revista principia n 14

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA PARAÍBA OPORTUNIDADES E TENDÊNCIAS

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Revista do IFPB - produção de professores, técnicos e alunos, não apenas do IFPB

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Page 1: Revista Principia N 14

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA PARAÍBA

OPORTUNIDADES E TENDÊNCIAS

Page 2: Revista Principia N 14

PRINCIPIA

Diretor-Geral João Batista de Oliveira Silva

Diretora da Unidade - Sede

Verônica Lacerda Arnaud

Diretor da UNED - Cajazeiras Dimas Andriola

Diretor de Ensino

Raimundo Nonato de Oliveira Furtado

Diretor de Relações Empresariais e Comunitárias Adriano Augusto de Souza

Diretoria de Pesquisa e Projetos Institucionais

Nelma Mirian Chagas de Araújo

Diretoria de Planejamento Claudiana Maria da Silva Leal

CONSELHO EDITORIAL M.Sc. Mônica Maria Montenegro de Oliveira (Presidente)

M.Sc. Claudiana Maria da Silva Leal (Vice-Presidente)

Membros: Dr. Augusto Francisco das Silva Neto

M.Sc. Carlos Alberto Fernandes de Oliveira Dr. Fausto Veras Maranhão Aires

Drª Francilda Araújo Inácio Dr. Jefferson Costa e Silva Dr. Lafayette Batista Melo

Dr. Kennedy Flávio Meira de Lucena Drª Maria Cristina Madeira da Silva

M.Sc. Mônica Maria Souto Maior Dr. Neilor Cesar dos Santos

Drª Nelma Mirian Chagas de Araújo Meira Dr. Paulo Henrique da Fonseca Silva Dr. Umberto Gomes da Silva Júnior

Secretárias Francilda Araújo Inácio

Maria Cristina Madeira da Silva

Comunicação e Divulgação Filipe Francelino de Souza Jerusa Farias de Souza

Adilson Luiz Silva

Jornalista Responsável Filipe Francelino de Souza (DRT/PB 1051)

Page 3: Revista Principia N 14

Revisão de Linguagem

Clécia Maria Nóbrega Marinho Furtado Élida de Oliveira Barros Pessoa

Maria do Socorro Burity Dialectaquiz Mônica Maria Montenegro de Oliveira

Digitação, Diagramação e Design Gráfico Aarão Pereira de Araújo Junior

Eldno César Mendes Pires Francisco Antonio Borges de Moura Wandilson de Souza Silva (Bolsista)

Documentação e Normalização Ivanise Andrade Melo de Almeida

Beatriz Alves de Sousa Gilcean Silva Alves

Maria Nilza de Sousa Marileuza Fernandes Correia de Lima

Corpo Revisor/Consultor ad hoc Professores Doutores e Doutorandos

Referée – Revista nº. 14

Augusto Francisco das Silva Neto (CEFET-PB) Claudiana Maria da Silva Leal (CEFET-PB)

Francilda Araújo Inácio (CEFET-PB) Jefferson Costa e Silva (CEFET-PB) Jimmy de Almeida Léllis (CEFET-PB)

Kennedy Flávio Meira de Lucena (CEFET-PB) Lafayette Batista Melo (CEFET-PB)

Maria Cristina Madeira da Silva (CEFET-PB) Maria do Socorro Burity Dialectaquiz (CEFET-PB) Mônica Maria Montenegro de Oliveira (CEFET-PB)

Mônica Maria Souto Maior (CEFET-PB) Maria das Neves Alcântara de Pontes (UFPB)

Neilor Cesar dos Santos (CEFET-PB) Nelma Mirian Chagas de Araújo Meira (CEFET-PB)

Omar Barbosa da Silva Júnior (CAGEPA) Paulo Henrique da Fonseca Silva (CEFET-PB) Umberto Gomes da Silva Júnior (CEFET-PB)

Reprodução

Coordenação de Comunicação e Reprodução Gráfica – CEFET/PB

CORRESPONDÊNCIA - PRINCIPIA Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba

Conselho Editorial – Gerência de Pesquisa e Projetos Institucionais (GEPPI) Av. 1.º de Maio, 720 – Jaguaribe - 58.015-430 - João Pessoa/PB

Fone: (83)208-3032 - Fax: (83)3208-3088 Site: www.cefetpb.edu.br/principia E-mail: [email protected]

Page 4: Revista Principia N 14

Catalogação na fonte – Conselho Editorial PRINCIPIA.

Ano 10, n. 14, 2006. – João Pessoa: Órgão de divulgação científica e tecnológica do CEFET-PB, 2006.

125 p. il. - quadrimestral ISSN 1517-0306 1. Educação Tecnológica – Periódico – Paraíba.

CDU 375.3(05)(813.3)

Os trabalhos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam, necessariamente, o ponto de vista do Conselho

Editorial e/ou da Instituição.

É permitida a reprodução parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.

Page 5: Revista Principia N 14

SUMÁRIO

Economia de Tráfego e Tempo em Aplicações Web Utilizando Técnicas Ájax Carlos Roberto Alves Rolim, Ênnyo José Barros de Araújo, Juliano César Tozzi..........09

Um Ambiente para Processamento Digital de Sinais Aplicado à ComunicaçãoVocal

Homem-Máquina Márcio G. Passos e Patric L. Silva, Silvana Luciene do N. Cunha Costa, Benedito G.

Aguiar Neto e Joseana M. Fechine...................................................................................25 • Condições de Ventilação Intra-Urbana e Correlações entre Atributos da

Morfologia Urbana e Variáveis Climáticas Homero Jorge Matos de Carvalho....................................................................................32 • Condutividade Hidráulica não Saturada de um Fragipânico Coeso Determinada

pelo Método do Perfil Instantâneo Hugo Orlando Carvallo Guerra; Rogério Dantas de Lacerda; Genival Barros Junior......48 • Degradação da Bacia Hidrográfica do Rio Cabelo e Os Efeitos ao Meio Ambiente Maria Sallydelândia Sobral de Farias; Vera Lúcia Antunes de Lima; José Dantas Neto,

Eugênio Parcelli Fernandes Leite; Antonio Ricardo Sousa Andrade...............................56 • Plantio da Mamoneira em Solo Artificialmente Compactado Adubado com Torta

de Mamona Fabiana Xavier Costa, Napoleão Esberard de Macedo Beltrão, Amanda Micheline,

Amador de Lucena, Liv Soares Severino.......................................................................61 • Propriedades Químicas dos Solos da Bacia Hidrográfica do Açude Namorado, PB Lucia Helena Garófalo Chaves, Iêde de Brito Chaves, Ana Carolina Feitosa de

Vasconcelos......................................................................................................................68 • Variabilidade Espacial da Água Disponível, Microbacia do Rio do Cabelo

(Município de João Pessoa; PB) Paulo Vidal Lima, Antonio Ricardo Santos de Andrade, Hugo Orlando Carvallo

Guerra...............................................................................................................................76 • Uma Metodologia para o Descarte de Resíduos Oxidantes Gerados em

Laboratórios de Análise de Solos Robson Fernandes de Farias, Cleiciane M. da Silva, Anna Paula V. de Siqueira e Silva,

Rita de Cássia P. de Souza...............................................................................................82 • O Curso de Licenciatura em Química do CEFET-PB: uma proposta de

syllabus/course design Maria Verônica Andrade da Silveira Edmundson, Mônica Maria Montenegro de

Oliveira.............................................................................................................................86 Língua - Sociedade - Cultura: uma relação indissociável

Maria da Salete Figueiredo de Carvalho, Clécia Maria Nóbrega Marinho Furtado, Maria do Socorro Burity Dialectaquiz, Maria das Neves Alcântara de Pontes..........................92

• Aplicação e Desenvolvimento de Atividade de Vídeo: relato de experiência de

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professores de inglês nos ensinos técnico e superior Marcus de S. Araújo, Mônica Maria M. de Oliveira, Rita de Cássia A. da Luz..............97

• Noite na Taverna: cópia com variações Francilda Araújo Inácio..................................................................................................101

COMUNICAÇÃO TÉCNICA

• Georreferenciamento: uma abordagem da lei 10.267/2001 sobre registro de imóveis rurais utilizando tecnologia GPS Aline Bezerra do Nascimento, Karla Lira de Souza.......................................................108

Redes de Distribuição de Conteúdo: replicação de objetos reduzindo a sobrecarga nos backbones da internet Anselmo Lacerda Gomes, Felipe Soares de Oliveira, Giuseppe Anthony N. Lima, Dênio Mariz Timóteo de Sousa.................................................................................................112

Normas para submissão de Artigos..................................................................................120

Page 7: Revista Principia N 14

EDITORIAL

O Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba, através do Conselho Editorial

apresenta à comunidade mais um volume da Revista PRINCIPIA.

Este periódico reúne um conjunto de artigos e comunicações técnicas, que expressam um

instrumento de consolidação e de viabilidade acadêmica em nível estadual/regional.

Indubitavelmente, o CEFET-PB desponta como uma referência em sua trajetória de inserção no

cenário brasileiro e busca ascender na escala QUALIS.

Estamos cientes de que a institucionalização da pesquisa implica transformações culturais no

CEFET-PB, uma vez que os resultados, às vezes, não são imediatos. Contudo, o resultado, que ora é

apresentado à comunidade científica, sinaliza o processo de construção de um novo desenho

acadêmico. Por isso, acreditamos no viver o sonho, que alimenta as ações de construirmos juntos,

relatos de experiências, construção de conhecimentos, produtores de saberes e práticas efetivamente

cidadãs.

Esperamos que a leitura dos textos possa contribuir para abrir novos caminhos ou indicar

rumos para o desenvolvimento de novos estudos e pesquisas, além do crescimento das organizações

brasileiras, em especial, às educacionais.

Para todos que trabalhamos numa mesma direção, faz-se necessária uma comunicação

eficiente a fim de divulgar os passos que queremos traçar, de forma a manter um binômio cidadão

participativo, e um conhecimento profissional que os novos tempos exigem.

Hoje, o ser humano tem necessidade de ser ouvido e, quando brindado com isso, sente-se

motivado a retribuir o gesto de solidariedade. Para tanto, o CEFET-PB, por meio da Diretoria de

Pesquisa e Pós-graduação, precisará constantemente rever suas práticas e contribuir para elucidação

dos seus professores-pesquisadores e parceiros.

A Revista Principia anuncia o novo que está por vir, “...e o futuro não é mais como era

antigamente.”

CONSELHO EDITORIAL

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006.

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Economia de Tráfego e Tempo em Aplicações Web Utilizando Técnicas Ajax

Carlos Roberto Alves Rolim1

[email protected]

Ênnyo José Barros de Araújo [email protected]

Juliano César Tozzi

[email protected] União dos Institutos Brasileiros de Tecnologia – UNIBRATEC

Resumo: O objetivo deste artigo é explicar tecnicamente o funcionamento do AJAX, com a construção de um exemplo prático, demonstrando os resultados obtidos nas pesquisas cientificas realizadas com tal implementação. Além disso, este trabalho visa fornecer embasamento teórico sobre esse novo método de desenvolvimento Web. São apresentados gráficos e dados estatísticos, os quais possibilitam a avaliação dos benefícios e limitações desse novo paradigma da programação Web, que vem apontando para o futuro do desenvolvimento das aplicações on-line. Mostra-se ainda como essa inovadora solução contribui com o estado atual da Internet, popularizada e conhecida sob o termo Web 2.0, que sumariza toda a nova estrutura da Web, bem como suas modificações e remodelagens tecnológicas e conceituais. Palavras-Chave: AJAX; Web; Desenvolvimento; Sistema; Web 2.0; Internet.

Abstract: The main objective of this paper is to explain technically the working of AJAX, with the construction of a practical example, showing the results obtained by the scientific researches held with such implementation. Besides, this work aims to give theoretical basis about this new method of Web development. Graphics and statistics data will be presented, which make possible the evaluation from the benefits and limitations of this new paradigm of Web programming, that indicates the future of the development of on-line applications. Yet, it has been showed how this innovative solution contributes to the actual state of internet , popular and well-known under the term Web 2.0, which sums up all the new Web structure, as well as its changes and technological and concepts remodels. Key-Words: AJAX; Web; Development; System; Web 2.0; Internet. 1. Introdução

O modelo atual de negócios e de comercialização no Brasil, como em qualquer outro país, exige cada vez mais agilidade e, consequentemente, resultados instantâneos. Informação consistente e atualizada é a chave para àqueles que desejam estar sempre um degrau acima dos seus concorrentes.

É notável a crescente procura das empresas por novos métodos de comunicação e de interação com os seus clientes e, com certeza, a Internet apresenta-se como a melhor opção para esse tipo de integração. No ambiente empresarial, adotar um software baseado na Internet significa otimizar o tempo e os custos com a instalação do sistema em

cada estação de trabalho, o que implica em um benefício especial: a redução de custos com manutenção. Com o advento de tecnologias capazes de tornar a utilização de sistemas on-line tão simples e dinâmicos quanto às aplicações desktop, observa-se, dia após dia, o aumento de novos softwares completos atuando na Web.

Há dois anos, as aplicações Web eram sinônimos de lentidão, desorganização e insegurança, além de serem soluções pobres em dinamismo e interatividade. Tal afirmação é perfeitamente compreensível, tendo em vista que a grande maioria dos sistemas on-line construídos até hoje, foram desenvolvidos de forma digamos, irregular. Inúmeras são as tecnologias disponíveis para o desenvolvimento Web, porém, poucos as utilizam

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corretamente. É inegável que a demora na navegação de algumas aplicações Web, na grande maioria dos casos, é fruto do modo como essas páginas foram projetadas e construídas. Segundo Isabel (2006) “a lentidão de páginas em websites muitas vezes é 100% culpa de um código HTML desorganizado e a comunicação falha com os servidores”. Não se deseja que o usuário tenha um conhecimento profundo sobre acessibilidade e usabilidade; espera-se, sim, que a interface apresentada seja a mais intuitiva possível para o usuário e que, apenas, preocupe-se em atingir seu objetivo frente àquele site, com menos cliques e obtendo informações necessárias seguindo uma seqüência lógica. A Web deve fortalecer e não frustrar.

O uso de padrões no desenvolvimento e a adoção de novas técnicas de programação Web, como o AJAX, vem quebrando esses paradigmas que assolam as aplicações para Internet. Em paralelo, a forma como os sistemas são projetados, também, passa por mudanças técnicas e conceituais. A chamada Web 2.0 altera não somente a camada de apresentação ao cliente final, mas também a forma como os serviços dessas aplicações são disponibilizados, oferecendo inovadoras possibilidades ao mercado tecnológico. Segundo João Romão (2006): “Trata-se, essencialmente, de usar a Web como plataforma para aplicações e não, apenas, como meio de entrega expressa de conteúdo”. A atitude Web 2.0 não tenta resolver as coisas do modo tradicional. e sim, utilizar as possibilidades da Internet para facilitar a vida do usuário. Tal tipo de atitude cria mais oportunidades de êxito porque remete ao modelo de pequenas e eficientes equipes de desenvolvimento, acabando com os projetos que perduram por anos e consomem milhões.

As primeiras experimentações para ultrapassar a metáfora dos documentos Web estão sendo realizadas com a utilização das técnicas AJAX no desenvolvimento das aplicações. Graças ao AJAX, o foco dessas novas aplicações está saindo da simples informação e passando a total interação. Agora, além do acesso, os websites desenvolvidos sob essa perspesctiva podem oferecer ao usuário final a manipulação e transformação do conteúdo. E este é um excelente caminho para remodelar todo o conteúdo disponível na Internet e transformá-lo em conhecimento.

2. O que é AJAX

O termo AJAX - acrônimo para Asynchronous JavaScript and XML (Javascript Assíncrono e XML) - foi criado por Jesse James Garret para definir de

forma mais concreta (ou comercial) o uso do aglomerado de tecnologias presentes em sua utilização. Segundo Garret (2005): “O AJAX não é uma tecnologia. Mas, na realidade, várias tecnologias, cada uma progredindo de modo independente e que se juntaram de maneira a poder explorar novas formas de melhorar a interação com os usuários de aplicações Web.”.

O AJAX não é uma novidade tecnológica, mas sim um novo modo de utilizar tecnologias já disponíveis. Abaixo algumas das tecnologias que compõem o AJAX:

I. XHTML como linguagem de marcação e CSS para definição dos estilos;

II. Exibição e interação utilizando DOM (Document Object Model);

III. Troca de dados usando XML (Extensible Markup Language);

IV. XMLHttpRequest funcionando de forma assíncrona na comunicação com o servidor;

V. Javascript para fundir e manipular todas as partes do processo.

O uso das tecnologias descritas acima gera o

conceito de criar um sistema interativo, em que usuário final tenha uma navegação assíncrona, ou seja, que o mesmo possa realizar diversas ações simultâneas sem ter de esperar que o servidor processe as informações para que ele possa continuar navegando. Apenas o trecho da página requisitada é modificado diminuindo, dessa forma, o tráfego de informações desnecessárias pela rede e reduzindo também o processamento por parte do servidor. A cada novo conteúdo solicitado pelo usuário, não é necessário renderizar novamente a mesma página (efeito refresh). Segundo Paulo Lomanto (2006), “Tanto para Websites quanto para intranets e sistemas corporativos, o AJAX representa uma redução de até 80% no tráfego de informações entre o servidor Web e o cliente que está utilizando o recurso”. 3. Por que usar AJAX?

A maneira como o conteúdo das páginas Web é apresentado vem evoluindo constantemente, de um modo próprio e inovador. No início, essa apresentação era feita apenas de forma textual, o que não despertava muito interesse no usuário. Com o passar do tempo surgiram tecnologias capazes de exibir páginas estáticas com algumas figuras, como o HTML.

Existe uma lacuna técnica entre aplicações desenvolvidas para Web e em aplicações feitas para desktops. Esta distância fica mais evidente quando

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se analisa o tempo de resposta. Nos desktops a resposta é imediata. Numa aplicação Web, essa arquitetura é diferente, portanto, vejamos:

• O acesso a memória é diferente; • A aplicação não esta instalada no cliente e

sim no servidor; • Para a comunicação, existe a necessidade de

se estabelecerem conexões e requisições de dados;

• Toda requisição gera um refresh de tela, o que impossibilita muitas aplicações de se utilizar os recursos da Internet em determinadas aplicações, para as quais o tempo de resposta é algo essencial.

O AJAX minimiza essa distância, possibilitando

a construção de aplicações Web com grande similaridade às aplicações desktops e sem a predileção por uma plataforma de sistema operacional específica. Entretanto, como toda tecnologia que surge no mercado, o AJAX possui vantagens e desvantagens.

3.1. Vantagens

Existem inúmeras vantagens ao se usar essa técnica. Certamente, seu uso deve ser “dosado” e sempre utilizado de forma coerente para não comprometer a legibilidade e manutenção de sua aplicação. Especialistas em usabilidade e desenvolvimento elegeram alguns pontos-chave a serem considerados. Segundo Michael Mahemoff (2006), podemos considerar:

“Tráfego mínimo – As aplicações deveriam mandar e receber do servidor o mínimo de informação possível. O AJAX pode diminuir consideravelmente o tráfego entre cliente e servidor. Usando AJAX certamente sua aplicação não estará enviando informação desnecessária”. A largura de banda é melhor utilizada, diminuindo a latência de rede, conseqüentemente obtém-se um melhor desempenho nas aplicações; “Interface amigável – Aplicações AJAX introduzem um conceito diferente do modelo ‘clica-espera’ suportado atualmente na internet. Outros paradigmas do tipo ‘arrasta e solta’ e ‘duplo clique’. Não importa qual paradigma usar, é necessário que o usuário saiba o que vai fazer após”. Podemos então, construir aplicações mais intuitivas, com um conforto visual muito melhor, além de fornecer um

ambiente mais familiar ao usuário, deixando-o mais próximo das aplicações desktop a que ele está acostumado;

“Convenções - não desperdice tempo reinventando novos modelos de interação com o usurário, utilize os padrões já conhecidos do desktop e diminua a curva de aprendizado”; “Acessibilidade – considere a maior faixa de clientes possíveis, considere todas as possibilidades do uso de navegadores antigos ou os do tipo texto, anteveja algumas destas variantes e programe para um público inesperado.”; “Desenvolvimento” - algumas aplicações antes só disponíveis para máquinas locais podem ter o seu desenvolvimento feito para navegadores Web;

“Aplicações Web mais rápidas, inteligentes e seguras.” podemos agora ter carrinhos de compras inteligentes e outras aplicações que colaborem para deixar as operações de entrada e saída de dados mais simples para o usuário final;

Com AJAX, o usuário consegue interatividade e

usabilidade sem demandar um elevado consumo de recursos para que esses sejam disponibilizados. O AJAX é capaz de associar eventos a um maior número de ações do usuário. Dessa forma, os conceitos fundamentais de interatividade com o usuário, como o famoso drag-and-drop (arrastar e soltar), torna-se perfeitamente possível. Do ponto de vista da usabilidade, esta liberdade não é importante, apenas, porque ela permite exercer nossa imaginação, mas sim porque ela nos possibilita combinar as ações disparadas pelo usuário e as solicitações ao servidor de uma forma bem mais completa.

As vantagens da utilização do AJAX tornam-se visíveis principalmente para os usuários. É possível imaginar muitas funcionalidades em que esta interação seja conveniente: validação de dados, correção ortográfica automática, cálculos dinâmicos, emissão e gerenciamento de relatórios gerados, a partir de uma base de dados, etc.

3.2. Desvantagens

Como acontece em toda tecnologia, algumas vantagens podem trazer desvantagens. No

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desenvolvimento de aplicações Web existem alguns pontos a serem considerados:

Programação mais complexa – Por ter uma estrutura mais complexa, torna-se mais difícil desenvolver utilizando-se AJAX, a curvatura de aprendizado é muito maior e os programas se tornam de difícil manutenção;

Botões avançar e voltar – fica muito difícil controlarem os botões avançar e voltar do navegador, quando se está navegando por uma página que usa AJAX, o que pode complicar a restauração de um estado anterior ao se utilizarem esses botões. Esse ainda é um desafio a ser vencido na programação, usando-se essa tecnologia; Salvar – fica difícil e, muitas vezes, impossível salvar o conteúdo de uma site se o mesmo tiver sido desenvolvido 100% em AJAX; Depuração dificultada - Além de ferramentas de “debugação” de JavaScript serem raras, um aumento na complexidade do programa pode trazer diminuição da produtividade de um sistema; Portabilidade – caso o JavaScript não esteja habilitado ou não exista suporte a ele no navegador do usuário, fica impossível utilizar o sistema em questão; Motores de busca – se o site for feito completamente em AJAX, os robôs de busca de websites de pesquisa não conseguem identificar e indexar o site.

Então, antes de construir páginas ou sistemas Web, os pontos acima devem ser fortemente levados em consideração. Segundo Nicholas C. Zakas (2006) “A tecnologia AJAX serve para melhorar a experiência de usurário com a web, a tecnologia por detrás do desenvolvimento é simplesmente um ferramenta para atingir um determinado fim. Certifique-se que sua aplicação será útil e usável.”.

4. Quem usa?

Indiscutivelmente, a empresa que mais se destaca na utilização do AJAX, atualmente, é a Google. As maiores e mais bem sucedidas aplicações desenvolvidas pela Google (Google Maps, Gmail e orkut), possuem implementações AJAX. O Google Suggest também é um excelente

exemplo que demonstra o quanto o AJAX pode tornar uma aplicação Web poderosa. Ainda existem diversas outras implementações na Web que utilizam o AJAX no seu desenvolvimento, como a ferramenta de busca A9 da Amazon, o Flickr, gerenciador de fotos on-line, o Writely, editor de textos on-line (adquirido recentemente pela Google), o NumSum, editor de planilhas on-line, o netVibes, gerenciador de conteúdo personalizado, e diversos outros sistemas que de certa forma embutem essa nova técnica de desenvolver para Web.

Projetos como esses, anteriormente, citados demonstram que o AJAX não é apenas mais uma “mania” passageira, e sim uma poderosa nova forma de encarar a realidade Web. A Adaptive Path, empresa que formulou e originou o termo, diz que os desenvolvedores que vêm utilizando o AJAX “apenas estão arranhando a superfície das interações ricas e a comunicabilidade que as aplicações AJAX podem prover.”.

5. Padrões

No cenário atual da tecnologia da informação marcado por uma acelerada evolução, a Web necessita de orientação a fim de que seja capaz de desenvolver todo o seu potencial. Esse direcionamento pode ser obtido através dos padrões Web.

Nos idos da programação Web, os códigos de formatação (HTML e CSS) eram muito complexos e sem organização, o que tornou a navegação em muitos sites da Internet um verdadeiro caos. Porém, isso vem mudando rapidamente. O código interpretado no cliente (browser) nos dias atuais é bastante simplificado. Com o lançamento do XHTML (sucessor do antigo HTML), as linhas de formatação das páginas reduziram-se drasticamente. Hoje em dia, temos códigos padronizados de fácil manutenção e melhor legibilidade.

Mas, essas mudanças não são méritos, apenas, da evolução das linguagens citadas. A maneira de pensar do desenvolvedor Web também mudou. É cada vez mais freqüente observar a preocupação dos programadores com relação à usabilidade e acessibilidade dos seus sites e sistemas. Antigamente, pouco se ouvia falar sobre essas características, mas hoje em dia é comum a preocupação para que os códigos sejam interpretados corretamente por diversos tipos de navegadores, que sejam acessíveis pelo teclado e que possam ser visualizados em qualquer tipo de dispositivo de acesso. E mais ainda, a questão da acessibilidade vem interferindo no desenvolvimento das aplicações Web a ponto dos desenvolvedores preocuparem-se até com o tipo de usuário que utiliza

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sua aplicação. A analista de sistemas, Karina Guimarães (2006), define o usuário como o centro de tudo: “As aplicações Web devem evitar que o usuário deixe de encontrar a informação desejada e abandone a visita em menos de 5 segundos.”. Para isso, é necessário um conteúdo atrativo e disposto em uma interface agradável e bem elaborada.

Diversas são as organizações de padronização que influenciam a Internet. Inegavelmente, o mais expressivo trabalho nesta área de definição de padrões para Web é feito pelo W3C (World Wide Web Consorcium).

O W3C é um consórcio da indústria internacional destinado a conduzir a Internet rumo ao seu completo potencial. Fundado em 1994 e liderado pelo pai da Web, Tim Berners-Lee, o W3C possui mais de 450 organizações membro, dentre elas destacam-se a Microsoft, a AOL, a Apple, a Sun, a Adobe e a Macromedia, além de uma grande variedade de fabricantes de hardware e software.

Os princípios fundamentais do projeto W3C são:

• Interoperabilidade: especificações para as linguagens e para os protocolos da Web devem ser compatíveis entre si, além de prover o acesso à Web a partir de qualquer tipo de hardware ou software;

• Evolução: a Web deve ser capaz de acomodar tecnologias futuras. Princípios de projeto, como, simplicidade, modularidade e extensibilidade aumentarão as chances da Web trabalhar com tecnologias emergentes, tais como dispositivos móveis e televisão digital, bem como outras que ainda estão por vir;

• Descentralização: este é o principio mais novo e mais difícil de aplicar. Para fazer com que a Web alcance proporções mundiais, enquanto resiste a erros e quedas do sistema, sua arquitetura deve limitar ou mesmo eliminar as dependências em registros centrais com sede em grandes potências mundiais.

Estes princípios guiam as atividades do W3C, que desenvolve especificações abertas a fim de garantir a interoperabilidade, a evolução e a descentralização dos produtos relacionados com a Web.

5.1. WEB 2.0

A Web 2.0, termo criado por Dale Dougherty em uma conferência realizada em outubro de 2005,

em São Francisco – EUA, retrata o estado atual da Internet. Um local acessível a todos, onde é possível desenvolver, pesquisar, informar e interagir, sem a interferência de corporações ou restrições de uso. Adotando uma ótica mais profunda, pode-se perceber a Web 2.0 ultrapassando as barreiras físicas, a ponto de, cada vez mais, se observar o nascimento de aplicações robustas e seguras que nada deixam a desejar às tão conhecidas aplicações desktop. Chegará o dia em que o usuário final não necessitará de softwares, com suas licenças exorbitantes, instalados no seu PC, pois ele terá soluções alternativas disponíveis na Web, a qualquer hora do dia, independente de plataforma operacional ou configuração de hardware.

Keith Robinson (2006) do site Asterisk, afirma “O conteúdo da Web 2.0 é a possibilidade democrática e sem barreiras de exercer sua possibilidade de opinar.”. A Web 2.0 vem ao mundo sobre a perspectiva da acessibilidade total, ou seja, as aplicações Web que estão surgindo dentro desse novo paradigma estarão prontas para serem executadas nos celulares, videogames e na tão esperada TV digital.

Fundamentalmente, a atitude empreendedora da Web 2.0 tem maior possibilidade de dar certo porque foi concebida sob o prisma da colaboração e do conteúdo multiplataformas. Os usuários lêem mais, criam mais e, conseqüentemente, colaboram mais.

O efeito da Web 2.0 para os desenvolvedores também é notório. Todo programador sabe o quão tortuoso é ter de modificar o escopo de um sistema que não segue nenhum padrão de desenvolvimento. E é justamente aí que se percebem as metodologias da Web 2.0, que propiciam ao programador maneiras práticas de alterar módulos do sistema sem alterar o projeto como um todo. 6. Funcionamento das páginas WEB

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Figura 1: Formato tradicional de comunicação entre

cliente/servidor Em uma aplicação Web tradicional, a maior

parte das ações do usuário na interface ativa uma requisição HTTP ao servidor. Este, por sua vez, processa a solicitação (retornando dados, interpretando números, etc.) e, então, retorna uma página no formato (x)HTML para o browser do usuário.

Toda vez que o usuário interage com o site, um outro documento é enviado para o navegador, contendo o mesmo conteúdo de cabeçalhos e dados. Quando o usuário efetua a saída ou fecha o navegador, a aplicação sai e a sessão é destruída. Qualquer informação que o usuário necessite ver na próxima vez que ele entrar, terá que passar pelo mesmo mecanismo.

Figura 2: Formato de comunicação cliente/servidor com AJAX.

Em uma aplicação que utiliza as técnicas AJAX, parte da lógica é movida para o navegador. Dessa forma, quando o usuário acessa a aplicação, um documento de conteúdo mais complexo é entregue ao browser. Este documento permanecerá com o usuário durante toda a sessão. Mesmo que o usuário altere sua aparência original, o script que compõe essa página ficará encarregado de responder essas informações e decidirá o que deverá ser feito sem que haja uma única atualização de tela. Ao invés de carregar uma página inteira no inicio da sessão, o navegador, na verdade, carrega uma ferramenta AJAX, que fica responsável por renderizar toda a interface visualizada pelo usuário e ainda realizar a comunicação com o usuário. Tudo isso deve ocorrer assincronamente, ou seja, um processo deve estar acontecendo independente do outro, tornando assim a navegação mais eficaz. Isso garante com que o usuário nunca se depare com uma página em branco no seu navegador, esperando por uma resposta do servidor.

As ações de um usuário durante sua navegação dentro da aplicação gerariam, todas elas (por mais simples que fossem), uma solicitação HTTP. Com AJAX essa requisição é feita pelo javascript associado a objetos XML. Assim sendo, qualquer resposta para essas ações do usuário são tratadas pelo próprio AJAX. Se essa ferramenta necessitar de

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algo que está no servidor, para responder a essas ações, requisições assíncronas serão utilizadas, sem prejudicar a navegação do usuário. 7. O AJAX e as linguagens de servidor

Para que o AJAX torne-se funcional, faz-se necessário o uso de uma linguagem de servidor que permita a integração da aplicação que está atuando no lado cliente (browser), com os dados que se encontram armazenados no servidor. Existem diversas linguagens servidoras disponíveis, dentre elas o PHP, o ASP.net, a Perl, o Cold Fusion, JSP e Servlets, dentre outras. Porém, o que é mais plausível quando se fala em interação de uma aplicação que utiliza AJAX em uma linguagem de servidor, seja ela qual for, é a capacidade que essa linguagem possui, para que o desenvolvedor possa implementar scripts organizados, preferencialmente, orientados a objetos, capazes de fornecer uma base sustentável para atuar em perfeita sincronia com as requisições solicitadas pelo usuário durante sua navegação.

Soluções bem desenvolvidas no lado servidor, estruturadas em classes e providas de métodos que possibilitem a reusabilidade, bem como a prática manutenção dos mesmos, agilizam a movimentação e distribuição dos dados. E se tratando de AJAX, esse é um fator indispensável para o bom funcionamento das aplicações desenvolvidas sob essa nova tendência.

8. Soap e webService + AJAX

A Internet vem se popularizando num ritmo quase que frenético e junto com essa popularização surge a necessidade da integração dos sistemas que a utilizam. A definição de um protocolo simples e baseado em XML era fundamental para realizar a integração entre sistemas distintos. Apesar do SOAP (Simple Object Access Protocol – Objeto Simples de Protocolo de Acesso) não ter sido desenvolvido com esse objetivo, adequou-se perfeitamente ao mundo da integração on-line.

O SOAP é um protocolo elaborado para facilitar a chamada remota de funções via Internet, permitindo assim que dois programas diferentes comuniquem-se de uma maneira tecnicamente muito semelhante à invocação de documentos Web.

O SOAP oferece diversas vantagens não encontradas em outros protocolos como o DCOM, CORBA ou mesmo o TCP/IP:

• É simples e fácil de implementar;

• É um padrão adotado pela W3C, além de diversas outras empresas;

• Utiliza os mesmos padrões da Web para quase tudo, a comunicação é feita via HTTP com pacotes virtualmente idênticos; os protocolos de autenticação e encriptação são os mesmos; a manutenção de estado é feita da mesma forma; é normalmente implementado pelo próprio servidor Web;

• Passa por Firewalls e roteadores que o vêem como uma comunicação HTTP;

• Os dados e as funções são descritos em XML, tornando-o fácil de usar e bastante robusto;

• Independe de sistema operacional e CPU;

• Pode ser usado tanto de forma anônima como com autenticação (login/senha);

As solicitações SOAP podem ser realizadas em

três padrões: GET, POST e SOAP. Os padrões GET e POST são idênticos aos pedidos feitos pelos browsers. O SOAP é um padrão que se assemelha ao POST, porém seus pedidos são feitos em XML e possibilitam a utilização de recursos mais aprimorados como passar estruturas e arrays. O XML descreve os dados em tempo de execução e evita problemas causados por inadvertidas mudanças nas funções, já que os objetos chamados têm a possibilidade de sempre validar os argumentos passados por essas funções, tornando o protocolo muito mais confiável.

O SOAP define, ainda, um padrão chamado WSDL, que descreve objetos e métodos disponíveis através de páginas XML acessíveis em toda a Web. O WSDL funciona da seguinte maneira: quem publicar um serviço também cria as páginas. Quem desejar invocar o serviço, pode utilizar essas páginas como uma espécie de documentação de chamada e, ainda, usá-las antes de chamar as funções que verificam se alguma coisa foi alterada.

O SOAP e o AJAX são integrados de forma bastante simples, partindo do princípio de que os dois utilizam documentos XML como ferramenta básica de execução. Utilizando AJAX com SOAP, é possível chamar métodos implementados em aplicações desenvolvidas pelo próprio programador e ainda acessar aplicações de outros desenvolvedores, fazendo com que as aplicações se tornem totalmente interligadas a qualquer servidor que ofereça serviços Web pelo protocolo SOAP.

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8.1 WebServices

Um WebService é um componente acessível, através de protocolos padrões da Internet (como o SOAP). Sendo componentes, esses serviços possuem uma funcionalidade que pode ser reusada sem a preocupação de como a mesma é implementada. Os WebServices combinam os melhores aspectos do desenvolvimento baseado em componentes e a Internet. A enciclopédia virtual Wikipédia define-os da seguinte maneira: “Webservices é um conjunto de operações/métodos que podem ser acessados remotamente”.

Os WebServices podem ser utilizados em quase tudo que envolva troca de dados e informações. Qualquer plataforma que interprete rotinas HTTP e trabalhe com XML pode usar os dados/informações dos webservices, sem restrição alguma.

Associar os WebServices ao uso do AJAX é algo imprescindível para torná-los ainda mais robustos em uma aplicação. Com eles podem-se acessar rotinas de validação de cartão de crédito, endereçamento postal (CEP), calcular valores de fretes dos sites de comércio eletrônico, aperfeiçoar um sistema de notícias, enfim, um leque gigantesco de possibilidades se abre diante do desenvolvedor que consome os recursos dos WebServices. 9. Aplicação

Com o intuito de obter subsídios que pudessem ratificar tudo o que foi exposto sobre o AJAX, foi necessário o desenvolvimento de um sistema piloto, com duas versões diferentes. Um que utiliza técnicas AJAX em seu conteúdo, processamento e fluxo de dados. E um outro com implementações de uma aplicação Web normal, ou seja, um sistema construído, apenas, com o uso dos recursos oferecidos pela linguagem de servidor PHP, sem atualizações dinâmicas ou links rápidos na estrutura da aplicação.

A escolha da aplicação foi um ponto importante. As pesquisas visam atingir soluções práticas que levem algum beneficio a sociedade, seja com o melhoramento de um processo ou com a invenção de um produto. Neste contexto, a escolha de uma loja virtual é bastante pertinente.

Dessa forma, iremos expor, nos próximos parágrafos, gráficos gerados a partir de testes comparativos realizados com esses dois modelos de sistemas, atestando então todos os benefícios que o AJAX pode proporcionar a uma aplicação Web. 9.1 Especificação do exemplo

Os modelos construídos são todos multiplataforma. Pode-se facilmente construir os modelos em uma plataforma e testá-los em uma outra. Este modelo de análise foi construído completamente em plataforma WINDOWS®, não implicando que o mesmo não possa ser desenvolvido em outra plataforma, como o LINUX, por exemplo. Todas as especificações estão descritas abaixo. 9.1.1 Ferramentas utilizadas

Os dois modelos de aplicação foram construídos utilizando as seguintes ferramentas:

• Para a Base de dados, MySQL 5.0; • Como linguagem servidora foi utilizado

o PHP 5.1.1; • Na camada do cliente utilizamos:

XHTML, XML, CSS e Javascript.

9.1.2 Áreas internas da aplicação

As aplicações são baseadas na estrutura de uma loja virtual, pois neste tipo de sistema podemos encontrar ferramentas e funcionalidades em que o uso de técnicas AJAX é facilmente visualizado. A aplicação, esta dividida em duas áreas.

9.1.2.1 Área pública

Na área pública teremos a vitrine on-line, que conta com a exibição dos produtos à venda dispostos por categorias. Nesta mesma área está o “carrinho de compras”, no qual os produtos adicionados ao carrinho aparecem listados. Ao encerrar sua navegação pelo site, o usuário pode finalizar então seu pedido confirmando assim a sua compra. 9.1.2.2 Área administrativa

Na área administrativa, construímos dois formulários de cadastrado básicos a um comércio eletrônico: o cadastro de produtos e o de fornecedores.

9.2 Loja virtual

Ao acessar a loja virtual, o usuário poderá visualizar um menu horizontal no topo do site, no qual são apresentadas as categorias dos produtos a venda na loja virtual. Clicando em cada categoria serão expostos os seus respectivos produtos em uma área específica do site. Esses produtos estão representados por fotos, contendo, ainda, uma breve descrição e o seu preço atual.

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9.2.1 Área publica (AJAX)

Utilizamos um sistema de paginação bastante eficiente que proporciona ao usuário uma navegação rápida e agradável pelos produtos ofertados no site. Ao ir-se de uma página para outra, apenas o

conteúdo central, ou seja, os produtos e suas descrições, são alternados, conservando, assim, toda a estrutura em torno desta área, evitando um desperdício de tráfego de rede e economizando tempo de navegação

Imagem 1. Em azul, a área padrão do sistema. Em vermelho, a área que sofre modificações. 9.2.2 Área publica (s/ AJAX)

Na área pública temos a paginação de produtos

sem a utilização de AJAX, então, a cada mudança na paginação, temos algumas requisições ao servidor e uma nova página é montada com todos os próximos 16 produtos e seus respectivos menus e o “carrinho de compras”.

9.2.3 Realizar compra (AJAX)

Para realizar um compra nessa loja virtual, basta que o usuário clique sobre o ícone (foto) do produto desejado e o arraste para o “carrinho de compras”, disposto lateralmente à área de exibição de produtos, e que estará disponível e acessível durante toda a

sessão de navegação do usuário. Cada produto adicionado ao “carrinho de compras” é simbolizado, dentro do mesmo, por uma versão miniatura da sua foto. Existe ainda um link dedicado somente ao aumento e diminuição da quantidade de cada item inserido no “carrinho de compras”. Tudo isso é realizado sem uma única atualização de página, de forma que o usuário apenas terá de esperar por uma resposta do servidor no momento em que finalizar o seu pedido (clicando sobre o link “fechar pedido”), em que todos os dados acumulados, durante a navegação, são processados e armazenados definitivamente. O screenshoot abaixo, mostra o exato momento que o usuário arrasta um produto para o seu “carrinho de compras”.

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Imagem 2. Tela principal da loja virtual

9.2.4 Realizar compra (s/ AJAX)

Nesta versão da aplicação, a área pública do sistema também apresenta um local destinado à exibição dos produtos anunciados na loja virtual, oferecendo, ainda, a mesma opção de montar um pedido, inserindo itens no “carrinho de compras”. Entretanto, diferente da aplicação desenvolvida com técnicas AJAX, nesta o cliente deve clicar no link “comprar” existente ao lado de cada produto, esperar pelo envio da requisição ao servidor, visualizar seu pedido na página que possui o “carrinho de compras” e confirmar o pedido ou, se desejar, ir para o link “continuar comprando”, o qual o leva de volta para a relação de produtos, recarregando toda a página novamente. O sistema de paginação, que organiza os produtos listados na página principal, não possui nenhum espécie de mecanismo de montagem otimizada de templates ou atualização de conteúdo através de iframes. Os produtos são mostrados, de 16 em 16, com um link de navegação entre as páginas, que a cada clique, toda a estrutura do documento é remontada e os próximos 16 produtos são exibidos ao usuário.

9.2.5 Área de cadastros (AJAX)

Na parte dedicada à administração da loja virtual, existem dois tipos de cadastros disponíveis

ao administrador do sistema: o cadastro de fornecedores e o de produtos. O primeiro, contém campos destinados à entrada de dados referentes aos fornecedores de produtos à loja virtual. Todos os campos contam com validação de dados (data, valor monetário, quantidade, e-mail, CNPJ, etc.). Desta maneira, todos os possíveis erros de digitação ou omissão de caracteres são apresentados durante o processo de cadastramento, possibilitando a correção imediata. Nesse formulário, embutimos o consumo de um WebService bastante útil para preenchimento de endereços. Dado um determinado CEP, o serviço retorna o nome da rua, bairro, cidade e estado pertencentes ao CEP informado, sem haver a necessidade de remontar toda a página só para exibir esses novos dados recolhidos do servidor. Neste ponto podemos observar perfeitamente o quanto o AJAX é poderoso, pois seria no mínimo tedioso pensar em consumir um WebService deste tipo, se tivéssemos de aguardar por uma resposta do servidor, guardar as informações já digitadas nos campos anteriores, atualizar o documento, remontar o formulário com os dados armazenados em seus respectivos campos e exibir os novos dados retornados. Com o AJAX, a atualização é imediata e o resultado torna-se instantâneo.

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Imagem 3: Formulário para cadastro de fornecedores.

Do formulário de cadastro de fornecedores, pode-se acessar diretamente o formulário para cadastro de produtos, no caso do administrador do sistema, ao mesmo tempo em que cadastra um novo fornecedor, cadastrar também os produtos fornecidos por este fornecedor. O formulário para cadastro de produtos é exibido na mesma tela como uma janela sobrepondo o cadastro de fornecedores. Assim que for efetuado o cadastramento do novo produto, o mesmo já será mostrado em uma listagem contendo todos os produtos cadastrados no sistema, mais uma vez,

sem nenhum refresh de página. Outro recurso muito interessante utilizado nos formulários de cadastro, é a atualização de um select a partir de outro select, select’s aninhados. Por exemplo, no cadastro de produtos, o administrador deve selecionar a sub-categoria à qual pertence o produto que está sendo cadastrado, porém, esta sub-categoria, por sua vez, pertence a uma categoria. Caso o administrador selecione uma categoria X e suas sub-categorias serão imediatamente exibidas no campo seguinte.

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Imagem 4. Formulário para cadastro de produtos, acessado através do cadastro de fornecedores.

9.2.6 Área de cadastros (s/ AJAX)

No sistema sem AJAX o preenchimento dos cadastros é realizado de forma individual. Existem telas separadas para fornecedores e produtos. Toda a digitação é realizada e submetida ao servidor, que realiza as inclusões e remonta uma nova página no cliente para a digitação de um novo fornecedor ou produto. 10. Resultados 10.1 Especificações dos equipamentos utilizados

• Computador cliente: AMD Athlon 64 2800+ com 1Gbyte de RAM. Interfaces de rede: Para acessar internet: Marvell Yokon 88E8001 PCI GIGABIT ETERNET; Para acesso a rede local: SIS 900 PCI ETHERNET;

• Computador servidor: AMD Sempron

2300+ com 512 de RAM Interface de rede: Para acesso a rede local: SIS 900 PCI ETHERNET;

• Equipamentos acessórios: HUB LG 10/100

• Modem Externo Motorola: Cabo de par-trançado para interligação dos pontos da rede.

10.2 Resultado dos testes.

Os dois sistemas implementados passaram por

diversos tipos de testes e análises, gerando resultados que tanto ajudam a entender o funcionamento do AJAX, como também comprovam toda a teoria que o envolve.

A pesquisa foi feita com os sistemas hospedados localmente (com exceção para as análises de tempo de resposta, onde os sistemas foram hospedados na Web) em uma máquina servidora, tendo o servidor Web Apache 2.0, o PHP versão 5.1.1 e o MySQL 5.0 devidamente instalados. Esse servidor foi acessado pela máquina cliente por intermédio de uma rede local de 10/100 MBytes. Os testes foram executados no dia 22/07/06 (sábado), das 16:08 às 17:45. O Mozilla Firefox versão 1.0.6 foi o browser escolhido para acessar as aplicações, e o software responsável pela a análise de tráfego de rede foi o Etheral – Network Protocol Analyzer versão 0.99, disponível em http://www.ethereal.com; • Tempo de execução: aqui, podemos observar a

quantidade de tempo despendido para a execução de uma determinada ação ou processamento no sistema desenvolvido com

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AJAX, e o tempo necessário para efetuar a mesma ação no sistema sem AJAX. Cinco pessoas diferentes participaram deste teste, obedecendo aos critérios: todos preencheram o formulário de fornecedores e de produtos com os mesmos dados; realizaram um pedido com os

mesmos produtos e os mesmos valores. O tempo de cada pessoa foi cronometrado e, ao final todas as cinco marcas obtidas foram divididas pelo número de participantes do teste (cinco), obtendo-se assim as médias para cada ação.

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Cadastro de fornecedor e produtos: 1,01 minuto (média) 2,06 minutos (média)

Composição de pedido: 13,14 segundos (média) 22,05 segundos (média)

• Tempo de resposta: essa análise apresenta o tempo de resposta do servidor para cada uma das ações apresentadas abaixo. Para esse teste, hospedamos os sistemas na Web, em um

servidor de plataforma Windows 2003 Server com suporte a PHP 5.1.1 e MySQL 5.0. A aplicação foi acessada em uma conexão banda larga de 100 Kbps.

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Login: 2,9 segundos (média) 4,9 segundos (média)

Cadastro de fornecedor: 1,8 segundos (média) 3,9 segundos (média)

Cadastro de produto: 1,3 segundos (média) 3,0 segundos (média)

Fechamento de pedido: 0,8 segundos (média) 5,2 segundos (média)

• Tráfego de Rede: foi último resultado a ser apresentado e, com certeza o mais interessante de todos eles. Nesse teste, analisamos a quantidade de bytes que trafegaram na rede durante a realização de um mesmo processo. Cada ação foi executada por três vezes, e assim pudemos observar, claramente, a economia de bytes enviados e recebidos na aplicação com implementações AJAX, em relação ao sistema normal.

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• Processo de login

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Teste 1 Tráfego Total: 1.218 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 386 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 832 bytes

Tráfego Total: 9.284 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 906 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 8.378 bytes

Teste 2 Tráfego Total: 1.183 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 345 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 828 bytes

Tráfego Total: 9.284 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 906 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 8.378 bytes

Teste 3 Tráfego Total: 1.218 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 386 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 832 bytes

Tráfego Total: 9.561 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 906 bytes

Bytes recebidos (servidor-cliente): 8.657 bytes

• Cadastro de fornecedores

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Teste 1 Tráfego Total: 1.483 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 359 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 1.124 bytes

Tráfego Total: 10.733 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 8.852 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 8.186 bytes

Teste 2 Tráfego Total: 1.483 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 359 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 1.124 bytes

Tráfego Total: 10.733 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 8.852 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 8.186bytes

Teste 3 Tráfego Total: 1.483 bytes

Bytes enviados (cliente-servidor): 359 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 1.124 bytes

Tráfego Total: 10.721 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 8.852 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 1.869 bytes

• Cadastro de produtos

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Teste1

Tráfego Total: 1.322 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 358

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 964

bytes

Tráfego Total: 15.973 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 12.382 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 3.591

bytes

Teste2

Tráfego Total: 1.322 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 358

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 964

bytes

Tráfego Total: 16.226 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 12.449 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 3.591

bytes

Teste3

Tráfego Total: 1.610 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 466

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 1.144

bytes

Tráfego Total: 16226 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 12.449 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 3.591

bytes

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• Processo de compra (inclusão de 4 itens no carrinho de compras e finalização do pedido, com exibição dos dados da compra)

SISTEMA COM AJAX SISTEMA SEM AJAX

Teste1

Tráfego Total: 12.556 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 7.845

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 4.711

bytes

Tráfego Total: 91.947 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 69.450 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 3.591 bytes

Teste2

Tráfego Total: 12.441 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 7.190

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 4.681

bytes

Tráfego Total: 91.949 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 69.450 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 22.499 bytes

Teste3

Tráfego Total: 12.441 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 7.190

bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 4.681

bytes

Tráfego Total: 97.204 bytes Bytes enviados (cliente-servidor): 72.473 bytes Bytes recebidos (servidor-cliente): 24.725 bytes

11. Conclusão

A aplicação do AJAX na Web 2.0 ainda não está sendo amplamente explorada. A própria Web 2.0 encontra-se em fase embrionária, em que métodos de utilização e, até mesmo, conceitos e fundamentos ainda estão sendo calcados. Trata-se não apenas de remodelar a Web atual, mas sim de encorajar, desenvolvedores e utilizadores, a entenderem que a Internet deixou de ser, apenas, um veículo dinâmico de intercomunicação e de informação e passou à categoria de plataforma, na qual tudo, absolutamente tudo, acontece. A idéia de plataforma é ainda mais vasta. Emprega o uso da rede como plataforma de serviços, e tais aplicações podem localizar uma determinada funcionalidade e esta ser disponibilizada, sem a necessidade de uma nova requisição.

A técnica AJAX trouxe uma visão inovadora para o desenvolvimento Web e vem ajudando a embasar tudo aquilo a que se propõe a Web 2.0. Os paradigmas de interação entre aplicação/usuário estão sendo profundamente modificados por esse novo prisma das aplicações on-line. Nota-se intensamente a migração de softwares desktop para a “plataforma” Web e mesmo os sistemas que já atuam sob essa modalidade se encontram em processo de reformulação para atender às novas características da Internet, ditadas pela Web 2.0. Aliar o dinamismo e a agilidade dos resultados encontrados nas aplicações desktop à independência e portabilidade

oferecidos pelos sistemas Web tornou-se a meta de todo desenvolvedor de softwares.

Experiências realizadas com AJAX têm mostrado uma melhoria indiscutível na acessibilidade e na economia de tempo de navegação, que antes eram tidas como as grandes vilãs dos sistemas Web. Sites e portais que fazem uso do AJAX obtêm reduções drásticas na quantidade de bytes despendidas nas suas larguras de banda. Conseguiram também aumentar a quantidade de acessos a suas páginas depois que começaram a criar interfaces mais agradáveis ao usuário. Diego Eis, em um artigo para o site Tableless, citou o exemplo do portal da ESPN que consumia cerca de 2 Terabytes por dia e conseguiu a façanha de reduzir esse número quase que 90% com a simples adoção dos padrões Web de desenvolvimento.

A principal intenção com a publicação deste trabalho foi a de difundir essa técnica tão interessante, demonstrando suas principais aplicações, seus benefícios e suas inovações, além de expor a comunidade de desenvolvedores e usuários da Internet que estamos embarcando em uma nova era, na qual os paradigmas vêm sendo derrubados e novas óticas sobre programação e engenharia de softwares estão eclodindo.

Finalizamos com uma afirmação daquele que, digamos, “inventou” o AJAX, Jesse James Garret (2005): “Os enormes desafios em criar aplicações AJAX não são técnicas. O coração das tecnologias AJAX é maduro, estável, e bem conhecido. Ao contrário disso, os desafios são para os

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desenvolvedores dessas aplicações esquecerem o que nós achamos saber sobre as limitações Web, e começarem a imaginar uma longa e rica gama de possibilidades.”. 12. Referências MARQUEZI, Dagomir. A revolução do AJAX. Info Exame – Ano 21 – nº. 240 – página 42. Março, 2006. MOREIRA, Daniela. AJAX leva aplicações para muito além do desktop. IDG Now! Disponível em: <http://old.idgnow.com> - Acesso em: 22/05/06. EIS, Diego. Uma das vantagens dos padrões. Tableless. Disponível em: <http://www.tableless.com.br> - Acesso em: 15/05/06. FERREIRA, Elcio. AJAX para quem só ouviu falar. Tableless. Disponível em: < http://www.tableless.com.br > - Acesso em: 15/05/06; FERREIRA, Elcio. AJAX: encarando o mundo real. Tableless. Disponível em < http://www.tableless.com.br > - Acesso em: 15/05/06; ASLENSON, Ryan and SCHUTTA, Nathaniel T. Foundations of AJAX – forums.apress.com

GARRET, Jesse James. AJAX: A New Aproach to Web Applications. Adaptive Path. Disponível em: <http://www.adaptivepath.com> - Acesso em: 09/ 05/06. LOMANTO, Paulo. AJAX – Olhar crítico sob sua utilização. iMasters. Disponível em: <http://www.imasters.com.br> - Acesso em: 22/05/09. SOARES, Walace. AJAX – Guia Prático. Editora Érica – 1ª Edição, 2006. WIKIPÉDIA. AJAX. Disponível em: <http://www.wikipedia.org> - Acesso em: 22/05/06. HOLZNER, Steve. AJAX for dummies – Editora Wiley Publishing Inc. – Copyright 2006. ULLMAN, Larry. Visual QuickPro Guide PHP and MySQL for dynamic Web sites – Editora Peachpit Press – 2ª Edição, 2005. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Um Ambiente para Processamento Digital de Sinais Aplicado à Comunicação Vocal

Homem-Máquina

Márcio G. Passos e Patric L. Silva [email protected] e [email protected]

Silvana Luciene do N. Cunha Costa 1

[email protected]

Benedito G. Aguiar Neto e Joseana M. Fechine [email protected] e [email protected]

Resumo: Este trabalho trata do estudo e implementação de técnicas de processamento digital de sinais que são utilizadas em sistemas de resposta vocal como: sistemas de reconhecimento de voz, reconhecimento de locutor e sistemas de síntese de voz. Foi utilizada a linguagem de programação C na elaboração de funções que caracterizam os sinais de voz. Foram implementados algoritmos para conversão amostras-texto, detecção de início e fim, pré-ênfase, janelamento de Hamming e extração de parâmetros temporais. Estes parâmetros incluem energia, taxa de cruzamento por zero, número total de picos, diferença no número de picos e coeficiente de correlação normalizado. Foram propostos algoritmos diferenciados para a taxa de cruzamento por zero e para o detector de início e fim. Com o intuito de criar um ambiente didático, construiu-se uma interface gráfica amigável utilizando uma plataforma de desenvolvimento orientada a eventos. Palavras Chave: processamento de sinais, comunicação vocal homem-máquina. 1. Introdução

Dentre as várias áreas que compõem o campo da comunicação por voz, a área da comunicação vocal homem-máquina é uma das mais interessantes e estimulantes. O desejo, bem como a necessidade das pessoas se comunicarem com as máquinas da maneira mais natural de comunicação – a voz humana – tem dado grande impulso ao crescimento desta área (RABINER; SHAFER, 1978).

Por não requererem nem as mãos nem os olhos do usuário para a sua operação, os sistemas de entrada vocal podem ser utilizados em diversas aplicações, como por exemplo: controle de tráfego aéreo, auxílio a portadores de deficiência física, controle de qualidade e inspeção e controle de acesso a ambientes restritos.

Dos sistemas de entrada vocal hoje disponíveis, destacam-se os sistemas de reconhecimento automático de voz (RAV) e os sistemas de reconhecimento automático de locutor (RAL). Nas aplicações RAV e RAL é necessária uma preparação ou pré-processamento dos sinais da voz. As técnicas de pré-processamento permitem a extração de características que realmente merecem destaque,

pois atuam no sentido de fornecer não somente a informação de interesse ao processamento de determinada amostra de som, mas também ocasionar uma redução considerável na quantidade de informações a serem processadas. Tais informações serão responsáveis pela produção de padrões entre determinada referência registrada (PETRY et al, 2000).

Este trabalho apresenta os resultados obtidos utilizando-se técnicas para processamento digital de sinais da fala. A primeira seção tratará do processo de aquisição, gravação e digitalização da voz. Em seguida, é apresentado um algoritmo diferenciado para detecção de início e fim de palavras, bem como as técnicas de pré-ênfase, segmentação, janelamento das amostras e extração de alguns parâmetros temporais do sinal da fala.

Nomenclatura a = constante, igual a 0,95. y = sinal pré-enfatizado x = sinal amostrado M = número total de amostras s = amostra após janelamento L = tamanho (tempo) da janela de Hamming

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Na = tamanho (amostras) da janela de Hamming Eseg = energia segmental COR = coeficiente de autocorrelação normalizado PNEG = picos negativos PPOS = picos positivos NTP = número total de picos DPN = diferença do número de picos TCZ = taxa de cruzamento por zero Índices n relativos à amostra 2. Processamento do Sinal de Voz

A− Aquisição do sinal A aquisição dos sinais de voz é realizada

inicialmente utilizando-se um microfone. Este converte as variações que a fala causa na pressão do ar em variações de tensão elétrica. O próximo passo do sistema é a amostragem e digitalização das variações de tensão. Geralmente a passagem do sinal de voz da forma analógica para a digital é feita utilizando a modulação por codificação de pulsos (PCM – pulse code modulation). Com a finalidade de ser manipulado por um sistema digital, o sinal de voz é representado por uma seqüência de pulsos binários, codificados com uma quantidade de bits proporcional a qualidade e fidelidade desejadas. Para sinais de voz, esta codificação é feita geralmente com 8 ou 16 bits.

Neste trabalho, para a aquisição dos sinais de voz utilizou-se um microcomputador PC com placa de som e microfone comum. O software usado para gravação do som em mídias digitais foi o GoldWave© versão 4.26, e o formato de gravação escolhido foi o padrão WAV. Este formato de gravação é um dos mais utilizados para este tipo de aplicação, e contém um cabeçalho de 44 bytes com informações sobre o próprio arquivo.

Com a obtenção do arquivo WAV, contendo o sinal de voz na forma digital, pode-se agora manipulá-lo no ambiente de processamento digital de sinais implementado. Como passo inicial, foi implementado um algoritmo que extrai as informações do cabeçalho do arquivo WAV. Estas informações incluem número de amostras, freqüência de amostragem, tipo de modulação e número de bits por amostra. Foi elaborado um algoritmo para converter arquivos WAV para o modo texto. Para manter a compatibilidade, as amostras são multiplicadas por constantes de valores previamente estabelecidos, a fim de que o software GoldWave© possa fazer a reprodução audível dos arquivos de voz também no modo texto.

B− Detecção de início e fim das palavras Durante o processo de gravação da voz,

inevitavelmente, parte do tempo alocado para a elocução é ocupado com silêncio ou ruído ambiente. Assim, quando uma palavra é gravada, as amostras sem informação útil podem ser descartadas de maneira segura. A separação das amostras representativas de voz das amostras de silêncio é chamada de detecção de início e fim de palavra.

Em sistemas de palavras isoladas, a detecção de início e fim é fundamental por duas razões principais (COSTA, 1994):

1. A classificação correta da palavra é criticamente dependente da precisão dessa detecção.

2. Os cálculos necessários para o processamento do sinal de voz são minimizados quando o início e o fim são localizados com precisão.

O algoritmo para detecção de início e fim, proposto neste trabalho, é mostrado na Fig. (1).

Figura 1. Fluxograma do algoritmo para detecção de início e fim de palavras.

Este algoritmo consiste na leitura ordenada de

amostras individuais na busca de um grupo de 5 amostras consecutivas que ultrapassam um limiar pré-determinado. Encontrado este grupo, indica-se que o início da palavra é a primeira amostra deste grupo. Após a determinação do início da palavra, o algoritmo passa a buscar o fim desta.

Esta busca é feita através da análise ordenada de amostras, de forma que se 1000 dessas amostras consecutivamente estiverem abaixo de um limiar

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previamente estabelecido, é então delimitado provisoriamente o fim da palavra.

Mesmo após essas detecções, o algoritmo continua a ler as amostras à procura de um novo grupo, desta vez com 20 amostras seguidas, que estejam acima de um certo limiar. Caso seja encontrado este último grupo, é reiniciada a busca pelo fim da palavra. Isto evita que o algoritmo venha a identificar incorretamente o fim de elocuções que possuem intervalos curtos de silêncio entre fonemas.

De posse das amostras que compõem o sinal, é criado um novo arquivo de extensão WAV que possui a palavra delimitada. As Fig. (2) e (3) ilustram a forma de onda da elocução “esquerda”, codificada com 8 bits e taxa de amostragem de 11025 Hz, antes e depois da detecção de início e fim respectivamente.

Figura 2. Forma de onda da palavra "esquerda" com codificação em 8 bits e taxa de amostragem

de 11025 Hz.

Figura 3. Forma de onda da palavra "esquerda" com início e fim detectados .

C− Pré-Ênfase O sinal de voz apresenta baixas amplitudes nas

altas freqüências o que as torna especialmente vulneráveis ao ruído. Tais freqüências são responsáveis pela geração dos sons surdos (COSTA, 1994).

A pré-ênfase objetiva eliminar uma tendência espectral de aproximadamente –6dB/oitava na fala irradiada dos lábios. Essa distorção espectral não traz informação adicional e pode ser eliminada através de um filtro, que proporcione um ganho de +6dB/oitava, fazendo com que o espectro se nivele. Em um sistema digital a pré-ênfase pode ser implementada como um circuito analógico, precedendo o amostrador, ou diretamente na informação digital através de um filtro do tipo de resposta ao impulso finito (finite impulse response) FIR de primeira ordem (PETRY et al, 2000). A Eq. (1) descreve o processo de pré-ênfase realizado neste trabalho:

)1()()( −−= naxnxny , com 1 ≤ n <M (1) em que: y(n) = sinal pré-enfatizado x(n) = sinal amostrado M = número de amostras a = constante, neste caso, usou-se a = 0,95

A Fig. (4) ilustra o processo de pré-ênfase, com a

elocução “esquerda”.

Figura 4. Forma de onda da palavra "esquerda"

– original e pré-enfatizada. D− Segmentação e Janelamento Em processamento digital de sinais de voz, é

necessário trabalhar com segmentos ou frames do sinal. Estes segmentos são da ordem de milisegundos, assumindo que nestes pequenos intervalos os sinais podem ser considerados razoavelmente estacionários. Foi definido um frame de voz como sendo o produto de uma janela discreta w(n) de tamanho L, pela seqüência de voz pré-enfatizada (PETRY et al, 2000).

Neste trabalho, optou-se por utilizar a janela de Hamming. Este tipo de janela apresenta boas características espectrais bem como atenua a

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 28

transição entre quadros adjacentes. O ambiente de processamento de sinais permite que o usuário estabeleça o tamanho das janelas, em milisegundos, de acordo com a sua necessidade. As janelas geralmente são sobrepostas entre si, para que haja uma variação gradual dos parâmetros entre elas. Foi utilizada uma sobreposição fixa entre janelas de 50%. A representação matemática do janelamento de Hamming é descrita na Eq. (2).

LnLn

nnns

≥<≤

<

⎪⎪⎩

⎪⎪⎨

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

−−= 0

0

01330

2cos46,054,0

0

)( π(2)

3. Extração de Parâmetros Temporais do Sinal de Voz

Para aplicações em RAV e RAL, é necessária a extração de informações úteis sobre o sinal da voz. Para se obterem tais informações, foram utilizadas técnicas baseadas no domínio do tempo, pois apresentam baixo custo computacional e produzem informações úteis acerca do sinal processado. Segue-se uma explanação sobre cada um dos parâmetros obtidos pelo ambiente de processamento de sinais.

A− Energia A energia segmental, Eseg, é utilizada para

diferenciação do silêncio, sons surdos, sons sonoros e fricativos. Este parâmetro é obtido simplesmente somando-se os quadrados das amplitudes das Na amostras da janela em análise. A energia por segmento para sinais estacionários é dada pela Eq. (3) (RABINER; SHAFER, 1978).

A Fig. (5) mostra a variação da energia ao longo da elocução “esquerda”.

∑−

=

=1

0

2)]([Na

nnsEseg (3)

B− Taxa de Cruzamento por Zero

As aplicações em que se utilizam métodos de análise no domínio do tempo, a Taxa de Cruzamento por Zero (TCZ) é um parâmetro usado na detecção de blocos com sons surdos (ex. consoante “s”), sonoros (ex. vogal “a”) e consoantes fricativas (ex. consoante “f”) (RABINER; SHAFER, 1978).

Figura 5. Energia segmental da palavra "esquerda".

Usualmente este parâmetro é definido por Eq. (4) e (5):

∑−

=

−−=1

1|)]1(sgn[)](sgn[|

21 Na

nnsnsTCZ (4)

em que:

( )⎩⎨⎧

<−≥

=0)(,1

0)(,1]sgn[

nssensse

ns (5)

Em janelas que apresentam elevado número de

amostras de valor nulo, esta definição não corresponde à realidade, pois, na transição de uma amostra negativa para uma amostra nula será contado um cruzamento por zero mesmo que a próxima amostra também seja negativa.

Neste trabalho, é proposto um algoritmo que forneça uma maior precisão no resultado final da Taxa de Cruzamento por Zero. Em síntese, o algoritmo ignora as amostras nulas e incrementa a TCZ, apenas, quando houver realmente uma inversão dos sinais das amostras consecutivas não nulas. A Fig. (6) ilustra a variação da Taxa de Cruzamento por Zero ao longo da palavra “esquerda” e a Fig. (7) o fluxograma do algoritmo em questão.

Figura 6. Variação da TCZ ao longo da palavra "esquerda".

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Figura 7. Fluxograma do algoritmo implementado para cálculo da TCZ.

C− Número Total de Picos e Diferença entre o Número de Picos O sinal de voz apresenta trechos que se repetem

quase periodicamente e trechos basicamente aleatórios, sem nenhuma periodicidade. Em sistemas que trabalham com reconhecimento ou síntese de voz, a detecção de diferentes modos de excitação permite a classificação dos sinais de voz em: sons sonoros, sons surdos e sons explosivos.

O Número Total de Picos (NTP) é um parâmetro que auxilia a detecção de fricativos surdos de pequena intensidade como o /f/. A Diferença entre o Número de Picos (DPN) ajuda o reconhecimento de sons fricativos sonoros que podem ser facilmente confundidos com vogais de pequena intensidade (VIEIRA, 1989).

O algoritmo a seguir mostra o procedimento de cálculo do NTP e DPN. As variáveis Picos Positivos (PPOS) e Picos Negativos (PNEG) correspondem ao número de picos da parte positiva e da parte negativa do sinal, respectivamente. PPOS = 0 PNEG = 0 para [i = 1; i < N; i = i + 1]

se [(sn ≥ 0) e (sn ≥ sn-1) e (sn > sn+1)] PPOS = PPOS + 1;

se [(sn < 0) e (sn ≤ sn-1) e (sn < sn+1)] PNEG = PNEG + 1;

NTP = PPOS + PNEG; DPN = PPOS – PNEG;

A Fig. (8) ilustra o Número Total de Picos da elocução “esquerda” e a Fig. (9) ilustra a variação da Diferença entre o Número de Picos na mesma elocução.

Figura 8. Variação do parâmetro NTP na palavra "esquerda".

Figura 9. Variação do parâmetro DPN na palavra "esquerda".

D− Coeficiente de Autocorrelação Normalizado

Este parâmetro tem bastante utilidade na distinção de sons surdos e sonoros. Esse coeficiente tem valores próximos a unidade para sons sonoros, por serem sinais que possuem alta concentração de energia. Logo, para sons com baixa concentração de energia como os sons surdos este parâmetro aproxima-se de zero (LIMA, 1994).

O valor do coeficiente de autocorrelação é determinado pela Eq. (6):

[ ]

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠

⎞⎜⎝

⎛⋅⎟

⎞⎜⎝

⋅=

∑∑

==

=

1-N

0n

2n

N

1n

2n

N

1n1-nn

ss

ssCOR

(6)

A Fig. (10) ilustra a variação do Coeficiente de

Correlação ao longo dos blocos da palavra “esquerda”.

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Figura 10. Variação do parâmetro COR ao longo da palavra “esquerda”.

4. Interface Gráfica

De forma a tornar-se mais compreensíveis as etapas do processo de extração de características a partir de um arquivo WAV , foi implementada uma interface gráfica, através do ambiente de desenvolvimento Borland C++ Builder, amigável e intuitiva que contém todos os algoritmos, anteriormente, discutidos. As figuras contendo os resultados obtidos neste trabalho foram retiradas do software implementado. A Fig. (11) apresenta a interface inicial do programa.

Figura 11. Interface inicial do ambiente de processamento digital de voz.

5. Conclusões

Neste trabalho foram implementadas rotinas que

podem servir de base para qualquer sistema de reconhecimento de voz, de locutor ou sistemas de síntese de voz. O programa final é flexível, pois permite que se trabalhe com arquivos WAV de 8 ou 16 bits, além de executar passo-a-passo o processamento do sinal da voz o que facilita a compreensão de cada procedimento.

Na fase de detecção de início/fim de palavras foi proposto um algoritmo que demonstrou bons

resultados em ambiente de laboratório, mas que deve ainda ser otimizado.

A extração de parâmetros que o programa executa retorna variáveis expressivas para caracterização do sinal da fala. Neste estágio foi implementado um algoritmo diferenciado, do geralmente utilizado, para a contagem da Taxa de Cruzamento pelo Zero, que obteve resultados excelentes na caracterização de sinais de 8 bits.

Outros passos devem ser dados para implementação de um sistema de reconhecimento de voz ou de locutor como a determinação dos coeficientes LPC, Mel, Mel-Cepstrais entre outros. As técnicas de parametrização dos modelos como Modelos de Markov Escondidos (HMM), Redes Neurais Artificiais ou técnicas híbridas podem ser utilizadas. No entanto, o trabalho até aqui realizado serve como base para um sistema que use qualquer dessas técnicas.

Pretende-se ainda, em etapas posteriores, avaliar o desempenho dos algoritmos aqui propostos com os algoritmos existentes na literatura. 6. Referências COSTA, W. C. da A. Reconhecimento de Fala Utilizando Modelos de Markov Escondidos (HMM’s) de Densidades Contínuas. 1994. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Departamento de Engenharia Elétrica, UFPB, Campina Grande. LIMA, A. B. O. Sistema de Resposta Vocal – VOCODER LPC. 1994. Relatório Técnico – Departamento de Engenharia Elétrica, UFPB, Campina Grande. PETRY, A..; ZANUZ, A.; BARONE, D. A. C. Utilização de técnicas de processamento digital de sinais para identificação automática de pessoas pela voz. 2000. Relatório Técnico – UFRGS, Porto Alegre. VIEIRA, M. N. Módulo Frontal para um Sistema de Reconhecimento Automático de Voz. 1989. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Departamento de Engenharia Elétrica, UNICAMP, Campinas. RABINER, L. R., SHAFER, R. W., Digital Processing of Speech Signals, Prentice Hall, 1978.

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Condições de ventilação intra-urbana e correlações entre atributos da morfologia urbana e variáveis

climáticas

Homero Jorge Matos de Carvalho [email protected]

Resumo: Este trabalho apresenta alguns resultados da aplicação de uma nova metodologia para a análise das interações entre a forma urbana e o clima (CARVALHO, 2006), baseada na metodologia de avaliação das ações do vento no planejamento da ocupação do solo (SILVA, 1999) e na teoria do sistema clima urbano (MONTEIRO, 1975). Através de experimentos em túnel aerodinâmico de camada limite atmosférica, medições de variáveis microclimáticas em João Pessoa e de análises estatísticas, constatou-se que a correlação entre a forma urbana e a variação da temperatura do clima urbano depende das condições de ventilação intra-urbana (velocidade e direção), e, ao mesmo tempo, da orientação da malha urbana, da rugosidade e da permeabilidade da forma urbana. Palavras Chave: planejamento urbano, clima urbano, ventilação intra-urbana, conforto ambiental 1. Introdução

O clima urbano, entendido como síntese das

relações decorrentes do entrosamento e articulação entre os fatos naturais e urbanos, é abordado como um sistema: aberto - uma vez que é sujeito à entrada e saída de energia; singular - pois restrito à cidade; complexo - dado à variedade e intensidade de relações que nele se estabelecem; evolutivo - pois segue a dinâmica do fato urbano bem como a climática, e ainda auto-regulável - visto ser passível de ações de feedback por parte do Homem (MONTEIRO, 1975).

Estudos já existentes revelam que o processo de urbanização altera os escoamentos do vento, elevando a camada limite atmosférica e reduzindo a velocidade próxima da superfície (CHANDLER, 1976), sendo tal efeito potencializado à medida que se aumenta a rugosidade da superfície. Outros estudos, como os de Assis (2000) e de Sakamoto (1994) suspeitam de haver possibilidade de o comportamento térmico de algumas porções urbanas estar sendo influenciado pela ventilação, ao passo que Romero (1988) afirma que as diferenças de temperatura entre porções distintas da cidade podem provocar uma circulação interna de ar, das áreas mais aquecidas para as menos aquecidas, mais evidenciadas em períodos de calmaria.

Serra (1984) e Assis (2000) acreditam que a baixa correlação entre a forma urbana e a temperatura do ar em cidades litorâneas se deve à ventilação mais abundante e forte nessa região, com incidência típica dos ventos alíseos. Entretanto, estudos realizados em algumas cidades litorâneas

como Salvador (SAMPAIO, 1981), João Pessoa (SILVA, 1999) e Rio de Janeiro (CORBELLA & YANNAS, 2003; SOUZA E SILVA, 2003), indicam que há aí uma relação mais complexa, em que a forma urbana (orientação, dimensões e organização das edificações no espaço) condiciona a ventilação, que, por conseguinte, influencia de maneira diferenciada o comportamento térmico de uma determinada parcela urbana. Isso explica, em parte, porque Sampaio (1981) não identificou correlações significativas entre a forma urbana e a temperatura do ar em Salvador, e porque Corbella & Yannas (2003) e Souza e Silva (2003) as encontraram no Rio de Janeiro.

Grande parte dos trabalhos sobre clima urbano não medem a velocidade e a direção do vento no local onde foram realizados, considerando, apenas, a temperatura e a umidade relativa do ar. Quando o fizeram, consideraram-se apenas, as medições em campo, não sendo foi suficiente para assegurar tais afirmações, visto que não tiveram o controle da direção e da velocidade dos ventos incidentes na cidade, nem das mudanças ocorridas em seu escoamento intra-urbano.

Neste contexto, este trabalho objetiva demonstrar como as condições de ventilação intra-urbana (velocidade e direção) interferem nas correlações entre a temperatura do ar e a forma urbana, tomando como estudo de caso, uma porção da cidade de João Pessoa – PB, no litoral do Nordeste brasileiro.

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2. Descrição da área estudada

O estudo foi realizado em uma porção da cidade de João Pessoa – PB limitada a leste pelo Oceano Atlântico, a oeste pelo Rio Jaguaribe, a norte pela Av. Sen. Rui Carneiro e R. Helena Maria Lima e a

sul pela Av. José Américo de Almeida (Fig.1), englobando parte dos bairros de Tambaú e do Cabo Branco, correspondendo a uma área de aproximadamente 563.000m2, divida (excluindo-se as vias) em 758 lotes distribuídos em 49 quadras, praticamente todos ocupados.

Figura 1. Perspectiva da área com a indicação dos pontos de medição e figura de erosão de areia para vento sudeste.

No zoneamento determinado pelo Plano Diretor de João Pessoa (1992), a área selecionada está situada na Zona Adensável Prioritária1 (ZAP), cujo adensamento populacional previsto é de até 150 hab./ha, e índice de aproveitamento construtivo máximo de 4,0. No entanto, estes índices permanecem aquém do previsto em lei, dada à predominância de edificações com um e dois pavimentos.

Obedecendo à Constituição do Estado da Paraíba (Art. 229) e a Lei Orgânica para o Município de João Pessoa (Art. 175), o Plano Diretor de João Pessoa (Art. 25) ainda prevê restrições, para uma porção desta área, relacionadas ao controle do gabarito em altura dos edifícios. A porção é denominada “Orla Marítima” e corresponde a uma faixa linear de 500m medidos a partir da preamar de 1 “Zona Adensável Prioritária é aquela onde a disponibilidade de infra-estrutura básica, a rede viária e o meio ambiente permitem a intensificação do uso e ocupação do solo e na qual o índice de aproveitamento é 4,0, e nos termos desta lei” (Lei Complementar nº. 3, de dezembro de 1992, atualizada até a Lei Complementar nº 4, de abril de 1993 – Plano Diretor da Cidade de João Pessoa).

sizígia2 em direção ao interior do continente. Nesta faixa, o gabarito é escalonado, iniciando-se a 12,90m na primeira linha de lotes, à beira-mar, alcançando aproximadamente 35m na última. Predomina, na área, o uso residencial, com a presença de um comércio local e de serviços, especialmente, hotéis, pousadas, bares e restaurantes.

3. Metodologia

2 O movimento de translação da Lua, também conhecido como dia lunar, tem a duração aproximada de 24h e 50 min., dividindo-se este tempo em 4 períodos, teremos quatro turnos de aproximadamente 6h e 12minutos, que é a duração de cada maré e suas variações, de preamar a baixa-mar. Nos períodos de Luas grandes (Cheias e Novas), onde a Terra, o Sol e a Lua estão em oposição ou conjunção, ocorre uma somatória de forças desses astros, e o movimento das marés atinge seu ponto extremo (tanto nas preamares quanto nas baixa-mares), fazendo assim que ocorram as marés de sizígia ou de águas-vivas (marés de grande amplitude).

B1

B2D1 C1 A1D2

C2A2

NV

150°

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A aplicação da metodologia para a análise das interações entre a forma urbana e o clima (CARVALHO, 2006) parte de levantamentos em campo e documental que possibilitaram a elaboração da base cartográfica da área de estudo na escala 1:5000, constando das plantas de uso do solo, gabarito em altura, topografia, taxa de ocupação por quadra e índice de aproveitamento por quadra, todas desenhadas em CAD e plotadas em acetato transparente para posterior sobreposição.

A partir desta base cartográfica, foram confeccionadas maquetes da área de estudo destinadas à realização de ensaios em túnel aerodinâmico de camada limite atmosférica, utilizando a técnica de erosão de areia (JANEIRO BORGES & SARAIVA, 1981). Os ensaios foram feitos, considerando o padrão dos escoamentos locais definidos por Silva (1999) para o rumo 150°, predominante no local em estudo. Desses ensaios resultaram figuras de erosão, que foram plotadas na mesma escala das plantas confeccionadas na etapa anterior. As figuras de erosão de areia são constituídas de diversas isolinhas correspondentes, cada uma, a um valor da velocidade exterior.

Com base na cartografia e nas figuras de erosão de areia, foram feitas as análises do tipo de uso e ocupação do solo e dos escoamentos de vento no local, a partir dos critérios definidos para a seleção dos pontos, nos quais foram feitas medições microclimáticas: − quantidade de pontos compatível com a

disponibilidade de instrumentos e de tempo; − os pares de pontos deveriam ser formados por

pontos com características de uso e ocupação semelhantes, distinguindo-se, entretanto, as condições de ventilação;

− cada par de pontos deveria ter afastamento diferenciado em relação ao mar e diferentes tipos de uso e de ocupação do solo. A confirmação de cada ponto foi feita através da

visita in loco, em que foram observados outros detalhes não constantes das plantas, como fluxo de veículos e de pedestres, árvores, cores e materiais das superfícies das construções. Assim, selecionaram-se quatro pares de pontos (Fig. 1), cujas características foram anotadas em uma ficha-padrão elaborada para este fim e para facilitar a análise posterior.

A escolha do período de medição se deu a partir dos resultados dos trabalhos de Silva (1999) e Carvalho (2001). Assim, optou-se por se fazerem as medições durante o mês de novembro, período de verão, com baixo índice pluviométrico, pela maior freqüência das velocidades mais altas dos ventos de sudeste (predominantes) e pela menor freqüência de calmaria (ventos de até 1,2 m/s).

Devido às limitações de recursos, as medições foram feitas durante 28 dias ininterruptos, das 8h às 9h, das 14h às 15h e das 20h e 21h. Como só havia um par de instrumentos, as medições foram feitas em transecto móvel, utilizando-se um automóvel. Foram destinados 10 minutos para as medições em cada par de pontos, e o percurso entre estes pares durou em média 6 minutos, totalizando 60 minutos para a realização de todo o transecto.

Em cada ponto foram medidas e registradas a velocidade e a direção média do vento em 10 minutos, a umidade relativa do ar, a insolação a cada minuto (dez registros) e as condições do céu de acordo com a seguinte escala: claro, predominante claro, parcialmente nublado, predominante nublado, nublado e nublado com chuva fina.

As medições foram feitas a 1,5m de altura em relação ao piso, para o que utilizou-se uma estação experimental composta por dois aparelhos registradores para a medição de temperatura e umidade relativa do ar, dois anemômetros portáteis para a medição de velocidade do vento, dois cata-ventos, fabricados artesanalmente, para a medição da direção do vento, um solarímetro para a medição da insolação e dois rádios de comunicação portáteis.

Os dados referentes à insolação, à direção do vento e à condição do céu foram anotados numa caderneta elaborada para este fim. Os de temperatura e de umidade relativa do ar foram armazenados nos dataloggers e transferidos para um computador ao final de cada dia de medição. A partir do que foram sistematizados para posteriores análises de correlação e de regressão linear múltipla, utilizando-se o software SPSS. Para as análises de correlação foi utilizado o método de Pearson e para as análises de regressão o método Stepwise.

4. Descrição e análise dos dados medidos em campo 4.1 Caracterização dos pontos de medição a) Pontos representativos da área observada

As medições microclimáticas foram realizadas

em quatro pares de pontos (Fig. 1), cujas características foram anotadas em uma ficha-padrão elaborada para este fim e para facilitar a análise posterior.

Os pontos A1 e A2 estão situados a 350m do mar, numa via asfaltada com trânsito intenso de veículos. O uso do entorno desses pontos é diversificado, com a presença de restaurante, salão de beleza, pousada e academia de ginástica, além das habitações. A taxa de ocupação é, respectivamente, de 42,7% e 43,8%, o índice de aproveitamento de 1,5 e 1,7 e o coeficiente de visão do céu de 60,2% e 61,1%.

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Os pontos B1 e B2 estavam situados numa porção próxima do mar (aproximadamente 290m), em uma área com elevada taxa de ocupação (54,3% e 51,5%), baixo índice de aproveitamento (1,3 e 0,7) e fator de visão de céu alto (71,24% e 66,94%), configurando uma área de ocupação mais horizontalizada. As vias são pavimentadas com paralelepípedos, com pequeno fluxo de veículos e de pedestres. O uso no entorno é predominantemente residencial, com a presença de alguns estabelecimentos comerciais e instituições públicas, como uma delegacia e um edifício comercial.

Os pontos C1 e C2 estão situados em uma via asfaltada, com trânsito leve de veículos e pequeno de pedestre. Ficam acerca de 550m do mar, numa área residencial, com índice de aproveitamento 1,0 e 1,1, taxa de ocupação de 46,9% e 46,3% e fator de visão do céu alto (70,02% e 69,36%).

Os pontos D1 e D2 estão situados a uma distância de aproximadamente 650m em relação ao mar, numa área com taxa de ocupação um pouco mais baixa (42,1% e 37,9%), índice de aproveitamento mais elevado (1,6 e 1,9) e com fator de visão do céu mais baixo do que no primeiro par (62,04% e 59,16%), indicando uma área mais verticalizada. A via onde se situam esses dois pontos também é pavimentada com paralelepípedos, sendo trafegada por pequeno fluxo de veículos e de pedestres. O uso é residencial, observando-se, apenas, a presença de uma escola de nível básico. b) Estação de referência

O monitoramento das condições ambientais dos

pontos observados foi feito a partir da comparação dos dados ali medidos com os registrados numa estação meteorológica, de referência, situada no Aeroporto Internacional Castro Pinto, fora da zona urbana. 4.2 Descrição e análise dos dados medidos em campo

Para a análise climática urbana baseada no ritmo

das variações do tempo, é necessário tomar como referência os fenômenos atmosféricos (em escala global e local) ocorridos no período do levantamento de dados, a fim de se identificar possíveis alterações rítmicas que possam modificar as relações entre as variáveis envolvidas no estudo em desenvolvimento. Para este fim, tomaram-se como referência mapas sinóticos de temperatura do ar e umidade relativa do

ar3 e registros horários de pressão atmosférica e de velocidade e direção do vento medidos na estação de referência.

Embora o período para a realização das medições (3 a 30 de novembro de 2004) tenha sido selecionado a partir de registros anteriores, tratados na forma de normais climatológicas, verificou-se uma mudança significativa da direção e da velocidade do vento incidente na cidade de João Pessoa, medidos na estação de referência, situada em área não urbanizada da cidade. Na primeira parte do período de medições, aproximadamente de 3/11 a 18/11, predominou a incidência dos ventos do quadrante sudeste, enquanto que na segunda parte predominaram os ventos de leste e nordeste.

Percebeu-se, também, que a variação da velocidade do vento esteve associada à sua direção, sendo mais elevada quando o vento soprou de sudeste. A mesma relação foi verificada para a temperatura do ar, que se elevou quando os ventos passaram a soprar de leste e nordeste.

Essas modificações se devem à chegada dos meses mais quentes (novembro a março), quando a freqüência dos ventos é modificada através dos ventos de leste e de nordeste, vindos das áreas equatoriais na corrente de deslocamento em direção sul da Zona de Convergência Tropical Interna4. Quando isso ocorre, forma-se uma massa de ar quente que barra a passagem dos ventos oriundos do oceano atlântico, tornando-os mais fracos.

Devido a essas condições, as correlações entre a forma urbana e a temperatura do ar e entre esta e as variáveis climáticas consideradas, modificam-se em função do horário de medição e da direção do vento predominante no período determinado, como se observa na descrição a seguir.

4.2.1 Análise de correlação e regressão linear múltipla

Nesta análise foram considerados os dados obtidos em todos os pontos de medição, de maneira que fosse possível acrescentar ao grupo das variáveis independentes as variáveis relacionadas à forma

3 Os mapas sinóticos foram obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, publicados no site www.inmet.gov.br. 4 Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é composta de um aglomerado de nuvens distintas, com escala de poucas centenas de quilômetros, os quais estão associadas a uma zona alongada de baixa pressão. Trata-se do encontro dos ventos alísios de NE e SE, localizando-se entre as duas altas subtropicais dos hemisférios Norte e Sul. Nesse ponto, sofre um deslocamento sazonal (varia com a estação do ano). Situa-se em latitudes próximas ao equador, no verão do hemisfério sul, e desloca-se para latitudes do hemisfério Norte, no verão do hemisfério Norte.

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urbana. Da mesma maneira que as análises ponto a ponto, estas foram feitas por turno e para os estratos de dias diferenciados pela direção dos ventos incidentes.

As Figuras (2) e (4) mostram a complexidade das relações entre as variáveis climáticas e as variáveis da forma urbana, quando o vento soprou de sudeste, e as Fig. (3), (5) e (6) mostram as relações verificadas quando os ventos sopraram de leste e nordeste nos três turnos considerados. Essas figuras apresentam apenas as correlações significativas existentes entre as variáveis consideradas na análise. Para simplificar as figuras e facilitar a sua interpretação, não são apresentadas as correlações entre os elementos da morfologia. 4.2.1.1 Manhã

Durante a manhã, com vento sudeste, a variável

que obteve a correlação mais forte com a temperatura do ar foi a distância do ponto de medição em relação ao mar, com r = 0,43, ao nível de significância p = 0,00, demonstrando que neste período a temperatura tendeu a elevar-se à medida que se afastava do mar (Fig. 2).

As análises indicaram também que a temperatura tendeu a diminuir nos pontos situados em porções com taxas de ocupação mais elevadas (r = -0,380 e p = 0,000). Entretanto, identificou-se nessas condições o efeito de colinearidade provocado pela taxa de ocupação e a distância em relação ao mar, de maneira que apenas esta última comporá o modelo explicativo das variações de temperatura.

Quanto às correlações com as outras variáveis climáticas, verificou-se que ocorreu o efeito de colinearidade provocado pela condição de céu e pela insolação. A umidade relativa do ar e a condição de céu se correlacionaram inversamente com a temperatura (r = -0,38 e -0,36, respectivamente).

Com R2 = 44,1%, o modelo explicativo das variações da temperatura com o vento sudeste foi formado pelas variáveis umidade relativa do ar (r2=22,2%), distância em relação ao mar (r2=9,0%), condição de céu (r2=4,8%), tipo de pavimento (r2=4,6%) e fator de visão do céu (r2=2,5%), estas duas últimas integrando o modelo mesmo com correlações insignificantes.

Figura 2. Sistema de correlações entre as variáveis climáticas e da forma urbana

no turno da manhã com vento sudeste. Legenda: r – Correlação de Pearson - * Correlação significante ao nível de 0,05 - ** Correlação significante ao nível de 0,01 - UR – Umidade relativa do ar; V. Vento –

Velocidade do vento; Cond. Céu – Condição do céu; T.O. – Taxa de ocupação; I.A. – Índice de aproveitamento; FVC – Obstrução do céu; Pavim. – Tipo de pavimento; Dist. Mar –

Distância em relação ao mar.

UR

TEM

PER

ATU

RA

DO

AR

V. Vento

Insolação

Cond. Céu

r = - 0,41**

r = 0,26**

r = - 0,49**

r = 0,30**

r = - 0,54**

Dist. Mar

IA

Pavim.

TO

r = - 0,27**

r = - 0,32**r = 0,42**

r = - 0,34**

r = - 0,23*

r = 0,48**

r = - 0,80**

UR

TEM

PER

ATU

RA

DO

AR

V. Vento

Insolação

Cond. Céu

r = - 0,41**

r = 0,26**

r = - 0,49**

r = 0,30**

r = - 0,54**

Dist. Mar

IA

Pavim.

TO

r = - 0,27**

r = - 0,32**r = 0,42**

r = - 0,34**

r = - 0,23*

r = 0,48**

r = - 0,80**

Page 37: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 37

Com ventos leste e nordeste, uma maior quantidade de variáveis se correlacionou significativamente com a temperatura do ar (Fig. 3), sendo a correlação com a umidade relativa do ar a mais forte (r = -0,639), seguida das correlações com a insolação (r = 0,527) e com a velocidade do vento (r = -0,453). As correlações entre a temperatura do ar e demais variáveis foram fracas, no entanto, os valores de significância indicam que essas variáveis devam ser consideradas co-responsáveis pela alteração do comportamento da temperatura.

Na análise de regressão stepwise verificou-se que houve o efeito de colinearidade provocado pela relação entre a insolação e a condição do céu, e de multicolinearidade provocado pela taxa de ocupação, pelo índice de aproveitamento e pelo fator de visão do céu. Assim, fazendo-se um ajustamento, obtém-se a umidade relativa do ar (r2=40,8%), a velocidade do vento (r2=10,6%), a insolação (r2=6,5%), a taxa de ocupação (r2=8,1%) e o fator de visão do céu (r2=4,4%). Juntas, essas variáveis explicaram 70,4% das variações da temperatura do ar.

Figura 3. Sistema de correlações entre as variáveis climáticas e da forma urbana no turno

da manhã com ventos leste e nordeste. Legenda: Idem Figura 2.

4.2.1.2 Tarde

À tarde, com vento sudeste, a variável velocidade do vento passou a manter uma correlação mais forte com a temperatura do ar, com r = -0,494 e p = 0,00, indicando que a temperatura tende a diminuir à medida que a velocidade do vento aumenta (Fig. 4). Entretanto, o tipo de pavimento foi a variável que mais fortemente se correlacionou com a temperatura (r=0,634), indicando que a temperatura tendeu a permanecer mais elevada nos pontos situados nas vias pavimentadas com asfalto.

AIRTEMPERATURE

OccupancyRate

WindVelocity

Sky ViewFactor

UtilizationIndex

Relative AirHumidity

SolarRadiation

Nebulosity

Distancefrom Sea

Pavement

r = - 0,26*

r = - 0,63**

r = 0,32**

R = - 0,52**r = - 0,75**

r = - 0,35**

r = 0,607**r = - 0,606**

r = - 0,21*

r = 0,22*

r = - 0,26*

r = 0,43**

r = 0,29**

r = 0,34**

r = - 0,38** r = - 0,52**

r = 0,67** AIRTEMPERATURE

OccupancyRate

WindVelocity

Sky ViewFactor

UtilizationIndex

Relative AirHumidity

SolarRadiation

Nebulosity

Distancefrom Sea

Pavement

r = - 0,26*

r = - 0,63**

r = 0,32**

R = - 0,52**r = - 0,75**

r = - 0,35**

r = 0,607**r = - 0,606**

r = - 0,21*

r = 0,22*

r = - 0,26*

r = 0,43**

r = 0,29**

r = 0,34**

r = - 0,38** r = - 0,52**

r = 0,67**

Page 38: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 38

Figura 4. Sistema de correlações entre as variáveis climáticas e da forma urbana no turno da tarde com vento sudeste.

Legenda: Idem Figura 2. O modelo explicativo das variações foi formado

por sete das nove variáveis consideradas, excluindo-se apenas a insolação e a umidade relativa do ar, que provocaram o efeito de multicolinearidade junto com a condição de céu. O tipo de pavimento explicou 40,2%, a condição do céu 16,7%, a velocidade do vento 8,7%, o índice de aproveitamento 2,9%, a taxa de ocupação 1,8%, a distância em relação ao mar 1,6% e o fator de visão do céu 0,9%, totalizando 72,8%. Com ventos de leste e nordeste, o fator de visão do céu (r=0,529) e a velocidade do vento (r= -0,517), s eguidos do índice de aproveitamento (r= -0,415), foram as variáveis que mais fortemente se correlacionaram com a temperatura do ar (Fig. 5). As demais mantiveram uma correlação fraca, no entanto, os níveis de significância indicam que estas contribuem, em alguma medida, para as variações de comportamento da temperatura. Neste caso, o modelo explicativo das variações da temperatura foi composto pelo fator de visão do céu

(r2=28,0%), pela velocidade do vento (r2=8,1%), pelo tipo de pavimento (r2=6,2%) e pela condição do céu (r2=3,7%).

I.A.

UR

Pavim.

V. Vento

Cond. Céu

r = 0,37**

r = - 0,44**

r = 0,72**

r = - 0,45**TEM

PE

RA

TUR

A D

O A

R

r = - 0,46**

Insolação

r = - 0,22*

R =

0,70*

*R

= -0

,66*

*r = -

0,33*

*

T.O.

r = 0,

23**

r = - 0,28** FVC

r = -

0,22*

Dismar

r = - 0,20* I.A.

UR

Pavim.

V. Vento

Cond. Céu

r = 0,37**

r = - 0,44**

r = 0,72**

r = - 0,45**TEM

PE

RA

TUR

A D

O A

R

r = - 0,46**

Insolação

r = - 0,22*

R =

0,70*

*R

= -0

,66*

*r = -

0,33*

*

T.O.

r = 0,

23**

r = - 0,28** FVC

r = -

0,22*

Dismar

r = - 0,20*

Page 39: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 39

Figura 5. Sistema de correlações entre as variáveis climáticas e da forma urbana no turno da tarde com ventos leste e nordeste.

Legenda: Idem Figura 2. 4.2.1.3 Noite

À noite não foram verificadas correlações significativas com a temperatura do ar quando o vento soprou de sudeste, possivelmente pela pequena diferença nos valores de temperatura entre os pontos medidos, verificada ao longo de todo o período de medição.

Com ventos leste e nordeste as correlações verificadas foram fracas, porém significativas (Fig. 6). A condição de céu (r=0,494 e p=0,000), a velocidade do vento (r= -0,464 e p=0,000) e o fator de visão do céu (r=0,443 e p=0,000) foram as variáveis que mais fortemente se correlacionaram com a temperatura do ar.

Como ocorreu o efeito de colinearidade provocado pela velocidade do vento e o fator de visão do céu, apenas a condição de céu (r2=24,4%) e

a velocidade do vento (r2=24,9%) compuseram o modelo explicativo das variações da temperatura do ar, com R2=49,3%.

4.2.2 Análise comparativa entre os pontos: discussão teórica dos resultados

As correlações foram mais nítidas com os ventos mais lentos de leste e nordeste. A moderada correlação entre a temperatura do ar e a forma urbana, através das variáveis taxa de ocupação, índice de aproveitamento e fator de visão do céu, indica um alto grau de homogeneidade na ocupação da área estudada, notando-se um leve adensamento da porção oeste com edifícios mais altos e maior espaçamento entre eles, e uma ocupação mais horizontal na porção leste, com a predominância de edificações com até dois pavimentos.

TEMPERATURADO AR

V. Vento

Insolação

r = - 0,52**

r = 0,27**

TO

FVCr = 0,54**

r = -

0,33*

*

r = 0,32**

IA

PAVIM.r = 0,26**

r = - 0,42**

r = - 0,29**r = 0,32**

r = 0,21*

r = - 0,52**

UR

CéuDist. Marr = - 0,24*

r = 0,

51**

r = - 0,38**

r = - 0,28**

r = - 0,20*

r = - 0,58**

r = - 0,19*

TEMPERATURADO AR

V. Vento

Insolação

r = - 0,52**

r = 0,27**

TO

FVCr = 0,54**

r = -

0,33*

*

r = 0,32**

IA

PAVIM.r = 0,26**

r = - 0,42**

r = - 0,29**r = 0,32**

r = 0,21*

r = - 0,52**

UR

CéuDist. Marr = - 0,24*

r = 0,

51**

r = - 0,38**

r = - 0,28**

r = - 0,20*

r = - 0,58**

r = - 0,19*

Page 40: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 40

Figura 6. Sistema de correlações entre as variáveis climáticas e da forma urbana no turno da noite com ventos leste e nordeste.

Legenda: Idem Figura 2.

Também se deve ao grande número de variáveis envolvidas, muitas delas se relacionando fortemente e causando efeitos de colinearidade e multicolinearidade. Entretanto, pelos níveis de significância e coeficientes de determinação encontrados (r2) verificados, os índices de correlação parecem ser satisfatórios para o campo da climatologia urbana.

O comportamento climático do ambiente observado ao longo do dia se explica através da compreensão dos processos físicos de trocas térmicas, condicionados pela interação clima-estrutura urbana, que devem ser esclarecidos nos próximos itens, sempre separando as análises por turno e pela direção dos ventos. 4.2.2.1 Manhã

O Gráfico 1 mostra o quanto a temperatura do ar se elevou quando os ventos incidentes mudaram da direção sudeste para as leste e nordeste durante o período de medição, sendo mais marcante nos pontos B1 e B2. Por um lado essa condição pode ser explicada pela elevação natural das temperaturas devida às mudanças atmosféricas referidas no item 4.2. Por outro, as figuras de erosão obtidas dos experimentos no túnel aerodinâmico revelaram que as alterações do comportamento térmico nos pontos observados também estão associadas à alteração dos escoamentos no interior da malha urbana com a mudança de direção do vento (Fig. 7). Note-se que o percentual de áreas de estagnação é maior com ventos soprando a 90° (leste). Também é possível

perceber que com ventos a 90° há um aumento significativo da zona de estagnação em torno dos pontos B1 e B2 em relação aos ventos incidentes de 150°.

Observando as médias das temperaturas registradas no período de medição no turno da manhã, verifica-se que quando o vento soprou de sudeste os pontos que permaneceram mais aquecidos foram D2 e C1, seguidos de C2 e D1, enquanto que B1, B2, A2 e A1, nesta ordem, permaneceram menos aquecidos (Graf. 1).

Essa diferença pode ser atribuída, em parte, ao horário de medição, visto que as medições sempre se iniciaram nos pontos A1 e A2, das 8h às 8h10min, e concluídas nos pontos D1 e D2 às 9h, tempo suficiente para haver um aumento significativo da radiação solar, e, conseqüentemente, do aquecimento do ambiente. Mas também está associada à umidade relativa do ar, que permaneceu mais elevada nos pontos A2, A1 e B1 (Graf. 2), resultados coerentes com as análises de correlação, que indicaram que os pontos mais úmidos tendem a permanecer com a temperatura mais baixa (Fig. 2) neste turno e com o vento sudeste.

Essas afirmações podem ser reforçadas, ainda, pelas correlações entre a umidade relativa do ar e a distância em relação ao mar e entre esta variável e a temperatura do ar (Fig. 2). Pela manhã a temperatura tende a diminuir e a umidade a elevar-se nos pontos mais afastados do mar, exatamente os pontos C1, C2, D1 e D2. Verificou-se, também, que os pontos mais ventilados tenderam a permanecer menos aquecidos, principalmente A1, A2 e B2. (Graf. 3).

FVC

T.O.UR

I.A.

V. VentoCond. Céu

r = 0,

63**

r = - 0,46**

TEM

PE

RA

TUR

A D

O A

R

r = -

0,68*

*

r = 0,

34**

r = 0,49**

R = - 0,34**

r = 0,44**

r = 0,31**

R =

-0,5

2**

FVC

T.O.UR

I.A.

V. VentoCond. Céu

r = 0,

63**

r = - 0,46**

TEM

PE

RA

TUR

A D

O A

R

r = -

0,68*

*

r = 0,

34**

r = 0,49**

R = - 0,34**

r = 0,44**

r = 0,31**

R =

-0,5

2**

Page 41: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 41

Gráfico 1. Média da temperatura no turno da manhã para as

direções de vento sudeste e leste e nordeste.

Figura 7. Comparação entre as figuras de erosão para as direções de vento 150° e 90° a 330rpm.

Gráfico 2: Comparativo entre as médias de temperatura e umidade relativa do ar com vento

sudeste, pela manhã.

52,18% Erodida 43,64% Erodida

28,0

28,5

29,0

29,5

30,0

30,5

31,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2

Tem

pera

tura

o C

SUDESTE NORDESTE

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pear

utra

o C

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Vevo

lidad

e do

ven

to

m/s

VVENTO TEMP

Page 42: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 42

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

44,0

46,0

48,0

50,0

52,0

54,0

56,0

Um

idad

e R

elat

iva

%

UR TEMP

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2

Pontos

Tem

pera

tura

o C

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

55,0

60,0

Taxa

de

Ocu

paçã

o %

T.O. TEMP

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pear

utra

o C

0,00,20,40,60,81,01,21,41,61,8

Vel.

do v

ento

m/s

VVENTO TEMP

Gráfico 3: Comparativo entre as médias de temperatura e velocidade do vento com vento

sudeste, pela manhã. Com ventos de leste e nordeste o comportamento

da temperatura em relação à umidade relativa do ar é semelhante ao período de vento sudeste, ou seja, os pontos mais úmidos tenderam a permanecer menos quentes (Graf. 4). Neste período, os pontos mais aquecidos foram B2, B1 e C1, e os menos quentes, A1 e A2.

Gráfico 4: Comparativo entre as médias de temperatura e umidade relativa do ar com vento

nordeste, pela manhã.

A velocidade do vento também contribuiu para a redução da temperatura do ar, especialmente nos pontos A1, A2 e D2, os mais ventilados (Graf. 5).

Gráfico 5: Comparativo entre as médias de temperatura e velocidade do vento com vento

nordeste, pela manhã.

Com a mudança de direção do vento e a redução da sua velocidade, as correlações entre a temperatura

do ar e os elementos da forma urbana se mostraram mais evidentes. Percebeu-se o quanto os pontos situados em porções com taxas de ocupação mais elevadas tenderam a permanecer mais aquecidos (Graf. 6). Essa tendência está, em parte, relacionada à correlação inversa entre a taxa de ocupação e a velocidade do vento (Fig. 3), ou seja, a velocidade do vento tende a diminuir nas porções com taxa de ocupação mais elevada. Isso se deve à menor porosidade da malha urbana, visto que nessas áreas os afastamentos entre os edifícios são menores.

Por fim, verificou-se que a temperatura tendeu a permanecer mais elevada naqueles pontos situados em porções com menor índice de aproveitamento (Graf. 7) e maior fator de visão do céu (Graf. 8), ou seja, mais expostos à radiação solar direta, e, conseqüentemente, a maior insolação e menor ventilação, segundo as análises de correlação.

Gráfico 6: Comparativo entre as médias de temperatura e taxa de ocupação com vento

nordeste, pela manhã.

Gráfico 7: Comparativo entre as médias de temperatura e índice de aproveitamento com

vento nordeste, pela manhã.

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

40,042,044,046,048,050,052,054,0

Um

idad

e R

elat

iva

%

UR TEMP

26,027,028,029,030,031,032,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

I. ap

rove

itam

ento

I.A. TEMP

Page 43: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 43

Gráfico 8: Comparativo entre as médias de temperatura e fator de visão do céu com vento

nordeste, pela manhã.

A influência da umidade relativa do ar no comportamento da temperatura nos dois períodos de direção do vento é típica das primeiras horas da manhã, quando os valores de umidade ainda estão elevados. Isso significa que, neste horário, há uma grande quantidade de partículas de água em suspensão no ar, que funciona como uma barreira da radiação solar, atingindo a estrutura urbana e retardando o seu aquecimento.

É verdade que essas partículas também se aquecem com a incidência da radiação solar, entretanto, esse aquecimento é mais lento devido ao alto calor específico da água.

Essa condição proporciona um campo térmico mais homogêneo, com diferenças menores de temperatura entre os pontos, especialmente com ventos mais brandos, como os de leste e nordeste. Pela manhã, com vento sudeste, a diferença média de temperatura foi de 1,2°C, entre os pontos D2 e B1 (30,2°C e 29,0°C, respectivamente). Com ventos

leste e nordeste essa diferença caiu para 0,7°C, entre os pontos B2 (30,6°C) e A1 e A2 (29,9°C). 4.2.2.2 Tarde

À tarde, há a tendência natural de aumento das

velocidades de vento, que, associado à redução da radiação solar incidente, tornam mais evidentes as trocas térmicas através dos processos radiativos, evaporativos e convectivos, ou seja, a estrutura urbana, mais aquecida, cede calor ao ar em movimento e com temperatura mais baixa, resfriando-se.

No caso de João Pessoa, essas trocas começam a repercutir na redução da temperatura do ar exterior, geralmente após as 14h, quando os valores de temperatura e de umidade relativa atingem seus extremos diários (máximos e mínimos, respectivamente).

Com exceção do ponto A1, os demais pontos se tornaram mais quentes, quando os ventos passaram a soprar de leste e nordeste, sendo maior a elevação da temperatura nos pontos B1, B2, C1, C2 e D1 (Graf. 9), que possuem maior absortividade e tiveram também a ventilação reduzida neste período.

Note-se que com vento sudeste os pontos mais aquecidos foram aqueles situados em vias pavimentadas com asfalto (A1, A2, C1 e C2), e a ocorrência das menores temperaturas foram registradas nos pontos mais ventilados (Graf. 10).

Gráfico 9: Média da temperatura no turno da tarde para as

direções de vento consideradas.

28,0

28,5

29,0

29,5

30,0

30,5

31,0

31,5

32,0

32,5

33,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2

Tem

pera

tura

o C

SUDESTE NORDESTE

26,027,028,029,030,031,032,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

FVC

FVC TEMP

Page 44: Revista Principia N 14

PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 44

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pear

utra

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Vel.

do v

ento

m/s

VVENTO TEMP

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

33,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2

Pontos

Tem

pear

utra

o C

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Vel.

do v

ento

m/s

VVENTO TEMP

Gráfico 10: Comparativo entre as médias de temperatura e velocidade do vento, à tarde e com

vento sudeste, à tarde.

Gráfico 11: Comparativo entre as médias de temperatura e índice de aproveitamento, à tarde

e com vento nordeste, à tarde.

Com ventos leste e nordeste, os pontos mais quentes foram C1, C2, B1 e B2, exatamente os situados em porções com menor índice de aproveitamento (Graf. 11), maior fator de visão do céu (Graf. 12) e menos ventiladas (Graf. 13). A diferença entre os pares C1-C2 e B1-B2 se deve ao fator de visão de céu, que é maior no primeiro par, o que proporciona uma maior exposição à radiação solar direta.

Gráfico 12: Comparativo entre as médias de temperatura e fator de visão do céu, à tarde e

com vento nordeste, à tarde.

Gráfico 13: Comparativo entre as médias de temperatura e velocidade do vento, à tarde e com

vento nordeste, à tarde.

O pavimento asfáltico e a maior exposição à radiação solar direta são o motivo pelo qual os pares C1-C2 e A1-A2 se aquecem mais rapidamente da manhã para a tarde, com valores entre 1,0°C e 1,2°C, enquanto os pontos D1 e D2 tiveram a sua temperatura reduzida da manhã para a tarde, com valores entre 0,3°C e 0,4°C a menos. Com ventos leste e nordeste os pontos C1 e C2 têm, respectivamente, um aumento de 1,7°C e 1,8°C da manhã para a tarde, enquanto que os pontos D1 e D2 aquecem-se apenas em 0,2°C e 0,1°C.

Esses valores médios confirmam os índices de correlação obtidos. Pelas análises de correlação com dados medidos no período de vento sudeste, percebe-se que o tipo de pavimento influenciou mais significativamente o comportamento da temperatura, enquanto que, com ventos leste e nordeste, passaram a ter maior influência (Fig. 4 e 5) a velocidade do vento, o fator de visão do céu e o índice de aproveitamento.

Como os índices de correlação mostraram, a ventilação exerce maior influência no comportamento térmico à tarde, de maneira que ao observar as figuras de erosão (Fig. 7) percebe-se que com ventos a 90° ocorre uma maior concentração de zonas de estagnação em torno dos pontos de medição, a exceção do ponto A1, onde ocorreu a redução da temperatura com ventos leste e nordeste.

A influência significativa dessas variáveis no comportamento térmico do ambiente estudado à tarde se revela, ainda, pelo aumento da diferença de temperatura entre os pontos observados. Quando o vento soprou de sudeste, essa diferença chegou, em média, a 1,8°C entre C1 (31,2°C) e D1 (29,4°C), e atingiu 2,2°C entre os pontos C1 (32,3°C) e D2 (30,1°C), com ventos leste e nordeste.

Em síntese, verificou-se que o melhor desempenho térmico ocorreu nos pontos B1 e B2, situados em via pavimentada com pedras e com menor fator de visão do céu. O pior desempenho foi o dos pontos C1 e C2, situados em via asfaltada e com maior fator de visão do céu.

26,027,028,029,030,031,032,033,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

I. ap

rove

itam

ento

I.A. TEMP

26,027,028,029,030,031,032,033,0

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2Pontos

Tem

pera

tura

o C

0,010,020,030,040,050,060,070,080,0

FVC

%

FVC TEMP

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 45

4.2.2.3 Noite Se, por um lado, o maior fator de visão do céu e o

pavimento asfáltico contribuem para o ganho mais elevado de calor durante o dia, à noite essas variáveis possibilitam a dispersão mais rápida do calor acumulado, principalmente se houver uma boa ventilação. No caso do pavimento asfáltico, a perda de calor é mais rápida porque tal material tem grande efusividade. E quanto ao fator de visão do céu, os resultados corroboram com outros estudos já realizados, os quais afirmam que ambientes com grande obstrução do céu tendem a reter o calor acumulado por mais tempo.

Para se ter uma idéia, entre a tarde e a noite, percebeu-se no ponto C1 − situado em via asfaltada e com elevado fator de visão do céu − a redução da temperatura, em média, 4,6°C com vento sudeste e 5,5°C com ventos leste e nordeste, enquanto que no

ponto D1 essa redução foi de apenas 2,9°C com vento sudeste, e em D2, 3,3°C com ventos leste e nordeste (Graf. 14).

Com vento sudeste, os pontos mais quentes foram A2, B2, C2 e D2, todos com 26,7°C em média. O menos quente foi A1, com 26,4°C. Com vento leste e nordeste, C2 continuou sendo o ponto mais quente e A1 e D1 permaneceram, em média, mais frios.

De acordo com os coeficientes de correlação encontrados só se percebe a influência mais significativas das variáveis climáticas e urbanas no comportamento térmico do ambiente estudado, quando os ventos sopram de leste a nordeste. Neste caso, a nebulosidade e a umidade relativa do ar tenderam a dificultar a dispersão do calor, enquanto a ventilação tendeu a favorecê-la (Fig. 6).

Gráfico 14: Média da temperatura no turno da noite para as direções de vento consideradas.

Com relação à umidade e à nebulosidade, ao

contrário do que ocorre pela manhã, as partículas de água suspensas no ar e as nuvens criam, durante a noite, uma barreira que dificulta a dispersão da radiação térmica acumulada pela estrutura urbana, mantendo o ar aquecido por mais tempo.

As pequenas diferenças de temperatura entre os pontos se devem, em parte, à baixa velocidade dos ventos noturnos e à baixa densidade construída da área, o que torna o campo térmico mais homogêneo. 5. Conclusões

Dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que: − não é possível estabelecer como regra que o

aumento da densidade construída (e assim, a

verticalização das construções) provoque a elevação da temperatura. Os resultados apresentados aqui indicaram exatamente o contrário, o que remete à hipótese de que até um certo limite a verticalização das edificações contribui para a redução da temperatura, pois aumenta o sombreamento das ruas e, em alguns casos, provoca a aceleração dos ventos;

− deve-se, no caso dos climas tropicais úmidos, buscar uma forma urbana que proporcione ambientes com uma menor quantidade de horas de exposição ao sol (apenas o suficiente para a higienização) e ventilação abundante, com velocidades dentro dos limites de conforto e segurança aos pedestres; o comportamento verificado nos pontos D1 e D2, à tarde, com temperatura do ar variando, em média, de -0,18°C

26,0

26,2

26,4

26,6

26,8

27,0

27,2

A1 A2 B1 B2 C1 C2 D1 D2

Tem

pera

tura

SUDESTE NORDESTE

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a +0,48°C em relação ao aeroporto, reforça a essa afirmativa;

− os resultados apresentados mostraram o quanto a velocidade do vento, a umidade relativa do ar, a condição de céu e a radiação solar interferem na temperatura, estando essas variáveis também condicionadas à forma urbana, cuja função no sistema é, em parte, controlar os escoamentos e a incidência da radiação solar no ambiente;

− é equivocado atribuir-se à maior incidência de ventos mais fortes e constantes nas cidades litorâneas à fraca correlação entre a forma urbana e a temperatura do ar, como afirmam ASSIS (2000) e SERRA (1984). Em primeiro lugar há que ser considerada a temperatura do escoamento (de vento). Em segundo lugar, se a forma urbana não for permeável à ventilação predominante no local, essa (mesmo com temperatura inferior à estrutura urbana) não será capaz de retirar o calor armazenado no interior da cidade. Em João Pessoa, as maiores correlações entre a temperatura do ar e a forma urbana ocorreram exatamente quando estas também foram boas com a velocidade do vento, principalmente, quando os ventos sopraram de leste e de nordeste à tarde. Daí a importância dos experimentos em túnel aerodinâmico para o conhecimento mais aprofundado do comportamento desta variável;

− a correlação inversa entre a temperatura do ar e a condição do céu (nebulosidade) também não é absoluta. Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam que essas correlações tendem a ser inversas, pela manhã e à tarde, e diretas à noite. A nebulosidade forma uma barreira à passagem da radiação, da atmosfera para a cidade durante o dia, e da cidade para a atmosfera durante a noite;

− as correlações verificadas indicam que a velocidade do vento tende a diminuir à medida que se adentra ao continente, resultado coerente com os perfis de velocidade do vento medidos por PEREGRINO (2005) no túnel aerodinâmico para esta mesma área. Já se faz perceber o efeito negativo do escalonamento do gabarito em altura dos edifícios desta área, conforme induz a legislação urbana local;

− a ilha de calor diurna verificada no local apresenta uma magnitude de 2,3°C em média e máxima de 3,7°C com ventos leste e nordeste no período observado, valores preocupantes, já que a área estudada ainda é pouco adensada e se encontra no primeiro plano em relação à incidência dos ventos dominantes, o que leva a crer que as porções mais centrais da cidade podem estar ainda mais aquecidas;

− o crescimento da urbanização da área estudada tem provocado a redução da cobertura vegetal e das áreas de solo permeável, agravado pela inexistência de áreas verdes no local. Assim, devem ser revistos os valores das taxas de permeabilidade do solo a ser reservada em cada empreendimento; e o poder público municipal, por sua vez, deve desenvolver um programa de arborização, contribuindo assim para o sombreamento dos passeios públicos e praças e, conseqüentemente, para redução dos ganhos de calor pela estrutura urbana.

6. Referências ASSIS, Eleonora Sad de. Impactos da forma urbana na mudança climática; método para previsão do comportamento térmico e melhoria de desempenho do ambiente urbano. São Paulo: FAUUSP, 2000. (Tese, Doutorado em Arquitetura e Urbanismo).

CARVALHO, Homero Jorge Matos de. Parâmetros climatológicos para o estudo do balanço termo-energético de edificações da cidade de João Pessoa – PB. Natal: UFRN, 2001. (Dissertação, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). ____. Metodologia para a análise das interações

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CHANDLER, T. J. Urban climatology and its relevance to urban design. WMO – Nº 438, Geneva: 1976. Constituição Estadual da Paraíba. Capítulo IV – Da proteção do meio ambiente e do solo, Art. 229. Promulgada em 1989. CORBELLA, Oscar D.; YANNAS, Simos. Em busca de uma arquitetura sustentável para os trópicos. Rio de Janeiro: Revan, 2003. JANEIRO BORGES, A. R. e SARAIVA, J. A. G., Erosion technique for assessing ground level winds. Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1981. JOÃO PESSOA. Lei Orgânica do Município. Art. 175, 1990.

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MONTEIRO, C. A. de F. Teoria e clima urbano. São Paulo: FFLCH-USP, 1975. (Tese, Livre-Docência em Geografia). PEREGRINO, P. Inter-relações existentes entre os escoamentos de ventos e os padrões de ocupação do solo nos bairros do Cabo Branco e Tambaú/João Pessoa – PB. João Pessoa: UFPB, 2005. (Dissertação, Mestrado em Engenharia Urbana). PLANO DIRETOR DE JOÃO PESSOA. Prefeitura Municipal de João Pessoa, 1992. ROMERO, Marta Adriane Bustos. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. São Paulo: Projeto, 1988. SAKAMOTO, Luiza L. S. Relações entre a temperatura do ar e a configuração do céu na área central da metrópole paulistana: análise de dois episódios diários. São Paulo: FFLCH/USP, 1994. (Dissertação, Mestrado em Geografia). SAMPAIO, A. H. L. Correlações entre uso do solo ilhas de calor no ambiente urbano: o caso de Salvador. São Paulo: FFLCH/USP, 1981. (Dissertação, Mestrado em Geografia). SERRA, Geraldo Gomes. O espaço natural e a forma urbana. São Paulo: Nobel, 1984. SILVA, Francisco A.. O vento como ferramenta no desenho do ambiente construído; uma aplicação ao Nordeste do Brasil. São Paulo: FAUUSP, 1999. (Tese, Doutorado em Arquitetura). SOUZA E SILVA, C. A. de. Critérios para aquisição e análise de dados bioclimáticos urbanos em espaços abertos visando o conforto ambiental. Rio de Janeiro: PROURB/ FAU/UFRJ, 2003. (Dissertação, Mestrado em Urbanismo).

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Condutividade Hidráulica Não Saturada de Um Fragipânico Coeso Determinada pelo Método do

Perfil Instantâneo

Hugo Orlando Carvallo Guerra1

[email protected] DEAG/CTRN/UFCG

Rogério Dantas de Lacerda

[email protected] Genival Barros Junior

[email protected] Resumo: A condutividade hidráulica é o coeficiente de proporcionalidade da equação de Darcy e que, no solo, expressa a facilidade com que a água se transmite no perfil. A sua avaliação sob condições de não saturação é de fundamental importância na resolução de problemas práticos ligados ao uso e manejo da água, visto que, a maior parte dos processos que envolvem o movimento de água em condições de campo, ocorre quando o solo se encontra não saturado. A presença de camadas subsuperficiais no solo, fortemente adensadas, apresenta forte influência na condutividade hidráulica do solo e, consequentemente, na infiltração e condução de água no perfil. Visando identificar estas camadas, realizaram-se testes pelo método do perfil instantâneo em solos dos tabuleiros costeiros do distrito de irrigação de Platô de Neopolis-SE para determinar a condutividade hidráulica (K(θ)) em função da umidade do solo. Valores do potencial matricial e umidade volumétrica correspondentes foram obtidos a partir de tensiômetros instalados a seis diferentes profundidades. Os resultados comprovaram a adequação do método utilizado, com os valores obtidos de 12,0 cm h-1 e de 2,0 cm h-1 para o conteúdo de água do solo de 0,22 cm3 cm-3 para a primeira e segunda profundidade, respectivamente.

Palavras-chave: perfil instantâneo, potencial matricial, condutividade capilar.

1. Introdução

Formações terciárias presentes na maioria das costas do litoral nordestino, os Tabuleiros Costeiros consistem numa vasta planície com elevações que variam de 30 a 200 m de altitude acima do nível do mar, compreendendo platôs de origem sedimentar com grau de entalhamento variável, que podem apresentar vales estreitos e encostas abruptas, podendo aparecer abertas e suaves ou profundas com amplas várzeas (EMBRAPA, 1994).

Segundo Ribeiro (2001) o uso dos solos dos tabuleiros para irrigação necessitam de estudos e pesquisas que visem resolver, entre outros impasses, aqueles decorrentes da presença de horizontes coesos. Extensas áreas de irrigação no País são cultivadas de maneira padronizada, trazendo problemas no manejo, em virtude da variabilidade espacial e temporal dos atributos relacionados ao sistema solo-água-planta-atmosfera. O Platô de Neópolis por apresentar aparente homogeneidade das propriedades físicas dos solos, associada à uniformidade da paisagem, fazem com que os

produtores utilizem, indistintamente, os mesmos volumes de água e freqüências de irrigação, sem considerar os diferentes níveis de adensamento dos horizontes dos solos ali existentes, sua posição no perfil e, conseqüentemente, as alterações que promovem no regime hídrico dos mesmos.

Os horizontes coesos, com alta densidade e baixa condutividade hidráulica, impõem condições inadequadas aos fatores físicos de crescimento e promovem atrasos no desenvolvimento das culturas. Forsythe (1973) estabelece diferenças claras entre propriedades físicas e fatores físicos de crescimento; segundo ele, as propriedades físicas: textura, infiltração de água, densidade do solo e condutividade hidráulica, entre outras, influenciam os fatores físicos de crescimento: potencial total de água no solo, aeração, temperatura e resistência mecânica à penetração das raízes.

Atualmente, a fruticultura e, em especial, o coqueiro anão-verde cultivado para a produção de água, tem ocupado grandes extensões dos tabuleiros, a exemplo do Distrito de Irrigação do Platô de Neópolis. Apesar do sucesso alcançado nesse Pólo

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de Irrigação, um dos grandes problemas na atividade da fruticultura irrigada ainda é a carência de informações precisas sobre as características físicas e hídricas dos solos, fundamentais para estabelecimento de um manejo eficiente das áreas e da própria irrigação.

Dentre as propriedades físicas de um solo, a condutividade hidráulica é o coeficiente de proporcionalidade da equação de Darcy que determina o movimento de fluídos num meio poroso (CARVALLO GUERRA, 2000), expressando a facilidade com qual a água é transmitida no perfil e que depende diretamente das propriedades do meio como do fluido (Libardi, 2002).

Para determinação da condutividade hidráulica é necessário criar um plano de fluxo nulo, o que se consegue cobrindo a superfície do solo para impedir possíveis trocas com a atmosfera. É uma propriedade que depende das características do solo, especificamente do sistema poroso (porosidade total, distribuição do tamanho dos poros e tortuosidade) da textura do arranjo das partículas (estrutura), da dispersão das partículas finas e da sua densidade e da massa sólida, e ainda das características do fluido, que segundo Beltran (1986), está relacionada a fluidez do líquido, que é proporcional à sua viscosidade e densidade.

A avaliação da condutividade hidráulica é de fundamental importância na resolução de problemas práticos ligados ao manejo de irrigação e drenagem, visto que, a maior parte dos processos que envolvem o movimento de água em condições de campo, ocorre quando o solo se encontra não saturado. A descrição quantitativa do movimento de água nessas condições é muito complexa, dada a variação constante do conteúdo de água do solo (Fernandez, 1980). Medições “in situ” da condutividade hidráulica, em função da tensão da água no solo, são de elevada importância na caracterização do movimento desta água no perfil em condição de não saturação, uma vez que, permite determinar componentes tais como: infiltração e escoamento da água de chuva e irrigação, movimento de solutos e nutrientes, bem como demandas para projetos de irrigação e drenagem (Hillel, 1970).

Aurélio (1992), citado por Andrade (1997), afirma que solos de geometria idêntica não apresentam necessariamente propriedades hidráulicas idênticas. Para Klar (1988), também citado por Andrade (1997), além da textura, outras variáveis do solo afetam a condutividade hidráulica, tais como: estrutura, porosidade e principalmente o tamanho dos poros, sendo esta última responsável nos solos arenosos por apresentarem maiores valores de condutividade hidráulica, em condições de saturação, que os de texturas mais fina.

Dentre os vários métodos desenvolvidos para se determinar a condutividade hidráulica, um dos mais utilizados é o do perfil instantâneo, método este, segundo Luc (1978), o único que permite obter, in situ a relação entre a condutividade hidráulica e a umidade volumétrica (curva K(θ)). Como limitação ao seu uso estão as condições de contorno as quais pressupõem o ar sob pressão atmosférica, solo não expansivo, água pura e um sistema isotérmico. Richards, Gardner e Ogatta, segundo Klute (1972), foram os primeiros a utilizar o "Método do Perfil Instantâneo" sob condições de campo, a partir do qual, procurou-se uma solução para a equação de Richards na direção vertical, saturando-se o perfil de solo e impedindo o fluxo de água através de sua superfície.

Desta forma, objetivou-se com esse estudo determinar a condutividade hidráulica não saturada de um solo classificado como Argissolo Amarelo Distrófico Fragipânico presente nos Tabuleiros Costeiros na região nordeste do Estado de Sergipe, através do método do perfil instantâneo.

2. Material e métodos

2.1 Caracterização da área experimental

O trabalho foi desenvolvido em uma área do Distrito de Irrigação do Platô de Neópolis, pertencente a empresa H. Dantas (lote nº 24), município de Neópolis - Estado de Sergipe, cujo principal cultivo está baseado na cultura do coqueiro anão-verde, destinado à comercialização da água do coco “in natura”, no período de Janeiro a Dezembro de 2000.

Segundo a classificação de Koppen, o clima da área é do tipo semi-úmido com verão úmido e quente, precipitação pluvial em torno de 1.200 mm anuais, com chuvas concentradas nos meses de abril a setembro e temperatura média anual em torno de 25 º C. A altitude media da área é de 90 m e os solos são em sua maioria classificados como Argissolo Amarelo distrófico fragipânico, de textura arenosa média, fase cerrado e cerrado subperenifólio, relevo plano a suave ondulado, sendo esta última sua principal característica.

2.2 Parâmetros a valiados no ensaio:

2.2.1 Características físicas do solo - determinação da granulometria, densidade global, densidade e tamanho das partículas e porosidade.

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As amostras com estrutura deformada, coletadas em camadas de solo com 0,20 m de espessura até a profundidade de 1,2 m, após secas ao ar, desagregadas e passadas por uma peneira com 2 mm de abertura de malha, foram submetidas a análise seguindo a metodologia descrita pela EMBRAPA (1997), para determinação da distribuição do tamanho das partículas, densidade global e das partículas e porosidade total. 2.2.2 Curva de retenção de água do solo em estudo

Para a obtenção das curvas de retenção de água foram utilizadas amostras com estrutura indeformada, coletadas em camadas de solo nas profundidades de 0 - 0,20; 0,20 - 0,40; 0,40 - 0,60; 0,60 - 0,80; 0,80 - 1,00; 1,00 - 1,20 m, através de um amostrador tipo Uhland, cujas dimensões de 0,0599m de altura e 0,0537m de diâmetro, foram subdivididos em três segmentos iguais e separáveis, o que possibilitou a utilização, apenas, do anel central, de forma que a amostra fosse originada de uma camada de solo que tivesse sofrido o mínimo distúrbio na sua estrutura durante o procedimento de coleta. Para confeccionar da curva de retenção utilizaram-se as tensões 0,5; 1; 4; 10; 33; 100; 500 e 1500 kPa, sendo que, para aplicação das tensões 0,5; 1; 4; 5 e 10 kPa foram utilizados funis de placa porosa, enquanto para as tensões 33 e 100 kPa foram utilizadas câmaras de baixa tensão; de alta tensão, por sua vez, foram utilizadas para os pontos 500 e 1500 kPa. O ajuste das curvas de retenções da água no solo utilizou o modelo de van Genuchten (1980), através o software SWRC, desenvolvido por Dourado Neto et al. (1990). A equação (1) utilizada considera o potencial mátrico (ψm) como variável independente e a umidade volumétrica (θ) como variável dependente:

(1) ( )[ ]nmΨmα1

θrθsθrθ⋅+

−+=

Em que: θr - umidade volumétrica residual (m3 m-3); θs - umidade volumétrica saturada (m3 m-3); ψm - potencial mátrico (kPa); α, m, n - parâmetros empíricos da equação.

Considerou-se a capacidade de campo (CC), o conteúdo de água do solo obtido com a aplicação da tensão de 10 kPa e, como ponto de murcha (PM) a obtida com a tensão de 1500 kPa. 2.2.3 Condutividade hidráulica

A metodologia utilizada para determinação da

condutividade hidráulica foi a do perfil instantâneo por ser considerada adequada para solos heterogêneos e com lençol freático profundo (caso do solo utilizado), que consistiram na instalação de 03 diques, delimitados com folhas de zinco, com 1 metro de altura por 5 metros de diâmetro, enterradas de tal forma que possibilitasse aplicar uma lâmina de água de 0,2 m de altura, homogeneamente por toda a área represada Fig. (1). Após o preparo das parcelas foram instalados em cada dique, conjuntos de seis tensiômetros com manômetro de mercúrio nas profundidades 0,1; 0,3; 0,5; 0,7; 0,9; 1,1 m, para a medida do potencial mátrico e posterior obtenção da umidade volumétrica, a partir da curva de retenção de água.

O princípio do método prevê a saturação do solo por uma fonte permanente de água até que tenha sido estabelecido um fluxo constante, no caso, até a profundidade de 1,10 m. Esta condição foi considerada satisfeita, quando as leituras dos tensiômetros não mais variaram indicando que tinha sido atingida a condição de regime estacionário. Obtida a saturação suspendeu-se o fornecimento de água. Ao ser atingido esse ponto, a área foi coberta com uma dupla camada de plástico, envolvendo material isolante térmico, para atendimento das condições de contorno do método, as quais, prevêem completa ausência de evaporação e de entrada de água através da superfície Fig. (2). Com estes cuidados, a redistribuição da água pelo processo de drenagem interna, foi monitorada durante 49 dias através das medidas diárias dos potenciais mátricos nas profundidades avaliadas.

O conjunto de tensiômetros foi ligado através de micro-tubos de nylon com 0,002 m de diâmetro e comprimento variável, a uma única cuba de acrílico presa a uma haste de alumínio onde as leituras da altura da coluna de mercúrio foram efetuadas. O cálculo do potencial mátrico ( )mφ foi obtido com base na equação (2) apresentada a seguir:

(2) zhchm ++−= 6,12φ

Em que: h - corresponde aos valores medidos da coluna de

mercúrio; hc - distância entre a superfície do solo e o nível

superior da coluna de mercúrio na cuba do tensiômetro;

z - profundidade de instalação da cápsula porosa.

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Figura 1 - Inundação do dique até a saturação

total do perfil do solo

Figura 2 - Detalhe do pó de serra colocado para

isolamento térmico sobre uma lamina de plástico preto e instalação de tensiômetros.

A condutividade hidráulica foi determinada

em função da variação do conteúdo de água no solo para cada intervalo de tempo (dθ/dt) e da tensão matricial (dΨ/dt), com os dados processados de acordo com a equação (3):

(3) ( )

( ){ }( )121/

/2

1 0

ttdzd

dzdtdtdKz

t

t

z

−+Ψ=

∫ ∫ θ

Em que:

K - Média da condutividade hidráulica para o intervalo t1 – t2;

Z - profundidade considerada; Ψm - Potencial matricial; θ - Conteúdo de água volumétrico.

3. Resultados e discussão

A distribuição do tamanho das partículas do solo para as diversas camadas investigadas é apresentada na Tabela (1).

Tabela 1. Distribuição do tamanho de partículas nas áreas experimentais (g kg-1)

Distribuição da Fração Areia* (g kg-1) Areia

Total Silte Argila Classificação

Textural Prof. (m)

AMG AG AM AF AMF

0,00-0,20 45,32 230,37 384,17 202,56 29,68 892,11 50,23 57,66 Areia

0,20-0,40 25,07 165,71 370,41 263,62 38,51 863,32 51,44 85,24 Areia Franca

0,40-0,60 62,30 187,41 301,66 233,28 47,24 831,88 65,30 102,82 Franco Arenoso

0,60-0,80 49,41 194,88 289,58 218,47 40,98 793,31 86,29 120,40 Franco Arenoso

0,80-1,00 45,33 152,35 291,33 235,70 46,74 771,44 98,15 130,41 Franco Arenoso

1,00-1,20 48,32 166,24 266,18 222,22 52,49 755,44 111,59 132,98 Franco Arenoso

Média 45,96 182,83 317,22 229,31 42,61 817.92 77,16 104,92

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* AMG = Areia Muito Grossa (2 a 1mm), AG = Areia Grossa (1 a 0,5mm), AM = Areia Média (0,5 a 0,25mm), AF = Areia Fina (0,25 a 0,1mm), AMF= Areia Muito Fina (0,1 a 0,05mm).

A análise destes dados ratifica as afirmações de

Araújo Filho et. al (2001), de que a cobertura pedológica dos Tabuleiros Costeiros, principalmente nesta região, é constituída por solos com acentuada variação textural entre os horizontes superficiais arenosos e os de subsuperfície mais argilosos, característica que se incluí entre os fatores responsáveis pela formação de camadas coesas subsuperficiais ao longo dos perfis.

Entre os atributos físicos avaliados nesse ensaio, a Densidade Global do solo apresentou variações

bastante significativas, permitindo inferir que na área estudada o solo tende a apresentar um caráter coeso. Pode-se observar na Tabela (2), que o perfil apresenta densidade com índice médio de 1,67 kg m-

3, com pontos mais adensados a 0,30 m da superfície (1,71 kg m-3) e a 1,10m (1,69 kg m-3), o que contribui para formação de bolsões de água que se acumulam entre as camadas adensadas dentro do mesmo perfil, originando graves problemas de manejo de irrigação como já alertava Matsura et al (2001).

Tabela 2. Densidade do solo (Ds), densidade das partículas (Dp), porosidade do solo e parâmetros de

retenção de água.

Parâmetros das curvas de retenção de água ajustadas pelo modelo van Genuchten Prof.

(m)

Ds

(kg m-3)

Dp

(kg m-3) Porosidade* (m3 m-3) α m N θr θs

0-0,20 1,63 2,60 0,38 0,4179 0,5566 2,2554 0,057 0,380 0,20-0,40 1,71 2,63 0,34 0,4730 0,4884 1,9546 0,073 0,340 0,40-0,60 1,68 2,65 0,33 0,2866 0,6075 5,5479 0,079 0,330 0,60-0,80 1,66 2,63 0,33 0,4220 0,4606 1,8540 0,067 0,330 0,80-1,00 1,65 2,65 0,33 0,2879 0,5736 2,3451 0,077 0,330 1,00-1,20 1,69 2,68 0,33 0,2860 0,5983 2,4897 0,085 0,330

*Para transformar em porcentagem, multiplicar por 100. Por outro lado, a Densidade das Partículas do

solo apresenta pequena variação ao longo do perfil, obtendo-se um valor médio de 2,64 kgm–3, bem próximo de 2,65 kgm –3, valor que, considerando a proporção dos diferentes constituintes que aparecem na massa do solo, e a insignificante variação destes materiais, na formação dos mais diversos tipos de solos, passou a ser considerado padrão pela Sociedade Internacional da Ciência do Solo (Guerra, 2000).

Com relação às curvas características obtidas para as várias camadas do solo Fig. (3),

constata-se que a partir da tensão de 10 kPa, a retenção de água apresenta-se distinta nas camadas mais superficiais do solo, comportamento tal que indica a necessidade de cuidados especiais com o manejo da irrigação das áreas em cultivo, nesta mancha de solo, tanto no volume de água aplicado quanto na freqüência de irrigação, uma vez que é nessa faixa de solo que esta concentrada a maior parte do sistema radicular das plantas.

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0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

0,250

0,300

0,350

1 10 100 1000 10000

Potencial mátrico (kPa)

Um

idad

e vo

lum

étric

a (m

3 m-3

)

0,00 - 0,20m0,20 - 0,40m0,40 - 0,60m0,60 - 0,80m0,80 - 1,00m1,00 - 1,20m

Figura 03 – Curvas características das diversas camadas de solo estudadas

A partir destas curvas de retenção foram obtidos

os valores do conteúdo de água em volume a partir das tensões lidas nos tensiômetros para cada uma das profundidades estudadas.

O comportamento da condutividade hidráulica do solo para as profundidades de 0 a 20, 20 a 40, 40 a

60, 60 a 80, 80 a 100 e de 100 a 120 cm, pode ser observado na Fig. (4), na qual são apresentados os valores obtidos em função do conteúdo de água do solo para os três diques construídos.

Figura 4. Condutividade hidráulica obtida por profundidade.

Y0-20 = 0.0052e22.968x

R2 = 0.81

Y20-40 = 0.0004e26.699x

R2 = 0.78Y40-60 = 0.0003e31.986x

R2 = 0.77Y60-80 = 0.0002e34.465x

R2 = 0.95

Y80-100 = 0.0001e38.366x

R2 = 0.89

Y100-120 = 0.0001e36.39x

R2 = 0.67

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

5.00

6.00

7.00

8.00

9.00

10.00

11.00

12.00

13.00

14.00

0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40

cm3/cm3

cm

/h

(0-20) (20-40) (40-60) (60-80) (80-100) (100-120)

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É possível observar uma situação distinta quanto

à condução da água no perfil, com redução acentuada da primeira (0 a 20 cm) para a segunda profundidade (20 a 40 cm), tanto na condição próxima a saturação (0,24 m3.m-3) e, principalmente, quando leva-se em conta o índice médio referente a 50 % da porosidade do solo, que é de 0,15 m3.m-3, com reduções de 23,5 % (de 11,13 cm h-1 para 8,51 cm h-1 ) e 99,85 % (de 0,786 cm h-1 para 0,009 cm h-1

), respectivamente, evidenciando a relação existente entre o adensamento da segunda camada, já explicitada quando detectou-se uma Densidade Global de 1,71 kg m-3 para esta faixa do solo em comparação a primeira camada que apresentou índice de 1,63 kg m-3, e a redução da condutividade hidráulica, o que caracteriza a existência de uma camada coesa nesta profundidade.

Em geral, é sabido que as diferenças e semelhanças observadas na condutividade hidráulica nas diferentes profundidades, estão relacionadas às características físicas de cada camada, principalmente, quanto à distribuição do tamanho das partículas, estrutura, distribuição do tamanho dos poros, espaço poroso total e geometria destes poros. De acordo com Nye & Thinker (1977), em solos cultivados, a magnitude da condutividade hidráulica na camada superficial do solo está relacionada ao grau de compactação e às mudanças estruturais promovidas pelas práticas de preparo do solo.

É importante notar que, imediatamente após a camada coesa (40 a 60 cm de profundidade), a condutividade hidráulica diminui ainda mais na condição próxima da saturação (caindo de 8,51 cm h-1para 6,86 cm h-1), porém não ocorrendo o mesmo quando o conteúdo de água ocupava apenas 50 % dos poros, voltando a condutividade hidráulica a subir vertiginosamente em relação a camada anterior (de 0,0049 para 0,045 cm h-1). A análise da condutividade na camada seguinte (60 a 80 cm), permite-nos diagnosticar uma melhora na condução da água; entretanto, registra-se nova queda na profundidade seguinte (100 a 120 cm), em face de presença de outra camada coesa, reduzindo a condutividade hidráulica nesta faixa do perfil em mais de 32 %, passando de 6,99 para 4,75 cm h-1, camada na qual, a Densidade Global mais uma vez subiu em ralação a camada anterior, passando de 1,65 para 1,69 kg m-3 . Os altos níveis de adensamento destas camadas do solo (segunda e última), com certeza impõem alterações aos fatores

físicos de crescimento, entre os quais o potencial de água no solo e na sua aeração, além de impor uma forte resistência mecânica à penetração das raízes (Forsythe, 1973).

Hillel (1970) ressalta que a existência de camadas adensadas em um perfil de textura arenosa restringe o movimento da água até que esta se acumule o suficiente para saturar os poros grandes; por outro lado, camada superficiais muito arenosas, caso do solo em estudo (89,2 % de areia), os poros são rapidamente esvaziados com pequena redução no conteúdo de água e tornam-se, rapidamente, pouco condutivos. Poros pequenos, por sua vez, permanecem cheios e condutivos para um mesmo valor de queda de umidade, reduzindo mais lentamente a condutividade hidráulica; entretanto, nas camadas coesas, apesar de apresentarem uma grande proporção de poros pequenos, a elevada tortuosidade proporcionada pela alta densidade do solo atua, provavelmente, como o principal fator restritivo à condução de água.

Por fim, os resultados obtidos demonstram que o método do perfil instantâneo, utilizado na determinação da condutividade hidráulica, apresentou uma bons resultados, com as curvas geradas para K(Θ) em função do conteúdo de água do solo em % de volume, apresentando um valor médio de R2 de 0,81. 4. Conclusões • A existência de camadas coesas no perfil do solo promove uma redução drástica da condutividade hidráulica, chegando em alguns casos a praticamente paralisar a passagem da água; • Mesmo que extremamente arenoso, solos semelhantes ao do estudado, apresentam uma necessidade imperiosa de aumento no rigor do manejo da irrigação e das práticas de sua exploração; • Mesmo com a presença de camadas coesas, sob condições próximas a saturação, a condutividade hidráulica média para o solo em estudo foi de 7,648 cm h-1, considerada alta; • Em condição de não saturação e em função das camadas adensadas, com a água ocupando aproximadamente 50 % dos poros, a condutividade hidráulica média foi de 0,1756 cm h-1, ou seja, extremamente lenta para um solo arenoso.

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5. Referências bibliográficas

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Degradação da Bacia Hidrográfica do Rio do Cabelo e os Efeitos ao Meio Ambiente

Maria Sallydelândia Sobral de Farias1 UEPB, E-mail: sally_ [email protected]

Vera Lúcia Antunes de Lima UFCG, E-mail: [email protected]

José Dantas Neto UFCG, E-mail: [email protected] Eugênio Parcelli Fernandes Leite CEFET-PB, E-mail: [email protected]

Antonio Ricardo Sousa Andrade

UFPE, E-mail: [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das principais fontes de poluição pontuais e difusas dos recursos hídricos na bacia hidrográfica de um rio que contribuem para degradação na área. A metodologia utilizada constou de visitas de campo e registros através de fotografias. No levantamento das fontes de poluição na bacia hidrográfica do Rio do Cabelo foram observadas contribuições poluentes significativas de: esgotos domésticos e industriais, resíduos sólidos, exploração da mineração pela retirada de areia, exploração agropecuária, desmatamento, aterramento do mangue, ocupação irregular da praia e urbanização caracterizada por uma ocupação em que predominam os condomínios, diversos loteamentos e residências construídas irregularmente. De um modo geral, as ações nocivas ao meio ambiente, tais como a devastação das florestas com um alto índice de substituição dos ambientes naturais; cortes e desmontes em encostas para instalação de edificações e sistema viário; mutilações nas várzeas e leito do Rio do Cabelo pela extração de areia; que comprometimento a qualidade da água do rio, trazendo risco aos ecossistemas ainda presentes, mesmo em área legalmente protegida pelo Plano Diretor da cidade de João Pessoa. Palavras-chave: Recursos Hídricos, Fontes de Degradação, Esgotamento Sanitário. 1. Introdução

O aumento populacional da zona costeira constitui-se num grande problema de gestão ambiental, pois seis em cada dez pessoas vivem dentro de um raio de 60 km (Agenda 21, 1992) da orla litorânea, e dois terços das cidades do mundo com populações de 2,5 milhões de pessoas ou mais localizam-se próximas dos estuários. A zona costeira tem a atividade turística como um dos setores econômicos em franca expansão, devido, principalmente, a sua diversidade paisagística. Espera-se que tal tendência continue a ser incrementada, especialmente, nos países tropicais em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Desta

maneira acredita-se que a pressão exercida nas bacias hidrográficas e demais paisagens costeiras possam ficar comprometidas pelo acelerado processo de urbanização e incremento de infra-estrutura sem a implementação de programas que visem à gestão ambiental integrada e participativa. A principio, a ocupação do litoral se restringia a pescadores, agricultores e pequenos comerciantes. Atualmente, o litoral é objeto de pressões: industrial, urbana e turística, causadas pela ocupação desordenada e como conseqüência a degradação do ambiente, isto porque em relação aos aspectos naturais, o mar e o litoral exercem maior atração sobre as populações urbanas (SILVA,1997). Dentro deste contexto, este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento das principais fontes de poluição pontuais

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e difusas dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio que contribuem para degradação na área. 2. Material e Métodos

O trabalho foi realizado na bacia hidrográfica do Rio do Cabelo, situada no setor oriental úmido do estado da Paraíba, localiza-se entre as coordenadas 7o08’53’’ e 7o11’02’’ de latitude sul e 34º47’26’’ e 34º50’33’’ de Longitude Oeste e uma altitude média de 31,15m (Leite, 2005). Apresenta uma área de drenagem de aproximadamente 9 km2 e tem forma aproximadamente retangular, no sentido Oeste-leste e uma saliência na porção Norte, entre o Médio e o Baixo curso. A precipitação média anual é de aproximadamente 1700mm, a evaporação média do tanque classe A é de aproximadamente 1310mm. A Umidade relativa em torno de 77% (Normais Climatológicos, 1999). Segundo a classificação climática de Köppen, o clima regional é As’, ou seja,

tropical, quente e úmido com chuvas de outono-inverno. Sua extensão está ligada ao mecanismo da atmosfera, ao relevo, que modifica a trajetória e a incidência dos ventos e proximidade do oceano. O levantamento das fontes de poluição foi realizado com visitas de campo, fotografias e utilização de GPS.

A bacia insere-se no complexo Gramame e Mamuaba, unidade de gestão dos recursos hídricos do estado da Paraíba (Figura 01). Essas bacias seguem o padrão de bacias litorâneas do Nordeste, que, via de regra, são de médio e pequeno porte e encontram-se próximas dos grandes centros ou mesmo em regiões de periferias.

Figura 01. Mapa das bacias hidrográficas do estado da Paraíba

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O levantamento das fontes de poluição foi realizado através de visitas de campo, fotografias e uso de GPS. 3. Resultados e Discussão Principais fontes de degradação da bacia do Rio Cabelo Dentre as principais fontes de degradação existentes na Bacia do Rio do Cabelo, pode-se citar: A. Degradação por Disposição de Resíduos Sólidos

A situação da disposição final dos resíduos sólidos é extremamente grave se forem consideradas as condições e os efeitos dessa disposição (Vale Verde – Associação de Defesa do Meio Ambiente, 2004). Talvez, o mais relevante problema esteja relacionado ao favorecimento de infiltrações e contaminações do lençol freático quando da liberação de chorume. O chorume é um líquido escuro contendo alta carga poluidora, o que pode ocasionar diversos efeitos sobre o meio ambiente. O potencial de impacto deste efluente está relacionado com a alta concentração de matéria orgânica, reduzida biodegradabilidade, presença de metais pesados e de substâncias recalcitrantes. Diversos fatores contribuem para que o resíduo da decomposição do lixo (chorume) seja complexo e apresente significativas variações em sua composição. Dentre as mais importantes os lixões que são formados na mata (Figura 2), tem como conseqüência a instalação e a proliferação de agentes causadores de doenças, além de constituírem criadouros de insetos que trazem incômodos à população. Além disso, um mau acondicionamento do lixo pode acarretar que este seja transportado por chuvas para os corpos de água, aumentando a contaminação desses corpos.

Figura 02. Resíduos sólidos lançados diretamente na mata

Salienta-se que mesmo com coleta sistemática dos resíduos das residências próximas à nascente do rio em torno do Conjunto Cidade Verde, área mais urbanizada, alguns moradores depositam seus resíduos diretamente no solo e mais impactante dentro da vegetação nativa, contribuindo para degradação ambiental. No trecho da bacia que é utilizado como balneário (escadaria da Penha) foram identificados diversos resíduos deixados pelos banhistas no leito do rio. Não existe nem um trabalho de educação ambiental na área, apesar ser utilizada como balneário e da proximidade com estuário da Penha, ponto turístico de João Pessoa. B. Degradação pela Expansão Urbana

Os recursos hídricos da Bacia do Rio do Cabelo possuem como maior fonte poluidora o baixo tratamento dos esgotos coletados. Devido à expansão urbana, diversas fontes de poluição dos recursos hídricos têm sido diagnosticadas na Bacia do Rio do Cabelo, a Prefeitura local e seus serviços autônomos, bem como as empresa estadual de saneamento da Paraíba - CAGEPA, os órgãos ambientais não tem implementada infra-estrutura, na área, e a fiscalização é ineficiente, principalmente com relação ao esgotamento sanitário.

Com o aumento do grau de urbanização, aumenta também, em proporção, a degradação ambiental decorrente da concentração da população nas áreas urbanas (MOTA, 2006). O aumento populacional da zona costeira constitui-se, num grande problema de gestão ambiental, pois seis em cada dez pessoas vivem dentro de um raio de 60 km (Agenda 21, 1992) da orla litorânea e dois terços das cidades do mundo, com populações de 2,5 milhões de pessoas ou mais localizam-se próximas dos estuários.

Diversos tipos de ocupação irregular foram observados na bacia do Rio do Cabelo, expansão urbana sem infra-estrutura e sem considerar restrições ambientais, entre elas residências, barracas, granjas os esgotos são lançados a montante da nascente sem nenhum tratamento, provocando diversos problemas ambientais, tais como: degradação e assoreamento do rio, aumento da poluição da água. A própria aglomeração urbana já é por si só uma fonte de poluição, pois implica numerosos problemas ambientais como o acúmulo de resíduos e o enorme volume de esgotos (MOTA, 2005).

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C. Degradação por Atividades de Mineração

Na Bacia do Rio do Cabelo a extração de areia para aplicação em várias indústrias, principalmente, a da construção civil é seguramente o maior fator de degradação ambiental pelo extrativismo mineral (Figura 03).

O efeito nefasto da extração da areia no meio ambiente acarretam conseqüências altamente degradantes para o ambiente aquático e ribeirinho, e em muitas das vezes essas conseqüências são irreversíveis. A extração de areia de leitos de rios ou em cavas submersas em áreas da várzea tem como resultante a poluição das águas, causada pela agitação de sedimentos finos (argilas e silte), pela presença nessas areias de combustíveis e óleos lubrificantes, e pelos efluentes sanitários das instalações administrativas.

Na bacia do Rio do Cabelo, o método mineração por escavação, é responsável por cerca de 100 % de toda a areia extraída na região. Evidentemente, as principais conseqüências desse procedimento estão relacionadas com a perda de solo, a erosão do material de decapagem quando estocados de forma inadequada, a erosão da frente da lavra e o abandono de grandes cavas ao término da atividade, impedindo o uso futuro do solo e gerando criadouros de causadores de doenças e incômodos à população (Vale Verde – Associação de Defesa do Meio Ambiente, 2004).

Figura 03. Área degradada pela retirada de areia –

NUPPA/UFPB D. Degradação por águas residuárias

O Rio do Cabelo recebe esgotos domésticos; na Figura 04, um exemplo é lago localizado a montante da nascente do rio cuja tubulação que lhe dá origem não está visível, provavelmente submersa ou recoberta por densa vegetação. Observa-se ainda contribuição de galerias pluviais, das indústrias instaladas no distrito industrial de Mangabeira

tubulação da Estação de Tratamento de Esgoto de Mangabeira que, apresentarem vazamento contaminam o rio diretamente com esgotos sem tratamento, instalação de criação de suínos e bovinos que contaminam o rio com os seus efluentes sem tratamento preliminar adequado.

Figura 04. Foto do lago de águas residuais com

aspecto de esgoto doméstico, em área do Complexo Penal de Mangabeira.

As disposições inadequadas dos esgotos podem

disseminar doenças, que associadas a fatores como desnutrição resultam em um alto índice de mortalidade. Os esgotos também causam a proliferação de insetos, moscas, mosquitos, roedores e outros vetores de doenças. Diarréia, verminose, teníase, esquistossomose e cólera são entre outras as doenças mais comuns derivadas da disposição inadequada de esgotos (CARVALHO et. al., 2003).

Como 28, 34 % (FARIAS,2006) da água do Rio do Cabelo é utilizada para consumo humano sem tratamento, diversos impactos negativos com relação à saúde da população residente às margens do rio estão surgindo como mencionado pelos entrevistados na pesquisa. Estas fontes de poluição localizadas na bacia hidrográfica do Rio do Cabelo tem um alto potencial poluidor nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, à maneira que, eleva a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), aumenta a contaminação por coliformes fecais, acelera o processo de eutrofização, além de provocar erosão no solo e assoreamento do rio (BRIGANTE & ESPÍNDOLA, 2003). 4. Conclusões

No levantamento das fontes de poluição na bacia hidrográfica do Rio do Cabelo foram observados pontos significativos de: esgotos domésticos e industriais, resíduos sólidos, exploração da mineração pela retirada de areia, exploração agropecuária, desmatamento, aterramento do mangue, ocupação irregular da praia e urbanização

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caracterizada por uma ocupação em que predominam os condomínios, diversos loteamentos e residências construídas irregularmente.

Os principais problemas a serem enfrentados para uma tentativa de recuperação efetiva da Bacia do Rio do Cabelo podem ser resumidos nos seguintes pontos: Uma maior dificuldade de recuperação da qualidade da água no trecho mais urbanizado do rio, pela inexistência ou deficiência na coleta; afastamento e tratamento dos esgotos domésticos, e, como conseqüência baixa fertilidade; e o elevado nível de degradação do solo pela retirada de areia, tornando-se pois bastante problemática e improvável uma regeneração natural dos solos e, por conseqüência, das florestas: um aumento provável das erosões e assoreamentos causados por uso inadequado do solo, conseqüência do desconhecimento de métodos apropriados para a conservação dos mesmos e de manejo de florestas, o desmatamento das áreas próximas às margens do rio. Tendo isto aumenta significativamente o risco de assoreamento e trazendo, pois, como conseqüência, uma diminuição acentuada na disponibilidade hídrica. 5. Referências AGENDA 21. Disponível em < www.mma.org >Acesso em: 12 julho 2006. BRIGATE, J.; ESPÍNDOLA, G.L.E. Liminologia fluvial - Um estudo no rio Mogi - Guaçu. São Carlos. RIMA. 278p. 2003. CARVALHO, R.A ; OLIVEIRA, M.C.V. Princípios básicos de saneamento do meio. São Paulo.3 ºed.:editora SENAC.São Paulo,2003. FRARIAS, M.S.F. Monitoramento da qualidade da água na bacia hidrográfica do Rio Cabelo. UFCG/CTRN. Doutorado em Irrigação e Drenagem. Campina Grande, 2006. Tese (Doutorado).

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As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Plantio da Mamoneira em Solo Compactado Adubado com Torta de Mamona*

Fabiana Xavier Costa1

[email protected] (PDTRN/UFCG) Napoleão Esberard de Macedo Beltrão

napoleã[email protected] (Embrapa Algodão) Edinete Maria de Oliveira

[email protected] (Emater)

Maria do Socorro Rocha Melo Peixoto [email protected] (PDTRN/UFCG)

Resumo: Objetivou-se com este trabalho avaliar os efeitos conjuntos e isolados da compactação do solo e adubação orgânica com torta de mamona no crescimento da mamoneira. O experimento teve início no período de 02 de maio de 2005 e se estendeu até 02 de setembro de 2005, em casa-de-vegetação do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA/Embrapa), no município de Campina Grande, Estado da Paraíba. Foram utilizadas como unidades experimentais colunas de PVC. Utilizou-se o delineamento experimental em blocos casualizado, em esquema de análise fatorial (4 x 4), com 3 repetições, sendo os fatores: quatro graus de densidades (1,4; 1,6; 1,8 e 2,0 kg.dm-3) e quatro doses de torta (0,0; 2,0; 4,0 e 6,0 t ha -1). De acordo com as variáveis estudas contatou-se que o comprimento das raízes foi totalmente comprometido quando se utilizou nível de densidade de 2,0 kg.dm-3. As folhas apresentaram níveis altos de Clorofila, principalmente quando se utilizaram as doses 2; 4 e 6 t ha-1 de torta de mamona. Palavras – chave: Densidade do solo, adubo orgânico, Ricinus communis L.

1. Introdução A cultura da mamona (Ricinus communis L.) é

uma das mais tradicionais no semi-árido brasileiro. É de relevante importância econômica e social, com inúmeras aplicações industriais. Apesar de ser originária da Ásia, é encontrada de forma espontânea em várias regiões do Brasil, desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul. Embora seja considerada uma planta de elevada resistência à seca, para produzir bem, a mamona necessita de pelo menos 16 nutrientes e aproximadamente 500 mm de chuva bem distribuída ao longo de seu ciclo.

Considerado um dos óleos mais versáteis da natureza, possui centenas de aplicações como, por exemplo: fabricação de cosméticos, próteses para ossos humanos, lubrificantes, aditivos de combustíveis aeroespaciais etc. De acordo com Beltrão e Silva (1999) há, no Brasil, um déficit anual superior a 80 mil toneladas na oferta desse produto, o que obriga, segundo Savy Filho et al. (1999), à importação de óleo bruto da Índia e da China para atender à necessidade da indústria nacional.

O uso de óleo de mamona para produção de biodiesel, um sucedâneo do diesel, é uma das alternativas brasileiras para redução da importação de petróleo e da emissão de poluentes e gases de

“Efeito Estufa” na atmosfera. A criação desta demanda para o óleo de mamona proporcionará o aumento das áreas agrícolas exploradas com a cultura, gerando postos de trabalho, diretos e indiretos.

A região Nordeste é responsável por 85% da área plantada com a cultura no país e por mais de 78% da produção nacional de bagas. Entre os anos 1990 e 2000, a região Nordeste produziu o equivalente a R$ 350 milhões relativos as 700 mil toneladas de bagas de mamona colhida. Todos os Estados nordestinos são produtores de mamona, exceto Sergipe e Maranhão que, embora possuam áreas com aptidão ao cultivo, não registraram plantios comerciais. O Estado da Bahia tem sido historicamente o maior produtor, com mais de 80% da produção regional, segundo dados da FIBGE (2006).

De acordo com Savy Filho e Banzatto (1983), o mais tradicional e importante subproduto da mamona é a torta. Seu alto teor de proteína a torna atraente como alternativa para alimentação animal, porém a presença de substâncias tóxicas de difícil eliminação tem inviabilizado essa alternativa. Devido à inexistência de um método seguro para sua destoxicação, a torta tem sido utilizada

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predominantemente como adubo orgânico que tem valor inferior ao alimento animal.

A torta de mamona bruta apresenta três componentes tóxicos e alergênicos, que são a ricina, a ricinina e o complexo alergênico CB-1A (Weiss, 1983).

Segundo Loureiro (1962), do processamento industrial das sementes de mamona, cada tonelada de óleo extraído corresponde a 1,28 tonelada de torta, que é tóxica, devido à presença da proteína ricina.

Além do uso como adubo e alimento animal, a torta de mamona pode ser usada como matéria-prima para a produção de aminoácidos, plásticos, em especial biodegradáveis, colas, inseticidas e outros produtos, (Machado et al. (1957). A torta da mamona ainda pode ser usada para controle de nematóides no solo em diversas culturas, Akhtar e Mohmood (1996)

A torta de mamona é um subproduto da extração do óleo das sementes da mamoneira (Ricinus communis L.). Trata-se de produto com elevado teor de proteínas que é produzido na proporção aproximada de 1,2 tonelada para cada tonelada de óleo extraída (Azevedo e Lima, 2001), valor que pode variar de acordo com o teor de óleo da semente.

Devido à inexistência de método seguro para sua destoxicação, a torta tem sido utilizada predominantemente como adubo orgânico que tem menor valor que o alimento animal. No entanto se ela for destoxicada pode ser utilizada como alimento animal, aumentando seu preço de R$ 300,00 / t para cerca de R$ 750,00 / t. Quer dizer: o volume de torta a ser produzido anualmente poderá ter valor elevado de R$ 600 milhões (vendida como adubo) para R$ 1,5 bilhões (vendida como ração animal). Além de aspectos financeiros gerados com a agregação de valor ao produto, devem ser considerados aspectos ambientais, econômicos, sociais e de desenvolvimento regional.

Atualmente, está sendo desenvolvido um conjunto de ações e projetos envolvendo diversas instituições públicas e privadas com o objetivo de utilizar o óleo de mamona como fonte energética alternativa ao diesel mineral (biodiesel). No presente ano de 2006, diversas lavouras já foram plantadas com este objetivo e estima-se que em 2007 e nos anos seguintes a área plantada terá grande crescimento. Embora o foco principal seja obtenção do óleo, a torta é um co-produto de alto valor, cuja receita de venda é essencial para que o biodiesel obtido da mamona seja economicamente viável.

Prevê-se que a quantidade de torta de mamona produzida seja em torno de 500 mil toneladas/ano

dentro de pouco tempo, fazendo com que esse produto torne-se uma das principais alternativas de alimento animal em nossa região. Justifica-se assim a prioridade no domínio da tecnologia para agregação de valor ao produto e fortalecimento da viabilidade econômica dessa cadeia produtiva que terá grande impacto econômico e social no semi-árido da Região Nordeste.

A compactação do solo refere-se à compressão do solo não saturado, durante a qual ocorre um aumento da densidade, em conseqüência da redução de volume pela expulsão do ar (Dias Jr. e Pierce, 1996). Adensamento, por sua vez, é o fenômeno de deposição de partículas menores no espaço poroso, devido à desagregação da estrutura física do solo, causando aumento da massa de determinada porção do solo e mantendo constante o volume inicial, o que causa, também, aumento da densidade do solo, porém sem participação direta da pressão.

O problema de compactação/adensamento do solo vem aparecendo sistematicamente na região do Cerrado, onde os sistemas convencionais de manejo do solo promovem a desagregação excessiva da camada arável, o encrostamento superficial e a formação de camadas coesas ou compactadas, denominadas pé-de-grade ou pé-de-arado (Freitas, 1994). Como alternativa, os agricultores vêm adotando o Sistema Plantio Direto (SPD). Baseado na ausência de movimentação do solo e na manutenção de resíduos orgânicos na superfície do solo, o SPD altera a dinâmica da matéria orgânica e da atividade biológica modificando, principalmente, os processos intrínsecos do solo, provocando alterações na sua estrutura e na dinâmica físico-hídrica. Em várias situações, porém, têm sido relatadas ocorrências de aumento da densidade do solo e diminuição da macroporosidade com o uso do SPD. Este processo, diagnosticado como compactação devido ao fato de, supostamente, prejudicar o crescimento das raízes e o movimento vertical de água, faz com que o agricultor seja obrigado a movimentar o solo, desfazendo o trabalho biológico e físico de vários anos, destruindo a estrutura do solo, provoca a rápida mineralização da matéria orgânica e prejudica a atividade biológica.

A compactação do solo diminui o volume de solo explorado pelas raízes, podendo, assim reduzir a absorção de P e K, especialmente em solos com baixos níveis desses nutrientes (Dolan et al., 1992). Em experimento com soja, (Borges et al. 1988), verificaram que à medida que se aumentou a compactação, houve aumento de sintomas de deficiências de nutrientes nas folhas, semelhantes aos descritos para nitrogênio e potássio.

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Respostas da soja à compactação do solo têm sido inconsistentes e dependem da precipitação pluvial no período de crescimento da planta (Johnson, et al., 1990). Em experimento em vasos, (Singh et al. 1971), observaram decréscimo na altura da planta, na massa da parte aérea e no número de folhas, quando elevaram a densidade de dois solos de 1,1 para 1,6 g/cm3 .

Porções de solo compactadas na superfície reduziram 15% a produção de soja, enquanto porções de solo compactadas em subsuperfície provocaram redução na altura das plantas. Esse decréscimo no crescimento vegetativo não resultou

em decréscimo proporcional na produtividade de grãos (Johnson, et al., 1990).

É reconhecível que não há estudos no Brasil envolvendo a mamoneira em solos artificialmente compactados, tendo-se como adubo orgânico à torta de mamona. O estudo de tais incrementos é de relevante importância para uma agricultura ecológica e economicamente sustentável. Diante desses fatos foi concebido este trabalho que objetivou avaliar os efeitos conjuntos e isolados da compactação do solo e adubação orgânica com torta de mamona no crescimento da mamoneira

2. Material e Métodos

O experimento teve início no período de 02 de maio de 2005 e se estendeu até 02 de setembro de 2005, em casa-de-vegetação, sem controle de ambiente, do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA/Embrapa), no município de Campina Grande, Estado da Paraíba – Brasil.

Foi usado como substrato para a condução do experimento material de solo típico (Neossolo regolítico eutrófico de textura franco-arenoso) do município de Lagoa Seca, Estado da Paraíba, Brasil, cujas análises químicas (fertilidade) e físicas realizadas no Laboratório de Solo da Embrapa Algodão. Campina Grande, PB. 2005, estão apresentadas, respectivamente, nas Tabela 1 e 2.

Tabela 1 – Características químicas (fertilidade) do solo usado no experimento.

pH H2O Complexo Sortivo (mmolc/dm3) % mmolc/dm3 mg/dm3 g/kg1:2,5 Ca+2 Mg+2 Na+ K+ S H+Al T V Al+3 P MO

7,1 32 16 1,5 3,4 52,9 0 52,9 100 0 133 10,6MO = Matéria Orgânica S = Soma de bases trocáveis do solo, mais a acidez hidrolítica (H+ Al), que no caso foi zero T = S+ H + Al V = 100 S / T, saturação de bases trocáveis do solo

Tabela 2 – Características físicas do solo usado no experimento.

Densidade – kg.dm-3 Granulometria - g/kg

Global Real Porosidade Total m3/m3 Areia Grossa Areia Fina Silte Argila Classificação Textural

1,49 2,46 39,27 474 366 136 23 Areia Franca

Utilizou-se torta de mamona produzida a partir de

sementes da cultivar BRS Nordestina, cultivadas no município de Quixeramobim, Estado do Ceará, Brasil. O processo industrial constou de prévio

aquecimento da semente e prensagem para extração mecânica do óleo. A composição química da torta consta na Tabela 3.

Tabela 3 - Teores de umidade, óleo, proteína bruta, cinzas, N, P e K da torta de mamona

Umidade Óleo Proteína bruta Cinzas N P K

8,13% 13,10% 28,74% 12,11% 4,60% 3,00% 0,96%

Fonte: Costa et al. (2004), trabalho publicado no I Congresso Brasileiro de Mamona. Análises feitas no Laboratório de Químicas da Embrapa Algodão, Campina Grande, PB, 2004.

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A cultivar da mamona utilizada foi a BRS Paraguaçu, safra de 2004/2005, ciclo de 230 dias, produzida no município de Garanhuns, Estado de Pernambuco, Brasil. As plantas dessa cultivar têm altura média de 1,60 m, caule de coloração roxa, com cera, racemo oval, frutos semideiscentes e sementes de coloração preta. A água utilizada na cultura da mamona foi a água de abastecimento do município de Campina Grande, Estado da Paraíba – Brasil.

Foram utilizadas como unidades experimentais colunas de PVC, tendo como medidas 19,5 cm de diâmetro inferior e superior e 45 cm de altura.

Foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso, em esquema de análise fatorial (4 x 4), com 3 repetições, sendo os fatores: quatro graus de densidades aparentes (1,4; 1,6; 1,8 e 2,0 kg.dm-3) e quatro doses de torta ( 0,0; 2,0; 4,0 e 6,0 t ha -1).

Foram testados 16 tratamentos, sendo a densidade 1,4 kg.dm-3 a densidade natural do solo. Os tratamentos testados foram:

T1 – densidade 1,4 kg.dm-3 , dose 0,0 t ha -1 de torta;

T2 - densidade 1,4 kg.dm-3 , dose 2,0 t ha -1 de torta;

T3 - densidade 1,4 kg.dm-3, dose 4,0 t ha -1 de torta;

T4 - densidade 1,4 kg.dm-3, dose 6,0 t ha -1 de torta;

T5 - densidade 1,6 kg.dm-3, dose 0,0 t ha -1 de torta;

T6 - densidade 1,6 kg.dm-3, dose 2,0 t ha -1 de torta;

T7 - densidade 1,6 kg.dm-3, dose 4,0 t ha -1de torta;

T8 - densidade 1,6 kg.dm-3, dose 6,0 t ha -1de torta;

T9 - densidade 1,8 kg.dm-3, dose 0,0 t ha -1 de torta;

T10 - densidade 1,8 kg.dm-3, dose 2,0 t ha -1de torta;

T11 - densidade 1,8 kg.dm-3, dose 4,0 t ha -1 de torta

T12 - densidade 1,8 kg.dm-3, dose 6,0 t ha -1 de torta;

T13 - densidade 2,0 kg.dm-3, dose 0,0 t ha -1 de torta;

T14 - densidade 2,0 kg.dm-3, dose 2,0 t ha -1 de torta;

T15 - densidade 2,0 kg.dm-3, dose 4,0 t ha -1de torta;

T16 - densidade 2,0 kg.dm-3, dose 6,0 t ha -1 de torta.

A compactação foi feita de forma manual, utilizando-se um pilão de madeira para compactar o solo e, assim atingir os graus de densidades desejados. Em cada tubo de PVC foi delineado com lápis em sua parede interior uma linha (localizada de acordo com a densidade a ser utilizada) para produzir densidades iguais a: 1,6; 1,8 e 2,0 kg. dm-3. No grau de densidade mais baixo (1,4 kg dm-3– densidade natural do solo) não houve compactação, o solo foi colocado dentro do tubo de PVC e foram colocadas as sementes. Antes da compactação, o solo foi pesado tomando-se como base a determinação da densidade natural que foi de 1,4 kg dm-3. Para a determinação das densidades testadas multiplicou-se o volume da coluna de PVC (14 L) pelas seguintes densidades (1,4; 1,6; 1,8 e 2,0 kg dm-3) obtendo-se os respectivos pesos de solo que foram compactados; 5,0; 7,0; 6,5 e 7,3 L/coluna de PVC.

A adubação das plantas foi realizada em mistura com o solo antes da compactação adicionando-se as seguintes recomendações: 0,0; 2,0; 4,0 e 6 t ha-1 de matéria orgânica. A fonte utilizada foi a torta de mamona, cuja composição química encontra-se na Tabela 3.

No dia 16/05/2005, após uma semana do solo compactado e atingido sua capacidade de campo, fez-se o plantio, utilizando-se três covas, sendo uma semente por cova com três cm de profundidade em cada coluna de PVC. O plantio das sementes foi feito com a carúncula voltada para cima para facilitar a germinação. As sementes germinaram com sete dias após o plantio (22/05/2005). A germinação foi 100% em todos as colunas de PVC (Unidades experimentais). O desbaste foi feito no dia 30/05/2005, deixando-se 1 planta por coluna. As variáveis analisadas aos 75 dias após a emergência das plântulas foram: Peso seco da fitomassa aérea (PSFA), Comprimento das raízes (CR), Peso seco das raízes (PSR), Relação raíz/fitomassa aérea (R/FA), Teor de clorofila nas folhas (Clorof), via leitura direta, usando-se o aparelho clorofilômetro e Teor de potássio nos pecíolos, via leitura direta, usando-se o aparelho potassiômetro. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste “F” e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Utilizou-se o programa estatístico SISVAR– ESAL-Lavras - MG. Na Tabela 4 encontra-se o esquema adotado para análise estatística.

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Tabela 4 - Esquema adotado para análise estatística – Resumo da ANOVA.

Fonte de variação GL Tratamentos 15 níveis de compactação (nc) 3 doses de torta (dt) 3 nc x dt 9 Blocos 2 Total 47

3. Resultados e Discussão

Na Tabela 5 encontram-se os resultados das análises de variâncias, em que se observa apenas a variável comprimento das raízes (CR) foi influenciada significativamente pelo fator densidade (D). Quanto ao fator Adubação (A), apenas, a variável Relação raíz/fitomassa aérea (R/FA) não foi significativo. Verifica-se que a compactação do solo influencia de forma negativa, reduzindo o crescimento das raízes.

Tabela 5: Resumos das análises de variâncias, referentes às variáveis: Peso seco da fitomassa aérea (PSFA),

Comprimento das raízes (CR), Peso seco das raízes (PSR), Relação raíz/fitomassa aérea (R/FA), Teor de clorofila nas folhas (Clorof) e Teor de potássio nos pecíolos, aos 75 dias após o plantio da mamona.

Quadrado Médio Causa de

Variação GL PSFA CR PSR R/FA Clorof Potássio Densidade(D) 73.91 ns 207.36 ** 16.06 ns 0.012 ns 29.68 ns 121111.11 ns Adubação (A) 1632.26 ** 424.91 ** 73.82 ** 0.01 ns 174.57 ** 487222.22 ns Interação DxA 64.58ns 66.18 ns 11.80 ns 0.01 ns 62.43 ns 200555.55 ns Bloco 270.611502 ** 57.97 ns 61.33 ** 0.01 ns 76.41ns 960833.33 ** Resíduo 99.496380 58.10 17.59 0.01 48.69 151500.00 CV % 21.23 27.49 40.06 35.37 13.53 17.36

Significativo a 0,05 (*) e a 0,01 (**) de probabilidade; (ns) não significativo pelo teste F. Fonte: Embrapa Algodão / Campina Grande, Paraíba, 2005.

Na Tabela 6 encontram-se os valores médios dos fatores densidade e adubação que foram independentes entre si para todas as variáveis estudadas, pois as interações não foram significativas. Considerando o fator densidade global do solo, verifica-se na mesma Tabela que somente a variável comprimento de raiz (CR) foi alterada com incremento desse fator. A raiz foi negativamente atingida em seu crescimento, quando

submetida a uma densidade de 2,0 kg.dm-3 (maior densidade), tornando-se enovelada e com seu crescimento limitado nas primeiras camadas da superfície do solo. No tocante à adubação orgânica foi observado que este fator a ter sua dose incrementada aumentou o crescimento radicular.

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Tabela 6: Valores médios dos fatores densidade e adubação para as variáveis de Peso seco da fitomassa aérea (PSFA), Comprimento das raízes (CR), Peso seco das raízes (PSR), Relação raíz/fitomassa aérea (R/FA), Teor de

clorofila nas folhas (Clorof) e Teor de potássio nos pecíolos. CV PSFA CR PSR R/FA Clorof Potássio

Densidade 1,4 47.96 a 31.656 b 9.45 a 0.21 a 53.86 a 2100.00 a 1,6 48.12 a 30.45 a b 10.35 a 0.21 a 50.90 a 2250.00 a 1,8 48.56 a 26.22 a b 9.97 a 0.22 a 50.31 a 2283.33 a 2,0 43.27 a 22.56 a 12.11 a 0.28 a 51.19 a 2333.33 a dms 11,08 8,46 4,65 0,09 7,75 432,24 Adubação 0 35.06 a 32.11 b 8.20 a 0.24 a 47.07 a 2433.33 a 0,2 43.57 a b 35.23 ab 9.39 ab 0.21 a 51.07 a b 2025.00 a 0,4 46.37 b 27.90 ab 10.33ab 0.24 a 51.72 a b 2391.67 a 0,6 62.91 c 25.70 b 13.95 b 0.22 a 56.38 b 2116.67 a dms 11,08 9,11 4,66 0,09 7,75 432,24

Em cada coluna, e fator médias seguidas de mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. Fonte: Embrapa Algodão / Campina Grande, Paraíba, 2005.

4. Conclusões 1 – O comprimento das raízes foi comprometido

à medida que se incrementou a densidade global do solo até 2,0 kg.dm-3 .

2 - As folhas apresentaram níveis altos de Clorofila, principalmente quando se utilizaram as doses 2, 4 e 6 t ha-1 de torta de mamona.

3 - A torta de mamona é um adubo rico em Nitrogênio e outros importantes nutrientes, além do seu alto teor em fibras, tornando-se, assim, um bom condicionador do solo, melhoradora de suas propriedades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas, portanto esse adubo orgânico diminui os efeitos da compactação do solo.

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inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Propriedades Químicas dos Solos da Bacia Hidrográfica do Açude Namorado, PB

Lucia Helena Garófalo Chaves [email protected] (UFCG)

Iêde de Brito Chaves

[email protected] (UFPB)

Ana Carolina Feitosa de Vasconcelos [email protected]

Resumo: A bacia hidrográfica do açude Namorado, localizada na região do Cariri Ocidental, PB, tem sido objeto de diferentes pesquisas que visam à recuperação e manejo racional das suas terras. Com o intuito de contribuir com informações para essas pesquisas, objetivou-se realizar um levantamento das propriedades químicas dos solos que ocorrem na referida bacia (1.378 ha), por meio da coleta de 200 amostras compostas de solo, na profundidade de 0-20 cm. As amostras foram caracterizadas quimicamente e os dados analisados por técnicas estatísticas descritivas. Os resultados obtidos indicaram haver maior variabilidade para os valores de potássio, sódio, fósforo, condutividade elétrica e porcentagem de sódio trocável; variabilidade média para cálcio, magnésio e matéria orgânica e menor variabilidade para o pH. As amostras de solo da maior parte da bacia hidrográfica do açude Namorado apresentam valores de pH e teores de cálcio, magnésio e potássio adequados para a maioria das culturas; apresentam valores de matéria orgânica e de fósforo inadequados e são classificadas como não salinas e normais quanto a presença de sódio. O cálcio apresenta distribuição normal dos dados em toda a área da bacia e os dados referentes ao potássio, matéria orgânica e fósforo seguem uma distribuição normal apenas na área de ocorrência do Vertissolo Cromado órtico.

Palavras Chave: fertilidade, salinidade, Luvissolo, Vertissolo Abstract: The hydrographic basin of Namorado dam, located in Cariri, PB, region it has been objective of several researches aiming the recovery and the management of their soils. With intention of contributing with information for those researches, the study aimed to survey the soil chemical properties in an area of 1.378 ha by collecting 200 samples in the 0-30 cm surface soil layer. The samples were analyzed for chemical properties and the data were analyzed using descriptive statistics. The obtained results indicated that there was higher variability for potassium, sodium, phosphorus, electric conductivity and percentage of exchangeable sodium values; medium variability for calcium, magnesium and organic matter and lowest variability for pH. The soil pH, calcium, magnesium and potassium concentration were interpreted as appropriate for most crops; the organic matter and phosphorus concentration were interpreted as not appropriate and the soil samples were classified as not saline and normal regarding the percentage of sodium saturation. The calcium data present normal distribution in the whole area of the basin and the referring to the potassium, organic matter and phosphorus data present a normal distribution in the just Vertissolo Cromado órtico area. Keywords: fertility, salinity ,Luvissolo, Vertissolo

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1. Introdução

A bacia hidrográfica do açude Namorado, localizada na região do Cariri Ocidental, no estado da Paraíba, representa uma unidade ecossistêmica e morfológica de estudo do bioma caatinga, permitindo dentre outros aspectos, segundo Jenkins et al. (1994), avaliar os impactos das interferências antrópicas sobre os recursos hídricos.

A demanda crescente pelos recursos naturais tem agravado a degradação das terras em todo o Mundo. No Nordeste Brasileiro em particular, além da condição de semi-aridez, o histórico de ocupação de suas terras mostra uma forte pressão de ocupação desde os tempos coloniais. O uso indiscriminado de madeira, lenha e carvão; o pastejo intensivo de animais; o fogo; o uso e o manejo irracional das terras pela agricultura, com e sem irrigação; a mineração; a ocupação desordenada das cidades; além do baixo nível de renda e cultural da população são fatores que têm contribuído para a aceleração do processo de desequilíbrio ambiental (MOREIRA e TARGINO, 1997; SAMPAIO et al.2003).

Entre os processos relacionados com essa degradação tem-se o esgotamento de nutrientes, ou seja, diminuição da fertilidade dos solos, que, segundo Menezes e Sampaio (2002), na região semi-árida nordestina, é provocada pelo aumento da intensidade do uso do solo e a redução da cobertura vegetal.

A salinização é outro processo relacionado à degradação do solo e, em geral, ocorre em lugares onde coexistem as seguintes condições: presença de sais solúveis no solo, alto nível do lençol d’água e alto potencial de evaporação. Dentre os fatores que controlam a ocorrência, a extensão e o nível de variabilidade da salinidade do solo incluem-se os materiais formadores do solo, topografia, drenagem do solo, hidrologia das águas subterrâneas, precipitação, evaporação, uso da terra e práticas de cultivo (EILERS, 1995).

As pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na bacia hidrográfica do açude Namorado, em grande parte, têm procurado conhecer as particularidades daquele ecossistema, visando estabelecer as melhores formas de uso e práticas de manejo que possibilitem a recuperação de áreas degradas e minimizem os impactos das atividades humanas sobre o ambiente. Neste contexto, o conhecimento das características dos solos que ocorrem na área da bacia coloca-se como fato relevante. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo diagnosticar as propriedades químicas dos solos visando contribuir com informações úteis para o planejamento do uso e manejo das terras da bacia hidrográfica.

2. Material e Métodos

A área de estudo com 1.378 ha corresponde à bacia hidrográfica do açude Namorado, situada no município de São João do Cariri (PB), tendo como coordenadas geográfica 7o 23’ 30” de latitude S e 36o 31’59” de longitude O, com altitude média de 458 m. Essa bacia faz parte da rede de drenagem do rio Taperoá, que, por sua vez, é afluente do Rio Paraíba. Predomina na área o relevo ondulado. O clima é o semi-árido quente e as precipitações pluviais médias anuais variam em torno de 400 mm. Os solos predominantes na bacia hidrográfica do açude Namorado são o Luvissolos Crômico vértico, o Vertissolo Cromado órtico e o Neossolo Lítico, ocorrendo em 55,6%, 22,4% e 7,9% da área, respectivamente. Ocorre ainda, ocupando áreas menores os solos Cambissolo Háplico, Neossolo Flúvico, Planossolos Háplico e afloramentos de rocha associados à Neossolo Lítico. Em 41,8% da área os solos apresentam um grau de erosão severo a muito severo (CHAVES et al., 2002). Para representar todas estas unidades de solos foram coletadas 200 amostras, na profundidade de 0 – 20 cm, em pontos aleatórios do terreno. As análises químicas das amostras de solo foram realizadas no LIS/DEAg/CTRN/UFCG e consistiram de: pH em água (1:2,5), cátions trocáveis, acidez trocável, fósforo disponível, matéria orgânica (MO) e condutividade elétrica (CE) do extrato de saturação de acordo com recomendações da Embrapa (1997). Com base nessas determinações foram calculadas a capacidade de troca catiônica (T) e percentagem de sódio trocável (PST). Os dados obtidos dos parâmetros químicos foram analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas e, de acordo com os valores do Coeficiente de Variação, a variabilidade desses parâmetros foi classificada, segundo Warrick & Nielsen (1980), em: baixa (CV<12%), média (12<CV<62%) e alta (CV>62%). Avaliou-se também a distribuição de freqüência dos dados sendo apresentada sob a forma de histograma. Para verificar a aderência ou não dos dados à distribuição normal, aplicou–se o teste de Komolgorov-Smirnov (KS) à 1% de probabilidade. Este teste consiste, conforme Costa Neto (1997), no cálculo das diferenças entre as probabilidades da variável normal reduzida e as probabilidades acumuladas dos dados experimentais. Se o valor calculado em módulo for menor que o tabelado, a distribuição experimental é aceita como aderente à distribuição normal. Para um número de amostras (n) maior do que 50, calcula-se KS pela seguinte equação:

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n

p

KS2

2ln ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛−

=

Em que KS = diferença máxima admitida entre a curva experimental e a teórica; p = nível de significância escolhido, e n = número de dados amostrados.

Os dados referentes a todas as amostras de solo coletadas na área de estudo foram, inicialmente, analisadas em conjunto e, em seguida, analisaram-

se, separadamente, aquelas correspondentes às amostras do Vertissolo Cromado órtico e do Luvissolo Crômico vértico por serem estes solos os que predominam na área de estudo.

Os níveis adotados na interpretação dos parâmetros químicos determinados, com suas respectivas unidades, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação das propriedades químicas, de acordo com seus respectivos níveis

Parâmetros

Classificação e Níveis

Baixo

Médio

Alto

Muito Alto

Ca2+, cmolc.kg-1 (1) 0,0 – 1,5 1,6 – 4,0 > 4,0 Mg2+, cmolc.kg-1(1) 0,0 – 0,5 0,6 – 1,0 > 1,0 K+, cmolc.kg-1 (2) 0 - 0,11 0,12 - 0,23 0,23 – 0,35 > 0,35 P, mg.dm-3 (2) 0 - 10 10 – 20 20 – 30 > 30 MO, g.kg-1 (1) 0 - 15 16 – 30 > 30

Extremamente Ácida

Fortemente

Ácida

Moderadamente

Ácida

Praticamente

Neutra

Moderadamente

Alcalina

Alcalina

pH (4) ≤ 4,3 4,4 – 5,3 5,4 – 6,3 6,4 – 7,3 7,4 – 8,3 ≥8,4

Normal

Ligeiramente salino

Medianamente

salino

Fortemente

salino

Extremamente

salino

CE, dS m-1 (3) 0 – 2 2 – 4 4 – 8 8 – 16 > 16

Normal

Ligeiramente sódico

Medianamente

sódico.

Fortemente

sódico

Muito fortemente

sódico

PST, % (3) < 7 7 – 10 15 – 20 20 – 30 > 30 Fontes: (1) Lopes & Guidolin (1989); (2) EMBRAPA (1980); (3) Pizzaro (1985); (4) EMATER (1979)

3. Resultados e Discussão

De acordo com os valores, mínimo (5,7) e máximo (8,5), de pH (Tabela 2), constata-se que os solos da bacia hidrográfica, como um todo, apresentam reação, variando de moderadamente ácida até alcalina, conforme critérios adotados por Emater (1979) (Tabela 1). Enquanto as amostras do Vertissolo Cromado órtico apresentam reação variando de praticamente neutra (6,6) a alcalina (8,5) as do Luvissolo Crômico vértico variam de moderadamente ácida (6,0) a praticamente neutra (7,2). No entanto, os valores da média, mediana e moda mostram que predominam, na área estudada, amostras com reação praticamente neutra a qual é considerada adequada para a maioria das culturas.

Em relação aos teores de cálcio de todas as amostras analisadas, nota-se que eles variaram de 1,94 a 24,78 cmolc kg-1 sendo 8,77 e 8,03 cmolc kg-1

os valores da média e mediana, respectivamente (Tabela 2). De acordo com os limites de teores de cálcio (Tabela 1), pode-se dizer que na área em estudo, predominam solos com teores altos do elemento. Através dos dados apresentados na Tabela. 2 e dos histogramas dos teores de cálcio (Figura 1 e 2), pode-se observar que também no Vertissolo Cromado órtico e no Luvissolo Crômico vértico predominam teores altos do elemento. Com isso, pode-se afirmar que não deverá ocorrer deficiência de cálcio para a maioria das culturas instaladas na área, uma vez que as necessidades deste elemento para a maioria das espécies cultivadas não são elevadas (RAIJ, 1991). As freqüências de distribuição das amostras de Vertissolo Cromado órtico e do Luvissolo Crômico vértico em relação ao teor de cálcio, tiveram um comportamento normal (Figuras 1 e 2) o que pode ser comprovado pelo teste KS que apresentou-se

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significativo a nível de 1% de probabilidade (Tabela 2). A aplicação deste teste indica que os dados de cálcio podem ser considerados provenientes de uma população com distribuição normal, o que significa dizer que a média dos valores do elemento pode ser usada para inferir sobre a variabilidade das amostras, ou seja, ela serve como medida de posição representativa dos dados.

Os teores de magnésio, no geral, variaram de 1,14 a 21,22 cmolc kg-1 tendo sido 8,55 e 8,27 cmolc kg-1 os valores da média e mediana, respectivamente

(Tabela 2). Com base na classificação dos níveis do elemento (Tabela 1) e sabendo-se que o teor de 0,4 cmolc kg-1 é considerado suficiente para a maioria das culturas (RAIJ, 1991), pode-se afirmar então, na área de estudo não há deficiência do elemento. Os histogramas de magnésio (Figura 1 e 2) ilustram esse fato para o Vertissolo Cromado órtico e para o Luvissolo Crômico vértico. Todavia não houve distribuição normal dos dados como pôde ser comprovado pelo teste KS (Tabela 2).

Tabela 2. Medidas descritivas dos dados de variabilidade das propriedades químicas em todas as amostras de solo da

bacia estudada, nas amostras de Vertissolo Cromado órtico e nas amostras do solo Luvissolo Crômico vértico

Variável Média Mediana Moda Valor Coeficiente de Variação

Desvio Padrão

Teste KS

Menor Maior

Bacia Total (todas as amostras de solo)

pH 6,91 6,95 7,1 5,7 8,5 7,02 0,48 1,00 Ca (cmolc kg-1) 8,77 8,03 14,54 1,94 24,78 48,86 4,28 0,093* Mg (cmolc kg-1) 8,55 8,27 12,50 1,14 21,22 49,09 4,20 0,574 Na (cmolc kg-1) 0,43 0,28 0,17 0,08 3,17 125,79 0,54 0,753 K (cmolc kg-1) 0,39 0,34 0,38 0,10 3,75 105,79 0,42 0,68 P (mg dm-3) 1,72 0,88 0,08 0,03 10,97 131,77 2,26 0,767 MO (g kg-1) 12,7 11,2 18,4 0,5 38,6 61,81 7,82 0,935 CE (dS m-1) 0,54 0,41 0,35 0,17 2,94 88,19 0,48 0,859 PST (%) 1,69 1,37 1,26 0,02 6,08 69,89 1,18 0,860

VERTISSOLO CROMADO órtico

pH 7,17 7,1 7,1 6,6 8,5 5,55 0,40 0,756 Ca (cmolc kg-1) 10,60 10,21 - 6,21 18,65 27,49 2,91 0,168* Mg (cmolc kg-1) 11,70 11,81 - 6,89 21,22 29,49 3,45 0,342 Na (cmolc kg-1) 0,49 0,28 0,27 0,15 3,17 126,21 0,62 0,332 K (cmolc kg-1) 0,33 0,34 0,44 0,10 0,56 40,89 0,13 0,093* P (mg dm-3) 2,01 0,9 0,9 0,03 7,89 116,19 2,34 0,248* MO (g kg-1) 12,36 10,5 18,4 0,7 31,60 57,50 7,11 0,156* CE (dS m-1) 0,49 0,39 0,35 0,17 2,94 101,83 0,50 0,491 PST (%) 1,35 1,22 0,8 0,02 3,75 67,21 0,91 0,534

LUVISSOLO CRÔMICO vértico

pH 6,74 6,8 6,9 6,0 7,2 5,00 0,34 0,554 Ca (cmolc kg-1) 8,57 7,95 - 1,94 17,4 50,68 4,34 0,298* Mg (cmolc kg-1) 7,46 6,46 - 2,0 17,03 46,28 3,45 0,324 Na (cmolc kg-1) 0,35 0,31 0,36 0,12 0,94 55,51 0,19 0,719 K (cmolc kg-1) 0,32 0,32 0,28 0,12 0,55 34,00 0,10 0,913 P (mg dm-3) 0,91 0,72 1,52 0,06 3,22 96,06 0,88 0,821 MO (g kg-1) 10,05 8,4 14,3 0,5 27,9 69,60 7,0 0,819 CE (dS m-1) 0,59 0,44 0,34 0,24 2,23 78,37 0,46 0,816 PST (%) 1,93 2,0 1,06 0,12 4,54 55,53 1,07 0,908

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8,508,258,007,757,507,257,006,756,50

Núm

ero

de a

mos

tras

12

10

8

6

4

2

0111

2

6

11

4

1

pH

19,018,0

17,016,0

15,014,0

13,012,0

11,010,0

9,08,0

7,06,0

7

6

5

4

3

2

1

0

11

2

11

6

55

22

1

Cálcio

22,020,018,016,014,012,010,08,06,0

12

10

8

6

4

2

0111

3

10

4

6

1

Magnésio

,56,50,44,38,31,25,19,13

Núm

ero

de a

mos

tras

6

5

4

3

2

1

0

22

4

5

3

5

33

Potássio

8,07,06,05,04,03,02,01,00,0

10

8

6

4

2

0

2

1

3

2

3

88

Fósforo 32,530,0

27,525,0

22,520,0

17,515,0

12,510,0

7,55,0

2,50,0

8

6

4

2

0

1

2

1

5

2

7

5

22

Matéria Orgânica

Figura 1. Histograma de freqüência para pH, cálcio (cmolc kg-1), magnésio (cmolc kg-1), potássio (cmolc kg-1), fósforo (mg dm-3) e matéria orgânica (g kg-1) presentes no Vertissolo Cromado órtico

7,257,137,006,886,756,636,506,386,256,136,00

Núm

ero

de a

mos

tras

6

5

4

3

2

1

0

2

3

2

4

5

3

2

111

pH

18,016,014,012,010,08,06,04,02,0

8

6

4

2

0

1

222

33

7

3

2

Cálcio

18,016,014,012,010,08,06,04,02,0

8

6

4

2

0

11

2

3

5

7

5

1

Magnésio

,56,50,44,38,31,25,19,13

Núm

ero

de a

mos

tras

7

6

5

4

3

2

1

0

11

2

6

4

55

1

Potássio

3,002,502,001,501,00,500,00

7

6

5

4

3

2

1

0

111

3

55

6

Fósforo

27,525,022,520,017,515,012,510,07,55,02,50,0

6

5

4

3

2

1

0

2

1

333

55

1

2

Matéria Orgânica Figura 2. Histograma de freqüência para pH, cálcio (cmolc kg-1), magnésio (cmolc kg-1), potássio (cmolc kg-1), fósforo

(mg dm-3) e matéria orgânica (g kg-1) presentes no Luvissolo Crômico vértico

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Analisando o comportamento do potássio em todas as amostras de solo (Tabela 2), nota-se que os teores variaram de baixo a muito alto sendo o valor da mediana considerado alto e os valores da média e moda considerados muito altos (Tabela 1). Nesta situação, em grande parte das terras, não é necessária a aplicação de adubo ao solo. As diferenças entre os teores de potássio encontrados no Vertissolo Cromado órtico e no Luvissolo Crômico vértico são muito pequenas e predominam nas duas áreas teores desse elemento classificados como muito altos (Figuras 1 e 2). No entanto, pelo teste KS apenas no Vertissolo Cromado órtico a distribuição das amostras foi normal a 1% de probabilidade (Tabela 2).

Os teores da matéria orgânica variaram de 0,5 g kg-1 (baixo) a 38,6 g kg-1 (alto), sendo os valores da média e mediana classificados como baixos (Tabela 1). Comparando os teores encontrados para o Vertissolo Cromado órtico e Luvissolo Crômico vértico, observa-se que a amplitude de variação é praticamente a mesma, ou seja, os teores variam de baixo a alto. Todavia, através dos histogramas de freqüência (Figuras 1 e 2) pode-se observar que a maior parte das amostras dos dois solos apresenta baixos teores de matéria orgânica. Através do teste KS apenas as amostras do Vertissolo Cromado órtico apresentam distribuição normal à 1% de probabilidade em relação à esse parâmetro (Tabela 2). Conhecendo-se esses resultados e considerando que a matéria orgânica funciona como condicionador de solo exercendo múltiplos efeitos sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos (RAIJ, 1991), fica evidente a necessidade da aplicação da mesma aos solos da bacia. O aumento no teor de matéria orgânica poderá melhorar a porosidade e a estabilidade dos agregados do solo e, consequentemente, sua drenagem. Da mesma forma, contribuirá com a melhoria da fertilidade do solo, disponibilizando elementos essenciais para as plantas, como fósforo, magnésio, cálcio, enxofre e micronutrientes, à medida que irá se decompondo.

Os teores de fósforo, considerando todas as amostras de solo, variaram de baixo a médio e, tanto no Vertissolo Cromado órtico como no Luvissolo Crômico vértico, predominaram baixos valores do elemento (Figuras 1 e 2), ou seja, quantidade insuficiente para suprir as necessidades das culturas em geral, corroborando com Pereira & Faria (1998). Assim, faz-se necessária a adição de fósforo aos solos para que o desenvolvimento das mesmas não seja prejudicado. Da mesma forma que para a matéria orgânica, a distribuição do fósforo no Vertissolo Cromado órtico também foi normal a 1% de probabilidade (Tabela 2).

Os teores de sódio presentes nos solos da área de estudo não são prejudiciais às culturas. Esses teores quando refletidos em termos de porcentagem de sódio trocável (PST) mostram que todas as amostras de solo analisadas não apresentam sodicidade uma vez que os valores de PST, que variaram de 0,02 a 6,08%, estão abaixo de 8%, o que as classifica como normais (Tabela 1). Observa-se que os teores de sódio variaram de 0,15 a 3,17 cmolc kg-1 no Vertissolo Cromado órtico e de 0,12 a 0,94 cmolc kg-1 no Luvissolo Crômico vértico (Tabela 2). A amplitude desses dados, como pode ser observada nos histogramas (Figuras 3 e 4), segundo Salviano et al. (1998), deve ser analisada com certas restrições uma vez que essa medida leva em consideração, apenas, os dois valores extremos de um conjunto de dados sendo, muitas vezes, afetada por um valor discrepante, como ocorreu com o sódio. Os dados desse elemento apresentam assimetria positiva, o que caracteriza uma curva deslocada para a esquerda. Por isso, os valores das medianas, 0,28 e 0,31 cmolc kg-1 para o Vertissolo Cromado órtico e Luvissolo Crômico vértico, respectivamente, devem ser utilizados como medida de posição representativa dos dados, uma vez que eles são resistentes a influência de valores extremos. Apesar dos dados de sódio no Vertissolo Cromado órtico terem apresentado maior amplitude, é no complexo de troca do Luvissolo Crômico vértico que os teores deste elemento exercem maior influência haja visto este solo apresentar maiores valores de PST (Tabela 2).

Pela análise do extrato de saturação das amostras de solo coletadas na área da bacia hidrográfica do açude Namorado, constatou-se a ausência dos íons sulfato e carbonato e o predomínio dos íons cloreto e bicarbonato (dados não apresentados), no entanto, com base nos dados de CEes, que indica o nível de sais nos solos, pode-se afirmar que, na maior parte da área estudada, a produção das culturas não é afetada pelos sais, uma vez que, segundo Pizzaro (1985), os solos da referida área são classificados como não salinos (0 – 2 dS m-1). Isto pode ser melhor visualizado através dos histogramas de freqüência (Figuras 3 e 4), os quais apresentam assimetria positiva e, por isso, da mesma forma como para o sódio, os valores das medianas, 0,39 e 0,44 dS m-1 para o Vertissolo Cromado órtico e Luvissolo Crômico vértico, respectivamente, devem ser utilizados como medida de posição representativa dos dados.

Levando em consideração os valores de CEes e PST para classificar-se os solo, pode-se dizer que na área de estudo predominam solos considerados normais já que os valores predominantes de CEes

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foram menores que 2 dS m-1 e de PST menores que 8 (PIZZARO, 1985).

Os valores de CV para o cálcio, magnésio e matéria orgânica, quando analisadas as amostras de solo de toda a bacia, são classificados, segundo Warrick & Nielsen (1980), como de média variabilidade enquanto que o relacionado ao pH foi de baixa variabilidade, concordando com Souza et al. (2000), Silva (2001) e Chaves et al. (2004). Os demais parâmetros são classificados como de alta variabilidade concordando com Souza et al. (2000). Essa variação acentuada pode ser atribuída à heterogeneidade dos solos da área da bacia e, particularmente, aos diferentes estágios de degradação dos solos, conforme descreve Chaves et

al. (2002). Considerando apenas as amostras de Vertissolo Cromado órtico, observa-se que os valores do CV de cálcio, magnésio, potássio e matéria orgânica permitem classificá-los como de média variabilidade, o do pH de baixa variabilidade e dos demais parâmetros de alta variabilidade. Nas amostras de Luvissolo Crômico vértico, foram classificados como CV médios aqueles correspondentes ao cálcio, magnésio, potássio, sódio e PST, enquanto o do pH continuou sendo baixo e os demais parâmetros, altos (Tabela 2). O conhecimento da variabilidade dessas propriedades é importante principalmente para definir o manejo mais adequado para a área da bacia.

3,253,002,752,502,252,001,751,501,251,00,75,50,25

Núm

ero

de a

mos

tras

30

20

10

03

20

Sódio

4,003,503,002,502,001,501,00,500,00

8

6

4

2

0

1

2

1

77

22

PST C

3,002,752,502,252,001,751,501,251,00,75,50,25

16

14

12

10

8

6

4

2

0 1

15

11

CE Figura 3. Histograma de freqüência para sódio (Na, cmolc kg-1), porcentagem de sódio trocável (PST, %) e

condutividade elétrica (CE, dS m-1) no Vertissolo Cromado órtico

1,00,88,75,63,50,38,25,13

Núm

ero

de a

mos

tras

10

8

6

4

2

011

4

6

9

4

Sódio

4,504,003,503,002,502,001,501,00,500,00

6

5

4

3

2

1

0

1

22

1

5

3

5

11

PST

2,252,001,751,501,251,00,75,50,25

14

12

10

8

6

4

2

0 1111

12

9

CE

Figura 4. Histograma de freqüência para sódio (Na, cmolc kg-1), porcentagem de sódio trocável (PST, %) e

condutividade elétrica (CE, dS m-1) no Luvissolo Crômico vértico

4. Conclusões

Os solos da bacia hidrográfica do açude Namorado não apresentam limitações ao desenvolvimento das plantas, devido à salinidade ou sodicidade, pois são solos normais. O pH é praticamente neutro e os teores de cálcio, magnésio

e potássio são adequados para a maioria das culturas, enquanto os teores de matéria orgânica e fósforo apresentam-se inadequados. O cálcio apresenta distribuição normal dos dados em toda a área da bacia e os dados referentes ao potássio, matéria orgânica e fósforo seguem uma distribuição normal apenas na área do Vertissolo Cromado órtico.

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 75

5. Referências CHAVES, L.H.G.; CHAVES, I.B.; VASCONCELOS, A.C.F. Salinidade das águas superficiais e suas relações com a natureza dos solos na bacia escola do açude Namorado e diagnóstico do uso e degradação das terras. Campina Grande, 2002, 114p. (Relatório Técnico). CHAVES, L.H.G.; TITO, G.A.; CHAVES, I.B.; LUNA, J.G.; SILVA, P.C.M. Propriedades químicas do solo aluvial da ilha de Assunção – Cabrobó (Pernambuco). Revista Brasileira de Ciência do Solo. Viçosa, v.28, n.3, p.431-437, 2004. COSTA NETO, P.L.O. Estatística. São Paulo: Edgard Blucher, 1997. 468p. EILERS, R.G. Salinization of soil. Soil Health. 1995. Disponível na internet. http://res.agr.ca/CANSIS/PUBLICATIONS/HEALTH/chapter08.html. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. Rio de Janeiro, 1997. 212p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Avaliação da fertilidade dos solos do Distrito Federal. Rio de Janeiro, 1980. 11p. (Boletim Técnico 74). EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL - EMATER. Sugestões de adubação para o Estado da Paraíba: 1ª. Aproximação. João Pessoa, 1979. 56p. JENKINS, A.; PETERS, N.E.; RODHE, A. Hydrology. In: MOLDAN, B.; CERNY, J. (coords.). Biogeochemistry of small catchments: A tool for environmental research. (Scope 51). Chichester: John Wiley, 1994, p.31-34. LOPES, A.S.; GUIDOLIN, J.A. Interpretação de análise do solo: conceitos e aplicações. 2.ed. São Paulo: Associação Nacional para Difusão de Adubos e Corretivos Agrícolas, 1989, 64p. MENEZES, R.S.C.; SAMPAIO, E.V.S.B. Simulação dos fluxos e balanços de fósforo em uma unidade de produção agrícola familiar no semi-árido paraibano. In: SILVEIRA, L.M.; PETERSEN, P.; SABOURIN, E. (Org). Agricultura familiar e agroecologia no semi-árido: avanços a partir do

agreste da Paraíba. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002. p.249-260. MOREIRA, E.; TARGINO, I. Capítulos de geografia agrária da Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária, 1977. 164p. PEREIRA, J.R.; FARIA, C.M.B. Sorção de fósforo em alguns solos do semi-árido do nordeste brasileiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.33, n.7, p.1179-1184, 1998. PIZZARO, F. Drenaje agricola y recuperación de suelos salinos. 2.3d. Madrid: Editorial Española S.A., 1985. 542p. RAIJ, B.van. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: Ceres, Potafos, 1991. 343p. SALVIANO, A.A.C.; VIEIRA, S.R.; SPAROVEK, G. Variabilidade espacial de atributos de solo e de Crotalaria juncea L., em áreas severamente erodidas. Revista Brasileira de Ciência do Solo. Viçosa, v.22, n.1, p.115-122, 1998. SAMPAIO, E.V.S.B.; SAMPAIO, Y.; ARAÚJO, S.B.; SAMPAIO, G.R. Desertificação no Brasil: conceitos, núcleos e tecnologias de recuperação e convivência. Recife: Editora Universitária, 2003. 202p. SILVA, P.C.M. Avaliação e variabilidade espacial de propriedades químicas do solo da “Extensão Maria Tereza”-Perímetro Irrigado Senador Nilo Coelho, Petrolina-PE. 2001. 104f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Centro de Ciências e Tecnologia, UFPB, Campina Grande. SOUZA, L.C.; QUEIROZ, J.E.; GHEY, H.R. Variabilidade especial da salinidade de um solo aluvial no semi-árido paraibano. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola. Campina Grande, v.4, n.1, p.35-40, 2000. WARRICK, A.W.; NIELSEN, D.R. Spatial variability of soil physical properties in the field. In: HILLEL, D. (ed.) Applications of soil physics. New York: Academic Press, 1980, p.319-344. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores, As opiniões nele emitidas não representam. Necessariamente. Pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 76

Variabilidade Espacial da Água Disponível, Microbacia do Rio do Cabelo (Município de João

Pessoa - PB)

Paulo Vidal Lima1 [email protected] (CEFET-PB)

Antonio Ricardo Santos de Andrade

[email protected] (UFRP)

Hugo Orlando Carvallo Guerra [email protected] (UFCG)

Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a variabilidade dos atributos físico-hídricos umidade no ponto de murcha permanente (θPMP), na capacidade de campo (θcc) e água disponível do solo (AD) usando a técnica da estatística clássica e da geoestatística na análise dos dados. As amostras do solo foram coletadas para três profundidades 0-30, 30-60 e 60-90 cm, numa área da microbacia do Rio do Cabelo, Município de João Pessoa (PB), em pontos de amostragem definidos segundo uma malha irregular. O limite superior da faixa de AD foi a θcc e o limite inferior na θPMP, para as tensões 33 kPa e 1500 kPa, respectivamente. Verificou-se pequena magnitude de variabilidade espacial representado por baixos valores de desvio padrão (DP < 4,5) e coeficientes de variação (CV < 82 %) para os percentuais de areia, silte e argila, θcc, θPMP e AD, com valores de CV crescentes com aumento da profundidade. Modelos esférico e exponencial foram ajustados aos semivariogramas experimentais da AD os quais apresentaram estrutura de dependência especial. Os mapas de isolinhas de AD permitiram visualizar o padrão de variabilidade do teor de umidade do solo, constituindo-se em uma ferramenta para a definição de estratégia de manejo de irrigação e estudos geoambientais. Palavras-Chave: teor de umidade do solo, variabilidade espacial, geoestatística, semivariograma, dependência espacial. 1. Introdução

De todas as propriedades físico-hídricas, a água disponível (AD) às plantas é de fundamental relevância para definir estratégia para o manejo da água no solo, sendo definida como a água retida entre as tensões equivalentes à umidade na capacidade de campo (θcc) e a ponto de murcha permanente (θPMP), determinado em laboratório, conforme Carvallo Guerra, 2000.

O conhecimento das propriedades físico-hídricas, da θPMP, (θcc) e AD encerram uma complexidade de fatores inerente a cada local de amostragem o que contribui para maiores dificuldades para sua avaliação. Um dos principais fatores para tal complexidade tem sido atribuída à variabilidade espacial. Portanto a determinação da variabilidade espacial da θPMP, θcc e AD para várias profundidades pode ser determinante ao bom desenvolvimento da agricultura, auxiliar no manejo da irrigação estudos e geoambientais. Neste contexto a geoestatística se

apresenta como nova ferramenta adicional, que leva em consideração a distribuição espacial das amostras, permitindo definir o raio de correlação espacial entre elas. Essa dependência ou correlação espacial entre amostras pode ser verificada através das semivariâncias (CARVALHO et al., 2003; ZIMBACK, 2001).

A pesquisa teve por objetivo caracterizar as propriedades físico-hídricas, ponto de murcha permanente, capacidade de campo e água disponível dos solos da microbacia do rio Cabelo e analisar a variabilidade espacial desses atributos, utilizando procedimentos geoestatísticos para identificação da grandeza da variabilidade e dependência espacial com a finalidade de proceder ao mapeamento dessas variáveis na área estudada e fornecer informações ao manejo adequada da irrigação, drenagem e conservação do solo e da água.

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 77

2. Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido na área da micro-bacia do Rio do Cabelo, município de João Pessoa (PB). Realizou-se uma amostragem na área de estudo com 549 ha de forma aleatória, em que os pontos de coleta de amostras foram irregularmente espaçados e georeferenciados. Coletaram-se 104 amostras para cada uma das profundidades 0-30, 30-60 e 60-90 cm, totalizando 312 amostras, que foram utilizadas para determinação da textura do solo, θcc, θPMP e da AD. A análise granulométrica, para identificação da textura, foi determinada pelo método do hidrômetro de acordo com os procendimentos recomendados por Bouyoucous (1951). Foi avaliada a umidade do solo nas tensões de 33 kPa (adotada como capacidade de campo – θcc) e 1500 kPa (tensão no ponto de murcha permanente - θPMP).

A disponibilidade de água no solo (AD) foi calculada pela equação: AD = (θcc - θPMP)x100. Para a análise dos resultados dos ensaios através da estatística clássica foram determinadas as medidas de posição, dispersão e aderência à distribuição normal. Do total de 104 pontos de medição, procuro-se conhecer a estrutura espacial pela análise geoestatística, através dos semivariogramas experimentais (ANDRADE, 2002), em que a dependência espacial é definida pelo alcance (Ao) e o erro cometido devido à distância de amostragens, definida pelo efeito pepita (Co). Finalmente,

utilizando-se o software Gs+ (2000) foram calculados os parâmetros de cada modelo de semivariograma ajustados aos dados e através da técnica de interpolação krigagem foi construído os mapas de isolinhas, representativos da distribuição espacial dos atributos do solo, com o auxílio do Gs+. 3. Resultados e discussão

A Tabela 1 reúne os momentos estatísticas da θcc, θPMP e AD para 104 pontos amostrados nas três profundidades. Observa-se que os valores médios de AD encontrados para as três profundidades são semelhantes e apresentam pequena magnitude da variação espacial com o aumento da profundidade. A variância, o desvio-padrão e coeficiente de variação dos valores medidos do solo confirmam a pequena variabilidade deste atributo.

Os resultados apresentados mostram que no geral, os valores médios de θcc e θPMP, para as três profundidades são de moderados a ligeiramente baixos de acordo com Sousa et al., 1999. Observa-se também, que os valores tanto da θcc como da θPMP variam de acordo os teores de argila mais silte, ou seja, a quantidade de água disponível decresce com a diminuição do teor de argila mais silte no solo, onde esta variação é confirmada pelos valores dos parâmetros de dispersão; desvio-padrão coeficiente de variação e amplitude total dos dados desses atributos do solo.

Tabela 1. Momentos estatísticos dos resultados de teor umidade no ponto de murcha permanente (θPMP – 10

kPa, na capacidade de campo (θcc – 1500kPa) e água disponível do solo (AD - %).

θcc (1500 kPa) θPMP (33 kPa) AD (%) Profundidades (cm)

Momentos estatísticos

0-30 30-60 60-90 0-30 30-60 60-90 0-30 30-60 60-90 Média 8,31 9,21 10,05 3,13 3,76 4,32 5,08 5,66 5,90 Mediana 8,57 8,91 9,69 3,09 3,52 4,09 5,02 5,27 5,91 Variância 5,16 9,76 12,40 1,73 3,92 5,75 3,13 4,08 4,04 DP 2,27 3,13 3,52 1,31 1,98 2,40 1,77 2,02 2,01 CV 27,32 33,91 35,05 41,92 52,62 55,49 34,85 35,69 34,05 Cr -0,31 -0,34 -0,08 -0,21 -0,12 0,12 0,10 -0,24 -0,30 Cs 0,40 0,67 0,68 0,48 0,73 0,69 0,27 0,61 0,42 At 10,17 12,66 14,21 5,71 8,22 10,47 9,10 9,15 9,15

Nota: DP – desvio padrão; CV(%) – coeficiente de variação; Cr – Coeficiente de curtose; Cs – Coeficiente de assimetria; At - amplitude total.

A aproximação de valores entre média e mediana e os valores dos coeficientes de Cs e Cr próximo de 0 e 1, respectivamente indicam um comportamento aproximadamente normal dos dados. Os testes de aderência de Kolmogorov–Smirnov (KS) confirmaram hipótese de normalidade apenas para

os dados de PMP (0-30 e 60-90 cm) e AD (0-30 e 60-90cm), em geral de significância de 5% de probabilidade.

O atributo hídrico do solo AD nas três profundidades apresentou dependência espacial, ou seja, todos os semivariogramas apresentaram

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 78

estrutura de variação quanto à retenção de água pelo solo, conforme observado por meio dos seus respectivos modelos teóricos de semivariogramas ajustados juntamente com as estimativas dos parâmetros efeito pepita (Co), patamar (C+Co), variância estrutural (C) e o alcance da dependência espacial (Ao), indicados na Fig. 1.

A respeito do índice que mede o grau de dependência espacial (IDE), observa-se na Tabela 2

que o atributo hídrico (AD) nas profundidades estudadas apresentou moderada dependência espacial (25 % < IDE < 75 %), concordando com pesquisas realizadas por Souza et al. (2001) & Carvalho et al. (2002). O menor valor para o alcance foi para profundidade de 30-60 cm, com 1614,00 m (Tab. 2), indicando que os pontos são mais semelhantes entre si num raio de 1614,00 m, aproximadamente.

(a)

(b)

(c)

Figura 1. Modelos teóricos de semivariogramas ajustados a semivariogramas experimentais para AD com as

estimativas dos parâmetros efeito pepita (Co), patamar (Co + C), variância estrutural (C) e alcance (Ao).

A variabilidade aleatória indicada pelo efeito pepita relativo (ε) para AD (0-30 cm e 60-90 cm) foi menos acentuada quando comparada com a profundidade 30-60 cm, indicando uma maior continuidade e correlação espacial entre os teores desse atributo na primeira e última camada do solo. Os valores da Tab. 2, referente à soma de quadrados de resíduos (SQR) baixos e os coeficientes de determinação (r2), relativamente próximos de 1, indicam que os ajustes determinados

para os semivariogramas AD nas três profundidades foram satisfatórios.

O modelo matemático esférico foi ajustado aos semivariogramas da AD, exceto para profundidade 60-90.cm, a que melhor se ajustou o modelo exponencial. Mc Bratney & Webster (1996) estudaram modelos de ajuste de semivariogramas para os atributos do solo e relataram que os modelos esférico e exponencial são os mais freqüentemente encontrados.

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Tabela 2. Parâmetros do modelo teórico ajustado aos semivariogramas experimentais da AD.

Variável Prof.

(cm)

Modelo Co Co + C C Ao

(m)

IDE

(%)

ε r2 SQR

0-30 Esférico 1,76 3,76 2,00 2439,00 46,81 0,88 0,84 0,82

30-60 Exponencial 2,52 4,91 2,39 1614,00 51,32 1,05 0,74 1,28

AD

60-90 Exponencial 3,22 8,01 4,79 4304,00 40,22 0,94 0,91 0,48

Nota: Co - Efeito pepita; Co + C - patamar; C – Variância estrutural; IDE = [Co/(Co+C).100] - Índice de Dependência Espacial; Ao – Alcance; ε = (Co/C) - efeito pepita relativo; r2 – Coeficiente de Determinação; SQR - Soma dos Quadrados de Resíduos.

A confirmação da presença de dependência

espacial para os semivariogramas da AD, nas profundidades analisadas, possibilitou a construção dos mapas de isolinhas para AD nas profundidades 0-30, 30-60 e 60-90 cm (Fig. 2), com os valores desses atributos estimados por krigagem e exibindo ao lado uma escala de tonalidades de cor. Observa-se na Fig. 2 para as três profundidades que os teores de retenção de água disponível mais elevado estão indicados pela cor branca na região superior da área pesquisada. Essa região indica que esta parte da

parcela é mais densa e oferece maior retenção de água. O mapa da Fig. 2b mostra que a variabilidade espacial para água disponível na profundidade de 30-60.cm é mais acentuada, quando comparada com as outras profundidades, pois as linhas mais próximas indicam região de maior variabilidade e as mais afastadas, menor variabilidade. Cruzando-se os mapas da água disponível com os dos percentuais de argila e silte (Fig. 3) nas três profundidades, observa-se que os teores elevados de retenção de água seguem os teores elevados de argila e silte.

(a) (b)

(c)

Figura 2. Mapas de isolinhas da água disponível (AD) para as três profundidades.

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 80

(a) (d)

(b) (e)

(c) (f)

Figura 3. Mapas de isolinhas dos percentuais de silte e argila para as três profundidades.

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4. Conclusões a) Os baixos valores dos parâmetros variância (Var), desvio – padrão (DP) e coeficiente de variação (CV%) indicam pequena magnitude da variação espacial com aumento da profundidade para todos os atributos do solo estudado; b) Analisando os semivariogramas observa-se estrutura de dependência espacial para a AD para as três profundidades, o que permitiu o seu mapeamento, utilizando-se a técnica de interpolação krigagem; c) A grande importância dos mapas construídos permite localizarem-se as principais áreas as quais precisam de tratamentos especiais, para ocorrência melhor planejamento e a definição de estratégia de manejo de irrigação, drenagem e estudos geoambientais. 5. Referências ANDRADE, A. R. S de. Aplicação da teoria fractal e da geoestatística na estimativa da condutividade hidráulica saturada e do espaçamento entre drenos. 2002. p.198 (Tese Doutorado) – Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP – Campus de Botucatu-SP. ANDRADE, A. R. S de. Características físico-hídricas dos solos da estação experimental da Embrapa-algodão, variabilidade espacial. 1997. p.13 (Dissertação de Mestrado) – Centro de Ciência e Tecnologia, Campus II, Universidade Federal da Paraíba. Campina Grande, PB. BOUYOUCOUS, G.J. The hydrometer method for studying. Soil Sci, 5 (25): 367-371. 1951. CAMBARDELLA, C.A., MOORMAN, T.B., NOVAK, J.M., PARKIN, T.B. KARLEN, D.L., TURCO, R.F., KONOPKA, A.E. Field-scale

variability of soil properties in Central Iowa soils. Soil Sci. Soc. Am. J., v.58, p.1501-1511, 1994. CARVALHO, M.P.; TAKEDA, E.Y.; FREDDI, O.S. Variabilidade espacial de atributos de um solo sob videira em Vitória Brasil (SP). Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.27, n.4, p.695-703, 2003. CARVALLO GUERRA, H. O. Física do solo. Campina Grande, Pb, 2000. p.81-82. Departamento de Engenharia Agrícola – Centro de Ciências e Tecnologia CCT-UFPB. SOUSA, J.R., QUEIROZ, J.L.,GHEY, H.R. Variabilidade espacial de características físico-hídricas e de água disponível em um solo aluvial no semi-árido Paraibano. Rev. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, Campina Grande, v.4, n.2, p.140-144, 1999. GAMMA DESIGN SOFTWARE Geoestatistics for the enviroamental sciences – Gs+ (version 5.0 windows). Michigan, 2000. MC BRATNEY, A.B. & WEBSTER, R. Choosing functions for semi-variograms of soil properties and fitting them to sampling estimates. J. Soil Sci., 37:617-639, 1986. ZIMBACK, C.R.L. Análise espacial de atributos químicos de solo para fins de mapeamento da fertilidade do solo. Botucatu, 2001. 114p. Tese (Livre Docência) - UNESP, Universidade Estadual Paulista, 2001. Responsabilidade de autoria As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Uma Metodologia para o Descarte de Resíduos Oxidantes Gerados em Laboratórios de Análise de

Solos

Robson Fernandes de Farias1

[email protected]

Cleiciane M. da Silva

Anna Paula V. de Siqueira e Silva

Rita de Cássia P. de Souza

Resumo: Um método para o descarte de resíduos oxidantes gerados em laboratórios de análise de solos é apresentado. O Cr+6 é primeiramente reduzido a Cr+3 pela reação com bissulfito de sódio, sendo em seguida precipitado sob a forma de hidróxido, mediante reação com hidróxido de sódio.

Palavras Chave: águas residuárias, análise de solo, romo Abstract: A method useful for the disposal of oxidant waste water at soil laboratories is presented. The Cr6+ ion is firstly reduced to Cr3+ by reaction with sodium bissulfite. Then, Cr3+ is precipitated as chromium hydroxide by reaction with sodium hydroxide.

Keywords: waste water; soil analysis; chromium

1. Introdução

Durante os últimos anos tem aumentado, em nível mundial, a conscientização por parte das indústrias químicas, das instituições acadêmicas e dos órgãos fiscalizadores governamentais sobre a necessidade de um tratamento eficaz ou de uma adequada disposição final de qualquer tipo de resíduo químico1.

Devido à expansão das fronteiras agrícolas e industriais, aumentou significativamente, no século XX, o uso de substâncias químicas, o que tem acarretado o número de casos de contaminação ambiental.

Os principais poluentes do solo e subsolo são os resíduos sólidos, resultantes de atividades humanas de origem doméstica, industrial, serviços laboratoriais e agrícolas, dentre outras. Esses resíduos depositados no solo e subsolo irão alcançar o lençol freático através do processo de infiltração de água das chuvas.

A Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) Roraima, preocupada com a preservação do meio ambiente e com o desenvolvimento e utilização de tecnologias limpas, iniciou em 2000 um trabalho para implementação de um programa para gerenciamento de resíduos químicos.

Nos laboratórios da Embrapa Roraima são realizadas, mensalmente, 400 análises químicas de solos, para determinação da matéria orgânica, gerando conseqüentemente resíduos químicos passíveis de gerar contaminação ambiental.

Na determinação química da matéria orgânica tem sido utilizado o método de Walkley-Black (oxidação do carbono orgânico por dicromato, na presença de ácido sulfúrico concentrado). O resíduo líquido gerado após análise química da matéria orgânica é, portanto, uma mistura de dicromato de sódio e ácido sulfúrico (solução sulfocrômica), o qual é classificado, segundo a Resolução CONAMA F-R-37/94, como Resíduo Perigoso.

O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de uma metodologia para tratamento dos resíduos líquidos

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 83

produzidos pela análise química de matéria orgânica em laboratórios de análise de solos, visando dar suporte às instituições de pesquisa, no que se refere às suas políticas de manejo e gerenciamento de resíduos, contribuindo assim com a causa ambiental. 2. Experimental

Após determinação química da matéria orgânica em 100 amostras de solos pelo método de Walkley-Black2, coletou-se todo resíduo gerado, o qual é composto por dicromato de sódio, ácido sulfúrico, solo e água. Acondicionou-se o resíduo em frasco de polietileno com tampa, por um período de 12 horas, obtendo-se, após decantação da parte sólida, 5,7 dm3 de resíduo líquido.

O procedimento utilizado consiste em reduzir o

Cr6+, contido nos resíduos da solução de dicromato

de sódio, a Cr3+, e precipitá-lo como hidróxido.

Como agente redutor foi empregado o bissulfito de

sódio. Esta redução deve ser efetuada em meio

ácido, aproveitando-se, portanto, a acidez da solução

residual.

O frasco com o resíduo líquido foi mantido numa capela de fluxo laminar. A seguinte sequência de operações foi obedecida:

(a) Acrescentaram-se ao resíduo 100,0 g de bissulfito de sódio. Promoveu-se a homogeinização da solução mediante agitação mecânica, sendo a solução resultante deixada em repouso por 20 minutos. Observou-se a mudança de coloração da solução, que passou de laranja Cr6+ a verde Cr3+. Acrescentaram-se, a seguir, 2,5 dm3 de uma solução de hidróxido de sódio 40%.

(b) Promoveu-se em seguida a filtração da mistura, armazenando-se o resíduo sólido (precipitado) em frasco de polietileno.

(c) Adicionaram-se então, ao filtrado, 365,0 cm3 de ácido acético concentrado. Finalizou-se o procedimento com o descarte do resíduo líquido na pia, como substância não oxidante (deve-se diluir o resíduo, utilizando água em abundância).

3. Resultados e discussão

A redução do cromio hexavalente a trivalente, efetuada utilizando-se o bissulfito de sódio, faz-se necessária, tendo-se em vista a mais baixa toxicidade da forma trivalente (limites máximos, para descarte, em mg/dm3: Cr6+ = 0,5; Cr3+ = 2,0).

A adição de NaOH a soluções de Cr+3 precipita o óxido hidratado (hidróxido)3. O cátion Cr3+ ao reagir com os íons OH- forma o Cr(OH)3, fracamente solúvel nos ácidos e no excesso de reagente, originando uma solução verde que contém CrO2

-. Os compostos de Cr+3 são os mais importantes e

estáveis desse elemento. Contudo, embora seja muito estável em soluções ácidas, o Cr3+ é facilmente oxidado a espécies contendo o íon Cr6+ quando em soluções alcalinas4.

Adicionando-se ao sistema íons OH- em quantidade suficiente, promove-se a retirada de três prótons do íon complexo Cr(H2O)6

+3, resultando na espécie neutra

[Cr(H2O)3(OH)3]. Sendo neutra, esta espécie não repele as outras moléculas à sua volta, havendo a formação de agregados, e conseqüente precipitação. Contudo, à medida que se adicionam mais íons OH-, promove-se a dissolução do precipitado.

Considerando o equilíbrio que existe em uma solução do íon crômico, [Cr(H2O)6OH]+3 + H2O ⇔ [Cr(H2O)5OH]+2 +H3O+, após adição do NaOH a uma solução deste íon, verificam-se as seguintes reações:

[Cr(H2O)6]+3 + OH- ⇔ [Cr(H2O)5OH]+2 + H2O (1) [Cr(H2O)5OH]+2 + OH- ⇔ [Cr(H2O)4(OH)2]+ + H2O (2) [Cr(H2O)4(OH)2]+ + OH- ⇔ [Cr(H2O)3(OH)3] + H2O (3) [Cr(H2O)3(OH)3](S) + OH- ⇔ [Cr(H2O)2(OH)4]- + H2O (4)

A reação (3) corresponde à formação do hidróxido de

cromo hidratado sólido, enquanto a reação (4) corresponde à sua dissolução, mediante excesso de NaOH.

Ao se adicionar ácido a uma solução como (4) o conjunto de reações acima se inverte progressivamente, provocando em primeiro lugar a precipitação de hidróxido de cromo pela inversão de reação (4) e em seguida sua subseqüente dissolução pela inversão da reação (3). Portanto, ao utilizar-se a metodologia ora proposta, um controle do pH do sistema faz-se necessário. No presente caso, os valores de pH são: 0,6

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(solução sulfocrômica inicial), 1,0 (após adição de bissulfito de sódio), 11,4 (após adição de NaOH) e 6,8 (após adição de ácido acético). Um valor de pH n a faixa 6,0-9,0 é considerado como adequado para rejeitos a serem lançados na rede de esgoto.

4. Figuras

Figura 1. Resumo esquemático da metodologia utilizada para a redução do Cr6+ a Cr3+, e subseqüente descarte do resíduo

líquido gerado em análises da matéria orgânica em amostras de solo.

5. Conclusão

Neste trabalho desenvolveu-se uma metodologia para o tratamento do resíduo líquido, composto por dicromato de sódio e ácido sulfúrico, proveniente da análise química da matéria orgânica em amostras de solos, por meio da redução do cromo hexavalente a

cromo trivalente, utilizando-se o reagente bissulfito de sódio como agente.

Após precipitação do Cr3+ sob a forma de hidróxido e neutralização do resíduo líquido, restam dois tipos de resíduos: um líquido, que pode ser descartado na pia,

Resíduo resultante da análise química

(matéria orgânica) de solos: Na2Cr2O7,

H2SO4

Decantação

Redução do Cr6+ a Cr3+ (bissulfito de sódio)

Adição de NaOH

Filtração

Neutralização do filtrado

(ácido acético)

Descarte na pia (água em abundância)

Armazenagem do resíduo

sólido, Cr (OH)3

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com água em abundância, e um sólido, armazenado em frascos de polietileno. Tendo-se em vista as utilizações catalíticas do trióxido de crômio5, Cr2O3, pode-se pensar na calcinação do hidróxido de crômio coletado, com conseqüente formação do óxido, como procedimento adequado para dar-se algum fim útil ao resíduo sólido. 6. Referências Baird, C.; Environmental Chemistry, W.H. Freeman: New York, 1995. Van Raij, B.; de Andrade, J.C.; Cantarella, H.; Quaggio, J.A. (Editores); Análise Química para Avaliação da Fertilidade de Solos Tropicais, Instituto Agrnômico de Campinas: Campinas, 2001. Greenwood, N.N.; Earnshaw, A.; Chemistry of the elements, Butterworth Heinemann: Oxford, 1995. Lee, J.D.; Química Inorgânica, Edgard Blücher: São Paulo, 1996. Gates, B.C.; Catalytic Chemistry, Wiley: New York, 1992.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira

responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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O Curso de Licenciatura em Química do CEFET-PB: uma proposta de syllabus/course design

Maria Verônica Andrade da Silveira Edmundson

[email protected] (CEFET/PB)

Mônica Maria Montenegro de Oliveira1 [email protected] (CEFET/PB-UNIBRATEC)

Resumo: O objetivo deste trabalho é mostrar os passos que o professor poderá seguir ao preparar um Curso em Inglês Instrumental dirigido para leitura (ESP - English for Specific Purposes directed at reading). Primeiro, apresentamos a análise do resultado da coleta de dados concebida para fazer o levantamento das necessidades de aprendizagem e da situação-alvo - determinante para a construção dos objetivos e, conseqüentemente, do syllabus do curso. Em segundo lugar, mostramos como o resultado dessa análise está relacionada à elaboração dos objetivos e syllabus, e o que esperamos dos nossos alunos como resultado do curso. Por fim, exporemos uma proposta de syllabus de um "Course Design". Palavras Chave: análise de dados, análise de necessidades, conteúdo, plano de curso. Abstract: The aim of this work is to show the steps which a teacher could follow when preparing an ESP course (English for Specific Purposes) directed at reading. We will first present an analysis of the results obtained from a collection of data designed to make an inquiry into the learning needs and of the target situation – which is fundamental for the construction of objectives and, consequently, of the course syllabus. Secondly, we will show how the result of this analysis is related to the preparation of objectives and syllabus, and what we expect our students will be capable of doing as a result of the course. Finally, we will present an example of a syllabus of a Course Design. Key words: analysis of data, need analysis, syllabus, course plan. 1.0Introdução

Neste trabalho nos propomos a apresentar o resultado da coleta de dados das necessidades de aprendizagem e da situação-alvo de um grupo de alunos de ESP no CEFET-PB e elaborar uma proposta de um syllabus para o Curso desses alunos. Mostraremos os resultados dos dados analisados com alguns comentários a cerca do questionário, como negociamos o syllabus junto aos alunos. Depois, apresentaremos como foi realizada a negociação do syllabus e, por último, a proposta do nosso syllabus para o Curso de Inglês Instrumental II do Curso de Licenciatura em Química do CEFET-PB. 2. Desenvolvimento

De acordo com Hutchinson & Waters (1987), ao se planejar um curso de Inglês Instrumental, (ESP - English for Specific Purposes), é fundamental não apenas saber-se que existe uma necessidade para

aprender, ou de, um propósito, mas ter a percepção, a consciência dessa necessidade, como também a necessidade da situação-alvo em termos de necessidades (necessities). De acordo com estes lingüistas, as necessidades da situação-alvo são determinadas pelas exigências da situação em que o aluno vai usar a língua que está aprendendo ou deseja aprender, enquanto as necessidades de aprendizagem estão relacionadas à forma como o indivíduo aprenderá as habilidades da língua para usá-la na situação alvo. Também há as lacunas (lacks) que estão relacionadas àquilo que o aluno deve aprender para suprir suas deficiências individuais referentes à língua, e aos desejos (wants) relacionados com as preferências pessoais de cada aluno, ou seja, com o que eles querem aprender.

Hutchinson & Waters (1987) aconselham utilizar-se mais de um instrumento para coletar dados. Por isso, escolhemos o plano de ensino; um questionário aplicado aos alunos; uma conversa ou entrevista com os alunos; uma conversa informal/ entrevista com os professores e coordenadores da

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área do curso; um teste de sondagem para definir os diferentes níveis do conhecimento dos estudantes.

Consideramos o questionário aplicado um dos mais importantes instrumentos de coleta de dados, pois através da análise das respostas coletadas, poderemos identificar quem será nosso aluno, o que é esperado do curso, e o porquê deles estarem aprendendo Inglês. Por isso, achamos interessante ressaltar uma observação feita pelo Professor Rod Bolitho, do College of St Mark & St John, Plymouth (UK), ao ler a elaboração do nosso questionário para o pôster “What we do at CEFET-PB before designing our ESP Courses” (Conferência GELI dezembro 2005, Havana, Cuba). Segundo esse lingüista um questionário pode ser um “masterpiece of work”, um trabalho muito bem elaborado, envolvendo perguntas de todos os tipos, porém ele nos questiona como professores e aplicadores de tal questionário; se realmente poderemos analisar todos os dados obtidos, e se iremos atender as necessidades, lacunas e desejos dos alunos. Como resultado deste questionamento, e percebendo que alguns alunos tiveram dificuldades em responder o questionário aplicado anteriormente, o re-elaboramos na tentativa de melhorá-lo e assim obtermos dados mais seguros e precisos.

Além destes recursos, tivemos que levar em consideração um Plano de Ensino pré-existente, formulado por alguns dos professores da área e por alguns dos professores de Inglês e aprovado pelo Plano de Ensino pela Comissão Avaliadora do MEC, pois entende-se que para um curso superior poder funcionar é necessário que o MEC o reconheça através do Plano de Ensino enviado pela Instituição e, consequentemente, o Plano de Ensino do Professor deva ser igual ao avaliado, caso contrário

haverá dificuldades no reconhecimento do curso.3. Resultado da análise de dados

O questionário foi aplicado a 12 participantes do Curso de Inglês Instrumental II, disciplina obrigatória do Curso de Licenciatura em Química, no CEFET-PB, na faixa etária entre 19 e 24 anos. 75% dos alunos cursaram o ensino Médio na Rede Pública; 67% dos alunos trabalham (dos que trabalham 75% lecionam e 25% ocupam funções administrativas); 25% não estão trabalhando, mas já trabalharam, e 8% nunca trabalharam. E apenas 17% desses alunos estudaram em Escolas de Idiomas por um ano; os demais, apenas em Escolas Públicas, incluindo o CEFET-PB.

No item para saber se eles estudariam Inglês caso não fosse disciplina obrigatória do currículo do seu curso, todos marcaram que era importante, por duas razões principais: saber Inglês é importante para os estudos acadêmicos (88%), porque estudar uma segunda língua é importante (42%). No desdobramento desta pergunta, eles apontaram que estudam Inglês porque é importante para seus estudos acadêmicos (92%), porque o mercado de trabalho exige (75%), porque é obrigatório (42%), porque gostam (33%).

Ao perguntarmos como os alunos se sentiam em relação à língua alvo, 66% responderam que ainda estavam perdidos ao usarem Inglês. Na conversa informal, apontaram a falta de vocabulário e o pouco conhecimento dos aspectos gramaticais da língua. Isso se reflete nos dados coletados de uma das perguntas do questionário, em que perguntamos como eles avaliavam seu conhecimento da língua, ver resultados na Tabela 1.

Tabela 1: Como o aluno avalia seu conhecimento da língua.

Habilidades Bom Regular Ruim Péssimo Nenhum

Ler 8,33 58,3 8,33 25,0 0

Escrever 0 25,0 33,33 16,66 25,0

Ouvir 0 8,33 33,33 16,66 41,66

Falar 0 8,33 25,0 25,0 41,66

Vocabulário Geral 16,66 33,33 16,66 25,0 8,33

Vocabulário Técnico

16,66 8,33 16,66 50,0 8,33

Gramática 0 33,33 8,33 58,3 0

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Ao serem questionados sobre o conteúdo que deveria ser inserido no curso, a tabela 2 abaixo mostra os seguintes dados:

Tabela 2: Conteúdos que os alunos gostariam que fossem inseridos no curso. Produção de textos Vocabulário Leitura Escrita Gramática

50,0 % 75,0% 83,33% 58,33% 50,00%

A habilidade de leitura foi apontada como a principal, a qual os alunos precisam aprender para utilizarem em suas atividades acadêmicas e/ou profissionais (100%), mesmo depois de formados. A freqüência de uso da língua alvo varia algumas vezes de (67%) a raramente (25%). Os dados mostraram que escrever ocupou o segundo lugar (92%), seguidos de ouvir (58%) e falar (50%). Dentre estas habilidades, os dados revelam que para os alunos na habilidade de leitura é importante aprender a ler artigos na área (92%); na escrita, escrever resumos para artigos/ relatórios (67%); e quanto à audição e fala, ouvir palestras e apresentar trabalhos ocupa a última escolha dos alunos (34%). Na habilidade de leitura os 75% alunos gostariam de aprender a ler textos técnicos e 58% diferentes tipos de textos; na habilidade de escrita, 50% dos alunos gostariam de aprender a escrever resumos, relatórios 50%; de falar e de ouvir para participarem de seminários/congressos 42%.

Pedimos aos alunos que mencionassem os tipos de gêneros a serem estudados e, também, os assuntos que gostariam de ler: a) Gêneros: artigos de pesquisa cientifica; processos de reação química; resumos de artigos, ou de teses; síntese de processos químicos. b) Tópicos/assuntos: Assuntos relacionados à: Química Geral, Inorgânica I, Química Nuclear; a Ácidos, Bases, Proteínas; Elementos Químicos; à Andrologia (metodologia para adultos); Problemas de poluição ambiental; Textos sobre assuntos do cotidiano; Reações; Formações de Complexos; Indústria Química; Reações Químicas; Química aplicada a saúde; Bioquímica.

Quanto ao estilo de aprendizagem, os alunos escolheram aprender lendo, tentando entender o texto e/ou traduzindo (58%); também preferem estudar em grupo (50%) a sozinhos (33%), ou escrevendo (25%).

Em conversa informal, confirmaram que a principal necessidade deles era a de ler e de compreender textos escritos em língua inglesa, uma vez que os professores pedem a leitura de artigos, resumos, capítulos de livros, fórmulas químicas, em Inglês. Os alunos concluíram a disciplina de Inglês Instrumental I, e agora vão cursar o Inglês Instrumental II. Eles disseram que no Inglês Instrumental I os textos deveriam ser da área, com

os assuntos referentes à Química Geral mais fácil de serem entendidos; e no Inglês Instrumental II eles esperavam ler textos mais específicos com conteúdo mais técnico, mais complexo, e mencionaram alguns tópicos/assuntos que gostariam de ler.

Quanto ao mercado de trabalho, não coletamos dados, porém é sabido que esses alunos serão futuros professores de Ensino Fundamental e Médio de Ciências ou Química, e que as aulas são ministradas na língua materna.

Mediante os resultados da análise dos dados detectamos que o Curso de Inglês Instrumental II, disciplina obrigatória para o Curso de Licenciatura em Química do CEFET-PB, tem uma carga horária de 40 horas. A situação alvo na qual os alunos irão empregar a língua será para estudos acadêmicos; eles irão usar Inglês para ler textos gerais e técnicos relacionados à área de Química, na elaboração de trabalhos e pesquisas cientificas. Logo, o Inglês Instrumental nesse curso será Inglês para fins Acadêmicos – (EAP - Inglês para fins Acadêmicos). Quanto às necessidades de aprendizagem: necessidades (needs): ler e compreender artigos teóricos/ acadêmicos e abstracts na área de Química, escritos em Inglês. Quanto aos desejos (wants) os dados revelam que são escrever resumos e artigos para seus trabalhos acadêmicos; e as lacunas (lacks) para adquirirem conhecimento do vocabulário técnico e como utilizarem os vários aspectos da língua em estudo que lhes facilitem a leitura e compreensão de textos, identificar e reconhecer a função de certos aspectos lingüísticos, semânticos e sintáticos em artigos acadêmicos e resumos (abstracts).

A partir destes dados, tentamos negociar o syllabus com o nosso aluno, como exporemos no próximo item.

Negociação do Syllabus / Conteúdo Programático

Apresentamos o resultado da análise dos dados coletados aos nossos alunos bem como o plano de curso de ensino preexistente, os quais revelaram que ler textos acadêmicos na área de Química é a principal necessidade de aprender Inglês e, ainda, em aprender a escrever abstracts de artigos, como segunda necessidade (92%), para utilizar em publicações de seus artigos.

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Uma vez que o planejamento do nosso curso prioriza as necessidades dos alunos, na tentativa de adequar o plano de ensino pré-existente, à carga horária (40h), heterogeneidade da turma, etc.; resolvemos seguir o pensamento de Edmundson & Fitzpatrick (2000), que dizem ser importante negociar o syllabus com o grupo e encorajar os alunos a dividir um senso de comprometimento em relação ao conteúdo, procedimentos e resultados, gerando assim maior motivação para o curso. Então, negociamos com os alunos qual das duas habilidades seriam usadas. E assim, decidimos juntos que o Inglês Instrumental I serão aplicados textos teóricos na área e no Inglês Instrumental II enfatizaremos os gêneros abstracts e artigos acadêmicos, o que vem ao encontro da proposta de Ramos (2004). Assim sendo, o aluno irá reconhecer os passos/movimentos para a construção de um abstract, mesmo que ele não seja ainda, capaz de escrevê-lo.

Desta forma, a amostra de syllabus para o Curso de Licenciatura em Química apresentado neste trabalho foi elaborado seguindo os parâmetros acima mencionados. Proposta de um syllabus para o Plano de Curso 1. Introdução:

O curso será de Inglês para Fins Acadêmicos,

com uma carga horária de 40 aulas (= 33 horas-relógio), determinada pela Coordenação do Curso e aprovado pelo MEC. Os objetivos do syllabus/ conteúdo programático foram negociados com os 12 alunos matriculados no curso, e elaborados a partir do Plano de Curso (Plano de Ensino) pré-existente e adequados às necessidades específicas do grupo, levantadas na análise de dados que é desenvolver competências na habilidade de leitura e escrever resumos em Inglês para artigos de pesquisa. O conteúdo programático, textos e a ordem a serem aplicados estão de acordo com as necessidades dos alunos. 2. Objetivo Geral

Desenvolver as competências de leitura dos alunos para capacitá-los a ler e compreender diferentes gêneros textos autênticos, escritos em língua inglesa relacionados a assuntos na área de Química, dando ênfase a artigos teóricos/ acadêmicos e abstracts. 3. Objetivos Específicos Leitura (no final do curso os alunos deverão ser capazes de:)

• Compreender gêneros textuais como artigos teóricos/acadêmicos e abstracts autênticos relacionados à área de Química, extraídos de revistas especializadas, sites de internet, jornais especializados, livros didáticos.

• Ler em diferentes níveis de compreensão para diferentes objetivos de leitura.

• Distinguir entre informação importante e menos importante, relevante e menos relevante, explícita e implícita.

• Ler para obter informação geral - skimming • Ler para obter informação específica –

scanning • Usar a informação que acompanha o texto,

dicas tipográficas: título, sub-títulos, gravuras, tabelas, para predizer informações.

• Ler e interpretar gráficos, tabelas, diagramas, fórmulas, etc.

• Inferir os significados de palavras desconhecidas usando dicas contextuais e traçar suas inferências e conclusões.

• Entender a estrutura léxica e sintática de resumos de artigos acadêmicos, dissertações, monografias.

• Compreender as relações de organização do texto e os aspectos semânticos e lingüísticos (coesão, marcadores do discurso e suas várias funções).

• Compreender/entender a formação de palavras.

• Reconhecer/identificar referenciais dentro do texto.

• Identificar grupos verbais e nominais no texto.

• Compreender e reconhecer os aspectos lingüísticos, lexicais e sintáticos que compõe o gênero resumo (abstract).

Ao final do curso o aluno deverá ter

conhecimento de língua sobre: • Aspectos léxico-gramaticais inererentes ao

gênero asbtract de artigos acadêmicos na área de Química.

• A linguagem acadêmica formal e coloquial em artigos teóricos/acadêmicos

4. Gêneros Textuais e tópicos/assuntos (retirados de capítulos de livros, ou sites da Internet, ou de revistas e jornais especializados) Gêneros: artigos acadêmicos; resumos (abstracts) de artigos ou de dissertações; relatórios de pesquisas.

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Tópicos/assuntos: Assuntos relacionados a: Química Geral, Inorgânica I, Química Nuclear; aos Ácidos, a Bases, Proteínas; Elementos Químicos; Problemas de poluição ambiental; Reações; Formações de Complexos; Indústria Química; Reações Químicas; Química aplicada a saúde; Bioquímica. 5. Resultados da Aprendizagem Esperados: (expected learning outcomes). Os alunos poderão:

• Ler / compreender textos na área de Química.

6- Avaliação: (Tarefas possíveis) O teste de avaliação de leitura incluirá as seguintes tarefas:

• Perguntas de compreensão de texto • Questões de múltipla escolha • Respostas curtas • Reconhecer os passos/movimentos na

elaboração de um abstract. • Diário de bordo: o aluno após cada aula

deverá escrever sobre seu progresso na disciplina e/ ou dificuldades.

• A avaliação da aprendizagem será contínua, envolvendo pelo menos uma avaliação e um trabalho com apresentação em sala de aula, podendo este ser em equipe.

7- Material de estudo usado durante o curso: Textos disponíveis na Internet em sites como: www.chemed.chem.purdue.edu www.sciencedirect.com www.materialstoday.com http://www.tannerm.com http://www.sbq.org.br Revistas: MaterialsToday, TIME; Newsweek; People Science; Speak Up; Vídeo: Professional Presentations by Malcolm Goodale. Oxford University Press ANTAS, Luiz Mendes. Dicionário de Termos Técnicos: Português-Inglês. 4ª.ed; São Paulo: Traço Editora. COMFORT, Jeremy; HICK, Steve & SAVAGE, Allan. Basic Technical English. Oxford: Oxford University Press, 1994. 4. Conclusão

Concluímos que para um curso de ESP ter sucesso é necessário não apenas realizar uma análise de necessidades, mas também de posse dos resultados desta análise. Negociar e construir junto com o aluno o syllabus / conteúdo programático do curso, levando em consideração os “constraints”.

Faz-se necessário, ainda, apresentar o resultado da análise de necessidades dos alunos ao coordenador e professores da área do Curso, de forma que nesta análise se possam efetuar as alterações no plano de ensino pré-existente.

5. Referências Bibliográficas DUBIN, Fraida and OLSHTAIN Elite. Course Design: Developing Programs and Materials for Language Learning. Cambridge: Cambridge University, 1996. EDMUNDSON, E and FITZPATRICK, S. Negotiating the syllabus: learning needs analysis through pictures. In: BREEN, Michael P. and LITTLEJOHN, Andrew Eds. Classroom Decision Making. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. EDMUNDSON, Maria Verônica A. da Silveira. Leitura e Compreensão de Textos no Livro Didático de Língua Inglesa, João Pessoa: Editora do CEFET-PB, 2004. EDMUNDSON, Maria Verônica A. da Silveira e OLIVEIRA, Mônica Maria Montenegro. Apresentação do pôster: What we do at CEFET-PB before designing our ESP Courses. Na Conferencia da GELI, Havana, Cuba, Dezembro 2005, versão em Português da Apresentação da Comunicação: Importância da Needs Analysis na definição de Objetivos nas Aulas de ESP, XIX Seminário Nacional de Inglês Instrumental e VII Seminário Nacional de Línguas Instrumentais, São Paulo, 2005. HUTCHINSON, T and WATERS A. English for Specific Purposes, Cambridge: Cambridge University Press, 1989. KENNEDY, Chris & BOLITHO Rod. English for Specific Purposes, editor: Roger H. Flavell, England. 1985.Ministry of Education and Science of Ukraine. English for Specific Purposes: National Curriculum for Universities. Kyiv: The British Council. 2005.Notas tomadas por Maria Verônica Andrade da Silveira Edmundson, durante as aulas no Curso de “ESP Course & Material Design”. (Ensinando Inglês para fins Específicos & Elaboração de Material) ministrados por: Rod Bolitho, Martyn Clarke e Paul Gentle, St. Mark and St. John College, Plymouth, UK, July 2005. NUNAN, David. Syllabus Design. Oxford: Oxford University Press. 1991.

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RAMOS, Rosinda de Castro Guerra. “Gêneros Textuais: uma proposta de aplicação em cursos de Inglês para fins específicos”. Em: The ESPecialist, 2004, vol. 25 nº2 pp.107-109. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Língua - Sociedade - Cultura: uma relação indissociável

Clécia Maria Nóbrega Marinho Furtado1

[email protected] (CEFET-PB)

Maria da Salete Figueiredo de Carvalho (CEFET-PB)

Maria do Socorro Burity Dialectaquiz

(CEFET-PB)

Maria das Neves Alcântara de Pontes (UFPB)

Resumo: Este artigo versa sobre a interface língua / sociedade / cultura. Prescindindo do reconhecimento de que as culturas são enfocadas internamente, e, nelas, as relações de cunho lingüístico devem ser entendidas sob as significações que assumem nas sociedades para as quais essas culturas são suporte. Com efeito, este foi o ponto de partida para o desenvolvimento das investigações sobre o modo de organização das línguas, das sociedades e suas culturas. Nessa perspectiva abordamos estudos que tratam do Relativismo lingüístico e cultural, bem como sua evolução ─ desde J. G. Herder W. Von Humboldt ─, ancorados em estudos sócio-etnolingüísticos.

Palavras-Chave: língua, linguagem, interface língua, sociedade, cultura

1. Língua e linguagem como referência inicial

Estudos lingüísticos se verificam desde a Antigüidade, no entanto, como área científica, com objetivo, unidade e método próprios, tenham sido propostos somente no início do século XX (1916), com o advento do Curso de Lingüística Geral, ministrado por Ferdinand de Saussure, conferindo, então, à Lingüística o status de autonomia em meio às ciências sócio-humanas. As afinidades da recém-ciência com estas (Filosofia, Sociologia, História, Psicologia, Antropologia, entre outras) só mais tarde alavancaram interesse e desenvolvimento. É lugar-comum na história da humanidade a existência das línguas naturais como resposta às necessidades de o homem viver em sociedade, compartilhando e transmitindo experiências, práticas e pensamentos aos seus pares. Essa experiência compartilhada e configurada no seu sistema vocabular unifica-os e singulariza-os, distinguindo-os dos outros. Assim, à medida que a língua institui-se forma específica de intercomunicação, entre os indivíduos de uma determinada sociedade, fortalece os laços internos de tal grupo e torna-se patrimônio coletivo de seus membros, embora, cada indivíduo use essa língua de modo peculiar.

Mas o homem nos processos intercomunicativos não se utiliza apenas de signos verbais, (as palavras); recorre a outras tipologias de signos, também convencionados socialmente. Uma e outra forma de representação e comunicação entre os indivíduos por meio de signos constituem a linguagem humana, que garante ao homem supremacia em relação aos outros animais. Em outros termos, a linguagem é toda forma de expressão do homem mediada por signos; e a língua é uma destas formas.

De forma consensual, os estudiosos detectam entre tais fenômenos que a linguagem é uma habilidade humana determinada biologicamente; e a língua é um conjunto de signos e regras que se combinam entre eles, cujos significados são socialmente convencionados; e que a exposição do indivíduo, ainda na tenra idade, a um ambiente lingüístico é essencial para o pleno desenvolvimento da linguagem.

Desta forma, língua e linguagem são fenômenos que fazem do homem um ser de interação sociocultural.

Sobre tais fenômenos, influenciado pelas teorias sociológicas de J. A Herder e de W. Von Humboldt, Saussure (1988, p. 17) afirma:

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Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; a cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence, além disso, ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos pois não se sabe como inferir sua unidade.

[A língua] é somente uma parte determinada, essencial dela [da linguagem], indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos.

Vista dessa forma, a língua é social por ser uma

convenção adquirida no seio da sociedade, e não no sentido de interação social sob seus aspectos mais gerais.

Ainda sobre língua, Saussure assegura que de um lado, os costumes de uma nação têm repercussão na língua, e, de outro, a língua em grande parte constitui a nação, anunciando dessa forma a inter-relação língua / sociedade / cultura muito antes do progresso dos estudos sócio-etno-lingüísticos, desenvolvidos, posteriormente, principalmente, pela Lingüística norte-americana, a partir do modelo metodológico usado de Franz Boas na Antropologia.

O espaço desse artigo não nos permite comentar tantos trabalhos desenvolvidos em torno da questão da língua e da linguagem, bem como da inter-relação língua/sociedade/cultura. No intuito de explicar mais claramente essa interface, e entendendo que todo grupo social implica cultura, construímos a próxima seção, a partir de alguns conceitos de cultura, sem nos atermos detalhadamente a nenhum dos diversos caminhos trilhados por lingüistas e estudiosos de outras áreas do conhecimento que têm interesse nesta temática. 2. Alguns conceitos de cultura Cotejando os vários tratados relacionados à cultura e seus conceitos, encontramos que até para antropólogos, sociólogos e outros estudiosos das ciências sócio-humanas é muito difícil conceituar cultura, chegando a ser uma árdua tarefa dada à complexidade de sua história, a qual dificulta consideravelmente o acesso ao seu significado.

Nesse sentido, Vivian Schelling (1991) sugere que um dos caminhos para se chegar a algum resultado é seguir, atentamente, a história da cultura, desde que se conheçam as diversas experiências vinculadas à formação dessa cultura como um todo.

Tal procedimento pode originar não apenas um significado, mas uma série deles.

Segundo Morin, em O Método IV (1991, p. 17),

A cultura, que é característica da sociedade humana, é organizada / organizadora via o veículo cognitivo que é a linguagem, a partir do capital cognitivo coletivo dos conhecimentos adquiridos, das aptidões aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. Assim, se manifestam ´representações colectivas´, ´imaginário colectivo´. E, dispondo do seu capital cognitivo, a cultura institui as regras /normas que organizam a sociedade, dirigem os comportamentos individuais. As regras / normas culturais geram processos sociais e regeneram globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. As idéias contidas neste conceito já estavam

delineadas por ele (1975, p. 170) quando dizia que o indivíduo, ao nascer, começa a receber a herança cultural, que lhe vem garantir a formação, orientação e desenvolvimento como ser social. A herança cultural, não apenas, vai sobrepor-se à hereditariedade genética, mas também vai combinar-se com esta. Morin (1986, p. 21) complementa esta concepção ao asseverar que o conhecimento é simultaneamente biológico, cerebral, espiritual, lógico, lingüístico, cultural, social, histórico, e não pode ser desvinculado da vida humana e da relação social.

Retomando Schelling (1991), vejamos sua concepção sobre o termo cultura:

[...] pode-se dizer que o termo cultura é ele próprio cultural, na medida em que como produto de desenvolvimento histórico de um diálogo da sociedade consigo mesma ela traz a marca de sua formação. Partes desse diálogo social podem ser retraçadas até suas origens e fixadas dentro de diferentes discursos e tradições cognitivas. (SCHELLING, 1991, p. 21)

O termo cultura, porém, tanto para Schelling

como para outros estudiosos dessa área parece bastante controverso pelo fato de haver surgido como necessidade de uma resposta ao industrialismo e à política européia dos séculos XVIII e XIX.

A essa época os termos cultura e civilização tinham um mesmo significado, pois ambos comportavam o ideal humanista acatado pelo poder da razão, desde o aparecimento da ordem natural e racional de um mundo civilizado, que se opunha à ordem teocrática da Idade Média.

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Com o passar do tempo, novos acontecimentos concorreram para que houvesse a separação de conceitos, ou seja, a cultura é contraposta à civilização, cabendo então à cultura evocar os progressos individuais e à civilização, os progressos coletivos.

Segundo Denys Cuche (2002), a noção de cultura nas ciências naturais, o debate franco-alemão sobre a antítese cultura / civilização deu-se em maior profundidade durante o séculos XIX e se estende até início do século XX.

Na Alemanha, Kultur, no sentido figurado, aparece como uma transposição da língua francesa tida como distintiva das classes superiores da Alemanha; é o que se tem para justificar o empréstimo lingüístico.

Nesse momento, acontece o inesperado, o termo Kultur evoluiu muito em relação a sua homóloga francesa. Tal evolução deu-se em campo mais restrito do que na França, e na segunda metade do século XVIII obtém um sucesso de público nunca visto na França. Esse fato pode ser explicado, pelo menos, parcialmente, porque os franceses tinham predileção pelo termo civilização.

Norbert Elias (1990) assegura que o progresso de Kultur deve-se à burguesia alemã, que sempre criticou o distanciamento e o descaso dos príncipes que governavam os diferentes Estados Alemães das Artes, porque passavam o tempo todo dedicando-se ao cerimonial da corte, como faziam os franceses considerados detentores de maneiras civilizadas.

Dois pensamentos vão ensejar então essa diferença entre os dois sistemas de valores aqui expostos: tudo o que vier da cultura liga-se diretamente à autenticidade, ao enriquecimento intelectual e espiritual. Já o que é só aparência brilhante, leviandade, refinamento pertence à civilização.

Noutra visão com origem na historicidade da cultura, da sua trajetória pode ser depreendido um outro conceito de cultura, que recebeu, de certa forma, influência do pensamento socialista. Este conceito resume-se em “cultura é todo modo de vida”. Supõe-se que essa concepção pode ter tido origem na reação romântica ao Iluminismo, que postulava uma compreensão da realidade social tão plena e abrangente, possível de expressar o espírito de um povo. Como resultado dessa reação surge então um conceito denominado diferencial ou antropológico, cujo teor maior centrava-se em visar aos padrões comportamentais socialmente adquiridos por tradição; constituídos pela linguagem, costumes e crenças.

Nessa ótica, a cultura passa a modeladora das formas diferenciais de vida em sociedades. Deste conceito é possível depreender-se que nossas

identificações são socialmente adquiridas, incluindo-se as relações lingüísticas como um conhecimento acumulado, visto que a língua permite instauração da temporalidade, e leva a sociedade a reagir efetivamente, não só na construção da forma pela qual se expressa lingüisticamente, mas sobre a maneira de essa sociedade ver o mundo.

É fundamental, porém, um esclarecimento: ao se considerar a cultura uma construção histórica, seja como concepção ou dimensão do processo social, não se deve entendê-la como algo natural nem como uma decorrência de leis físicas e biológicas, mas como um processo coletivo de uma sociedade.

Voltando a enfocar o desenvolvimento do termo Kultur na Alemanha do século XIX, sabe-se que sua tendência aponta para delimitação e consolidação das diferenças nacionais.

Neste sentido, J. G. Herder, num texto bastante polêmico em nome do gênio nacional de cada povo, defende a diversidade das culturas, riquezas da humanidade, pondo-se contra o universalismo do Iluminismo francês, por considerá-lo empobrecedor.

Cuche (2002) cita Herder que afirma: “[...] na realidade cada povo através da sua cultura própria tem destino específico a realizar, pois cada cultura expõe a sua maneira um aspecto de humanidade [...]”, e corroborando a autoridade de Herder ainda cita Dumont (1986), que afirma ter sido Herder “quem abriu os olhos das pessoas sobre as culturas [...]”.

Prosseguindo com pesquisadores, que contribuíram para o reconhecimento do processo de inter-relação língua / sociedade / cultura passaremos aos estudos de Franz Boas, o primeiro antropólogo a pesquisar in loco.

No tocante à etnografia, Boas, citado por Cuche, a concebia como uma ciência de observação direta [...]. Segundo ele, no estudo de uma cultura particular, tudo deve ser anotado, até o detalhe do detalhe. Na sua preocupação de contato com a realidade, não apreciava muito o recurso a informantes. O etnólogo, se ele quer conhecer e compreender uma cultura, deve aprender a língua em uso. (CUCHE, 2002, p. 43)

Conforme o que assevera Boas, a língua parece constituir, antes de mais nada, uma herança cultural e para os que a usam um símbolo de solidariedade.

Essa filosofia da Etnolingüística contribuiu na sua essência para a relação das culturas com as línguas que lhes são suporte. Dessa forma, deve-se a Boas a concepção antropológica do relativismo cultural, mesmo que não tenha sido o primeiro na defesa desta tese.

Foram também nesses estudos que a diferença entre as culturas fez-se notável porque Boas concluiu que cada cultura guardava traços que lhe

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eram peculiares. Daí a preocupação dele não só como descrever esses traços, mas sobretudo compreendê-los.

Para Boas, cita Cuche,(2002) “cada cultura é dotada de um ‘estilo’ particular que se exprime através da língua, das crenças, dos costumes, também da arte, mas não apenas desta maneira. Este estilo, este ‘espírito’ próprio a cada cultura influi sobre o comportamento dos indivíduos”.

Na diversidade da obra de Boas e nas inúmeras hipóteses sobre cultura por ela propostas, vislumbra-se a Antropologia americana, cujo desenvolvimento viria em seguida.

Essa qualidade de representação da cultura pela língua, segundo Valéria Chiavegatto (1999), causou muita polêmica e motivou questionamentos bastante fortes no que se referem às relações de pensamento e organização das línguas.

Nestes questionamentos encontra-se a teoria do Relativismo lingüístico apresentado por Edward Sapir e em seguida somado às idéias de B. Lee Whorf resultam na conhecida Hipótese Sapir / Whorf, em cuja versão fraca apoiaram-se os adeptos dessa Hipótese e, por conseguinte, parece que a versão forte não atendeu aos anseios dos seus seguidores.

Com referência à versão fraca da Hipótese é possível reconhecer-se que a existência de um produto social e de um sistema lingüístico definido possibilita o usuário a pensar e a falar; este é o pensamento de Sapir.

Complementando a Hipótese, Whorf e entende que a maneira de se perceber o mundo é influenciada pelos diferentes sistemas lingüísticos os quais refletem os diferentes meios de que se originam.

Nessa síntese da Hipótese Sapir / Whorf, o primeiro assegura que a língua tem seu princípio no mundo social e só depois age na forma pela qual a sociedade concebe o mundo. Já Whorf, o segundo, ressalta que o mundo exterior seria um caos não fosse a intervenção do sistema lingüístico e, por isso, o conhecimento que o povo tem do mundo.

Dentre os lingüistas que se envolveram com os estudos da inter-relação língua / cultura / sociedade, Chiavegatto cita Labov que iniciou sua teoria com uma forte reação a N. Chomsky por ter enfocado, no que se refere à comunicação, apenas o falante e o ouvinte, não levando em consideração a heterogeneidade da língua, o que para Labov foi considerada como parte da estrutura de sua teoria e, assim, seus trabalhos puderam ser sistematizados. Nesta perspectiva seus estudos mostraram que o social é o fator que condiciona a ocorrência das variações.

Vários estudos surgiram no decorrer da evolução da Lingüística que se dedicaram a essa vertente para

que se chegasse ao reconhecimento da idissociabilidade língua / cultura / sociedade.

Coube, porém, a Del Hymes, em 1962, utilizar o conteúdo etnográfico no estudo da língua relacionada a traços culturais. Foi este lingüista quem propôs, segundo Chiavegatto (1991), o conceito de competência pragmática, ou seja, “o saber que os falantes possuem não só das formas da sua língua, mas de suas próprias condições de uso e de adequação dos enunciados sócio-comunicativos que se apresentam considerando a cultura em que se manifestam”.

Em outras palavras, a interação entre os falantes de uma língua dá-se sob o suporte da sociedade e da respectiva cultura que envolve esses falantes. 3. Considerações finais

Após essa exposição, acreditamos ser possível depreender desse trabalho que as línguas são herdadas e transmitidas de numa sociedade para sociedade, juntamente, com as culturas que lhes são suporte.

Dada a abrangência deste tema, esperamos que se compreenda este trabalho como apenas de uma etapa, em que tentamos mostrar a base que suporta a inter-relação língua / sociedade / cultura, elementos indissociáveis nos estudos lingüísticos, antropológicos e sociais, portanto, ponto de partida para novos estudos nesse campo. 4. Referências BOAS, Franz, Antropologia cultural, - Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002. CHIAVEGATTO, Valéria Coelho. Linguagem, Sociedade e Cultura. In: CARNEIRO, Marísia (org). Pistas e Travessias. Rio de Janeiro : UERJ, 1999. CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. – 2 ed., Bauru: EUDSC, 2002. DUBOIS, Jean. et. al. Dicionário de Lingüística. São Paulo : Cultrix, 1973. ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador: Uma História dos Costumes (1939), Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. ELIA, Sílvio. Sociolingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: Padrão / EDUFF, 1987. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. – 17 ed. Rio de Janeiro: 224. LYONS, John. Linguagem e Lingüística – uma introdução. Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científicos, 1987.

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MORIN, Edigar. O Enigma do Homem. Para uma Antropologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. Trad. Fernando de Castro Ferro. ___________ . O método III. O conhecimento do conhecimento. Publicações Europa-América. Biblioteca Universitária, 1986. Trad. Maria Gabriela de Bragança. ___________ . O método IV. As idéias: a sua natureza, vida, habitat e organização. Publicações Europa-América. Biblioteca Universitária, 1991. Trad. Emílio Campos Lima. SANTOS, José Luis dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. SAPIR, Edward. Lingüística como Ciência, Rio de Janeiro Livraria Acadêmica, 1969.

SCHELLING, V. A Presença do povo na cultura brasileira: ensaios sobre o pensamento de Mário de Andrade e Paulo Freire. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990. SAUSSURE, Ferdinand de, Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Aplicação e Desenvolvimento de Atividade de Vídeo: Relato de Experiência de Professores de

Inglês nos Ensinos Técnico e Superior

Marcus de S. Araújo

[email protected] (UFPA-FEAPA) Mônica Maria M. de Oliveira1

[email protected] (CEFET-PB) Rita de Cássia A. da Luz

[email protected] (Marista – FAZ/PA)

Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar uma sugestão de atividade desenvolvida com alunos da educação profissional/graduação, como alternativa complementar e interdisciplinar no ensino de línguas estrangeiras instrumentais. A atividade foi desenvolvida em sala de aula, a partir do filme "Vida de Inseto" com um roteiro de atividades. Ainda, foram discutidos temas interdisciplinares, entre eles liderança, empreendedorismo e tomada de decisão. Palavras-chave: atividades; ensino de línguas estrangeiras; filme. Abstract: This paper presents a suggestion of an activity developed with professional educational students and undergraduate as a complementary and interdisciplinary way in ESP approach to language teaching. The activity was developed in the classroom from the movie "Bug's Life". Yet, this work focus on an activity suggestion based on the movie and on discussions about interdisciplinary themes, such as leadership, entrepreneurship and decision making. Keywords: activities (based learning); ESP approach to language teaching; movie 1. Considerações iniciais

O ensino de línguas estrangeiras tem focalizado, nos últimos anos, especial atenção no campo de ensino e aprendizagem de leitura. Nossa realidade, no entanto, aponta para um contexto problemático, tanto para professores quanto para alunos, principalmente ao tornar as aulas de leitura como tradução de mensagem e, visando extrair, apenas o sentido literal (denotativo/objetivo) do texto. Sob esse aspecto, a leitura torna-se uma tarefa difícil para ensinar e aprender, não sendo prazerosa e motivadora, enquanto instrumento, de comunicação das sociedades letradas.

Na tentativa de motivar nossos alunos e tornar nossas aulas de leitura mais prazerosas, elaboramos uma atividade didática a partir de temas como liderança, empreendedorismo e tomada de decisão. Nesse trabalho, a atividade explora temas que estão vinculados à realidade acadêmica e profissional dos nossos alunos, além de expô-los aos seus interesses e necessidades para a construção crítica de sentidos. Por essa razão, nossa proposta está diretamente relacionada à abordagem de EAP (English for Academic Purposes), uma vez que está voltada

“para as habilidades comunicativas em inglês que são necessárias no meio acadêmico ou exigidas para propósitos de estudo no sistema formal de educação.” (Nunes, 2003:339)

O presente artigo tem por objetivo relatar uma prática pedagógica interdisciplinar de leitura em língua inglesa aplicada, com alunos do Curso Técnico de Gestão em Micro e Pequenas Empresas (CTGMPE) do Centro Federal de Educação Tecnológica na Paraíba (CEFET-PB), dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (FEAPA) e do curso de Comunicação Empresarial da Faculdade de Tecnologia da Amazônia (FAZ). Este trabalho foi desenvolvido a partir das disciplinas Inglês para Negócios e Inglês Instrumental, respectivamente, tendo como suporte o filme “Vida de Inseto”, como alternativa complementar e interdisciplinar para o ensino de línguas estrangeiras instrumentais. 2. Contextualizando a prática

Apresentamos as fases, que propusemos

desenvolver a atividade EAP-interdisciplinar.

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Fase I Nesta fase, estimulamos o conhecimento

enciclopédico do aluno para os temas propostos (liderança, empreendedorismo e tomada de decisão) através de perguntas:

O que é ser líder? Existe o líder ideal? O que é ser empreendedor e quem pode sê-

lo? Empreendedorismo está intimamente

relacionado à liderança? Justifique. Qual a diferença entre ser líder e ser chefe? De que forma/maneira o foco estratégico do

negócio influencia a liderança? Como a tomada de decisão contribui para o

planejamento de investimento e viabilidade de uma empresa?

Com essas perguntas, os alunos trabalham em grupo para discutirem os temas propostos a partir de conhecimentos armazenados em suas interações sociais. Dessa forma, o aluno terá a oportunidade de construir sentidos a partir da interação com o outro.

Isso nos leva a Dias (2006:100) quando aponta a importância do conhecimento de mundo para a compreensão de textos, seja de natureza oral seja de natureza escrita no processo de aprendizagem:

A ativação de conhecimento anterior é essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor / ouvinte tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias, buscando referentes em sua memória de longo prazo para preencher os vazios deixados pelo texto, de modo a formar um todo coerente no processo de (re)construção de sentidos.

Fase II Os alunos assistem ao filme Vida de Inseto

relacionando aos temas discutidos e tomam nota de questões pertinentes para a discussão em grupo posteriormente.

Após o filme, há uma conversa entre o professor e os alunos para associarem o filme e as perguntas (além da discussão já realizada) na primeira fase. É uma maneira de possibilitar uma maior interação professor/aluno para a construção de compreensão dos temas geradores. Fase III

Os alunos, em visita ao site http://www.entreworld.org, selecionam um artigo com um dos temas abordados (liderança, empreendedorismo ou tomada de decisão) e realizam possíveis anotações (de acordo com suas necessidades) para uma outra discussão em grupo.

Nesta fase, os alunos já familiarizados com os temas propostos sentir-se-ão mais motivados a

construírem os sentidos explícitos, a recuperarem os implícitos e os subentendidos para o entendimento do texto. Por essa razão, concordamos com Marcuschi (2006:64) ao afirmar que:

Leitura não deve ser confundida com uma simples atividade de extração de informações contidas na superfície textual. (...) Ler é compreender, e compreender é um processo. Ao reagir a um texto, o leitor produz sentidos, lançando mão do conhecimento partilhado e de um conjunto de contextualizadores, seja do ponto de vista textual, social ou cultural. (grifo da autora)

Fase IV

(a) Discussão do texto - correlacionando-o com as fases anteriores, em que os alunos apresentarão seu entendimento e suas impressões sobre o texto selecionado.

(b) Realização do roteiro de atividades do filme “Vida de Inseto”. Deve-se deixar claro para os alunos que as respostas devem ser fundamentadas a partir das discussões anteriores e não, apenas, no filme. A idéia é (co) relacionar as fases e os temas estudados, além de proporcionar aos alunos reflexões, mudanças e (re) construções para as suas realidades profissional e acadêmica.

(c) Roteiro de Atividades do Filme “Vida de

Inseto”

Sinopse do Filme Flik é uma formiga cheia de idéias que, em nome dos “insetos oprimidos de todo o mundo,” precisa contratar guerreiros para defender sua colônia de um faminto bando de gafanhotos liderado por Hopper. Mas quando a Princesa Ada e todo o formigueiro descobrem que o exército de insetos é na verdade um fracassado grupo de atores de um circo de pulgas, o cenário está armado para a maior sorte de confusões com esses improváveis heróis. Baseado no Filme, responda as perguntas s seguir: 1. John Dewey (apud Lacomb & Heilborn, 2003) identificou três perguntas a serem respondidas para o processo decisório: Qual é o problema? Quais são as alternativas e qual a melhor delas? Tendo como base essas perguntas, apresente as etapas do processo decisório do formigueiro para enfrentar o bando de gafanhotos.

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2. “Decisões erradas podem estragar um negócio e uma carreira, às vezes, de forma irreparável. Mas por que elas ocorrem? Por que são freqüentes? Por que podem ter efeito tão devastador?” (Lacombe & Heilborn, 2003). Houve momentos no filme que as formigas tomaram esse tipo de decisão? Justifique sua resposta. 3. No início do filme, um grupo de formigas carrega, em fila, alimentos para “ofertar” aos gafanhotos. De repente, uma folha cai e impede a passagem do grupo para prosseguir com sua tarefa. Uma das formigas se diz “perdida” e não consegue seguir em frente, impedindo, com isso, a passagem de todo o grupo. Assinale abaixo a(s) alternativa(s) que melhor caracteriza(m) essa formiga e sua atitude. a) ( ) é dependente, no sentido de que necessita de alguém para se tornar produtivo, para trabalhar. b) ( ) domina somente parte do processo. c) ( ) tem iniciativa, autonomia, otimismo, necessidade de realização. d) ( ) não é auto-suficiente: exige supervisão e espera que alguém lhe forneça o caminho. e) ( ) sabe buscar, utilizar e controlar recursos. f) ( ) tem sempre alto comprometimento, crê no que faz. g) ( ) mais faz do que aprende. 4. Quando Flik foi expulso do formigueiro e seguiu junto com os insetos do circo, estava totalmente triste e desmotivado. No entanto, Dot o encoraja a retornar para a colônia e ajudar o grupo que está em apuros. Como Dot convenceu Flik a voltar? A atitude de Dot foi empreendedora? Comente sua resposta. 5. Qual dos personagens do filme apresentava atitudes de líder? Por quê? 6. Qual a meta do formigueiro? Por quê essa meta é importante? 7. Em um artigo intitulado “Como desencalhar sua empresa” publicado na revista Seu Sucesso – A Revista do Empreendedor, na edição de maio/2004, há três pontos básicos que exigem a atenção do empreendedor: (a) detecte o problema (b) envolva sua equipe e (c) ter vontade e determinação para encontrar soluções. Relacione esse comentário com Flink e seus companheiros do formigueiro. 8. O formigueiro era uma equipe ou só um grupo de formigas? Por quê? 9. “O empreendedorismo está intimamente ligado à liderança. O comportamento empreendedor é uma

das características fundamentais de um líder, porque precisa dar exemplo, ter iniciativa. E todo empreendedor deve saber inspirar pessoas, incentivá-las a buscar resultados sem que haja influência do poder e da hierarquia.” (Revista Empreendedor, fevereiro de 2006). Baseado nesse comentário aponte um personagem empreendedor e líder e comente suas ações. 10. Existia hierarquia no formigueiro? Como é possível visualizar essa hierarquia? 3. Garimpando resultados

O feedback apresentado pelos alunos ao término

da atividade, reproduzindo em suas visões o contexto usado na atividade e seu paralelo com as Organizações, é simplesmente ímpar. Essa correlação não se detém na análise comparativa da Organização como um todo, mas na visualização e identificação de nuances técnicas da gestão de operações e da comunicação organizacional, além do jargão técnico da área em língua estrangeira nos detalhes do cotidiano do ‘formigueiro’ apresentado no filme. O filme “Vida de Inseto” apresenta-se como uma ferramenta pedagógica que auxilia a prática da educação profissional e acadêmica, fazendo o aluno construir seu conhecimento através do imaginário, do subjetivo e do objetivo, e da flexibilização de ação enquanto profissional em formação. Por esta razão, concordamos com Ramos (2003:67) ao afirmar que “precisamos encontrar meios melhores não só de implementar os processos que ilustram as transformações, mas que também colaborem para ações efetivas ligadas às fases do confrontar e reconstruir.”

4. Referências DIAS, R. Construindo a proposta curricular de língua estrangeira para a rede pública estadual de Minas Gerais. Anais do VI Seminário de Línguas Estrangeiras – UFG: Goiânia. CD-Rom, 2006. LACOMBE, F. e HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2003. MARCUSCHI, B. O que dizem o SAEB e o ENEM sobre o currículo de língua portuguesa para o ensino médio. IN: BUNZEN, C. e MENDONÇA, M. (orgs.). Português no ensino médio e formação do professor. Parábola: São Paulo, 2006. NUNES, M. B. C. O professor de EAP: comportamentos fossilizados ou vivência reflexiva? IN: BARBARA, L. e RAMOS, R. de C. G. (orgs.).

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Reflexões e ações no ensino-aprendizagem de línguas. Mercado de Letras: São Paulo, 2003. RAMOS, R. de C. G. Necessidades e priorização de habilidades: reestruturação e reculturação no processo de mudança. IN: CELANI, M. A. A. (org.) Professores e formadores de mudança: relato de um processo de reflexão e transformação da prática docente. Mercado de Letras: São Paulo, 2003. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Noite na Taverna: cópia com variações

Francilda Araújo Inácio [email protected] (CEFET-PB)

Resumo: Este estudo aborda questões relativas à Noite na taverna, obra em que Álvares de Azevedo, num procedimento intertextual, pouco comum, realiza um diálogo com produções e autores consagrados da tradição, assumindo o simulacro, nos termos definidos por Gilles Deleuze como uma reversão, uma ruptura direcionada à criação. Seguindo um movimento de recusa da representação, o simulacro se opõe à tendência de a cópia voltar ao passado originário, para reproduzi-lo sem diferença e, portanto, sem crítica, não se tratando de uma reprodução pura e simples, mas da produção de algo diferente. No caso específico de Noite na taverna, que evidencia de forma clara sua filiação a fontes literárias, temos um movimento de choque com a tão propalada originalidade romântica, que empreende ainda um percurso em direção ao descentramento do discurso literário convencional e do sujeito–criador - como instância única e privilegiada da criação.

Palavras-chave: Romantismo- simulacro- kitsch- intertextualidade- descentramento.

1. Introdução Em Noite na taverna, na contracorrente de seus

contemporâneos, Álvares de Azevedo volta-se a temas, enredos, ambientes e personagens sem ligação com a nossa cultura, impregnados de imagens byronianas e shakespeareanas, destacando uma atmosfera distante das coisas do Brasil e desvinculada de nossa realidade. Em escritores românticos como Álvares de Azevedo (e Bernardo Guimarães), segundo assinala Cunha (2000 p.19), esse fenômeno é fruto de uma consciência contrária ao nacionalismo literário que adotou o índio como herói nacional e o período anterior à ocupação da terra como primeira etapa no desenvolvimento da história da literatura brasileira. A esse propósito, explica a referida pesquisadora:

O grupo de Álvares de Azevedo, por sua vez, dedica-se a instruir um tipo de romantismo mais fiel à teoria crítica desenvolvida na Europa, procurando edequar a inovação temática à revolução dos gêneros e dos recursos poéticos, valorizando o sentimento menos como expressão da coletividade que da subjetividade poética. A noção de tempo que norteia suas obras estabelece uma ruptura com o passado, tomado como um tempo inexoravelmente perdido, e não vê continuidade entre ele e o presente. Criticando o passado construído pela tradição indianista, bem como o cânone eleito por autores que viram o gérmen do nacionalismo em

Basílio da Gama e Santa Rita Durão, esses poetas, ao fazerem a crítica do passado e proporem a revisão da tradição, caracterizaram a sua época como um tempo condenado à pluralidade.

Lançando mão dessa pluralidade, Azevedo vai

buscar uma ampliação do perímetro cultural brasileiro, através de uma re-leitura de obras-primas exemplares da tradição literária ocidental e oriental, presidida desta feita por uma nova orientação adaptada a nosso contexto. Para isso, adere à proposta de revisão da antiguidade, em “Literatura e Civilização em Portugal”, e propõe uma “remodelagem” de tais obras, que restaure a influência lusitana em nossa literatura, ao contrário do procedimento de alguns indianistas que, ao recusá-la, invocavam o resgate da cultura francesa.

Sem aceitar de forma servil alguns modelos literários consagrados5, ele, que escreveu várias de suas obras sob a influência de leituras diversas, sinaliza rumo a outro significado para a imitação

5 No ensaio “Alfredo de Musset / Jacques Rolla”, Álvares de Azevedo afirma que “a combinação dos elementos da dicção moderna com os da envelhecida, pode ser um progresso: a imitação servil do estilo dos primeiros séculos é um regresso”. (p. 688). Essa afirmação nos pode fazer pressupor que Álvares de Azevedo tinha consciência de que as retomadas que fazia de outras obras não constituíam pura e simplesmente cópias servis, mas teriam outro propósito, o de, por exemplo, definir um outro estilo.

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poética, distinto do sentido de subserviência às regras convencionais referentes agora à aceitação da abundância de significados criados para cada individualidade.

Leitor extremamente voraz, aberto a variadas influências, Álvares representa dentro da nossa tradição romântica um salto em direção ao internacionalismo, ao propor uma visada diferente acerca da linguagem e do País, através da integração à cultura ocidental, mediante diálogo com escritores latinos, ingleses, franceses, alemães, italianos e portugueses, conforme mostra um sem número de citações e epígrafes referenciadas no conjunto de sua obra em prosa e em verso.

Em Noite na taverna, o escritor intensifica essa tendência, dialogando de forma visível com obras e autores da tradição européia, através de um procedimento que a diferencia em muito do que se havia escrito em termos de prosa romântica brasileira até aquele momento. Ambientada num espaço físico natural e social longínquo, a obra azevediana fere os padrões do nacionalismo literário propostos pelos contemporâneos de Álvares, que propunham a criação de uma tradição pela incorporação, na literatura, das características marcantes de nossa natureza e cultura e a renovação literária como a constituição de uma literatura eminentemente nacional, capaz de expressar, de forma fiel, a realidade local. Assim, Álvares de Azevedo rompe de forma consciente com um modelo estético que foge ao compromisso romântico brasileiro de uma literatura nacional, ao dialogar com a literatura alienígena.

Esse procedimento diferenciado certamente está em via direta com a adesão ao diálogo intertextual explícito através de estratégias estilísticas cuja tônica é o aproveitamento/imitação de modelos consagrados, através da utilização de recursos lingüísticos e literários, como o kitsch, as citações, o pastiche, que, a despeito de parecer demérito a nossa literatura, por ferir a tão preciosa originalidade romântica e o espírito nacionalista de seus contemporâneos, são utilizados por Álvares de modo a revelar a busca de uma perspectiva literária mais internacionalizante e à impressão do tom mais cosmopolita do nosso romantismo6, viés assumido

6 Sobre essa perspectiva de internacionalização da arte, há o registro de que, em lugar de aceitar a orientação de Gonçalves de Magalhães, que propunha adotar apenas a cultura francesa e o ecletismo como modelos a partir dos quais a literatura e as idéias se desenvolveriam, Azevedo procura direcionar o pensamento para as mais diversas fontes literárias e filosóficas, destacando, entre outras, a filosofia oriental, o transcendentalismo de Fichte e o idealismo de Hegel. O “Discurso pronunciado na sessão

corajosamente, diante da corrente contrária que elevava o nativismo literário.7

Ao analisar o kitsch e o sentimento de cópia e inadequação causado no Brasil pela cultura ocidental, Roberto Schwarz (1997, pp. 29-48.) relativiza a noção de cópia, chamando a atenção para a possibilidade de nem sempre haver a superação da cópia em relação ao original, como ocorreu, por exemplo, com a estética neoclássica, em que a imitação/cópia, na época, eram reconhecidas como valores literários positivos, devido ao caráter universalista dessa estética e à valorização e respeito dados à prática das formas canônicas. Antonio Candido (2002, p.105) afirma que o “cosmopolitismo” pode ser perigoso quando corresponde a uma atitude alienadora, que nos afasta do nosso país, fazendo-nos desconhecer os seus valores e a sua realidade; e, em conseqüência, levando-nos a não perceber quais são os seus problemas. Mas será construtivo se for uma penetração em profundidade nas obras universais que ajudam a sermos “cidadãos do mundo”.

A cópia/imitação foi benéfica, segundo Candido (1997, p.177) no sentido de ter possibilitado o ajuste da colônia ao mundo letrado da época, à medida que transformou “o escritor em um cidadão da república universal das letras”, fato positivo, se levarmos em conta que serviu para aguçar-lhe a capacidade crítica, “às vezes mesmo a sua rebeldia, como verificamos em diversos aspectos da obra de Gregório de Matos, ou, de modo mais engajado, nos poetas chamados arcádicos do século XVIII.”

Assumindo as retomadas de discursos alheios, Álvares de Azevedo, no entanto, manteve-se na contramão desse pensamento romântico, por acreditar que o encontro/aproveitamento dos clássicos da tradição ou modelos mundialmente consagrados pudesse celebrar a singularidade artística do escritor. Segundo ele, o aproveitamento

da instalação da sociedade acadêmica – Ensaio filosófico a 9 de maio de 1850 (p. 764) explicita essa proposta. 7 Para que se tenha idéia do quão corajoso foi Álvares de Azevedo, ao assumir esse viés internacionalizante, Paulo Franchetti observa que basta considerar que, “ainda em nossos dias, um ardoroso historiador da ‘tradição afortunada´ do nativismo literário, Afrânio Coutinho, simplesmente exclui essas reflexões de Azevedo do panorama que pretendeu dar dessa questão em um de seus livros, transcrevendo do texto em que foram feitas a parte que trata de Bocage; sem nenhum interesse, aliás, no que se refere à sua contribuição à polêmica nacionalista”. (Paulo Franchetti, s/d) Ainda a esse propósito, Candido (1997, p.14) observa que essa “atitude destoante” de assumir o antinacionalismo em termos de literatura de Álvares de Azevedo “deve ter sido difícil e quase heróico sustentar”.

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dessa tradição e de clássicos da literatura mundial representava uma fonte de definição de sua originalidade. E mais: esse aproveitamento seria salutar para a literatura brasileira, que, em fase inicial de formação, precisaria dos clássicos para a definição de sua originalidade.

As obras da literatura mundial deveriam ser exploradas como modelos para um novo tipo de arte. Noite na taverna se insere nesse contexto como mediação/experimento através do qual leva a cabo as suas propostas de criação de uma forma artística original, a partir da retomada de passagens das obras da tradição, com as quais Azevedo tinha espantosa familiaridade, como fonte de inspiração para uma nova forma. Tanto é assim, que ele recorre à imitação de obras consagradas, sem abrir mão de problematizá-las.

A partir dessas retomadas, Álvares de Azevedo introduz formas estéticas não sacralizadas pelos cânones, como o kitsch, a citação intertextual, a colagem e o pastiche, como modalidades de arte literária, capazes de impulsionar a discussão sobre o conceito estático inerente à arte poética da época, por um lado, e, por outro, negar as convenções poéticas que regiam a criação, ao mesmo tempo que demonstra a necessidade de legitimar, de forma original, a sua individualidade poética, unificando-a num projeto próprio.

Segundo Cunha (2000, p. 20), pelas obras da juventude de Álvares de Azevedo (e Bernardo Guimarães) transitam elos comuns, a exemplo do reconhecimento da pluralidade como marca de sua contemporaneidade. Posicionando-se na condição de críticos problematizadores do passado erigido pela geração indianista, especialmente, a de base nacionalista, esses escritores passam a propor uma revisão de nossa tradição, que demonstre o caráter plural da evolução do conhecimento em sua época. E assim fizeram ambos ao incorporarem “a contradição como forma de expressar tanto a heterogeneidade do pensamento quanto à complexidade e à diversidade de seu tempo”. No caso específico de Álvares de Azevedo, as idéias que atravessam suas obras, seja a prosa de ficção de Noite na taverna e mesmo diversos poemas de Lira..., fazem apologia do pensamento heterogêneo e negam a concepção de ser o conhecimento uma prática regida por verdades únicas, defendendo uma arte que absorva a contradição, a pluralidade, a heterogeneidade e a diversidade.

Noite na taverna, obra em que se percebe claramente a intenção do autor em apropriar-se, enquanto prática intertextual, de outros textos, problematiza uma tradição romântica de valorização da subjetividade autoral, do gênio criador, quando, utilizando-se da intertextualidade como estratégia de

mistura das linguagens, dissolve regras estáticas de composição, criando comunicação e abrindo-se à multiplicidade.

A intertextualidade, entendida como um trabalho de transposição e absorção de vários textos na construção de outros textos, como um imenso e incessante diálogo entre obras que constituem a literatura, define-se como um processo através do qual cada obra surge como uma nova voz (ou novas vozes) que fará surgir diferentemente as vozes anteriores, extraindo delas novas configurações.

São várias as apropriações de fontes da tradição européia em Noite na taverna: lugares onde ocorrem as ações narradas, caracterização das personagens ─ principalmente as femininas ─ além de temas e episódios. A construção de narradores advindos da tradição européia também segue essa linha: Gennaro e Maffio são personagens do romance Lucrécia Bórgia, de Victor Hugo; Claudius Hermann e Arnold são personagens de Marino Faliero, Manfred e The deformed Transformed, de Byron, respectivamente. As referências não se esgotam por aí; cenas pertencentes a obras da tradição são retomadas: O roubo do corpo da cataléptica é motivo retomado de Noites lúgubres, novela espanhola datada de 1771, de autoria de João Cadalso, disseminada por aqui em 1844 com a publicação de sua tradução por Francisco Bernardino Ribeiro, na revista Minerva Brasiliense. O crítico Brito Broca (1979, p.215) afirma, de forma peremptória, que Noite na taverna seria toda ela uma obra que teria como fonte as Noites lúgubres, de João Cadalso, que, por sua vez, constituiria imitação de Nights Thoughts, de Young, obra das mais representativas do Pré-romantismo, tendo sido traduzida em diversos países da Europa.

Segundo Cunha (2000, p. 337), a referência na narrativa de Bertram ao episódio do corpo da mulher do comandante levada pelas ondas, em meio à água do mar, reprisa a imagem shakespeareana da jovem Ofélia em Hamlet. A antropofagia – um dos temas referidos nos relatos de Bertram – Álvares de Azevedo extraiu do Don Juan, de Byron. Deste, ainda, teriam sido tomados os narradores Solfieri e Johann, conforme afirma Aurélio Buarque de Holanda, em prefácio a um dos volumes de Mar de Histórias.

Analogamente ao episódio descrito em Beppo, afirma ainda Cunha (2000, p. 337), temos a relação de adultério entre Bertram e Ângela, ocorrida após retorno de longa viagem, quando a reencontra casada, fato ocorrido com os personagens Beppo e Laura. Há ainda a estilização do incesto entre os irmãos, Giorgia e Johann, que Byron alimentou como lendas que rondam sua biografia.

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Referenciando obras consagradas, fundindo episódios, estilos, motivos e cenas de narrativas conhecidas mundialmente, imitando, pois, a imitação, Noite na taverna transgride a mímesis da representação8 em duas vias: por um lado, vai além da simples cópia ─ imitatio ─ própria da representação, aderindo ao simulacro e assumindo a oposição ao platonismo e a toda filosofia da era da representação, que legitimaram a cópia (imitação da Idéia) e desacreditaram no simulacro, cópia da cópia, (imitação da imitação), negando, em decorrência, a premissa romântica de que a obra derivaria da expressão individual.

Em texto célebre, “Platão e o simulacro”, publicado como apêndice de Lógica do sentido, Gilles Deleuze (2003), propondo-se a pensar a técnica de extrair as motivações profundas de teorias filosóficas, questiona exatamente a função do simulacro no modelo platônico das idéias e de suas cópias e a sua importância para pensar a arte contemporânea.

Como se sabe, o platonismo funda o domínio da representação, que consiste na adequação entre a idéia e a coisa, o abstrato e o real, a fim de discernir o verdadeiro do falso. Ao introduzir uma distinção entre cópia e simulacro, Platão erige um modelo, uma espécie de identidade pura, existente no Mundo das Idéias, que serve de fundamento (original) para selecionar e classificar as cópias, as coisas que pertencem ao Mundo Sensível. O modelo ou fundamento constitui uma abstração que ocupa o primeiro lugar. O critério para a comparação entre cópias e modelo é o da semelhança, da igualdade, que, através de um processo de identificação, separa as cópias boas das ruins numa relação hierárquica. Cópia corresponde ao semelhante, ao pretendente que ocupa o segundo lugar numa participação eletiva.

A dialética platônica tem duas direções: uma que aponta para o alto, para o verdadeiro conhecimento ─ absoluto e estático ─ e outra que opera um movimento descendente: do mundo das idéias vem a luz que ilumina o mundo dos humanos, de aparência sensível, estabelecendo um processo de classificação das cópias. Gilles Deleuze identificou, para além da dicotomia essência inteligível e aparência sensível, uma outra mais radical: a da boa cópia, fiel, e a do simulacro.

O critério para participação varia, portanto, conforme um método seletivo. O fundamento ocupa

8 Em literatura, a representação coincide com a interpretação literal do conceito aristotélico de mímesis, segundo o qual a arte imita a realidade. É preciso lembrar, a esta altura, que a era da modernidade constitui uma fissura na representação.

o primeiro lugar e os participantes são criteriosamente distribuídos em uma linhagem gradativa em que a cópia ruim, deformada, diferente, que não apresenta similaridade com o modelo, não possui equivalentes, não se torna digna de participação. A cópia pressupõe uma similitude exemplar.

À luz de uma perspectiva diferente da platônica, em sua análise, o teórico eleva a noção de simulacro, potencializando a diferença e a dessemelhança, apontando rupturas com modelos, identidades, processos de representação e de identificação. Para Deleuze, o simulacro significa uma reversão, uma ruptura direcionada à criação, estando, pois, relacionado ao espírito da modernidade, momento estético em que ocorreu a deposição do platonismo pela valorização do simulacro, que, do ponto de vista de Deleuze, rompe com a representação e a hierarquização platônica. O simulacro escapa aos padrões preestabelecidos, transborda a normalidade, desorienta os modos de existências e os comportamentos instituídos, afirma a diferença, borra as hierarquias, cria ao invés de reproduzir.

Reverter o platonismo significa então: elevar os simulacros, afirmar seus direitos entre os ícones ou as cópias. Para Deleuze (2003, p.268), o simulacro não é uma cópia degradada, mas encerra uma potência positiva que nega tanto “o original como a cópia, tanto o modelo como a reprodução”, inaugurando uma nova forma de conceber o imaginário, à medida que, filtrando do modelo original apenas aquilo que interessa para a construção do novo signo artístico, nega a cópia, o paradigma precedente, e sua imitação, destruindo as formulações consagradas que apontavam para um centro, conspirando fortemente contra o epicentro paradigmático da cópia e apontando para um descentramento subversivo:

Não há mais ponto de vista privilegiado do que objeto comum a todos os pontos de vista. Não há mais hierarquia possível: nem segundo, nem terceiro... A semelhança subsiste, mas é produzida como o efeito exterior do simulacro, na medida em que se constrói sobre as séries, faz com que todas voltem em cada uma no curso do movimento forçado. [...] A obra não-hierarquizada é um condensado de coexistências, um simultâneo de acontecimentos. (DELEUZE, 2003, p. 268).

O provisório e o heterogêneo contaminam todas

as tentativas organizadas que visam a unificar a coerência (formal ou temática). O centro já não é totalmente legítimo. E é exatamente a este pensamento que se opõe o pensamento idealista: a

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perda do centro, o desaparecimento da hierarquia, a proliferação incontrolável dos simulacros e a decorrente diluição da noção de sujeito, uma noção que se esfuma ou se perde. Sendo aquilo para o qual não há modelo, sendo cópia degradada, o simulacro, de fora, ameaça o pensamento da identidade.

No caso específico de Álvares de Azevedo, relativamente à Noite na taverna, ao evidenciar explicitamente sua dependência e filiação a fontes literárias, ele, além de mover-se de encontro a preceitos da originalidade defendidos pelo Romantismo, caminha em direção a uma literatura que descentra: 1) o próprio discurso literário convencional, já que se distancia do centro de prestígio, em função de eleger para a composição da obra formas como a imitação assumida – o simulacro e 2) o sujeito-criador, como instância única e privilegiada da criação, através de uma configuração textual fundamentada no trabalho de ajuntamento de pedaços de diferentes partes de outras obras – o pastiche – responsável por um “mosaico de vozes”− nas citações intertextuais de autores da tradição, no kitsch, evidenciado como cópia de modelos consagrados e nos clichês, que constroem uma estrutura textual avessa a uma força subsistente de uma estética romântica que aprecia o gênio, a originalidade e a individualidade.

O descentramento ontológico do sujeito, que, no nível histórico, significa a colocação periférica do homem no âmbito do processo de trabalho, do qual se separa e com o qual entra em conflito, reflete na produção artística, levando o sujeito-criador a perder a posição central de articulador da matéria poética, conduzindo, através da intertextualidade, à admissão de mais de uma voz nos limites do discurso.

Esse é o descentramento do sujeito, advindo com a literatura moderna: já não mais se admite uma voz hegemônica, única, mas diversas vozes, pelas quais o sujeito se fragmenta e perde o direito ao centro que a filosofia ocidental lhe reservara. Por isso, é oportuno lembrar que, em decorrência, o distanciamento do sujeito também questionou toda a noção de “texto” como entidade autônoma, monossêmica e com um sentido imanente.

Esse fenômeno de ordem textual pode estar refletindo uma contingência histórica da moderna sociedade industrial, que tende a transformar o homem, assim como o artista, em um indivíduo, sem nome, sem rosto, sem identidade, alienado de sua condição humana. No rastro da história, lembramos ainda que essa dessacralização do mito da criação surge devido a um fenômeno em que o confronto entre consciência e construção X sentimento e expressão marcaria o funcionamento de uma noção moderna da arte, colocando às claras o processo de produção da obra. Esse fenômeno oferece uma

perspectiva nova às artes, diante da crise que se instaurou, tendo em vista, principalmente, uma mudança de conceito e, conseqüentemente, de percepção face o objeto artístico.

Em relação ao descentramento do autor em Noite na taverna, é importante frisar que não se trata, porém, daquela fuga à sua representação ocorrida no Classicismo, em que lhe faltava dimensão histórica; podemos relacioná-lo mais ao descentramento ontológico, fruto, provavelmente, da complexidade de uma sociedade que opera entre o homem e a realidade a mais brutal das separações, através da alienação do trabalho, decorrente do fenômeno que se processou a partir do século XIX, quando a industrialização capitalista edificou uma sociedade que alienou e reificou o homem, transformando-o em mera peça de engrenagem dentro de um processo em que a produção para o consumo era bem mais importante.

Com o descentramento, o sujeito unitário e racional, situado num eixo tido como único lugar possível para interpretar ou dar sentido à história de forma objetiva, perde a sua segurança epistemológica, a sua autoconsciência axiológica. De autor para narrador, em Noite na taverna esse fenômeno resvala ainda na voz narrativa: são vários os narradores, simulando uma narrativa uníssona – todos estão no mesmo lugar e em torno da mesa e vinho, falando de suas aventuras insólitas – mas que mantêm sua independência e falta de ligação íntima, articulada. Em sua estrutura narrativa temos um narrador em 3a pessoa, que quase desaparece em meio a várias vozes que assumem o relato das rememorações. Assim, a função que tradicionalmente competia ao narrador, como sustentáculo da narração, garantindo a ordem significativa da obra e do mundo narrado, é posta em xeque.

A estrutura fragmentária, de natureza multifacetada, seja por reunir vários narradores, seja por ser regida por várias vozes, promove o deslocamento do enunciador para a margem do ato da enunciação, entremostrando-se através do fato de que a nenhum deles cabe ser o centro narratorial da obra.

Desse modo, o centro mesmo da enunciação em Noite na taverna quase não existe. Há a aparição discreta e rápida do narrador em 3a pessoa, não nomeado, descomprometido efetivamente com os relatos, que apresenta o cenário, as personagens, cedendo-lhes a voz e aparecendo raramente, sendo, pois, uma voz que narra da periferia dos acontecimentos. Sua função na narrativa restringe-se à informação relativa àquilo que os personagens falam ou fazem, aparecendo para amarrar os diálogos entre eles.

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Em decorrência, desaparece também a unidade da estrutura narrativa tão cara ao narrador clássico, a quem cabia a responsabilidade pelo eixo em torno do qual revolvia a narração e a garantia da ordem significativa da obra e do mundo narrado. Se esta ordem, entretanto, foi posta em dúvida, a ausência de um organizador está devidamente justificada, já que, num mundo em que as transformações e os assombrosos progressos técnicos, desencadeados, inclusive, pela ação do indivíduo humano, passam a ameaçá-lo e dominá-lo, refletindo o fato de o artista, de um modo geral, não mais sentir-se seguro em representar tal mundo.

Referências bibliográficas

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COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil – Era romântica. 5. ed., São Paulo: Global, 1999. Vol. 3. DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. 4. ed., São Paulo: Perspectiva, 2003. LIMA, Roberto Sarmento. Manuel Bandeira: o mito revisitado (uma leitura intertextual da poética da modernidade), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1987. MOLES, Abraham. O Kitsch. 5. ed., São Paulo: Perspectiva, 2001. SCHWARZ, Roberto. Que horas são?São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Referência em meio eletrônico

<http://FRANCHETTI, Paulo. www.

Unicamp.br/~franchet. Riso. htm.> Acesso em

15/11/2002.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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COMUNICAÇÃO TÉCNICA

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Georreferenciamento: Uma Abordagem da Lei 10.267/2001 sobre Registro de Imóveis Rurais

Utilizando Tecnologia GPS

Aline Bezerra do Nascimento [email protected] (CEFET-PB)

Karla Lira de Souza1

[email protected] (CEFET-PB)

RESUMO: O Brasil possui um território com dimensões continentais, esta grande área dificulta o controle da ocupação de suas terras. Até pouco tempo as técnicas utilizadas para realizar o cadastro de imóveis rurais no país se baseavam em aspectos basicamente descritivos, o que impossibilitavam relacionar o espaço geográfico cadastrado univocamente ao seu proprietário. Diante disto ações ilegais eram praticadas com freqüência e raramente descobertas. Disputas por terras que acabaram em episódios violentos marcaram a historia do nosso país. A ilegalidade nos assuntos fundiários e a dificuldade encontrada pelo governo em gerenciar as terras pertencentes ao estado, que são freqüentemente invadidas e comercializadas por grileiros, geraram a necessidade de utilizar métodos mais eficazes de monitoramento da ocupação e distribuição dos solos brasileiros. Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento das geotecnologias, principalmente o sistema GPS, aliado as tradicionais técnicas de cadastramento tiveram como fruto o georreferenciamento de imóveis rurais, que surgiu com o propósito de garantir mais confiabilidade ao cadastro imobiliário no campo. Palavras-Chave: Cadastro Rural; Geoprocessamento; Georreferenciamento; Geotecnologia.

1. Introdução

O Brasil possui um território de 8.544.403,5 km², segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), controlar o uso e ocupação de toda esta área sempre foi uma tarefa difícil, sobretudo em áreas rurais. Durante séculos, transações imobiliárias vêm sendo praticadas de forma ilegal no campo, terras públicas e até mesmo privadas são invadidas e comercializadas sem que exista nenhum controle, gerando muitas vezes desentendimentos e violência.

O sistema cadastral utilizado até pouco tempo recolhia informações que mal possibilitavam saber o formato do imóvel, e não garantiam segurança quanto ao registro dos seus limites, além de se basear em dados descritivos, pouco técnicos, para realização do cadastro.

Diante das dificuldades encontradas para gerenciar os imóveis rurais, no Brasil, e tendo em vista a evolução da informática, com conseqüente produção de novas tecnologias, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), órgão responsável pelo cadastro rural, no país, publicou em 28 de agosto de 2001 a lei

10.267, qual estabelece a obrigatoriedade do georreferenciamento de todos os imóveis rurais no Brasil.

De acordo com a lei a nova metodologia de recadastramento esta baseada não mais em dados declaratórios, mas na comprovação do uso e condições de exploração de cada imóvel recadastrado. Por isso vem causando grande repercussão entre os proprietários rurais, os quais sem exceção precisam cumprir as novas regras. A realização dos levantamentos técnicos pode render altos custos para os proprietários de imóveis, visto que são utilizados equipamentos e softwares com tecnologia de ponta para aquisição e processamento dos dados, este é outro fator que não os tem a gradado em nada.

2. Sobre o Georreferenciamento

A partir da publicação da lei 10.267/01 o termo Georreferenciamento foi incorporado à linguagem cotidiana de profissionais ligados à área de cadastro e registro de imóveis rurais, para que se possa compreender de maneira satisfatória o tema

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abordado segue uma, entre as várias definições possíveis, do que vem a ser georreferenciamento e imóvel rural.

De forma geral o georreferenciamento pode ser definido como um conjunto de procedimentos desenvolvidos com a finalidade de determinar as coordenadas geodésicas de um ponto qualquer (um poste, uma arvore, uma casa...) sobre a superfície terrestre.

Em relação aos imóveis rurais, assim podem ser classificados todos os imóveis não declarados urbanos que se destinem à agricultura, pecuária e extração vegetal ou mineral.

De acordo com a lei do georreferenciamento de imóveis rurais, além da determinação das coordenadas de cada vértice da propriedade, é necessário descrever todo o seu perímetro com uma serie de informações, seguindo rigorosamente as normas técnicas estabelecidas pelo INCRA. Além das descrições físicas, são coletados dados pessoais do proprietário e algumas informações sobre uso atual do solo.

Cada imóvel rural terá um memorial descritivo, uma espécie de laudo, contendo vários dados, como distância entre os vértices, azimutes (ângulos), área superficial, georreferenciados no sistema geodésico brasileiro (SGB), utilizando o DATUM SAD - 69 e coordenadas plano retangulares no sistema UTM.

Com respeito ao sistema de posicionamento através de satélites artificiais, um salto gigantesco foi dado com a introdução do NAVSTAR-GPS (Navegation Satellite With Time and Ranging) ou simplesmente GPS. O grau de precisão desta tecnologia é tão alto que as chances de erro são de no máximo de 50 cm, se os levantamentos forem realizados de acordo com as normas do INCRA. 2.1 Habilitação, credenciamento e qualificação.

Apenas poderão realizar os trabalhos de georreferenciamento, para fins da lei 10.267/01, profissionais devidamente cadastrados pelo CREA (Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia), e credenciados pelo INCRA. Um aspecto que vem chamando atenção pelo lado negativo de existirem muitos profissionais da área de engenharia que se formaram há muitos anos, quando as disciplinas de cartografia e as tecnologias GPS ainda não faziam parte das grades destes cursos, trabalhando com georreferenciamento. Nestes casos, é essencial uma atualização de conhecimentos através de cursos, congressos e seminários na área.

Outra dificuldade enfrentada pelo setor de georreferenciamento é a carência de profissionais

qualificados para trabalhar nesta área, o que vem dificultando o processo em todo o país.

De acordo com Luiz Carlos da Silveira, professor do Departamento de Engenharia de Agrimensura da UNESC, o processo de georreferenciamento só irá “decolar”, quando tiverem, em quantidade suficiente, profissionais habilitados, credenciados e acima de tudo qualificados. 2.2 Prazos carenciais para o Georreferenciamento

A lei 10.267/01 criou a obrigação do georreferenciamento, e o decreto 4.449/02 estipulou os prazos para realização dos trabalhos, mas somente os atos normativos do INCRA publicados em 20 de novembro de 2003 foram definidas as regras para o georreferenciamento. Com isso, tem-se discutido muito a prorrogação dos prazos para a realização dos levantamentos uma das propostas contidas na Carta de Araraquara, documento produzido após 19º encontro do IRB (Instituto de Registros de imóveis do Brasil), é a adaptação dos prazos de acordo com a data da publicação das normas técnicas, que passariam a ser contados da seguinte maneira.

Quadro 1. Prazos para o Georreferenciamento de

Acordo com a Área do Imóvel

Área igual ou superior a 5.000ha 90 diasÁrea de 1.000ha até 5.000ha 1ano Área de 500ha até 1.000ha 2 anos

Área inferior a 500ha 3 anos

Fonte: INCRA (2003) É justa a argumentação de que os prazos

estipulados são muitos curtos, e de cumprimento praticamente impossível, quer pelo proprietário do imóvel quer pelo INCRA, que necessitam analisar os trabalhos e emitir as certificações. A Carta de Araraquara também propôs a prolongação dos prazos por mais cinco anos, o que facilitaria a adaptação do INCRA ao novo sistema de cadastro e daria ao produtor rural mais tempo para realizar os levantamentos.

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2.3 Custos do Georreferenciamento

Os serviços de georreferenciamento de imóveis rurais não se limitam, apenas, aos transportes de coordenadas, levantamento topográfico com GPS e a confecção da planta. Além destes trabalhos englobam-se uma série de atividades extra-campo, como utilização de softwares de difícil manuseio. Assim os custos de cada georreferenciamento devem ser proporcionais aos equipamentos investidos e as responsabilidades assumidas. Com isso, os preços dos levantamentos podem ser bastante elevados o que dificulta a realização do cadastro por pequenos proprietários.

Quadro 2. Tabela Referencial de Preços para Determinação de Coordenadas com GPS

Item Serviço UND R$

1. Utilizando Receptores Geodésicos com Duplafreqüência - linha de base até

200Km 1.1 Custo por

Ponto und 889,90

1.2 Incluindo Azimute

und 1.132,58

2. Utilizando Receptores Geodésicos com Monofrequencia – linha de base até

50Km 2.1 Custo por

Ponto und 647,20

2.2 Incluindo Azimute

und 808,99

Fonte: Revista A MIRA 2004

A lei garante gratuidade para a realização de levantamentos em propriedades que tenham área inferior a quatro módulos fiscais, no entanto no artigo 10 onde se encontram os prazos carências para a realização dos levantamentos não há nenhuma exceção no que diz respeito aos pequenos imóveis, ou seja, após os prazos estabelecidos mesmo os imóveis com área inferior a quatro módulos terão suas matriculas cancelas. 3. Sistema GPS

O GPS é um sistema de rádio navegação desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América. Como o próprio nome sugere, o GPS é um sistema de abrangência global. Esse sistema tem facilitado todas as atividades que necessitem de posicionamento, fazendo com que algumas concepções antigas pudessem ser postas em prática (Mônico, 2000).

Atualmente, o sistema consiste basicamente em um conjunto de estações fixas espalhadas pela superfície da Terra, de uma constelação de 24 satélites artificiais em órbita, a cerca de 20.000 km de altitude e estações receptoras móveis.

Tratando-se do mais moderno sistema de posicionamento geodésico usado atualmente em todo o mundo, é inegável que as lentas, mas criteriosas técnicas convencionais passaram a usufruir de benefícios advindos desta técnica de posicionamento, principalmente devido a três aspectos básicos: precisão compatível, rapidez e independência das condições climáticas. 3.1 Técnicas de levantamento com GPS

De acordo com a nova norma estabelecida pelo INCRA (2003), os métodos de levantamentos utilizando (GPS 1 e GPS 2), não serão aceitos nos trabalhos de georreferenciamento de imóveis rurais, pois o nível de precisão de posicionamento é de 15 m. Desse modo, não se alcança a precisão exigida de 50 cm na determinação das coordenadas. Esses aparelhos não permitem ainda que se vinculem suas observações ao sistema Geodésico Brasileiro.

Equipamentos incluídos nesta categoria são denominados popularmente como, GPS de navegação, lazer e portátil.

Apenas os levantamentos feitos com GPS 3 e GPS 4, serão admitidos para os serviços de georreferenciamento. Eles são baseados em códigos C-A e/ ou P e/ ou fase de portadora com correção diferencial. Equipamentos incluídos nesta categoria são denominados, como GPS topográfico, geodésico de uma freqüência (L1) e de dupla freqüência (L1 e L2), que permitem precisão de em torno de 20 mm a 3 ppm. E ainda estão ainda vinculados ao Sistema Geodésico Brasileiro. 4. Considerações finais

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O georreferenciamento dos imóveis rurais sem dúvida, é muito importante para se definir um os limites das propriedades, e ainda, conceder aos limites levantados um caráter legal, incluindo definitivamente o imóvel no Sistema Nacional de Cadastro Rural-SNCR. A definição única e precisa dos imóveis facilita a interligação entre os diversos órgãos de planejamento rural.

O presente trabalho mostra, o quanto é necessário seguirem-se todas as normas e especificações estabelecidas pelo INCRA, para se terem resultados satisfatórios e confiáveis. Hoje se tem uma realidade bem diferente da que existia há alguns anos. O desenvolvimento tecnológico proporcionou o aperfeiçoamento dos equipamentos e, conseqüentemente, precisão e rapidez, no entanto, isso significou maiores custos para os proprietários.

Depois dos aspectos expostos, esperamos, que o processo de georreferenciamento dos imóveis rurais do Brasil siga em frente com cada item cumprido, seja nos prazos, na isenção dos levantamentos, na qualificação dos profissionais e precisão nas técnicas e uso dos GPS apropriados. Afinal, a homogeneidade e sistematização das operações geodésicas são essenciais para assegurar confiabilidade na geometria descritiva do imóvel, de forma a acabar com os conflitos decorrentes da sobreposição dos limites dos imóveis. 5. Referências AUGUSTO, Eduardo Agostinho Arruda. Especialidade Objetiva e Geoprocessamento. GEOPOA 2004-Tema VII. Disponível em < http:// www.irib.org.br/geopoa.asp> acesso em 16/02/2006. BARROS, Erison Rosa de Oliveira; AZEVEDO, Verônica Wilma Bezerra; CARNEIRO, Andréa F. T. Determinação das coordenadas de limites Imobiliários. Universidade Federal de Pernambuco Departamento de Engenharia Cartográfica, Recife/PE. BRASIL, Instituto Nacional de colonização e Reforma Agrária (INCRA). Normas Gerais Para o Georreferenciamento de Imóveis Rurais. Setembro 2003. Disponível em < http: //www.incra.gov.br> acesso em 21/02/2006.

JANINI, Daniel Alexandre. Georreferenciamento: Quanto Cobrar? Revista AMIRA. N. 120, Criciúma: Luanda, março/ abril 2004. MONICO, João Francisco Galera. Posicionamento Pelo NAVISTAR GPS: Descrição Fundamento e Aplicações. São Paulo: UNESP, 200. SILVEIRA, Luiz Carlos da. Habilitação, Credenciamento e Qualificação. Revista AMIRA. N. 120, Criciúma: Luanda, março/ abril 2004. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade das autoras. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Redes de Distribuição de Conteúdo: Replicação de Objetos Reduzindo a Sobrecarga

nos Backbones da Internet

Anselmo Lacerda Gomes1

[email protected]

Felipe Soares de Oliveira

[email protected] Giuseppe Anthony N. Lima

[email protected]

Dênio Mariz Timóteo de Sousa

[email protected]

Resumo: A Internet é o meio mais abrangente para requisição de objetos (dados) por parte dos usuários espalhados pelo mundo. Atualmente, a centralização do armazenamento de conteúdos muito acessados tem razoável impacto no tráfego gerado na Internet, principalmente nos casos em que os usuários finais estão distantes topologicamente do centro. Em geral, quanto maior à distância, maior é o número de sub-redes através das quais os dados devem ser transmitidos, o que gera atrasos, perdas e, eventualmente, congestionamentos. Uma Rede de Distribuição de Conteúdo (RDC) é um sistema de computadores conectados pela Internet e instalados em múltiplas redes de trânsito (backbones) que cooperam entre si de forma transparente para armazenar, replicar e fornecer dados para usuários finais. As RDCs são geralmente mantidas por provedores de serviços e seus componentes replicam bases de dados regionais usando algoritmos especiais de roteamento, permitindo a disponibilização racional do conteúdo de acordo com a localização geográfica e topológica do usuário final e das condições de tráfego da rede. Este trabalho é o resultado de uma pesquisa bibliográfica e documental que busca caracterizar e classificar, quanto a sua arquitetura, as principais RDCs atualmente em funcionamento na Internet. Palavras Chave: Redes de Distribuição de Conteúdo, Web-Caching, Protocolos de Roteamento; Content Distribution Networks - CDN. 1. Introdução

Nos últimos anos, a Internet teve um crescimento exponencial, a expansão e o surgimento de novas sub-redes interconectadas são notórios. A busca pela informação, através da rede, aumentou, e os sites Web têm recebido um número maior de requisições, elevando a carga de seus servidores de backbones. Isso tem prejudicado estas solicitações por parte dos usuários finais, que muitas vezes localizados na periferia da rede, têm tido o tempo de resposta dos servidores, cada vez mais elevados.

A localização topologicamente distante do centro destes hosts constitui um modelo de centralização de conteúdo, na qual todas as informações (dados) estão postas em um único servidor. A proposta é mudar para uma arquitetura em que os objetos sejam replicados em uma rede de servidores distribuídos, com o objetivo de facilitar a distribuição do conteúdo.

A alta latência deste modelo de arquitetura, baseado na centralização das informações, tem comprometido o desempenho da Internet, todas as requisições são feitas a um servidor centralizado. Este modelo gera um aumento no trafego da rede, acarretando um aumento no índice de congestionamento, atrasos e perdas. Pode-se entender como latência o tempo em que um pacote IP, que é o conjunto de informações codificadas através de um protocolo da Internet gasta para ir e voltar de um ponto a outro na rede, este tempo é normalmente medido em milessegundos e quanto menor a latência melhor o tempo de resposta da rede.

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Fig. 1 – Acesso normal ao conteúdo (modelo centralizado). Adaptação [14]

A tecnologia está limitando-se a esta demanda

de dados, motivando os administradores dos sites a pensarem em novas soluções de distribuição. Foi então nesta conjuntura que nasceram as Redes de Distribuição de Conteúdo (CDN - Content Distribution Network). As CDNs são redes proprietárias distribuídas geograficamente cujos serviços são oferecidos no contexto em que se precisa melhorar a disseminação dos dados, incorporando servidores de replicação de conteúdo, que atuam de forma que, quando as requisições chegam, este as escolhe, através de algoritmos especiais de roteamento, qual base de dados replicará para aquela solicitação. 2 - Funcionamento das Redes de Distribuição de Conteúdo

As redes de distribuição de conteúdo oferecem uma solução para os problemas relacionados ao desempenho e congestionamento da rede, com o objetivo de evitar enlaces congestionados dentro da rede que causem sobrecarga nos servidores. Se uma comunicação cliente-servidor não atravessar uma parte da rede congestionada ou em estado de degradação de pacotes, o desempenho será melhor. Para isso, surgiu idéia principal das RDCs que é o uso de servidores substitutos. Os Surrogate Server como são comumente chamados, são backbones proprietários, que se situam mais próximos da periferia da rede; sua função principal é facilitar o acesso às informações aos hosts de borda, que poderão requisitar então os dados a um servidor

substituto mais próximo, sem ser preciso ir até o servidor original para buscar tais informações.

Os dados são replicados entre gateways, uma vez que o conteúdo será direcionado a estes servidores para que armazenem estas informações, espalhando os dados, possibilitando a redução da carga do servidor principal e diminuindo conseqüentemente a latência, de forma que as sub-redes, mais próximas da borda, tenham menos oscilações de tempo nos saltos entre os roteadores que envolvem as requisições.

As RDC funcionam basicamente desta forma: o cliente tenta acessar um determinado servidor (site) através do browser, mas o caminho entre o cliente e o servidor está congestionado, porém um servidor substituto denominado Surrogate Server dentro da rede, permite o usuário acessem todas as informações de que necessita, obtendo um melhor desempenho, ao invés de tentar acessar diretamente o servidor original. E através da configuração do direcionamento do cliente para o servidor substituto, o qual será responsável pela carga de requisição do cliente, evitando com isso o congestionamento do enlace de comunicação, obtendo-se um melhor tempo de resposta.

Fig. 2 -Arquitetura básica de uma CDN. Adaptação [10].

O modelo de RDC mais comumente encontrado

consiste em muitos Surrogate Servers distribuídos, permitindo que os clientes tenham boas possibilidades de conectividade, garantindo o acesso às informações através dele, mesmo se houver congestionamento entre o cliente e o servidor original. Os substitutos podem ser compostos por um único servidor ou muitos deles havendo cooperação entre os mesmos. Essas configurações possibilitam melhorias na capacidade e

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desempenho, visto que o processamento dos servidores substitutos aliados ao servidor original, amplia a escalabilidade.

Fig. 3: Distribuição dos Servidores Substitutos numa RDC. Adaptação [14].

Para que as técnicas sejam mesmo eficazes, necessita-se porém de que o site substituto possa suprir as requisições do cliente, caso contrário o substituto terá que se reportar ao servidor original demandando mais tempo para atendê-lo. Assim, fica evidente que o sucesso da RDC se dá pela alta taxa de acerto dos substitutos, nos atendimentos das requisições por parte do cliente. Outro fator considerável são os dados estáticos e dinâmicos no fluxo de tráfego e na replicação dos mesmos, nos substitutos, que podem reduzir o tempo de resposta, já que o dado estático quase não muda e o dinâmico muda tão rapidamente que necessita de um gerenciamento especial.

Podemos dizer que as aplicações trocam dados estáticos e dinâmicos durante o processamento. Se a maior parte dos dados são estáticos, o servidor substituto os armazena em seu cache e os disponibiliza ao cliente quando este necessitar. No caso dos dados dinâmicos, os substitutos devem garantir que a cópia existente neles está atualizada, de acordo com o servidor original. O gerenciamento da consistência dos dados, portanto, é um fator importante, pois faz o controle dos dados presentes no substituto, garantindo o sincronismo com servidor de principal.

Portanto, uma RDC consiste em um conjunto de sites que está distribuído geograficamente de modo a atender os usuários que requisitam informações, mas a administração e gerenciamento desses sites são complicados e custosos, devido ao fato de estarem espalhados e, muitas vezes, muito distantes topologicamente. Entre outras desvantagens é que aplicações precisam ser recriadas para aproveitar a RDC.

As aplicações adequadas a uma RDC são baseadas na Web, pelo fato desta possuir uma grande quantidade de objetos estáticos, como por exemplo, imagens, arquivos HTML, clipes, vídeos, etc. e outros tipos como: dados baseados no perfil de usuário ou na região geográfica, no comércio eletrônico através da web. Outras aplicações que podem beneficiar são os serviços de transferência de arquivos (FTP) e os servidores de e-mails e de diretórios. Entretando, existem aplicações que não são recomendadas para uma RDC, por questões de segurança a exemplo, processamento de cartão de créditos, pois é mais fácil manter um único site seguro do que manter vários sites substitutos distribuídos geograficamente.

3-Ambientes para Redes de Distribuição de Conteúdo

Os três tipos de ambiente para as RDC são: empresa utilizando a Intranet; provedor de serviço da Internet (ISP) e da Internet Pública. Dessa forma, a rede da empresa é formada, através de roteador de acesso para provedores. E o ISP pode dar suporte a uma ou mais empresas que são ligadas através de vários roteadores de acesso conectados aos usuários e ao grupo de roteadores centrais, que são de controle do provedor. Os provedores são comumente interconectados com os demais provedores em áreas conhecidas como pontos de trocas da Internet (IXPs), pontos de acesso a rede(NAPs), centrais de área metropolitana(MAEs) ou centrais federais da Internet(FIXs). E na conjuntura de todos os provedores do mundo está a Internet pública que é a interconexão de todos os ISP nos pontos de troca.

A aplicação da RDC na empresa pode ser realizada com a instalação de substitutos para suprir as necessidades dos usuários em determinados locais ou para melhorar a conectividade destes no enlace de backbones que possa está congestionado.

As RDC para o ambiente de provedor de serviços, este que pode controlar os protocolos de roteamento e uso de servidores; que disponibilizam a conexão aos clientes, oferecendo serviços como proxies; que armazenam em caches imagens e conteúdo estáticos, filtragem de dados e recuperação

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de vídeos. Para os ISPs, os custos para implementar a tecnologia da RDC são compensadores, devido aos proxies existentes nos vários pontos de presença (POPs) espalhados. Porém, existe a necessidade de investimentos no gerenciamento e no controle dos sites substitutos.

Os provedores de serviço de redes de distribuição de conteúdo (CDSP-Content Distribution on Service Provider) são os que detêm uma grande quantidade de servidores substitutos em vários pontos da Internet e os clientes são os que nela armazenam suas aplicações.

4 - Componentes de uma Rede de Distribuição de Conteúdo

Projeto de Site Escalável permite que um servidor possa atender várias requisições de clientes ao mesmo tempo, ou seja, para melhorar a escalabilidade tem que ser recorrer ao uso de uma máquina robusta que atenda necessariamente todas as requisições, ou então, a um conjunto de máquinas que podem estar distribuídas geograficamente e interconectadas em uma rede (WAN), ou máquinas localizadas próximas umas das outras, sendo interligadas por uma rede local (LAN).

Roteamento de Clientes/Usuários Finais são técnicas de utilização de serviços de diretório da rede, truques de roteamento da rede ou modificações em aplicações, utilização de balanceador de carga no front-end, difusão (broadcast) e filtragem, seleção inteligente pelo cliente e Anycast.

Estimativa de Desempenho da Rede é o mapeamento de uma tabela de roteamento de vários clientes conectados a um site substituto e estabelecendo modificações de acordo com a atual carga da rede e nos servidores substitutos.

Gerenciamento e Consistência do Cachê é o gerenciamento dos dados estáticos e dinâmicos.

Infra-Estrutura da Rede entre os Surrogate Servers e o Servidor Principal é a configuração dos sites substitutos e o servidor de origem.

As RDC são formadas por cinco componentes, o primeiro é relacionado ao projeto de site escalável, e permite que muitos clientes possam acessar, ao mesmo tempo os dados contidos em um servidor, ou seja, permite que uma máquina servidora atenda mais usuários do que se imagine. Para melhorar a escalabilidade, utiliza-se uma máquina robusta que

atenda, necessariamente, todas as requisições, ou então, a um conjunto de máquinas que podem estar distribuídas geograficamente e interconectadas em uma rede (WAN), ou máquinas localizadas próximas das outras sendo interligadas por uma rede local (LAN).

“Uma rede geograficamente distribuída possui grandes latências de ida e volta e normalmente possuem menos largura de banda, sendo sujeitas ao congestionamento. Como resultado, as características de desempenho se ele foi usado em uma rede geograficamente distribuída ou local”. Deve-se observar que as técnicas para um projeto de site escalável serão adequadas para atender ás necessidades de desempenho e escalabilidade de qualquer aplicação se a rede que interliga os clientes e os servidores for suficientemente rápida.(Verma, p. 27).

Outro fator importante diz respeito à criação de uma aplicação servidora que forneça ao cliente a idéia de que se estão executando os serviços em apenas uma máquina. Outra técnica empregada é o balanceamento de carga no front-end na frente de um conjunto de servidores, permitindo o uso de mais máquinas.

Fig. 3: Balanceamento da carga no front-end [14].

Os clientes terão acesso aos serviços a partir da rede externa, que é ligada pelo balanceador de carga conectado com os servidores por meio de uma LAN de alta velocidade. Isto permite que se divulgue um único endereço de máquina para os clientes, sendo transparente a introdução do balanceador entre o cliente e o servidor. Assim, ao receber uma requisição, o balanceador de carga seleciona entre os diversos servidores o qual atenderá a requisição do

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cliente observando os requisitos de controle de tráfego.

A técnica de broadcast e filtragem é também empregada para redirecionar as requisições para outras máquinas, funciona com o envio da requisição para todos os servidores, e um protocolo de colaboração é usado para garantir, apenas, um dos servidores atendem o pedido. Sendo uma técnica vantajosa em relação ao balanceador de front-end, pois evita que por um único ponto de falha na rede, se consiga obter uma boa distribuição da carga desbalanceando os servidores. Enquanto ocorre o processo de tradução do endereço de nome de máquina, podemos direcionar os clientes para servidores diferentes.

“O melhor a respeito do uso de servidor de diretório é que ele não exige uma caixa separada na frente dos diferentes servidores. Os servidores, portanto, podem estar localizados em diferentes locais, e o esquema de diretório pode ser usado para uma CDN e também para um site único”. (Verma, p. 33)

“Quando a seleção é feita no estágio em que ocorre a tradução de nome para endereço, o servidor de diretório precisa simplesmente retornar os endereços de rede de todos os servidores disponíveis em site escalável. O Cliente pode, então, escolher entre eles de forma aleatória ou em um estilo de rodízio”. (Verma, p. 33).

O Anycast é um endereço que serve para a comunicação em grupo, permitindo que pacotes enviados por clientes para o endereço de anycast possam ser recebidos pelos servidores, segundo Verma: “o Cliente se lembra da identidade do servidor cuja a resposta é aceita no primeiro pacote a ser enviado no endereço de anycast, usando-o para a comunicação futura”. (Verma, p. 70).

Para selecionar o site mais apropriado para o cliente é necessário fazer uma sondagem, além é claro do uso de um mapa de roteamento estático e dinâmico. Com isso, podemos estabelecer o site mais próximo do cliente reduzindo o tempo de resposta. Assim, para mapear um usuário basta fazer uma tabela que contenha três campos, o identificador do cliente, do recurso e do site mais próximo a ele para começar a pesquisa ao site adequado.

Já os esquemas ativos para roteamento de clientes em RDCs na Web podem ser aplicados a um servidor DNS especial, ou um servidor substituto/balanceador de carga, que ao receber uma requisição envia uma mensagem de sondagem para

todos os servidores Web pertencentes a RDC. Por outro lado, uma maneira eficaz de rotear as requisições do usuário para o servidor adequado, seria uma tabela de roteamento que contivesse as informações referentes ao mapeamento do cliente para o servidor mais próximo.

Para montar uma tabela estática é essencial conhecer a topologia da rede em que os usuários se comunicam com os sites da RDC, ou seja, determinar que sites substitutos estejam mais próximos dos clientes. E Verma afirma: “Uma função de custo constante minimizará o número de enlaces que um cliente atravessa até o site RDC selecionado. O uso de retardo na propagação do enlace minimizaria a latência entre o cliente e o site selecionado na RDC”.(Verma, p. 96).

Assim, se analisarmos as tabelas de BGP (Border Gateway Protocol) dos provedores de Internet que oferecem conexão com os sites, podemos desvendar esta topologia limitada. Esta tabela de roteamento BGP reúne requisitos sobre as diferentes sub-redes dos roteadores pertencentes ao provedor, além da quantidade de diferentes domínios administrativos que devem ser atravessados para alcançar essa sub-rede.

A tabela de roteamento estática, porém, tem suas limitações, pois muitas vezes não direciona o usuário para o melhor servidor substituto. Então, a alternativa seria a tabela dinâmica de roteamento que é atualizada constantemente para indicar naquele instante o site mais apropriado para o cliente. Para a criação de uma tabela dinâmica de roteamento é necessário identificarem-se as sub-redes pelas quais os clientes estão requisitando os dados, coletar estatísticas de performance entre cada sub-rede e cada um dos sites da RDC, combinando e avaliando as estatísticas. Segundo Verma: “Assim, as tabelas de roteamento dinâmicas podem explorar informações como logs da Web, rastros de pacotes e outras informações que um site online pode registrar”. (Verma, p. 99)

No que diz respeito ao compartilhamento de dados em uma RDC, os sites substitutos e o servidor principal podem compartilhar dados e códigos; ao tempo em que os substitutos podem replicar um conjunto de dados ou parte deles, colocar em cache e/ou acessá-los remotamente no servidor de origem, mas, é preciso garantir a consistência dos dados. Para isso, utilizam-se três técnicas: (i) acesso remoto transparente para manter uma única cópia dos dados no servidor principal, (ii) cópias replicadas isoladamente dos dados que permanecem em diferentes servidores; e (iii) armazenamento em cache da cópia oficial dos dados localizada no servidor principal com os servidores substitutos, mantendo uma parte em cache dos dados. Essas

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medidas são importantes para o desempenho e vantagens do uso de uma RDC como assegura Verma: “a motivação básica para se ter uma rede de distribuição de conteúdo é para obter ganhos de desempenho, eliminado a necessidade do cliente de ir até o servidor de origem, pois a rede entre o cliente e o servidor de origem provavelmente está congestionada”. (Verma, p. 107)

No caso da manutenção das cópias replicadas pode-se garantir uma melhor performance em relação à latência, as requisições feitas por um cliente dividem-se em: (i) leitura e formatação dos dados e (ii) modificações e alterações dos dados contidos no servidor. A formatação diz respeito à apresentação da página no browser, quando grande parte dos fluxos de dados requisitados for de leitura e formatação, a replicação será eficiente e trará vantagens no desempenho e na escalabilidade.

E no armazenamento em cache, em que se precisa garantir a consistência dos dados através da determinação da (i) sincronização periódica, que utiliza o armazenamento cache “write-thru”, que se dá pela sincronização com a cópia dos dados no servidor principal em intervalos periódicos, tendo uma variante, o armazenamento em cache “read-thru” modificado, que verifica os dados em cache válidos no servidor principal procurando uma cópia recente disponível. E da (ii) notificação de atualização que utiliza o armazenamento em cache write-thru baseado em uma única cópia oficial dos dados, que permite ao site principal enviar notificação a todos os caches de que os respectivos dados foram alterados. Ao receberem os sites substitutos poderão invalidar as cópias locais existentes e recolherem as cópias mais recentes no servidor original.

Ao acessarmos um determinado site, e a informação não chega, recorremos no browser clicando nas opções refresh e reload para enfim surgir à informação, ou seja, que na primeira requisição os pacotes foram perdidos pela rede. Para se medir a perda de pacotes entre dois pontos da rede, se estabelece um índice representando por uma taxa percentual, que indica quantos pacotes foram perdidos a cada cem requisições. Quanto menor a perda de pacotes melhor é eficiência da rede.

No esforço de reduzir os sérios problemas de desempenho na web, tem-se recorrido ao aumento da banda e a servidores mais robustos, porém sem sucesso, pois existem outros fatores que implicam atrasos e perdas de pacotes. Já as soluções baseadas em cache de WWW, espelhamento de páginas HTML, arquivos e imagens estão sendo utilizados para resolverem o problema do tráfego.

A iniciativa de instalação de um sistema de caching Web Proxy permite que se armazene um

cache de páginas e arquivos disponíveis em servidores remotos da Internet, com os quais os usuários de uma rede local (LANs) podem acessar de forma mais eficiente e segura, ou seja, funciona da seguinte maneira: ao solicitar uma determinada URL, um Proxy que utiliza a cache busca dados desta em seu cache local, em que, se o recurso for encontrado é repassado de imediato ao solicitante ou recorre-se ao servidor remoto e ao mesmo tempo guarda-o em cache. Para fazer o controle adequado dos documentos armazenados pelo tamanho, alterações e histórico de acesso, o cache faz uso de algoritmos como o Least Recently Used (LRU) e o Least Frequently Used (LFU). LRU remove os documentos existentes por muito tempo, enquanto o LFU remove documentos menos populares.

Na maioria das vezes, os browsers se conectam diretamente aos servidores remotos, mas eles podem ser configurados para diretamente se conectarem a um servidor Proxy. A medida que o usuário solicita uma página web, primeiro, o browser checa localmente em sua cache, se não for encontrada, pede ao servidor de Proxy local, se o mesmo não conseguir, este se encarregará de conecta-se ao servidor remoto que repassa as informações ao IP solicitante e guarda-os em cache.

O compartilhamento de informações entre os servidores proxies possibilita que um se comunique com outro em busca de dados partindo de uma hierarquia de mesmo nível ou de baixo para cima (pai-filho), essa procura pode seguir um modelo de interligação regional, nacional, e internacional permitindo que se o Proxy não conseguir encontrar a página web localmente, ele recorra aos servidores na hierarquia. Caso ocorra que nenhum deles tenha uma cópia, o servidor original da página é consultado, para fazer a comunicação entre os servidores Proxy utiliza-se o protocolo Internet Cache Protocol (ICP) [RCF 2186, RFC 2187], que permite um cache examinar o conteúdo de outros, avaliar tempos de respostas e determinar qual cache entregará os dados,, mas o ICP também tem seus problemas, pois ele provoca aumento de latência e tráfego na rede.

E para combater a latência e os congestionamentos provocados pelo protocolo ICP, surgiu a Cache-Digest, um resumo do conteúdo do cache de um servidor, que é compartilhado diariamente com outros servidores localizados na mesma hierarquia.

A conectividade entre os sites substitutos e o site principal é determinante para a um melhor desempenho da RDC. Pode-se conseguir um grande throughput na rede comum utilizando-se um protocolo de comunicação colaborativo, lê-se o multicast que permite a distribuição e replicação de conteúdos nos diferentes sites que fazem parte da

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RDC. A infra-estrutura da RDC pode ser composta por uma rede privada que conecta os servidores em enlaces de conexão mais velozes entre eles do que no caso dos clientes conectados ao site principal. Outra maneira de melhorar substancialmente uma conectividade entre os dois seria conectá-los ao mesmo provedor de Internet.

Na comunicação entre os usuários e os servidores o RDC é feita através dos protocolos padrão como TCP e UDP, que operam na Internet, podendo utilizar um protocolo particular entre a rede que compõem a RDC.

O gerenciamento das máquinas espalhadas geograficamente, que compõem a RDC, incluem atenções exclusivas na instalação, configuração, atualização de software e principalmente na segurança dos servidores. Para garantir segurança contra vários tipos de ataque, o site de RDC precisa disponibilizar um ou mais firewalls e sua comunicação com outros servidores deve ser feita utilizando uma VPN (Virtual Private Network) onde os pacotes são autenticados e criptografados através do IPSEC.

5 – Uma RDC comercial – AKAMAI

A Akamai possui uma tecnologia que permite melhor performance nos downloads de paginas, criando uma estrutura de grande porte computacional de distribuição de conteúdo e entrega de aplicações. Além, do desenvolvimento de um conjunto de algoritmos de roteamento e replicação inteligente de conteúdo, em uma vasta rede de servidores distribuídos geograficamente, não dependem exclusivamente de servidores centralizados usados comumente nos sites. Segundo a Akamai: “A Plataforma da Akamai cuida de 15% de todo o tráfego da Internet, ou seja, mais de um bilhão de acessos diariamente”.

E o gerenciamento é primordial na busca pela eficiência e entrega imediata dos dados, salienta: “A Akamai Technologies evoluiu na área de gerenciamento. A empresa está deixando os gerentes entrarem na sua rede de entrega de conteúdo para que possam avaliar o desempenho das suas aplicações na Internet. Faz sentido: a Akamai já entrega e monitora aplicações na borda dos principais backbones da Internet como parte da sua função de cache de entrega de conteúdo. Com a Akamai monitorando esses pontos de entrega as empresas não precisarão implementar seus próprios agentes no cliente para saber como a Internet está entregando as aplicações. É uma excelente idéia usar a ampla presença da rede da Akamai sem ter que se preocupar com toda aquela carga no front-

end”.(Bruce Boardman, Editor-Chefe, Network Computing Magazine).

5.1-Serviços Fornecidos pela Akamai

FirstPoint Serviço de gerenciamento de tráfego global para provedores de conteúdo com servidores de Web distribuídos geograficamente.

EdgeScape Permite a customização de conteúdo com base na largura de banda e na localização geográfica do usuário.

Reporter e Traffic Analyzer Fornece dados históricos e em tempo real da utilização do site da Web;

Reporter Exibe logs de histórico e Data-mining customizado de tráfego dos clientes.

Traffic Analyzer Exibição do tráfego dos clientes em tempo real e informa a distribuição geográfica do tráfego.

ACS Serviço de gerenciamento e de armazenamento de conteúdo de modo persistente entregue para usuários finais através da rede Akamai.

Digital Parcel Service Uma solução abrangente de gerenciamento de direitos e distribuição digital.

EdgeSuite Permite a montagem dinâmica de conteúdo personalizado em servidores de ponto Akamai;

5.1.2-Exemplo de Navegação solicitando conteúdo através de endereço da URL www.xyz.com pelo modo tradicional sem utilização da CDN

• O Usuário digita www.xyz.com • O Browser solicita o endereço IP de

www.xyz.com • O DNS retorna o endereço IP do xyz. • O Servidor Web do Cliente retorna a

HTML. • O Browser solicita a HTML. • O Browser obtém o endereço IP do domínio

de objetos incorporados da página • O Browser solicita objetos incorporados. • O Servidor Web do Cliente retorna objetos

incorporados.

5.1.3- Baixando o conteúdo do www. xyz.com através da Akamai EdgeSuite

• O Usuário digita www. xyz.com • O Browser solicita o endereço IP de www.

xyz.com

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• O DNS retorna o endereço IP do Servidor Akamai.

• O Browser solicita a HTML. • O Servidor Akamai formata a página e se

for o caso se conecta com o servidor web cliente.

• O Servidor Akamai retorna a HTML para o cliente.

• O Browser obtém o endereço IP de Servidores Akamai para Objetos Incorporados escolhendo os servidores de melhor desempenho.

6 – Conclusões e perspectivas futuras

Concluímos que muitos provedores de conteúdo de grande porte utilizam a RDC, com o intuito de otimizar o serviço de distribuição de objetos ao seu público, usando basicamente recursos de replicação deste conteúdo em bases de dados regionais e também protocolos de roteamento. Esta estrutura básica permite a disponibilização racional do conteúdo que é configurado especialmente através da verificação da localização geográfica do usuário final e das condições da rede como o tráfego e rotas.

Como trabalhos futuros, podemos partir para elucidação dos esquemas de segurança implementados na configuração e manutenção das máquinas que compõem a Rede de Distribuição de Conteúdo.

7. Referências Akamai: Disponível em <http://www.akamai.com/edgecont.asp> Acesso em Set 2006. Brian D. Davison's Web Caching and Content Delivery Resources <http://www.web-caching.com/ >Acesso em Set 2006. CachingTutorial: Disponível em : <http://www.mnot.net/cache_docs/>Acesso em Ago 2006. CDN: Content Distribution Network. Disponível em<http://arxiv.org/PS_cache/cs/pdf/0411/0411069.pdf > Acesso em Set. 2006. [5]CDN: Content Distribution Network: Disponível em:<http://citeseer.ist.psu.edu/peng03cdn.html> Acesso em Ago. 2006. Content Distribution Network: Disponível em: <http://www.cs.rochester.edu/~kshen/csc573-

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As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Modelo de Artigo para Publicação na Revista Principia do CEFET PB

Nome do Primeiro Autor1

Nome da instituição e endereço para correspondência e-mail

Nome do Segundo Autor Nome da instituição e endereço para correspondência

e-mail Artigo recebido ________, Revisado _________, Aceito _________

Resumo: A proposta deste modelo de artigo é servir de base para normas de publicação na Revista Principia do CEFET PB. Os artigos submetidos à Revista Principia podem ser elaborados em Português, Inglês, Espanhol ou Francês, e devem ser resultados de pesquisas nas áreas afins do CEFET PB. Palavras Chave: palavra chave1, palavra chave 2, palavra chave 3, palavra chave 4, palavra chave 5 Abstract: The objective of this article is to provide the basis for the rules of publication in the CEFET-PB “Revista Principia” (Principia Magazine). The articles submitted to the “Revista Principia” can be written in Portuguese, English, Spanish or French, and they should be results of researches in the related areas of CEFET-PB. Key-words: Key-word1, key-word 2, key-word 3,Key-word 4, Key-word 5

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PRINCIPIA, João Pessoa, n.14, Dezembro 2006. 121

1. Introdução

A proposta da revista Principia é a de publicação de artigos de caráter teórico ou aplicado, de pesquisas científicas e tecnológicas nas áreas de estudo, desenvolvidas pelo CEFETPB.

Será dada preferência para publicação de trabalhos que se apresentem em forma de artigos e resenhas. Relatos de experiência, ensaios bem fundamentados, artigos de revisão, livros, cartas ao(s) editor(es), poderão, também, ser considerados.

Artigos, anteriormente, publicados em congressos ou conferências aceitos para publicação nesta revista, deverão constar o evento como nota de roda pé na página do título.

A decisão de aceite para publicação é baseada na recomendação de no mínimo dois pareceristas e, se necessário, um membro do conselho editorial. Apenas os trabalhos aprovados serão encaminhados para publicação. O(s) autor(es) deve(em) manter seu arquivo para eventuais modificações sugeridas pelos revisores, visto que os originais e disquetes enviados não serão devolvidos. Os trabalhos aceitos serão publicados integralmente na revista PRINCIPIA e disponibilizados na home page da instituição.

A título de direitos autorais o(s) autor(es) receberá(ão) 02 (dois) exemplares da revista em que for publicado o trabalho. Nomenclatura

A = area, m2 c = calor especifico, J/(kg K), parâmetro

definido pela Eq. (10), adimesional D = diâmetro, m f = coeficiente de atrito, adimensional h =coeficiente médio de transferência de

calor, W/(m2 K) m = massa, kg m& = fluxo de massa, kg/s n = número de dados, adimensional Q = transferência de calor, W Rk = resistência térmica da parede, (m2 K)/W Re = número de Reynolds do fluxo de ar,

número de Reynolds, adimensional T = temperatura absoluta, K t = espessura do tubo, m

Símbolos gregos ∆P = queda de pressão, Pa ∆Tlog= diferença média logarítimica da temperatura, K = ângulo entra as seções adjacentes, grau = densidade, kg/m3 Índices

a relativo ao ar b relativo à viga m relativo ao motor s relativo à saída relativo ao deslocamento horizontal relativo ao deslocamento vertical relativo ao deslocamento angular 2. Submissão

Manuscritos e correspondências deverão ser enviados, preferencialmente, ao Presidente e/ou Vice-Presidente do Conselho Editorial.

M.Sc. Mônica Maria Montenegro de Oliveira (Presidente do Conselho Editorial);

M.Sc. Claudiana Maria da Silva Leal (Vice-Presidente);

Dr. Augusto Francisco das Silva Neto; Drª. Francilda Araújo Inácio; Dr. Jefferson Costa e Silva; Dr. Lafayette Batista Melo; Dr. Kennedy Flávio Meira de Lucena; Drª Maria Cristina Madeira da Silva; M.Sc. Mônica Maria Souto Maior; M.Sc. Mônica Maria Montenegro de Oliveira; Dr. Neilor Cesar dos Santos; Drª. Nelma Mirian Chagas de Araújo Meira; Dr. Paulo Henrique da Fonseca Silva; Dr. Umberto Gomes da Silva Júnior. Conselho Editorial, Gerência Educacional de

Pesquisa e Projetos Institucionais – GEPPI. CEFET-PB, Av. 1º de Maio, 720 - Jaguaribe

CEP: 58.015-430 - João Pessoa, PB, Brasil. Fone: (0xx83) 3208 3032.

E-mail: [email protected]. Três cópias do artigo são requeridas. Uma (01) só

cópia deverá ser enviada com a identificação dos autores (não esquecer de destacar o autor para correspondência). As outras duas (02) não deverão conter os nomes dos autores. Os autores deverão enviar uma cópia do artigo em disquete, zip drive ou CD Rom. É necessário que a cópia eletrônica contenha todas as figuras, tabelas e equações matemáticas que apareçam no artigo.

Todas as informações anteriores deverão ser enviadas ao setor de protocolo do CEFETPB.

Todos os artigos deverão ser submetidos à apreciação e preparados de acordo com o modelo PRINCIPIA.DOC, que pode ser obtido na página http://www.cefetpb.edu.br/principia . O não acordo com as normas deste modelo resultará na imediata desconsideração do artigo para publicação. 3. Edição do texto

O texto poderá ser editado utilizando-se o processador de texto Word for Windows. A fonte deverá ser Times New Roman, tamanho 11 para os

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títulos dos itens, sub-itens e para o texto. Não deverão existir no texto palavras em negrito, ou sublinhadas para destacar em segmentos do texto; use apenas itálico.

O espaçamento será: Duplo entre itens e sub-itens. Simples no corpo do texto. Cuide para usar apenas um espaço entre uma palavra e outra.

Não faça referências a páginas internas do próprio trabalho e evite o uso de palavras como “abaixo”, “acima” ou “seguinte” para se referir a tabelas, quadros ou figuras. Numere as tabelas e use os números para fazer as referências.

O parágrafo deverá ter 0,5 cm. O formato do papel deverá ser A4, orientação

retrato, com margens de 2 cm. Um mínimo de 05 e máximo de 15 páginas não numeradas, incluindo tabelas e figuras.

Os itens e sub-itens deverão ser alinhados à esquerda e, apenas, a primeira letra maiúscula e em negrito.

4. Composição seqüencial do artigo

As grandezas deverão ser expressas no SI

(Sistema Internacional) e a terminologia científica (incluindo a nomenclatura e os símbolos gregos) deverão seguir as convenções internacionais de cada área em questão.

Título em negrito com no máximo 15 palavras, em que apenas a primeira letra da primeira palavra deva ser maiúscula. Fonte Time New Roman 22, justificada.

Nome dos autores por extenso, e somente a primeira letra do nome e do sobrenome devem ser maiúsculas. Fonte Time New Roman 12 em negrito. Logo abaixo, endereço institucional, incluindo telefone e e-mail, fonte Time New Roman 8. Os autores pertencentes a uma mesma instituição devem ser referenciados com um único endereço. Colocar referência de nota no final do último sobrenome do autor a quem toda correspondência deverá ser encaminhada.

O resumo e o abstract não deverão ter mais que 200 palavras, descrevendo os objetivos, metodologia usada e as principais conclusões. Não deverá conter fórmulas e deduções matemáticas.

As palavras-chave deverão ser no mínimo três e no máximo cinco.

Todos os símbolos deverão ser definidos no texto. Uma seção definida como nomenclatura deverá ser incluída com a lista e suas definições em ordem alfabética, os símbolos gregos usados e os índices dos símbolos. Cada símbolo deverá estar dimensionalmente definido no SI com unidades mencionadas. Grupos adimensionais e coeficientes devem ser definidos e indicados.

A introdução deverá conter informações direcionadas a todos os leitores da revista, e não só a especialistas da área. Esta deverá descrever o estado da arte do problema, sua relevância, resultados significativos, conclusões a partir de trabalhos anteriores e os objetivos do presente trabalho.

Materiais e métodos (metodologia). Resultados e discussões quando houver. Conclusão(ões). A(s) mesma(s) deverá(ão) ser

escrita(s) baseando-se nos objetivos da pesquisa. Agradecimentos quando houver. Referências bibliográficas. Responsabilidade de autoria.

5. Equações matemáticas As equações deverão ser indicadas em linhas

separadas do texto e iniciando-se em um novo parágrafo. Quando necessário usar toda a extensão da largura da página para edição da mesma

As equações devem ser numeradas seqüencialmente e identificadas por números arábicos entre parênteses alinhados à direita. Usar a indicação de letra maiúscula.

A referência à equação deverá ser feita, quando no corpo do texto da seguinte forma: (... substituindo-se a Eq. (1) na Eq. (2) tem-se a seguinte expressão: ...). Quando no início da frase a mesma deverá ser referenciada da seguinte forma: (A Equação (1) deverá estabelecer a relação...)

kxU

xU

uu iji

j

j

itji δ

∂∂

∂∂

ν32

+⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡+−= (1)

6. Figuras e tabelas

As figuras e tabelas deverão ser referenciadas em

ordem consecutiva e identificadas por números arábicos. As figuras e sua legenda em negrito devem ser centralizadas.

As referências às figuras e tabelas seguem o mesmo padrão das equações, referenciadas por Fig. (1) no corpo do texto ou por Figura (1) quando usada no início de uma sentença. As anotações e numerações devem ter tamanhos compatíveis com o da fonte usada no texto, e todas as unidades devem ser expressas no sistema S.I. (métrico). As figuras devem ser colocadas o mais próximo possível de sua primeira citação no texto. Deixe uma linha em branco entre as figuras e o texto.

As figuras que apresentam dados técnicos de resultados deverão apresentar um contorno sobre todos os quatro lados, com escala indicada em todos os lados.

As legendas para os símbolos usados nas figuras deverão ser colocados dentro da mesma, assim como

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também a identificação de cada curva. Os contornos deverão ser legíveis o suficiente para evitar qualquer dúvida.

Figura 1. Coeficientes de correlação das Wavelets.

As figuras que apresentam dados técnicos de

resultados deverão apresentar um contorno sobre todos os quatro lados, com escala indicada em todos os lados.

Todas as figuras e tabelas, de preferência, deverão estar em preto e branco. Figuras coloridas e fotografias de alta qualidade podem ser incluídas no trabalho. Para reduzir o tamanho do arquivo e preservar a resolução gráfica, converta os arquivos das imagens para o formato GIFF (para figuras com até 16 cores) ou para o formato JPEG (alta densidade de cores), antes de inseri-los no trabalho.

As tabelas devem ser centralizadas. Elas são referidas por Tab. (1) no meio da frase, ou por Tabela (1) quando usada no início de uma sentença. Sua legenda é centralizada e em negrito e localizada imediatamente acima da tabela.

Anotações e valores numéricos nela incluídos devem ter tamanhos compatíveis com o da fonte usado no texto do trabalho, e todas as unidades devem ser expressas no sistema S.I. (métrico). As unidades são incluídas apenas nas primeiras linha/coluna, conforme for apropriado. As tabelas devem ser colocadas tão perto quanto possível de sua primeira citação no texto. Deixe uma linha simples em branco entre a tabela, seu título e o texto. O estilo de borda da tabela é livre.

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛++⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ +−=

i

j

j

ieff

jij

ij x

UxU

xkp

xxU

U∂∂

∂∂

ν∂∂ρ

∂∂

ρ∂∂

321

(2)

Tabela 1. Resultados experimentais para as propriedades de flexão dos materiais MAT1 and MAT2. Valores

médios de obtidos em 20 ensaios.

Propriedades do compósito MAT1 MAT2 Resistência à Flexão (MPa) 209 ± 10 180 ± 15 Módulo de Flexão (GPa) 57.0 ± 2.8 18.0 ± 1.3 Deflexão máxima (mm) 2.15 ± 1.90 6.40 ± 0.25

As legendas das figuras e das tabelas não devem exceder 3 linhas. A segunda e a terceira linhas têm recuos, como mostrado na legenda da Tab. (1). 7. Referências

As referências deverão ser citadas no texto pelo último nome do(s) autor(es), ano de publicação, volume, tomo ou seção, se houver e a(s) página(s).

Quando o(s) autor(es) estiver no corpo do texto a grafia deve ser em minúsculo, e quando estiver entre parênteses deve ser em maiúsculo.

Exemplos: Quando a citação possuir apenas um autor: ...de

acordo com a literatura (FOLEGATTI, 1997, p. 72), no caso de ser feita no corpo do texto. Folegatti (1997, v.21, p.35) estabeleceu que... no caso de ser feita no início do parágrafo.

Quando a citação possuir dois autores: (FRIZZONE; SAAD, 2004, v. 12, p. 12), ou FRIZZONE; SAAD (2004, v. 12, p.12).

Quando possuir mais de dois autores: (BOTREL et al., 2004, v. 32, p. 56) ou Botrel et al. (2004, v. 32, p. 56).

Para citações do mesmo autor com publicações em datas diferentes, e na mesma seqüência, deve-se separar as datas por vírgula, (CRUZ, 1998, 1999, 2000).

Como regra geral consultar a norma da ABNT NBR 10520 – Informação e documentação - Citações em documentos - Apresentação.

As referências bibliográficas deverão ser listadas em ordem alfabética de autor e título para todo tipo de documento consultado. Como regras gerais na apresentação das referências bibliográficas considerar:

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A partir da segunda linha os dados são colocados debaixo da terceira letra da entrada;

Os vários conjuntos de elementos da referência bibliográfica devem ser separados entre si por "ponto", seguindo de um espaço;

Utilizar letras maiúsculas para: sobrenome(s) principal do(s) autor(es); nomes de entidades coletivas que são autoras; primeira palavra da referência quando a entrada é pelo título; títulos de eventos (Congressos, Encontros, etc).

Como regra geral consultar a norma da ABNT NBR 6023 – Informação e documentação - Referências - Elaboração.

Artigos de revistas PEREIRA, G. M.; SOARES, A. A.; ALVES, A. R.; RAMOS, M. M.; MARTINEZ, M. A. Modelo Computacional para Simulação das Perdas de Água por Evaporação na Irrigação por Aspersão. Engenharia Agrícola. Jaboticabal, v. 16, n. 3, p. 11-26, 1997. SPARROW, E. M. Forced Convection Heat Transfer in a Duct having Spanwise-Periodic Rectangular Protuberances. Numerical Heat Transfer. New York, v.3, p. 149-167, 1980. GONÇALVES, L. M. G.; CESAR JUNIOR, R. M. Robótica, Sistemas Sensorial e Motos: principais tendências e direções. Revista de Informática Teórica e Aplicada, Porto Alegre, v.9, n.2, p. 7-36, out. 2002. SOVIERO, P. A. O.; LAVAGNA, L. G. M. A Numerical Model for Thin Airfoils in Unsteady Motion. RBCM- J. of the Brazilian Soc. Mechanical Sciences, v. 19, n. 3, p. 332-340, 1997. Livros NÃÃS, I. de A. Princípios de Conforto Térmico na produção animal. 1.ed. São Paulo: Ícone Editora Ltda, 1989. 183 p. COIMBRA, A. L. Lessons of Continuum Mechanics. Edgard Blücher Editora, São Paulo, 1978. 428 p. Capítulo de livros ALMEIDA, F. de A. C.; MATOS, V. P.; CASTRO, J. R. de; DUTRA, A. S. Avaliação da Qualidade Conservação de Sementes a Nível de Produtor. In: HARA, T.; ALMEIDA, F. de A. C.; CAVALCANTI MATA, M. E. R. M. (eds.). Armazenamento de Grãos e Sementes nas Propriedades Rurais.

Campina Grande: UFOB/SBEA, 1997. cap. 3, p. 133-188. Trabalhos apresentados em congressos (Anais, Resumos, Proceedings, Disquetes, CD Rom) BORDALO, S.N.; FERZIGER, J.H.; KLINE, S.J. The Development of Zonal Models for Turbulence. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA MECÂNICA, 10., Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:ABCM, 1989. p. 41-44. WEISS, A.; SANTOS, S.; BACK, N.; FORCELLINI, F. Diagnóstico da Mecanização Agrícola Existente nas Microbacias da Região do Tijuca da Madre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 25., 1996, Bauru. Resumos... Bauru: SBEA, 1996. p. 130.

No caso de disquete ou CD Rom o título da

publicação continuará sendo Anais, Resumos ou Proceedings, mas o número de páginas será substituído pelas palavras Disquete ou CD Rom. Dissertações e teses DANTAS NETO, J. Modelos de Decisão para Otimização do Padrão de Cultivo em Áreas Irrigadas, Baseados nas Funções de Resposta da Cultura à Água. 1996. 125 f. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Departamento de Engenharia Agrícola, UNESP, Botucatu. MENEGHETTI, E. A. Uma Proposta de Uso da Arquitetura Trace como um Sistema de Detecção de Intrusão. 2002. 105 f. Dissertação ( Mestrado em Ciência da Computação ) – Instituto de Informática, UFRGS, Porto Alegre. WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Protocol) LISBOA FILHO, J.; IOCHPE, C.; BORGES, K. Reutilização de Esquemas de Bancos de Dados em Aplicações de Gestão Urbana. IP – Informática Pública, Belo Horizonte, v.4, n.1, p.105-119, June 2002. Disponível em: < http://www.ip.pbh.gov.br/ip0401.html >. Acesso em: set. 2002. Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DOS ARTIGOS SUBMETIDOS À REVISTA

PRINCIPIA

1) Cada artigo é avaliado por dois pareceristas. Em caso de discordância entre os pareceres o artigo é encaminhado a um terceiro;

2) Os artigos podem ser devolvidos ao (s) seu (s) autor (es) para correção (ões), por esta razão recomenda-se atenção ao texto submetido, bem como a sua formatação;

3) Recomenda-se, também, cuidado na elaboração do resumo em língua estrangeira, cuja inteligibilidade pode comprometer a avaliação do trabalho;

4) Os trabalhos são avaliados segundo os seguintes critérios:

a) contribuição científica da pesquisa;

b) desenvolvimento da argumentação;

c) organização do texto;

d) relevância da bibliografia.

5) Para cada critério serão atribuídos os conceitos - ótimo, bom, razoável e ruim - e atribuído um valor numérico correspondente - 5, 4, 3, 2,1 -, o qual indicará a publicação ou não do trabalho.