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FORMULÁRIO MODELO PARA TESES TÍTULO/TEMA: MODERNIZAÇÃO DA INSPEÇÃO E FISCALIZAÇÃO SANITÁRIA ANIMAL NO SETOR DE LEITE PROPONENTE(S): ALBERTO MAURENTE VARGAS CARGO: Agente de Inspeção Sanitária e Industrial de Produtos de Origem Animal AISIPOA LOTAÇÃO: UVAGRO/BAGÉ/RS SIF 4182 TELEFONE: 053 99332758 E-mail: [email protected]

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FORMULÁRIO MODELO PARA TESES

TÍTULO/TEMA: MODERNIZAÇÃO DA INSPEÇÃO E FISCALIZAÇÃO

SANITÁRIA ANIMAL NO SETOR DE LEITE

PROPONENTE(S): ALBERTO MAURENTE VARGAS

CARGO: Agente de Inspeção Sanitária e Industrial de Produtos de Origem Animal – AISIPOA

LOTAÇÃO: UVAGRO/BAGÉ/RS – SIF 4182

TELEFONE: 053 99332758 E-mail: [email protected]

RESUMO:

O presente trabalho objetiva demonstrar falhas no atual sistema de inspeção e

fiscalização de leite e seus derivados, em decorrência da legislação vigente e do

déficit de profissionais na área lácteos para atender as demandas, demonstrar a

fragilidade deste importante alimento que se encontra a mercê de maus

produtores e fraudadores que visam, única e exclusivamente, o lucro. Visa ainda

propor que este congresso seja o marco inicial de debates para encontrarmos

soluções que mudem o cenário do processo industrial da cadeia produtiva deste

nobre alimento desde o campo até a entrega do produto final ao consumidor.

Palavras Chave: Palavras que direcionem a indexação da Tese.

INTRODUÇÃO:

Com uma visão futurista o Ministério da Agricultura lançou a Instrução Normativa

nº 51 – IN 51, em 2002, estabelecendo procedimentos quanto à sanidade do

rebanho leiteiro; condições gerais para obtenção da matéria prima com higiene,

requisitos para um transporte seguro até o estabelecimento beneficiador,

procedimentos específicos para o controle de qualidade da matéria prima no

estabelecimento industrial e requisitos de composição físico-químico e

microbiológico do Leite Cru Refrigerado.

.

JUSTIFICATIVA(S):

A busca pela melhoria da qualidade higiênico-sanitária do Leite Cru é

fundamental e a principal meta a ser seguida dentro do processo de produção de

lácteos, melhorando o manejo do rebanho leiteiro, formas de obtenção do leite,

transporte até a indústria e, principalmente, adoção de metodologias eficazes e

de procedimentos adequados que garantam a segurança alimentar dos produtos

amplamente regulados por uma legislação eficaz e rigidamente aplicada por um

corpo técnico compatível.

DESENVOLVIMIENTO:

O sistema agroindustrial do leite, devido a sua enorme importância social, é um

dos mais significativos do país. A atividade é praticada em todo o território

nacional e os dados do último Censo Agropecuário do IBGE - Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística, de 2006 (divulgados em 2009) demonstram uma

concentração na atividade leiteira, acusando um aumento da produção, mesmo

com a redução do número de estabelecimentos agropecuários produtores de

leite. Segundo dados do Censo, no período de 1996 - 2006 o volume de

produção de leite aumentou na ordem de 19,53%, indo de 17,93 bilhões de litros

para 21,43 bilhões. A Região Sudeste continua sendo a maior produtora

brasileira de leite, respondendo por 37,7% da produção nacional. Porém, esta

região apresentou uma redução de 0,18% na sua produção, caindo de 8,08

bilhões de litros para 8,07, conforme o quadro abaixo:

Produção Nacional de Leite/Mil Litros por Região Geográfica

Região 1996 2006 Variação (%)

Sudeste 8.089.652 8.075.325 -0,18

Sul 4.110.546 6.230.777 51,58

Centro-Oeste 2.610.725 3.024.909 15,86

Nordeste 2.273.994 2.881.848 26,73

Norte 846.333 1.220.890 44,26

Brasil 17.931.249 21.433.748 19,53

Fonte: Censo Agropecuário - IBGE.

O maior aumento da produção leiteira aconteceu na Região Sul, que é a segunda

maior produtora do país, atingindo 51,58% de crescimento no período, indo de

4,11bilhões de litros em 1996 para 6,23 bilhões de litros em 2006. Quanto ao

número de estabelecimentos produtores de leite, observou-se uma redução de

25,91%, caindo de 1,81 milhões para 1,34 milhões de estabelecimentos no

território nacional. Isso significa 469.144 mil estabelecimentos a menos na

atividade leiteira, conforme quadro a seguir:

Número de Estabelecimentos Agropecuários Produtores de Leite

Por Região Geográfica

Região 1996 2006 Variação (%)

Sul 605.679 412.281 -31,93

Norte 118.118 86.992 -26,35

Nordeste 540.737 408.813 -24,39

Sudeste 396.915 306.784 -22,7

Centro-Oeste 148.592 126.027 -15,18

Brasil 1.810.041 1.340.897 -25,91

Fonte: Censo Agropecuário - IBGE.

A maior redução do número de estabelecimentos rurais leiteiros ocorreu

justamente na Região Sul, onde, também, houve o maior aumento na produção.

Nesta região 193.398 estabelecimentos rurais deixaram a atividade leiteira

significando uma redução de 31,93%. Comparando-se o aumento da produção

leiteira com a redução do número de estabelecimentos produtores, percebe-se

uma concentração desta atividade em todas as regiões do Brasil. A média da

produção anual por estabelecimento passou de 9.907 para 15.985 litros por ano,

sofrendo um aumento de 61,35% no período. O maior aumento de produção por

estabelecimento rural ocorreu na Região Sul do Brasil, aumentando de 6.787

para 15.113 litros por estabelecimento ao ano, tendo uma variação de 122,69%

no período, apresentando uma maior concentração da atividade numa

quantidade menor de estabelecimentos.

Produção Nacional de Leite Por Estabelecimento Rural Litros/Ano

Região 1996 2006 Variação (%)

Sul 6.787 15.113 122,69

Norte 7.165 14.035 95,87

Nordeste 4.205 7.049 67,63

Centro-Oeste 17.570 24.002 36,61

Sudeste 20.381 26.323 29,15

Brasil 9.907 15.985 61,35

Fonte: Censo Agropecuário - IBGE.

A maior bacia leiteira do Brasil encontra-se na Região Sul do Brasil, trata-se da

Mesorregião Noroeste Rio-grandense, com o recolhimento de 1,853 bilhão de

litros de leite em 2007, tendo ultrapassado o Triângulo Mineiro que recolheu 1,76

bilhão conforme dados da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE, apresentando

um aumento de 204% no período 1990 a 2007. A terceira maior Mesorregião

produtora de leite é o Oeste Catarinense com 1,34 bilhões de litros de leite

apresentando o maior aumento percentual dentre as principais bacias leiteiras do

país, com 391% no período. O Oeste Paranaense, também figura entre as

maiores mesorregiões produtor de leite com 787 milhões de litros em 2007,

apresentando um grande crescimento da produção no período (246%). Essas

três mesorregiões juntas concentram 53% da produção de leite da Região Sul e

15% da produção brasileira de leite; a partir desses dados constata-se que houve

uma seleção natural dos estabelecimentos produtores em consequência da

própria evolução da sociedade que por razões diversas não conseguiram

acompanhar o ciclo evolutivo do setor, com as crescentes exigências relativas à

qualidade dos produtos lácteos.

FATORES INTERFERENTES NA QUALIDADE DO LEITE CRU E SEUS

DERIVADOS

A qualidade do leite é definida por parâmetros de composição química,

características físico-químicas e microbiológicas. A presença e os teores de

proteína, gordura, lactose, sais minerais e vitaminas determinam a qualidade da

composição, que, por sua vez, é influenciada pela alimentação, manejo, genética

e raça do animal; os padrões microbiológicos estão ligados diretamente às

condições higiênico-sanitárias de obtenção e conservação do leite e à sanidade

do rebanho leiteiro. As expectativas, antes delineadas pela IN 51 e outras normas

subsequentes só fizeram aflorar um problema já existente e que persiste até

hoje, qual seja a desigualdade entre os estabelecimentos produtores de leite com

o parque industrial, onde de um lado temos propriedades rurais (estábulos

leiteiros) sem as mínimas condições de higiene e de outro, indústrias com

equipamentos de última geração; alguns destes estabelecimentos, embora

deficitária, contam com uma fiscalização, outros nem isso, e para os

estabelecimentos rurais não há, por parte do MAPA, nenhuma fiscalização das

condições higiênicas de obtenção do leite, restringe-se, apenas ao controle de

células somáticas e contagem bacteriana (CCS e CBT) e um duvidoso controle

da acidez na hora do carregamento do Leite Cru.

O leite ao ser sintetizado e secretado nos alvéolos da glândula mamária é estéril,

mas ao ser retirado, manuseado e armazenado pode se contaminar com

microrganismos originários do interior da glândula mamária, da superfície das

tetas, do úbere e de utensílios, tais como os equipamentos de ordenha, de

armazenamento e de várias fontes do ambiente da sala de ordenha ou do local,

onde é obtido. Esta contaminação pode atingir números da ordem de milhões de

bactérias p/ml, podendo incluir tanto microrganismos patogênicos como

deterioradores. A contaminação microbiana prejudica, sensivelmente, a

qualidade do leite, interfere na industrialização, reduz o tempo de prateleira do

leite fluído e dos derivados lácteos e, por fim, coloca em risco a saúde do

consumidor. A qualidade dos produtos lácteos está, diretamente, ligada à

qualidade do leite que lhe deu origem, isto é, a indústria não tem meios para

transformar esta matéria-prima a ponto de torna-la capaz de garantir um produto

final dentro de padrões de qualidade melhores ou iguais aos produzidos em

países que já atingiram o status de exportador. Desde a obtenção do leite por

meio da ordenha há a necessidade de se interromper, imediatamente, o processo

de deterioração ou de contaminação, esta por sua vez decorrente de

procedimentos inadequados de manuseio, higienização e desinfecção deficitária

de equipamentos e utensílios; soma-se a estes cuidados, a sanidade do rebanho

leiteiro que, também é um dos requisitos fundamentais a ser observado por parte

dos governos federal, estadual e municipal.

As exigências de qualidade e higiene para o leite cru e seus derivados são

definidas com base em postulados estabelecidos para a proteção da saúde

humana e preservação das propriedades nutritivas desses alimentos. Do ponto

de vista de controle de qualidade, apesar de algumas deficiências, o leite e os

derivados lácteos estão entre os alimentos mais testados e avaliados,

principalmente devido à importância que representam na alimentação humana e

à sua natureza perecível; com relação ao leite in natura, esta preocupação deve

ser rotina no dia-a-dia de quem se dispõe a trabalhar na atividade leiteira e de

quem o industrializa, há já vista, que a cada dia o leite cru (matéria-prima) se

apresenta diferente e um novo processo de produção de lácteos se inicia e, neste

contexto, a Fiscalização Sanitária deve estar presente, a fim de garantir a

sanidade e inocuidade dos produtos, dando-lhes segurança alimentar. Há quem

pense que o Brasil possa ocupar lugar de destaque no mercado internacional de

lácteos, entretanto não se vislumbra esta possibilidade em curto prazo sem que

haja mudanças do atual sistema de fiscalização e inspeção da produção de leite

e de seus derivados. Por exemplo: na Região Sul, em que pese o aumento da

agricultura, a produção leiteira cresceu, sensivelmente, segundo dados do último

censo (1996-2006), a produção ultrapassou a barreira dos 51% (cinquenta e um

por cento) e a produção por estabelecimento, atingiu a média de 122,69 % (cento

e vinte e dois vírgula sessenta e nove por cento) . O Ministério da Agricultura a

exemplo dos órgãos estaduais e municipais responsáveis pela fiscalização e

inspeção sanitária, não acompanharam esta evolução do setor, no MAPA, por

sua vez não houve aumento do quadro de servidores para atender a demanda da

fiscalização sanitária do setor de leite, pelo contrário, não bastasse o quadro de

pessoal deficitário baixou normas para que as indústrias fizessem o autocontrole

da qualidade dos seus produtos e instalações industriais, ora a julgar pela atual

situação do setor, especialmente no Rio Grande do Sul, não seria leviana a

afirmação de que a atual conjuntura é decorrente da falta de uma atuação

uniforme e constante da fiscalização, hoje, sob um regime que não se sabe se é

“permanente” ou não, há já vista, que há diversos estabelecimentos sem um

acompanhamento eficiente. Penso que foi uma utopia pensar que o regime de

Auto Controle, implementado pelo Ofício Circular nº 24/2009, seria um meio

eficaz para se garantir a qualidade dos produtos lácteos, sem que houvesse

paralelamente uma fiscalização permanente quanto à sua aplicação. A prova de

que o sistema de fiscalização, pretendido foi falho, são os inúmeros casos de

Autos de Infração aplicados às empresas devido a problemas decorrentes da má

qualidade dos produtos industrializados, registros de análises irregulares ou

fraudados, falta de programas de autocontrole ou descumprimento dos já

implantados, etc... Ou, ainda em virtude de uma matéria-prima comprometida em

seus padrões físicos, químicos e microbiológicos, justamente, em função da

ausência de uma política de controle da aplicação da legislação, já existente e

adoção de novas normas; também de nada adianta termos normas

disciplinadoras dos diversos seguimentos do setor se não houver um corpo

técnico que fiscalize sua aplicação.

As fraudes do leite até então registradas se deve, em grande parte, ao atual

modelo de fiscalização que por falta de uma equipe maior de profissionais e de

uma legislação que regule todos os seguimentos (produtor, transportador e

indústria), deixou este importante setor sem a devida atenção. A persistir esta

falta de profissionais no Ministério da Agricultura para executar uma fiscalização

sanitária e industrial eficiente no setor de leite... Só mesmo com a participação

contínua do Ministério Público, teremos a garantia de uma qualidade um pouco

melhor deste produto tão importante na alimentação humana; registre-se, ainda o

quão prejudicial à imagem do Serviço de Inspeção Federal – SIF tem sido esta

intervenção do Ministério Público - MP, dando prova de que, efetivamente, o

sistema é falho.

“MP ajuizará ações contra indústrias investigadas na fraude do leite no

RS”

Três indústrias não aceitaram as negociações para assinatura do TAC.

“Após ajuizar ações coletivas de consumo contra as empresas investigadas na

fraude do leite, no Rio Grande do Sul, o Ministério Público vai tomar as mesmas

medidas contra três indústrias que venderam o produto alterado com água e

ureia”.

**********

“Justiça mantém prisões preventivas de suspeitos da fraude do leite no

RS”

**********

Justiça do RS determina bloqueio de bens de suspeitos na fraude do leite

Medida atinge 4 pessoas, além de empresas, em horizontina e ronda alta

Indústrias de leite devem apresentar plano para evitar novas fraudes no RS

De acordo com a Seapa, são mais de 60 estabelecimentos no estado. Portaria

regulamenta a coleta de leite cru refrigerado e seu transporte.

CONCLUSÃO:

O setor de leite, principalmente, no Rio Grande do Sul nos mostra um retrato da

mais alta falta de confiança e insegurança da população em consumir este tão

nobre alimento, que já não é tão nobre assim face aos crimes praticados contra

os consumidores por produtores, transportadores e indústria(s) por meio de

fraudes dos mais diferentes tipos ou cumplicidade. A persistir este cenário, sem

uma política de controle mais rígida, com um quadro de servidores insuficiente

para atender a demanda que o MAPA insiste em delegar a responsabilidade pela

qualidade, única e exclusivamente, às indústrias, esta tão nobre função que

desempenhamos poderá sim, ser delegada, a outros setores do governo, caso

nossas entidades representativas de classes não sentarem e discutirem o

assunto com as atenções voltadas para a modernização e atualização da

legislação, ingresso de pessoal, etc. Produção de “alimento seguro” é o que a

sociedade espera e tem cobrado rotineiramente, amparada pelo Código do

Consumidor. Atender às necessidades básicas da sociedade no que se refere à

alimentação, saúde com excelência, credibilidade e eficiência, buscando a cada

dia melhorar a prestação de serviços para melhorar, também a qualidade de vida

da população, esta é a meta a ser seguida. Essa área requer um trabalho

moderno e preventivo, dispendendo todos os esforços para que o dano não

venha ocorrer, assim estaríamos invertendo a atual situação que consiste, quase

que tão somente em punir por meio de multas, que nada resolvem, porque são

ineficazes para o serviço e à sociedade, há já vista a existência do alto índice de

reincidência, justamente porque, às vezes, é melhor pagar a multa do que corrigir

o erro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2006 (divulgados em 2009).

Jornal ZERO HORA.