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S P EDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA ESPIRAL | 071 070 | ESPIRAL Relógios cosmopolitas Do caos à harmonia horária por Miguel Seabra A revolução dos transportes e das comunicações transformou o planeta numa mera aldeia global. Cada vez mais se torna necessário saber o tempo em diversos pontos do mundo, e a indústria relojoeira não se faz rogada: os modelos com múltiplos fusos horários são cada vez mais populares e absolutamente indispensáveis para o jet set da actualidade. raças à revolução das comunicações, tornou-se fácil atra- vessar instantaneamente o mundo com um mero tele- fonema ou uma simples conexão à Internet. A revo- lução dos transportes tem sido mais lenta e ainda não permite transferências humanas através de máquinas teletransportadoras como as das séries de ficção cientí- fica, mas já é possível cruzar o mundo no espaço de um dia. O planeta tornou-se numa pequena aldeia global delimi- tada por 24 segmentos de tempo... quando ainda há não muito tempo a maior parte das pessoas vivia e morria num escasso perímetro, sem qualquer noção concreta da grandeza dos países ou continentes. Hoje em dia, biliões de indivíduos atravessam fisicamente os fusos horários como modo de vida – sejam eles globe trotters por razões profissionais ou jet-setters de moti- vação lúdica. E dar a volta ao mundo já não é um feito de proporções épicas, como o era na altura em que Júlio Verne escreveu A Volta ao Mundo em 80 Dias. Nesse famoso romance de 1873, o herói Phileas Fogg e o seu fiel criado Passepartout pen- saram ter perdido a aposta quando regressaram a Londres com cinco minutos de atra- so... até se darem conta de que, como iniciaram a viagem para leste do meridiano de Greenwich, tinham chegado um dia antes! Todos aqueles que estão constantemente em movimento já se aperceberam do que- bra-cabeças que é efectuar cálculos imediatos para saber as diferentes horas em dis- tintos locais do globo – para mais havendo ainda a particularidade de calcular se a ‘outra’ hora é diurna ou nocturna, pormenor importante para não interromper o sono de outrem ou saber exactamente a hora de funcionamento de certos mercados finan- ceiros. E mudar para um diferente fuso horário num relógio simples requer bom toque e boa memória; já os relógios com múltiplos fusos horários resolvem o problema com o recurso a métodos mais ou menos aperfeiçoados e de fácil leitura. CAOS TEMPORAL Na fase terminal da sua vida, Júlio Verne, assistiu à divisão ofi- cial do mundo em 24 fusos horários para se pôr cobro a um autêntico caos do tempo. Antes dessa partição e consequente homologação entre 1884 e 1911, existiam centenas de horas locais baseadas na longitude de cada lugar: só nos Estados Unidos, havia 74 diferentes fusos horários (contra os cinco actuais); na Europa vigoravam quase três dezenas (actualmente são três)! A razão desse caos residia no facto de o tempo, tal como o Sol, avançar continuamente de este para oeste, repetindo-se o processo a cada 24 horas. Enquanto as pessoas G Jules Audemars Metropolis

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SPEDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA

ESPIRAL | 071070 | ESPIRAL

Relógios cosmopolitas Do caos à harmonia horária

por Miguel Seabra

A revolução dos transportes e das comunicações transformou oplaneta numa mera aldeia global. Cada vez mais se tornanecessário saber o tempo em diversos pontos do mundo, e aindústria relojoeira não se faz rogada: os modelos com múltiplosfusos horários são cada vez mais populares e absolutamenteindispensáveis para o jet set da actualidade.

raças à revolução das comunicações, tornou-se fácil atra-

vessar instantaneamente o mundo com um mero tele-

fonema ou uma simples conexão à Internet. A revo-

lução dos transportes tem sido mais lenta e ainda não

permite transferências humanas através de máquinas

teletransportadoras como as das séries de ficção cientí-

fica, mas já é possível cruzar o mundo no espaço de um

dia. O planeta tornou-se numa pequena aldeia global delimi-

tada por 24 segmentos de tempo... quando ainda há não muito tempo a maior parte

das pessoas vivia e morria num escasso perímetro, sem qualquer noção concreta da

grandeza dos países ou continentes.

Hoje em dia, biliões de indivíduos atravessam fisicamente os fusos horários como

modo de vida – sejam eles globe trotters por razões profissionais ou jet-setters de moti-

vação lúdica. E dar a volta ao mundo já não é um feito de proporções épicas, como o

era na altura em que Júlio Verne escreveu A Volta ao Mundo em 80 Dias. Nesse

famoso romance de 1873, o herói Phileas Fogg e o seu fiel criado Passepartout pen-

saram ter perdido a aposta quando regressaram a Londres com cinco minutos de atra-

so... até se darem conta de que, como iniciaram a viagem para leste do meridiano de

Greenwich, tinham chegado um dia antes!

Todos aqueles que estão constantemente em movimento já se aperceberam do que-

bra-cabeças que é efectuar cálculos imediatos para saber as diferentes horas em dis-

tintos locais do globo – para mais havendo ainda a particularidade de calcular se a

‘outra’ hora é diurna ou nocturna, pormenor importante para não interromper o sono

de outrem ou saber exactamente a hora de funcionamento de certos mercados finan-

ceiros. E mudar para um diferente fuso horário num relógio

simples requer bom toque e boa memória; já os relógios com

múltiplos fusos horários resolvem o problema com o recurso

a métodos mais ou menos aperfeiçoados e de fácil leitura.

CAOS TEMPORAL

Na fase terminal da sua vida, Júlio Verne, assistiu à divisão ofi-

cial do mundo em 24 fusos horários para se pôr cobro a um

autêntico caos do tempo. Antes dessa partição e consequente

homologação entre 1884 e 1911, existiam centenas de horas

locais baseadas na longitude de cada lugar: só nos Estados

Unidos, havia 74 diferentes fusos horários (contra os cinco

actuais); na Europa vigoravam quase três dezenas (actualmente

são três)! A razão desse caos residia no facto de o tempo, tal

como o Sol, avançar continuamente de este para oeste,

repetindo-se o processo a cada 24 horas. Enquanto as pessoas

G

Jules Audemars Metropolis

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se deslocavam de cavalo e até mesmo de barco à vela, a lentidão não provo-

cava grandes problemas... e em meados do século XIX até cidades vizinhas

tinham diferentes fusos horários, mais ou menos coordenados a partir do

meio-dia solar: era o ‘tempo civil’.

A necessidade de mudança já havia começado com a invenção do telégrafo,

em 1809, e tornou-se premente com o estabelecimento do motor a vapor

como a principal força motriz dos transportes a partir de 1830. Sob o signo

da industrialização, os navios e os comboios tornavam-se mais rápidos, a

velocidade transformava-se num novo conceito e a pontualidade impunha-

-se como nova referência.

Com o comboio, uma viagem de um dia passava a durar uma tarde; um

percurso de cinco horas ficava reduzido a meia hora. A adesão foi imediata

e o caminho-de-ferro transformou-se na principal via de transporte, mas

a proliferação das linhas implicou a criação de horários e tornou necessária

uma solução para a problemática do tempo – sobretudo na

América, onde as companhias ferroviárias cedo começaram a

cobrir enormes distâncias.

Numa tentativa de coordenar os horários dos comboios, foram

fixados ‘horários unificados’ e logo nos Estados Unidos surgi-

ram mais de sete dezenas desses ‘horários unificados’... só que

a situação ficou ainda mais complicada. Nas estações situadas

em entroncamentos eram necessários pelo menos três relógios:

um para marcar a hora local, um para assinalar a hora utilizada

a bordo nos comboios em direcção a oeste e outro ainda para os

comboios com destino a este. Havia cidades vizinhas com tem-

pos locais separados por escassos minutos. As emergentes redes

ferroviárias nacionais e internacionais necessitavam de horários

precisos para funcionar com eficácia e evitar colisões.

A NORMALIZAÇÃO

Cerca de 1880, a Companhia Americana de Caminhos-de-Ferro

estava perante o difícil desafio de resolver o problema e esta-

belecer ordem na confusão horária. Foi então que o engenheiro

canadiano de caminhos-de-ferro Stanford Fleming (da Canadian

Pacific Railway) encontrou uma maneira de simplificar o

sistema, criando um tempo universal baseado no tempo solar e

dividindo o globo em 24 fusos horários – a ideia de Fleming

consistia em acrescentar uma hora por cada 15 graus de longi-

tude, começando a partir do zero no meridiano de Greenwich

(a designação usual GMT significa Greenwich Mean Time).

Em cada um desses fusos, apenas uma hora prevaleceria, e

atravessar uma zona de tempo para outra implicava que os

relógios fossem adiantados ou atrasados uma hora. Claro que surgiu então

outro problema: onde deveriam começar e acabar as diferentes zonas

horárias – e qual seria a zona horária de referência.

O Congresso de Roma, em 1883, foi dedicado ao estabelecimento de

consensos. E na Conferência Internacional dos Meridianos, celebrada em

Washington no ano seguinte, 25 países adoptaram oficialmente como

meridiano de origem (o ‘meridiano inicial’) aquele que passa pelo

Observatório Real de Greenwich, no sudeste de Londres. Desde então

permaneceu a base do sistema de medição do tempo no mundo ocidental e

na maior parte do globo, mas a premissa não foi imediatamente adoptada.

Durante muito tempo, houve locais no mundo onde razões políticas e

geográficas implicavam fusos horários próprios do sítio.

01. Capa do livro A Volta aoMundo em 80 Dias, de JúlioVerne. 02. Retrato da perso-nagem central do livro, o gentle-man Phileas Fogg, que conseguiuganhar a aposta de 20 mil librasao dar a a volta ao mundo em menos de 80 dias. 03. En-trada do Observatório Real deGreenwich, situado no sudeste deLondres. 04. Vista do meridiano0, GMT (Greenwich Mean Time).05. Divisão do globo em 24 fusoshorários pelo engenheiro canadi-ano Standford Fleming. 06.Franck Muller Chrono Banker.

Os americanos e os canadianos foram os primeiros a adoptar o Tempo

Universal Coordenado (TUC), já que o problema se tinha tornado numa

questão premente. Outros foram mais relutantes: a chauvinista França

insistia no seu tempo de Paris, em 1921, e só dificilmente adoptou o tempo

universal duas décadas depois (sem referência ao observatório de Greenwich...

era inglês!). Mas ainda há estranhos sistemas em vigor com meias horas e

quartos de hora: quando marca o meio-dia em Portugal e em Greenwich,

são 15 h 30 m no Irão, 17 h 30 m na Índia e 17 h 45 m no Nepal!

O DESAFIO RELOJOEIRO

Os progressos da aviação tornaram ainda mais desejável a adopção do

Tempo Universal

C o o r d e n a d o .

Louis Blériot con-

seguiu atravessar

o Canal da Man-

cha em 1907, mas

a primeira grande

viagem transcon-

tinental sem esca-

la foi protagoniza-

da por Charles

Lindbergh – que

atravessou o Atlân-

tico em 1927, li-

gando Nova Ior-

que a Paris. A era

do jacto tornava o

mundo mais pe-

queno e, enquan-

to o homem chegava à Lua, o Concorde transformava-se no para-

digma dos transportes modernos...

A utilização de relógios mecânicos como solução para o cálculo da

longitude no século XVIII e o posterior processo de partição oficial do

mundo em fusos horários no século XIX constituiram um desafio

para os relojoeiros que se lançaram na concepção de mecanismos

cada vez mais precisos e capazes de indicar duas ou mais zonas de

tempo em simultâneo. Os primeiros relógios marítimos com dois

fusos eram chamados «Relógios de Capitão» e tinham dois

mostradores – um para o tempo local e outro para o do porto de par-

tida. Em 1880, Stanford Fleming pediu a um relojoeiro de Londres

que lhe construísse um relógio de bolso com os ‘seus’ 24 fusos; terá

sido o original worldtimer...

Nos anos que se seguiram à adopção do Tempo Universal

Coordenado, assistiu-se à proliferação de exemplares que incorpo-

ravam dois calibres num mesmo relógio, embora a exiguidade de

espaço nos modelos de pulso dificultasse então a viabilidade do pro-

duto final e os mecanismos tivessem de ser constantemente acerta-

dos, devido à dis-

paridade de fun-

cionamento entre

ambos. A melhor

solução para

p o u p a r

espaço e ganhar precisão foi desen-

volver uma complicação adicional para

o calibre de base.

Os mais simples mecanismos de múltip-

los fusos horários indicavam a hora de duas

diferentes localidades com o recurso a dois

ponteiros – para a hora de origem (ponto de

partida) e a hora do destino (ponto de chegada).

Relógios cosmopolitas

OS DIFERENTES SISTEMAS

Os empresários à escala internacional necessitam de saber que horas são no país dos seus parceiros de negócios; aqueles que

estão em férias querem saber que horas são no seu país. A resposta mais rápida é proporcionada por relógios de múltiplos

fusos horários, desenhados para um manuseamento fácil e lógico. Eis um resumo dos diversos sistemas:

— uma luneta rotativa com escala simples das horas;

— uma luneta rotativa com inscrição das cidades dos 24 fusos;

— um ponteiro secundário de 24 horas, sincronizado com o ponteiro das 12 horas;

— segundo ponteiro das horas num submostrador;

— um ou mais pares de ponteiros (horas e minutos) em submostradores;

— segundo par de ponteiros em submostrador, associado a uma escala com 24 fusos;

— dois mecanismos diferentes numa mesma caixa;

— um mecanismo numa caixa reversível com dois mostradores opostos e dois correspondentes fusos horários;

— um mecanismo com um mostrador híbrido de ponteiros analógicos e um indicador digital.

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Em 1935, o relojoeiro genebrino Louis Cottier inventa para a Patek

Philippe um sistema mais sofisticado: um engenhoso dispositivo de

apresentação do tempo universal que permitia aos relógios indicar

simultaneamente a hora de diversas cidades do mundo através de um

disco comandado por uma segunda coroa. No início dos anos 90,

duas históricas manufacturas estabeleceram novos marcos: a

Audemars Piguet introduziu o seu Dual Time com um submostrador

alimentado pelo mesmo calibre; a Jaeger-LeCoultre lançou o Reverso

Duoface com dois mostradores opostos (os respectivos ponteiros

avançam em sentido inverso no Calibre 854) e um único mecanismo,

depois apresentou o Master Geographic com as horas do mundo (cal-

ibre 929/3) e posteriormente adaptou esse conceito ao Reverso

Géographique (calibre 858).

Hoje em dia, são várias as opções entre os modelos mecânicos das

muitas marcas e a preços para todas as bolsas. Mas, face à oferta exis-

tente, já se sabe que a sofisticação técnica pode estabelecer uma

grande diferença e faz-se pagar cara. E, no embaraço da escolha, há

que gerir a dicotomia entre a melhor legibilidade possível e a

manutenção de uma estética de acordo com os gostos de cada um.

COMPLICAÇÕES SIMPLES

O processo mais elementar de calcular um segundo fuso horário

assenta na utilização de uma singela luneta rotativa num relógio nor-

mal – mas essa luneta tem de conter uma escala com 12 horas.

Depois, basta fazer as contas...

Já o sistema relojoeiro de complicação mais simples é apelidado de

GMT (sistema GMT – Greenwich Mean Time) e consiste na possibi-

lidade de visualização imediata de dois fusos horários através de dois

ponteiros das horas a partir do centro – o ponteiro principal e um

suplementar, diferenciado através de uma cor ou um formato diferente,

geralmente com leitura sobre uma escala de 24 horas situada na lune-

ta ou no mostrador. É uma tipologia que não requer grande apuro téc-

nico e está presente nas colecções da maior parte das casas relojoeiras.

O procedimento é simples: o ponteiro principal das horas pode ser

alterado para o tempo local no destino, mantendo-se o ponteiro

São várias as opções entre os modelos mecânicos das muitas

marcas e a preços para todas as bolsas. Mas, face à oferta

existente, já se sabe que a sofisticação técnica pode esta-

belecer uma grande diferença e faz-se pagar cara.

Relógios cosmopolitas

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secundário com o tempo de origem na escala de 24 horas.

A Rolex celebrizou esse sistema com o Oyster GMT-Master,

inconfundível devido à escala bicolor de 24 horas na luneta (azul-

-escuro para indicar a noite, vermelho para indicar a parte diurna).

O histórico modelo foi concebido em parceria com a Pan Am no iní-

cio da era do jacto, sendo inicialmente usado apenas por pilotos civis

e militares; pouco depois, tornava-se um relógio de culto para as mas-

sas. O Oyster Explorer II seguir-lhe-ia os passos.

DUAL TIME, TRIPLE TIME

Outro sistema grandemente popularizado apresenta um sub-

mostrador com um segundo fuso horário (sistema dual time) – por

vezes com um único ponteiro das horas, outras vezes com ponteiros

das horas e dos minutos. Na maior parte dos casos, só se consegue

ajustar o ponteiro das horas porque o dos minutos está sincronizado

com o ponteiro principal dos minutos... mas há casos em que ambos

os ponteiros são completamente independentes, como se de um

segundo relógio se tratasse e que tanto jeito dão nos tais fusos

horários bizarros como os da Índia ou do Nepal.

O Aerodyn Duo, da Dubey & Schaldenbrand, permite que tanto as

horas como os minutos do submostrador sejam independentemente

controlados. Bem mais complicados e onerosos são dois relógios

verdadeiramente excepcionais, dotados de dois fusos horários: o

Chronomètre à Résonance de François-Paul Journe, em que o fenó-

meno da ressonância serve para fazer com que os dois mecanismos

(com dois fusos horários no mostrador) estejam em absoluta sinto-

nia; e o futurista Turbilhão com duplo fuso de Richard Mille.

No que diz respeito a Franck Muller, tem na sua colecção o Big Ben

GMT, um útil modelo com segundo fuso horário e despertador, e o

famoso Master Banker desvela três fusos horários diferentes – um

relógio que teve como ponto de partida o pedido de um abastado

homem de finanças, que necessitava de um modelo capaz de lhe

fornecer a indicação simultânea do tempo nas bolsas de Nova Iorque,

Londres e Tóquio. Também o Arnold & Son GMT II permite uma

tripla disposição do tempo.

01. Daniel Roth Metropolitan. 02.Esquema Daniel Roth Metropoli-tan. 03. Rolex GMT Master II. 04.Arnold & Son GMT Timekeeper.05. TAG Heuer Twin-Time. 06.Jaeger-LeCoultre Master Com-pressor Geographic. 07. Meca-nismo de microesferas do MasterGeographic que garante a perfeitasincronização do disco giratório eda afixação da hora local. 08.Mecanismo com a patente MasterGeographic.

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UM TRUQUE CRONOGRÁFICO

Um pequeno segredo que muita gente desconhece é que os

cronógrafos de três totalizadores (segundos, minutos e

horas) podem também servir como um dual time, já que se

pode usar o totalizador das horas como um segundo relógio.

Se se fizer arrancar o cronógrafo exactamente 12 horas

antes da partida, ele vai manter a hora de origem (de casa)

durante a viagem e o ponteiro normal das horas pode ser

ajustado ao tempo local do destino. Também se pode pro-

gramar o cronógrafo para mostrar o tempo noutra zona,

fazendo-o arrancar ao meio-dia ou à meia-noite desse

segundo fuso horário. Não se pode é utilizar a função crono-

gráfica... mas quem queira mesmo ter um relógio com cronó-

grafo e um segundo fuso horário, pode optar por um dos

modelos Chrono GMT da Fortis.

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TEMPO DO MUNDO

Há quem preconize que o verdadeiro relógio com as horas do mundo

deve indicar simultaneamente a hora de todos os fusos horários do plane-

ta. O sistema foi inventado por Louis Cottier e baseia-se em discos

giratórios com a inscrição de 24 cidades referentes aos 24 fusos horários.

Um dos mais emblemáticos relógios dotados do sistema de tempo

universal é o Jaeger-LeCoultre Master Geographic automático,

que inclui precisamente um disco com 24 cidades comandado a

partir de uma coroa própria e que roda em simultâneo com os

ponteiros do submostrador (segundo fuso horário) – dispondo ainda

de uma janela dia / noite, data analógica e indicador de reserva

de marcha. Este ano, o Master Compressor Geographic surge como

versão complementar e mais radical. Num formato diferente e em

edição limitada, o Reverso Géographique de 1998 tem um sistema

semelhante num calibre rectangular de corda manual com mostradores

opostos. Foi necessário fazer as adaptações para os discos dos 24 fusos

horários num espaço com menos de um milímetro de altura e o relógio

dispõe ainda de indicadores dia / noite, GMT e fases da Lua!

A Audemars Piguet também editou recentemente uma especialidade

com as horas do mundo: o Jules Audemars Metropolis Perpetual

Calendar, o primeiro relógio a combinar um calendário perpétuo

com a mostragem do tempo local em cada um dos 24 fusos. Um

regalo para a vista com uma plêiade de indicações no mostrador.

Já o Daniel Roth Vantage Metropolitan dispõe de um mostrador mais

despojado com leitura fácil através de janelas e inclui – tal como

vários outros modelos – correctores para a adaptação aos tempos de

Inverno ou de Verão.

A OPÇÃO ANADIGITAL

Nos relógios electrónicos, o problema dos múltiplos fusos horários é

simplesmente resolvido por circuitos e programas integrados que

geralmente incluem também funções suplementares – como o

alarme, calendário completo, cronógrafo, contagem decrescente...

Claro que os puristas não abdicam da indicação analógica através dos

ponteiros, mas para esses existem os híbridos modelos anadigitais. A

TAG Heuer foi pioneira nessa versátil opção, nos anos 70, e actual-

mente apresenta na sua colecção um digno herdeiro desses históri-

cos modelos: o Kirium F1, com a base do mostrador totalmente digi-

tal que pode ou não ficar ‘apagada’ sob os ponteiros analógicos. E o

sensacional Monaco Sixty Nine de caixa quadrada reversível está

prestes a surgir no mercado, com um lado analógico assente num

calibre mecânico e um verso digital alimentado por um circuito elec-

trónico. A mesma solução híbrida pode ser encontrada no novo

Chopard Dual Tec, com um mostrador dividido e dois mecanismos

(automático e quartzo).

Mas seja com mecanismos de quartzo ou com os mais tradicionais

mecanismos automáticos ou manuais, o certo é que a escolha é cada

vez maior num planeta cada vez mais pequeno. Na crescente comu-

nidade internacional que nos força a ser autênticos cidadãos do

mundo, os relógios plurifusos evocam a harmonia do tempo univer-

sal e há-os para todos os gostos – só não foi ainda possível conceber

versões com as diferentes horas do sistema solar e modelos que per-

mitam regressar ao passado ou saltar para o futuro... embora isso já

tenha acontecido no cinema.

Relógios cosmopolitas

TAG Heuer Sixty Nine