revista caleidoscÓpio

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Ed. 0 Criança hiperconectadas: superdosagem de tecnologia? Projeto que revive sarau poético chega aos 5 anos Caminho das pedras: drogas destroem jovens e deixam Alagoas sem futuro O cenário da música independente alagoano Rugby na marra: superar desafios sem abandonar a vontade pelo esporte PÁG. 10 LEIA MAIS: Crianças dedicam boa parte do seu tempo às tecnologias e deixam de lado o carrinho e a boneca. Excesso de tecnologia pode prejudicar a criação? PÁG. 06 PÁG. 12 PÁG. 15 PÁG. 08

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Revista-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas

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Ed. 0Criança hiperconectadas:

superdosagem de tecnologia?

Projeto que revive sarau poético chega aos 5 anosCaminho das pedras: drogas destroem jovens e deixam Alagoas sem futuroO cenário da música independente alagoanoRugby na marra: superar desafios sem abandonar a vontade pelo esporte

PÁG. 10

LEIA MAIS:

Crianças dedicam boa parte do seu tempo às tecnologias e deixam de lado o carrinho

e a boneca. Excesso de tecnologia pode prejudicar a criação?

PÁG. 06PÁG. 12

PÁG. 15PÁG. 08

EDITOR CHEFENasson Neves

PROJETO GRÁFICO Raphael Araujo

EDIÇÃO E REVISÃOAndrea Moreira

DIAGRAMAÇÃONasson Neves

Antônio Renato BarbosaUiliana LIma

Pedro MesquisaKarina Liliane

Ana Carolina TenórioBrenda AndradeRoberta Meyce

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo e Relações Públicas

da Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Fotos de capa: www. fonteblog.comhttp://victorh2007.files.wordpress.com

www.revistacaleidoscopio.com.br

Após lançar de diversos produtos laborato-riais em períodos irregulares ao longo de sua existência, finalmente, a Revista Calei-doscópio promete torna-se um publicação

editorial assídua no Curso de Jornalismo e Relações Públicas da UFAL. Graças ao apoio da vice-reitora, profa. Rachel Rocha, que viabilizou a impressão de 4 edições, trimestrais, pelo próximo ano, como tam-bém pelo empenho e incentivo da profa. Andrea Moreira e de diversos professores e alunos do COS, além de sua versão na internet: www.revistacalei-doscopio.com.br.

A proposta é, desde essa versão “zero”, uma versão “protótipo”, para a realização de ajustes e re-flexões, é refletir e debater o jornalismo impresso, que passa por uma crise estrutural profunda, com perda de receita e leitores. Para mudar essa situ-ação, as produções acadêmicas precisam apontar mudanças, contribuir para mudar esse cenário e prolongar a vida da mídia impressa, trabalhando no-vas formas de editorias, investindo em mais conteú-dos, pensando em novas formas de fazer o jornalis-mo impresso, já que não existe o objetivo comercial.

A Revista Caleidoscópio busca investir nessa linha, apostando num jornalismo investigativo, a reportagem, e na necessidade de contextualização jornalísticas dos fatos. O furo, as notícias mais fac-tuais, serão disponibiliza para a internet, na versão digital da revista. Nesse sentido, nossa linha edito-rial terá algumas tarefas para debater um novo jor-nalismo impresso, com algumas diretrizes:

- Revista local;- Revista de referência regional;- Apostar em reportagens porque são elas são

os diferenciais no jornalismo;- Maior emprego de recursos audiovisuais;- Prestação de serviço ao leitor;Assim, nesse cenário de transformação que

passa o jornalismo permeado pela mediação tecno-lógica, nasce a edição zero da Revista Caleidoscópio, que como já foi observado, servirá de referência para futuros ajustes e melhorias das próximas edições.

Nesta edição, há espaço para refletir sobre um

Universidade Federal de Alagoas - UFALCentro de Ciência Humanas,

Comunicação, Letras e Artes - ICHCACurso de Jornalismo

Olho no Caleidoscópioassunto discutido pela maioria das famílias brasi-leiras: o uso de tecnologia digital pelas crianças. Os anos passaram e a geração está cada vez mais co-nectada, se afastando dos brinquedos analógicos e se aproximando cada vez mais das telas digitais. Se-gundo uma pesquisa divulgada em 2012 pelo IBGE, internautas com idade entre 2 e 11 anos permane-ceram em média 17 horas conectados. Com diver-sos usos, os tablets e computadores, se tornaram ferramenta importante na educação dos brasileiros. Algumas escolas já adotam métodos bem tecnológi-cos e inovadores para levar o ensino aos jovens. Hoje já é possível estudar para o Enem com um aplicativo para celulares, ou aprender as cores, o alfabeto, em uma utilização saudável das ferramentas modernas. Mas até que ponto o excesso de tecnologia pode ser prejudicial a criação de crianças e jovens?

Caleidoscopeando pela cultura, percorremos o movimento da música alagoana, com um panorama do cenário musical independente no Estado, através da análise do Festival Maionese. Como além de cul-tura todos também precisamos de esportes, temos nessa editoria uma reportagem toda especial sobre o Rugby, um esporte pouco difundido no Brasil, mas cheio de marra e tenacidade que luta para se fixar nas terras dos Marechais.

O projeto Papel no Varal é outro tema revisto nessa edição. A iniciativa leva poesia à população por meio de saraus, instalações e intervenções. Dentro da editoria de Urbanidade, mostramos a si-tuação das drogas, um verdadeiro problema social em Alagoas, os caminhos que vêm tomando e os principais desafios das autoridades e das famílias.

Para explicar onde nasceu a ideia do Caleidos-cópio, preparamos um texto sobre a revista, nossos olhares, objetivos e pretensões. A publicação nasce com frequência trimestral, em formato tablóide, po-rém com muita história para contar, em uma seleção de produções para nossos leitores, que se amplia na versão online da revista. Será uma verdadeira vitrine do curso de Comunicação Social da Universidade Fe-deral de Alagoas (Ufal).

Boa leitura!

www.revistacaleidoscópio.com.br •RevistaCaleidoscópio. Edição 0 | {3}

O jornal laboratório é uma ferra-menta que proporciona a práti-ca e cotidiano de uma redação aos estudantes de Jornalismo

dentro da unidade de ensino. Mesmo que exigida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), muitas universidades ainda não cumprem a determinação.

No curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo (COS) da Universidade Federal de Alagoas, foram feitas algumas tentativas. A que conse-guiu maior avanço surgiu em 2009 na disciplina “Impresso II” com os alunos do 4º período do curso. O jornal laboratório era exigido como atividade final e era restrito para os estudantes daquele se-mestre. Depois disso, a responsabilidade era transferida para a turma seguinte.

Inspirado no jornal laboratório LONA, da Universidade Positivo de Curi-tiba, foi criado o Contraversão. “Nossa ideia era tornar o Contraversão uma produção que contasse com estudantes de todos os períodos, para que de fato o curso tivesse um material produzido em coletivo. Aproveitando o conhecimento dos mais velhos para auxiliar os mais novos, com o suporte dos professores”, explica o ex-aluno de jornalismo da Ufal e um dos idealizadores do projeto, Mar-cos Leonardo.

A falta de acordo entre a Uni-versidade e a gráfica responsável pela impressão, a dificuldade da reitoria em estabelecer a periodicidade do jornal e a resistência de alguns professores fize-ram com que o jornal não tivesse conti-nuidade. Foi impressa apenas uma ver-são do material seis meses após a sua finalização. Além disso, a partir de 2009, as turmas passaram a ter entradas se-mestrais e não mais anuais como eram até o ano anterior, o que exigiria mais cotas de impressão com a gráfica ainda que seguisse o modelo antigo.

ELABORAÇÃOA pedido da professora Andrea

Moreira, mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco

e docente do Cos, os estudantes do 6º período diurno realizaram pesquisas sobre a história dos jornais laboratório e características dos diversos jornais des-te segmento que estão em atividade ao redor do Brasil durante as aulas da disci-plina “Edição em Mídia Impressa”.

O “Jornal do Campus” (ECA – USP), “Senso (in) Comum” (LABEX – UFU) e “Lampião” (UFOP) foram alguns dos jor-nais estudados. A pesquisa serviu para definir o formato, tipo de papel, público-alvo, periodicidade e principalmente a política do jornal laboratório que estava em construção.

É fato que o entusiasmo do início não foi constante até a finalização do produto. Conflitos de ideias, dificulda-des na elaboração e entrega do jornal fi-

zeram com que seus responsáveis desa-nimassem. Foi um semestre difícil, mas produtivo. O balanço feito no fim do pe-ríodo fez com que novamente todos re-tomassem as atividades e entregassem o material. No semestre posterior, o pro-fessor Nasson Paulo juntou-se a profes-sora Andrea na construção do projeto e transformaram o formato do jornal em revista, com versão digital e impressa, a partir do apoio da Vice-reitora Profa. Ra-chel Rocha que viabilizou a impressão de 1.000 exemplares.

A REVISTACaleidoscópio ou calidoscópio é

um aparelho que reflete a luz exterior em pequenos espelhos inclinados e que a cada movimento forma combinações

Uma revista, vários olhares

OUTROS PROJETOSOutros projetos começam a ga-

nhar visibilidade e apoio de grandes empresas. Esse é o caso dos proje-tos Na Linha e Nos trilhos.

Dentro da perspectiva de um “Jornalismo Inclusivo”, Na Linha (ôni-bus) e Nos Trilhos (trens), integram produtos jornalísticos alternativos ao cotidiano de Maceió. Fruto do ensino-aprendizado na disciplina de Edição em Mídia Impressa, do Cur-so de Comunicação Social da Uni-versidade Federal de Alagoas, sob a responsabilidade da professora Andréa Moreira, a publicação foi pla-nejada para atender ao sistema de transporte coletivo de passageiros de Maceió. Colocando a serviço dos usuários de transporte coletivo os conhecimentos adquiridos no Curso de Comunicação Social, da Universi-dade Federal de Alagoas.

variadas e agradáveis. Pensando nisso, a proposta conceitual da Revista Calei-doscópio é apresentar notícias em di-versos contextos, sejam eles histórico, geográfico (local e global), político, ético e social. O que aconteceu antes, o que aconteceu à volta e o que pode ajudar a explicar o novo fato que está sendo no-ticiado.

As editorias Cultura, Urbano, Tec-nologia, Comportamento, Ciência Ala-goas, Esporte e Saúde estão dispostas com conteúdos modernos e atraentes na revista. Será um produto de impres-são trimestral e distribuído em pontos estratégicos na Universidade, além de ficar disponível no site www.revistaca-leidoscopio.com.br.

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15– O cenário da música independente alagoana

10– Crianças hiperconetadas: uma superdosagem de tecnologia

06 – Projeto que revive sarau poético chega aos 5 anos

08 – Rugby na marra

12 – Caminho das pedras: drogas destroem jovens e deixam Alagoas sem futuro

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Culturapor Uiliana Lima

Projeto que revive sarau poético chega aos 5 anosRicardo Cabús, idealizador do “Papel no Varal”, comemora os cinco anos do projeto

E ngenheiro da clara e poeta da gema, Ricardo Cabús encontrou sorridente e receptivo a repor-tagem do jornal Caleidoscópio

para contar a trajetória de cinco anos de muita poesia com o Papel no Varal. Ricardo é fundador e presidente do Instituto Lumeeiro, projeto que busca disseminar a boa poesia, ampliando seu público. Professor de Engenharia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Ricardo afirma que a ligação das ciências exatas com a poesia é mais comum do que se imagina. “Exis-tem muitos casos de grandes poetas engenheiros, hoje não há muito pre-conceito, mas logo quando lancei meu primeiro livro, em 94, havia algo sexista

e ligações diretas que as pessoas faziam entre o que significa isto e aquilo”, afir-ma o professor. Ele surpreende em dizer que não vive de poesia 24 horas por dia, “Em algumas palestras, eu uso a poesia mas não é o objetivo; sai naturalmente. Já nas aulas de engenharia uso de forma esporádica, como certa vez usei uma po-esia de Paulo Leminski para realizar um debate”. Quando questionado sobre o porquê da poesia, Ricardo repensa e afirma que sempre dá uma resposta diferente a esta pergunta. “São essas coisas que vêm e quando a gente vê, já está dentro. Cada vez eu me lembro de um jeito. Minhas filhas pediam para eu contar e recontar histórias; às vezes, eu criava poesias naqueles momentos, mas já usei também para conquistar meni-nas, sem a menor qualidade literária”, brinca.

O COMEÇO Ao retornar de um doutorado na Inglaterra, Ricardo notou que es-tavam faltando programas noturnos atraentes em Maceió para ele ir. “O Papel no Varal surgiu de forma des-pretensiosa; eu queria encontrar meus amigos em torno de uma expressão cultural que me toca”, afirma Ricardo. Hoje, o projeto vai além dos barzinhos e restaurantes, já passou por museus, livrarias, escolas e outros ambientes que acolheram os saraus. Quanto ao pioneirismo, Ricardo diz que o projeto é uma continuidade do trabalho com po-esia de muitos que vieram antes dele, “O formato do Papel no Varal talvez tenha atraído mais gente, mas a poe-sia em Alagoas começou bem antes. A qualidade e importância do projeto eu não tenho como medir, mas ele tem seu papel”, avalia.

Das experiências anteriores como Disco Jockey (DJ) e professor de forró amador, Ricardo sempre traz no Papel no Varal grandes parceiros musi-cais, mas as demais expressões artís-ticas em torno dos saraus são apenas complementos para as poesias. “A musi-calidade dentro do universo do sarau é a cereja do bolo; sempre me preocupei em dar o papel principal à poesia, que é a essência do projeto”, diz Ricardo, que já somou exposições fotográficas e in-tervenções teatrais aos saraus. O PRESENTE A seleção é mais cautelosa agora que o projeto cresceu, “São 100 poemas de alagoanos, brasileiros e estrangeiros, com as mesmas características gráficas para todos os autores, o mesmo papel, a mesma grafia. No mesmo varal está Charles Bukowski de um lado e um poe-ta alagoano do outro, sempre um poema por autor, salvo as edições especiais”, explica Ricardo, já para os aspirantes à poeta a seleção é mais rigorosa, “O ob-jetivo do projeto não é lançar novos au-tores, o que já aconteceu mas por con-sequência, o objetivo é criar um novo público de poesia”, foi então criado no Instituto Lumeeiro um conselho edito-rial formado por professores-conselhei-ros que fazem uma pré-seleção a partir dos poemas enviados, mas a decisão final dos poemas que serão expostos é

Foto: facebook.com/pages/Papel-no-Varal

www.revistacaleidoscópio.com.br •RevistaCaleidoscópio. Edição 0 | {7}

do Ricardo. Dentre os saraus tradicionais do projeto, os temáticos, as intervenções, instala-ções e outros segmentos, Ricardo acre-dita que o público tem uma preferência. “O Erótico já é uma tradição, a gente nem faz tanta divulgação porque não caberia tanta gente no Théu Brandão, lugar onde acontece o sarau erótico”, diz o professor, “acho que por ele ser diver-tido e por ser um tema que mexe com todo mundo de alguma forma, ele é nos-sa grande festa anual”. Uma surpresa para o Instituto foi a grande quantidade de leitores no sarau Arraial, que come-çou a abordar poemas matutos e terá mais uma edição no São João deste ano, no Jaraguá, no meio das festas produzi-das pela prefeitura de Maceió.

O FUTURO Apesar do crescimento do proje-to e dos apoios que ele recebe, a maior dificuldade é falta de recurso financeiro, o Instituto Limeeiro foi criado para ar-recadar fundos ao projeto, mas o Papel no Varal não foi o primeiro projeto que o Instituto apoiou, o que deu início foi o Minuto de Poesia, programa veiculado na Rádio Educativa FM que veicula po-emas a cada hora. Outra dificuldade são os preconceitos que permeiam os locais onde acontecem os saraus, segundo Ricardo, nem todos se sentem contem-plados com as escolhas dos locais, mas é preciso prezar pela boa estrutura. No aniversário de cinco anos foi anun-ciado que o Papel no Varal vai se tornar uma franquia nacional, com cinco possí-veis lugares na lista, dentre eles Seattle, nos Estados Unidos. Quanto à essência do projeto, Ricardo garante que ela não será perdida, “Vamos garantir sempre 10% de poemas alagoanos, iremos mandar um arquivo com as diversas re-gras do Papel no Varal, o jogo tem que ser do jeito que a gente joga”.O número de edições é impreciso, foge da memória de Ricardo, e o que o faz continuar com o projeto é deixar o seu legado. “É um pouco daquela coisa do humano de querer ser imortalizado, eu quero continuar ajudando a fazer essas coisas, a franquia é um pouco do desejo de que o projeto possa continuar sem precisar da minha existência física, es-pero que continuem fazendo o Papel no Varal igual ou melhor que eu”, diz o poeta-engenheiro.

Foto:facebook.com/pages/Papel-no-Varal

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Esportepor Antonio Barbosa

Rugby na marra Primeira equipe alagoana na modalidade supera desafios mas sem abandonar a vontade pelo esporte

Em 2006, contrariando as dificul-dades de praticar outro esporte que não fosse o futebol no Brasil e, mais ainda em Alagoas, surgia

a primeira equipe de Rugby do Estado. A modalidade, que é o terceiro esporte coletivo com maior público cativo em competições no mundo, só perdendo para a Copa do Mundo e Olimpíadas, vem ganhando espaço com determinação, força, garra e respeito, características próprias do jogo e de quem o pratica. A equipe Maceió Rugby, conhecida pelo apelido ‘Cães da Areia’, enfrenta desa-fios ao longo dos oito anos de existên-cia, mas sem perder o compromisso com o esporte.

A fundação do grupo, iniciativa de amigos que moram em um dos bairros da capital alagoana, começou como uma brincadeira entre eles e já levou a equipe a disputar campeonatos pelo nordeste. Tudo começou, como conta Ênio Maciel, um dos fundadores da Maceió Rugby, com um dos amigos que assistiu alguns jogos pela televisão e adquiriu uma bola de futebol americano.

“O Nícolas foi o primeiro a trazer a bola de futebol americano, como não tínhamos alternativa, jogamos com ela mesmo. No início era uma mistura do rugby e futebol americano, a gente não sabia diferenciar. Depois de seis meses fizemos uma página para divulgação e um cara da Nova Zelândia – o país cam-peão do mundo no esporte – apareceu, e foi ele que colocou a gente nos trilhos, ensinando o básico para o pessoal”, con-ta o jogador.

CÃES DE AREIAO apelido ‘Cães da Areia’, relembra

Enio, foi resultado da época em que a equipe começou a treinar no único cam-po acessível ao grupo, a areia da praia na região do posto 7, orla do bairro da Jatiú-ca. Com o tempo, afirmou o jogador, não era muito atraente apresentar o time com esse nome para possíveis patro-cinadores, daí a ideia de firmar o nome como ‘Maceió Rugby’, e usar o primeiro nome apenas como apelido, já que isso é comum no esporte.

No Rugby existem quatro moda-lidades praticadas, reconhecidas pela Internacional Rugby Boar (IRB). A mais comum e oficial é o Rugby Union, ou Ru-gby 15, que consiste em uma disputa de dois times com 15 jogadores. O Rugby Seven (sete), consiste na formação de duas equipes com sete jogadores e dois tempos de sete minutos.

A terceira forma é o Beach Rugby, chamado assim por acontecer em cam-pos feitos de areia, normalmente nas praias. O jogo pode ser realizado por equipes com cinco ou sete jogadores e com duas partidas de cinco ou sete mi-nutos. Outra modalidade do esporte é o Touch Rugby, geralmente praticado pelos iniciantes no esporte e, por ter re-gras simples é praticado de forma quase amistosa, dando a possibilidade a inicia-ção de crianças, do sexo masculino e fe-minino juntos.

LIGA DO NORDESTESegundo Ênio, a equipe de Alago-

as já participou da principal competição

regional, a Liga Nordeste de Rugby, co-nhecida também como ‘Nordestão’, que reuni cerca de 10 seleções na Região do Nordeste e vale vaga para a etapa na-cional da competição. No Estado, pelo pequeno número de adeptos e pouco investimento no esporte, Maciel relata que é sempre um desafio a composição do time para os treinos e ainda mais para os campeonatos.

De acordo com Enio, eles tiveram a oportunidade de treinar com o portu-guês José Pestana, conhecido no Brasil por treinar equipes infantis e juvenis. “Na época que o Pestana começou com a gente, nós treinamos seis meses com ele. A gente saía 6h de Maceió para a Barra de São Miguel, onde ele morava, e a gente treinava ali no campo do ‘Andra-dão’, que é um campo gramado”, conta. A equipe maceioense conquistou o se-gundo lugar no Campeonato Juvenil de Rugby, durante o período em que esteve com o treinador José Pestana.

Sobre as últimas participações da equipe em campeonatos Maciel res-ponde: “o último foi a Liga do Nordeste e a equipe de Maceió teve um problema, porque tivemos que nos juntar com o grupo de Arapiraca, para participar da competição. De início, a gente cadastrou o nosso time – Maceió Rugby – e, como Arapiraca tinha três meses de formação, mas contava com quase 30 pessoas trei-nando, e nós apenas 10, resolvemos nos unir a eles”, afirma Maciel.

Ainda de acordo com o jogador, que tem o Design Gráfico como pro-fissão, mas encara a rotina do esporte

como compromisso, essa parceria exis-tiu, mas agora os grupos estão mais divididos, pois a equipe agora está com o foco em outros campeonatos, que exigem menos jogadores. “O foco é o ‘sevens’ que é um campeonato menor. Mas a gente brinca que quando se junta sempre vai ter esse time, apesar de ser difícil essa união”, completa Maciel. A equipe também ganhou o campeonato na modalidade Beach Rugby, na disputa de cinco contra cinco, que aconteceu na cidade de Recife-PE.

PREPARADOR FÍSICOOutro jogador, que além de pra-

ticar o esporte com a equipe, orienta o grupo na preparação física durante os treinos, é o graduando do curso de Edu-cação Física, pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), John Willians, 24 anos. John relembra: “Conheci o rugby através de um amigo que praticava, vi algumas fotos dele em uma rede social e fiquei interessado, isso tem uns dois anos. Foi aí que eu entrei aqui nos ‘Cães da Areia’,

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gostei muito e é o tipo de coisa que a gente não vê aqui no Estado”, relatou Willians.

Segundo ele, que está concluindo sua graduação na universidade, ainda durante o curso houve uma oportuni-dade de levar o esporte até o campus da Ufal. “Quando abriu a inscrição do Nú-cleo de Educação Física, Esporte e La-zer da Ufal, entramos com a modalidade Rugby. A princípio foram vários inscritos, só que a falta de um espaço apropriado para a praticada da modalidade oficial, desestimulou grande parte dos alunos, já que a gente fica limitado a prática do Touch”, disse.

O graduando em educação física ainda completou, “Muitas pessoas que queriam já conheciam o Rugby e tinham interesse de praticar a modalidade mais convencional, como não era possível,

parte do grupo se afastou. Alguns já vie-ram treinar com o pessoal aqui na praia, mas o tempo e outros compromissos não colaboram muito”, salientou John. Ainda de acordo com ele, para o segun-do semestre de 2014, os monitores des-sa modalidade – entre eles o John – es-tão pretendendo levar o projeto adiante, mesmo diante dos obstáculos.

ESPORTE DIFERENCIADOO que se torna consenso entre os

praticantes do esporte em Maceió, é que o Rugby é um esporte coletivo que tem como princípio, além do contato físico dos jogadores, o respeito aos compa-nheiros de time e adversários. Segundo eles, uma parte bem interessante dos jogos é que, nenhum dos jogadores em campo pode manter contato com o ár-bitro da partida, somente o capitão do

time pode falar,, que é tratado de forma respeitosa como ‘Senhor’. Isso, de acor-do com o grupo, demostra o respeito à hierarquia, parte dos valores que os pra-ticantes aprendem com o tempo.

O esporte teve sua origem na In-glaterra, é uma vertente do futebol de campo tradicional e tem como valores o respeito, união e fraternidade. Isso torna o Rugby um esporte atrativo para quem gosta de práticas diferenciadas. Como é o caso do Lucas, estudante de Engenharia da Computação, também da Ufal. “Eu conheci o Rugby assistindo o treino do pessoal na época em que eles praticavam no posto 7. No Rugby eu vi algumas coisas que me agradaram, co-mecei a pesquisar mais sobre o esporte e a participar dos treinos com a equipe de Maceió.” afirma.

Para Lucas, em outros esportes

coletivos acontecem problemas como a falta de cooperação e trabalho em equi-pe. No Rugby essas questões funcio-nam de maneira diferente: “As pessoas as vezes não sabem lidar com a questão da disputa e das consequências do es-porte, que é o contato, a agressividade e isso faz parte, e no Rugby eu encon-trei isso. É uma forma diferente de me expressar, com respeito aos companhei-ros”, relata.

O estudante completa, frisando o valor da coletividade dentro do esporte, “você não pode fazer nada sozinho, por mais que você seja o melhor, seja bom fisicamente, sempre tem que nivelar o time pelo pior jogador. Porque a equipe tem que fazer com que ele corra tam-bém, para pode pontuar, e a única for-ma de ganhar é trabalhando 100% em equipe” salienta

Foto: Antonio Barbosa.

{10} | RevistaCaleidoscópio. Edição 0 • www.revistacaleidoscópio.com.br

Tecnologiapor Hudson Gonçalves

Se há duas décadas os quartos das crianças, inclusive deste que vos escreve, era lotado de brinque-

dos que ficavam espalhados pelo chão disputando uma vaga nas prateleiras e estantes, hoje, eles já não ocupam nem um terço. Acontece que esses brinque-dos que eu e, talvez você, vivíamos car-regando, foram “engolidos” pelos celu-lares, tablets e computadores. Como se não bastasse, até mesmo a velha dupla, papel e caneta tem sido esquecida pela geração digital.

Em um país onde há mais celulares que habitantes, cerca de 1,4 dispositi-vos por pessoa, não é difícil encontrar um criança que não domine e /ou saiba utilizar os recursos de um aparelho ele-trônico melhor do que os próprios pais. São ações absorvidas ao longo de seu

desenvolvimento e estimuladas por inú-meros fatores como a televisão, a pró-pria família, os coleguinhas na rua e até as escolas, que, em boa parte, já utiliza a tecnologia nos processos pedagógicos.

De início, os tablets convidam aos jogos, desenhos ou à simples função de filmes. Depois, vem a necessidade de fazer um trabalho escolar que logo é se-guida pelo acesso às redes sociais (Fa-cebook, Whatsapp e Instagram), o que causa preocupação em alguns pais que sentem dificuldade em controlar e filtrar o acesso de seus filhos a essas brinca-deiras.

A INTERNET PELO OLHAR DAS FAMÍLIAS

Karine Bernardino tem 10 anos e está no ensino fundamental. Quando

tinha oito, mesmo com acesso a com-putadores e aos dispositivos móveis da mãe, a menina pediu aos pais um tablet de presente de aniversário. Ao ser ques-tionada sobre quanto tempo passava na internet e o que fazia durante esse tempo, foi enfática e rápida na resposta, “Fico no ‘Face’ conversando com minhas amigas, curtindo e vendo as fotos que postam. Quando ta chato, procuro al-gum joguinho para brincar”.

A mãe de Karine diz que permite que ela acesse a internet porque não vai privar a sua filha de se relacionar com amiguinhos, visto que praticamente to-dos estão presentes nas redes sociais. “Todas as mães com quem comento so-bre o assunto me dizem a mesma coisa, que os filhos quando chegam do colégio correm logo para o computador, e é até

bom porque dão um pouco de descan-so”, diz Ana Cláudia, que monitora tudo que a filha faz na internet.

Já o pai da Marina, o advogado, José Carlos Fonseca, não acredita que o acesso à internet seja essencial para o desenvolvimento de sua filha, mas acre-dita que no mundo atual é difícil crescer sem tais aparelhos. “Consigo compre-ender que a era atual gira em torno das tecnologias e do mundo virtual, no en-tanto, várias gerações anteriores cres-ceram na ausência de aparelhos eletrô-nicos e se desenvolveram de maneira saudável e produtiva. A minha filha tem apenas 7 anos e seus acessos a com-putadores e tablets são regulados, com horários e dias pré-definidos, pois ape-sar de ser contra, tenho que me adaptar às mudanças e aceitar a minha filha nes-se meio”.

CONTRASTANTES EXPERIÊNCIAS

O público infantil se tornou um grande alvo das empresas de tecnolo-gias. Com altos investimentos em apli-cativos de conteúdo educativo, com gráficos coloridos e de fácil manuseio, os jogos estão entre os mais baixados pelas crianças. Segundo dados da AVG Technologies, empresa produtora de software, 57% das crianças com até cin-co anos de idade sabem usar aplicativos em smartphones e tablets, mas somen-

Criança hiperconectadas:superdosagem de tecnologia?Crianças dedicam boa parte do seu tempo às tecnologias e deixam de lado o carrinho e a boneca. Excesso de tecnologia pode prejudicar a criação?

Foto: Divulgação

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te 14% sabem amarrar os sapatos.Nem todas as pessoas encaram

essa “mudança” nos padrões infantis com naturalidade. É o caso da Comuni-cadora Amanda Alves, que percebe a diferença entre a época de sua infância e as crianças do século 21. Segundo a comunicadora, é raro encontrar crian-ças soltando pipa pelas ruas, jogando futebol no meio da lama ou brincando com um amigo e um pedaço de papel. “Um dia desses, fiquei parada olhando três crianças em uma calçada, concen-tradíssimas na tela do celular enquanto jogavam algo. Fiquei triste e lembrei que na minha época estávamos brincando de jogo da velha e esperando para ver quem perdia”, diz Amanda que garante, “É possível, sim, criar filhos e não sub-metê-los tão massiva e precocemente ao mundo digital”.

De acordo com a psicopedagoga, Juliane Beltrão, a tecnologia tem muito a acrescentar, principalmente para as crianças que sofrem problemas de co-ordenação motora, de socialização e de retenção de informações. No entanto, para que haja o uso correto é preciso equilíbrio. “Como tudo na vida, a dosa-gem é fundamental. Para conseguir isso, os pais precisam estipular horários e dias para o uso dos equipamentos, além de trazer atividades mais sociais, como cinema e passeios, para a rotina”, afirma.

CRIANÇAS CONECTADAS ADOECEM MAIS?

Nos meus tempos de ensino mé-dio, tive um professor que dizia que as crianças que crescessem nos próximos anos adoeceriam com maior freqüência pelo simples fato de não brincarem na rua. Levei um tempo para compreen-der que ele tratava do isolamento e das chamadas “brincadeiras de rua”, que as impediam de desenvolver anticorpos naturais, o que dificultaria, por exem-plo, que elas pegassem um resfriado simplesmente pelo fato de ocorrer uma mudança climática.

Em conversa e pesquisa com algu-mas pessoas da área de saúde, obtive um esclarecimento maior acerca disso. É necessário que o sistema imunológico se desenvolva e se fortaleça para que se adquira, de forma natural, imunidade sobre alguns vírus aos quais está pro-penso, já que as vacinas não são total-mente eficientes para que uma criança cresça saudável. Outra preocupação desses profissionais é com relação à obesidade, frequente em pessoas que trocam a vida em movimento pela para-lisia diante do ecrã.

Foto: Divulgação

No entanto, em outros aspectos, as tecnologias têm muitos pontos posi-tivos a oferecer. Graças à sua dinamici-dade e estimulo à criação, os computa-dores, tablets, vídeo games e celulares, têm sido grandes aliados do aprendiza-do, que acontece de forma lúdica, dinâ-mica e prazerosa, sempre respeitando a individualidade de cada um. Através dos jogos, as crianças estimulam sua

capacidade de reter informação, de foco e atenção, além de conviver com situa-ções, como a perda e a vitória, que são essenciais para uma boa vida social.

Frente a duas formas de infância tão distintas, com vantagens e desvan-tagens, é preciso aceitar que o mundo está crescendo e se desenvolvendo cada vez mais. O problema não é o fato das crianças fazerem uso da internet,

mas sim utilizarem esse recurso muito cedo e de forma excessiva. O que fica, na verdade, é a pergunta: Será que a tendência é que nossos filhos nasçam conectados ou é possível criar uma cul-tura de infância menos “eletrônica”, com brincadeiras independentes de disposi-tivos tecnológicos e digitais?

Foto: Divulgação

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Urbanidadepor Roberta Meyce

Existe uma pedra no meio do ca-minho. Uma pedra que destrói famílias, mata milhares de jovens, e que pode viciar em uma única tragada. O consu-mo de drogas se tornou uma preocupa-ção no Estado. Segundo a Delegacia de Repressão ao Narcotráfico de Alagoas (DRN/AL), entre janeiro e agosto de 2014 foram apreendidas mais de uma tonelada de drogas, mais que o dobro da quantidade recolhida durante todo o ano de 2013, cerca de 445 quilos.

O uso de drogas se tornou comum no dia a dia, e o aparato policial não é efi-ciente para inibir os usuários. Sob o seu efeito, milhares de jovens expõem uma realidade que exige ação governamen-tal contundente e políticas públicas que, de fato, ajudem na recuperação e acolhi-mento dos dependentes químicos.

Mensalmente, a DRN/AL recebe cerca 50 inquéritos policiais, com a par-ticipação de jovens e adolescentes, en-tre 15 e 25 anos, envolvidos com drogas. De acordo com o delegado Gustavo Hen-rique Barros, apesar dos esforços feitos, o atual

efetivo policial tem sido insufi-ciente para combater de forma eficaz o tráfico e consumo de entorpecentes.

“A maior incidência são nos bair-ros periféricos, como Jacintinho, Bene-dito Bentes, Clima Bom, Santa Lúcia e Bom Parto, mas temos notado que o consumo de drogas tem se estendido para as áreas nobres da capital. Chega a ser angustiante o estado que encontra-mos alguns jovens, e para a polícia isso se torna uma bola de neve, pois quando pegamos um traficante, aparecerem ou-tros para por mais droga em circulação”, lamentou Gustavo Henrique.

Em Maceió não é difícil encontrar usuários consumindo drogas aberta-mente, sem repressão. A droga passa de mão em mão, de boca em boca, e a cada trago, adolescentes e jovens se perdem por um caminho que parece sem volta.

Dados do Relatório Mundial sobre Drogas (Unodc), divulgado este ano, re-velam que no mundo existem cerca de 243 milhões de pessoas que usaram drogas ilícitas, o equivalente a 5% da população mundial. O relatório também

revelou que o problema da dependência química atinge cerca de 27 milhões de pessoas, que representa 0,6% da popu-lação.

POLÍGONO DA MACONHA

A maconha é a droga mais consu-mida em todo o país, é ela a mais fácil de ser encontrada e a que possui maior índice de apreensão no estado, segundo o delegado Gustavo Henrique. Balanço realizado pela DRN constatou que em 2013 foram apreendidos um total de 445 quilos de droga, em que desses 379 kg foram de maconha, 57 kg de crack e 9 kg de cocaína. Entre janeiro e agosto de 2014 foram apreendidos 1020 quilos de drogas, em que 985 kg foram apenas de maconha, 17 kg de crack e 18 kg de cocaína.

CompaRando os dados, enquan-to o crack teve uma quantidade menor apreendida em relação ao ano passado, a cocaína apresentou o dobro de apre-ensões, e a maconha quase o triplo.

Tudo isso apenas nos primeiros sete meses deste ano.

Segundo o delegado da DRN, é mais comum a apreensão de maconha em Alagoas pelo fato de o estado estar inserido no “Polígono da Maconha” jun-to com Pernambuco, Sergipe e Bahia, responsáveis por boa parte do plantio e produção da droga no país.

“A pasta base da cocaína e cra-ck chegam por meio das fronteiras do Brasil com a Bolívia, Peru e Colômbia, e, depois, é distribuída por todo o país, inclusive para a Alagoas. Já a maconha é feita aqui mesmo, principalmente no Nordeste, na região do Polígono. Aqui no nosso Estado, as plantações, prova-velmente, estão localizadas no Sertão, pela área de Santana do Ipanema e Del-miro Gouveia, mas é muito difícil fazer a localização exata pois os traficantes têm espalhado as áreas de plantio para a po-lícia não localizar”, destacou o delegado, acrescentando que a droga chega ao es-tado por vias terrestres e aquáticas por ser mais difícil o rastreamento.

Aumento dos crimes e homicídios no estado está ligado ao consumo e tráfico de drogas por pessoas entre 15 e 25 anos

Caminho das pedras: Drogas destroem jovens e deixam Alagoas sem futuro

AUMENTO DA VIOLÊNCIA ESTÁ RELACIONADO AO CONSUMO E TRÁFICO DE DROGAS

Relatório da DRN revela que, entre janeiro e julho de 2014, foram feitos 369 procedimentos policiais - entre inquéri-tos policiais e Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO). Destes, 274 tinham jovens entre 18 e 25 anos envolvidos com o tráfico de drogas na capital, o equivalente a 73% do total.

“Quando os jovens ficam viciados necessitam cada vez mais da droga, e muitas vezes cometem crimes, como roubos e furtos para poder sustentar o seu consumo. E a maioria, depois que entra nessa vida, ou morre em confronto com a polícia ou pelo próprio traficante por conta de dívidas”, explicou o delega-do Gustavo Henrique.

A Realidade nas unidades de in-ternação também comprova o alto con-sumo de drogas por parte de jovens e adolescentes. Dados divulgados pela 1ª Vara da Infância e da Juventude da Capi-tal revelam que 87% dos adolescentes, a maioria entre 15 e 18 anos, que cum-priam medidas socioeducativas em uma das oito unidades ressocializadoras, já haviam consumido drogas.

DO ÁLCOOL AO CRACK

“Não lembro quando comecei, mas a primeira vez que fiquei bêbado foi em um show, eu tinha uns 14 anos. Nessa época não fumava, só bebia mesmo, depois que entrei na faculdade foi que comecei a fumar. Fumo cigarro todo dia e quando posso uso maconha, mas não me considero um viciado não”. Esse é o depoimento de Lucas, que terá o sobre-nome preservado, universitário de 22 anos, e que retrata a realidade de tantos outros jovens alagoanos que tiveram o álcool como primeira droga consumida, seguido do consumo de entorpecentes.

A ingestão abusiva de bebidas al-coólicas entre adolescentes é um grave problema de saúde pública. Pesquisa realizada em 2010 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que 78% dos jovens brasileiros têm bebido regularmente, onde 19% já são considerados dependentes do álcool.

O consumo precoce de drogas líci-tas também é a porta de entrada para o uso de substâncias com efeitos mais de-vastadores, como é o caso do crack. Por viciar mais rápido e ter um valor baixo - uma pedra pode custar entre R$5 e R$

10 -, é um dos produtos mais oferecido pelos traficantes.

O crack surgiu nos Estados Uni-dos na década de 1980, só chegando ao Brasil nos anos 90 como uma droga alternativa à cocaína, pelo seu valor. Ela foi nomeada dessa forma devido aos es-talos produzidos pela pedra ao ser quei-mada. O crack é feito com a pasta base da cocaína, transformada quimicamente em pedras, com a adição de sais e outras substâncias. É a cocaína para ser fuma-da. Em média, a cocaína inalada leva 15 minutos para fazer efeito, já o crack age no organismo imediatamente após ser inalado, dando uma sensação de prazer e motivação.

O efeito é passageiro, mas suas consequências se perpetuam no corpo do usuário. Ansiedade, irritabilidade, sintomas depressivos, arritmias, para-das cardíacas e o desejo incessante de consumir a droga novamente, são al-guns dos efeitos da droga.

“EU SEMPRE QUIS SENTIR A SENSAÇÃO DE SER ESFAQUEADO”

“Minha vida acabou quando eu tinha 11 anos e entrei nessa vida [das drogas]. Comecei com os mais fraqui-nhos, tipo cigarro, cola, bebida, depois, com uns treze anos, comecei na maco-nha. Mas, foi com dezoito anos que eu coloquei pela primeira vez o cachimbo do crack na boca, logo quando a droga estava chegando aqui, que eu acabei de vez com a vida que tinha”.

Esse é o início do depoimento de Diego, que também terá o sobrenome preservado. Ele está internado há cinco meses na Comunidade Missionária Nova Jericó, em Marechal Deodoro. Hoje com 33 anos e três filhos, Diego não sabe ao certo em quantas clínicas se internou na tentativa de se recuperar do vício do cra-ck. “Enquanto eu usava as drogas mais ‘leves’, eu ainda vivia na minha casa, roubava algumas coisas de lá pra poder continuar usando, mas, depois, do crack, preferi sair de casa pra não afetar mais ainda minha família, passei a morar no meio da rua mesmo. Fiquei magro, mi-nha vida se resumia a usar crack, crack e mais crack, era só o que eu pensava. As poucas vezes em que eu me alimentava era com resto de comida do lixo”, relata.

Na medida em que a obsessão pelo crack aumentava, Diego entrava no crime na mesma proporção. “Eu era respeitado dentro e fora do presídio, era conhecido como “Grande”, mas nunca tinha me acontecido nada, nenhum ar-

ranhão e eu sempre quis sentir a sensa-ção de ser esfaqueado. Pra mim era uma aventura, e isso acabou acontecendo. Numa noite, invadi uma casa, mas fui pego no banheiro e levei doze facadas na cabeça. Fique coberto de sangue e ali só pedia pra Deus me salvar. Fiquei internado três dias. Depois que sai do hospital, ainda cheio de pontos na cabe-ça, voltei para as ruas e para as drogas. Tempos depois, levei oito tiros, ainda tenho duas balas alojadas na minha bar-riga, e numa outra situação cheguei a receber dezenove facadas. Ainda estou aqui pra contar história e espero, um dia, dizer que superei de uma vez por todas o crack”, completa.

Da adolescência até hoje, Diego já passou por boa parte das clínicas de re-cuperação de Alagoas, mas, ainda assim, a luta para vencer as drogas tem sido di-fícil. “Já fui expulso de duas clínicas e tive que ir morar na rua, já desisti no meio de alguns tratamentos, e outros cheguei a terminar. Consegui passar onze meses sem consumir nada, mas sempre acaba-va recaindo e voltava pro vício e pro cri-me. Agora estou no quinto mês do meu tratamento aqui na Nova Jericó, e com fé no amor de Deus, ele me dará forças pra continuar limpo. Se eu pudesse voltar o tempo, teria feito diferente; nunca teria consumido drogas”, acredita.

“NEM TODOS ENTENDEM, O MELHOR É FICAR CALADO”

Luciana Martins, 36 anos, jorna-lista. Para ela a droga chegou através de seu irmão mais novo. A família nun-ca suspeitou de nada, mas uma forte crise de abstinência dentro de casa trouxe à tona a problemática.

“A minha visão sobre o uso das drogas mudou porque percebi que é uma doença, e que precisa ser tratada. O preconceito é muito grande, a come-çar pela utilização do termo drogado, que para a família ouvir isso dói, e as pessoas pensam que só é dependente químico aquele que usa drogas ilegais, quando na verdade o álcool e o cigar-ro também são drogas, quando você vê alguém bêbado, por exemplo, você sorri, tira onda, sacaneia, mas ele é um doente como aquele que usa maconha, cocaína, crack... mas como a sociedade aceita esse tipo de droga, ele não é vis-to como um dependente químico.”

Além de enfrentar a sociedade, Luciana e o irmão tiveram que enfren-tar o preconceito de outros parentes da família. “Evitamos falar com as pessoas sobre o ocorrido porque nem todos en-tendem, e para evitar especulações, o melhor é ficar calado”, avalia.

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ACOLHIMENTO

Por meio da Secretaria de Estado da Promoção da Paz (Sepaz), ações do Projeto Anjos da Paz são realizadas para a retirada de dependentes químicos das ruas, onde são oferecidos tratamentos médicos e psicológicos de até seis me-ses. Hoje, Alagoas conta com 33 clínicas mantidas pelo governo especializadas no tratamento e que recebem depen-dentes a partir de 12 anos.

A equipe de anjos é formada por assistentes sociais e psicólogas. Os pa-rentes solicitam uma visita e a equipe analisa o perfil do dependente, o tipo de droga que ele consome e, principal-mente, se ele aceita ser ‘acolhido’ (o grupo não usa o termo ‘internado’, por compreender que pode ter um impacto negativo).

As clínicas são gratuitas, não utiliza nenhum medicamento e os tra-tamentos são desenvolvidos com la-borterapia, trabalho desenvolvido com função terapêutica para auxiliar na de-sintoxicação física, a psicoterapia, que usa as capacidades emocionais, cogni-tivas e comportamentais, e com o uso da espiritualidade do dependente, como forma de complementação.

Ainda segundo a assistente social, são feitos tratamentos diferenciados para os adolescentes e adultos. “Nós também percebemos que tem sido co-mum encontrar crianças com oito, dez e doze anos consumindo drogas, mas a incidência maior ainda é com pesso-as entre dezoito e vinte e cinco anos, a maioria do sexo masculino”, comenta. Ela ainda explica que, após a conclusão do tratamento, uma equipe tenta a rein-

serção e acompanhamento do depen-dente na sociedade e mercado de tra-balho.

As clínicas e comunidades que realizam o acolhimento dos dependen-tes também possuem dias para que a família possa visitar os parentes. Caso essa visita não seja feita, a equipe pro-cura saber o motivo da falta, pois seria imprescindível o apoio da família no mo-mento de recuperação.

ara a doutoranda em Psicologia Social, Alexandra Wander, a família tem um dos principais papéis durante e após o tratamento, e a melhor forma de ajudar alguém a sair do vício é avisá-la sobre os danos causados pelo uso e incentivá-la a buscar ajuda profissional. “É através do amor, dedicação e o vínculo familiar que o dependente se sentirá mais preparado para parar de consumir a substância. Ele

não conseguirá sair sem um devi-do apoio. Porém, o suporte psicológico também será necessário nessa fase do tratamento”, concluiu a psicóloga.

Alagoas ainda conta com clínicas particulares, grupos de ajuda e comuni-dades independentes para tratamento que se mantêm por meio de doações. Todos têm o objetivo de ajudar jovens e adultos a vencerem a batalha contra as drogas.

Jovem na cracolandia em São paulo (Foto:Anizelli/Folhapress)

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Cenário da música independente alagoanaFestival Maionese movimenta a divulgação de novas bandas alternativas

Fonte: facebook/festival.maionese

Prestes a completar a sua 10º edi-ção neste ano, o Festival Maione-se já virou um evento imperdível para o público que busca música

alternativa de qualidade no estado de Alagoas, uma área musical que foi pouco explorada na região nas últimas déca-das. O festival é promovido pelo Coletivo Popfuzz desde 2004, divulgando ban-das nacionais e locais independentes, trazendo novidades ao cenário musical para alagoas. O evento cresceu muito nos últimos anos, quando passou a ga-nhar maior publicidade principalmente pela divulgação nas redes sociais. Outro fator que influenciou seu sucesso foi o crescimento do interesse local entre os jovens que consomem esse tipo de mú-sica.

Além da música, o Maionese pro-paga o contato com diversas formas de expressões culturais como as exposi-ções de produtos independentes em um espaço dedicado à feira do festival com vendas de vinis, CDs, camisetas, livros e objetos de decoração alternativa. É um movimento que já virou atração aguar-dada pelo público alternativo de Maceió todo o ano. O estudante de Ciência da Computação, Renato Sampaio conheceu o festival há três anos e espera ver mais: “Acho o Maionese algo diferente no nos-so estado e é mais uma opção para as pessoas que curtem músicas alternati-vas e rock, tenho muita vontade de con-tinuar indo para as próximas edições”

QUEM FAZ O FESTIVAL

O assessor de comunicação do Co-letivo Popfuzz, Emerson de Oliveira ex-plica que o grupo nasceu com a proposta de disseminar a música independente no território alagoano. Surgiu em 2005 como um selo e é formado por integran-tes de Maceió e Arapiraca. A ideia do co-letivo também é de explorar todo tipo de cultura no estado, divulgando vários tipos de produção artística, desde músi-ca, exibição de documentários e curtas-metragens até debates de assuntos da atualidade para a comunidade alagoana. Desta forma o coletivo Popfuzz organi-za vários eventos, entre eles o Festival Maionese que ocorre todo o ano na ca-pital alagoana desde 2004.

MOTIVAÇÃO PARA AS BANDAS LOCAIS

Várias bandas de Alagoas passa-ram a ser mais reconhecidas pelo pú-blico principalmente pela sua divulga-ção no Festival Maionese, servindo de incentivo para continuarem na estrada e mostrarem o seu trabalho na região. Bandas como Dof Láfá, Xique Barati-nho e Eek são alguns desses exemplos. O grupo Dof Láfá chegou a produzir um videoclipe no momento em que faziam seu show na edição do Maionese de 2013, o que foi inovador para o festival e para a própria banda.

EDIÇÃO 2013 E NOVIDA-DES

A edição do Festival Maionese do ano passado trouxe uma novidade, o Circuito de Moda localizada na entrada do evento, com o objetivo de expor e comercializar o trabalho independente de criadores de arte no estado. Foi apre-sentado La Gaveta, marca de acessórios criada por Marcela Tenório (que parti-cipou do Circuito de Moda de Alagoas e a Semana de Moda Trend House de 2013) e Larrareta, na direção de Antônio Castro formado por jovens interessa-dos em todas as formas de expressões artísticas. Outra grande novidade foi a parceria com a Prefeitura de Maceió que patrocinou o Festival Maionese de 2013 colaborando com a identidade visual da organização.

Foram dois dias dedicados à mú-sica. No primeiro dia do evento oito grupos regionais e nacionais se apre-sentaram, entre eles Single Parents de São Paulo e Medialunas do Rio Grande do Sul. A banda alagoana Xique Barati-nho animou o público com o som inspi-rado em ritmos da terra mesclados com o rock. No segundo dia do Maionese as apresentações foram marcadas por dez bandas, The Doses (AL), Ataque Cardía-co (AL), Zefirina Bomba (PB), Os Nelsons (BA), Necronomicon (AL), Zander (RJ) , Mukeka di Rato (ES), Abismo (AL) e o grupo Foxy Trio (PE).

O assessor de comunicação do co-

letivo, Emerson Oliveira explica o que o festival simboliza através das alterações em sua imagem visual realizadas no ano passado, e é otimista para o futuro: “A marca resgatou a imagem contrária de Maceió que todo mundo vê e que conhe-ce, o sol, o calor, as praias. Já que o Maio-nese é alternativo então a identidade visual tinha que ser também diferente daquilo que somos acostumados a ver, nesse caso o frio, a neve foram escolhi-dos para a representação do festival. A parceria com a Prefeitura também gerou publicidade na TV, cartazes e outdoors. O que é um grande passo para o desen-volvimento do Festival para as próximas edições” afirma Emerson.

Culturapor Samara Elsie

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