revista doctor plinio 203_201502

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Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 203 Fevereiro de 2015 Há 40 anos, um oferecimento avidamente aceito

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Revista Doctor Plinio DrPlinio-203_201502

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Page 1: Revista Doctor Plinio 203_201502

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

AEnergia combativa

2

Thol

me

(CC

30)

histoacuteria do pontificado do grande Pio IX mereceria ser estudada a fundo pelos catoacutelicos Ela conteacutem en-

sinamentos para nossa eacutepoca muito mais oportunos e profun-dos do que geralmente se pensaQuer pela definiccedilatildeo do dogma da Imaculada Conceiccedilatildeo em

1854 quer pela convocaccedilatildeo do Conciacutelio do Vaticano em 1869 e a defi-niccedilatildeo do dogma da infalibilidade papal no ano seguinte este grande Papa enfrentou aguerrida e resolutamente o naturalismo e o racionalismo do seacuteculo

Pio IX julgou que a eacutepoca era ainda menos propiacutecia do que outra qualquer para uma atitu-de de impassibilidade sorridente cujo efeito necessaacuterio seria o encorajamento dos maus e o enti-biamento dos bons Com isto calcando aos peacutes qualquer falso sentimentalismo Pio IX enfrentou decididamente a impiedade

Sua energia combativa venceu Depois da definiccedilatildeo do dogma da infalibilidade pontifiacutecia pe-lo Conciacutelio do Vaticano a onda do racionalismo naturalista tem decrescido incessantemente e embora ela ainda conserve formas disfarccediladas dignas da maior cautela dos catoacutelicos eacute certo que perdeu aquela agressividade truculenta e blasfema com que se pavoneava nas altas rodas literaacute-rias poliacuteticas e sociais da Europa do seacuteculo XIX

(Extraiacutedo de ldquoO Legionaacuteriordquo de 18121938)

Jebu

lon

(CC

30

)

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

propriedade da Editora Retornarei Ltda CNPJ - 023893790001-07

INSC - 115227674110

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Impressatildeo e acabamento Pavagraf Editora Graacutefica Ltda Rua Baratildeo do Serro Largo 296

03335-000 S Paulo - SP Tel (11) 2606-2409

SumaacuterioSumaacuterioAno XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

Preccedilos da assinatura anual

Comum R$ 13000Colaborador R$ 18000Propulsor R$ 41500Grande Propulsor R$ 65500Exemplar avulso R$ 1800

Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Editorial

4 Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

dona lucilia

6 Inocecircncia generosidade e afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

o pEnSamEnto filoSoacutefico dE dr plinio

14 Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

dr plinio comEnta

18 Modalidades de sofrimento - I

a SociEdadE analiSada por dr plinio

22 Teoria do progresso - II

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Fevereiro

Hagiografia

28 Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

apoacuteStolo do pulcHrum

32 O belo e o praacutetico - II

Uacuteltima paacutegina

36 Contraste maravilhoso

Na capa Dr Plinio na deacutecada de 1980 Foto Seacutergio Miyazaki

Haacute 40 anos um oferecimento

avidamente aceito

S

Editorial

4

ine sanguinis effusione non fit remissio1 Esta afirmaccedilatildeo encerra um profundo misteacuterio Por que

Deus quis que o proacuteprio Verbo pelo qual todas as coisas foram feitas2 Se encarnasse e vertesse do

alto da Cruz ateacute a uacuteltima gota de seu preciosiacutessimo Sangue para remir suas criaturas O mesmo

ato de vontade onipotente que tirou do nada o universo natildeo bastaria para operar a Redenccedilatildeo

Satildeo questotildees que nos interessam a fundo e concernem a toda a nossa existecircncia pois o enigma da dor

e da morte mdash que aflige e por vezes esmaga o homem mdash soacute encontra sua soluccedilatildeo em Nosso Senhor Je-

sus Cristo3

A cada ano o Tempo da Quaresma nos convida a meditarmos na necessidade de associar os nossos

padecimentos ao sacrifiacutecio redentor do Cordeiro de Deus para assim realizarmos os planos divinos

De espiacuterito fundamentalmente religioso Dr Plinio compreendeu e amou esta verdade a respeito da

qual teceu belos comentaacuterios que iluminam as paacuteginas da vasta obra por ele deixada e dos quais o leitor

encontraraacute mais um exemplo na presente ediccedilatildeo4

Poreacutem Dr Plinio natildeo se limitou a compreender e amar o sacrifiacutecio Sua admiraccedilatildeo pelas viacutetimas ex-

piatoacuterias e sobretudo sua adoraccedilatildeo pela Viacutetima suprema levaram-no a oferecer-se em holocausto pela

causa catoacutelica Celebramos neste mecircs 40 anos de seu oferecimento avidamente aceito pela Providecircncia

Fiz esse oferecimento mdash dizia ele5 mdash na presenccedila de vaacuterias pessoas Conversaacutevamos sobre a situ-

accedilatildeo de nosso Movimento cujas difiacuteceis vicissitudes pelas quais passava exigiam um holocausto des-

sa natureza Como natildeo via qualquer disposiccedilatildeo para isso em meus interlocutores pareceu-me que eu

deveria fazecirc-lo Entatildeo lhes declarei minha intenccedilatildeo de oferecer-me como viacutetima a Nossa Senhora

Natildeo imaginei que fosse ter uma tatildeo grande repercussatildeo A conversa se deu no saacutebado agrave noite Na

segunda-feira dia 3 de fevereiro sofri o desastre de automoacutevel

A Santiacutessima Virgem colheu com avidez esse sacrifiacutecio Dir-se-ia que por menos que ele valesse

Ela estava precisando tanto dele que fez como uma mendiga faminta mdash Ela a Rainha do Ceacuteu e da

Terra mdash a quem se daacute um pedaccedilo de patildeo potildee-se o patildeo em sua matildeo e ela leva-o agrave boca imediata-

mente Nossa Senhora tinha fome desse sacrifiacutecio Por assim dizer mal o sacrifiacutecio foi oferecido ele

foi colhido

Ao sair do hospital notei ter ficado com a marcha impedida Os meacutedicos determinaram que eu

permanecesse deitado por mais um mecircs Eu percebia bem que na melhor das hipoacuteteses teria de an-

dar de muletas o que naturalmente eacute uma limitaccedilatildeo na validez de uma pessoa

Minha grande preocupaccedilatildeo era ateacute que ponto continuarei capaz de servir a Nossa Senhora to-

cando adiante a luta que devo travar

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Percebia que minha sauacutede em geral estava boa Embora notasse a memoacuteria um tanto abala-

da devido agrave forte pancada recebida na cabeccedila o raciociacutenio estava perfeito Cheguei agrave conclusatildeo de

que se Nossa Senhora continuasse a me ajudar do ponto de vista intelectual a invalidez fiacutesica natildeo

teria maior importacircncia

Contudo esse sacrifiacutecio foi acrescido de outros

Era de se esperar que se eu sofresse um desastre como aceitaccedilatildeo de meu oferecimento de algum

modo e por algum sinal Nossa Senhora de Genazzano far-me-ia sentir previamente

Ora isso natildeo se deu o que para mim parecia significar que o pacto de Genazzano a promessa

que Ela me fizera estava cancelada E a prova disso era que eu tinha afundado num mar de infortuacute-

nios sem nenhum sinal anterior no sentido de que esses infortuacutenios viriam

Por cima do tormento de toda aquela situaccedilatildeo mdash com operaccedilotildees imobilidade incocircmodos de to-

da ordem mdash vinha o problema pior mais desagradaacutevel os exames de consciecircncia com uma espeacute-

cie de solidatildeo espiritual ldquoO que fiz eu para que essa promessa fosse desmentida No que fui infiel

Acuse-se seja franco consigo mesmo Deve haver alguma culpa suardquo Uma espeacutecie de terror acom-

panhado desta ideia ldquoNatildeo foi o meu oferecimento porque eu natildeo recebi um sinalrdquo

Dez anos depois mdash durante os quais a graccedila de Genazzano pareceu-me apagada mdash eu soube por

uma conversa fortuita que no dia do desastre comemora-se a festa do Bem-aventurado Stefano Bellesi-

ni o grande devoto da Matildee do Bom Conselho cujas reliacutequias se encontram no Santuaacuterio de Genazzano

Segundo as convenccedilotildees entre Nossa Senhora e eu mdash se assim eu pudesse dizer mdash este poderia

ser o sinal Entatildeo o sinal fora dado Mas eu soacute soube disso dez anos depois Como Nossa Senhora

estava aacutevida de um grande sacrifiacutecio

Muito tempo depois contaram-me o comentaacuterio de um conceituado autor mdash se natildeo me enga-

no o Pe Garrigou-Lagrange mdash segundo o qual quando algueacutem se oferece como viacutetima expiatoacuteria

a Providecircncia dispotildee as coisas de maneira a que a pessoa natildeo acredite estar padecendo por causa de

seu oferecimento Porque se ela soubesse disso diminuiria tanto o sofrimento que o proacuteprio poder

expiatoacuterio ficaria muito atenuado

Vemos entatildeo a longa trajetoacuteria de um oferecimento que foi mais longe do que eu imaginava

Nossa Senhora por assim dizer multiplicou o meu pedido e fecirc-lo frutificar mais do que eu tinha

oferecido para que em uacuteltima anaacutelise alguma coisa viesse para o bem da causa drsquoEla

1) Do latim Sem a efusatildeo de sangue natildeo haacute perdatildeo (Hb 9 22)

2) Jo 1 3

3) Cf Constituiccedilatildeo Pastoral Gaudium et Spes n 22

4) Seccedilatildeo ldquoDr Plinio comentardquo p 18-21

5) Cf conferecircncias de 3071983 e 321991

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

6

O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

s

7

Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

9

nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

Chr

isto

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vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

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Gog

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(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

11

to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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C 3

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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Otu

ourly

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C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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C 3

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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Igor

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Luca

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 2: Revista Doctor Plinio 203_201502

AEnergia combativa

2

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histoacuteria do pontificado do grande Pio IX mereceria ser estudada a fundo pelos catoacutelicos Ela conteacutem en-

sinamentos para nossa eacutepoca muito mais oportunos e profun-dos do que geralmente se pensaQuer pela definiccedilatildeo do dogma da Imaculada Conceiccedilatildeo em

1854 quer pela convocaccedilatildeo do Conciacutelio do Vaticano em 1869 e a defi-niccedilatildeo do dogma da infalibilidade papal no ano seguinte este grande Papa enfrentou aguerrida e resolutamente o naturalismo e o racionalismo do seacuteculo

Pio IX julgou que a eacutepoca era ainda menos propiacutecia do que outra qualquer para uma atitu-de de impassibilidade sorridente cujo efeito necessaacuterio seria o encorajamento dos maus e o enti-biamento dos bons Com isto calcando aos peacutes qualquer falso sentimentalismo Pio IX enfrentou decididamente a impiedade

Sua energia combativa venceu Depois da definiccedilatildeo do dogma da infalibilidade pontifiacutecia pe-lo Conciacutelio do Vaticano a onda do racionalismo naturalista tem decrescido incessantemente e embora ela ainda conserve formas disfarccediladas dignas da maior cautela dos catoacutelicos eacute certo que perdeu aquela agressividade truculenta e blasfema com que se pavoneava nas altas rodas literaacute-rias poliacuteticas e sociais da Europa do seacuteculo XIX

(Extraiacutedo de ldquoO Legionaacuteriordquo de 18121938)

Jebu

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)

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

3

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SumaacuterioSumaacuterioAno XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

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Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Editorial

4 Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

dona lucilia

6 Inocecircncia generosidade e afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

o pEnSamEnto filoSoacutefico dE dr plinio

14 Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

dr plinio comEnta

18 Modalidades de sofrimento - I

a SociEdadE analiSada por dr plinio

22 Teoria do progresso - II

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Fevereiro

Hagiografia

28 Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

apoacuteStolo do pulcHrum

32 O belo e o praacutetico - II

Uacuteltima paacutegina

36 Contraste maravilhoso

Na capa Dr Plinio na deacutecada de 1980 Foto Seacutergio Miyazaki

Haacute 40 anos um oferecimento

avidamente aceito

S

Editorial

4

ine sanguinis effusione non fit remissio1 Esta afirmaccedilatildeo encerra um profundo misteacuterio Por que

Deus quis que o proacuteprio Verbo pelo qual todas as coisas foram feitas2 Se encarnasse e vertesse do

alto da Cruz ateacute a uacuteltima gota de seu preciosiacutessimo Sangue para remir suas criaturas O mesmo

ato de vontade onipotente que tirou do nada o universo natildeo bastaria para operar a Redenccedilatildeo

Satildeo questotildees que nos interessam a fundo e concernem a toda a nossa existecircncia pois o enigma da dor

e da morte mdash que aflige e por vezes esmaga o homem mdash soacute encontra sua soluccedilatildeo em Nosso Senhor Je-

sus Cristo3

A cada ano o Tempo da Quaresma nos convida a meditarmos na necessidade de associar os nossos

padecimentos ao sacrifiacutecio redentor do Cordeiro de Deus para assim realizarmos os planos divinos

De espiacuterito fundamentalmente religioso Dr Plinio compreendeu e amou esta verdade a respeito da

qual teceu belos comentaacuterios que iluminam as paacuteginas da vasta obra por ele deixada e dos quais o leitor

encontraraacute mais um exemplo na presente ediccedilatildeo4

Poreacutem Dr Plinio natildeo se limitou a compreender e amar o sacrifiacutecio Sua admiraccedilatildeo pelas viacutetimas ex-

piatoacuterias e sobretudo sua adoraccedilatildeo pela Viacutetima suprema levaram-no a oferecer-se em holocausto pela

causa catoacutelica Celebramos neste mecircs 40 anos de seu oferecimento avidamente aceito pela Providecircncia

Fiz esse oferecimento mdash dizia ele5 mdash na presenccedila de vaacuterias pessoas Conversaacutevamos sobre a situ-

accedilatildeo de nosso Movimento cujas difiacuteceis vicissitudes pelas quais passava exigiam um holocausto des-

sa natureza Como natildeo via qualquer disposiccedilatildeo para isso em meus interlocutores pareceu-me que eu

deveria fazecirc-lo Entatildeo lhes declarei minha intenccedilatildeo de oferecer-me como viacutetima a Nossa Senhora

Natildeo imaginei que fosse ter uma tatildeo grande repercussatildeo A conversa se deu no saacutebado agrave noite Na

segunda-feira dia 3 de fevereiro sofri o desastre de automoacutevel

A Santiacutessima Virgem colheu com avidez esse sacrifiacutecio Dir-se-ia que por menos que ele valesse

Ela estava precisando tanto dele que fez como uma mendiga faminta mdash Ela a Rainha do Ceacuteu e da

Terra mdash a quem se daacute um pedaccedilo de patildeo potildee-se o patildeo em sua matildeo e ela leva-o agrave boca imediata-

mente Nossa Senhora tinha fome desse sacrifiacutecio Por assim dizer mal o sacrifiacutecio foi oferecido ele

foi colhido

Ao sair do hospital notei ter ficado com a marcha impedida Os meacutedicos determinaram que eu

permanecesse deitado por mais um mecircs Eu percebia bem que na melhor das hipoacuteteses teria de an-

dar de muletas o que naturalmente eacute uma limitaccedilatildeo na validez de uma pessoa

Minha grande preocupaccedilatildeo era ateacute que ponto continuarei capaz de servir a Nossa Senhora to-

cando adiante a luta que devo travar

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Percebia que minha sauacutede em geral estava boa Embora notasse a memoacuteria um tanto abala-

da devido agrave forte pancada recebida na cabeccedila o raciociacutenio estava perfeito Cheguei agrave conclusatildeo de

que se Nossa Senhora continuasse a me ajudar do ponto de vista intelectual a invalidez fiacutesica natildeo

teria maior importacircncia

Contudo esse sacrifiacutecio foi acrescido de outros

Era de se esperar que se eu sofresse um desastre como aceitaccedilatildeo de meu oferecimento de algum

modo e por algum sinal Nossa Senhora de Genazzano far-me-ia sentir previamente

Ora isso natildeo se deu o que para mim parecia significar que o pacto de Genazzano a promessa

que Ela me fizera estava cancelada E a prova disso era que eu tinha afundado num mar de infortuacute-

nios sem nenhum sinal anterior no sentido de que esses infortuacutenios viriam

Por cima do tormento de toda aquela situaccedilatildeo mdash com operaccedilotildees imobilidade incocircmodos de to-

da ordem mdash vinha o problema pior mais desagradaacutevel os exames de consciecircncia com uma espeacute-

cie de solidatildeo espiritual ldquoO que fiz eu para que essa promessa fosse desmentida No que fui infiel

Acuse-se seja franco consigo mesmo Deve haver alguma culpa suardquo Uma espeacutecie de terror acom-

panhado desta ideia ldquoNatildeo foi o meu oferecimento porque eu natildeo recebi um sinalrdquo

Dez anos depois mdash durante os quais a graccedila de Genazzano pareceu-me apagada mdash eu soube por

uma conversa fortuita que no dia do desastre comemora-se a festa do Bem-aventurado Stefano Bellesi-

ni o grande devoto da Matildee do Bom Conselho cujas reliacutequias se encontram no Santuaacuterio de Genazzano

Segundo as convenccedilotildees entre Nossa Senhora e eu mdash se assim eu pudesse dizer mdash este poderia

ser o sinal Entatildeo o sinal fora dado Mas eu soacute soube disso dez anos depois Como Nossa Senhora

estava aacutevida de um grande sacrifiacutecio

Muito tempo depois contaram-me o comentaacuterio de um conceituado autor mdash se natildeo me enga-

no o Pe Garrigou-Lagrange mdash segundo o qual quando algueacutem se oferece como viacutetima expiatoacuteria

a Providecircncia dispotildee as coisas de maneira a que a pessoa natildeo acredite estar padecendo por causa de

seu oferecimento Porque se ela soubesse disso diminuiria tanto o sofrimento que o proacuteprio poder

expiatoacuterio ficaria muito atenuado

Vemos entatildeo a longa trajetoacuteria de um oferecimento que foi mais longe do que eu imaginava

Nossa Senhora por assim dizer multiplicou o meu pedido e fecirc-lo frutificar mais do que eu tinha

oferecido para que em uacuteltima anaacutelise alguma coisa viesse para o bem da causa drsquoEla

1) Do latim Sem a efusatildeo de sangue natildeo haacute perdatildeo (Hb 9 22)

2) Jo 1 3

3) Cf Constituiccedilatildeo Pastoral Gaudium et Spes n 22

4) Seccedilatildeo ldquoDr Plinio comentardquo p 18-21

5) Cf conferecircncias de 3071983 e 321991

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

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O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

s

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Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

Chr

isto

phe

Fino

t (C

C 3

0)

vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

ccedilois

Gog

lins

(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

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C 3

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

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Rep

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ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

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othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 3: Revista Doctor Plinio 203_201502

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 203 Fevereiro de 2015

Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

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Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Editorial

4 Haacute 40 anos um oferecimento avidamente aceito

dona lucilia

6 Inocecircncia generosidade e afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

o pEnSamEnto filoSoacutefico dE dr plinio

14 Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

dr plinio comEnta

18 Modalidades de sofrimento - I

a SociEdadE analiSada por dr plinio

22 Teoria do progresso - II

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Fevereiro

Hagiografia

28 Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

apoacuteStolo do pulcHrum

32 O belo e o praacutetico - II

Uacuteltima paacutegina

36 Contraste maravilhoso

Na capa Dr Plinio na deacutecada de 1980 Foto Seacutergio Miyazaki

Haacute 40 anos um oferecimento

avidamente aceito

S

Editorial

4

ine sanguinis effusione non fit remissio1 Esta afirmaccedilatildeo encerra um profundo misteacuterio Por que

Deus quis que o proacuteprio Verbo pelo qual todas as coisas foram feitas2 Se encarnasse e vertesse do

alto da Cruz ateacute a uacuteltima gota de seu preciosiacutessimo Sangue para remir suas criaturas O mesmo

ato de vontade onipotente que tirou do nada o universo natildeo bastaria para operar a Redenccedilatildeo

Satildeo questotildees que nos interessam a fundo e concernem a toda a nossa existecircncia pois o enigma da dor

e da morte mdash que aflige e por vezes esmaga o homem mdash soacute encontra sua soluccedilatildeo em Nosso Senhor Je-

sus Cristo3

A cada ano o Tempo da Quaresma nos convida a meditarmos na necessidade de associar os nossos

padecimentos ao sacrifiacutecio redentor do Cordeiro de Deus para assim realizarmos os planos divinos

De espiacuterito fundamentalmente religioso Dr Plinio compreendeu e amou esta verdade a respeito da

qual teceu belos comentaacuterios que iluminam as paacuteginas da vasta obra por ele deixada e dos quais o leitor

encontraraacute mais um exemplo na presente ediccedilatildeo4

Poreacutem Dr Plinio natildeo se limitou a compreender e amar o sacrifiacutecio Sua admiraccedilatildeo pelas viacutetimas ex-

piatoacuterias e sobretudo sua adoraccedilatildeo pela Viacutetima suprema levaram-no a oferecer-se em holocausto pela

causa catoacutelica Celebramos neste mecircs 40 anos de seu oferecimento avidamente aceito pela Providecircncia

Fiz esse oferecimento mdash dizia ele5 mdash na presenccedila de vaacuterias pessoas Conversaacutevamos sobre a situ-

accedilatildeo de nosso Movimento cujas difiacuteceis vicissitudes pelas quais passava exigiam um holocausto des-

sa natureza Como natildeo via qualquer disposiccedilatildeo para isso em meus interlocutores pareceu-me que eu

deveria fazecirc-lo Entatildeo lhes declarei minha intenccedilatildeo de oferecer-me como viacutetima a Nossa Senhora

Natildeo imaginei que fosse ter uma tatildeo grande repercussatildeo A conversa se deu no saacutebado agrave noite Na

segunda-feira dia 3 de fevereiro sofri o desastre de automoacutevel

A Santiacutessima Virgem colheu com avidez esse sacrifiacutecio Dir-se-ia que por menos que ele valesse

Ela estava precisando tanto dele que fez como uma mendiga faminta mdash Ela a Rainha do Ceacuteu e da

Terra mdash a quem se daacute um pedaccedilo de patildeo potildee-se o patildeo em sua matildeo e ela leva-o agrave boca imediata-

mente Nossa Senhora tinha fome desse sacrifiacutecio Por assim dizer mal o sacrifiacutecio foi oferecido ele

foi colhido

Ao sair do hospital notei ter ficado com a marcha impedida Os meacutedicos determinaram que eu

permanecesse deitado por mais um mecircs Eu percebia bem que na melhor das hipoacuteteses teria de an-

dar de muletas o que naturalmente eacute uma limitaccedilatildeo na validez de uma pessoa

Minha grande preocupaccedilatildeo era ateacute que ponto continuarei capaz de servir a Nossa Senhora to-

cando adiante a luta que devo travar

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Percebia que minha sauacutede em geral estava boa Embora notasse a memoacuteria um tanto abala-

da devido agrave forte pancada recebida na cabeccedila o raciociacutenio estava perfeito Cheguei agrave conclusatildeo de

que se Nossa Senhora continuasse a me ajudar do ponto de vista intelectual a invalidez fiacutesica natildeo

teria maior importacircncia

Contudo esse sacrifiacutecio foi acrescido de outros

Era de se esperar que se eu sofresse um desastre como aceitaccedilatildeo de meu oferecimento de algum

modo e por algum sinal Nossa Senhora de Genazzano far-me-ia sentir previamente

Ora isso natildeo se deu o que para mim parecia significar que o pacto de Genazzano a promessa

que Ela me fizera estava cancelada E a prova disso era que eu tinha afundado num mar de infortuacute-

nios sem nenhum sinal anterior no sentido de que esses infortuacutenios viriam

Por cima do tormento de toda aquela situaccedilatildeo mdash com operaccedilotildees imobilidade incocircmodos de to-

da ordem mdash vinha o problema pior mais desagradaacutevel os exames de consciecircncia com uma espeacute-

cie de solidatildeo espiritual ldquoO que fiz eu para que essa promessa fosse desmentida No que fui infiel

Acuse-se seja franco consigo mesmo Deve haver alguma culpa suardquo Uma espeacutecie de terror acom-

panhado desta ideia ldquoNatildeo foi o meu oferecimento porque eu natildeo recebi um sinalrdquo

Dez anos depois mdash durante os quais a graccedila de Genazzano pareceu-me apagada mdash eu soube por

uma conversa fortuita que no dia do desastre comemora-se a festa do Bem-aventurado Stefano Bellesi-

ni o grande devoto da Matildee do Bom Conselho cujas reliacutequias se encontram no Santuaacuterio de Genazzano

Segundo as convenccedilotildees entre Nossa Senhora e eu mdash se assim eu pudesse dizer mdash este poderia

ser o sinal Entatildeo o sinal fora dado Mas eu soacute soube disso dez anos depois Como Nossa Senhora

estava aacutevida de um grande sacrifiacutecio

Muito tempo depois contaram-me o comentaacuterio de um conceituado autor mdash se natildeo me enga-

no o Pe Garrigou-Lagrange mdash segundo o qual quando algueacutem se oferece como viacutetima expiatoacuteria

a Providecircncia dispotildee as coisas de maneira a que a pessoa natildeo acredite estar padecendo por causa de

seu oferecimento Porque se ela soubesse disso diminuiria tanto o sofrimento que o proacuteprio poder

expiatoacuterio ficaria muito atenuado

Vemos entatildeo a longa trajetoacuteria de um oferecimento que foi mais longe do que eu imaginava

Nossa Senhora por assim dizer multiplicou o meu pedido e fecirc-lo frutificar mais do que eu tinha

oferecido para que em uacuteltima anaacutelise alguma coisa viesse para o bem da causa drsquoEla

1) Do latim Sem a efusatildeo de sangue natildeo haacute perdatildeo (Hb 9 22)

2) Jo 1 3

3) Cf Constituiccedilatildeo Pastoral Gaudium et Spes n 22

4) Seccedilatildeo ldquoDr Plinio comentardquo p 18-21

5) Cf conferecircncias de 3071983 e 321991

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

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O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

s

7

Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

Chr

isto

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Fino

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C 3

0)

vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

ccedilois

Gog

lins

(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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(CC

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)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

vict

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

O

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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C 3

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

tavo

Kra

lj

Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 4: Revista Doctor Plinio 203_201502

Haacute 40 anos um oferecimento

avidamente aceito

S

Editorial

4

ine sanguinis effusione non fit remissio1 Esta afirmaccedilatildeo encerra um profundo misteacuterio Por que

Deus quis que o proacuteprio Verbo pelo qual todas as coisas foram feitas2 Se encarnasse e vertesse do

alto da Cruz ateacute a uacuteltima gota de seu preciosiacutessimo Sangue para remir suas criaturas O mesmo

ato de vontade onipotente que tirou do nada o universo natildeo bastaria para operar a Redenccedilatildeo

Satildeo questotildees que nos interessam a fundo e concernem a toda a nossa existecircncia pois o enigma da dor

e da morte mdash que aflige e por vezes esmaga o homem mdash soacute encontra sua soluccedilatildeo em Nosso Senhor Je-

sus Cristo3

A cada ano o Tempo da Quaresma nos convida a meditarmos na necessidade de associar os nossos

padecimentos ao sacrifiacutecio redentor do Cordeiro de Deus para assim realizarmos os planos divinos

De espiacuterito fundamentalmente religioso Dr Plinio compreendeu e amou esta verdade a respeito da

qual teceu belos comentaacuterios que iluminam as paacuteginas da vasta obra por ele deixada e dos quais o leitor

encontraraacute mais um exemplo na presente ediccedilatildeo4

Poreacutem Dr Plinio natildeo se limitou a compreender e amar o sacrifiacutecio Sua admiraccedilatildeo pelas viacutetimas ex-

piatoacuterias e sobretudo sua adoraccedilatildeo pela Viacutetima suprema levaram-no a oferecer-se em holocausto pela

causa catoacutelica Celebramos neste mecircs 40 anos de seu oferecimento avidamente aceito pela Providecircncia

Fiz esse oferecimento mdash dizia ele5 mdash na presenccedila de vaacuterias pessoas Conversaacutevamos sobre a situ-

accedilatildeo de nosso Movimento cujas difiacuteceis vicissitudes pelas quais passava exigiam um holocausto des-

sa natureza Como natildeo via qualquer disposiccedilatildeo para isso em meus interlocutores pareceu-me que eu

deveria fazecirc-lo Entatildeo lhes declarei minha intenccedilatildeo de oferecer-me como viacutetima a Nossa Senhora

Natildeo imaginei que fosse ter uma tatildeo grande repercussatildeo A conversa se deu no saacutebado agrave noite Na

segunda-feira dia 3 de fevereiro sofri o desastre de automoacutevel

A Santiacutessima Virgem colheu com avidez esse sacrifiacutecio Dir-se-ia que por menos que ele valesse

Ela estava precisando tanto dele que fez como uma mendiga faminta mdash Ela a Rainha do Ceacuteu e da

Terra mdash a quem se daacute um pedaccedilo de patildeo potildee-se o patildeo em sua matildeo e ela leva-o agrave boca imediata-

mente Nossa Senhora tinha fome desse sacrifiacutecio Por assim dizer mal o sacrifiacutecio foi oferecido ele

foi colhido

Ao sair do hospital notei ter ficado com a marcha impedida Os meacutedicos determinaram que eu

permanecesse deitado por mais um mecircs Eu percebia bem que na melhor das hipoacuteteses teria de an-

dar de muletas o que naturalmente eacute uma limitaccedilatildeo na validez de uma pessoa

Minha grande preocupaccedilatildeo era ateacute que ponto continuarei capaz de servir a Nossa Senhora to-

cando adiante a luta que devo travar

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Percebia que minha sauacutede em geral estava boa Embora notasse a memoacuteria um tanto abala-

da devido agrave forte pancada recebida na cabeccedila o raciociacutenio estava perfeito Cheguei agrave conclusatildeo de

que se Nossa Senhora continuasse a me ajudar do ponto de vista intelectual a invalidez fiacutesica natildeo

teria maior importacircncia

Contudo esse sacrifiacutecio foi acrescido de outros

Era de se esperar que se eu sofresse um desastre como aceitaccedilatildeo de meu oferecimento de algum

modo e por algum sinal Nossa Senhora de Genazzano far-me-ia sentir previamente

Ora isso natildeo se deu o que para mim parecia significar que o pacto de Genazzano a promessa

que Ela me fizera estava cancelada E a prova disso era que eu tinha afundado num mar de infortuacute-

nios sem nenhum sinal anterior no sentido de que esses infortuacutenios viriam

Por cima do tormento de toda aquela situaccedilatildeo mdash com operaccedilotildees imobilidade incocircmodos de to-

da ordem mdash vinha o problema pior mais desagradaacutevel os exames de consciecircncia com uma espeacute-

cie de solidatildeo espiritual ldquoO que fiz eu para que essa promessa fosse desmentida No que fui infiel

Acuse-se seja franco consigo mesmo Deve haver alguma culpa suardquo Uma espeacutecie de terror acom-

panhado desta ideia ldquoNatildeo foi o meu oferecimento porque eu natildeo recebi um sinalrdquo

Dez anos depois mdash durante os quais a graccedila de Genazzano pareceu-me apagada mdash eu soube por

uma conversa fortuita que no dia do desastre comemora-se a festa do Bem-aventurado Stefano Bellesi-

ni o grande devoto da Matildee do Bom Conselho cujas reliacutequias se encontram no Santuaacuterio de Genazzano

Segundo as convenccedilotildees entre Nossa Senhora e eu mdash se assim eu pudesse dizer mdash este poderia

ser o sinal Entatildeo o sinal fora dado Mas eu soacute soube disso dez anos depois Como Nossa Senhora

estava aacutevida de um grande sacrifiacutecio

Muito tempo depois contaram-me o comentaacuterio de um conceituado autor mdash se natildeo me enga-

no o Pe Garrigou-Lagrange mdash segundo o qual quando algueacutem se oferece como viacutetima expiatoacuteria

a Providecircncia dispotildee as coisas de maneira a que a pessoa natildeo acredite estar padecendo por causa de

seu oferecimento Porque se ela soubesse disso diminuiria tanto o sofrimento que o proacuteprio poder

expiatoacuterio ficaria muito atenuado

Vemos entatildeo a longa trajetoacuteria de um oferecimento que foi mais longe do que eu imaginava

Nossa Senhora por assim dizer multiplicou o meu pedido e fecirc-lo frutificar mais do que eu tinha

oferecido para que em uacuteltima anaacutelise alguma coisa viesse para o bem da causa drsquoEla

1) Do latim Sem a efusatildeo de sangue natildeo haacute perdatildeo (Hb 9 22)

2) Jo 1 3

3) Cf Constituiccedilatildeo Pastoral Gaudium et Spes n 22

4) Seccedilatildeo ldquoDr Plinio comentardquo p 18-21

5) Cf conferecircncias de 3071983 e 321991

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

6

O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

s

7

Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

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vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

Arq

uivo

Rev

ista

17

Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

Wilw

arin

(C

C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

ene

(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

tavo

Kra

lj

Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

Jam

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ordo

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C 3

0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

Szi

las

(CC

30

)

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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0)

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

Gar

itan(

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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a S

V (

CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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Luca

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 5: Revista Doctor Plinio 203_201502

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Percebia que minha sauacutede em geral estava boa Embora notasse a memoacuteria um tanto abala-

da devido agrave forte pancada recebida na cabeccedila o raciociacutenio estava perfeito Cheguei agrave conclusatildeo de

que se Nossa Senhora continuasse a me ajudar do ponto de vista intelectual a invalidez fiacutesica natildeo

teria maior importacircncia

Contudo esse sacrifiacutecio foi acrescido de outros

Era de se esperar que se eu sofresse um desastre como aceitaccedilatildeo de meu oferecimento de algum

modo e por algum sinal Nossa Senhora de Genazzano far-me-ia sentir previamente

Ora isso natildeo se deu o que para mim parecia significar que o pacto de Genazzano a promessa

que Ela me fizera estava cancelada E a prova disso era que eu tinha afundado num mar de infortuacute-

nios sem nenhum sinal anterior no sentido de que esses infortuacutenios viriam

Por cima do tormento de toda aquela situaccedilatildeo mdash com operaccedilotildees imobilidade incocircmodos de to-

da ordem mdash vinha o problema pior mais desagradaacutevel os exames de consciecircncia com uma espeacute-

cie de solidatildeo espiritual ldquoO que fiz eu para que essa promessa fosse desmentida No que fui infiel

Acuse-se seja franco consigo mesmo Deve haver alguma culpa suardquo Uma espeacutecie de terror acom-

panhado desta ideia ldquoNatildeo foi o meu oferecimento porque eu natildeo recebi um sinalrdquo

Dez anos depois mdash durante os quais a graccedila de Genazzano pareceu-me apagada mdash eu soube por

uma conversa fortuita que no dia do desastre comemora-se a festa do Bem-aventurado Stefano Bellesi-

ni o grande devoto da Matildee do Bom Conselho cujas reliacutequias se encontram no Santuaacuterio de Genazzano

Segundo as convenccedilotildees entre Nossa Senhora e eu mdash se assim eu pudesse dizer mdash este poderia

ser o sinal Entatildeo o sinal fora dado Mas eu soacute soube disso dez anos depois Como Nossa Senhora

estava aacutevida de um grande sacrifiacutecio

Muito tempo depois contaram-me o comentaacuterio de um conceituado autor mdash se natildeo me enga-

no o Pe Garrigou-Lagrange mdash segundo o qual quando algueacutem se oferece como viacutetima expiatoacuteria

a Providecircncia dispotildee as coisas de maneira a que a pessoa natildeo acredite estar padecendo por causa de

seu oferecimento Porque se ela soubesse disso diminuiria tanto o sofrimento que o proacuteprio poder

expiatoacuterio ficaria muito atenuado

Vemos entatildeo a longa trajetoacuteria de um oferecimento que foi mais longe do que eu imaginava

Nossa Senhora por assim dizer multiplicou o meu pedido e fecirc-lo frutificar mais do que eu tinha

oferecido para que em uacuteltima anaacutelise alguma coisa viesse para o bem da causa drsquoEla

1) Do latim Sem a efusatildeo de sangue natildeo haacute perdatildeo (Hb 9 22)

2) Jo 1 3

3) Cf Constituiccedilatildeo Pastoral Gaudium et Spes n 22

4) Seccedilatildeo ldquoDr Plinio comentardquo p 18-21

5) Cf conferecircncias de 3071983 e 321991

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

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O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

s

7

Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

Chr

isto

phe

Fino

t (C

C 3

0)

vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

ccedilois

Gog

lins

(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

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C 3

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

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Rep

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ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

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Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 6: Revista Doctor Plinio 203_201502

A

Inocecircncia generosidade e afeto

Dona LuciLia

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O espiacuterito revolucionaacuterio inocula e exacerba nas almas o egoiacutesmo Quando encontramos pessoas natildeo egoiacutestas devemos

apreciaacute-las e imitaacute-las lavando assim as nossas almas da influecircncia da Revoluccedilatildeo A inocecircncia de Dona Lucilia se caracterizava natildeo soacute pela pureza mas por uma total ausecircncia de egoiacutesmo tornando-a

plena de generosidade e bondade

inocecircncia de Dona Lucilia consistia antes de tudo na pureza nas virtudes proacuteprias agrave boa ca-toacutelica comuns nas senhoras daquele tempo e

que hoje se tornaram raras devido agrave decadecircncia moral do mundo

Ela possuiacutea essa inocecircncia em alto grau

Joatildeo

Dia

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Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

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vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

Arq

uivo

Rev

ista

17

Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

Wilw

arin

(C

C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

ene

(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

tavo

Kra

lj

Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

Jam

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ordo

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C 3

0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

Szi

las

(CC

30

)

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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0)

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

Gar

itan(

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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a S

V (

CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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Luca

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 7: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Desprendimento de si mesmaEntretanto tinha outra forma de inocecircncia que tor-

nava o conviacutevio com ela extraordinariamente agradaacute-vel e consistia em um desprendimento de si mesma pelo qual a uacuteltima coisa em que ela pensava era na vantagem proacutepria nos seus direitos no que ela queria ou no que lhe convinha Ela pensava muito na vantagem dos filhos mas nas vantagens dela absolutamente natildeo

Por exemplo se uma pessoa quisesse ou lhe pedisse algo encontrava uma generosidade um prazer em dar um contentamento em conceder que era extraordinaacuterio e feito sem pretensatildeo Natildeo se portava como certas pesso-as que ao fazer algum obseacutequio ficam com uma fisiono-mia e um ar de quem diz ldquoOlhe aqui vocecirc receba isto e veja que colosso eu sourdquo

Mamatildee natildeo era assim Ela dava aquilo que lhe pediam co-mo uma muito boa irmatilde concederia para outra irmatilde E se ela se lembrasse depois que podia dar mais algo que a pessoa natildeo tinha pedido ela ia atraacutes e dizia ldquoOlhe eu me lembrei de que ainda podia fazer por vocecirc tal coisa assimrdquo e fazia

Isto tornava toda a presenccedila dela muito agradaacutevel

Bondade inspirada no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

O egoiacutesmo torna a pessoa desagradaacutevel Notando que determinado indiviacuteduo estaacute pensando apenas em seus inte-resses o tempo inteiro e natildeo cogita de outra coisa e conti-nuamente medindo as vantagens as desvantagens etc sen-te-se um afastamento um desagrado muito grande

Mas vendo essa generosidade essa bondade cristatilde no sentido proacuteprio da palavra quer dizer inspirada no Sagra-do Coraccedilatildeo de Jesus modelo inigualaacutevel dessa bondade e dessa generosidade tinha-se uma impressatildeo de retidatildeo de alma e de abertura de coraccedilatildeo que natildeo me lembro de ter experimentado ao tratar com qualquer outra pessoa

Evidentemente na idade em que estou tenho trata-do com um nuacutemero enorme de pessoas tenho conhecido tanto pessoas boas como ruins mas nenhuma me deu es-sa impressatildeo de generosidade e de afeto

Mamatildee tinha isso em alto grau o que tornava a pre-senccedila dela deliciosa Eacute por esta razatildeo que por exem-plo quando eu voltava de alguma viagem chegava a ca-sa com uma espeacutecie de sofreguidatildeo de encontraacute-la logo de sentir o efluacutevio da companhia dela o seu agrado etc

A lembranccedila luminosa que acompanhou Dr Plinio ateacute o fim de seus dias

Quando ela morreu eu jaacute era um homem ultrafeito tinha quase 60 anos e ela 92 Em tatildeo longo conviacutevio natildeo me lembro de uma soacute viagem realizada por mim na qual

ao chegar natildeo tenha ido comungar em alguma igreja e em seguida dirigir-me diretamente para casa a fim de vecirc-la Ainda que fosse uma viagem pequena dessas que natildeo cansam e nas quais chegando vai-se diretamente tratar de negoacutecios antes mesmo de ir para casa

Natildeo me lembro de um soacute caso em que isso aconteceu porque para mim estar de volta a Satildeo Paulo era estar com mamatildee encontrar-me com ela ver como ela estava e mdash por que natildeo mdash ser visto por ela Eu gostava de me sentir visto por ela e de observar o olhar dela me que-rendo bem Era um dos fatores de alegria de minha vi-da Ainda hoje continua em mim essa lembranccedila lumino-sa que se Deus quiser me acompanharaacute ateacute o fim Aqui-lo fazia parte da inocecircncia dela

Devemos desejar encontrar muita gente assim em nos-sa vida e quando encontrarmos saber reconhececirc-las Em geral prestamos atenccedilatildeo nas pessoas pelas razotildees mais fuacute-teis mdash porque riem ou fazem rir satildeo inteligentes mil ba-nalidades mdash e natildeo pelo verdadeiro valor que elas tecircm

Devemos procurar os verdadeiros valores dos outros e celebraacute-los como merecem

Resultado habitualmente estamos em estado de in-justiccedila em relaccedilatildeo aos outros Noacutes damos valor a quem natildeo tem e natildeo a quem tem E eacute muito bom sabermos procurar os valores onde estatildeo e nos unir a eles celebraacute--los como merecem ser celebrados

Eu fazia isto agraves torrentes com mamatildee Quando ela es-tava numa sala quer em minha casa ou em outra a pri-meira pessoa para mim era ela Sendo outra residecircncia naturalmente ao chegar eu saudaria primeiro a dona da casa Entretanto logo depois me dirigiria agrave mamatildee E as-sim a punha em primeiriacutessimo lugar com os primeiriacutessi-mos agrados nas primeiriacutessimas manifestaccedilotildees de consi-deraccedilatildeo de respeito etc o piacutencaro era ela Com isso eu tinha tambeacutem a intenccedilatildeo de fazer justiccedila a ela

Eacute recomendaacutevel que adquiramos o haacutebito de fazer o mesmo com as outras pessoas Aprendamos a apreciar as pessoas isentas de egoiacutesmos que encontremos em torno de noacutes Saibamos imitaacute-las lavando assim as nossas al-mas da influecircncia da Revoluccedilatildeo

Sobretudo quando vier o Reino de Maria encontrare-mos muita gente assim

Saibamos entatildeo ver tudo quanto haacute de nobre virtuo-so e santo no Reino de Maria e dar graccedilas a Nossa Se-nhora compreendendo que depois desse reino viraacute ou-tro o Reino do Ceacuteu Se pela misericoacuterdia divina passar-mos para laacute conviveremos por toda a eternidade junto a Deus a Maria Santiacutessima aos Anjos e Santos   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1441991)

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

A

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

Chr

isto

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0)

vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

ccedilois

Gog

lins

(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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(CC

30

)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

O

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

Arq

uivo

Rev

ista

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

Arq

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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(C

C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 8: Revista Doctor Plinio 203_201502

Adoraccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre foi o padratildeo supremo em funccedilatildeo do qual Dr Plinio concebia a verdade o bem e a beleza de todas as coisas como

tambeacutem o relacionamento humano

escola filosoacutefica pela qual o conhecer a biografia do filoacutesofo natildeo interessa em nada limitando-se em considerar as ideias dele priva-se de alguma

coisa que a Providecircncia daacute ao homem no conhecimento da verdade da beleza e do bem

Pedra angular

O indiviacuteduo que trata de um assunto potildee ali ainda que natildeo queira notas da sua luz primordial1 e do atraen-te que para ele esta possui por onde o lado bom dele eacute conhecido no que tem de mais profundo

Aristoacuteteles por exemplo poderia pensar em Deus co-mo ldquoCausa Primeirardquo e se ele fosse fiel fazer disso o que se poderia chamar a sua luz primordial

Jaacute Satildeo Paulo dizia que natildeo pregava a natildeo ser Jesus e Je-sus crucificado2 Por quecirc Porque no Apoacutestolo todas as con-sideraccedilotildees de Aristoacuteteles sobre Deus chegavam ateacute Algueacutem que existiu e que eacute Nosso Senhor Jesus Cristo na unidade de sua Pessoa e na dualidade de suas naturezas em Quem Satildeo Paulo via mais completamente do que Aristoacuteteles aquilo que o proacuteprio Aristoacuteteles dissera E o Apoacutestolo pocircde afirmar ldquoVivo mas natildeo eu eacute Cristo que vive em mimrdquo3 em vez de dizer ldquoEacute Deus que vive em mimrdquo

No meu espiacuterito o caminho pelo qual a contempla-ccedilatildeo da Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo me levou agrave consideraccedilatildeo da sociedade temporal foi um modo espe-cial de analisar o bonum o verum o pulchrum Mas o ele-mento fundamental eacute a contemplaccedilatildeo da Pessoa de Nos-so Senhor Jesus Cristo na dualidade das naturezas huma-na e divina

O que haacute de mais profundo na minha alma eacute essa vi-satildeo religiosa da Pessoa de Nosso Senhor Essa eacute a pe-dra de acircngulo a partir da qual todo o verum bonum pul-chrum se deslinda

Em menino fazendo a anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Em presenccedila de Nosso Senhor Jesus Cristo o que mi-nha alma sentia tendo a notiacutecia drsquoEle que pode ter uma crianccedila com trecircs quatro anos Qual era essa primeira cogniccedilatildeo e como era esse primeiro ato de adoraccedilatildeo

Eu O considerava atraveacutes das imagens que via em mais de um quarto de minha casa de um livrinho de Re-ligiatildeo para crianccedila do que mamatildee contava drsquoEle da His-toacuteria Sagrada etc

Dona Lucilia natildeo falava do Credo diretamente mas o que ela dizia pressupunha o Credo e o ato de Feacute que era o ponto de partida Mas ela natildeo criava nem de longe o problema ldquoEu vou provar que a Igreja Catoacutelica eacute verda-deirahelliprdquo Porque ela considerava que ao contar a histoacute-ria jaacute estava provando ser verdadeira E para a crianccedila eacute realmente assim

Eu tinha a sensaccedilatildeo evidente de que Ele era o Ho-mem-Deus mdash porque mamatildee ao tratar disso deixava clariacutessimo mdash e procurava fazer uma anaacutelise psicoloacutegica de Nosso Senhor

Ele era de uma elevaccedilatildeo de cogitaccedilotildees e de vias ab-solutamente excelsa Os criteacuterios segundo os quais Nos-so Senhor considerava todas as coisas eram de uma su-perioridade que deixava qualquer outra pessoa sem ne-

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

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vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

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to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

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18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Vic

tor

Toni

olo

Tuva

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C 30)

Tuva

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C 3

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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Igor

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Luca

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 9: Revista Doctor Plinio 203_201502

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nhum paralelo possiacutevel Ele ficava desde logo numa altu-ra inacessiacutevel ao homem

Olhando para Ele eu compreendia o que no Ho-mem resplandecia de divino Mas de fato eu entendia que era uma elevaccedilatildeo proacutepria a Deus e que a humanida-de drsquoEle estava numa atitude permanente de contempla-ccedilatildeo e adoraccedilatildeo da divindade das trecircs Pessoas da Santiacutes-sima Trindade

A partir disso Nosso Senhor tinha um contato com to-das as almas porque estando naquela altura e sem as li-mitaccedilotildees de um simples ser humano Ele conhecia todas as outras almas sabia o que acontecia com cada uma de-las e intervinha dentro de todas Sua superioridade Lhe dava o direito ex natura rerum4 a esse contato

Naturalmente tudo isso em mim era muito impliacuteci-to Natildeo imaginem um menininho de quatro anos fazendo pedantemente essas digressotildees Mas explicitando agora noto que era isso

Fuga do bom para o oacutetimo

O proacuteximo ponto da minha meditaccedilatildeo eacute de que na-tureza era essa accedilatildeo de Nosso Senhor Como Ele toma contato com essas almas

Natildeo posso saber co-mo eacute nos outros mas pos-so perceber como eacute es-se contato de almas estu-dando-o em mim Eu me sinto antes de tudo ele-vado algum tanto acima de mim mesmo por ver essa grandeza do ser e do cogitar drsquoEle

De onde se abre em mim uma luz no cogitar e no ver que me exta-sia porque algo em mim eacute feito para olhar mais do que eu E quando saio da minha vida de meni-ninho e percebo algo em mim que vecirc mais do que eu que eacute mais do que eu tenho a impressatildeo de que eu escapo fujo do bom para o oacutetimo ponho-me ali na ponta dos peacutes e me alegro

Outro ponto eu noto que ao mesmo tempo em que contemplo assim essa

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vida existente em Nosso Senhor mdash que eacute um pensar um querer um sentir mdash Ele me faz como que tocar com as matildeos no pensar no querer e no sentir drsquoEle E isso me comunica com a elevaccedilatildeo proacutepria a isso uma retidatildeo e uma santidade do pensar do querer e do sentir as quais satildeo como um remeacutedio que eu bebesse e na hora de sor-ver essa bebida deliciosa ela me agradasse sobremaneira mas ao mesmo tempo me corrigisse

Fico compreendendo que devo ser assim por uma du-pla accedilatildeo primeiro porque vendo como Ele eacute eu O ado-ro E em segundo lugar porque adorando-O noto que coisas tortas em mim que eu nem percebia serem tortas se endireitam e com isso Nosso Senhor me cura de coi-sas que me tornavam doente sem eu saber

Entrevendo a luta que aparece no horizonte

Daiacute me vinha uma ideia da qual eu propriamente natildeo fugia mas natildeo fixava muito a atenccedilatildeo nela Natildeo quero me acusar de uma imperfeiccedilatildeo que natildeo estava em mim mas desejo mostrar que ali havia uma raiz de imperfei-ccedilotildees proveniente do pecado original

Entatildeo eu percebia que naquela hora aquilo era deli-cioso mas quando pas-sasse o mais intenso dis-so essa accedilatildeo correti-va ser-me-ia duro man-ter E portanto em certo momento eu teria que so-frer e lutar muito

Eu tomava conheci-mento dessa realidade mas agrave maneira de uma crianccedila pensava ldquoBem ainda natildeo chegou a hora e aqui estaacute tatildeo bom que deixo isso para depoisrdquo Tinha mais curiosidade de fixar a minha atenccedilatildeo no que Deus estava me mostrando mdash sem saber ser Ele Quem mostrava mdash do que naquilo que eu poderia deduzir por mim mesmo e que era o com-bate Por isso eu apenas entrevia e deixava meio de lado

E olhando para os meninos com quem eu vivia notava que algu-ma coisa dessas Jesus fa-

Capela do Sagrado Coraccedilatildeo Semur-en-Auxois Borgonha Franccedila

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

11

to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

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18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

e (CC 3

0)

Otu

ourly

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C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

Bol

drin

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C3

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 10: Revista Doctor Plinio 203_201502

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Fran

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(CC

30

)

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Sainpuits Franccedila

zia em suas almas tambeacutem mas eles davam muito menos atenccedilatildeo E eu tinha certa ideia de que era culpa dos ou-tros uma indececircncia

Tambeacutem aiacute nota-se o comeccedilo da luta que ia aparecen-do no horizonte mas isso natildeo me empolgava como em-polgou mais tarde

Como ainda natildeo via neles o mal mas apenas um bem menor eu natildeo pensava no futuro disso Sentia um vaacutecuo que eu gostaria que fosse muito diferente mas natildeo um choque que me levasse diretamente para a luta

Accedilatildeo direta e accedilatildeo supletiva

Vinha-me outra ideia que em termos atuais eu expo-ria assim ldquoEcce quam bonum et quam iucundum habita-re fratres in unum mdash Eis como eacute bom e alegre que os ir-matildeos morem juntosrdquo5 Eu formava com aqueles meninos um todo tatildeo alegre e agradaacutevel que me levava a concluir ldquoComo isso eacute bom Mas o eacute sobretudo porque haacute neles um efeito da accedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristordquo

Eles natildeo eram inimigos de Nosso Senhor natildeo tinham estabelecido um corte de relaccedilotildees com Ele Assim eu me sentia posto na minha situaccedilatildeo proacutepria e natural contemplando Nosso Senhor Jesus Cristo na Igreja Ca-toacutelica mdash cuja noccedilatildeo comeccedilava a aparecer no meu espiacuteri-to mdash em mim em mamatildee mdash muitiacutessimo mas muitiacutessi-mo mdash e nos que me circundavam tambeacutem

De maneira que era um mundo todo catoacutelico dentro do qual eu sentia a complementaccedilatildeo normal da felicida-de que me dava a contemplaccedilatildeo de Nosso Senhor Jesus Cristo

Detendo-me por um instante nesse ponto pode-se ver a noccedilatildeo que nascia aqui impliacutecita a condiccedilatildeo normal do homem para adorar a Nosso Senhor Jesus Cristo rece-ber sua influecircncia ser como Ele enfim viver eacute contar com a harmonia e a accedilatildeo supletiva dos outros Tomando em consideraccedilatildeo que a parte do bem que Nosso Senhor Jesus Cristo natildeo me fazia diretamente Ele a exercia por meio dos outros

Entatildeo Ele com cada um tinha uma accedilatildeo direta e de-pois uma accedilatildeo supletiva por meio dos outros Aqui en-trava o pressuposto da sociedade temporal cristatilde a Cris-tandade

O meu lar os meus parentes todas aquelas famiacutelias que moravam no bairro dos Campos Eliacuteseos aquilo tudo eu considerava como sendo igualmente bom

Era o mito de uma Cristandade sustentado por uma seacuterie de aparecircncias boas que o mundo ainda tinha na-quele tempo e que eu supunha habitadas pela influecircncia de Nosso Senhor Jesus Cristo

Um sol que natildeo cessava de brilhar

Eu via por exemplo uma dona de casa sair da igre-ja com quatro cinco filhinhos que se seguravam pe-las matildeos ela tomava as mais criancinhas na ponta es-tavam os mais velhinhos e ia conversando e vigiando Atraacutes com uma bengala debaixo do braccedilo segurada pe-

lo castatildeo vinha o pai com ar grave de quem os defen-de contra qualquer ataque que pudesse ocorrer Era um defensor que pairava acima de todos

Tudo tatildeo direito tatildeo normal Jesus Cristo tatildeo presente em tudo isso que me dava a ideia de que para ser inteiramente ldquocristiformerdquo o con-

veniente era que tudo em torno de mim fosse ldquocristiformerdquo tambeacutem

Depois veio a Primeira Comunhatildeo com suas graccedilas caracteriacutesticas o conhecimen-

11

to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

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18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

e (CC 3

0)

Otu

ourly

(C

C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Toni

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Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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C3

0)

Luca

Bol

drin

i (C

C3

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 11: Revista Doctor Plinio 203_201502

11

to mais exato da Doutrina Catoacutelica recebida em cursos regulares de Catecismo da Histoacuteria Sagrada

Comecei a observar a Igreja e ver que nela e em tudo quanto eu conhecia do passado do presente e do que es-tava profetizado para o futuro Nosso Senhor Jesus Cris-to habitava e Se fazia sentir de um modo especial por uma accedilatildeo que eu ainda natildeo sabia chamar-se graccedila e que era como um sol que natildeo parava de brilhar

Daiacute a ideia mdash complementar do conviacutevio com meus proacuteximos mdash de uma grande instituiccedilatildeo que era a fonte dessa accedilatildeo de Cristo sobre os homens E meu ambiente tinha aquelas caracteriacutesticas devido ao fato de ter aderi-do a essa fonte pois era um ambiente catoacutelico

Em uacuteltima anaacutelise ateacute minha ligaccedilatildeo com Nosso Se-nhor Jesus Cristo se devia a isso Ele tinha esse nexo com a minha alma porque eu era catoacutelico Enfim eu possuiacutea a noccedilatildeo clara de encontrar Nosso Senhor Jesus Cristo den-tro da concha sagrada da Igreja Mas natildeo apenas como se algueacutem dissesse por exemplo ldquoJesus estaacute na casa do centuriatildeo Corneacuteliordquo Ali estaacute Ele mas os arredores da casa natildeo tecircm nada a ver com sua presenccedila Natildeo era is-so Eu notava que na Igreja a presenccedila de Nosso Senhor ilumina tudo e transfigura as coisas por dentro Por is-so na Igreja Catoacutelica ateacute a soleira da porta era uma coisa santa pois algo da accedilatildeo drsquoEle estava presente ali Quan-tas e quantas vezes eu tive vontade antes de entrar numa igreja de me ajoelhar e oscular a soleira da porta pen-sando ldquoA partir daqui comeccedila a casa drsquoElerdquo

Ato de humildade

Certa vez vi uma pinturazinha com a inscriccedilatildeo ldquoHaeligc est porta cœlirdquo e pensei ldquoMas eacute claro a porta do Ceacuteu eacute essa E Plinio preste atenccedilatildeo Vocecirc eacute objeto da accedilatildeo des-sa graccedila eacute trabalhado por ela e a ama tanto estaacute per-feitamente bem Mas vocecirc tem seus doze anos e jaacute sen-te as garras dos seus defeitos E deve sentir tambeacutem que as suas resistecircncias resultam de alguma coisa que exis-te de fundamentalmente mau em vocecirc e que procura se-paraacute-lo disso E que portanto vocecirc eacute ruim Essa graccedila o torna bom mas lhe vem de fora para dentro E pro-priamente vocecirc natildeo eacute digno de nada disso Agradeccedila o fato de apesar de ser ruim Nosso Senhor Jesus Cristo ter permitido tudo isso para vocecirc Compete-lhe pois um sentimento profundo de sua maldade e de sua indigni-dade e querer oscular a soleira da porta compreenden-do que vocecirc se honra com esse gesto pois natildeo seria dig-no nem sequer dissordquo

Ao fazer essas consideraccedilotildees eu sentia sobre mim um efeito curioso percebia Nosso Senhor mais distante mas atuando muito mais profundamente em mim Depois vim a saber tratar-se de um ato de humildade Eu carre-

gava meu ato de humildade com todas as minhas forccedilas por me sentir por causa disso mais perto drsquoEle O obje-tivo era sentir essa proximidade

Eu entendia de um modo confuso que se bocejasse em cima dessa indignidade e pensasse ldquoEacute verdade mas Nos-so Senhor me admite Portanto vamos passar por cima de tudo isso porque de repente Ele se daacute conta de que isso eacute mesmo assim e me expulsardquo Seria como querer fraudaacute-Lo E se eu fizesse isso comeccedilaria a apagar-se a Feacute Catoacutelica na minha alma

Entatildeo tomei como princiacutepio o seguinte Quanto mais eu martelar nessa indignidade e a tiver em vista mais es-tarei proacuteximo drsquoEle Entatildeo martelo ateacute me arrebentar para me unir tanto quanto eu quisera Eu quisera unir--me mais Mas tanto quanto posso martelo mesmo

Agrave vista disso eu tanto martelei que possuiacutedo a fundo dessa ideia tomei o haacutebito por exemplo de oscular as imagens apenas nos peacutes porque natildeo era digno nem dis-so a imagem era benta e os meus laacutebios natildeo eram dignos disso por causa dessa radical maldade existente em mim que me tornava objeto explicaacutevel da repulsa divina

Provaccedilotildees contra a pureza e o choque com a Revoluccedilatildeo

Com isso ia me sentindo mais unido a Ele Nunca com vontade de fugir O que estava na minha mente eacute que soacute Nosso Senhor tinha palavras de vida eterna e que por-tanto era preciso estar com Ele Depois eu natildeo saberia viver a natildeo ser assim

Comeccedila a eacutepoca das provaccedilotildees contra a pureza do choque com a Revoluccedilatildeo Portanto o medo a tentaccedilatildeo da fuga os instantes eu natildeo diria de desacircnimo mas co-mo que o momento da falta de energias e de mobilizaccedilatildeo proacutepria para entrar na luta

De outro lado na linha da luta contra os revolucionaacute-rios o esforccedilo eacute tatildeo enorme E ver-me de repente natildeo naquela espeacutecie de paraiacuteso de Cristo vivendo em todos mas pelo contraacuterio uma realidade que eacute como se o de-mocircnio vivesse em todos com exceccedilatildeo de poucas pessoas Entatildeo a necessidade de lutar Mas a preguiccedila de lutar

Como eu me privava do agrado do deleitaacutevel do con-tato amistoso jovial e engraccedilado com os outros das ale-grias despreocupadas da minha infacircncia sentindo-me quase um moccedilo velho e fanado pelas provaccedilotildees pelos problemas pelas reflexotildees Entretanto eu tinha dez on-ze anos Era a minha posiccedilatildeo diferente do mundo intei-ro Eu me resolvo a arcar com essa luta

O lado da consciecircncia do mal que no fundo era a voz da humildade me dizia ldquoVeja hein quando vocecirc de tal maneira se descarregava sobre si proacuteprio que razatildeo vocecirc tinhahellip Veja bem quem eacute vocecircrdquo

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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30

)

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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0)

Modalidades de sofrimento - I

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18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Vic

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Toni

olo

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Tuva

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C 3

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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Igor

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Luca

Bol

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 12: Revista Doctor Plinio 203_201502

12

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Mas se sou assim mdash pensava eu mdash natildeo sou sequer dig-no de rezar a Nosso Senhor de levantar meus olhos a Ele nem de me aproximar drsquoEle E Ele me rejeita com um desprezo tanto mais magniacutefico quanto mais magniacutefi-co eacute Ele Isso tanto eacute assim que se Ele natildeo me rejeitasse eu natildeo O adoraria Eu O adoro na rejeiccedilatildeo que Ele faz de mim e na puniccedilatildeo que Ele me decirc porque aiacute vejo que Ele era Quem eu pensava Mas de outro lado como ar-ranjo esse caso

Aparece o rdquoarco-iacuterisrdquo

Aiacute apareceu o ldquoarco-iacuterisrdquo Nossa Senhora Na Igre-ja do Coraccedilatildeo de Jesus o ldquosorrisordquo da imagem de Nos-sa Senhora Auxiliadora e a compreensatildeo Tudo isso da-ria aparentemente num caos Mas natildeo eacute um caos por-que Ele mesmo superior a tudo quanto eu podia pensar drsquoEle excogitou esse meio deu-me a Matildee drsquoEle para mi-nha Matildee

Ali estaacute a soluccedilatildeo Sendo eu ordinaacuterio como sou eacute a soluccedilatildeo para sempre Porque se eu natildeo me apegar a Ela tudo estaacute perdido Mas pelo trato pelo jeito pela bon-dade drsquoEla sinto que por eu ser tatildeo ordinaacuterio tatildeo fra-co tatildeo ruim ter essa semente de mal em mim tatildeo mar-cada como eu vejo Ela tem uma pena especial E en-quanto meccedilo a profundeza das minhas chagas Ela sor-ri para mim e como que me diz ldquoMeu filho eacute verdade vocecirc tem razatildeo Mas muito mais Eu sou boa do que vocecirc eacute ruim E pas-so por cima disso o afago lhe quero bem trago-o para junto de Mimrdquo

Daiacute brotar de meus laacutebios Salve Regina Salve Regina Salve Regina E daiacute tambeacutem o sentido da palavra ldquosalverdquo o de me sal-var Eu natildeo a considerava como uma saudaccedilatildeo natildeo estava pen-sando em protocolos na hora em que eu naufragava Era SOS ldquoSalve Reginahelliprdquo

Esse era o aspecto ldquovida in-teriorrdquo de algo que transborda-ria no contato com a vida numa noccedilatildeo da Cristandade num con-ceito completo de Revoluccedilatildeo e Contra-Revoluccedilatildeo

Qual eacute o papel do verum bo-num e pulchrum mdash de que eu falava haacute pouco mdash nessa visatildeo das coisas da sociedade tem-

poral e da luta entre a Revoluccedilatildeo e a Contra-Revo-luccedilatildeo cuja noccedilatildeo foi-se desenvolvendo paralelamen-te com isso

Ardor no conhecimento do verum

Haacute nisso tudo um enlevo constante em relaccedilatildeo a Nos-so Senhor Jesus Cristo Natildeo sei se eacute correta a palavra ldquoenlevordquo Tenho certeza de que a palavra ldquoadoraccedilatildeordquo eacute inteiramente suficiente mdash e talvez soacute ela seja suficiente mdash para indicar a disposiccedilatildeo de nossa alma em relaccedilatildeo a Ele

Mas na proacutepria adoraccedilatildeo o que prepondera A con-sideraccedilatildeo do verum do bonum ou do pulchrum

Eacute uma coisa evidente que no ato de adoraccedilatildeo existe simultaneamente um abrasamento no conhecimento do verum um amor entusiasmado e comovido ao bonum e um deslumbramento pelo pulchrum

Nosso Senhor mesmo como Ele eacute veraz Como eacute ver-dadeiramente o Homem-Deus Como na unidade da Pessoa drsquoEle habitam duas naturezas e como isso eacute re-versiacutevel ordenado perfeito E sobretudo o que eacute Deus ali dentro que coisa fantaacutestica

De outro lado que natureza humana perfeitiacutessima E como o encontro da natureza humana com a divina eacute ad-miraacutevel

O verum aqui estaacute natildeo soacute em que isso eacute assim mas numa outra coisa como tudo eacute coerente den-tro disso Eacute loacutegico deve ser as-sim E portanto um entusiasmo da verdade possuiacuteda

Como eacute esse entusiasmo Natildeo eacute um entusiasmo exclusiva-mente silogiacutestico ldquoEu raciocinei e cheguei agrave conclusatildeordquo porque o ato de Feacute em mim precedeu de muito esse raciociacutenio mas eacute uma espeacutecie de evidecircncia meio miacutesti-ca dada pela Feacute que o raciociacutenio apologeacutetico vem calccedilar depois mas natildeo vem suprimir vem ser-vir a essa accedilatildeo meio miacutestica da-da pela Feacute

De tal maneira que eu ouccedilo pessoas falarem na firmeza das minhas convicccedilotildees Tenho vonta-de de sorrir e dizer ldquoVocecirc natildeo entende nada Fale da firmeza de minha Feacuterdquo Porque a partir da firmeza da minha Feacute no que eu dela deduzo tenho muita certe-

A Virgem e o Menino Catedral de Estrasburgo Franccedila

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 13: Revista Doctor Plinio 203_201502

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za ali eu piso com sapato de ferro porque natildeo tenho me-do de peso nenhum No que eu natildeo deduzo natildeo tenho essa certeza

Por outro lado tambeacutem o modo categoacuterico com que distingo uma coisa maacute de ou-tra boa A boa deve ser pra-ticada favorecida estimula-da louvada A maacute deve ser execrada detestada deve--se viver no reconhecimento e na desconfianccedila constante do mal que aquilo represen-ta numa atitude a mais poli-cialesca que se possa imagi-nar contra esse mal pegan-do-o e triturando-o implaca-velmente

Pulchrum e simbolismo

Sobre o pulchrum o que dizerComo o pulchrum eacute o teacutermino do trajeto nele se vecirc o

verum e o bonum e se acaba proferindo a palavra pul-chrum Mas essa palavra natildeo exclui o verum e o bonum ela os conteacutem com a luz proacutepria a cada coisa

Entatildeo o pulchrum eacute o esplendor da verdade e do bem com mais algo natildeo significa que ele natildeo existe Ele eacute ele mas me levava a dizer numa espeacutecie de ousa-dia de pensamento que talvez houvesse entre o verum o bonum e o pulchrum uma relaccedilatildeo anaacuteloga mdash agrave manei-ra de um reflexo mdash agrave existente entre o Pai o Filho e o Espiacuterito Santo

O pulchrum tem no meu pensamento grande papel Inclusive porque ele tem qualquer coisa de sensiacutevel mas este proacuteprio sensiacutevel precisa ser entendido

Satildeo Tomaacutes define o pulchrum como ldquoaquilo que vis-to agradardquo Houve a aplicaccedilatildeo de um sentido Por exem-plo olhei e aquilo me agradou aos olhos Isso eacute o pul-chrum

Na palavra ldquoagradardquo entra algo que funcionou assim em mim a vida inteira Depois cheguei a perceber o la-do de Doutrina Catoacutelica que haacute nisso e que ocupa o meu pensamento

O sensiacutevel tem esse papel mdash ao qual eu sou muitiacutessi-mo aberto e tenho ateacute uma necessidade enfaacutetica de al-ma mdash de discernir nas coisas o por onde elas simboli-zam a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo De manei-ra tal que natildeo tendo esse simbolismo elas natildeo me in-teressam

Um palaacutecio mesmo uma igreja que natildeo tenha esse simbolismo para mim diz muito menos do que poderia dizer uma cabana com uma expressatildeo simboacutelica muito grande

O simbolismo eacute uma analogia entre uma coisa e deter-minada perfeiccedilatildeo de Deus por onde eu pelos sentidos como que vejo essa perfeiccedilatildeo de Deus E minha alma eacute sedentiacutessima disso

Algo me agrada sobretudo enquanto caminho para perceber naquilo um siacutembolo de Deus ou seja um refle-xo criado de Deus que completa o que as graccedilas de or-dem miacutestica fazem perceber

Entatildeo o que as pessoas alcanccedilam pela graccedila o siacutembo-lo faz de algum modo perceber tambeacutem pelos sentidos iluminados pela graccedila O pulchrum eacute o delectabile6 espiri-tual simboacutelico e digno de ser tocado pela graccedila   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1241989)

1) Aspiraccedilatildeo para contemplar as verdades virtudes e perfei-ccedilotildees divinas de um modo proacuteprio e uacutenico pelo qual uma al-ma ou um povo daraacute sua gloacuteria particular a Deus Sobre es-te assunto ver Revista Dr Plinio n 54 p 4

2) Cf 1Cor 1 23 2 23) Gl 2 204) Do latim pela proacutepria natureza das coisas5) Sl 133 16) Do latim deleitaacutevel

Igreja das Mercecircs - Ouro Preto Minas Gerais Brasil

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Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

Wilw

arin

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

ene

(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

19

Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

20

Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

tavo

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lj

Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

Jam

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ordo

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C 3

0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

Szi

las

(CC

30

)

24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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0)

25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

Gar

itan(

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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Luca

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 14: Revista Doctor Plinio 203_201502

Ordenaccedilatildeo e desregramento do instinto de sociabilidade - I

O

14

o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

A Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens A Revoluccedilatildeo entretanto

deturpando o instinto de sociabilidade leva as pessoas a cair nos piores viacutecios e a praticar pecados coletivos

senso do ser com o qual todos nascem seria mu-tilado se natildeo tivesse originariamente uma espeacute-cie de embocadura de abertura para uma no-

ccedilatildeo global embora o intelecto da crianccedila natildeo tenha por exemplo ideia da humanidade como um todo dentro da Criaccedilatildeo Apesar de a crianccedila natildeo ter essa noccedilatildeo haacute natildeo soacute uma aptidatildeo para adquiri-la mas uma espeacutecie de ma-triz dessa noccedilatildeo dentro da ideia primeira de ser

A hipertrofia da fruiccedilatildeo e a chacina dos inocentes

Essa matriz existe agrave maneira de um discernimento muito elevado do lumen que paira sobre o mundinho que ela conhece juntamente com a ideia instintiva de que es-se lumen eacute proacuteprio ao universo inteiro E por amar esse lumen a crianccedila ficaria desolada se soubesse que ele natildeo existe assim para todos os homens Portanto esse lumen traz consigo uma noccedilatildeo da globalidade

Quando na proacutepria crianccedila se daacute um desequiliacutebrio por onde ela toma essa luz mais como um elemento de fruiccedilatildeo do que de amor e admiraccedilatildeo acaba acontecendo que ela vai restringindo o seu horizonte a si proacutepria don-de vecircm todas as maacutes consequecircncias e subversotildees

Esse eacute o caminho mais frequente da quebra da inocecircn-cia antes mesmo de vir o problema da pureza transfor-mar tudo numa fruiccedilatildeo Neste sentido a educaccedilatildeo que se daacute para as crianccedilas procurando para agradaacute-las hiper-trofiar nelas o sentido da fruiccedilatildeo eacute a mais errada possiacute-vel Eacute a chacina dos inocentes

Por exemplo a alegria de Natal eacute muito iacutentegra por-que tem por objeto Nosso Senhor que eacute causa de nossa alegria Algueacutem que eacute adoraacutevel baixou agrave Terra e nos en-che de gaacuteudio

Eacute diferente do gaacuteudio pelo patildeo de mel que se vai co-mer depois Portanto a alegria de Natal natildeo pode ser transformada numa festa opulenta que tem como princi-pal razatildeo o presente e a festa

O relacionamento ideal entre os homens

O instinto de sociabilidade no Paraiacuteso se apresenta-va tatildeo perfeito quanto o estado de prova admite Esse ins-tinto deveria levar ao auge a sua proacutepria perfeiccedilatildeo quan-do nascesse Aquele que seria a chave de cuacutepula da or-dem do universo e o Homem por excelecircncia hipostatica-mente unido agrave segunda Pessoa da Santiacutessima Trindade seria um de noacutes que ao mesmo tempo eacute Deus em funccedilatildeo do qual tudo se torna admiraacutevel que transcende a tudo e cuja presenccedila tornaria inefavelmente doces todas as inte-rarticulaccedilotildees da sociabilidade humana porque Ele esta-ria presente como denominador comum dos homens

Eacute por causa disso que a Religiatildeo Catoacutelica tem o poder incomparaacutevel de promover o relacionamento ideal entre os homens

Tendo Nosso Senhor remido os homens e morrido por todos noacutes na Cruz essa realidade ainda toma uma nota especialmente admiraacutevel e pungente porque se Ele che-gou a dar-Se a tal ponto pela abertura que a bondade opera em noacutes somos chamados a nos doar tambeacutem

Tudo isso passando atraveacutes de Nossa Senhora vem com uma abundacircncia e uma carga de perdatildeo incomparaacute-vel porque a Medianeira que Deus quis que fosse neces-saacuteria atuou nisso

Por esse motivo natildeo se pode compreender a verda-deira sociabilidade ou o instinto de sociabilidade inteira-mente bem tratado na sociedade pagatilde Aliaacutes natildeo houve eacute a lei da selva

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

tavo

Kra

lj

Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

Jam

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ordo

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 15: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Essa explicitaccedilatildeo eacute um elemento integrante indispen-saacutevel do conceito de Cristandade E ela eacute tambeacutem a ex-plicaccedilatildeo da intransigecircncia porque leva o instinto de so-ciabilidade a soacute admitir como inteiramente normal o re-lacionamento assim

A visatildeo exclusivamente fraterna do instinto de socia-bilidade conduz agrave ideia de que o homem em sociedade eacute igual ao outro Eacute uma decorrecircncia do socialismo uma sociedade onde haacute soacute iguais todos irmatildeos Daiacute a tal fra-ternidade que insinua haver somente irmatildeos natildeo haacute pai Eacute uma afirmaccedilatildeo indireta do ateiacutesmo

Enquanto que na concepccedilatildeo verdadeira mais do que a fraternidade haacute a relaccedilatildeo pai-filho que encontra na fraternidade sua consequecircncia normal os filhos do mes-mo pai satildeo irmatildeos Percebe-se bem assim a carga re-volucionaacuteria do termo fraterniteacute no lema da Revoluccedilatildeo Francesa

No relacionamento cada um deve contribuir com seu sacrifiacutecio

Poderiacuteamos agora aprofundar o tema tratando dos estados de doenccedila do relacionamento humano

Quando o relacionamento entre pessoas que perten-cem a Nosso Senhor Jesus Cristo entra em estado de do-enccedila ou seja passa a ser defectivo acontece como se a juntura dos ossos num corpo fosse malfeita porque a or-dem posta por Nosso Senhor eacute que todos se amem Os que estatildeo num relacionamento malfeito devem tomar em linha de conta que sempre que o relacionamento ran-ge doacutei nrsquoEle assim como quando os ossos rangem no corpo fazem padecer o corpo inteiro

Em consequecircncia esse relacionamen-to pede que cada um contribua com uma cota de sacrifiacutecio proacutepria para que esse estado doentio cesse por amor a Nosso Senhor Quem daacute mais eacute o que ama mais a Ele

Entatildeo haacute uma funccedilatildeo supletiva da-quele que eacute menos tentado menos pro-vado que tem menos dificuldade ele entra suprindo o que possa faltar agravequele que tem mais dificuldades estaacute mais ten-tado mais provado Por esta forma ce-dendo diminui a dor em Nosso Senhor e assim abranda indiretamente o fundo da dor naquele com quem ele trata

Entretanto eacute preciso natildeo considerar Nosso Senhor como um estranho nessa relaccedilatildeo Ele estaacute presente e como Ele eacute o liame entre todos os homens pela ra-zatildeo que eu acabo de dizer se entre ho-

mens haacute uma fricccedilatildeo o liame sofrePosto de lado qualquer assunto que diga respeito

ao sexto ou ao nono Mandamento o principal entrete-nimento do homem na vida satildeo os outros homens Daiacute aquele princiacutepio de que natildeo eacute bom o homem estar sozi-nho1 por isso precisava ter uma companheira e tambeacutem ter filhos e viver em sociedade

Se os homens natildeo se voltam para Deus nessa pers-pectiva que apresentei os principais apegos acabam sen-do no fundo relativos aos outros homens E o relaciona-mento dos indiviacuteduos com a sociedade na qual se encon-tram eacute o grande tema de suas vidas

Compreende-se por aiacute que os melhores precircmios dados por Deus sejam tambeacutem nessa linha assim como as ex-piaccedilotildees mais tremendas e os atos de reparaccedilatildeo e de ge-nerosidade mais estupendos

Sofrimentos de Santa Teresinha

Dou um exemplo Santa Teresinha do Menino Jesus Ela viveu com um instinto de sociabilidade a meu ver perfeitamente atendido arquetipicamente atendido ateacute o momento de entrar para o Carmelo Porque se vecirc que ela natildeo aspirava outra coisa a natildeo ser entrar para o Car-melo Portanto tudo quanto estava fora natildeo lhe interes-sava exceto a famiacutelia Martin e a famiacutelia Gueacuterin mui-to chegada e que formavam mais ou menos um todo e Santa Teresinha com as irmatildes constituiacuteam aquele ldquobandi-nhordquo em torno do pai

Ora aquilo tudo perfeitamente bem arranjado orde-nado equilibrado era para ela um ldquoceacuteuzinhordquo do instin-to de sociabilidade As fotografias dela em menina datildeo

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

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Modalidades de sofrimento - I

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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30

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

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ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 16: Revista Doctor Plinio 203_201502

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o penSamento fiLoSoacutefico De Dr pLinio

Santa Teresinha do Menino Jesus com as demais freiras do Carmelo de Lisieux

muito essa ideia Uma pessoa que vive num ambiente sem arranhotildees natildeo tem nenhum irmatildeo becircbado que volta tarde da noite para casa quebrando a baixela preferida os vasos prediletos da matildee ou outro irmatildeo que deixou o pai em claro porque a poliacutecia deitou a matildeo nele Santa Teresinha natildeo teve nenhum drama assim Vecirc-se que ce-nas dessas natildeo passaram sequer por aquele olhar puro e sereno dela nem de longe E ela toda estaacute com uma cal-ma uma ordenaccedilatildeo que vem da perfeita instalaccedilatildeo desse princiacutepio de sociabilidade nas condiccedilotildees da vida

O primeiro grande trauma eacute que Nosso Senhor pas-sa e de acordo com o que ela desejava pede o sacrifiacute-cio do esquartejamento daquela unidade Todas as filhas vatildeo para o convento e fica soacute o Monsieur Martin em casa

E na solidatildeo do Monsieur Martin que eacute bem evidente que natildeo se casaria novamente comeccedila a circular a caluacutenia que com certeza ateacute entatildeo natildeo havia sido usada contra elas co-meccedila-se a falar que fizeram mal em deixar o velho sozinho

Certa ocasiatildeo quando elas passaram horas inteiras agrave espera do pai aparecer Santa Teresinha deixou transpa-recer que nessa demora uma das preocupaccedilotildees dela era a dor da injusticcedila que sofreriam com as caluacutenias

Eacute o instinto de sociabilidade natildeo na sua faceirice ou vaidade mas na sua inocecircncia ateacute entatildeo bem tratado pe-los outros e que passa a ser maltratado

Depois dentro do convento a incompreensatildeo de to-das as freiras a respeito dela e a Santa que provavelmen-te veria as imperfeiccedilotildees de todas as religiosas e tudo o mais levaacute-la-ia a uma situaccedilatildeo onde ela ficava comple-tamente isolada E com a sua afetividade que afinal de contas eacute uma expressatildeo do instinto de sociabilidade atin-gida a fundo

A doenccedila contagiosa afastando-a do conta-to das outras sendo posta numa seccedilatildeo do sa-natoacuterio e ali sofrendo sofrendo sofrendo

Aparecem ainda as tentaccedilotildees contra a Feacute que a isolam por assim dizer do lado sensiacutevel em certo sentido ateacute mesmo do proacuteprio Deus

Eacute um longo padecimento do instinto de so-ciabilidade que vai se desenvolvendo

O drama do instinto de sociabilidade de Nosso Senhor

Isso natildeo eacute nada se comparado com o que se passou com Nosso Senhor Vecirc-se que Ele na sua humanidade comeccedilou o contato com os homens benevolente alegre aberto con-seguindo resultados evidentes com um re-lacionamento magniacutefico as turbas que O se-guiam etc

Depois nota-se que aquele entusiasmo to-do resultava num eacutelan apenas mediacuteocre que natildeo dava aquilo que deveria dar Aleacutem disso essa mediocridade se tornava invejosa maleacutevola ceacutetica ao sopro dos ad-versaacuterios que natildeo tinham querido se render a Ele En-tatildeo a batalha que comeccedila e a divisatildeo tudo isso era um drama na humanidade santiacutessima de Nosso Senhor Mas um drama do instinto de sociabilidade no afeto que Ele tem O amor drsquoEle em larga medida estaacute ligado ao ins-tinto de sociabilidade

Durante a Paixatildeo o sofrimento drsquoEle chega ao auge Enfim estaacute tudo dito natildeo tenho que acrescentar nada

Uma Missa na Sainte-Chapelle durante a Idade Meacutedia

Compreende-se entatildeo que a Revoluccedilatildeo procure tra-balhar para que todo esse elemento propulsor tatildeo pro-fundo no homem e tatildeo capaz de arrastaacute-lo esteja nas matildeos dela E ela fez o seguinte jogo

No comeccedilo tomando o homem normal medieval inocente cheio de apetecircncia pelas verdades metafiacutesicas com aspectos terra a terra ao mesmo tempo

Podemos imaginar num domingo uma Missa na Sain-te-Chapelle com o acesso livre agrave populaccedilatildeo de Paris Ti-linta a sineta e vatildeo entrando as famiacutelias os casais para assistirem agrave Missa

Um eacute pequeno nobre do interior que foi tratar de ne-goacutecios ou descansar ou participar da festa de um santo padroeiro e que estaacute hospedado em Paris Outro eacute um casal de mercadores com uma lojinha ali perto Outro ainda eacute por exemplo um estudante cuja famiacutelia estaacute no interior e que vai sozinho agrave Missa

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Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

Wilw

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C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

ene

(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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ordo

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

32

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

33

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Vic

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Toni

olo

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C 30)

Tuva

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C 3

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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C3

0)

Luca

Bol

drin

i (C

C3

0)

oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 17: Revista Doctor Plinio 203_201502

17

Portal da Sainte-Chapelle - Paris Franccedila

Estou imaginando todos eles no estado de equiliacutebrio calmos tranquilos gozando o sossego do domingo uma unccedilatildeo dominical que havia antigamente e um pouco an-tevendo o descanso que eles deveratildeo ter agrave tarde Entram na Sainte-Chapelle sem nenhum choque com uma espeacute-cie de continuidade com a vida que levam contemplam a maravilha da Sainte-Chapelle e se enchem de tudo aquilo

Vamos imaginar que Satildeo Luiacutes apareccedila para assistir agrave Missa tambeacutem Ao sair um deles comenta ldquoEstava bem disposto hoje o nosso bom Rei Luiacutesrdquo

Entram noivos tambeacutem Como satildeo esses noivos Re-sidem em geral no mesmo bairro agraves vezes pertencem a ramos mais ou menos distantes de uma mesma famiacutelia conhecem-se haacute muito tempo Conduzem o noivado sem afliccedilatildeo sem apoteose sem torcida sabem que vatildeo se ca-sar mesmo estatildeo marcando o dia tecircm seus planos Esses planos natildeo satildeo deliciosos embora tenham grandes espe-ranccedilas Eles se tratam com respeito com distacircncia e es-peram fundar uma famiacutelia que seja a continuidade da fa-miacutelia calma e sacral agrave qual pertencem O noivado e o ca-samento satildeo dois lances a mais de uma determinada or-dem de coisas normal

Relacionamento com base no egoiacutesmoDiante desse quadro sentimos melhor o papel dos

trovadores e das cortes de amor que fizeram as pessoas se desgostar dessa normalidade Entra aqui a tal naacuteusea da normalidade

Eacute um defeito do homem concebido no pecado ori-ginal que quer encontrar nas coisas desta Terra certas formas de auge e de gaacuteudio proacuteprias exclusivamente do Ceacuteu E que entatildeo comeccedila a imaginar coisas nesta Terra agrave maneira carnal e humana que lhe deem alegrias que ele nesta Terra natildeo tem Mas ele fica fechado para o gaacuteudio da Sainte-Chapelle naquele domingo

A fruta do democircnio eacute essa O democircnio oferece essa porcaria mesmo e natildeo outra coisa

O homem tem no fundo uma apetecircncia de gaacuteudios que ele natildeo pode alcanccedilar porque se fechou ao maravi-lhoso ao sobrenatural e ateacute ao natural em ordem agrave Feacute Entatildeo vem a sugestatildeo ldquoQue mundo difiacutecil que domin-go pesado que pai obeso que matildee banal que irmatildeos co-muns Oh preciso sair passear conhecer coisas novas viajar Procuro algueacutem com quem eu possa viver esta vi-da mas que seja uma Isolda uma Dulcineia ou algo as-

sim em cuja experiecircncia psicoloacutegica vou viver uma existecircncia completamente diferenterdquo

Seria mais ou menos como se a bem-amada fos-se uma lacircmpada que se acendesse na vida dele e que desse um colorido maravilhoso agraves realidades banais da existecircncia Ele viveria olhando para a lacircmpada e natildeo para a vida como uma mariposa para o fogo

Vamos dizer que na hora de irem para a Missa eles se vejam pela primeira vez A Sainte-Chapelle natildeo tem beleza a Missa eacute enfadonha o recolhimento insuportaacutevel a oraccedilatildeo se faz para com um Deus dis-tante a Quem natildeo sentem ter acesso nem que tenha continuidade com eles a Comunhatildeo eacute uma rotina o conviacutevio dos outros se torna insuportaacutevel Ele soacute quer aquela Dulcineia e ela soacute aquele Dom Quixote

Nessa perspectiva fica criada a saciedade e o rela-cionamento eacute deslocado de seu centro de gravidade e de sua rota A pessoa que se engaje nisso vai travar um relacionamento com base no egoiacutesmo satildeo agra-daacuteveis as pessoas conexas ou afins com esse sonho satildeo enfadonhas todas as outras eacute inimigo todo aque-le que cria dificuldade para a realizaccedilatildeo desse so-nho   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 511984)

1) Cf Gn 2 18

Wilw

arin

(C

C 3

0)

Modalidades de sofrimento - I

P

18

Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

Eug

ene

(C

C 3

0)

Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

e (CC 3

0)

Otu

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C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

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Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 18: Revista Doctor Plinio 203_201502

Modalidades de sofrimento - I

P

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Dr pLinio comenta

Em sua vida de quase 87 anos Dr Plinio teve grandes consolaccedilotildees mas tambeacutem passou por sofrimentos inenarraacuteveis

E pronunciou inuacutemeras conferecircncias a respeito da dor como a que transcrevemos abaixo na qual mostra um panorama grandioso descrevendo com muitos exemplos os diversos sofrimentos que podem ocorrer na existecircncia do homem

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Satildeo Jerocircnimo estudando - Galeria Nacional Londres Inglaterra

ara tratarmos a respeito do sofrimento em termos inteiramente utilizaacuteveis por noacutes de-vemos fazer algumas distinccedilotildees entre mo-

dalidades de padecimentos Porque a atitude do ho-mem diante dessas formas varia mas a atitude legiacute-tima quer dizer as diversas vias de Deus a respeito dessas modalidades de sofrimento tambeacutem variam Precisamos ter isto bem claro sob pena de criar um imbroglio que acaba por alguns lados sendo nocivo

Sofrimentos intriacutensecos a toda accedilatildeo seacuteria

Haacute uma primeira modalidade de sofrimento que eacute intriacutenseca a toda accedilatildeo seacuteria Eacute o sofrimento do tra-balho do estudo do esforccedilo fiacutesico da ginaacutestica da luta satildeo coisas que fazem parte da contextura co-mum da vida do homem ou da vida dos povos

Ainda natildeo coloco dentro disso as doenccedilas por-que o estado normal do ser humano natildeo eacute a enfer-midade como natildeo eacute por exemplo ter sofrido um desastre Essas coisas natildeo satildeo o comum da vida

Para uma pessoa ter verdadeiro interesse pelo es-tudo o empenho a concentraccedilatildeo mental a energia de espiacuterito que ele exige a abnegaccedilatildeo de uma seacuterie de coisas mais baixas satildeo sofrimentos iniciais

Quando esses sofrimentos satildeo aceitos podem se tornar familiares e ateacute fonte de alegria Que efeito esses sofrimentos tecircm para a vida para a alma hu-mana

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Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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ordo

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0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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Vic

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Toni

olo

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C 30)

Tuva

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C 3

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

Zyx

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C3

0)

Luca

Bol

drin

i (C

C3

0)

oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 19: Revista Doctor Plinio 203_201502

19

Eles enrijecem a alma datildeo-lhe profundidade de espiacuteri-to continuidade de intenccedilotildees seriedade e com isto tor-nam o homem verdadeiramente varonil Um indiviacuteduo in-capaz desses sofrimentos torna-se indigno de ser homem

A pessoa deve procurar esse tipo de sofrimento endu-recer-se diante dele ser inclemente consigo agrave vista dele e quanto mais ela seja dura consigo mais a vida lhe seraacute suportaacutevel

Quando nessa gama certas coisas natildeo fazem sofrer em algum ponto acabaraacute aparecendo um grande sofri-mento porque natildeo se escapa da regra de que em algum aspecto maior ou menor o esforccedilo eacute muito penoso co-mo um argueiro no olho ou um pedregulho no sapato

Por exemplo um homem pode ser muito estudioso mas certa forma de estudo indispensaacutevel lhe daacute pregui-ccedila Isso tudo faz parte do tal sofrimento que o indiviacuteduo deve enfrentar

Qual eacute a utilidade desse sofrimento para a ordem da Comunhatildeo dos Santos como caraacuteter expiatoacuterio Evi-dentemente desde que o indiviacuteduo tenha intenccedilatildeo de oferecer isto eacute uacutetil agrave Comunhatildeo dos Santos enriquece o tesouro da Igreja

Padecimentos que agridem

Mas um peculiar tiacutetulo de valor ele natildeo possui que vem de outra coisa eacute do sofrimento que agride todo ho-mem na vida o qual estaacute fora da ordem comum e se diria ateacute que eacute destrutivo desta ordem

Por exemplo o indiviacuteduo comeccedila a estudar com deci-satildeo e adquire o haacutebito do estudo Vem a matildee dele e lhe informa ldquoAteacute agora temos vivido do comeacutercio de seu pai Mas ele teve uma embolia cerebral e natildeo vai mais poder continuar esse trabalho Por isso seraacute preciso que vocecirc o assumardquo

Ele que jaacute se dedicara inteiramente a certo ramo fica colocado diante de um sofrimento de outra ordem com isto de meio desagregador com dificuldade rezando ele conseguiu tornar-se inteiramente familiar ao estudo Agora vem uma surpresa que o lanccedila nessa histoacuteria

Imaginemos que o pai tenha uma casa de comeacutercio pequena de arrabalde onde vende louccedilas e ferragens E a primeira coisa que esse gecircnero de negoacutecio exige eacute bo-as relaccedilotildees na redondeza porque haacute nos arredores duas ou trecircs outras casas novas que estatildeo fazendo competiccedilatildeo E ele tambeacutem precisa estar muito a par do que as fabri-quetas de Satildeo Paulo vatildeo lanccedilando de novo a esse respei-to porque do contraacuterio natildeo oferece artigos que dispu-tem a clientela

Portanto isso natildeo soacute absorve o tempo de trabalho dele mas a capacidade de luta e de reflexatildeo E ele se vecirc descido de Satildeo Tomaacutes ateacute o problema de saber se a louccedila fabricada

com poacute de pedra e vendida em tal lugar agrada a Da Fula-na que eacute a mandachuva de tal quarteiratildeo e com a qual ele precisa conversar antes Entatildeo Da Fulana convida-o para tomar chaacute em casa dela e o indiviacuteduo tem que lhe contar uma piada senatildeo ele natildeo manteacutem a freguesia

A moeda da dor nos rdquobancosrdquo do Ceacuteu

Outra possibilidade eacute que o proacuteprio estudioso fique doente Ele se habitua a estudar mas vem de repente uma enfermidade qualquer que o obriga a ficar pelo me-nos trecircs anos afastado dos estudos

Diante disso o indiviacuteduo tem vaacuterias saiacutedas possiacuteveis Uma delas eacute encontrar uma fresta e afirmar-se ainda mais Esta eacute a soluccedilatildeo providencial que o leva a lutar contra o infortuacutenio suportar este sofrimento aleacutem do anterior de que falamos e vencer

Isso tem um meacuterito muito maior porque o indiviacuteduo so-fre muito mais do que o comum dos homens E portan-to daacute a Deus essa moeda da dor que tem nos ldquobancosrdquo do Ceacuteu uma importacircncia colossal e abre um fundo de depoacute-sitos extraordinaacuterio para si nos ldquobancosrdquo do Paraiacuteso Ele pertence agrave categoria de almas que Deus chama para isso

A diferenccedila entre os dois sofrimentos ateacute aqui descri-tos estaacute em que no padecimento anterior o indiviacuteduo lu-ta e pode eliminaacute-lo E esse segundo tipo de sofrimen-to ao menos durante muito tempo natildeo pode ser sanado

Entatildeo o que fazer O indiviacuteduo precisa acomodar--se agravequele sofrimento porque do contraacuterio estoura Mas de um acomodar-se cujo verdadeiro nome eacute resignaccedilatildeo e cujo triunfo estaacute em superar o sofrimento sem deixar--se cair em deformaccedilotildees sentimentais por onde ele fique mole covarde e sem vigor Neste caso ele pode ser um grande benemeacuterito na Comunhatildeo dos Santos

O sofrimento penitencial e o de enriquecimento da Igreja

Outra espeacutecie de sofrimento eacute aquele que a pessoa procura Isso pode se dar de dois modos ou ela se peni-tencia ou escolhe um gecircnero de atividade que de si natildeo seria obrigada a escolher mas faacute-lo por idealismo

Por exemplo algueacutem que sendo rico quisesse entrar para a Legiatildeo Estrangeira a fim de praticar o heroiacutesmo Ele procurou o sofrimento Ou um homem que pede a Deus que lhe mande sofrimentos como o caso de Mon-sieur Martin pai de Santa Teresinha a quem Deus inun-dava de consolaccedilotildees e que Lhe dizia ldquoMeu Deus isso natildeo pode continuar eu tenho que em algum momento sofrerrdquo E pedia o sofrimento para Deus E veio

Este eacute ainda mais nobre do que os sofrimentos an-teriores Foi por um ato de amor que ele fez isso com-

20

Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

21

Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

22

ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

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Rep

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ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

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Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 20: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Dr pLinio comenta

Beato Luiacutes Martin em 1875

Repr

oduccedil

atildeo

preendendo o valor enorme do sofrimen-to e querendo fazer aos tesouros da Igreja o beneficio de enriquececirc-los entrando com a gota drsquoaacutegua de sua proacutepria dor

Agraves vezes eacute um sofrimento de peni-tecircncia Aiacute ele quase paga aos tesouros da Igreja o que ele roubou pecando

Outras vezes natildeo eacute um sofrimento penitencial e sim de enriquecimento da Igreja Uma alma que tem a feli-cidade de poder dizer ldquoSou inocen-te mas quero sofrer como Nosso Se-nhor Jesus Cristo inocente sofreu para por esta forma derrubar a Re-voluccedilatildeo Meu Deus mandai-me a tra-geacutedia eu a aceito e me afundo nela Morro dentro da trageacutedia Soacute Vos peccedilo a forccedila de aguentarrdquo

Satildeo modalidades diferentes de sofri-mento

Natildeo se pode padronizar os caminhos de Deus para cada alma

Diante desses padecimentos a pessoa que os pediu deve endurecer-se contra eles fazendo esforccedilo para so-frer pouco

Por exemplo um indiviacuteduo que tenha rogado a Deus que lhe mande um sofrimento e ele verifica que estaacute fi-cando cego Eacute provavelmente o atendimento do pedido que ele fez Ele deve rezar a Deus para natildeo vir essa ce-gueira Fazer toda espeacutecie de tratamento para evitaacute-la

Os tratamentos que entram na vida comum da Medi-cina e que a Moral obriga ele deve fazer natildeo tem por onde escapar

Os outroshellip aiacute vem o mundo dos contatos da alma com Deus se ele tem uma autecircntica moccedilatildeo interna de que es-taacute sendo atendido seraacute heroico e compreende-se que natildeo recorra Mas pode ser que para outra alma igualmente dedicada a Deus a Providecircncia natildeo queira isso mas sim que ela tente e faccedila uma luta heroica para evitar o sofri-mento ficando soacute provado que a oraccedilatildeo dela foi atendida porque o sofrimento se impotildee apesar de ela fazer a luta Depende do caminho de Deus que natildeo se pode padroni-zar para cada alma Estou mostrando a variedade de vias

Vindo o sofrimento o que o indiviacuteduo deve fazerVoltemos ao exemplo do cego Ele deve fazer o neces-

saacuterio para suprir sua cegueira comprar aparelhos mag-niacuteficos aprender meacutetodos por onde ele possa ler etc de maneira a tanto quanto possiacutevel remediar os inconve-nientes do estado em que caiu

Vale aqui o raciociacutenio anterior para alguns sim para outros natildeo Depende do que inter-

namente a graccedila peccedila a cada um Natildeo haacute uma regra assim peremptoacuteria Para algu-mas almas Deus tem um desiacutegnio para outras outro De todas Ele quer que saibam ouvi-Lo e obedecer-Lhe Eacute a regra que precisa ser seguida

A provaccedilatildeo axioloacutegica

O mais terriacutevel dentro disso eacute o sofrimento antiaxioloacutegico2 Eacute outro tipo de padecimento A dor antiaxio-

loacutegica eacute maior em si como gecircnero do que todas as outras dores porque ten-

do certeza de que se encaixou numa de-terminada ordem a pessoa encontra nis-

to um elemento de accedilatildeo Poreacutem quando ela natildeo tem esta certeza natildeo sabe se natildeo estaacute sendo castigada se eacute uma coisa tem-poraacuteria da qual pode pular fora natildeo sabe nada a sua vida se torna sem sentido

Qualquer um dos sofrimentos acima descritos pode acontecer tomando uma nota antiaxioloacute-gica O indiviacuteduo por exemplo faz uma reflexatildeo ldquoRe-almente eu deveria oferecer a minha vida minha sauacutede qualquer coisa assimrdquo Interrompe seu pensamento e vai ocupar-se com outra coisa Internamente natildeo recu-sou Deus viu que ele estaria disposto ou espera dele um ato de aceitaccedilatildeo no decurso dos padecimentos Em certo momento uma doenccedila pula em cima dele

A Providecircncia estaacute permitindo que dois tormentos o aflijam especialmente um eacute o da enfermidade outro o de natildeo saber se aquilo lhe veio por um castigo Ele natildeo sabe se por exemplo rezasse mais a doenccedila natildeo o aco-meteria se deve orar ou natildeo para cessarem os sofri-mentos e vai suportando como pode enquanto Deus Se manteacutem mudo Nisto pode estar embuccedilado tanto um castigo quanto um modo magniacutefico de carregar a cruz sem que o interessado saiba por quecirc

Deus natildeo lhe daacute os meios de resolver a questatildeo porque nisto estaacute a maior prova E agraves vezes a graccedila pode pocircr na al-ma da pessoa a seguinte ideia ldquoProcure resolver mas natildeo peccedila graccedilas especiais para isso porque talvez vocecirc fuja do sofrimento mais duro e que natildeo quereria sofrerrdquo

Eacute terriacutevel porque natildeo adianta consolar o sujeito com a ideia de que eacute a mais alta forma de sacrifiacutecio porque pa-ra ele natildeo estaacute claro se eacute mesmo a mais elevada forma de imolaccedilatildeo ou se ele estaacute sendo castigado Quer dizer natildeo sabe se estaacute no fundo de um poccedilo ou no alto do monte E assim morreraacute e se apresentaraacute ao Juiacutezo de Deus

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

Gus

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Kra

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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0)

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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30

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24

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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CC

30

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5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

32

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

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0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

33

apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 21: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Santiacutessimo Cristo das Misericoacuterdias

Paroacutequia de Santa Cruz Sevilha Espanha

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Ateacute laacute a incoacutegnita axioloacutegica pode sombrear a vida de uma pessoa sem ela se dar conta Por isso digo ser essa provaccedilatildeo axioloacutegica aquela que entre todas mais faz o homem sofrer

rdquoDeus meus quare Me dereliquistirdquo

Tem-se a impressatildeo de que durante toda a Paixatildeo Nosso Senhor sofreu eminentemente do ponto de vista antiaxioloacutegico culminando no ldquoDeus Deus meus quare Me dereliquistirdquo1

No teto da Igreja do Coraccedilatildeo de Jesus haacute pintado Nosso Senhor aparecendo a Santa Margarida Maria Ele diz a ela mostrando seu Sagrado Coraccedilatildeo ldquoEis o Cora-ccedilatildeo que tanto amou os homens e foi por eles tatildeo pouco amadordquo Este eacute um sofrimento moral maior do que os padecimentos fiacutesicos inenarraacuteveis

Ora isto tem qualquer coisa de antiaxioloacutegico A dor que sofre quem foi assim renegado eacute no fundo uma dor antiaxioloacutegica Ele era o Justo e seria normal que fosse acolhido de outra maneira Entretanto vem o so-frimento da Cruz Levaram a coisa a tal ponto que Lon-ginus crava a lanccedila nrsquoEle e ainda sai aacutegua quer dizer natildeo restou nada Um dos Salmos diz ldquoTranspassaram minhas matildeos e meus peacutes posso contar todos os meus ossosrdquo3

Acima de tudo a fidelidade do amor drsquoEle restaura o princiacutepio axioloacutegico rompido Nosso Senhor continua a amar os homens tudo o que estes fizeram para romper a ordem Ele com sua obstinaccedilatildeo sacrossanta em continu-ar a amaacute-los recompotildee   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 23111983)

1) Do latim Meu Deus meu Deus por que Me abandonaste (Sl 22 2 Mt 27 46)

2) Termo derivado de ldquoAxiolo-giardquo ramo da Filosofia que es-tuda os ldquovaloresrdquo isto eacute os mo-

tivos e as aspiraccedilotildees superiores e universais do homem as condi-ccedilotildees e razotildees que datildeo rumo agrave sua

existecircncia para os quais ele tende por insuprimiacutevel im-

pulso da sua natureza3) Sl 22 17-18

Teoria do progresso - II

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

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0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 22: Revista Doctor Plinio 203_201502

Teoria do progresso - II

F

a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

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ustel de Coulanges1 num livro que recomendo muito mdash La Citeacute Antique2 mdash trata dessa questatildeo e diz que Roma fundou-se assim

Fundamentos da sociedade romana

Havia povoados de famiacutelias numerosas que habitavam toda uma zona Essas famiacutelias sabiam serem parentes en-

Ruiacutenas de construccedilotildees romanas - Palmyra Siacuteria

tre si mas jaacute natildeo tinham ciecircncia de que modo nem em que grau conheciam apenas a tradiccedilatildeo do parentesco e possuiacuteam um chefe cuja ascendecircncia reportava por via de primogenitura ao antigo patriarca

O rei fora assim um patriarca a quem o consen-so unacircnime resolveu colocar numa situaccedilatildeo diferente criando uma dignidade nova Entatildeo fundou-se o Esta-do Mas o monarca eacute um produto da cidade E dentro da

Continuando a busca de respostas para os misteacuterios que envolvem a ascensatildeo e a decadecircncia da sociedade humana Dr Plinio discerne a accedilatildeo de Deus na Histoacuteria dos povos e aponta

para a necessidade da obediecircncia aos planos divinos

Jam

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C 3

0)

23

Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

Szi

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(CC

30

)

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

Coy

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0)

25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

Gar

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CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

26

Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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V (

CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

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ccedilatildeo

32

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

33

apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 23: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Busto de Aristoacuteteles Museu Nacional Romano Roma Itaacutelia

cidade de Roma o rei na maior parte dos casos natildeo go-vernava diretamente pois a urbe era dividida em tribos e estas eram dirigidas pelos respectivos patriarcas por meio dos quais o rei governava

Com o aumento da cidade e dado o caraacuteter meio so-berano dos patriarcas o rei natildeo tomava todas as deci-sotildees mas reunia o conselho dos patriarcas para resolver as coisas Nasceu assim o Senado romano

Depois comeccedilaram a aparecer tribos natildeo mais apa-rentadas mas jaacute claramente pertencentes a outras zonas e que migravam inteiras para a cidade com a condiccedilatildeo de serem admitidas com seus patriarcas e seus costumes E devido agrave necessidade de braccedilos para se defender con-tra o inimigo a urbe romana as admitia e aquelas tribos se inseriam num sistema tribal e patriarcal do qual elas tambeacutem viviam e os chefes dessas tribos entravam pa-ra o Senado tambeacutem em igualdade de condiccedilotildees com os demais patriarcas

Os escravos natildeo faziam parte do Estado romano eram como bichos sem ter qualquer direito e ficavam agrave margem Muitos deles entretanto comeccedilaram a ser li-bertados pelos donos e formaram a plebe livre estrangei-ra porque natildeo descendiam das tribos que constituiacuteam o Estado

Digo isso para mostrar como a ideia da tribo ficou profundamente vincada O Estado era composto de tri-bos como uma laranja eacute formada de gomos

Evoluccedilatildeo do Direito romano

Com o passar do tempo comeccedila a aparecer nas cida-des gente avulsa aventureiros homens livres sem viacutencu-lo de parentesco com ningueacutem Esses natildeo eram naturali-zados natildeo tinham direitos poliacuteticos mas sim direitos na-turais humanos Nas contendas juriacutedicas os juristas ro-manos natildeo aplicavam para esses estrangeiros o direito das tribos antigas mas o direito deduzido teori-camente da natureza humana

Na evoluccedilatildeo do Direito romano constituiacute-ram-se em determinada fase dois Direitos o Direito Quiritaacuterio e o Direito das Gentes

O Direito Quiritaacuterio baseado nos cos-tumes e na religiatildeo provinha das an-tigas tribos O Direito das Gentes elaborado por juristas com grande voo era o Direito natural aplicaacute-vel aos pobres estrangeiros gen-tios que estavam do lado de fora

Com a expansatildeo de Roma che-gou-se a tal superpopulaccedilatildeo que em certo momento o Direito Quiritaacuterio comeccedilou a natildeo se po-

der aplicar e o Direto das Gentes foi-se estendendo aos cidadatildeos romanos mdash plebeus e nobres mdash mesmo por-que aquelas leis antigas natildeo sendo escritas caiacuteam no es-quecimento na confusatildeo

Eacute muito bonito conhecermos essa evoluccedilatildeo que Fus-tel de Coulanges afirma ter sido com essas ou aquelas diferenccedilas a linha geral da evoluccedilatildeo de todos os municiacute-pios gregos e latinos Mas eu admito ter algo de comum com a formaccedilatildeo de todos os municiacutepios antigos porque eacute tatildeo natural e tatildeo bonita essa passagem do primitivo pa-triarcado para o rei e do primitivo conjunto de tribos ateacute o Estado que sou propenso agrave hipoacutetese de que com cir-cunstacircncias e com diferenccedilas bem consideraacuteveis algo disso seja encontrado na constituiccedilatildeo de todas as anti-gas sociedades

O culto dos judeus e as religiotildees pagatildes

Devemos pensar agora nos elementos vitais do pa-triarcado e para isso precisamos nos pocircr uma pergunta para a qual tenho muito menos do que hipoacuteteses natildeo pos-suo senatildeo vislumbres porque seria preciso fazer um estu-do mais aprofundado a respeito da vida sobrenatural

Quais eram as relaccedilotildees de Deus com Adatildeo Eva e seus descendentes

Por certo Deus revelara muita coisa a Adatildeo e Eva a respeito de Si mesmo do destino do homem e isso Ele natildeo proibiu que fosse contado aos descendentes para que assim esse conhecimento entrasse como um elemen-to da religiosidade deles

Quer dizer Adatildeo e Eva levaram para fora do Paraiacuteso terrestre sua crenccedila religiosa sem nenhuma alteraccedilatildeo e tenho a impressatildeo de que com isso vinham tambeacutem favo-res celestes que proporcionavam aos homens uma relaccedilatildeo com Deus preacute-figurativa daquela estabelecida por meio da graccedila santificante e os povos que ficaram fieacuteis agrave tradi-

ccedilatildeo vinda de Adatildeo e Eva eram favorecidos por uma vinculaccedilatildeo especial com Deus Seria ou natildeo seria sobrenatural natildeo sei mas teria al-guma coisa acima da mera religiatildeo deduzida pela razatildeo humana e que isto foi ainda mais acentuado nos judeus que por ser o povo

eleito estavam visivelmente numa situa-ccedilatildeo de partiacutecipes do sobrenatural

No culto dos judeus a presenccedila do sobrenatural fazia-se notar a to-do momento por meio de profetas que orientavam o povo instituiacuteram

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Contraste maravilhoso

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 24: Revista Doctor Plinio 203_201502

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a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr pLinio

e regulamentaram o culto edificaram um templo previ-ram o Messias

Se considerarmos aquelas religiotildees pagatildes antigas mdash a religiatildeo dos judeus natildeo estava neste caso mdash podemos nos perguntar se houve guerras religiosas Por exemplo os egiacutepcios querendo provar aos gregos que os iacutedolos gregos eram falsos e que os deuses deles eram verdadei-ros ou os gregos querendo provar o contraacuterio aos egiacutep-cios aos assiacuterios etc Percebe-se que tais guerras natildeo existiram

Aos judeus a Revelaccedilatildeo aos gregos a Filosofia

Fustel de Coulanges trata de passagem desta ques-tatildeo e mostra que cada povo tinha os seus deuses e quan-do dois povos iam agrave guerra eles imaginavam que numa regiatildeo ignota esses deuses lutavam entre si e que a guer-ra entre eles era a mesma dos homens na Terra Isso dava a ideia da crenccedila em um mundo de deuses todos ldquoverda-deirosrdquo com atribuiccedilotildees que se excluiacuteam umas agraves outras pois todos possuiacuteam forccedila divina dirigindo o universo etc como mais ou menos cada mitologia compunha as proacuteprias divindades Donde os povos viverem numa con-tradiccedilatildeo enorme paciacutefica mas natildeo ecumecircnica pois natildeo visavam fazer prevalecer seus deuses nem fundir todas as religiotildees

O primeiro povo que pelo esforccedilo de sua razatildeo pro-curou ter uma noccedilatildeo exata de Deus e de todo o universo e constituir portanto uma Filosofia foi o povo grego

Os gregos por assim dizer tinham duas espeacute-cies de religiotildees a reli-giatildeo filosoacutefica que os fi-loacutesofos mdash na ponta dos quais floresceu Aristoacutete-les mdash cultivavam e que era mais um conhecimen-to do que um culto De outro lado o culto idolaacute-trico do povinho que os filoacutesofos fingiam aceitar por medo de serem per-seguidos

A elaboraccedilatildeo de uma loacutegica de um sistema de pensamento cogitaccedilotildees a respeito da natureza do homem e tudo o mais nasceu do espiacuterito grego

Mas qual era o papel de Deus nisso

Satildeo Clemente de Alexandria afirma que Deus tinha dado a Filosofia aos gregos e aos judeus a Revelaccedilatildeo3

A Teologia catoacutelica eacute a aplicaccedilatildeo do sistema de pensa-mento grego depois romano agrave Revelaccedilatildeo o aprofunda-mento da Revelaccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo da razatildeo Isto todos os outros povos natildeo tiveram Foi portanto um progresso enorme no qual vemos o dedo de Deus

Pois bem Deus deu a Revelaccedilatildeo aos judeus e a Filoso-fia aos gregos Mas outras coisas a que outros povos che-garam natildeo teriam presente tambeacutem o dedo de Deus

O dedo de Deus

Por exemplo os persas Ciro foi mandado pela Pro-videcircncia Divina para liquidar a Babilocircnia e libertar os judeus e ele eacute chamado na Escritura de o ldquoungidordquo de Deus4 um homem amado por Ele Ciro o imperador pa-gatildeo de um impeacuterio pagatildeo Na formaccedilatildeo do Impeacuterio Per-sa houve portanto uma missatildeo divina um homem de Deus que executou tudo isso nas trevas do paganismo

Os juristas medievais admitiam de bom grado que o Impeacuterio Romano mdash que perseguira os cristatildeos mdash era um dom de Deus pois formava um todo para a pacificaccedilatildeo e coesatildeo do gecircnero humano e que competia agrave Igreja Catoacute-lica conservaacute-lo fortalececirc-lo e natildeo destruiacute-lo

E a Esposa de Cristo natildeo quis destruir o Impeacuterio Ro-mano mas viveu debaixo dele Quando esse impeacuterio caiu de podre a Igreja Catoacutelica conservou a recordaccedilatildeo de-le e os povos mantiveram a ideia de um Impeacuterio Ro-mano onde ainda existia o Direito natural e que deve-

Ciro durante uma caccedilada - Palaacutecio de Versailles Franccedila

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ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

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)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

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drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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C 30)

Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

Bol

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C3

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 25: Revista Doctor Plinio 203_201502

25

ria ser restaurado E quando o Papa Satildeo Leatildeo coroou Carlos Magno a intenccedilatildeo do Pontiacutefice era de restaurar o Impeacuterio Romano O tal Sacro Impeacuterio de liacutengua ale-matilde foi uma coisa menor fundada seacuteculos depois de Car-los Magno mas que a piedade dos homens da Idade Meacute-dia tomou como uma espeacutecie de filho do Impeacuterio Roma-no com fragmentos da jurisdiccedilatildeo universal que o Impeacute-rio Romano possuiacutea

Deus quis que se fundasse o Impeacuterio para facilitar a expansatildeo da Religiatildeo Catoacutelica pois se ela tivesse en-contrado no seu caminho muitos povos antagocircnicos te-ria sido muito difiacutecil se estabelecer Ela se estabeleceu una com uma relativa facilidade por causa da unidade do Impeacuterio Romano Isto faz compreender melhor o Pa-pado em Roma

Vemos entatildeo o dedo de Deus empurrando sob vaacute-rios aspectos a Histoacuteria e como consequecircncia podemos admitir que Ele foi dando empurrotildees de natureza diversa a vaacuterios desses povos Estados e naccedilotildees para irem pro-gredindo mais do que progrediriam entregues a si mes-mos

Desaparecendo o desejo do sublime comeccedila a decadecircncia

Entretanto acontece esta coisa horriacutevel talvez um dos paradoxos mais tristes da Histoacuteria partindo daque-le aacutepice primitivo patriarcal percebe-se que o homem vai engendrando mais progresso mas esse progresso traz a complicaccedilatildeo e o apego E agrave medida que o homem vai construindo um edifiacutecio este se transforma em seu proacute-

A civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio

tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio

novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc

prio mausoleacuteu Em determinado momento desaparece o desejo do esplendor maior o impulso rumo ao sublime estanca e a pessoa fica sorvendo as deliacutecias do que fez sem querer subir mais

A partir do momento em que ela comeccedila a sugar essas deliacutecias todo o peso do pecado original fica sem freios mdash o freio eacute o desejo do sublime mdash esse peso vai esma-gando e a pessoa ou a sociedade cai na decadecircncia che-gando ateacute agrave inteira dissoluccedilatildeo

Entatildeo Deus daacute certa ajuda para que o povo possa pro-gredir sem decair assim mas a quase totalidade dos po-vos decaiu e natildeo progrediu Isso se deu inclusive em ma-teacuteria de Direito com os romanos e de Filosofia com os gregos No meio da Filosofia grega havia erros enormes e aquilo parou estagnou

Entatildeo a civilizaccedilatildeo tatildeo apregoada seria um bem e ao mesmo tempo um mal No iniacutecio tudo muito bom mas vai-se ver haacute um caminho anterior que se apaga e um desvio novo aparece e eacute uma decadecircncia Por quecirc Por-que o impulso de Deus natildeo foi seguido   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2281991)

1) Numa Denis Fustel de Coulanges (1830 - dagger1889) Historia-dor francecircs

2) Do francecircs A Cidade Antiga Publicado em 18643) Cf Strom VI 84) Is 45 1

Coroaccedilatildeo de Carlos Magno como Rei dos Lombardos

Reims Franccedila

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CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

e (CC 3

0)

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ourly

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C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

32

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

33

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Toni

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Tuva

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C 30)

Tuva

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

Bol

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i (C

C3

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 26: Revista Doctor Plinio 203_201502

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Satildeo Cirilo e Satildeo Metoacutedio

Mas

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CC

30

)

5 Santa Aacutegueda virgem e maacutertir (daggerc 251)Satildeo Jesus Meacutendez presbiacutetero e maacutertir (dagger1928) Foi fu-

zilado em Valtiervilla Meacutexico durante a perseguiccedilatildeo reli-giosa

6 Satildeo Paulo Miki e companheiros maacutertires (dagger1597)Beato Antocircnio Maria Fusco presbiacutetero (dagger1910) Fun-

dador das Irmatildes Batistinas do Nazareno em Angri Itaacutelia Foi assiacuteduo no serviccedilo lituacutergico e diligente na administra-ccedilatildeo dos Sacramentos

7 Beato Pio IX Papa (dagger1878) Ver paacutegina 2

8 V Domingo do Tempo ComumSatildeo Jerocircnimo Emiliani presbiacutetero (dagger1537)Santa Josefina Bakhita virgem (dagger1947)Satildeo Paulo de Verdun bispo (daggerc 647) Tendo abraccedilado a

vida monaacutestica depois foi eleito Bispo de Verdun Franccedila onde promoveu a dignidade do culto divino e a observacircn-cia regular dos cocircnegos

9 Satildeo Miguel Febres Cordeiro religioso (dagger1910) Re-ligioso da Congregaccedilatildeo dos Irmatildeos das Escolas Cristatildes Nasceu em Cuenca Equador onde durante quase 40 anos se dedicou agrave formaccedilatildeo escolaacutestica e literaacuteria dos alunos e dos proacuteprios professores Trasladou-se para a Espanha onde faleceu em Premiaacute de Mar

10 Santa Escolaacutestica virgem (daggerc 547)Santa Austreberta virgem e abadessa (dagger704) Regeu o

mosteiro de Pavilly em Rouen Franccedila fundado pelo Bis-po Santo Audeno

11 Nossa Senhora de LourdesSatildeo Pascoal I Papa (dagger824) Trasladou muitas reliacutequias

dos maacutertires das catacumbas para as igrejas Promoveu missotildees nos paiacuteses escandinavos e reconstruiu a Basiacutelica de Santa Ceciacutelia em Roma

12 Satildeo Meleacutecio bispo (dagger381) Exilado vaacuterias vezes por defender as normas do Conciacutelio de Niceia Morreu na An-tioquia hoje Turquia quando presidia o Primeiro Conciacutelio Ecumecircnico de Constantinopla

13 Satildeo Paulo Liu Hanzuo presbiacutetero e maacutertir (dagger1818) Preso quando celebrava a Missa da Assunccedilatildeo Estrangula-do por ser cristatildeo em Dongjiaochang China

14 Satildeo Cirilo monge (dagger869) e Satildeo Metoacutedio bispo (dagger885)

1 IV Domingo do Tempo ComumBeata Joana Francisca da Visitaccedilatildeo virgem (dagger1888)

Fundadora do Instituto das Irmatildezinhas do Sagrado Cora-ccedilatildeo em Turim Itaacutelia

2 Apresentaccedilatildeo do SenhorBeato Estecircvatildeo Bellesini presbiacutetero (dagger1840) Religioso

agostiniano paacuteroco de Genazzano Itaacutelia Destacou-se por sua grande devoccedilatildeo agrave Nossa Senhora do Bom Conselho

3 Satildeo Braacutes bispo e maacutertir (daggerc 320)Santo Oscar bispo (dagger865)Santa Berlinda virgem (daggerseacutec IX-X) Filha do duque

da Lotariacutengia e sobrinha de Santo Amando Ingressou no mosteiro de Moorsel Beacutelgica e depois em Meerbeke

4 Satildeo Joseacute de Leonessa presbiacutetero (dagger1612) Francis-cano capuchinho deu assistecircncia aos cristatildeos cativos em Constantinopla e pregou o Evangelho ateacute no palaacutecio do Sultatildeo Morreu em Amatrice Itaacutelia

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

27

Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

e (CC 3

0)

Otu

ourly

(C

C 3

0)

Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Toni

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

32

apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 27: Revista Doctor Plinio 203_201502

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash Fevereiro ndashndashndashndash

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Santa Margarida de Cortona

Beato Estecircvatildeo Bellesini

Milziad

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Santo Auxecircn-cio presbiacutetero e

arquimandr i-ta (daggerseacutec V) Abandonan-do a carreira militar tor-nou-se ere-

mita perto de Constant ino-

pla e dedicou o resto da vida agrave pra-

tica da mortificaccedilatildeo e agrave defesa da Feacute

15 VI Domingo do Tempo ComumBeato Miguel Sopoko presbiacutetero (dagger1975) Fundador das

Irmatildes de Jesus Misericordioso Confessor de Santa Faus-tina Kowalska e grande propagador da devoccedilatildeo agrave Divina Misericoacuterdia Morreu em Bialystok Polocircnia

16 Beato Joseacute Allamano presbiacutetero (dagger1926) Animado pelo zelo incansaacutevel fundou em Turim Itaacutelia duas Con-gregaccedilotildees das Missotildees da Consolata uma masculina e ou-tra feminina

17 Sete Santos Fundadores dos Servitas (dagger1310)Satildeo Fintano abade (daggerc 440) Fundador do mosteiro de

Cluacuteain Ednech Irlanda destacou-se por sua austeridade

18 Quarta-feira de CinzasSatildeo Francisco Reacutegis Clet presbiacutetero e maacutertir

(dagger1820) Sacerdote da Congregaccedilatildeo da Missatildeo nascido em Grenoble Franca anunciou o Evangelho no meio de extremas dificuldades na proviacutencia de Hubei Chi-na Apoacutes ter sido denunciado por um apoacutestata passou um longo periacuteodo na prisatildeo onde morreu estrangula-do

19 Beata Isabel Picenaacuterdi virgem (dagger1468) Tomou o haacutebito da Ordem dos Servos de Maria em Macircntua Itaacutelia Possuiacutea grande devoccedilatildeo agrave Eucaristia e agrave Santiacutessima Vir-gem

20 Satildeo Tiracircnio bispo (dagger311) Foi Bispo de Tiro tendo sido instruiacutedo na Feacute Cristatilde desde muito jovem Recebeu a palma do martiacuterio na Antioquia Siacuteria

21 Satildeo Pedro Damiatildeo bispo e Doutor da Igreja (dagger1072)

Santo Eustaacutecio bispo (daggerc 338) Bispo da Antioquia exilado para Trajanoacutepolis atual Boacutesnia pelo Imperador Constacircncio por defender a Feacute Catoacutelica

22 I Domingo da QuaresmaFesta da Caacutetedra de Satildeo Pedro ApoacutestoloSanta Margarida de Cortona penitente (dagger1297) Co-

movida pela morte de seu amante arrependeu-se e depois de muitas provas foi admitida na Ordem Terceira Francis-cana onde levou uma vida de penitecircncia

23 Satildeo Policarpo bispo e maacutertir (daggerc 155)

Beata Josefina Vannini virgem (dagger1911) Fundadora da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma para assistecircncia aos doentes

24 Beata Ascensatildeo do Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1940) Cofundadora da Congregaccedilatildeo das Missionaacuterias Dominicanas do Santiacutessimo Rosaacuterio em Lima Peru Fale-ceu aos 57 anos de idade em Pamplona Espanha

25 Satildeo Nestor de Ma-gido bispo e maacutertir (daggerc 250) Preso durante perseguiccedilatildeo do Impe-rador Deacutecio Foi con-denado e crucificado em Perge atual Tur-quia

26 Satildeo Viacutetor ere-mita (daggerseacutec VII) Louvado nos Ser-motildees de Satildeo Bernar-do morreu em Ar-cis-sur-Aube Franccedila onde viveu da oraccedilatildeo e contemplaccedilatildeo

27 Satildeo Gregoacuterio de Narek monge (daggerc 1005) Evangelizador dos armecircnios ilustre pela doutrina escri-tos e ciecircncia miacutestica

28 Satildeo Romatildeo abade (dagger460) Ver paacute-gina 28

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

28

Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

29

Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

30

Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

tor

Toni

olo

Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Luca

Bol

drin

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C 3

0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Vic

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Vic

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Tuva

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Tuva

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C 3

0)

ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

Igor

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Luca

Bol

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 28: Revista Doctor Plinio 203_201502

E

Satildeo Romatildeo doccedilura e forccedila de oraccedilatildeo

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Hagiografia

Pregar apenas a misericoacuterdia e silenciar a justiccedila eacute tatildeo errado quanto fazer o contraacuterio pois ambas as virtudes

satildeo necessaacuterias para as almas Dois irmatildeos santos Romatildeo e Lupicino nos deram significativo exemplo de como a

justiccedila e a misericoacuterdia se harmonizam

Dois meacutetodos diferentes no trato com as almasMais tarde tendo jaacute fundado numerosos mosteiros os

dois irmatildeos visitavam essas fundaccedilotildees com frequecircncia Satildeo Lupicino era severiacutessimo natildeo perdoando o menor deslize Satildeo Romatildeo ao contraacuterio era bem mais misericordioso

Aconteceu que Satildeo Lupicino visitando um convento na Alemanha encontrou na cozinha excessiva quantidade de legumes e peixe Escandalizado com aquilo fez cozinhar tudo junto para castigo dos monges A comida saiu tatildeo re-pugnante que doze religiosos deixaram a casa natildeo supor-tando a penitecircncia Satildeo Romatildeo teve uma visatildeo sobre esse acontecimento e quando Lupicino voltou disse-lhe

mdash Meu irmatildeo eacute melhor natildeo visitar as ovelhas do que ir vecirc-las para dispersaacute-las

Resposta de Satildeo Lupicinomdash Natildeo tenhais pena meu caro irmatildeo Natildeo eacute preciso pu-

rificar o campo do Senhor e separar a palha do bom gratildeo Os que foram eram doze orgulhosos em quem o Senhor natildeo mais habitava

Satildeo Romatildeo concordou Mas daiacute em diante chorava tatildeo profundamente magoado com a partida dos monges que Deus atendendo suas preces reconduziu mais tarde os do-ze recalcitrantes ao convento E a ele se apresentaram vo-luntariamente para fazer penitecircncia

Num ambiente sereno surge a provaccedilatildeo

Aqui haacute uma seacuterie de fatos interessantes para conside-rar e cada um deles portanto vai ter um comentaacuterio agrave parte Em primeiro lugar nos encontramos em face des-

m 28 de fevereiro comemora-se a festa de Satildeo Romatildeo abade A ficha biograacutefica que irei co-mentar eacute tirada do Pe Eacutedouard Daras ldquoLes vies

des Saintsrdquo1

Chuvas de pedras cortantes provocadas pelo democircnio

Satildeo Romatildeo nascido em 399 na Borgonha foi funda-dor de um famoso convento na regiatildeo do Franco Condado Desde jovem retirou-se para a solidatildeo sendo mais tarde se-guido por seu irmatildeo Satildeo Lupicino Conta-se que levavam uma vida que consideravam de paz e felicidade quando o democircnio resolveu interrompecirc-la Cada vez que se punham de joelhos para rezar o democircnio fazia cair sobre eles uma chuva de pedras cortantes que os feria e impediam de con-tinuar Ambos resistiram por algum tempo mas vendo que nada conseguiam decidiram abandonar o retiro Ao chega-rem a uma aldeia foram hospedados por uma pobre mu-lher que lhes perguntou de onde vinham Natildeo sem alguma vergonha narraram toda a verdade

ldquoVoacutes deveriacuteeis disse a mulher lutar corajosamente con-tra o democircnio e natildeo temer os embustes e oacutedio daquele que tatildeo frequentemente foi vencido pelos amigos de Deus Se ele ataca os homens eacute por medo de que eles por suas virtudes subam ao lugar de onde a perfiacutedia diaboacutelica os fez cairrdquo

Ao saiacuterem dessa casa consideraram a sua fraqueza e quatildeo pouco haviam combatido Voltaram sobre seus pas-sos e com oraccedilotildees e paciecircncia venceram o inimigo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 29: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Rep

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ccedilatildeo

sa admiraacutevel floraccedilatildeo de santos depois da queda do Im-peacuterio Romano do Ocidente Vemos aqui dois irmatildeos que levam uma vida de grande santidade E aparece esse epi-soacutedio deles residindo no ermo sem amolaccedilatildeo nenhuma sem ver nada das coisas da cidade nem do mundo numa natureza amena bucoacutelica vivendo felizes

Entatildeo podemos imaginar nas horas de oraccedilatildeo os ir-matildeos ajoelhados bem direitinho um ao lado do outro mdash assim eacute que os representaria uma iluminura mdash e rezan-do a Nossa Senhora que aparece no alto sorrindo para eles Esse seria o primeiro ato Eacute o ato da felicidade ere-miacutetica e bucoacutelica desses dois irmatildeos que vivem numa at-mosfera terrena encimada por um ceacuteu parecido com o ar diaacutefano daqueles ceacuteus azuis de Fra Angelico o qual poderia perfeitamente ter pintado essa cena

Vem depois a provaccedilatildeo O democircnio tem oacutedio deles e o modo de castigaacute-los tambeacutem eacute muito interessante a chu-va de pedras cortantes Sobre eles tatildeo bonzinhos tatildeo di-reitinhos cai uma chuva medonha de pedras cortantes que os molesta Os irmatildeos entatildeo procuram rezar direi-

Cenas da vida dos Padres do deserto (por Fra Angelico) Museu de Belas Artes Budapeste Hungria

to mas afinal de contas as pedras caem em tal quantida-de que eles resolvem sair

Liccedilatildeo de uma virtuosa mulher

Por fim surge uma mulher a qual eacute naturalmente uma boa mulher que habita no campo numa choupa-na Ela perdeu o marido e tem apenas um filho que eacute

A justiccedila e a paz se

oscularam diz o Salmo

Aqui se poderia dizer que

a justiccedila e a misericoacuterdia

se oscularam

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

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Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 30: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Hagiografia

monge e reside num lugar distante e de quem de vez em quando recebe uma carta essa mulher eacute reumaacutetica tem uma perna inchada mas reza o tempo inteiro e vi-ve soacute para Deus Assim poderiacuteamos imaginar a mulher pois esse era o ambiente pitoresco da eacutepoca o modo pe-lo qual a graccedila operava Natildeo eacute lenda Eacute o estilo da accedilatildeo de Deus naquele tempo

Entatildeo a mulher provada em dores e cheia de sabe-doria recebe os dois Naturalmente primeiro oferece a eles alguma coisa para comer Ajuda a curar alguma fe-rida provocada pelas pedras Depois pergunta o que haacute Fora estaacute chovendo torrencialmente eles estatildeo abriga-dos na casinha da mulher e contam para ela o ocorrido A mulher suspira potildee os olhos num Crucifixo e diz ldquoIr-matildeos mui errados andaisrdquo E fala a verdade

Compungidos eles passam a noite em prece Na ma-nhatilde seguinte voltam para o ermo e vatildeo lutar contra o de-mocircnio Satildeo dois cavaleiros dois guerreiros contra o de-mocircnio que emergem dessa atmosfera azul-claro rosa--claro ouro-rutilante e que a partir desse momento se transformam em lutadores varonis Eacute a formaccedilatildeo deles que assim se enuncia

Severidade e branduraDepois se saltam vaacuterios aneacuteis intermediaacuterios e eles

nos aparecem numa posiccedilatildeo pomposa majestosa Satildeo dois santos veneraacuteveis cuja fama de santidade reuniu em torno de si vaacuterios monges que lhes obedeciam Eles satildeo patriarcas provavelmente jaacute de barba branca mais saacutebios e mais provados na vida do que aquela mulher derrotaram os democircnios enfrentaram os adversaacuterios fi-zeram viagens perigosas passando por lugares onde ha-via feras pontes mal construiacutedas bandidos tempestades tudo enfrentaram por causa de Deus Nosso Senhor Os dois estatildeo no zecircnite da vida deles Poreacutem mais uma vez um episoacutedio entre eles se daraacute

Haacute certa medida de severidade e de brandura que de-ve ser utilizada de acordo com o sopro da graccedila e com o modo pelo qual Deus Nosso Senhor quer conduzir os es-piacuteritos Existem certos espiacuteritos que soacute sabem fazer bem por meio da severidade suma e realizam um bem admi-raacutevel Haacute outros espiacuteritos que dentro da medida do ra-zoaacutevel quase se diria que estatildeo no extremo oposto satildeo muito brandos muito suaves e fazem bem pela sua bran-dura e suavidade Uns imitam mais Nosso Senhor en-

quanto expulsava os vendilhotildees do Tem-plo outros O imitam mais enquanto per-doava Santa Maria Madalena

De qualquer forma ei-los que come-ccedilam a governar esses mosteiros E um de-les Satildeo Lupicino muito severo muito du-ro vai ao mosteiro e faz o que todos os instintos de minha alma me pediriam pa-ra fazer se estivesse em situaccedilatildeo anaacutelo-ga ldquoIsso aqui natildeo estaacute direito Estaacute bem eu vou ensinarrdquo Eacute reto raacutepido natildeo faz os outros perderem tempo resolve as coisas diretamente e resolve mesmo Erradica e potildee fora Estaacute acabado

Um Santo Eremita (por Girolamo Muziano)

Museus Vaticanos

Vic

tor

Toni

olo

Que Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua

forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo

nada faria com sua doccedilura

31

Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

Rep

rodu

ccedilatildeo

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apoacuteStoLo Do puLcHrum

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0)

Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 31: Revista Doctor Plinio 203_201502

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Mas exatamente a Igreja eacute multiacuteplice e Satildeo Romatildeo o qual tinha o espiacuterito diverso comeccedila a lamentar o que fez Satildeo Lupicino

Notem a sutileza e o conteuacutedo teoloacutegico interessantiacutes-simo do fato Satildeo Romatildeo comeccedila a lamentar o que rea-lizou Satildeo Lupicino e lhe faz uma censura Este daacute uma resposta agrave sua maneira esplecircndida e explica tudo Satildeo Romatildeo daacute um suspiro e concorda teve boa-feacute Isso eacute ver-dade

A justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam

Mas a Providecircncia quis que a misericoacuterdia natildeo saiacutesse derrotada E onde Satildeo Lupicino tinha feito bem em ex-pulsar Satildeo Romatildeo fez bem em pedir que os monges vol-tassem Este se pocircs a chorar Vecirc-se entatildeo o velho com as barbas brancas numa atitude enternecida pensando naquelas almas as laacutegrimas cristalinas de olhos cristali-nos que correm ao longo de uma face alva e emaciada chegam a cair no chatildeo e enternecem o Anjo da Guarda encontram eco diante de Nossa Senhora a qual por sua vez tem sempre eco diante de Deus E Maria Santiacutessima pede pelos monges

Resultado o pessoal que Satildeo Lupicino com tatildeo boa vassoura varrera volta Mas natildeo regressa como era quando foi varrido Volta emendado por uma accedilatildeo ex-cepcional da graccedila uma accedilatildeo que estaacute para aleacutem das vias normais da graccedila que natildeo eacute o corretivo de Satildeo Lupici-no mas eacute uma bela superaccedilatildeo desse santo A graccedila con-seguiu a conversatildeo daqueles que a justiccedila a tatildeo bom tiacutetu-lo e tatildeo oportunamente tinha castigado

A justiccedila e a paz se oscularam diz o Salmo2 Aqui se poderia dizer que a justiccedila e a misericoacuterdia se oscularam E termina assim num encantador happy end esta ficha

Que Satildeo Romatildeo nos consiga um pouco dessa candura de alma que no interior de nossas almas haja um pouco desse rosa-claro desse verde desse florileacutegio que eacute tatildeo extraordinariamente agradaacutevel para carregarmos a virtu-de E que tenhamos a compreensatildeo dos meacutetodos de Satildeo Lupicino e natildeo apenas a ternura para com os modos de agir de Satildeo Romatildeo Que ambos nos faccedilam parecidos com eles Que Satildeo Lupicino nos decirc toda a sua braveza E Satildeo Romatildeo nos conceda sua doccedilura com sua forccedila de oraccedilatildeo porque sem sua forccedila de oraccedilatildeo nada faria com sua doccedilura   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2821967)

1) Cf DARAS Eacutedouard Les vies des Saints Volume II 7ordf edi-ccedilatildeo Paris Louis Vivegraves 1872 p 465-471

2) Cf Sl 85 11

Eremitas - Detalhe do Retaacutebulo de Ghent Beacutelgica

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

O

Contraste maravilhoso

Tim

othy

Rin

g

Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

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Na sociedade deve haver uma hierarquia harmocircnica e proporcionada a qual se manifesta entre outras coisas nos meios

de transporte que precisam ser belos e praacuteticos As carruagens existentes no Museu Nacional dos Coches em Portugal satildeo

exemplos caracteriacutesticos dessa verdade

O belo e o praacutetico - II

T endo sido exposta de modo muito sumaacuterio a dou-trina sobre o praacutetico e o belo eacute o momento de co-mentarmos algumas carruagens1 que se encontram

no famoso Museu Nacional dos Coches em Lisboa

A parte nobre do corpo do homem deve aparecer mais que a inferior

Logo agrave primeira vista notamos como o chatildeo dessa car-

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

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ruagem tem uma superfiacutecie menor do que a do teto es-te se alarga enquanto o chatildeo eacute estreito De maneira que se considerarmos como chatildeo apenas a parte onde estaacute a porta central ele eacute minuacutesculo em comparaccedilatildeo com o te-to A razatildeo de ser disto eacute que em tudo quanto o homem faz haacute uma vantagem para ele em que a parte nobre de seu corpo apareccedila mais e a parte inferior apareccedila mui-to menos

Temos assim uma arquitetura que para visar o belo eacute altamente praacutetica porque a partir da parte baixa dos cristais ateacute em cima o que se vecirc do homem eacute a parte no-bre em que ele aparece como um busto Imaginem que este carro natildeo tivesse na parte de baixo o quadro pinta-do na porta nem esses ornatos mas tudo fosse vidro ateacute embaixo Perderia enormemente

Porque ver pernas cruzadas peacutes tranccedilados que se agi-tam nervosamente tudo isto eacute muito menos bonito do que ver os bustos elevados a cabeccedila alta do homem ou da dama em atitude monumental escultural

Harmonia entre as diversas partes da carruagem

O carro tem duas partes bem diversas uma eacute a que transporta e outra a que eacute transportada A parte que transporta satildeo as rodas e a boleia onde senta o condutor Atraacutes entre as rodas grandes haacute uma espeacutecie de chatildeozi-nho para ficarem de peacute os dois lacaios de maneira que quando o carro para imediatamente eles descem e vatildeo correndo abrir as portas e pocircr um banqui-nho embaixo mdash que jaacute vem dentro do proacuteprio carro mdash para que o passa-

geiro natildeo seja obrigado a dar um pulo Jaacute pensaram co-mo ficaria feio uma rainha idosa dando um pulo de laacute pa-ra baixo

Os lacaios vestidos em geral de damascos sedas com chapeacuteus de veludo com penas jaacute sabem fazer uma corte-sia muito grande com a porta aberta e natildeo havendo um fidalgo para dar a matildeo agrave senhora que desce o lacaio lhe oferece o braccedilo Ela desce de um modo elegante e sai

Com o carro aberto pode-se olhar dentro e ver as se-das e os damascos nos assentos Esta eacute a parte dos que satildeo transportados

Notem a diferenccedila de construccedilatildeo das rodas da frente com as de traacutes As rodas da frente satildeo pequenas e mais robustas As rodas de traacutes satildeo mais leves altas e elegan-tes A razatildeo disso estaacute ligada ao equiliacutebrio e conforto dos passageiros Desde a boleia ateacute a cabine de ambos os la-dos haacute umas peccedilas que suspendem e mantecircm a carro-ceria alta garantindo o equiliacutebrio entre a parte de traacutes e a da frente enquanto o carro sobe ou desce de maneira que os passageiros natildeo sejam jogados para frente ou pa-ra traacutes Sem duacutevida fica muito elegante Eacute uma seacuterie de providecircncias praacuteticas que satildeo muito belas

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

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O praacutetico disfarccedilado pela belezaEstaacute posta uma situaccedilatildeo digna de nota em que o praacute-

tico existe desde que se preste atenccedilatildeo mas eacute preciso sa-ber vecirc-lo porque ele estaacute de tal maneira disfarccedilado pe-la beleza que quem observa natildeo diz ldquoOh que sabedoria praacuteticardquo mas exclama ldquoOh que belezardquo

As molas mantecircm a cabine numa posiccedilatildeo tal que ela natildeo se inclina demais e sobretudo natildeo toma solavancos do solo o que poderia tornar mais desagradaacutevel o traje-to

Ateacute mesmo a altura que vai do piso da carruagem ao calccedilamento estaacute calculada para a perfeita comodidade das pessoas que se encontram no interior da cabine

Em geral cabem seis passageiros nesse carro dispos-tos frente a frente nas poltronas Encostado agrave porta haacute o banquinho utilizado quando as pessoas descem Estas conforme o caso faratildeo o percurso em silecircncio e numa atitude de grande solenidade ou conversando amavel-mente O povo tem o direito de vecirc-las numa dessas ati-tudes e faz parte do dever delas apresentar esta bele-za pois as instituiccedilotildees poliacuteticas devem ornar os povos O mais belo ornato de um povo eacute a sua instituiccedilatildeo poliacutetica

As carruagens e a hierarquia existente numa sociedade

Analisemos agora outro veiacuteculo que eacute sem duacutevida in-ferior ao anterior Entretanto natildeo se pode dizer que seja um carro feio Eacute um carro bonito Ele eacute lindo

Em comparaccedilatildeo com as coisas de hoje ele eacute lindo mas se comparado com o primeiro carro natildeo ele eacute ape-nas bonito

Pergunto Entatildeo eacute uma baixa de niacutevel fa-zer um carro assim

Natildeo porque toda sociedade qualquer que seja a forma de governo deve ter uma hierarquia E eacute preciso que essa hierarquia seja harmocircnica quer dizer natildeo haja um tombo entre o primeiro carro e depois ape-nas liteiras Conveacutem que essa hierarquia se-ja por degraus Este natildeo eacute um carro para rei mas para priacutencipes

Por causa disto ele eacute distinto mas notem que a presenccedila do ouro nele eacute muito menos abundante o teto dele eacute muito menos orna-do e de uma cor comum As formas das jane-las satildeo muito menos fantasiosas e mais reti-liacuteneas mas a justaposiccedilatildeo de vermelho e ou-ro eacute bonita Esse carro tem tudo o que o outro possui mas de modo menos excelente

Essas carruagens satildeo do museu dos coches da corte mas se houvesse um museu dos co-ches da burguesia outro dos coches do clero etc simplesmente pelos coches teriacuteamos uma ideia da ordem hieraacuterquica daquela sociedade

Ateacute as liteiras bem mais modestas que matildees de famiacute-lias da classe popular tinham para se fazer transportar eram interessantes Eacute a hierarquia social em que cada elo ama o elo de cima e se faz respeitar pelo elo de bai-xo E constitui uma boa organizaccedilatildeo social

Vale a pena a esse respeito ler os discursos famosos de Pio XII sobre a nobreza e o patriciado romanos pa-ra se ter uma ideia do que se deve pensar a este respeito

Oacutesculo entre o belo e o praacutetico

Considerem um pouco o preacutedio do museu e notem como a sala dos coches eacute muito bem calculada Vistas num con-junto todas as coisas belas apresentam uma beleza maior do que a simples so-ma delas E por isso eacute bonito ver os co-ches no seu conjunto Entatildeo foi feito um salatildeo bem alto com uma grande ga-leria em cima para que o conhecedor possa percorrer os vaacuterios lados e anali-sar os coches no seu conjunto

Para guardar bonitos coches tudo foi bem preparado Quadros a oacuteleo provavelmente do tempo represen-tando cenas que se passaram neste ou naquele coche O teto todo pintado e trabalhado Tem-se vontade de haver ali no fundo onde haacute uma cortina um

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Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 4101986)

1) As fotografias que ilustram esta seccedilatildeo natildeo satildeo as mesmas comentadas por Dr Plinio

Aspectos do Museu Nacional dos Coches - Lisboa Portugal

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antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

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oacutergatildeo para serem tocadas muacutesicas extraordinaacute-rias celebrando o passado de Portugal

Vamos terminar pelo lado ldquopedestrerdquo foi gasto muito com esses coches Eu pergunto Natildeo eacute um elemento de grande valor para o prestiacutegio atual de Portugal Notem que eacute uma gloacuteria de Portugal Em geral as naccedilotildees que foram colocircnias se revol-tam contra as metroacutepoles e rompem agrave matildeo arma-da Portugal ateacute hoje tem em Angola e Moccedilambi-que gente que estaacute lutando para que essas naccedilotildees voltem agrave uniatildeo com Portugal Eu lhes garanto que muitos angolanos moccedilambicanos que visitaram esse museu levando aacutelbuns com visotildees de coisas destas para Angola e Moccedilambique deram o sabor da cultura portuguesa e concorreram para esta uniatildeo de Portugal com os seus suacuteditos Noacutes de origem portuguesa nos alegramos em dizer isto aqui Mais uma vez o belo e o praacutetico se osculam se encontram Era preciso termos chegado a este seacuteculo descabelado e sujo para que se imaginasse esse dissiacutedio entre o belo e o praacutetico   v

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que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)

Page 36: Revista Doctor Plinio 203_201502

O

Contraste maravilhoso

Tim

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Rin

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Nossa Senhora do Brasil Satildeo Paulo Brasil

que me toca especialmente na devoccedilatildeo a Nossa Senhora eacute uma espeacutecie de

antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tatildeo santa e entretanto saber colocar-Se tanto ao niacutevel de todos noacutes pecadores Pensar que Ela sem perder nada de sua incomensuraacutevel superioridade sabe descer tatildeo ao nosso plano

Quando rezo agrave Santiacutessima Virgem cogito sobre Ela trato com Ela sinto-A enormemente ao meu alcance ao meu niacutevel Mas de outro lado maior do que eu nem sei de que jeito

Ela tatildeo pura poder mdash por assim dizer mdash ldquotocarrdquo numa alma que tem manchas sem Se contaminar em nada e tendo todo horror ao pecado natildeo ficar com horror de mim

Haacute aiacute uma espeacutecie de contraste beliacutessimo maravilhoso em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2561972)