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A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ENGENHARIA PARA A INFRAESTRUTURA BRASILEIRA Temos demanda profissional para atender o Brasil numa condição de potência emergente? Temos tempo hábil para adequar bons projetos às necessidades urgentes de obras? A falta de investimentos de décadas anteriores compromete as exigências atuais? Precisamos de uma engenharia importada? Como o saneamento se insere no contexto dos setores de infraestrutura? Em entrevista, Luiz Pladevall ressalta a necessidade de uma política séria para o setor, com metas, definição de recursos e conceitos técnicos de planejamento elaborados por profissionais competentes, além de uma avaliação otimizada da engenharia nacional. Promovida há 23 anos pela AESabesp, a Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), programada para 06, 07 e 08 de agosto 2012, ocupará a área total do Pavilhão Branco do Expo-Center Norte, em São Paulo - SP. Na sessão “Ponto de Vista”, o presidente do CREA SP, Francisco Kurimori (foto), analisa o atual cenário da engenharia nacional. Na sessão “Visão de Mercado”, o presidente do Sinaenco, João Alberto Viol, aborda a importância do projeto de engenharia. “O SANEAMENTO ESTÁ NA PIOR CONDIÇÃO DE NOSSA INFRAESTRUTURA” FENASAN 2012 MAIS DESTAQUES DESTA EDIÇÃO: Ano XII – Nº 44 – Fevereiro / Março / Abril de 2012

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A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS DE ENGENHARIA PARA A INFRAESTRUTURA BRASILEIRA

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Page 1: Revista Saneas ed. 44

A importânciA dosprojetos de engenhAriA pArAA infrAestruturA brAsileirA

temos demanda profissional para atender o brasil numa condição de potência emergente? temos tempo hábil para adequar bons projetos às necessidades urgentes de obras? A falta de investimentos de décadas anteriores compromete as exigências atuais?

precisamos de uma engenharia importada? como o saneamento se insere no contexto dos setores de infraestrutura?

Em entrevista, Luiz Pladevall ressalta a necessidade de uma política séria para o setor, com metas, definição de recursos e conceitos técnicos de planejamento elaborados por profissionais competentes, além de uma avaliação otimizada da engenharia nacional.

Promovida há 23 anos pela AESabesp, a Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), programada para 06, 07 e 08 de agosto 2012, ocupará a área total do Pavilhão Branco do Expo-Center Norte, em São Paulo - SP.

■ Na sessão “Ponto de Vista”, o presidente do CREA SP, Francisco Kurimori (foto), analisa o atual cenário da engenharia nacional.

■ Na sessão “Visão de Mercado”, o presidente do Sinaenco, João Alberto Viol, aborda a importância do projeto de engenharia.

“O SANEAMENtO EStá NA PiOR CONdiçãO dE NOSSA iNFRAEStRutuRA”

FENASAN 2012 MAiS dEStAquES dEStA EdiçãO:

Ano XII – Nº 44 – Fevereiro / Março / Abril de 2012

Page 2: Revista Saneas ed. 44

Em 2012, conte com a Saneas. Inclua a revista na sua programação de mídia para 2012.

ANUNCIE NA revista saneas

EdIçõEs progrAmAdAs pArA 2012:

EdIção N° 45 – mAIo/JUNho/JUlho

Tema: Gestão na Hidrometria: Segurança e Confiabilidade

Trará uma prévia do que acontecerá na Fenasan 2012 (com distribuição durante a Feira).

Fechamento: julho 2012 / circulação: agosto (Fenasan)

EdIção N° 46 – Agosto/sEtEmbro/oUtUbro

Tema: Cidades Sustentáveis - Soluções para o Futuro

Com cobertura do XXIII Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2012.

Fechamento: outubro 2012 / circulação: novembro 2012

EdIção N° 47 – NovEmbro/dEzEmbro/JANEIro

Tema: Abastecimento da Macrometrópole

Fechamento: janeiro 2013 / circulação: fevereiro 2013

CoNtAto dE pUblICIdAdE:AESAbESp - pAulo olivEirA TEl: 11 3263 0484 - 11 7515 [email protected]

A revista Saneas é uma publicação da:

Revista Saneas: mais que uma Revista, um Projeto Socioambiental.

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editorial

Muito se comenta na mídia escrita e falada das obras mau executadas ou que excederam os valores inicial-mente previstos em projeto, de forma simplista, realçan-do a ignorância na matéria.

Não é à toa que o grande abismo entre o que é di-vulgado e o que de fato acontece ou aconteceu é que, simplesmente, é preciso, primeiro provar que o inocente é inocente e não provar que o culpado é culpado.

Na cultura do Brasil, particularmente nos ditos go-vernos democráticos, onde a vaidade impera sobre as prioridades sociais, o imediatismo inconsequente sobre-põe ao estudo meticuloso e cuidadoso de todo projeto, articulado e definido por técnicos de reconhecido gaba-rito que deveriam estar à frente.

Estranhamente, o Brasil por querer ser diferente, uma ala pseudo-moderna quer mostrar uma compe-tência virtual que não se concretiza na vida real. Em minha pequena experiência, me utilizo das parábolas populares, para lembrar uma máxima: “ pau que nas-ce torto não se endireita”.

Portanto, temos que começar, sem sermos saudo- sistas, a ver uma demanda ou necessidade social no seu amplo espectro, ou seja, estudando o passado, avaliando o presente e planejando um futuro, no qual se espera em um cenário de no mínimo 30 anos. Para que isso seja possível, temos que resgatar uma etapa importantíssima no desenvolvimento de qualquer pro-jeto: o Planejamento.

O planejamento exige conhecimento e, sobretu-do, experiência dos profissionais que estarão par-ticipando no desenvolvimento de um processo que encaminhará projetos bem estruturados, garantido a eficiência da finalidade concebida e atendendo a demanda social pretendida.

Hoje, diferentemente do que se fala, o que não te-mos são projetos de qualidade. Convivemos sim com a falta de visão dos nossos governantes por longos trinta anos, que tiveram a falta de visão de estadista, que não acreditaram no crescimento do país e, simplesmente, deixaram de investir no bem mais precioso que um País precisa: a Educação.

Proliferam, hoje, muitos cursos de qualidade duvi-dosa que, com a complacência dos governos, lançam ao mercado milhares de profissionais sem a necessária formação acadêmica que garanta, no mínimo, bom de-senvolvimento profissional. Devido à crise na Europa, sem muito alarde, milhares de profissionais de outros países têm aportado no Brasil, sobrepondo-se nas opor-tunidades de brasileiros, devido à melhor formação dada nas escolas da Europa.

Hoje convivemos com a falta de profissionais na área de engenharia, principalmente porque esses novos profissionais foram assimilados pela área econômica e financeira por falta de perspectiva. Como podemos pensar em projetos de qualidade se os profissionais não estão ingressando nas atividades técnicas para serem preparados para o futuro do qual o Brasil precisa?

É preciso, sim, retomar pela base! É preciso melhorar as nossas escolas, do básico ao universitário, de maneira que tenhamos, num futuro próximo, profissionais de qualidade para desenvolver, em qualquer área, projetos que garantam um futuro melhor para o Brasil.

Qualquer povo que tenha em suas raízes bons fun-damentos com relação à educação, respeito e ética se torna forte. E o Brasil tem tudo para ser um País forte!

Comecemos pela busca de governantes que sejam estadistas de fato, com visão e responsabilidade do fu-turo que eles representam.

Com certeza, quem enxergar o futuro será bastante criticado em todas as suas iniciativas, mas o tempo se encarregará de dizer quem tinha razão afinal! Bons projetos dependem de bons fundamentos, que por sua vez dependem de bons profissionais que dependem de boas escolas.

Vamos resgatar os bons cursos para termos no futuro bons profissionais. Que a boa técnica consiga, rapidamen-te, não ficar refém da vaidade de políticos ignorantes!

Resgatemos, pois, a formação acadêmica de qualida-de, para termos esperança de ter um futuro consolidado.

A engenhAriA brAsileirA requer um bom plAnejAmento em todos os níveis

Hiroshi Ietsugu Presidente da AESabesp

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expedienteSaneas é uma publicação técnica da Associação dos Engenheiros da Sabesp

DIretorIA eXecutIvA:Presidente - Hiroshi IetsuguVice-presidente - Helieder Rosa Zanelli1º Diretor Secretário - Nizar Qbar2º Diretor Secretário - Choji Ohara1º Diretor Financeiro - Yazid Naked2º Diretor Financeiro - Nelson Luiz Stabile

DIretorIA ADjuNtA:Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates SachsDiretor de Esportes - Evandro Nunes de OliveiraDiretor de Marketing - João Augusto PoetaDiretor de Pólos - Paulo Ivan Morelli FranceschiDiretor de Projetos Socioambientais - Luís Eduardo Pires RegadasDiretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young RibeiroDiretora Social - Viviana Marli Nogueira A. Borges

coNselho DelIberAtIvo:Amauri Pollachi, Cid Barbosa Lima Junior, Choji Ohara, Eduardo Natel Patricio, Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Hiroshi Ietsugu, João Augusto Poeta, Marcos Clébio de Paula, Nélson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Eugênio de Carvalho Corrêa, Pérsio Faulim de Menezes, Reynaldo EduardoYoung Ribeiro, Sonia Maria Nogueira e Silva, Viviana Marli Nogueira A. Borges, Walter Antonio Orsatti, Yazid Naked

relAções INstItucIoNAIs:Coordenador: Luciomar Santos Werneck

coNselho FIscAl:Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela e Ovanir Marchenta Filho

coNselho eDItorIAl:Luiz Henrique Peres (Coordenador)João Augusto Poeta, Luiz Eduardo P. Regadas e Maria Ap. S. P. Santos

FuNDo eDItorIAl - revIstA sANeAs:Coordenadora: Marcia de Araújo Barbosa NunesLuis Eduardo Pires Regadas, Celso Roberto Alves da Silva, Paulo Rogério Guilhem, Alex Orellana, José Marcio Carioca

coorDeNADor Do sIte:Jônatas Isidoro da Silva

Pólos AesAbesP DA regIão MetroPolItANA - rMsPCoordenador dos Pólos da RMSP - Robson Fontes da CostaPólo AESabesp Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida Silva de Paula SantosPólo AESabesp Leste - Nélson César MenettiPólo AESabesp Norte - Rodrigo Pereira de MendonçaPólo AESabesp Oeste - Francisco Marcelo MenezesPólo AESabesp Ponte PequenaPólo AESabesp Sul

Pólos AesAbesP regIoNAIsCoordenador dos Pólos Regionais - José Galvão de F. R. e CarvalhoPólo AESabesp Baixada Santista - Zenivaldo Ascenção dos SantosPólo AESabesp Botucatu - Rogélio Costa ChrispimPólo AESabesp Franca - Antonio Carlos GianottiPólo AESabesp Lins - Marco Aurélio Saraiva ChakurPólo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José PeixotoPólo AESabesp Vale do Paraíba - Sérgio Domingos Ferreira

coorDeNAção Do XXIII eNcoNtro técNIco AesAbesP e FeNAsAN 2012:Presidente da Comissão - Eng Químico Nizar QbarDiretor do Encontro Técnico AESabesp - Eng Olavo Alberto Prates SachsDiretor da Fenasan - Reynaldo E. Young RibeiroMembros da Comissão: Choji Ohara, Gilberto Alves Martins, Hiroshi Ietsugu, João Augusto Poeta, Luis Eduardo Pires Regadas, Maria Aparecida Silva de Paula Santos, Nélson César Menetti, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Osvaldo Ioshio Niida, Regina Mei Silveira Onofre, Reynaldo E. Young Ribeiro, Tarcísio Luis Nagatani, Walter Antonio OrsattiEquipe de apoio: Maria Flávia S. Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson

Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp

jorNAlIstA resPoNsável:Maria lúcia s. Andrade – Mtb. 16081

Projeto vIsuAl gráFIco e DIAgrAMAçãoNeopix [email protected] www.neopixdesign.com.br

Associação dos engenheiros da sabespRua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SPFone: (11) 3284 6420 - 3263 0484Fax: (11) 3141 [email protected]

Índice

05 matéria tema

a importância dos projetos de engenharia para a infraestrutura brasileira

entrevistA

“O saneamento está na pior condição da nossa infraestrutura”

ponto de vistA

A Engenharia e a Infraestrutura

visão de mercAdo

A importância do projeto de engenharia para empreendimentos públicos e privados

Artigo técnico

O senhor Feynman não estava brincando: A educação tecnológica brasileira

Acontece no setor

mAtériA sAbesp

A importância da estruturação para enfrentar novos desafios - A Sabesp se prepara

para Novos Negócios

FenAsAn 2012

Fenasan terá área ampliada em 2012

Ecoeventus AESabesp®: o nosso Projeto Neutralização de Carbono

Novos conceitos para a premiação do Troféu AESabesp

projetos socioAmbientAis

Conheça nossa carteira de projetos

sustentAbilidAde

Dia Mundial da Água

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matéria tema

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matéria tema

A importânciAdos projetos de engenhAriA pArA A infrAestruturA

brAsileirA

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6 SaneaS

matéria tema

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Implementar uma infraestrutura eficiente para o de-senvolvimento de um País é a condição essencial ao bem estar de sua população. Entretanto, melhorar a infraestrutura também significa aumentar a produti-vidade e qualidade de bens e dos serviços da estrutu-ra produtiva, que, por consequência, gera o estímulo ao capital e a geração de emprego e renda.

No cenário atual de globalização, o Brasil se des-taca como potência emergente e ainda conta com o advento de possuir promissoras reservas naturais em seu território. Mas para que a sua infraestrutura seja moderna e competitiva, são necessários planejamentos direcionados a várias diretrizes governamentais de de-senvolvimento, como a educação, a saúde, a economia de base e, principalmente, a engenharia nacional, que

concentra conhecimento e tecnologia para se tornar uma ponte para nos sedimentarmos como uma nação reconhecidamente desenvolvida.

Em que pese a falta de investimentos no setor, nos anos 80 e 90, a expertise da engenharia brasileira - prin-cipalmente a dos profissionais formados antes e du-rante esse período - está preparada para alavancar, por meio de desenvolvimento tecnológico, projetos e obras, diversos sistemas fundamentais para o nosso desenvol-vimento e cidadania.

A seguir, mostramos essas áreas da infraestrutura que tomam forma a partir de estudos e projetos de engenharia, desenvolvidos por profissionais devida-mente qualificados, com capacidade técnica.

Voltada para que o saneamento bá-

sico seja efetivamente estendido a

todo cidadão brasileiro, com base no

reconhecimento que se trata de um

requisito essencial para a qualidade de

vida da população e para a redução

dos custos dos programas de saúde

pública. Nesse contexto, destaca-se o

corpo técnico da Sabesp, que está po-

sicionada entre as 5 maiores empresas

do setor no ranking mundial, a frente

de eficientes concessionárias públicas,

como Sanepar, Copasa, entre outras,

além de empresas do setor privado.

Ampliação da ETA Taiaçupeba, na Região Metropolitana de São PauloA despeito de seu poderio econômico fundamental para

que o Brasil seja qualificado de maneira positiva, a Região

Metropolitana de São Paulo (RMSP) é uma das áreas

mais populosas e com menor disponibilidade hídrica do

País, além de padecer de uma invasiva ocupação do solo,

crescimento desordenado e até mesmo um ciclo hidrológico

imprevisível. Tais complicadores fizeram com que o seu

Plano Diretor de Abastecimento de Água buscasse formas

de otimizar sua capacidade de produção para atender a

demanda, com a ampliação em larga escala do Sistema

Produtor Alto Tietê. Dessa forma, a Sabesp e o consórcio

formado pelas empresas Companhia Águas do Brasil – CAB

Ambiental e Galvão Engenharia S.A. assinaram o contrato

Gestão de recursos HÍdricos

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matéria tema

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matéria tema

da Parceria Público Privada, considerada a maior e mais importante PPP realizada em todo território nacional,

para o setor de saneamento, para o desenvolvimento das obras de ampliação da capacidade da ETA Taiaçupeba,

localizada no município de Suzano, prevendo a construção de 17,7 km de adutoras de grande porte e de quatro

reservatórios que terão capacidade para armazenar 70 milhões de litros. E ainda estará sob a responsabilidade

dessa parceria a prestação dos serviços de manutenção de barragens; inspeção e manutenção de túneis e canais;

manutenção civil e eletromecânica em unidades integrantes

do Sistema Alto Tietê; o tratamento e disposição final do lodo

gerado na produção de água tratada e serviços auxiliares. Este

empreendimento viabiliza a ampliação da oferta de água de 10

para 15 mil litros por segundo, assegurando assim a regularidade

do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.

Busca a viabilização da energia elétrica,

do petróleo, do gás e de demais recur-

sos energéticos, com qualidade e dis-

ponibilidade garantidas, a custos com-

patíveis com investimentos públicos

e atrativos aos investimentos privados

em empreendimentos, especialmente

no setor industrial.

Gestão de recursos HÍdricos

Brasil a grande potência energética do Século XXIO setor energético, muito provavelmente, é que irá apresentar as

grandes soluções para a sustentabilidade do milênio e concentrar

as maiores cabeças pensantes do Planeta. O convite, feito por

Barack Obama, ao ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1997

e pioneiro nas pesquisas de energias renováveis limpas, Steven

Chu, para ser Secretário de Energia dos EUA, confirma o peso da

preocupação.

O potencial energético brasileiro também tem um lugar

preponderante no cenário mundial, posto que o Brasil possui a

maior reserva hídrica do Planeta e o maior potencial de geração

de energia hidrelétrica. Os dados do estudo “Licenciamento

Ambiental de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil: Uma

Contribuição para o Debate”, divulgado pelo Banco Mundial

(Bird), dá uma dimensão da nossa capacidade de crescimento.

Ainda, segundo este levantamento, somente 30% do potencial

hidrelétrico brasileiro economicamente viável está em operação

ou construção. Mas se o País usar, integralmente, a capacidade

disponível, somada ao etanol e ao biodiesel, em

pouco tempo se tornará candidato preferencial ao

título de “potência energética do Século XXI”.

A Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional é

considerada a maior hidrelétrica do mundo em

potência instalada. Há informações que será

superada, quando entrar em funcionamento

a plena capacidade da Hidrelétrica de Três

Gargantas, na China. Mas, em capacidade de

geração continuará sendo a mais importante, visto

que o regime hidrológico do rio Paraná apresenta

maior fluxo de água que o Rio Yangtzé, continente

asiático). A potência instalada da Usina é de 14.000

MW (megawatts), com 20 unidades geradoras de

700 MW.

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8 SaneaS

matéria tema

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Com a implantação de uma logística de trans-

portes compatível com as necessidades do país

– ferrovias, hidrovias, rodovias, metrovias, portos

e aeroportos – que possa proporcionar o des-

locamento seguro de pessoas e mercadorias,

além do escoamento da produção; com redução

de custos no mercado interno e aumento de

competitividade dos produtores brasileiros no

mercado externo.

Gestão de mobilidade

Lei favorece transporte coletivoPara a entrada em vigor da Lei 12.587/2012, que prevê

melhorias na mobilidade urbana no país, foram investidos

R$ 32 bilhões no setor , com o objetivo de transformar a

vida nos grandes centros urbanos.

A nova legislação institui as diretrizes da Política Nacional

de Mobilidade Urbana, sancionada em janeiro e que dá

prioridade a meios de transporte não motorizados e ao

serviço público coletivo, além da integração entre os modos

e serviços de transporte urbano. O texto prevê também a

adoção de medidas para melhorar a mobilidade urbana nas

grandes cidades, como a restrição da circulação em horários

predeterminados; permite a cobrança de tarifas para a

utilização de infraestrutura urbana, espaços exclusivos para

o transporte público coletivo e para meios de transporte não

motorizados; e estabelece políticas para estacionamentos

públicos e privados.

Capaz de cobrir todo o território brasileiro, com

sistemas eficientes de telefonia, telemática, te-

leinformação e outros meios de todos os tipos,

colaborando,dessa forma, para a integração

nacional e para a inserção definitiva do Brasil

no exterior, como potência desenvolvida.

Gestão de telecomunicações

A telecomunicação é essencial na regulação dos setores de infraestuturaOs setores que ao considerados na composição da

infraestrutura requerem um regime de regulação, com

funções de fiscalizar, normatizar, ordenar e interagir com

os usuários.

Nesse sentido, para atender os serviços de saneamento

de São Paulo, a Sabesp conta com duas Centrais,

responsáveis pelo atendimento aos, aproximadamente, 25

milhões de clientes que a empresa possui em todo o Estado, com

o propósito de oferecer conforto, rapidez e qualidade certificada.

A central que atende 329 municípios do Interior e do Litoral

paulistas, abrangendo cerca de seis milhões de habitantes é

sediada na cidade de Itapetininga. Inaugurada em dezembro

de 2009, dispõe de 100 postos de atendimento funcionando

ininterruptamente 24 horas por dia, com capacidade de

absorver até 20 mil ligações diárias, quantidade superior à

demanda, que é de sete mil ligações diárias. O principal objetivo

da nova estrutura, que ocupa uma área de 800m2, é melhorar

o serviço para o usuário, que é atendido num prazo de um

minuto. Já a Central de Atendimento Telefônico da Sabesp

na Região Metropolitana de São Paulo e Bragança Paulista foi

modernizada para criar condições de 80% dos atendimentos

sejam feitos em até 1 minuto.

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9SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

matéria tema

As necessidAdes pArA se ter um brAsil desenvolvido Apesar de ter sofrido uma desaceleração 2011 e a mes-ma estar se repetindo em 2012, o crescimento eco-nômico do Brasil foi suficiente para ultrapassar o PIB do Reino Unido e colocar o país no sexto lugar entre as maiores economias do mundo. Contraditoriamen-te, mesmo com a pífia 84ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), entre 187 países, com classificação de 0,718 na escala que vai de 0 a 1, em relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), esse status é animador, principal-mente se considerarmos a proximidade de dois eventos de projeção mundial: a Copa e as Olimpíadas.

O povo brasileiro, de natureza entusiasta, quer sentir orgulho do seu País, ao vê-lo como sede da Copa do Mundo, em 2014 e os Jogos Olímpicos, em 2016. Problemas de enchentes nas metrópoles, após poucas horas de chuva, a quebra constante dos meios de transportes, a ineficiente malha viária e falhas dos sistemas de segurança, fazem surgir uma crise comunitária de credibilidade. E essa condição ainda é consideravelmente abalada por outra crise ética e moral envolvendo conhecidos líderes políticos, em escândalos não raramente ligados a grandes empre-sas de engenharia.

A escAssez de engenheiros AtrApAlhA os projetos de desenvolvimento? Esse cenário de desenvolvimento emergente ainda re-mete a uma preocupação com a falta de mão de obra do setor, pois muitas entidades alardeiam que o Brasil sofre com a carência de profissionais de engenharia, para corresponder a diversos gargalos, como as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dos programas habitacionais, da extração de petróleo nas camadas do pré-sal e inclusive em projetos de infraes-trutura necessários para a realização da Copa do Mun-do e às Olimpíadas. Será que para crescer o Brasil irá precisar de uma engenharia importada de países mais desenvolvidos?

Em contraponto a essa preocupação, os números dos CREA’s estaduais registram crescente número de

engenheiros domiciliados no País. A questão então não seria a falta de profissionais diplomados e sim a migra-ção dos mesmos para outras áreas, como o mercado financeiro ou o setor bancário, motivados pela maior remuneração. Com salários atraentes, é muito mais fácil esses profissionais buscarem colocações fora de sua área de atuação. E com o aumento dos salários, que é tendência geral em todas as profissões, é bem possível que os milhares de engenheiros que deixaram a profis-são, pela desvalorização sofrida nas décadas de 80 e 90, voltem a oferecer a sua experiência e força de trabalho para recompor a engenharia nacional.

E para os mais de quarenta mil jovens engenheiros que saem anualmente das universidades, é importan-te destacar que o mercado necessita de profissionais qualificados, realmente preparados para exercer a pro-fissão. Reverter esse quadro e dotar o país de uma engenharia nacional saudável, competitiva e capaz de contribuir para a independência tecnológica da nação, supõe recuperar a capacidade técnica e gerencial das empresas brasileiras.

Na conjuntura atual do País, os investimentos na manutenção e expansão da infraestrutura, constituem uma das formas mais eficientes para a geração de em-pregos em todos os níveis profissionais. E dentro dessa lógica, é legítimo afirmar que somente por meio de projetos desenvolvidos no Brasil, pela engenharia na-cional, com especificações, vivências e conhecimentos adquiridos no País, é que se constrói uma infraestrutu-ra moderna, eficiente e personalizada estrategicamente para elevar o Brasil à condição de uma nação de primei-ra grandeza mundial.

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10 SaneaS

matéria tema

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A ESF (Engenheiros sem fronteiras) segue a mesma es-trutura de outras organizações “sem fronteiras”, pelo mundo, tanto que é também conhecida por EWB (En-gineers without borders) ou ISF (Ingénieurs sans fron-tières), tendo já se estabelecido em mais de 40 paí-ses. Frutos de iniciativas isoladas em seus respectivos países, esses grupos estão diretamente envolvidos na elaboração e implantação de projetos de desenvolvi-mento humano de cunho regional ou internacional. Como grande diferencial, baseiam-se na utilização das ferramentas apresentadas pela engenharia na solução de problemas endêmicos que afetam primordialmente pessoas ou comunidades em situação de miséria.

Por se tratarem de grupos fundados independen-temente, os “ESFs” não estão formalmente filiados uns com os outros, apresentando, então, relações de co-laboração. Portanto, alguns desses grupos uniram-se para criar uma rede internacional, embora informal, denominada Engineers Without Borders Internatio-nal, tendo em vista unir suas ações. Essa descentra-lização deve-se ao fato de que a maioria dos projetos desenvolvidos pelas associações sob a bandeira do ESF baseiam-se em parcerias de pequena e média escala. Prosseguindo dessa maneira reduz-se custos inerentes a organizações verticalizadas.

Por meio de análises, discussões e reflexões de pro-blemas que assolam os setores mais pobres de várias na-ções, este grupo propõe a realização de projetos empre-gando conhecimento técnico das áreas de engenharia.

os “engenheiros sem FronteirAs” no brAsilA idéia de criar um Núcleo do ESF no Brasil surgiu na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 2007, mas foi fundamentada na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, em 2008 , onde atual- mente funciona a sua sede e organização associativa do terceiro setor, presidida por Artur Mendes.

O Engenheiros Sem Fronteiras – Brasil acredita no desenvolvimento social, econômico e sustentável das comunidades nas quais atua e no envolvimento dos engenheiros e estudantes de engenharia como atores a serviço da melhoria da qualidade de vida em comu-

nidades desprovidas de recursos. De acordo com os componentes da instituição, através de compromisso social pautado em ações práticas, o objetivo é mudar a concepção geral das pessoas de que o engenheiro é um profissional que usa seu conhecimento apenas em benefício próprio atuando em grandes corpora-ções: “Queremos mostrar que o engenheiro é capaz de promover transformações em busca do desenvol-vimento social, econômico e sustentável da nossa so-ciedade”, afirmam.

O ESF-Brasil tem como parceiros a Universidade Federal de Viçosa (UFV), O CENTEV/UFV – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da UFV, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais – Crea-MG Júnior e o Sindicato dos En-genheiros de Minas Gerais.”

A perspectiva do ESF-Brasil é a difusão de Núcle-os locais pelo país, em diversas cidades do território nacional. Para tal, as pessoas interessadas em formar novo Núcleo deverão registrá-lo cumprindo o esta-tuto do ESF-Brasil e seguindo regimento próprio. Os Núcleos devem ter no mínimo 5 integrantes (estudan-tes, professores ou profissionais da Engenharia) e dois projetos em atividade condizente com os objetivos da organização. Mais informações podem ser vistas no portal www.esf-brasil.org.br.

Fontes: portal da ESF Brasil e wikipédia.

“engenheiros sem FronteirAs” AtuA nA inFrAestruturA de regiões sem recursos

Na Universidade Federal de Viçosa (UFV) está a sede da ESF no Brasil

Page 11: Revista Saneas ed. 44

11SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

Na Universidade Federal de Viçosa (UFV) está a sede da ESF no Brasil

entrevista

“o sAneAmento está nA pior condição dA nossA inFrAestruturA”

Luiz Roberto Gravina Pladevall é graduado

em Engenharia Civil pela Fundação

Armando Alvares Penteado – FAAP

(1985), com MBA em Direção de Empresas

de Engenharia em 2003 também na

FAAP. Iniciou a carreira em 1982

como estagiário na área de projetos de saneamento básico

do Departamento de Saneamento

da Sondotécnica S/A, passando

a engenheiro a partir de janeiro

de 1985. Trabalhou na Sondotécnica até agosto de 1993 onde participou de vários projetos de grande

porte como engenheiro e posteriormente

como coordenador de contratos. A partir desta data, tornou-se

sócio-diretor da CPS Engenharia, empresa

especializada em consultoria e projetos

de infraestrutura urbana, posição que

ocupa até hoje.Atualmente é 2º

Tesoureiro da ABES seção São Paulo e

Presidente da APECS – Associação Paulista

de Empresas de Consultoria e Serviços

em Saneamento e Meio Ambiente.

A Saneas ouviu o presidente da APECS (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Sa-neamento e Meio Ambiente), Luiz Roberto Gravina Pladevall, que defende a implementação de uma Política Nacional de Saneamento, com fixação de metas e definição de recursos, fontes, regras e mecanismos de operação, voltada a empreendimentos que obedeçam aos conceitos técnicos de planejamento.

De acordo com a sua concepção, há como recuperar décadas de falta de investimentos no setor e fazer com que o mesmo corresponda às necessidades futuras de desenvolvimento do País, que atualmente possui recursos disponíveis para isso. Porém, o aporte financeiro sozinho não resolve nenhum problema, se não estiver acompanhado de conhecimento e de uma gestão técnica e administrativa competente.

saneas: como a APecs avalia a condição do saneamento entre os setores de infraestrutura no brasil?Pladevall: A condição do Saneamento Básico entre os setores de infraestrutura no Brasil é pior frente aos demais, embora todos estejam em situação aquém do desejável.

Dentre os fatores que justificam essa situa-ção podemos destacar o fato dessa infraestrutu-ra ser de responsabilidade do poder municipal. O Brasil tem mais que 5.000 municípios e a grande maioria deles não têm condições técnicas para enfrentar o problema, e por vezes, nem mesmo para entendê-lo.

Algumas companhias estaduais minoram esse problema, quando assumem a gestão por concessão dos municípios, pois elas têm uma estrutura técnica e de gestão de melhor quali-dade, porém não resolvem totalmente o proble-ma, pois elas também têm suas deficiências e dificuldades para cumprirem as suas missões, e não dispõem atualmente de recursos suficien-tes para a universalização dos serviços presta-dos. Além disso, há que se registrar que nem todos os municípios aderem às companhias estaduais e elas, na sua grande maioria, só atu-am na prestação dos serviços de água e esgoto sanitário.

Com relação às demais vertentes do sanea-mento – resíduos sólidos e manejo de águas plu-viais – a situação é até mais caótica, em função da falta de investimentos e de vontade política para transformar esta realidade.

saneas: o Plano Nacional de saneamento básico (Plansab) estabelece diretrizes para a universalização do setor até 2030. como estas ações são relativamente novas, a engenharia brasileira está preparada para enfrentar este desafio?Pladevall: O Plano Nacional de Saneamento Bá-sico (Plansab) é um instrumento de planejamento que deve ser adequadamente utilizado. A univer-salização do setor em 2030 só será atingida se todos os caminhos necessários forem trilhados. Uma das primeiras exigências do Plansab é que todos os municípios façam sua lição de casa atra-vés da elaboração de um plano de saneamento abrangendo 4 especialidades: abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e resíduos sólidos. Este instrumento de planejamen-to, o plano municipal de saneamento, é ferramen-ta fundamental para que os gestores municipais definam as próximas ações e viabilizem os recur-sos necessários para a obtenção da universaliza-ção local. A engenharia nacional está preparada para atender a demanda relativa à elaboração dos planos municipais, porém os municípios não es-tão estruturados para contratar e acompanhar a elaboração de um planejamento de saneamento. A grande dificuldade dos pequenos municípios é definir o termo de referência, o edital do processo licitatório e, posteriormente, julgar e selecionar a proposta mais vantajosa para contratação. A modalidade de licitação do tipo técnica e preço é a forma mais adequada para a contratação de uma empresa de consultoria que possa elaborar

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um plano municipal de saneamento que se transforme efetivamente em um instrumento de planejamento. O Plansab indica valores estimados para a universalização até 2030, porém somente após a elaboração dos planos municipais de saneamento, na sua totalidade, teremos os valores reais necessários para a universalização. O grande desafio do Governo Federal para o sucesso do Plansab, e do atingimento das metas previstas, é suprir os municípios, que não dispõem dos recursos finan-ceiros e da assessoria técnica necessários para que os mesmos produzam planos de saneamentos de qualidade e eficientes.

saneas: há como recuperar décadas de pequenos investimentos no setor e fazer com que o mesmo corresponda às necessidades futuras de desenvol-vimento do País?Pladevall: Sem dúvida, principal-mente a partir dos recursos finan-ceiros hoje disponíveis. Entretanto, somente a disponibilidade desses recursos não é suficiente para que as metas previstas no Plansab sejam alcançadas, neutralizando assim a grande defasagem exis-tente. A condição necessária e indispensável de disponibilidade desses recursos deverá ser acom-panhada por diversas ações que possam assegurar a correta apli-cação dos mesmos na busca das metas propostas. Dentre essas ações, podemos destacar as seguintes:

■ Criação e implementação de uma Política Nacional de Saneamento, por meio de um arcabouço legal, com fixação de metas, definição de recursos e fon-tes respectivas, regras e mecanismos de operação para todos os agentes participantes, públicos ou privados.

■ Implantação dos empreendimentos do setor, obe-decendo criteriosamente os conceitos técnicos de planejamento, há tempo perdidos neste país. No planejamento deverão ser respeitados todos os segmentos componentes da cadeia de um empre-endimento, desde a identificação de sua real ne-cessidade, passando pela estruturação dos recursos

necessários, pelas fases de pré-estudos, estudos, projetos, gerenciamento, construção, pré-opera-ção, operação e manutenção.

■ Na elaboração deste planejamento deverá ser in-tensamente valorizado, como se faz em todos os países desenvolvidos, o setor da consultoria, res-ponsável pelos segmentos mais nobres e sensíveis de qualquer empreendimento e, consequentemen-te pela sua eficiência técnico-operacional e eco-nômica. Assim deverão ser disponibilizados prazos mais longos para o aprofundamento dos estudos técnicos de engenharia, economia, meio ambiente e todos os demais aspectos que envolvem e que impactam a implantação do empreendimento. Um empreendimento bem planejado e bem projetado reduz significativamente seu prazo de construção,

compensando com vantagem o tempo dispendido nas fases an-teriores, além de praticamente eliminar imprevistos de obra, evi-tando-se correções e/ou adapta-ções nem sempre desejadas e com custos mais elevados.

Outra condição para assegurar o bom empreendimento é fugir de prazos políticos, os quais, na maioria das vezes, exigem soluções urgentes, sem os devidos e indis-pensáveis estudos acurados, con-duzindo a empreendimentos muito

mais caros e ineficientes, com consequentes prejuízos à administração pública e à sociedade em geral.

saneas: o brasil hoje é qualificado como a 6ª eco-nomia mundial, com um mercado potencial, mas limitado por um ambiente engessado institucional-mente. esta conceituação também é válida para o saneamento? Quais são os gargalos do setor?Pladevall: Os gargalos do setor talvez não estejam tanto no engessamento institucional que existe no país, mas, preponderantemente, na falta de uma ação con-sistente e eficaz do poder público, responsável principal pelo equacionamento do problema.

Falta uma estratégia, que a nosso ver, deve ser li-derada pelo poder federal, formulada em conjunto

uma das primeiras exiGências do plansab é que todos os municÍpios façam sua lição de casa através da elaboração

de um plano de saneamento abranGendo

4 especialidades: abastecimento de áGua, esGotamento sanitário,

drenaGem pluvial e resÍduos sólidos.

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com os poderes estaduais e municipais, a partir de um diagnóstico da capacidade dos agentes municipais ou estaduais de conceberem, implantarem, operarem e manterem o saneamento básico dos seus municípios, que permita levar a bom termo esse desafio.

É muito difícil se obter resultados com algum nível de qualidade quando os responsáveis não têm recursos – material e humano – para conduzir o problema, cuja solução se inicia pela sua correta compreensão.

O início da resolução dos problemas passa pela ela-boração dos planos de saneamento, que definam os caminhos que deverão ser trilhados para se atingir as metas estabelecidas, e estes planos são de responsabi-lidade do poder público municipal.

Contudo, dois aspectos merecem destaque: ■ Inicialmente destacamos a incapacidade financeira

e tecnológica, da grande maioria dos municípios, para atuar diante do desafio de elaboração de um plano de saneamento e, posteriormente, de seguir as diretrizes nele estabelecidas;

■ Em segundo lugar, lembramos que a quase totali-dade dos problemas, e possíveis soluções, relacio-

nados às questões do saneamento não estão res-tritos aos limites da área territorial dos municípios. Na realidade, têm origem e impactam simultanea-mente diversos municípios, e, portanto, devem ser tratados de forma conjunta, e não isoladamente.Quando falamos de uma estratégia liderada pelo

governo federal para melhorar o desempenho do setor, estávamos nos referindo ao suporte político, técnico, financeiro e administrativo que as esferas federal e/ou estadual poderiam prestar aos municípios, de forma a agrupá-los, quando necessário, e prepará-los, a fim de capacitá-los para gerir o saneamento básico nos seus municípios e na região. Não é tarefa, fácil nem rápida, mas é absolutamente imprescindível que seja feita para se lograr sucesso. E esse sucesso passa pela consciência do poder público da complexidade do problema. A par-tir daí é possível buscar a solução, que normalmente não é simples, e por isso exige uma engenharia de pro-jeto competente e adequadamente contratada.

Como contratar essa engenharia se o poder contra-tante não está apropriadamente preparado. O resulta-do disso são investimentos inadequados, quando os há,

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e de baixíssima eficiência. O recurso financeiro sozinho não resolve nenhum problema, se não estiver acom-panhado de conhecimento do que se quer e de uma gestão técnica e administrativa competente.

As iniciativas que temos da aplicação de recursos do governo federal ignoram essa situação, o que con-tribui para que o saneamento básico não caminhe com a velocidade que seria desejável.

Nesse sentido, o Estado de São Paulo já tomou a ini-ciativa de contratar os Planos de Saneamento para todo o Estado, e estão sendo elaborados com a participação direta dos municípios participantes, pois cabe a eles a aprovação final do documento legal que será produzido.

A melhor estrutura técnica do Estado permite que se façam contratações melhores, uma gestão técnica e contratual de bom nível, que proporcione o aprimora-mento desse importantíssimo instrumento de gestão para os municípios, na medida em que a experiência de desenvolvê-los vai se acumulando.Daí estarmos propugnando um esforço conjunto e sinérgico na busca da melhoria da gestão e da com-petência técnica, sem o que não há saída para um crescimento rápido, a partir da liderança do governo federal, do alinhamento dos três poderes executivos e da aglutinação das forças produtivas do país, onde nos inserimos como uma força estratégica.

saneas: A APecs defende a necessidade de desen-volvimento tecnológico para aplicação em projetos no setor. como está sendo esta demanda? Pladevall: Responderemos esta questão sob duas abor-dagens. A primeira sob a ótica do desenvolvimento tecnológico no saneamento, para a sua aplicação nas soluções de projeto. Nesse caso, entendemos que ele se faz necessário no sentido de obterem-se sempre solu-ções que atendam, de forma mais eficaz com qualidade e menores custos, os objetivos dos nossos clientes, que são as Companhias de Saneamento. Por outro lado en-tendemos também que as Companhias de Saneamento, sobretudo as de maior porte, deveriam reservar uma verba específica em seus orçamentos para investir no desenvolvimento tecnológico, podendo contar ainda com a colaboração do nosso setor nesse esforço. E aqui, quando falamos de desenvolvimento tecnológico não é de forma restrita à pesquisa de ponta, mas dentro de uma abordagem mais ampla onde a melhoria e otimiza-ção de processos com reflexos nos desempenhos e nos

custos ocupam lugar de destaque, assim como as solu-ções inovadoras para problemas específicos. Essa cultura da melhoria contínua precisa permear as Companhias de Saneamento para que elas consigam responder às exigências cada vez maiores da sociedade, refletidas através das ações das agências reguladoras.

A outra abordagem refere-se ao desenvolvimento tecnológico na execução de projetos e sua aplicação na área do Saneamento.

O desenvolvimento de novos softwares tem im-pactado os processos de projetar de forma profunda e positiva. A introdução do desenho digital na represen-tação tradicional de plantas e cortes mudou comple-tamente a forma antiga de trabalhar na prancheta e exigiu dos projetistas e desenhistas um esforço grande de adaptação.

Nessa forma de representar, os desenhos são linhas e a visão tridimensional do empreendimento é obtida pela maquete eletrônica que veio substituir a maquete física ou o desenho em três dimensões (3D). Esse é o estágio tecnológico atual mais difundido no meio téc-nico de projeto.

Inicia-se agora um novo ciclo com softwares de-senvolvidos com a tecnologia de elementos sólidos. Nessa tecnologia as linhas que representam hoje os elementos da construção, passam a ser substituídos por sólidos e a montagem dos empreendimentos é fei-ta através da composição desses sólidos.

A partir dessa montagem básica é que se fazem os cortes e as plantas, em processo inverso, portanto, do que é feito hoje.

Assim, se ocorrer qualquer modificação, ela é feita no desenho base em três dimensões e basta corrigi- lo que ao fazer os cortes e plantas esses desenhos já saem corrigidos. Na tecnologia atual se ocorrer algu-ma alteração no empreendimento, essa alteração deve ser feita em todos os cortes e plantas onde ela apareça e o trabalho de alteração é muito maior, assim como o risco de erros. Outra grande vantagem dessa tecnolo-gia é que esses sólidos são objetos atributáveis.

Associados a essa maneira de representar e atra-vés de outros softwares, cria-se uma realidade virtual em que é possível simular uma série de verificações no empreendimento virtual com fidelidade praticamente total ao empreendimento futuro real. É possível simu-lar movimentações de pessoas, nível de iluminação, interferências, fases executivas, análise estrutural e

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assim por diante. Essa nova me-todologia é denominada Building Information Modeling (BIM). O impacto que ela tem nos empreendimentos é muito grande porque vem preencher uma necessidade de se antecipar problemas nas obras durante a construção e na sua fase de operação e manutenção. É possível si-mular praticamente tudo na realidade virtual e reduzir a imprevisibilidade ao mínimo, dando confiabilidade na qualidade nos custos e nos prazos.

Essa metodologia encontra no setor privado, que busca na inovação a melhoria da competitividade, uma receptividade maior para sua implantação.

Infelizmente o setor público se encontra no extre-mo oposto qual seja licita obras com projetos insufi-cientes, inicia a construção e vai resolvendo os pro-blemas à medida que vão aparecendo. É a forma mais irracional e cara de se conduzir o processo porque os prazos ficam indefinidos os custos imprevisíveis e por mais que o construtor seja ressarcido há perdas tanto para o construtor como para o empreendedor e, sobre-tudo para a sociedade.

Diante dessas observações é muito importante que se promova um esforço conjunto e a APECS nisso muito pode colaborar para que os governos e as com-panhias de saneamento busquem inserir e estimular nas suas contratações essa nova tecnologia. Quem sabe consigamos reverter esse quadro atual para o bem de todos.

saneas: Qual é vantagem de se planejar um empre-endimento, contemplando todo o seu ciclo de vida: projeto, obra e operação?

Pladevall: As vantagens são muito grandes e essa é a melhor ma-neira de se obter o sucesso de um empreendimento.

Para se compreender as vantagens que essa forma de planejar e atuar proporciona é importante destacar como os empreendimentos são planejados, construí-dos, operados e mantidos atualmente.

Resumidamente, o ciclo compreende as seguintes fases: estudos de concepção, projeto; construção, fa-bricação e montagem; operação e manutenção.

O projeto, na sua última revisão, alimenta a cons-trução, a fabricação e a montagem, que ao terminarem suas atividades elaboram um documento denominado “Data Book”, onde teoricamente estão inseridas todas as informações da obra na sua versão “como construí-da”. Esse documento é passado para a operação e para a manutenção, para que essas áreas, de posse dessas informações, possam atuar no empreendimento garan-tindo o seu desempenho conforme projetado.

O sequenciamento das várias fases e suas cone-xões, conforme acabamos de descrever, parece garan-tir um fluxo completo de informações, porém não é isso que acontece.

Na prática, durante o processo, as informações se per-dem, a elaboração do “Data Book” é penosa, acaba sendo deficiente e a acessibilidade às informações é difícil.

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Uma das causas que contribuem para que isso ocorra é a forma segmentada como cada fase é de-senvolvida.

O planejamento do empreendimento dentro da metodologia do Ciclo de Vida do Empreendimento muda totalmente a abordagem de como é feito hoje.

Essa mudança se inicia pela estruturação de to-dos os componentes do empreendimento através de uma hierarquização que permita identificá-los perfei-tamente, e a partir daí todas as informações que são geradas desde a fase de projeto, construção operação e manutenção são vinculadas aos componentes.

Desta forma é possível garantir uma perfeita ras-treabilidade e rápida acessibilidade às informações so-bre o componente em todas as fases de sua vida.

A disponibilidade e a acessibilidade da informação são bens preciosos e imprescindíveis à gestão ao lon-go de toda a existência do empreendimento, e têm forte impacto no desempenho e na eficiência, como no controle dos serviços e dos custos de operação e manutenção.

A percepção desse fato vem impulsionando o de-senvolvimento dessa nova tecnologia, vez que os cus-tos de sua implantação são sobejamente cobertos pela economia que ela gera.

Para se colocar em prática esse processo é neces-sário fazê-lo já no início da concepção do empreendi-mento, há a necessidade de adequações na estrutura contratual dos fornecimentos e, portanto, na maneira de gerenciar o empreendimento.Apesar de ser uma tecnologia de ponta, já existe sistema de gestão desenvolvido para atendê-la.

saneas: existem muitas obras interrompidas por deficiência de projeto? Qual é o ônus que isto re-presenta?Pladevall: O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal é um exemplo claro da importância do projeto de qualidade. Segundo um estudo elaborado pelo Trata Brasil, o PAC finalizou, até dezembro de 2010, apenas 4% das obras iniciadas, há quatro anos, em 101 municípios com população acima de 500 mil habitantes (sendo 24 em São Paulo). Essas intervenções totalizam cerca de R$ 2,8 bilhões de investimentos. Cerca de 60% desses empreendimentos estão paralisados por proble-mas decorrentes de deficiências dos projetos básicos,

contestações dos Tribunais de Contas, entre outros mo-tivos. Um projeto inadequado, quando não inviabiliza o empreendimento, pode gerar um produto deficiente, com desempenho aquém do esperado, e com baixa expectativa de durabilidade. Um pré-requisito para o sucesso de um empreendimento é boa contratação do projeto de engenharia. A deficiência na contratação de bons projetos não acontece por incompetência, mas por desconhecimento. Os gestores públicos não estão adequadamente preparados para contratar projetos mais amplos.

Um projeto deficiente, pó si só, já é um ônus para a sociedade, que comprou algo que não recebeu, mas pode gerar prejuízos ainda maiores, decorrentes de atrasos na entrega do bem, da baixa qualidade do pro-duto gerado, dos custos adicionais para a viabilização do empreendimento, ou até mesmo da inviabilização de todo o processo de implantação.

saneas: como a APecs avalia a introdução de no-vos modelos societários (PPP, sPe entre outros) nos empreendimentos do setor de saneamento.Pladevall: A utilização destes novos modelos são fer-ramentas importantes, desde que formatados com base em documentos técnicos corretamente elabora-dos, que possibilitem uma definição do desempenho e da qualidade desejados e a avaliação confiável dos custos previstos e dos resultados esperados, e ainda, sejam adotados em conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade e da probidade adminis-trativa, todos os modelos que viabilizem a implantação da infraestrutura que o país tanto necessita.

É inadmissível, para a implantação de infraestru-tura, modelos que não sejam embasados em projetos de engenharia completos, elaborados por empresas idôneas, independentes e tecnicamente capacitadas, pois apenas com estes documentos técnicos será possível a definição exata das características do bem a ser produzido, das condições de desempenho de-sejadas e dos recursos a serem gastos, quer seja para a implantação, manutenção ou operação do produto gerado.

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A engenhAriA eA inFrAestruturA

Por um longo período, mais de 30 anos, a En-genharia Brasileira ficou relegada a um plano secundário devido à crise econômica. Foi um tempo difícil, em que não só os engenheiros mas os profissionais da área tecnológica terminaram migrando para outros campos da atividade laboral que remuneravam melhor o trabalho.

A primeira pergunta que se faz é: esse cenário se modificou? Os engenheiros, os profissionais da área tecnológica estão sendo remunerados adequadamente a ponto de não precisarem mais ficar mudando de área? A resposta a essa ques-tão não é muito fácil porque as informações que temos mostram um cenário ainda nebuloso, prin-cipalmente para os jovens profissionais. Muitos já iniciam a carreira com bons empregos e bons salários, mas a grande maioria recebe o mínimo que a legislação garante. Oras, se remuneramos mal o engenheiro, o profissional da área tecnoló-gica, não podemos esperar que ele se mantenha fiel a sua profissão. Permanecerá engenheiro até encontrar algo que o remunere melhor.

Assim, não basta dizer que formamos mais 30 mil profissionais por ano, número inferior ao da China e Índia, nem que seremos sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e que os dois eventos garantirão abertura de vagas no mercado de trabalho. Há um problema muito sério que desvia o foco das atenções para a formação desses profissionais. Os educa-dores, responsáveis pelas uni-versidades, com quem tenho conversado, se mostram pre-ocupados com a qualidade da formação do profissional, pois essa qualidade irá influenciar di-retamente no seu desempenho profissional, na sua atuação no mercado de trabalho.

A delicada questão da Engenharia e da In-fraestrutura esbarra nas arestas deixadas pelos bancos escolares, no ensino básico e funda-mental que, em muitos casos, não formam os alunos adequadamente.

Recentemente, ao participar de uma mesa redonda sobre o Pré-Sal, ouvi de um profissio-nal a seguinte colocação: “Eu sou Engenheiro Naval mas nunca entrei num navio. A Escola em que me formei achava que isso não era necessário nem importante”. Fiquei pensando em quantos profissionais recebem o diploma sem ter pisado num canteiro de obras e as con-sequências dessa formação para a atividade profissional. O que se espera é que os nossos engenheiros tenham a experiência necessária para tocar as obras e projetos que estão impul-sionando o nosso país e elevando-o à invejável posição de 5ª Economia Mundial.

vAlorizAção proFissionAlNa Presidência do CREA-SP estou implantan-do uma política de austeridade para resgatar o reconhecimento do Conselho e valorizar o pro-fissional, cumprindo o meu Plano de Governo

aprovado nas últimas eleições. Em fevereiro, formalizei uma parceria com a Secretaria Estadual de De-senvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia visando abrir caminho para o profissional afastado, que deseje regressar ao mercado de tra-balho. O Secretário Estadual Paulo Alexandre Barbosa comprometeu- se a nos auxiliar nesse projeto disponibilizando cursos de aper-feiçoamento para os profissionais registrados no Conselho que, em decorrência de uma série de fatores, afastaram-se do mercado e hoje manifestam a intenção de retornar.

O Eng.Civil e Adm. de Empresas,

Francisco Kurimori, é presidente CREA-SP Conselho Regional

de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo - Gestão

2012-2014. Na gestão anterior era

chefe de gabinete da presidência dessa

entidade. Também é secretário da

FAEASP - Federação das Associações

de Engenharia, Arquitetura e

Agronomia do Estado de São Paulo e

conselheiro da Febrae – Federação Brasileira

de Associações de Engenheiros. Atuou

como engenheiro do IPT – Instituto

de Pesquisas Tecnológicas, da

Light – Serviços de Eletricidades S.A., do DER – Departamento

de Estradas de Rodagem, foi

diretor do DAEE – Departamento de

Águas e Energia Elétrica, assessor da presidência da

CODASP – Companhia de Desenvolvimento

Agrícola de São Paulo e sócio-

proprietário da Kurimori Engenharia e Construções Ltda.

Foi presidente da Associação dos

Ex-alunos da Escola de Engenharia de

Lins, Presidente da SENAG - Sociedade

dos Engenheiros, Arquitetos e

Agrônomos da Região Administrativa de Lins

por dois mandatos de 2001 a 2003 e de 2003 a 2005 e

Conselheiro do CREA-SP de 2001 a 2003 e

de 2004 a 2006.

por francisco Kurimori

ponto de vista

“os enGenHeiros estão sendo

remunerados adequadamente?

a resposta a essa questão não é

fácil porque as informações que temos mostram

um cenário ainda nebuloso, principalmente para os jovens profissionais.”

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A linha de ação que tenho adotado frente ao CREA-SP é a de não lamentar o tempo perdido, que passou, e sim termos uma atitude corajosa, enfren-tando os desafios e contribuindo efetivamente para que os profissionais, não só os engenheiros, mas to-dos aqueles que integram a área tecnológica, sintam orgulho da profissão que abraçaram e do Conselho que os representa.

A política de austeridade que está em curso no CREA-SP já está apresentando resultados positivos. Nos primeiros quatro meses de gestão, o Conselho economizou mais de 20 milhões de reais. E estamos fazendo mais do que já foi feito em qualquer outro período porque estamos planejando todas as nossas ações e cumprindo o nosso planejamento. Valorização do profissional e do funcionário que trabalha conosco. Convidamos o Sindicato que representa a categoria e a Associação Paulista dos Creanos para que viessem ao Conselho e apresentassem a sua pauta de reivindica-ções. Eles foram surpreendidos num primeiro momento porque estavam todos alijados, afastados das decisões. Já alinhamos isso e terminamos de celebrar o Primeiro Acordo Coletivo com mais de 50 itens. O Sistema de Informatização utilizado pelo Conselho há mais de 20 anos e que está reconhecidamente obsoleto será subs-

tituído pelo CREA NET, trazendo acima de tudo vanta-gens e facilidades para o profissional que poderá aces-sar os serviços oferecidos pelo CREA-SP de qualquer lugar, bastando para isso estar conectado à Internet.

Não é minha intenção fazer aqui uma prestação de contas. Mas apenas exemplificar que, se agirmos com seriedade e profissionalismo, vamos levar adiante os nossos projetos, sejam eles de vida, de trabalho, da Copa ou das Olimpíadas. Não basta identificar o erro, apontar a falha. Tem que ter uma atitude positiva, buscando o caminho para solucionar as questões, dei-xando de lado o personalismo para privilegiar a equipe, o contexto, o conjunto.

Se todos fizermos isso, num curto espaço de tem-po, vamos passar de uma comunidade cognitiva e in-segura para uma sociedade dinâmica, que sabe o que quer e o que faz, com os pés fincados no presente e os olhos no futuro.

Para os engenheiros brasileiros e paulistas não fal-ta capacidade e disposição até para um programa de reengenharia, de reciclagem se for o caso, tendo como ponto focal o futuro da nossa nação. Tenho certeza que todas as dúvidas hoje existentes, relacionadas com a questão da infraestrutura e da engenharia, irão se transformar em afirmações e conquistas.

ponto de vista

Formalização de parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

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A importânciA do projeto de engenhAriA pArA empreendimentos públicos e privAdos

Um país sem projeto é uma nação sem rumo, ou melhor, país rico é país com planejamento e pro-jeto. Essa paráfrase do slogan do governo federal (“País rico é país sem pobreza”) traduz com exati-dão a importância do planejamento e do projeto para o desenvolvimento sustentável do Brasil, em todas as acepções da palavra.

Temos grande experiência prática dos proble-mas advindos da falta de planejamento e de bons projetos, especialmente no desenvolvimento da nossa defasada infraestrutura. Essa experiência negativa traduz-se em aeroportos sobrecarrega-dos, ferrovias em quantidade insuficiente, parque energético deficitário e com riscos de apagões, mobilidade urbana problemática, falta de cole-ta e tratamento de esgoto em níveis adequados, entre diversos outros exemplos. O planejamento realizado com a necessária antecedência e rigor técnico permite, em primeiro lugar, prever os re-cursos orçamentários para o empreendimento, evitando a, infelizmente, comum prática de pa-ralisar obras, muitas vezes por anos, com custos elevadíssimos para a sociedade. O planejamento

consistente possibilita também a contratação de projetos executivos de acordo com a melhor pro-posta técnico-econômica.

Porém, o planejamento e a contratação de projetos pela melhor solução técnico-econômica infelizmente ainda não são prática correntes no Brasil. Mas eles são essenciais para o desenvol-vimento sustentável da infraestrutura do país. Isto porque, em primeiro lugar, se não há plane-jamento, há forte risco de não serem seguidos os procedimentos recomendados pelos melho-res organismos internacionais de análise, finan-ciamento e fomento de obras de infraestrutura: planejamento prévio e rigoroso do ponto de vista técnico-econômico, contratação de estudos pré-vios e projetos com a devida antecedência, desen-volvimento do projeto executivo (completo) para embasar a licitação/concorrência, definindo todos os detalhes técnicos do empreendimento, crono-grama e orçamento. Esses procedimentos, quando seguidos à risca, permitem aos contratantes, pú-blicos e privados, ter o controle total da execução da obra, evitando surpresas e sobrepreços.

João Alberto Viol é Engenheiro Civil

pela Escola de Engenharia de São

Carlos - USP(1975). Foi Diretor Técnico

da Companhia de Construções

Escolares do Estado de São

Paulo S/A (1983), Diretor Técnico da Superintendência

de Desenvolvimento do Litoral Paulista

(1983/1987), Diretor de Obras

e Executivo da Fundação para o Desenvolvimento

da Educação (1987/1991), Diretor

de Engenharia da SABESP

(1991/1995), Presidente Nacional

da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e

Ambiental - ABES (1992/1994) e Presidente da

Associação Paulista de Empresas

de Consultoria e Serviços em

Saneamento e Meio Ambiente –

APECS (2005/2009). Atualmente é diretor da JHE

Consultores Associados,

membro permanente do

Conselho Diretor da ABES e Presidente

Nacional do Sindicato Nacional

das Empresas de Arquitetura

e Engenharia Consultiva –

SINAENCO.

por joão alberto viol

visão de mercado

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20 SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

visão de mercado

O investimento em infraestrutura se dá pela apli-cação de recursos públicos nas obras, incluídos aí todo sistema de saneamento – água, esgoto, drenagem de águas pluviais e coleta, afastamento e tratamento de resíduos sólidos, lixo – energia, em todas suas modalida-des, transportes, em todas suas modalidades – terrestre, rodoviário, ferroviário, hidrovias, navegação de cabota-gem e portos, a interface de portos marítimos e fluviais.

Antes de se fazer algo, caminhar em qualquer di-reção, de maneira atabalhoada, perder recursos, efici-ência e eficácia, não se atingindo resultados, deman-dando muito mais tempo e gastando-se muito mais dinheiro do que o necessário, o planejamento permite entender melhor o problema e buscar a melhor solução para o caso. Planejar é exatamente isso, “pensar antes”.

O planejamento gera planos, programas e proje-tos, dentre eles, os projetos específicos de engenharia e arquitetura, instrumentos para materializar as obras públicas.

Essas atividades desenham o futuro, são de longo alcance, e por sua natureza intelectual, de visualizar o futuro antecipando pensamentos, levando sonhos à prática, são próprias do Estado; constituem uma plani-ficação para que sucessivos governos persigam objeti-vos pré-estabelecidos. Evidentemente, como o mundo é dinâmico, esse planejamento deverá ser adequado em função da mudança das circunstâncias, mas exis-te uma linha geral, que é a perseguição dos objetivos maiores de uma Nação, portanto, atividade própria de Estado. Os projetos de arquitetura e engenharia têm essa característica.

Já a realização das obras, a materialização daqueles sonhos, acontece passo a passo, pela construção física dos projetos. É, portanto, atividade típica de governos, que se sucedem, cuja continuidade de esforços vai construindo o futuro pensado lá atrás.

É imprescindível ao administrador que pensa cons-truir algo a contratação dos projetos de arquitetura e de engenharia com a antecipação necessária, para que, ao decidir realizar a obra, tenha o projeto executivo desses equipamentos, informação básica e fundamental.

O projeto executivo de engenharia e de arquitetura traz em si, como seus elementos finais, além dos dese-nhos, das “plantas”, que permitem que seja materiali-zada a obra, toda a orientação e os elementos da cons-trução, desde as fundações, até os equipamentos mais sofisticados. O projeto traz a qualificação de materiais e serviços, suas especificações técnicas, e as quanti-

ficações, as quantidades necessárias. Aplicando-se os preços unitários a essas quantidades, tem-se como resultado o orçamento da obra. Além disso, o projeto permite, com seus desenhos e processos construtivos definidos, a elaboração do cronograma de obra, o pra-zo necessário para que aquela obra seja realizada.

De posse desse conjunto de elementos, os admi-nistradores públicos e privados podem realizar, sem riscos, a licitação/concorrência da construção. Tendo em mãos o projeto, com o orçamento e o cronogra-ma, saberão o que está contratando, quanto tempo vai demorar sua construção e a natureza da obra. Con-tratante e contratado poderão avaliar com clareza a melhor proposta para fazer aquele trabalho. O gestor público ou o investidor privado poderão estabelecer os cronogramas físico-financeiros, o avanço de obra e de desembolso, de forma a permitir que a obra saia no tempo certo e com a qualidade adequada, entregando a melhor obra para sociedade.

O bom projeto, contratado com a antecedência necessária para que o processo criativo, de natureza intelectual, apoiado pela boa técnica, portanto, dá as informações básicas para que a eficiência na gestão dos recursos públicos seja maior, estabelece o com-promisso entre a segurança que aquele equipamento deverá oferecer e a economicidade na aplicação dos recursos públicos ou privados.

Além disso, no projeto pode-se evitar a agressão ao meio ambiente, com o estudo e simulação de al-ternativas que preservem espécies animais e vegetais, além de comunidades indígenas ou quilombolas. Caso algum impacto ambiental seja inevitável, é na fase de projeto que se pode quantificar e procurar soluções para mitigá-los, reduzi-los ou, ainda, de alguma forma, compensá-los.

O projeto executivo de engenharia e arquitetura é o melhor instrumento, o mais eficaz, para melhorar a gestão da aplicação dos recursos públicos e privados nas obras. É importante lembrar que o projeto custa, em média, cerca de 5% do montante global da obra. Porém, por sua importância, pode representar eco-nomias que ultrapassam mais de 50% do total a ser investido num empreendimento público ou privado. Nossos administradores precisam ter esses números em mente na hora de contratar projetos de engenha-ria. O bom projeto é a garantia essencial para obter uma obra de qualidade, no cronograma definido e ao custo orçado.

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o senhor FeYnmAn não estAvA brincAndo:A educAção tecnolÓgicA brAsileirA

1- A educAção AtrAvés dA curiosidAdeA curiosidade levou os primeiros hominídeos a transformarem rochas em ferramentas, levou ao aprendizado de como obter o fogo e tam-bém levou o homem à exploração de todas as regiões do Planeta Terra. Ela deu à luz o en-tendimento do mecanismo de movimentação dos corpos celestes, do que é a chuva, de como funcionam os organismos vivos e de fenôme-nos sociais. Como disse Carl Sagan, “Nós somos um meio de o universo conhecer a si mesmo” (SAGAN, 2005), e nós nos conhecemos porque temos ânsia por saber.

Afora a parcela da necessidade, que motiva o aprendizado em situações emergenciais, a curio-sidade traz inquietude à mente mesmo quando se está em total segurança e conforto. Ela é, ainda, um mecanismo catalisador do aprendizado. Quan-do há o interesse por descobrir a resposta para um mistério, todos os sentidos são aguçados para que se encurte o caminho da descoberta. Mais do que isso, quando há uma pergunta para ser respondi-da e quando se faz algum esforço para tal, cada detalhe do processo de investigação, de raciocínio e do conteúdo da resposta é memorizado.

Desde o surgimento de pequenos grupos de hominídeos, observa-se que o conhecimento adquirido é transmitido para as gerações subse-quentes, mesmo que das formas mais rudimen-tares. A espécie de hominídeo que suplantou a sobrevivência dos demais Homo, a Homo Sa-piens, deve a sua supremacia, em grande par-te, à habilidade de ensinar e aprender. Afinal, o conhecimento, quando acumulado ao longo de gerações, se multiplica e permite que se criem cada vez mais novas idéias e soluções, aumen-tando o ferramental tecnológico e filosófico de um grupo, de modo que a sua dominância em um espaço seja garantida.

Assim, é fundamental, para a continuidade de uma civilização já desenvolvida, que o conheci-mento seja preservado, transmitido e desenvolvi-do através do tempo.

Em uma civilização em estágio avançado, como se presume ser a nossa, na qual o número de pessoas segue crescendo em grandes propor-ções, o conhecimento acumulado é complexo e vasto. E quando o tempo que se leva para que as ciências se renovem fica cada vez menor, o pro-cesso de educação das gerações torna-se algo a ser planejado com muito cuidado para que

por Walter antonio bazzo, Giulia baretta e luiz teixeira do vale pereira

artiGo técnico

“O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência alguma no Brasil!” Eu os vejo se agitar, pensando: “O quê? Nenhuma ciência? Isso é loucura! Nós temos todas essas aulas”. Este é o trecho de um depoimento do físico Richard Feynman quanto às suas impressões sobre o sistema educacional brasileiro, depois de ter lecionado por dez meses para estudantes de Física e Engenharia no Rio de Janeiro, entre 1951 e 1952. Tristemente, depois de sessenta anos seu depoimento continua retratando com bastante precisão o cenário da educação no Brasil – primordialmente a tecno-lógica – onde os alunos decoram conceitos sem compreender o que eles representam, pouco exercem seu poder reflexivo e acabam sendo levados a um caminho de aprendizado apático. Este artigo busca detalhar esse viés da educação brasileira, através da experiência dos autores na qualidade de professores e de es-tudantes de engenharia.

WALTER ANTONIO BAZZO Engenheiro Mecânico, Doutor

em educação, Pesquisador e Professor do

Departamento de Engenharia

Mecânica da UFSC. Um dos

fundadores e atual coordenador do

NEPET.

GIULIA BARETTA - Graduanda

de Engenharia Mecânica, na

Univ Fed Santa Catarina (2011).

LUIZ TEIXEIRA DO VALE PEREIRA

- Mestre em Projeto Mecânico

e engenheiro de segurança do trabalho, professor do

Departamento de Engenharia

Mecânica da UFSC. Publicou

diversos artigos e cinco livros na

área de ensino de engenharia.

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de fato elas sejam estimuladas da melhor maneira possível. Não é mais necessário que a construção do conhecimento seja feita a qualquer custo, como nos primórdios da civilização humana, e sim que seja feita de maneira a visar à formação de cidadãos criativos, reflexivos, que se perguntem sobre como utilizar o conhecimento de que dispõem, que questionem mé-todos e teorias já estabelecidos.

Em um período em que o saber educar é uma ciên-cia complexa e ainda mal explorada em muitos países e instituições, mesmo sendo a base da manutenção da nossa existência, nos perguntamos qual é a força mo-triz do aprendizado, como fazê-lo de maneira rápida e eficaz nas escolas e universidades. A resposta é ampla e requer muita reflexão, mas o princípio é simples: a curiosidade é algo inerente à espécie humana e é po-tencialmente forte para que desperte o nosso interesse pelas coisas e, por consequência, pelo aprendizado do mundo em que vivemos.

Hoje, em muitas instituições educacionais e gru-pos culturais, de alguma maneira, essa característica tão importante da nossa espécie é suprimida em algum lugar entre a infância e a juventude. Ao não aprovei-tarmos esse atributo valioso, desperdiçamos a chance de construir um sistema educacional eficiente e ainda acabamos muitas vezes por reprimir o espírito curioso que todo ser humano dispõe.

2- o sistemA educAcionAl brAsileiroEm 1950, Richard Feynman lecionou no Brasil du-rante dez meses, para alunos de Física e Engenharia no Rio de Janeiro. Após a conclusão do ano letivo, ele deu uma palestra para estudantes, professores e oficiais do governo sobre as suas impressões e opi-niões referentes ao ensino brasileiro. Essa palestra e as suas experiências como professor no Brasil estão relatadas no livro (O senhor está brincando, Sr. Feyn-man!) escrito pelo próprio físico.

A descrição feita por Feynman é preciosa, esclare-cedora e, infelizmente, ainda retrata em parte a situ-ação da educação no país. As deficiências apontadas por ele transpõem as fronteiras entre escola e universi-dade, valendo como base para uma reflexão referente a ambas as instituições. Ainda, o texto chama a aten-ção de qualquer estudante brasileiro – mas por certo

estendido a qualquer região do mundo – que o leia, já que o aluno pode identificar inúmeras semelhanças entre as situações pelas quais passou na sua vida esco-lar e aquelas descritas por Feynman.

Desde o ano 1952, em que Feynman esteve no Bra-sil, o sistema educacional brasileiro passou por impor-tantes melhoramentos: os índices estatísticos mostram que a proporção de crianças matriculadas nas escolas cresce a cada ano e que o analfabetismo vem sendo reduzido. Ainda, a produção científica no país evoluiu, bem como a produção artística e literária. O número de profissionais que se destacam internacionalmente em suas áreas também sofreu grande aumento. No entan-to, o fato de já poder se formar aqui profissionais bas-tante capazes não garante que o aproveitamento do nosso processo educativo seja ideal. Encontra-se mui-to aquém disso, na realidade. Ainda a grande maioria dos jovens que concluem o ensino superior apresenta conhecimentos superficiais, pouca criatividade, pouca habilidade reflexiva. Assim, em termos qualitativos as mudanças foram tímidas, o que é corroborado pelo fato de, mesmo passado tanto tempo, podermos nos identificar na análise de Feynman.

Os problemas na qualidade de nosso ensino se devem especialmente a uma tradição de recompensa pela me-morização. Pelo que se coloca em prática nas instituições brasileiras, educar está intimamente relacionado a decorar conceitos. Essa confusão de valores traz atrasos enormes ao processo educacional e o dificulta sobremaneira. Aqui, o caminho escolhido para educar é o mais tortuoso e é o que oferece mais chances de fracasso, considerando que o objetivo final deve ser a formação de gerações criativas, capazes de identificar problemas, gerar soluções, modifi-car a sociedade pela reflexão e pelo reconhecimento da sua posição como ser humano e cidadão.

Feynman atenta, nos seus textos, especialmente para as deficiências na produção científica que são geradas pela tradição cultural do nosso ensino. No en-tanto, suas observações servem para que se perceba que o efeito é muito maior, refletindo-se em todos os segmentos da sociedade.

A seguir, através da análise da palestra de Richard Feynman, buscamos mostrar quais deficiências perce-bemos no sistema adotado para a educação dos jovens no Brasil, ao longo dos ensinos básico e superior, e as

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suas consequências. Tais percepções vêm embasadas sobremaneira em nossas experiências como estudan-tes e professores.

3- AprendizAdo pAssivo, conhecimento eFÊmeroO sistema educacional brasileiro é construído sobre algumas bases pouco sólidas e de valores questioná-veis. Os métodos de ensino e de avaliação estimulam os alunos – como alertamos anteriormente – a cons-truir conhecimentos superficiais sem questioná-los. Com isso, eles passam a trabalhar conceitos neces-sários apenas de maneira temporária e fracionada, o que leva a um verdadeiro acúmulo de desconheci-mento ao longo dos anos de estudo.

3.1- Decorar, decorar“Depois de muita investigação, finalmente descobri que os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o que queria dizer. Quando eles ouviram ‘luz que é refletida de um meio com um índice’, eles não sabiam que isso significava um material como a água. Eles não sabiam que a ‘direção da luz’ é a direção na qual você vê alguma coisa quando está olhando, e as-sim por diante.” (FEYNMAN, 2006)

Feynman, durante suas aulas, observou que os alu-nos mostravam grande agilidade e precisão ao definir os conceitos e os fenômenos das teorias que eram en-sinadas em sala. No entanto, não sabiam como reagir se a pergunta sobre o mesmo assunto, aparentemente dominado, fosse levemente modificada.

Esse é o reflexo exato de um sistema baseado na memorização, como o que é corrente no Brasil – nosso mote de análise. Os alunos são doutrinados, desde os primeiros anos em que frequentam a escola, a visuali-zar o processo de aprendizado como a aquisição de um banco de dados.

As aulas são destinadas a fornecer os conceitos prontos, previamente formulados em um livro didá-tico de base. Os professores proferem as palavras, os alunos absorvem as palavras. Pouco ou nenhum en-tendimento é requerido nesse processo. Muitas vezes, especialmente no ensino fundamental e médio, nem os próprios professores compreendem muito bem o que essas palavras representam.

Quando, desde a infância, somos estimulados a decorar ensinamentos, sem refletir sobre eles e pouco tendo que compreender para prosseguir com sucesso dentro da instituição de ensino, entendemos que esta é a maneira mais fácil de encarar o processo educativo, já que é bastante confortável guardar algumas frases e fórmulas prontas por mera repetição. Levamos esse vício da escola para a universidade e desperdiçamos anos absorvendo conhecimentos temporariamente – e não construindo representações duradouras da reali-dade. Ao fim, pouco de útil a aprendizagem nos traz.

Ainda, ao decorar um conceito, sem questioná-lo, deixa-se não só de compreender fenômenos, como também de exercitar o raciocínio, a criatividade e perde-se a oportunidade de ampliar as nossas visões do mundo. É como seguir por um caminho através de uma bela paisagem e só olhar para o chão, deixando de perceber a riqueza do entorno.

Ao final de em média vinte anos de estudo, percebe--se que todos gastaram esforços, alunos e professores, para a retenção de um conhecimento frágil. O mesmo esforço poderia ser destinado a um aprendizado efeti-vo com poucas mudanças no direcionamento das aulas e avaliações, as quais serão discutidas adiante.

3.2- Avaliando a capacidade de memorização“Depois da palestra, falei com um estudante: vocês fi-zeram uma porção de anotações, o que vão fazer com elas?– ‘ah, nós as estudamos’, ele diz. ‘nós teremos uma prova’.– e como vai ser a prova?– ‘muito fácil. Eu posso dizer agora uma das questões.’Ele olha em seu caderno e diz: – ‘quando dois corpos são equivalentes?’E a resposta é: ‘dois corpos são considerados equiva-lentes se torques iguais produzirem aceleração igual’.” (FEYNMAN, 2006)

É fundamental, em qualquer instituição de en-sino, que haja uma avaliação periódica para que se verifique a evolução dos estudantes, como sua capacidade de raciocínio e sua criatividade foram estimuladas, quais os conhecimentos adquiridos e compreendidos. Ela serve para orientar alunos e professores, para que eles possam adaptar o pro-

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cesso de aprendizado de acordo com a necessidade corrente e compensar seus erros.

Assim, a avaliação deve ser uma ferramenta do processo e não um obstáculo ou o objetivo maior do mesmo.

Nas nossas escolas, vemos que a prática de ava-liação tem sua função um tanto quanto desfigurada, passando de acessório auxiliar para ferramenta con-clusiva. Os alunos aprendem prioritariamente a “pas-sar” nas provas. Cria-se um subsistema de aprendizado: os estudantes criam seu próprio banco de provas, tra-çam o perfil da avaliação de cada professor e as repas-sam às gerações seguintes; graduam-se extremamente experientes em atingir boas notas nas provas de ma-neira fácil e rápida.

Esse esquema de aprender a fazer prova é faci-litado pelo estilo das avaliações aplicadas na quase totalidade de instituições de ensino. Elas são susce-tíveis às palavras, aos conceitos dos livros didáticos, são repetitivas ao longo dos anos, não requerem que o aluno desenvolva um raciocínio consistente, que improvise uma solução, semelhante ao que foi descrito pelo aluno de Feynman. As avaliações tra-dicionais, pelas quais passamos tantas vezes, visam tomar nota. Elas cumprem da maneira mais óbvia possível a burocracia que exige que o professor e o aluno mostrem de forma documentada a aprovação ou não do aluno.

Infelizmente, este sistema avaliativo é coerente com o método de ensino, e os dois fortalecem a exis-tência um do outro. Enquanto a avaliação verifica a capacidade de repetição dos alunos, constituindo o sistema de recompensa por memorização, o método serve para levar os alunos até a prova, fornecendo con-ceitos diretos, frases prontas.

A medida mais correta a ser tomada – nos parece – seria uma mudança no processo de avaliação, que deve ser feito ao longo das aulas, sem que necessaria-mente seja aplicada uma prova física formal. Esse tipo de mudança está atrelado a análises mais consistentes das diretrizes e fundamentos do sistema educacional, o que ocorre em longo prazo. Em curto prazo, pode-se melhorar o conteúdo das avaliações, que deve priorizar a capacidade de raciocinar, de criar. À medida que o aluno sente-se avaliado por estas características, ele passa a ver o conhecimento técnico dos conceitos

como ferramentas auxiliares, mudando a sua postura sobre o que é aprender.

3.3- A falta de exemplos reais“Mas, se em vez disso, estivesse escrito: ‘Quando você pega um torrão de açúcar e o fricciona com um par de alicates no escuro, pode-se ver um clarão azulado. Alguns outros cristais também fazem isso. Ninguém sabe o motivo. O fenômeno é chamado tribolumines-cência’. Aí alguém vai para casa e tenta. Nesse caso, há uma experiência da natureza.” (FEYNMAN, 2006)

Exemplos práticos são um bom artifício para atrair a atenção das pessoas para qualquer tipo de argumen-tação. Quando identificamos uma situação comum sobre a qual não sabemos nada e recebemos então al-guma informação, essa informação é memorizada na hora. Mais do que isso, começamos a refletir, atentar aos detalhes, visualizar onde mais se verifica aquilo. Feynman descreve isso com um exemplo interessan-te. Por que decorar algumas palavras para descrever a triboluminescência quando se pode compreendê-la e visualizá-la em sua própria casa?

A utilização de exemplos no ensino escolar e uni-versitário é algo muito simples para qualquer professor capacitado, especialmente porque as teorias que es-tudamos em sala explicam coisas simples do dia a dia.

Infelizmente essa prática não é comum. Vivencia-mos experiências desconcertantes na escola, por vezes ouvimos falar sobre alguma coisa por três, quatro, mais vezes durante o curso e acabamos nos dando conta depois da n-ésima vez de que não sabemos o que é aquilo, para que serve, como se parece. Por outro lado, quando nos é chamada a atenção para a correspon-dência entre teoria e prática, tendemos a ficar impres-sionados e elaboramos aquele conhecimento de ma-neira fácil e prazerosa.

A exemplificação de qualquer conhecimento é fun-damental para a compreensão da sua relação com o mundo em que vivemos e a falta dela fortalece a me-morização de definições em detrimento da reflexão, já que a visualização dos fenômenos pode tornar-se algo distante dos alunos, fazendo parecer difícil entender a sua descrição teórica.

3.4- Por que perguntar?“Uma outra coisa que nunca consegui que eles fizessem

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foi perguntas. Por fim, um estudante explicou-me: se eu fizer uma pergunta para o senhor durante a pales-tra, depois todo mundo vai ficar me dizendo ‘por que você está fazendo a gente perder tempo na aula? Nós estamos tentando aprender alguma coisa, e você o está interrompendo, fazendo perguntas’.” (FEYNMAN, 2006)

Quando os alunos não fazem perguntas em aula pode-se inferir que estão intimidados, que não enten-dem o suficiente do assunto para que tenha surgido alguma dúvida ou que não têm o interesse necessá-rio para que reflitam e questionem. Também há de se observar que uma postura inquisitiva, questionadora, está intrinsecamente ligada à formação das pessoas. Se há liberdade e estímulo para que se pergunte, se você cresce em um meio onde todos são acostumados a questionar, você desenvolve o hábito dessa prática.

Feynman observou que os seus alunos não de-monstravam apreço por perguntas, porque o grupo as considerava desnecessárias e inoportunas. Essa inibi-ção por parte de colegas ainda pode ser vista nos dias de hoje, mas seu efeito é reduzido. Os alunos deixam de perguntar mais por falta de interesse e atenção nas aulas do que por pressão do grupo. No entanto, essas duas situações que levam à passividade dos alunos, desinteresse pelo assunto de aula e o desgosto por perguntar são frutos da mesma deficiência de base do nosso sistema educacional.

É indiscutível a importância do perguntar em qual-quer processo de aprendizado. Por definição, você busca uma resposta, uma explicação, somente depois de ter formulado uma pergunta. É impressionante a constatação de que nas escolas os professores, em sua grande maioria, entrem nas salas de aula e simples-mente despejem os conceitos sobre os alunos, sem antes despertar a sua curiosidade para o assunto, sem mostrar o porquê de alguém ter estudado aquilo num primeiro momento e sem apontar para tudo que há por ser descoberto através de estudos do assunto. Des-sa maneira, o interesse dos alunos pelas respostas vai cessando de existir ao longo dos anos, pois elas não são tratadas como respostas, são conhecimentos atropela-dos que gravamos temporariamente para que passe-mos pelas provas.

É lamentável que os alunos perguntem tão pou-co, mas, antes disso, é mais preocupante que eles não sejam ensinados e estimulados a perguntar. Assim,

o hábito de questionar acaba sendo mitigado pelo próprio método de ensino, o que leva a um vício de apatia cultural: sem questionamento não há reflexão, sem reflexão não há aprendizado e, por conseguinte, formam-se cidadãos cada vez mais passivos.

3.5- o que é levado para a universidadeNos ensinos fundamental e médio cria-se uma base que define como os alunos gerenciam o seu proces-so de aprendizado. O processo educacional no Brasil, fortemente enraizado em métodos muitas vezes ul-trapassados, onde os alunos são doutrinados paulati-namente a aceitar o conhecimento de forma passiva, não consegue manter vivos o senso curioso das crian-ças e jovens e a sua ânsia por aprender, que vão sendo reprimidos ao longo dos anos. No entanto, quando o aluno está prestes a entrar na universidade se observa que há uma renovação da motivação e curiosidade que foram quase mitigadas anteriormente. A iminên-cia de encontrar um novo mundo e de adentrar nos conhecimentos de uma área escolhida por cada um, de acordo com seu interesse e suas aptidões, faz com que os alunos despertem uma avidez por saber que já havia sido esquecida.

O que ocorre, então, é que novamente toma-se a grande maioria dos alunos e insere-se no mesmo círculo vicioso – decorar conceito, decorar exercícios batidos, avaliar a capacidade de memorização. Isso os leva mais uma vez ao caminho de aprendizado pas-sivo e efêmero.

Vê-se uma instituição bem estruturada, com bons profissionais, cheia de alunos que entram curiosos mas que logo têm como objetivo principal sair dela, quando na verdade ela é o lugar para querer estar, aproveitar, conhecer, pensar. Há aqui também uma confusão de valores e métodos que deturpa o funcionamento dessa entidade educacional.

Uma aula tradicional no curso de Engenharia Mecânica da UFSC, das matérias do ciclo básico, por exemplo, consiste na transcrição de um livro base. Vê-se um livro tradicional referente àquela disciplina ser reproduzido no quadro e, então, ser copiado pelos alunos. Além de repassar a teoria contida no livro, os professores costumam resolver em sala alguns exer-cícios nele contidos, sendo que, na maioria das vezes, a resolução destes exercícios já está disponível na in-

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ternet. Vale ressaltar que a carga horária de todas as matérias vem sendo reduzida paulatinamente, como uma tentativa de diminuir o tempo de graduação, o que torna o tempo em sala cada vez mais precioso. Assim, utilizar esse tempo mínimo e a disponibilidade de professores muito capacitados e experientes para “transmissão de informações” que já estão documen-tadas e disponíveis para todos é, no mínimo, um mau aproveitamento de recursos.

A prova de que esse método de ensino pode ser falho é visível para qualquer pessoa que esteja dentro da universidade: é muito comum ver alunos que vão às aulas para cumprir presença, passando o tempo da aula fazendo outras coisas, antes das provas leem nos livros-base as mesmas questões abordadas em sala e concluem as avaliações com sucesso.

Neste cenário o aluno pode ser tido como um vilão e, de fato, ele poderia estar acompanhando o raciocí-nio do professor e aprendendo em sala, aproveitando para criar e tirar dúvidas. No entanto, o fato de ele não precisar daquele momento para aprender a teoria contida no livro mostra que se está gastando o tempo de um professor experiente para um trabalho que pode ser feito valorizando o autodidatismo dos alunos e as informações largamente disponíveis e acessíveis em li-vros e na internet, enquanto o encontro em sala pode ser destinado à discussão entre professores e alunos.

Assim como no ensino básico, no ensino universi-tário os métodos de ensino e avaliação abrem espa-ço à aprovação por pura memorização de conceitos e exercícios. E novamente os problemas do sistema de educação básica se repetem: muitos alunos não enten-dem a contextualização de certas teorias aprendidas e não sabem como ela é utilizada na prática. Conse-quentemente não desenvolvem um interesse ideal pelo estudo, de modo que nunca aprenderão nada suficien-temente para desenvolver e aprimorar os conhecimen-tos; só se aprende até a profundidade necessária para ganhar o salvo conduto da universidade.

Através de relatos de alunos de engenharia da UFSC, que fizeram uma parte da graduação em uni-versidades estrangeiras, observou-se que em muitas dessas universidades as aulas de graduação e pós--graduação da engenharia são utilizadas primeira-mente para a explanação de conceitos fundamentais e então são propostos projetos aos alunos, problemas de engenharia, sendo que as demais aulas ao longo

do curso são dedicadas à discussão entre professor e aluno, tirando dúvidas resultantes do desenvolvimento e estudo dos projetos. A necessidade de se buscar pelo conteúdo teórico por conta própria gera um interesse que é fundamental para o aprendizado. O fato de o aluno precisar obter uma informação e compreendê-la por conta própria leva-o a um nível de reflexão muito maior do que aquele destinado a ler o caderno com anotações no dia da prova.

Além da autonomia no estudo da teoria, a necessi-dade de solucionar um problema de projeto conduz à busca de diversas ferramentas e possibilidades de solu-ção, de modo que um banco de dados técnicos acaba sendo desenvolvido e absorvido rapidamente pelo alu-no. Possibilita também a uma compreensão global dos fenômenos envolvidos e das ferramentas disponíveis, de modo que o aluno exercita uma visualização ampla de problemas de projeto. Ainda, leva ao exercício do racio-cínio lógico e da criatividade na construção de soluções, prática fundamental para qualquer engenheiro.

De fato, segundo os alunos intercambistas, obser-va-se que estudantes dessas universidades não têm um conhecimento técnico tão acurado, mas apresen-tam grande criatividade no desenvolvimento de solu-ções. E em um mundo onde a informação técnica está disponível em todos os lugares e pode ser acessada a qualquer momento, a reflexão e a criatividade apre-sentam uma importância muito superior a qualquer memorização de dados e equações tabeladas.

Algumas matérias do currículo de Engenharia Mecânica da UFSC apresentam este perfil diferen-ciado, em que se estimula o autodidatismo e o de-senvolvimento autônomo de uma solução para um problema do interesse. Elas apresentam resultados extremamente positivos em relação ao envolvimento e à evolução dos alunos. No entanto, estas matérias são introduzidas no curso com o intuito de serem as matérias práticas. Acreditamos que, pela comparação entre o aproveitamento obtido em matérias de for-mato tradicional – teoria, exercícios resolvidos, pro-va – e o aproveitamento de matérias que têm por finalidade aplicar conhecimento, não deveria haver essa divisão de maneira que haja no currículo uma cota para matérias de aplicação. Os dois conceitos de aulas devem ser utilizados juntos, de modo a otimizar o processo educativo e trazer os alunos ao desafio, à reflexão e ao aprendizado autônomo.

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4- FábricA de desconhecimento – A brechA do sistemA“Por fim, eu disse que não conseguia entender como alguém podia ser educado neste sistema de autopro-pagação, no qual as pessoas passam nas provas e en-sinam os outros a passar nas provas, mas ninguém sabe nada.” (FEYNMAN, 2006)

As facetas do sistema educacional brasileiro apon-tadas ao longo deste artigo contribuem para a cons-trução de um processo educativo frágil. Feynman ob-servou já nos anos 1950 que os métodos de ensino e de avaliação levavam a um submundo em que os alunos deixam de ter apreço pela reflexão sobre os estudos e passam a estabelecer um esquema que permita que passem pelos exames avaliativos facilmente.

Hoje o sistema continua acobertando a possibilida-de de aprovação dos alunos por meio de memorização de conhecimentos frágeis e que são esquecidos assim que se passa pela avaliação. Não bastando a formação de jovens pouco questionadores e reflexivos, o sistema nem consegue garantir que o conhecimento técnico tenha sido construído de maneira qualitativa, já que se aprova pela demonstração de conhecimentos que podem ser efêmeros.

Afora os problemas de falta de estímulos criativos e reflexivos, há uma brecha, portanto, no sistema, pela qual os estudantes podem passar todos os seus anos de estudo sem ao final ter construído qualquer conhe-cimento sólido que ele saiba aplicar em problemas re-ais. Em suma, a situação para muitos alunos brasileiros é a de passar muitos anos na escola e na universidade, obter aprovações com sucesso e boas notas e concluir esse período sem ter construído uma base adequada de conhecimento e entendimento.

5- conclusão“Bem, depois de eu dar minha palestra, o chefe do de-partamento de educação em ciências levantou e dis-se: ‘O Sr. Feynman nos falou algumas coisas que são difíceis de ouvir, mas parece que ele realmente ama a ciência e foi sincero em suas críticas. Assim sen-do, acho que devemos prestar atenção a ele. Eu vim aqui sabendo que temos algumas fraquezas em nosso sistema de educação; o que aprendi é que temos um câncer!’ – e sentou-se.” (FEYNMAN, 2006)

O físico Richard Feynman reconheceu em pouco tempo e descreveu com maestria os maiores problemas

da educação no Brasil. Infelizmente, mesmo estando disponível um depoimento tão sincero e chocante, pouco se fez nos últimos sessenta anos em termos de reformular as bases do sistema educacional de modo a aumentar a qualidade do ensino.

O que se perde pela desvalorização da fascinante capacidade humana de reflexão, que se vê no Brasil, é incalculável. É incalculável em termos de forma-ção pessoal de cada jovem, mas é incalculável tam-bém em termos financeiros, de modo que mesmo aqueles que se importam unicamente com o desen-volvimento econômico do país devem preocupar-se com essa prática de inibir habilidades reflexivas em detrimento de uma habilidade que mesmo criatu-ras simples como os papagaios apresentam, a de decorar palavras. As deficiências que essa tradição cultural de ensino traz ao desenvolvimento social e tecnológico do país são imensas, já que a formação de jovens pouco capazes tecnicamente e deficientes em estímulos criativos e reflexivos leva ao atraso do desenvolvimento e criação de novas soluções para os problemas tecnológicos, políticos e sociais de qualquer grupo.

É fundamental, portanto, que se ensine às crian-ças e jovens brasileiros a perguntar, que se instigue a curiosidade, abrindo um espaço em sua mente para que o conhecimento seja construído de maneira pra-zerosa, fácil, rápida e por meio de um processo de raciocínio e reflexão, muito mais do que pela memo-rização pura. Há que se lembrar que, para o homem, descobrir coisas novas é prazeroso. Parece que já te-mos a motivação primordial para o aprendizado in-serida em nosso código genético, mas ainda nos falta a prática do estímulo da nossa tão preciosa curiosi-dade ao longo dos anos de educação escolar. Assim, a escola brasileira – ousamos dizer que também a maioria das escolas do mundo – deve ser pensada para que seja o local em que se mantenha viva a ân-sia por saber, o apreço pelas ciências, a reflexão sobre todo e qualquer conhecimento, e nunca um local em que se cumpre um dever de provar que é capaz de memorizar dados.

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Acontece no setor

A empresa Albrecht instalou na cidade de Montes Claros/MG o primeiro sistema de secagem de lodos de ETE com aproveitamento de biogás como fonte de energia térmi-ca. Segundo a empresa, este projeto é referência por ser a primeira planta de tratamento de esgoto que irá utilizar o próprio biogás gerado na estação como combustível para fazer a secagem e higienização do lodo.

No Brasil, embora haja grande quantidade de siste-mas anaeróbios que produzem o biogás, o aproveita-mento deste raramente é adotado. Além de incentivar a racionalização do uso dos recursos naturais, minimi-zando o consumo de matéria-prima e desenvolvendo mecanismos de redução da geração de resíduos, o aproveitamento do biogás visa otimizar a matriz ener-gética, utilizando um combustível renovável e abun-dante, além de evitar a emissão destes gases para a atmosfera, contribuindo desta forma com o efeito es-

sistemA de secAgem de lodo de ete com AproveitAmento de biogás

tufa, possibilitando, inclusive, a obtenção de créditos de carbono por meio deste projeto.

De acordo com a Albrecht, que é expositora da Fenasan 2012, com a secagem térmica garante-se a redução do peso e do volume do lodo, facilitando o manuseio, o transporte e a disposição, bem como a hi-gienização do lodo (eliminação dos patógenos).

soprAdores que AliAm economiA e eFiciÊnciA energéticA

A Atlas Copco, expositora da fenasan 2012, lançou no final de 2011, a linha de sopradores ZS, que, segundo a empresa, chegou ao mercado trazendo mais do que tec-nologia de ponta aos seus clientes: “essa nova linha con-segue aliar alto desempenho com uma grande eficiência energética, gerando uma economia maior em relação aos modelos anteriores”.

De acordo com o parecer dos seus técnicos, a eco-nomia é obtida através do reaproveitamento da energia potencial existentes nos gases. Isso é possível por que os novos sopradores permitem fazer o correto balancea-mento das unidades de vazão, desligando e religando- o quando necessário, o que não ocorria anteriormente. O uso de mancais de atrito é o que permite o processo, sendo acionados de acordo com um controle central microprocessado. Os novos sopradores com tecnologia de parafuso, substituindo os antigos com tecnologia de lóbulo, apresentam um ganho em eficiência ener-gética, gerando economia de até 30% em relação aos modelos antigos. E também ocupam menos espaço.

Diferentes indústrias e aplicações, tais como tra-tamento de águas residuais, transporte pneumático, produção de energia, produtos alimentares e bebidas, farmacêuticos, químicos, papel e pasta de papel, têx-teis, cimento e indústria em geral, poderão se beneficiar em grande escala das economias de energia através da substituição da tecnologia convencional de lóbulo pela inovadora tecnologia de parafuso, recomenda a empresa.

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acontece no setor

produtos de integrAção pArA sistemAs de trAtAmento

A GEA Sistemas de Resfriamento - GEA Group apresen-tará, na Fenasan 2012, sua linha de materiais plásticos para integração em sistemas de tratamento de água e de efluentes, entre eles módulos para decantação, enchimentos para tratamento biológico, e mídia ran-dômica para processos de MBBR e FBBR, em distintos materiais de acordo com as especificações do projeto ou com o tipo de aplicação, sempre em conformidade com normas técnicas.

O produto TUBEdek é fornecido em módulos pron-tos para instalar em peças soltas para montagem em obra; por meio do deslizamento dos perfis (através de linhas longitudinais) e aplicação de pontos de solda para fixar as peças. Possuem um ângulo interno que promove o escoamento dos sólidos e a compressão do módulo, facilitando assim a instalação. Os perfis são produzidos com o comprimento e a ângulo requeridos para cada projeto.

O enchimento estruturado BIOdek é composto por chapas de PP ou PVC com ondulações corrugadas, um índice de vazios de 97% e baixo peso específico. De acordo com a empresa, “os blocos são fabricados com diversas áreas específicas, e devido ao desenho e geometria próprios, não colmatam nem permitem a formação de canais preferenciais. É um produto de ex-celente relação custo/eficiência, obtida nas aplicações em que é instalado (filtros biológicos percoladores, re-atores biológicos submersos, aerados, etc.)”.

A GEA SR disponibiliza produtos cujas caracterís-ticas, desenho e manufatura são provas da constante preocupação em melhores resultados, sempre visando à facilidade de operação e baixos custos de instalação e manutenção. Tem vindo a contribuir em projetos na-cionais e internacionais, atendendo totalmente às ex-petativas de seus clientes. Atualmente a empresa esta em fase de implantação da ISO 9001:2008.

A Phytorestore Brasil é uma empresa brasileira com uma matriz francesa, especializada no tratamento de ar, água e solo com as plantas como principal agente despoluidor. Para isso, esta expositora da Fenasan 2012 utiliza uma tecnologia patenteada denominada Jardins Filtrantes®, para despoluição sustentável do meio am-biente, agregando paisagismo às suas soluções, com o objetivo de restauração ecológica sempre se apoiando na biodiversidade local.

De acordo com Arnaud Fraissignes, gerente geral da empresa, os Jardins Filtrantes® podem ser usados em efluentes industriais agroalimentares, químicos, de cosméticos, siderúrgicos, etc; em lodo proveniente de estações de tratamento de efluentes, de tratamen-to d’agua, bem como em esgoto bruto de municípios, bairros e pequenas comunidades (hotéis, resorts, con-domínios e similares).

jArdins FiltrAntes como Agente despoluidor

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A empresa Hemfibra, expositora da Fenasan 2012, é pioneira no país na produção de Estações Compactas em plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV). De acordo com os seus dirigentes, são oferecidas soluções personalizadas e economicamente vantajosas, para qualquer tipo de água e de efluentes líquidos domésti-cos e de uma ampla gama de esgotos industriais; com diagnóstico e desenvolvimento de projetos, implanta-ção de atualização, adequação tecnológica e amplia-ção de ETAs e ETEs.

Entre a sua linha de produtos, o destaque são o Ecofiber e Ecofiber Master, “direcionados ao tratamen-to de efluentes domésticos em empreendimentos de maior porte ou em residências individuais, propiciando uma economia de água em até 30%.”, afirma o co-ordenador de vendas da empresa, Marcel Diniz, que

ainda acrescenta: “o Ecofiber Master, por apresentar um tratamento anaeróbio e aeróbio, além de câmara anóxica, é capaz de remover nitratos, possibilitando a utilização do efluente em sistemas de reúso e uma considerável economia de energia”.

estAções compActAs em plástico reForçAdo

acontece no setor

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rem operado em vazio. Mesmo com desgaste não param de bombear, facilitando a programação das manutenções preventivas. Ocupam metade do espaço comparado com uma bomba de fuso.Não requerem desmontagem da tu-bulação para manutenção e não precisa que a bomba seja retirada do local e enviada para a oficina. Podem operar nos dois sentidos (Ideal para sistemas com MBR, pois tra-balham succionando e depois lavando as membranas).Po-dem operar submersas, dentro de uma lagoa, succionan-do o lodo.Têm grande capacidade de sucção, pode gerar um vácuo de 9 mca. E são autoescorvantes”.

Já as atribuições aos seus maceradores são redu-ção do tamanho de fibras, cabelos e materiais gros-seiros, protegendo os equipamentos a jusante; per-missão de manutenção na linha sem desmontagem da tubulação e retenção dos materiais mais pesados que não podem ser triturados (materiais metálicos como parafusos, por exemplo).

acontece no setor

válvulAs de controle c-vAlves

De acordo com a empresa Invel, expositora da Fenasan 2012 e distribuidora das válvulas de controle para água da empresa israelense C-Valves, “o produto incorpora alta tecnologia, tem reconhecimento internacional e é utilizado em várias aplicações no controle de pressão e de vazão, assegurando proteção muito superior para as redes de distribuição de água e para instalações, com-parativamente com tradicionais válvulas de controle”.

A concepção geométrica “Linear Flow Control” assegura “excelente desempenho e vantagens ope-racionais como: maior capacidade de vazão;maior durabilidade da rede de água, das instalações e de equipamentos;redução de danos e ocorrência de vaza-

vogelsAng

Na Fenasan 2012 a Vogelsang apresentará a sua linha de bombas de lóbulos HiFlo® para lodos e permeados de MBR além dos maceradores RotaCut® para resolver problemas com fibras e cabelos em ETE’s.

De acordo com a empresa, “suas bombas podem ope-rar em vazio, não “queimam” as partes de borracha por te-

mentos, propiciando redução de perdas, e manutenção simples e rápida, menos freqüente e de baixo custo”.

A Invel informa ainda que “as válvulas podem operar comandadas por piloto de 3 vias, com variadas aplicações: redução de pressão, regulagem de vazão, controle de altitude/nível, sustentação de pressão, alívio e várias combinações de controle em uma úni-ca válvula. As aplicações para grandes diâmetros têm concepção modular, de válvulas em paralelo, chama-da Multivalve, que dispensa as habituais construção de by-pass para manutenção e ajustes; permite con-tinuidade de operação em caso de eventual interrup-ção de uma das válvulas e reduz o inventário, pela padronização dos módulos”.

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matéria sabesp

A importânciA dA estruturAção pArA enFrentAr novos desAFios - A sAbesp se prepArA pArA novos negÓcios

introduçãoDos 645 municípios do Estado de São Paulo, 365 são operados pela Sabesp. Os serviços de saneamento nos demais 280 municípios são em grande maioria operados por serviços au-tônomos municipais. Muitos desses serviços têm baixa capacidade de gestão e de realização de investimentos. Além disso, há grandes di-ficuldades de elaborar projetos e obter finan-ciamentos. Apesar disso, determinados muni-cípios optam por não transferir os serviços de saneamento à Sabesp.

O foco principal da área de novos negócios é, portanto, o desenvolvimento de negócios es-truturados em modelos que permitam a partici-pação do Estado de São Paulo na melhoria do saneamento ambiental, respeitando, porém, as características e a cultura de cada um dos Mu-nicípios.

Do ponto de vista empresarial pretende:i. (gerar novas receitas para auxiliar no esfor-

ço de universalização dos serviços de sanea-mento no Estado de São Paulo;

ii. ampliar a base operada da Sabesp no Estado de São Paulo, atuando em parceria com o se-tor privado em municípios que não desejam conceder os serviços à Sabesp;

iii. atrair capital e tecnologia privados para via-bilizar investimentos de interesse público (em especial para indústria e comércio), sem one-rar demasiadamente o orçamento da Sabesp.

o AmbienteA evolução do mercado de saneamento já é ex-pressiva e para os próximos anos deverá ser ab-solutamente notável. Em 2010 venceu o prazo para que os municípios adaptassem seus con-tratos firmados sob a égide do PLANASA (Pla-no Nacional de Saneamento) ao novo marco

regulatório (Lei 11.445/07). Essa obrigação está multiplicando oportunidades para operação em municípios dentro e fora do Estado de São Paulo, tendo em vista que muitas Prefeituras podem optar por privatizar os serviços públicos de água e esgoto.

A multiplicação de oportunidades em sa-neamento e as possibilidades de parcerias com empresas privadas nacionais e estrangeiras têm gerado uma oferta bastante grande de bons pro-jetos para a Sabesp

Os negócios que se abrem atualmente para o “core business” da Sabesp, qual seja água e es-goto (A & E), são basicamente provenientes das Prefeituras que tem a concessão e enxergam, em geral, os serviços que vêm prestando como:d. Fonte de prejuízoe. Fonte de atrito com os munícipes, órgãos de

controle ambiental, tribunal de contas do Es-tado, Ministério Público.

f. Impedimento ao desenvolvimento de turismog. Gastos exagerados com saúde

Como motivos para que o serviço seja defici-tário pode-se citar a escala, a não especialização, a intermitência dos investimentos, a má gestão por falta de atualização, etc.

Outro fator considerável é a inadimplência consentida ou forçada pela população que não entende que, se não pagar prejudicará a presta-ção do serviço e a si próprio.

Por outro lado surge a possibilidade de priva-tizar esse ativo através da concessão.

Com isso a prefeitura pode obter recursos provenientes da Outorga, transferir a responsa-bilidade da prestação dos serviços, melhorá-los exigindo investimentos regulares, ter uma opera-ção mais competente.

Essa decisão, no entanto, não é tão simples

por sérGio luiz Gonçalves pereira

Sérgio Luiz Gonçalves

Pereira é mestre em Engenharia

Industrial, Professor da Escola de

Administração de Empresas de São

Paulo da FGV. Desde abril de 2011 é o

Superintendente de Novos Negócios da SABESP. Foi Diretor

Administrativo e Financeiro da CPTM

- jan 07 a jan 11; Diretor Presidente da DERSA - jul 98 a abr 03; Diretor

Financeiro e de Relações com o

Mercado da Telebrás - fev 95 a jan 98; Diretor Financeiro

do Pão de Açúcar - de set 80 a jan 95.

Foto: Gabriel Bonamichi Goes

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e clara. A privatização ainda não é bem vista pela população, há o receio que com o contrato a ser fir-mado. O controle do prestador de serviços pode não ser fácil e conduzir a dificuldades com a população. Em geral, o privado está ligado a grandes empreitei-ras que, notadamente, tem apoio em diversos seto-res da sociedade, inclusive no parlamentar munici-pal, estadual e federal, que, em alguns casos, não tem compromisso com o bem estar público.

Para o privado a operação do sistema não encontra todos, ou pelo menos a maioria dos entraves que em-presas públicas enfrentam.

A Sabesp tem enormes dificuldades burocráticas pautadas na legislação e no atendimento aos diversos órgãos de controle, mas tem também inúmeras vanta-gens que lhe dão condições de competir.

É falso dizer que a Sabesp tem tarifas fora de competição.

A Sabesp deve comparar suas tarifas com as pra-ticadas/pleiteadas pela iniciativa privada, não com as dos órgãos municipais que são deficitários porque subsidiam as tarifas, especialmente para o pessoal de mais baixa renda.

Os editais de concessão de serviços de saneamento municipais, que exigem desconto sobre a tarifa vigen-te, investimentos, pagamento de outorga, metas de melhoria nos serviços, sendo a tarifa significativa-mente mais baixa que as da SABESP estão sujeitos a gerarem uma situação de “vazio“ na licitação ou uma solicitação, muito em breve, de reequilíbrio econômico financeiro do contrato que, se não aceito, como seria a boa pratica, poderá levar a sérios transtornos e até a interrupção do contrato pelo não cumprimento das metas de saneamento.

A iniciativa privada lançou-se com grande força no mercado de saneamento porque pode escolher onde operar e há uma enorme diferença de rentabilidade entre cidades, regiões, áreas, dependendo de inúme-ros fatores como disponibilidade hídrica, concentração populacional, conscientização dos habitantes, nível de educação, forças políticas locais, interesses políticos.

É preciso lembrar que se a taxa mínima de retorno aceitável pela Sabesp está em torno de 8% aa, para a iniciativa privada está em 20%. Ela tem muito mais fle-xibilidade para estruturar a prestação de serviço para obter esse retorno desejado.

Em 2007, o Governo do Estado de São Paulo am-

pliou o campo de atuação da Sabesp, conferindo-lhe maior flexibilidade através da Lei Complementar Esta-dual nº 1025/07. O art. 63 desta Lei autoriza a Sabesp a:

■ prestar serviços de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas, bem como serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;

■ planejar, operar e manter sistemas de produção, armazenamento, conservação e comercialização de energia, para si ou para terceiros;

■ exercer as atividades integrantes do seu objeto so-cial diretamente, por intermédio de subsidiárias e/ou associada a terceiros no Brasil e no exterior;

■ participar do bloco de controle ou do capital de outras empresas, bem como constituir subsidiárias, as quais poderão associar-se, majoritária ou mino-ritariamente, a outras empresas;

■ formar consórcios com empresas nacionais ou estran-geiras, inclusive com outras companhias estaduais.

De uma forma mais específica propõe-se que os novos negócios atendam preferencialmente à maioria dos seguintes critérios de seleção para delimitar sua atuação no amplo espectro de oportunidades atual-mente em crescimento: i. manutenção e expansão dos mercados, visando à

universalização de serviços de saneamento básico em linha com o planejamento estratégico da Com-panhia;

ii. rentabilização dos ativos da Companhia e valoriza-ção da marca;

iii. aproveitamento de sinergias operacionais e de ga-nhos de escala e escopo com estruturas existentes;

iv. realização de investimentos com baixo risco e que gerem externalidades sociais positivas, sem preju-ízo da sustentabilidade financeira da Companhia no longo prazo, tomando em conta o custo mé-dio ponderado de capital da Companhia (weighted average cost of capital);

v. equacionamento de dívidas por meio de associa-ções e parcerias, com foco nos municípios permis-sionários;

vi. sustentabilidade ambiental;vii. busca de autossuficiência energética.

Na Região Metropolitana de São Paulo, a Área de Novos Negócios apoia as Unidades de Negócio na busca de soluções que permitam equacionar os cré-

matéria sabesp

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ditos da Sabesp com os municípios permissionários e, sempre que possível, retomar parcial ou integralmente a operação dos serviços de água e esgoto, mediante diferentes modelos societários e financeiros, sobretu-do em áreas rentáveis e ambientalmente críticas. Além disso, deverá propor uma estratégia para comercializa-ção de produtos e serviços.

Em todos os municípios operados pela Sabesp, a Área de Novos Negócios deverá apoiar as Diretorias operacionais e suas Unidades de Negócio no desenvol-vimento de ações ligadas às novas atividades previstas pelo Artigo 63 da Lei da ARSESP.

Nos municípios não operados pela Sabesp locali-zados no Estado de São Paulo, além da tentativa de viabilizar o fornecimento de produtos e prestação de serviços, a Área de Novos Negócios apoia as Diretorias operacionais e suas Unidades de Negócio na participa-ção de licitações que viabilizem:i. a assunção da operação dos serviços de água e es-

goto direta ou indiretamente pela Companhia;ii. o desenvolvimento das novas atividades previstas

no artigo 63 da Lei da ARSESP.

Nos demais estados do país, nesse primeiro mo-mento, a Área de Novos Negócios além dos acordos de cooperação técnica e celebrados, sempre que possível,

promover a venda de serviços e produtos, por exem-plo, a Sabesp fechou contrato específico de venda do Aqualog para a CESAN de Vitoria (ES), a prestação de serviços de redução de perdas e o planejamento do sis-tema de água para a CASAL, em Maceió (AL) no âmbito de um convênio mais amplo de cooperação.

Em outros países, a Sabesp atua através da Superin-tendência de Novos Negócios no Panamá e Honduras, prestando consultoria em contrato financiado pelo BID.

Destaquem-se três aspectos importantes acerca da internacionalização da Sabesp: 1) é razoável supor que o crescimento de qualquer empresa do porte da Sabesp exija algum grau de internacionalização. Quan-do se considera a experiência das grandes empresas de saneamento em outros países, observa-se o gran-de percentual da receita proveniente de atuação fora de seus países de origem; 2) Embora haja atualmente uma considerável pressão para que a Sabesp partici-pe de empreendimentos no exterior, entende-se que o desenvolvimento externo deve ser realizado no longo prazo; 3) Considerando-se que boa parte dos seus fi-nanciamentos tem origem no exterior, é conveniente ter-se também receitas no exterior, como “hedge”.

Atualmente, a Sabesp administra os contratos de Novos Negócios, informados no quadro I, além de um grande número de negócios em perspectiva.

noME oBjETo ModALIdAdE ESTAdoValow do Contrato

R$*1000Parte da Sabesp

R$*1000

Concessões em operações

Mogi Mirim Esgoto SPE SP 285.300 102.708

Mairinque Água e esgoro SPE SP 382.400 114.720

Castilho Água e esgoro SPE SP 109.700 32.910

Andradina Água e esgoro SPE SP 313.800 94.140

Assessorias

Cuidad de Panamá (Panamá) Planejamento e perdas Contratação direta EXT 16.784 5.035

Honduras (C. Rica) Planejamento e perdas Contratação direta EXT 4.395 1.318

Casal I Planejamento e perdas Contratação direta AL 25.008 25.008

Barro Alto Plano de Saneamento Contratação direta GO 500 500

Cesan (Aqualog) Automatização Contratação direta ES 1.266 1.266

Aproveitamento energético

PCH (Guarau e Cascata) Energia Elétrica Contratação direta SP 21.202 21.202

ToTAL 1.091.700 273.631

matéria sabesp

quAdro i - AtividAdes dA tn em 2011: AdministrAção de contrAtos

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A equAção FinAnceirAA necessidade de atender adequadamente às ex-pectativas dos usuários e da entidade reguladora externa, aliada à crescente capacidade de pressão por parte de ONGs e do Ministério Público, implica a realização de investimentos vultosos para universa-lização do acesso aos serviços de saneamento básico, bem como para a preservação e utilização eficiente de recursos hídricos.

Há que se observar que, associado a essa demanda, a Sabesp enfrenta um cenário caracterizado por:

■ atuação em ambiente competitivo; ■ maior poder de barganha dos Poderes Concedentes; ■ exigência de taxa de retorno para o capital inves-

tido superior aos retornos médios obtidos em in-vestimentos tradicionais (água e esgoto) realizados pela Companhia no Estado de São Paulo;

■ não onerar o fluxo de caixa da Companhia, alocan-do para esses novos negócios parcela relevante dos recursos financeiros atualmente gerados pelas ati-vidades operacionais da Companhia;

■ não afetar de forma relevante a capacidade de endividamento da Companhia, seja por meio de obtenção direta de financiamento em nome da Companhia ou através da prestação de garantias em obrigações de terceiros, a fim de viabilizar esses novos negócios;

■ não comprometer recursos humanos e técnicos em patamar que prejudique o ritmo de universalização dos serviços de saneamento básico no Estado de São Paulo, em linha com o planejamento estratégi-co da Companhia.

■ O que conduz à necessidade de : ■ obtenção de novas fontes de receitas e redução de

custos; ■ criação de soluções ambientais de forma a respon-

der a um mercado crescentemente sensível a ques-tões de sustentabilidade;

■ aquisição de know-how e tecnologia para atuação em áreas estratégicas (p.e., disposição do lodo de ETEs);

■ preservação de recursos hídricos.

Novos Negócios é a porta para tais requisitos, na medida em que abre contatos, acolhe novas ideias e tecnologias com potencial ganhos no curto e médio prazos, associa-se a empresas inovadoras e com ativos de interesse para o atual sistema de agua e esgoto.

Hoje a Sabesp associa-se a 5 prefeituras do Alto Tiete para o tratamento de resíduo sólidos e vai buscar tecnologia na Ásia e Europa em projeto pioneiro.

A Sabesp vem sendo altamente demandada para auxiliar as prefeituras com esse tipo de problema que tornou-se critico, inclusive pelas restrições a aterros.

A Sabesp praticamente duplicou o seu patamar de investimentos no triênio 2007-2009, se comparado ao triênio anterior, e manterá esse ritmo até 2018 quan-do pretende ter universalizado os serviços de água e esgoto em sua base operada no Estado de São Paulo, conforme estabelecido no planejamento estratégico aprovado pelo Conselho de Administração: “ser reco-nhecida como Empresa que universalizou os serviços de saneamento em sua área de atuação com foco no cliente, de forma sustentável e competitiva, com exce-lência em soluções ambientais.”

Como consequência, os recursos da Companhia estão sendo prioritariamente destinados para cumprir o plano de investimentos e novos negócios deverão também contribuir para a meta de universalização. Para isso, os novos negócios necessitam representar uma fonte adicional de receita e consumir o mínimo de recursos da Sabesp. Esse foi o sentido da decisão do Conselho de Administração da Sabesp que, ao aprovar o orientador de novos negócios, recomendou que não fossem comprometidos recursos substanciais em pro-jetos fora do Estado de São Paulo.

Portanto, é fundamental que a área de Novos Ne-gócios tenha condições de desenvolver novas fontes de financiamento para suas atividades.

Atualmente o mercado é doador e as instituições de fomento permitem alavancagens excepcionais a ta-xas de juros convidativas

Um bom projeto com dinheiro de terceiros a baixo custo configura-se como uma oportunidade inescapável

Há que se observar diferenças entre o perfil dos projetos desenvolvidos pela Sabesp e aqueles de No-vos Negócios, e a consequente necessidade de criar um canal distinto de captação de recursos alinhado com o perfil dos investidores potencialmente interessados em novos negócios.

Como empresa pública e concessionária de serviços públicos, os investimentos da Sabesp têm como carac-terística o longo prazo de maturação e, por vezes, uma taxa de retorno menor, em especial no que diz respeito aos investimentos em coleta e tratamento de esgoto. Por outro lado, esses investimentos apresentam baixo

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risco, pois são garantidos pelos recebíveis de contas de água e esgoto cobradas dos usuários.

Os projetos de Novos Negócios, por sua vez, devem assegurar retorno superior ao custo médio ponderado de capital da Companhia. Além disso, é comum que tenham um prazo de payback mais curto.

Por outro lado, envolvem estruturas com maior ris-co, como contratos de performance ou que imponham exigências técnicas mais elevadas, em especial se os serviços forem prestados a grandes clientes privados.

Além disso, investimentos em setores como resídu-os sólidos, drenagem ou energia têm uma estrutura de riscos e retorno distinta daqueles em água e esgoto.

Há, portanto, uma distinção entre os perfis de pro-jetos relacionados à atividade principal da Sabesp, i.e. operação de sistemas de água e esgoto em Municípios onde a Companhia opera como delegatária do Estado de São Paulo e os perfis de projetos de Novos Negócios.

Como consequência, investidores que desejem in-vestir em negócios com um maior risco e maior retor-no ou em setores como resíduos sólidos, drenagem e energia, mas não se interessarem por negócios de água e esgoto poderão optar por investir em projetos de No-vos Negócios, investindo diretamente na SPE detento-ra do Novo Negocio.

Novos Negócios diversificará as fontes de financia-mento. A Sabesp, historicamente, vem captando recur-sos de determinados órgãos nacionais e internacionais de financiamento para custear seu plano de investi-mentos, dentre os quais se destacam o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e a Japan International Cooperation Agency.

Porém, os recursos dessas fontes são canalizados prioritariamente para os projetos relacionados à meta de universalização dos serviços de água e esgoto. Além disso, por vezes, o prazo para obtenção desses finan-ciamentos é relativamente longo.

Nesse sentido, a Sabesp vem fomentando parcerias público-privadas e locações de ativo, atraindo, assim, ca-pital privado para seus projetos e permitindo aos parcei-ros acessar recursos disponíveis apenas ao setor privado.

Novos Negócios oferecerá uma nova alternativa de captação de recursos para a Sabesp, pois permitirá acessar fontes de recursos que não podem ser aces-sadas atualmente, em especial as estruturas de finan-ciamento mediante venda de participação societária.

Como exemplo, vale citar os recursos do FI-FGTS (aci-ma mencionado), destinados à capitalização (equity) de empresas de saneamento, porem a SPE pode.

As estruturas de captação de recursos de projetos de novos negócios muitas vezes diferem das estrutu-ras de financiamento utilizadas pela Sabesp. Ao atuar em projetos tradicionalmente desenvolvidos pelo setor privado, a Sabesp tem grande dificuldade em se ade-quar a exigências e modelos de financiamento que não seguem o rito tradicional que a Companhia está acos-tumada a seguir e comuns na iniciativa privada.

A inserção de novos negÓcios nA sAbesp A criação da Área de Novos Negócios constitui pro-vidência necessária para adaptar a Sabesp aos novos desafios do setor de saneamento. Juntamente com as áreas de Assuntos Regulatórios e de Meio Ambiente, já criadas, e com a estratégia em curso de fortalecimento da pesquisa e desenvolvimento, a Área de Novos Ne-gócios da Sabesp compõe um conjunto de mudanças organizacionais visando adaptar a Empresa ao novo marco regulatório.

O Plano Estratégico da Sabesp situa NN em seu mais alto nível concorrendo diretamente para seu ob-jetivo central:

“Em 2018, ser reconhecida como empresa que uni-versalizou os serviços de saneamento em sua área de atuação, com foco no cliente, de forma sustentável e competitiva, com excelência em soluções ambientais”.

o ponto de vistA comerciAlOs modelos institucionais de novos negócios tam-bém diferem de forma substancial da maneira tradi-cional de atuação da Sabesp. Em função disso, algu-mas dificuldades são enfrentadas.

Do ponto de vista comercial, ao realizar licitações para compra de produtos e serviços, a Sabesp impõe aos seus fornecedores os termos e condições contratuais, bem como limites de preços a serem praticados. Não existe uma tradição de negociação dos termos comerciais.

Além disso, ainda que haja grandes clientes atendidos pela Sabesp, por terem sido os serviços de água e esgoto historicamente tratados como um monopólio natural, não há uma cultura disseminada de atendimento a grandes empresas e clientes. O foco principal são consumidores individuais da companhia. Esse cenário vem se alterando somente recentemente com a autorização para que a Sa-

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besp pratique uma política mais agressiva de preços para clientes que consumam acima de 500m3 por mês.

Juridicamente, os modelos de constituição de sociedades de propósito específico e a assinatura de contratos de performance ou que exijam da Sabesp o atendimento de elevadas exigências são pouco co-muns na Companhia. Tradicionalmente, a Sabesp figu-ra em contratos como cliente e não como fornecedora. A mudança dessa perspectiva exige uma adaptação por parte da empresa como um todo. Longas negocia-ções e produção de grande volume de contratos e do-cumentos, normalmente, são utilizados nos projetos de novos negócios, tentando ordenar um relacionamento futuro de 30 anos com Prefeituras e Sócios e de pelo menos 20 anos com Bancos e ainda de 5 anos com construtores/montadores.

A seleção de parceiros é, também, um movimento novo para a Sabesp e de alta importância, envolvendo estratégias de equilíbrio de poder em regiões, com-plementações financeiras, técnicas, e politicas. É ab-solutamente necessário ter-se claro o valor implícito de um parceiro e é preciso considerar ainda o quanto estamos transferindo de valor implícito para ele.

conclusãoO novo marco regulatório apresenta desafios, mas abre oportunidades para novas áreas e formas de atuação da Companhia. A área de Novos Negócios constitui importante instrumento para enfrentar tais desafios e aproveitar essas oportunidades de forma eficiente e com sucesso.

O aproveitamento dessas oportunidades se dá por meio da atuação nas áreas de água e esgoto, bem como nos novos setores que a Sabesp está autorizada a atuar, nos termos do artigo 63 da Lei da ARSESP.

A área de Novos Negócios permitiria assim: (i) a manutenção e expansão dos mercados, visando à universalização de serviços de saneamento básico em sua área de atuação; (ii) a rentabilização dos ativos da Companhia e valorização da marca; (iii) a geração de caixa e redução de custos para a Companhia; (iv) o aproveitamento de ganhos de escala e escopo com estruturas existentes; (v) o equacionamento de dívidas por meio de associações e parcerias, com foco nos mu-nicípios permissionários; e a (vi) formação de alianças estratégicas para a preservação de recursos hídricos e obtenção de tecnologia em soluções ambientais.

Os projetos envolvendo maiores investimentos por parte da Sabesp serão desenvolvidos, prioritariamente, no Estado de São Paulo. A venda de produtos e serviços teria uma atuação mais abrangente, podendo ocorrer em outros estados brasileiros e eventualmente no exterior.

A internacionalização da companhia será uma es-tratégia gradual e de longo prazo. No atual estágio, a Companhia está dando os primeiros passos neste sen-tido para o que a assinatura de termos de cooperação técnica pode ser funcional. A Área de novos negócios tem como importante característica a operacionaliza-ção da atuação da Sabesp em parceria com empresas privadas. Nesse sentido, o processo de seleção de par-ceiros e oportunidades por parte da Companhia estará sempre pautado em critérios técnicos objetivos.

A Área de novos negócios permitirá a diversificação das fontes de receita da Companhia e contribuirá para o cumprimento da visão de futuro da Sabesp de “em 2018, ser reconhecida como empresa que universalizou os serviços de saneamento em sua área de atuação, com foco no cliente, de forma sustentável e competiti-va, com excelência em soluções ambientais.”

A Sabesp é a quarta empresa do mundo em sane-amento.

Ë difícil verificar que uma grande corporação não tenha uma área ou uma empresa ou mesmo diversas empresas classificadas como Novos Negócios.

As ideias de “core business”, foco no negocio e objeti-vo inflexível, ao se ter presente o mercado global, a velo-cidade dos negócios e o avanço vertiginoso da ciência e tecnologia começam a tomar novo significado, perdendo parte de seu valor, que até bem pouco tempo atrás, era altíssimo na condução de uma grande empresa.

As oportunidades não podem ser perdidas. Admi-nistradores e empresas como um todo devem estar constantemente atentos para oportunidade. Isto é uma verdade antiga. Reconhecida de longa data e por isso verdade. Mas as oportunidades são fugidias e não estão disponíveis em geral com exclusividade para a empresa. Há que se ter primeiro faro para prospectar a oportunidade, em seguida visão para conformá-la, coragem e capacidade para desenvolvê-la, agilidade para remover obstáculos e sorte para atrair o sucesso.

Parecem ingredientes demais para o sucesso, mas a pratica tem demonstrado que há sinergia entre eles e que o processo de aproveitamento de oportunidades torna-se uma prática fascinante.

matéria sabesp

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Fenasan 2012 - Feira nacional de saneamento e meio ambientexxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

FenAsAn terá áreA AmpliAdA em 2012Promovida há 23 anos pela AESabesp (Associação dos Engenheiros da Sabesp), a Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) está consolidada como um dos maiores eventos mercadológicos do País e da América Latina, no setor de saneamento ambiental.

Em sua edição de 2012, programada para os dias 06, 07 e 08 de agosto, a Feira terá sua área ampliada e ocu-pará a extensão total do Pavilhão Branco do Expo Center Norte, em São Paulo – SP. Devido ao seu crescimento, em dois anos, sua área dobrou de tamanho (8.828 m², em 2010; 13.272 m² , em 2011 e 17.042 m², em 2012), para atender a demanda de público e de expositores.

De acordo com o presidente da AESabesp, Hiroshi Ietsugu, essa expectativa favorável é baseada em da-dos bem concretos, pois atualmente a Feira já conta praticamente com a totalidade de sua área de expo-sição ocupada. A motivação desta receptividade tem base no crescimento do setor e no grande aporte de investimentos em obras de distribuição de água, es-gotamento sanitário e manejo de resíduos, tanto por parte da esfera federal quanto por investimentos de grupos estrangeiros.

Já o diretor técnico da entidade, Reynaldo Young, observa que embora o Brasil esteja em condição de potência emergente e receba grandes incentivos para incrementos no setor, a falta de saneamento básico ainda se constitui como um dos maiores problemas do País. Em sua avaliação “ainda é preciso muito inves-timento em tecnologia para a aplicação do seu alto potencial na sua real necessidade. E na Fenasan, essas tecnologias são efetivamente mostradas pelas empre-sas fabricantes de equipamentos, gestoras de sistemas e prestadoras de serviços”.

Presidente da AESabesp, Hiroshi Ietsugu, e o diretor técnico da AESabesp, Reynaldo Young cumprimentam expositores na Fenasan 2011

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6 a 8 de agosto de 2012pavilhão branco do expo center norte - são paulo - sp

congresso nAcionAl de sAneAmento e meio AmbienteNos mesmos dias da Fenasan, será realizado o Con-gresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente, nos auditórios do próprio Pavilhão, , também de-nominado “XXIII Encontro Técnico da AESabesp”,

que é uma referência nacional em apresentação de trabalhos técnicos e debates sobre as políticas do setor, sob a coordenação do diretor cultural da en-tidade, Olavo Sachs.

Em 2012, o tema central é “Como prover o sanea-mento para todos”, que abrangerá palestras voltadas para inovações tecnológicas, eficiência energética; gestão empresarial e empreendimentos no setor; legis-lação e regulação; manutenção eletromecânica ; sus-tentabilidade, acesso a políticas públicas e preservação do meio ambiente; entre outros.

A AESabesp ainda faz um convite especial aos seus associados e parceiros, que sejam professores em escolas técnicas e de nível superior, para trazerem seus alunos para esse evento. Para os futuros profis-

sionais do setor técnico, estar nesse XXIII– Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é a opor-tunidade ideal para que o grande público conheça suas idéias e, por consequência, para a sua projeção profissional, pois as palestras são prestigiadas por formadores de opinião e por expoentes técnicos ex-tremamente qualificados dentro do setor de sanea-mento ambiental.

Durante os três dias de Encontro Técnico, será possível estabelecer uma “net work”, com a grande oportunidade de trocar conhecimentos com colegas de diversas empresas e órgãos de saneamento de todo Brasil e também do exterior, além de conhecer novos produtos e equipamentos para tratamento e abasteci-mento de água e esgotamento sanitário.

Apoio institucional

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIADE ENGENHARIA E AMBIENTAL

ANAAGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

BEJEC= 11M= 16Y= 18K= 32

CINZAK = 90%

Logo

COOPERATIVA DE CRÉDITOConselho Regional de Engenharia e Agronomia

do Estado de São Paulo

Pantone 368 C Pantone 541 C

Apoio institucional Fenasan

Fenasan - Feira nacional de saneamento e meio ambiente Horário: 13h às 20h (visitação gratuita para maiores de 16 anos)congresso técnico aesabespHorário: 9h às 18h (participação mediante inscrições)

promotora: Associação dos Engenheiros da Sabespdata: 06 a 08 de agosto de 2012 local: Pavilhão Branco do Expo Center Norteendereço: Rua José Bernardo Pinto, 333 São Paulo - SP

mais informações: www.fenasan.com.brwww.aesabesp.org.br

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40 SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

Fenasan 2012 - Feira nacional de saneamento e meio ambientexxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

A AESabesp, desde 2008, vem adotando medidas para alinhar a Fenasan cada vez mais às políticas públicas de sustentabilidade, incluindo o plantio de árvores para mitigação dos gases do efeito es-

tufa, emitidos em decorrência da realização do evento.Em 2010, a AESabesp, através da Diretoria de

Projetos Socioambientais, ampliou suas ações para além do plantio de árvores, promovendo diversas atividades, que visam antes a redução da emissão, com o desenvolvimento do projeto Neutralização de Carbono, que a partir de agosto de 2011 teve sua marca concebida e registrada como ecoeventus AESabesp®, integrando a carteira de projetos socio-ambientais da Associação.

Para tanto, o projeto ecoeventus AESabesp® prio-riza ações voltadas à sensibilização e conscientização, visando contribuir para a percepção, compreensão e participação efetiva na melhoria da qualidade de vida local em sintonia com as urgências globais.

O Projeto ecoeventus AESabesp®, coordenado pela química Maria Aparecida Silva de Paula e pela advo-gada ambientalista Vanessa Hasson, é o alicerce de um programa de educação ambiental formal, adotado com intuito de mobilizar os participantes da Fenasan, maior

evento da América Latina no setor, que movimenta anualmente cerca de 12.000 pessoas.

As ações propos-tas no escopo do ecoeventus AESabesp® são mais de conscientização do que de quantificação do consumo de carbono. Por meio de uma linha pedagógica é demonstrado, a to-dos – expositores, fornecedores e visitantes – os benefícios alcançados pelas práticas de utilizar materiais susten-táveis nas montagens de estandes, diminuir a distri-buição de impressos, reduzir o uso de energia, consumir água com racionalidade, re-ciclar resíduos - com base no Programa 3Rs - Reduzir, Reutilizar e Reciclar, além de estimular o não fornecimento de materiais descartáveis, como copos, talheres, pratos e demais recipientes, sempre que possível.

Os expositores aderentes à causa, têm a oportunidade de concorrer ao Prêmio AESabesp. Os quesitos relativos à redução do uso de energia e con-

ecoeventus AesAbesp®: o nosso projeto neutrAlizAção de cArbono

o projeto ecoeventus aesabesp prioriza ações voltadas à sensibilização e conscientização, visando contribuir para a percepção, compreensão e participação efetiva na melHoria da qualidade de vida local em sintonia com as urGências Globais.

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6 a 8 de agosto de 2012pavilhão branco do expo center norte - são paulo - sp

sumo de água de maneira racional, também são acom-panhados pela AESabesp no sentido de medir a eficácia das ações promovidas durante o evento.

No decorrer dos três dias da Fenasan, essas práticas são continuamente estimuladas e, ao seu término, con-tabilizada a emissão de carbono com base na produção de resíduos, consumo de energia e meios de transporte utilizados pelos participantes.

Considerando que o transporte veicular é o respon-sável pela produção na cidade de São Paulo, por 78% da emissão dos GEE – Gases do Efeito Estufa, um dos

grandes destaques dentro das ações transversais deste projeto é o incentivo ao uso de trans-

portes alternativos e coletivos, tais como a carona solidária e o metrô.

Assim, como cortesia da AESa-besp, em favor da minimização da

emissão de carbono, são ofere-cidas vans, sistema ida e volta, com saída da Estação Tietê do Metrô ao pavilhão do evento.

O projeto se encerra com o plantio das árvores ne-cessárias para mitigação da emissão dos gases de efeito

estufa, originada durante as três fases do evento – mon-

tagem, realização e desmon-tagem – acrescentando-se um

percentual destinado a promover a recuperação ambiental de área

desflorestada.O ecoeventus AESabesp® pode e deve

ser replicado em qualquer tipo de evento, po-dendo ser chamado também de ecoeventus®. Conta

com a consultoria de pessoal altamente capacitado, para juntos promovermos cada vez mais ações desti-nadas à mitigação e adaptação às alterações climáti-cas, somando-se àquelas que vêm sendo praticadas por todo o mundo.

Para maiores informações entre em contato através do e-mail [email protected]

plAntio pÓs FenAsAn 2011, coordenAdo pelA equipe dA diretoriA de projetos socioAmbientAis dA AesAbesp.

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Fenasan 2012 - Feira nacional de saneamento e meio ambientexxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

novos conceitos pArA A premiAção do troFéu AesAbesp nA FenAsAn 2012O Encontro Técnico da AESabesp, juntamente com a Fe-nasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente), realizará a entrega do TROFÉU AESabesp aos exposito-res que alcançarem grandes destaques nos três dias do evento. Há 23 anos os prêmios são entregues em diver-sas categorias: Melhor Estande, Inovação Tecnológica, Atendimento ao Cliente, Destaque AESabesp - Fenasan e Destaque AESabesp - Encontro Técnico, constituindo-se num dos momentos mais esperados.

Contudo, a Associação dos Engenheiros da Sabesp - AESabesp desde 2008 vem se qualificando com questões vinculadas à OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, desenvolvendo suas atividades para atendimento a Lei 9790/99. E para atender a esta con-dição, os quesitos Melhor Estande e Destaque Fenasan foram integradas no Prêmio Ações do Projeto Ecoeven-tus AESabesp® .

Dessa forma, na edição da Fenasan 2012, a Comis-são de Avaliação do Prêmio utilizará critérios voltados às práticas de Sustentabilidade para premiação das empresas expositoras no critério Melhor Estande.

O tema do XXIII Encontro Técnico e Fenasan 2012, intitulado “Como prover o saneamento para todos?”, implica diretamente na “Minimização dos Resíduos” produzidos durante a sua realização, principalmente por fomentar a discussão e desafios de implementação da Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, onde foram estabelecidos, princípios, objetivos e instru-mentos para aplicação da mesma.

Além disso, os expositores/investidores terão a opor-tunidade de apresentar suas práticas desenvolvidas em suas empresas, que evidenciem as mudanças de com-portamento no mundo corporativo.

Sendo assim, foi definido para o Prêmio AESabesp 2012 justamente o tema “Minimização de Resíduos”, pelo qual a Associação terá a oportunidade de mostrar ao pú-blico as melhores práticas que retratam a questão de sus-tentabilidade por meio de seus expositores/investidores.

E dentro desse contexto, a AESabesp exercerá o seu papel no que tange a responsabilidade compartilhada na questão de sustentabilidade em um dos maiores evento da América Latina.

novidAdes do XXiii encontro técnico e FenAsAn em 2012

■ As empresas serão analisadas sem a consideração de seu porte econômico, possibilitando que todas as organizações participem do Prêmio AESabesp 2012.

■ Será dado apoio na orientação técnica, durante toda a fase de elaboração do formulário, a partir da inscri-ção até a data final de entrega do Formulário preen-chido. A equipe de apoio é formada por profissionais com experiência de sucesso em implantação de Nor-mas e Premiações.

■ Premiação das empresas finalistas para a categoria: Destaque AESabesp – FENASAN, acrescentando pon-tuação para empresa que apresentar ações sustentá-veis no período de agosto/11 a julho/12.

■ Substituição do nome do critério Atendimento Téc-nico para Atendimento ao Cliente.

■ Conceituação dos critérios de Inovação Tecnológica.

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6 a 8 de agosto de 2012pavilhão branco do expo center norte - são paulo - sp

A AESabesp convida todos os expositores a enfrentar mais um desafio e, consequentemente, promover mais um salto no saneamento. A contrapartida a ser alcançada, sem dúvida ne-nhuma, será a possibilidade de apresentar as melhores práticas para atendimento a cada requisito do prêmio e corroborar para o avanço e disseminação de todos os participantes do evento. Surpreender tem sido a palavra chave a cada ano com a adesão dos expositores/investidores.

Portanto, para a edição 2012 do Prêmio AESabesp teremos: ■ Melhor estande 3 empresas que adotarem o maior número

de ações sustentáveis durante a realização da FENASAN, as-sociado à avaliação que permita evidenciar até que ponto as partes interessadas (sociedade, organizações ambientais, fun-cionários, organismos governamentais, acionistas e consumi-dores) estão tendo seus interesses incorporados ao negócio da empresa.

■ Inovação tecnológica 3 empresas que apresentarem novas tecnologias.

■ Atendimento ao cliente 3 empresas que melhor atenderem os visitantes da feira.

■ Destaque Aesabesp - Fenasan 1 empresa que apresentar os melhores resultados de ações sustentáveis no período de agosto/11 a julho/12.

■ Destaque Aesabesp - encontro técnico a Unidade de Ne-gócios da Sabesp que apresentar o maior número de tra-balhos técnicos.

O sucesso da próxima edição dependerá do grau de criati-vidade e desafio que cada empresa puder apresentar e com o apoio de todos para fazer a diferença no saneamento.

A empresa Higra Industrial foi a detentora do Prêmio “Destaque Sustentabilidade”, em 2011, categoria que não será mais específica, porque o conceito sustentável irá prevalecer também nas outras categorias de premiação.

empresAs premiAdAs nAs trÊs últimAs edições

edição 2011 ■ Melhor estande: Amanco Brasil, Glass Bombas e Vál-

vulas e Hidrosul Máquinas Hidráulicas. ■ Inovação tecnológica: Degrèmont Tratamento de

Águas, Kanaflex Indústria de Plásticos e Wastec Brasil. ■ Melhor atendimento técnico: Enops Engenharia,

Novus Produtos Eletrônicos e Semco Equipamentos Industriais

■ Destaque Aesabesp Fenasan 2011: B. & F. Dias Indústria e Comércio.

■ Destaque sustentabilidade: Higra Industrial. ■ Destaque Aesabesp encontro técnico: Unidade de

Negócio da Regional Metropolitana Leste, da Sabesp

edição 2010 ■ Melhor estande: Amanco Brasil, Amitech Brasil, ITT

Water ■ Inovação tecnológica: Higra Industrial, Saint-

Gobain Canalização, Valloy Válvulas e Acessórios ■ Atendimento técnico: Guarujá Equipamentos para

Saneamento, Grundfos do Brasil, Tree-Bio Soluções ■ Destaque Aesabesp Fenasan: Ilha Sindesan ■ Destaque Aesabesp sustentabilidade: B&F Dias

Indústria e Comércio ■ Destaque Aesabesp encontro técnico: Unidade de

Negócio da Regional Metropolitana Norte, da Sabesp

edição 2009 ■ Melhor estande: Bugatti Brasil Válvulas, Glass Ind.

Com. Bombas Centrífugas e Equipamentos e Valloy Indústria e Comércio de Válvulas e Assessórios.

■ Inovação tecnológica: Amanco Brasil, Centroprojekt do Brasil e Digimed.

■ Atendimento técnico: Edra Saneamento Básico Ind. e Com., Emec Brasil Sist. Tratamento de Água e Hidro-sul - Máquinas Hidráulicas Hidrosul.

■ Destaques Aesabesp: Higra Industrial, ITT Brasil e Saint-Gobain Canalização.

■ Destaque voltado ao tema “sustentabilidade”: Imperveg Poliuretano Vegetal.

■ unidade de Negócio sabesp: Unidade de Negócio de Produção de Água Metropolitana – MA.

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44 SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

Apresentamos o projeto “Sonho de Presente” de autoria do nosso associado Elio Souza da Silva, que visa instruir pais sobre como transformar seus sonhos em expressão de amor, em orientação para valores e em visão de futuro e grandeza para os seus filhos, visando gerar um impacto positivo na formação da personalidade da criança. Mais detalhes sobre o projeto poderão ser obtidos pelo e-mail [email protected].

CONHEÇA NOSSA CARTEIRA DE PROJETOS

projetos socioambientais

Com uma linha educacional diferenciada no âmbito da agregação familiar, seu objetivo é preparar os pais, para passar valores construtivos aos seus filhos preparando- os para um futuro de boas e grandes realizações.

Desenvolvido por meio de uma oficina, o projeto busca estimular os pais a definir o que eles sonham que os filhos alcancem no futuro por meio da orientação para escreverem estes sonhos.

O projeto começou a tomar forma em 2008, quando o gestor do projeto e educador em valores e liderança, Elio Silva, construiu uma espécie de jogo de labirinto em uma instituição de ensino religioso, com o propósito de ensinar crianças a fazer “escolhas inteligentes”. A obedi-ência ou não aos pais era uma das perguntas, cujas res-postas indicavam os caminhos a seguirem. Constatou-se, então, que os filhos interessados em conhecer os gran-des sonhos que os pais tinham para eles. E esta foi uma das razões apontadas para “a valorização da obediência, quando estruturada com bons propósitos definidos”.

Assim, a estratégia prática utilizada visa: ■ Levar os filhos a conhecer o que os pais sonham

para eles; ■ Orientar pais a registrar os sonhos que podem se

tornar uma diretriz para a vida da criança; ■ Ensinar as crianças a sonhar e fazer projeções para

o futuro; ■ Motivar pais e construir uma nova perspectiva so-

bre a tarefa de educar filhos; ■ Melhorar o relacionamento entre pais e filhos; ■ Transmitir mensagem aos filhos, mesmo que os

pais estejam ausentes; ■ Conscientizar pais sobre a importância de sonhar

para inspirar os filhos; ■ Estimular e ajudar pais a expressar amor e benção

aos filhos;

■ Motivar pais a investir na educação dos filhos.

Além desta metodologia reflexiva e orientação sobre como escrever o “Sonho de presente”, a metodologia do projeto ressalta a importância da entrega e exposição visível do texto, já que estimula os pais a criar os filhos com visão de futuro, além de ser um fator de motivação para a árdua tarefa de educar filhos.

eQuIPe técNIcA: execução: Elio Souza da Silva (responsável e coordena-dor do projeto) Parceria: AESabesp

projeto “sonho de presente”

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45SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

Promovido pela Diretoria de Projetos Socioambientais, o curso intitulado “Estratégias para o Enfrentamento das Mu-danças Climáticas na Gestão dos Recursos Hídricos” ocorrerá nos dias 07 e 08 de agosto no XXIII Encontro Téc-nico – Fenasan 2012 - Pavilhão Branco do Expocenter Norte. O evento conta com a parceria do CCIAM – Climate Change Impacts Adaptation and Mitigation, Centro de Investigação da Universidade de Lisboa. A realização das aulas contará com a presença de instrutores estrangeiros atuantes junto ao IPCC e de especialistas do IAG/USP.

Direcionado aos profissionais Técnicos, Consultores e Gestores da área de saneamento e recursos hídricos, o programa contendo 16 horas abrange conceitos básicos relacionados às alterações climáticas; visa demonstrar as metodologias, casos de estudo e projetos internacionais diversos relacionados com adaptação às alterações climá-ticas, gestão de recursos hídricos e cheias; como também capacitar o profissional para a participação/ envolvimento com comissões e equipes de trabalho em projetos relacio-nados com adaptação às alterações climáticas.

Confira o programa e inscreva-se. I – Introdução às Alterações Climáticas;II – Cenários Climáticos e Modelação Hidrológica;III – Impactos e Vulnerabilidades;IV – Adaptação.O valor da inscrição será de R$ 995,00, poderá ser fei-

ta através do e-mail: [email protected].

O curso atualmente, conta com o apoio institucional da AESBE – Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais, ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento, PUC- SP - Pontifícia Universi-dade Católica de São Paulo e a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.

.

As diretoriAs de projetos socioAmbientAis e culturAl promoverão cursos nA FenAsAn 2012

A diretoria de Projetos Socioambientais participará do VIII Torneio Interpolos 2012 com a implantação do projeto ecoeventus® por meio da gestora Maria Apare-cida Silva de Paula Santos, coordenadora do Polo Cos-ta Carvalho e Centro, e Alessandra Buke (AESabesp), a implantação do projeto visa compensar o impacto causado pela realização do evento para a redução das

emissões de Gases de Efeito Estufa – GEEs, com o apoio da Diretoria de Polos e a Diretoria de Esportes, para a sua realização. Baseado em um programa de edu-cação ambiental, o projeto busca a sensibilização e conscientização para a prática de ações sustentáveis na diminuição do consumo de energia e reciclagem de material.

ecoeventus no viii torneio interpolos 2012

Promovido pela Diretoria Cultural da AESabesp, o curso de “diagnóstico de Perdas de Sistemas de Abaste-cimento de Água” será ministrado pelo Eng. Mário Au-gusto Baggio da empresa Hoperações - Consultoria em Gerenciamento Ltda, ocorrerá no dia 06 de agosto no XXIII Encontro Técnico – Fenasan 2012 - Pavilhão Branco do Expocenter Norte.

Seu conteúdo é direcionado aos dirigentes, gerentes/gestores e supervisores de empresas de saneamento e de seus prestadores de serviços e fornecedores.

Ao final do curso os participantes serão capazes de diferenciar o método de controle de perdas (doutri-na americana) do método de controle das causas das perdas (doutrina japonesa); aprenderão que, enquanto o Controle de Perdas foca o efeito, o Método de Con-trole das Causas das Perdas, consubstanciado no MASPP I – MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE PERDAS D’ ÁGUA I, foca as causas. Aprenderão também a identificar as causas fundamentais que provocam o efeito perdas d’água e elaborar planos de ação com vis-tas a trazê-las a níveis economicamente viáveis.

O valor da inscrição será para Associados - R$ 500,00 e não Associados – R$ 800,00. A mesma poderá ser feita através do e-mail: [email protected].

O curso atualmente, conta com o apoio institucional da ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços Muni-cipais de Saneamento e da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de Sapo Paulo.

Para maiores informações acesse o site www.aesabesp.org.br ou ligue para 11-3262-0484 com Alessandra.

Os cursos não tem fins lucrativos e, portanto, seus valores são bastante diferenciados do mercado e o investimento feito para ambos poderão ser pagos em até 2 (duas) parcelas, devendo ser quitadas até julho/2012. Em suas realizações estão incluídos os fornecimentos de material didático, “coffee break” e bolsa personalizada do evento.

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46 SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

SUSTENTABILIDADE

diA mundiAl dA águA

introduçãoO Dia Mundial da Água é celebrado anualmente em 22 de Março, como forma de focalizar a atenção sobre a importância da água doce e defender a ges-tão sustentável dos recursos hídricos do Planeta. Foi recomendado em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), e já no ano seguinte, a Assembleia Geral da ONU designou 22 de março de 1993 como o pri-meiro Dia Mundial da Água.

A cada ano, o Dia Mundial da Água destaca um aspecto específico da água doce. Em 2011, o objeti-vo foi para chamar a atenção internacional para os sistemas urbanos de água, principalmente o impacto da industrialização e o crescimento da população ur-bana, as incertezas provocadas pelas mudanças cli-máticas e os conflitos e as catástrofes naturais. Em 2010, a campanha foi dedicada ao tema qualidade da água, focando aumentar a conscientização sobre a manutenção de ecossistemas saudáveis e bem-estar humano e enfrentar os desafios da gestão da quali-dade da água. Veja os temas no quadro ao lado.

O tema escolhido para 2012 foi ÁGUA E SEGU-RANÇA ALIMENTAR. Considerando que há 7 bilhões

Vania Lúcia Rodrigues é engenheira

civil, doutora em Engenharia e atua

do Departamento de Gestão de Recursos Hídricos da Sabesp

Em 22 de março, o “Dia Mundial da Água” completou 20 anos. A data foi escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas) durante a conferência Eco-92, no Rio de Janeiro, para alertar para a escassez de água potável. Muitas ações foram oferecidas ao público pela Sabesp, como a exposição de um “Diamante de Gelo” no Metrô, visitas em suas unidades e diversas palestras, dentre as quais destacamos a da Eng. Vânia Lúcia Rodrigues, sobre “Água e Segurança Alimentar”, tema internacionalmente escolhido para reflexão em 2012

Ano TEMA

2011 Água para cidades

2010 Qualidade da água

2009 Águas compartilhadas (transfronteiriças)

2008 Água e saneamento

2007 Escassez de água

2006 Água e cultura

2005 Água para a vida 2005-2015

2004 Água e desastres

2003 Água para o futuro

2002 Água e desenvolvimento

2001 Água para a saúde

2000 Água para o século XXI

1999 Todos vivem a jusante (sobre inundações)

1998 Água subterrânea – um recurso invisível

1997 O Planeta Água – temos o suficiente?

1996 Água para cidades sedentas

1995 Mulheres e água

1994 Cuidar de nossos recursos hídricos é negócio para todos

águA e segurAnçA AlimentArpor vAniA luciA rodrigues

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47SaneaS fevereiro / março / abril | 2012

de pessoas no planeta para serem alimentadas e outros 2 bilhões são esperados até 2050, que a agricultura é, sem dúvida, a maior usuária de água potável, e que o Brasil tem uma das maiores disponibilidades hídricas do planeta, tem-se a importância desta discussão nos dias de hoje.

Segurança Alimentar consiste nos seguintes as-pectos: garantir o acesso continuado para todas as pessoas a quantidades suficientes de alimentos segu-ros que lhes assegurem uma dieta adequada; atingir e manter o bem-estar de saúde e nutricional de todas as pessoas; promover um processo de desenvolvimen-to socialmente e ambientalmente sustentável, que contribua para uma melhoria na nutrição e na saúde, eliminando as epidemias e as mortes pela fome. Esse conceito foi elaborado pela Cúpula Mundial de Ali-mentação, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (WHO) e realizada em Roma/Itália, em 1996.

Em que pesem as discussões sobre a quantidade de água que consumimos para viver, a pressão da produ-ção de alimentos sobre os recursos hídricos é imensa. Estatísticas dizem que cada um de nós bebe de 2 a 4 litros de água todos os dias, porém a maioria da água que “consumimos” está embutida nos alimentos que comemos e produtos que usamos. Produzir 1 quilo de carne bovina, por exemplo, consome mais de 15.000 litros de água. Os bens industriais utilizados pelo ho-mem resultam de produtos de diferentes naturezas, que, se reduzidos à quantidade de água utilizada na produção, resulta num consumo individual de 430 li-tros por dia.

Compatibilizar a garantia de acesso a alimentos e a pressão sobre os recursos hídricos exigirá esforços em todas as etapas da cadeia de abastecimento, desde os produtores até o pós-consumo, no sentido de gerar ações que resultem em economia de água e assegure comida para todos. Exigirá também esforços no geren-ciamento dos recursos hídricos, aí envolvidos os comi-tês de bacias hidrográficas, os órgãos governamentais e os próprios usuários. O setor de agricultura é o mais diretamente envolvido nesse debate, mas o problema vai bem além dele.

dAdos mundiAis sobre A FomeEm 2011, a FAO publicou seu último relatório sobre a fome, revelando que mais de um terço da mortalida-

de infantil no mundo relaciona-se à nutrição inade-quada e que 925 milhões de pessoas são subnutridas - quase um bilhão de pessoas que vivem em estado de fome crônica.

Fonte: Relatório O Estado do Mundo, 2011, Instituto Akatu.

AgropecuáriA no brAsil Em termos mundiais, a área alocada à produção agrícola é cerca de 1,532 bilhão de hectares, dos quais 18% (278 milhões de hectares) estão sob cultivo irrigado e respon-dem por 44% de toda a produção agrícola, enquanto que a agricultura de sequeiro responde pelo restante (Christifidis).

No Brasil, a base da produção agropecuária se de-senvolve em 220 milhões de hectares de pastagens e 62 milhões de hectares para as principais lavouras cultivadas, segundo dados da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais (ver quadro abaixo). A grande maioria das culturas se desenvolve de forma tradicional, isto é, de sequeiro. Atualmente, são utilizados 4,5 milhões de hectares com agricultura irrigada (ANA), representan-do menos de 10% da área plantada do país.

dISTRIBuIçãoÁREA

(milhões ha)%

Floresta Amazônica 350 41,1

Pastagens 220 25,9

Áreas protegidas 55 6,5

Culturas anuais 47 5,5

Culturas permanentes 15 1,8

Cidades, rios, lagos, estradas, etc 20 2,4

Florestas plantadas 6 0,7

Subtotal 713 83,8

Outros usos 37 4,3

Áreas não exploradas (disponível para a agricultura) 101 11,9

Total 851 100,0

Fonte: Minas Gerais, SMA, 2011

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A relação entre área plantada e produção agrícola é um indicador da eficiência do processo produtivo. Ob-servando dados brasileiros, tanto do setor de produção de grãos quanto da pecuária, depreende-se que a pro-dutividade agrícola das últimas décadas é crescente, mas que o motivo principal desse crescimento não é a expansão da área cultivada, significando, portanto, melhoria de outros fatores intervenientes no processo, irrigação entre eles.

Em se tratando de cultivo de grãos, a área plantada é da ordem de 50 milhões de hectares e essa área não cresceu significativamente nos últimos anos. Em 1990, o Brasil produziu 57,8 milhões de toneladas de grãos numa área cultivada de 37,9 milhões de hectares. Em 2010, a produção foi de 162,9 milhões de toneladas de grãos numa área de 49,9 milhões de hectares, ou seja, a produ-tividade por hectare mais que dobrou em 10 anos como pode ser visto na tabela abaixo, resultante de dados da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB.

Segundo o Coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José Garcia Gasques, o aumento da produtividade é gerado principalmente pela adoção de tecnologias, pelo melhoramento do processo de gestão e pela qualificação do agricultor (Agência Brasil).

A pecuária brasileira também exibe ganhos de pro-dutividade no mesmo período. Em 1970, a produção bra-sileira de carne bovina era de 20 quilos por hectare ao ano e a boiada ficava no pasto até seis anos para atingir o peso de abate; em 2000, a produtividade subiu para 34 quilos por hectare e o tempo no pasto passou para 24 meses ou menos. Alguns dados da produção pecuária do país podem ser vistos na tabela abaixo, gerada com dados do IBGE relativos ao Censo Demográfico de 2009.

A cada ano, a participação brasileira no comércio in-ternacional cresce significativamente em relação à média mundial, com destaque para a produção de carne bovina, suína e de frango. Segundo o Ministério da Agricultu-ra, até 2020, a expectativa é que a produção nacional de

carne bovina suprirá 44,5% do mercado mundial, a car-ne de frango terá 48,1% das exportações mundiais e a participação da carne suína será de 14,2% (http://www.agricultura.gov.br/animal/exportacao).

Para os próximos 40 anos, as projeções indicam que o Brasil deve aumentar sua produção atual de grãos em 88% e a de carnes em 98%. A colheita de grãos, estima-da em 159 milhões de toneladas para a safra 2011/2012, deve chegar a 299,5 milhões de toneladas em 2050. A produção de carnes, que em 2011 totalizou 26,5 milhões de toneladas, será de 52,6 milhões de toneladas, de acor-do com a previsão (Agência Brasil).

Em se tratando dos resultados da balança comercial, os números são muito positivos e dignos de louvor. En-tretanto, não se pode esquecer a água virtual que esta embutida em cada quilo de produto exportado. A soja e os cereais lideram a exportação de água virtual, mas a carne e o café também contribuem de forma significati-va (rodrigues, 2005)

Figura elaborada a partir de informações de “The green, blue and grey water footprint of crops and derived crop products”

águA e AgriculturAEstudos da Agência Nacional de Águas – ANA,

em 2011, sobre a situação dos recursos hídricos do país mostram que a irrigação é responsável por 47% da retirada total de água dos corpos hídricos do país,

SAfRAÁREA

x 1000haPRodução x 1000 ton

PRoduTIVIdAdE kg/ha

1976/77 37.318,9 46.943,1 1.258

1980/81 40.384,0 52.212,2 1,293

1990/91 37.893,7 57.899,6 1,528

2000/01 37.847,3 100.266,9 2,649

2010/11 49.919,0 162.957,9 3,264

Fonte: http://www.conab.gov.br. Acesso em 27/01/12.

PRodução PECuÁRIA – BRASIL 2009

Leite 29,1 bilhões de litros de leite

Produção de carne bovina 6,6 milhões de toneladas

Produção de carne suína 3,2 milhões de toneladas

Produção de ovos 2,4 bilhões de dúzias

Produção de frangos 4,8 bilhões de unidades

Rebanho bovino 205,3 milhões de cabeças

Rebanho bovino para abate 28,1 milhões

Rebanho suíno 38 milhões de cabeças

Rebanho suíno para abate 30,9 milhões de cabeças

Fonte: IBGE, censo 2009, citado por Minas Gerais.

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caracterizando o uso mais consuntivo, seguida pelo abastecimento urbano de água, que faz 26% da retira-da total. A área irrigada atual, por região hidrográfica, está apresentada na figura abaixo. Ao todo, somam 4,5 milhões de hectares de terras irrigadas, com potencial para expansão, mas o país tem possibilidades de ex-pandir essa área em até seis vezes.

Buscando identificar o potencial de agricultura ir-rigável do Brasil, a ANA realizou estudo considerando as exigências legislação ambiental e do código flores-tal. Segundo este estudo existe cerca de 110 milhões de hectares de solos aptos para a expansão agrícola, sendo 29,6 milhões de hectares aptos para agricultura irrigada, dos quais 2/3 concentram-se nas regiões nor-te e centro oeste (Cristofidis).

Os dados anteriores mostram que o Brasil pode expandir sua fronteira agrícola e tornar-se o “celeiro do mundo”. O país tem ainda 80 milhões de hectares para expansão da agricultura de sequeiro e 30 mi-lhões de hectares para expansão da agricultura irri-gada. Para manter sua posição de grande fornecedor de grãos e carnes para o planeta, não pode prescindir de água e solo em quantidade e qualidade adequa-das. Portanto, a preservação e o bom manejo dos re-cursos naturais é tarefa primordial para a segurança alimentar da população.

águA e segurAnçA AlimentArA discussão das políticas públicas de segurança ali-mentar e de recursos hídricos compreende alguns pon-tos que extrapolam as relações diretas entre produção de alimentos e consumo de água.

Um fator considerável para a segurança alimentar diz respeito ao efeito do poder aquisitivo sobre os há-bitos alimentares da população humana. É sabido que, com o aumento da renda, a composição da dieta varia,

tendendo ao consumo de alimentos mais complexos e industrializados, como ilustrado na figura abaixo. Quanto mais a dieta se distanciar dos produtos de base, mais água será necessária para a sua produção.

Fonte: Rabobank, 2005, citado por Roppa

Hoje, um terço dos solos agrícolas são usados na produção de alimentos consumidos diretamente pe-los homens e dois terços são usados na produção de ração animal, que posteriormente constituirão a dieta humana. Num cenário de expansão da pecuária decor-rente de aumento de renda e de crescimento da popu-lação, é de se esperar que a relação entre consumo de água para alimentação, por habitante, seja alterada em maior proporção.

Olivier De Schutter, Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, afirmou que aca-bar com a fome não depende exclusivamente da ca-pacidade mundial de produzir comida suficiente. Para muitas comunidades, as soluções se encontram em fa-zer melhor uso da comida produzida. Estudos sugerem que a melhor forma de assegurar que todos tenham comida suficiente é mudar o tipo de comida produzida e melhorar sua distribuição: menor produção de carne, uso de métodos agrícolas mais sustentáveis e maior produção de alimentos locais e regionais.

Deve ser lembrado ainda o desperdício na cadeia produtiva dos alimentos, pois junto com eles, a água usada para produzí-los fica perdida.

Finalmente, cabe ressaltar o que diz respeito ao ge-renciamento da água. Conforme preconizado na Polí-tica Nacional de Recursos Hídricos, o planejamento e a gestão por bacias hidrográficas são considerados como boas práticas no mundo inteiro, pois nelas o sistema socioeconômico se integra ao sistema natural. Desen-volvimento urbano e rural, ocupação do solo, energia, agricultura, piscicultura, represas, etc, são temas que

Fonte: Conjuntura dos recursos hídricos - ANA

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tem de ser discutidos no recorte territorial da bacia hidrográfica, permitindo a hierarquização de priorida-des, com avaliação da relação entre disponibilidade e demanda regionais para uso da água. Uma vez que a irrigação é o uso mais expressivo em termos de retirada de água da bacia, a alocação da água para a produção agrícola tem que ser discutida por todos os usuários envolvidos na mesma bacia, cabendo ao comitê da ba-cia hidrográfica identificar os usos preponderantes e definir aqueles considerados insignificantes em termos de retirada de água.

O planejamento em nível de microbacias é mais apropriado para avaliação e controle das interferên-cias das atividades agropecuárias no meio ambiente, sendo o primeiro passo para projetos de conservação do solo e da água. Segundo Robert Watson, diretor da Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciên-cia e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento, a agricultura “pode fazer mais do que apenas focar na produção. Pode ajudar a fornecer água limpa e a proteger a biodiversidade, e deve ser administrada de forma a manejar nosso solo de maneira sustentá-vel” (Instituto Akatu).

Tamanha importância já está retratada nos pro-gramas de pagamento por serviços ambientais. Estes consistem, em linhas gerais, na retribuição, em di-nheiro, pela conservação de matas ciliares nas pro-priedades rurais. É preciso amadurecer e expandir esses programas, garantindo a sua sustentabilidade financeira por longo prazo. Nesse ponto torna-se relevante a instituição de câmaras técnicas rurais nos comitês de bacias hidrográficas, para que essas questões possam ser abordadas com maior ênfa-se, discutidas e ponderadas por representantes dos diversos setores produtivos relacionados ao uso da água, em ambiente de gerenciamento de recursos hídricos.

Lidar com o crescimento da população, garantir o acesso a alimentos para todos e acabar com essa ver-gonhosa estatística de um bilhão de pessoas passando fome, requer mais que a gestão da alocação dos flu-xos e da qualidade dos recursos hídricos. Preservação e restauração de bacias hidrográficas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento do mercado agríco-la sustentável são fundamentais para a construção de politicas públicas de segurança alimentar e de recursos hídricos complementares e tolerantes.

reFerÊnciAs bibliográFicAs

Agência Brasil. Notícia: brasil deve aumentar produção de grãos e de carnes em mais de 80% em 40 anos. Danilo Macedo. Publi-cado em 31/12/2011 - 10h33. Disponível em http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-12-31/brasil-deve-aumentar-producao--de-graos-e-de-carnes-em-mais-de-80-em-40-anos Acesso em 01/02/2012.

Agência Nacional de Águas. ANA. conjuntura dos recursos hídricos no brasil: Informe 2011. Brasília, 2011.

Banco Mundial. relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2008. Agricultura para o Desenvolvimento visão geral. Wa-shington, DC, 2007. Disponível em wdronline.worldbank.org/worldbank/a/langtrans/28. Acesso em 04/02/2012.

Brasil. Cúpula Mundial Da Alimentação: cinco anos depois. rela-tório Nacional brasileiro, Resumo. Brasília, 2002. Disponível em www2.mre.gov.br/dts/cmafao11_resumo.doc. Acesso em 05/04/12.

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com-panhia Nacional de Abastecimento CONAB. Acompanhamento da safra brasileira-grãos. safra 2010/2011, Quarto levantamento, janeiro/2011. Disponível em http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/11_01_06_08_41_56_boletim_graos_4o_lev_sa-fra_2010_2011..pdf; Acesso em 04/02/2012.Brasil. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de Infraestru-tura Hídrica. Departamento de Desenvolvimento Hidro agrícola. Demetrios Christofidis. água: um desafio para a sustentabilidade do setor agropecuário. Série Irrigação e Água: I – 2007. Brasília, DF, 21 de novembro de 2008. Disponível em http://www.irrigacao.org.br/artigos/demetrios_agrianual.pdf . Acesso em 04/02/2012.

Christofidis, Demetrios. gestão dos recursos hídricos e os novos desafios da irrigação. In IV Simpósio Nacional sobre o Uso da Água na Agricultura e I Simpósio Estadual sobre Usos Múltiplos da Água. Passo Fundo, RS, 11 a 14 de abril de 2011. Disponível em http://downloads-de-eventos. l ivera.com.br/s imposio_das_aguas_2011/downloads/Gestao_Recursos_Hidricos_Novos_Desa-fios_Demetrios_Christofidis.pdf . Acesso em 07/02/2012.

Mekonnen, M.M.; Hoekstra, A.Y. the green, blue and grey water footprintof crops and derived crop products. Volume 1: Main report; De-cember 2010; Value of Water Research Report Series Nº. 47. Dispo-nível em http://www.waterfootprint.org/Reports/Report47-Water-FootprintCrops-Vol1.pdf. Acesso em 04/02/2012.

Minas Gerais. Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abasteci-mento. Perfil Do Agronegócio brasileiro. setembro de 2011. Dispo-nível em http://www.agricultura.mg.gov.br/files/perfil/perfil_brasil.pdf . Acesso em 06/02/2012.

Rodrigues, V.L. Agua virtual, um novo valor para balizar trocas. Rev. Engenharia Ano 61, n.560. Instituto de Engenharia, São Paulo, 2003. (www.brasilengenharia.com.br).

Roppa, L. Perspectivas da produção Mundial de carnes, 2007 a 2015. Disponível em http://pt.engormix.com/MA-pecuaria-corte/artigos/perspectivas-producao-mundial-carnes-t140/p0.htm. Acesso em 01/02/12

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Apoio institucional Fenasan

ANAAGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

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