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Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:351

SUMÁRIO

4 O CONSOLADOR

ENTREVISTA COM DIVALDO

Divaldo fala a respeito da educação infantile a evangelização espírita

10 ESTUDO

REENCARNAÇÃO

As argumentações filosóficas, científicas ereligiosas a respeito da pluralidade dasexistencias.

14 CAPAVIDAS PASSADASUm dos homens que mudaram a concepçãodo Universo, o físico inglês, StephenHawking, conta histórias da Física e de suavida.

22 REFLEXÃO

ENCONTRO DIVINO

Eminente cristão, trazia consigo um propó-sito central - servir ao Senhor, fielmente,para encontrá-lo

26 HISTÓRIA

A BOMBA

A perspectiva espírita diante da maiorarma criada pelo humem

28 COM TODAS AS LETRAS

NÃO É O PACIENTE QUEM OPERA

As importantes dicas de nossa línguaportuguesa

Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:352

Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

Assinaturas

Assinatura anual: R$45,00(Exterior: US$50,00)

FALE CONOSCO [email protected] (19) 3233-5596

ALIANÇA DA CIÊNCIA E DARELIGIÃO

EDITORIALEdição

Centro de Estudos Espíritas“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana LevantesiRafael Dimarzio

Rodrigo LoboSandro Cosso

Thais CândidaZilda Nascimento

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Editoração

Rafael Augusto D. Rossi

Revisão

Zilda Nascimento

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural

Braga Produtos Adesivos

Impressão

Citygráfica

O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

A Ciência e a Religião são asduas alavancas da inteligên-cia humana: uma revela as leis

do mundo material e a outra as domundo moral. Tendo, no entanto, es-sas leis o mesmo princípio, que é Deus,não podem contradizer-se. Se fossem anegação uma da outra, uma necessari-amente estaria em erro e a outra coma verdade, porquanto Deus não podepretender a destruição de sua própriaobra. A incompatibilidade que se jul-gou existir entre essas duas ordens deidéias provém apenas de uma observa-ção defeituosa e

de excesso de exclusivismo, de umlado e de outro. Daí um conflito quedeu origem à incredulidade e à into-lerância.

São chegados os tempos em que osensinamentos do Cristo têm de ser com-pletados; em que o véu intencional-mente lançado sobre algumas partesdesse ensino tem de ser levantado; emque a Ciência, deixando de ser exclu-sivamente materialista, tem de levarem conta o elemento espiritual e emque a Religião, deixando de ignorar asleis orgânicas e imutáveis da matéria,como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combi-nadas, se prestarão mútuo concurso.Então, não mais desmentida pela Ci-ência, a Religião adquirirá inabalávelpoder, porque estará de acordo com arazão, já se lhe não podendo mais opora irresistível lógica dos fatos.

A A Ciência e a Religião não pude-ram, até hoje, entender-se, porque,encarando cada uma as coisas do seuponto de vista exclusivo, reciproca-mente se repeliam. Faltava

com que encher o vazio que as se-parava, um traço de união que as apro-ximasse. Esse traço de união está noconhecimento das leis que regem oUniverso espiritual e suas relações como mundo corpóreo, leis tão imutáveisquanto as que regem o movimento dosastros e a existência dos seres.

Uma vez comprovadas pela experi-ência essas relações, nova luz se fez: afé dirigiu-se à razão; esta nada encon-trou de ilógico na fé: vencido foi omaterialismo. Mas, nisso, como emtudo, há pessoas que ficam atrás, atéserem arrastadas pelo movimento ge-ral, que as esmaga, se tentam resistir-lhe, em vez de o acompanharem. Étoda uma revolução que neste momen-to se opera e trabalha os espíritos. Apósuma elaboração que durou mais dedezoito séculos, chega ela à sua plenarealização e vai marcar uma nova erana vida da Humanidade. Fáceis sãode prever as conseqüências: acarreta-rá para as relações sociais inevitáveismodificações, às quais ninguém teráforça para se opor, porque elas estãonos desígnios de Deus e derivam dalei do progresso, que é lei de Deus.

Allan Kardec - O Evangelho

Segundo o Espiritismo Cap. I item 8

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

ENTREVISTA COM DIVALDOpor Divaldo Pereira Franco/ Espíritos Diversos

O CONSOLADOR

ual a importância daevangelização da criançano Centro Espírita?

Divaldo: Da mais alta relevância,se dissermos que, quem instrui pre-para para a vida, quem educa dá avida, quem evangeliza fomenta avida. Este “evangeliza”,entendamo-lo à luz do Espiritismo,por ser a luz do Espiritismo que dálógica e entendimento ao Evange-lho. O Evangelho, puro e simples,é ministrado por outras doutrinascristãs, mas a reencarnação e acomunicabilidade dos espíritos dãoclareza e lógica, ao contrário deoutras doutrinas evangélicas, pre-parando a criança para uma vidasaudável no seu relacionamentofuturo. Não se pode conceber umaCasa Espírita na qual as novas ge-rações não recebam a evangelizaçãoespírita, porque sem isto estaremoscondenando o futuro a uma grave

tarefa curativa das chagas adquiri-das no trânsito da juventude paraa razão.

Portanto, é imprescindível a pre-sença da atividade do Evangelho àluz do Espiritismo, junto à criançae ao jovem.

O que dizer das aulas deevangelização em que predomi-na o conhecimento do Evange-lho sem conteúdo espírita?

Divaldo: que é um trabalhomuito respeitável, mas não é umtrabalho espírita. Para que o seja, éindispensável que se encontrampresentes os postulados essenciaisconforme estão exarados em O Li-vro dos Espíritos de Allan Kardec.Não podemos entender por que acriança e o jovem são capazes decompreender o Evangelho e não oEspiritismo, quando têm idéia cla-ra de eletrônica, de cibernética, ede outras ciências muito mais com-plexas do que a Ciência Espírita,que é de fácil assimilação.

Os irmãos das igrejas reforma-das, do Catolicismo, nas suas váriadenominações, lecionam também oEvangelho, que é muito bom na suaparte moral, mas que nãoequaciona a problemática da exis-tência humana, que somente podeser entendida à luz da reencarna-ção. Não equaciona a realidade dacomunicabilidade dos Espíritos, quesomente através da mediunidade

encontra parâmetros de lógica esustentação. Não elucida a proble-mática da pluralidade dos mundoshabitados, hoje reconhecida porboa parte dos astrônomos e dosastrofísicos de toda a Terra. E nãoresolve o problema do comporta-mento humano, porque libera ouescraviza a consciência através dosdogmas, dos formalismos e das suasatitudes místicas.

É indispensável colocar a Dou-trina Espírita no Evangelho, paraque a razão substitua a aceitação,e a lógica preencha o vazio do mi-tológico.

- Nunca é conveniente levar acriança a assistir reunião espírita denatureza mediúnica,... –

Como fazer, sendo preparadopara evangelizar e não se sentin-do seguro para o trabalho, já queno Centro Espírita é responsabi-lizado?

Divaldo: Todos nós somos inse-

Q

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 5Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

O CONSODOR

guros daquilo que fazemos, excetoas pessoas presunçosas. A insegu-rança é um fenômeno natural, por-que estamos sempre aprendendo,defrontando experiências novas. Écompreensível que aquele que seinicia numa atividade encontremuitos conflitos na área que o de-safia. A segurança virá como resul-tado normal da experiência, que iráadquirir com o tempo.

O conhecimento teórico nãoequipa uma pessoa com a seguran-ça que a faça enfrentar as dificul-dades naturais que lhe são de-safio, com a mesma experi-ência daquele que operatodos os dias. A melhormaneira de o fazer, é co-meçar. Começa-se inse-guro e, lentamente, vai-se adquirindo confian-ça, que é resultado dasexperiência que set o r n a r a mexitosas. Sem aexperiência pessoal ninguém temsegurança de como fazer, porquenão se transmitem experiências.Transmitem-se informações, queaplicadas nos levam à vivência des-sas mesmas informações.

As crianças que estão sendoevangelizadas, de que maneira po-dem os pais ajudá-las, a fim de quea evangelização continue no lar?

Divaldo: Aos pais compete a ob-servação das tendências, da natu-reza dos seus filhos para bem orientá-los e despertarem nos mesmos asqualidade que se contrapõem aosdefeitos. Entretanto, isso deve serfeito quando os filhos são muito pe-quenos, e é justamente quando ospais são mais inexperiente, menos

maduros. Então, quando vemos osresultados, o tempo já passou. Comoagir? Por mais imaturos que sejamos pais, há, entre eles e os filhos, olargo período que já viveram. Nes-se período, adquiriram as experiên-cias das suas próprias vivências.

Há, em todo indivíduo, a ten-dência para o bem, porque somoslucigênitos. Esse heliotropismo di-

vino nos leva sem-pre a discernir

entre o que é

certo e o que é errado. Se, por aca-so, por inexperiência, não orienta-mos bem o filho na primeira infân-cia, é sempre tempo de começar,porque estamos sendo educados atéa hora da própria desencarnação.

Os pais que não lograram enca-minhar bem os seus filhos, porquelhes faltava o equilíbrio dodiscernimento, quando se estava noperíodo da formação da personali-dade, podem recomeçar em qual-quer instante, de maneira suave,perseverante e otimista através doexemplo e da vivência do amor.

Os pais podem ajudar aevangelização no lar, sobretudo pelaexemplificação. É a exemplificaçãoa melhor metodologia para que se

inculquem as idéias que desejamospenetram naqueles que vivemconnosco.

Se examinarmos Jesus, Ele dissemuito menos do que viveu e viveumuito mais do que nos falou. A mimme sensibiliza muito uma cena queparece culminante na vida do Cris-to. Quando Ele estava com Anás,o Sumo Sacerdote, que Lhe per-guntou sobre Sua doutrina, respon-deu Jesus, que nada falara em ocul-to e que ele deveria perguntar aosque O ouviram. Um soldado queestava ao lado do representante deCésar, agrediu-O, esbofeteando-Lhe a face.

Para mim, este gesto é dosmais covardes: bater na facede um homem atado. EntãoJesus não reagiu. Agiu comabsoluta serenidade.

Pacifista por excelência,voltou-se para oagressor e lhe per-guntou: Soldado,

por que me bateste? Seerrei, aponta-me o erro, mas,

se eu disse a verdade, por que mebateste? É uma lição viva, porqueEle poderia apelar ali para a justiçado representante de César; pode-ria ter-se encolerizado; ter tido umgesto de reação, mas Ele preferiuagir.

O lar é a escola do exemplo,onde lamentavelmente se vive re-agindo. Vive-se de reações em ca-deia; raramente se pára para agir.

Uma criança era dotada demediunidade vidente aflorada.Quando jovem perdeu-a por al-gum tempo. Após freqüentar gru-pos de jovens espíritas e estudara Doutrina é possível recuperar a

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

O CONSOLADOR

sua vidência?Divaldo: Sim e não. Na infân-

cia, as faculdades psíquicas sãomuito aguçadas, porque o Espíritoainda não está totalmentereencarnado. O cérebro ainda nãoabsorveu toda a percepção extra-sensorial. Como há uma percepçãomais aguçada que ainda não foiassimilada pelos neurônios cere-brais, várias faculdades se manifes-tam, já que é o próprio Espírito quevê, que ouve, que sente. À medidaque ocorre o mergulho naindumentária carnal, vão diminu-indo as possibilidades parapsíquicasaté que ficam relativamente blo-queadas.

Mais tarde, a pessoa podeexercitá-las e, através do exercício,poderá recuperar essas percepçõesde acordo com as conveniênciasque foram estabelecidas pela lei dereencarnação para o progresso daprópria criatura.

Há indivíduos que gostariammuito de ser médiuns vidente, mé-diuns com um campo muito amplo,sem darem-se conta das graves res-ponsabilidades que disso decorrem,dos gravames, dos perigos e dosimensos testemunhos, que se fazemnecessários.

Os nossos Mentores Espirituais,quando coordenam a nossa reen-carnação, examinam em profundi-dade o que será melhor para a exis-tência, como o que será pior, esta-belecendo aquilo que se possa ounão suportar.

Daí não é lícito forçar o desen-volvimento de aptidões, para asquais, talvez, não se esteja moral eemocionalmente equipado par en-frentar as conseqüências des-sa decisão.

Como enfrentar o desafio daeducação da criança carente? Oque nos aconselha no sentido decriarmos um trabalho com essascrianças de rua. Gostaria de sa-ber se a merenda é prejudicialquando colocada como prêmioaos que freqüentam mais aevangelização?

Divaldo: A melhor maneira deenfrentar-se um desafio é começá-lo. Chamar um cooperador, mais ume formar um grupo.

É provável que muitos aqui nãoconheçam a história da célebreUniversidade Mackenzie, de SãoPaulo.

Começou quando uma educa-dora americana notou, em São Pau-lo, na rua em que morava, um gru-po de crianças vadias. Ela, que pre-parava muito bem broa de milho,pôs-se a atrair os meninos que fica-vam à porta sentindo o cheiro, ecomeçou a dar-lhes o alimentodoce. Depois, resolveu que somen-te daria broas às crianças que vies-sem, no Domingo, pela manhã, paraouviram-na falar do Evangelho deJesus.

De - pois que vi-eram vários por

causa dabroa, ela

explicou,que só

participaria da reunião, para depoiscomer a broa, quem viesse tomadobanho, de cabelo penteado e péscalçados. Mais tarde, ela notou quepoderia fazer algo mais do que abroa. Teve a idéia de preparar umlanche mais substancial para atrairmais meninos de rua.

Eles aumentaram de tal formaque chegavam à hora em que elaestava na confecção do alimento.

Ocorreu-lhe estabelecer que, apartir da data X , somente teriaacesso à aula de Evangelho, paradepois comer, quem soubesse ler eescrever. E como eles não o sabiam,ela pôs uma mesa no fundo do quin-tal e abriu uma escola de iniciaçãoalfabética. Hoje é o Mackenzie, quetem uma bela e longa história, in-clusive, foi visitado por D. Pedro IIque lhe fez uma expressiva doação.

Uma americana, Mary Jane MacLeod Bethune, começou a educarcrianças num depósito de lixo. Alei da segregação racial nos Esta-dos Unidos era muito severa con-tra os negros. Ela era negra, haviaganho uma bolsa de estudos de umacostureira quaker, e, ao se formarnão tinha alunos. Quando foi no-meada não havia escola. Ela entãoreuniu três caixões vazios de cebo-la, colocou-os embaixo de uma ár-vore, num depósito de lixo, convo-cou três descendentes de escravose começou a ensinar-lhes a ler e es-crever

Oportunamente, quando HenryFord foi a Osmond, uma praia daCalifórnia, ela foi visitá-lo. Ao che-gar à porta, foi barrada, porque, nohotel, negro não podia entrar, so-mente na condição de serviço. Ela

subiu a escadaria de incêndio denove andares, saltou a janela,�

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

O CONSOLADOR

tocou a campainha da porta, e,quando o mordomo veio abri-la, dis-se-lhe: Quero falar com Mr.Ford. Omordomo, que também era negro,respondeu: Mas ele não recebe ne-gros! E falou-lhe baixinho: Comovocê se atreve a vir aqui? Ela rea-giu bem alto: Eu tenho uma entre-vista marcada com Mr. Ford, queassinalei por telefone. Eu sou MaryJane.

Ouvindo-a, Mr. Ford redargüiu:Entre, senhora.

Quando ela se adentrou, ele,que era humanitário e acreditavana reencarnação, exclamou, sur-preso: Mas eu não sabia que a se-nhora era uma negra!

Ela sorriu, elucidando: Não to-talmente. Eu duvido que o senhorconheça dentes mais alvos e umolho mais brando do que o meu.

Ele a adorou, porque uma mu-lher que era superior a essas mes-quinharias humanas merecia res-peito. Perguntou-lhe:

O que a senhora deseja de mim?- Desejo que o senhor me ajude aconstruir a minha escola, a ampliá-la. Gostaria de levá-lo ao meu ter-reno, a fim de que o senhor cons-trua comigo a escola dos meus so-nhos. Ele aquiesceu. Desceu comela pelo elevador por onde não pu-dera subir. Quando ela passou pelaporta e o atendente a viu, ela ain-da, só para surpreender, pegou obraço de Mr.Ford, com a maior in-timidade. Sentou-se num carro

coupé aberto, desfilando pela cida-de de Osmond e olhando para todomundo. Isso há mas ou menos ses-senta anos. Era muita coragem!

Levou-o ao seu terreno. Quan-do chegou ao depósito de lixo, dis-se-lhe:

É aqui, senhor, que eu queroconstruir a minha escola.

Ele, surpreso, retrucou:- Aqui? E onde está sua escola?Ela apontou:- Ali.- Senhora, ali é um depósito de

lixo.Eu sempre me esqueço dos de-

talhes! Em verdade a minha escolaestá aqui na cabeça. Eu quero que,com o seu dinheiro, o senhor arran-que daqui (apontou a cabeça) e acoloque ali. Ele deu-lhe, então,vinte mil dólares.

Essa mulher educou, até o anode 1969, milhões de ne- g r o samericanos. Tornou-se osímbolo da educadoramundial.

Quando o presiden-te Franklin DelanoRoosevelt cance-lou as subvençõespor causa da guer-ra, ela lhe pediuuma entrevista naCasa Branca, e dis-se-lhe:

O senhor não vaicortar as subvençõesdas minhas escolas.

Ele redargüiu:A senhora não se es-

queça que eu sou o pre-sidente.

E ela repostou:Nem o senhor es-

queça que eu sou

eleitora, e eu vou me lembrar.Ela sentou-se. E a sua foi a úni-

ca rede de escolas que não teve assubvenções canceladas naquele pe-ríodo.

Certa feita, ela estava numa ci-dade do Sul, onde a intolerânciaracial era muito grande e teve umacrise de apendicite. Foi levada deemergência ao hospital e colocadana mesa cirúrgica. Quando os mé-dicos entraram e a viram, disseram:“Operar uma negra?” E saíram dasala. Ela pôs a mão no lugar dorido,olhou para a janela e orou: “O Se-nhor deve estar brincando comigo.Acho que o Senhor só me deu essaapendicite para me desafiar. Porquese o Senhor me ajuda a sair destamesa, eu Lhe prometo que, naAmérica, onde o Senhor me pôs naTerra, nunca mais morrerá nin-guém de apendicite pelo crime deser negro, porque eu não deixarei.”

Levantou-se e ergueu uma Fa-culdade de Medicina. É uma dashistórias mais lindas do século, mas,

infelizmente, desco-nhecida dos brasilei-ros.

Quando estouroua guerra da Coréia,ela já era um vul-to venerando nomundo. Foiconselheira da

UNESCO e da ONUpara assuntos raciais.

Outra vez, ela vi-nha atravessando o

corredor para negros, noaeroporto de uma cida-de do Sul. Um rapazbranco saltou a cerca,

abraçou-a e chamou-a de mamãe. Então o

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

O CONSOLADOR

colega reagiu: É louco? Como podeabraçar esta negra?

Ele explicou: É por causa destanegra que eu vou dar a minha vidana Coréia. Quando eu fui convo-cado para a guerra, em um país quejamais eu havia ouvido falar onome, fui ao meu professor de geo-grafia e perguntei: Onde é que ficamesmo essa Coréia? Ele mostrou nomapa uma região miserável, perdi-da, que eu não sei quem estava lá.E eu vou prá lá, porque me disse-ram que eu vou salvar a democra-cia, que eu aprendi com esta ne-gra, que ama a todos os homens,sem perguntar o nome, a cor, a raçaou a crença.

Ela escreveu mais tarde: Eu po-deria ter morrido naquele dia, por-que minha missão, na Terra, haviaacabado.

Começamos, na Mansão do Ca-minho, onde temos duas mil e qui-nhentas crianças, que têm o lan-che garantido, mais ou menos,como narramos. Um dia demo-nosconta que, na rua, havia muitos

meninos que não estavam na esco-la, e, por isso, não comiam.

Criamos, para eles, uma sopa, hátrês anos. Vieram os meninos e suasmães. Depois de um ano estabele-cemos que só tomariam a sopa seviessem limpos. Como no bairro adificuldade de água é muito gran-de, passaram a tomar banhoconosco. Se vêm descalços, damosalpercatas. Se as perderem, não to-mam a sopa. Porque, o perder aqui,é vender. Saem com as alpercatas evendem-nas, a fim de ganharemnovas no outro dia.

Depois, só tomam a sopa se es-tudarem. O interesse cresceu e hojetransformamo-la em almoço, pois jáestão tendo aula normal. Têm amerenda às dez horas e o almoçoao meio-dia. Começamos com vin-te, estamos com quase trezentos.Fazemos a evangelização, como in-trodução ao trabalho da educação.

Ao fim do ano, os que tiveremmelhor aprendizado são matricula-dos na 1ª série da Escola Jesus Cris-to. Este ano matriculamos quaren-ta e seis e no próximo teremos odobro.

Começamos, pois, sem maiorespreocupações. Iniciamos sob a copade uma mangueira e sobre três cai-xas de cebola, na rua Barão deCotegipe, 124. Eu tinha lido, en-tão, a vida de Mary Jane. Hojeestamos com duas mil e quinhen-tas crianças internas, semi-internase externas. Pretendemos ainda au-mentar o número, e, dentro de al-guns dias, inauguraremos uma es-cola de auxiliar de enfermagem,

para, depois, uma escola de ma-gistério.

Hoje é muito grande

o envolvimento do jovem na polí-tica. Preocupado com as leis hu-manas, indiferente às Divinas. Éum processo educacional? Comoconcilias as duas coisas?

Divaldo: Ocorre que o jovempadece constrição de uma socieda-de que não tem sido susta para comos seus membros. Ele, não tendorecebido no lar a formação de umaeducação nas basesreencarnacionistas, assim, tem bus-cado uma forma de cortar os efei-tos através de leis que, infelizmen-te, não alcançam a causalidade. Éperfeitamente justa a necessidadee a busca de engajamento do jo-vem na política, para equacionar oproblema que ele apenas vê nos re-sultados negativos. A maneira deconciliar a situação é educá-lo paraum saudável engajamento, nãoatravés do jogo dos interesses ime-diatos, mas ensinando-o a ser bomeleitor. Politizá-lo, conscientizá-lo.

Dizer-lhe que numa sociedadedemocrática, o voto é a grandearma do cidadão. No momento queele esgrimir essa arma, não vende-rá a consciência aos corruptos, pelocontrário, os eliminará.

No mesmo programa, já referi-do, ouvi a resposta de um advoga-do, que me sensibilizou muito pelajusteza da colocação. Ele falava decorrupção e dizia que só há corrup-tos porque há corruptores. Aque-les que se vendem, fizeram-se a al-guém que é pior do que eles. Oscorruptores quase nunca sãojustiçados, porque não denunciama desonestidade, pois que ela é boapara acobertar-lhes as indignidades.

Da mesma forma, porque há oreceptador, existe o ladrão. Estefurta um aparelho, porque há al-�

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

Palavras de Luz, de Divaldo P. Franco p/

Espíritos Diversos

Fonte:

O CONSOLADOR

guém que o compra por qualquerpreço. Não se pode punir o primei-ro sem alcançar o outro. Aqueleque não denuncia o ladrão e acei-ta-lhe o fruto da rapina, tambémfurta. Se o ladrão oferece ao recep-tor uma peça valiosa e este a com-pra por valor inferior está furtandodo outro delinqüente e não teminteresse de denunciá-lo porquetambém o é.

Assim, devemos politizar a men-talidade jovem, para que não ven-da o seu voto a amigos, a conheci-dos, nem àqueles que se utilizamde expedientes escusos.

Iremos conscientizar os jovens,a fim de que não se vendam, vo-tando com a consciência. Na Man-são do Caminho nós somosapolíticos. A nossa é a política doEvangelho. Procuramos educar deforma que as pessoas tenham cons-ciência do seu voto. Lá não permi-timos que se faça campanhaeleitoreira.

Teremos que ensinar a atual ge-ração, a fim de que ela esteja equi-pada para enfrentar a corrupçãoque se tornou clássica em a natu-reza humana. Não só no Brasil, po-

rém em toda a parte.

Qual deverá ser a atitude deum evangelizador ao deparar-secom um jovem com tendênciashomossexuais, sabendo que omesmo se encontra nessa situa-ção sentindo amor por outro domesmo sexo?

Divaldo: O problema é de ordemíntima. Não temos o direito de in-vadir a privacidade de ninguém, apretexto de querer ajudar os outros.

Há uma preocupação em nós, dequerermos salvar os outros, antes denos salvarmos a nós mesmos.

Deveremos sempre ensinar cor-retamente o que a Doutrina nosrecomenda. Se alguém vier pedir-nos ajuda, estendamo-la sem puri-tanismo, sem atitudes ortodoxas,porque o problema posto em pautaé de muita profundidade para umaanálise de natureza superficial.

Se notamos que um dos nossoscondiscípulos está numa fase de

transição – e a adolescência, alémde ser um período de formação dapersonalidade, é também debipolaridade sexual – procuremosestimulá-lo para que canalize cor-retamente as suas emoções para aação do bem, mas também sem cas-trar-lhe as manifestações do senti-mento. Façamo-lo de uma formaedificante, e, quando as circuns-tâncias nos permitirem, falemos queas Divinas Leis estabeleceram, nasduas polaridades, a masculina e afeminina, o equilíbrio para a per-petuação da espécie.

O sexo foi feito para a vida; nãoa vida para o sexo.

Daí, o indivíduo que sinta qual-quer distúrbio na área do compor-tamento sexual, considere que seencontra em um educandário davida, para corrigir desequilíbriosque devem ser conduzidos para asdisciplinas de uma vida feliz, dei-xando que cada qual faça a suaopção, sem o puritanismo que tudocondena e sem o modernismo quetudo alberga, porque cada um vairesponder pelo uso que faz da exis-tência conforme as suas resistênci-as.

É muito fácil propor a alguémque suba a montanha, sem saber atéonde vão as suas forças. Em Dou-trina Espírita ninguém vive as ex-periências alheias, como em nenhu-ma outra. A nossa tarefa é a deexemplificar - ensinando, para quecada um faça o melhor ao seualcance.�

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

ARGUMENTANDO SOBREREENCARNAÇÃO

ESTUDO

única existência terrena, alcançara perfeição e a felicidade. Conse-guindo, irá gozar para sempre océu. Em caso contrário, penar eter-namente no inferno.

Essas afirmativasPor isso mesmo, nos levam a in-

dagações assim:Deus teria se aperfeiçoado na

arte de criar? Por que não somoshoje como homens das caver-nas... E não seria injusto os ho-mens primitivos não terem go-zado das condições melhores, decorpo e de meio ambiente, comonós, os criados por último,

estamos usufruindo?Por que nascem seres humanos

em situações diversas: uns saudá-veis e outros enfermos? Uns inteli-gentes (até geniais) e outros débeismentais? Uns ricos e outros miserá-veis?

Se as situações de vida que re-cebem não são iguais, como exigirque todos alcancem os mesmos re-

sultados?Também não condi-

zem com o poderde Deus.

Deus

I. Argumentos FilosóficosAcredita-se que cada pessoa

que nasce seria umEspírito novo

criado porD e u s

p a r a ,numa

nos cria para a perfeição e a felici-dade. Mas em uma só vida, mesmose aplicando muito, ninguém con-segue essa perfeição (desenvolvertodas as suas potencialidades, ad-quirir todos os conhecimentos so-bre o mundo material e o espiritu-al) nem essa felicidade (porque nãosabe usufruir de tudo com acerto eequilíbrio, retirando os melhoresefeitos). Então, o objetivo divinopara nós não teria sido atingido. Eainda há aqueles que morrem cri-ança, que não tiveram tempo parase desenvolverem e aperfeiçoarem.

Então Deus não teria poder paralevar o ser que criou ao objetivo vi-sado? O ser criado por Ele ficariaincompleto para sempre?

E não condizem, também, coma bondade divina.

Deus tudo sabe. Ao nos criar enos dar uma única existência, já sa-beria que não iríamos conseguir aperfeição e a felicidade. Então, nosteria criado para ficarmos conde-nados ao sofrimento eterno! Nãoteria agido com bondade paraconosco.

Com a reencarnaçãoA doutrina de vidas sucessivas

nos permite entender a perfeitaconciliação de todos os fatos davida com a justiça, o poder e a bon-dade de Deus.

Deus é justo.Porque cria todos os seres iguais

e a todos dá as mesmas oportuni-

por Therezinha Oliveira

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

ESTUDO

dades.As diferenças entre os indivídu-

os explicam-se pelo grau de evolu-ção em que cada ser se encontra.Uns ostentam maior desenvolvi-mento intelectual e moral, porquejá viveram mais (foram criados hámais tempo) ou aproveitaram bemas oportunidades de progresso.Outros se apresentam em menordesenvolvimento, porque não apro-veitaram bem as oportunidades deprogresso ou ainda não tiverammuitas existências.

Diferentes são as dificuldades eproblemas que cada um enfrenta,porque cada qual tem uma neces-sidade diferente de experiênciaspara o seu progresso atual.

Mas não há acaso ou injustiçadivina, nem mesmo das diferençasdevidas a:

a) Hereditariedade - elas de-pendem das ligações que o Espíritotenha com a família em que nascee das condições do seu perispíritopara aproveitar, sofrer ou superar osfatores.

b) Meio ambiente - se o Espíri-to renasce nesse meio, é porquetem ligações com ele ou precisa dasexperiências que ele enseja, paravaler-se das boas influências e su-perar as más.

Deus é bondoso.Nunca nos condena e, embora

cada um receba segundo suasobras, todos terão tantas oportuni-dades quantas necessárias para res-gatarem seus erros e evoluírem.

Deus é poderoso.Criou-nos para a perfeição e a

felicidade e seu desígnio se cum-prirá, pois todos nós as alcançare-mos, através das vidas sucessivas.

II – Argumentos CientíficosConquanto em todos os lugares

e povos, em todos os tempos, hajaevidências sobre a reencarnação,ainda não podemos dizer que elaseja comprovada, segundo os atu-ais cânones da Ciência, que tudoreporta ao plano da matéria e pre-cisa que os fenômenos se repitamde uma forma que o pesquisador ospossa provocar e controlar para en-tão observá-los, entendê-los eexplicá-los.

A reencarnação, porém, é umprocesso que transcende a vida fí-sica (embora parte dela se dê nomundo material). E é, também, umprocesso de vida que não está nasmãos do homem fazer parar ou re-petir, para observá-lo.

Pesquisas modernas dão umaabertura neste campo e já se con-seguiram dados significativos a res-peito, por meio de:

a) Lembranças espontâneasHá pessoas que, consciente-

mente ou em sonhos, se lem-bram de algumas de sua exis-tências passadas.

A esse respeito, destaquemosas pesquisas do Dr. Banerjee, da Ín-dia, e do Dr. Yan Stevenson dosEUA., que escreveu sobre 20 Ca-

sos que Sugerem Reencarnação.

b) Regressão da memória porhipnose

Hipnotizada, a pessoa passa alembrar e relatar seu passado nestaencarnação e, em certos casos, che-ga a recordar uma ou mais existên-cias anteriores, descrevendo fatos,acontecimentos dessas encarnaçõespassadas. Livros têm sido escritos arespeito dessas pesquisas, como o dapsicóloga americana Helen

Wanbach, intitulado Life Before

Life.

Mais recentemente, surgiu nosEUA uma técnica psicológica,lançada pelo Dr. Morris Netherton,para a regressão da memória avivências passadas (desta ou deoutra encarnações) feita em esta-do de lucidez (não é por hipnose) ecom finalidade terapêuti-ca. É a Terapia deVidas Passadas(TVP) ouTerapiaR e -

gressi-va a VidasP a s s a d a s(TRVP), por-que nem sem-pre o que sedetecta nopaciente é davida passada,

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

ESTUDO

mas desta existência.c) Anúncios de reencarnação

futuraPor revelações em sonhos,

mediúnicas ou por via anímica (per-cepção do próprio encarnado), àsvezes são feitos anúncios de que umdeterminado Espírito vaireencarnar e são dados sinais pre-ciosos para a sua identificação,quando do nascimento, o que secumpre depois, conforme fora anun-ciado.

III – Argumentos ReligiososNas tradições e na literatura re-

ligiosa de muitos povos e épocas en-contraremos o registro da idéia da

reencarnação e ensinos a respeito.Como, no Brasil, nosso povo estámais ligado às idéias religiosas daBíblia, a ela recorreremos.

No Velho como no Novo Testa-mento, há passagens sobre reencar-nação. Citaremos, do Novo Testa-mento, uma passagem em que Je-sus a ensina teoricamente; outra emque indica estar reencarnado en-tre eles, naquela época, alguém queno passado fora muito conhecido erespeitado; e uma terceira em quereafirma essa reencarnação.

1. O diálogo de Jesus comNicodemos (JO 3:1-12)

Ora, entre os fariseus, havia um

homem chamado Nicodemos, prin-cipal dos judeus, que veio à noiteter com Jesus e lhe disse:

- Mestre, sabemos que vieste daparte de Deus, porque ninguémpoderia fazer os sinais que tu fazes,se Deus não estivesse com ele.

- Em verdade, em verdade tedigo: Ninguém pode ver o reino deDeus se não nascer de novo.

- Como pode nascer um homemjá velho? Pode tornar a entrar noventre de sua mãe, para nascer pelasegunda vez?

- Em verdade, em verdade tedigo: Se um homem não nasce daágua e do espírito, não pode entrarno reino de Deus. O que é nascidoda carne é carne e o que é nascidodo espírito é espírito.

Não te admires de que eu tehaja dito ser preciso que nasças denovo. O vento sopra onde quer queouves a sua voz, mas não sabes deonde ele vem, nem para onde elevai; o mesmo se dá com todo aque-le que é nascido do espírito.

- Como pode isto fazer-se?- Pois é! É mestre em Israel e ig-

noras estas coisas?Digo-te em verdade que não

dizemos senão do que temos visto,entretanto, não aceitais o nosso tes-temunho. Mas, se não me credes,quando vos falo das coisas da Ter-ra, como me crereis, quando vos faledas coisas do Céu?

Neste diálogo, Jesus ensina teo-ricamente a reencarnação.Nicodemos pensou no mesmo cor-po nascendo de novo (o que não épossível). Jesus corrigiu esse erro:“o que é nascido da carne é car-ne”, o corpo segue a lei natural dadecomposição da matéria; reafir-mou que para “entrar no reino de

Quando Jesus se transfigurou,apareceram ao seu lado, conversandocom ele,Moisés e Elias, ambosEspíritos há muito desencarnados

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

Fonte:

OLIVEIRA, Therezinha. Iniciação ao

Espiritismo. Págs. 103-110. Editora Allan

Kardec. Campinas/S.P.2004

ESTUDO

Deus” (alcançar planos espirituaiselevados) há necessidade de renas-cer tanto da água ( símbolo da ma-téria) como do espírito; ou seja,reencarnar no mundo material, mastambém renovar-se intimamente,progredir. Usou o ar (pneuma, sím-bolo do elemento espiritual) comocomparação para explicar que sen-timos a presença e manifestação doEspírito reencarnado, através doseu novo corpo, mas não podemosidentificar de onde veio (o passadoé providencialmente esquecido)nem apontar-lhe um futuro (vai de-pender do seu livre arbítrio).

2. Jesus afirma duas vezes queJoão Batista era Elias reencarnado

a) Após dar seu testemunhosobre João Batista

A doutrina de vidas sucessivas nospermite entender a perfeita conciliaçãode todos os fatos da vida com a justiça,

o poder e a bondade de Deus.

Desde o tempo de João Batistaaté o presente, o reino dos céus étomado pela força e são os que seesforçam que se apoderam dele; por-que todos os profetas e a lei profe-tizaram até João.

E se quereis reconhecer, ele

mesmo é Elias que estava para vir.Ouça-o aquele que tiver de ouvir.(Mt 11:12-15)

b) Na transfiguraçãoQuando Jesus se transfi-

gurou, apareceram ao seulado, conversando comele,Moisés e Elias,ambos Espíritos há mui-to desencarnados.

As profecias diziamque Elias tinha de vir an-tes do Cristo...

Se Jesus era o Cristo,como é que Elias aindaestava no plano espiritu-al?

Para esclareceremesta dúvida, os discípu-los perguntaram, a Jesus:

- Não dizem osescribas ser preciso queantes volte Elias?

- É verdade que Eliashá de vir para restabele-cer todas as coisas; maseu vos declaro que Eliasjá veio e eles não o reco-

nheceram e o trataram como lhesaprouve. É assim que farão sofrer oFilho do Homem.

Então, os discípulos compreen-deram que foras de João Batista queele falara. (Mt 17:10-13; Mc 9:11-13)

Reencarnando como João Batis-ta, Elias voltara à Terra e fizera oseu papel de precursor do Cristo.Depois, fora decapitado e retornaraao mundo espiritual de onde agorase apresentava de novo, ao lado deJesus e à vista dos seus discípulos,num fenômeno de materialização.

IV. ConclusõesEstudando racionalmente a

teoria da reencarnação:- encontramos argumentos filo-

sóficos, científicos e religiosos aembasá-la;

- reconhecemos ser ela uma leidivina a nos ensejar o progresso in-cessante (pois é porta sempre aber-ta aos nossos esforços evolutivos);

- verificamos que nela se evi-denciam de modo sublime o poder,a justiça e a bondade de Deus.�

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FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

Spor Stephen Hawking

DEUS, A CIÊNCIA E EUob o signo de Galileu“Nasci em 8 de janeiro de1942, exatamente 300 anos

depois da morte de Galileu. Cal-culo, entretanto, que naquele mes-mo dia nasceram outros 200 000bebês e desconheço se algum seinteressou posteriormente por As-tronomia. Vim ao mundo emOxford, embora meus pais vivessemem Londres. Era um bom lugar paranascer durante a guerra, graças aoacordo pelo qual os alemães tinhamse comprometido a não bombarde-ar Oxford nem Cambridge se os bri-tânicos respeitassem Heidelberg eGöttingen (essas cidades eram econtinuam a ser sede de quatrograndes e seculares universidades).Foi uma pena que esse tipo de pac-to civilizado não se estendesse a ou-tros lugares.

Meu pai era de Yorkshire, deuma família arruinada em princípi-os deste século e, mesmo assim, con-

seguiu enviá-lo a Oxford para es-tudar Medicina e ele logo se espe-cializou em Medicina tropical. Mi-nha mãe nasceu em Glasgow, Es-cócia, e, como meu pai, pertenciaa uma família de poucos recursos.Apesar disso, ela também pôde irpara Oxford. Ao sair de lá, tevevários empregos, entre eles o de fis-cal fazendária. Mas ela não gosta-va daquele mundo e o deixou paratornar-se secretária. Foi assim queconheceu meu pai, nos primeirosanos da guerra.

Eu era um menino bastante nor-mal, lerdo para aprender a ler emuito interessado em como funci-onavam as coisas. Na escola nuncaestive entre os primeiros da classe(era um grupo muito brilhante).Quando eu tinha 12 anos, um ami-go apostou com outro um saco decaramelos como eu não seria nadana vida. Não sei se a aposta foi pagaou, caso tenha sido, quem foi o ga-

nhador.

Oxford apáticoMeu pai queria que eu estudas-

se Medicina. Para mim, a Biologiaera muito descritiva e não sufici-entemente fundamental. Eu prefe-ria estudar Matemática e Física. Desua parte, meu pai achava que aMatemática não tinha outra saídaque não fosse o ensino, e por issome fez aprender Química e Física.Além do mais, ele pretendia queeu me matriculasse no mesmo cen-tro que ele, a Universidade deOxford. Mas lá não se ensinavaMatemática naquele tempo. Quan-do chegou o momento, em 1959,ingressei na dita instituição paraestudar Física, o que realmente meinteressava.

A maioria de meus companhei-ros de universidade tinha feito oserviço militar e, portanto, erammaiores de idade. Durante o pri-meiro ano e parte do segundo mesentia muito sozinho. Até o tercei-ro ano não me senti à vontade. NaOxford daquela época, a atitudepredominante era o antitrabalho.Supunha-se que se deveria ser bri-lhante sem fazer nenhum esforço ouaceitar as próprias limitações e con-seguir um título de quarta catego-ria. Esforçar-se para obter uma qua-lificação melhor era consideradocoisa de medíocre, a pior palavrado vocabulário oxfordiano.

Naquele tempo, os cursos de Fí-sica de Oxford estavam enfocadosde tal forma que era fácil evitar otrabalho. Tive de fazer um exame�

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Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

médico antes de entrar na univer-sidade e não voltei a ser examina-do outra vez até o final do curso,três anos depois. Segundo meus cál-culos, devo ter estudado aproxima-damente umas mil horas duranteesse período, uma hora diária emmédia. Não tenho orgulho de tertrabalhado pouco, simplesmentedescrevo minha atitude de então,compartilhada pela maior parte demeus colegas: apatia diante de tudoe a sensação de que nada valeria apena se fosse necessário esforçar-sepor alguma coisa.

Crônica de uma morte sonha-da

Pouco depois de fazer 21 anosentrei no hospital para fazer uns exa-mes. Extraíram uma amostra de te-cido muscular do meu braço, mecolocaram eletrodos e injetaram umlíquido de contraste em minha co-luna para observar, por meio de rai-os X, como ela subia e descia ao seinclinar a cama. O diagnóstico foiesclerose lateral amiotrófica, ou do-ença dos motoneurônios, como é co-nhecida na Inglaterra.

Ao saber que tinha uma doençaincurável, que provavelmente melevaria à morte em poucos anos,sofri uma comoção. Como isso po-dia ter acontecido comigo? Naque-la época, meus sonhos eram bastan-te perturbadores. Antes que diag-nosticassem minha enfermidadecheguei a ficar aborrecido com avida. Parecia nada valer a pena. Po-rém, pouco depois de sair do hospi-tal sonhei que iam me executar. Derepente, compreendi que se eu fos-se indultado poderia fazer muitascoisas interessantes. Na raiz da mi-nha doença cheguei à seguinte con-

clusão: quando temos de enfrentara possibilidade de uma morte pre-matura, nos damos conta de quan-to viver vale a pena.

O sentido da vidaParecia-me não ter sentido con-

tinuar com minhas pesquisas, poisnão esperava viver o suficiente para

terminar o doutoramento. Com opassar do tempo, a indolência re-cuou. Comecei a entender a rela-tividade geral e a progredir em meusestudos. No entanto, o realmentedecisivo foi meu compromisso comuma mulher chama—da JaneWilde. Ela me deu uma razão paraviver e me fez entender que tinhade conseguir um trabalho se querí-amos nos casar.

Meu pedido para fazer pesqui-sa em Cam-bridge foi aceito,embora tenha me decepcio-nado ao saber que meuorientador não seria FredHoyle e sim um desconhe-cido chamado DennisSciama (provavelmente,Hawking não o conheciana época, mas ele é um dosmaiores físicos do pós-guerra). Tanto umquanto outro acre-ditavam na te-oria do es-tado es-tacioná-

rio, segundo a qual o Universo nãoteria princípio nem fim no tempo.No final, a mudança de orientadorresultou muito gratificante. Hoyleviajava sem cessar ao exterior, e eraprovável que eu o visse muito pou-co. Sciama, ao contrário, estavasempre à mão, e sua presença eraestimulante, ainda que

freqüentemente não compartilhas-se de suas idéias. Assisti ao semi-nário no qual se anunciou a exis-tência dos pulsares (estrelas queemitem pulsos regulares de rádio,e parecem uma mensagem cifrada,daí a piada de que seriam sinais deextraterrestres). A sala estava en-feitada com homenzinhos verdes depapel. Os primeiros quatro pulsa-

res descober-tos forambatizados de

Supunha-se que se deveria serbrilhante sem fazer nenhum esforço ou

aceitar as próprias limitações econseguir um título de quarta categoria

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FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

LGM I, II, III e IV. LGM é a siglaem inglês para Little green men,homenzinhos verdes.

No princípio foi a singulari-dade

As observações das galáxias re-motas indicam que elas estão se dis-tanciando de nós. O Universo estáem expansão. Isto quer dizer queos astros tinham de estar mais jun-tos no passado. E aqui surge umaquestão: houve um tempo em quetodas as galáxias estiveram compri-midas num único ponto e a densi-dade do Cosmo era infinita? Ouhouve uma fase prévia de contra-ção na qual as galáxias evitaram sechocar? Talvez tenham passadoumas ao lado das outras em grandevelocidade e em seguida começa-do a se distanciar. Para responder aessa pergunta eram necessárias no-vas técnicas matemáticas. Estas, emsua maior parte, foram desenvolvi-das entre 1965 e 1970 por RogerPenrose e por mim mesmo. Nós asutilizamos para demonstrar que se

a teoria geral da relatividade esta-va certa, devia haver um estado dedensidade infinita no passado. Essefenômeno é conhecido como a sin-

gularidade do Big Bang e consti-tuiria o princípio do Universo. Di-ante dele, todas as leis conhecidasda ciência viriam abaixo. Isso signi-ficaria que, se a relatividade geralestá corre-ta, nós cientistas não po-deríamos deduzir como começou oCosmo.

Buracos negros e espaguetesCair num buraco negro se trans-

formou num dos horrores comunsda ficção científica. Porém, os bu-racos negros já podem ser conside-rados realidades científicas. Comoé lógico, os escritores de históriasfantásticas somente se interessampelo que acontece se você despen-car num deles. Uma idéia muito di-fundida é que se o buraco negro temum movimento rotatório, você podeentrar num pequeno vazio de espa-ço-tempo e sair em outra região doUniverso. Obviamente, isso abre

enormes possibilidades às viagenspelo Cosmo. Com efeito, necessita-mos algo assim para poder visitaroutras estrelas, para não dizer ou-tras galáxias. Do contrário, já quenada pode viajar mais rápido que aluz, um périplo de ida e volta à es-trela mais próxima duraria oitoanos. Esqueçamos os fins de sema-na em Alfa Centauro. Por outrolado, se pudéssemos passar atravésde um buraco negro, reaparecería-mos em qualquer lugar do Univer-so. Assim, não fica muito claro comoconseguiríamos chegar ao nossodestino: seria o mesmo que plane-jar férias em Virgem e acabar nanebulosa do Caranguejo.

Sinto ter que desiludir o turistagaláctico do futuro, mas as coisasnão são assim: se saltasse dentro deum buraco negro, você ficaria empedaços e seria esmagado até nãorestar nenhum sinal. Apesar disso,as partículas que formam seu corposeriam transportadas, de certomodo, a outro mundo. Não sei seisso serve de consolo a alguém queé convertido em espaguete no in-terior de um destrutivo turbilhãoespacial.

O astronauta recicladoUma noite, pouco depois do nas-

cimento de minha filha Lucy, co-mecei a pensar nos buracos negrosenquanto me preparava para dei-tar. Devido à minha incapacidadefísica, essa simples rotina cotidianase convertera num processo bastan-te lento. Por isso, dispunha de mui-to tempo. De repente, compreendique a área do horizonte de eventos(a superfície que delimita o buraconegro) sempre aumenta com o tem-po. Estava tão entusiasmado com

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minha descoberta que quase nãodormi naquela noite. O aumentodessa zona fronteiriça indicava queum buraco negro possui uma quan-tidade chamada entropia, a medi-da do nível de desordem que con-tém. E se tem entropia, deve tertambém uma temperatura. Bem, sevocê aquecer um atiçador no fogo,ele vai ficar vermelho e emitir ra-diação. Mas um buraco negro nãoirradia absolutamente nada poisnada escapa dele.

A relatividade geral é conside-rada uma teoria clássica. Pressupõeum caminho único definido paracada partícula. Porém, segundo aoutra grande teoria do século XX (a da mecânica quântica), existe umelemento de probabilidade e incer-teza. Durante o tempo que visiteiMoscou, em 1973, discuti comYakov Zeldovich, o pai da bombade hidrogênio soviética, o efeito damecânica quântica sobre os bura-cos negros. Pouco depois, fiz meuachado mais surpreendente. Des-cobri que as partículas se filtrariamatravés do horizonte de eventos eescapariam do buraco negro. Pri-meiro contei isso a Sciama e logome dei conta de que o segredo nãoera mais segredo. Roger Penrose metelefonou durante um jantar deaniversário. Estava tão entusiasma-do e falou tanto tempo que, quan-do desligou, minha comida estavacompletamente fria. Foi uma pena:era ganso, um dos meus pratos fa-voritos.

Eu ainda não acreditava total-mente. Convenci-me de que osburacos negros emitem radiaçãoquando encontrei o mecanismo quepodia fazer isso acontecer. Segun-do a mecânica quântica, o espaço

está cheio de partículas eantipartículas virtuais que de for-ma constante se materializam emduplas, se separam, logo voltam ase juntar e se aniquilam. Na pre-sença de um buraco negro, pode serque uma das partículas desse parcaia no seu interior deixando a ou-tra sem companheira para destruir.A partícula abandonada constituia radiação emitida pelos buracosnegros. A mecânica quântica ad-mite que uma partícula escape deuma dessas terríveis gargantasgalácticas, coisa que a teoria darelatividade não permitia.

Einstein jamais aceitou a mecâ-nica quântica devido a seu com-ponente de improbabilidade e in-certeza. Ele dizia: “Deus não jogadados”. Parece que o gênio alemãoestava duplamente equivocado. Osefeitos quânticos dos buracos ne-gros sugerem que Deus não apenasjoga dados como às vezes os tira deonde ninguém pode vê-los. Todasessas descobertas nos têm mostra-do que o colapso gravitacional não

é tão definitivo como pensáva-mos. Se um astronauta cair emuma garganta galáctica, será devol-vido ao resto do Universo em for-ma de radiação. Nesse sentidopode-se dizer que o astronauta seráreciclado.

Cada vez mais serenoAté 1974 podia comer, sentar e

levantar sem ajuda. Jane foi capazde cuidar de mim e criar dois filhossem a ajuda de ninguém. Mas ascoisas estavam ficando cada vezmais difíceis e decidimos que umde meus estudantes viria morarconosco.

Tempo real e tempo imaginá-rio

Meu interesse pela origem e des-tino do Universo se reavivou em1981, quando assisti a uma confe-rência sobre Cosmologia noVaticano. Depois, o papa João Pau-lo II, que ainda estava se recupe-rando de um atentado contra suavida, concedeu-nos uma audiência.

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FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

Ele nos disse que era correto estu-dar a evolução do Universo depoisdo Big Bang, porém não devíamosindagar sobre a Grande Explosãoem si, pois esse foi o momento daCriação, e portanto, obra de Deus.Alegrei-me por ele não saber o temade minha conferência: a possibili-dade de o espaço-tempo ser finito,mas sem fronteira, o que significa-ria que não tinha havido um co-meço. Em meu trabalho As condi-ções de fronteira do Universo, eusugeria que o espaço e o tempoeram finitos em extensão, porém es-tavam encerrados em si mesmos,sem limites, da mesma forma que asuperfície do planeta Terra é finitaainda que não tenha fronteiras. Emnenhuma das minhas viagens con-segui cair da borda do mundo.

Na época da conferência doVaticano não sabia como utilizaressa idéia para fazer previsões so-bre o comportamento do Universo.Entre 1982 e 1983 trabalhei commeu amigo e colega Jim Hartle, da

Universi-dade daCalifórnia,em SantaBárbara, edemons-t r a m o scomo uti-lizar o con-ceito dainexistênciade frontei-ras paracalcular oestado doCosmo emuma teoriaquânticada gravi-

dade. Se a proposta da ausência delimites for correta, não haveria ne-nhuma singularidade e as leis daciência seriam sempre váli-das, in-clusive a do começo do Universo.Tinha conseguido realizar minhaambição de descobrir como tudocomeçou. Ainda assim, continuosem saber por que o fiz.

Para falar de nossas origens, ne-cessitamos de leis que possam serválidas em qualquer estado. Notempo real só existem duas possibi-lidades: que este se prolongue paratrás, no passado, para sempre, ouque tenha um princípio. Pode-seentão imaginar uma linha que vádo Big Bang ao Big Crunch (o co-lapso final do Universo). Mas tam-bém pode-se considerar outro sen-tido do tempo, em ângulo reto aotempo real. É a chamada direçãoimaginária. Nela não há por quehaver singularidade que constituaum começo ou um fim para o Uni-verso. O espaço não seria criadonem destruído. Talvez o tempo ima-

ginário seja o autêntico tempo reale o que chamamos tempo real sejasomente um produto de nossa ima-ginação.

Um lugar para DeusA maioria das pessoas acredita

que Deus permite a evolução doUniverso de acordo com um con-junto de leis, sem precisar intervirnele. Mas continuaria sendo assun-to divino dar corda ao relógio e es-colher o momento de fazê-lo funci-onar. Se o Universo teve um come-ço, podemos supor que teve um cri-ador. Porém, se o Cosmo, com efei-to, se contém em si mesmo, há lu-gar para um sumo Criador? Em cer-ta ocasião, Einstein perguntou:“Que grau de deliberação teveDeus na gênese do Universo?” Se aproposta da ausência de limites es-tiver correta, ele não teve nenhu-ma liberdade para escolher as con-dições iniciais. Só pôde escolher asleis que regeriam sua obra magis-tral.

De fato, é possível que não te-nha havido tal determinação. Narealidade, pode ser que exista so-mente uma teoria unificada quepermita a existência de estruturastão complicadas como os seres hu-manos, indivíduos capazes de inves-tigar as leis do Universo e questio-nar sobre a natureza de Deus.

Minha última assinaturaEm 1979, fui eleito professor de

Matemática na mesma cátedraque, um dia, fora ocupada por IsaacNewton. Há um enorme livro quetodos os professores da universida-de devem assinar. Depois de maisde um ano ali, eles se deram contade que eu ainda não o havia assi-

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Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

nado. Trouxeram-me o livro e assi-nei com certa dificuldade. Aquelafoi a última vez que escrevi meunome.

Voz da ciênciaAntes da intervenção cirúrgica,

minha fala havia se tornadoininteligível e poucas pessoas queme conheciam conseguiam me en-tender. Ditava meus trabalhos ci-entíficos e dava seminários com aajuda de um intérprete. Atraqueotomia me privou totalmen-te dessa função, tão corriqueira nosoutros. Durante algum tempo, aúnica maneira que eu tinha de mecomunicar era soletrando as pala-vras e levantando as sobrancelhasquando alguém assinalava a letracorreta numa cartolina com o alfa-beto. Com esse método, era bastan-te difícil manter uma conversa,quanto mais redigir um trabalhocientífico.

Por sorte, um especialista emInformática, da Califórnia, cienteda minha situação, mandou um pro-grama que me permitia selecionarpalavras de uma série de menus natela apertando uma tecla com odedo. O aparelho também funcio-na com outro botão acionado porum movimento da cabeça ou dosolhos. Quando tenho frases sufici-entes posso mandá-las para umsintetizador de voz que, junto como computador, está acoplado à mi-nha cadeira de rodas. Esse sistemapermite que agora eu me comuni-que muito melhor. Posso construiraté quinze palavras por minuto e di-zer o que escrevi ou gravar num dis-co. A voz é muito importante, poisse temos uma fala inexpressiva émuito provável que as pessoas nos

tratem como deficiente mental.Meu sintetizador é o melhor dequantos ouvi, pois muda deentonação e não vocaliza como sefosse um robô estúpido. O únicoproblema é que me deu um sota-que americano.

Adeus ao passadoO que aconteceria se o Univer-

so deixasse de se expandir e come-çasse a se contrair? A setatermodinâmica se inverteria e como tempo começaria a diminuir a de-sordem? Veríamos xícaras quebra-das se recompondo no chão e sal-tando de novo sobre a mesa? Re-cordaríamos as cotações da manhãe faríamos fortuna na Bolsa? Euacreditava que o Cosmo teria devoltar a um estado de calma e or-dem quando começasse a se con-trair. Se fosse assim, durante essafase as pessoas viveriam suas vidasao contrário. Morreriam antes denascer e se tornariam progressiva-mente mais jovens conformeo firmamento diminuísse.Estava enganado. Eu estavautilizando um modelo de Uni-verso demasiadamente simpli-ficado. O tempo não mudaráde direção quando o Universo co-meçar a se contrair. E as pessoas,infelizmente, continuarão aenvelhecer como sempre.

O Big CrunchO Cosmo tem dois possí-

veis destinos. Pode continuarse expandindo sempre ou con-trair-se de novo e terminar como Big Crunch. Sou defensor dasegunda tese. Tenho, sem dú-vida, certas vantagens sobreoutros profetas do fim do

mundo. Aconteça o que acontecer,é pouco provável que dentro de milmilhões de anos eu esteja aqui parame dizerem que estava enganado.

A borda da morteVoltava para casa, na noite de 5

de março de 1991. Estava escuro echovia. A cadeira de rodas tinhaluzes de bicicleta dianteiras e tra-seiras. Ao atravessar uma avenida,vi uns faróis que se aproximavam,mas julguei que poderia cruzar a ruacom segurança. No entanto, o veí-culo andava mais rápido do que eupensava. Quando me encontrava nomeio da avenida, a enfermeira gri-tou: “Cuidado!” Ouvi o chiado dasrodas e o carro chocou com a partetraseira de minha cadeira. Sofri umtremendo golpe. Terminei caído noasfalto e gravemente ferido.

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FidelidadESPÍRITA | Mai. 2005

Conheceremos o Criador?Se chegarmos a descobrir uma

teoria completa, com o tempo estadeveria ser compreensível para to-dos e não só para um pequeno gru-po de cientistas. Então, todo o mun-do poderia discutir sobre a existên-cia do ser humano e do Universo.No caso de encontrarmos a respos-ta a esta questão, alcançaríamos otriunfo final da razão humana, por-que nesse momento conheceríamosa mente de Deus. Teríamos torna-do realidade todos os nossos sonhos.

O dicionário do senhorHawking

Antipartícula: cada partículaelementar tem uma antipartículado mesmo tipo. Quando uma seencontra com a outra, elas se ani-quilam mutuamente, deixando ape-nas energia.

Big Bang: a singularidade docomeço do Universo, quando tudoestava concentrado num único pon-to de densidade e temperatura in-

finitas.Big Crunch: singularidade que

Singularidade: ponto no qual o es-paço-tempo se curva infinitamen-te e chega a um fim. A teoria clás-sica da relatividade geral prevê queeste fenômeno ocorre, porém nãopode descrever como se comporta,porque ao chegar a este ponto suasleis já não funcionam.

Teoria da ausência de limites:propõe que o espaço e o tempo ima-ginário formam juntos uma superfí-cie finita em extensão, ainda quesem fronteiras nem bordas. Nessateoria, o espaço-tempo seria comoa superfície da Terra, porém, comduas dimensões a mais.

A visão espírita de Deus

Sendo Deus a causa primária detodas as coisas, a origem de tudo oque existe, a base sobre que repou-sa o edifício da criação, é tambémo ponto que importa consideremosantes de tudo.

Constitui princípio elementarque pelos seus efeitos é que se jul- �

ga de uma causa, mesmo quandoela se conserve oculta. Se, fenden-do os ares, um pássaro é atingidopor mortífero grão de chumbo, de-duz-se que hábil atirador o alve-jou, ainda que este último não sejavisto. Nem sempre, pois, se faz ne-cessário vejamos uma coisa, parasabermos que ela existe. Em tudo,observando os efeitos é que se che-ga ao conhecimento das causas.

Outro princípio igualmente ele-mentar e que, de tão verdadeiro,passou a axioma é o de que todoefeito inteligente tem que decor-

rer de uma causa inteligente. Seperguntassem qual o construtorde certo mecanismo engenhoso,

que pensaríamos de quem respon-desse que ele se fez a si mesmo?Quando se contempla uma obra-prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido umhomem de gênio, porque só umaalta inteligência poderia concebê-la. Reconhece-se, no entanto, queela é obra de um homem, por severificar que não está acima dacapacidade humana; mas, a nin-guém acudirá a idéia de dizer quesaiu do cérebro de um idiota ou deum ignorante, nem, ainda menos,que é trabalho de um animal, ouproduto do acaso.

Em toda parte se reconhece apresença do homem pelas suasobras. A existência dos homensantediluvianos não se provaria uni-camente por meio dos fósseis hu-manos: provou-a também, e commuita certeza, a presença, nos ter-renos daquela época, de objetos tra-balhados pelos homens. Um frag-mento de vaso, uma pedra talha-da, uma arma, um tijolo bastarãopara lhe atestar a presença. Pela

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Mai. 2005 | FidelidadESPÍRITA

REPARAÇÃO

Fonte:

Super Interessante Ago. 1993 ed.071 pág. 19-25

grosseria ou perfeição do trabalho,reconhecer-se-á o grau de inteli-gência ou de adiantamento dos queo executaram. Se, pois, achando-vos numa região habitada exclusi-vamente por selvagens,descobrirdes uma estátua digna deFídias, não hesitareis em dizer que,sendo incapazes de tê-la feito osselvagens, ela é obra de uma inte-ligência superior à destes.

Pois bem! lançando o olhar emtorno de si, sobre as obras da Natu-reza, notando a providência, a sa-bedoria, a harmonia que presidema essas obras, reconhece o observa-dor não haver nenhuma que nãoultrapasse os limites da mais porten-tosa inteligência humana. Ora,desde que o homem não as podeproduzir, é que elas são produto deuma inteligência superior à Huma-nidade, a menos se sustente que háefeitos sem causa.

A isto opõem alguns o seguinteraciocínio: As obras ditas da Natu-reza são produzidas por forças ma-teriais que atuam mecanicamen-te, em virtude das leis de atração erepulsão; as moléculas dos corposinertes se agregam e desagregamsob o império dessas leis. As plan-tas nascem, brotam, crescem e semultiplicam sempre da mesma ma-neira, cada uma na sua espécie, porefeito daquelas mesmas leis; cadaindivíduo se assemelha ao de quemele proveio; o crescimento, afloração, a frutificação, a coloraçãose acham subordinados a causasmateriais, tais como o calor, a ele-tricidade, a luz, a umidade, etc. Omesmo se dá com os animais. Osastros se formam pela atraçãomolecular e se movem perpetua-mente em suas órbitas por efeito da

gravitação. Essa regularidade me-cânica no emprego das forças na-turais não acusa a ação de qual-quer inteligência livre. O homemmovimenta o braço quando quer ecomo quer; aquele, porém, que o

movimentasse no mesmo sentido,desde o nascimento até a morte,seria um autômato. Ora, as forçasorgânicas da Natureza são pura-mente automáticas. Tudo isso éverdade; mas, essas forças são efei-tos que hão de ter uma causa e nin-guém pretende que elas constitu-am a Divindade. Elas são materiaise mecânicas; não são de si mesmasinteligentes, também isto é verda-de; mas, são postas em ação, dis-tribuídas, apropriadas às necessida-des de cada coisa por uma inteli-gência que não é a dos homens. Aaplicação útil dessas forças é umefeito inteligente, que denota umacausa inteligente. Um pêndulo semove com automática regularida-de e é nessa regularidade que lheestá o mérito. É toda material a for-ça que o faz mover-se e nada temde inteligente. Mas, que seria essepêndulo, se uma inteligência nãohouvesse combinado, calculado,distribuído o emprego daquela for-ça, para fazê-lo andar com preci-são? Do fato de não estar a inteli-gência no mecanismo do pênduloe do de que ninguém a vê, seria

racional deduzir-se que ela nãoexiste? Apreciamo-la pelos seusefeitos.

A existência do relógio ates-ta a existência do relojoeiro; aengenhosidade do mecanismo lhe

atesta a inteligência e o saber.Quando um relógio vos dá, no mo-mento preciso, a indicação de quenecessitais, já vos terá vindo à men-te dizer: aí está um relógio bem in-teligente?

Outro tanto ocorre com o me-canismo do Universo: Deus não semostra, mas se revela pelas suasobras.

A existência de Deus é, pois,uma realidade comprovada não sópela revelação, como pela evidên-cia material dos fatos. Os povos sel-vagens nenhuma revelação tive-ram; entretanto, crêem instintiva-mente na existência de um podersobre-humano. Eles vêem coisas queestão acima das possibilidades dohomem e deduzem que essas coisasprovêm de um ente superior à Hu-manidade. Não demonstram raci-ocinar com mais lógica do que osque pretendem que tais coisas sefizeram a si mesmas?

Meu interesse pela origem e destinodo Universo se reavivou em 1981,

quando assisti a uma conferência sobreCosmologia no Vaticano

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

por Chico Xavier/ Humberto de Campos

Q

O ENCONTRO DIVINOREFLEXÃO

uando o cavaleiroD’Arsonval, valoroso se-nhor em França, se ausen-

tou do medievo domicílio, pela pri-meira vez, de armadura fulgindo aoSol, dirigia-se à Itália para solver

urgente questão política.Eminente cristão,

trazia consigo um pro-pósito central - servirao Senhor, fielmente,para encontrá-lo .

Não longe de suasportas, viu surgir, deinesperado, ulcerosomendigo a estender-

lhe as mãos descar-nadas esúplices.

Quem se-ria seme-lhante in-feliz a va-

guear semrumo?

Pre-

ocupava-o serviço importante,m emdemasia, e, sem se dignar fixá-lo,atirou-lhe a bolsa farta.

O nobre cavaleiro tornou ao lare, mais tarde, menos afortunadonos negócios, deixou, de novo, acasa.

Demandava e Espanha, em mis-são de prelados amigos, aos quaisse devotava.

No mesmo lugar, postava-se oinfortunado pedinte, com os braçosem rogativa.

O fidalgo, intrigado, revolveugrande saco de viagem e dele reti-rou pequeno brilhante, arremessan-do-o ao triste caminheiro que pa-recia decorá-lo com o olhar.

Não se passou muito tempo e ocastelão, menos feliz no círculo dasfinanças, necessitou viajar, para aInglaterra, onde pretendia soluci-onar vários problemas, alusivos à or-ganização doméstica.

No mesmo trato de solo, é sur-preendido pelo amargurado lepro-so, cuja velha petição se ergue noar.

O cavaleiro arranca do chapéuestimada jóia de subido valor e pro-jeta-a sobre o conhecido romeiro,orgulhosamente

Decorridos alguns meses, o pa-trão feudal se movimenta na dire-

ção de porto distante, em bus-ca de precioso empréstimo,

destinado à própria economiaameaçada de colapso fatal, e, nomesmo sítio, com rigorosa precisão,é interpelado pelo mendigo, cujasmãos, em chaga aberta, se voltamansiosas para ele.

D’Arsonval, extremamente de-dicado à caridade, não hesita. Des-pe fino manto e entrega-o, de lon-ge, receando-lhe o contacto.

Depois de um ano, premido porquestões de imediato interesse, vaia Paris invocar o socorro de autori-dades e, sem qualquer alteração, édefrontado pelo mesmo lázaro, defeição dolorida, que lhe repete a an-tiga súplica.

O castelão atira-lhe um gorro dealto preço, sem qualquer pausa nogalope, em que seguia, presto.

Sucedem-se os dias e o nobre se-nhor, num ato de fé, abandona arespeitada residência, com séqüitofestivo.

Representará os seus, junto àexpedição de Godofredo deBouillon, na cruzada com que sepretende libertar os Lugares San-tos.

No mesmo angule da estrada,era aguardado pelo mendigo, quelhe reitera a solicitação em voz maistriste.

O ilustre viajor dá-lhe, então,rico farnel, sem oferecer-lhe a mí-nima atenção.

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: 0800 770-5990 | 23Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE: (19) 3233-5596

Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

XAVIER, Francisco Cândido/ CAMPOS,

Humberto. Cartas e Crônicas. Págs. 47-50.

Feb. Rio de Janeiro - RJ. 1966.

Fonte:

REFLEXÃO

E, na Palestina, D’Arsonval com-bateu valorosamente, caindo, feri-do, em poder dos adversários.

Torturado, combalido e separa-do de seus compatriotas, por anos afio, padeceu miséria e vexame, ata-ques e humilhações, até que, umdia, homem convertido em fantas-ma, torna ao lar que não o reco-nhece.

Propalada a falsa notícia de suamorte, a esposa deu-se pressa emsubstituí-lo, à frente da casa, e seus

filhos, revoltados, soltaram cãesagressivos que o dilaceraram, cru-elmente, sem comiseração para como pranto que lhe escorria dos olhossemimortos.

Procurando velhas afeições, so-freu repugnância e sarcasmo.

Interpelado, agora, à conta delouco, o ex-fidalgo, em sombrio cre-púsculo, ausentou-se, em definiti-vo, a passos vacilantes...

Seguir para onde? O mundo erapequeno demais para conter-lhe a

dor.Avançava, penosamente, quan-

do encontrou o mendigo.Relembrou a passada grandeza

e atentou para si mesmo, qual sebuscasse alguma coisa para dar.

Contemplou o infeliz pela pri-meira vez e, cruzando com ele oolhar angustiado, sentiu que aquelehomem, chagado e sozinho, deviaser seu irmão. Abriu os braços e ca-minho para ele, tocado de simpa-tia, como se quisesse dar-lhe o ca-lor do próprio sangue. Foi, então,que, recolhido no regaço do com-panheiro que considerava leproso,dele ouviu as sublimes palavras:

- D’Arsonval, vem a mim! Eu souJesus, teu amigo. Quem me procu-ra no serviço ao próximo, mais cedome encontra... Enquanto me bus-cavas a distância, eu te aguarda-va, aqui tão perto! Agradeço o ouro,as jóias, o manto, o agasalho e o pãoque me deste, mas há muitos anoste estendia os meus braços, espe-rando o teu próprio coração!...

O antigo cavaleiro nada mais viusenão vasta senda de luz, entre aTerra e o Céu...

Mas, no outro dia, quando ossemeadores regressavam Às lides docampo, sob a claridade da aurora,tropeçaram no orvalhado caminhocom um cadáver.

D’Arsonval estava morto.�

Sem qualquer alteração, é defrontadopelo mesmo lázaro, de feição dolorida,que lhe repete a antiga súplica.

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

fabricação:Físicos norte-americanosdesencadeiam a fissão de

átomos em uma reação em corren-te não-sustentável e controlável;mais tarde os integrantes do proje-to Manhattan conseguem desen-volver a fabricação da bomba atô-mica, a qual, segundo RobertOppenheimer, era de fácil produ-ção e de baixo custo, o que desper-taria o interesse de outros países e,conseqüente, corridaarmamentista. Dado a esta fa-cilidade, torna-se também possívelo aumento descontrolado da pro-dução do arsenal, armas cada vezmais potentes e de alcances quefogem à nossa visão. A partir deentão o mundo não seria mais omesmo.

Os ataques:Assim, três anos depois, em

06.08.1945, o bombardeiro EnolaGay lança sobre a cidade deHiroshima, a primeira bomba atô-mica, de urânio, quinze quilotons,recebe o apelido de “little boy”, e,como se não bastasse, em09.08.1945, outra é detonada so-bre cidade de Nagasaki, desta vezuma bomba de plutônio, pesandovinte e um quilotons, apelidada “fatman”. As duas cidades japonesasficaram em ruínas, seus mortos eferidos espalhados por todos os la-dos, milhares de vítimas, cidadãoscivis e comuns, pois não se trata-

A BOMBA

Pensem nas crianças mudas telepá-ticasPensem nas meninas cegas inexa-tas,Pensem nas mulheres rotas altera-das,Pensem nas feridas como rosas cá-lidas,Da rosa de Hiroshima a rosa here-ditária,A rosa radioativa estúpida e invá-lida,A rosa com cirrose a anti-rosa atô-mica,Sem cor nem perfume sem rosa semnada.

ROSA DE

HIROSHIMA

(Vinicius de Moraes)

vam de cidades de alvo militarmuito importante. Seres humanosvivendo um verdadeiro caos, pro-vocado pelo próprio homem.

Chega-se, desta forma, aofinal da segunda guerra mundial.Inicia-se o que se chamou de “guer-ra-fria”, a disputa político-ideoló-gica e militar que bipolarizou omundo entre socialismo soviético eo capitalismo norte-americano, pormais de quarenta anos, até a de-sintegração da URSS, areunificação da Alemanha e aqueda do muro de Berlim, em no-vembro de 1989.

Ameaça ou esperança:Oppenheimer não previa,

para seu invento, apenas uma gran-de ameaça à humanidade, mas,também, uma forte esperança.

“Esperança!” O que signifi-caria esta visão do inventor? Em de-bates com o dinamarquês NielsBohr, também físico, julgavam que,quando todos os povos compreen-dessem a proporção dessa ameaça,o mundo se uniria, mesmo que fos-se para garantir a própria sobrevi-vência, projetando, então, uma vi-são de mundo mais aberto e maisseguro, o que ironicamente maisparecia ingenuidade.

O historiador John Lewis

HISTÓRIA

A

por Chico Xavier/ Humberto de Campos

Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:3624

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

Gaddis declarou: “o instrumentomáximo de guerra tornou-se tam-bém o maior incentivo à paz”.

O tratado:Com o afastamento dos ame-

ricanos e da União Soviética dacrise de mísseis, que aconteceu emCuba, nos anos sessenta, atitudeesta copiada por outros países, o quedeu origem ao tratado de não-pro-liferação nuclear (TNP), teve suaassinatura em 1968; e em maio´95seus signatários estenderam suavalidade indefinidamente.

As preocupações:Além da preocupação dos físi-

cos com o invento em si e com anuclearização das nações, preocu-pavam-se ainda com os atos terro-ristas, pois nas várias possibilidadesde acontecer o terrorismo nuclear,o maior perigo seria o uso de armasde perturbação maciça,a “bomba

suja”,comoe r ad e s -c r i t ap e l o sespecia-l i s t a s ;que pro-voca o pâ-nico e acontamina-ção, o que

levaria meses e um custo muito altopara a descontaminação, no caso deataque. Ou então a utilização dabomba mais devastadora, denomi-nada “terrorista”, produzida comu r â n i o enriquecido ou com plu-

tônio, uma vez que elapode ser transportadaem veículos comuns,dificultando a possi-bilidade de ser pre-viamente detecta-da.

Há comoevitar?:

Mesmo játendo decor-ridas seis dé-cadas, en-tretanto,ainda nãofoi en-contra-do oudesen-

volvido algoque possa detectar ou in-

terceptar, com segurança, armas

clandestinas que são transportadasem veículos comuns, aviões, navi-os, etc. Armas que, ainda que se-jam em suas formas rudimentares,podem ser pequenas e portáteis, po-rém de grande poder de destruição.

Novas tentativas:Os responsáveis pelo TNP

têm discutido outros acordos parase proibir a produção de plutônioou urânio para fins militares, en-quanto que os estoques existentesdeveriam ser utilizados como com-bustível em reatores nucleares epara geração de energia elétrica.

Iniciativas:Iniciativas como essas de-

monstram que os avanços estão nadireção certa, porém não afastamas possíveis ameaças que enfrenta-mos, disse: Sam Nunn: “o terroris-mo catastrófico, que é o perigo deocorrer um lançamento nuclear aci-dental ou sem autorização”, conti-nua: “Não tenho certeza de que en-tendemos bem o impacto de um ata-que nuclear”, e ainda: “Se uma

REFLEXÃO

Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:3625

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

HISTÓRIA

A “bela” nuvem em forma decogumelo simboliza o início da eranuclear e deixou em nossa lembrançao horror vivido pelos japoneses

bomba de dez quilotons for deto-nada no centro de Manhattan, nosEstados Unidos, em um dia normalde trabalho, ela pode matar maisde meio milhão de pessoas. Dezquilotons, uma potência plausívelpara uma rústica bomba terrorista,é o equivalente a dez mil tonela-das de tnt. Para transportar essa car-ga de explosivos seria preciso umtrem de cem vagões; se fosse umabomba atômica bastaria a carroceriade um caminhão”.

A Consciência:

Bohr e Oppenheimer tinhamplena consciência de que somenteum esforço conjunto internacionalseria possível garantir a segurançados materiais usados na fabricaçãode armas nucleares, e, também, asnegociações para a redução dos ar-senais e a restrição do desenvolvi-mento armamentista.

A lembrança:A “bela” nuvem em forma de

cogumelo simboliza o início da eranuclear e deixou em nossa lem-brança o horror vivido pelos japo-

neses. Essa terrí-vel herança dasbombas detona-das sobreHiroshima eNagasaki aindaperdura viva-mente nas me-mórias daquelesque resistiram.Feridas físicas epsicológicas, nãocicatrizadas, im-pedem que opassado seja es-quecido pelossobreviventes.Do clarão atô-mico, a chuvanegra, à fuga dopesadelo, assim

revelam personagens reais de umdos capítulos mais tristes da histó-ria da humanidade.

O que nos permite repetircom Kardec em O Livro dos Espíri-

tos:

742. Que é o que impele o ho-mem à guerra?

“Predominância da naturezaanimal sobre a natureza espirituale transbordamento das paixões. Noestado de barbaria, os povos um sódireito conhecem — o do mais for-te.

Por isso é que, para tais povos, ode guerra é um estado normal. Amedida que o homem progride, me-nos freqüente se torna a guerra,porque ele lhe evita as causas, fa-zendo-a com humanidade, quandoa sente necessária.”

743. Da face da Terra, algumdia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens com-preenderem a justiça e praticarema lei de Deus. Nessa época, todosos povos serão irmãos.”

745. Que se deve pensar daqueleque suscita a guerra para proveitoseu?

“Grande culpado é esse e mui-tas existências lhe serão necessári-as para expiar todos os assassíniosde que haja sido causa, porquantoresponderá por todos os homenscuja morte tenha causado para sa-tisfazer à sua ambição.”�

Bibliografia:

National Geographic Brasil, Agosto 2005

Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:3626

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Set.2005 | FidelidadESPÍRITA

COM TODAS AS LETRAS

NÃO É O PACIENTEQUEM OPERA

ualquer intervenção ci-rúrgica que ocupe o no-ticiário dos jornais, revis-

tas e emissoras de rádio e televisãoserve como importante alerta parao uso inadequado de certas pala-vras e expressões.

Você com certeza leu ou ouviu(mais de uma vez até) frases como:Presidente opera o coração.

- Papa retira a apêndice.

- Artista faz operação plástica.

- Jogador opera o joelho.

Alguma delas lhe causa estra-nheza? Repare que todas elas apre-sentam um grave erro de sentido:não é o presidente quem opera nemo papa quem retira o apêndice. Oartista também não faz operaçãoplástica nem o jogador opera o joe-lho. Todas essas são tarefas do ci-rurgião.

Claro, são formas populares deexprimir esse tipo de situação. Vocêpode até usá-las em conversas comos amigos. Mas, na linguagem for-mal, escrita, elas devem ser evita-das. Assim, diga, por exemplo, queo papa foi operado de apendicite ouque o presidente sofreu uma opera-

ção no coração. Ou ainda que o ar-

tista se submeteu a uma operação

plástica.

Para continuar no mesmo cam-po, veja o que acha destas orações:

- O doente está tão mal que a fa-

mília já espera a sua morte.

- O governo espera que haja gran-

de número de falências até o fim do

ano.

- A empresa espera uma queda nas

vendas por causa da situação econô-

mica do País.

Todas elas aparecem com muitafreqüência nos meios de comuni-cação. Mas, em todas, o verbo es-perar está muito mal empregado,porque indica desejo, esperança,expectativa favorável. Por isso, a fa-mília pode prever, mas não deve es-perar a morte do doente. Da mes-ma forma, o governo prevê ou teme

grande número de falências, en-quanto a empresa também receia ouprevê queda das vendas. Nem ogoverno nem a empresa, porém,desejam esses fatos.

Ninguém ganha uma multa

Quantas vezes você já ouviu umrepórter ou locutor esportivo afir-mar que o jogador acaba de “ga-

Q nhar” cartão amarelo? Perdeu a con-ta? Pois esse é apenas um dos usosindevidos do verbo ganhar. Comoele só tem sentido positivo, de mododiferente do que se lê ou ouve mui-tas vezes, ninguém “ganha” uma

punição, uma multa, uma advertên-

cia, uma repreensão, uma descompos-

tura, um ferimento, um tiro ou uma

cicatriz no rosto. O que a pessoa podeé receber ou sofrer – mas jamais“ganhar” – qualquer coisa dessas.�

Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as

Letras. Pág. 109. Editora Moderna. São

Paulo/SP. 1999.

Revista Setembro.p65 13/10/2005, 10:3627

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FidelidadESPÍRITA | Set.2005

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