revista paraty
DESCRIPTION
Estudo do meio dos alunos do 9o ano do Colégio São Luís - 2011TRANSCRIPT
Ao Leitor
Neste ano, nosso nono e último ano do Ensino Fundamental, fomos a
Paraty, uma fascinante cidade de contrastes, onde pudemos ver a
biodiversidade litorânea do Saco do Mamanguá num dia e a riqueza da
Mata Atlântica, que cobre o Caminho do Ouro, no outro; o centro
histórico ensinou-nos sobre o passado, sobre as heranças maçônicas do
lugar, e a Usina Nuclear de Angra dos Reis mostrou-nos caminhos para o
futuro.
Ambientes tão distintos, além de nos fazer refletir sobre o destino desse
planeta tão belo que foi criado somente para nós, foram cenário para a
alegria dos últimos momentos que passaremos com a turma que nos
acompanhou por um, dois, três, até seis anos!
Porém, a água do mar vai aos poucos transformando nossos laços de
pedra, até que inevitavelmente devemos enfrentar o maremoto que finda
um ciclo e começa outro.
Em 2012 começamos o Ensino Médio e nos veremos separados, seja por
apenas um corredor, ou por bairros inteiros; mas laços fortes como pedras
não se desfazem tão facilmente: continuaremos unidos pelo amor e
companheirismo que sempre tivemos uns com os outros e as lembranças
boas de nossa viagem vão nos dar forças para encarar os desafios que nos
aguardam escada acima.
Maria Cerdeira Jorge
História de Paraty
Os alunos do 9º ano do colégio São Luís tiveram a
oportunidade de visitar, em outubro, a linda cidade
colonial de Paraty, que até hoje preserva seus encantos
naturais e arquitetônicos, sendo assim considerada um
Patrimônio Histórico Nacional.
Poder passear pelo centro histórico de Paraty é
poder entrar em outra época, onde caminhar é vagaroso
devido às pedras “pés-de-moleque” de suas ruas, e onde
é possível imaginar como seria a vida no Brasil de
antigamente. Seus casarões contornados de símbolos
com diversos significados e suas lindas igrejas deixam a
imaginação de qualquer um fluir.
A cidade foi fundada em 1667 em torno da Igreja de
Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira. Devido
aos engenhos de cana-de-açúcar, a cidade de Paraty
teve uma grande importância econômica
No século XVIII, destacou-se como importante porto
por onde se escoava o ouro e as pedras preciosas que
embarcavam para Portugal.
Entre os séculos XVII e XIX, a partir de trilhas dos
índios guaianazes, foi construído, por escravos, o
Caminho do Ouro. Essa trilha ligava Minas Gerais a Rio
de Janeiro e São Paulo. No chamado "Ciclo do Ouro",
Paraty exercia a função de Entreposto Comercial por sua
posição geográfica.
Visitar o Caminho do Ouro permite conhecer não só
uma importante obra de engenharia, mas também uma
ecologia deslumbrante e o povo paratiense com sua
cultura, seu passado e seu presente.
VÍDEO FILOSÓFICO
Nesse bimestre, estudamos em filosofia os filósofos pré-
socráticos, que tinham diferentes ideias sobre a origem do
universo. Nós nos dividimos em grupos e pudemos escolher entre 3
filósofos: Pitágoras, que achava que o universo havia sido gerado
a partir do número 1; Heráclito, que tinha o fogo como princípio
de tudo; ou os irmãos Leucipo e Demócrito, que acreditavam que
o universo começou a partir do átomo.
Em nosso vídeo, tivemos que explicar o pensamento de um
desses filósofos, relacionando-o a nossa viagem a Paraty.
Assista a um dos vídeos, acessando o link:
http://bit.ly/filo2011
Maçonaria em Paraty
A maçonaria é uma sociedade secreta que se reserva aos que
fazem parte dela. Os membros cultivam os princípios da
liberdade, da democracia, da igualdade e da fraternidade,
buscando sempre o aperfeiçoamento intelectual. Estima-se,
atualmente, que há cerca de 6 milhões de maçons espalhados pelo
mundo, sendo no Brasil 150 mil atuando em quase 5 mil lojas
maçônicas. Tradicionalmente, apenas homens podem ser maçons,
entretanto, algumas lojas e corpos-maçônicos aceitam mulheres
em sua formação.
Historicamente, o berço da maçonaria foi o Templo de
Salomão, mas o termo maçonaria, que vem do francês
maçonnerie, que significa “construção” ou “alvenaria” surgiu na
Idade Média, quando a sociedade que até então adotava apenas
pensamentos filosóficos milenares se fundiu com a dos verdadeiros
pedreiros da época. Os nobres precisavam de uma fortaleza para
sua habitação, e precisavam de alguém para construí-la, pois a
arte de construir não era o forte daquela camada da sociedade.
Utilizando-se de conhecimentos e técnicas romanas e gregas,
nasce a camada dos construtores.
Perseguida na Europa, a maçonaria migrou para o Brasil.
Durante o ciclo do ouro, alguns grupos se hospedaram em Paraty,
por estar localizada no Caminho do Ouro (de Minas Gerais ao Rio
de Janeiro). O centro histórico de Paraty foi construído com 33
quarteirões, que é o número de níveis da maçonaria, e as casas
foram feitas na proporção 1:33:33. Devido às frequentes
perseguições, as fachadas das casas e dos sobrados cujo
proprietário era maçom possuem símbolos na linguagem maçônica.
Além disso, a maçonaria foi muito influente em algumas
revoluções, como a Revolução Francesa, a Inconfidência Mineira e
até a Independência do Brasil. Hoje em dia, é apenas um grupo
secreto que busca ajudar os humanos a reforçar seu caráter,
melhorar sua bagagem espiritual e moral e aumentar seus
horizontes culturais.
Debate sobre energia nuclear
No dia 10 de novembro, realizamos um debate, na aula de Ciências,
sobre a energia nuclear. O professor separou os alunos de modo que os que
eram números pares teriam que ser contra o uso da energia, e os que eram
números ímpares, a favor. Todos levaram os argumentos, e dividimos a sala.
Foi uma experiência muito interessante, até porque algumas pessoas
que eram contra, por exemplo, tiveram que se posicionar a favor. Foi um debate
muito intenso: todos os alunos participaram ativamente, discutindo sobre o
assunto. Isso nos deu bastante conhecimento sobre as vantagens e desvantagens
do uso da energia nuclear, conhecimento que não tínhamos antes. Dava para
perceber que todos estavam interessados e queriam dar sua opinião ou, ao
menos, argumentar ou contra- argumentar.
Com o debate, conseguimos formar uma opinião sobre o assunto, e
decidir se éramos contra ou a favor, devido à quantidade de informações que
conseguimos. A energia nuclear pode ser muito limpa, de seguro transporte e
pode abastecer uma cidade toda com só um pedaço de urânio mas, em minha
opinião, acho que os riscos são muito maiores. É uma energia cara, com grandes
riscos de contaminação e doenças. Não vale a pena.
(Larissa Valente)
O charme de Paraty
A foto nos mostra que Paraty mantém seu charme colonial até os dias atuais. Entrar na cidade é como se estivéssemos voltando no tempo do Brasil Colônia, do domínio português. As ruas com influência da Maçonaria, como o compasso e o esquadro que recebem os turistas na entrada da cidade e os três cunhais de pedra lavrada nas esquinas da cidade; as calçadas formadas por paralelepípedos; as charretes que ainda transitam pela cidade, e o centro histórico, onde é proibida a passagem de carros, enriquecem Paraty.
Passear pela cidade fluminense é como ter uma ótima aula de História. Estar em um lugar que foi palco de vários acontecimentos políticos e econômicos da época em que o Brasil era colônia de Portugal, como o Ciclo do Ouro, período em que o porto de Paraty se tornou essencial para o escoamento dos minerais extraídos no sudeste brasileiro, e a chegada da Maçonaria e seus segredos, é algo privilegiado. Nenhuma outra cidade no Brasil possui tal valor histórico. Um valor que não foi destruído ou morreu com o tempo. Um valor que continua lá, vivo, para agradar pessoas do mundo inteiro.
Nas disciplinas de Matemática, Ensino Religioso e Arte, a
proposta do pós-estudo foi fazer um trabalho contendo dez fotos
tiradas em Paraty, com vista frontal das fachadas dos casarões, das
igrejas, da natureza e símbolos religiosos, nos quais podia ser
identificado algum dos três tipos de simetria (translação, reflexão e
rotação) ou, também, a razão áurea.
O objetivo principal era perceber que a matemática não está
presente somente nos cálculos, mas também em diversos momentos
de nosso cotidiano.
“Coluna Social”
Nossa colunista (incógnita e usando seus Louboutins) foi viajar com os alunos do nono ano do CSL a Paraty. Eis os destaques da viagem:
O nono ano estava andando pelo centro de Paraty, antes daquela pizzada, quando um vendedor de tranqueirinhas de praia, de dread no cabelo, estilo “pulseirinhas Jamaica da moda”, nos avisou que o ator-que-fez-o-pai-da-açucena-na-novela-e-que-ninguém-sabe-o-nome estava ali. Aí que as amadas foram ao delírio, gritaram, se jogaram, uhul! Todas se sentindo atrizes globais, né, queridas?
P.S. O ator se chama Enrique Diaz!
Aqui vem a parte chiquérrima da nossa coluna especial da semana. Pagando de ex-BBB, quatro alunos subiram na laje do iate e arrasaram ao som de funks coreanos. Apesar do mau tempo, eles puderam fazer as atividades só pra tirar foto e aparecer no EGO: pescar, fazer rede, mergulhar no meio dos peixinhos...
No último dia, e o único de descanso da viagem, os alunos acordaram cedo para aproveitar o sol na praia. Ela não era de tombo, e havia uma ilha próxima da areia, Os alunos exploradores se interessaram, e foram nadando até perto dela para descobrir o que havia lá.
Teve também aquelas que estavam se achando as amigas da Paris Hilton em cima do super IATE no Saco do
Mamanguá. Nessas condições, tem mesmo é que levantar a mão pro céu e cantar pras algas do mar.
E o famoso skatista que foi passar dias sossegados na pacata cidade, mas foi reconhecido? Não adianta, a
fama nos segue aonde vamos, gente!
Além de se divertir com os alunos, aproveitar Paraty, passear, conhecer e aprender sobre a cidade, nossa querida
professora Roberta Ramos ainda tem direito a uma loja própria, com artigos finos a preços populares.
TERROR! Esta colunista tirou uma simpática foto e, quando foi ver se estava boa, ficou bege de susto: SAMARA estava em Paraty!!!
P.S. Um conselho de amiga: não ande de Louboutins nas pedras de Paraty...
“A vida das pessoas aqui é muito difícil”
Almerindo Ricardo, de 45 anos, trabalha fazendo barcos de madeira em
miniatura desde que era criança, pois não estudou. Acredita em Deus, mas
não tem religião. Casado há 20 anos, tem 3 filhos. Ele nos conta sobre
sua profissão como artesão e o que ele acha sobre a preservação do Saco
do Mamanguá.
No caso dos moradores da cidade ou região, como sobrevivem
economicamente? Sua profissão está relacionada direta ou
indiretamente ao turismo?
A situação econômica das pessoas daqui não é muito boa, a maioria
sobrevive da pesca ou do artesanato. Como eu faço e vendo banquinhos de
madeira, os turistas sempre compram quando eu vou para a cidade.
Quais são as principais dificuldades vividas pela população local?
Existem muitas dificuldades vividas aqui, mas as principais são: a falta de
luz e a ausência de estradas. Quando chove, precisamos ir para a cidade de
barco.
Já pensou em deixar a cidade para "tentar a sorte" em outro local? Por
quê?
Penso em deixar a cidade toda hora, mas não tenho condições de fazer
uma mudança tão drástica. A vida das pessoas aqui é muito difícil.
O meio ambiente local é preservado? Você observa alguma ação do
governo para garantir uma preservação? Exemplifique.
Muitos turistas frequentam aqui, mas vejo que é um lugar bem preservado e
boa parte dessa preservação tem a ajuda do governo.
O que você pensa sobre viver tão perto de uma usina nuclear? Cite
algumas vantagens e desvantagens.
Eu vejo muitas pessoas preocupadas a respeito, pois se tiver um
vazamento, irá prejudicar muitas pessoas. Não acredito que tenha
vantagens.
Mamanguá: nosso fiorde tropical
Lugar maravilhoso, trata-se de um fiorde tropical, braço de mar
que entra em linha reta, terra adentro com 8 km de extensão e
aproximadamente 1 km de largura, com montanhas altas de ambos
os lados. O Mamanguá alcança uma profundidade máxima de 10
metros na abertura do saco. Ao fundo, encontra-se o maior e mais
conservado manguezal da baía da Ilha Grande.
Localizado ao sul de Paraty-Mirim, faz parte da área de proteção
ambiental (APA, uma unidade de conservação que tem por objetivo
conciliar as atividades humanas com a preservação da vida silvestre)
do Cairuçu. O acesso é possível de barco, o que proporciona um belo
passeio saindo de Paraty ou Paraty-Mirim, como foi feito por nós. Mas
também é possível desfrutar de longas e cansativas trilhas.
Uma das montanhas mais altas é chamada Pão de Açúcar, com
cerca de 400 metros de altura. O acesso é feito por uma trilha no
meio da Mata Atlântica, onde se pode desfrutar de toda a beleza da
vegetação nativa da região, além da vista total do Saco do Mamanguá
ao chegar ao topo.
Na década de 70, com a chegada do turismo, os barquinhos
começaram a ser comercializados. Hoje, o artesanato é
economicamente importante para homens, mulheres e jovens de
muitas famílias, como observamos um senhor, no Saco do
Mamanguá, que produzia artesanato para venda em pequenas lojas
frequentadas por turistas em Paraty. Ele nos mostrou, com extrema
paciência e educação, como são feitos os pequenos barcos. Em geral,
usa-se a caixeta, uma madeira mole da família do ipê, também
chamada de ipê-branco.
Além do artesanato, eles vivem da pesca, da agricultura e da
prestação de serviços aos turistas.
O Mamanguá já era povoado desde a época dos escravos e, até
antes disso, pelos índios guaianazes, tendo sido importante porto de
tráfico de escravos por se localizar em um ponto estratégico e
abrigado, sendo impossível ser avistado seu final da entrada. Hoje,
cerca de 120 famílias compõem uma população tipicamente caiçara:
miscigenação do índio com o negro escravo e o branco europeu. Os
"caiçaras" nos ensinaram como é a vida no Mamanguá e como eles
sobrevivem por lá.
Entrevista
“ É muito difícil sair de um lugar com o qual
estamos acostumados ”
Fomos visitar o bairro Ilha das Cobras, o segundo mais populoso de
Paraty. Um bairro simples, com pequenas casas comerciais. Encontramos a
camareira Antonia de Fátima Barros, de 48 anos, que nos contou um pouco
sobre sua profissão, sua relação com o turismo, as dificuldades da
população e sobre o meio ambiente. Divorciada e mãe de dois filhos,
Antônia também falou sobre sua posição com relação à usina nuclear.
Colégio São Luís: No caso dos moradores da cidade ou região, como
sobrevivem economicamente? Sua profissão está relacionada direta ou
indiretamente ao turismo?
Antônia: Economicamente, as pessoas daqui sobrevivem por conta do
turismo, e a minha profissão está diretamente relacionada a isso pois, como
camareira, vivo direta e diariamente essa situação.
CSL: Quais as principais dificuldades vividas pela população local?
A: O maior problema é a questão da saúde e da falta de empregos,
pois não temos muitas chances de ganhar dinheiro e viver bem. Não há
moradia para o povo também, e a higiene é muito precária.
CSL: Já imaginou em deixar a cidade para “tentar a sorte” em
outro lugar? Por quê?
A: Sim, uma vez eu tentei sair, mas não consegui, pois é muito difícil
sair de um lugar com o qual estamos acostumados, e ir para uma cidade
grande.
CSL: O meio ambiente local é preservado? Você observa alguma
ação do governo para garantir essa preservação? Exemplifique.
A: Não acho que o ambiente seja preservado, porque o governo não
ajuda em nada para garantir a preservação. Isso começou a acontecer
quando construíram a usina nuclear aqui.
CSL: O que você pensa sobre viver tão perto de uma usina nuclear?
Cite vantagens e desvantagens.
A: É horrível, pois sei que há um grande risco de doenças que podem
ser causadas, e não existe nenhuma, pois nós só podemos ser prejudicados.
Usinas nucleares: um problema a ser resolvido
As usinas termonucleares causam grande polêmica em todo mundo.
Muitos países ainda discutem se devem investir seu dinheiro nesse tipo de
usina. Apesar de todos os cuidados tomados, essa nova fonte de energia
ainda proporciona riscos à vida humana. Existem outros tipos de energia
que não têm como consequência arriscar nossas vidas.
Mesmo as indústrias termonucleares sendo construídas de maneira
completamente planejada e segura, isso não quer dizer que não possa haver
algum erro técnico, humano ou um desastre natural que resulte em
vazamento e, mais tarde, prejudique a vida humana. Tome como exemplo o
complexo nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão. As usinas nucleares mais
seguras do mundo tiveram um vazamento por conta de um terremoto
seguido de um tsunami.
Alem de poder causar risco à vida humana, as elevadas temperaturas
da água utilizada no aquecimento, que é despejada em rios, causam a
morte de ecossistemas da região, interferindo no equilíbrio do local.
Outra desvantagem das usinas termonucleares é o lixo tóxico
proveniente das mesmas. Não existe tratamento para esse lixo.
Atualmente, ele é depositado em desertos, no fundo de oceanos ou dentro
de montanhas. E se ele não for bem armazenado, pode emitir radiação,
prejudicando, posteriormente, pessoas próximas ao local.
Embora o urânio seja um combustível barato em relação aos outros, a
energia que ele produz não é renovável. Portanto, futuramente, quando o
urânio acabar, essa forma de produção de energia morrerá, e o governo
terá pago mais de 10 bilhões para a construção da usina, sendo que o
material de produção de energia se esgotará.
De acordo com Heitor Scalambrini Costa, sempre haverá riscos de
contaminação com radiação, independente se a usina funcionar
perfeitamente com um bom sistema de segurança.
Existem outros modos de conseguir energia. Portanto, será que vale a
pena arriscarmos nossas vidas por uma coisa que pode ser resolvida de outro
jeito?
Juliana de Barros e Silva