecida portadora de necessidades específicas, são ações necessárias nos planos e

agendas do SUS (MALIK e cols.; 1998; MALIK, 1999).

Dentro deste quadro, Petry e Pretto (1997) enfatizam que a educação e a

motivação devem ser os principais focos de quaisquer tratamentos a serem executados,

devendo-se cada vez mais incluir na atenção básica por intermédio do Programa de Saúde da

Família a assistência às pessoas da terceira idade, possibilitando alterações no quadro saúde-

doença bucal, atualmente alarmante e crescente neste segmento (BASTOS; PERES;

RAMIRES, 2003; SILVA et al, 2003).

Corroborando estes autores, Narvai (1997) alerta para a necessidade de se treinar e

capacitar recursos humanos voltados para a promoção da saúde bucal e Pereira (1993)

expressa que a Odontologia em Saúde Coletiva deverá cada vez mais planejar ações e

promover saúde, superando aquelas direcionadas aos aspectos curativos.

Trabalhar de forma interdisciplinar e coletiva, para Brunetti, Montenegro e

Marchini (2002b), é importante, porquanto o idoso tende a estar acometido por co-

morbidades, necessitando desta equipe de atendimento e, somente assim, se poderá almejar a

sua saúde bucal, evitando o menor prejuízo possível para os próximos atendimentos.

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Daí, o desenvolvimento de ações de Educação em Saúde nas unidades de saúde é

fator imprescindível para que se possa mudar o perfil e as ações relativas ao cuidado

(BARROSO; VIEIRA: VARELA, 2003: HOMEM D’EL REY, 2000).

Neste contexto, deverão ser envidados esforços para que a relação profissional -

paciente mude e ocorra de forma dinâmica, e a pessoa idosa que receberá o tratamento se sinta

participante e possa contribuir efetivamente para reabilitar seu aparelho estomatognático

(BELARDINELLE; RANGEL, 1999).

De conformidade com Manetta, Montenegro e Brunetti (2006), consoante e

também Migliorati (2002), ainda existem outros aspectos psicológicos de interesse que

necessitam ser seguidos no tratamento do paciente geriátrico como ser chamado pelo nome e

ter atendimento preferencial, pois o tempo e a paciência são estratégias necessárias para que o

atendimento tenha êxito e possa decorrer de maneira satisfatória.

O profissional da saúde bucal deve envolver a família nas ações a serem

desenvolvidas com o idoso e do agir conjunto se poderá ter sucesso no tratamento a ser

realizado. A família para o idoso constitui a segurança e o refúgio mais querido, mesmo

existindo relações conflituosas e discriminatórias (CHINOY, 1999).

A condição de saúde bucal do idoso deve ser analisada, mediante o auto-exame e

o diagnóstico rotineiro, devendo atribuir igual valor às queixas e aos sinais e sintomas

relatados e evidenciados nos atendimentos (REIS, 2003; SANTOS; ASSIS, 2006; SILVA,

SOUSA; WADA, 2004; SILVA; FERNANDES, 2001).

Para Pucca Júnior (1996, 2004), os aspectos demográficos e epidemiológicos

devem nortear qualquer ação a ser implementada, lembrando que os aspectos sociais têm tanta

relevância no tratamento quanto os preventivos.

A prática diária evidencia que, apesar de existirem avanços na atenção à saúde

bucal do idoso, ainda há limitações, principalmente no que se refere às ações voltadas para a

promoção e prevenção das perdas dentárias, como é o caso da doença periodontal, que

contribui, sobremaneira, para as perdas dentárias e que pode em sua maioria ser corrigida com

orientações corretas sobre higienização e controle da placa bacteriana (RIGUEIRA, 1996;

GLICKMAN; CARRANZA, 1992; LASCALA, 1994; LINDHE, 1992).

Os problemas relacionados às desordens temporomandibulares, segundo Okeson

(1992), não são bem avaliados e valorizados pelo clínico geral, devendo o paciente idoso ser

encaminhado ao odontogeriatra para tratamentos mais específicos e acompanhamentos

adequados às reabilitações.

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Em decorrência desta situação, na 2ª Assembléia Nacional de Especialidades

Odontológicas – ANEO, ocorrida em 2001, em Manaus, foi criada a especialidade

Odontogeriatria, que, de acordo com Saintraim (2004), surgiu como saída para proporcionar

aos cirurgiões-dentistas treinamento especializado para lidar com este segmento.

Da mesma forma, Brunetti e Montenegro (2002) e Brunetti, Montenegro e

Marchini (2002a) foram pioneiros nos trabalhos desenvolvidos na área de Odontogeriatria,

procurando proporcionar aos acadêmicos e profissionais de Odontologia orientações para

lidar com a população idosa, o que vem despertando interesse e conscientizando os

profissionais da saúde a se especializarem em áreas voltadas para o idoso, tanto na Geriatria

quanto na Gerontologia.

A importância da Odontologia Geriátrica nos currículos de Odontologia é

referendada por Werner (1998), enquanto Zanetti (2006) relata que a inclusão da saúde bucal

nos programas que envolvem agentes comunitárias de saúde - ACS deve ser seguida, uma vez

que eles têm contato mais íntimo e domiciliar com os idosos, o que facilita as orientações

sobre autocuidado, mudança de hábitos e esclarecimentos sobre os mitos populares, os quais

chegam a propagar que envelhecimento e perda dentária são termos sinônimos.

Segundo Borba (1997), o envelhecimento populacional provoca uma crescente

demanda aos consultórios odontológicos com solicitação de acesso nos serviços públicos e

atendimentos especializados na rede privada, induzindo os cirurgiões-dentistas a buscarem

maiores conhecimentos na área de Odontogeriatria.

Ruyperez e Lorente (2000) alertam para o fiel cumprimento dos passos

operatórios e respeito às peculiaridades inerentes ao envelhecimento durante os atendimentos

especializados à população idosa.

Para Seraidarian e Paes Júnior (2002), os atendimentos especializados em Prótese

Dentária devem ser baseados em procedimentos específicos e diferenciados, para que

garantam compensações diante das perdas ósseas ocorridas nos remanescentes dos rebordos

alveolares, o que remete novamente à capacitação dos profissionais.

Parte integrante da capacitação está relacionada à capacidade de sensibilizar os

idosos para aderirem a tratamentos dentários mais conservadores como missão obrigatória dos

serviços de saúde, sejam públicos ou privados, onde reabilitar não significa apenas resgatar a

função mastigatória, mas implica também devolver auto-estima, confiança e segurança ao

paciente, principalmente aos desdentados (APCD,2001; BARATIERI, 2001; CFO, 2002).

Algumas especificidades inerentes a este segmento populacional encontram-se em

evolução, porém já interferem e até transcendem o diagnóstico e tratamento de doenças

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específicas, como é o caso do conceito de capacidade funcional, que representa a capacidade

de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e

autônoma, inclusive sendo um indicador mais adequado para operacionalizar a atenção à

saúde do idoso.

Quanto ao propósito básico da Política de Saúde do Idoso, verifica-se:

Tem como propósito basilar a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções na sociedade. (BRASIL, 1999, p. 5).

Além dos propósitos, apresenta diretrizes e entre elas nomeia atividades relativas

a medidas consideradas pouco ordinárias ou carentes de sistematização, incluindo a prevenção

de perdas dentais e outras afecções da cavidade bucal e, no tocante às ações relativas a

prevenção de doenças crônicas e de enfermidades que alijem o idoso do convívio social,

comprometendo sua autonomia, determina a prescrição adequada e o uso de próteses

dentárias, adotando critérios de fornecimento para os níveis federal e estadual e critérios de

acesso para a instância municipal (BRASIL, 1999).

Ademais, estas diretrizes estão amparadas e em conformidade com a Lei Nº

10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, o qual entre outras

prioridades, prevê;

I - atendimento preferencial, imediato e individualizado, junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; I - preferência na formulação e na execução de políticas públicas específicas; VI - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. (BRASIL, 2004, p. 2).

E, no Título dos Direitos Fundamentais;

Art.9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitem um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. (BRASIL, 2004, p. 2). Art. 10º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 2004, p. 2).

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E, no Capítulo IV do Direito à Saúde, traz:

Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. (BRASIL, 2004, p. 3).

Deste modo, adequar os atendimentos a realizar, capacitar os profissionais e dar

condições para que os idosos se achem sintam-se valorizados e co-partícipes dos seus

tratamentos são metas a perseguir utilizando a humanização com ferramenta operacional

(ALVES, 2000; BARBOSA, 2003).

Em termos de humanização, o idoso é solidário, gosta de conversar, de trocar

experiências e de receber uma atenção diferenciada, de sorte que a escuta cuidadosa e a

valorização de sua experiência de vida constitui fator relevante na adesão aos tratamentos,

podendo ser a mola propulsora de sua adesão às orientações da equipe de saúde (BEAUVOIR,

1990; BOSI, 2004: CURY, 2002).

Neste contexto, a autonomia da pessoa deve ser assegurada, a educação voltada

para a promoção e prevenção à saúde bucal deve ser perseguida, uma vez que, transformando

os hábitos, conscientizando e envolvendo as pessoas é que se poderá mudar o quadro caótico

da saúde bucal da população brasileira idosa (FREIRE, 1980, 1986, 2000, 2001a, 2001b).

O modelo flexneriano, biologicista e mecanicista continua ainda hegemônico nas

práticas da saúde bucal e, de acordo com Boff (1990) e Capra (1982), propõe-se uma prática

humanizada, holística e contextualizada, onde o saber cuidar, a atenção cuidadosa e a

valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento deve ser estimulada e executada.

Em vinte anos de evolução de um sistema público de saúde, era de se esperar a

chegada da mudança de atitude, ante a dimensão subjetiva do cuidado, tanto pela necessidade

de melhoria da qualidade das práticas como resultante de um processo organizado de trabalho.

Assim, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS –

HumanizaSUS busca o fortalecimento do sistema pelo comprometimento de todas as

instâncias, programas e projetos com a humanização de suas práticas, processos e pactuações,

possibilitando uma excelência na atenção à saúde (BRASIL, 2004a).

Como princípios básicos, a política de humanização define:

Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão do SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações

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específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.), além do fortalecimento do trabalho em equipe. (BRASIL, 2004a).

Geralmente são observadas fragilidades nas relações de trabalho, nos fluxos de

atendimento e no despreparo das pessoas, e é neste contexto que a política pretende atuar

ampliando vínculos e co-responsabilidades no ato da produção do cuidado, e uma vez estando

em execução, apontar as mudanças que se fazem necessárias nos relacionamentos, ambientes,

condições de trabalho e atendimento, a partir da identificação dos sujeitos e da produção da

saúde (BRASIL, 2004a).

Na área da atenção secundária ou especializada, foram definidos parâmetros para

acompanhamento da implantação, os quais deverão ser observados e estendidos para atenção

em saúde de forma generalizada:

Garantia de agenda extraordinária em função da análise de risco e das necessidades do usuário; Critérios de acesso: identificados de forma pública, incluídos na rede assistencial, com efetivação de protocolos de referência e contra-referência; Otimização do atendimento ao usuário, articulando a agenda multiprofissional em ações diagnósticas, terapêuticas que impliquem diferentes saberes e terapêuticas de reabilitação; Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de intervenções desnecessárias e respeitando a individualidade do sujeito. (Brasil, 2004a).

De acordo com Ceará (2004b, s.n.), no Estado do Ceará, a humanização é diretriz

estratégica da gestão em saúde, e busca

[...] a integração de saberes e práticas, a interdisciplinaridade, a clínica ampliada, o respeito aos direitos de cidadania e o incremento da gestão participativa e da autonomia do usuário e co-responsabilidade mútua no cuidar.

Segundo Pauleto; Pereira e Cyrino (2004), ainda é notório o desconhecimento das

pessoas com relação a estes direitos e às condições de saúde, principalmente entre os mais

carentes e idosos. As informações não chegam a todas as camadas da população da mesma

forma e dificilmente são apreendidas de modo a produzir conhecimento e autonomia em

relação aos cuidados com a saúde. O idoso neste contexto será resistente às informações ou

nem conhece as mudanças propostas?

De acordo com alguns pesquisadores, os valores, costumes, desigualdades e

grupos vulneráveis peculiares a cada local, apontam caminhos e estratégias para o SUS e

constituem desafios a serem enfrentados, quando da atenção às pessoas e elaboração das

políticas.

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Assim, as políticas públicas voltadas para o idoso percorrem um caminho árduo

desde a Constituição de 1988, procurando assegurar os direitos dos idosos, inclusive

atendimento preferencial e procedimentos especializados em Odontologia, como é o caso das

próteses dentárias. Verifica-se entretanto, que muitas destas leis ainda não estão efetivadas de

forma tal que consigam minorar a condição de saúde no País (BRASIL, 1988, 1996, 1999,

2000a, 2002, 2004a, 2004b, 2005a, 2005b).

Sayeg apud Saintrain (2004, p.30) diz que “um dos propósitos explícitos das

políticas públicas é o de manter, tanto quanto possível, o idoso como um cidadão-ativo,

participativo, produtivo e afetivo”.

Desta forma, o enfoque na humanização surge como uma janela de oportunidade

no delineamento das políticas públicas de saúde bucal que historicamente sobrevivem a

expensas das vontades individuais e das sobras de recursos de outras áreas da saúde, porém

mantendo-se numa eterna segregação operacional (DIAS; MARTINS FILHO; SAMPAIO,

2003).

O planejamento de ações que possam promover a saúde, para Bastos, Peres e

Ramires (2003), deve ser bem criterioso e exeqüível para que se possa realmente mudar o

quadro de saúde-doença bucal do idoso atual no Brasil.

O levantamento dos indicadores epidemiológicos da saúde bucal no País, realizado

por Colussi e Freitas (2002) e Pinto (1999), enquanto no Ceará (2005a), efetivado pela

Secretaria de Saúde do Estado, acrescido de levantamento das políticas, como é o caso de

Dias; Martins Filho e Sampaio (2003), se tornaram urgentes e necessários para que as

políticas públicas aplicadas à população se adequassem ao envelhecimento populacional.

Os estudos realizados por Colussi et al (2004); Cormarck (2006), Gaião; Almeida

e Heukelbach (2005) sobre a situação e perfil epidemiológico da cárie e necessidade de

prótese na população idosa servem de parâmetros para os planejamentos de ações de saúde

bucal a serem realizados no Estado do Ceará. Os dados demonstram que a maioria dos idosos

apresenta saúde bucal precária, requisitando medidas intervencionais focalizadas. como a

Educação em Saúde e o tratamento precoce.

Para Costa, Mendonça e Abigail (2002), no Brasil, o marco histórico da

elaboração e implantação de políticas públicas de atenção ao idoso está diretamente

relacionado às questões do desenvolvimento socioeconômico e à ação reivindicatória dos

movimentos sociais.

Segundo Silva; Souza e Wada (2004), estas práticas humanizadas deverão

contemplar os idosos, principalmente no Brasil, onde os tratamentos odontológicos requeridos

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por pessoas idosas estão geralmente relacionados a perda dos dentes, cárie dentária, abrasão,

doença periodontal, câncer de boca e lesões da mucosa bucal.

No que concerne à atenção terciária, o Código de Direitos do Paciente, editado

pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (2004a), deve ser observado, para que as

pessoas, hospitalizadas ou não, tenham seus direitos de cidadão e pessoa humana respeitados.

Grandes foram as conquistas e imensos os desafios a serem superados.

Transcorridos estes vinte anos, estão se arregimentando novas lideranças a arrefecerem o

sentimento sanitário, no sentido de fortalecerem os princípios e diretrizes do Sistema, prestes

a atingir a maioridade (BRASIL, 2006b)

Desta feita, o movimento prevê um compromisso a ser firmado entre os três níveis

de governo, cujo documento conceitual sintetiza os caminhos e estratégias a serem

perseguidos, isto é, no Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e da Gestão:

Pacto a ser firmado entre as três esferas do SUS a partir de uma unidade de princípios que, guardando coerência com a diversidade operativa, respeita as diferenças loco-regionais, agrega os pactos anteriormente existentes, reforça a organização das regiões sanitárias, instituindo mecanismos de co-gestão e planejamento regional, fortalece os espaços e mecanismos de controle social, qualifica o acesso da população à atenção integral à saúde, redefine os instrumentos de regulação, promoção e avaliação, valoriza a macro função de cooperação técnica entre os gestores e propõe um financiamento tripartite que estimula critérios de eqüidade nas transferências fundo a fundo. (BRASIL, 2006b, p.7).

A saúde do idoso será considerada prioridade em virtude do grande impacto que

produz sobre a situação de saúde da população e algumas diretrizes e ações estratégicas

deverão ser seguidas com relação à saúde bucal, tais como o “acolhimento preferencial em

unidades de saúde respeitando critérios de risco e a formação permanente para os

profissionais de saúde”. (BRASIL, 2006).

1.2 Avanços e limitações na humanização da atenção à saúde : o panorama

Estudos apontam para o confronto entre as facilitações e desafios a serem

superados na perspectiva de implantação de uma atenção e gestão humanizada da saúde.

Segundo avaliação realizada por Ferreira (2005) sobre o Programa de

Humanização da Saúde proposto pelo Ministério da Saúde, concluiu-se que as diversidades de

pessoas e de condutas determinam desdobramentos diversos, tanto nos processos de trabalho

quanto nas relações profissional/ usuários, sugerindo a conversão da dimensão técnica do

trabalho em dimensão relacional, o que possibilitará ao Programa maior eficácia no que se

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refere às práticas de atenção e gestão, ofertando qualidade e melhoria no acolhimento, nos

ambientes de cuidado e nas condições de trabalho dos profissionais.

Fazendo reflexões sobre a humanização dos serviços e o direito à saúde, acreditam

que as linhas guias da humanização/ satisfação devam relacionar as questões sociais com as

dificuldades cotidianas dos serviços, caso contrário, a compreensão do direito ao cuidado de

saúde encontrará limites e dificuldades que o distanciarão das relações sociais vigentes

(PUCCINI e CECÍLIO, 2004).

Matos e Lima-Costa (2003), analisando a auto-avaliação de um grupo de idosos

(65-74 anos) residentes na região sudeste do Brasil, verificaram e confirmaram estudos de

outros países, segundo os quais existe associação entre auto-avaliação e fatores

predisponentes e facilitadores da condição de saúde bucal. Entre os idosos investigados,

foram apontados: permanência de um a 19 dentes na cavidade oral; não estarem necessitando

na ocasião de tratamento odontológico e disporem de uma renda domiciliar superior a R$

180,00, demonstrando que as perspectivas dos idosos com relação à humanização da

assistência envolve dimensões vastas, além do setor saúde.

Corroborando Matos e Lima-Costa, Hoga (2004), pesquisando as dimensões

subjetivas dos profissionais na humanização da assistência à saúde, observou que a demanda

pelo cuidado humanizado é crescente e também envolve dimensões vastas, complexas e

interdependentes, evidenciando que as relações interpessoais e as perspectivas subjetivas dos

profissionais sinalizam para a importância dos fatores de humanização do cuidados de saúde,

reiterando que há necessidade de profissionais pró-ativos e que suas atitudes incidam

sobretudo na qualidade e melhoria no acolhimento, na estrutura e nas condições de trabalho

dos profissionais, desde que eles considerem importante a criação de um real encontro entre

profissionais e pacientes, fatores essenciais para humanização e promoção do cuidado em

saúde.

Avaliando a humanização da assistência à saúde no que se refere ao

aconselhamento coletivo na prevenção e enfrentamento de doenças em adolescentes, adultos e

idosos, verificou-se a importância de um espaço para orientações e negociações nos serviços

de saúde, demonstrando a relevância da atividade de aconselhamento coletivo (CALVETTI,

2005).

Oliveira, Collet e Vieira (2006) numa recuperação histórica do entendimento do

homem, do humano e da humanidade até a humanização na assistência à saúde, verificaram

que a comunicação/ informação, as condições técnicas e materiais são fortes parâmetros para

o estabelecimento do cuidar humanizado, contanto que o lugar da palavra do usuário seja tão

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garantido quanto o dos profissionais da saúde, gestores, formuladores de políticas, conselhos

profissionais e instituições formadoras, fomentando uma rede dialogal que pense e promova

ações de humanização.

Pessini e Bertachini (2004), em Humanização e Cuidados Paliativos, referem que

na área da saúde brasileira é emergente e urgente o desenvolvimento do conceito e da prática

de cuidados paliativos, na perspectiva de cuidar do ser.

Backes; Lunardi e Lunardi Filho (2006), entretanto, observando as práticas e a

ética de profissionais da saúde no âmbito hospitalar, verificaram que estas práticas se

desumanizam ante a atenção à doença, e não ao ser doente, a densidade tecnológica é

crescente e associada ao crescimento de custos.

E considerando a questão ética (2004, p. 272):

A ética requer a implementação de um processo reflexivo acerca dos princípios, valores, direitos e deveres que regem a prática dos profissionais de saúde, inserindo-se, aí, a dimensão de um cuidado entendido como humanizado. Assim, o presente estudo teve por objetivo refletir acerca de considerações éticas que necessitam fundamentar as ações de humanização, destacando a importância da dimensão humana nas relações profissionais.

Citando Vieira (2004), pela relevância de seu estudo sobre o Programa Nacional

de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, a partir das ações desenvolvidas no

Hospital Regional da Asa Sul em Brasília - Distrito Federal, revisitando os instrumentos da

démarche stratégique e do relato de experiências em hospitais no Estado da Paraíba, dizem

que a humanização foi sentida em três perspectivas: acolhimento e direito ao usuário; trabalho

dos profissionais e construção de uma nova cultura organizacional de humanização. Dos

resultados, foi possível verificar a importância da subjetividade e sua relação com os

processos da gestão, ampliando e valorizando a participação efetiva dos gestores,

profissionais e usuários do SUS, tanto na atenção como na gestão em saúde, assumindo o

papel de cidadãos, conscientes de seus direitos e deveres.

Seu artigo, Vaitsman e Andrade (2005), a cerca dos conceitos de satisfação do

usuário, responsividade, humanização e direitos do paciente, ressaltando suas convergências e

diferenças, verificou-se que .satisfação e responsividade podem ser conceitos operacionais e

incorporar a visão do usuário, como humanização e direitos do paciente, referindo-se a

princípios normativos que orientam políticas e programas. Neste caso, as pesquisas de

satisfação deram destaque às posições dos usuários nos serviços e sistemas de saúde e o

conceito de responsividade fortaleceu sua posição, dando ao paciente o status de um

indivíduo/ cidadão, ou seja, de um sujeito de direitos válidos universalmente.

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Observando as relações entre cuidado e humanização das ações de saúde

praticadas por profissionais e equipes multiprofissionais em ambulatório especializado na

cidade de São Paulo, Oliveira et al (2005), verificaram que a humanização valoriza a

integralidade da atenção em saúde, requerendo que os profissionais e equipes reorientem suas

práticas e atitudes até então voltadas para um modelo biomédico. Nos locais de atendimento,

foi constatado que a equipe considerava humanizada a atenção prestada, por haver escuta e

resposta a diferentes necessidades dos usuários e entender a humanização da atenção à saúde

como um diálogo, que garanta e estimule uma crescente integração entre as finalidades

técnicas do trabalho e os projetos de vida dos usuários.

Para Benevides e Passos (2005), há necessidade urgente de reavaliação do

conceito de humanização da atenção e de sua configuração como uma política pública

transversal diante da banalização com que o tema é tratado, assim como pela fragmentação

das práticas ligadas a programas de humanização. Da análise, concluíram que não há como

garantir uma política nacional de humanização da saúde, sem que se confronte com o tema do

humanismo no contemporâneo nem que se afaste da discussão sobre a dimensão pública das

políticas de saúde em sua relação com o Estado.

De acordo com estudos de Ayres (2004), as propostas de humanização e

integralidade da atenção, se comportam como opções para organização das práticas de

atenção à saúde atual, que se contrapõem entre a elevada densidade tecnológica e cientifica

que as descrevem e a tímida capacidade de responder às complexas necessidades de saúde da

população.

Reconhecendo outro trabalho de Ayres (2005), verifica-se que o conceito de

humanização adquiriu lugar de destaque nas práticas de saúde no Brasil, rumo à integralidade

da atenção, efetividade e acesso, porém ainda existem poucos trabalhos sobre as bases

teóricas e filosóficas que alicerçam a proposta. Com o estudo, o autor pretendeu relacionar a

hermenêutica contemporânea com os componentes éticos e epistemológicos referentes à

humanização das práticas de saúde.

De acordo com Fortes (2004), ao avaliar a evolução das políticas públicas de

humanização dos serviços de saúde no Brasil, implantada a partir dos anos 1990, os direitos

do paciente e a ética, principalmente com o respeito ao outro, estão listados entre os

significados e entendimentos da política.

Já para Silva (2002), investigando o papel da comunicação na humanização da

tenção, há necessidade de tornarem mais conscientes e claras as comunicações não verbais

mantidas com os pacientes , pois os pacientes estão atentos e criam vínculos pela maneira

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como o profissional mantém coerência entre o que diz e como diz, já que o conteúdo (o que

diz- diferente entre o leigo e o profissional) está relacionado com a cultura e os sentimentos

(como diz) é semelhante, com pequenas variações de intensidade em todas as culturas

humanas.

Refletindo sobre a prática humanizada da saúde bucal, Santos e Assis (2006)

pesquisaram o acolhimento no PSF de Alagoinhas, Bahia, e emitiram as seguintes

considerações: a limitação na resolubilidade nas práticas de saúde bucal está relacionada à

dependência dos trabalhos a ferramentas, que permitem a execução de ações curativas, mas

não são suficientes para atender as diferentes demandas de saúde; o acolhimento acontece nos

microespaços das relações individuais e coletivas; a recepção funciona com critérios

administrativos, sendo meio de barrar ou limitar o acesso; os cirurgiões-dentistas demonstram

um caráter humanizado por meio da preocupação em acolher os usuários, enquanto os

auxiliares de consultório dentário mostram-se envolvidos com os aspectos subjetivos dos

usuários, priorizando idosos e gestantes na recepção, porém, no ato de cuidar, os CDs

escolhem os procedimentos mais rápidos e mais simples a executar, decidindo, inclusive,

sobre os procedimentos terapêuticos, restringindo o acolhimento; e o acolhimento se dá mais

na porta de entrada do que no ato de receber de modo adequado.

Conseqüentemente, há necessidade de se definir uma equipe que concretize o

acolhimento e que estabeleça interfaces no processo de cuidar condizentes com as reais

necessidades dos territórios sociais.

Segundo as autoras Reis; Marazina e Gallo (2004), a humanização é uma das

políticas, em implementação, prioritárias do setor saúde no Brasil, e os avanços a serem

alcançados devem interligar os processos de humanização e promoção da saúde de forma

dinâmica e , a longo prazo, relacionando com o contexto em que se desenvolvem. Uma vez

que as ações e atividades são complexas, requerem diagnóstico situacional para proposições

de ações e intervenções adequadas e monitoramento e avaliação para garantia de sua

sustentabilidade. Para que esta política se efetive, há necessidade de estabelecer discussões

sobre a lógica que a sustenta em interlocução com as pessoas implicadas na produção da

saúde ou mesmo com a possibilidade de inverter a lógica utilitária, que define ordens

autoritárias e produz sujeitos, fragmentados e incapazes.

Na visão das autoras, o desempenho atual da humanização em saúde, entre as

políticas públicas permite alterar a lógica utilitária e implantar no interior das instituições

espaços de liberdade capazes de acolher, sustentar e dar significado à presença e às ações de

profissionais de saúde, gestores e pacientes.

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Neste sentido, o estudo demonstrou a importância do uso de métodos

quantitativos e qualitativos com maior ênfase na abordagem qualitativa, sugerindo a escolha

das técnicas de entrevistas, grupo focal, observação e a análise do material, considerando a

humanização como uma instância libertadora e com abertura para que esforços sejam

envidados na elaboração de novos estudos.

Especificamente, no Estado do Ceará, segundo Gomes (2005), utilizando a técnica

de Percurso do Usuário, investigou 13 usuários internados em um hospital público de

Fortaleza, para verificar se o atendimento dispensado era humanizado e concluiu que: o

referencial de cuidado humanizado para o usuário está ligado às concepções populares da

“casa”, impregnada com estigmas sociais que causam uma variedade de emoções e reações.

Ademais, o hospital é reconhecido como uma prisão que confina e restringe às

escolhas pessoais e a liberdade, além de serem efetivados eventos desumanos que

constrangem e deixam os usuários inseguros. Para superar estas situações, os usuários,

familiares e acompanhantes utilizam estratégias populares e domésticas. Suas queixas

direcionaram-se para: experiências de hospitalização; estrutura física; funcionamento e

imagem do hospital; gerenciamento dos serviços, relação médico-paciente e as características

e qualidades de um profissional humanizado.

Do desfecho das investigações, a autora concluiu que, para humanizar a

hospitalização pública no Nordeste brasileiro, serão necessários o “empoderamento” do

usuário e valorizar a opinião e o julgamento leigo, na intenção de melhorar a qualidade dos

cuidados em saúde (GOMES, 2005).

Silva; Albuquerque e Lima (2003), investigando o nível de satisfação de quinze

idosos do distrito de Jaíbaras, Sobral, Ceará, através da observação simples, concluíram que:

os idosos manifestam satisfação com a assistência integral e humanizada dispensada pelo

PSF, mediada pelo Grupo de Caminhada; consideram que ocorreu melhoria na assistência

prestada à terceira idade, pela presença dos profissionais na comunidade, evitando

deslocamentos; e ainda, os idosos viviam sem assistência.

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3 CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia

Cuidar da saúde bucal dos idosos é uma questão imposta à sociedade, seja para os

profissionais da saúde bucal que executam a atenção ou para àqueles que lidam na área da

gestão e ou formulação de políticas, que, juntamente com estas pessoas e seus familiares,

acompanhantes ou cuidadores, devam garantir relações de trabalho seguras, duradouras e

solidárias, tornando-se tarefa relevante buscar estratégias humanizadas e éticas para realizar

este cuidado.

3.1 Natureza da pesquisa

Diante, deste desafio, vale a pena investigar in loco o que acontece no percurso

realizado por estas pessoas à busca de atendimento odontológico no SUS. Para tal, é

necessário identificar métodos e técnicas de pesquisa que mais se adequem ao caso.

Assim, conforme Pope e Mays (2005), durante um certo tempo as ciências

biomédicas, no afã de testar seus experimentos, não reconheceram a necessidade de investigar

os fenômenos sociais que envolviam as questões de saúde, portanto não admitindo a

subjetividade dos fatos. Ao mesmo tempo, aquelas investigações ditas tendenciosas e que

mostravam apenas um pouco mais do que as histórias, impressões pessoais e conjeturas foram

avançando e nos dias atuais esta pesquisa dita, qualitativa, é utilizada largamente por aqueles

que estudam saúde e estabelecimentos de serviços de saúde.

Como a própria expressão, a significância da pesquisa qualitativa para saúde

busca significados, qualidades, subjetividades, algo que se investiga das pessoas entre si ou

com relação ao ambiente onde elas convivem, podendo se dar de forma independente ou

envolvendo vários sujeitos, sejam usuários, profissionais da saúde e gestores, em suas

expressões diárias, mais simples, permitindo até diferentes perspectivas sobre um mesmo

fenômeno social.

Para os mesmos autores, a pesquisa qualitativa precisa ou permite a utilização de

vários métodos ou adota uma abordagem por “métodos múltiplos”, variando de acordo com

os fatos que virão a serem analisados, ou seja, falando com as pessoas, lendo os que elas

escreveram ou simplesmente interpretando suas atitudes e ações, mas sempre existindo um

foco comum sobre a fala e a ação.

Segundo Minayo (1996, 2002), a pesquisa qualitativa é o método adequado para o

pesquisador detectar os sentimentos demonstrados pelos idosos sobre o atendimento a eles

prestado.

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Bauer e Gaskell (2002), Deslandes (1994) e Turato (2003) concordam na idéia de

que a pesquisa qualitativa deverá ser escolhida, quando se pretende valorizar a observação e a

maneira como as pessoas se comportam em determinadas situações.

Uma vez identificado o tipo de pesquisa, escolhe-se o modo de como obter os

dados, ou seja, os métodos, que, segundo Pope e Mays (2005, p. 17);

[...] Incluem observação direta, entrevistas, análise de textos ou documentos e de discursos ou comportamento gravado (fitas de áudio/ vídeo).[...].[...] Os três métodos principais: entrevista face a face, grupos focais (ou discussões em grupo) e observações parecem ser os mais amplamente usados nos estabelecimentos de saúde e nos serviços de saúde.[...].[...] A pesquisa qualitativa portanto, envolve a aplicação de métodos lógicos, planejados e meticulosos para coleta de dados e uma análise cuidadosa, ponderada e, sobretudo rigorosa.[...].[...] isto significa que a pesquisa qualitativa requer considerável habilidade por parte do pesquisador.[...].

Quanto à maneira de aplicar o método, dependerá do pesquisador e da questão a

ser estudada. Desta forma e de acordo com o objetivo deste estudo, elegeu-se a pesquisa

qualitativa utilizando o método observacional, que, conforme Pope e Mays (2005) e Falcão

(2006), permite ao pesquisador acompanhar as pessoas e eventos para observar os

comportamentos e as interações cotidianas, utilizando os sentidos com intuito de adquirir

conhecimentos, olhando e escutando os sujeitos envolvidos.

No momento da observação, é muito importante que se alie a linguagem oral ou

explícita com à tácita ou implícita, como relatam Weil e Tompakow (1986) em O Corpo Fala.

Para Buy (2006), a observação é uma técnica de coleta de dados que não consiste

apenas em ver ou ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se tenciona

investigar, ajudando o pesquisador a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os

indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento, permitindo um

contato mais direto com a realidade.

Assim, segundo Buy (2006, p. 1), a observação é considerada científica quando,

É sistematicamente planejada; é registrada metodicamente e está relacionada a proposições mais gerais, em vez de ser apresentada como uma série de curiosidades interessantes; é sujeita a verificação e controles de validade e precisão; serve a um objeto formulado de pesquisa e os fatos são percebidos diretamente, reduzindo a subjetividade.

O processo observacional também requer a opção por uma técnica de observação,

os sujeitos a serem observados, a escolha do ambiente, o momento da observação, a

negociação do acesso e o papel do pesquisador em relação ao grupo observado, devendo

conter uma parte descritiva e uma parte reflexiva (POPE, MAYS, 2005; BUY, 2006).

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Para Falcão (2005), pode-se classificar a observação segundo o critério de meios

utilizados e o grau de participação do observador.

Decidindo pela aplicação do método observacional, foi escolhida a observação

simples, conhecida como observação-reportagem, observação assistemática, informal,

ocasional ou não estruturada, porém com características eminentemente exploratórias,

descritivas e interpretativas, onde o pesquisador é um expectador.

De conformidade com Falcão (2006, p. 1), citado por Seymour (1998, p. 51);

A técnica de Observação Simples é apropriada para estudos qualitativos cujos dados são compostos por descrição detalhada de situações, acontecimentos, pessoas, interações e comportamentos observados; citações diretas das pessoas em relação à suas experiências, atitudes, crenças, pensamentos; enxertos ou passagens inteiras de documentos, correspondência, registro e histórias de casos.[...] O registro é feito no momento da ocorrência do fenômeno, geralmente, em diários ou cadernos de notas.

Outras especificidades, vantagens e desvantagens peculiares à observação simples

foram catalogadas, no sentido de reunir o maior número possível de características, e foram

aplicadas no momento da pesquisa de campo.

Ensina Buy (2006) que entre as vantagens, se incluem os elementos para

delimitação dos problemas e a obtenção de dados sem interferir no grupo estudado. Entre as

limitações, prevê a interferência do pesquisador em colocar seus gostos e afeições, a

fidelidade dos registros dependerem de sua memória, além de gerar interpretação subjetiva ou

parcial do fenômeno estudado.

Relacionando as características científicas dos métodos e técnicas de pesquisa

com o objetivo a ser investigado, o presente estudo foi classificado como uma pesquisa

qualitativa, exploratória, descritiva, utilizando a observação simples para investigar a atenção

dispensada à pessoa idosa numa unidade de saúde especializada em Odontologia.

3.2 O contexto do estudo

Segundo Pope e Mays (2005), a primeira tarefa na pesquisa observacional é obter

acesso ao campo, negociado e previamente escolhido mediante conhecimento prévio do local

e trabalhos teóricos sobre o assunto, onde se encontrarão aspectos, eventos ou categorias

relacionadas com o objeto a ser pesquisado.

O movimento de escolha do campo de pesquisa ocorreu no universo de unidades

de referência com serviços especializados em Odontologia do SUS no Estado do Ceará, onde

elegeu como campo de observação o Centro Especializado de Odontologia – CEO Centro,

pertencente à rede própria da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA, prestador de

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serviço para o Município de Fortaleza e deveu-se ao fato de ser a maior e mais conhecida

unidade em saúde bucal do Estado, que realizou entre os meses de janeiro a agosto de 2006,

140.674 consultas, correspondendo a uma cobertura média de 17.584 consultas/ mês, sendo

891 (5.06%), em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, nas diversas especialidades

odontológicas e no serviço de urgência e emergência, segundo os boletins mensais de

produção ambulatorial - BPA que alimentaram o Sistema de Informações Ambulatoriais do

SUS - SIA-SUS. (SIA-SUS, 2006).

Informam Dias; Martins Filho e Sampaio (2003), que o CEO Centro foi criado a

partir da iniciativa de cirurgiões-dentistas que aglutinaram lutas, interesses e preferências

pessoais e do governo no sentido de implantar uma unidade de saúde com atendimento

odontológico exclusivo, no ano de 1965, com o nome-fantasia Centro de Treinamento

Odontológico – CTO.

Tinha autonomia e poder decisório, sendo a unidade de Odontologia de maior

relevância no Estado, englobando a Divisão Estadual de Treinamento, embrião da educação

permanente em Odontologia no Estado, e um sistema de referência para procedimentos mais

complexos entre as unidades de saúde de Fortaleza e outros municípios, uma vez que os

serviços existentes até então eram reconhecidos como de má qualidade e de pouca integração,

além do atendimento ocorrer exclusivamente por demanda espontânea (DIAS; MARTINS

FILHO; SAMPAIO, 2003).

Decorridos quarenta e dois anos, esta unidade de saúde mantém-se na rede própria

da SESA com o nome-fantasia Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, unidade

de referência para atendimentos especializados em Cirurgia bucomaxilofacial, Dentística,

Endodontia, Estomatologia, Ortodontia, Periodontia, Prótese Dentária, Radiologia,

atendimentos a grupos especiais, crianças e idosos, além do Serviço de Urgência e

Emergência 24 horas e da oferta de serviços de assistência social, enfermagem e Ouvidoria.

Permanece, até o momento, como a maior unidade de atenção odontológica do Estado, tanto

em número de trabalhadores como na oferta de serviços de maior complexidade.

Para negociar o acesso, segundo Pope e Mays (2005), usualmente, ocorre a

identificação de alguém ou de pessoas nas equipes que tenham posição de influência para

permitir e, freqüentemente facilitar a pesquisa. Estes sujeitos podem até afetar o modo como o

pesquisador é percebido pelo grupo, fazer cobrança, pedido de colaboração ao pesquisador ou

ao contrário, o pesquisador sentir-se gratificado com a permissão para acesso e querer

retribuir como favor.

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Outro ponto a ser considerado, de acordo com Pope e Mays (2005, p. 45), refere-

se ao efeito Hawthorne:

[...] a presença de um observador, particularmente em estabelecimentos mais privativos, pode estimular modificações em comportamento ou ação, embora esse efeito pareça se reduzir com o tempo. Aqueles que são observados também podem começar a refletir sobre suas atividades e a questionar o observador sobre o que estão fazendo.[...].

Pope e Mays (2005), citando Dingwall et al (1998), sugeriram que neste tipo de

pesquisa deve ocorrer negociação continuada e informal de acesso e consentimento no que

responde pelos aspectos éticos.

2.3 A coleta de dados

Em se tratando da coleta de dados, é importante reconhecer que o pesquisador não

captará todos os detalhes e nuanças da situação observada e a demonstração desta condição

pode ser adquirida a partir do reconhecimento de que da combinação de aspectos práticos da

observação com recordação e a percepção não é possível lembrar ou registrar tudo (POPE;

MAYS, 2005).

De início, realizou-se uma visita ao CEO Centro, para verificar a possibilidade de

realizar a pesquisa, identificando alguns eventos: como o idoso era acolhido, atendido e

agendado e como possivelmente se daria a interlocução dos sujeitos observados, tanto usuário

como os diversos profissionais do CEO.

Destas observações, concluiu-se da necessidade de traçar critérios de inclusão

para permitir a escolha dos sujeitos a serem pesquisados e, uma vez que idoso é aquele

indivíduo na faixa etária igual ou superior a 60 anos e que uma das características da

observação simples é a impossibilidade de fazer perguntas aos sujeitos, a revelação da idade e

de outros pormenores ocorria somente no momento do atendimento odontológico ou de

eventuais conversas durante a espera, necessitando a priori de informações mínimas para

decidir quem acompanhar e observar.

Corroborando Buy (2006) e Moreira (2006), na perspectiva de inferir uma faixa

etária para as pessoas observadas como idosas, alguns sinais físicos e culturais do idoso,

socialmente aceitáveis e consagrados no imaginário popular, foram codificados e levados,

parcialmente, em consideração na identificação deste segmento etário, a saber:

� aparência - indivíduo do sexo masculino ou feminino, com cabelos grisalhos ou

tingidos, face com rugas aparentes, possibilidade de limitação na postura, uso

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de apoio complementar do tipo bengala, unidades dentárias com sinais de

atrição fisiológica ou comprometimento da dimensão vertical pela ausência de

dentes, geralmente usando lentes, e às vezes com audição comprometida;

podendo transparecer disparidades socioeconômicas;

� modo de apresentar-se - seja do sexo feminino ou masculino, geralmente chega

à unidade de saúde, acompanhado de parente, vizinho ou amigo, e algumas

vezes está sozinho. O modo de vestir é discreto e na maioria das vezes o

vestuário é simples, repetido, amassado, usando bonés ou chapéus. Quanto aos

calçados e bolsas seguem o mesmo estilo da roupa. Costumam usar sacolas,

terços ou insumos religiosos outros e raramente usam cosméticos;

� modo de agir - freqüentemente chega com bastante antecedência para o

atendimento e não têm pressa para ser atendido. Gosta de conversar com as

pessoas na sala de espera e lá comenta sua vida pregressa e a história da

condição de saúde bucal atual, além de repetir as novas orientações recebidas.

Respeita a ordem de chegada, é discreto, solidário, tolerante, e identifica o

profissional pelo nome, geralmente fazendo comentários favoráveis e aceitando

repetição de procedimentos;

� modo de falar - expressa seus sentimentos, emoções, fala do seu “estado de

espírito”, fala da aposentadoria, valoriza sua lucidez, informa que toma

remédios, comenta suas atitudes, porém aceita sem reclamar não ser

devidamente orientado e ter dúvidas e incertezas.

No sentido de cumprir as características da técnica de pesquisa, de acordo com

Pope e Mays (2005); Falcão (2006); Buy (2006) e Moreira (2006), é requerido um perfil de

competências e habilidades do pesquisador a fim de manejar e obter acurácia em seus

produtos, eminentemente subjetivos sem infringir os princípios éticos e os limites da

observação simples.

Assim, para garantir o máximo possível de aproximação entre a técnica e a

conduta da pesquisadora, foi desenhado um perfil mínimo de competências para a

pesquisadora, a saber: solicitar permissão de acesso nos locais de atendimento; ser tolerante,

disciplinada e silenciosa, limitando-se a utilizar os sentidos da visão, da audição e a memória;

utilizar o mesmo diário de campo para anotações; registrar imediatamente as observações

realizadas; registrar metodicamente o maior número de informações possíveis, relacionando-

as aos objetivos do estudo; identificar os registros de falas, frases, depoimentos e gestos como

descrições; identificar os registros de ambiente e espaço físico como descrições; classificar as

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observações pessoais como reflexões; fazer consultas às informações já obtidas, quando

necessário; dar a cada registro uma conotação descritiva e outra reflexiva; registrar todos os

comportamentos da pesquisadora diante das observações; registrar como reflexões todas as

opiniões, expectativas, preconceitos e decepções da pesquisadora e sua evolução dentro do

estudo; esclarecer aspectos que pareçam confusos, necessitando de maior exploração.

De posse deste detalhamento mínimo e da síntese do primeiro movimento, partiu-

se para o campo, na perspectiva de investigar e contribuições e sugestões que venham a

impactar na atenção à saúde bucal e na longevidade e melhoria da qualidade de vida desta

gente.

Para execução da pesquisa, foi escolhido o diário de campo como instrumento

para coleta de dados e de acordo com Lüdke e André (1996) e Turato (2003), a confecção de

um diário de campo facilita sobremaneira o trabalho do pesquisador, pois, nele serão anotadas

todas as expressões faciais, gestos de desagrado, risadas, tosses etc.

Foram observados tipos e formas de atendimentos dispensados ou não às pessoas

idosas, codificando as possíveis categorias de análise a serem avaliadas, a partir dos

resultados obtidos.

3.4 Aspectos éticos

De acordo com Pope e Mays (2005), em toda pesquisa há importantes aspectos

éticos a serem considerados e entre eles a Autorização Institucional que oficializa e tipifica as

pesquisas veladas e as justifica em certas circunstâncias, como na pesquisa de tópicos,

extremamente sensível, ou de grupos difíceis de acessar.

Neste sentido, foi elaborado um documento de Autorização Institucional

(Apêndice A), autorizado pela Direção do CEO Centro , tendo como sujeito articulador o

chefe de Clínica. Neste termo, foram descritos os critérios de inclusão para os sujeitos e o

perfil de competências para a pesquisadora, respeitando os limites teóricos da técnica,

normalizando a observação dos sujeitos e dos ambientes de trabalho, olhando e escutando,

sem lhes fazer perguntas, dirigir a palavra ou fazer considerações, porém respeitando o que

preceitua a Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde, que garante aos sujeitos da

pesquisa sigilo de identidade, no relatório e nas publicações, e disciplina os quatro princípios

da Bioética: autonomia, não - maleficência, beneficência, justiça e eqüidade.

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4 PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados

4.1 1º Movimento: descrições e reflexões

Segundo Buy (2006), a partir da liberação da Autorização Institucional, inicia-se a

pesquisa propriamente dita, contendo descrições(D) e reflexões (R), sendo que na

classificação “descrições” são apresentados os registros de falas, frases, depoimentos e gestos

dos sujeitos – DP, como também os registros do ambiente e espaço físico – DA. Com relação

às “reflexões” são consideradas as observações e interpretações pessoais tanto dos sujeitos

como da pesquisadora, sobre as pessoas - RP e com relação ao ambiente- RA. Assim, foi

elaborado o presente estudo.

(DA 1) O CEO Centro localiza-se na Avenida Tristão Gonçalves, 288, no Centro

da Capital cearense, em local de intensa circulação de pessoas, veículos, comércio formal e

ambulante. O acesso é fácil e muito conhecido da população. O desenho arquitetônico da

unidade apresenta uma construção reformada, estilo moderno, onde os espaços privilegiados

estão reservados para clínicas odontológicas, Centro de Estudo, Escovódramo, e Auditório. A

estes estão acrescidos os serviços complementares de Enfermagem e Serviço Social, e

administrativos, de recepção, coordenação, e apoio. Existem rampas na entrada e corredores.

(RA 1) A estrutura reforça o perfil da unidade, com primazia para atendimento odontológico e

a existência de rampas demonstra uma preocupação em cumprir a lei, facilitando o acesso,

porém faltam barras de apoio e sinalização nestes locais que comprometem o acesso

humanizado.

(DA 2) Oficialmente, o CEO atende em dois turnos, e em regime de plantão no

Serviço de Urgência e Emergência Odontológica. Na perspectiva de otimizar os horários,

internamente, dispõe de quatro turnos de atendimento ao público, intercalados por uma hora

para atividades coletivas e de estudo, ficando com a seguinte distribuição: turno manhã - 7 às

10 horas; turno intermediário - 10 às 13 horas; turno tarde - 13 às 16 horas e turno noite - 16

às 19 horas. O Serviço de Urgência e Emergência oferece atendimento permanente, em

regime de plantão de 24 horas, sendo este horário dividido em plantão diurno e plantão

noturno com duração de 12 horas, respectivamente.

(RA 2) Os horários contínuos garantem satisfação para os profissionais e pacientes, e o

horário para estudo além do incentivo permite discussões e aprimoramento, inclusive sobre

atenção à pessoa idosa.

(DA 3) Os serviços de acolhimento, recepção e marcação de consultas iniciam-se

na porta de entrada, por um vigilante armado que controla o fluxo das pessoas e organiza as

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filas para os três guichês, correspondentes a consultas de especialidades, 1ª consulta e

consultas de retorno. Entre os guichês, mais conhecidos como Fichário, existe uma nota de

informação ao cliente, sem muito destaque (folha de papel-ofício com informações

impressas), relativa ao Estatuto do Idoso no que se refere ao atendimento preferencial que

deverá ser dispensado a estas pessoas. Existem assentos de alvenaria encostados à parede e

ventiladores, onde várias, pessoas ficam de pé, em fila, defronte aos guichês, na ocasião que

antecede qualquer atendimento, não ultrapassando quinze minutos, tanto para agendamentos

como para informações. Convém lembrar que no 1º dia útil do mês, as filas iniciam-se na

madrugada do dia anterior. No decorrer do mês de setembro de 2006, observou-se que, as

equipes do Serviço Social e da Humanização faziam trabalho de sala de espera neste local

somente quando o fluxo de clientela era grande ou apresentava sinais de conflitos. Observou-

se também que tanto o vigilante como as pessoas da fila cediam lugar para o idoso, mais por

consideração do que pelo conhecimento da legislação ou pela leitura da nota de informação.

(RA 3) Os destaques deste percurso voltam-se para o tipo de acolhimento inicial, realizado

por vigilante, para utilização ineficaz das ações de comunicação/ informação e para a

insuficiência e ineficácia da estrutura ofertada, uma vez que geralmente são muitas pessoas,

de qualquer faixa etária e condição de risco à saúde.

(DA 4) O Serviço de Urgência e Emergência localiza-se vizinho à sala de

recepção e está composto de sala de espera, pequena e quente; sala de estar, confortável,

climatizada com televisor e sofá; consultório odontológico confortável, climatizado e com

equipamentos novos; alojamentos distintos, para cirurgião-dentista e para auxiliar de

consultório dentário e tem duas entradas de acesso. Observando a demanda espontânea de

clientela e demandas internas do próprio CEO, constatou-se o atendimento a urgências, porém

a maioria dos clientes já está informada quanto à utilização deste serviço como porta de

entrada para o atendimento especializado. A cobertura diária de atendimentos atinge, em

média, quarenta clientes/ plantão de 12 horas. Quanto à procura deste serviço por pessoas

idosas, verificou-se que o atendimento é preferencial, porém a pessoa do acompanhante

somente é lembrada quando ocorre algum episódio desfavorável ou de risco ao idoso. O idoso

raramente é tratado pelo nome.

(RA 4) Durante a observação, evidenciou-se a inadequação entre o perfil e a demanda do

Serviço, e o não-cumprimento, exclusivamente, do seu legítimo papel, no sistema de saúde.

(DA 5) O serviço de Ouvidoria acontece em sala única, pequena, climatizada,

porém de fácil acesso e visualização, existindo visor de vidro na porta. Durante o mês de

setembro observou-se que alguns idosos preparavam-se para denunciar alguma dificuldade,

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principalmente ausência de informações e de profissional, mas desistiam diante da longa

espera.

(RA 5) A demora na oferta do serviço poderá transmitir ao cliente o pouco interesse dado às

suas prováveis questões, comprometendo a humanização das ações.

(DA 6) O Serviço de Estomatologia do CEO Centro está tipificado como

referência ambulatorial estadual para câncer de boca, acontecendo em minúscula sala,

climatizada, funcionando em três turnos e dispõe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, como referência hospitalar. A maioria dos

pacientes é idosa e recebe tratamento diferenciado decorrente da complexidade das lesões e

não da idade. O acompanhante, geralmente, solicita permissão de acesso ao atendimento no

sentido de receber recomendações e prognóstico da doença. As ações articuladas com o

Serviço de Enfermagem e Serviço Social que ocorreram no mês de setembro foram

decorrentes da necessidade do transporte da Unidade para levar pacientes do interior do

Estado até a Santa Casa de Misericórdia.

(RA 6) A fragilidade da estrutura do Sala poderá resultar em subaproveitamento ou pouca

resolubilidade, comprometendo sobremaneira a atenção humanizada e efetiva requerida pelos

idosos nesta área.

(DA 7) As clínicas de especialidades não são clínicas integradas e sim divididas

por especialidades odontológicas. São salas amplas, confortáveis, climatizadas, com

equipamentos dispostos, ergonomicamente, em estilo “roseta” ou “espinha de peixe”,

possuindo decoração direcionada a crianças. As clínicas de Cirurgia bucodentária, Prótese

Dentária, Estomatologia e Radiologia são as mais procuradas pelos idosos.

(RA 7) Embora ocorra significativa procura de idosos por determinados procedimentos, ainda

não existe sala ou serviço adequado a este segmento etário.

(DA 8) O Escovódramo é uma sala de prevenção, nova, confortável, climatizada,

com excelente visual, dispondo de material educativo e de prevenção, mas, apesar disso,

costumeiramente, está fechada, e, quando em funcionamento, atende apenas crianças e

adolescentes.

(RA 8) A implantação deste serviço demonstra o interesse em propiciar ações custo - efetivas

para a população, porém ainda direcionadas para um público restrito, excluindo o idoso das

ações preventivas.

(DA 9) A Clínica de Radiologia é uma das mais procuradas pela clientela,

recebendo demanda de todas as outras clínicas e de serviços externos. Foi verificada uma

demanda significativa de sessenta e sete idosos (38% dos procedimentos realizados), neste

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serviço, durante o mês de setembro de 2006, referenciados da Emergência, da Prótese

Dentária e da Estomatologia, principalmente, para tomadas radiográficas panorâmicas e

oclusais.

(RA 9) Observou-se, durante o período da pesquisa, que diariamente havia idosos aguardando

atendimento radiológico, e, nas clínicas de especialidades, foi detectada rapidez na utilização

e interpretação, deduzindo-se que muitos radiografias não são utilizadas como meio de

diagnóstico, ocorrendo exposições desnecessárias e subaproveitamento de exames.

(DA 10) Os Laboratórios de Prótese Dentária e Ortodontia, a Sala de Laudos

Radiográficos e de Documentação Ortodôntica e o Centro de Processamento de Materiais são

serviços complementares, não recebendo demanda direta de pacientes.

(RA 10) Verificou-se que estes serviços propiciam redução nos custos dos procedimentos

odontológicos, no entanto, não são devidamente valorizados.

(DA 11) O Serviço Social atende quaisquer clientes, recebendo uma demanda

significativa de pessoas idosas, que buscam informações e solicitação de atendimentos,

principalmente em Prótese Dentária, Cirurgia e Estomatologia. Quanto à resolubilidade das

questões, observou-se no período da pesquisa, que assumem, prioritariamente, um papel

secundário e de articulação subserviente às clínicas de especialidades, e sem autonomia nem

poder decisório, além de geralmente lidarem com os mais pobres e sem esclarecimentos.

Ocupa uma sala pequena com acesso restrito.

(RA 11) Este serviço, durante a observação, apresentou limitações quanto à eqüidade e ao

controle social no SUS, no que se refere a pouca autonomia, grande timidez e falta de

iniciativas capazes de garantir encaminhamentos para as demandas dos pacientes, não levadas

em consideração, prejudicando a atenção humanizada e àqueles que mais precisam de

atenção.

(DA 12) O Serviço de Enfermagem, conforme observado durante o mês de

setembro de 2006, assume papéis de controle e remanejamento interno desde o

encaminhamento de pacientes até a organização e suprimento de materiais, além da

coordenação dos serviços de apoio e de pessoal de nível médio. No que se refere a

encaminhamentos, recebe os pacientes agendados para Cirurgia buco-dentária e bucomaxilo

facial e às pessoas acima de 60 anos, num serviço de controle de pressão arterial, que

antecede aos atendimentos clínicos. A sala de enfermagem não é consultório, não possui

estrutura favorável, nem conforto e beleza. Dispõe de duas estantes velhas em madeira para

guardar material e verificou-se a guarda de caixas de luvas no chão.

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(RA 12) As distorções no perfil do serviço prejudicam o avanço das atividades do setor,

minimizando o impacto do serviço, comprometendo a humanização e, no caso, o atendimento

aos idosos.

(DA 13) Os corredores de espera são espaços ao redor de um jardim e em frente

às clínicas de especialidades. Possuem bancos de alvenaria, revestidos de granito, que são

insuficientes para o número de pacientes agendados, inclusive, às vezes, dificultando a

passagem das pessoas em virtude do grande número delas, de pé, ao lado das clínicas,

independentemente de serem idosas ou não, possuindo banheiros para usuários que são

pequenos e não dispõem de barras de segurança e apoio para idosos.

(RA 13) Esta descrição revelou as condições de espera para o atendimento, demonstrando que

os espaços são desconfortáveis, principalmente para os idosos.

(DA 14) Os demais setores da Unidade são destinados à administração. Foi

observado durante a pesquisa que existe, diariamente, uma fila de usuários, aguardando

agendamento e atendimento, diretamente da Direção da Unidade.

(RA 14) Percebe-se que no SUS ainda perduram as práticas de poder e seu uso de maneira

não positiva.

(DA 15) A Chefia de Clínica do CEO Centro foi o sujeito articulador da

permissão de acesso e as Chefias de Enfermagem, Serviço Social e cirurgiões-dentistas

presentes nas clínicas odontológicas pactuaram da mesma permissão. Recordando as

competências e habilidades traçadas para a Chefia de Clínica, verifica-se ser um cargo

oficioso e articulado entre o gestor da unidade e um funcionário cirurgião-dentista, com

experiência e liderança suficientes para conduzir e dirimir dificuldades administrativas no

decorrer dos atendimentos, opinando e organizando fluxos (clientela, agenda, lista de espera,

pedidos de suprimento e manutenção de materiais e equipamentos), e os pedidos pessoais de

atendimento, liberações e justificativas, intercorrências dos profissionais de saúde e/ ou com

os pacientes. Enfim, envolvida com todas as questões que ameacem as boas práticas em saúde

e o desenvolvimento do trabalho.

(RA 15) Desta descrição, verifica-se que a Chefia de Clínica assume todo o controle do

desempenho do serviço e das interfaces dos diversos setores e pessoas, o que permite

articulações em prol das pessoas idosas e da atenção humanizada.

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De conformidade com Brasil (2004b, p. 7);

A garantia da plena utilização da capacidade instalada da rede de serviços propõe o desenvolvimento de políticas de suprimento de material de consumo e de conservação, manutenção e reposição dos equipamentos odontológicos, de modo a garantir condições adequadas de trabalho. No decorrer da pesquisa, a observação das condições do ambiente e das instalações esteve diretamente relacionada com as falas de alguns idosos que reclamavam de desconforto, excesso de calor, excesso de ruídos e falta de sinalização, levando a um certo desconforto durante os períodos de espera. Estes parâmetros interferem nas condições de trabalho, prejudicam a dignidade no trabalho, para profissionais e usuários, e dificultam que os serviços sejam prestados com qualidade.

Observando os idosos

Na perspectiva de aliviar e eliminar a dor, saber o que têm, receber tratamento

imediato, controlar a progressão da doença, evitar danos e incapacidades e tudo isto por meio

de uma equipe de pessoas humanizadas - é o sonho de qualquer idoso, de qualquer

profissional da saúde, de qualquer gestor. E é na tentativa de torná-lo realidade, que as

pessoas idosas têm feito percursos pelas unidades do SUS, sozinhas ou acompanhadas de seus

cuidadores. Qualquer desatenção, porém, pode inverter esta história e serem identificadas

limitações que impedem que um sonho tão real aconteça.

De acordo com os dados do Boletim de Informações Ambulatoriais do SUS/ SIA-

SUS, do CEO Centro, referente ao mês de setembro de 2006, foram apresentadas as

informações que compõem a Tabela 1, abaixo, com relação aos atendimentos gerais e àqueles

realizados em pessoas idosas.

Tabela 1 – Total e percentual de consultas realizadas por especialidade e em idosos, CEO Centro, setembro/ 2006

Especialidade Total de consultas Consultas em idosos Percentual de consultas em idosos Cirurgia 3394 127 4 Dentística (Estética) 993 77 8 Emergência 1742 88 5 Endodontia 633 8 1 Enfermagem 3300 144 4 Estomatologia 286 80 28 Ortodontia 1208 3 0,2 Periodontia 1263 40 3 Prótese Dentária 993 157 16 Radiologia 1743 67 38 Serviço Social 556 20 3 Total 16111 811 5

Fonte: Boletim de Produção Ambulatorial do SUS, setembro/ 2006 – SIA -SUS

Das 811 consultas realizadas em idosos que representaram 5% do total de

consultas realizadas no mês de setembro de 2006, 38%, 28% e 16%, ocorreram nas Clínicas

de Radiologia, Estomatologia e Prótese Dentária, respectivamente, o que instiga mais ainda a

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investigação do percurso realizado por estes idosos À procura destes atendimentos

especializados, que devem envolver uma série de necessidades e/ ou afecções que estão

afetando estas pessoas. Neste sentido, foram observados quarenta e cinco idosos, cujas idades

foram reveladas durante o atendimento odontológico. a saber:

(DP 1 - 78 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos brancos e lisos, pele branca,

vestido azul e simples, sandália rasteira, rosário no pescoço e saquinho com documentos na

mão, chegou ao CEO Centro às 7h 35 min, acompanhada de uma vizinha, com a mão na boca,

queixando-se de dor de dente, e falando pouco. Foi orientada pelo vigilante a procurar o

Serviço de Emergência. Imediatamente foi chamada, porém a acompanhante ficou

aguardando na Sala de Espera. No atendimento, foi submetida a exodontia e aguardou mais

ou menos quarenta minutos na Sala de Estar para recuperação, onde recebeu orientações da

cirurgiã dentista - CD, quanto ao tipo e estado físico da alimentação. Concluído o

atendimento, levantou-se e saiu, sem perguntar nada nem receber orientações quanto ao

prosseguimento. Todo o percurso envolveu, aproximadamente, uma hora e se foi, com sua

acompanhante.

(RP 1) Deste percurso, destaca-se o atendimento imediato e preferencial ao lado da tímida

comunicação e da falta de individualização. O nome e a idade foram anotados, mas não foram

utilizados e nem se sabe de onde vieram.

(DP 2 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, cabelos brancos e

encaracolados, vestido florido e pente no cabelo, sandálias pretas e lenço na mão,

acompanhada de outra senhora, sua vizinha, entrou no Setor de Emergência pela porta lateral,

às 8h 40 min, encaminhada pela Diretora do CEO para fazer exodontia, e ficou aguardando na

Sala de Estar. Esta sala é climatizada, com “gelágua”, televisor, frigobar, escrivaninha, sofá,

telefone, negatoscópio, cadeira de rodas e um biombo de chumbo para proteção durante as

tomadas radiográficas, tendo ligação direta com o consultório. Enquanto a CD orientava uma

pessoa no consultório, a idosa escutava a conversa, atenta, ansiosa e com sinais de medo.

Mesmo com o televisor ligado, ouvia o diálogo do profissional com sua paciente que chamava

mais atenção do que o televisor. Fazia gestos com a cabeça, passando as mãos nas pernas e

coçando a cabeça, o que não foi percebido pela CD nem pela auxiliar de consultório dentário.

Logo em seguida, foi atendida, fez uma exodontia, e na saída teve dificuldade em encontrar a

porta. Neste momento, a ACD chamou a acompanhante para levá-la e não disse nada. Este

percurso levou doze minutos de atendimento clínico e vinte minutos de espera.

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(RP 2) Este percurso resolveu objetivamente a situação de dor e o pedido da Direção, porém

provocou situação constrangedora para idosa ao ouvir o diálogo com outro usuário,

precedente a um procedimento cirúrgico.

(DP 3 - 73 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, estatura mediana, cabelos

grisalhos, forte, apresentando varizes visíveis nas pernas, vestido branco, sandália preta,

chegou ao CEO às 9h 20 min, sentindo dor, calada e foi encaminhada pelo vigilante para o

Setor de Emergência. Com esta idosa, a CD modificou o seu estilo de atendimento,

começando a fazer perguntas sobre doenças gerais e sobre o dente 27 que apresentava dor,

mediu a pressão arterial (150x80) e orientou quanto ao sistema de marcação de consultas por

meio das unidades básicas de Saúde da Família, sem perguntar onde a idosa morava. Após 12

minutos, a CD concluiu o atendimento odontológico. A equipe transmitiu tranqüilidade e

durante o atendimento foram sugerindo os passos a serem seguidos, informando inclusive da

possibilidade de dar continuidade ao tratamento no Serviço de Prótese Dentária. Pergunta pelo

acompanhante, pede para entrar no consultório e orienta os cuidados com relação à

alimentação. O atendimento foi realizado sem pressa, com sucesso e chamam a pesquisadora

para observar mais de perto os procedimentos que estavam sendo realizados. O atendimento

foi concluído em quarenta e dois minutos, contabilizando os doze minutos de espera.

(RP 3) Neste percurso, a idosa obteve o sucesso esperado em seu atendimento, sendo

demonstrado o dever de zelar pela dignidade do idoso, colocando-a a salvo de qualquer

tratamento desumano, embora ao adentrar este serviço público continue sendo um sujeito sem

nome.

(DP 4 - 73 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos, olhos

claros, quieta, vestido branco com flores azuis claro, sandálias pretas, bolsa branca, lenço azul

na mão, perfumada, chegou no CEO Centro, às 9h 40 min e foi orientada pelo vigilante para

aguardar na Sala de Espera da Emergência, juntamente com sua acompanhante. É chamada

para atendimento, realizado prontamente, porém a CD identifica a necessidade de

encaminhamento para a Clínica de Radiologia, ocasião em que pergunta o nome e a idade da

idosa, durante o preenchimento da requisição. Lembra da acompanhante que está na Sala de

Espera e pede para entrar e acompanhá-la. Saem da sala e caminham para a Radiologia, tendo

que passar por um corredor superlotado. Conseguem chegar e entregar o pedido que

prontamente foi atendido, ficando a idosa feliz e dizendo que agora pode comer até pedra. Na

Radiologia, é atendida por profissional técnico em radiologia, de nível médio, de excelente

trato com as pessoas. Pergunta carinhosamente qual o seu nome, onde mora, nome da

acompanhante, nome da CD que encaminhou, pede para vestir um casaquinho (avental de

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chumbo) e juntamente com a acompanhante retira fivela, grampos e colares e pede a

acompanhante para se retirar por “cinco minutinhos”, para que não se exponha a radiação

desnecessária. Não satisfeito, vai lá fora e pede para umas crianças darem lugar para a

acompanhante da vovó, que fica lendo o quadro de avisos enquanto espera a idosa. Concluído

o atendimento, o funcionário conduz as duas de volta para o Setor de Emergência e despede-

se. São atendidas e a CD mostra na radiografia, que fica arquivada no setor, os detalhes sobre

o que precisa ser feito.Depois, as acompanha até a porta e vão embora. Utilizaram uma hora e

quarenta minutos, nestes atendimentos.

(RP 4) Percebem-se neste percurso a valia das atitudes humanizadas e a garantia da atenção

igualitária, num conjunto de ações e serviços articulados para promoção, proteção e

recuperação da saúde bucal do idoso.

(DP 5 - 63 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos ralos, magro, pálido, pele

morena, trajando calças jeans e camisa de malha listrada, conduzindo na mão envelope

amarelo grande e aparelho celular, chega ao CEO Centro às 9h 25 min, de braços dados com

sua acompanhante, trazendo o nome da Chefe de Clínica. Ao encontrá-la no corredor, pede

orientação para chegar até o Serviço de Câncer de Boca. A chefe de Clínica os leva até a sala,

fala com a CD e esta pede para aguardar no corredor de espera. A ACD sai da sala com

prancheta, caneta e o mapa diário na mão e solicita documento de identidade do idoso, além

de informá-los sobre os horários de atendimento, inclusive, dizendo que não existe o turno

intermediário nesta especialidade. Como ele já veio sem marcar, no entanto, preenche a ficha

clínica com os dados pessoais e pede para assinar o mapa de produção diária, antes de ser

atendido. Após preenchimento da documentação, fala para a acompanhante que dará um jeito

para organizar o atendimento o mais breve possível. Pede a Carteira de identidade do idoso e

rapidamente resolve a situação no guichê de atendimento (fichário). Enquanto isso, o idoso

caminha no corredor de um lado para outro, inquieto, porém independente, até a hora do

atendimento. A CD convida o idoso, a acompanhante e a pesquisadora para entrarem na sala.

Revisa o material do envelope, uma radiografia e uns exames complementares: sangue e

urina; examina o idoso; conversa com a acompanhante e diz que o idoso deverá fazer sessões

de fluorterapia, duas vezes por semana, antes de ser encaminhado para radioterapia e

quimioterapia. Do exame clínico, relata que encontrou dentes abaulados e que a exodontia é

indicada, com caráter preventivo e anterior à radioterapia., pois o tempo será longo. Conversa

com a acompanhante sobre os prazos e indica a radioterapia logo após a exodontia. Para o

idoso, pede confiança e cita as grandes chances de cura que terá. Despede-se e pede para os

dois se encaminharem até a Sala dos Dentistas para pedir colaboração da chefe de Clínica.

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Chegando lá, os dois são recebidos, sem privacidade e na presença de outros profissionais, e a

chefe de Clínica falando alto, articula os novos atendimentos. Estes procedimentos são

realizados em 30 minutos.

(RP 5) Este percurso comprova a atenção especial concedida às doenças que afetam o idoso,

buscando promover, proteger e recuperar sua saúde. Foram executados de forma humanizada

e a CD estimulou a participação do idoso. Ao mesmo tempo, lhe foi negada a escuta

cuidadosa e privada que lhe é de direito, além da tentativa inicial de não-realização do

atendimento, pelos profissionais auxiliares, em decorrência do horário de chegada. Ficou

evidenciado o registro de procedimentos antes de suas realizações.

(DP 6 - 66) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, roupa esporte muito

simples, usando óculos de grau, independente, chega sozinho às 12h 50 min ao guichê de

retornos, recebe a ficha de atendimento e se encaminha para o corredor de espera em frente a

Clínica de Periodontia. Chega até a porta e é barrado bruscamente pelo fechamento da porta,

sem perguntas ou desculpas. Pela ordem de chegada, espera quinze minutos e é chamado.

Entrega a ficha e assina o mapa de produção antes do atendimento. Neste instante, a CD,

conversando com ele, pergunta se se lembra de que já é a segunda vez que faz limpeza. Tenta

responder e pronuncia as palavras com dificuldade, mas, sem lhe dar ouvidos, ela reinicia

nova limpeza, utilizando proff (removedor de tártaro elétrico). O idoso se limita a cuspir e,

enquanto está de boca aberta, a CD faz perguntas sobre sua higiene oral, já orientando uma

nova técnica a ser adotada. Permanece, aproximadamente, dez minutos no consultório e vinte

minutos aguardando, contabilizando trinta minutos no percurso.

(RP 6) Nem sempre a rapidez representa objetividade e presteza. Neste percurso, aconteceu o

atendimento clínico, porém foram notáveis a perda de autonomia do sujeito; a repetição de

procedimentos e a provável ineficácia das ações educativas voltadas para mudanças de

hábitos, além de novamente ser verificada a assinatura de mapas de produção, comprovando a

realização de procedimentos, antes mesmo de serem realizados.

(DP 7 - 60 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos tingidos,

vestindo calças compridas jeans e blusa azul, chegou às 12h30 min, sozinha, e encaminhou-se

para o guichê de retornos para receber sua ficha. Caminhou pelo corredor de espera e parou

em frente à Clínica de Periodontia. Ao entrar, procuraram sua ficha clínica e, com sua ajuda

dizendo a idade e o número do prontuário, foi encontrado. Foi realizada uma aplicação de

flúor, alertada para possíveis sangramentos, orientada para escovar quatro vezes ao dia. É

portadora de seqüela de cirurgia de fenda palatina. Recebeu alta do tratamento periodontal e

foi encaminhada para Clínica de Prótese Dentária, levando seu prontuário e na mesma tarde

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foi realizada moldagem preliminar, retornando ao guichê para remarcar novo atendimento.

Este percurso correspondeu a três horas.

(RP 7) Este percurso demonstra como é possível uma atenção humanizada e cuidadosa, em

que o saber cuidar e a valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento deva ser

estimulada e respeitada.

(DP 8 - 69 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, magra, cabelos grisalhos,

usando óculos e vestido azul, chegou às 15 horas no CEO Centro, sozinha, sentindo dor e com

a mão no queixo, sendo encaminhada pela funcionária do Guichê de Marcação de Consultas

para o Serviço de Emergência. Aguardou uns quinze minutos e foi atendida. Foi realizada

exodontia e encaminhada para a Clínica de Radiologia com suspeita de fratura. Fez a

radiografia e ao retornar com o laudo, o CD não avaliou o exame , mas indicou medicação a

ser adquirida na rede de saúde municipal e solicitou retorno com sete dias. Gastou

aproximadamente uma hora neste percurso.

(RP 8) O percurso demonstra a ocorrência de insucesso profissional e o excesso de

solicitações de radiografias panorâmicas, e não-utilização, gerando intervenções

desnecessárias, provavelmente pela ausência de protocolos clínicos para este Serviço e falta

de divulgação das linhas do cuidado humanizado em saúde bucal.

(DP 9 - 84 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos ralos e curtos, moreno,

magro, traqueostomizado, trajando calças jeans e blusa marrom de malha, chegou às 8h 30

min no CEO Centro, sozinho, trazendo atestado médico com recomendações. Não passou pelo

Fichário, ficando no corredor de espera por aproximadamente uma hora, sendo interpelado

pela Chefe de Clínica sobre o seu estado de saúde e se estava confortável .Respondeu com

sinais, assinou o mapa de produção diária do Serviço de Estomatologia. Foi avaliado e

orientado com relação a importância de manutenção das unidades dentárias e da necessidade

de tratamento na Clínica de Estética. Levantou com ajuda e foi orientado pela CD de que deve

ter um acompanhante. Realizou este percurso em uma hora e quarenta minutos.

(RP 9) A conclusão deste percurso mostra o compromisso com a humanização das práticas e

processos, possibilitando uma excelência na atenção à saúde.

(DP 10 - 68 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, magra, usando vestido

estampado, óculos escuros, chegou ao CEO Centro às 16 horas, sozinha, e procurou o Serviço

de Emergência referindo muita dor, com pressão arterial muito elevada. Foi orientada a

procurar atendimento médico.Permaneceu no Serviço aproximadamente quarenta minutos.

(RP 10) O atendimento realizado e limitou-se a orientações, sem resolubilidade no que se

refere a dor, demonstrando que, em algumas ocasiões, por insegurança ou falta de cuidado no

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ato de cuidar, o CD provavelmente escolhe o procedimento mais rápido e mais simples de ser

executado, decidindo, inclusive, não realizar os procedimentos terapêuticos.

(DP 11 - 60 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, cabelos tingidos e longos,

roupa esporte, muito simples, com aparência supostamente superior a 60 anos, chegou ao

CEO Centro às 15h 50 min, sozinha, com duas bolsas e três sacolas. Retirou sua ficha e

encaminhou-se para a Clínica de Estética e, ao entrar na sala, foi ajudada pela ACD na guarda

de seus materiais e bolsas. Questionada pelo CD, informou que era hipertensa e diabética. Foi

anestesiada e manteve-se colaboradora durante o tratamento. Foram gastos trinta minutos

neste percurso.

(RP 11) Neste percurso, observa-se a oferta de procedimentos conservadores e de reabilitação,

evidenciando que a população idosa está, gradativamente, requerendo esta atenção.

(DP 12 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, olhos claros, branca, rosto

avermelhado, obesa, cabelos grisalhos, usando vestido azul, chegou sozinha, às 12h 30 min ao

CEO Centro, procurando o Serviço de Emergência, dizendo que não estava sentindo dor, mas

queria extrair dois dentes. Foi encaminhada pelo vigilante para fila da Enfermagem, a fim de

verificar a pressão arterial e de lá para a Clínica de Cirurgia bucodentária. Enfim, foram

realizadas as remoções de restos radiculares e, como prosseguimento, foi orientada a procurar

a Clínica de Periodontia e a rede municipal para os demais procedimentos. Foram utilizados

quarenta minutos.

(RP 12) Este percurso refere que eventualmente ocorre consonância entre as atitudes dos

profissionais e os dispositivos do Estatuto do Idoso e as linhas do cuidado da Política

Nacional de Saúde Bucal,. manifestada no cotidiano e prática dos setores, nas ações técnicas e

nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e a qualidade resolutiva do atendimento

ao usuário.

(DP 13 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos brancos, morena, muito

simpática, chegou ao CEO Centro, às 12 horas, acompanhada de funcionária da Instituição.

Entrou direto na Clínica de Estética, sem passar pelo Fichário nem pela Sala de Espera.

Recebeu orientações do CD que sugeriu levantamento de coroa clínica. No momento deste

atendimento, observou-se que a sala é ampla, tem cinco equipamentos e que, durante a

consulta, as outras quatro cadeiras permaneceram vazias, os CD’s na sala conversando e uma

enorme fila no corredor. Estes procedimentos foram realizados em vinte minutos.

(RP 13) O percurso realizado demonstra que as linhas do cuidado humanizado no que se

refere aos atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido, a partir da

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vivência no serviço, otimizam os atendimentos, entretanto ainda perdura a priorização de

demandas individuais.

(DP 14 - 65 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, alta, muito magra,

traqueostomizada, internada no Instituto José Frota - IJF, chegou às 9h 30 min no CEO

Centro, de ambulância, acompanhada de dois auxiliares de enfermagem, usando jaleco muito

curto, parcialmente coberta, e caminharam até a Clínica de Radiologia. O procedimento foi

realizado em vinte minutos e retornaram pelo corredor de espera que estava superlotado.

(RP 14) Este percurso mostra uma série de condutas e atitudes que evidenciam negligência e

desconhecimento das linhas do cuidado quanto ao atendimento preferencial, imediato e

individualizado, junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população,

além da falta de iniciativa.

(DP 15 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, cabelos grisalhos e tingidos,

vestido branco, extrovertida, chegou às 13h 30 min, sozinha, e ficou pelos corredores

procurando a sala de fazer extrações e mostrando para as pessoas da fila que não tinha mais

dentes superiores. Foi ao Setor de Marcação de Consultas e recebeu orientação para voltar até

a Sala de Cirurgia. Lá chegando, a ACD que faz a chamada dos pacientes conversou com ela

e pediu para aguardar. Em poucos minutos, foi atendida, recebeu orientações para

agendamento, ficando apenas quinze minutos no Serviço.

(RP 15) Neste percurso, destaca-se o estabelecimento de fluxos e ações resolutivas.

(DP 16 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, morena clara, cabelos lisos e tingidos,

vestindo calças pretas e camisa de malha com imagem religiosa, chegou sozinha ao CEO

Centro às 13 horas, recebeu sua ficha e aguardou até às 13h 40 min no corredor em frente à

Clínica de Estética. No atendimento realizado, recebeu uma restauração em amálgama,

executada em doze minutos. Durante o atendimento, tentou mais de uma vez se comunicar

com a CD, que não lhe deu atenção, mas apontava para a cuspideira e fazia outros sinais. Por

outro lado, a CD manteve um diálogo permanente com a ACD. Somente no final, a CD

perguntou o nome e a idade da idosa.

(RP 16) Neste percurso, observam-se outras atitudes dos profissionais diante dos usuários,

como a não-percepção de que são idosos, descuido com relação ao diagnóstico, tratamento,

queixas, sinais e sintomas relatados e evidenciados nos atendimentos.

(DP 17 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos,

usando calças azuis e camisa bege, tênis pretos e bolsa marrom, chegou ao CEO Centro às 12

horas, acompanhada de várias pessoas provinientes do Município de Icapuí, previamente

agendadas. Recebeu sua ficha e encaminhou-se com o motorista para a Clínica de Estética.

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Foi atendida, durante sete minutos, sendo feita uma pequena restauração e solicitados mais

três retornos. O percurso total envolveu uma hora e quinze minutos.

(RP 17) Do percurso, destaca-se a não-observância das linhas do cuidado ao idoso, pois foi

escolhido o procedimento mais simples e mais rápido.

(DP 18 - 75 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, cabelos ralos,

deficiente físico, chegou ao CEO Centro às 12 horas e encaminhou-se para fila de marcação

de consultas, ficando no 17º lugar, de pé. Após cinco minutos, sentou e manteve-se calado.

Levantou-se, sentou-se e, quando a fila ficou menor, voltou para fila e recebeu uma guia ,

porém não era sua, e sim para uma filha. Neste momento, as pessoas perguntaram sua idade e

ele revelou que tinha seqüela de tumor da mandíbula desde 2002 e era acompanhado pela

Estomatologia da UNIFOR. Relatou ainda que tinha sido fumante por trinta anos, perdido

vinte quilos de peso, mas estava vivo e que guardava muitas recordações da sua vida,

principalmente do período em que trabalhava no Colégio Estadual Joaquim Nogueira. Deu

muitos testemunhos sobre o valor da vida, ressaltando que outras pessoas que tinham sido

operadas de câncer de boca , na mesma época que ele, não haviam se cuidado e tinham

falecido.

(RP 18) Neste percurso, verifica-se a participação e a inclusão do idoso nas atividades diárias

da família, e nas unidades de saúde, possibilitando a garantia de acesso e sucesso da atenção

por meio da organização de grupos de pessoas idosas e desenvolvimento de atividades de

educação e prevenção.

(DP 19 - 71 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos brancos, magro, branco,

elegantemente vestido com calças pretas e blusa de mangas compridas amarelo-clara, chegou

às 9h 30 min no CEO Centro, acompanhado de uma senhora, também idosa, que o deixou

sentado no corredor de espera, pediu para aguardá-la, que seria breve. Enquanto esperava,

manteve-se ansioso e por diversas vezes alinhou as meias, bateu com os pés no chão e as

mãos nos joelhos. Após dez minutos, começou a cruzar as pernas e apertar os dedos, porém

calado. Após vinte minutos balbuciou , que velho é para estas coisas – uma pessoa de setenta

e um anos esperar mais de meia hora só para receber uma radiografia...

(RP 19) Neste percurso, observa-se a falta de atendimento preferencial ao idoso, não

conseguindo evitar filas e barreiras burocráticas.

(DP 20 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino, obesa, moreno-clara, vestindo

bermudas jeans e blusa branca, chegou às 7h 40 min no CEO Centro, acompanhada de uma

menina de mais ou menos onze anos, e se encaminhou para o Serviço Social. Ao ser atendida,

fez uma explanação de suas repetidas vindas ao CEO, durante três anos, a fim de conseguir

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um tratamento ortodôntico para sua neta e uma dentadura para si mesma. Relatou que já

conhecia o sistema de encaminhamento dos postos de saúde, e, nada conseguindo, agora

apelava para a caridade da assistente social. Do seu apelo, recebeu duas soluções: endereço de

um Curso de Especialização em Ortodontia, que trata clientes a preços mais baratos e insistir

nos postos de saúde até conseguir uma guia de referência para prótese. Insatisfeita com as

soluções, disse que não tinha condições financeiras nem tempo para ir e voltar novamente. A

solução era não fazer os tratamentos.

(RP 20) O percurso destaca o tratamento desumano, vexatório e constrangedor dispensado a

pessoa idosa, contrariando as linhas do cuidado humanizado. Ademais, não foram

estabelecidos o fluxo e ações resolutivas, relativas aos atos de acolher, informar, atender e

encaminhar, com acesso favorecido, identificando cada local da estrutura do serviço.

(DP 21 - 75 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, olhos claros, vestindo

roupa esporte e simples, cabelos grisalhos, chegou no CEO Centro às 10h 20 min, sozinho,

falando consigo mesmo, bem baixinho. Sentou-se e, quando viu a chefe de Clínica, levantou e

aproximou-se dela. Pediu licença para conversar com ela. Foi atendido mesmo no corredor e,

como sua voz era muito baixa, mais compreensível, a doutora não entendeu o que estava

dizendo e não deu resposta. Sentou-se e ficou balbuciando que era uma pessoa idosa com

mais de 75 anos e que tinha vindo ao CEO apenas para agradecer. Não queria nem estava

precisando de nada. Não satisfeito, fez uma volta em torno de todas as clínicas, abrindo todas

as portas e foi embora. Neste processo, levou quarenta minutos.

(RP 21) A fragilidade da situação denota o desconhecimento das diretrizes da atenção

humanizada ao idoso e a falta de escuta cuidadosa e de valorização de sua experiência de

vida.

(DP 22 - 64 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos tingidos, pele branca, usando

calças e jaqueta jeans, chegou às 12h 50 min no CEO Centro, sozinha. Foi ao Fichário,

recebeu a ficha e encaminhou-se para o corredor de espera em frente à Clínica de Prótese

Dentária. Ficou de pé, depois sentou-se, calada, mexendo as pernas, mão no queixo. Entrou

para o atendimento, a ACD perguntou a idade, o nome e o CD indagou o motivo das perdas

de dentes, sorriu, mas não disse nada. Em seguida, o CD sugeriu radiografar os rebordos,

pedindo a ACD para assumir todo o processo de encaminhamento. Este atendimento ficou

resolvido em uma hora.

(RP 22) A situação vivenciada no percurso demonstra a desvalorização do saber cuidar e da

pessoa como sujeito de seu tratamento.

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(DP 23 - 69 anos) Pessoa do sexo masculino alto, magro, cabelo grisalho, roupa

simples, chegou sozinho no CEO Centro às 12h 40 min. Recebeu sua ficha e encaminhou-se

para o corredor de espera em frente à Clínica de Prótese Dentária. Ao iniciar o atendimento, o

CD apenas perguntou o nome e a idade, sem explicações sobre os procedimentos a serem

realizados. Não perguntou nada, pediu para colocar no guardanapo as próteses velhas e

solicitou que a ACD preparasse o material de moldagem inicial, fazendo moldagens superior

e inferior e deixando os moldes sobre a pia para serem vazados. Pediu para o idoso levantar

no que foi prontamente atendido, porém este, não compreendendo a utilidade da cuspideira,

cuspiu no chão, foi à pia, lavou as mãos, fez um bochecho, cuspiu na pia novamente e lavou

as dentaduras e saiu balançando as mãos molhados. Foi repreendido em voz alta por outro

profissional e motivo de risadas, mas não entendeu nada. CD e a ACD prepararam os modelos

e enviaram ao Laboratório. Foram utilizados vinte e cinco minutos nestes procedimentos.

(RP 23) Neste percurso, destaca-se a negligência com as linhas do cuidado humanizado em

saúde bucal, deixando de estabelecer fluxos e ações resolutivas relativas aos atos de acolher,

informar, atender e encaminhar, além de submeter o idoso a tratamento constrangedor, que

não educa nem modifica os hábitos.

(DP 24 - 68 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-clara, muito simples,

chegou no CEO Centro às 16 horas. Recebeu sua ficha e encaminhou-se para o corredor de

espera em frente à Clínica de Prótese Dentária. Foi chamado e realizada prova da prótese

superior com dentes, sem mostrar ou pedir opinião do idoso e ainda desgaste na prótese

antiga, na própria clínica, utilizando motor de alta rotação, sem consultá-lo nem lavar a

prótese. Diante da reclamação do idoso em pedir atendimento nas mesmas condições das

consultas anteriores, foi repreendido pelo CD e pela ACD, que no final lembraram que não

haviam perguntado a idade para registrar no mapa diário. Ficou constrangido, virou e bateu

com o pé na caixa de comando e perdeu-se dentro da sala, não enxergando a saída. Esta

operação durou trinta minutos.

(RP 24) Neste percurso, observou-se a falta de articulação com o Laboratório para desgaste de

próteses e o descaso com a humanização e qualidade do atendimento ao usuário.

(DP 25 - 66 anos) Pessoa do sexo feminino, estatura mediana, cabelos grisalhos

chegou ao CEO Centro às 11 horas, sozinha, encaminhada do CIES Clodoaldo Pinto –

Fortaleza, para realizar radiografia panorâmica, com suspeita de tumor no assoalho da boca.

Demonstrou muita alegria em ser pronta e gentilmente atendida, porém ficou assustada com a

voz, muito forte e alta, de um funcionário que estava caminhando pelos corredores, à procura

de uma paciente idosa e gritava: “Se ela estiver na Tristão Gonçalves, ela vai escutar e vem”.

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Após o episódio, recebeu orientações quanto á data de retorno e foi embora, tendo sido

utilizados vinte e cinco minutos neste procedimento.

(RP 25) Neste percurso, observa-se que a humanização das relações ainda não se manifesta no

cotidiano, na prática dos serviços e nas rotinas de trabalho, como se apenas o fato de receber o

atendimento clínico fosse importante.

(DP 26 - 61 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno, cabelos pretos, caquético,

olhos fundos, face assimétrica, chegou ao CEO Centro em ambulância do Município de

Hidrolândia, às 8h 30 min e foi entregue pelo motorista na fila de espera da diretora,

recomendando a este que, ao terminar o atendimento, ligasse a cobrar para o seu telefone

celular. Em seguida, foi chamado pela secretária da diretora, que preencheu sua ficha com

dados pessoais e informou que fosse até o Serviço de Oncologia da Santa Casa de

Misericórdia, para ser atendido. Como o idoso não conhecia o Hospital, a referida disse que a

única maneira de ajudá-lo era fazer uma ligação para o motorista da ambulância ou esperar

que as outras demandas do transporte do CEO fossem resolvidas. Enfim, às 10 horas, foi na

Kombi do CEO Centro para o Hospital e somente retornou às 12 horas, com o motorista da

ambulância e entregou alguns documentos à secretária da Diretora.

(RP 26) Neste percurso, denota-se a realização de ações contingentes do fluxo, apesar de que

estas estratégias já foram consolidadas em pactos entre gestores públicos e entidades

complementares do SUS.

(DP 27 - 74 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, alta, aparentemente carente,

roupa azul, sandálias tipo havaiana, chegou às 7h 30 min no CEO Centro, sozinha, e esperou

quarenta minutos no Setor de Emergência para ser atendida. Foi feita remoção de resto

radicular e encaminhada para a Clínica de Radiologia, e em seguida para à Sala de Cirurgia.

Após, a realização do Raio X, ficou aguardando no corredor em frente a Sala de Cirurgia e

falou para as pessoas que estavam lá que estava ficando preocupada, um pouco tonta, não

estava entendendo por que voltar para o dentista se já tinha tirado o dente. Como não tinha

dinheiro para vir outra vez e o seu marido tinha ficado sozinho em casa, doente – tinha ido

para o Hospital andando e tinha voltado “aleijado”, ia esperar. Foi chamada na cirurgia, foi

anestesiada, fez uma curetagem e foi confirmado que ainda havia restos de raiz fraturadas.

Ficou mais tonta ainda, e disse que não aguentava ser operada naquela hora e que ia embora.

Estes procedimentos envolveram cinco horas.

(RP 27) Neste percurso, observa-se o desconhecimento ou negligência ao Estatuto do Idoso

no que se refere à facilitação do acesso, inclusive com reservas de horário e dias específicos

para o atendimento, evitando tratamentos dolorosos e extraordinários.

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(DP 28 - 79 anos) Pessoa do sexo feminino, magra, morena, vestido marrom,

sandálias preta, usando óculos, chegou sozinha ao CEO Centro, às 7 horas, e encaminhou-se

para a Clínica de Prótese Dentária. Permaneceu sentada no banco de espera por

aproximadamente quarenta minutos, rezando e cantarolando, além de rir bastante, dizendo

que era uma velhinha de 79 anos mas muito enxuta. Após este tempo, a ACD veio até a porta

da Clínica, chamou a idosa e avisou que a mesma não ia ser atendida, embora a CD estivesse

presente no CEO, mas estava muito ocupada preparando a Jornada dos Funcionários e que as

consultas seriam remarcadas, para depois do dia 26 de setembro. Prestando atenção às

palavras da ACD, a idosa disse que não tinha problema, pois não pagava ônibus. Esta viagem

era o seu passeio da manhã.

(RP 28) Neste percurso, denota-se o descaso em relação à atenção cuidadosa e com a

valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento, além de repercutir negativamente no

agendamento da clientela.

(DP 29 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, alta, aparentemente nervosa,

chegou sozinha no CEO Centro, às 7h 20 min, perguntando onde era a fila da extração. O

vigilante a recebeu e avisou que deveria tirar uma ficha para medir a pressão. Encaminhou-se

para Sala de Enfermagem. A funcionária perguntou o nome, a idade, fez a medida (140x90),

disse que estava bem e a autorizou ir para cirurgia. Na cirurgia, foi realizado o procedimento

necessário, porém retornou novamente para Sala de Enfermagem, para fazer nova medida,

pois, durante a exodontia, ficou taquicárdica. A nova medida atingiu 100x70. Foi liberada e

neste percurso foi utilizada uma hora.

(RP 29) Neste percurso, verifica-se o estabelecimento de rotinas, porém uma subutilização

dos resultados no que tange aos atos de informar e encaminhar os idosos.

(DP 30 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, magra, olhos claros, estava na

fila para verificar a pressão arterial às 7:15 horas (100x60). Recebeu o resultado, perguntou se

estava baixa e não obteve resposta, mesmo assim foi para cirurgia, onde realizou exodontia

em vinte e cinco minutos.

(RP 30) Neste percurso, denota-se o descaso dado à transmissão da informação entre os

sujeitos envolvidos, que contraria a humanização do cuidado, uma vez que não foi

estabelecido o entendimento do processo saúde-doença.

(DP 31 - 72 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, magro, limitação de

voz, usando óculos escuros, às 7h 20 min estava na fila para verificar a pressão arterial,

dizendo que ia extrair todos os dentes. Estava tenso e tinha acompanhante. No momento de

medir a pressão arterial (100x70), olhou para a funcionária, riu, manteve-se fitando-a, riu

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novamente em virtude de a funcionária não ter observado nenhum dos seus gestos. Recebeu o

resultado e foi para Clínica de Cirurgia Bucodentária, permanecendo lá por trinta minutos.

(RP 31) Este percurso revelou questões relativas à comunicação/ informação do idoso e sua

não-utilização como mola propulsora de adesão às orientações da equipe de saúde.

(DP 32 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino morena, olhos pretos com

acompanhante estava na fila de verificar pressão arterial às 7h 23 min. Fez o procedimento

(140x90), teve dificuldade para assinar o mapa de produção e, sabendo do resultado, disse que

não ia mais tomar os comprimidos para pressão, não estavam servindo. Então, a funcionária

falou que a pressão estava muito boa para quem tem a pressão alta e a encaminhou para

exodontia, onde esteve por vinte minutos.

(RP 32) A inclusão deste percurso na pesquisa revela a teia de situações e emoções que

envolvem o idoso, sem escuta cuidadosa e valorização da experiência de vida do idoso, como

determinantes na adesão aos tratamentos.

(DP 33 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, forte, aparentemente

nervosa, estava na fila de verificação de pressão às 7h 30min. Ao ser chamada, entrou e jogou

sua cédula de identidade sobre a mesa. Mesmo assim, a funcionária perguntou o seu nome e

idade e ela respondeu que estavam no documento. Ao medir a pressão (150x110), a

funcionária disse que estava muito ruim e achava que o doutor não ia atender. Não lhe deu

ouvidos, levou o resultado e encaminhou-se para a Clínica de Cirurgia Bucodentária, onde

ficou por vinte e cinco minutos.

(RP 33) A observação deste percurso denota a ausência de ações resolutivas pertinentes aos

atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido.

(DP 34 - 60 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, visão

comprometida, estava às 7h 34 min na fila de verificação de pressão arterial. Ao ser chamado,

a funcionária em vez de perguntar o nome e a idade, perguntou-lhe qual a pessoa do CEO

Centro tinha lhe encaminhado. O idoso não respondeu e foi atendido em vinte e seis minutos.

(120x80).

(RP 34) O percurso no CEO Centro revelou as práticas de poder ainda hegemônicas nos

serviços de saúde, chegando até a constranger o próprio beneficiado.

(DP 35 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, tranqüila, olhos claros, estava

às 7h 40 min na fila de verificação de pressão arterial. Quando foi atendida, informou que sua

pressão era alta, fato confirmado (170x130). Ao concluir o exame, pediu para falar com a

enfermeira ou com um dentista, pois supõe que um dos motivos da elevação de sua pressão

está relacionado com o estresse. Deixa seu esposo cego em casa, sozinho e vem correndo. Foi

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até a Clínica de Cirurgia Bucodentária, conversou com o CD e agendou nova data. Esta

operação se deu em quinze minutos. Foi orientada e remarcada nova data, perfazendo um total

de vinte minutos.

(RP 35) Em meio a este percurso constata-se que há negligência com relação a auto-exame e

diagnóstico rotineiro, devendo atribuir igual valor às queixas e aos sinais e sintomas relatados

e evidenciados nos atendimentos.

(DP 36 - 76) Pessoa do sexo masculino, moreno, olhos escuros, magro, cabelos

grisalhos, chegou com sua esposa ao CEO Centro às 6h 30 min e encaminhou-se para o

corredor de espera da Radiologia. Entregou sua Guia de Referência, às 7h 10 min e foi

atendido. Na saída, após levar alguns empurrões, pois o corredor estava superlotado, deu um

suspiro de alegria e saiu, utilizando neste percurso uma hora e vinte minutos.

(RP 36) Seu tempo de permanência e o percurso realizado denotam a não-observância do

atendimento preferencial, imediato e individualizado, junto aos órgãos públicos e privados,

prestadores de serviços à população, estabelecidos como direito do idoso.

(DP 37 - 74 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos,

vestido bege, estava às 7h 10 min no corredor de espera da Radiologia, chateada, reclamando

da demora em ser atendida. Falava alto e dizia que os direitos dos idosos não são respeitados,

pois aquela já era a quarta vez que vinha ao CEO Centro e não resolvia sua situação, e a culpa

era destes profissionais preguiçosos. Foi atendida em vinte minutos.

(RP 37) Este percurso revelou questões relacionadas ao fortalecimento do sistema, programas

e projetos e a humanização de suas práticas, possibilitando uma excelência na atenção à

saúde.

(DP 38 - 72 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos brancos, roupa muito

simples, de boné, chegou sozinho às 6h 30 min no CEO Centro para garantir seu atendimento

na Radiologia. Recebeu sua ficha e sentou no banco em frente à sala aguardando ser chamado.

Como tinha pouca gente naquele horário, resolveu deitar-se e dormiu. Quando aumentou o

número de pessoas na espera, o chamaram. Olhou em volta e disse: agora, vou esperar

sentado, pois este pessoal dá muita “maçada”. Após, meia hora, foi atendido e encaminhado

para Clínica de Estomatologia, onde permaneceu por quinze minutos, recebendo orientações.

(RP 38) Este percurso demonstrou a ausência de acolhimento ao idoso, inclusive a falta de

comunicação e esquecimento, evidenciando a fragilidade das ações de humanização.

(DP 39 - 69 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos totalmente brancos, morena,

pés inchados, chegou sozinha ao CEO Centro às 9h 05 min. Ficou de pé, no 17º lugar de uma

fila em frente ao Fichário, até às 9h 20 min. Enquanto aguardava, a assistente social veio até o

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local, procurou apressar o atendimento, indistintamente, conversando com as pessoas e

verificando os bilhetes, cartões e encaminhamentos, respeitando a ordem de chegada.

Amenizou o ambiente e saiu.

(RP 39) Este percurso revela a falta de iniciativas resolutivas, seja nas ações ou nas rotinas de

trabalho e a impotência diante das políticas e práticas de humanização nos serviços de saúde.

(DP 40 - 68 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, magro, olhos

verdes, desdentado, chegou sozinho ao CEO Centro às 12h 30 min e encaminhou-se para

Clínica de Prótese. Lá foi orientado a procurar, no Fichário, a sua data de retorno, já que não

estava registrada no seu Cartão. Foi ao Fichário, onde ficou constatado o esquecimento do

idoso em agendar esta data. Não pôde ser atendido e a nova consulta ficou programada para

três semanas à frente. Foi embora, envergonhado e triste, tendo sido gastos quarenta minutos.

(RP 40) Este percurso revela a tímida e morosa articulação cotidiana processada entre os

setores internos, somente quebrada mediante interesses pessoais, desvalorizando a

humanização e a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário.

(DP 41 - 69 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos claros, olhos claros chegou

sozinho ao CEO Centro procurando o Serviço de Emergência. Foi encaminhado pelo vigilante

e, no momento do atendimento, a CD verificou a necessidade de radiografia panorâmica.

Após encaminhamento interno, fez a radiografia e retornou ao Setor de Emergência, onde foi

constatada a inexistência de fratura. Diante do trauma existente, a CD solicitou medicação e

indicou o local para adquiri-la, além de devolver a radiografia. Estes procedimentos foram

realizados em cinqüenta minutos.

(RP 41) Este percurso destaca que é possível agilizar, otimizar e tornar o serviço mais efetivo,

dependendo da disponibilidade dos profissionais e da agilidade do idoso.

(DP 42 - 61anos) Pessoa do sexo feminino, morena, olhos claros, vestindo calças

pretas e blusa rósea, chegou sozinha ao CEO Centro às 13 horas e ficou aguardando no

corredor de espera até às 15 horas, em frente à Clínica de Estética. No momento do

atendimento, informou para o CD que é hipertensa e diabética. O CD ouviu, mas não fez

comentários. Anestesiou, fez uma restauração provisória e deu por concluída a sessão, em

doze minutos.

(RP 42) Este percurso demonstra o desconhecimento das políticas de humanização, do perfil

do cliente, e a falta de rotinas de trabalho mais resolutivas.

(DP 43 - 64 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos claros, olhos claros,

desdentado, chegou às 12h 40 min no CEO Centro, acompanhado de uma jovem,

provavelmente sua filha, e encaminhou-se para a Clínica de Radiologia. Após uma espera de

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mais ou menos duas horas, foi até a porta da sala, onde foi informado de que deveria voltar ao

Fichário. Fez este procedimento e, quando retornou, realizou sua radiografia panorâmica e foi

embora. Utilizou duas horas e vinte e três minutos.

(RP 43) Este percurso denota a desatenção no trato dos sujeitos, que, uma vez tendo acesso ao

serviço, não foi observado nem acompanhado durante sua estada na Unidade.

(DP 44 - 74) Pessoa do sexo feminino, alta, morena, olhos claros, encontra-se às

12 horas no sétimo lugar na fila de remarcação de consultas. Após dez minutos, de pé, começa

a falar para as pessoas, também na fila, que não entende por que os serviços dizem que tem

prioridade para os idosos e não respeitam. Do mesmo jeito é na COELCE. Neste mesmo

instante, verifica que outra senhora idosa chegou sozinha e não ficou na fila, pois entregou o

seu cartão para uma funcionária, desrespeitando os idosos e a fila. Ficou observando,

resmungando e, quando chegou sua vez, falou para a funcionária do guichê que elas deviam

receber as identidades na fila e verificar quem era idoso, pois tinha certeza de que a pessoa

que havia sido beneficiada não tinha 74 anos, a idade dela. Permaneceu por doze minutos

neste ambiente.

(RP 44) Este percurso demonstra o desperdício de tempo com esperas, marcação de consultas

e a falta de esforços nos atos de acolher, informar, atender e encaminhar.

(DP 45 - 75 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos lisos e grisalhos, vestindo

bermudas azuis e túnica branca, com aparência de desdentada, chegou ao CEO Centro,

sozinha, às 12h 40 min. Retirou sua ficha e encaminhou-se para Clínica de Prótese Dentária,

onde ficou sentada, calada, aguardando atendimento, mexendo as pernas. Foi convidada a

entrar, sentar-se na cadeira e aguardar alguns minutos, enquanto o CD concluía um

encerramento. Retirou as luvas, dirigiu-se para a idosa e calçou novo par de luvas, e, ao

mesmo tempo, conversando com a senhora sobre perdas dentais acumuladas e outros

problemas de saúde. Como a idosa não relatou nada, indagou se realmente não sentia falta dos

dentes. Após o exame, a encaminhou para a Clínica de Radiologia, acompanhada da ACD.

Estes procedimentos ocorreram em cinqüenta minutos.

(RP 45) Neste último percurso, verifica-se atendimento preferencial, imediato e

individualizado e resolubilidade na atenção à saúde bucal do idoso.

Sintetizando os resultados, observou-se que acompanhar o percurso realizado por

quarenta e cinco idosos no CEO Centro ajudou a compreender e problematizar o que pode

acontecer com estas pessoas durante sua permanência, em uma unidade do SUS, com serviço

exclusivo em Odontologia.

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Por percurso, neste caso, entende-se todo o processo vivenciado por elas desde a

chegada à porta de entrada da unidade de saúde até a saída, após o último contato, período em

que transcendem da condição de indivíduos para o papel de pacientes, estivessem sendo

atendidos ou não, e que foram representados espacialmente nos seguintes passos:

Destaca-se também no percurso realizado, respeitando, parcialmente, a ordem

cronológica destes passos, que o perfil do CEO Centro parece estar mais direcionado à

execução de procedimentos odontológicos do que à atenção em saúde bucal, tendo o chefe de

PASSO 1 – CHEGADA AO CEO

SOZINHO OU ACOMPANHADO

PASSO 2 – ACOLHIMENTO NA RECEPÇÃO

VIGILANTE, GUIA DE REFERÊNCIA,

CARTÃO DE SAÚDE, BILHETE, ALGUÉM, FILA, NADA

PASSO 3 – MARCAÇÃO DE CONSULTAS

FICHÁRIO, CHEFE DE CLÍNICA,

DIREÇÃO, ACD, CD

PASSO 4 – ESPERA

CORREDORES, SALAS DA EMERGÊNCIA, DIREÇÃO, CLÍNICAS

SENTADO OU DE PÉ

PASSO 5 – ATENDIMENTOS INFORMAÇÕES: EM QUALQUER

LUGAR SERVIÇO SOCIAL: SALA

ENFERMAGEM: SALA ODONTOLÓGICO: CLÍNICAS

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Clínica como elemento articulador da maioria dos avanços e limitações na execução dos

serviços e, conseqüentemente, a pessoa que detêm a maioria das informações, relativas ao

serviço.

No cumprimento de sua missão tanto acompanha os serviços realizados como

verifica aqueles que, por omissão ou desatenção, deixaram de ser resolvidos, num universo de

clientela circulante que ainda não se acostumou com agenda e protocolos, resultando em

corredores superlotados na primeira hora de todos os turnos, a conversar, andar, comer, beber

água, usar banheiros, ligar e desligar interruptores, ir e voltar ao centro comercial, bater e

abrir as portas e até dormir nos bancos e, indistintamente, ser acolhida na porta de entrada e

saída por um ou dois vigilantes armados que controlam o fluxo das pessoas e organizam as

filas para os três guichês, correspondentes a consultas especializadas, 1ª consulta e consultas

de retorno.

Ademais, constatou-se que o Serviço de Urgência e Emergência atende as

urgências, porém se presume que a maioria dos clientes já está informada quanto à utilização

deste serviço como porta de entrada para o atendimento especializado, o que acrescenta 24

horas diárias às 12 horas ininterruptas de atendimento.

Sendo assim, há de se supor que os trabalhadores da saúde e seus clientes estejam

muito mais preocupados e dêem mais valor à realização de procedimentos do que a

verificarem se estão confortáveis, bem acolhidos ou interessados em apreender conhecimentos

e trocar experiências, que venham a modificar o seu quadro de saúde-doença bucal.

Neste contexto, os idosos observados comprovaram estes determinantes e

enquadraram-se num perfil que revelou os seguintes dados: cinco idosos (11%) têm 72 anos

de idade e é a idade que reúne o maior número de pessoas observadas. Do total de quarenta e

cinco idosos acompanhados, 64% (29) são do sexo feminino; 73% (33) compareceram

sozinhos ao serviço; 56% (22) preferiram o turno da manhã, a maioria chegando com mais de

trinta minutos ou mais de antecedência. Entre todos, 23% (10) buscaram o serviço para serem

submetidos a exodontia; 17% (8) para fazerem exames radiográficos, a maioria radiografias

panorâmicas e 15% (7) manifestaram dor ao procurar atendimento. Reunindo aqueles que

procuraram fazer exodontias por demanda espontânea (10), com os que foram indicados pela

emergência (4) e os oriundos da própria cirurgia (2), concluiu-se que 16 idosos (35%)

necessitaram de procedimentos cirúrgicos, comprovando estudos de Moriguiti, Matos e

Ferriolli, (2002); 17% foram ao Serviço de Urgência e Emergência e apenas 6% estão em

reabilitação dentária, na Clínica de Prótese.

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Descritivamente, estes percursos foram consolidados a partir da observação dos

movimentos dos idosos e classificados em três categorias de análise: comportamentos, rotinas

e relações. Entendeu-se por comportamentos as atitudes, falas, gestos, gostos, ações,

sentimentos e eventualidades. Quanto às rotinas, interpretou-se o que já está consagrado

administrativamente ou não pelo uso: práticas de saúde, protocolos do serviço, políticas,

metas, agendas, horários; e, no tocante às relações, foram compreendidos os contatos

humanos hierarquizados ou não.

A partir deste leque de atuações das pessoas ante as experiências vividas e

classificadas em categorias, confrontadas com os estudos e políticas, foram identificados os

fatores que contribuem para o cuidado humanizado; como se revelam os elementos que

dificultam esta atenção; de que maneira foram mensurados os níveis de conhecimento e

aplicação das linhas do cuidado ao idoso preconizadas na política de humanização e de saúde

bucal; e quais as ações que precisam ser modificadas, para o idoso receber uma atenção

humanizada em saúde bucal, a serem apresentadas no Capítulo 5 – Políticas e Ações.

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CAPÍTULO 5 - POLÍTICAS E AÇÕES: a discussão

O percurso do idoso no CEO Centro, desde a porta de entrada, recepcionado pelo

vigilante armado, passando pelos guichês de marcação de consultas, esperando nos

corredores, sendo atendido nas clínicas odontológicas e retornando aos guichês para os

próximos retornos foi a trajetória onde ocorreram as situações a serem interpretada à luz do

referencial teórico.

Em primeiro lugar, por permitir um espaço abundante e extremamente rico de

situações, eventualidades e curiosidades que, tratadas cientificamente, permitirão

desdobramentos a diversas interpretações para um único fenômeno social: o atendimento

odontológico do idoso.

Em segundo lugar, por possibilitar o reconhecimento da significância do processo

saúde-doença bucal para o idoso, desde a oferta do procedimento mais popularmente

conhecido e aceito – a extração dentária - até os atendimentos mais complexos e inovadores

disponíveis para este segmento etário.

Em terceiro lugar, por mostrar a teia de comportamentos, rotinas e relações

travadas neste espaço, onde os sujeitos transcendem da condição de indivíduos autônomos,

livres e decididos para o papel de pacientes submissos, dependentes e resignados.

Em quarto lugar, pela possibilidade do encontro das políticas públicas de

humanização e de saúde bucal com seus beneficiários, tanto pelo desenvolvimento de

tecnologia em saúde e humanização das práticas, como pela adesão e protagonismo desses

sujeitos na elaboração social do direito à saúde, mantendo uma saúde bucal de qualidade,

alicerçada em políticas públicas exeqüíveis e direcionadas para estas pessoas (TORRES,

2002; BRASIL, 1986a).

Ademais, para Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996), as políticas de saúde

representam o modo de pensar, conceber e praticar a saúde, por meio do trabalho concretizado

pelos recursos humanos.

No desenrolar deste percurso e do trabalho dos profissionais de saúde do CEO

Centro, foram buscadas respostas para as questões suscitadas para este estudo: identificar os

fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam

esta atenção; verificar o nível de conhecimento e aplicabilidade das diretrizes da Política de

Saúde Bucal e de Humanização para pessoa idosa, propondo ações que venham a possibilitar

atendimento humanizado e contextualizado.

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5.1 2º Movimento: categorias de análise e os objetivos do estudo

Fatores que contribuem para o cuidado humanizado

No sentido de analisar a teia de comportamentos, rotinas e relações travadas no

percurso dos idosos no CEO Centro, a partir da observação das interações dos sujeitos e

destes com a estrutura do serviço, foram organizadas listagens, incluindo comportamentos,

como aqueles fatores observados que representam as atitudes dos sujeitos envolvidos, diante

das situações e vivências; rotinas, relacionando aqueles elementos observados e que estavam

envolvidos com as práticas de saúde, protocolos, agendas, horários e outros, hierarquizados

ou não, portanto, de conhecimentos ou hábitos adquiridos; no que se refere às relações, foram

observadas as interações dos sujeitos, que se desenvolveram eventualmente no processo de

trabalho, contribuindo positivamente ou não.

Entre aqueles que favoreceram o atendimento humanizado, categorizados como

comportamentos, ficaram os registros de:

� dar atenção especial às doenças que afetam o idoso;

� impulsionar sua participação;

� realizar atendimento imediato e preferencial;

� resolver objetivamente a situação de dor;

� saber cuidar e valorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento;

� ter atitudes humanizadas; e

� zelar pela dignidade do idoso.

Diante dos elementos relacionados na observação, verifica-se que as linhas do

cuidado estabelecidas na política de humanização e nas diretrizes da atenção à saúde bucal do

idoso são, na maioria das vezes, tratadas como comportamentos, supondo-se que ainda não

sejam comtempladas nos protocolos de atendimento.

Observou-se, igualmente, que, ao chegar ao CEO, o idoso se torna genérico, perde

sua identidade e se transforma em objeto para o qual é oferecido um modelo de atenção

vigente, igualmente ofertado para os diversos ciclos de vida.

Quando da consolidação dos comportamentos, observou-se que algumas atitudes

não dependiam exclusivamente da vontade dos trabalhadores e de seus clientes, mas estavam

consolidadas em pactos e rotinas, necessitando-se outra categorização para contemplá-las, o

que foi denominada rotinas.

Entre aquelas que contribuíram positivamente, incluíram-se:

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� acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido;

� capacitar as pessoas;

� estabelecer pactos entre gestores públicos e entidades complementares do SUS;

� executar ações e serviços articulados;

� garantir atenção igualitária;

� implantar ações custo – efetivas;

� ter consonância entre as atitudes dos profissionais e os dispositivos legais.

As rotinas ordinariamente predizem o modo das pessoas e instituições se

organizarem, porém algumas articulações e relações acontecem no cotidiano, exigindo uma

categorização, que foi classificada como relações.

Entre aquelas que favoreceram o atendimento humanizado, vejam-se os registros:

� articular ações e serviços;

� atender prontamente os usuários da Emergência;

� atender prontamente os pedidos da Direção;

� atender prontamente os pedidos de funcionários; e

� valorizar as queixas, sinais e sintomas.

Analisando os fatores identificados como positivos para o cuidado humanizado e

comparando-os com estudos realizados, verificou-se que, segundo Souza (1994), a Unidade

de Saúde é o espaço privilegiado para o conhecimento destes fatores e de sua intervenção

sobre a saúde das pessoas.

Foi na Unidade de Saúde CEO Centro constatada a presença significativa de

pessoas idosas (811 consultas no mês de setembro de 2006, correspondentes a 5% de toda a

clientela), a procurar atendimentos especializados, confirmando estudos de Berquó, (2004);

Brasil, (2007); Camarano, (2005) e Borba (1997), comprovando que o envelhecimento

populacional provoca uma crescente demanda aos consultórios odontológicos com solicitação

de acesso nos serviços públicos e requisição de uma atenção cuidadosa e paciente.

Segundo a Portaria nº 1.395/ GM, de 10 de dezembro de 1999, que aprovou e

definiu a Política Nacional de Saúde do Idoso, há necessidade de dar visibilidade aos esforços

disponibilizados para o seu cuidado, muitas vezes anônimos.

Assim, durante a observação do percurso dos idosos no CEO Centro, foi

verificada a realização de atendimento imediato e preferencial para o idoso, principalmente no

Setor de Urgência e Emergência; atenção especial às doenças que o afetam, prioritariamente,

na Clínica de Estomatologia; zelo pela sua dignidade, impulsionando a sua participação,

preferencialmente no Setor de Urgência e Emergência e na Clínica de Radiologia. Portanto,

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assegurando que a atenção secundária oferecida pelo CEO se dê da forma mais completa, de

acordo com propostas, já preconizadas, desde 1994, para o CEO, por ocasião da I Conferência

Estadual de Saúde Bucal do Ceará (CEARÁ, 1994).

Com o avanço da tecnologia em saúde bucal, as realizações de conferências, as

lutas da saúde coletiva, as políticas públicas de saúde bucal não poderiam permanecer à

margem das demais políticas, isoladas, e sobrevivendo das sobras de seus recursos. Foi e é

necessário, segundo Brasil (2004), que a intersetorialidade se manifeste no cotidiano e na

prática dos setores, nas ações técnicas e nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e

a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário, reconhecendo suas peculiaridades e

implicações, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual.

No caso do idoso, além de garantir financiamento para o grupo, respeitando suas

peculiaridades, a política deve ser implementada nas três esferas de governo, em consonância

com os dispositivos do Estatuto do Idoso, com orientações preventivas aos agravos inerentes a

terceira idade (BRASIL, 2005a).

Outros fatores condicionantes do cuidado humanizado foram observados no

percurso dos idosos, dentre os quais se destacaram: ter atitudes humanizadas, resolver

objetivamente as situações de dor, alcançando o sucesso esperado no atendimento por saber

cuidar e valorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento.

Estes fatores, entretanto, não conseguem interferir plenamente no cuidado

humanizado porquanto o entendimento do processo saúde-doença bucal ainda não está

consolidado no estabelecimento de vivências individuais e coletivas, conforme Brasil (2005),

e nem disseminado nas atividades laborais de todos os profissionais, atuando como

comportamentos mais intensamente do que como rotinas a serem estabelecidas.

Algumas rotinas, todavia, já estão sendo observadas, como hábitos adquiridos e

não como conhecimento das políticas, portanto, não necessariamente estão

institucionalizadas, e entre elas foram pontualmente detectadas: o estabelecimneto de pactos

entre gestores públicos e entidades complementares do SUS, como na pactuação de

atendimentos cirúrgicos, odontológicos e médicos, nos Serviços de Cirurgia de Cabeça e

Pescoço e Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, com fluxos, agendas e

horários estabelecidos; a garantia de atenção igualitária pela capacitação das pessoas e a

implantação de ações custo – efetivas, na Clínica de Prótese Dentária, que sugerem

consonância entre as atitudes dos profissionais e os dispositivos legais.

Ademais, de acordo com Brasil (2004b), a proposta de humanização para atenção

à pessoa idosa está intimamente relacionada à produção das “linhas do cuidado” com

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estabelecimento de fluxos e ações resolutivas, relativas aos atos de acolher, informar, atender

e encaminhar, com acesso favorecido, identificando cada local da estrutura do serviço, a partir

de sua vivência nele, como também estabelecendo atenção voltada para as condições de vida.

Oriundos de um modelo mecanicista, biologicista, orientado para produção de

superfícies dentais restauradas e não superfícies dentais hígidas ainda hegemônico nas

práticas de saúde, foram observadas relações entre os idosos e os profissionais de saúde

comandadas por hábitos e crenças e que fortemente determinaram a execução de serviços, tais

como: atender com maior prontidão os pedidos da Direção e dos funcionários, do que os

usuários da Emergência e das Clínicas de Periodontia, Cirurgia, Prótese e Estética. articulando

ações e serviços.

Estes fatos foram corroborados por Moreira et al (2005) que, analisando o acesso

do idoso aos serviços de saúde, identificaram vinte e oito aspectos, sendo relevantes as

condições socioeconômicas, indicadores da saúde geral dos idosos, como a capacidade

funcional e a auto-avaliação em saúde; aspectos comportamentais, incluindo desde as crenças

pessoais até os tipos de tratamentos preferidos; e a organização e planejamento das ações de

saúde, composta dos tipos de serviços oferecidos que compõem a rede de atenção.

Além destas atitudes que transitam em meio ao acesso universal e igualitário, este

modelo curativo e mutilador requer a formulação de políticas públicas de promoção da saúde

que minorem suas conseqüências e seqüelas (MOREIRA et al, 2005).

A realidade revelada na pesquisa mostra que, mesmo numa unidade de saúde

especializada, como é o caso do CEO Centro, ainda é significativo o número de idosos que

necessita ser submetido a exodontia e remoção de resto radicular, chegando a ser realizados

127 procedimentos cirúrgicos entre os 811 realizados, no mês de setembro de 2006,

envolvendo no grupo observado, 35% (16) dos quarenta e cinco idosos.

Daí, se os atendimentos foram realizados, os profissionais estão conscientes do

dever cumprido e os usuários idosos ficaram satisfeitos, há de se aproveitar este contexto e

avançar rumo ao estabelecimento de ambientes, espaços e situações que os institucionalizem e

dêem garantias de que doravante algo será feito para sensibilizar os idosos para aderirem a

tratamentos dentários mais conservadores, uma vez que o quadro epidemiológico que se

apresenta revela a perda dental, como o resultado mais prevalente, acrescido da cárie dentária,

abrasão, doença periodontal, câncer de boca e lesões da mucosa bucal, e ainda requerendo a

devolução da auto-estima, confiança e segurança, principalmente para os desdentados

(MORIGUITI, MATOS e FERRIOLLI, 2002; APCD, 2001; BARATIERI, 2001; CFO,

2002).

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De conformidade com Fortes; Neri, (2004); Freire; Haddad, (1996); Legrand,

(2004); Lopes, (1999); Luft, (2004); Siqueira, (2001) e Luz, (2005), Silva; Souza e Wada

(2004); Brasil, (2006), as experiências de vida sendo respeitadas, as manobras técnicas

realizadas com paciência e habilidade e os sinais e sintomas sendo considerados, certamente,

as práticas humanizadas contemplarão os idosos com tratamentos mais conservadores,

reduzirão as perdas dentais, contanto que o “acolhimento preferencial em unidades de saúde

respeite critérios de risco e a formação permanente para os profissionais de saúde”. (BRASIL,

2006).

Pacientes satisfeitos no CEO Centro revelam que, além do atendimento

satisfatório, condições favoráveis foram criadas, queixas foram ouvidas, sinais foram

compreendidos, com habilidade, paciência e respeito às suas experiências de vida.

Elementos que dificultam esta atenção

Assim, é necessária a compreensão de que as situações indesejáveis, as barreiras e

as limitações também estiveram presentes e que cada idoso reagiu de modo singular,

dependendo de suas características pessoais e do seu contexto de vida.

Considerando, as nuanças da vida, os desejos das pessoas e as peculiaridades do

serviço durante o estudo, foi detectado maior número de desafios do que benefícios e avanços

do serviço. Sua decodificação, entretanto, necessitou de reflexões da pesquisadora, uma vez

que 95% dos idosos observados não demonstraram conhecer a legislação pertinente ao idoso,

nem manifestaram insatisfação com as omissões, desatenção ou negligência, e sim aceitaram

como limitações do serviço público que no momento precisa dar lugar para os idosos.

Assim, os idosos passaram por situações indesejáveis, incluindo:

� apelar para a caridade da assistente social;

� barrado bruscamente na porta;

� falta de privacidade;

� gastar muito tempo só para receber exames;

� não-realização de procedimentos durante o atendimento;

� percorrer corredores superlotados, utilizando jaleco aberto;

� realização dos procedimentos mais simples e mais rápidos;

� ser motivo de reclamações e de risadas (e outras);

� ser reclamado e ficar perdido dentro da sala;

� sofrer situações aterrorizantes e constrangedoras; e

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� submeter-se a exame desnecessário.

A partir da constatação das dificuldades, foi organizada outra listagem para a

categoria comportamentos, incluindo atitudes negativas dos sujeitos envolvidos, perante as

situações e vivências, cujos elementos impedem a atenção humanizada à saúde bucal dos

idosos, a seguir classificados:

� deixar de estabelecer fluxos e ações resolutivas;

� deixar de executar ações educativas voltadas para mudanças de hábitos;

� deixar dúvidas nas questões relativas à comunicação/ informação do idoso;

� desvalorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento;

� desvalorizar o saber – cuidar;

� dificultar a comunicação;

� escolher os procedimento mais rápidos e mais simples de serem executados;

� exagerar nas solicitações de radiografias;

� manter as práticas de poder;

� negar a escuta cuidadosa;

� permitir a falta de individualização;

� permitir exposições desnecessárias;

� prejudicar a eqüidade e o controle social;

� provocar descaso e desatenção;

� registrar procedimentos e pedir assinatura de mapas de produção antes de suas

realizações;

� realizar tratamentos desnecessários;

� realizar tratamento, desumano, vexatório e constrangedor;

� submeter o idoso a tratamentos que não educam nem modificam os hábitos;

� subutilizar os exames solicitados;

� subutilizar os resultados no que tange aos atos de informar e encaminhar;

� tentar não realizar atendimento;

� tratar com descaso a transmissão da informação; e

� utilizar-se do poder de maneira não positiva.

Entre as rotinas, também foram observados elementos que demonstraram

negligência às práticas de saúde, a saber:

� acolhimento realizado por vigilante armado;

� considerar importante apenas o atendimento clínico;

� descaso relativo à humanização e à qualidade do atendimento;

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� desconhecimento da Política de Humanização e da Política de Saúde Bucal;

� distorções e inadequações no perfil do serviço, minimizando o impacto;

� distorções e inadequações no perfil do serviço, prejudicando o avanço;

� perpetuação do desperdício;

� falta de ações preventivas e de promoção da saúde para o idoso;

� falta de articulação interna com o Laboratório de Prótese;

� falta de comunicação e informação;

� fragilidade na estrutura;

� humanização das relações ainda não se manifesta no cotidiano;

� não conseguem evitar as filas e barreiras burocráticas;

� não se importam com as condições dos locais de espera;

� não percebem o idoso;

� permitem barreiras físicas ao acesso;

� permitem perda de autonomia do paciente;

� reduzida oferta de procedimentos conservadores e de reabilitação; e

� priorizam as demandas individuais.

No que se refere às relações desfavoráveis ocorridas entre os sujeitos,

possivelmente incluem-se os hábitos, vícios, resistências, acomodações. Entre estas, foram

identificadas:

� descaso com a atenção cuidadosa e com o agendamento da clientela;

� desconhecimento da teia de situações e emoções que envolvem o idoso;

� desconhecimento das estratégias de facilitação do acesso;

� desconhecimento de ações resolutivas pertinentes ao acolhimento, à

informação, atendimento, encaminhamentos;

� desconhecimento ou negligência à Política de Humanização;

� desconhecimento ou negligência à Política de Saúde Bucal;

� desconhecimento ou negligência ao Estatuto do Idoso;

� fragilidade das estratégias de humanização do Sistema, programas e projetos;

� práticas de poder ainda hegemônicas nos serviços de saúde, chegando até a

constranger o próprio beneficiado;

� pouca resolubilidade em algumas ações e atividades.

Analisando as categorias que interferiram negativamente, é fato notório a

interferência das relações conflitantes da sociedade na produção, alteração e determinação do

processo saúde - doença e nos modos e modelos de produzir saúde (SOUZA, 1994).

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Segundo Souza (1994); Oliveira e Teixeira (1995), o atual quadro epidemiológico

e o perfil dos serviços de saúde bucal são, em parte, conseqüentes de um processo de

produção do cuidado ancorado em um modelo biologicista, mecanicista, excludente, sem

comunicação, competitividade, complementaridade, com forte apelo à intervenção clínica nos

serviços, desenvolvido em meio a um largo e descontrolado privilégio do setor privado, que

passou a ser o maior prestador, exigindo tecnologias, produtos e insumos internacionais

sofisticados e caros, muitas vezes desconhecidos e até difíceis de manipular, implantado no

País a partir dos anos 1930, num contexto histórico de acumulação capitalista, carecendo de

uma Política Nacional de Saúde Bucal voltada para os interesses da maioria da população e do

repasse de conhecimentos e informações.

Seguindo este quadro, acrescente-se a inversão das propostas, e não plenamente

das atitudes, a partir da institucionalização do SUS, refletido no aumento da expectativa de

vida das pessoas; no contingente de idosos na população; na busca destes idosos por

atendimentos especializados em Odontologia, porém portadores de uma herança – um saldo

cumulativo de lesões, uma fragmentação dos serviços e uma consciência crítica incapaz de

compreender este quadro instalado como conseqüência do modelo e não como característico

do envelhecimento.

Em meio a esta transição do modelo, ao desenvolvimento econômico e pela

introdução de medidas de saúde pública, ocorreu outras transições: epidemiológica, com

acúmulo de doenças infecto-contagiosas e predominância de doenças crônico-degenerativas;

demográfica, onde o envelhecimento da população é algo que está presente na prática diária

dos serviços, mas não ocorreu com a mesma intensidade uma transição na formação e atitudes

dos profissionais de saúde, observando-se que há um despreparo dos profissionais da área da

saúde e de áreas afins para lidar com a população idosa e propiciar uma atenção cuidadosa e

paciente para este segmento etário (BERQUÓ, 2004; BRASIL, 2007; CAMARANO, 2005).

Daí, durante a pesquisa no CEO Centro, foram observadas situações, condições e

fatos que revelaram os elementos que interferem negativamente na atenção humanizada à

saúde bucal, desde o desconhecimento de condutas pessoais de higiene oral até as diretrizes

das políticas públicas de saúde bucal e humanização, oxalá, das grandes reflexões, entre os

autores e o cotidiano dos serviços sobre a influência dos valores éticos na fundamentação das

ações de humanização, envolvendo princípios, valores, direitos e deveres, destacando a

importância da dimensão humana nas relações profissionais (SOUZA, 1996; BACKES;

LUNARDI e LUNARDI FILHO, 2006).

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82

Assim, os idosos passaram por situações indesejáveis e constrangedoras, que

reuniram insucessos em todos os passos do atendimento, a partir do Passo 1- Chegada ao

CEO, local de intenso comércio e corredor de ônibus e outros transportes, além de ser área da

Cidade conhecida pela violência urbana, nem sempre conseguindo acompanhantes, barrados

bruscamente nas portas da Unidade e no Sistema como um todo, chegando a precisar apelar

para a caridade dos funcionários a fim de conseguir uma dentadura, após três anos de idas e

vindas entre o CEO Centro e os postos de saúde do Município de Fortaleza, e recebendo como

resposta outro “não” ao pedido de “por amor de Deus”.

De acordo com o Brasil (2005b), a acessibilidade aos serviços de saúde é

complexa, pluralista, necessitando conhecimento da rede local e de fluxos devidamente

estabelecidos.

No Passo 2 - acolhimento e recepção - aconteceram, concomitantemente, com o

Passo 1, tendo-se observado um acolhimento caloroso, porém de cunho fiscalizador, e de

barreira propiciado por vigilantes armados, já intimidando os idosos, na porta de entrada da

Unidade, fato evidenciado nos estudos de Santos e Assis (2006), quando constataram que é

permitido e planejado que o setor de recepção assuma papel eminentemente administrativo ou

de barreira para limitar o acesso.

O Passo 3 – Marcação de Consultas. Quando recebido pelo vigilante, inicia-se

novo processo inibidor de acesso ou, conforme conhecido, legalizador do acesso, a maratona

das guias de referência, bilhetes, cartões ou no mínimo a procura de uma pessoa conhecida,

não conseguindo evitar as filas e barreiras burocráticas, nem a priorização de demandas

individuais, conseqüentemente levando-os ao Passo 4.

No Passo 4 – Espera. Foram observadas diversas atitudes, comportamentos e

rotinas, que envolveram os idosos, desde o pronto atendimento até a “espera sem futuro”, já

anteriormente planejada. Entre eles, destacaram-se: a fragilidade da estrutura, não sendo

levada em consideração, pois os corredores sempre estão superlotados, há pessoas de pé e que

eventualmente cedem lugar aos idosos. Porém, isto, ainda não é considerado, sendo que os

funcionários vão e voltam pelos corredores e nem cumprimentam os usuários. Portanto, não

se importam com as condições dos locais de espera.

Foi observado que os idosos parecem também não se importar com a espera, pois,

semelhante aos profissionais, consideram importante mesmo é o atendimento clínico. Não

interessa quanto tempo vão esperar se suas vagas estão garantidas, se já conseguiram

ultrapassar os passos anteriores. Então, se encaminham para o tão esperado Passo 5.

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O Passo 5 – atendimentos - está composto pelos atendimentos para informações,

Serviço Social, Enfermagem e o atendimento odontológico.

A informação é outro elemento que impede o desenvolvimento de uma atenção

humanizada em virtude do seu uso indevido. Fator extremamente relevante na sociedade do

século XXI, a comunicação/ informação, na maioria das vezes, está truncada, pela

possibilidade de incorporar valor a quem a dispõe (técnicas e condutas terapêuticas mais

recentes, agendas dos profissionais etc.); não terem interesse, subutilizando os resultados no

que tange aos atos de informar e encaminhar; e muitas vezes não sabendo interpretar as

informações (exames complementares e radiografias solicitadas), deixando dúvidas ou não

fazendo uso deles, tratando com descaso a transmissão da informação e prejudicando a

eqüidade e o controle social, ou no mínimo conduzindo-os a esperas intermináveis.

Concordando com estes dados, Silva (2002) sugere a necessidade de tornar mais

conscientes e claras as comunicações não verbais mantidas com os pacientes , a fim de que

fiquem atentos e criem vínculos, enquanto Ruyperez e Lorente (2000) alertam para o fiel

cumprimento dos passos operatórios e respeito às informações necessárias e peculiaridades,

durante os atendimentos especializados à população idosa.

No que se refere ao atendimento odontológico, foi observado que, ao ingressarem

para o atendimento odontológico, a ACD, de posse da ficha clínica individual e do mapa de

produção diária, pergunta o nome, a idade do idoso e pede para assinar o mapa de produção,

legalizando o atendimento, antes de sua realização e em seguida mostra onde sentar na cadeira

odontológica. Para a maioria dos CDs, não interessa este momento. É o instante de imposição

e manutenção do poder, limitando-se a um diálogo monossilábico, intimidando a escuta

cuidadosa, chegando até a constranger o idoso numa escala ascendente de reclamações,

palpites, piadas e risadas, permitindo aos seus pares o descuidado e realizar o máximo

possível de procedimentos no mínimo possível espaço de tempo.

O tempo clínico é utilizado na maioria das vezes para execução de procedimentos

cirúrgicos, conservadores ou de reabilitação, sem possibilitar a execução de ações educativas

voltadas para mudanças de hábitos nem valorizar o saber cuidar e o idoso como sujeito do seu

tratamento.

Acrescidos a este fato, outros episódios afligiram os idosos, na sua dignidade,

como ser motivo de reclamações e risadas por desconhecer o equipamento odontológico, os

tempos operatórios dos procedimentos ou pela “ousadia” de perguntar se não vão fazer nada,

ou por que o serviço foi tão rápido, já que esperaram e perderam tanto tempo.

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Neste caso, segundo Santos e Assis (2006) constataram, que os CDs, no ato de

cuidar, escolhem os procedimentos mais rápidos e mais simples de executar, decidindo,

inclusive, sobre os procedimentos terapêuticos e dependem do equipamento odontológico.

Acrescido a estes elementos, incluem-se as questões mais subjetivas, como a falta

de privacidade nas recomendações; percorrer corredores superlotados, parcialmente vestido;

ou se perder, para fazer uma radiografia que o doutor nem olhou...

Esta constatação também foi verificada por Ayres (2004), percebendo uma

contraposição entre a elevada densidade tecnológica e cientifica e a tímida capacidade de

responder às complexas necessidades de saúde da população.

Da mesma forma, Backes; Lunardi e Lunardi Filho (2006) e Gomes (2005),

observando as práticas e a ética de profissionais da saúde no âmbito hospitalar e ambulatorial,

verificaram que estas práticas vêm desumanizando-se ante a atenção à doença, e não ao ser

doente, concluindo que somente o “empoderamento” do usuário e valorização da opinião e do

julgamento leigo poderão minimizar estas distâncias, o que já ocorre mediante os

acompanhantes e familiares que utilizam estratégias populares e domésticas.

Conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas

A partir das listagens da categoria comportamentos com atitudes favoráveis e

desfavoráveis entre os sujeitos, presume-se parte do nível de conhecimento e de aplicabilidade

das linhas do cuidado, preconizadas para o idoso na política de humanização e nas diretrizes

da política de saúde bucal vigentes.

Segundo os princípios constitucionais do SUS, tanto os profissionais da saúde

como os seus pacientes idosos deveriam estar conscientes e lidar com estas políticas de forma

proativa, construtiva e processual, pois é possível a inversão ou sobreposição de papéis,

passando de sujeito executor para sujeito receptor das ações de saúde.

Portanto, os dados obtidos nas observações sugerem que alguns comportamentos

demonstram que o conhecimento das linhas do cuidado é tímido, esquecido ou tem pouca

visibilidade. Assim, foram elencadas atitudes dos profissionais de saúde e dos seus usuários

idosos, tais como:

� as condições de espera diante da rotina da Unidade de Saúde não são avaliadas;

� não se ouviu ou percebeu atitudes do chefe de Clínica com relação à

humanização das práticas de saúde;

� os dados pessoais do idoso são investigados mas não são utilizados;

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� percebe-se que ainda perduram no SUS as práticas de poder e seu uso de

maneira não positiva; e

� questões relativas à eqüidade e ao controle social no SUS nem sempre são

levados em consideração, prejudicando a atenção humanizada e àqueles que

mais precisam de atenção.

Na categoria rotinas, foi possível observar algumas práticas incorporadas e

consagradas que podem representar os níveis de conhecimento e aplicação das politicas e que

foram implantadas ao longo da história da Unidade e do SUS, ora numa posição de vanguarda

e em outros momentos à margem do estabelecimento do SUS, mas adequando-as à realidade

local e ao perfil da unidade.

Assim, foram enumeradas as seguintes considerações como preditoras do

conhecimento e aplicabilidade das politicos, em relação aos idosos:

� os profissionais são mais amorosos com os idosos;

� as distorções no perfil do Serviço de Urgência e Emergência prejudicam o

avanço das atividades e minimizam o impacto do serviço, comprometendo a

humanização;

� não estão programadas alterações na estrutura da Clínica de Estomatologia,

embora seja uma das especialidades mais procuradas pelos idosos;

� não existem ações preventivas e de promoção da saúde, programadas para

idosos;

� não existe espaço de acolhimento para o idoso;

� não existe serviço de fonia; e

� os atendimentos de urgência e emergência são preferenciais para os idosos.

Quanto ao conhecimento das pessoas e aplicabilidade das políticas ser mensurada

mediante a categoria relações, torna-se tarefa extremamente subjetiva e hipotética, uma vez

que não são desenvolvidas atividades de Educação em Saúde e nem existem grupos de apoio,

com participação dos usuários, para discutir tais assuntos, exceto algumas discussões

individuais tratadas na Ouvidoria.

Portanto, o conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas de saúde bucal e

de humanização de que são portadores os profissionais de saúde e usuários idosos do CEO

Centro foi traçado a partir da interpretação dada pela pesquisadora diante das observações

realizadas.

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Embora de caráter observacional e interpretativa, considerou-se segura e fidedigna

pela repetição dos eventos observados ao longo de trinta dias, verificando as falas, atitudes,

gestos, sinais.das pessoas.

Segundo Brasil (2004), a humanização se configurará como política pública a

partir de sua manifestação no cotidiano, das práticas, ações técnicas e rotinas de trabalho,

devendo ocorrer mudanças no setor educacional, na formação profissional e no conhecimento

das políticas públicas.

Estes condicionantes tiveram aspectos positivos e negativos entre os diversos

setores, profissionais e usuários idosos, que em algumas situações configuravam um cenário

favorável ao desenvolvimento das políticas e, em outros, acusaram omissão, desconhecimento

e negligência.

De acordo com Rigueira, (1996); Glickman; Carranza, (1992); Lascala, (1994);

Lindhe, (1992), a prática diária evidenciará os avanços e limitações no conhecimento e

aplicação das políticas voltadas para o idoso, principalmente se forem referenciadas ações

voltadas para a promoção e prevenção das perdas dentárias como orientações corretas sobre

higienização e controle da placa bacteriana. Para Seraidarian e Paes Júnior (2002), as ações

deverão ser mais diretas e direcionadas para compensações no que se relaciona as perdas

ósseas ocorridas nos remanescentes dos rebordos alveolares, o que remete para o incentivo à

capacitação dos profissionais.

Revisitando as informações da pesquisa no CEO Centro, verifica-se claramente o

desconhecimento das seguintes situações:

� ausência de ações humanizadas permanentes para o acolhimento e informação;

� ausência da distinção entre os idosos e os demais clientes;

� desconhecimento da teia de situações e emoções que envolvem o idoso;

� existência de atitudes humanizadas nos atendimentos clínicos, de enfermagem

e do Serviço Social;

� existência de equipe técnica, de espaço no Centro de Estudos e da logomarca

do Programa de Humanização da Rede SESA;

� falta de ações preventivas e de promoção da saúde para o idoso;

� fragilidade das estratégias de humanização do Serviço;

� inexistência de manuais, folder, panfletos ou outros documentos para

divulgação das políticas de saúde bucal e de humanização;

� a humanização das relações ainda não se manifesta no cotidiano;

� o idoso não tem autonomia como parte do processo de atenção; e

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� a utilização de opções domésticas e tímidas na resolução de problemas que

impliquem articulações intersetoriais.

Diante deste elenco de circunstâncias, torna-se evidente o fato de que grande parte

dos profissionais do CEO Centro e seus clientes idosos desconhecem as diretrizes das

Políticas de Saúde Bucal, Humanização, Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso.

Neste sentido, Benevides e Passos (2005) sugerem uma urgente reavaliação do

conceito de humanização da atenção e de sua configuração como uma política pública

transversal relativamente a banalização com que o tema é tratado, assim como pela

fragmentação das práticas ligadas a programas de humanização.

Desta análise, se conclui que a garantia de uma atenção cuidadosa dependerá da

divulgação ampla, de grandes incentivos na capacitação das pessoas e que a discussão e o

acompanhamento das políticas se tornem tarefas na consolidação da cidadania.

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6 ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais

Observar o percurso realizado por quarenta e cinco idosos no CEO Centro,

tentando receber atenção odontológica numa etapa da vida que por si só já representa uma

vitória, foi uma decisão enriquecedora e que possibilita a qualquer pessoa que queira tentar

esta experiência conhecer os detalhes multifacetados da convivência com pessoas idosas.

Permite um começar de novo com esta gente de fibra pois são estes idosos que,

sozinhos ou acompanhados de seus cuidadores, dão lições de persistência perante a vida,

brincando com ela e rindo dela, porque de novidade só tem o novo dia.

De tudo já experimentaram, já aprenderam, já saborearam um pouco, mas, nem

tudo foi devidamente controlado, aproveitado ou bem cuidado.

Os dentes, já nasceram, já mastigaram, já doeram, já foram aproveitados,

clareados e outros já foram embora. Aí, levaram tecidos e sorrisos, mas não levaram a

possibilidade de serem obturados, restaurados, implantados, trocados e até ficarem guardados.

E tudo isso, com nova tecnologia, novos materiais e novos e velhos profissionais, que cada

vez mais precisam melhor se preparar para atender os anseios das novas gerações e da velha

guarda.

Com o espírito desprendido de tabus, suposições, inferências e verdades, a

pesquisadora observou em silêncio, horas à distância e em outros momentos ao lado dos

idosos, para captar qualquer pequeno e sutil detalhe do cuidado que lhes era dispensado.

Neste peregrinar entre a porta de entrada do CEO Centro e os diversos locais por

onde passaram, foi uma viagem no tempo, na história da Odontologia, nas políticas públicas e

nos passos recomendados ou encaminhados para realização de mais um tratamento dentário.

Se os passos das pessoas são lentos, não faz diferença, pois o tratamento também

é, mas não são leves, são pesados, descompassados ou até invertidos.

Neste caminhar, ao lado destes idosos, não falando com eles, mas falando deles,

espera-se ter chegado a um lugar comum: identificar os fatores positivos, negativos da

atenção humanizada em saúde bucal dispensada a estas pessoas e, neste trajeto, chegou-se às

seguintes conclusões, com base nas interpretações das situações observadas.

O Passo 1 – Chegada ao CEO representou para todos os idosos investigados uma

vitória pela possibilidade de conseguir um atendimento diante de uma agenda tão seletiva e

burocrática, mesmo que no início tenha sido por indicação, recomendação, referência ou pela

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porta da Emergência. O local é de fácil acesso e muito conhecido e pode vir a qualquer hora

do dia ou da noite.

O Passo 2 – Acolhimento e Recepção. Este já é um passo desleixado. O vigilante

armado é gentil, cortês, mas é guarda de valores, de segurança e não acompanhante de gente.

Faz seu trabalho, de pé, mas vigiando e não acolhendo, mas como só tem ele! Onde está a

turma da Humanização e do Serviço Social? É possível se fazer um trabalho de Sala de

Espera neste local? De acordo com Brasil (2006), a saúde do idoso será considerada

prioridade e o acolhimento em unidades de saúde será preferencial, respeitando critérios de

risco e a formação permanente para os profissionais de saúde.

Após o primeiro cumprimento, o vigilante encaminha os idosos de acordo com o

documento de posse. Se for para o Serviço de Urgência e Emergência, o requisito básico é o

critério de risco, não precisa de documentação. Se for fazer exodontia, o critério será a fila de

registro de pressão arterial, porém, se o tratamento requisitado é eletivo, tem que passar pelo

Guichê de Marcação de Consultas, entretanto, existem outras recepções que não respeitam

critérios de risco, mas quem indica e têm o privilegio de caminharem de braços dados com

seus padrinhos. Não ficam na fila, não esperam, chegam por último e são atendidos primeiro.

Portanto, o Passo 2 também tem sua estrutura e perfil de humanização e de saúde

bucal comprometido com outras demandas, que desorganizam o fluxo, ferem a dignidade do

idoso, que é pontual, fragmentando sua cidadania, mas conseguiram satisfazer e organizar a

realização de 811 consultas para idosos, durante o mês de setembro de 2006.

Santos e Assis (2006), pesquisando sobre acolhimento, relatam que igualmente ao

CEO Centro, o acolhimento acontece nos micro-espaços das relações individuais e coletivas e

a recepção funciona com critérios administrativos, sendo meio de barrar ou limitar o acesso.

O Passo 3 – Espera. Esperar não é uma tarefa complicada para idosos, porém

quem espera tem um objetivo e, na observação realizada, foi detectado desde a espera

respeitosa, com horário agendado, até a dar um tempo que chegou, para depois avisar que a

CD estava no CEO, mas não ia atendê-la porque estava muito ocupada, preparando uma

Jornada dos Funcionários. Além do tempo, os corredores são superlotados, o que não foi

motivo de pânico para os idosos, pois o único interesse está no atendimento odontológico.

Este passo também apresenta seu perfil comprometido, uma vez que não são

realizados trabalhos de sala de espera, nem atividades grupais.

De conformidade com Brasil (2004b), o sucesso da sala de espera está envolvido

com sua participação no acesso e sugere a organização de grupos de pessoas idosas nas

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unidades de saúde com desenvolvimento de atividades de educação e prevenção, além de

sugerir a reserva de horário e dias específicos para atendimento.

O maior interesse dos idosos no Passo 5, entretanto, é pelo atendimento

odontológico, ocorrente de forma mecanicista, biologicista, não observando critérios de risco,

mas com a execução dos menores e mais simples procedimentos no menor espaço de tempo.

Os comportamentos dos profissionais, indistintamente, são pessoais, zelando pela atividade

técnica em detrimento da capacidade relacional e do cuidar.

Segundo Ferreira (2005), esta diversidade de desdobramentos e processos de

trabalho sugerem a conversão da dimensão técnica do trabalho em dimensão relacional,

ofertando qualidade e melhoria no acolhimento, nos ambientes de cuidado e nas condições de

trabalho dos profissionais.

Neste passo, observando todas as fases de mudança, concluiu-se que existem

comportamentos, rotinas e relações não institucionalizadas, mas que funcionam como

protocolos e correspondem às diretrizes da Política de Saúde Bucal e de Humanização,

contendo fatores que contribuem para uma atenção humanizada e elementos que dificultam

esta atenção.

Reunindo os comportamentos, rotinas, relações e demais agendas que organizam

os serviços, além da ausência total de documentos relativos às políticas públicas, o estudo

sugere que os profissionais do CEO Centro e os seus usuários idosos desconhecem as

diretrizes da Política de Saúde Bucal e da Política de Humanização.

Assim, percorrer, juntamente com quarenta e cinco idosos, as viagens realizadas

internamente no CEO Centro, para identificar os fatores que interferem positivamente na

atenção humanizada e os elementos que dificultam esta atenção, deixou um campo muito

claro e seguro para sugerir ações a serem implementadas entre os profissionais de saúde e

seus usuários idosos.

Se as questões expostas se referem a transformar os comportamentos, rotinas e

relações em diretrizes das políticas, sugere-se a formação de grupos de estudos para

fundamentar a transição e elaborar os protocolos dos serviços.

Considerando as diretrizes do Estatuto do Idoso, propõe-se a divulgação das

orientações preventivas aos agravos inerentes à terceira idade, respeitando as peculiaridades

locos-regionais e as esspecificidades inerentes ao idoso

É preciso redefinir os critérios para solicitação de exames radiológicos, ampliando

a importância do diagnóstico e reduzindo o número de exposições desnecessárias a que são

submetidos os idosos.

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Também, entende que se estabeleça critérios e se defina a utilização do serviço de

verificação de pressão arterial.

Em virtude de a maioria dos idosos apresentar saúde bucal precária, sugere-se a

utilização permanente de medidas intervencionais focalizadas. como a Educação em Saúde e

o tratamento precoce.

É urgente promover, no Centro de Estudos, cursos de humanização e cursos

voltados para a promoção de saúde bucal, bem como sensibilizar os idosos para adesão a

tratamentos dentários mais conservadores.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A - Autorização Institucional Prezada Senhora Diretora:

Sou cirurgiã-dentista e aluna do Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará- MPPP. Estou desenvolvendo um estudo com o título: Saúde Bucal do Idoso: a humanização como diferencial no cuidar, para analisar se a atenção em saúde bucal proporcionada ao idoso é humanizada, procurando investigar o conhecimento e a aplicabilidade das diretrizes das políticas de saúde bucal e de humanização; identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam esta atenção; e propor ações que venham a possibilitar atendimento humanizado e contextualizado, mediante a observação simples do percurso diário realizado por pessoas idosas, desde o acolhimento na recepção até a conclusão do atendimento.

Esclareço que os limites teóricos da observação simples determinam que os sujeitos e ambientes de trabalho a serem observados, ouvidos e vistos, sem fazer perguntas, dirigir a palavra ou fazer considerações, respeitando o que preceitua a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que garante aos sujeitos da pesquisa, o sigilo na identidade, no relatório e nas publicações, e disciplina os quatro princípios da Bioética: autonomia, não - maleficência, beneficência, justiça e eqüidade.

Neste sentido, estou solicitando sua colaboração e autorização para circular nas dependências do Centro Especializado de Odontologia- CEO Centro, observando os idosos.

Deixo claro que as informações serão sigilosas, não falarei para ninguém e principalmente seus nomes não serão, em nenhum momento, divulgados. E, caso os idosos, cuidadores, acompanhantes e funcionários sintam-se constrangidos (as), durante a observação têm o direito de pedir para interrompê-la se não aceitarem a observação e a presença da pesquisadora, o que será plenamente acatado.

As informações obtidas no campo serão acrescidas e comparadas com os dados que encontrei na literatura, nos documentos oficiais, em jornais, revistas e na Internet, que outras pessoas falaram, estudaram ou transformaram em leis e farão parte de minha dissertação para conclusão do Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas, sempre respeitando o caráter confidencial. Pretendo além de avaliar o atendimento aos idosos no CEO Centro, apontar no estudo benefícios para a humanização do trabalho. Informo ainda, que:

▪ mesmo sendo concedida a autorização, se por qualquer motivo o participante resolver desistir, tem toda liberdade para retirar a sua autorização;

▪ sua colaboração e participação poderão trazer benefícios para o desenvolvimento da ciência e para a melhoria da saúde bucal do idoso e de sua condição de vida;

▪ permitir a observação não trará riscos para o participante, para sua família nem para o CEO Centro, entretanto, caso se sinta constrangido (a), interromperá a pesquisa;

▪ estarei disponível para qualquer outro esclarecimento, no endereço: Avenida Bezerra de Menezes, 1409, São Geraldo, Fortaleza – Ceará , ou poderei ser contatada pessoalmente, pelos telefones (xx 85)3478.01.81, e 91.44.52.23 ou fazê-lo, por escrito.

▪ Caso queira o participante reclamar sobre o trabalho, poderá dirigir-se à Universidade Estadual do Ceará ou pelo telefone (xx85) 31.01.98.80.

Em fase destes motivos, gostaria de poder contar com sua colaboração. Atenciosamente, ___________________________

Maria Aragão Sales Cavalcante Fortaleza, 1 de setembro de 2006

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