revista doctor plinio 212_201511

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7/24/2019 Revista Doctor Plinio 212_201511 http://slidepdf.com/reader/full/revista-doctor-plinio-212201511 1/36 Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 212 Novembro de 201  Excelsa e maternal  Medianeira

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Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 212 Novembro de 201

 Excelsa e maternal Medianeira

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As matérias extraídas

de exposições verbais de Dr. Plinio

— designadas por “conferências” —

são adaptadas para a linguagem

escrita, sem revisão do autor 

Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 212 Novembro de 2015

 Excelsa e maternal Medianeira

  3

Dr. PlinioDr. PlinioRevista mensal de cultura católica, de

propriedade da Editora Retornarei Ltda.

CNPJ - 02.389.379/0001-07

 INSC. - 115.227.674.110

 

Diretor: Gilberto de Oliveira

Conselho Consultivo:

 Antonio Rodrigues Ferreira

Carlos Augusto G. Picanço Jorge Eduardo G. Koury

Redação e Administração: Rua Antônio Pereira de Sousa, 194 - Sala 27

02404-060 S. Paulo - SPTel: (11) 2236-1027

E-mail: [email protected]

Impressão e acabamento: Gráfica Print Indústria e Editora Ltda

 Av. João Eugênio Gonçalves Pinheiro, 35078010-308 - Cuiabá - MT

Tel: (65) 3617-7600

SumárioSumárioAno XVIII - Nº 212 Novembro de 2015

Preços da

assinatura anual

Comum . . . . . . . . . . . . . . R$ 130,00Colaborador  . . . . . . . . . . R$ 180,00

 Propulsor  . . . . . . . . . . . . . R$ 415,00Grande Propulsor  . . . . . . R$ 655,00

 Exemplar avulso . . . . . . . R$ 18,00

 Serviço de Atendimento

 ao Assinante

Tel./Fax: (11) 2236-1027 

Na capa, NossaSenhora das GraçasIgreja dos Jesuítas,Palência, Espanha Foto: Timothy Ring

EDITORIAL 

4  Mãe da Divina Graça e da perseverança 

PIEDADE PLINIANA  5 Súplica da despretensão e do enlevo 

DONA  LUCILIA  6  Afável, flexível, acolhedora

PERSPECTIVA  PLINIANA  DA  HISTÓRIA  10 Considerações sobre o patriarcado 

REFLEXÕES TEOLÓGICAS 16 “Tu o dizes, Eu sou Rei”

DE M ARIA  NUNQUAM SATIS 18  A glória excelsa de Maria Santíssima 

C ALENDÁRIO DOS S ANTOS 26 Santos de Novembro

H AGIOGRAFIA  28 Santa Catarina de Alexandria,

 virgem heroica e grandiosa

LUZES DA  CIVILIZAÇÃO CRISTà 32 Sacralidade beneditina 

ÚLTIMA  PÁGINA  36  Mãe da Igreja e Rainha do mundo

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E d  i  t  o r i  a  l 

E

 Mãe da Divina Graça

 e da perseverança

4

DECLARAÇÃO:  Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e

 de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou

 na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm

 outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.

 streitamente unido a Maria Santíssima por meio da escravidão de amor, segundo o método de

São Luís Grignion de Montfort, tinha Dr. Plinio grande devoção à invocação Mater DivinæGratiæ — Mãe da Divina Graça —, neste mês comemorada na festa da Medalha Milagrosa.

Sobre a efígie impressa na Medalha, cuja confecção foi pedida pela própria Mãe de Deus, abaixo re-

 produzimos um profundo comentário de Dr. Plinio, relacionando-a à Contra-Revolução, à realeza de

 Maria e à graça da perseverança que deve ser almejada por cada um dos filhos da Santa Igreja:

Nós temos, numa das faces da medalha, Nossa Senhora pondo os pés sobre o mundo, na afirma-ção de sua realeza sobre toda a Terra. É exatamente essa a doutrina da realeza de Nossa Senhora que

 vem lembrada em Fátima e afirmada com uma vitória sobre a Revolução.Ela calca também uma serpente, o que está inteiramente coerente, concludente, porque desse la-do está escrito: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.”

Quer dizer, é a Imaculada Conceição. Mas não é pura e simplesmente a Imaculada Conceição,porque há aqui um atributo que não se encontra nas imagens da Imaculada Conceição como tal:Nossa Senhora está com as mãos abertas em sinal de aquiescência, de atendimento, e de suas mãospartem fachos luminosos imensos, simbolizando as graças e os favores que pelas mãos d’Ela — querdizer, pela ação e por meio d’Ela — descem sobre o mundo.

Essas graças são concedidas para a conversão dos pecadores, dos hereges, mas também para o cas-tigo dos irredutíveis e proteção daqueles que se mantiveram fiéis até o fim. São graças para a perse- verança dos fiéis. Tudo isso sai das mãos de Nossa Senhora como de um manancial.

Ela está afável, risonha, acolhedora, para todos aqueles que tendo em vista esse conjunto de fatos,de símbolos, de atributos, de noções, se dirigem confiantes a Ela, pedindo as graças de que precisam.

Vamos pedir a Nossa Senhora que, pelas graças da Medalha Milagrosa, Ela apresse o dia de sua vi-tória, de um lado. E de outro lado, também nos ajude a sermos fiéis durante todas as tormentas quese aproximam. Porque devemos nos lembrar bem disso: a perseverança é uma graça inestimável. Doque adianta ter virtudes, se depois cair no pecado?

Essa perseverança não é fruto de nossas qualidades pessoais, mas da graça que se trata de pedirhumildemente, de implorar com insistência, e à qual se trata de corresponder. Portanto, precisamospedir as graças que nos assegurem a perseverança.

Essa invocação de Nossa Senhora das Graças — ou de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa —

é particularmente eficiente na luta contra o poder das trevas, que tanto e tanto nós devemos condu-zir nos dias de hoje1.

1) Conferência de 27/11/1964.

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Ó

Súplica da despretensãoe do enlevo

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PIEDADE PLINIANA

Maria, Esposa Imaculada do Espírito Santo, dai-me a graça de ver osimponderáveis da Criação, de me enlevar por eles, e de ser impelidopor um amor desinteressado à contemplação das perfeições que a alma

humana possui pela natureza e pela graça.Fazei-me subir dessa consideração à da natureza angélica e puramente

espiritual, e, por fim, à de vosso Divino Filho que, na sua humanidadesantíssima, é o ápice e a síntese de toda a Criação.Fazei-me, em seguida, por um voo ainda mais possante de despretensão e de

enlevo, fixar a minha mente na consideração da própria essência divina, daqual toda a Criação é imagem ou semelhança, de maneira que, analisando de-pois as criaturas, possa antegozar o Céu, preparando-me desse modo para en-trar nele e Vos louvar por toda a eternidade. Amém1. v

1) Composta por Dr. Plinio em 5/1/1973.

   A  r  q  u   i  v  o   R  e  v   i  s   t  a

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DONA LUCILIA

 Afável, flexível,acolhedora

N  

6

a capela de Versailles, como em muitas igre- jas, há um espaço entre o altar e a parede. Orei mandou fazer ali um nicho com uma ima-

gem do Sagrado Coração de Jesus, e os nobres que ti-nham devoção iam lá rezar.

Ornato despretensioso, mas ardorosoMarcou tanto a família real esta devoção, que Luís

XVI fez uma consagração da França ao Sagrado Cora-ção de Jesus, quando ele estava preso no Templo, prome-tendo reiterá-la, caso fosse posto em liberdade.

 A fórmula dessa consagração conserva-se até hoje.No século XIX, houve Santos e outros fiéis não ca-

nonizados — Sóror Josefa Menendez está neste caso —que praticaram insignemente a devoção ao Sagrado Co-ração de Jesus.

Neste contexto com todas essas glórias, Dona Lucilia

entra como um ornato despretensioso, mas ardoroso.Ela assistia às Missas dominicais na Igreja do Cora-ção de Jesus, onde rezava muito concentrada, mas semcarranca, como certas flores que se fecham — não seamarram — à noite, e depois se abrem. Assim faziaela.

Terminada a Missa, ela se dirigia à imagem do Sagra-do Coração de Jesus, e ali fazia longa oração, com osolhos fitos na imagem, e numa espécie de diálogo. Nãoque mamãe tivesse a ilusão de que Ele estava falandocom ela. Mas ela dizia coisas a Nosso Senhor, e intuía o

O conjunto das qualidades de alma de Dona Lucilia,

as quais não eram antitéticas, mas quase paradoxais,ela hauriu na devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

que Ele responderia. E assim, diálogo imaginário, massuponho que fosse um diálogo dela com a graça que Eledava. Sem nada de místico, ao menos nunca notei, nemfui levado a suspeitar que houvesse.

Eu notava muito como mamãe hauria nessa devoçãoas disposições de alma que a caracterizavam, e quão lar-

gamente essa devoção foi ocasião para ela adquirir ouaperfeiçoar as virtudes que tanto amei nela, e cujo con- junto eu notava como uma espécie de graça, no ambienteda Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Elevação de alma, porém amandoa realidade concreta

Era a conjunção de qualidades, evidentemente nãoantitéticas — porque não há antítese entre uma qualida-de e outra —, mas seriam quase paradoxais.

Primeiramente, uma grande elevação de alma, de ma-

neira que o espírito dela não somente se reportava commuita facilidade a regiões mais altas, mas morava nessasregiões.

Contudo, ela era o oposto de uma sonhadora, de umamera teórica, de uma pessoa que vive enleada em pre-ocupações sem base na realidade. Pelo contrário, Do-na Lucilia estava inteira e singelamente dentro da mo-desta realidade dela, cuidando de tudo, arranjando tu-do, amando essa realidade concreta e participando da vi-da intensamente, embora seu espírito pairasse nessa es-fera mais alta.

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Por exemplo, ela era uma excelente dona de casa, eprestava atenção nos últimos pormenores: se uma florestava murcha num vaso e a empregada tinha se esque-cido de jogar fora; se embaixo de uma estante não ha- via uma poeira acumulada; enfim, de todos os detalhesnos quais uma dona de casa cuidadosa, esmerada prestaatenção, ela cuidava de modo perfeito.

 Solicitude e bondade

 Ao mesmo tempo, ela trazia consigo uma atmosferade recolhimento, dando a entender que seu espírito ha-bitava dois planos completamente distintos, porém cor-relatos.

Nos mais antigos agrados que mamãe me fazia, eu no-tava muito isso e me deleitava. Sentia-me muito frágil,quando criança. Percebia a minha fraqueza, o meu nada,

e como ela se voltava para essa fragilidade com uma do-çura enorme, entrando, por assim dizer, na minha con-dição, participando das minhas limitações, e pondo tudoquanto era dela a meu alcance para atenuar e dar solu-ção aos efeitos dessas limitações.

Entretanto, eu sentia que essa carícia, penetrando tãofundo em mim, vinha muito do alto no espírito dela. Àmaneira de senhora — não sei se ela seria capaz de des-crever, pois a alma feminina sente muitas vezes essas coi-sas sem saber explicitar —, havia toda uma consideraçãoa respeito da bondade de Deus, infinita, mas condescen-dente, que vai até os últimos pormenores: olha a ovelhi-

nha, presta atenção na galinha, agrada a criancinha e me-dita sobre o lírio do campo… E quanto mais desce, maisdoce se torna.

Quando fiquei mais velho, fui capaz de explicitar cor-relações dessas. Eu percebia bem que a imagem do Sa-grado Coração, que há na igreja d’Ele — aliás, artistica-mente comum, sulpiciana —, queria dar a entender es-sa forma de solicitude e de bondade do Sagrado Cora-ção de Jesus.

Lendo a mensagem d’Ele a Santa Margarida Maria Alacoque e vendo a vida cotidiana de Nosso Senhor, des-crita no Evangelho, encontra-se muito isso também. E

na imagem que há no oratório do quarto de mamãe essaideia está muito presente.

 Aplicação e distensão

Outra harmoniosa antítese, menos saliente do que aanterior, era um misto de aplicação e de distensão.

Nunca na vida encontrei Dona Lucilia tensa. Possotê-la visto muitas vezes aborrecida, aflita, inclusive naperspectiva de infortúnios, porém tensa propriamentenão.

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DONA LUCILIA

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Lembro-me de ter notado muito isto num pequenoepisódio que, aliás, para ela não era tão insignificante.

Eu tinha 21 anos, mais ou menos, quando fui fazeroperação de amígdalas. E combinamos em casa de nãocontar a ela, porque ficaria preocupada. Eu mesmo iaum tanto apreensivo fazer esta cirurgia — que de si é in-significante —, porque na véspera fora visitar o Arcebis-po D. Duarte, para tratar de um assunto qualquer refe-rente ao apostolado, e comentei com ele:

— Senhor Arcebispo, vou passar alguns dias fora, por-que farei operação de amígdalas, mas quando voltar tele-fonarei ao seu secretário para saber se há algo de novo…

Ele então me disse:— Vosmecê vai fazer essa operação?— Vou, Senhor Arcebispo, está marcada para ama-

nhã.— No seu lugar eu não faria…

— Mas por quê?— Porque, não se diz por aí, mas essa operação ofere-ce perigos eminentes…

— Mas qual é o perigo, Senhor Arcebispo?— Basta simplesmente vosmecê ter uma hemorragia.

Conheço um caso em que esguichou sangue até o teto! Afinal conseguiram fechar qualquer coisa lá, e parou ahemorragia. Mas, nem sempre se consegue…

Notei que ele realmente não queria que eu fizesse acirurgia. Porém a disciplina eclesiástica não chega atélá... Eu estava mesmo propenso a fazer, e fiz.

Combinei com um médico, membro de minha família,

que ele assistiria à operação e, quando esta terminasse,ele iria para minha casa e avisaria Dona Lucilia. E as-sim foi feito.

Quando ela entrou em meu quarto, no hospital, acari-ciou-me muito e, depois de se certificar de que eu estavabem, sentou-se e me contou como tinha sido a comunica-ção da minha cirurgia para ela.

Notei que ela estava na pós-aflição e, portanto, aindameio traumatizada pelo caso. Tensa, nada! Não tinha ti-do tensão alguma. Quer dizer, precisava acontecer, acon-teceu, Nossa Senhora ajudará. Se acontecer o pior, ain-da assim se vive.

 A atitude diante do infortúnio marcava nesse ponto a vida dela, enormemente!

Bela e nobre bruma de melancolia,mas sempre de bom humor 

Ela nunca estava com o espírito dissipado, ocioso,mas sempre meditando, pensando, considerando, lem-brando, ponderando. Entretanto, jamais a vi tensa, can-sada ou prejudicada por essa contínua aplicação do es-pírito.

 Às vezes, julga-se que pensar cansa. Depende de co-mo se pensa. Quando isso é feito sem amor-próprio, poramor a Deus, o pensamento não causa cansaço.

Embora Dona Lucilia pudesse ser considerada um ar-quétipo da sofredora, era o contrário da pessoa aflita.

Surgia daí outro paradoxo: ela trazia no fundo doolhar, em todo o seu modo de ser, uma bela e nobre bru-ma de melancolia; porém, estava sempre de bom hu-mor. Continuamente afável, flexível, disposta a acolher,a atender, a renunciar a sua própria vontade para fazera de outrem, a ouvir o que o outro queria contar, ao in- vés de ela falar.

Se analisarmos as promessas do Sagrado Coração deJesus a Santa Margarida Maria Alacoque veremos se-rem, evidentemente, de uma seriedade infinita; mas to-das elas visam à distensão. Procuram resolver, aclimatar,ajudar, e são ditas de modo distensivo e bondoso. Poder-

-se-ia dizer que são as doze promessas da confiança e dobem-estar de alma, dentro da aflição.

 Serenidade majestosa de Nosso Senhor 

Dona Lucilia queria muitíssimo bem a sua mãe e erauma filha muito zelosa e dedicada. Quando minha avómorreu, cheguei em casa e, depois de rezar um pouco junto ao corpo, lembrei-me logo de mamãe e fui vê-la.

Encontrei-a no quarto, toda vestida e deitada na ca-ma, com uma postura na qual eu nunca a tinha visto na vida: meio largada. Não como uma pessoa esparramada,

que se entregou, mas com a atitude de uma ovelha queaceita ser morta, se for preciso.Recordava aquela tranquilidade sublimíssima de Nos-

so Senhor Jesus Cristo, representada na iconografia ca-tólica, até na Crucifixão e na Morte.

Na Paixão, Nosso Senhor Jesus Cristo é apresentadosempre aflito, é claro, mas nunca agitado, inquieto. Mes-mo no Horto das Oliveiras, a calma d’Ele é completa,dentro de uma tristeza insondável.

O fato de os Apóstolos estarem dormindo, tornava oisolamento ainda mais dramático, a tragédia mais pun-gente, e a aflição mais dilacerante; e, com isso, mais au-

gusta a calma d’Ele.Tenho a impressão de que a cada uma das idas de Je-sus em busca dos Apóstolos, Ele estava mais aflito doque na vez anterior. Não obstante, em todas as três vezesEle foi com o passo lento, fazendo a pergunta quase ritu-almente, porque já sabia qual seria a resposta. Ao voltar,carregava o fardo e a dor de mais uma recusa.

Este ato de Se ter retirado só, para pesar tudo o que vinha, indica muito esta calma. O tenso, neurótico, fugi-ria dessa perspectiva de todos os modos. Ele, entretanto,a enfrentou!

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 A serenidade d’Ele está indicada tam-bém na conduta com os que O foramprender. Até com Judas!

É uma serenidade, antes de tudo, ma- jestosa. Percebe-se — outro paradoxo! —que é um Deus que está sofrendo.

Calma extraordinária deDona Lucilia diante da morte

 Além da majestade, nota-se o “absolu-to” da dor, se assim se pudesse dizer. Nãohá dor absoluta, mas a dor de Nosso Se-nhor era a mais parecida possível com aideia de uma dor absoluta. Não faltou na-da para que Ele sofresse inteiramente. Obrado d’Ele no alto da Cruz: “Meu Deus,

meu Deus, por que Me abandonastes?!”,é um brado carinhoso, não de revolta.Isso forma um todo em Nosso Senhor

Jesus Cristo, e esse todo parecia refletir--se em mamãe de modo muito marcante.

Por fim, a atitude de Dona Luciliadiante da morte. Ela foi envelhecendoe, portanto, afundando dentro da morte,com uma calma extraordinária!

Na véspera de seu falecimento —quando ela já havia recebido a Extrema--Unção, e era impossível que não notasse

estar próxima a morte — eu ainda vi es-ta cena. Aconteceu algo que de vez em quando

se dava com ela, e que a fazia sofrer. Masnessas ocasiões ela sempre tinha um ges-to de paciência, como quem diz: “Deusarranja depois.”

E isso que ocorreu inúmeras vezes aolongo de sua vida, repetiu-se nas vésperasde sua morte, e até de um modo particu-larmente desagradável.

O gesto, que outrora queria dizer:

“Não agravemos isto por uma reação,porque ainda se pode arranjar depois...”,repetido por ela, já encostada na morte,significava: “Bem, resta-me um quê de vi-da, talvez; não quero comprometer pornada este momento.”

Por fim, ela teve a morte da católicacalma: fez um grande “Nome do Padre” emorreu! v

(Extraído de conferência de 14/6/1985)

   J  o   ã  o   D   i  a  s

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Considerações sobreo patriarcado

U

PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA

10

O patriarca: figura tão importante e tão presente ao longo

da História, cujo valor passou a ser menosprezado com o

avanço do processo revolucionário.

ma pessoa poderia olhar para um cedro doLíbano sem muita atenção. Ela não percebe-ria bem ter aquele vegetal uma arquitetonia,

um desenho que poderia ser comparado quase a um bai-lado imóvel de folhas.

O cedro do Líbano, cantado  pela Sagrada Escritura

O cedro possui uma elegância, uma distinção, umaclasse, uma “sabedoria”, uma superioridade em relação

ao chão, eleva-se do solo para o céu e dá quase a impres-são de quem diz:“Eu, cuja semente germinou nas profundezas obscu-

ras da terra, elevei-me tão formoso pelos ares que passeia ser uma beleza integrante do céu. Olhai para meu tron-co, é uma robusta coluna a penetrar corajosamente ter-ra adentro! Porém, não renego o meu passado. Se é ver-dade que enfrento tantas tempestades, tantos vagalhões,e refuljo de tal maneira aos sóis mais causticantes e, naminha longevidade clássica e mais do que secular, desa-fio os homens — pois posso dizer a quem acaba de me

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 Aclamação de Dom Pedro I no Campo de Sant’Ana, Rio de JaneiroBiblioteca do Congresso, Washington, EUA

   L   i  m  o  n  g   i   (   C   C .

   3 .   0

   )

plantar: ‘Durarei mais do que tu’ —; entretanto, é verda-de também que tudo isso estava contido numa sementeinicial, que encerrava dentro de si toda a minha beleza,toda a minha longevidade, toda a minha dignidade. Tu-do quanto em mim é feito para a luz germinou nas obs-curidades do chão. E eis-me altaneiro, acima de todas asconstruções circunvizinhas, e mais venerável do que mui-tos que se abrigam à minha sombra. Quem sou eu? Souo cedro do Líbano, cantado pela Escritura, obra de Deuslouvada pelo próprio Deus.”

Se um cedro desses pudesse pensar, e se fosse possí- vel um agricultor experiente meter a pá na terra e, alcan-çando o bulbo originário, separá-lo sem dano para a pró-pria árvore, e apresentá-lo ao cedro, este a quem nenhu-ma tempestade conseguira quebrar, espontaneamente seinclinaria até o chão diante de sua origem.

Poderíamos imaginar o que diria o cedro ao supos-

to bulbo do qual ele nasceu: “Ó patriarca, tu és a minhacausa! Tu continhas em ti mesmo tudo aquilo de que soua explicitação!”

Se é bonito o efeito que se desdobra, como ele é be-lo enquanto dorme obscuramente na causa! Portanto, seé pulcro ser cedro do Líbano, que glória ser um pequenobulbo cujo cerne contém latente todo esse futuro!

Em vista disso, a pequena semente poderia exclamar:“Ó Koh-I-Noor, diamante magnífico da coroa dos reis

da Inglaterra, todos os homens te admiram; mas se eles tecomparassem — carbono inerte, realmente transparente emuito formoso — comigo, bulbo do qual nascerá um cedro,

como compreenderiam que sou superior a ti! Tu refletesuma luz, que de ti não nasce, e a projeta para longe; eu façomais: recebi a vida e a prolongo, es-tendendo para os ares uma vitalida-de que está dentro de mim.”

Obra-prima da unidadena variedade

Estas considerações ilustram bemo que é o Patriarcado. “Patri” vemdo latim, pater : pai; “arca”, do gre-

go, arkhē : governo, domínio. É aautoridade recebida pelo fato deser pai, e exercida paternalmente.

Os mais antigos patriarcas eramaqueles pais dos quais procediauma numerosa descendência: fi-lhos, netos, bisnetos, e assim pordiante, fortemente unidos, porqueo velho varão, à maneira do cedrodo Líbano, estava como denomina-dor comum entre eles todos, afir-

mando aquilo que eles tinham de singular, impedindo queessa característica se dispersasse na pluralidade rica daspersonalidades, e fazendo assim com que a família não sedesfizesse, mas continuasse una, nele e por ele, porque ca-da membro encontrava no patriarca o ponto comum comtodos os outros. Assim, ele ligava entre si não somente osfilhos de uma mesma geração, mas os descendentes de ra-mos distintos e longínquos da família, durante várias ge-rações, porque ali estava o patriarca que vivia centenas deanos até que, afinal, para ele viesse a decadência das for-ças físicas e o sinal de que a morte o iria levar.

Ele, então, já teria deixado na alma de cada um deseus descendentes, a quem ele formara, as suas própriasmemórias, imprimindo nelas algo ao mesmo tempo co-mum a todas, mas contendo uma palavra inefável e pró-pria para cada uma.

Realizava-se, assim, a obra-prima da unidade na varie-

dade, que consagra o patriarcado verdadeiro. Nada de es-tandardizações, nem de pluralidades e diferenças anárqui-cas entrechocando-se como bodes e cabritos no pasto; masa multiplicidade bem ordenada que vemos brilhar tanto emdeterminados cedros do Líbano, ao espalharem em todasas direções seus galhos, cuja simetria nos recorda que cadaramo é mais belo pelo fato de haver outro — análogo, masnão idêntico — simétrico a ele, no sentido oposto.

 A família se expandiu de tal formaque dela nasceu um povo

 Assim se multiplica a família patriarcal: a mesma re-ligião, a mesma língua, os mesmos tipos físicos que lem-

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA

   L  u   i  z   C  o  e   l   h  o   (   C   C   3 .   0

   )

Monumento àIndependência do Brasil

São Paulo, Brasil

bram a unidade da estirpe dentro da pluralidade dos ros-tos individuais; surgem os subpatriarcados, pois de taldescendente nasceu tal outra estirpe... O patriarca repre-senta o gênero, enquanto os que nascem dos subpatriar-cas representam as espécies.

Imaginemos, nos tempos em que vigorava o estado denomadismo, o amanhecer no acampamento dessa nume-rosa descendência. Aos primeiros reflexos do Sol, é o pa-triarca quem antes se levanta. Com sua longa barba e ca-belos brancos, vestindo uma alva túnica, deixa sua tendae, dentro da penumbra que precede a aurora, faz soar atrombeta feita de um longo chifre vazado. Saúda assim amanhã, vê as tendas começarem a se mover, e delas saí-rem os filhos, os netos, os bisnetos... Também os animaisdespertam, e por todo o acampamento manifesta-se a vi-talidade. O patriarca olha, reza e abençoa.

Deus, que criou o patriarca como um símbolo visível

de Si mesmo, atende sua prece e cobre com sua bênçãotoda a estirpe, todos os animais e os campos que se es-tendem até os confins por aonde aquela família vai se ex-pandir.

Família? Não é só isso. Cresceu tanto que já é um po- vo a nascer.

Patriarca? Sim, mas já não apenas pai. Ele está à tes-ta daquilo que se encontra na transição entre uma famí-lia e uma nação. Algo da majestade real se faz venerar nasua velhice. Algo do direito de mandar, tão característi-co da realeza, reluz na sua causalidade, ou seja, naquelapropriedade pela qual ele é a causa e por onde esta tem o

domínio sobre o efeito.

Domínio por um direito, porque criou, porque fez,porque gerou. Domínio também por uma necessidade,porque quem construir sem tomar em conta essa pedrade ângulo dispersa, faz o caos, a desordem.

Quando as tribos que descendem de um mesmo chefe vão se tornando uma nação, e o patriarca recebe de seusfilhos, em determinado momento, um diadema, ou mes-mo uma simples faixa dourada para cingir a sua fronte, asensação de todos seus descendentes será de, afinal, terchegado algo que já estava demorando.

O patriarca comanda na guerrae oferece o sacrifício na paz

Do ponto de vista humano, a História é tecida na me-dida em que seus agentes — os quais são todos os sereshumanos — estão sôfregos por dar o passo seguinte nu-

ma linha ascensional. Assim, cada grupo humano com vi-talidade quer transpor as diferenças que o separam doestágio seguinte. A tribo que anseia por ser uma naçãoreverencia seu passado, quando ela era uma mera famí-lia, e guarda essas recordações com emoção, tendo en-canto em dizer: “Nós somos uma família.” Mas o seu ver-dadeiro entusiasmo é quando ela, tomando as propor-ções de uma nação, pode dizer olhando para o seu pas-sado: “Esta é uma família contente em ser, hoje, uma na-ção; mas ela tem a alegria em ter sido, outrora, uma fa-mília.”

Uma nação que se desenvolve assim pratica a soma

das idades. Ao passar de família ao estado intermediá-

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   R  e  p  r  o   d  u  ç   ã  o

R  e   p  r  o  d   u  ç  ã  o  

Quando se vem de um

longínquo passado,têm-se elementos paracompreender por ondecorrerá o longo futuro.

Igreja de Nossa Senhorado Carmo e

sepultura dos irmãos AndradaSantos, Brasil

rio, chamado tribo, ela levou consigo todas as recorda-ções de sua infância.

O patriarca tem todo o amor paterno e o amor filial,toda a influência e a capacidade de mando pelo afeto,pelo amor à ancestralidade, que caracteriza o seu podernascente. Ao passar a ser o chefe de uma tribo, ele é tam-bém um guerreiro. Em certos povos pagãos, ele é o gran-de sacerdote também. Portanto, é ele quem comanda naguerra e oferece o sacrifício na paz; é o pontífice único

ou principal daquele estado intermediário.

Dom Pedro I foi o patriarca do Brasil 

Normalmente, quando aquele grupo humano torna--se uma nação, o sucessor do patriarca será o rei, con-densação de todo o patriarcado e de toda a era familiaranterior. No corpo do rei bate o coração de um pai, nasua fronte reluzem os grandes desígnios de um rei. Suasmãos empunham a espada e a lança em tempo de guerra,e ele é o primeiro no risco; mas em tempo de paz, na ho-ra do sacrifício, são as mãos dele que se juntam para re-

zar, para oferecer a vítima.Como tudo isto é belo! Como tudo isto tem uma po-tencialidade magnífica! É a soma das idades, praticadapelas nações.

Quando um povo é atento, em todos os lances de sua vida, a praticar essa soma das idades, dentro dele nasceuma série de “patriarcalidades”. Por causa disso, os ho-mens que fundam uma nação podem não ser, no sentidogenealógico, os patriarcas dela, mas quando vamos ver areverência prestada a um fundador, notamos que o paíso constituiu numa espécie de patriarca.

No local onde se proclamou a independência do Bra-sil, foi feito um grande monumento representando o en-tusiasmo, a união, o devotamento de todos os Estadosbrasileiros pelo Imperador D. Pedro I e sua esposa, a Im-peratriz Dona Leopoldina, porque ele, declarando a in-dependência, foi o patriarca, fundou esta nação.

Em Santos, a sepultura dos irmãos AndradaEstando certa vez com um grupo de amigos em San-

tos — eu era ainda moço —, e tendo ouvido falar que osrestos mortais dos três irmãos Andrada, os quais tiveramtão importante papel na proclamação da independênciado Brasil, jaziam em Santos, manifestei o desejo de ir vi-sitar essa sepultura.

Meus companheiros não compreendiam isso, e medisseram:

— O que você quer fazer lá?

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PERSPECTIVA PLINIANA DA HISTÓRIA

   H   O   W   I   (   C   C

   3 .   O

   )

Relicário de Carlos MagnoCatedral de Aachen, Alemanha

— Quero reverenciá-los — respondi. Sei que foramhomens lúcidos, inteligentes. Embora eu poderia nãoconcordar com muitas ideias liberais deles, orientaramtão bem alguns primeiros passos do Brasil, que se temquase a impressão de terem espargido sua inteligênciapor toda a Nação, comunicando algo da rutilação do es-pírito de um José Bonifácio, por exemplo, à inteligênciado povo brasileiro.

 A sepultura dos três Andrada está na Igreja do Car-mo, em Santos, numa pracinha, perto do cais. São du-as igrejas geminadas — da Ordem primeira e da Ordemterceira —, muito pitorescas, com estalas lindas, com umoratório que data ainda do tempo de Felipe II, quandoele era Rei do Brasil. Todas essas circunstâncias levavam--me a venerar aquilo tudo.

Pedi, então, ao porteiro do convento que me indicassea sepultura dos irmãos Andrada.

Considerando o grande papel que desempenharamna fundação do Brasil, eu supunha encontrar um monu-mento magnífico, feito para receber seus restos mortais.Qual não foi minha estranheza ao ver apenas uma espé-cie de sala com a sepulturadentro.

 A noção de patriarcalida-de vai se perdendo...

 Aquele que teve a missãode fundar e, com ela, as gra-ças ou mesmo os meros favo-res e dons naturais concedi-

dos pela Providência para tera criatividade e impulsionar,merece da parte daquilo porele fundado o mesmo respei-to que o cedro do Líbano te-ria em relação ao velho bulbodo qual ele brotou.

Carlos Magno: o  patriarca do qualnasceu a Europa

 As sociedades antigas nãoconheciam certas deforma-ções que as sociedades mo-dernas experimentam, porqueelas eram atentas a essas uni-dades. Assim, por exemplo, ascaracterísticas regionais emum país eram muito definidasantigamente, e nessas regiõeshavia um grande número defamílias, de todas as classes

sociais, que podiam dizer ao longo de quantas gerações sehavia exercido tal profissão, e que sabiam mais ou menosqual era o primeiro da família a ter iniciado aquele ofício.

Na França, por exemplo, havia uma família que, com-provadamente, descendia de lenhadores do tempo deCarlos Magno. Era uma estirpe mais antiga, enquanto le-nhadores, do que a linhagem real, como monarcas. Essafamília era organizada à maneira patriarcal: todos os ra-mos se conheciam, tinham reuniões e havia um descen-dente do ramo primogênito que exercia uma grande in-fluência, era muito venerado e tinha uma espécie de di-reção geral de toda a parentela.

Todos os anos, quando chegava o aniversário dele, orei mandava soldados de cavalaria levar-lhe uma mensa-gem de felicitações.

Considero esta atitude, antes de tudo, fruto de umalinda disposição de alma. Mas, se não fosse isso, seria em

todo caso um gesto genial, porque assim a própria mo-narquia francesa manifestava, de um modo vivo, que elase alegrava por aquela família vir de um tempo anteriora ela. Embora a família real francesa seja, talvez, a di-

nastia mais antiga da Europa,ela se gloriava em perpetuar,por uma continuidade efeti- va e verdadeira, um passadoanterior a ela, que vinha dosdesígnios e do heroísmo deCarlos Magno.

Proceder de Carlos Mag-

no, a qualquer título, quemaravilha! Aquele é o bulbo,é o patriarca do qual nasceua Europa!

Um exemplo de”despatriarcalização”

Havia antigamente, em re-lação aos pais, aos fundado-res, uma atmosfera de respei-to, de veneração, uma ten-

dência à aglutinação em tor-no deles, à obediência, quecaracterizava uma ordemde coisas estável, tranquilaa olhar com serenidade pa-ra o futuro, porque, não ten-do perdido a memória dosséculos anteriores, as pesso-as conservavam uma espéciede bússola que lhes indicavaqual era o porvir.

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   L  e  c  e  n   (   C   C   3 .   0

   )

Quando se vem de um longínquopassado, têm-se elementos para com-preender por onde correrá o longofuturo. Isso é muito importante. Hojese fala de futurologia. Tenho vontadede dar risada: “Fale de tradição!” Sealguém quiser, por exemplo, ser umbom brasileiro e prever o futuro doBrasil, é conveniente fazer estudos,mas não lhe adiantarão grande coi-sa se não entender a Torre de Belémdo velho Portugal, do qual nos gloria-mos de descender. Sem essa noçãodas raízes, fracassará.

Com a Revolução Industrial, essaunidade de origens foi fragmentada.Por exemplo, no século XIX aldeias

suíças inteiras migravam para os Es-tados Unidos; contratavam compa-nhias de navegação e embarcavam,tendo à frente o vigário com o estan-darte do Padroeiro da paróquia. Aaldeia ficava fechada e vazia...

Quem não compreende que houve uma “despatriarca-lização” ali? Uma extirpação de raízes, algo que deveriater sido diferente.

Barulho que ”blasfemava” contra a natureza

Em menino, eu costumava ir a uma fazenda no inte-rior de São Paulo, perto da qual passava uma estrada deferro. Devido à grande quantidade de montanhas na re-gião e à dificuldade para túneis, os trens davam muitas voltas por aquelas paragens, até chegar ao seu destino.

Então, na sede da fazenda onde eu estava, ouvia-se delonge o silvo do trem que tocava, rasgando o silêncio datardinha. Dez, quinze minutos depois, aquele apito se fa-zia ouvir de outro lado. Eu ficava desagradado e aflitocom aquilo. “Por que esse barulho? Por que rasgar de ummodo tão indiscreto e estúpido, por assim dizer sem pedirlicença, o augusto silêncio desta noite que vai descendo?”

Em determinado momento, o trem passava em fren-te do terraço de minha fazenda. E, mentiroso como é oprogresso moderno, para quem estava do lado de fora, o veículo dava a impressão de um palácio. Os trens naque-le tempo eram diferentes dos de hoje: muito mais orna-dos, com cortininhas nas janelas, tinha-se a impressão deum palácio feérico que ia levando uns privilegiados, a to-da velocidade, para a cidade onde um futuro também fe-érico os aguardava.

Quando o trem acabava de passar, deixava a sensaçãode um conto de fadas que, depois de ter feito barulho

e deitado faíscas, dizia: “Eu te darei um futuro deslum-brante se romperes com esta calma, com este silêncio,com esta patriarcalidade, e entrares nas minhas asas deferro. Eu te levarei para a cidade, na qual serás um anô-nimo, mas onde um torvelinho delicioso te fará esquecerdo teu passado e te embriagará de uma glória que eu teprometo, se tu fizeres força. Faze força e serás um anô-

nimo montado em milhões. Não terás um passado, maspossuirás dinheiro!”E eu pensava: “Estou vindo da cidade. Conheço es-

se trem. Andei dentro dele com horror, detestei suas sa-colejadas, abominei as fagulhas que ele deita, consulteio relógio inúmeras vezes para ver quando acabava a via-gem! Vim para o campo com vontade de encontrar es-ta tranquilidade, e volto à cidade aborrecido por ter quedeixá-la. Abomino a mentira desse trem ‘blasfemando’contra a natureza. Ele é falsidade com asas de ferro, le- vando para uma aventura que é uma loucura. É a mor-te da sabedoria. Nesse corre-corre, nesse desvario, não

há continuidade, não há pensamento, não há calma, nãohá tradição. E onde não existe nada disso não pode haverfuturo. Há transformações. Mas, cuidado: transformaçãonão é sempre futuro. Transformação pode ser decadên-cia, pode levar facilmente para a morte!”

Eram essas as considerações que, no meu tempo deadolescência, eu fazia para diferenciar-me e defender omeu direito de não ser conforme à Revolução, de quereroutra coisa e de caminhar para outro rumo. v

(Extraído de conferência de 28/12/1985)

Estação ferroviária de General Carneiro, Minas Gerais,em fins do século XIX

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REFLEXÕES TEOLÓGICAS

“Tu o dizes, Eu sou Rei”

N  

16

Presente em todos os sacrários da Terra,

Nosso Senhor Jesus Cristo exerce uma realeza efetiva

sobre toda a História, por meio da Santa Igreja

Católica Apostólica Romana.

tolos, rejeitado pelo povo eleito, sentado sobre um ban-

quinho ou uma pedra qualquer e levando bofetadas,mantém Ele a mansidão de um Cordeiro com a altaneriade um Leão e a dignidade de um Rei em seu trono, nummisto de dor lancinante e de triunfo, que O acompanha-rão até o Calvário.

Do alto da Cruz, pouco antes de morrer, como umRei que premia um herói, Ele reabilita um ladrão e ca-noniza-o, dizendo: “Hoje, tu estarás comigo no Paraíso!”

 Assim é a vida do católico, a vida da Igreja: cheia dehumilhações e de vitórias. Humilhações tão profundasque se diria nunca mais poder reerguer-se delas; vitóriastão grandes que julgaríamos irreversíveis.

Entretanto, como uma nau que navega levada pelasondas a alturas e profundidades vertiginosas, assim abarca de São Pedro vai percorrendo a História: com to-das as honras, mas também com todas as dores e humi-lhações de Cristo coroado.

Três espinhos dessa coroa sagrada foram parar emmãos de São Luís IX, Rei de França, que para abrigá-losdevidamente mandou construir um dos mais belos monu-mentos da arte medieval e, portanto, de toda a História:a Sainte-Chapelle, verdadeira caixa de cristal com ner- vuras de granito, onde se celebra o Santo Sacrifício.

Um Reino que não é deste mundoSim, Nosso Senhor Jesus Cristo é verda-

deiramente Rei, antes de tudo por ser EleQuem é: o Verbo de Deus encarnado.Deus é Rei, porque é Deus! Logo, JesusCristo é plenamente Rei por sua divin-dade. Se houve, portanto, alguém dig-no deste título na Terra, este foi, con-tinua a ser e será Ele, até o fim domundo.

    G    u   s

    t   a    v   o

     K

osso Senhor Jesus Cristo foi ora aclamado, ora

ridicularizado como Rei, coroado de espinhose, por fim, no alto da Cruz onde Ele foi imo-lado colocaram a inscrição: “Jesus Nazareno, Rei dos Ju-deus.” O que havia de autêntico na realeza d’Ele, e quala relação de sua Paixão com essa realeza?

Realeza incompreensível para os ímpios

Interrogado durante a Paixão, por Pôncio Pilatos, so-bre se Ele era rei, Nosso Senhor Jesus Cristo respondeu:“Tu o dizes, Eu sou Rei.”

Entretanto, pouco antes Ele afirmara que seu Rei-

no não é deste mundo. Declaração incompreensível pa-ra aqueles bandidos que O atacavam. Do que adianta serrei para não o ser deste mundo? Há fora deste mundoum reino no qual se possa reinar? Ora, um rei sem reino,é um ex-rei. Donde é, pois, esse reino?

Para debicar de sua realeza, aqueles algozes Lhe puse-ram uma coroa de espinhos, uma túnica escarlate e uma vara de bobo na mão, à guisa de cetro; e O esbofeteavam,dizendo: “Ave, Rei dos judeus!”

Uma nação ímpia, um governador romano ímpio tam-bém, insensíveis ou refratários à verdadeira realeza d’Eleque se irradiava como a luz do Sol, resolveram atender

às vontades da plebe e do Sinédrio que queriam matá-Lopor torpes ambições, quiçá, por ódio à santidade d’Ele.E para provar que Ele não tinha poder, nem sabedoria,nem divindade, nem realeza, colocaram-Lhe uma coroade espinhos sobre a cabeça.

 Misto de humilhações e vitórias

O seu Corpo verte Sangue abundantemente, e Ele Setorna purpúreo como se estivesse revestido de um mantoimperial, cujo valor é infinito. Abandonado pelos Após-

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 Assim, quando Lhe perguntaram se era Rei, Ele tinhatoda a razão em responder: “Verdadeiramente, tu o di-zes, Eu sou Rei!”

Ele fizera inúmeros milagres, convertera os homens, vie-ra para, por sua Paixão e Morte, resgatar do pecado o gêne-ro humano. Não Lhe faltavam, pois, títulos para a realeza.

Os milagres, a santidade e a profundidade incompará- vel de sua doutrina, o testemunho da Sagrada Escritura,tudo levava a reconhecê-Lo como o Messias.

O Antigo Testamento falava que o Messias, descenden-te de Davi, seria o Rei de Israel cujo Reino eterno se esten-

deria sobre o universo inteiro.Os judeus esperavam, por-

tanto, a vinda de um príncipeda Casa de Davi, um conquis-

tador, um político e um militarextraordinário que brilhasse co-

mo um potentado terreno e puses-se longe os romanos conquistadores,tomando conta de Jerusalém para es-

tabelecer um reinado de glória, pertodo qual o de Salomão não teria si-do senão um tímido prefácio.

Ora, Jesus veio e não conquis-tou nada, reconheceu a autoridade

de César, e disse não pertencer a estemundo o seu Reino.

Reinando de dentro de todos

os sacrários da TerraContudo, sendo Homem-Deus, não só conhe-

cia, mas dispunha do futuro. O domínio de todosos acontecimentos da História Lhe pertence.Ele sabia que o seu Reino chamar-se-ia Igreja

Católica Apostólica Romana.Não é um reino deste mundo, constituído

para ter exércitos e fazer política. É o reinoestabelecido para difundir o nome e a men-

sagem d’Ele a todos os homens, e paraque a Lei d’Ele viesse a vigorar, um dia,

em todo o orbe.Grande mistério: Ele reinariade dentro de todos os sacráriosda Terra! Quem poderia com-

preender uma coisa dessas?Mas Ele tinha razão: “Tu odizes, Eu sou Rei!” v

 

(Extraído de conferência

 de 28/4/1984)

Santo Cristo dos Milagres

Toronto, Canadá

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DE MARIA NUNQUAM SATIS

Por mais grandiosa que seja a Criação, há entre as

meras criaturas e Nosso Senhor Jesus Cristo um

abismo infinito. A Santíssima Virgem é o grampo de

ouro que une toda a Criação ao Divino Redentor.

ossa Senhora é a Medianeira de todas as gra-ças. Portanto, através d’Ela sobem a Deus to-dos os pedidos feitos pelos homens e vêm to-

dos os favores concedidos pela Divina Providência.

Princípio da gradatividade

Para entender bem a importância de Maria Santíssi-ma na Doutrina Católica é preciso compreender, antes

de tudo, o papel de Nossa Senhora nos planos de Deus,Quem é Ela e qual sua fisionomia espiritual.Quando observamos a natureza material que nos cir-

cunda — os bonitos panoramas, a mudança de cores e deluz durante o dia, etc. —, notamos serem frequentes for-mas de beleza, as mais excelentes, que se manifestam pormeio de tonalidades intermediárias.

Por exemplo, o arco-íris: ele é composto por uma sé-rie de tonalidades intermediárias que combinam entre sie se sucedem, não de um modo brusco, mas harmonio-so. Quando contemplamos os dois extremos de um frag-

 A glória excelsa de

 Maria Santíssima

N   mento do arco-íris, percebemos que, através de cores in-termediárias, Deus fez a ótica humana passar harmonio-samente de um extremo de uma cor ao extremo de outra.Nessa conjugação de dois extremos, através de formasintermediárias de beleza, está verdadeiramente o encan-to do arco-íris.

Nota-se algo semelhante em certas flores cujas péta-las vão mudando gradativamente de cor à medida que sedistanciam da corola.

O princípio da gradatividade é um dos mais belos danatureza, segundo o qual todas as coisas se dispõem emgraus. Há uma harmonia constituída de elementos diver-sos que se justapõem, fazendo-nos passar de um extremoa outro paulatinamente.

 Ao avaliar colares, por exemplo, os joalheiros dãomuita importância a este princípio. Há colares compos-tos por pérolas de diferentes tamanhos, nos quais as pé-rolas bem pequenas ficam junto ao fecho e, à medidaque se aproximam do centro, elas vão aumentando su-cessivamente, até dar numa pérola bem grande. É preci-

   E  r   i  c   R  o   l  p   h

   (   C   C   3 .   0

   )

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so que a diferença de uma pérola para outra seja propor-cional. Esses graus sucessivos e harmônicos dão tal bele-za ao colar a ponto de os joalheiros darem, muitas vezes,mais valor a um colar com pérolas de tamanhos diversose gradativos, do que um colar onde todas as pérolas sãograndes e iguais. Aliás, é mais difícil encontrar uma sé-rie de pérolas com tamanhos inteiramente adequados, ehá uma forma de beleza mais artística nessas pérolas queformam, assim, uma coleção, do que um conjunto de pé-rolas grandes circundando o pescoço de uma senhora.

Observa-se este mesmo princípio em toda a nature-za criada.

 Minerais, vegetais, animais

Tomemos o brilhante mais estupendo, ou a pérola maismagnífica, e o comparemos com uma folha de alface, a

mais ordinária que possa haver. Embora o brilhante te-nha uma beleza extraordinária e um preço enorme, afolha de alface possui um predicado que deixa obrilhante longe: ela tem vida. Qualquer ervinha vale, do ponto de vista ontológico, incompa-ravelmente mais do que o brilhante.

Subindo a escala dos seres, a superioridadede um animal em relação a uma planta é sim-plesmente fabulosa! Pelo fato de que oanimal tem sensibilidade e a planta não.

Se nos dermos ao trabalho de exa-minar, por exemplo, um gato andan-

do sobre um telhado, veremos o mun-do de finura e sensibilidade empregadaspelo felino. Cada passo é dado com “critério”; eleolha em volta de si e, quando percebe que a situaçãonão é muito segura, não se precipita; examina, move umpouco a orelha, e quando está muito “preocupado” elemia. Um gato só se joga quando percebe que pode jogar--se. Então, ele dá o pulo, cai com naturalidade e sai an-dando como se não tivesse acontecido nada; e às vezessão alturas vertiginosas! É uma sensibilidade muito agu-da, muito perfeita, que o gato tem. Para algumas coisas,é mais perfeita do que a sensibilidade humana.

Comparem isso com uma árvore frondosa que deita ga-lhos enormes onde pousam os pássaros, e cobre grande ex-tensão de uma planície. Sem dúvida, é uma glória; mas quecativeiro! Ela está atada ao chão pelas raízes, incapaz de sedefender. O próprio solo, do qual a árvore suga os elemen-tos vitais, é a prisão onde ela permanecerá até morrer.

O ser humano, miniatura do universo

 Acima dos animais estão os seres humanos, compos-tos de espírito e matéria e também dispostos hierarqui-

camente. Em seguida vêm os anjos, seres puramente es-pirituais.

Quando examinamos o universo dos seres intelectuais— homens e Anjos — notamos existir também uma gra-dação.

Os Anjos estão distribuídos em nove categorias dentrodas quais não há um igual ao outro. Se fôssemos repre-sentar graficamente o mundo angélico, deveríamos ima-ginar, no caso dos Anjos bons, uma fileira fabulosa de es-píritos, cada vez mais lúcidos, mais fortes, mais virtuosose mais próximos de Deus, até chegar aos supremos, osSerafins que têm uma visão mais clara e direta do Altíssi-mo do que todos os outros Anjos, e repetem eternamen-te o Sanctus: “Sois Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dosExércitos...”, aquela adoração muda e, ao mesmo tempo,feita continuamente de exclamações, no mais alto de to-da a série dos Anjos.

   E   l  e  c   t  r  o  n   (   C   C   3    0

   )

                                                              

                                               

     

   

H  g r  o b e  (  C  C   3  .0   ) 

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DE MARIA NUNQUAM SATIS

 Anjo - CatedralNotre-Dame,Paris, França

Vemos, portanto, em todo o universo uma gradação:os seres sem vida, minerais; os vegetais, seres vivos semnenhuma forma de conhecimento; os animais, com co-nhecimento meramente instintivo; os homens, dotadosde conhecimento instintivo e intelectivo, mas ainda imer-sos na matéria; os Anjos, pairando acima da matéria. As-sim, há uma escala que vai da última pedra, ou da poçade lama mais ordinária até Deus Nosso Senhor, por meiode uma gradação magnífica, na qual há uma hierarquia euma harmonia extraordinárias.

Outro aspecto deste princípio é a ideia de que em to-dos os conjuntos hierarquicamente constituídos deve ha- ver um elemento máximo, em torno do qual se ordena abeleza de todos os outros.

Quando nos perguntamos qual é o mais alto desses se-res criados, devemos naturalmente dizer que é um Sera-fim. Mas as obras de Deus são cheias de subtilezas, entre

as quais esta:Sem dúvida, no alto da hierarquia das criaturas temosos Serafins, mas é verdade também que o homem apre-senta uma qualidade especial: só ele contém em si o uni- verso inteiro. Nós temos espírito como os Anjos, corpocomo os animais, vida vegetativa como as plantas, e ma-teriais tirados do mundo mineral. O homem é uma espé-cie de miniatura do universo.

Diz a Bíblia que Deus, depois de ter criado todos osseres, viu que cada um deles era bom, mas o conjunto eraainda melhor. E se é verdade que o Anjo é superior a nóspor ser puro espírito, poderíamos, forçando um pouco a

nota, dizer a ele, depois de lhe ter feito, evidentemen-te, uma profunda reverência à qual ele tem direito: “Vóssois incomparavelmente mais nobre do que nós, enquan-to puro espírito. Contudo, o conjunto, em nós, está re-presentado mais adequadamente do que em vós.”

Trata-se de um aspecto da realidade, cuja enorme im-portância no plano da Criação veremos a seguir.

Com a Encarnação do Verbo todaa Criação uniu-se a Deus

Como explica a Teologia, uma das razões pelas quais

convinha que a união hipostática se desse com a naturezahumana é precisamente o fato de que Deus, unindo-Se aum homem, honrava de modo especial todos os graus daCriação. É tão grande a dignidade de sermos um compên-dio de toda a Criação, que motivou essa honra especial aqual o Verbo de Deus quis nos dar: Ele Se fez carne e habi-tou entre nós. Creio que Ele Se teria feito carne e habitadoentre nós ainda que não tivesse havido o pecado original,para assim, na sua misericórdia, honrar todas as criaturas.

Vemos, por estas considerações, quanto é belo e pie-doso o pensamento expresso por diversos autores segun-

do os quais, quando Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu,houve uma alegria em toda a natureza, e esta se revestiude um novo esplendor: os astros brilharam com mais in-tensidade, o ar tornou-se mais puro, as águas das fontesficaram mais cristalinas, as plantas tomaram maior viço,os animais se alegraram e se tornaram mais saudáveis; oshomens bons adquiriram mais esperança. Por quê? Por-que vinha ao mundo Aquele que, sendo o próprio Deus,ligara a Si todo esse conjunto por meio da natureza hu-mana.

Quando olharmos a menor das pedras, a menor dasplantas, o menor dos bichos ou o menor dos homens, de- vemos pensar isto: a natureza deles está, de algum mo-

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Anunciação - BasílicaSanta Maria Sopra

Minerva, Roma, Itália

do, presente em Nosso Senhor Jesus Cristo e, assim, li-gada a Deus, participando de sua glória no mais alto doCéu, no oceano de esplendor de santidade da Santíssi-

ma Trindade.

Um abismo preenchido pela Santíssima Virgem

Contudo, pelo mesmo princípio de gradatividade aci-ma mencionado, o espírito humano, sequioso de ordeme de razoabilidade em todas as coisas, busca um ser quepreencha o abismo infinito ainda existente entre NossoSenhor Jesus Cristo e a mera Criação: um ser tão pró- ximo do Homem-Deus, que estivesse acima dos Anjos;mas que, sendo pura criatura humana, englobasse tam-

bém todas as demais naturezas.Esse ser é precisamente Nossa Senhora. Ela foi colo-cada numa altura insondável, e numa plenitude de gló-ria, de perfeição e de santidade inimagináveis. Acimad’Ela está somente seu Divino Filho e a Santíssima Trin-dade.

Por um mistério também insondável, Maria Santíssi-ma gerou virginalmente Nosso Senhor Jesus Cristo, per-manecendo virgem antes, durante e depois do parto poração do Espírito Santo, de Quem se tornou, assim, ver-dadeira esposa.

 A dignidade de ser Mãe do Verbo encarnado, Espo-sa do Espírito Santo e Filha dileta do Pai eterno coloca--A, embora sendo uma criatura puramente humana, aci-

ma dos Anjos.

Criada com a missão de obtera vinda do Messias

Dante, na “Divina Comédia”, depois de ter passadopelo Inferno e pelo Purgatório, percorre os vários cír-culos dos bem-aventurados no Céu. Quando chega aosmais altos Serafins, vê acima deles Nossa Senhora quesorri para ele. Então, ele olha para dentro dos olhos deNossa Senhora e ali contempla o reflexo da SantíssimaTrindade.

Depois de ter contemplado os olhos celestes e virgi-nais de Maria Santíssima, resta apenas ver a Deus facea face, no Céu. O olhar humano chegou tão alto quantopodia chegar. Fitou o olhar puríssimo, sacratíssimo, su-mamente régio e indizivelmente materno de Nossa Se-nhora! A mais alta das cogitações humanas foi feita, a“Divina Comédia” terminou.

Esta concepção nos faz ver que o princípio da gradati- vidade por mim enunciado comporta uma aplicação ex-celente em Nossa Senhora. Porque Ela é o grampo deouro que liga toda a Criação a Nosso Senhor Jesus Cris-

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DE MARIA NUNQUAM SATIS

da homem e na História da Santa Igreja Católica Apos-tólica Romana, ou seja, no centro da História da huma-nidade? Porque o centro da História da humanidade é aHistória da Santa Igreja Católica.

 A Santíssima Virgem sempre foi representada co-mo estando em oração, no momento em que recebeu oanúncio do Arcanjo São Gabriel.

Sem dúvida, Ela pedia a vinda do Salvador que ha- veria de resgatar a humanidade e fundar a instituiçãoa qual dispensaria a graça de Deus em tal abundância,que os homens afinal se tornassem, mais frequente e fa-cilmente, virtuosos e, assim, a verdade, a beleza, o bem,a grandeza, o amor de Deus pudessem constituir-se nomundo e levar as almas ao Céu.

Nenhuma outra criatura humana tinha valor e virtudesuficientes para impetrar e alcançar tal graça. Assim, Elafoi criada especialmente com a missão de obter a vinda

do Messias esperado. Seus sofrimentos durante a Paixão

Em certo momento, a Virgem Santíssima recebeu arevelação da Paixão pela qual passaria seu Divino Filho edos sofrimentos atrozes que viriam sobre Ele e sobre Ela.Nossa Senhora deveria padecer em união com Aqueleque sofreu como nunca nenhum homem tinha sofrido enem sofreria até o fim do mundo. À Passio — Paixão —de Jesus se uniria a compassio — a compaixão, o “co-so-frimento” — de Maria.

Para que os homens pudessem ser salvos e dar glória aDeus, Ela consentiu em ser a Mãe do Redentor e supor-tar esses tremendos sofrimentos.

É possível conceber o que Nossa Senhora sofreu du-rante a Paixão?

Imaginemos o que sentiria qualquer mãe que, andan-do pela rua, ouvisse de repente um alarido e, aproximan-do-se, visse seu filho sendo chicoteado, deitando sanguepor todos os poros, padecendo dores indizíveis, carregan-do uma cruz, objeto da selvageria de um populacho bru-tal, vil, dando risada dele, dizendo atrocidades e levando--o, junto com essa cruz, para ser crucificado e morrer no

mais horroroso dos martírios, no alto de uma montanha.Essa mãe desmaiaria, ficaria psicótica, louca, confor-me o caso poderia até morrer.

Ora, Nossa Senhora queria a Nosso Senhor JesusCristo incomparavelmente mais bem do que qualquermãe possa querer a seu filho. Em primeiro lugar, porqueEla é a melhor Mãe que houve e haverá; mas tambémporque Ela teve um Filho incomparavelmente melhor doque qualquer outro.

É difícil imaginar a graça e encanto manifestados porNosso Senhor como Filho: todo o respeito, a ternura, a ve-

to, colocada no alto de todo o universo e contendo em Sitoda a beleza das meras criaturas.

Qual é o papel dessa criatura tão excelsa em relação anós? Qual é a missão de Nossa Senhora na história de ca-

   T  e  r  e  s   i   t  a   M .

Sant’Ana explicando as Escriturasa Maria Santíssima (acervo particular)

“Meu Deus, meu Filho: pela minhainocência, pela minha virgindade,

pelo amor que Vós sabeis queVos tenho, Eu Vos peço por este

filho pecador. Em nome dessachaga que Vós sofreis por causadele, peço-Vos que o perdoeis.”

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neração, a delicade-za, a grandeza! Co-mo terão sido ostrinta anos de inti-midade entre Ele eNossa Senhora, du-rante os quais Ela O viu crescer em gra-ça e santidade dian-te de Deus e dos ho-mens e amou, comamor perfeito, cadaestágio da perfeiçãod’Ele que ia se de-senvolvendo? Qualera o abismo de ado-ração no qual Ela se

desfazia em relaçãoa Ele?Pois bem, Ela vê

esse Filho, o pró-prio Deus, a própriaSantidade, tratado assim por aquele populacho!

Quando Ela teve o encontro com Ele durante a ViaDolorosa, quando O abraçou, O osculou, e recebeu aglória enorme de ter o seu rosto virginal e sua túnica tin-tos com o Sangue divino; quando Ela recolheu os gemi-dos d’Ele, e foi a seu lado subindo até o alto do Calvário;quando Ela viu seus estertores finais e Ele gritar: “Eli, Eli

 lamá sabactâni”  — Meu Deus, meu Deus, por que Meabandonastes? —; e depois dizer: “Está tudo termina-do”, inclinar a cabeça e exalar o espírito: ao contemplartudo isso, qual terá sido do sofrimento d’Ela?

Ela pedia o perdão para cada um de nós

Nesses momentos em que Maria Santíssima sofreude um modo indizível, Ela manteve uma serenidade tãoperfeita que Se conservou de pé o tempo inteiro junto àCruz, com uma resignação e uma força que fazem d’Elao modelo da criatura humana posta no sofrimento.

 Até o último momento, Ela dizia ao Padre Eterno:“Eu consinto em que aconteça isso a meu Filho, para queEle Vos dê a glória devida, salve as almas para Vós, ómeu Pai, e para que elas gozem da felicidade eterna jun-to a Vós no Céu.”

Dizem os teólogos que do alto da Cruz Nosso Senhor,cuja inteligência é infinita, conhecia todos os homens pe-los quais Ele haveria de derramar até a última gota deseu Sangue. Via, individualmente, todos os pecados quecada um cometeria, sofria por todos esses pecados, e da- va a sua vida para resgatar os pecadores que correspon-

dessem à graça daRedenção.

Creio que para acompaixão de Nos-sa Senhora ser com-pleta, Ela tambémnos conheceu indi- vidualmente naque-la ocasião, e rezouem favor de cada umde nós. De maneiraque, enquanto o Ver-bo de Deus via aque-la multidão de peca-dos que se despren-deria dos homens aolongo dos séculos,

Ela pedia perdão pa-ra cada um, e Ele iaperdoando pelo pe-dido d’Ela, pois, sen-do inocente, Ela me-

recia o perdão que nós não merecíamos.Foi, portanto, por causa das súplicas de Maria que ca-

da um de nós obteve o dom de ser batizado, de conhe-cer a Igreja Católica, de receber os demais sacramentos,de ter devoção a Ela, e de manter-se fiel à Igreja nessesdias tormentosos em que vivemos. Será também pelo fa- vor d’Ela que alcançará o Céu.

Nossa Mãe e Advogada

Eis o papel de Nossa Senhora como nossa Mãe e Ad- vogada:

Mãe de Cristo, Ela é a Mãe de todos aqueles que nas-ceram para a graça pelo Batismo. Mãe do Redentor, tor-nou-Se também a Mãe dos pecadores, desempenhandoum papel que, de algum modo, o próprio Deus não po-deria exercer. Porque Deus é juiz, mas Nossa Senhora,como Mãe, é naturalmente a advogada dos filhos.

É próprio ao papel de mãe defender o filho, por mais

miserável, imundo, asqueroso, por mais crápula que eleseja. A mãe perdoa e pede a Deus que o perdoe também. A mãe está solidária com o filho até quando o pai o abo-mina completamente.

Nossa Senhora, Mãe supremamente boa, reza porcada um de nós e, considerando que as chagas de Nos-so Senhor foram causadas, em parte, por nossos peca-dos, Ela pediu a Ele: “Meu Deus, meu Filho: pela mi-nha inocência, pela minha virgindade, pelo amor queVós sabeis que Vos tenho, Eu Vos peço por este filhopecador. Em nome dessa chaga que Vós sofreis por cau-

   T   i  m  o

   t   h  y   R   i  n  g

Nossa Senhora das Dores - Sevilha, Espanha

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DE MARIA NUNQUAM SATIS

sa dele, peço-Vos que o perdoeis.” E assim cada um denós foi perdoado.

Foi, então, por meio de Maria Santíssima que Deus veio a nós na Encarnação e deu-se o Natal do Salvador, eé por intermédio d’Ela que vamos a Ele e recebemos osbenefícios da Paixão e Cruz, isto é, da Redenção.

Por isso, morto Nosso Senhor, Nossa Senhora conti-nuou a ser a grande intercessora junto a Ele, a Advogadaque nunca abandonou homem algum, por mais pecadorque fosse. A ponto de ensinar a Teologia que se São Pe-dro, depois de ter cometido o pecado horroroso de negaro Divino Mestre, não desesperou, arrependeu-se e se sal- vou, foi pelos rogos de Maria que lhe obteve a graça doarrependimento e o perdão.

E se Judas Iscariotes, o mercador péssimo que vendeuNosso Senhor por trinta moedas, tivesse recorrido a Nos-sa Senhora, Ela o teria recebido com toda bondade e mi-

sericórdia, e obtido o perdão também para ele. Após a morte do Salvador, é a Santíssima VirgemQuem reúne os Apóstolos em torno de Si, está junto aeles em Pentecostes, acompanha a Igreja nos primei-ros passos e é a sua grande protetora ao longo de todaa sua existência, presente nas batalhas onde os guerrei-ros católicos venceram os exércitos inimigos da Fé, pre-sente nos combates contra as heresias, e na luta que noi-te e dia cada homem trava contra seus defeitos, para ad-quirir maiores virtudes. E ainda que não nos lembremosde Nossa Senhora, Ela está Se lembrando de nós do al-to dos Céus, pedindo por nós com uma misericórdia que

nenhuma forma de pecado pode esgotar. Basta nos vol-tarmos para esta misericordiosa Mãe para que, cheia debondade, Ela nos atenda e nos limpe a alma, dando-nosforça para praticarmos a virtude e nos transformarmosde pecadores em homens bons.

Nunca nos faltarão forças para os sacrifícios neces-sários à prática da Lei de Deus, desde que as peça-mos a Nossa Senhora. Aqueles que se voltam a Ela re-cebem tudo; aqueles que se afastam d’Ela não rece-bem nada.

Rainha do universo

Maria Santíssima é chamada pela Igreja a “Porta doCéu”. É por esta Porta que todos os homens obtêm asgraças: por Ela nossas orações chegam a Deus, e tambémtodas as graças descem para os homens. Tudo nos vempor intermédio de Nossa Senhora.

São Luís Grignion de Montfort utiliza uma bela ima-gem para ilustrar essa realidade.

Imagine alguém do povo que quer presentear o rei,mas não tem outra coisa para oferecer-lhe a não ser umamaçã. Mas não tem coragem de oferecê-la ao monarca,

por ser um presente muito comum. Então, pede à mãedo rei que oferte ao rei essa maçã.

 A mãe do monarca coloca a fruta numa bandeja deprata e lhe diz: “Meu filho, essa pessoa é minha filhatambém e pede-me para vos oferecer isto.”

O rei sorri e a recebe como se fosse uma esfera deouro.

Por vezes, as melhores ações dos homens têm o va-lor de uma maçã; mas, oferecidas pelas mãos virginais eacompanhadas com o sorriso de Maria, Deus as recebecom encanto, agradece, e as recompensa. Quanto maisunidos a Nossa Senhora, mais poderemos praticar a vir-tude e nos tornarmos agradáveis a seu Divino Filho.

Como ensina a Doutrina Católica, se Nossa Senhora éde tal maneira a distribuidora de todos os dons, Ela é aRainha do universo. E se Ela governa o universo inteiro,é também verdade que devemos nos consagrar a Ela co-

mo seus servos, deduz São Luís Maria Grignion de Mon-tfort, para em tudo fazer a vontade d’Ela. Alguém me dirá: “Mas Dr. Plinio, eu sinto minha fra-

queza, minha imperfeição. Será que Nossa Senhora que-rerá uma elevação dessas a mim, tão cheio de pecados?”

Eu respondo: Não tenho dúvida, porque Ela não re-cua diante do pecado de nenhum homem.

 Símbolo eloquente da misericórdiade Nossa Senhora

Há na Venezuela um santuário consagrado à padro-

eira nacional, Nossa Senhora de Coromoto, onde se en-contra, num ostensório, um pergaminho no qual estágravada a figura de Nossa Senhora sentada num trono,com o Menino Jesus nos braços e com um olhar de Rai-nha e de Mãe. A história dessa imagem da patrona daVenezuela é maravilhosa.

No tempo da colonização, havia na Venezuela umatribo de índios chamados Coromotos, a alguns dos quais— entre eles o cacique — Nossa Senhora apareceu.

Os indígenas ficaram deslumbrados com aquela Rai-nha gloriosa que perguntou ao cacique se ele queria mo-rar na cidade onde Ela reinava. Ele respondeu que sim.

Então Nossa Senhora disse-lhe para procurar os homensque lhe colocariam água sobre a cabeça e lhe ensinariamo caminho do seu Reino, ou seja, o Céu.

O cacique mudou-se, com outros de sua tribo, para aregião a eles reservada e, durante algum tempo, recebeucom gosto a catequese. Entretanto, em certo momentorevoltou-se, abandonou tudo, voltou para a sua choça edeixou a Religião.

 A Santíssima Virgem lhe reapareceu na entrada da ca-bana, risonha, amável, convidando-o para voltar às gra-ças d’Ela.

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Tão péssimo era seu estado de alma que ele tomou oarco e tentou atingir com uma flecha a celeste visitante.Não obtendo êxito, procurou agarrá-La, quando subita-mente Ela desapareceu deixando-o com os braços para-lisados. Quando o miserável conseguiu movê-los, encon-trou entre eles a bela estampa que hoje é venerada nosantuário.

Um verdadeiro milagre! Não obstante, ele, com raiva,escondeu a estampa no teto de sua choça. Mas Nossa Se-nhora, ainda assim, o perdoou. Infatigavelmente perse-guia esse homem para convertê-lo.

Em determinado momento, ele não resistiu mais àgraça, pediu perdão, recebeu o Batismo e morreu empaz, reconciliado com Nossa Senhora.

Quer dizer, depois das maiores ofensas, a Rainha doCéu o venceu e o perdoou. Este é o símbolo mais elo-quente da misericórdia de Nossa Senhora, mostrando

como nem os piores pecados daqueles a quem Ela amasão capazes de constituir uma barreira à bondade e à mi-sericórdia d’Ela.

Em nossa época, a Santíssima Virgem está sofrendoagressões piores do que as recebidas da parte desse ín-dio. Os pecados do mundo contemporâneo são muitomais cheios de malícia do que os desse miserável abo-rígene.

Nossa Senhora, entretanto, não quer o fim da huma-nidade, mas deseja o perdão para ela. E quando, em Fá-tima, Ela prenunciou castigos para o mundo, e disse atéque várias nações desaparecerão, ao mesmo tempo

anunciava a misericórdia, pois, diante dos castigos, pe-lo menos certo número dos homens contemporâne-os vão se arrepender e ainda irão para o Céu. E mui-tos hão de viver perdoados por Ela para entraremno Reino de Maria. Assim, Ela afirmou: “Por fim, omeu Imaculado Coração triunfará!”

Nós devemos pedir a Maria Santíssima que,em relação a cada um de nós, Ela use da graçaque teve para com o índio Coromoto: vençanossos obstáculos, aniquile nossas maldadese que seja verdadeira para o mundo contem-porâneo, como para cada um de nós, a pro-

messa do triunfo de seu Imaculado Coração,tornando-nos apóstolos dos últimos tempos,perfeitos filhos e escravos d’Ela, para que,por essa forma, o Reino de Maria substitua oreino do demônio sobre a face da Terra.

É isso que devemos pedir a Nossa Senho-ra depois dessa meditação sobre a glória ex-celsa d’Ela. v

(Extraído de conferência de 7/2/1971) Imagem de Nossa Senhora dCoromoto (acervo particula

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C ALENDÁRIO DOS S ANTOS  ––––

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Beata Elizabeth da Trindade Catez

filosóficas em Cambridge, Oxford, Paris e Colônia, ondefaleceu.

9. Dedicação da Basílica do Latrão.

Beata Elizabeth da Trindade Catez,  virgem (†1906).Religiosa carmelita descalça, que desde criança procurouno íntimo do coração o conhecimento e a contemplação daSantíssima Trindade. Faleceu aos 26 anos no Carmelo deDijon, França.

10. São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja (†461).São Justo da Cantuária, bispo (†c. 627). Religioso be-

neditino enviado por São Gregório Magno à Inglaterrapara ajudar Santo Agostinho na evangelização deste povo.

11. São Martinho de Tours, bispo (†397).São Teodoro Estudita, abade (†826). Abade do mostei-

ro de Studion, Constantinopla, que foi escola de sábios,santos e mártires que morreram vítimas das perseguiçõesdos iconoclastas.

12. São Josafá, bispo e mártir (†1623).São Margarido Flores, presbítero e mártir (†1927). Por

ser sacerdote foi preso e fuzilado em Tuliman, México.

13. Beatos Pedro Vicev, Paulo e Josafat Siskov, presbí-

tero (†1952). Religiosos da Congregação dos Agostinhosda Assunção, que durante o regime comunista na Bulgá-ria, foram aprisionados e fuzilados em Sófia, acusados deespionagem.

14. Santo Estêvão Teodoro Cuénot, bispo e mártir (†1861).Religioso da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris,que após 25 anos de trabalho apostólico, foi martirizado emBinh Dinh, Vietnã.

15. XXXIII Domingo do Tempo Comum.

Santo Alberto Magno, bispo e Doutor da Igreja (†1280).

São Rafael de São José Kalinowski, presbítero (†1907).Participou da insurreição lituano-polonesa contra a Rús-sia, sendo capturado e condenado a trabalhos forçados.Posto em liberdade, ingressou na Ordem Carmelita emWadowice, Polônia.

16. Santa Margarida da Escócia, rainha (†1093).Santa Gertrudes,  virgem (†1302).Santa Inês de Assis,  virgem (†1253). Irmã de Santa

Clara, foi viver junto a ela no convento de São Damião eajudou-a na fundação da Ordem.

1. XXXI Domingo do Tempo Comum. Solenidade de To-

dos os Santos.

Beato Rainério de Arezzo, religioso (†1304). Fradefranciscano, admirável por sua humildade, pobreza e paci-ência. Faleceu em Sansepolcro.

2. Comemoração de todos os fiéis defuntos.

Santo Ambrósio, abade (†c. 520). Transferido comoabade ao mosteiro de Saint-Maurice-en-Valais, Suíça, porsua observância à regra. Estabeleceu ali a prática do lou- vor perpétuo.

3. São Martinho de Porres, religioso (†1639).Santa Sílvia (†séc. VII). Mãe do Papa São Gregório

Magno, que segundo o mesmo Pontífice, atingiu o mais al-to grau de oração e penitência.

4. São Carlos Borromeu, bispo (†1584). Ver página 2.

5. Beato Bernardo Lichtenberg, presbítero e mártir(†1943). Vigário da catedral de Berlim, orava publicamen-te pelos judeus torturados e detidos. Por isso foi enviadoao campo de concentração de Dachau, Alemanha, ondemorreu a caminho, após muito sofrimento.

6. Santo Estêvão, bispo (†1046). Destacou-se por sua

mansidão, organizou duas peregrinações a Jerusalém e re-construiu a cate-dral de sua diocese, Apt, França.

7. Beato Antônio

Baldinucci, pres-bítero (†1717). Je-suíta que se dedi-cou totalmente àpregação das mis-sões populares na

Itália.

8. XXXII Do-

mingo do Tempo

Comum.

Beato João Duns

Escoto, presbítero(†1308). Sacerdotefranciscano oriun-do da Escócia. En-sinou as disciplinas

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–––––––––––––– * NOVEMBRO *  ––––

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Santa Cecília

São Leonardo de Porto Maurício

   R  e  p  r  o   d  u  ç   ã  o

17. Santa Isabel da Hungria, religio-sa (†1231).

São Hugo, abade (†séc. XII). Envia-do por São Bernardo de Claraval parafundar a Ordem Cisterciense na Sicíliae na Calábria, Itália.

18. Dedicação das Basílicas de São

Pedro e São Paulo,  Apóstolos.Beata Carolina Közka,  virgem e már-

tir (†1914). Por defender sua castidadeameaçada por um soldado, foi atravessa-da por uma espada em Wal-Ruda, Polô-nia, morrendo ainda adolescente.

19. Santos Roque González, Afonso

Rodríguez e João del Castillo, presbíte-ros e mártires (†1628).

Santo Abdias, profeta. Após o exílio do povo de Israel,anunciou a ira do Senhor contra os povos inimigos.

20. São Gregório Decapolita, monge (†842). Foi ceno-bita, anacoreta e peregrino. Morreu em Constantinopla,onde lutou pelo culto das imagens sagradas.

21. Apresentação de Nossa Senhora.

São Gelásio I, Papa (†496). Ilustre por sua doutrina esantidade. Combateu várias heresias. Morreu pobre, devi-do à sua caridade para com os indigentes.

22. XXXIV Domingo do Tempo Comum. Solenidade de

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Santa Cecília,  virgem e mártir (†séc. inc.).São Filêmon de Colossos (†séc. I). Junto com ele é ve-

nerada sua esposa Santa Ápia. Na carta a ele destinada,o Apóstolo das Gentes elogia sua Fé e seu amor a Cristo.

23. São Clemente I, Papa (†séc. I).

São Columbano, abade (†615).Santa Cecília Yu So-sa, mártir (†1839). Sendo viúva, foiprivada de seus bens, presa e sujeita a interrogatórios doze

 vezes. Exausta pelo suplício do espanca-mento, morreu em Seul, Coreia.

24. Santo André Dung-Lac, presbí-tero, e companheiros, mártires (†1625-1886).

Santo Alberto de Lovaina, bispo emártir (†1192). Bispo de Liège, atualBélgica, foi exilado por defender a Igre- ja e assassinado em Reims, França, nomesmo ano em que foi ordenado.

25. Santa Catarina de Alexandria,

 virgem e mártir (†séc. inc.). Ver página 28.

26. São Leonardo de Porto Maurí-

cio, presbítero (†1751). Sacerdote fran-ciscano, empregou sua vida na pregação

e escrita de livros de piedade, e em mais de 300 missõespregadas em Roma, ilha da Córsega e toda a Itália seten-trional.

27. São Virgílio, bispo (†784). Irlandês de grande cul-tura, apoiado pelo rei Pepino, foi nomeado para dirigir aIgreja de Salzburgo, Áustria. Construiu a Catedral de SãoRuperto.

28. Santa Teodora, abadessa (†980). Discípula de SãoNilo, o Jovem e mestra de vida monástica, perto de Ros-sano, Itália.

29. I Domingo do Advento.

São Tiago de Edessa, bispo (†521). Bispo de Sarug,Turquia, é venerado pelos sírios como doutor e coluna daIgreja, junto com Santo Efrém.

30. Santo André,  Apóstolo.São José Marchand, presbítero e mártir (†1875). Sacer-

dote da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris, queno tempo do Imperador Minh Mang, foi condenado ao su-plício dos 100 açoites em Hué, Vietnã.

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N  

Santa Catarina de Alexandria,

virgem heroicae grandiosa

28

HAGIOGRAFIA

Enfrentou a morte com grandeFé e serenidade. Após seu

martírio, os Anjos levaram

o seu virginal corpo para o

Monte Sinai, a montanha

mais augusta que há na Terra,

depois do Gólgota.

o dia 25 de novembro, comemoramosa festa de Santa Catarina de Alexan-dria, virgem e mártir. Sobre sua morte,

o Abbé Darras, em sua obra Vida dos Santos, traza seguinte narração:

 ”Lavai minha alma no sangueque vou derramar”

 Maximiliano, Imperador, ordenou a morte de San-

ta Catarina. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em

 meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de al-

ta condição, que choravam a sua sorte. A virgem cami- nhava com grande calma. Antes de morrer, fez a seguin-

te oração:

“Senhor Jesus Cristo, meu Deus, eu Vos agradeço terdes

 firmado meus pés sobre o rochedo da Fé, e terdes dirigido

 meus passos na via da salvação. Abri agora vossos braços

 feridos sobre a Cruz, para receber minha alma que eu sacri-

 fico à glória de vosso Nome.

Santa Catarina de Alexandria Museu da Catedralde Santo Domingo de la Calzada, Espanha

  C  h  i  t  i

  B

  (  C  C  3  0  )

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“Lembrai-Vos, Senhor, que somos feitos de carne e san-

 gue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância, e lavai minha alma no sangue que vou derramar por Vós.

“Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor, em

 poder dos que me odeiam.

“Baixai vosso olhar sobre este povo e dai-lhe o conheci-

 mento da verdade.

“Enfim, Senhor, exaltai, em vossa infinita misericórdia,

 aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que

 vosso Nome seja para sempre bendito.” 

 Em seguida, mandou que os soldados cumprissem as or-

 dens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe.

 Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo fo-

 ram constatados. Os Anjos, como ela o desejara, transpor-taram seu corpo para a santa montanha do Sinai, a fim de

 que repousasse onde Deus escrevera sobre a pedra sua Lei,

 que ela guardara tão fielmente escrita em seu coração.

Contrastes da graça: lágrimas dascompanheiras e serenidade da mártir 

Este é um trecho de tal elevação, que até lamentamoster de comentá-lo. Ficar-se-ia mais satisfeito deixando otexto assim, brilhando ao céu, no horizonte, suspenso eemitindo luzes. Mas já que é preciso comentar, vamos

aos pormenores. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em meio a uma

 multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que

 choravam a sua sorte.

Chama a atenção o fato de se tratar, principalmente,de senhoras de alta condição as que constituem o séquitoda Santa mártir. Quantas possibilidades de salvação temainda um país onde as senhoras de alta condição acom-panham ao lugar do suplício, solidarizando-se e choran-do junto a ela, uma mártir fulminada pela cólera do Im-perador! Um monarca onipotente, o qual pode mandar

matar todos aqueles que se desagradarem de alguma ati-tude dele. Entretanto, todas essas damas seguem SantaCatarina, e vão chorando.

Vejam a diversidade dos dons do Espírito Santo e dosefeitos da graça: é bom e belo elas irem chorando. Con-

tudo, esse dom das lágrimas manifestado nas mulheresnesse momento contrasta, pela sublimidade, com o fatode Santa Catarina não chorar. Ela permanecia quieta ecom uma grande calma, caminhando de encontro à mor-te, inundada de graças do Espírito Santo, de outra natu-reza, por onde a mártir não derramava por si as lágrimasque a graça queria que as outras vertessem por ela.

Como deveria ser impressionante este cortejo de damasandando entre os soldados, e ela no meio, a única calma,a aconselhar todas a manterem a tranquilidade, consolan-do-as até chegar o momento em que ela deveria morrer.

Quando surgirem circunstâncias nasquais tivermos de enfrentar riscos,ou talvez até perder a vida, na luta

contra os adversários da Santa Igreja,tenhamos aquela serenidade quesó a graça dá perante a morte.

   W  o   l   f   D   5   9   (   C   C   3    0

   )

Disputa entre Santa Catarina e os filósofosMuseu de Salzburg, Áustria

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HAGIOGRAFIA

   A  n   d  r  e  a  s   P  r  a  e   f  c   k  e   (   C   C   3 .   0   )

Palavras que se projetam como raios de luzEntão, no fim da vida, ela emite uma oração com uma

forma especial de beleza: um conjunto de afirmações epedidos que se projetam como raios de luz, e brilham nohorizonte com um encanto próprio.

Senhor Jesus Cristo, meu Deus…

Com isso Catarina afirmava ser Jesus Cristo seu Deus,e que ela não reconhecia outra divindade senão Ele.

Em seguida, o primeiro pensamento, a primeira pala- vra, a primeira graça mencionada por ela, no momentode morrer, qual é?

…eu Vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o ro-

 chedo da Fé, e terdes dirigido meus passos na via da salva-

 ção.

Como quem diz: “Eu Vos agradeço por ter pertenci-do a Vós, que sois a fonte da minha salvação, o ponto departida de todo o bem que possa haver em mim. Eu sou

boa porque Vós sois bom e me destes a bondade. Eu Vosagradeço a Fé que me doastes e a firmeza que me conce-destes nessa Fé. Eu Vos agradeço o amor à virtude queme destes e a firmeza que Vós me outorgastes no amora essa virtude. É esse o primeiro benefício que Vos agra-deço, reconhecendo que tudo quanto em mim há devo à vossa iniciativa.”

 Sacratíssima e augustíssima familiaridadecom o Divino Redentor 

 Abri agora vossos braços feridos sobre a Cruz, para

 receber minha alma que eu sacrifico à glória de vos- so Nome.

Pode haver uma imagem mais bonita do que es-sa? O Divino Crucificado que desprende da Cruzseus braços sangrando para acolher a alma des-sa Santa, que sai também inundada do sangue domartírio, para ser recebida por Ele.

Que maravilhosa intimidade nesse encon-tro do Mártir dos mártires com uma már-tir heroica e grandiosa! Que bela ideia a dosangue dela misturando-se ao Sangue in-finitamente precioso de Nosso Senhor Je-

sus Cristo! Que elevada e profunda noçãodo Corpo Místico de Cristo há nisso! Quesacratíssima e augustíssima familiaridadecom o Divino Redentor!

Santa Catarina possuía de tal maneira aconvicção de estar sua alma unida à d’Ele,e de que a morte selava essa união, que Lhepedia a abraçasse tão logo ela entrasse naeternidade. Tal era sua certeza de ir para oCéu!

Depois acrescentava:Decapitação de Santa Catarina

Igreja de Nossa Senhora em Ravensburg, Alemanha

 Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e san-

 gue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância, e lavai

 minha alma no sangue que vou derramar por Vós.

Ela temia ter cometido, por ignorância, algum pecado.Era isso o que essa alma tinha para acusar contra si pró-pria. Então suplica a Nosso Senhor o perdão das faltas,como se dissesse: “Antes de derramar o meu sangue porVós e de ir para o Céu, quero que Vós laveis a minha al-ma no vosso Sangue.”

Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor,em poder dos que me odeiam.

 Monjas contemplativas, no altodo Sinai, velam seu corpo

Tendo pensado em sua alma, suplicando que esta fos-se lavada das faltas e recebida por Nosso Senhor, Santa

Catarina cogita, então, no corpo dela, e pede que ele nãoseja deixado em mãos de seus inimigos, daqueles que aodeiam porque têm ódio a Ele.

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   B  e  r   t   h  o   l   d   W  e  r  n  e  r   (   C   C   3 .   0

   )

   G  e  a  g  e  a   (   C   C   3 .   0

   )

Pedir a graça da serenidadediante dos riscos

 Em seguida, mandou que os soldados cumprissem as

 ordens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe.

 A calma e a resolução. Feita a oração, nenhum tre-

mor, nenhum desejo de contemporizar um pouco. Tam-bém nenhuma precipitação de quem tem medo de en-frentar a morte, correndo em direção a ela. Não! Ela diztudo quanto tem a dizer e, terminado isso, entrega-se àsmãos de Deus. Os soldados a matam e a oração dela éatendida.

Qual o efeito, de caráter espiritual, que a considera-ção dessa grande Santa mártir nos leva a desejar?

Devemos pedir a ela que, quando surgirem circuns-tâncias nas quais tivermos de enfrentar riscos, ou talvezaté perder a vida, na luta contra os adversários da San-ta Igreja, tenhamos aquela serenidade que só a graça dá

perante a morte. A morte, essa dissolução da unidade entre a alma e ocorpo, é uma coisa tão tremenda, que só se compreendea serenidade diante dela quando o homem está domina-do pela graça divina.

Vamos pedir, então, que em todas as ocasiões da vidanós tenhamos, diante dos riscos, essa calma levada até osacrifício extremo, caso seja esta a vontade de Nossa Se-nhora. v

(Extraído de conferência de 24/11/1965)

Vejam o respeito que devemos ter pela santidade dopróprio corpo, o qual constitui um todo com nossa almana prática da virtude.

Também, que atendimento magnífico dessa oração!Foi só ela morrer, os Anjos vieram e levaram o seu cor-po para a montanha mais augusta que há na Terra, de-pois do Gólgota, do Monte Calvário: o Sinai, onde a Leide Deus nos foi dada.

 Até hoje os restos mortais desta virgem mártir encon-tram-se no Monte Sinai, onde há um mosteiro de monjas

contemplativas que guardam esse corpo e meditam sobrea Lei de Deus, ali concedida aos homens. Baixai vosso olhar sobre este povo e dai-lhe o conheci-

 mento da verdade.

Ela já não pensa em si, mas nos circunstantes. Enfim, Senhor, exaltai, em vossa infinita misericórdia,

 aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que

 vosso Nome seja para sempre bendito.

Portanto, ela intercede desde já junto a Deus paraatender todo mundo que por meio dela venha pedir al-guma graça.

Mosteiro de Santa Catarina, Sinai, Egito

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ

Poder-se-ia bem imaginar um mongebeneditino dos antigos tempos su-

bindo esses degraus, passo a pas-so, enquanto recita um salmo

ou reza uma dezena do Rosá-rio. Em uma palavra, quantabênção há aí! É uma bênçãode paz que se faz sentir porum jogo de luz e sombra.

Se compararmos isso coma atmosfera de uma estação de

metrô, perceberemos como o me-trô e Subiaco são extremos opostos,

de um modo até berrante: um está inse-rido dentro da civilização industrial e outro na

nascente da Idade Média.

Viver entre pedras e pouca vegetação,  pensando no Céu

Na outra fotografia vemos ruazinhas muito estreitas e,como tudo está construído em meio a montanhas, há di- versos patamares aos quais se tem acesso, às vezes, porescadinhas como essa.

Sente-se ter vivido aqui gente habituada a uma vidadespretensiosa, temperante, pura e cheia de uma alegriacândida.

propósito de algumas fotogra-fias tiradas de Subiaco, eugostaria de tecer comen-

tários que não se limitam à aná-

lise dos ambientes e costumes,mas visam aprofundar im-pressões causadas por aque-les lugares na alma de quemos contempla.

 Subiaco e estação demetrô: extremos opostos

Nesta primeira foto vemos uma pe-quena porta que conduz a uma escadaria es-treita. Em rigor, essa passagem assim apertada poderia

ser a porta de uma masmorra, através da qual passa ocarcereiro para levar pão e água a algum prisioneiro nashoras estipuladas.

Considerada, por assim dizer, “anatomicamente”, es-ta parte do edifício poderia servir para isso. Entretanto,não é nem um pouco a impressão que nos dá. Ao subir-mos por esta escadinha, não sentiríamos medo ou qual-quer outra sensação própria a quem ingressa em umamasmorra. Pelo contrário, tem-se a impressão de umambiente recolhido, com uma penumbra que sucede àgrande luz do dia, com algo de aconchegado, de cômodo.

 Ao contrário da agitação existente em certos ambientesdo mundo atual, em Subiaco sentem-se refrigério, luz

e paz. Os monges, que se deixam imbuir pelo espírito

de São Bento, levam ali uma vida despretensiosa,

temperante, pura e cheia de uma alegria cândida.

Sacralidade beneditina

 A

           J        o        s        e

            A           f        o

         n        s        o

           A        g            u

            i        a         r

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Notem como a escadinha está toda modelada pelopasso humano. Séculos e séculos de subir e descer de ho-mens que consagraram a vida a Deus, renunciando a to-das as alegrias e pompas do mundo para viverem entreessas pedras, pensando no Céu.

Imaginemos, durante o dia, abrir-se aquela janela com vitrais elaborados à maneira de fundos de garrafa, e apa-recer por detrás um monge com capuz, braços cruzadosdebaixo do escapulário, e olhando...

Nas margens desse caminho nada foi plantando pelohomem, tudo está como a natureza pôs. No primeiro dia,quando esse solo saiu das mãos de Deus, era possível que

fosse mais ou menos assim.Veem-se pedras por toda parte entre as quais nasceuma vegetação que se agarra como pode a um pouco deterra, e viceja onde consegue.

 Aquele arbusto que aparece ali, com seus galhos con-torcidos, parece ter esgares de fome. Não é o fértil chãobrasileiro com seus jacarandás e jequitibás, nem o solonorte-americano com suas sequóias; nada disso. Essa éuma árvore brotada em terra árida e pedregosa.

Há, entretanto, uma intimidade entre quem passa poresta pequena via e a vegetação que a ladeia, cujo exalarde vida nada interrompe, dando-nos a impressão de exis-

tir uma íntima amizade com todo esse mundo vegetal ru-mo ao céu azul que se entrevê lá no fundo, e faz até pen-sar no Céu da eternidade.

Sente-se uma paz nesse ambiente! Uma pessoa que alientrasse cheia de torcidas e de preocupações, e seguissepor essa estradinha, chegaria ao outro lado inteiramen-te tranquilizada.

O que isso tem de lindo? Viveu ali um Santo, o Pa-triarca dos monges do Ocidente, isto é, o primeiro de to-da a gloriosa coorte de monges, o qual teve como filhosespirituais, nesse lugar, homens canonizados, além de

quantos outros que, embora não canonizados, tambémestão no Céu. É o ambiente próprio do homem à procu-ra da santidade; eis a bênção que São Bento deixou.

 Ambiente simples, mas repletode beleza espiritual 

Para ingressar na via da qual falávamos, a pessoapassa por esse arco que aparece nesta outra foto.É uma ogiva despretensiosa, bonita e séria. Nãotem uma escultura, nem qualquer outro ador-no. É apenas uma ogiva feita de pedra, mas

com toda a beleza das ogivas, como se fos-sem duas mãos postas para rezar.Pode haver coisa que recolha mais

o espírito e favoreça mais a ora-ção, as grandes reflexões a res-peito dos grandes temas? Assima alma de um homem se forma!Mas, por quê? Porque há uma

   J  o  s  e   A   f  o  n  s  o   A  g  u   i  a  r

   D  a  v   i   d   D  o  m   i  n  g  u  e  s

   D  a  v   i   d   D  o  m   i  n  g  u  e  s

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ

bre de voz partindo do fundo de sua laringepossante, num pescoço alto, como se fosseo tocar de um sino.

São Luís Orione achava o olhar de SãoPio X tão puro, que se confessava sempreantes de falar com este Santo Pontífice.

Não é verdade que teríamos vontade denos confessar, antes de falar com São Bento?Olhar reto, puro, todo voltado para as coisasde Deus, contemplativo e sério!

Se eu lhe perguntasse no que estava pen-sando, e ele me dissesse:

— Agora não posso explicar.Eu pediria:— Permiti, então, que eu fique vos olhan-

do!

 São Francisco de Assis, grandeadmirador e devoto de São Bento

 Aqui temos uma pintura representandoSão Francisco de Assis, que viveu séculos depois de SãoBento, mas por ser grande admirador e devoto deste San-to Abade, resolveu ir a Subiaco para venerá-lo. Ali ele viu, junto à gruta de São Bento, um carrascal de espinhos ondeo Santo Abade tinha rolado para combater uma tentaçãocontra a pureza, vencendo-a. O demônio fugiu diante daadmirável penitência de São Bento. São Francisco plantounaquele local uma roseira, e até hoje as rosas e o carrascal

de espinhos vivem juntos, entrelaçados.Em São Francisco contempla-se um tipo de santidade di-ferente; mas que maravilha! Essa pintura representa um ho-mem muito mais jovem do que é figurado São Bento na ou-tra. Não sei se calculo mal, mas suponho que esse homemesteja na casa dos trinta anos.

Sua atitude é muito serena, cal-ma, mas com uma determinação de vontade que se vê muito pelo mo-do do rosto estar implantado sobreo pescoço. Todos os traços distendi-dos, mas não moles. É alguém que

está, no fundo do olhar azul, pen-sando e contemplando algo e que-rendo com toda a força da vontadeo objeto de sua contemplação.

É de uma pureza impressio-nante! Um homem casto, tempe-rante por excelência e vigoroso.São Bento também o era, mas opintor de São Francisco deixou ver essas virtudes mais inteira-mente do que o de São Bento.

bênção presente no ambiente e que envolve e penetraquem nele se adentra.

Se alguém me perguntasse: Isto é lindo?Eu diria: Não, de nenhum modo.Entretanto, sob outro aspecto, se outrem me indagas-

se: Isto é lindíssimo?Eu responderia: Sim!No sentido de uma beleza espiritual.Essa paisagem é agradável de ver, mas não é linda,

materialmente falando. Contudo, a beleza espiritual tor-na isso lindíssimo.

Eis uma bonita fotografia bem dentro da linha do que vínhamos falando. Vemos a vegetação e o alto de umaconstrução que parece ser uma capelinha com uma rosá-cea, com todo o encanto das rosáceas medievais. Aqui-lo é tipicamente medieval. Têm-se esse misto de pedrae folhagem: reino mineral e reino vegetal juntos, entran-

do em harmonia, para que o expectador possa exclamar:“Como Deus é grande!”

 São Bento: olharcontemplativo, todo

voltado para ascoisas de Deus

 Ali contemplamos umafresco de São Bento. Opintor representou-o de

uma maneira singular.Ele está com uma espé-cie de capuz sobre a cabe-ça, mas este tem um pou-co a forma da parte bai- xa de sua face. De manei-ra que o desenho da maçãdo rosto até o queixo tem

a forma do capuz pontudo. E dá a impressão de uma faceconcebida numa moldura de duas pontas: uma para bai- xo e outra para cima. Rosto muito fino, nariz comprido,barba não muito crescida, na transição do grisalho para o

branco; as sobrancelhas, ainda escuras, representam umhomem que ainda está no vigor de seu pensamento e desua ação.

Notem a força moral com que a sua mão segura o bá-culo, símbolo do poder do Abade.

Olhar sério, até com alguma coisa de severo, mas noqual há um mundo, um céu! Se um de nós o encontrasse,teria vontade de ajoelhar-se diante dele e pedir: “Pai, di-zei-me no que pensais!”

Imagino que ele responderia sem olhar para quem pe-diu, desfiando o seu pensamento inteiro, com um tim-

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Compreende-se que o  Poverello de Assis gostasse deler para os seus noviços as histórias de Cavalaria, poisantes de abraçar a vida contemplativa pensou em ser ca- valeiro.

Nesta representação, a sua mão direita segura ligeira-mente o braço esquerdo. Vejam a lógica das linhas e a

força dessa mão!Se a São Bento eu pediria: “Dizei o que pensais!”; aeste eu rogaria: “Não digais, pois eu vejo. Deixai apenasque eu olhe para vós!”

Tem-se a impressão de que São Bento está presente

Tendo analisado tudo quanto vimos de Subiaco, nascea pergunta: O que há dentro disso?

 A resposta que vem ao espírito é esta: a sacralidade be-neditina. É uma paz, não a da modorra de um comodista,

mas uma paz de algo que tem vida intensa dentro de si.Vida, por sua vez, não agitada, espancada, surrada,mas com refrigério, luz e paz que se sentem naquele lu-gar não se sabe bem no quê, e dá a impressão de estarSão Bento presente ali.

Há lugares sagrados que conservam uma como queimpregnação dos personagens e dos fatos ali ocorridos. Aquele ambiente fica mais ou menos marcado, fazendo--nos sentir algo do que ali se passou.

Por causa disso, a grande alma de um Santo pode sefazer sentir por séculos e séculos, no lugar onde ele viveu

e praticou a virtude. É, pois, a grande alma de São Ben-to que sentimos ali.

Vem-me à memória um episódio encantador da vidadesse Santo:

 A governanta de São Bento — termo um pouco ana-crônico, pois não se usava naquele tempo, mas de fato

corresponderia a uma governanta atualmente — deixoucair uma vasilha emprestada, que se desfez em cacos.Já é uma coisa aborrecida romper algo que nos perten-ce, quanto mais quebrar um objeto emprestado de outrapessoa; é uma espécie de vexame.

Ela ficou muito aflita e São Bento a viu chorar.Desejando, então, restabelecer a paz de alma daquela

senhora, São Bento se ajoelhou, rezou e a vasilha se re-compôs miraculosamente. Ele voltou-se com naturalida-de para a mulher, sem excitação nem angústia, e disse:“Aqui está a vasilha!”

Quem está tão em presença de Deus, e paira tanto aci-

ma dos acontecimentos, sabe que a Providência resolve-rá para ele os casos; esse não tem aflição.São Bento caminha sério, recolhido, severo até — co-

mo ele é representado no afresco que vimos há pouco —,de uma severidade admirável, e tem rumo para tudo; con-fia em Deus, ainda quando ele não saiba qual será a solu-ção do problema. Deus lhe dará confiança. E por isso os vendavais torpes da vida não sopram sobre ele. Ele avançamajestoso, bondoso, com a alma firme, e sacralizando tu-do pela sua presença. v

(Extraído de conferência de 6/7/1985)

   D  a  v   i   d   D  o  m   i  n  g  u  e  s

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 Mãe da Igreja e Rainha do mundo

 S

ImaculadoCoração deMaria - Catedralde Bolzano,Itália

   F  r  a  n  c   i  s  c  o   L  e  c  a  r  o  s

ão Luís Maria Grignion de Montfort diz que os Santos dos últimos tempos estarão paraos das eras anteriores como carvalhos em comparação com graminhas. Isso por causa das

orações extraordinárias que Nossa Senhora fará nessa ocasião. Ela, como Mãe da Igreja, Rainha dos homens, Rainha do mundo, estará ainda mais associada

ao curso dos acontecimentos. Suas orações também penetrarão como nunca até então, no âmagoda História.

 E enquanto o Inferno vomitar os mais horrendos monstros, Maria Santíssima suscitará, pelosd í i d P idê i b Hi ó i h id d h di á i di