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Página 1 Boletim 569/14 – Ano VI – 24/07/2014 Ritmo de alta dos pisos salariais cai à metade em 2013 Por Camilla Veras Mota | De São Paulo Estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que, no ano passado, os pisos fixados em 685 acordos salariais tiveram aumento real médio de 2,8%, metade do percentual médio obtido em 2012, de 5,6%. Houve correção acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 95,3% dos pisos, contra 98% no ano anterior. Na maior parte das negociações, 29,8%, a correção esteve entre 2,01% e 3% acima do índice; 2,2% conquistaram aumento real acima de 10% - resultado puxado pela indústria (2,3%) e pelos serviços (3,1%). Em 2012, a distribuição dos aumentos foi mais pulverizada, com 14,4% das altas reais entre 8,01% e 9% - o maior grupo entre as faixas de reajuste - e 13,5% com valorização do piso entre 2,01% e 3% acima da inflação. Entre os setores, indústria e comércio tiveram os melhores desempenhos no ano passado e conquistaram aumento real em 96,8% e 97,4% dos casos, respectivamente. A maior perda em relação a 2012 veio das atividades rurais, que passaram de 100% de aumento acima da inflação para 92,6%.

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Boletim 569/14 – Ano VI – 24/07/2014

Ritmo de alta dos pisos salariais cai à metade em 2 013 Por Camilla Veras Mota | De São Paulo Estudo divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que, no ano passado, os pisos fixados em 685 acordos salariais tiveram aumento real médio de 2,8%, metade do percentual médio obtido em 2012, de 5,6%. Houve correção acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 95,3% dos pisos, contra 98% no ano anterior.

Na maior parte das negociações, 29,8%, a correção esteve entre 2,01% e 3% acima do índice; 2,2% conquistaram aumento real acima de 10% - resultado puxado pela indústria (2,3%) e pelos serviços (3,1%). Em 2012, a distribuição dos aumentos foi mais pulverizada, com 14,4% das altas reais entre 8,01% e 9% - o maior grupo entre as faixas de reajuste - e 13,5% com valorização do piso entre 2,01% e 3% acima da inflação.

Entre os setores, indústria e comércio tiveram os melhores desempenhos no ano passado e conquistaram aumento real em 96,8% e 97,4% dos casos, respectivamente. A maior perda em relação a 2012 veio das atividades rurais, que passaram de 100% de aumento acima da inflação para 92,6%.

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Em 6% dos casos, o piso fixado em 2013 coincidiu com o salário mínimo vigente (R$ 678). Quase metade (48,8%) estabeleceu salários de até R$ 800, valor próximo à média verificada pelo Dieese, de R$ 879,04. Em 0,9% dos casos, o valor nominal do piso ficou entre R$ 2.000 e R$ 2.250 e em 0,6%, acima do último valor.

O levantamento leva em conta apenas o valor mais baixo negociado por categorias com mais de um piso salarial (que podem ser estipulados de acordo com a função do trabalhador, tamanho da empresa etc).

Luís Ribeiro, supervisor técnico do sistema de acompanhamento de informações sindicais do Dieese, explica a desaceleração expressiva do reajuste médio dos pisos entre 2012 e 2013 - de 5,6% para 2,8% - pela correlação positiva que esses salários têm mostrado com a dinâmica de reajuste do salário mínimo.

Em 2012, a alta real de 7,6% do mínimo influenciou as negociações entre sindicatos e entidades patronais e pressionou o aumento real para cima, avalia. No ano passado, o avanço real dos pisos foi pouco maior que o do mínimo, de 2,6%.

O técnico do Dieese leva em conta "o ano menos favorável" em 2013, referindo-se à desaceleração da economia no período, e acrescenta que, desde 2009, quando o Dieese passou a acompanhar a dinâmica dos pisos, esses salários têm conquistado aumentos reais acima do conjunto das demais remunerações.

Em 2013, 87% das negociações desse último grupo conseguiram altas superiores à inflação, com percentual médio de aumento de 1,25%. Para os pisos, o percentual de acordos com ganhos acima do INPC no período foi de 95,3%, com 2,8% de aumento real.

Nesse sentido, a política de valorização do salário mínimo tem sido responsável pela redução da disparidade salarial dentro de empresas e categorias profissionais, afirma Ribeiro.

O reajuste mais fraco do salário mínimo neste ano, de 0,8%, não indica necessariamente uma desaceleração significativa no aumento dos pisos, ressalva o técnico.

Uma análise preliminar dos acordos fechados neste primeiro semestre entre as remunerações maiores que o piso apontam desempenho melhor que a alta real de 1,25% verificada no ano passado.

"Um reajuste forte do mínimo pode influenciar uma alta mais significativa dos salários, mas um aumento mais modesto não puxa o percentual dos acordos necessariamente para baixo", diz Ribeiro.

Na terceira semana de agosto, o Dieese divulgará o balanço das negociações salariais do primeiro semestre deste ano.

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Construção reduz número de empregados em junho Por Lorenna Rodrigues | De Brasília A indústria da construção civil brasileira registrou queda no nível da atividade e no número de empregados no mês de junho.

De acordo com a pesquisa "Sondagem da Indústria da Construção", divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), empresários do setor também relataram redução na margem de lucro operacional e maior dificuldade no acesso ao crédito no segundo trimestre deste ano.

O indicador que mede o nível de atividade da indústria da construção ficou em 44,5 pontos em junho -- números abaixo de 50 representam retração. Foi o sétimo mês consecutivo de queda.

Em maio, o índice estava em 45,8 e em junho do ano passado, em 44,3. "Esse desempenho negativo está em linha com a desaceleração da economia brasileira", avaliou a CNI, em nota.

Outro indicador em queda foi o que mede o número de empregados, que marcou 45,3 pontos. Em maio, esse índice estava em 45,5 e em 45,7 em junho do ano passado.

A utilização da capacidade de operação passou de 70% em maio para 69% em junho. No mesmo mês de 2013 era de 68%.

Houve piora também nos indicadores que medem a situação financeira das empresas. No segundo trimestre, o da margem de lucro operacional ficou em 41,4 pontos, contra 41,6 no mês passado e 44,2 em junho de 2013.

A pesquisa mediu ainda a expectativa do setor para os próximos seis meses. Em relação ao nível de atividade, o número ficou em 51,2 pontos, o que representa a projeção de expansão.

Os empresários, no entanto, já não estão tão otimistas: o mesmo indicador estava em 51,5 pontos em maio e 54,6 pontos em junho do ano passado. "Entre as grandes empresas há expectativa de queda nos novos empreendimentos e serviços, na compra de insumos e matérias-primas e no número de empregados nos próximos seis meses", informa a pesquisa.

A sondagem da construção foi feita entre 1º e 11 de julho com 534 empresas, das quais 167 de pequeno porte, 239 médias e 128 grandes.

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Curtas

Custas trabalhistas O Tribunal Superior do Trabalho (TST) divulgou os novos valores referentes aos limites de depósito recursal previstos no artigo 899 da CLT. Os valores, que entram em vigor a partir de 1o de agosto, foram reajustados pela variação acumulada do INPC do IBGE do período de julho de 2013 a junho deste ano. A nova tabela prevê o depósito de R$ 7.485,83 para a interposição de recurso ordinário e de R$ 14.971,65 para recurso de revista, embargos, recurso extraordinário e recurso em ação rescisória.

Cota de deficientes

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou a reintegração de um trabalhador que conseguiu provar que, ao ser demitido, a empresa não respeitou o percentual mínimo de deficientes nem contratou, no mesmo momento, outro para substitui-lo. O percentual está previsto no artigo 93 da Lei nº 8.213 (Lei da Previdência Social), de 1991. O trabalhador foi contratado pela Tupy como técnico, na cota de deficientes. Ao informar aos superiores que dera entrada no pedido de aposentadoria, acabou demitido sem justa causa. A empresa defendeu a validade da dispensa e afirmou que observou a legislação, pois contratou deficiente auditivo para a substituição. A 3ª Vara do Trabalho de Joinville (SC) levou em conta laudo médico que provou que o segundo contratado tinha necessidades especiais e rejeitou o pedido de reintegração. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Santa Catarina manteve a sentença. Para a 8ª Turma do TST, porém, se a empresa não cumpre o percentual mínimo previsto na lei, não há como saber se a contratação de outro trabalhador com deficiência foi motivada pela cota legal ou pela dispensa de alguém nestas mesmas condições. Como a Tupy não se desincumbiu do ônus de provar a contratação de trabalhadores em cumprimento à cota legal, o relator da matéria, ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, deu provimento ao recurso do empregado e deferiu a reintegração.

(Fonte: Valor Econômico dia 24-07-2014).

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Pisos salariais subiram menos em 2013, mostra Diees e

Cerca de 95% das categorias tiveram aumento real mé dio 2,8% acima da inflação pelo INPC, abaixo do registrado em 2012 (5,68%)

De acordo com o órgão, essa diferença pode ser decorrente, "em parte", da valorização do salário m ínimo

IGOR GADELHA - AGÊNCIA ESTADO

Cerca de 95% das 685 unidades de negociação analisadas pelo Sistema de

Acompanhamento de Salários do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos (SAS-Dieese) conquistaram, para os pisos salariais em 2013, reajustes

acima da inflação medida Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo divulgou há pouco o Dieese,

o aumento real médio foi de 2,8% acima da inflação - ganho menor do que registrado em

2012, de 5,68% acima do INPC.

O SAS-Dieese informa que, no ano passado, os valores acordados variaram entre R$

678,00, (equivalente ao valor do salário mínimo vigente em 2013) e R$ 3.600,00. O valor

médio dos pisos foi de R$ 879,04, cerca de 9% maior, em termos nominais, que o valor

médio observado em 2012 (R$ 802,89). Em relação aos valores estabelecidos para os

pisos, aproximadamente 6% correspondiam ao salário mínimo vigente; cerca de um terço

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até R$ 750 e quase metade de até R$ 800. Pisos acima de R$ 1 mil foram observados em

16% das negociações analisadas e superiores a R$ 2 mil, em apenas 1,5%.

Na desagregação por setor econômico, a pesquisa mostra que em todas as áreas o

porcentual de unidades de negociação com aumento real nos pisos salariais foi superior a

90%. A maior incidência de pisos com reajustes foi no Comércio (97,4%) e na Indústria

(96,8%), seguido pelo setor Rural (92,6%) e de Serviços (91,7%). Já aos reajustes abaixo

da inflação, observados em quase 3% das categorias, foram mais frequentes no setor

Rural (7,4% das unidades de negociação) e nos Serviços (5,2%). Nos setores de Indústria

e Comércio, esse porcentual foi de 1,7% e 0,9%, respectivamente.

O levantamento revela também que o Salário Mínimo Necessário calculado pelo Dieese

para 2013 variou entre R$ 2.621,70 (valor aferido em setembro) e R$ 2.892,47 (em abril), o

que resultou em um valor médio anual de R$ 2.765,33, o equivalente a 4,08 salários

mínimos oficiais. A pesquisa destaca que, no ano passado, apenas duas categorias

analisadas registraram pisos salariais superiores ao valor médio do Salário Mínimo

Necessário, ambas em convenções coletivas de médicos, o que puxou o valor médio do

setor de "Serviços de Saúde Privada" para R$ 3.600,00.

No relatório do estudo, o Dieese comenta que o resultado de 2013 por si é "expressivo",

embora seja ligeiramente inferior ao registrado em 2013, quando o porcentual de unidades

de negociação com aumentos reais atingiu 98% das 696 unidades pesquisadas. De acordo

com o órgão, essa diferença pode ser decorrente, "em parte", da valorização do salário

mínimo, "cuja influência sobre as negociações dos pisos salariais vem sendo observada

pelo Dieese nos últimos anos". "A correlação positiva entre a política de valorização do

salário mínimo e a valorização dos pisos salariais é um dado importante para o debate

sobre a continuidade da referida política, a partir de 2016", destaca a entidade no relatório.

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M.Officer é processada em R$ 10 milhões por trabalh o escravo

. Em fiscalização feita pelo MPT, foi constatado que os trabalhadores ganhavam de R$ 3 a R$ 6 por peça prod uzida e cumpriam jornadas de 14 horas por dia

MARIANA BELLEY - O ESTADO DE S. PAULO

A empresa M5 Têxtil, detentora da grife M. Officer, foi processada em R$ 10 milhões

acusada de trabalho escravo. Segundo nota divulgada pelo Ministério Público do Trabalho

"a M5 utilizava empresas intermediárias para subcontratar o serviço de costura, realizado

em grande parte por imigrantes em oficinas clandestinas submetidos a jornadas excessivas

em condições precárias, sem qualquer direito trabalhista".

Em um desses locais, segundo a fiscalização feita pelo MPT, foi constatado que os

trabalhadores ganhavam de R$ 3 a R$ 6 por peça produzida e cumpriam jornadas de cerca

de 14 horas por dia em condições degradantes. Ainda segundo a nota, os seis bolivianos

resgatados quase não sabiam falar português e viviam com suas famílias no mesmo local

de trabalho, costurando em máquinas próximas à fiação exposta, botijões de gás e pilhas

de roupas. A operação foi organizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em

atuação conjunta com o Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União

(DPU) e Receita Federal. "Encontramos roupas, notas fiscais e os próprios trabalhadores

assumiram que trabalham para a M. Officer. Em alguns casos, a produção é

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exclusivamente feita para a marca. É um sistema já estabelecido", disse Tiago Cavalcanti,

procurador do Trabalho. Outras grandes grifes, como Zara, Le Lis Blanc e Marisa já foram

foco de autuação do Ministério Público do Trabalho e terminaram assinando um termo de

ajuste de conduta, mas, nesse caso, a M. Officer se recusou.

Promulgada em 2013, a lei número 14.946, conhecida como Lei Bezerra, prevê que as

empresas condenadas por trabalho escravo tenham cassada a Inscrição do Cadastro de

Contribuintes e na Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços (ICMS). Assim,

seus proprietários ficariam impedidos de exercer o mesmo ramo de atividade por 10 anos.

Os R$ 10 milhões de indenização é a soma de dois processos: R$ 7 milhões por danos

morais coletivos e R$ 3 milhões por dumping social, ou seja, prática caracterizada pela

redução de custos baixos decorrentes da precarização do trabalho com o objetivo de

concorrência desleal.

Segundo Tatiana Simonetti, procuradora do Trabalho e representante do MPT na ação,

quando questionada sobre como escolhe seus fornecedores, a M. Officer disse priorizar

aqueles que subcontratam empregrados, devido aos custos mais baixos. A empresa não

sabia dizer qual o valor pago aos costureiros subcontratados.

Procurada, a M5 Têxtil diz que não foi notificada sobre a ação judicial e afirma que cumpre

todas as obrigações trabalhistas: "A M5 ainda não foi notificada da ação judicial ora

noticiada, pelo que está impossibilitada de se manifestar a respeito do seu teor. Ainda

assim, ratifica seu posicionamento no sentido de que cumpre integralmente todas as

obrigações trabalhistas que incidem sobre o exercício de suas atividades empresariais, nos

exatos termos e em respeito à legislação em vigor, bem como de que não possui qualquer

responsabilidade sobre os fatos ora noticiados, consoante será oportunamente

demonstrado perante o Poder Judiciário". (Fonte: Estado SP dia 24-07-2014).

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Mudança processual pode cercear direitos das partes

Fabiana Barreto Nunes / SÃO PAULO

Os ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST) ganharam importante reforço para a promoção da uniformização jurisprudencial e celeridade da Justiça Trabalhista com a publicação da Lei 13.015, que introduziu reformas em dispositivos processuais contidos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Entretanto, especialistas ouvidos pelo DCI ressaltam que a criação de filtros e requisitos não, propriamente, justificam o resultado da celeridade processual.

Para os juristas, a medida pode cercear o direito das partes e não comportar a tão esperada mudança no direito material.

Segundo o coordenador da área trabalhista do Siqueira Castro Advogados em Brasília, Rafael Ferraresi Holanda Cavalcante, o ponto principal é preservar a relação entre capital e trabalho, coletivizar os direitos trabalhistas, criar critérios para soluções extrajudiciais dos conflitos trabalhistas. "A alteração para o acesso aos recursos no âmbito da Justiça do Trabalho é uma medida no meio de tantas outras necessárias para resultar numa justiça célere e adequada", diz o advogado.

Para o especialista em direito e processo do trabalho e sócio do escritório Baraldi Mélega Advogados, Danilo Pieri Pereira, essa injeção de energia para o Poder Judiciário, capitaneada pelos próprios ministros do TST, desacompanhada de uma profunda reflexão acerca das septuagenárias normas que regem as relações trabalhistas propriamente ditas, pode acabar fazendo o tiro sair pela culatra e, ao invés de maior segurança jurídica, a sociedade brasileira pode estar prestes a testemunhar uma verdadeira inversão de papéis pelo Estado. "A inércia do Legislativo em promover a tão esperada reforma trabalhista, pode restar ao Judiciário a missão de 'legislar por súmula', o que pode resultar em mais insegurança jurídica, repercutindo inclusive no tão falado custo Brasil."

Pereira pontua como ideal a busca por medidas que minimizem a necessidade dos jurisdicionados precisarem se valer do fórum para resolver seus conflitos. "E o caminho

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para isto talvez passe menos por modificações nas regras processuais e mais por uma mudança de paradigmas, que permita à sociedade buscar meios alternativos de composição de litígios, de modo a retirar um pouco do judiciário trabalhista a responsabilidade de dirimir todo e qualquer desentendimento entre patrão e empregado."

A nova lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira (21), passa a vigorar em 6 dias, obriga cada um dos 24 Tribunais Regionais do Trabalho a decidirem de maneira uniforme acerca da aplicação de determinado dispositivo de lei, e sempre em consonância com o entendimento já manifestado pelo TST acerca do tema. "Caso o TRT insista em se posicionar contrariamente ao entendimento da instância superior e indefira o processamento de recurso para Brasília, a parte poderá apresentar Agravo de Instrumento, estando inclusive dispensada do recolhimento de depósito recursal", explica Pereira.

Antes da nova lei, não havia qualquer dispositivo que obrigasse o Regional a decidir com uniformidade. Logo, não era raro ocorrer de um determinado grupo de desembargadores entender de uma forma, e outro, no mesmo Tribunal, de maneira inteiramente oposta, a respeito exatamente de um mesmo assunto. "Não era raro um desembargador passar de uma Turma a outra, mudando seu entendimento pessoal para se 'curvar ao posicionamento' predominante entre os novos colegas da nova Turma julgadora", diz Pereira.

Com as novidades implementadas pela Lei 13.015/14, caso o Tribunal Superior constate divergência de entendimentos entre Turmas de um mesmo TRT, ele pode mandar o processo de volta para o Tribunal Regional, determinando que a Corte inferior decida de uma vez por todas qual será o posicionamento que deverá prevalecer, o que pode inclusive resultar em novo julgamento da mesma questão já decidida, caso o veredito anterior não esteja em harmonia com a posição tida como predominante.

A nova lei também traz maior equilíbrio ao processo, na medida em que, embora aumente as formalidades na confecção de recursos dirigidos ao Tribunal Superior, permite que "irregularidades formais e erros materiais sejam sanados sem que isto comprometa a análise de mérito das peças processuais", complementa Cavalcante.

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Resolução que, segundo Pereira, se mostra altamente relevante, principalmente em tempos em que a crescente informatização dos processos judiciais vem trazendo desafios para os advogados e para a população em geral.

Tais novidades sem sombra de dúvida potencializam o poder decisório do Tribunal Superior do Trabalho e de certo modo pulverizam as dissidências manifestadas nas cortes inferiores. A médio prazo, o que se espera é uma Justiça do Trabalho mais célere, menos congestionada por recursos repetitivos acerca de um mesmo tema e, consequentemente, difusora de maior segurança jurídica.

Negociações salariais devem ser mais duras

Fernanda Bompan / SÃO PAULO

A partir de agosto serão iniciadas as negociações salariais de diversas categorias. Especialistas e representantes de classes adiantaram que as discussões serão mais "complicadas" neste ano, por conta do fraco ritmo da economia e da inflação, fatores que estão reduzindo o poder de compra da população. "A expectativa é que os reajustes em geral não concedam benefícios, promoções ou remunerações tão generosos como foi no passado", afirma José Pastore, professor titular na Universidade de São Paulo (USP) e consultor em relações do trabalho.

Dentro deste cenário "desanimador", Ivo Dall'Aqua Junior, presidente do conselho de assuntos sindicais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), espera que as discussões sejam bastante acaloradas dentro do seu setor, principalmente entre os comerciários.

Em 2013, segundo estudo divulgado ontem pelo SAS-Dieese, cerca de 95% das 685 unidades de negociação analisadas conseguiram que seus pisos salariais tivessem reajustes acima da inflação medida pelo INPC. O aumento real médio foi de 2,8%, menor, contudo, do que o registrado em 2012, de 5,68% acima do INPC.

(Fonte: DCI dia 24-07-2014).

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Reajuste real é dado para 95% dos segmentos, diz Di eese. Escrito por Estadão Conteúdo Cerca de 95% das 685 unidades de negociação analisadas pelo Sistema de Acompanhamento de Salários do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (SAS-Dieese) conquistaram, para os pisos salariais em 2013, reajustes acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento real médio foi de 2,8% – menos do que o registrado em 2012, de 5,68% acima do INPC. O SAS-Dieese informa que, no ano passado, os valores acordados variaram entre R$ 678,00, (equivalente ao valor do salário mínimo vigente em 2013) e R$ 3.600,00. O valor médio dos pisos foi de R$ 879,04, cerca de 9% maior, em termos nominais, que o valor médio observado em 2012 (R$ 802,89). Em relação aos valores estabelecidos para os pisos, aproximadamente 6% correspondiam ao salário mínimo vigente; cerca de um terço até R$ 750 e quase metade de até R$ 800. Pisos acima de R$ 1 mil foram observados em 16% das negociações analisadas e superiores a R$ 2 mil, em apenas 1,5%. Na desagregação por setor econômico, a pesquisa mostra que em todas as áreas o percentual de unidades de negociação com aumento real nos pisos salariais foi superior a 90%. A maior incidência de pisos com reajustes foi no Comércio (97,4%) e na Indústria (96,8%), seguido pelo setor Rural (92,6%) e de Serviços (91,7%). Já aos reajustes abaixo da inflação, observados em quase 3% das categorias, foram mais frequentes no setor Rural (7,4% das unidades de negociação) e nos Serviços (5,2%). Nos setores de Indústria e Comércio, esse percentual foi de 1,7% e 0,9%, respectivamente. O levantamento revela também que o Salário Mínimo Necessário calculado pelo Dieese para 2013 variou entre R$ 2.621,70 (valor aferido em setembro) e R$ 2.892,47 (em abril), o que resultou em um valor médio anual de R$ 2.765,33, o equivalente a 4,08 salários mínimos oficiais. No relatório do estudo, o Dieese comenta que o resultado de 2013 por si é "expressivo", embora seja ligeiramente inferior ao registrado em 2012, quando o percentual de unidades de negociação com aumentos reais atingiu 98% das 696 unidades pesquisadas. De acordo com o órgão, essa diferença pode ser decorrente, "em parte", da valorização do salário mínimo, "cuja influência sobre as negociações dos pisos salariais vem sendo observada pelo Dieese nos últimos anos". "A correlação positiva entre a política de valorização do

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salário mínimo e a valorização dos pisos salariais é um dado importante para o debate sobre a continuidade da referida política, a partir de 2016", destaca a entidade no relatório. Em análise, trabalho part time. "Uma das condições para a aceitação desse regime é o aumento do valor por hora de trabalho", disse Ricardo Patah, Sindicato dos Comer ciários de São Paulo. / Tina Cezaretti/Hype

Escrito por Sílvia Pimentel Empregados e patrões do setor do comércio sentam à mesa no próximo mês para discutir um modelo de contrato de trabalho pouco utilizado no Brasil, apesar de estar previsto na legislação trabalhista brasileira desde 2001. Comum em outros países, a contratação de trabalhadores por menores períodos, sistema chamado part time, foi proposta pelo Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) ao Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que aceita discutir o tema, mas com ressalvas. A principal característica do trabalho em regime de tempo parcial é que a sua duração não exceda a 25 horas semanais. Por esta razão, o salário a ser pago deve ser proporcional à jornada em relação aos empregados que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral. Eis o primeiro impasse. “Uma das condições para a aceitação desse regime é o aumento do valor por hora de trabalho. Ou seja, o valor da hora deve ser maior que o valor do piso da categoria ou do salário mínimo”, adiantou o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah. De acordo com o dirigente, o sindicalismo é resistente ao part time pela experiência “mal sucedida” ocorrida em alguns países da Europa. “Na Bélgica, houve precarização e redução do salário e, atualmente, 77% dos trabalhadores são part time”, disse. Outras condições que devem ser levadas à mesa pelos trabalhadores é a definição de um limite de horas trabalhadas por dia, de um percentual máximo de trabalhadores submetidos a esse regime por empresas, além de restringir quais empregados poderão trabalhar com jornada reduzida. A proposta é que sejam jovens que ingressam no mercado de trabalho e aposentados. Procurado, o IDV não quis pronunciar sobre o assunto. O instituto está elaborando um estudo sobre a questão para mostrar as vantagens desse tipo de contrato, capaz de incluir pessoas que hoje não têm condições ou interesse de ter uma jornada de trabalho completa, oferecendo a possibilidade a jovens estudantes, mulheres que dedicam boa parte do tempo aos filhos, aposentados ou outros grupos de, por exemplo, trabalhar por um período menor. Na opinião do professor do Núcleo de Capacitação Profissional da Fadisp, Gabriel

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Coutinho, que também é juiz titular de vara trabalhista, são poucos os contratos firmados no País e uma das explicações para isso é a falta de cultura. “No Brasil, é tradição o trabalho de oito horas diárias ou 44 horas semanais”, explica. De acordo com ele, a jornada por tempo parcial pode ser uma opção interessante para alguns empregadores, desde que responda a uma necessidade da empresa e não seja vista como uma “poção mágica” para resolver uma questão financeira momentânea e reduzir custos. A migração de um contrato tradicional de 8 horas diárias para um part time terá o aval do Judiciário nos casos em que a modificação tenha sido discutida com o sindicato da categoria.

'As horas extras devem ser realmente extraordinária s, não uma regra', falou Gabriel Coutinho, juiz trabalhista. – Divulgação Outro cuidado é que trabalhadores submetidos à jornada por tempo parcial não podem fazer horas extras de forma habitual sob o risco de o Judiciário entender que houve um desvirtuamento do contrato. “As horas extras devem ser (realmente) extraordinárias, nunca uma regra”, explica o juiz. Além da falta de tradição, na opinião de Coutinho, os baixos salários pagos no Brasil também impedem o maior uso da jornada parcial, o que desestimula o interesse por parte dos empregados. Apesar de pouco utilizado, o juiz entende que esse tipo de contrato pode trazer vantagens para pequenos empregadores do comércio, entregas de pizzas ou remédios em finais de semana. A advogada trabalhista Aparecida Tokumi Hashimoto, do escritório Granadeiro Guimarães, vê com bons olhos o trabalho por tempo parcial. “É uma alternativa interessante, por exemplo, para mulheres com filhos pequenos, cujo marido é responsável pelo sustento da casa”, afirma. Para uma família com essa configuração, seria uma forma de complementar a renda, já que o salário também é menor. De acordo com ela, o salário de um trabalhador part time deve ser proporcional ao de um empregado com jornada tradicional de oito horas. Ela diz que a resistência dos sindicatos tem impedido o maior uso desse tipo de contrato, sob o argumento que se deve pagar o piso salarial da categoria, independentemente da jornada contratada. Apesar de incomum, no escritório, há consultas de empregadores sobre o assunto e alguns contratos fechados. “Existem empresas, sobretudo as maiores, que consideraram essa opção, atendendo pedido do empregado”, resume. Entre os casos concretos, há de uma funcionária que teve a jornada reduzida, em comum acordo com a empresa, para sobrar tempo para cuidar do filho pequeno. Nos contratos por tempo parcial estão assegurados todos os direitos trabalhistas de um contrato tradicional: regras sobre segurança, higiene, previdência social, adicionais legais, FGTS, 13º salário etc. Sobre o período de férias, após um ano de trabalho, o empregado part time terá, no máximo, 25 dias de férias. (Fonte: Diário do Comércio dia 24-07-2014).

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