satisfaÇÃo e qualidade de vida de paciente com...

9
52 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 SATISFAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTE COM PRÓTESE UNITÁRIA IMPLANTOSSUPORTADA: CASO CLÍNICO Satisfaction and quality of life in a patient with implant-supported single-tooth crown: a case report Fernando Salimon Ribeiro 1 , Matheus Domingos Amaro 2 , Patrícia Braga de Paula Ferreira 2 , Elizangela Partata Zuza 1 , Juliana Rico Pires 1 , Ana Emília Farias Pontes 1 1 Professores do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB – Barretos/SP. 2 Alunos do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB – Barretos/SP. Recebimento: 13/12/14 - Correção: 20/01/15 - Aceite: 04/02/15 RESUMO Questionários que quantificam dados subjetivos podem ser úteis para registrar a opinião dos pacientes. O objetivo deste estudo foi relatar a aplicação dos questionários de satisfação e de qualidade de vida em uma paciente tratada por meio de prótese unitária implantossuportada. Para isto, foi incluída uma paciente que teve implante dentário osseointegrável instalado em área estética. A satisfação estética e funcional focando a mastigação, fonação e autoestima foi avaliada por meio de uma Escala Visual Analógica (escala de zero a dez) e a Qualidade de Vida o foi por meio do questionário OHIP-14. O valor de satisfação estética obtido foi de 9,7, enquanto no quesito fonação, o valor encontrado foi de 9,9 resultando em média de 9,8, mostrando efetividade do tratamento e uma alta satisfação da paciente. O valor total obtido pela avaliação do OHIP-14 foi de 0,45, o que sugere boa qualidade de vida. Dentro dos limites do presente caso clínico, sugere-se que os questionários empregados sejam de fácil preenchimento, eficientes em quantificar as sensações da paciente e que a reabilitação implantossuportada levou à melhora na satisfação e qualidade de vida. UNITERMOS: Estética, implante dentário, questionários, escala analógica visual de dor. R Periodontia 2015; 25: 52-60. INTRODUÇÃO Os implantes dentais osseointegráveis fabricados em titânio foram inicialmente desenvolvidos para estabilização das próteses totais (Branemark et al., 1969). Tal modalidade de tratamento, também denominada “prótese do tipo protocolo” apresenta boa previsibilidade, mesmo em acompanhamentos em longo prazo, com índice de sucesso em torno de 96 e 99% (Galindo & Butura, 2012; Filippi et al., 2013; Krennmair et al., 2013). Como uma evolução natural da ciência, passou-se a estudar também o uso de implantes para suportar próteses parciais e unitárias. Jent et al . (1990) apresentaram a experiência de instalação de implantes para substituir dentes unitários, com três anos de acompanhamento clínico. Vinte e três implantes, sendo cinco cônicos e 18 cilíndricos foram avaliados em 16 pacientes. Exames clínicos, radiográficos e microbiológicos foram realizados, constatou-se a falha de dois implantes, legando uma taxa de sucesso de 91%, o que foi considerado um resultado favorável pelos autores. Desde então, outros estudos foram desenvolvidos revelando valores que giram em torno de 93,3%, como exposto por Carvalho et al. (2013), após 15 anos de observação; e 96,8%, de acordo com Bergenblock et al. (2012), com 18 anos de acompanhamento. Para ser considerado bem sucedido, segundo Davarpanah et al. (2003), o implante deve responder a diversos critérios: funcionais, incluindo mastigação e fonação; psicológicos, representado pela ausência de dor, desconforto e resultado estético satisfatório; e fisiológicos, com obtenção e manutenção da osseointegração e ausência de inflamação tecidual. Com este fim, Albrektsson et al. (1986) propuseram um método que foi amplamente utilizado para avaliação dos implantes que foi depois atualizado por Albrektsson e Zarb (1993). Este método foi empregado em estudo prévio publicado por Ribeiro et al. (2008). Contudo, estudos que avaliem a opinião do paciente são menos difundidos, mas não menos importantes, pois nem sempre há acordo com a impressão que o profissional tem sobre o resultado final de um tratamento (Esposito et

Upload: vutram

Post on 02-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

52 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01

SATISFAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTE COM PRÓTESE UNITÁRIA IMPLANTOSSUPORTADA: CASO CLÍNICOSatisfaction and quality of life in a patient with implant-supported single-tooth crown: a case report

Fernando Salimon Ribeiro1, Matheus Domingos Amaro2, Patrícia Braga de Paula Ferreira2, Elizangela Partata Zuza1, Juliana Rico Pires1, Ana Emília Farias Pontes1

1 Professores do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB – Barretos/SP.2 Alunos do Curso de Odontologia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB – Barretos/SP.

Recebimento: 13/12/14 - Correção: 20/01/15 - Aceite: 04/02/15

resUMo

Questionários que quantificam dados subjetivos podem ser úteis para registrar a opinião dos pacientes. O objetivo deste estudo foi relatar a aplicação dos questionários de satisfação e de qualidade de vida em uma paciente tratada por meio de prótese unitária implantossuportada. Para isto, foi incluída uma paciente que teve implante dentário osseointegrável instalado em área estética. A satisfação estética e funcional focando a mastigação, fonação e autoestima foi avaliada por meio de uma Escala Visual Analógica (escala de zero a dez) e a Qualidade de Vida o foi por meio do questionário OHIP-14. O valor de satisfação estética obtido foi de 9,7, enquanto no quesito fonação, o valor encontrado foi de 9,9 resultando em média de 9,8, mostrando efetividade do tratamento e uma alta satisfação da paciente. O valor total obtido pela avaliação do OHIP-14 foi de 0,45, o que sugere boa qualidade de vida. Dentro dos limites do presente caso clínico, sugere-se que os questionários empregados sejam de fácil preenchimento, eficientes em quantificar as sensações da paciente e que a reabilitação implantossuportada levou à melhora na satisfação e qualidade de vida.

UNiterMos: Estética, implante dentário, questionários, escala analógica visual de dor. R Periodontia 2015; 25: 52-60.

INTRODUÇÃO

Os implantes dentais osseointegráveis fabricados em titânio foram inicialmente desenvolvidos para estabilização das próteses totais (Branemark et al., 1969). Tal modalidade de tratamento, também denominada “prótese do tipo protocolo” apresenta boa previsibilidade, mesmo em acompanhamentos em longo prazo, com índice de sucesso em torno de 96 e 99% (Galindo & Butura, 2012; Filippi et al., 2013; Krennmair et al., 2013).

Como uma evolução natural da ciência, passou-se a estudar também o uso de implantes para suportar próteses parciais e unitárias. Jent et al. (1990) apresentaram a experiência de instalação de implantes para substituir dentes unitários, com três anos de acompanhamento clínico. Vinte e três implantes, sendo cinco cônicos e 18 cilíndricos foram avaliados em 16 pacientes. Exames clínicos, radiográficos e microbiológicos foram realizados, constatou-se a falha de dois implantes, legando uma taxa de sucesso de 91%, o que foi considerado um resultado favorável pelos autores.

Desde então, outros estudos foram desenvolvidos revelando valores que giram em torno de 93,3%, como exposto por Carvalho et al. (2013), após 15 anos de observação; e 96,8%, de acordo com Bergenblock et al. (2012), com 18 anos de acompanhamento.

Para ser considerado bem sucedido, segundo Davarpanah et al. (2003), o implante deve responder a diversos critérios: funcionais, incluindo mastigação e fonação; psicológicos, representado pela ausência de dor, desconforto e resultado estético satisfatório; e fisiológicos, com obtenção e manutenção da osseointegração e ausência de inflamação tecidual. Com este fim, Albrektsson et al. (1986) propuseram um método que foi amplamente utilizado para avaliação dos implantes que foi depois atualizado por Albrektsson e Zarb (1993). Este método foi empregado em estudo prévio publicado por Ribeiro et al. (2008).

Contudo, estudos que avaliem a opinião do paciente são menos difundidos, mas não menos importantes, pois nem sempre há acordo com a impressão que o profissional tem sobre o resultado final de um tratamento (Esposito et

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 52 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

53An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

al., 2009). Para viabilizar a quantificação de sentimentos de um indivíduo um dos recursos largamente utilizados é a Escala Visual Analógica (EVA), muito usada nas avaliações da dor (Spin-Neto et al., 2014).

Em Implantodontia, Pjetursson et al. (2005) avaliaram a satisfação de pacientes com estética e fonação após 10 anos de acompanhamento de diferentes tipos de reabilitações, unitárias e múltiplas, revelando valores médios de 93 ± 13 (escala de 0 a 100). No estudo de Cho et al. (2010) a avaliação da satisfação de 41 pacientes foi quantificada após a instalação de implantes unitários; assim a pontuação média registrada foi de 86 (escala de 0 a 100). Por sua vez, Baracat et al. (2011) empregaram a EVA na constatação de que a terapia com implantes dentários pode superar de forma significativa as expectativas iniciais dos pacientes, e que estas tem uma correlação negativa com a idade do paciente.

Por outro lado, para avaliar a qualidade de vida de um indivíduo, o questionário OHIP (abreviação do termo inglês “Oral Health Impact Profile”) desenvolvido por Slade e Spencer (1994) vem sendo largamente empregado, mais especificamente sua versão simplificada, com 14 perguntas, denominado OHIP-14. Os questionamentos abrangem limitações funcionais, dor física, desconforto psicológico, incapacidade física, incapacidade psicológica, incapacidade social e invalidez. O paciente tem opções predeterminadas para resposta permitindo que a escala varie de zero a 24, sendo que quanto menor o valor, melhor a qualidade de vida.

Na população brasileira, a confiabilidade do OHIP-14 e o impacto da saúde bucal na qualidade de vida foram avaliados por Alvarenga et al. (2011). Os autores relataram que a consistência interna do OHIP-14 foi boa (alpha-Cronbach = 0,78); e na amostra avaliada, a média final do questionário foi de 4,98, sendo as maiores pontuações atribuídas ao aspecto da dor física, tanto na afirmação “sentir-se incomodado ao comer algum alimento” (21,50%), quanto em “sentir fortes dores na boca” (11,40%).

Em implantodontia, Att e Stappert (2003) relataram caso clínico de um paciente de 66 anos, com pobre higiene oral e atrofia dos rebordos, múltiplos dentes cariados e desvitalizados, periodontite crônica moderada, mordida cruzada bilateral posterior, coroas e próteses parciais removíveis defeituosas. Os valores obtidos no OHIP-14 antes do tratamento foram de 3,5 para limitação funcional; 2,9 para dor física; 2,9 para desconforto psicológico; 2,0 para incapacidade física; 2,8 para incapacidade psicológica; 2,8 para incapacidade social; e 1,7 para invalidez. O tratamento envolveu instrução de higiene bucal, cessação do fumo, extração dos dentes, instalação de próteses totais superior e inferior implantomucossuportadas com encaixe de barra.

Um mês após a conclusão do tratamento, todos os valores foram “1”, confirmando que houve uma melhora significativa da qualidade de vida do paciente.

Na população brasileira, Mendes (2008) avaliaram o efeito da substituição e reparo de próteses mucossuportadas e implantorretidas, do tipo “overdenture”, na qualidade de vida. Treze pacientes com próteses insatisfatórias foram incluídos no estudo, sendo três reparos e dez substituições. Houve melhora estatisticamente significante quanto à retenção de alimentos sob a prótese e dificuldade de mastigar determinados alimentos. A autora conclui que a troca ou reparo das próteses melhoraram significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Por fim, Strassburger et al. (2006) defendem que estudos adicionais sejam realizados para coletar dados sobre a qualidade de vida após a instalação de implantes unitários ou parciais.

Este estudo teve o objetivo de relatar a aplicação dos questionários de satisfação (EVA) e de qualidade de vida (OHIP-14) em uma paciente tratada por meio de prótese unitária sobre implante.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa desta instituição de ensino (Parecer 670.194), e representa a primeira fase de uma pesquisa com maior amostragem. Para tal, foi incluída uma paciente portadora de implante dentário suportando uma prótese unitária, instalada em área estética.

A paciente, A. L. S. S., 43 anos, gênero feminino, foi encaminhada à clínica de Periodontia do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos com a queixa principal de sangramento gengival. Ela aceitou participar desta fase do estudo, assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e relatou apresentar boa saúde geral, não estar fazendo uso de medicamento, não ter sido submetida à radioterapia, não ser usuária de drogas, álcool, nem tabaco.

À inspeção, não foram identificados sinais de alterações na cavidade bucal que fossem dignas de nota ou parafunção. Na coleta de dados sobre a história da doença atual e história odontológica, a paciente narrou ter perdido o dente 21 em decorrência de doença periodontal, portar uma prótese adesiva afixada nos dentes 11 e 22, com a qual estava “muito insatisfeita”. Neste período, a paciente foi submetida a tratamento periodontal básico, enxerto autógeno em bloco, enxerto de tecido conjuntivo na região do dente 21, e instalação de prótese unitária implantossuportadas, o que a deixou “mais contente”.

Ao exame clínico observou-se ausência de alguns dentes

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 53 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

54 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

e a presença de próteses sobre implante unitário nas regiões dos dentes 21 e 26 (Figura 1). Para gerar um dado numérico referente à avaliação transversal da satisfação pré-tratamento

Figura 1 - Aspecto clínico da paciente quando procurou atendimento, em vistas (a) frontal; (b) oclusal superior e (c) inferior. Note a presença de prótese unitária na região do dente 21

versus dois anos após, especificamente da área do dente 21, foi aplicado questionário com a EVA; enquanto a qualidade de vida, de forma geral, foi avaliada pelo OHIP-14.

Figura 2 – Questionário de satisfação usando a Escala Visual Analógica

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 54 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

55An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

Figura 3- Questionário OHIP-14 (adaptado de Oliveira & Nadanovsky, 2005)

avaliação da satisfaçãoA satisfação estética e funcional foi avaliada por meio

de um questionário (Figura 2) com oito questões a serem respondidas em uma EVA composta por uma linha com 10 cm de comprimento, com a expressão “Pior Possível” em um extremo, e “Melhor Possível” no outro. A paciente foi orientada a marcar o ponto na escala que correspondesse a seu grau de satisfação. Durante o preenchimento, um pesquisador estava presente para tirar as dúvidas da paciente, porém sem induzi-la à resposta.

avaliação da qualidade de vidaEm seguida, o preenchimento de um questionário OHIP-

14 foi solicitado para avaliação da qualidade de vida, com questionamentos sobre limitações funcionais (questões 1 e 2), dor física (questões 3 e 4), desconforto psicológico (questões 5 e 6), incapacidade física (questões 7 e 8), incapacidade psicológica (questões 9 e 10), incapacidade social (questões 11 e 12), e invalidez (questões 13 e 14), conforme apresentado na Figura 3.

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 55 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

56 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

EstéticaCapacidade de

MastigaçãoFonação Auto-estima

Depois 9,7 9,9 9,9 10

Antes 0,2 0 3,8 3,5

10

5

0

Figura 4 – Valores atribuídos pela paciente quanto à avaliação da satisfação com a estética, capacidade de mastigação, fonação e autoestima, antes e após a terapia com implante osseointegrável

QuAdro 1 – aTribuição de peso para as quesTões do quesTionário (cavalcanTe, 2013)

Pergunta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Peso 0,51 0,49 0,34 0,66 0,45 0,55 0,52 0,48 0,6 0,4 0,62 0,38 0,59 0,41

Conforme descrito por Cavalcante (2013), para calcular qualidade, foi atribuída a seguinte pontuação: Nunca (0), Raramente (1), Às vezes (2), Frequentemente (3), ou Sempre (4), e atribuído em peso para cada questão. Com isso, a pontuação poderia variar de 0 a 28 (Quadro 1) e quanto menor

o valor na escala, melhor a qualidade de vida.Os dados foram coletados, tabulados em uma planilha

específica (Excel, Microsoft Corporation, Redmond, EUA), e apresentados por meio de estatística descritiva, representados pela mediana e intervalo interquartílico.

RESULTADOS

Valores da avaliação de satisfação da paciente foram montados no gráfico apresentado na Figura 4, usando a escala de zero a dez. De forma geral, o grau de satisfação foi baixo antes (1,9 ± 3,4), e alto após o tratamento (9,9 ±

0,1). A melhora da satisfação da paciente foi maior no item capacidade de mastigação (variação de 9,9), seguido pela estética (variação de 9,5), autoestima (variação de 6,5), e fonação (variação de 6,1).

Por sua vez, o valor total obtido pela avaliação do OHIP-14 foi de 0,45 (Quadro 2), uma vez que a paciente respondeu “Nunca” para todos os questionamentos (atribuindo valor igual a zero); exceto para a questão cinco, que aborda o grau

de preocupação do paciente (atribuindo valor igual a 1,0, pela escolha da opção “raramente”). Este valor foi multiplicado por 0,45, que foi o peso atribuído por Cavalcante (2013).

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 56 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

57An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

QuAdro 2 – valores aTribuídos pelos pacienTes às pergunTas do quesTionário oHip-14, e valores ajusTadosde acordo com cavalcanTe (2013)

Pergunta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Valor atribuído 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Valor ajustado 0 0 0 0 0,45 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Total 0,45

DISCUSSÃO

Este trabalho foi desenvolvido como caso-clínico para testar o emprego da EVA e do questionário OHIP-14 na avaliação da satisfação e qualidade de vida antes e após tratamento. O principal achado foi que ambos os testes foram eficientes em representar o relato pessoal de satisfação da paciente, sugerindo que possam ser empregados como ferramentas para quantificar dados subjetivos fornecidos pelo próprio paciente.

Por meio da EVA, constatou-se uma melhora na satisfação da paciente de modo geral, visto que o valor da mediana passou de 1,9 para 9,9. Esta mesma tendência foi observada por MacAllister et al. (2012), que mais além, observaram aumento estatisticamente significante na comparação entre o período de instalação dos implantes em alvéolo fresco. Assim, os valores médios, que giraram inicialmente em torno a 6,0 e 8,5 (dados adaptados para escala de 0 a 10, com base na apresentação original no formato de gráfico), aumentaram dois anos após para 8,3 para estética, 9,1 para autoestima, e 9,4 para função. Hipotetiza-se que os valores iniciais do estudo de MacAllister et al. (2012) tenham sido mais altos pelo fato dos pacientes terem sido avaliados previamente à cirurgia de extração do dente e instalação do implante, enquanto a paciente do presente relato respondeu aos questionários em um período em que já havia sofrido extração do dente 21 e estava portando uma prótese adesiva. Reafirma-se portanto, que próteses implantossuportadas tendem a ser mais propensas a garantir satisfação que aquelas convencionais (Scala et al., 2012).

Analisando especificamente os valores da satisfação com estética (9,7) e fonação (9,9), no presente estudo gera-se uma média de 9,8. Este valor é mais alto que aquele publicado por Pjetursson et al. (2005), em cujo estudo foram englobados diversos tipos de reabilitações, múltiplas e unitárias, legando uma média de satisfação com estética e fonação de 9,3 (o valor publicado foi de 93 ± 13, considerando a escala de 0 a

100), após 10 anos de acompanhamento. Considerando que se espera um remodelamento da crista óssea perimplantar ao longo dos anos, e que este clinicamente possa levar à perda da altura da papila ou recessão tecidual (Oh et al., 2002), poderia-se esperar que houvesse um declínio da satisfação com o passar do tempo. Entretanto, isto não foi o observado no estudo retrospectivo realizado por Misje et al. (2013) que empregou a EVA para avaliar a opinião de 27 pacientes que tiveram implantes dentários instalados para suportar próteses em área estética por períodos de acompanhamento variando de 12 a 15 anos. Assim, os autores revelaram uma alta satisfação tanto no geral (9,0), quanto ao avaliar especificamente a satisfação com estética (8,8), fonação (9,9) e função (9,9).

No presente estudo, a qualidade de vida foi quantificada em 0,45, visto que a paciente reportou às vezes ficar “preocupada”, possivelmente por ter sido instruída que a causa da doença periodontal corresponde à da doença perimplantar e recear passar pelo mesmo problema novamente. O valor aqui apresentado é comparável ao descrito por Alvarenga et al. (2011), que identificou uma média de 4,98, porém enfocando redução da qualidade de vida devido à dor. Castro et al. (2010) avaliaram 13 pacientes reabilitados com implantes osseointegrados convencionais e/ou zigomáticos submetidos à carga imediata. Os resultados finais do OHIP-14 mostraram uma pequena insatisfação dos pacientes em relação à mastigação e a fala, enquanto, de acordo com a EVA, essa insatisfação ocorreu apenas nos quesitos relacionados à estética e higiene da prótese implantossuportada. Analisando os resultados da maxila e mandíbula separadamente, na maxila foram encontrados resultados mais positivos.

Uma limitação do presente estudo foi ter sido restrito a apenas a um caso clinico. Entretanto, para planejar um estudo clinico randomizado controlado, é necessário fazer o cálculo do tamanho amostral e para isto é importante gerar dados preliminares que disponibilizem desvios-padrões para dar

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 57 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

58 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

continuidade em uma fase seguinte desta linha de pesquisa. Assim será possível desenvolver um estudo prospectivo com alto poder estatístico (Ayres et al., 2007), e maior nível de evidência científica (Kwok et al., 2012).

Em sequência, pode-se sugerir o desenvolvimento de estudos futuros longitudinais, com amplo período de acompanhamento, que permita a criação de um gráfico representativo da tendência de evolução da satisfação e qualidade de vida ao longo das diversas fases do tratamento, e ao longo dos anos. Tendo em vista a praticidade dos questionários aqui aplicados.

Em termos práticos, é fundamental que a opinião do paciente seja considerada no plano de tratamento para garantir resultados satisfatórios a ambos, paciente e profissional (Levi et al., 2003), visto que nem sempre suas opiniões são compatíveis (Esposito et al., 2009).

CONCLUSÃO

Com base no presente estudo sugere-se que os questionários empregados sejam de fácil preenchimento e eficientes em quantificar as sensações da paciente; e que neste caso específico, a reabilitação implantossuportada levou à melhora na satisfação e qualidade de vida.

ABSTRACT

Questionnaires that quantify subjective data may be useful to register the opinion of the patients. The objective of this study was to test the use of questionnaires concerning the satisfaction and quality of live in a patient treated by means of a single-tooth implantsupported crown. Thus, a patient was included that had an osseointegrated implant installed in esthetic area. The satisfaction concerning esthetics and function focusing on mastication, speech and self-esteem was evaluated using a visual analog scale (ranging from zero to ten), and Quality of Live by means of the OHIP-14 questionnaire. The esthetic satisfaction value obtained was 9.7, while in the item speech, the value was 9.9 (range from 0 to 10), resulting in an average of 9.8, showing effectiveness in the treatment and high patient satisfaction. The total value obtained with OHIP-14 was 0.45, suggesting good quality of live. Within the limits of this case report, it may be suggested that the questionnaires are easy to fill, efficient to quantify the feelings of the patient, and that the implant-supported rehabilitation led to improved satisfaction and quality of life.

UNiterMs: Aesthetics, dental implants, questionnaires, visual analog pain scale.

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 58 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

59An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Brånemark PI, Adell R, Breine U, Hansson BO, Lindström J, Ohlsson A.

Intra-osseous anchorage of dental prostheses. I. Experimental studies.

Scand J Plast Reconstr Surg. 1969;3(2):81-100.

2- Galindo DF, Butura CC. Immediately loaded mandibular fixed implant

prostheses using the all-on-four protocol: a report of 183 consecutively

treated patients with 1 year of function in definitive prostheses. Int J

Oral Maxillofac Implants. 2012 May-Jun;27(3):628-33.

3- Filippi A, Higginbottom FL, Lambrecht T, Levin BP, Meier JL, Rosen PS et

al. A prospective noninterventional study to documentimplant success

and survival of the Straumann Bone Level SLActive dental implant in

daily dental practice. Quintessence Int. 2013 Jul;44(7):499-512.

4- Krennmair G, Seemann R, Weinländer M, Krennmair S, Piehslinger E.

Clinical outcome and peri-implant findings of four-implant-supported

distal cantilevered fixed mandibular prostheses: five-year results. Int J

Oral Maxillofac Implants. 2013 May-Jun;28(3):831-40.

5- Jemt T, Lekholm U, Gröndahl K. 3-year followup study of early

single implant restorations ad modumBrånemark. Int J Periodontics

Restorative Dent. 1990;10(5):340-9.

6- Carvalho BC, de Carvalho EM, Consani RL. Flapless single-tooth

immediate implant placement. Int J Oral Maxillofac Implants. 2013

May-Jun;28(3):783-9.

7- Bergenblock S, Andersson B, Fürst B, Jemt T. Long-term follow-up of

CeraOne™ single-implant restorations: an 18-year follow-up study

based on a prospective patient cohort. Clin Implant Dent Relat Res.

2012 Aug;14(4):471-9.

8- Davarpanah M, Martinez H, Kebir M, Tecuciany J-F. Manual de

Implantodontia Clínica. 1.ed. São Paulo: Artmed Editora, 2003, p.50.

9- Albrektsson T, Zarb G, Worthington P, Eriksson AR. The long-

term efficacy of currently used dental implants: a review and

proposed criteria of success. Int J Oral Maxillofac Implants. 1986

Summer;1(1):11-25.

10- Albrektsson T, Zarb GA. Current interpretations of the osseointegrated

response: clinical significance. Int J Prosthodont. 1993 Mar-

Apr;6(2):95-105.

11- Ribeiro FS, Pontes AE, Marcantonio E, Piattelli A, Boeck-Neto RJ,

Marcantonio E Jr. Success rate of immediate nonfunctional loaded

single-tooth implants: immediate versus delayed implantation. Implant

Dent. 2008 Mar;17(1):109-17.

12- Esposito M, Grusovin MG, Worthington HV. Agreement of quantitative

subjective evaluation of esthetic changes in implant dentistry by

patients and practitioners. Int J Oral Maxillofac Implants. 2009 Mar-

Apr;24(2):309-15.

13- Spin-Neto R, Pontes AE, Wenzel A, Sakakura CE. Patient discomfort

following single-tooth implant placement: a randomized controlled

trial of immediate vs. conventional tooth restoration. Oral Health Dent

Manag. 2014 Jun;13(2):441-5.

14- Pjetursson BE, Karoussis I, Bürgin W, Brägger U, Lang NP. Patients’

satisfaction following implant therapy. A 10-year prospective cohort

study. Clin Oral Implants Res. 2005 Apr;16(2):185-93.

15- Cho HL, Lee JK, Um HS, Chang BS. Esthetic evaluation of maxillary

single-tooth implants in the esthetic zone. J Periodontal Implant Sci.

2010 Aug;40(4):188-93.

16- Baracat LF, Teixeira AM, dos Santos MB, da Cunha V de P, Marchini

L. Patients’ expectations before and evaluation after dental implant

therapy. Clin Implant Dent Relat Res. 2011 Jun;13(2):141-5.

17- Slade GD, Spencer AJ. Development and evaluation of the Oral Health

Impact Profile. Community Dent Health. 1994 Mar;11(1):3-11.

18- Alvarenga FAS, Henriques C, Takatsui F, Montandon AAB, Telarolli

Júnior R, Monteiro ALCC et al. Oral health impact profile in the

quality of life of patients over 50 years old of two public institutions of

Araraquara city, SP, Brazil. Rev Odontol UNESP. 2011; 40(3): 118-124.

19- Att W, Stappert C. Implant therapy to improve quality of life.

Quintessence Int. 2003 Sep;34(8):573-81.

20- Mendes FA. Efeito imediato do reparo ou troca das próteses

muco suportadas maxilares e mucoso suportadas implanto retidas

mandibulares na função mastigatória, satisfação e qualidade de vida do

paciente. [Dissertação de Mestrado em Reabilitação Oral, Universidade

Federal de Uberlândia, 2008].

21- Strassburger C, Kerschbaum T, Heydecke G. Influence of implant and

conventional prostheses on satisfaction and quality of life: A literature

review. Part 2: Qualitative analysis and evaluation of the studies. Int J

Prosthodont. 2006 Jul-Aug;19(4):339-48.

22- Cavalcante LAL. Resultados clínicos de reabilitações mandibulares

totais fixas sobre três implantes. [Dissertação de Mestrado em Clínica

Odontológica Integrada, Universidade Federal de Uberlândia, 2013].

23- Oliveira BH, Nadanovsky P. Psychometric properties of the Brazilian

version of the Oral Health Impact Profile–short form. Community Dent

Oral Epidemiol 2005; 33: 307–14.

24- McAllister BS, Cherry JE, Kolinski ML, Parrish KD, Pumphrey DW,

Schroering RL. Two-year evaluation of a variable-thread tapered

implant in extraction sites with immediate temporization: a multicenter

clinical trial. Int J Oral Maxillofac Implants. 2012 May-Jun;27(3):611-8.

25- Scala R, Cucchi A, Ghensi P, Vartolo F. Clinical evaluation of satisfaction

in patients rehabilitated with an immediately loaded implant-supported

prosthesis: a controlled prospective study. Int J Oral Maxillofac Implants.

2012 Jul-Aug;27(4):911-9.

26- Oh TJ, Yoon J, Misch CE, Wang HL. The causes of early implant bone

loss: myth or science? J Periodontol. 2002 Mar;73(3):322-33.

27- Misje K, Bjørnland T, Saxegaard E, Jensen JL. Treatment outcome of

dental implants in the esthetic zone: a 12- to 15-year retrospective

study. Int J Prosthodont. 2013 Jul-Aug;26(4):365-9.

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 59 27/04/2015 14:49:27

Braz J Periodontol - Março 2015 - volume 25 - issue 01 - 25(1):52-60

60 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393

28- Castro LMS, Wendel S, Mendonça R, Freitas A, Duarte LR. Avaliação

da qualidade de vida de pacientes reabilitados com implantes

osseointegrados submetidos à carga imediata: estudo longitudinal.

Rev. Dental Press Periodontia Implantol 2010 abr.-jun; 4(2):74-82.

29- Ayres M, Ayres Júnior M, Ayres DL, Santos AS. Bioestat 5.0: Aplicações

Estatísticas na Área de Ciências Biológicas e Médicas. Belém: Soc. Civil

Mamirauá, 2007.

30- Kwok V, Caton JG, Polson AM, Hunter PG. Application of evidence-

based dentistry: from research to clinical periodontal practice.

Periodontol 2000. 2012 Jun;59(1):61-74.

31- Levi A, Psoter WJ, Agar JR, Reisine ST, Taylor TD. Patient self-reported

satisfaction with maxillary anterior dental implant treatment. Int J Oral

Maxillofac Implants. 2003 Jan-Feb;18(1):113-20.

Endereço para correspondência:

Ana Emília Farias Pontes

Curso de Mestrado em Ciências Odontológicas - UNIFEB

Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto

CEP: 14783-226 – BARRETOS - SP

Email: [email protected]

Revista Perio Março 2015 - 27-04-15 66pags.indd 60 27/04/2015 14:49:27