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Sustentabilidade Sustentabilidade Ronaldo Seroa da Motta [email protected] 6o Encontro de Lideranças CONFEA Brasília, 21 a 25 de fevereiro de 2011

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SustentabilidadeSustentabilidade

Ronaldo Seroa da Motta

[email protected]

6o Encontro de Lideranças CONFEA

Brasília, 21 a 25 de fevereiro de 2011

RoteiroRoteiro

� Limites do crescimento e as questões globais

� Conceituação de sustentabilidade

� Crescimento econômico e degradação ambiental

� Aquecimento global: acordos, economia política e papel do Brasil

� Conclusões

Os Limites do CrescimentoOs Limites do CrescimentoCriação do EPA - Environmental Protection Agency (1970)Resultou na leis pioneiras nos EUA do Ar Limpo de 1970 e da Água Limpa de

1977 e o modelo EPA orientou a criação de agências similares no mundo todo,

inclusive Brasil (FEEMA-RJ, FEAM-MG e CETESB-SP), para tratar da poluição

local e seus efeitos na saúde humana

Relatório Os Limites do Crescimento (Relatório do Clube de Roma ou

Relatório Meadows) (1972)Mesmo considerando o avanço tecnológico, o Relatório advoga que o Planeta não

suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursossuportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos

naturais,

Primeira Conferência Mundial da ONU sobre o Homem e o Meio

Ambiente/Conferência de Estocolmo (1972) Criou uma base de princípios e ações para a regulação ambiental em proteção a

saúde humana, mas falhou nas questões globais pela disputa do “desenvolvimento

zero”, defendido pelos países desenvolvidos e o “desenvolvimento a qualquer

custo”, defendido pelas nações subdesenvolvidas.

Desenvolvimento SustentávelDesenvolvimento SustentávelRelatório Brundtland – Nosso Futuro Comum (1987)� O Relatório, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento da ONU coloca uma visão crítica ao modelo de desenvolvimentoadotado pelos países industrializados, e reproduzido pelas nações emdesenvolvimento, baseado no uso excessivo de recursos naturais

� O conceito de Desenvolvimento Sustentável é o tema central do Relatório quepostula que o desenvolvimento econômico de hoje deve se realizar semcomprometer a base dos recursos naturais que vai gerar o desenvolvimentoeconômico de gerações futuras

� Destaca a preocupação com problemas globais (Nosso Futuro Comum) quenecessitaria a cooperação de todos os paísesnecessitaria a cooperação de todos os países

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento/Rio 92 (1992)� O evento destaca formas de cooperação para a solução dos problemas globais

considerando a defasagem de grau de desenvolvimento entre as nações� Para tal, foram criadas as Convenção do Clima, a Convenção da Diversidade Biológica

e a do Combate à Desertificação onde se procura destacar princípios que garantamque todos os países colaborem de forma diferenciada pela sua capacidade econômica

Como definir sustentabilidade?Como definir sustentabilidade?• Premissa: capital material pode ser reproduzido via

crescimento do produto, já capital natural tende adecrescer impondo restrições ao crescimento futuro

• Objetivo: alocar eficientemente os recursos de modo amaximizar o bem-estar das gerações presentes efuturas

Do ponto de vista da teoria econômica convencional:� A sustentabilidade de uma economia ocorre na medida que seu estoque

de capital, que define o fluxo de bens e serviços futuros, seja mantidopelo menos constante

� A escassez de recursos naturais se precificada adequadamente seriaresolvida via substituição e desenvolvimento tecnológico

Taxonomia da sustentabilidadeTaxonomia da sustentabilidadeA hipótese básica para caracterizar o

desenvolvimento sustentável consiste no grau desubstituição entre o capital natural e o capital

material (essencialidade do recurso)

Três hipóteses:Três hipóteses:◦ Sustentabilidade muito fraca� substituição perfeita entre capital natural e capital material◦ Sustentabilidade fraca� substituição limitada entre capital natural e material◦ Sustentabilidade forte� não é mais possível qualquer tipo de substituição entre capital

natural e material

Sustentabilidade muito fracaSustentabilidade muito fraca◦ O nível de estoque de capital natural poderá ser

reduzido desde que investimentos compensatórios eequivalentes em capital material sejam realizados

◦ Importante é manter o estoque de “capital total”constante ao longo do tempo

◦ Questões ambientais não são relevantes para ocrescimento, desde que precificadas corretamente e queparte da receita gerada pelo uso de recursos naturaisseja transformada em investimentos

◦ Hipótese de progresso tecnológico ilimitado

Sustentabilidade fracaSustentabilidade fraca

◦ Capital material depende do capital natural logo a possibilidade de substituição entre capital natural e material é limitada

◦ Requer identificar os níveis críticos do capital ◦ Requer identificar os níveis críticos do capital natural

◦ A manutenção do estoque de capital natural no seu nível crítico deve ser garantida

Sustentabilidade forteSustentabilidade forte

◦ Maioria dos recursos naturais já está no seu nível crítico

◦ Crescimento econômico, portanto, limitado

◦ Requer identificar regras de redistribuição da renda atual entre contemporâneos

◦ O atual estoque de capital natural deve ser apreciado

Como ser sustentável?Como ser sustentável?

Seja qual for a hipótese de sustentabilidade, as atividades econômicas têm

que ser valoradas e precificadas corretamente para serem ambientalmente

mais eficientes

Isto resultará em:� mudanças nos processos de produção;

� mudanças na estrutura de produção e consumo; e/ou

� reduções no nível de produção e consumo

Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (1)|Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (1)|

Uma hipótese alternativa é que a degradação ambiental tem a formade uma curva U invertida em relação a renda, tal que a degradaçãocresce até um certo nível de renda e depois decresce, i.e., uma relação

quadrática com a renda

Environmental Kuznets Curve

Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (2)Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (2)

Essa possibilidade seria possível por que a medida que a renda aumenta:

1. Há mudanças na composição dos setores produtivos na direçãodos mais intensivos em tecnologia e serviços e menos emrecursos naturais;

2. Aumenta o nível de comércio internacional que permite a2. Aumenta o nível de comércio internacional que permite aintrodução de tecnologias novas; e

3. O consumo de qualidade ambiental aumenta, pois ele é elástico arenda e há modificações na estrutura de preferências dosindivíduos com acesso a educação e a informação ambiental

Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (3)Crescimento Econômico e Degradação Ambiental (3)

� Estudos dessa correlação renda e meio ambiente não sãoconclusivos com divergências em metodologias e resultados

� Evidências mostram que muitas formas de degradação, por exemplo:poluição atmosférica nos grandes centros urbanos, saneamento edesmatamento, têm essa forma U invertida. Mas essa reversãoacontece a níveis muito altos de renda (US$ 8-12 mil per capita)acontece a níveis muito altos de renda (US$ 8-12 mil per capita)

� Outras evidências indicam que essa relação não acontece paraemissões de gases de efeito estufa

� Ademais, outros estudos indicam que a relação pode ser cúbica, istoé, voltando a crescer de novo após certo nível de renda

Exemplo: aquecimento globalExemplo: aquecimento global� Tragédia dos comuns : ações individuais racionais com resultados sociais

irracionais por falta de incentivos a cooperação

� Cooperação para combate ao aquecimento global falha porque:◦ Requer ação global: o efeito é igual em qualquer parte do planeta onde

estiver a fonte de emissão◦ Incerteza quanto ao custos e benefícios e ao progresso tecnológico◦ Custos de mitigação competem com custos de adaptação

� O combate ao aquecimento global exige uma economia de baixo carbonocom uma radical transformação nas atividades de produção e consumoem toda a economia

� Destruição de estoque de capital antigo e altos investimentos e um novoestoque que geram impactos negativos no crescimento de curto prazo

Incentivos a CooperaçãoIncentivos a Cooperação� Como incentivar a transição para uma economia de baixo carbono:◦ aumentar preço do carbono◦ subsidiar desenvolvimento tecnológico em energias limpas

� O esforço tem que ser global para evitar vazamento (se a reduçãonão é agregada a redução unilateral não garante que a emissão emoutro lugar cresça)

� Como distribuir os esforço entre os países? Qual o critério daalocação do orçamento do carbono?

� Eficiência x equidade: dividir por emissão acumulada, por emissãoatual, per capita, por renda per capita?

A Convenção do ClimaA Convenção do Clima� Convenção do Clima da Rio 92 coordena as ações no combate ao

aquecimento global: impedir uma interferência antrópica no equilíbrio climático

� Princípio das responsabilidades “Comuns Mas Diferenciadas” (CBD) “respeitadas as capacidades” (art. 3.1)

� “Países mais desenvolvidos agem primeiro” (art. 4.2)

� 192 países são signatários da UNFCCC� 192 países são signatários da UNFCCC

� Protocolo de Quioto (PQ) – 1997 - definiu obrigações de METAS de emissão (TETOS) para países desenvolvidos (PDs), (Anexo I da UNFCCC) para serem alcançados até 2012.

� Meta > 5,2% abaixo dos níveis de 1990, no período 2008-2012 (UE –8%, EUA –7% (não ratificou), Japão – 6%, Rússia 0%, Austrália +8%

� Mecanismos de mercado : mercado de carbono e MDL para países fora do PQ para reduzir custo de controle (offset) que movimentam mais de 140 bi US$ por ano.

Copenhagen e CancunCopenhagen e Cancun� Acordos de Copenhague e Cancun que não tem status de tratado

(resolução das COP 15 e COP 16)

� Acordos objetivam um aumento máximo de temperatura de 2o C aolongo do século o que requer redução das emissões globais de 40 %em relação a1990 em 2020, 60 % em 2030 e 80 % em 2050.

� Ou orçamento de carbono global caindo de 56 para quase 8 GtCO2eem 2050em 2050

� Em Copenhagen países se comprometeram voluntariamente a cortarentre 4-7 GtCO2e até 2020 que ainda significa déficit de 5 a 9GtCO2e para a trajetória de 2oC

� Em Cancun avança o fundo de 100 bi US$ necessários até 2020 parafinanciar as reduções voluntárias dos países em desenvolvimento e osseus custos de adaptação e a possibilidade do Protocolo de Quiotoser renovado em 2012

Economia Política dos AcordosEconomia Política dos Acordos� PDs (G8): maior e declinante responsabilidade histórica, maior

custo de mitigação e menor custo de oportunidade (impactosno crescimento)

�Diferenças acentuadas entre os PDs: (efeito competitividade)com custo marginal de mitigação nos EUA/JAPÃO >>Comunidade Européia

� PEDs (G77): com menor e crescente responsabilidade histórica, � PEDs (G77): com menor e crescente responsabilidade histórica, menor custo de mitigação e maior custo de oportunidade

�Diferenças acentuadas entre PEDs: impactos da mudançasclimáticas são maiores nos mais pobres (LDCs) e insulares(AOSIS) e custo marginal de mitigação maiores nosemergentes com base energética intensiva em carbono(China e Índia)

As Divergências Atuais As Divergências Atuais

� Crescimento acelerado dos BRIC/BASIC leva à convergência histórica nofuturo e o papel da China é crucial, pois tem uma participação muito grandenas emissões globais atuais

� Projeções AIE: em 2030, 26 b t CO2 de não OECD contra 15 b t CO2 deOECD (hoje 18 contra 13)

� Retorno EUA as discussões reduz divergências entre PDs, mas aumentapressão nos PEDspressão nos PEDs

� Pressão da opinião pública cresceu e atravessou plataformas eleitorais,embora ainda sensível a ciclos econômicos e controversa em alguns países(por ex: EUA e China)

� Iniciativas de políticas nacionais unilaterais ou mesmo imposições voluntáriasde segmentos na cadeia produtiva já incluem restrições as importações oucompras como salvaguardas a vazamentos (Kerry&Lieberman e Waxman-Markey bills nos EUA e padrões voluntários de certificação ambiental)

Efeitos no Comércio InternacionalEfeitos no Comércio InternacionalEstudos identificam que as sanções comerciais de cunho climático, como tarifassobre as importações por conteúdo de carbono, afetarão mais as economiasemergentes de maior intensidade de carbono e com viés exportador, como a daChina. Já o Brasil perde menos na indústria, embora com grande impacto nasexportações agrícolas.

A tabela abaixo reproduz resultados do estudo do Banco Mundial (Mattoo, A.,et. al. Reconciling climate change and trade policy,The World Bank, PolicyResearchWorking Paper 5123,Washington, novembro 2009)ResearchWorking Paper 5123,Washington, novembro 2009)

Setores Brasil China India Russia Mundo

Agricultura -10.8 31.0 25.7 20.7 -16.3

Energia -4.1 -1.0 13.8 -7.2 -11.9

Indústria agregada 1.9 -20.8 -16.0 -14.3 -12.9

Indústria energia-intensiva -2.2 -16.6 -9.7 -19.7 -14.6

Outras indústrias de processamento 3.7 -21.6 -18.3 -6.9 -12.4

Outras indústrias -8.1 -2.1 -3.2 3.6 -9.0

Serviços 9.4 46.3 25.3 35.1 3.9

Total -2.4 -15.8 -6.5 -6.7 -10.2

Impactos nas Exportações (% BAU) com imposto ambiental US$ 60 / t CO2

A Contribuição do Brasil (1)A Contribuição do Brasil (1)Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), Lei

12187/2009, e seu Decreto Regulamentador 7390/2010

definem metas para o país e voluntárias para a

Convenção do Clima, conforme mostra a tabela abaixo

Metas de

mitigação

para 2020

Total a ser

mitigado em

2020 (mi

tCO2eq)

Total de emissões

em 2020 após

mitigação (mi

tCO2eq)

% Mitigado

em 2020

Relação a

2005

36,1% 1168 2068 6%

38,9% 1259 1977 10%

A Contribuição do Brasil (2)A Contribuição do Brasil (2)� Planos Setoriais irão definir metas articuladas com instrumentos

econômicos e financeiros (incentivos fiscais e creditícios, mercado decarbono e Fundo Nacional sobre Mudança do Clima)

� A ênfase nas metas nacionais é claramente no controle do desmatamento ena agricultura, conforme mostra a tabela abaixo com dados do DecretoRegulamentador

� Depois de 2020 esforço de mitigação deve recair no setoresenergético e industrial.energético e industrial.

� Como criar as bases tecnológicas para essa transição pós -2020?

Emissões (mi tCO2eq)

Uso da

Terra Agropecuária Energia Outros Total

2005 observado 1268 487 362 86 2203

2020 projeção 1404 730 868 234 3236

Variação 2020-2005 11% 50% 140% 172% 47%

ConclusõesConclusõesSustentabilidade exige:� Radical transformação na base produtiva e de consumo

� Regulação para estimular a eficiência ambiental e incentivos acooperação

� Uso de instrumentos de mercado que reduzam os custos de� Uso de instrumentos de mercado que reduzam os custos decontrole ambiental e incentivem o desenvolvimento tecnológico

� Avançar no conhecimento ecológico (riscos e danos físicos ebiológicos, criticabilidade)

� Inserir risco e incerteza climática em todo planejamento setorial

ReferênciasReferências

� Seroa da Motta, R. Economia Ambiental, Editora FGV, Rio de Janeiro, 2009

� Seroa da Motta, R As exportações brasileiras e as barreiras comerciais nas políticas de regulação de gases de efeito estufa, BREVE CINDES 32, junho 2010

� Seroa da Motta, R. Aspectos regulatórios das mudanças climáticas no Brasil, Boletim Regional, Urbano, e Ambiental 04, p. 33-38, IPEA, Brasília. Julho 2010

� Seroa da Motta, R Análise das metas do Acordo de Copenhagem , Boletim Regional, Urbano, e Ambiental 04, p. 63-68, IPEA, Brasília, julho 2010