ronaldo cavalcante - a doutrina da justificação pela fé - 2

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FIDES REFORMATA ET SEMPER REFORMANDA EST, V. 7, N O 1, P. 59-72 59 A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ UM EXERCÍCIO EM DIÁLOGO TEOLÓGICO BILATERAL – P ARTE 2 Ronaldo Cavalcante * RESUMO Atitude fundamental para o diálogo teológico-doutrinal é ser exposto ao patrimônio confessional de outrem. Nesse sentido, creio que será de grande proveito termos acesso ao que a 6 a Sessão do Concílio de Trento afirmou sobre a doutrina da Justificação pela Fé. Con- comitantemente, poderemos ser estimulados a esse diálogo por dois representantes de duas confissões cristãs, a católica e a reformada. Descobrir como o outro pensa talvez seja aqui o grande desafio. Isso, sem dúvida, ajudará a sedimentar melhor a nossa própria identidade. PALAVRAS-CHAVE Justificação pela Fé, infusão, causa eficiente, causa meritória, causa formal, mérito, Stantis et cadentis ecclesiae, Simul iustus et peccator, diálogo. INTRODUÇÃO O risco medieval do julgamento a priori, sem uma “acurada investiga- ção” e com os nocivos preconceitos filosóficos, religiosos, ideológicos etc., é uma tentação contínua para o universo protestante. A Reforma denunciou veementemente o obscurantismo teológico e a intolerância religiosa – Post tenebras lux. Tal atitude contraria a gênese do protestantismo, inspirada nas * Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília; mestre e doutor pela Universidade Pontifícia de Salamanca, Espanha, na área de Dogmática. Atual diretor-administrativo do Seminário Presbiteriano Brasil Central (SPBC) e docen- te das disciplinas Literatura Patrística e Reformada, História da Igreja e Hermenêutica.

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  • FIDES REFORMATA ET SEMPER REFORMANDA EST, V. 7, NO 1, P. 59-72

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    A DOUTRINA DA JUSTIFICAO PELA F UM EXERCCIO EM DILOGO TEOLGICO

    BILATERAL PARTE 2Ronaldo Cavalcante*

    RESUMOAtitude fundamental para o dilogo teolgico-doutrinal ser exposto ao patrimnio

    confessional de outrem. Nesse sentido, creio que ser de grande proveito termos acesso aoque a 6a Sesso do Conclio de Trento afirmou sobre a doutrina da Justificao pela F. Con-comitantemente, poderemos ser estimulados a esse dilogo por dois representantes de duasconfisses crists, a catlica e a reformada. Descobrir como o outro pensa talvez seja aquio grande desafio. Isso, sem dvida, ajudar a sedimentar melhor a nossa prpria identidade.

    PALAVRAS-CHAVEJustificao pela F, infuso, causa eficiente, causa meritria, causa formal, mrito,

    Stantis et cadentis ecclesiae, Simul iustus et peccator, dilogo.

    INTRODUOO risco medieval do julgamento a priori, sem uma acurada investiga-

    o e com os nocivos preconceitos filosficos, religiosos, ideolgicos etc., uma tentao contnua para o universo protestante. A Reforma denunciouveementemente o obscurantismo teolgico e a intolerncia religiosa Posttenebras lux. Tal atitude contraria a gnese do protestantismo, inspirada nas

    * Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, bacharel em Teologia pela Faculdade TeolgicaBatista de Braslia; mestre e doutor pela Universidade Pontifcia de Salamanca, Espanha, na rea deDogmtica. Atual diretor-administrativo do Seminrio Presbiteriano Brasil Central (SPBC) e docen-te das disciplinas Literatura Patrstica e Reformada, Histria da Igreja e Hermenutica.

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    Escrituras, que certamente no impediria o dilogo esclarecedor. Em nossocaso especfico, significar a ignorncia da realidade do outro; um eu semum tu como interlocutor.

    Isso significa que se faz necessria a abertura para a assimilao noapenas do que o outro disse, mas fundamentalmente do por-que-ele-disse-daquela-forma; que motivaes mentais e vises de mundo condicionaramaquele produto final.

    Por isso mesmo, a presente reflexo, como continuao do que j foiproposto (ver o 1o artigo no nmero anterior), intentar descrever, de formasinttica, as noes fundamentais da teologia catlica sobre a doutrina daJustificao pela F. Assim, fecharemos o crculo: luteranos-reformados-catlicos. No obstante, entendemos que avaliarmos tal doutrina basicamen-te no Conclio de Trento apenas o comeo, uma vez que a documentaodos ltimos quarenta anos riqussima. Por conseguinte, ousamos um passoadiante, submetendo a anlise a um estudo de caso e trazendo tona uma ins-piradora interlocuo teolgica em torno da doutrina da Justificao pela F:o dilogo doutrinal entre o telogo catlico Hans Kng e o reformado KarlBarth (outra questo no explorada aqui se os dois so legtimos represen-tantes de suas confisses). Com esse exemplo, nosso intuito sugestionar aprtica do dilogo bilateral em fruns de teologia acadmica.

    I. A RESPOSTA DO MAGISTRIO CATLICO: TRENTOAs teses luteranas j haviam sido condenadas por Leo X no ano de

    1520. consenso que a exposio feita pelo Conclio de Trento acerca da Jus-tificao foi uma apologia da doutrina catlica em uma apologia contra osreformadores. No entanto, deve-se reconhecer tambm em um mbito geralque o Conclio de Trento possua como preocupao primordial a reformapastoral na estrutura eclesistica.

    Dessa maneira, o Conclio de Trento expe a doutrina catlica sobre aao da graa justificante, defendendo-a em oposio aos reformadores daacusao de semipelagianismo e afirmando que o pecador fica realmentetransformado em justo pela onipotente graa divina (Flick/Alzeghy, 1970,p. 459). O decreto conciliar, debatido no primeiro perodo do Conclio,desde 21 de junho de 1546 at a Sesso Solene de 13 de janeiro de 1547(Franzen, 1975, p. 682), data em que foi promulgado, era fruto de longasdeliberaes.1

    1 Sobre a histria geral do decreto da Justificao, ver H. Rondet, La Gracia de Cristo. Barcelo-na: Stela, 1966, p. 230 et seq. a partir da nota 7 e tambm, e principalmente, H. Jedin, Histria DelConcilio de Trento II. Pamplona: Verbo Divino, 1972, p. 271-358.

  • O centro da doutrina da Justificao est exposto no cnon 10 (Denzin-ger, 1955, n. 820). Todo o decreto sobre a Justificao que pertence seoVI contm trs partes:

    1o) um promio (Denzinger, 1955, n. 792) em que se aponta certadoutrina errnea acerca da Justificao e se prope expor atodos os fiis de Cristo a verdadeira e s doutrina sobre a mesmaJustificao...;

    2o) dezesseis captulos (Denzinger, 1955, n. 793-810); e, finalmente,3o) trinta e trs cnones (Denzinger, 1955, n. 811-43) que comple-

    mentam o ensino conciliar a respeito da doutrina da Justificao.

    Tais documentos (promio, captulos, cnones), alm de Enrique Den-zinger (1955), podem ser encontrados em vrias colees.2

    Conforme H. Jedin, o Papa e Cervini estavam concordes em que umaboa informao se podia conseguir dos escritos de J. Eck, J. Cochlaeus e F.Nusea. Ademais, autores como Cayetano, Andrs de Vega e Ambrsio Cata-rino haviam trabalhado j na elaborao de um primeiro esboo de teologiacatlica sobre a Justificao; tal esboo estava concebido como resposta sposies dos reformadores (Franzen, 1975, p. 685). Certamente que o decre-to possui alguns pontos que se destacam por sua importncia. Nesses, cen-traremos nossa ateno.

    O Captulo 6, que, segundo Rondet, inspira-se em Santo Agostinhomais que na teologia escolstica, se enlaa diretamente com os Cnones 7, 8,9 e descreve o modo de preparar para a justificao; isso porque o Captu-lo 5 j havia estabelecido a necessidade de preparao para a justificao.Aqui se afirma que Deus tem a procedncia em chamar o homem graa, eisso ele faz por meio da pregao e da chamada interior que possibilita aohomem uma resposta livre e consciente que o faz reconhecer sua condiode pecador, sua necessidade de arrependimento e, ao mesmo tempo, tomaruma deciso de assumir a nova vida que inicia com o batismo.

    O que se deduz que a f o ato preparatrio fundamental e impres-cindvel para a justificao. No entanto, no basta a f fiducial, mas neces-srio a f confessional com contedo determinado. Dessa maneira, o Conc-lio quis, com os textos do Captulo 6 e Cnones 7 a 9, conforme tambmCnone 12, negar o suposto erro de que pela f e a justia que somos for-malmente justificados (Schmaus, 1962).

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    2 CTR 791ss.; Rcht 23ss.; Msi XXXIII 33 Ass; Hrd X 33 Css; Sar (Th) ad 1547, Css (33-192) (Denzinger, 1955).

  • Scheeben ainda mais preciso quando comenta o decreto conciliardizendo que

    tem de provocar-se mediante uma influncia misteriosa de Deus (Jo 6.44). Demodo que a atividade que sob influncia sobrenatural de Deus dispe a alma para agraa da justificao e a conduz para a mesma, em todos os aspectos tem um car-ter mstico (Scheeben, 1964, p. 675).

    Assim, alm de um aspecto negativo (retratio obicis), essa disposiopossui tambm um significado positivo, na circunstncia de que no somen-te prepara para a graa, mas tambm conduz o homem a receb-la, e nisso semanifesta de um modo imediato seu carter sobrenatural mstico, que, porser ela um movimento para um fim sobrenatural, este lhe comunica.

    pergunta De que maneira influi essa disposio na alma para que elav ao encontro da graa, Scheeben responde que primeiro: a alma leva emsi um anelo de graa e deseja receb-la de Deus (idem). Esse anelo infun-dido na alma por Deus mesmo mediante a graa proveniente, e precisamen-te por tal motivo, possui um ttulo para que seja conduzido e, por issomesmo, dispe para a recepo da graa.

    Tal anelo somente poder produzir uma unio desejada se, mediante opuro amor, o homem, por sua parte, j der comeo s suas relaes com Deuse com Cristo, confiando de que Deus no se far esperar mais.

    Aps o anelo de confiana, deve-se ter a prontido, a deciso firme daalma de viver conforme a graa que vai receber, de aproveit-la e de guard-lacom fidelidade, ou seja, a entrega da alma a seu esposo divino e sua submis-so a ele. A ascenso sobrenatural por meio do anelo, confiana e submisso,somados graa proveniente, manifestar toda sua elevao e significadosmsticos, se for acompanhada pelo amor da esposa para com Deus (idem).

    O Conclio de Trento claramente ensina: A justificao no somenteremisso dos pecados, e sim tambm santificao e renovao do homem inte-rior, pela voluntria recepo da graa e dos dons, de onde o homem se con-verte de injusto em justo, e de inimigo em amigo para ser herdeiro segundo aesperana da vida eterna (Denzinger, 1955, n. 799). Para essa interpretaoso importantes os conceitos de justia e santificao (Auer, 1975, p. 119).

    Sendo assim, a justificao consiste no em mera remisso de pecados,seno na infuso da graa santificante e das virtudes teologais (Denzinger,1955, n. 800) e dos dons do Esprito Santo como faculdades habituais do cor-reto comportamento sobrenatural para com Deus. Portanto, a justificaoidentifica-se com a santificao interior e com a elevao sobrenatural dohomem. Apesar de que, como disse Denzinger, essa santificao enquantoqualidade do homem distinta de Deus (graa incriada), de tal maneira quea causa eficiente (Deus em sua benignidade) e a causa meritria (Cristo), por

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  • uma parte, e a causa formal da justificao (graa), por outra, no podemidentificar-se simplesmente (apud Karl Rahner, Justificacin, Sacramentummundi, t. 4, p. 181).

    Segue-se que essa santificao, como possesso habitual da graa san-tificante, implica um renascimento interior, uma renovao, a filiao divi-na, o direito salvao eterna e a habitao de Deus por meio de seu Espri-to (Denzinger, 1955, n. 799 et seq.).

    O Captulo 7 considerado uma das partes mais importantes do decreto,ao passo que o Captulo 6 faz uma anlise antolgica inspirando-se na teolo-gia escolstica, mas margem de toda a sistematizao (Rondet, 1966, p. 233).

    Por isso mesmo, a justificao, no Captulo 7, no uma simples remis-so de pecados (conf. supra), e sim uma transformao profunda pela qual ohomem, enriquecido pelo dom de Deus e por uma livre aceitao da graa ede seu cotejo de dons, faz-se justo, amigo de Deus e herdeiro da vida eterna.Est justificado no por uma imputao extrnseca dos mritos de Cristo:

    Se algum disser que os homens se justificam ou por s imputao da justia deCristo ou por s remisso de pecados, excludas a graa e a caridade que se difun-dem em seus coraes pelo Esprito Santo, e lhes fica inerente; ou tambm que agraa, pela qual nos justificamos, somente o favor de Deus, seja antema (Cnon11, Denzinger, 1955, p. 821).

    Mas antes pela justia que lhes prpria e que o Esprito Santo infunde noscoraes segundo sua vontade e a livre cooperao de cada um. Essa justiapermanece no homem como um princpio permanente e implica a presenade trs virtudes sobrenaturais: f, esperana e caridade. Sem a esperana e acaridade, a f no pode justificar ao homem nem fazer dele um membro vivode Cristo (Rondet, 1966, p. 234).

    No Captulo 7, bem clara a concepo da alta Idade Mdia: A nicacausa formal a justia de Deus, no aquela com que ele justo, e sim aque-la com que nos faz justos (Cnon 10 e 11). Quer dizer, aquela, pela qual dota-dos por ele somos renovados no esprito de nossa mente e no somos reputa-dos, e sim que verdadeiramente nos chamamos e somos justos, ao receber emns cada um sua prpria justia, segundo a medida que o Esprito Santo areparte a cada um como quer (1 Co 12,11) e segundo a prpria disposio ecooperao de cada um. A partir da afirmao central dessa definio, pode-se inferir claramente a sua finalidade subjacente, explicitada posteriormente,com uma parfrase bastante ampla que retrata bem essa mesma definio. Ajustificao est, portanto, inalienavelmente associada obra salvfica deJesus Cristo, conceito que, como dizamos, era tpico da alta Idade Mdia.Piet Franzen esclarece muito bem este conceito:

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  • Voltamos a encontrar aqui a primitiva persuaso do sculo XII, segundo a qualtodos os aspectos bblicos da justificao a unio com Cristo, o impulso do Esp-rito Santo, a remisso dos pecados, a santidade interior (f, esperana e caridade),a recepo do batismo, a guarda dos mandamentos de Deus expressam conjun-tamente os diversos aspectos de uma nica realidade, uma unidade harmnica den-tro da obra salvfica inaugurada pelo Pai e, em virtude dos mritos da paixo deCristo, realizada pelo Esprito Santo (Franzen, 1975, p. 690).

    A doutrina sobre o mrito est exposta no Captulo 16 e, para vriosautores (Franzen, Rondet, Auer, Schmaus, Molinski, Rahner), de especialimportncia. Para Auer, tem tal importncia que manifesta o ncleo da dou-trina catlica da graa enquanto a colaborao entre Deus e o homem, a pos-sibilidade e gratuidade da graa, a relevncia da ao humana com a graadivina (Auer, 1975, p. 264). Por outro lado, Franzen, embora aceitando suacentralidade e importncia no decreto, explica que no o porque pensemosque a doutrina do mrito constitui o ncleo da mensagem bblica sobre agraa, e sim porque, na interpretao catlica, a obra meritria se realizana dimenso do Coram Deo (Franzen, 1975, p. 691). Em outras palavras,Franzen pretende fazer uma concesso no dilogo com a Reforma, no senti-do de no valorar em demasia o conceito de mrito, to caro teologia cat-lica, entendendo-o como uma atitude realizada no revelia de Deus, mas,pelo contrrio, perante ele (Coram Deo).

    O Conclio tenta mostrar que os mritos so, ao mesmo tempo, pro-duto da ao humana e da graa de Deus. Conforme o prprio texto doCaptulo 15 que diz: o mesmo Cristo Jesus, como cabea sobre os mem-bros (Ef 4.15) e como vida sobre os sacramentos (Jo 15.5), constante-mente influi sua vontade sobre os justificados, virtude que antecede sem-pre s suas obras, acompanha-os e segue-os e sem a qual de modo algumpuderam ser gratos a Deus nem meritrios (Cnon 2 Denzinger, 1955,p. 809).

    A teologia catlica entende que o homem transformado interiormen-te no processo de justificao. Estando transformado, o homem , portanto,capacitado a fazer algo de valor para Deus ou diante de Deus. Fazer algo devalor seria ento reunir mritos. Assim, a graa aceita pelo homem seconverte em seu mrito. Essa continua sendo totalmente graa de Deus mere-cida por Cristo na cruz, mas passando a ser propriedade do homem median-te ato livre de f e de justificao (Molinski, Mrito, Sacramentum Mundi, t.4, p. 559). Nesse aspecto, deve-se entender a definio do Conclio de Tren-to quando diz que o justificado pode merecer realmente (itlico meu) (Den-zinger, 1955, n. 801, 803, 809, 832, 834, 842), pois pela graa santificante,foi transformado em amigo de Deus.

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  • Torna-se, pois, importante perguntar: que tipo de mrito esse? Comopodemos conjugar a primazia de Deus afirmada pelo Conclio com o mritohumano?

    Heiko Oberman entende que, quando o Conclio condena a tese de queo homem pode por si mesmo merecer a justificao, na verdade est conde-nando somente o mrito de condigno, que quer dizer o mrito prprio,por isso usa a palavra promereri e no mereri (mrito de cngruo). Para ele,o fato de no rechaar o meritum de cngruo torna o Conclio vulnervel(Oberman, em Zeitschrift fur Theologie und Kirche, n. 61, 1964, p. 251-82).

    E. Schillebeeckx3 inicia uma reposta a Oberman dizendo que o Conc-lio de Trento manteve-se neutro quanto concepo de meritum de cn-gruo, principalmente por causa das trs tendncias presentes no Conclio(tomista, escotista, nominalista). Por isso mesmo, continua ele, Trento nonecessita ser corrigido (como sugere Oberman) e sim completado (Schille-beeckx, 1965, p. 169). Reconhece com Oberman a insuficincia de algunstextos tridentinos (idem), mas matiza que a resposta de Trento no falha,e sim incompleta (idem). Ele termina sua rplica apontando para o fato deque na liberdade humana a graa se faz realidade histrica, visvel, palpvel(idem, 1965, p. 170) e por isso a controvrsia mrito ou graa situada emum nvel distinto. Para Schillebeeckx, portanto, aquilo que na liberdadehumana constitui precisamente a verso da graa de Deus e sua manifesta-o no pode pensar-se que esteja em concorrncia com a graa mesma [...]tampouco se opem mutuamente o mrito e a graa (idem, 1965, p. 171).

    Por isso, o Cnon 9 afirma:

    Se algum disser que o mpio se justifica pela f somente, de modo que entenda norequerer-se nada mais com que compare a seguir a graa da justificao, e que porparte alguma necessrio que se prepare e disponha pelo movimento de sua vonta-de, seja antema (Denzinger, n. 798, 801, 804).

    Essa definio certamente est fundamentada em Santo Agostinho (Degratia et libero arbtrio 8.20, PL 44.893: Deus coroa seus dons em nossosmritos). As duas afirmaes, da graa divina e do mrito humano, presen-tes no decreto conciliar, devem ser entendidas dentro de um contexto dial-tico e existencial que respeita, em unidade orgnica, tanto a primazia deDeus como a realidade de nossa justificao, manifestada em nossos mritose mantm, ao mesmo tempo em que se conserva a nossa indignidade at ofinal de nossos dias.

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    3 E. Schillebeeckx, Uma Opinin Nueva sobre el decreto de la justificacin en el Conclio de Tren-to, Concilium, n. 5, 1965, p. 168-171.

  • II. O DESAFIO DO DILOGO ECUMNICO: ESTADO DA QUESTO A PARTIR DE UM ESTUDO DE CASOKarl Barth menciona que o livro A justificao (Rechtfertigung), do te-

    logo catlico Hans Kng, foi publicado em alemo em 1957 em Basilia.Segundo Muoz Palcios, na apresentao da edio espanhola, ele assinalouum passo fundamental na histria da aproximao entre os cristos. H. Kngintentou uma obra gigantesca: buscar os pontos de contato entre a doutrinasobre a justificao do maior telogo sistemtico protestante atual e a doutri-na sobre a justificao do Conclio de Trento. Com isso, ele produziu umaverdadeira sensao no mundo teolgico. Hans Kng conclua, surpreenden-temente, que a doutrina da Justificao do Conclio de Trento e a de KarlBarth coincidiam em seus elementos fundamentais (Kung, 1967, p. 423).

    Tanto H. Buillard quanto H. U. Von Baltazar j haviam entrado emdilogo com Karl Barth,4 tendo publicado trabalhos sobre a pessoa e a obrado telogo protestante da Basilia. Tanto Buillard quanto Kng utilizarambastante a obra de Baltazar. O livro de Kng despertou grande interesse,pois continha uma carta introdutria do prprio Barth, na qual ele escreve:Se o que voc desenvolve na segunda parte como doutrina da Igreja Cat-lica Romana , efetivamente, a doutrina da Igreja Romana, ento tenho queadmitir que minha doutrina da Justificao concorda com a sua (Muhlen,1974, p. 153).

    Diante do trabalho de Kng, reaes catlicas e protestantes no tarda-ram em aparecer. O suposto acordo de fundo entre as duas posies confes-sionais acerca da doutrina da Justificao foi recebido, em linhas gerais, comdesconfiana e reserva por parte dos protestantes.5 Pelo lado catlico, pare-ce haver consenso de que a doutrina exposta na segunda parte do livro comocatlica de fato catlica.

    A exposio de Kng catlica [...] Com esta doutrina da Justificao,que Barth declara anloga sua, se pode ser catlico (Rahner, ET IV, p. 248e 256. In: R. de La Pea, El don de Dios, p. 364). A reserva catlica ao tra-balho de H. Kng diz respeito mais doutrina da Justificao de Barth e sconcluses a que se chega (H. Buillard, H. De Lubac).

    A obra de Kng divide-se em duas grandes partes. A primeira parte subdividida em Justificao, Histria da Salvao e Cumprimento da Justi-ficao. Descreve a doutrina da Justificao de Karl Barth, e o faz reconhe-

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    4 H. U. Von Baltazar, Karl Barth Barstellung und Deutung seiner Theologie, Koln, 1951 e H. Buil-lard, Karl Barth I-III, Paris, 1957 In: R. de La Pea, El don de Dios, p. 363, nota 51.

    5 Segundo P. Brunner, (1959), a doutrina da Justificao de Barth vem fazer a mais funda brechapela qual se acha dividida a cristandade ocidental que o que j devido s diferenas existentes entre osescritos confessionais de Lutero e o decreto da Justificao do tridentino, porquanto agora at se des-carta a comunidade de problemtica.

  • cendo que a dificuldade em entender Barth acontece porque, essencialmen-te, ele pensa e fala de outra maneira (Kng, 1967, p. 9).

    Para Kng, no obstante a importncia central da doutrina da Justifica-o em Barth, essa no toda a verdade, pois Barth v nela s um aspectoparticular da mensagem crist da redeno (idem, p. 13). Cita Barth (nota 8K.D.t.IV-1.588): O artigo Stantis et cadentis ecclesiae no a doutrina da jus-tificao como tal, seno seu fundamento e seu ponto alto.

    [...] o problema da justificao no tem necessidade de uma posio exclusiva eartificial que lhe confira um valor absoluto. Sua dignidade e sua necessidade soparticulares (idem).

    Kng vai ao centro da doutrina da Justificao em Barth e diz que a jus-tificao fundamenta-se na eterna eleio gratuita de Deus em Jesus Cristo, aqual se realiza no interior do povo de Deus, eleito tambm em Jesus Cristo(idem, p. 18).

    Deus quer perder para que o homem ganhe [...] Na eleio de Jesus Cristo, que a vontade eterna de Deus, Deus destinou o homem para a eleio, a felicidade e avida, reservando-se para si [...] a reprovao, a condenao e a morte (idem, p. 19).

    Essa eleio gratuita que fundamenta a justificao a eterna alianade Deus com o homem. A eterna aliana de Deus com o homem se estabele-ce e cumpre-se no tempo. E essa eterna aliana de Deus estabelecida notempo faz da justificao um acontecimento incondicional eternamente vli-do e cujo imperativo universal (idem, p. 22).

    A histria da aliana a histria do rompimento da aliana, e exige, por-tanto, uma reconciliao. A justificao na reconciliao a culminao daaliana original. A justificao s um aspecto da reconciliao. A reconci-liao a obra central de Deus entre a criao e a consumao (idem, p. 22).

    Para Kng, o centro da polmica com Barth est nas perguntas que elefaz teologia catlica: A doutrina catlica considera seriamente a justifica-o como o livre ato de soberania de Deus? At que ponto leva realmente asrio a graa como graa? sua afirmao da unidade da graa algo maisque uma simples afirmao? Kng responde que essas mesmas perguntasforam sempre as dos catlicos aos protestantes (idem, p. 34).

    A confrontao entre os dois postulados, realizada na segunda parte,comea aqui a ser aclarada com o aprofundamento na posio de Barth.Ento poderemos saber se o conceito catlico diz outra coisa ou diz amesma de outra maneira (idem, p. 37).

    Para fundamentar essa coincidncia da perspectiva, Kng apia-se emdefinitivo na reflexo seguinte: o termo justificao significa em Barth ojuzo dado por Deus na morte e ressurreio de Cristo. Mas com isso o que

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  • se expressou a significao objetiva da obra redentora de Cristo (que seestende em princpio a todos os homens), mas no sua realizao subjeti-va, que s se produz nos fiis (Muhlen, 1974, p. 153). Assim, o sentidoobjetivo da justificao entra na categoria dos universais e o sentido sub-jetivo por sua vez, se relaciona com os particulares; apenas o fiel experi-menta a ao concreta e individual da justificao.

    Para Kng, portanto, em Barth, o cumprimento da salvao dependeinteiramente de Jesus Cristo, o Deus que se humilha Propter nos homineset propter nostram salutem, O Deus pro nobis, irmo do pecador (Kng,1967, p. 40), fez-se nosso salvador ao fazer-se nosso juiz. O juzo de Deuscondena ao pecador. Na ressurreio, o Pai aceita o homem pelo sacrifcio deseu Filho (idem, p. 264). O homem cado, corrompido, reprovado, que, noobstante, na ressurreio de Jesus Cristo, tem um signo de esperana. pos-svel uma positiva reconciliao com Deus. direito de Deus. Deus fiel asi mesmo (idem, p. 57).

    A justificao, portanto, depende totalmente da justia de Cristo (alie-nada de ns) e somente enquanto tal minha justia. Essa dialtica de justi-a estranha e justia prpria que depende exclusivamente do direito de Deus(idem, p. 65). Assim o resultado do juzo divino a absolvio do homem, anova criao, o homem justo (idem, loc. cit.). Essa nova realidade que, noporvir, ser experimentada a totus iustus; todavia, hoje, experimenta umajustificao efetiva e no somente decorativa (idem, p. 70). Para Barth, a jus-tificao, que obra de Deus, tem na f o correspondente humano (idem, p.73), f que humildade da obedincia. F justificante que contrape fpelas obras (idem, p. 74).

    Essa realizao subjetiva a apropriao da justificao, o ser dohomem justificado em Cristo, a instaurao da existncia crist no indivduohumano. Essa instaurao acontece na f e essencialmente uma obra doEsprito Santo. A apropriao da graa de Jesus Cristo que nos atribudapressupe e inclui a presena, o dom e a acolhida, a obra do Esprito Santoe sua consumao (idem, p. 82).

    Um dos pontos altos do livro de Kng o destaque que d ao signifi-cado da justificao para o prprio Deus, pois para Barth, a suprema signifi-cao da justificao do homem para Deus reside em que Deus, na justifica-o do homem, tambm se justifica antes de tudo a si mesmo. essa aresposta de Rm 3.26: para provar que justo (conf. K.D.t.IV-1 624-9,idem, p. 88).

    Toda a problemtica levantada por Barth teologia catlica resumidapor Kng em uma s pergunta: A teologia catlica considera seriamente ajustificao como ato soberano de graa de Deus? Soli Deo glria!

    Toda a segunda parte da obra de Kng uma reposta da teologia cat-lica, em forma de ensaio, s perguntas de Barth. Essa segunda parte est

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  • repleta de crticas doutrina da Justificao de Barth e, ao mesmo tempo, vaidestacando aqueles pontos de acordo entre os dois postulados. Em suma,para Kng, a m interpretao que faz Barth do tridentino decorre do fato,dentre outros, de que Barth l o catolicismo mediante alguns manuais, como,por exemplo, o de Berhard Bartmann Lehrbuch der Dogmatic (Friburgo,1911) , o que, segundo Kng, utilizando a argumentao de K. Rahner, indi-ca a notria insuficincia de nossos manuais (idem, p. 108).

    Kng destaca a coincidncia de Barth e o tridentino na questo do Simuliustus et peccator 6, na frmula Sola fide7 e ainda na relao entre justificaoe santificao.8

    Kng conclui dizendo que Barth considera seriamente a justificaodo homem em Jesus Cristo (Kng, 1967, p. 277). Mas rechaa a polmicaanticatlica, em particular contra a doutrina da Graa e contra o decreto tri-dentino da Justificao (idem, p. 278). No devemos passar por alto que, nadoutrina da Justificao examinada em conjunto, produz-se uma coincidn-cia fundamental entre a doutrina de Karl Barth e a da Igreja Catlica (idem,loc. cit.).

    Karl Rahner, mesmo reconhecendo que ainda no se pode falar de umacordo em todos os problemas, contudo reconhece que um sintoma pequeno,mas significativo, dessa aproximao o fato de que Karl Barth tenha dadosua completa aprovao exposio de sua doutrina da Justificao feitapelo telogo catlico Hans Kng (Rahner, 1964, p. 131).

    CONCLUSO Historicamente, o livro de Hans Kng teve uma funo importantssi-

    ma na abertura do dilogo ecumnico de matiz teolgico entre catlicos9 eprotestantes em geral, especialmente com os reformados (calvinistas).

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    6 Deus justifica ao homem em seu juzo de graa. A declarao de justia do juiz divino , aomesmo tempo, a justificao do homem [...] Para Barth, a justificao que o homem recebe de Deustem um triplo significado: perdo do pecado, implantao do direito dos filhos de Deus, implantaono estado de herdeiro da vida eterna esta tambm a doutrina do Conclio de Trento (Kng, 1967,p. 236).

    7 [...] comprovar uma coincidncia fundamental sobre a compreenso da frmula Sola fide. Afrmula, o mesmo na doutrina catlica que em Barth, significa: nenhuma das obras humanas, nemsequer as melhores, inclui em si justificao. S por causa da f justificado por Deus (idem p.259-260).

    8 [Barth] no aduziu nada nunca contra a santificao como tal, somente contra uma dissoluoda justificao que procede de Deus na santificao do homem. Vimos que inclusive na concepocatlica temos que estabelecer uma diferena essencial entre a ao do homem.

    9 Oficialmente, a participao da Igreja Catlica no processo ecumnico mundial deu-se a partirdo Conclio Vaticano II. No entanto, as intenes se manifestaram de uma maneira singular j antesdo conclio. Em 1959, o ento papa Joo XXIII cria o Secretariado para a Unidade dos Cristos, adfovendam Unitatem Christianorum, que possui caractersticas de Instituio Conciliar e se converter

  • No obstante, bem verdade que os dilogos bilaterais realizados apartir da dcada de 1960, sobre os temas da salvao e justificao, so con-versaes entre catlicos e luteranos e catlicos e anglicanos; so trs osdocumentos em questo: 1) Grupo de Luteranos e Catlicos em Dilogo dosEstados Unidos da Amrica, A justificao pela f, declarao conjunta,1985 (Gonzlez Montes, 1989, p. 33-119); 2) Crculo de Trabalho Ecumni-co de Telogos Evanglicos e Catlicos da Repblica da Alemanha, A justi-ficao do pecador, 1985 (idem, p. 121-65); 3) Segunda Comisso Interna-cional Anglicana/Catlico-Romana, A salvao e a Igreja, 1986.10

    Do ponto de vista ecumnico, portanto, as linhas de compreenso dajustificao, outrora separadas historicamente pela controvrsia teolgica,hoje podem ser reajustadas, no sentido de tenso frutuosa em necessidademtua, para que, inclusive nas questes abertas, quais sejam Justificao eJustia e Justificao e Igreja, busque-se o consenso. Pois um no dito aoconsenso paga-se certamente com um agudo risco de que, ento, a doutrinada Justificao seja imposta ilegalmente ao pensamento e que por fim sedesvirtue em exerccio de dever confessional.11

    Destaca-se a centralidade do artigo da Justificao pela F no resgateda relao imediata do pecador com Deus contra a estrutura eclesistica,hierrquica e autoritria do sculo XVI e posteriormente. Hoje, aps anosde dilogo formal e informal, evidenciam-se os esforos de personalidadesque dedicaram suas vidas em ministrios causa do dilogo ecumnicodoutrinal. Podemos citar aqui, juntamente com Joseph Lortz e WolfhartPannemberg, Hans Kng em dilogo com Karl Barth, Otto HermannPesch, da Faculdade Protestante de Teologia de Hamburgo.

    No momento atual, podemos afirmar que a doutrina luterana da justifi-cao no atua nas discusses teolgicas com elementos de diviso (Pan-nemberg, 1986, p. 186).

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    da em diante em verdadeira plataforma de contatos permanentes com os irmos separados (SanchezVaquero). O texto definitivo do decreto De Unitais Redintegratio sobre o ecumenismo foi votado eaprovado em 20 de novembro de 1964. O n. 5 do Decreto diz assim: Convm conhecer o esprito dosirmos separados [...] para conseguir isto, ajuda muito as reunies de ambas as partes, principalmen-te para tratar questes teolgicas, onde cada um trate os demais de igual para igual [...] por este cami-nho, ao mesmo tempo que se conhece melhor a mentalidade dos irmos separados, se lhes far expo-sio de maneira mais alta sobre nossa prpria f.

    10 Ademais, os trs documentos citados, aparecem em lngua espanhola na Revista Dilogo Ecu-mnico, t. XXII, n. 73, 1987 e t. XXIII, n. 75-77. Tambm integralmente em A. Gonzlez Montes,Enchiridion Oecumenicum, t. I e II, 1986 e 1993.

    11 O. H. Pesch, La gracia como justificacin del hombre em mysterium salutis IV/2. Madrid: Cris-tiandad, 1984, p. 448. Para uma aproximao inicial teologia ecumnica, ver Jos E. Vercruysse,Introduccin a la teologia ecumnica, Pamplona: Verbo Divino, 1993.

  • Dessa forma, catlicos e protestantes (pelo avano das discusses dou-trinrias em torno daquilo que foi para Lutero O que ns ensinamos contrao Papa, o demnio e o mundo (idem, 1537), ou seja, o artigo da Justifica-o pela F) so desafiados, no somente na prxis como igualmente nodogma, a caminharem juntos em dilogo.

    Doutrinariamente, o protestantismo tem enfatizado aspectos que esta-vam insuficientemente presentes na teologia e na prxis vigente, tais como:a majestade misericordiosa e gratuita, a autoridade da palavra de Deus naIgreja, a profundidade da f pessoal. A Igreja Catlica, por sua vez, poderecordar, tradio protestante, a presena sacramental de Deus na criao eno homem, o profundo sentido da responsabilidade humana e a universalida-de da Igreja. Na Igreja unida, cada tradio pode contribuir, mediante umdilogo permanente, com a prpria riqueza de seu testemunho e f (Ver-cruysse, 1993, p. 176s.).

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    ABSTRACTThe basic attitude for a theological dialog is to be exposed to the fundamental beliefsof someone else. In this sense I believe that it will be of great profit to have accessto what the sixth session of the Trent Council, declared about the doctrine ofjustification by faith. Simultaneously we could be motivated to this dialog by tworepresentatives of the two Christian confessions, the catholic and the reformed one.To find out how others think might be the great challenge. This, no doubt, will helpus to better establish our own identity.

    KEYWORDSJustification by faith, infusion, merit, Stantis et cadentis ecclesiae, simul iustus etpeccator, dialogue.

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