revista assedisa - edição 3

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DECRETO Duas décadas depois da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Decreto 7.508 lança luz sobre a organização e a gestão da saúde pública. Com instrumentos simplificados, mais claros e atualizados, a norma traz mecanismos que prometem mais eficácia à gestão, como o Mapa de Saúde e o COAP. PMAQ-AB APOSTA NA QUALIDADE DO SUS ESPECIAL CAXIAS DO SUL OS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS ENTREVISTA ALEXANDRE PADILHA Ano 3 – Edição 3 – Maio de 2012 – www.cosemsrs.org.br ASSEDISA, PIONEIRA ENTRE OS CONSELHOS DO BRASIL, AGORA SE CHAMA COSEMS

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Revista Assedisa - Edição 3

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Page 1: Revista Assedisa - Edição 3

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DECRETO

Duas décadas depois da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Decreto 7.508 lança luz sobre a organização e a gestão da saúde

pública. Com instrumentos simplificados, mais claros e atualizados, a norma traz mecanismos que prometem mais eficácia à gestão,

como o Mapa de Saúde e o COAP.

PMAQ-ABAPOSTA NA QUALIDADE DO SUS

ESPECIAL CAXIAS DO SULOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS

ENTREVISTAALEXANDRE PADILHA

Ano 3 – Edição 3 – Maio de 2012 – www.cosemsrs.org.br

ASSEDISA, PIONEIRA ENTRE OS CONSELHOS DO BRASIL, AGORA SE CHAMA COSEMS

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Page 4: Revista Assedisa - Edição 3

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AO LEITOR

aros leitores:

Junto à apresentação da terceira edição da Re-

vista Assedisa-Cosems/RS, durante a realização do

Congresso das Secretarias Municipais de Saúde (Ca-

xias do Sul, de 28 a 30/5/12) ocorre importante mudança estatu-

C

Um novo momento para a Assedisa

tária que permitirá à entidade

adequar-se à nomenclatura

dos demais Conselhos de Se-

cretarias Municipais de Saúde

do Brasil, os Cosems. O novo

nome não apaga a história de

26 anos da Assedisa. Muito

pelo contrário, é exatamen-

te pela força da entidade que

o Conselho das Secretarias

Municipais de Saúde do Rio

Grande do Sul (COSEMS/RS)

já nasce forte, repleta de boas

experiências na trajetória de

construção do SUS no Estado

e no País.

Nesta edição, procuramos

trazer temas de grande inte-

resse dos Secretários Munici-

pais de Saúde. Um deles é o COAP, um regramento operacional e

legal que deverá garantir a efetivação das Redes de Saúde e, em

conseqüência, um melhor atendimento de saúde ao cidadão.

Na mesma linha vem o PMAQ-AB, com a promessa de quali-

ficar o modo de fazer saúde no SUS. O programa, que conta com

adesão de 67% das equipes de Estratégia de Saúde da Família

(ESF) do Estado, é a grande aposta do Ministério da Saúde para

melhorar a Atenção Básica e mantê-la como principal porta de

entrada ao SUS, com a participação e a avaliação permanentes

da comunidade. Também, temos a satisfação de apresentar os dez

trabalhos selecionados em nível estadual, para a “Mostra Brasil

Aqui tem SUS” que acontecerá durante o 28º Congresso do CONA-

SEMS (Maceió, de 11 a 14 de junho). As experiências inscritas na

fase estadual servem como exemplo de boa gestão e criatividade e

apontam para uma saúde pública cada vez mais presente e eficien-

te. Esta é, realmente, uma edição com muitas boas mudanças. Que

muitas outras venham por aí.

Boa leitura a todos!

Charles Furtado Vilela

Editor

EXPEDIENTEConselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul – COSEMS/RS – é uma entidade civil de direito privado sem fins lucrativos com autonomia administrativa, financeira e patrimonial. O COSEMS/RS, em parceria com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS), tem por finalidade lutar pela hegemonia dos municípios. Congrega os secretários e dirigentes municipais de saúde, funcionando como órgão permanente de intercâmbio de experiência. Busca participar das políticas da Saúde em nível estadual e nacional e atua para que a Saúde nos municípios do Estado do Rio Grande do Sul seja a melhor possível.

CONSELHO EDITORIALAline Gewehr Trindade (Secretária de Saúde de Candelária), Maria Shirley Pinto de Faria (Secretária de Saúde de Capivari do Sul), Maria do Rosário Antoniazzi (Secretária de Saúde de Caxias do Sul), Fábia Richter (Assessora Técnica da Assedisa-Cosems), Carolina Santanna (Secretária Adjunda da Saúde de Porto Alegre), Leonildo José Mariani (Coordenador Técnico da Sáude da Famurs), Vanderli de Barros (Diretora de Planejamento e Informação em Saúde da Fumssar/Santa Rosa), Arilson da Silva Cardoso (Secretário de Saúde de São Lourenço do Sul), Luita Maria Nunes (Secretaria de Saúde de São Lourenço do Sul - Primeira Infância Melhor – São Lourenço do Sul) e Lúcia Gimenes Passero (Secretária de Saúde de Sapucaia do Sul).

Ideias para transformar.

REVISTA COSEMS/RSAno 3 – Número 3 – Maio de 2012

Produzida por Comunicar [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA ELEITA EM 2011 (2011-2013)

Arilson da Silva CardosoPRESIDENTE

Maria do Rosário Antoniazzi PRIMEIRA VICE-PRESIDENTE

Sebastião Raife Cardoso SEGUNDO VICE-PRESIDENTE

Maria do Horto Loureiro Salbego PRIMEIRA SECRETÁRIA

Carlos Henrique Casartelli SEGUNDO SECRETÁRIO

Renato Specht PRIMEIRO TESOUREIRO

Jorge CremoneseSEGUNDO TESOUREIRO

Hilton Ender LopesPRIMEIRO CONSELHEIRO FISCAL

Fábio KrindgesSEGUNDO CONSELHEIRO FISCAL

Gilda Terezinha Rathke TERCEIRO CONSELHEIRO FISCAL

Valmir Silveira PRIMEIRO CONSELHEIRO FISCAL SUPLENTE

Rodrigo Lima SEGUNDO CONSELHEIRO FISCAL SUPLENTE Natália SteinbrennerTERCEIRO CONSELHEIRO FISCAL SUPLENTE

www.comunicarbrasil.com.br [email protected]: (51) 3023-6370Rua Washington Luiz, 500, cj. 703 - Centro Porto Alegre/RS - CEP 90010-460

www.cosemsrs.org.br

SECRETARIAS ESPECIAIS

URGÊNCIA E EMERGÊNCIA Titular: Angelita Herrmann Suplente: Marcelo Calai Ferraz

ATENÇÃO BÁSICA Titular: Diego Espíndola Suplente: Everaldo Rolim

VIGILÂNCIA EM SAÚDE Titular: Zelionara BrancoSuplente: Sérgio Antônio Alves dos Santos

REGULAÇÃO Titular: Karina KucharskSuplente: Pablo da Cunha Martins

EDUCAÇÃO PERMANENTE E GESTÃO DO TRABALHO Titular: Luiza Valéria Soares RodriguesSuplente: Kellen do Carmo Santos

GESTÃO PARTICIPATIVA E GESTÃO SOCIAL Titular: Gerônimo PaludoSuplente: Jorge Cremonese

REGIONALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO Titular: Maristela Cássia Peixoto da SilvaSuplente: Aristides Feistler

Editor e jornalista responsável: Charles Furtado Vilela (MTB 9780).

Assistente de edição: Mariana Aguirre (MTB 14.773)Colaboraram ainda Adriana Machado (MTB 7616) e Ana Claudia Dias (MTB 8087)

Projeto gráfico e diagramação: Giovani Urio

Atendimento: Daniel Calistro Lessa

Revisão ortográfica: Rosi Weege

Page 5: Revista Assedisa - Edição 3

5

A evolução do SUS na promoção da saúde e na proteção integral ao cidadão

MENSAGEM DO PRESIDENTE

stamos vivendo um momen-

to extremamente importante

para a história da implanta-

ção do Sistema Único de Saú-

de (SUS). Desde sua criação, na Constitui-

ção Federal de 1988 e na formulação das

Leis 8.080 e 8.142, vem se dando forma

jurídica e organizacional a esse sistema

que a partir de um ideário igualitário e de

Justiça Social, pensado por gestores, tra-

balhadores de saúde e usuários buscando

garantir o acesso Universal e Integral com

ações e serviços de qualidade e preocu-

pando-se não apenas com a recuperação

da saúde, mas, antes disso, com sua pro-

moção e proteção.

Normas Operacionais foram editadas

e, a partir destas, publicadas milhares de

portarias. As NOB’s – em que pese alguns

retrocessos iniciais – descreveram e apro-

fundaram o processo de descentralização

da saúde definindo modalidades de munici-

palização, repasses financeiros e criando as

instâncias de pactuação intergestoras. As

NOA’s continuaram avançando na organi-

zação retomando o papel dos Estados e da

necessidade do pensar e planejar regional.

A heterogeneidade da implantação des-

tas normas no País, a necessidade de incidir

em algumas questões importantes da área

da assistência, a crescente despolitização

das questões do SUS e a premente necessi-

dade de reforçar o pacto federativo na gestão

do SUS levaram, em 2006, a edição da por-

taria 399 e com ela o Pacto Pela Saúde em

suas três dimensões: Pacto Pela Vida, Pacto

em Defesa do SUS e Pacto de Gestão.

O Pacto Pela Saúde apresentava inicia-

tivas buscando a superação das situações

mencionadas através de um amplo acordo

interfederativo com definições de respon-

sabilidades entre os entes. Além disso, for-

talece a Atenção Básica, altera as formas

de repasse financeiro e extingue as moda-

lidades de municipalização.

Porém, algumas questões permaneciam

em aberto e a principal delas dizia respeito

à legislação. Frente ao Judiciário sempre

fomos questionados quanto às Normas Ope-

racionais e Portarias, se elas teriam a força

legal para regulamentar a Constituição Fe-

deral e a Lei Orgânica da Saúde. Dessa ne-

cessidade surge o Decreto 7.508, que por ser

um decreto Executivo tem força de lei sendo

essa a forma mais adequada para a regula-

mentação da Lei 8.080.

Nós, gestores municipais, acolhemos

com bons olhos esse Decreto, uma vez que

além de ter sido debatido exaustivamente

na CIT traz mecanismos extremamente

importantes no sentido organizacional.

A definição de regiões de saúde com sua

constituição através de redes de atenção

orientadas a partir da Atenção Básica e

tendo em vista a integralidade da atenção,

nos parece uma lógica de planejamento

absolutamente palpável e real com a ela-

boração de um mapa de saúde que mostre

o que existe, as carências e aponte metas

para execução não só das ações de saúde,

mas para superação dessas deficiências o

que é um avanço significativo.

As definições da RENASES e da RE-

NAME, bem como as formas de incremen-

to de novas tecnologias, procedimentos

e medicamentos poderão dar ao gestor a

tranquilidade sobre o que representa a

integralidade dentro de nossa realidade

de atuação. A construção do COAP garan-

tirá que os compromissos assumidos nas

instâncias de pactuação e planejamento

sejam cumpridos, trazendo mais tranqui-

lidade para gestores e usuários. Por fim,

acreditamos que estamos dando mais um

salto na consolidação do maior Sistema

Universal de Saúde do mundo, o SUS.

Um fraterno abraço a todos!

Arilson da Silva Cardoso

Presidente da Assedisa/Cosems-RS

E

RAFAEL G

RIGOLETTI

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8 | www.assedisars.org.br

CARTAS

MARIA DO HORTO LOUREIRO SALBEGO ALEGRETE - RS

CLAUDIOMIRO PEZZETTA IJUÍ - RS

RENATO SPECHTLAJEADO – RS

CARLOS CASARTELLIPORTO ALEGRE – RS

JORGE CREMONESERESTINGA SECA - RS

VALDEMAR FONSECA TRÊS DE MAIO - RS

LUÍTA MARIA NUNES DA SILVASÃO LOURENÇO DO SUL - RS

ENTRE EM CONTATO:[email protected]

“Considero a edição muito boa, tanto na questão visual, como em reportagens. A possibilidade sobre várias visões dos municípios também é positiva. Os temas foram bem escolhidos, estão encadeados e refletem bem as necessidades do nosso estado e do país. Mas atento para a importância da periodicidade, pois servirá de instrumento de trabalho e informação das secretarias de saúde. Ela precisa vir no período certo para criar esse hábito de leitura nos gestores.”

“A matéria sobre Ijuí sobre o controle da dengue foi lida por diversos profissionais da SMS e também pela comunidade que elogiou muito, tendo ótima repercussão. Em minha opinião, a publicação transmite as informações de forma coerente e objetiva, com linguagem acessível, proporcionando fácil entendimento. O material que é confeccionado é de

qualidade e é agradável visualmente.”

“Alguns pontos se destacam, mas o que me chamou a atenção são as diversas experiências de municípios na construção do SUS, colocando com clareza que o Sistema é viável desde que haja um financiamento adequado em todas as esferas de governo. Eu sugiro tentar dar oportunidade para todas as regiões do Rio Grande do Sul se manifestar, pois temos diversas culturas e formas de fazer saúde.”

“Espero que a Revista continue buscando experiências de municípios variados. Caso não tenha sido abordado em edições anteriores, sugiro matéria sobre o centro de reabilitação de Giruá. Já o tema abordado sobre Porto Alegre foi relevante e comentado por várias pessoas.”

“Considero muito positiva a matéria sobre Rio Grande. Recebi vários contatos solicitando mais informações e também elogiando o trabalho realizado aqui. Considero excelente a qualidade estética de um modo geral e a capa retrata de forma muito clara o tema principal da edição.”

“Temos de mobilizar mais os secretários de todos os municípios para acessar o site da Assedisa, para receber a Revista e demandar reportagens. Precisamos ter no site reportagens de secretarias. Como não faz muito tempo que foi lançada a Revista, há colegas que não participam da Assedisa, de conferências e de encontros. Ainda existem municípios isolados. É através da Associação que conseguimos nos manter unidos, em busca dos objetivos comuns. Precisamos atingir o maior número de municípios possíveis e fazer com que todos se interessem em acompanhar e participar dos trabalhos que são feitos e fazer com que eles evoluam mais. Precisamos fazer com que a entidade seja mais conhecida e a Revista nos ajuda nesta tarefa.”

“Como leitor tenho várias sugestões, a principal delas seria criar uma coluna de orientações aos gestores com informações jurídicas quanto à contratação de pessoal, de adequação de pessoal, de licitação, de compra de materiais, de compra de material consorciado, de redução de custos, entre outros. Também de organização do sistema e de organização da rede. Algo mais operacional, do dia a dia. Serviria como um manual com noções da organização da ESF com base na organização

da assistência farmacêutica, noções de informatização do sistema e por aí vai. A meu ver, a Revista é um instrumento de divulgação das ações da Assedisa. Tudo o que se fazia e o que se faz, passou a ter visibilidade. Acho que através da publicação houve um fortalecimento da entidade, servindo de instrumento de estudo e de qualificação dos gestores. O próprio site da Assedisa é uma fonte de informação. Os textos são objetivos e de fácil compreensão. O visual transmite uma mensagem nítida e é atrativa. A idéia do nó na capa foi fantástica, representa os nós que os gestores desatam todos os dias.”

“A Revista mostrou amadurecimento e identidade. Os textos estão claros e objetivos. As fotos foram muito bem escolhidas e as matérias focaram assuntos pertinentes ao público-alvo. Porém poderia ser melhorada na chamada visual, com a criação de uma marca ou a modernização da existente.”

ZELIONARA BRANCORIO GRANDE - RS

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DE 28 A 30 DE MAIO, CAXIAS DO SUL RECEBE O CONGRESSO DA ASSEDISA-COSEMS/RS

AS EXPERIÊNCIAS EXITOSAS EM SAÚDE DOS MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO SUL SE DESTACAM NA “MOSTRA BRASIL AQUI TEM SUS”Entre os dias 11 e 14 de junho, dez trabalhos realizados pelas Secretarias Municipais de Saúde do Estado serão expostos em mostra que ocorre paralela ao Congresso Nacional do Conasems, em Maceió. Entre eles está o PIM Canguru, de Santa Cruz do Sul, que usa livros para ensinar cidadania para crianças de 0 a 6 anos.

O Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul é um dos mais importantes fóruns de discussão sobre as políticas do setor no Estado e o principal espaço de debate quando se refere à gestão da saúde sob a ótica municipalista. Mais uma vez, os municípios do Rio Grande do Sul estarão reunidos para tratar de questões estratégicas, desta vez sob o tema “A Evolução do SUS: Conquista da Cidadania” (Páginas 10, 34 e 41). O Congresso, tradicionalmente, é palco das discussões mais importantes do setor. Em 2010, em Canela, o tema foi “Os diferentes modelos de gestão da área da saúde”. No ano passado, em Bento Gonçalves, a pauta foi a “Estruturação das Redes de Saúde, ordenadas a partir da Atenção Básica.”

Dúvidas jurídicas sobre medicamentos e licitações são esclarecidas

12Caxias do Sul realiza campanha para educar população quanto ao uso do PA 24 horas

38

ÍNDICE

32SANTA ROSA IMPLANTA PROJETO INOVADOR EM AÇÕES DE SAÚDEGeorreferenciamento permitirá mapeamento de dados demográficos e epidemiológicos de cada região do município

EDU RICKES/CBR

DIVULG

AÇÃO/PM

SCS

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10 | www.cosemsrs.org.br

DECRETO 7.508

emaranhando de portarias

que procurava estabelecer

regulamentações para a Lei

da Saúde hoje se simplifica

com o estabelecimento do Decreto 7.508

como norteador para leis e diretrizes des-

tinadas ao bom andamento do Sistema

Único de Saúde (SUS). Publicado em 28

de junho de 2011, o Decreto número 7.508

regulamenta a Lei 8.080, de 19/9/1990 e

dispõe de instrumentos como o mapa da

saúde e o COAP. Ele também cria critérios

de definição para as regiões de saúde e de-

fine os serviços e as ações mínimos para

se compor uma região de saúde, organiza

questões da Atenção à Saúde, como as li-

nhas de cuidado, e cria a Relação Nacio-

nal de Serviços e Ações de Saúde (Rena-

ses), que complementa ou até substitui a

Tabela SUS.

O diretor do Departamento de As-

sistência Hospitalar e Ambulatoriais

Decreto 7.508 vem para elucidar Lei Orgânica da Saúde 8.080, de 1990

O

Quarto Serviço Residencial Terapêutico de Caxias do Sul permitirá a desinstitucionalização de todos os moradores

EDU RICKES/CBR

Lobato (em pé), da Secretaria Estadual de Saúde, considera importante a definição dos serviços e ações mínimos para se compor uma região de saúde

(DAHA) da Secretaria Estadual da Saú-

de, Marcos Lobato, explica que o Decreto

7.508 é o instrumento legal que faltava

para regularizar a Lei 8.080, que mar-

cou a criação do SUS. “De certa forma,

o Decreto coloca esse marco legal final

à Lei de 1990, pois ele estabelece todos

os instrumentos que precisamos para

organizar o sistema. Sendo que as porta-

rias do Ministério, a partir de agora, vão

complementar o Decreto em áreas muito

mais técnicas do que conceituais”, explica

Lobato ressaltando a vantagem de um de-

creto, que é muito mais estável que uma

portaria.

Lobato explica que de acordo com a

Lei Complementar 141, que fala dos fi-

nanciamentos de saúde, a partir do es-

tabelecimento das regiões de saúde os

repasses do Estado têm que servir para

reduzir as desigualdades regionais. “Es-

tabelecendo o financiamento diferencia-

do, segundo as necessidades de saúde

das regiões e não só dos municípios, se

consegue uma definição real de dinheiro

para saúde”, explica.

O desenho das regiões de saúde, que

antes era igual ao das Coordenadorias

De certa forma, o Decreto coloca esse marco

legal final à Lei de 1990, pois ele estabelece todos

os instrumentos que precisamos para organizar

o sistema. Sendo que as portarias do Ministério, a partir de agora, vão

complementar o Decreto em áreas muito mais técnicas do

que conceituais.

”Marcos Lobato

Page 11: Revista Assedisa - Edição 3

11

DECRETO 7.508

Evolução possibilitada pelo COAP promete viabilizar a efetivação das Redes Regionais de Saúde

Para Monteiro (foto), o Congresso da Assedisa-Cosems/RS servirá como início dos debates sobre as regiões de saúde

LUÍS OLIVEIR

A/ASCO

M-M

S

Regionais de Saúde (CRS) muda a partir

do Decreto. As microrregiões deixam de

existir e assim o Estado consegue ter uma

visão mais organizada das necessidades

de cada área, conforme informa o dire-

tor do DAHA. O Estado do Rio Grande do

Sul está em processo de discussão com os

municípios para o fechamento dos mapas

de saúde. Algumas áreas permanecerão

de acordo com as regiões estabelecidas

dentro dos mesmos limites das coordena-

dorias. Há casos onde uma determinada

CRS definiu a divisão em três regiões de

saúde como mais adequada para se adap-

tar às especificações do Decreto 7.508.

Para Lobato, a definição das portas

de entrada do sistema ganha agora uma

nova dimensão, já que a especificação do

que elas são está prevista no instrumento

legal publicado em julho de 2011. “Ago-

ra está claro. As portas de entrada são a

Atenção Primária, a Urgência e Emergên-

cia, Atenção Psicossocial e outras pactua-

das na CIB. Significa que agora podemos

organizar os fluxos e trabalhar estes ele-

mentos nas regiões e nas redes.”

O Contrato Organizativo de Ação Pú-

blica de Saúde (COAP) tem por finalidade

regulamentar o Sistema Único de Saúde

(SUS) e melhorar o processo de gover-

nança das relações interfederativas. Con-

tudo, para o seu sucesso é necessária a di-

fusão de informações junto aos técnicos

das secretarias municipais e estaduais da

saúde. “É importante uma articulação po-

lítica constante com prefeitos e governa-

dores, além da discussão com advogados

e assessorias jurídicas de cada localida-

de”, ressalta o secretário de Gestão Es-

tratégica e Participativa do Ministério da

Saúde, Odorico Monteiro, do Ministério

da Saúde.

Segundo Monteiro, algumas regiões

do país já estão em estágios avançados

de implantação – exemplos de Sergipe e

Ceará – e outras em processo de alinha-

mento. A ideia, segundo o governo fede-

ral, é universalizar o contrato até 2014.

O Congresso da Assedisa-Cosems/RS de

2012, segundo Monteiro, servirá para o

início dos debates com os gestores no Rio

Grande do Sul. A construção do processo

em rede não será uma imposição do Mi-

nistério da Saúde, uma política vertical.

E como estará ocorrendo em todo o país

serão levadas em consideração caracte-

rísticas de cada Estado e município.

Após a implantação de todas as de-

finições previstas no Decreto 7.058, ele

culmina na assinatura, pelos prefeitos, do

Contrato Organizativo de Ação Pública de

Saúde (COAP). “Neste ano devemos evo-

luir na definição clara das redes e regras

do decreto, mas a assinatura do COAP,

devido às eleições de outubro, deve ocor-

rer apenas em 2013.” Lobato finaliza di-

zendo que a assinatura do COAP deve ser

feita pactuada pelas três esferas públicas,

Estado, União e município, como já ocor-

re nas demais ações do SUS.

Pelo contrato, todo o atendimento da

atenção primária, secundária e hospi-

talar tem de estar integrado em rede de

proteção e de garantia de cuidados. “Nós

queremos trabalhar com a ideia de con-

tinuidade dos serviços prestados, este é

o dever da rede”, acrescenta Monteiro. O

COAP será assinado na região de saúde e

o grande plano é envolver as três esferas

de governo. “É um instrumento de amar-

ração e de compromisso com a Programa-

ção Pactuada Integrada. Acima de tudo,

irá criar responsabilidades e estabelecer

metas para o futuro”, finaliza.

O COAP é um dos instrumentos cria-

dos pelo Decreto 7.508, uma legislação

que disciplina como se dará a organiza-

ção do SUS. “A norma tem aquela visão

de integralidade que a Lei 8080 e que o

texto constitucional nos apresentam”, diz

Arilson Cardoso, presidente da Assedisa.

A discussão entre os secretários munici-

pais de saúde sobre como operacionalizar

as regiões de saúde é fundamental para

o decreto, conforme explica Arilson. “A

partir da definição das regiões, que hoje

é a principal meta dos secretários, pode-

remos avançar para as redes de cuidado

e então estruturar as regiões de saúde de

acordo com as necessidades de cada uma

delas”, completa.

Neste ano devemos evoluir na definição

clara das redes e regras do decreto, mas a

assinatura do COAP, devido às eleições de outubro, deve ocorrer

apenas em 2013.

Nós queremos trabalhar com a ideia de

continuidade dos serviços prestados, este é o dever

da rede. É importante uma articulação política constante com prefeitos e governadores, além da

discussão com advogados e assessorias jurídicas de

cada localidade.”

Marcos Lobato

Odorico Monteiro

Page 12: Revista Assedisa - Edição 3

12 | www.cosemsrs.org.br

JURÍDICO

determinado caso ser diferente e o motivo

do medicamento oferecido pelo SUS não ter

o mesmo efeito do prescrito”, explica.

De acordo com a assessora jurídica,

uma mera declaração do médico não serve,

é preciso haver uma justificativa, mas que

pode um juiz aceitar o pedido sem a justi-

ficativa, indo assim, de encontro com o que

recomenda o STJ.

Dispensação equivocada de medicamentos e atrasos na entrega

entro da prática da adminis-

tração municipal, os gesto-

res encontram, diariamente,

barreiras que travam o bom

andamento dos serviços e das

políticas públicas. Na gestão da saúde, não

é diferente. Sendo assim, este espaço busca

um esclarecimento das dúvidas no âmbito

legal apresentadas por municípios gaúchos.

Fato recorrente nas diversas secreta-

rias municipais do Estado é o problema

relacionado com à dispensação de medi-

camentos, no qual profissionais prescre-

vem remédios não previstos em listas e

protocolos previamente estabelecidos. A

assessora jurídica do Conselho Nacional

de Secretarias Municipais de Saúde (Cona-

sems), Fernanda Vargas Terrazas, pontua

que a Lei 12.401, de 28/4/11 altera o texto

da Lei 8.080, de 19/9/1990, dizendo que se-

rão ofertados pelo Sistema Único de Saúde

(SUS) aqueles medicamentos previstos em

documentos como o Relação Nacional de

Medicamentos Essenciais (Rename). Logo,

se um médico prescrever fora do previsto

D

em lei, o município deve usar como defesa a

argumentação da Lei 8.080, da não neces-

sidade do fornecimento de um medicamen-

to fora desta lista. “A lei não fala especifi-

camente sobre este ponto, mas existe uma

jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça (STJ) que se entende que uma exce-

ção a essa regra só deve ser feita mediante

relatório médico justificando o porquê de

Prefeituras podem utilizar jurisprudência do STJ para problemas relacionados com a dispensação de medicamentos

FABIO ROD

RIGUES PO

ZZEBOM

/ABR

Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011

Art. 19-M. A assistência terapêutica

integral a que se refere à alínea d do inciso I

do art. 6o consiste em:

I - dispensação de medicamentos e pro-

dutos de interesse para a saúde, cuja pres-

crição esteja em conformidade com as dire-

trizes terapêuticas definidas em protocolo

clínico para a doença ou o agravo à saúde

a ser tratado ou, na falta do protocolo, em

conformidade com o disposto no art. 19-P;

Art. 19-P. Na falta de protocolo clíni-

co ou de diretriz terapêutica, a dispensação

será realizada:

I - com base nas relações de medica-

mentos instituídas pelo gestor federal do

SUS, observadas as competências estabe-

lecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo

fornecimento será pactuada na Comissão

Intergestores Tripartite;

II - no âmbito de cada Estado e do Dis-

trito Federal, de forma suplementar, com

base nas relações de medicamentos instituí-

das pelos gestores estaduais do SUS, e a res-

ponsabilidade pelo fornecimento será pac-

tuada na Comissão Intergestores Bipartite;

III - no âmbito de cada Município, de

forma suplementar, com base nas relações

de medicamentos instituídas pelos gestores

municipais do SUS, e a responsabilidade

pelo fornecimento será pactuada no Conse-

lho Municipal de Saúde.

Lei 8080, de 19/9/1990

STJ entende que uma exceção a regra só deve ser feita mediante

relatório médico justificando o porquê de determinado

caso ser diferente e o motivo do medicamento oferecido pelo SUS não ter o mesmo

efeito do prescrito.

”Fernanda Vargas Terrazas

Page 13: Revista Assedisa - Edição 3

13

JURÍDICO

Municípios convivem com o problema

Capítulo III

DOS CONTRATOS

Seção V

Da Inexecução e da Rescisão

dos Contratos

Art. 77. A inexecução total ou par-

cial do contrato enseja a sua rescisão, com

as conseqüências contratuais e as previs-

tas em lei ou regulamento.

Art. 78. Constituem motivo para

rescisão do contrato:

I - o não cumprimento de cláusulas con-

tratuais, especificações, projetos ou prazos;

II - o cumprimento irregular de cláu-

sulas contratuais, especificações, proje-

tos e prazos;

III - a lentidão do seu cumprimento,

levando a Administração a comprovar a

impossibilidade da conclusão da obra, do

serviço ou do fornecimento, nos prazos

estipulados;

Art. 80. A rescisão de que trata o

inciso I do artigo anterior acarreta as se-

guintes conseqüências, sem prejuízo das

sanções previstas nesta Lei:

I - assunção imediata do objeto do

contrato, no estado e local em que se en-

contrar, por ato próprio da Administra-

ção;

III - execução da garantia contratual,

para ressarcimento da Administração, e

dos valores das multas e indenizações a

ela devidos;

§ 1o A aplicação das medidas pre-

vistas nos incisos I e II deste artigo fica a

critério da Administração, que poderá dar

continuidade à obra ou ao serviço por exe-

cução direta ou indireta.

Seção II

Das Sanções Administrativas

Art. 86. O atraso injustificado na exe-

cução do contrato sujeitará o contratado à

multa de mora, na forma prevista no ins-

trumento convocatório ou no contrato.

§ 1o A multa a que alude este artigo não

impede que a Administração rescinda uni-

lateralmente o contrato e aplique as outras

sanções previstas nesta Lei.

Art. 87. Pela inexecução total ou par-

cial do contrato a Administração poderá,

garantida a prévia defesa, aplicar ao con-

tratado as seguintes sanções:

I - advertência;

II - multa, na forma prevista no instru-

mento convocatório ou no contrato;

III - suspensão temporária de partici-

pação em licitação e impedimento de con-

tratar com a Administração, por prazo não

superior a 2 (dois) anos;

IV - declaração de inidoneidade para

licitar ou contratar com a Administração

Pública enquanto perdurarem os motivos

determinantes da punição ou até que seja

promovida a reabilitação perante a própria

autoridade que aplicou a penalidade, que

será concedida sempre que o contratado

ressarcir a Administração pelos prejuízos

resultantes e após decorrido o prazo da san-

ção aplicada com base no inciso anterior.

Lei 8.666, de 21/6/1993

A secretária municipal de Saúde de

Capivari do Sul, Shirley Pinto de Faria,

enfrenta problemas no cumprimento dos

prazos pelas empresas licitadas. A se-

cretária conta que é realizada a provisão

da quantidade e da frequência com que

cada medicamento necessita ser adqui-

rido, para que a população seja sempre

assistida, porém, o que tem acontecido é

a demora da distribuidora licitada efetu-

ar a entrega desses produtos. “O processo

fica trancado, pois não podemos adquirir

estes medicamentos de outra forma, pois

já existe a licitação ou na lista de Tomada

de Preços”, explica Shirley. “Esta demora

acarreta numa cobrança por parte do ad-

ministrador municipal e também da popu-

lação e não sabemos como proceder para

que problemas como estes não continuem

acontecendo”, argumenta a secretária. Ou-

tra situação relatada pela gestora, no que

tange às licitações, é o não cumprimento

do contrato devido ao preço. “As empresas

fazem de tudo para ganhar a licitação, mas

quando têm que cumprir o prazo se negam

a entregar o material alegando que o valor

estabelecido quando da licitação já está

aquém do valor de mercado”, explica.

A assessora jurídica da Federação das

Associações de Municípios do Rio Grande

do Sul (Famurs), Margere Rosa de Olivei-

ra, diz que as licitações geram um amplo

debate, sendo necessário avaliar separa-

damente cada contrato firmado. Como

orientação geral Margere diz que ao atraso

na entrega por parte das empresas vence-

doras da licitação cabe uma aplicação de

sanções jurídicas conforme previsto no

edital e no contrato firmado. Já quanto à

mudança no valor de mercado do material

licitado, a assessora jurídica diz que pode

ser realizado um reequilíbrio no preço,

tendo como base a Lei das Licitações – Lei

8.666, de 21/6/1993.

“Os municípios não precisam ficar à

mercê das empresas licitadas, eles têm me-

canismos legais de aplicação de penalida-

des no caso de descumprimento e no caso

de alteração de mercado há a possibilidade

do reequilíbrio econômico-financeiro do

contrato, sempre analisado se realmente

houve alteração e se é pertinente conceder

o reequilíbrio em fato”, argumenta.

A demora acarreta numa cobrança por parte do administrador municipal e

também da população e não sabemos como proceder para

que problemas como estes não continuem

acontecendo.

”Shirley Pinto de Faria

DIVULG

AÇÃO/ARQ

UIVO PESSOAL

Page 14: Revista Assedisa - Edição 3

14 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

Art. 2º Os bens imóveis e o acervo

físico, documental e material integran-

tes do patrimônio do Inamps serão in-

ventariados e:

I - incorporados ao patrimônio da

União, mediante termos lavrados na

forma do inciso VI do art. 13 do Decre-

to-Lei nº 147, de 3 de fevereiro de 1967,

com a redação dada pelo art. 10 da Lei

nº 5.421, de 25 de abril de 1968, ficando

o acervo documental sob a guarda e res-

ponsabilidade do Ministério da Saúde;

Lei nº 8.689, de 27/7/1993

Fonte das Leis: www.planalto.gov.br

Aos municípios que vivenciam a mes-

ma situação, Cerbaro orienta que se faça o

levantamento dos dados históricos para a

comprovação da utilização do imóvel e, logo

após, se encaminhe o dossiê para a presi-

dência do órgão, localizada em Brasília: “É

fundamental que haja esse material históri-

co – fotos, matérias de jornal, prontuários,

cartas – que possa ser usado como prova da

existência do hospital ou posto de saúde an-

tes da data especificada”, conta Cerbaro.

Prefeituras têm direito à doação ou à cessão de patrimônio do extinto INAMPS

Por volta do ano de 2004, a Secretaria

de Saúde (SMS) de Caxias do Sul deparou-

-se com uma cobrança referente a aluguéis

vencidos do prédio que abriga o Centro

Especializado de Saúde (CES) no municí-

pio. Esta construção era parte do patri-

mônio do extinto Instituto Nacional de

Assistência Médica da Previdência Social

(INAMPS), que conforme previsto na Lei

nº 8.689/93, em seu artigo 2º, inciso II,

deve ser doado ou cedido aos municípios,

quando se tratar de uso para hospitais e

postos de assistência à saúde.

Segundo explica o assessor jurídico da

SMS de Caxias do Sul Sezer Cerbaro devi-

do a um entendimento legal diferente da

superintendência do Instituto Nacional do

Seguro Social (INSS), localizada em Flo-

rianópolis (SC), e que responde pelos três

estados da Região Sul, muitos municípios

acabam perdendo este patrimônio que

lhes foi garantido por meio da referida Lei.

“Todos os municípios que tiverem um hos-

pital ou posto de saúde estabelecido antes

da data de publicação da Lei, em 1993, têm

direito a solicitar a doação ou cessão do

patrimônio para utilização, sem qualquer

tipo de pagamento de aluguel”, esclarece o

assessor jurídico.

O município de Caxias do Sul chegou

a receber a notificação para a desocupa-

ção do prédio situado na Rua Pinheiro

Machado, nº 3.329, Bairro Cinquentená-

rio. Foi quando a Procuradoria Geral do

Município encaminhou para a presidên-

cia do INSS, em Brasília, um pedido de

transferência do patrimônio com base na

lei. Anexado ao pedido estava uma docu-

mentação com o histórico da utilização do

imóvel desde a década de 1950, em que fica

comprovada a utilização-fim do endereço,

para o qual a legislação estabelece a trans-

ferência ou a cessão.

Assessor jurídico Sezer Cerbaro orienta municípios a fazerem levantamento de dados históricos para entrar com pedido de doação ou cessão de imóveis do extinto INAMPS

DIVULG

AÇÃO/PM

CS

I - doados ou cedidos a municípios, es-

tados e Distrito Federal, quando se tratar

de hospitais e postos de assistência à saú-

de e, na conveniência de ambas as partes,

cedidos, quando se tratar de imóveis de

uso administrativo, os quais permanece-

rão como patrimônio do INSS, sendo obri-

gatória a publicação do ato corresponden-

te que especifique o destinatário e o uso

do bem.

§ 1º Incluem-se no acervo patrimo-

nial de que trata este artigo os bens mó-

veis e imóveis cedidos a estados, municí-

pios e Distrito Federal, e os em uso pelo

Inamps ou em processo de transferência

para a autarquia.

§ 2º O inventário de que trata o ca-

put será concluído no prazo de 180 (cen-

to e oitenta) dias a contar da publicação

desta lei e divulgado pelo Diário Oficial

da União.

Page 15: Revista Assedisa - Edição 3

15

O SUS É NOSSO

SUSesde o 19º Congresso Nacional

de Secretarias Municipais de

Saúde, realizado em Belo Ho-

rizonte, em 2003, o Conselho

Nacional das Secretarias Municipais de Saú-

de (Conasems) abre um importante espaço

de interação entre as Secretarias Municipais

de Saúde por meio da “Mostra Brasil Aqui

Tem SUS”. A cada ano, a exposição movi-

menta um número maior de interessados

em divulgar seus trabalhos e em conhecer

as experiências realizadas em todos os can-

tos do Brasil. Anualmente, dez trabalhos são

escolhidos pelos Cosems de cada Estado e

expostos nos congressos nacionais promo-

vidos pelo Conasems.

A coordenadora técnica do Núcleo de

Participação da Comunidade na Saúde do

Conselho, Denise Rinehart, conta que o

objetivo é promover o trabalho desenvol-

vido nos municípios, sempre destacando a

criatividade, o pioneirismo e a capacidade

Há nove anos, a exposição serve como troca de experiências entre os gestores e os trabalhadores das secretarias municipais de Saúde, na busca constante de um serviço de qualidade para todos os cidadãos brasileiros.

Rio Grande do Suldestaca-se na MOSTRABRASIL AQUI TEM

de superação dos desafios que os gestores

e os trabalhadores do SUS enfrentam dia-

riamente na busca de um serviço de qua-

lidade. “A Mostra tem se revelado um im-

portante espaço de troca de experiências

e vivências, pois mobiliza anualmente um

número significativo de interessados que

buscam alternativas para os dilemas do

cotidiano do SUS”, explica.

Durante a exposição é possível conhe-

cer e interagir com experiências desenvol-

vidas em todo o país. A “Mostra Brasil Aqui

Tem SUS” busca contemplar trabalhos

nos quais a replicabilidade seja facilmente

identificada, pois quando se trata de Brasil,

não se pode pensar em uniformidade, afi-

nal, de norte a sul do País, são encontradas

diversidades tanto culturais quanto relati-

vas ao meio ambiente e clima. Com perfil

de replicabilidade, é possível adaptar as

formas de trabalho a outras localidades,

usando da experiência dos autores como

exemplo e instigando a capacidade criativa

dos interessados e ainda fomentar a troca

de experiências, ajustando-as às diferentes

realidades.

A assessora técnica do Cosems RS, Fá-

bia Richter, diz que a “Mostra Brasil Aqui

Tem SUS” tem o benefício de poder multi-

plicar os exemplos de sucesso, onde as pes-

soas podem conhecer o que esta sendo feito

e criativamente adaptar a sua realidade. “É

excelente o fato de podermos mostrar o que

está se fazendo de positivo, pois faz com

que motivemos outras pessoas, além de

destacar a equipe que está expondo a sua

experiência”, explica Fábia.

Neste ano, Maceió (AL) receberá, entre

os dias 11 e 14 de junho, o 28º Congresso

Nacional de Secretarias Municipais de Saú-

de e, paralelamente, a “Mostra Brasil Aqui

Tem SUS”. As dez experiências seleciona-

das no Rio Grande do Sul podem ser confe-

ridas nas próximas páginas.

D

Page 16: Revista Assedisa - Edição 3

16 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

Ficha TécnicaTítulo da experiência: CANOAS VIVA – Programa Municipal de Prevenção ao Uso de Álcool e Outras Drogas e Tratamento ao Dependente QuímicoMunicípio: CanoasApresentadora do Trabalho: Maria Beatriz Würth LagranhaCoautores: Lucia Elisabeth Colombo, Leandro Gomes dos Santos, Rosane Alves Kern, Marcio Acosta, Flávia Mariani, Luciane Oliveira, Lenita Andreazza, monitores do Grupo de Apoio aos Projetos Estratégicos (GAPE)

DIVULG

AÇÃO/PM

C

Canoas, município localizado na Região

Metropolitana de Porto Alegre, como toda a

grande metrópole, vivencia problemas gera-

dos a partir do consumo de álcool e drogas,

como o aumento nos índices de violência e

a falta de uma rede de tratamento adequa-

da para atender aos usuários em recupera-

ção. Há cerca de dois anos, como forma de

buscar uma solução que atendesse a essas

demandas, a Secretaria de Saúde, por meio

da Diretoria de Políticas e Ações em Saúde

Mental, em conjunto com a Secretaria do

Desenvolvimento Social e a Secretaria de

Segurança Pública e Cidadania, desenvol-

veu o “Canoas Viva”, projeto que objetiva

trabalhar na prevenção ao uso de álcool e

outras drogas e oferecer tratamento aos de-

pendentes químicos.

A gerente do projeto Maria Beatriz La-

granha explica que esta política municipal,

tanto de enfrentamento, como de tratamen-

to e prevenção, era necessária para direcio-

nar todas as demandas identificadas como

“Canoas Viva” trabalha no enfrentamento e na prevenção ao consumo de álcool e drogas

para desintoxicação e 25 leitos em hospital

geral, sendo 15 leitos para álcool e drogas e

dez para pacientes com sofrimento psíquico.

“Canoas é um do poucos municípios do Es-

tado a contar com leitos para o tratamento

de dependentes químicos em hospital geral”,

destaca.

A qualificação dos CAPS, a discussão

de casos com as unidades básicas de saú-

de (UBS) e o diálogo com o Judiciário e a

comunidade, marcaram significativa dife-

rença neste enfrentamento. Hoje, 85% dos

pacientes atendidos nos CAPS AD (Álcool e

Drogas) são usuários de crack.

O maior desafio do projeto é a preven-

ção, principalmente na população jovem,

que é, de acordo com Maria Beatriz, a de

maior vulnerabilidade aos riscos. Segundo o

Censo de 2012 do IBGE, o número de crian-

ças e adolescentes, com idade entre cinco e

19 anos, passa dos 80 mil em Canoas. A par-

tir desse número, foi dado um foco maior no

trabalho de prevenção do consumo de álcool

e drogas dentro do projeto. Para isso, estão

sendo mapeadas atividades oferecidas pela

rede pública municipal e entidades da socie-

dade civil, buscando propiciar oportunida-

des de novos vínculos sociais e afetivos para

crianças e adolescentes.

Estas informações integram uma rede

de dados que pode ser acessada por meio

de um serviço telefônico gratuito, o Disque

Rede, que funciona com o número 0800-

51-01234. Neste serviço, as famílias podem

buscar atividades disponíveis próximas a

sua residência e nos horários em que os jo-

vens estão sem ocupação. “A ideia é manter a

juventude engajada em iniciativas que a aju-

de desenvolver projetos de vida, mantendo-

-a, assim, afastada de ambientes que propi-

ciem o consumo de álcool e drogas, afinal a

vida é o maior barato,” aponta.

Projeto trabalha com ações educativas, promovendo atividades como a gincana de prevenção às DST/Aids em escolas do município

reprimidas, em excesso ou mal direciona-

das. “O tempo de espera para tratamentos

de desintoxicação era longo e existiam de-

mandas não atendidas para comunidades

terapêuticas e internações judiciais”, conta.

Na parte do projeto que se referia ao

estabelecimento de uma rede adequada de

tratamento ao dependente químico, Maria

Beatriz acredita que a política municipal

desenvolvida com o “Canoas Viva” já cum-

priu grande parte de sua meta. Atualmente

a cidade conta com seis Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS), sendo dois deles des-

tinados a álcool e drogas, além de 35 vagas

em comunidades terapêuticas e unidades

Page 17: Revista Assedisa - Edição 3

17

O SUS É NOSSO

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Projeto “A Divindade da Água”: Profissionais de saúde e comunidade no combate às iniquidades que incidem sobre determinantes sociais da saúde Município: Porto AlegreApresentadora do Trabalho: Kátia Teresa Cesa

Desde 2008, com o início do projeto “A

Divindade da Água” desenvolvido pela Se-

cretaria da Saúde de Porto Alegre (SMS),

através da Coordenadoria Geral de Vigilân-

cia em Saúde (CGVS), profissionais de saúde

e comunidade se uniram com o objetivo de

enfrentamento das iniquidades que incidem

sobre determinantes sociais da saúde em

uma área verde no Morro da Polícia, locali-

zada no bairro Partenon.

Nesse território, onde atualmente vivem

cerca de 130 famílias, um dos desafios dos

profissionais de saúde foi o fato de a comuni-

dade ter se desenvolvido dentro de uma área

de preservação ambiental (APP). A ocupa-

ção irregular e não planejada deste espaço,

onde existem várias nascentes e fontes na-

turais, resultou na poluição das águas, com

lixo e esgoto sendo jogados diretamente nos

arroios e uma intensa proliferação de ratos e

mosquitos, trazendo danos à saúde dos ha-

bitantes da região.

A situação da comunidade que vive na

área verde é precária, porém, faltam indica-

dores quantitativos, devido à invisibilidade

burocrática dessas pessoas, que, morando

ilegalmente, não tinham endereços nem re-

gistro na unidade de saúde do bairro. Esta

situação de quase inexistência limitava a

disponibilidade de dados para informar a

realidade do problema.

Como o projeto buscava, desde o come-

ço de sua concepção, um envolvimento dos

moradores, o tema da espiritualidade foi

relacionado com a promoção da saúde e a

educação ambiental, fazendo com que hou-

vesse um interesse e entendimento amplo da

importância do trabalho desenvolvido pela

equipe de vigilância no local.

A coordenadora do projeto e técnica

da Vigilância em Saúde, Kátia Cesa, conta

que no início do projeto foi planejada uma

abordagem educativa voltada para a situa-

ção de degradação dos arroios da cidade e

suas consequências para a saúde humana.

“Quando chegamos ao local, encontramos

crianças brincando numa pracinha que

ficava dentro do lixo”, explica. “O foco do

projeto mudou do arroio, para a comuni-

dade, considerando o alto risco que en-

Projeto une comunidade em torno da preservação ambiental e melhora os indicadores de saúde

volvia a questão do lixo. Nosso objetivo

passou a ser o de tentar incidir sobre essa

situação, onde as crianças andavam des-

calças no meio de muitos cacos de vidro e

lixo.”

Foi muito importante o engajamento da

comunidade para o sucesso dessas iniciati-

vas. A Associação de Mulheres Unidas pela

Esperança (AMUÊ) foi uma das entidades

protagonistas desse projeto. Conforme

de da área verde do Morro da Polícia é bem

diferente do encontrado no início do pro-

jeto. As conquistas na comunidade foram

co-produzidas pela atuação de membros e

lideranças da comunidade local, com a par-

ticipação das entidades AMUÊ, Associação

Clara Nunes, ACOVISMI, SOS Morro da

Polícia e profissionais comprometidos com

a saúde ambiental na Prefeitura de Porto

Alegre, juntamente com outras instituições

Lixão foi transformado em praça que virou local de confraternização dos moradores do Morro da Polícia

A realidade na qual crianças brincavam no lixo

(acima) foi modificada a partir do engajamento da

comunidade no projeto (ao lado)

FOTO

S: DIVULG

AÇÃO/PM

PA

conta Kátia, as mulheres que compõem a

entidade foram se apropriando dos conhe-

cimentos desenvolvidos por meio das ações

de promoção de saúde e hoje são verdadei-

ras agentes da saúde na região.

Dentre as iniciativas realizadas, numa

parceria da Coordenadoria Geral de Vigi-

lância em Saúde com diversos departamen-

tos da administração municipal e lideranças

comunitárias, ocorreram a organização da

coleta de lixo na área verde; a limpeza do es-

paço comum; a construção de um canteiro

de flores, substituindo uma lixeira na entra-

da da vila; comemorações alusivas à água

com várias atividades educativo-culturais;

negociações para o abastecimento de água e

saneamento junto aos departamentos espe-

cíficos do município; cadastramento das fa-

mílias no centro de saúde; e implementação

do comitê gestor de saúde local.

Atualmente, o panorama da comunida-

públicas e civis, entre elas cabe destacar o

Movimento pela Saúde dos Povos.

O espaço, onde antes havia acúmulo de

lixo, atualmente é usado como pracinha e

área de integração da comunidade. Após

três anos, a praça mantém-se. O projeto,

que foi selecionado para a 1ª Conferência

Mundial sobre Determinantes Sociais da

Saúde, promovido pela Organização Mun-

dial da Saúde (OMS), no ano passado, será

implementado em outra comunidade de

Porto Alegre, a Vila Bom Jesus, onde existe

um depósito de lixo às margens do Arroio

Mem de Sá.

Page 18: Revista Assedisa - Edição 3

18 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

O cenário onde a população canoen-

se enfrentava filas durante a madrugada,

muitas vezes no frio e na chuva, em busca

de uma consulta médica no Sistema Úni-

co de Saúde (SUS), passou a ser apenas

uma lembrança de um passado difícil a

partir da implantação do Teleagenda-

mento de Consultas, projeto idealizado

pelo prefeito Jairo Jorge e implantado

pela Secretaria Municipal de Saúde de

Canoas (SMS). Mas, até chegar a esse ino-

vador sistema de atendimento foi neces-

sária uma grande reestruturação da rede

de saúde de Canoas.

O secretário municipal de Saúde, Le-

andro dos Santos, conta que as Unidades

Básicas de Saúde (UBS) foram revitali-

zadas, seis farmácias distritais e quatro

Unidades de Pronto Atendimento (UPA)

foram criadas. Com a rede reestrutura-

da, foi possível dar andamento à adesão

ao Telagendamento, integrante do amplo

projeto Canoas Saúde, que prevê inúme-

ras melhorias no sistema de gestão e re-

gulação da saúde no município.

No segundo semestre de 2011, a Se-

cretaria de Saúde iniciou o cadastramen-

Com o inovador teleagendamento, Canoas elimina filas através da modernização do atendimento

ção é boa, mas temos que mudar a cultura

de pegar uma ficha no posto. Existe resis-

tência das pessoas que trabalhavam na

fila, vendendo ficha. Elas fazem um movi-

mento contra a mudança”, conta.

Juntamente com o Telagendamento,

existe um complexo regulador, que per-

mite ao município ter mais controle das

informações, podendo, assim, adequar

suas demandas e oferecer mais serviços.

É possível, por exemplo, ter um mapea-

mento das marcações de consultas, dos

índices de absenteísmo e da distribuição

de profissionais de saúde nas UBS. O pa-

ciente sai das unidades com seus exames

e consultas de especialidades marcadas.

Antes da adoção deste sistema, a mar-

cação de uma consulta com especialista

poderia demorar até quatro meses. Agora

isso acontece na hora.

“O que Canoas está propondo e con-

seguindo executar, é a gestão qualificada

dos recursos do SUS: saber quem são os

pacientes, quais são as demandas”, aponta

Leandro, que diz que só com esses dados é

possível fazer uma gestão qualificada e as-

sim realizar as melhorias para proporcio-

nar à população um serviço qualificado.

Como funciona o Teleagendamento

A pessoa liga para o número 0800-

6470-156, a partir de qualquer telefone, das

7h às 19h, de segunda a sexta-feira, e marca

um horário com o médico da UBS. Na mes-

ma ligação, o cidadão fica sabendo o dia e

o horário da sua consulta. Um dia antes da

consulta ou exame, ele recebe por mensa-

gem, em celular previamente cadastrado,

um lembrete da consulta, evitando que

ocorram faltas às marcações.

Central de atendimento do Teleagendamento conta com dezenas de posições para dar agilidade à marcação de consultas e exames; ligação é gratuita

VINÍCIUS CO

STA/CBR

to da população no sistema de Teleagen-

damento. No cadastro, o usuário recebia

um cartão, o Canoas Saúde, com o seu nú-

mero de identificação. Para melhor aten-

der o usuário do SUS, uma infraestrutura

de call center foi montada e em março de

2012, quando as operações do Telagen-

damento se iniciaram, o cidadão passou

a fazer a marcação de suas consultas por

meio do telefone 0800-6470-156.

Em maio, cerca de 120 mil usuários já

estavam cadastrados no Canoas Saúde e

habilitados à marcação de consultas por

telefone. O Teleagendamento extinguiu

as filas no SUS e hoje praticamente 100%

das consultas são marcadas pelo novo

serviço. Mas ainda existe resistência por

parte da população em aceitar a mudan-

ça, segundo conta o secretário: “A aceita-

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Teleagendamento de Consultas na Atenção Básica e o Complexo Regulador com a Marcação de Exames e Consultas Especializadas - CANOAS SAÙDEMunicípio: CanoasApresentador do Trabalho: Leandro Gomes dos Santos Coautores: Lucia Elisabeth Colombo, Miriam Oliveira, Míria Elisabete Bairros de Camargo, Maria Luisa Capilheira, Thiago Sperb, Pamella Koppe

Page 19: Revista Assedisa - Edição 3

19

O SUS É NOSSO

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Projeto Egressos UTI NEONATAL Município: Rio GrandeApresentadora do Trabalho: Daniele Tavares FurtadoCoautores: Helene Rodrigues e Carla Cornetet

A necessidade de oferecer um atendi-

mento especializado às crianças egressas

da UTI Neonatal incentivou a criação de

projeto que visa dar assistência e acom-

panhamento às famílias, viabilizado

pelo Programa Primeira Infância Melhor

(PIM), por intermédio da Secretaria Mu-

nicipal de Saúde de Rio Grande. Criado

em 2007, o Projeto Egressos UTI Neona-

tal é voltado ao atendimento de crianças

prematuras ou com lesões importantes no

Sistema Nervoso Central (SNC).

Coordenadora do PIM em Rio Grande

e à frente do projeto a partir de 2012, Da-

niele Tavares Furtado explica que o PIM

estabelece indicadores de desenvolvimen-

to diferente para cada idade da criança,

até os seis anos. “Realizamos o acompa-

nhamento da criança que nasce prematura

com um enfoque diferenciado em relação

aos indicadores estabelecidos para crian-

ças que nasceram em condições normais,

de modo que essa evolução seja observada

caso a caso”, destaca.

A captação destes recém nascidos é

realizada ainda dentro do hospital, onde a

equipe do projeto inicia o trabalho. Quando

os bebês deixam a UTI Neonatal, o traba-

lho torna-se ainda mais personalizado. As

visitadoras do PIM vão até a residência da

família e buscam a adequação da criança

ao lar. As condições do meio onde a criança

viverá são analisadas e a família é incenti-

vada a oferecer o melhor ambiente possível,

dentro de suas condições, para o seu desen-

volvimento. A visitadora realiza o trabalho

de caráter pedagógico, explorando as di-

mensões sugeridas pelo programa utilizan-

do os recursos do meio, como por exemplo,

ao apresentar uma fruta, estará sendo tra-

balhada a relação cognitiva através do tato.

Outro parâmetro a ser analisado, com

indicadores completamente diferentes dos

convencionais, são os casos de bebês que

nascem com as lesões no SNC. Para estas

crianças, o trabalho é direcionado para

metas e cuidados específicos. “A criança

prematura deverá chegar ao primeiro ano

conseguindo equiparar-se a uma criança

que nasceu em condições habituais”, dis-

Rio Grande desenvolve importante projeto de acompanhamento para egressos da UTI Neontal

se. “São os egressos da UTI Neonatal com

patologia os que mais nos preocupam, pois

precisam de um acompanhamento mais

intenso e específico.” Para isso, foram esta-

belecidas parcerias com entidades como a

Associação de Pais e Amigos dos Autistas

de Rio Grande (Amar), a APAE e a Escola

de Cegos José Álvares de Azevedo. “Nossos

profissionais se inserem nessas instituições

para buscar capacitação técnica de modo a

poderem trabalhar melhor”, explica.

no movimento, por mais simples que seja,

como levantar a mão. “Além de trabalhar

com todas as dimensões da criança, vejo

o fortalecimento do vínculo da mãe com a

criança, que é o primordial, como o melhor

resultado”, finaliza a coordenadora.

Atualmente o projeto, que já atendeu

28 crianças, assiste a 19 casos com diversas

necessidades como síndrome de down, sín-

dorme de west, artrogripose múltipla con-

gênita e um caso de desnutrição. Do total de

Pedro Lucas Gondran Coutinho (três anos e dez meses) é uma das crianças atendidas pelo projeto do PIM. Na foto, também estão a Educadora Social e visitadora do PIM, Ana Cintia da Silva, e a irmã do Pedro, Brenda Janaina Gondran Coutinho (cinco anos)

DIVULG

AÇÃO/PM

RG

De acordo com Daniele, os primeiros

resultados do programa são gratificantes.

Uma das crianças, por exemplo, que é por-

tadora da rara artrogripose múltipla con-

gênita, conseguiu levantar o membro di-

reito para tocar a mão da mãe. Um menino

com paralisia cerebral está caminhando.

“Estamos vendo resultados muito impor-

tantes na motricidade. E cada um destes

pequenos avanços deixam as mães muito

emocionadas”, comemora. Para ela, o prin-

cipal resultado é a satisfação da mãe ao ver

um filho conseguindo realizar um peque-

crianças atendidas, 36% apresenta ou apre-

sentava alguma patologia. O projeto recebe

ainda o acompanhamento de uma pedagoga

e uma pediatra, mas está passando por re-

estruturação para a inclusão de novas áreas

como a neurologia e a equoterapia.

Page 20: Revista Assedisa - Edição 3

20 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

Para o sucesso na administração de uma

rede de saúde do porte de uma cidade como

Porto Alegre é necessário que o gestor tenha

acesso a todas as informações geradas por

Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais,

redes conveniadas e outras dezenas de opera-

ções que mantêm o Sistema Único de Saúde

(SUS) funcionando.

Elegendo o acesso total à informação de

qualidade como meta, a Prefeitura de Por-

to Alegre, por meio da Secretaria de Saúde

(SMS), iniciou em outubro de 2010 o Projeto

de Modernização e Informatização da Rede

de Saúde (Inforede), que está sendo responsá-

vel por uma revolução na gestão da saúde da

capital servindo de modelo para todo o país.

A coordenadora do projeto, Gladis Jung,

explica que o ponto de partida da proposta,

desenvolvida em parceria com a Companhia

de Processamento de Dados do Município de

Porto Alegre (Procempa), foi a composição de

uma equipe de projeto constituída por téc-

nicos da SMS e pela empresa de consultoria

GSH, além da definição de iniciar-se pelo

Complexo Regulador, o qual prevê a infor-

matização de todos os serviços da Secretaria

que envolvem processos de trabalho na saú-

de, conectando-os num só sistema. “Das 179

UBS do município, hoje 114 estão conectadas.

Em 2010, eram apenas 26”, exemplifica. Gla-

dis destaca ainda, o tempo recorde em que

o projeto está sendo implantado, em apenas

dois anos. “Foi uma atitude extremante co-

rajosa e ousada dos secretários Carlos Hen-

rique Casartelli e Marcelo Bósio, assumirem

tão importante tarefa num curto espaço de

tempo”, elogia.

Porto Alegre é a pioneira entre as capitais a implantar robusto projeto de regulação da saúde

Para o sucesso do Projeto Inforede, uma

série de investimentos precisou ser reali-

zada, como a compra de infraestrutura de

dados, equipamentos, a aquisição do siste-

ma AGHOS - em parceria com a Secretaria

Estadual de Saúde (SES) -, a conexão wire-

less das UBS e das Unidades de Estratégia

de Saúde da Família (ESF), integradas ao

Ficha TécnicaTítulo da experiência: O Impacto do Projeto de Modernização e Informatização da Rede de Saúde (Inforede) na Regulação do Acesso aos Serviços de Saúde em Porto AlegreMunicípio: Porto AlegreApresentadora do Trabalho: Gladis JungCoautores: Carlos Henrique Casartelli, Marcelo Bósio, Magliane Locatelli, Jorge Luiz Callay Della Flora, Luiz Carlos Alves, Nadine Streb, Tamyres Oliveira

Complexo Regulador da Secretaria. Além

disso, ocorreu a capacitação de servidores

próprios e da rede conveniada.

Gladis conta que ao longo de dez anos

foram experimentadas diversas alternativas

para que se realizasse a informatização na

saúde porto-alegrense, mas todas termina-

ram por fracassar devido à utilização de sis-

temas que não se comunicavam entre si. “Ao

longo dos últimos anos a população cobrava

da gestão municipal uma melhoria do acesso

aos serviços. E a única forma de melhorá-lo

era por intermédio do conhecimento das in-

formações”, afirma. “O gestor só conseguirá

tomar decisões eficazes a partir do momento

que ele tiver conhecimento de todas as infor-

mações da rede de saúde do município.”

Integração com o Estado e sistemas próprios da rede conveniada

A partir de um Termo de Cooperação

assinado entre o Governo do Estado e a

Prefeitura de Porto Alegre, o sistema uti-

lizado pela SES ficou disponível para uso

também no município. Assim, foi possível

uma integração das informações e o melhor

aproveitamento dos recursos de saúde da

capital, fazendo de Porto Alegre uma pio-

neira entre as capitais brasileiras a praticar

um novo modelo de marcação de consultas,

integrado à central do Estado, a partir de

novembro de 2011.

A utilização dos sistemas reguladores

inovadores faz com que atualmente possam

ser identificadas as solicitações de interna-

ções de urgência e eletivas. Com base na

pactuação entre Estado e Município, Porto

Alegre recebe desde janeiro 2011, 100% das

solicitações de internações de dez Unidades

Prestadoras de Serviços, entre hospitais e

clínicas conveniadas, com informações clí-

nicas precisas, a partir do preenchimento

on-line do laudo de emissão de Autorização

de Internação Hospitalar (AIH), conforme

previsto no manual do SUS. Assim, o médi-

co regulador avalia, a partir da consulta do

mapa de leitos da cidade, o melhor recurso

assistencial para o paciente.

A possibilidade da visualização das inter-

nações eletivas permite um melhor aprovei-

tamento dessas solicitações para o cidadão

porto-alegrense. Outra grande inovação que

a SMS está prestes a implantar é a integração

com os sistemas dos hospitais, entre eles o

Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a PUC, o

Instituto de Cardiologia e o Grupo Hospitalar

Conceição, o que permitirá o completo con-

trole dos leitos SUS no município, com 100%

das internações reguladas e onde espera-se

melhorar muito mais o acesso às internações

dos cidadãos porto-alegrenses.

“Por meio de um controle efetivo, pos-

sibilitado pela informatização, atualmente

não recebemos internações eletivas fora da

pactuação estabelecida com o Estado. Ago-

ra, temos um controle melhor do acesso ao

cidadão, tanto de Porto Alegre, como de ou-

tros municípios pactuados”, explica Gladis,

enfatizando que já se pode notar uma dimi-

nuição no número de internações se compa-

rados os dados de 2011 com os de 2010, com

uma redução de aproximadamente 1,5 mil

internações por mês.

Unidades conectadas2010 2011 2012

26

106114

FONTE: PMPA

FONTE: PMPA

Page 21: Revista Assedisa - Edição 3

21

O SUS É NOSSO

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Rede de Cuidados aos Usuários de Álcool e Outras Drogas Município: SobradinhoApresentadoras do Trabalho: Gilda Teresinha Rathke, Giansqui Ângela Tremea de Oliveira e Luciana dos Santos PuhlmannCoautor: Rodogério Cattelan Bonorino

Com a criação de seis leitos destina-

dos a dependentes químicos no hospital

geral de Sobradinho, o Sebastiany, deu-se

início ao Projeto Rede de Cuidados aos

Usuários de Álcool e Outras Drogas. Ide-

alizada pela Secretaria Municipal de Saú-

de (SMS), a iniciativa visava à reestrutu-

ração da porta de entrada do usuário no

Sistema Único de Saúde (SUS).

Há três anos, o dependente químico

ia buscar ajuda para internação na Secre-

taria de Assistência Social do município.

Cuidando apenas da parte social do pro-

blema, a secretaria tinha uma sobrecarga

ao ter que gerenciar toda a demanda. A

partir do projeto, as unidades de Estraté-

gia de Saúde da Família (ESF) passaram a

receber esse fluxo de acolhimento ao usu-

ário de álcool e outras drogas, que hoje

conta também com um grupo de apoio

permanente.

A psicóloga da SMS Giansqui Tre-

mea de Oliveira explica que ao procurar

primeiramente uma unidade de saúde o

usuário passa por uma avaliação médica

e por um acompanhamento mais ade-

quado, tendo a internação como último

recurso. “Dentro da ESF é determinado

o encaminhamento necessário para o

paciente, que pode ser internação, medi-

camentos e indicação de participação em

grupos de apoio”, explica.

As seis vagas disponíveis para inter-

nação no Hospital Sebastiany, sendo três

para atender os municípios da 8ª Coor-

denadoria Regional de Saúde (CRS), es-

tão sempre preenchidas, conforme conta

a psicóloga. O usuário pode ficar 21 dias

internado e depois desse tempo ele é en-

caminhado ao grupo de apoio, o qual é

aberto para a participação de todos aque-

les que precisam de ajuda. “O grupo tem

encontros semanais e recebe em média 15

participantes. Há também outro espaço,

destinado aos familiares do dependente,

que muitas vezes precisam de mais ajuda

que o próprio usuário”, diz Giansqui.

Nas reuniões do grupo de apoio, são

realizadas diversas atividades de integra-

ção, como oficinas terapêuticas, sessões de

cinema, atividades culturais e educativas

Sobradinho mantém rede de cuidado permanente para o usuário de álcool e drogas

abertas à comunidade e acompanhamento

ambulatorial na Atenção Básica. O projeto

conta com uma equipe técnica composta

por psicólogos, enfermeiros, assistentes

sociais, agentes comunitários de saúde,

acompanhantes terapêuticos e médicos,

além de promover uma integração entre

as secretarias de Assistência Social, Edu-

cação, Saúde, a 8ª CRS e o Hospital Sebas-

tiany.

Inerente à sociedade contemporânea,

o problema do consumo de drogas, por

mais que os esforços de todas as esferas

públicas sejam constantes, ainda está

longe do fim. Alguns usuários têm reca-

ídas e acabam abandonando o tratamen-

to. E, é justamente neste momento que o

projeto desenvolvido pela equipe da SMS

de Sobradinho quer trabalhar de forma

mais intensa. “As recaídas infelizmente

acontecem. Mas o que fazemos é dar se-

gurança para que essas pessoas saibam

que elas têm um lugar para procurar aju-

da”, pontua.

Dentro desta lógica, cria-se um vín-

culo com o usuário de álcool e drogas, em

que agentes de saúde fazem um acompa-

nhamento constante. Quando um usuário

deixa de participar das atividades, como o

grupo de apoio, por exemplo, é realizada

uma visita a sua casa para verificar o que

aconteceu e incentivar a volta dele ao tra-

tamento. “O sucesso do projeto deve-se à

comunicação entre as áreas e ao estabele-

cimento o sentimento de que o usuário vai

ter as portas sempre abertas para receber

ajuda. É apoiar e incluir esse dependente e

não afastá-lo”, finaliza Giansqui.

Dependentes químicos participam de atividades como oficinas terapêuticas em Sobradinho

DIVULG

AÇÃO/PM

S

Page 22: Revista Assedisa - Edição 3

22 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Vivência do Agente Comunitário da Saúde com crianças menores de seis anos Município: CandeláriaApresentadora do Trabalho: Líria Maria Reis Coautores: Flavia Liane Goelzer, Adriane Melchior dos Santos, Ângela Cleonice de Vargas Souza, Maiara Bianca Haetinger, Tatiana Ristow, Rosa Eni Wagner, Diovana Winter, Janeice Knak, Agada Wegner, Tiesse Zuge, Josiane Inês Faber, Neuza Maria Pasa, Daiane Auler

FLAVIA LIANE GO

ELZER/D

IVULGAÇÃO

FLAVIA LIANE GO

ELZER/D

IVULGAÇÃO

Quando se fala em ações de saúde

voltadas para os pequenos é necessário

pensar em formas criativas de envolvê-

-los, caso contrário a criança pode rejeitar

o tratamento, gerando um desgaste tanto

para ela quanto para o profissional de saú-

de. Buscando melhorar essa dinâmica de

acompanhamento entre crianças meno-

res de seis anos os agentes comunitários

de saúde (ACS) da Secretaria de Saúde de

Candelária, por intermédio da Política da

Estratégia de Agentes Comunitários de

Saúde (EACS), desenvolveram soluções

simples, de baixo custo e que se mostra-

ram eficientes.

Soluções simples e criativas auxiliam na ação de agentes comunitários com crianças em Candelária

tes, pois quando a criança rejeitava o sul-

fato ferroso, não era possível saber quanto

da medicação havia sido ingerida. “Como

havia essa incerteza, não se podia admi-

nistrar novamente, para não haver a su-

perdosagem. Agora, com a seringa, prati-

camente não há perdas. Além de o líquido

ser ingerido pela criança, a figura colocada

na seringa distrai”, diz.

Para pesar a criança de colo, hoje é

utilizada uma banheira sobre a balança.

Assim não é necessário usar o equipamen-

to de suspensão, o que assustava muito os

menores, conta Líria. Para medir a altura,

outra etapa que havia resistência por parte

das crianças, o corpo da mãe serve como

referência e não mais a parede, ou seja, a

mãe segura a criança próxima a seu corpo

e a partir daí os agentes de saúde efetuam

a medição. A próxima implementação será

o uso de uma fita métrica enfeitada, na

qual as crianças poderão colar com velcro

a figura de bichos para, assim, transfor-

mar a tarefa em diversão.

O projeto contará com o apoio de ou-

tro serviço da SMS. Serão os usuários do

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que

confeccionarão os enfeites das seringas de

10ml nas oficinas terapêuticas, que até aqui

eram feitos pelos agentes. Líria conta que o

cenário onde a criança fugia quando avis-

tava o agente de saúde começou a mudar e

a recepção hoje é amistosa. “Hoje elas cor-

rem para abraçar os agentes, pois os proce-

dimentos não parecem mais uma tortura.

Não tem choro e nem estresse”, finaliza.

O corpo da mãe é usado como referência na medição da altura da criança

A busca para um crescimento e desen-

volvimento com saúde para as crianças de

Candelária é uma constante na vida dos

agentes. A cada visita domiciliar, uma sé-

rie de dados, como peso e altura, é coleta-

da. Porém, a forma como esse levantamen-

to era realizado acabava por parecer uma

sessão de tortura para os pequenos, que

sempre terminavam chorando.

Uma das dificuldades relatada pelos

agentes de saúde era quanto à administra-

ção correta do sulfato ferroso, suplemento

que visa evitar a anemia ferropriva. Mui-

tas vezes a criança se debatia recusando

a medicação. Para evitar esta situação,

passaram a utilizar uma seringa de 10ml,

disfarçada pela imagem de uma abelha fei-

ta em material de EVA. Assim, os agentes

conseguiram acabar com o medo e a rejei-

ção por parte das crianças.

A enfermeira e supervisora da EACS

Líria Reis explica que este processo cos-

tumava gerar muita insegurança aos agen-

Page 23: Revista Assedisa - Edição 3

23

O SUS É NOSSO

Ficha TécnicaFicha TécnicaTítulo da experiência: Ensino, Serviço e Saúde – articulação do Município com a Universidade – A experiência da RIS Município: CanoasApresentadora do Trabalho: Míria Elisabete Bairros de CamargoCoautores: Luzia Fernandes Milão, Mitiyo Shoji Araújo, Leandro Gomes dos Santos

A Secretaria de Saúde de Canoas

(SMS) e a Universidade Luterana do

Brasil (Ulbra) firmaram parceria para

a realização do projeto Ensino, Serviço

e Saúde – A Experiência da Residência

Integrada em Saúde (RIS). A articula-

ção entre o município e a universidade

é realizada na unidade de Estratégia de

Saúde da Família (ESF) do Bairro Ma-

thias Velho. Dentro deste território, foi

escolhida a área da Vila Getúlio Vargas

para a execução do projeto. Conforme

explica a diretora de Políticas e Ações

em Saúde da SMS, Míria Bairros de Ca-

margo, a seleção foi feita com base nos

índices de vulnerabilidade do local.

Projeto de integração entre município e universidade aproxima teoria e prática e leva recursos de saúde para comunidade em Canoas

da prática local de uma equipe Estraté-

gica de Saúde não contempla uma for-

mação profissional com integralidade

na Atenção à Saúde. “A partir do pro-

jeto, estes profissionais em formação

podem vivenciar os problemas reais de

uma comunidade, o que possibilita uma

produção de conhecimentos em saúde

com base na realidade da população”,

explica. A diretora acrescenta que, des-

ta forma, as práticas de saúde interagem

com o ensino, a pesquisa e a Atenção à

Saúde, dentro dos princípios e das dire-

trizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Utilizando a estrutura do ESF União,

profissionais selecionados para a RIS

atuam em conjunto com os agentes de

saúde, contando sempre com a precep-

toria dos professores da universidade

e dos profissionais da SMS. A parceria

atualmente conta com profissionais nas

áreas médica, de enfermagem, farmá-

cia, fonoaudiologia e assistência social.

Programas como a Rede Cegonha, des-

tinado às gestantes, e o Hiperdia, com

foco em hipertensos e diabéticos, são

trabalhados dentro do projeto.

Tendo a instituição de ensino assu-

mido esta área na Vila Getúlio Vargas,

foi realizado o cadastramento e a iden-

tificação da população, em 2011, e des-

de então, passaram a desenvolver ativi-

dades junto ao apoio do núcleo do ESF.

Desde 2012, a Ulbra tem cadastro junto

ao Ministério da Saúde e o projeto con-

ta com recursos federais para o paga-

mento dos profissionais em formação,

que cumprem carga horária de 60 horas

semanais, sendo 40 horas práticas e 20

horas destinadas à pesquisa teórica.

Turma de residentes da Ulbra passou a atuar na comunidade da Vila Getúlio Vargas; na foto uma reunião entre os integrantes do projeto

Dentro da estrutura do ESF União, as alunas podem obter uma formação profissional com integralidade na Atenção à Saúde

DIVULG

AÇÃO/PM

C

O projeto prevê a formação de re-

cursos humanos nas diferentes áreas

da saúde. Míria explica que a distância

entre a teoria pedagógica e a realidade

Míria Bairros de Camargo

A partir do projeto, estes profissionais em

formação podem vivenciar os problemas reais de

uma comunidade, o que possibilita uma produção

de conhecimentos em saúde com base na realidade da

população.

DIVULG

AÇÃO/PM

C

Page 24: Revista Assedisa - Edição 3

24 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

A Secretaria de Saúde (SMS) de Santa

Cruz do Sul, por intermédio do programa

Primeira Infância Melhor (PIM), da Secre-

taria de Saúde do Estado, desenvolve des-

de 2010 um trabalho intersetorial na pre-

venção da violência e no desenvolvimento

da cidadania de crianças entre zero e seis

anos. O projeto, batizado de PIM Canguru,

consiste na aprendizagem destes temas por

meio da utilização de livros, e está presente

em três comunidades do município, sensibi-

lizando mais de cem famílias para a impor-

tância dos primeiros anos de vida de uma

criança em sua formação como cidadão.

A coordenadora do PIM de Santa Cruz

do Sul, a psicóloga Márcia Forster Wazla-

wik, diz que o projeto foi pensado a partir

da existência de recursos destinados a tra-

balhos de prevenção à violência. “Como tra-

balhar a questão da violência em crianças

dessa idade? Sensibilizando as famílias da

importância do desenvolvimento da cida-

dania e do cuidado, da relação de carinho

familiar”, explica. E os livros foram o ins-

trumento escolhido para promover essa

interação das famílias com seus filhos. “Por

meio do livro, a mãe senta com o filho, mos-

tra as figuras, fala sobre a história”.

Projeto desenvolvido por Santa Cruz do Sul une saúde, educação e cidadania através da leitura

Ficha TécnicaFicha TécnicaTítulo da experiência: PIM Canguru, levando aprendizagem com carinho Município: Santa Cruz do SulApresentadora do Trabalho: Márcia Rosana Forster WazlawikCoautores: Marilene Alves da Conceição, Ivetes Goettert, Maria Elijara Sales

des, em que além de disponibilizar a bi-

blioteca, são realizadas palestras, oficinas e

contação de histórias.

Os livros adquiridos pelo PIM, com

orientação da Secretaria Municipal da

Educação e Cultura, são apropriados para

a faixa de idade trabalhada: coloridos, com

texturas e sons, além dos feitos de plástico,

destinado aos menores. Desta forma, é prio-

rizada não só a interação familiar, como o

desenvolvimento cognitivo da criança.

Com o auxílio da Secretaria Municipal

de Desenvolvimento Social, é estimulada a

responsabilidade social por meio do cuida-

do da família para com o livro. “O familiar

que cuida do livro está cuidando também

do seu filho, pois está ensinando para ele

que é preciso zelar pelo patrimônio da co-

munidade”, diz Márcia. O empréstimo é

feito por até 15 dias e se não houver a devo-

lução na data marcada, o PIM, junto com o

agente de saúde responsável, vai até a casa

da família para verificar o que aconteceu.

“A visita não é realizada com o intuito de

cobrar e sim de tentar entender o motivo de

o livro não ter sido devolvido. Se foi extra-

viado, sugerimos uma forma de cuidar me-

lhor deste material”, exemplifica.

Márcia diz que o projeto vai muito além

de oferecer livros através de uma bibliote-

ca. “Por meio do acesso aos livros e da apro-

ximação com a família, a criança recebe va-

lores de cidadania e inclusão e desenvolve

sua autoestima. Assim, poderemos evitar

problemas futuros, como o envolvimento

desse público com drogas”, finaliza.

O PIM Canguru está presente em co-

munidades de três bairros de Santa Cruz do

Sul: Bom Jesus, Glória e Cristal. A escolha

desses locais se deu devido ao índice de vul-

nerabilidade social e, principalmente, a um

número expressivo de crianças entre zero e

seis anos – mais de 1,2 mil. Os livros ficam

disponíveis para empréstimo nas unidades

de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e

há um cronograma específico de ativida-

Atividades como a contação de histórias são promovidas pelo projeto. Na foto, mães e filhos assistem atentos ao momento lúdico no ESF Bom Jesus

DIVULG

AÇÃO/PM

SCS

Márcia Forster Wazlawik

O familiar que cuida do livro está cuidando também do seu filho, pois está ensinando

para ele que é preciso zelar pelo patrimônio da

comunidade.

“”

Page 25: Revista Assedisa - Edição 3

25

O SUS É NOSSO

A partir da identificação de que as

ações da área de Educação Permanente da

Secretaria da Saúde (SMS) de Porto Ale-

gre estavam fragmentadas, foi incluído no

Plano Municipal de Saúde, aprovado no fi-

nal de 2010, a construção de um Plano de

Educação Permanente da Atenção Primá-

ria em Saúde (APS) visando ao desenvolvi-

mento de ações que contemplassem todas

as áreas técnicas de saúde do município.

Conforme a responsável pela Área

Técnica de Educação Permanente da

Atenção Primária em Saúde de Porto

Alegre, Gerci Rodrigues, havia uma sé-

rie de questões a resolver dentro da APS,

sendo a principal delas a falta de uma

visão interdisciplinar do trabalho, o que

acabava por enfraquecer as ações. “Tí-

nhamos diversos projetos, mas não ocor-

ria um diálogo entre as diferentes áreas

da secretaria de modo a permitir que

essas ações fossem planejadas com um

enfoque ampliado para que se atingisse

um melhor resultado”, explica Gerci.

No segundo semestre de 2011, o pla-

no começou a tomar forma após o diálogo

com as áreas técnicas da secretária, bus-

cando a intersetorialidade para a solução

dos problemas pontuais. “Um parecer do

Tribunal de Contas do Estado (TCE) apon-

tava para a falta de análise do processo, da

Porto Alegre usa diálogo para potencializar ações

fragmentação e ausência de critérios de

participação e avaliação dentro da Educa-

ção Permanente, diagnóstico que já havía-

mos chegado internamente e desencadea-

do ações para revertê-lo”, conta.

Foram idealizados 54 subprojetos

para serem realizados durante o ano de

2012. Essas ações dialogam entre si, den-

tro de um calendário unificado, para que

não haja colisão entre elas. Gerci explica

que dentro desta organização foi possível

focar melhor as sub-regiões da Capital,

permitindo traçar um perfil epidemio-

lógico de toda a cidade. “O profissional

que trabalha no bairro do Centro precisa

de um tipo de treinamento para atender

determinada demanda epidemiológica,

diferente do profissional que atua na Res-

tinga ou nas Ilhas,” exemplifica.

Apesar de ainda não ser possível

medir os resultados do projeto, que en-

trou em ação em janeiro de 2012, Gerci

conta que se percebe uma maior comu-

nicação entre todas as áreas técnicas da

SMS o que se reflete de maneira positi-

va no trabalho do dia a dia. Para o dia

14 de dezembro de 2012, está prevista a

realização da Feira de Resultados, onde

os servidores da saúde de Porto Alegre

poderão mostrar suas experiências bem-

-sucedidas, produzidas dentro do plano

de Educação Permanente.

Oficinas sobre prevenção à violência constam no projeto

Profissionais envolvidos no Programa Saúde da Família participam de atividade sobre o trabalho infantil

Ficha TécnicaTítulo da experiência: Construção do Plano de Educação Permanente da APS Município: Porto AlegreApresentadoras do Trabalho: Christiane Nunes de Freitas e Gerci Salete Rodrigues

DIVULG

AÇÃO/PM

PA

DIVULG

AÇÃO/PM

PA

Page 26: Revista Assedisa - Edição 3

26 | www.cosemsrs.org.br

CENTRAL

partir de agora, a Associação

dos Secretários e Dirigentes

Municipais de Saúde do Rio

Grande do Sul, a Assedisa,

passa a usar a denominação Conselho das

Secretarias Municipais de Saúde do Rio

Grande do Sul, o Cosems/RS. A mudança

se faz necessária devido à determinação

prevista no Decreto 7.508, de 28/06/11.

O presidente da Assedisa-Cosems/RS,

Arilson Cardoso, explica que a mudança

permitirá um alinhamento com todos os

outros conselhos de secretarias municipais

de saúde do país. “A entidade não perde

sua força de representação, mas a partir da

mudança no nome estaremos integrados e

unificados com os outros Cosems”, ressalta.

Assedisa passa a se chamar Cosemspara se adequar à rede de conselhos

O presidente diz que uma mudança sem-

pre causa estranheza e até alguma resistên-

cia, mas ela se faz necessária para o avanço

no processo histórico da entidade. “Já pas-

samos por tantas mudanças dentro do SUS

que avançarmos e mudarmos o nome da

nossa entidade para adequar à nova reali-

dade, à nova legislação, não vai trazer pre-

juízo para nós”, conta o presidente. Arilson

enfatiza ainda a grandeza da entidade que

nos seus 26 anos de existência contou com

diversas lideranças marcantes para o desen-

volvimento do SUS em todo o país.

De acordo com Cardoso, a mudança

é bastante difícil devido à força histó-

rica da entidade, pioneira na organiza-

ção dos gestores municipais de saúde

no País e exemplo para a criação dos

conselhos dos outros Estados do Brasil.

“A Assedisa vai estar sempre presente

nas nossas ações, mas temos que evo-

luir junto com a história de construção

do Sistema Único de Saúde (SUS) nesse

país. Não podemos ficar única e exclu-

sivamente apegados aos nossos costu-

mes”, afirma.

A

Quarto Serviço Residencial Terapêutico de Caxias do Sul permitirá a desinstitucionalização de todos os moradores

EDU RICKES/CBR

A Assedisa vai estar sempre presente nas nossas ações, mas

temos que evoluir junto com a história de construção do Sistema

Único de Saúde nesse país.

”A partir da segunda metade da déca-

da de 1980, o Brasil se viu diante de inú-

meras reformas políticas após um longo

período sob regime militar. Dentre as

mudanças que tomavam forma na épo-

ca estava a criação da Comissão da Re-

forma Sanitária, que seria instalada no

país para a preparação de uma proposta

de reforma do Estado brasileiro, a ser

Pioneirismo da Assedisa foi fundamental na constituição dos Conselhos em outros estados

incluída na Assembleia Nacional Cons-

tituinte de 1988. Em março de 1986, na

8ª Conferência Nacional de Saúde, ocor-

rida em Brasília, a Assembleia Nacional

Constituinte era ainda uma proposta,

mas já existia o sentimento de organiza-

ção por parte das diferentes áreas de go-

verno. Os gestores municipais sentiram

aí a necessidade da organização de uma

associação de secretários municipais de

Saúde nos Estados, objetivando a criação

de uma entidade Nacional, que estabele-

cesse uma representação junto aos Es-

tados, ao Governo Federal e na referida

Comissão da Reforma Sanitária.

Neste cenário de mudanças, 77 re-

presentantes de municípios das diversas

partes do país participaram de uma reu

Assedisa tem a tradição de liderar as discussões dos gestores municipais de saúde, influenciando de maneira decisiva nas políticas públicas em nível estadual e nacional; na foto os gestores reunidos no

Congresso de 2011, que aconteceu em Bento Gonçalves

Arilson Cardoso

Page 27: Revista Assedisa - Edição 3

27

CENTRAL

nião informal – realizada nos degraus

do ginásio de esportes que recebeu a 8ª

Conferência Nacional de Saúde. Naque-

le momento, se iniciaram as articulações

para a criação de um órgão nacional que

representasse as secretarias de saúde de

todo os municípios brasileiros. Do Rio

Grande do Sul, estavam presentes os ges-

tores de saúde de Pelotas, Santana do Li-

vramento, Passo Fundo e Venâncio Aires.

Secretário municipal da Saúde de

Venâncio Aires em 1986, José Eri de

Medeiros, relembra que pouco tempo

depois do encontro ocorrido em Brasí-

lia, os secretários gaúchos presentes na

ocasião fundaram, em junho do mesmo

dade na Assembleia Nacional Constituinte,

onde defendeu a proposta da Comissão de

Reforma Sanitária e das decisões da 8ª

Conferência Nacional de Saúde, que previa

a construção de um Sistema Universal e a

saúde como direito de cidadania e dever do

Estado. “A entidade sempre esteve ao lado

das diversas gestões do Governo Estadual

para a construção do Sistema Estadual de

Saúde, atuando na articulação do repasse

fundo a fundo dos recursos financeiros da

União e dos Estados. Dentro desta busca

de parceria com a Secretaria Estadual da

Saúde, a Assedisa teve atuação de peso na

construção do Conselho Estadual de Saúde,

no Governo Simon,” exemplifica Medeiros.

Ata da reunião realizada em 20/6/1986 é a Certidão de Nascimento da Assedisa

DIVULG

AÇÃO

ano, na sede do Instituto Nacional de As-

sistência Médica da Previdência Social

(Inamps), a Associação dos Secretários

e Dirigentes Municipais de Saúde do Rio

Grande do Sul – a Assedisa. “A entidade

desde o início buscou uma articulação

com a Famurs e, a partir de então, pas-

sou a participar ativamente na constru-

ção do Sistema Único de Saúde (SUS),

primeiro atuando nas Ações Integradas

de Saúde (AIS), no Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (Suds) e, final-

mente na criação da entidade nacional,

em abril de 1988”, conta.

Medeiros, um dos fundadores da asso-

ciação gaúcha, ressalta a atuação da enti-

A ideia articulada pelos 77 repre-

sentantes municipais da saúde só veio

ganhar vida em 1988 com a criação do

Conselho Nacional das Secretarias Mu-

nicipais de Saúde (Conasems). José Eri

de Medeiros foi vice-presidente para a

Região Sul na primeira gestão e presi-

diu o Conasems entre os anos de 1989

e 1993. “Os secretários municipais de

Saúde participaram ativamente como

sujeitos tanto no processo da Assembleia

Nacional Constituinte, quanto nas Leis

Orgânicas da Saúde 8.080 e 8.142 e na

organização da estrutura do Conselho

Nacional de Saúde. Este foi buscar a in-

terlocução entre as esferas de governo,

com proposta discutida na Assedisa e

formalizada pelo Conasems na primeira

reunião do Conselho, em 1991, a criação

das Comissões Intergestoras Tripartite

e Bipartite, como espaço de discussão e

pactuação para a implementação do Sis-

tema Único de Saúde”, finaliza.

A entidade sempre esteve ao lado das diversas

gestões do Governo Estadual para a construção

do Sistema Estadual de Saúde, atuando na articulação do repasse

fundo a fundo dos recursos financeiros da União

e dos Estados.

”José Eri de Medeiros

Page 28: Revista Assedisa - Edição 3

28 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

1986-1987Miguel Schimitt-Prym

1988José Eri de Medeiros

1989-1990Arita Bergmann

1991-1992Alberi Grando

1993-1994José Eri de Medeiros

1995Angela Bassotto

1996Miguel Schimitt-Prym

1997-2002Francisco Isaías

2003-2007Luciano Von Saltiel

2007-2008Roberto Miele

2009-2013Arilson Cardoso

Desde a criação da Associação dos

Secretários e Dirigentes Municipais de

Saúde, em 1986, os secretários munici-

pais de saúde do Estado do Rio Grande

do Sul trabalham constantemente pela

municipalização da saúde. E durante es-

tes 26 anos de história, a entidade con-

tou com a liderança de personalidades

engajadas no estabelecimento de um

SUS de qualidade para todos. Os nomes

de todos os presidentes que ajudaram a

Assedisa ser uma entidade respeitada

e reconhecida nacionalmente pode ser

conferida abaixo:

Presidentes da Assedisa

REVISTA COSEMS/RS – Como o senhor avalia a atuação da entidade nestes 27 anos? JOSÉ ERI DE MEDEIROS - A Assedisa

teve papel decisivo na descentralização

do sistema, para todos os municípios

brasileiros, tanto no ponto de vista da

gestão como também na participação

da comunidade, sendo essencial para

as transformações em curso. A 9ª Con-

ferência Nacional de Saúde, que teve o

tema Saúde – Municipalização é o ca-

minho. Sem fazer uma avaliação quali-

tativa sobre o Sistema anterior e a par-

ticipação dos municípios na Reforma.

Um exemplo é o município de Venâncio

Aires, que tinha duas Unidades de Saú-

de, em 1988, e hoje são mais de 12 Postos

Municipais de Saúde e Centro de Espe-

cialidades, sendo esta uma realidade,

com certeza, não só nos municípios do

RS, como também no Brasil.

REVISTA COSEMS/RS – Em termos da luta pela saúde pública e pela autonomia dos municípios, o que mudou nas últimas duas décadas? JEM - Acredito que foi fundamental a

realização da 9ª Conferência Nacional

de Saúde, liderada e coordenada pelo

Conasems, com o tema central Saúde

- Municipalização é o caminho. A con-

ferência reafirmou os princípios da des-

centralização e dos municípios assumin-

do, de fato, como comando único na luta

pelos repasses dos recursos financeiros,

fundo a fundo, com a criação do PAB. Em

1998, pela primeira vez, houve o repasse

direto, fundo a fundo, sem ser de paga-

mentos de procedimentos realizados pela

nossa rede assistencial, já em crescimen-

to. Este ponto, ou seja, o artigo 35 da Lei

Orgânica de Saúde, de 19 de setembro

de 1990, continua ainda uma discussão

viva, mesmo com a Lei Complementar

número 141 de janeiro de 2012.

REVISTA COSEMS/RS – No Rio Grande do Sul, há uma queixa dos municípios em re-lação ao baixo financiamento da Saúde por parte do Governo do Estado e também por parte do Governo Federal. O senhor avalia que isso possa mudar a curto prazo? JEM - Nós sabemos as dificuldades es-

truturais orçamentários e financeiras do

Estado do Rio Grande do Sul e acredito

que em curto espaço de tempo, o Gover-

no deverá estar adequado, conforme a

legislação. E o papel da Assedisa será

fundamental nesta caminhada, que é de

todas as forças do Rio Grande do Sul, na

ampliação e busca de alternativas para o

aumento dos investimentos no Sistema

Único de Saúde.

Quanto ao Governo Federal, mesmo

com o veto, da proposta de EC 29, os

10% das receitas correntes brutas da

União para a saúde foi recentemente

criado o Movimento Nacional em Defesa

da Saúde Pública, que por meio de uma

iniciativa popular vai apresentar projeto

de lei estabelecendo o mínimo de 10%

de sua receita corrente bruta (RCB), da

União, para a saúde pública. Neste mo-

vimento, em sua coordenação nacional

está o Conasems, entre dezenas de ou-

tras entidades e movimentos sociais,

tendo mais informações em nosso site

www.saudemaisdez.org.br.

Entrevista com José Eri de Medeiros,Conselheiro Honorário do Conasems

Medeiros é um dos fundadores do movimento que criou a Assedisa e mais tarde o Conasems

DIVULG

AÇÃO/ARQ

UIVO PESSOAL

Page 29: Revista Assedisa - Edição 3

29

CENTRAL

Assedisa atuou como protagonista no movimento de municipalização do Estado do RS

Após o estabelecimento da Assedisa,

se fez necessário a criação de um estatuto

que regulasse o funcionamento da entida-

de. Ao então chefe de gabinete da Prefei-

tura de Panambi, Miguel Schimitt-Prym,

coube a tarefa de redigir este documento.

Pouco depois, Prym foi eleito o primeiro

distante”, conta Prym que atualmente é

prefeito do município de Panambi, na Re-

gião do Planalto.

Com a Assedisa devidamente consti-

tuída como entidade, foi tempo de percor-

rer o Rio Grande do Sul na mobilização

para o entendimento da importância da

criação de uma pasta que tratasse dos as-

suntos da saúde dentro dos municípios.

“Percorremos várias cidades e quase todo

mundo aceitou o desafio de criar uma

secretaria de saúde no seu município.

Trabalhamos com prefeitos, vereadores,

para aumentar o número de secretarias e

tornar, assim, o movimento mais forte”,

relata. A criação da reforma sanitária era

iminente e precisava de uma ampla par-

ticipação dos municípios que de acordo

com o que recorda Prym, em muitos não

havia nem ao menos um departamento

destinado à saúde. “Com a aproximação

da Assembleia Constituinte, consegui-

mos fazer um grande movimento para

incluir na pauta o capítulo da saúde, que é

um direito de todos e o dever do Estado. E

só conseguimos isso porque o movimento

já era intenso aqui no Estado”, afirma.

Há época da criação da entidade, a si-

O atual prefeito de Panambi, Miguel Schimitt-Prym, foi eleito o primeiro presidente da Assedisa, em 1986

DIVULG

AÇÃO/PM

P

tuação do Brasil era totalmente dependente

do Inamps no que tangia a saúde pública, de

acordo com o que conta Prym. “O INAMPS

tinha a limitação de ter carteirinha, ter

que ser trabalhador em alguma empresa,

ter carteira assinada para ter direito. Era

limitado”, explica o prefeito que ainda

lembra que nos hospitais, inclusive os fi-

lantrópicos, havia um espaço chamado de

presidente da Associação dos Secretários

e Dirigentes Municipais de Saúde. “Na

época nós tínhamos em todo o Estado do

RS não mais que 20 municípios com se-

cretarias de saúde. O SUS estava engati-

nhando e ainda era uma proposta muito

ala de indigentes, que era destinado aos

mais pobres e desassistidos pelo INAMPS.

Desde então, Miguel Schimitt-Prym

diz que a saúde evolui significativamente

e que nenhuma das reformas de políticas

públicas chegou perto da importância da

reforma sanitária, na qual todos os mu-

nicípios já estão comprometidos com a

questão da saúde. E esta grande reforma

se deve em muito à atuação da Assedisa

dentro do Rio Grande do Sul. “O movi-

mento de municipalização no Rio Grande

do Sul foi sem dúvida alguma resultado

do trabalho da Assedisa. Esse movimen-

to ainda tem um papel muito importante

para cumprir, pois estamos muito longe

daquilo que sonhávamos quando criamos

a entidade. Queríamos que todos os muni-

cípios tivessem uma secretaria, que as se-

cretarias fossem autônomas, que tivessem

um orçamento à altura de suas demandas.

Ainda estamos distante daquilo que vis-

lumbramos e que o povo merece”, finaliza.

Com a aproximação da Assembleia Constituinte,

conseguimos fazer um grande movimento

para incluir na pauta o capítulo da saúde, que é um direito de todos e o

dever do Estado.

”Miguel Schimitt-Prym

O movimento de municipalização no Rio Grande do Sul foi, sem

dúvida alguma, resultado do trabalho da Assedisa. Esse movimento ainda

tem um papel muito importante para cumprir, pois estamos muito longe

daquilo que sonhamos quando criamos a

entidade.

”Miguel Schimitt-Prym

Page 30: Revista Assedisa - Edição 3

30 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

“A mudança no nome não apaga a história da entidade”, diz Maria Luiza Jaeger

Tendo atuado como secretária de Saúde

no município de Porto Alegre (1989 a 1992)

e no Estado do RS (1999 a 2002), Maria

Luiza Jaeger acompanha desde o início, na

década de 1980, a trajetória da Associação

dos Secretários e Dirigentes Municipais de

Saúde do Rio Grande do Sul (Assedisa) na

defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A existência de uma entidade como essa é

fundamental para se ter uma atuação cole-

tiva em relação às necessidades de cada um

dos municípios e também para o conjunto

de municípios, sempre pensando no Esta-

do como um todo. E a Assedisa sempre foi

muito importante nesta discussão”, explica.

Como secretária municipal de Saúde de

Porto Alegre, Maria Luiza conta que acom-

panhou de perto a criação da Lei Orgânica

da Saúde. Por meio da Assedisa, participou

de um debate nacional em que a questão do

Ela acompanhou de perto o desenvolvimento da Assedisa como secretária municipal de Saúde de Porto Alegre e como secretária estadual de Saúde

Alberi Grando,presidente da Assedisa no biênio 1991-1992.

Muito do que se conquistou em municipalização da saúde foi graças à Assedisa. O trabalho foi intenso, com grande liderança,

principalmente quanto à orientação aos prefeitos e aos secretários da saúde em relação a como montar um plano de saúde municipal

naquela época. Quando da construção da Lei Orgânica do SUS a participação da entidade foi constante. Muito do que está na Lei foi

construído no RS e levado a Brasília. A Assedisa foi fundamental para a construção do SUS sem dúvida alguma.

financiamento e do repasse de recursos dos

municípios foi amplamente discutida tendo

em vista, na época, um tratamento que, no

mínimo, se igualasse ao dispensado para o

setor privado conveniado.

Diferente do que acontece em muitos

estados, a Assedisa sempre teve um diálo-

go aberto e uma presença constante dentro

do Conselho Estadual de Saúde. O exemplo

que nasceu aqui no Rio Grande do Sul, com

a Assedisa, serviu de referência aos demais

estados do país. “As conquistas do Estado

no que se trata de saúde, como o repasse

fundo a fundo, foram fruto de um amplo

diálogo entre o governo estadual e as re-

presentações municipais encabeçadas pela

Assedisa e a Famurs”, exemplifica.

Maria Luiza acredita que no momento

atual, onde a Emenda 29 é regularizada, a

presença de uma representação forte se faz

cada vez mais fundamental para que seja

discutida a montagem de uma rede sólida

de atenção integral à saúde. “A mudança

no nome não apaga a história da entidade,

sempre importante na implantação do Sis-

tema Único de Saúde do país. Nesta discus-

são coletiva, conseguiram-se avanços que

depois foram copiados no resto do Brasil”,

finaliza Maria Luiza Jaeger, que hoje parti-

cipa da Rede Unida e presta consultoria em

assuntos de saúde pública.

A existência de uma entidade como essa é

fundamental para se ter uma atuação coletiva em

relação às necessidades de cada um dos municípios. E a Assedisa sempre foi muito importante nesta

discussão.

”Maria Luiza Jaeger

DIVULG

AÇÃO/RED

E UNID

A

DIVULG

AÇÃO/CM

PF

Page 31: Revista Assedisa - Edição 3

31

CENTRAL

Uma das pioneiras do movimento

que fundou a Assedisa, a atual secre-

tária de Saúde de Pelotas, Arita Berga-

mann, acredita que muitas conquistas

dos municípios foram possíveis graças

ao grande número de gestores munici-

pais unidos, por meio da entidade. As-

sim, foi possível não só dirimir dúvidas,

mas também buscar apoio para reivindi-

car junto às instâncias estadual e federal

aquilo que era necessário para implantar

efetivamente o SUS em todo o país. “A

história da nossa entidade é a compro-

vação de que o movimento municipalista

foi decisivo na organização dos locais de

saúde colocando no município o papel de

grande articulador, coordenador e exe-

cutor de ações de saúde mais próximas

da população”, explica.

Vitória no primeiro Piso Estadual de Saúde

Ao lembrar da trajetória da Assedi-

sa, a qual presidiu na gestão 1989-1990,

Arita fala que é sem dúvida uma história

recheada de conquistas no Estado do Rio

Grande do Sul. Vitórias como a implanta-

ção de um piso estadual de saúde - emen-

da apresentada para orçamento do Estado

pela Assedisa e pela Famurs, em 1999, no

primeiro ano de Governo de Olívio Dutra.

“Conseguimos colocar pela primeira vez

no orçamento do Estado um elemento or-

çamentário que previa a transferência de

recursos fundo a fundo para os municí-

pios. Outra questão é a do cumprimento

da EC 29, pois ela está regulamentada e

os municípios foram os primeiros entes

da federação a cumprir o percentual dos

15%,” exemplifica.

Vivência nos dois lados do processo administrativo

De 2003 a 2010, Arita Bergmann

exerceu cargos de gestão na Secreta-

ria Estadual de Saúde (SES), tendo sido

secretária da pasta em 2010, onde vi-

venciou o outro lado no processo admi-

nistrativo. “O meu coração sempre foi

municipalista e creio que é de qualquer

cidadão que tenha experiência de gestão

pública. Evidentemente que como ges-

tora estadual o olhar também tinha que

ser feito para o todo do Estado do Rio

Grande do Sul, mas todos nós sabemos

que as coisas acontecem, os projetos são

executados, as ações são desenvolvidas

na base do município”, explica a secretá-

ria. Arita diz nunca ter vivenciado con-

flitos devido às suas funções de gestão

no Estado, pois os grandes objetivos das

gestões públicas de saúde nos governos

federal, municipal ou estadual são pro-

mover ações e serviços para que os cida-

dãos tenham o direito pleno à sua saú-

de. Sobre a experiência com a Assedisa,

enquanto representante do Estado, Arita

Bergmann conta que o posicionamen-

to era democrático, dialogado e sempre

buscando o consenso.

A força da Rede Básica

No que diz respeito ao papel dos mu-

nicípios na saúde, a secretária explica

que hoje eles assumiram diversas res-

ponsabilidades não só por competência

constitucional, mas que esse compro-

misso vem sendo qualificado. “Hoje a

totalidade dos municípios gaúchos tem

uma secretaria municipal de saúde, con-

selhos municipais de saúde e uma gestão

de acordo com o que assume perante a

sua instância de gestão. Somos o Estado

brasileiro com o menor índice de mor-

talidade infantil, por exemplo, e esse é

fruto de um trabalho conjunto de admi-

nistrações municipais, administração do

Estado, de instituições parceiras e dos

trabalhadores de saúde, que são a força

que está na rede básica executando ações

de ponta no sentido de promover a pre-

venção de saúde”, enfatiza.

História da Assedisa atesta a importância dos municípios como articuladores da saúde

A história da nossa entidade é a comprovação

de que o movimento municipalista foi decisivo na organização dos locais

de saúde colocando no município o papel

de grande articulador, coordenador e executor

de ações de saúde mais próximas da população.

”Arita Bergamann

ITAMAR AG

UIAR/PIR

ATINI

Page 32: Revista Assedisa - Edição 3

32 | www.cosemsrs.org.br

GESTÃO

revisto para entrar em fun-

cionamento ainda no primei-

ro semestre de 2012, o mapa

digital das dezesseis áreas de

Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o

georreferenciamento da zona rural de San-

ta Rosa são a aposta para qualificar signi-

ficativamente as ações das equipes de saú-

de. Com caráter inovador, as ferramentas

possibilitarão que se façam planejamentos

estratégicos da Saúde, a partir da realidade

local, com confiabilidade e mais rapidez.

Os projetos de mapeamento digital e o

georreferenciamento começaram a ser for-

matados no final de 2009. Nos primeiros

meses de 2010 foram pontuadas todas as

áreas de ESF pelo GPS. O longo trabalho de

campo, finalizado em dezembro de 2011, re-

velou preciosos dados sociais e geográficos,

colocando no mapa cada família da zona ru-

ral, que agora tem a residência precisamente

localizada, inclusive com o mapeamento do

acesso. Desde o início deste ano o sistema

vem sendo alimentado com os dados.

“Temos 2.876 famílias que residem

na zona rural, cada uma delas recebeu

Projeto inovador vai qualificar ações de saúde em Santa Rosa

ciamento só é possível no meio rural. Na

zona urbana, a sobreposição dos núcleos

familiares nos condomínios verticais e

nos aglomerados habitacionais dificulta o

trabalha de demarcação.

Além de receberem uma identificação

com números, cada núcleo foi identifica-

do com dados como o número de inte-

grantes, idades dos moradores e doenças

que apresentam, se têm água tratada ou

não, entre outros dados. “Essas informa-

ções trazem clareza para as ações, além

de possibilitarem a construção de mapas

temáticos”, comemora Glaci. Na prática,

os profissionais poderão mapear casos de

dengue, por exemplo, criando um raio de

atuação da equipe, de forma que se faça

uma ação preventiva mais rapidamente.

Com a nova ferramenta fica facilita-

do o trânsito de informações coletadas

pelos Agentes Comunitários de Saúde

(ACS). “Isso ocorrerá quando o trabalha-

dor clicar no mapa no número da família

da zona rural da qual ele quer acessar

as informações de localização, número

de pessoas, número de idosos, menores

de um a cinco anos, hipertensos e dia-

béticos e demais informações disponibi-

lizadas, o que facilitará a compreensão

inclusive das dificuldades de acesso e

muitas vezes da adesão aos tratamentos

propostos”, argumenta.

P

um número de identificação”, conta a

diretora da Atenção Básica da Fundação

Municipal de Saúde de Santa Rosa (Fu-

mssar), Glaci Weber Gauger. Por enquan-

to, o mapeamento através do georreferen-

Vanderli de Barros

Nosso pessoal será capacitado, tendo em

vista que é importante a assimilação da ferramenta.

Somente assim o profissional poderá atuar de forma

segura e assertiva.

A partir do Georreferenciamento (ilustração) será possível mapear dados como o número de famílias, faixa etária e doenças existentes em determinada região

DIVULG

AÇÃO/FUM

SSARD

IVULGAÇÃO

Vanderli: mapa digital e georreferenciamento estarão em funcionamento ainda no primeiro semestre de 2012

Page 33: Revista Assedisa - Edição 3

33

GESTÃO

esde dezembro de 2011, a Se-

cretaria de Saúde e Desenvol-

vimento Social de Arroio do

Padre, município localizado a

260km de Porto Alegre e a 45km de Pelotas,

sob o comando do secretário Pablo Martins,

experimenta um novo modelo de gestão. A

estratégia tem o objetivo de racionalizar os

gastos e coibir os desperdícios. Em pouco

mais de cinco meses de implementação da

nova proposta, a resposta positiva aparece

em forma de números. Por exemplo, do to-

tal de R$ 200 mil - orçamento anual - em

recursos próprios para a compra de medi-

camentos, R$ 82 mil estão contabilizados

como superávit em 2012.

“Dificilmente vamos utilizar esses R$ 82

mil. Esse valor irá ficar como superávit do

município e poderá até reverter em benefí-

cios para a própria pasta”, comemora o se-

cretário. Para chegar a esse resultado, Pablo

Martins conta que quando assumiu a gestão,

em maio de 2011, implantou um módulo de

compras novo que estimula a ampla partici-

pação do servidor no processo, a partir da

mensuração do consumo anual. O instru-

Arroio do Padre racionaliza compras para coibir desperdícios

xo de saúde, onde estão a Unidade de Saúde

da Família, a Unidade de Saúde Básica e o

pronto atendimento 24 horas, que atende 3

mil pessoas. Pablo Martins reconhece que

o fato de o município ser pequeno facilita o

controle, mas neste caso a participação do

servidor tem sido imprescindível. “Trazer o

servidor, que tem uma bagagem de anos de

experiências, e envolvê-lo no processo de

compras enriquece a gestão da Secretaria de

Saúde e eleva a autoestima do profissional.”

mento específico da pasta segue as normas

da prefeitura que estipula a utilização do

pregão para compras maiores e a carta con-

vite, para as de menor valor.

“A gestão participativa tem dado muito

certo. Anteriormente havia muito desper-

dício”, fala. Atualmente, a farmacêutica do

município faz o levantamento quantitativo

do que está faltando. A seguir, lista as neces-

sidades de cada paciente e obtém a quanti-

dade de medicamento que ele vai necessitar.

“Se ele toma uma caixa por mês de um de-

terminado medicamento ela pedirá 13 cai-

xas, por exemplo, para não ter desperdício.”

E não é só no setor de compras de medi-

camentos que o método foi implantado. Os

produtos consumidos nos consultórios de

odontologia e de enfermagem também são

adquiridos a partir de uma necessidade real.

“Os três profissionais que compõem a equipe

de Odontologia se reúnem e elencam os itens

necessários de forma racional.” Até mesmo o

combustível dos veículos é comprado desta

forma. “Com esse sistema temos conseguido

uma economia de 15% de custos por mês.”

Arroio do Padre dispõe de um comple-

D

Somente em 2012, economia deverá superar a marca de R$ 80 mil

DIVULGAÇÃO/PMAP

O software foi desenvolvido pela equi-

pe de informática da Fundação em parce-

ria com o departamento de Atenção Básica

e os dados coletados pela empresa Tecno-

geo especializada em georreferenciamen-

to. A atualização, que recebe o reforço

dos dados do Sistema de Informação de

Atenção Básica (SIAB/Ministério da Saú-

de), será realizada no Departamento de

Atenção Básica e remetida mensalmente

às equipes de ESF.

A ferramenta já foi apresentada aos

profissionais de nível superior da Fu-

mssar. “Faremos um treinamento sim-

ples com um membro de cada equipe,

porém, o programa é autoexplicativo, o

que facilitará o acesso de todos os pro-

fissionais da equipe mínima para ter

acesso aos dados”, diz Glaci.

“Estamos em processo de incremento

das redes e precisávamos de uma ferra-

menta atualizada”, diz a diretora de Plane-

jamento e Informação em Saúde da Fums-

sar, Vanderli de Barros. Para a diretora o

processo de utilização do software não se

dará de forma automática e a falta de com-

preensão dos processos pode ser um en-

trave. “Todos precisam compreender para

que o trabalho seja qualificado. Nosso pes-

soal será capacitado, tendo em vista que é

importante a assimilação da ferramenta.

Somente assim o profissional poderá atuar

de forma segura e assertiva”, avalia.

Sendo a delimitação de território um

pressuposto básico do trabalho da ESF, a

novidade do mapa digitalizado com todas

as informações e as famílias georreferen-

ciadas, cria grande expectativa e anima

as equipes pela possibilidade de trabalho

e visibilidade que traz. “Vamos passar do

tempo do empírico, quando o mapa era

demarcado com lápis de cor, para a tela do

computador. Toda a equipe passará a inte-

ragir com essas as informações”, finaliza.

Glaci Weber Gauger

Informações centralizadas no sistema

trazem clareza para as ações, além de possibilitarem a

construção de mapas temáticos.

“”

Page 34: Revista Assedisa - Edição 3

34 | www.cosemsrs.org.br

EM PAUTA

inda na primeira quinzena

de maio, se iniciou a fase

três do Programa Nacional

de Melhoria do Acesso e da

Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-

-AB). Neste momento acontece a avalia-

ção externa, em que os municípios co-

meçaram a receber equipes coordenadas

pelo Ministério da Saúde, numa ação que

acontece em cooperação com 38 univer-

sidades. Os chamados avaliadores de

qualidade estão visitando e aplicando os

instrumentos de avaliação externa. É a

partir destes dados que serão definidas as

certificações por equipe, com as vivências

classificadas em ótimo, bom, regular ou

insatisfatório.

Com base neste desempenho é que as

equipes poderão ter o seu repasse de re-

cursos feito pelo Ministério da Saúde, au-

mentado ou não. A fase um foi a de adesão

e contratualização ao programa e na fase

dois foi realizado o desenvolvimento, em

que as mudanças pactuadas receberam

investimentos.

Segundo o diretor do departamento

de Atenção Básica do Ministério da Saú-

de, Hêider Aurélio Pinto, no momento da

contratualização, se criou um conjunto

de padrões de acessos de qualidade, com

uma série de métodos que vem sendo

acompanhada. Agora, os municípios que

investiram na fase dois e estão fazendo

mudanças e estimulando as equipes para

realizarem um processo de autoavalia-

ção para identificar as dificuldades, estão

sendo monitorados em 24 indicadores

para poder ajustar o que não estava indo

a contento nesses critérios. Foi realizado

PMAQ-AB é aposta ousada para melhorar a Atenção Básica

AHêider Aurélio Pinto (foto), acredita que o PMAQ deverá

influenciar na mudança das práticas de atenção à saúde e de educação e principalmente numa mudança

de cultura em todos os líderes

EDU RICKES/CBR

Até agosto de 2012 será finalizado o maior levantamento desta natureza já realizado no país. A partir dos resultados, esse diagnóstico profundo da realidade dará bases para um amplo programa de ampliações e reformas.

também um esforço de educação de apoio

às equipes para que elas pudessem mos-

trar o processo de trabalho.

De acordo com Hêider, essa é a maior

pesquisa desta natureza já realizada no

país e de seus resultados espera-se um

diagnóstico profundo da realidade que

dará bases para necessidades de altera-

ção, que serão permanentes e conduzidas

por uma coordenação tripartite.

Critérios importantes

Os critérios mais importantes na

avaliação do PMAQ-AB serão a valoriza-

ção dos trabalhadores, as condições de

funcionamento e infraestrutura das Uni-

dades Básicas da Saúde (UBS) e o acesso

e a qualidade dos serviços prestados. Na

dimensão da infraestrutura, o Ministé-

rio irá observar desde a maneira como

está conservada a UBS, as condições de

trabalho para as equipes e a disponibi-

lidade de medicamentos e equipamentos

para atendimento a população. Contudo,

é a avaliação do acesso e da qualidade da

atenção a parte que mais conta pontos.

Será verificado se a unidade tem condi-

ções de acolhimento, se está aberta para

receber o usuário mesmo sem ter mar-

cado consulta, a facilidade para o agen-

damento, o tempo de espera reduzido,

como também a avaliação da qualidade

da atenção à gestante, à mulher, à crian-

ça e às pessoas que têm hipertensão e

diabetes. Um outro elemento importan-

te será a valorização do trabalhador, em

que serão considerados o investimento

que se faz no profissional, a garantia dos

direitos trabalhistas, a estabilidade do

vínculo, a carreira.

Mudança de cultura

Para o diretor, o PMAQ tem de influen-

ciar na mudança das práticas de atenção

à saúde e de educação. “Se a gestão mu-

nicipal não se aproxima, não envolve a

equipe, não a estimula para esta mudança

de cultura é muito difícil que esta gestão,

mesmo almejando o aumento de repasse

do Ministério, convença os trabalhadores

a se esforçar mais no seu cotidiano”, disse.

“Então tem claramente uma mudança de

prática, práticas de atenção à saúde, prá-

ticas de educação e tem sim uma mudança

de cultura em todos os líderes, que se re-

flete na gestão municipal.”

Essa mudança também passa pela

relação dos profissionais num compro-

misso de melhoria permanente no pro-

cesso de trabalho sobre a perspectiva de

Page 35: Revista Assedisa - Edição 3

35

EM PAUTA

avaliação, que reconhecerá problemas

visando a sua solução. “A mudança de

cultura também se dará em relação aos

usuários, na medida em que, além de

eles entrarem neste processo, por serem

avaliados, os dados serão públicos. As-

sim, qualquer cidadão vai poder olhar

na internet e ver como foi a equipe que o

atende. Se ela avançou, que dificuldades

apresentou, o que é positivo.” O usuário

terá informações que são uma síntese da

avaliação toda do PMAQ, da certificação,

de modo que ele tenha uma percepção

de como etapa a UBS perto de sua casa,

onde é atendido.

O maior diagnóstico já feito na Atenção Básica

Segundo o Ministério da Saúde, até

agosto de 2012 será finalizado o maior

diagnóstico já realizado na Atenção Bá-

sica. Todas as UBS estarão registradas,

o que permitirá qualificar o Programa

de Requalificação das Unidades Básicas

de Saúde, que é um amplo programa de

ampliações e reformas de construções.

Os recursos para 2013 e 2014 serão ba-

seados no diagnóstico do PMAQ. Segun-

do Hêider, a partir dos dados, se terá um

diagnóstico importante com mais da me-

tade das equipes de saúde básica do Bra-

sil, com mais de 18 mil equipes. “Nestas

entrevistas vamos identificar diversos

entraves e pontos críticos que vão orien-

tar a construção da política de Atenção

Básica para 2013 e 2014, além de que

iremos injetar este ano R$ 800 milhões

na Atenção Básica”, disse. A partir das

primeiras mudanças, o Ministério pre-

tende implantar um processo de educa-

ção permanente que, a partir de 2013

pretende ser universal. Ano que vem, ao

contrário de 2012, todas as equipes, de

todos os municípios, que desejarem, po-

derão aderir ao PMAQ pelo fato de que

não haverá teto máximo. “Então espe-

ramos que no curto prazo, possamos ter

um diagnóstico que contenha um novo

planejamento voltado para os problemas

apresentados na realidade e tenhamos

uma injeção grande de recursos que irá

iniciar o movimento de qualificação per-

manente na Atenção Básica.”

REVISTA COSEMS/RS – Em relação à avaliação de desempenho, os municípios ficam apreen-sivos com os possíveis resultados, tendo em vista que isso poderá se refletir diretamente na questão do repasse de recursos. Como o Ministério está tratando disso para que a ava-liação seja o mais justa possível?HÊIDER AURÉLIO PINTO - Esta é uma

preocupação muito grande dos secretá-

rios municipais da saúde que consegui-

mos contemplar integralmente. Primeiro

temos que lembrar que esse processo de

o ano passado como há mais tempo. Es-

ses 24 indicadores são consolidados no

Sistema Único de Saúde (SUS). Também

organizamos os municípios em seis extra-

tos: os mais ricos e maiores vão ser com-

parados entre eles, do mesmo jeito que

os mais pobres e menores serão compa-

rados. A avaliação externa é feita através

de um tablet, de modo que, independen-

temente de qual universidade ou avalia-

dor está avaliando, será um instrumento

padrão com objetividade e regularidade,

não importando de onde está sendo feita

a avaliação externa.

REVISTA COSEMS/RS – Como está o Rio Gran-de do Sul neste aspecto da qualidade? Vocês têm algum índice prévio dos estados?

HAP - Não temos esse índice prévio. O

Rio Grande do Sul foi um Estado que teve

uma grande adesão, ficando em quarto lu-

gar no país. Essa classificação representa

algo em torno de 67%. Isso é muito po-

sitivo. Agora, as primeiras avaliações co-

meçaram a ser realizadas recentemente e

esse processo é amplo. Aplicamos indica-

dores que checam desde as condições das

Unidades Básicas da Saúde, passando por

entrevistas com os profissionais e com

os usuários. No país serão entrevistados

quase cem mil usuários para levantarmos

esta situação de acesso, uso e qualidade

da Atenção Básica pela perspectiva de

quem utiliza o serviço.

Hêider, que em 2010 e 2011 participou dos congressos da Assedisa-Cosems/RS, traz no evento de 2012 a discussão sobre a qualidade na Atenção Básica

EDU RICKES/CBR

EDU RICKES/CBR

definição de critérios foi construído junto

com os próprios municípios durante todo

o ano de 2011, com participação tripar-

tite. Não adotamos indicadores que não

tenham sido pactuados, não só durante

Aplicamos indicadores que checam desde as

condições das Unidades Básicas da Saúde, passando

por entrevistas com os profissionais e com os usuários. No país serão

entrevistados quase cem mil usuários pra

levantarmos a situação de acesso.

Page 36: Revista Assedisa - Edição 3

36 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

REVISTA COSEMS/RS – Nesta questão da ava-liação da qualidade, muitas vezes as pessoas falam mal do SUS e o que dá certo não apa-rece. O senhor avalia que existe um problema de atendimento no SUS, aquele primeiro con-tato quando a pessoa é recebida no posto, na Unidade Básica e é mal recebida ou lhe pas-sam uma informação equivocada. Há proble-mas nessa linha de frente de atendimento? HAP - O que temos visto é que essa per-

cepção ruim é de quem não usa o sistema

e muitas vezes esta percepção não é tra-

duzida em números quando se pergunta

de maneira genérica sobre o SUS. Quan-

do você pergunta mais especificamente

sobre o uso e sobre, por exemplo, a Aten-

ção Básica, normalmente, na maior parte

das vezes, as pessoas fazem uma menção

positiva como a pesquisa demonstrou.

Sem dúvida esta linha de frente pode ser

rar mais do que 30 minutos para serem

atendidos quando eles chegam à Unidade.

Quase metade dos usuários consegue ser

atendida mesmo sem marcar no primeiro

dia, além de que 75% dos usuários reco-

mendariam a Unidade Básica de Saúde

para um amigo ou parente. Isto mostra

que o tempo de espera é reduzido, com

mais de 50% das pessoas sendo atendidas

sem aguardar, mas temos que avançar

isto. Perguntados sobre os profissionais,

médicos, dentistas, enfermeiros, agen-

tes comunitários de saúde, etc. Todas as

avaliações ficaram entre 78% e 80%, de

bom e muito bom. Então, a percepção das

pessoas que usam o sistema em relação às

Unidades Básicas de Saúde é boa.

REVISTA COSEMS/RS – Existem algumas dú-vidas dos municípios em relação à aplicação destes recursos da qualificação. Por exemplo, se investe mais em pessoal ou prioriza-se ou-tro aspecto? Há alguma indicação do Ministé-rio para o uso destes recursos?HAP - O recurso é parte do Piso de Aten-

ção Básica Variável, que chamamos de

componente de qualidade no Piso de

Atenção Básica Variável. Isto significa

que todos os usos que os municípios já fa-

zem do PAB variável podem ser reforça-

dos. Só não podem ser usados naquilo que

for vedado na regulamentação do PAB.

Agora, o que temos percebido são uma di-

versidade e uma criatividade muito gran-

de por parte dos municípios. Mas temos

que lembrar que desde novembro de 2011

este recurso já aumentou, tendo em vista

que o índice do componente de qualidade

vale desde o momento que os municípios

aderiram ao programa. O que os municí-

pios têm feito com estes recursos? Têm

investido na formação dos trabalhadores,

em educação permanente. Outros têm in-

vestido para reforçar o apoio que a gestão

dá às equipes para que mudem na forma

de trabalho. Alguns têm sinalizado a pos-

sibilidade de montar uma remuneração

por desempenho, com premiações que es-

timulem as equipes que estejam compro-

metidas com a qualificação permanente

dentro do processo de trabalho. Há casos

também que se optou pela adoção de um

plano de investimento para qualificar a

unidade.

REVISTA COSEMS/RS – O senhor avalia como

positiva esta flexibilidade então?HAP - Eu acho positivo, porque o gestor

local, principalmente aquele que fez uma

série de investimentos para qualificar a

Atenção Básica, tem condições de identi-

ficar onde precisa mais recursos. O que o

Ministério vai fazer? Estaremos atentos a

estes usos para que possamos concentrar

e mostrar resultados, vantagens de cada

uso para que outros municípios possam

aprender com as experiências exitosas.

REVISTA COSEMS/RS – Esta maior qualidade da Atenção Básica, automaticamente poderá gerar mais demandas para a média e a alta complexidade? Como o Ministério pensa esta situação?HAP - É sempre um processo de mão

dupla. O fato de você ter uma cobertura

maior, normalmente gera maior deman-

da de serviços. Porque se você tem uma

cobertura que atende mais pessoas, você

identifica situações precocemente em ca-

sos no qual iriam direto para a atenção

especializada, em situação mais grave.

Hoje em dia é mais difícil você ter uma si-

tuação que a demanda nem seja apresen-

tada, a não ser um infarto, etc. Normal-

mente o serviço de urgência é acessado.

Então, mesmo quando ampliamos o pro-

cesso para a Atenção Básica estamos an-

tecipando a demanda que chegaria mais

grave à frente. Agora, várias das ações do

PMAQ apontam para a ampliação da re-

solubilidade da equipe perto da casa do

usuário. É você conseguir participar do

acompanhamento de alguém diabético

até a clínica, olhar o protocolo, ter uma

prática. Se tivermos uma cultura boa de

melhorada, mas a avaliação que nós te-

mos é boa. Ela não é ruim, ela poder ser

muito boa ou ótima, mas se for colocar

em uma escala, não é nem regular. Ela

é melhor que regular, ela é boa. Por que

eu estou dizendo isto? O Ministério da

Saúde acabou de publicar uma pesquisa

muito importante de avaliação relacio-

nada ao acesso, ao uso e à participação

do usuário na Atenção Básica. São dados

muito representativos, que mostram, por

exemplo, que para mais de 80% dos ci-

dadãos a Unidade Básica de Saúde está a

menos de 30 minutos a pé da casa. Menos

de um terço dos usuários precisam espe-

Mesmo quando ampliamos a demanda para a Atenção Básica estamos antecipando a demanda que chegaria

mais grave à frente. Várias das ações do PMAQ apontam para o aumento

da resolubilidade da equipe perto da casa

do usuário.

Localmente, os maiores responsáveis

pelo processo do PMAQ, são sem dúvida, os

gestores municipais. É com empenho deles

num primeiro momento através da adesão e na negociação que cada

um tenha feito com suas equipes.

“”

Page 37: Revista Assedisa - Edição 3

37

EM PAUTA

qualidade básica de saúde, a tendência é

resolver mais coisas na Unidade Básica e

encaminhar menos.

REVISTA COSEMS/RS – No Rio Grande do Sul hoje, segundo estimativas da Secretaria Estadu-al de Saúde, nós temos apenas 34% da popula-ção atendida por equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Isto seria um entrave ao desen-volvimento do PMAQ?HAP - Não, contudo precisamos ampliar,

sem dúvida alguma, a cobertura no Esta-

do do Rio Grande do Sul, para que mais

de 1/3 da população tenha acesso ao

ESF. Agora, não é entrave, porque com o

PMAQ temos uma tendência de além de

aproximar mais o usuário para entender

o que é a ESF, podemos ter casos da saúde

da família com qualidade. Se avançarmos

nisto, muitos gestores que não têm uma

ESF, a partir de quando eles vão identifi-

cando e observando os resultados, notan-

do que pode até dobrar o repasse mensal,

a tendência é que se interessem pelo pro-

grama. Assim, a tendência é de expansão.

REVISTA COSEMS/RS – Como os municípios e os gestores podem colaborar e influenciar nesse processo do PMAQ?HAP - Localmente, os maiores respon-

sáveis pelo processo do PMAQ, são sem

dúvida, os gestores municipais. É com

empenho dos gestores municipais num

primeiro momento através da adesão e

na negociação que cada um tenha feito

com suas equipes. É o gestor que pode

conversar com os trabalhadores, fazer a

autoavaliação e identificar os problemas,

avançar nos obstáculos. Então, quem

está fazendo acontecer no cotidiano, em

cada Unidade Básica de Saúde, em cada

serviço, são os gestores municipais. Em

âmbito nacional, destaco a participação

da Assedisa, mostrando o que avançou,

quais foram as dificuldades, o que preci-

sa mudar. É importante que a Assedisa,

que tem assento na coordenação estadual

do PMAQ, possa trazer esta contribuição

para os gestores municipais. Assim ire-

mos qualificar permanentemente o pro-

grama, que pretende criar uma cultura

de qualificação permanente. A marca do

PMAQ será a transformação, na medida

em que ele será o maior responsável por

provocar mudanças em seus rumos.

REVISTA COSEMS/RS – O PMAQ se mostra revo-lucionário e uma aposta ousada do governo por-que ele muda a conceituação do próprio atendi-mento de saúde e ele vai no centro da questão da saúde que é a prevenção, que é a base de tudo. Por que foi tão difícil chegar a esta conclusão, não o atual governo, mas os governos para evo-luir na questão?A novidade é que nós mudamos o finan-

ciamento da Atenção Básica em 2011. Na

oportunidade, tivemos o maior aumento

que o financiamento que a Atenção Bási-

ca já teve, desde que o PAB foi criado na

década de 90. O aumento acumulado de

2011 e 2012 é de 40%. O orçamento saiu

dos R$ 9 bilhões e está chegando em R$

13 bilhões. Só que este aumento no fi-

a prevenção. Temos reforçado muito a

ideia da integralidade. É a promoção da

saúde, as práticas esportivas, os hábitos

saudáveis, a educação da população e a

atividade de prevenção. Mas é também

uma atenção oportuna, reforçando mui-

to que o melhor lugar para atender uma

criança que, por exemplo, tem menos de

dois anos de idade, está com febre e apre-

sentou vômito logo que a mãe acorda. Em

vez de ela acordar exasperada e correr

para uma urgência, a mãe deve procurar

a Unidade Básica de Saúde. É o profissio-

nal que está lá que fez o pré-natal, ele é

quem mais conhece aquela criança e ele

tem melhor condição de atendê-la do que

um profissional que está na urgência. A

mesma coisa quando um senhor de idade

que tem diabetes e desmaia, ao contrário

de levá-lo para uma urgência, a equipe da

Unidade Básica da Saúde é a quem mais

tem condição de atendê-lo. Porque lá tem

um prontuário do paciente, sua história.

Tem todos os medicamentos que ele pre-

cisa. É esta combinação, da integralidade,

que é prevenir problemas, promover saú-

de, cuidar das pessoas que estão doentes,

principalmente as doenças crônicas, mas

também atender as pessoas nas situações

de sofrimento agudo. A atenção do PMAQ

é esta: enxergar o conjunto de problemas

de saúde que a pessoa apresenta no dia a

dia.

REVISTA COSEMS/RS – Essas mudanças de conceito propostas pelo PMAQ são uma revo-lução dentro da própria lógica do SUS?Eu não sei se chamaria de revolução, isso

pode parecer arrogante. Mas acho que é

uma política ousada, na medida em que

muitas das coisas são resolvidas e cria-

mos um mecanismo para colocar em prá-

tica, reconhecendo, avaliando e premian-

do quem está fazendo isto. Não há muita

novidade. É notório o consenso em torno

disto. Mas o que o PMAQ traz de diferen-

te é a criação de uma política nacional

com a participação de estados e muni-

cípios, que colocam estes temas dentro

da agenda, que avalia concretamente e

premia isso. Se não tivéssemos um ins-

trumento, poderíamos ter relatos sobre

o funcionamento das unidades, mas não

teríamos um elemento objetivo, nenhuma

avaliação.

nanciamento, além de ele ter aumentado

em volume, oportunizou uma melhoria

da qualidade. Uma parte deste financia-

mento foi dirigida aos municípios meno-

res e mais pobres, de maneira que estes

municípios tiveram um aumento mais

expressivo que os mais ricos e maiores,

então teve um aumento equânime. De

outro lado, uma parte do recurso, repas-

sado através do PMAQ, que neste ano

são de R$ 800 milhões, é um recurso

que foi dirigido para o desempenho. En-

tão, quem tiver melhor qualidade, quem

apresentar maior desempenho, recebe

mais recursos. Isto no ponto de vista ma-

cro do financiamento. Do ponto de vista

mais específico, esta qualidade foi de-

finida com uma série de questões muito

relacionadas com a ampliação do acesso

à população, e a qualidade dos serviços

acertados. Esta qualidade, ela não é só

A combinação da integralidade é prevenir

problemas, promover saúde, cuidar das pessoas

que estão doentes, principalmente as

doenças crônicas, mas também atender as

pessoas nas situações de sofrimento agudo.

Page 38: Revista Assedisa - Edição 3

38 | www.cosemsrs.org.br

MAIS SAÚDE

Campanha em Caxias conscientiza sobre o uso do atendimento 24 horas

Campanha utiliza material promocional veiculado na imprensa local e distribuído tanto no PA quanto nas UBS para a conscientização dos usuários

Fábio Zatti

entre todos os esforços

constantes realizados pelos

gestores de saúde em todo

o Brasil deve estar também

contemplado o papel da co-

municação como recurso de conscienti-

zação quanto ao uso correto do Sistema

Único de Saúde (SUS). No dia a dia de

um posto de Pronto Atendimento (PA)

24 horas as filas vão aumentando, mas

quantos destes usuários precisariam re-

almente do serviço de urgência e emer-

gência oferecido nessa unidade?

Para responder a esta pergunta e

otimizar o atendimento à população, a

Secretaria de Saúde (SMS) de Caxias

do Sul desenvolveu uma campanha de

conscientização dos usuários do Pronto

Atendimento 24 horas do município, a

partir de levantamento em que foi apon-

DSe os usuários do SUS

procurassem a Unidade Básica de Saúde para

consultas rotineiras, não existiria fila no serviço de

urgência e emergência. E, além disso, a consulta

eletiva na UBS tem o diferencial de possuir todo um histórico da saúde do

paciente.

DIVULG

AÇÃO/PM

CS

tado que 70% dos pacientes que procu-

ram o PA 24 horas não apresentam qua-

dro clínico caracterizado como urgência

e emergência. A campanha, lançada em

janeiro de 2012, trabalha para o enten-

dimento de que a maioria das situações

pode receber atendimento nas Unidades

Básicas de Saúde (UBS).

Conforme registros da Secretaria,

em março deste ano o Pronto Atendi-

mento realizou 13.278 acolhimentos.

Destes, 473 em situação de emergência

(3,56%), 2.813 caracterizados como ur-

gentes (21,18%) e 9.992 não urgentes

(75,25%). Segundo o diretor geral do PA

24 Horas, Fábio Zatti, a maioria dos pa-

cientes de baixa complexidade são eleti-

vos e procuram o serviço para a solicita-

ção de check-ups, para mostrar exames,

solicitar receitas ou por sintomas crôni

Page 39: Revista Assedisa - Edição 3

39

MAIS SAÚDE

cos. “Se os usuários do SUS procurassem

a Unidade Básica de Saúde para consul-

tas rotineiras, não existiria fila no ser-

viço de urgência e emergência. E, além

disso, a consulta eletiva na UBS tem o

diferencial de possuir todo um histórico

da saúde do paciente”, salienta.

Foco na conscientização

A campanha trabalha a conscientiza-

ção direcionada à população usuária dos

Postos de Atendimento 24 horas, para

que haja uma educação quanto ao uso

correto das unidades e assim evitar lon-

gos períodos de espera por atendimento.

Usando material promocional veiculado

na imprensa local e distribuído tanto no

PA quanto nas UBS, é passada a orien-

tação de que as pessoas devem procurar

o PA 24 horas somente se apresentarem

sintomas que se enquadrem nas classi-

ficações vermelha – casos como de aci-

dentes ou ferimento de arma de fogo – e

amarela – quando apresenta os sinais

vitais alterados, como pressão alta ou

uma diabetes descompensada. Nas de-

mais situações, é dada a recomendação

para que acesse o SUS via Unidade Bá-

sica de Saúde, na qual terá um horário

agendado, evitando um tempo de espera

maior no PA. A ação de educar o usuá-

rio é feita também de forma individual,

quando o serviço de pronto atendimen-

to é procurado. “Fazemos este trabalho

de educação, mas é opção do paciente o

atendimento no PA ou ser encaminhado

para a sua UBS de referência, onde será

agendado o atendimento conforme a dis-

ponibilidade do serviço.”

Sistema de avaliação de classificação de risco

Quando o usuário chega ao Pron-

to Atendimento, ele passa pelo sistema

de avaliação e classificação de risco,

momento em que são aferidos os sinais

vitais, verificadas a queixa principal, a

história prévia de doenças e, por inter-

médio de um protocolo institucional,

a classificação quanto à gravidade. Os

pacientes que recebem a classificação

vermelha e amarela são atendidos ime-

diatamente por apresentarem quadro

de emergência e urgência. Como es-

tratégia para evitar longos períodos de

espera dos pacientes não prioritários, a

SMS incluiu, em março, a cor verde no

sistema de classificação, para caracteri-

zar pacientes que não estão em risco de

morte, mas é um paciente com quadro

agudo. Ao receber esta caracterização,

o usuário será atendido depois que to-

dos os casos prioritários forem solucio-

nados. Já os que recebem a cor azul são

caracterizados como não urgentes e têm

a opção de serem encaminhados a sua

UBS de referência.

Fábio Zatti

Fazemos este trabalho de educação,

mas é opção do paciente o atendimento no PA ou ser encaminhado para a sua

UBS de referência, onde será agendado o atendimento

conforme a disponibilidade do serviço.

DIVULG

AÇÃO/PM

CS

Vermelho (situação de emergência)

Verde (situação aguda sem risco de vida)

Amarelo (situação de urgência)

Azul (situação não urgente)

Politraumatismo grave

Trauma crânio encefálico grave

Estado de coma

Crises convulsivas

Parada cardiorrespiratória

Alterações de sinais vitais em

pacientes sintomáticos

Pacientes em condições não agudas, eletivos, que podem

ter seu atendimento agendado via UBS, se assim optarem

Pacientes caracterizados como agudos e que

necessitam de atendimento dentro das 24 horas

Prioridade: Idade superior a 60 anosDeficientes físicos / Gestantes

Prioridade: Idade superior a 60 anosDeficientes físicos / Gestantes

Page 40: Revista Assedisa - Edição 3

40 | www.cosemsrs.org.br

Secretaria de Saúde de Ca-

xias do Sul inaugura ainda no

primeiro semestre de 2012,

o quarto Serviço Residencial

Terapêutico (SRT), tendo a partir daí, to-

dos os usuários que até então residiam em

hospital psiquiátrico inseridos na desinsti-

tucionalização de moradores portadores de

transtorno mental grave, sendo a segunda

cidade do Estado a possuir hospital psiqui-

átrico a cumprir esta meta. A Prefeitura do

município serrano vem, desde 2005, rea-

lizando a Reforma Psiquiátrica prevista na

Lei Federal 10.216, de 6 de abril de 2001.

O trabalho de desinstitucionalização

consiste na reintegração à sociedade dos

usuários egressos de hospitais psiquiá-

tricos. Como há muitos casos onde essas

pessoas foram abandonadas ou perderam

o vínculo com suas famílias, elas são en-

caminhadas, após avaliação dos Centros

de Atenção Psicossocial (CAPS), ao SRT.

No novo espaço, o usuário terá a sua auto-

nomia restituída, podendo tomar decisões

simples como escolher que canal assistir na

televisão e a que horas irá dormir. A par-

tir deste serviço, são permitidos a reabili-

tação psicossocial e o resgate da cidadania

Caxias do Sul desinstitucionaliza moradores de hospitais psiquiátricos

centes do Hospital Psiquiátrico de Caxias do

Sul serão restituídos de um lar, protegidos e

amparados com a possibilidade de usufruir

tudo que a cidade oferece. São os serviços

substitutivos ganhando espaço na atenção

integral de nosso município,” destaca.

Vanice atenta também para a importân-

cia do entendimento do transtorno mental

como uma doença e que essa condição deve

ser respeitada. E o trabalho desenvolvido

pelo Serviço de Saúde Mental de Caxias do

Sul, por meio dos Centros de Atenção Psi-

cossocial (CAPS) é o de tornar possível a

reintegração destes pacientes à sociedade.

“Hoje alguns moradores dos SRT’s vão ao

supermercado, à padaria, fazem natação e

estão dentro da sociedade como qualquer

pessoa”, diz. A condição de morador de SRT

pode mudar. Assim que se perceber uma

evolução na autonomia do paciente, ele pode

ser transferido para uma moradia Tipo I,

deste modo ele pode também, passar a mo-

rar sozinho, como já ocorre em alguns casos.

“Eles moram em pensões, mas continuam

recebendo toda a monitoria e assistência

dos CAPS. O objetivo é que todos possam

se reintegrar na sociedade e consigam viver

suas vidas com maior autonomia”, explica.

do sujeito, promovendo os laços afetivos, a

reinserção no espaço da cidade e a recons-

trução das referências familiares.

Este Serviço Residencial Terapêutico

é classificado em duas modalidades, con-

forme especifica a Portaria 3.090, de 23 de

dezembro de 2011. Sendo o Tipo I uma mo-

radia destinada a pessoas com internação de

longa permanência que não possuem víncu-

los familiares e sociais, proporcionando um

espaço de construção de autonomia para a

retomada da vida cotidiana e reinserção

social. Já o Tipo II, se constitui em mora-

dia destinada a pessoas com maior grau de

dependência, que necessitam de cuidados

intensivos específicos, do ponto de vista da

saúde em geral, que demandam ações mais

diretivas com apoio técnico diário e pessoal,

de forma permanente.

O município de Caxias do Sul possui

duas unidades Tipo I e uma unidade Tipo II,

que atendem 26 moradores. A unidade a ser

inaugurada neste ano será do Tipo II e se-

gundo a coordenadora do Serviço de Saúde

Mental, Vanice Fontanella, com a abertura

da quarta casa, seis usuários serão inseri-

dos gradativamente aos cuidados em saúde

mental. “Os últimos moradores remanes-

AResidencial onde funcionará o quarto Serviço Terapêutico de Caxias do Sul (foto), permitirá a desinstitucionalização de todos os moradores portadores de transtorno mental grave

DIVULG

AÇÃO/PM

CS

Page 41: Revista Assedisa - Edição 3

41

ENTREVISTA

REVISTA COSEMS/RS – Que avanços o Decre-to nº 7508 traz para o ordenamento do SUS? ALEXANDRE PADILHA - O Decreto nº

7508, de 28 de junho de 2011, destaca-se

como instrumento jurídico estratégico na

regulamentação de aspectos centrais da

Lei Orgânica do Sistema Único de Saú-

de (SUS) e tem como objetivo enfrentar

obstáculos da gestão e organização do

Sistema, com destaque para os aspectos

do planejamento, assistência à saúde e a

articulação interfederativa, propiciando

a qualificação da governança do SUS.

É atribuída aos entes federados a de-

finição de elementos para a conformação

das Redes de Atenção à Saúde, que devem

ser acordadas entre a União, os estados

e os municípios, compreendendo seus li-

mites geográficos, população usuária das

ações e serviços, rol de ações e serviços

que serão ofertados e respectivas respon-

sabilidades, critérios de acessibilidade e

escala para conformação dos serviços.

Outro aspecto que considero um

avanço, refere-se ao acesso às ações e

aos serviços de saúde, em que o Decreto

institui como porta de entradas a atenção

primária, atenção de urgência e emer-

gência, atenção psicossocial e os serviços

especiais de acesso aberto (atendimento

diferenciado por motivo de agravo e de

situação laboral). Vale destacar que o De-

creto estabelece a atenção primária como

a porta de entrada prioritária.

Também é importante a organização

das relações interfederativas, a partir do

ELZA FIÚZA/ABR

Padilha priorizará COAP como estratégia para melhorar a gestão

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, traz à luz o debate sobre

o Decreto nº 7508, que cumpre determinação constitucional,

compondo o SUS por uma rede regionalizada e hierarquizada.

Padilha conta que o Decreto traz uma novidade importante, o

Mapa de Saúde. Esta ferramenta servirá para identificar e

programar geograficamente recursos e processos de saúde.

Ministro defende a formação de Redes de Atenção à Saúde acordadas entre União, estados e municípios

Page 42: Revista Assedisa - Edição 3

42 | www.cosemsrs.org.br

Uma novidade importante é o Mapa de Saúde, uma ferramenta

que será criada pelo Ministério da Saúde para identificar e programar,

geograficamente, recursos e processos

de saúde.

Hoje temos definidas 422 regiões de saúde, cabendo aos estados e à parceria com os

Municípios e o Ministério da Saúde promover a sua qualificação com base nos

critérios estabelecidos no Decreto.

reconhecimento das Comissões Inter-

gestores Tripartite, no âmbito nacional,

Bipartite (CIB), no âmbito estadual, e

Regional (CIR), no âmbito das Regiões de

Saúde, nas quais se discute e decide-se de

maneira consensual toda a gestão da saú-

de, de modo compartilhado. O Conasems,

o Conass e os Cosems poderão represen-

tar os gestores públicos de saúde nas Co-

missões Intergestores.

É atribuída aos entes federados a de-

finição de elementos para a conformação

das Redes de Atenção à Saúde, que devem

ser acordadas entre a União, os Estados

e os Municípios, compreendendo seus li-

mites geográficos, população usuária das

ações e serviços, rol de ações e serviços

que serão ofertados e respectivas respon-

sabilidades, critérios de acessibilidade e

escala para conformação dos serviços.

Hoje temos definidas 422 regiões de

saúde, cabendo aos estados e à parceria

com os municípios e o Ministério da Saú-

de, promover a sua qualificação com base

nos critérios estabelecidos no Decreto.

REVISTA COSEMS/RS – Que garantias o COAP trará para os municípios e seus usuários? AP - Como a publicação do Decreto nº

7508, o pacto a ser firmado entre os en-

tes federativos deverá ser consubstancia-

do em um instrumento que consagra os

compromissos assumidos entre os gesto-

res do SUS. Para tanto, prevê a criação do

Contrato Organizativo da Ação Pública de

Saúde, cuja função é organizar e integrar,

nas Regiões de Saúde, considerando-se

as especificidades municipais, regionais

e estaduais, as responsabilidades dos

gestores na garantia da integralidade da

assistência aos seus usuários.

Desta forma o COAP destaca-se como

um instrumento estratégico concebido

para aprimoramento da gestão pública da

saúde, firmado em dois pilares: avaliação

do desempenho dos gestores, com ênfase

nos resultados e na melhoria do acesso,

e gestão participativa, que considere a

opinião, as necessidades e os interesses

dos cidadãos. O desempenho deverá ser

aferido a partir de indicadores, como o

IDSUS –indicador nacional de garan-

tia de acesso, e servirá como parâmetro

para avaliação do desempenho da pres-

tação das ações e dos serviços definidos

no Contrato Organizativo de Ação Pública

de Saúde em todas as Regiões de Saúde,

considerando-se as especificidades muni-

cipais, regionais e estaduais.

REVISTA COSEMS/RS – Há algum risco das RENASES e as RENAMES se tornarem elenco mínimo de medicamentos e procedimentos e, dessa forma, ferir o princípio da Integralidade do SUS? AP - No âmbito da assistência à saúde,

foi criada a Relação Nacional de Ações e

Serviços de Saúde (RENASES), que com-

preende todas as ações e os serviços que

o SUS oferece aos seus usuários. Ela visa

promover o atendimento da integralida-

de da assistência à saúde, que se inicia e

se completa na Rede de Atenção à Saúde,

sendo assim, a sua natureza não é de res-

trição e sim de garantia da integralidade.

Outro aspecto a destacar é que os entes

federativos pactuarão nas Comissões In-

tergestores suas responsabilidades em

relação ao rol de ações e serviços cons-

tantes na RENASES, inclusive sobre o fi-

nanciamento. A primeira RENASES será

a somatória de todas as ações e os servi-

ços de saúde ofertados pelo SUS, devendo

ser revisada a cada dois anos.

Com relação à assistência farmacêuti-

ca é consolidada por meio da Relação Na-

cional de Medicamentos Essenciais (RE-

NAME), que padroniza os medicamentos

indicados à atenção básica em saúde e

programas estratégicos do SUS. Estados

e municípios poderão adotar relações

complementares à RENAME, pactuadas

nas respectivas Comissões Intergestores,

assegurando o seu financiamento. O aces-

so à assistência farmacêutica é universal

e igualitário, sendo assim da mesma for-

ma que a RENASES ela não tem um cará-

ter restritivo.

O planejamento ganha centralidade

como um processo ascendente e integra-

do, tratando das necessidades políticas e

disponibilidade de recursos. É obrigató-

rio para os entes federativos e será indu-

tor para a iniciativa privada. Uma novi-

dade importante é o Mapa de Saúde, uma

ferramenta que será criada pelo Ministé-

rio da Saúde para identificar e programar,

geograficamente, recursos e processos de

saúde: profissionais, estabelecimentos,

equipamentos, indicadores de saúde e

serviços existentes no país. Sua finali-

dade é evidenciar vazios assistenciais e

produzir informações estratégicas para

subsidiar o planejamento regional inte-

grado, contribuindo para a configuração

dos Contratos Organizativos da Ação Pú-

blica da Saúde.

REVISTA COSEMS/RS – Como se darão as de-finições das regiões de Saúde? AP - O Decreto nº 7508 estabelece as

Regiões de Saúde para provisão dos ser-

viços, cumprindo a determinação cons-

titucional de que o SUS é composto por

uma rede regionalizada e hierarquizada.

Estas devem conter no mínimo ações de

atenção primária, de urgência e emergên-

cia, de atenção psicossocial, de atenção

ambulatorial especializada e hospitalar e

de vigilância em saúde.

REVISTA COSEMS/RS – Como o Ministério vê a regulamentação da Emenda Constitucional 29?AP - A sanção da regulamentação da

Emenda Constitucional 29 trouxe ganho

ao setor, porque define claramente o que

são gastos específicos na área, o que por

si só já garantirá um incremento pelo uso

dos recursos exclusivamente em ações e

serviços de saúde por parte de todos os

entes federados. Além disso, a medida

REVISTA COSEMS/RS

Page 43: Revista Assedisa - Edição 3

43

O COAP destaca-se como um instrumento

estratégico concebido para aprimoramento da gestão pública da saúde, firmado

em dois pilares: avaliação do desempenho dos gestores, com ênfase nos resultados e na melhoria do acesso, e a gestão participativa,

que considere a opinião, as necessidades e os interesses

dos cidadãos.

estabelece fontes permanentes e estáveis

de receita para gastos e investimentos

no SUS, o que trará maior transparência

nos investimentos do poder público para

ampliar ainda mais o controle sobre os

recursos da saúde nos estados, municí-

pios e no Governo Federal. A nova regra

também contribuirá para combater des-

perdícios, melhorar controle dos gastos e

aumentar fiscalização de recursos aplica-

dos na área.

REVISTA COSEMS/RS – Apesar do esforço da expansão das Redes, temos dificuldades de contratação de profissionais médicos, desde a Atenção Básica até as especialidades de média e alta complexidade. Como resolver esta situação?AP - Uma das prioridades do Governo Fe-

deral é combater os desequilíbrios regio-

nais na oferta de especialistas em medici-

na e promover a fixação de profissionais

em localidades carentes ou remotas e no

interior do país.

Uma das iniciativas mais recentes,

implementada em parceira com o MEC,

é o abatimento da dívida do Fundo de

Financiamento ao Estudante do Ensino

Superior (FIES) para os estudantes que

prestarem serviços em municípios com

carência de profissionais. Pela ação, o

médico pode quitar o valor da dívida ao

fundo em menos de dez anos, sem algum

desembolso. Já o médico que atuar em

uma das 17 especialidades prioritárias

para o SUS vai ter o período de carência

de sua dívida ampliado.

O Programa de Valorização dos Pro-

fissionais na Atenção Básica (Provab)

concede incentivos para médicos, enfer-

meiros e cirurgiões-dentistas atuarem

por um ano na Atenção Básica de muni-

cípios de extrema pobreza e de periferias

das grandes metrópoles.

Em apoio ao Provab, é importante o

papel do Telessaúde Brasil Redes, progra-

ma que permite o acesso de profissionais

da Atenção Básica à chamada “segunda

opinião formativa” e assim qualifica e oti-

miza o atendimento no SUS. O Telessaú-

de está presente em 12 estados e consiste

em uma rede de educação e orientação a

distância feita por meio de tecnologias da

informação. Atualmente, são 495 profis-

sionais de saúde contratados que estão

inseridos nesses municípios através do

programa. Aos enfermeiros e dentistas,

o MS está ofertando bolsa com curso de

especialização a distância pelo sistema

Una-SUS (Universidade Aberta do SUS).

Outra ação que promove a melhor dis-

tribuição de profissionais nas regiões bra-

sileiras é o Programa Nacional de Apoio à

Formação de Médicos Especialistas em

Áreas Estratégicas – Pró-Residência –,

que oferece bolsas de residência médica

e de especialização multiprofissional em

locais e especialidades com carência de

profissionais. O programa oferta cerca de

2 mil bolsas por ano em especialidades e

locais prioritários – 70% delas distribuí-

das pelas regiões Norte, Nordeste e Cen-

tro-Oeste, onde existe maior dificuldade

em se contratar profissionais.

Os programas PET-Saúde (Programa

de Educação pelo Trabalho para a Saú-

de) e PRÓ-Saúde (Programa Nacional de

Reorientação da Formação Profissional

em Saúde) são voltados para alunos de

graduação de todas as áreas da saúde e

têm como objetivo alinhar o ensino e o

trabalho no SUS. A iniciativa promove o

contato do aluno com a realidade na rede

pública de saúde, estimulando o interesse

por especialidades e áreas de atuação que

necessitam de mais profissionais.

É importante destacar que está sendo

elaborado, em parceira com o Ministério

da Educação, um plano que estabelece

metas de qualidade, quantidade e dis-

tribuição de vagas de residência médica

pelo país. A meta do Governo Federal é

financiar 4 mil novas vagas até 2014 e, até

2022, garantir uma vaga na residência

para cada formando. Com isso, o SUS vai

contar com mais profissionais qualifica-

dos. E mais profissionais qualificados sig-

nifica uma melhora significativa na vida

do cidadão brasileiro, que terá acesso a

um serviço mais eficiente, amplo e uni-

versalizado.

REVISTA COSEMS/RS – O Ministério da Saúde pretende ampliar o financiamento para cons-trução e equipamento das UPAS, visto que

ELZA FIÚSA/ABR

Segundo o ministro, o Governo Federal tem no combate aos desequilíbrios regionais uma prioridade

ENTREVISTA

Page 44: Revista Assedisa - Edição 3

44 | www.cosemsrs.org.br

Uma das prioridades do Governo Federal é

combater os desequilíbrios regionais na oferta de

especialistas em medicina e promover a fixação de

profissionais em localidades carentes ou remotas e no

interior do país.

Nos últimos oito anos o Ministério da Saúde

aumentou em 52% o repasse de recursos para a realização

de procedimentos como esses, de R$ 4,2 bilhões em

2003 para R$ 8,8 bilhões em 2011, com o objetivo de

qualificar a atenção e os serviços oferecidos

à população.

”Natural de São Paulo, Alexandre Padilha tem 40 anos. É médico infectologista formado pela Unicamp, com especialização pela USP. Como médico, foi supervisor do Núcleo de Extensão em Medicina Tropical do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre 2000 e 2004 e coordenou o Fundo de Pesquisa em Doenças Tropicais (TDR) da Organização Mundial de Saúde. Paralelo a isso, coordenou projetos do Ministério da Saúde ligados ao combate da malária em povos indígenas do Pará e de cooperação entre Brasil e Suriname para o controle da doença. Em 2004, assumiu o cargo de diretor Nacional de Saúde Indígena da Funasa. Foi nomeado ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República em setembro de 2009. Em 2010, foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff Ministro da Saúde.

o valor repassado atualmente, mesmo com uma grande contra partida dos municípios, é suficiente apenas para realizar a obra?

AP - O valor repassado pelo Ministé-

rio da Saúde para construção e compra

de equipamentos varia conforme o porte

da UPA. Para tipo 3, são repassados R$

2,6 milhões; para tipo 2, R$ 2 milhões;

e para tipo 1, R$ 1,4 milhão. O Governo

Federal compromete-se ainda com o re-

passe de recursos para a manutenção das

atividades, após a inauguração do servi-

ço. Os valores anuais de custeio são de R$

3 milhões ao ano para UPA Porte 3, R$ 2,1

milhões ao ano para UPA Porte 2 e R$ 1,2

milhão ao ano para UPA Porte 1.

Esses valores, porém, podem ser am-

pliados caso a UPA seja qualificada, ao

atender uma série de requisitos descritos

na Portaria 2.821, como comprovação da

cobertura do SAMU 192 e desenvolvimen-

to de atividades de educação permanente.

Nesse caso, o custeio total passa para R$

6 milhões ao ano para UPA Porte 3, R$

3,6 milhões ao ano para UPA Porte 2 e R$

2,4 milhões ao ano para UPA Porte 1.

O Ministério da Saúde repassa recur-

sos tanto para implantação de UPA como

para o custeio. A proposta para implan-

tação de UPA é previamente submetida

à análise e à aprovação do Conselho de

Saúde do Município, onde será a sede

da UPA, e pactuada na Comissão Inter-

gestores Regional (CIR) e na Comissão

Intergestores Bipartite (CIB), segundo

Portaria 2820 de 28/11/2011. Assim,

sendo insuficientes os valores de incen-

tivo para investimento e custeio, devem

ser complementados pelas Secretarias

Municipais de Saúde e pelas Secretarias

Estaduais de Saúde, conforme tenha sido

pactuado nas comissões.

REVISTA COSEMS/RS – A maioria dos municí-pios investe uma grande parte de seus recur-sos próprios na compra de procedimentos de média complexidade. Quando o Ministério da Saúde fará uma revisão dos valores da tabela de procedimentos? AP - O Ministério da Saúde trabalha na

ampliação da rede de atenção à saúde e

na ampliação do acesso às cirurgias e aos

exames para os usuários que usam o Sis-

tema Único de Saúde. O SUS oferece gra-

tuitamente procedimentos de média e alta

complexidade, que envolvem tecnologia de

ponta e custos mais elevados. Nos últimos

8 anos o Ministério da Saúde aumentou em

52% o repasse de recursos para a realização

de procedimentos como esses (de R$ 4,2

bilhões em 2003, para R$ 8,8 bilhões em

2011) com o objetivo de qualificar a atenção

e os serviços oferecidos à população.

ANTO

NIO CRUZ/ABR

Padilha diz que Ministério irá ampliar o acesso às cirurgias e aos exames; segundo ele, repasse para esse fim aumentou 52% nos últimos oito anos

Page 45: Revista Assedisa - Edição 3

45

AGENDE-SE

28º Congresso do Conselho

Nacional de Secretarias Muni-

cipais de Saúde e o 9º Congres-

so Brasileiro de Saúde, Cultura

de Paz e Não-Violência do Conasems ocorre-

rão entre os dias 11 e 14 de junho de 2012, no

Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardo-

so, em Maceió. A expectativa é reunir cinco

mil participantes, entre gestores, técnicos,

usuários e pesquisadores do SUS, para de-

bater e mapear os desafios da saúde pública

brasileira para os próximos anos.

Para o presidente do Conasems, Antônio

Carlos Figueiredo Nardi, a participação de to-

dos os gestores é fundamental para o bom an-

damento do SUS nos municípios brasileiros.

“Vamos discutir os trâmites e a saúde pública

no Brasil. É importante deixarmos claro que

o Congresso vai além do congraçamento en-

tre os secretários municipais. Abordaremos

os rumos das políticas atuais e futuras para

toda a nação”, disse. Segundo ele, o evento irá

ressaltar, principalmente, o fortalecimento

da Atenção Básica, discutindo experiências

exitosas entre os gestores.

Com o processo eleitoral nos municípios

e com o encerramento das gestões municipais

de saúde, o Congresso terá um caráter mais

avaliativo e propositivo. Serão debatidos os

avanços e os desafios da gestão nos últimos

anos, as mudanças, as novas legislações do

Sistema Único de Saúde (SUS) e o COAP. O

objetivo é avaliar como os municípios estão

se preparando para o processo eleitoral no

que diz respeito à saúde.

Maceió sedia em junho mais uma edição do Congresso do Conasems

O

Em 2010, o Congresso do Conasems no

Rio Grande do Sul aconteceu em Gramado, de

25 a 28 de maio. A 26ª sexta edição do evento

contou com a participação de quatro mil pes-

soas durante quatro dias e, nesse período, fo-

ram desenvolvidas mesas-redondas que abor-

daram o Papel do Setor Saúde na Construção

do Sistema Universal de Seguridade Social, o

Modelo de Gestão: Dilemas da Gestão Con-

temporânea e Saúde e Meio Ambiente.

A programação contou com a realização

de nove seminários e cinco oficinas em oito

cursos, além da “Mostra Brasil Aqui tem

SUS”, onde foram montados estandes de di-

versas instituições, demonstrando experiên-

cias e mecanismos de interação tanto com

os organismos ligados ao Sistema Único de

Saúde quanto com os cidadãos. O Congresso

da serra gaúcha ficou na história por receber

as propostas dos candidatos à Presidência da

República na época. Compareceram no even-

to José Serra (PSDB), Marina Silva (à época

PV) e Dilma Rousseff (PT).

Regulamentação da Emenda Constitu-

cional 29 e defesa do Sistema Único de Saúde

(SUS) como a maior conquista da sociedade

brasileira nas últimas décadas foram os princi-

pais compromissos assumidos pela então can-

Gramado recebeu o evento em 2010 didata Dilma Rousseff durante a exposição de

suas propostas. “Nós temos que buscar agora a

qualidade desse serviço de saúde. O Brasil não

pode ser olhado somente do ponto de vista de

sua economia. Ele tem que ser olhado do ponto

de vista da saúde de sua população”, disse.

Na oportunidade, a candidata reafirmou

seus compromissos com o SUS consideran-

do-o uma das maiores conquistas da socie-

dade brasileira nas últimas décadas. “É o

mais expressivo sistema de universalização

em curso no Brasil. Essa importância foi re-

afirmada no governo Lula através de alguns

programas, como o Saúde da Família. Ele é o

eixo central, o foco básico da questão da aten-

ção básica à saúde”, disse.

Segundo ela, o fato da cobertura do pro-

grama à época ter chegado a 97,3 milhões de

brasileiros é uma conquista importante, que

tem que ser motivada. “Acho que não pode ter

um modelo só. Em um país com as caracte-

rísticas e as diversidades, com as desigual-

dades regionais, não só dos estados, mas as

de dentro dos estados é impossível se querer

um modelo que não tenha flexibilidade. Ele

pode ser único na sua essência, mas tem de

ser flexível em termos de reconhecer realida-

des distintas.”

Antonio Figueiredo Nardi, presidente do Conasems, recebeu a presidente Dilma Rousseff, na época candidata, na 26ª edição do Congresso do Conasems realizado em Gramado, em 2010

ROBERT STUCKERT FILHO

O SUS é o mais expressivo sistema de

universalização em curso no Brasil. Essa importância foi reafirmada no governo

Lula através de alguns programas, como o Saúde da Família. Ele é o eixo central,

o foco básico da questão da atenção básica

à saúde

”Dilma Rousseff

Page 46: Revista Assedisa - Edição 3

46 | www.cosemsrs.org.br

REVISTA COSEMS/RS

CONGRESSO 2012: Entrevista com Antônio Carlos Figueiredo Nardi, presidente do Conasems

REVISTA COSEMS/RS – No Congresso deste ano algum tema ganhará destaque especial?ANTÔNIO CARLOS FIGUEIREDO NAR-

DI – Na verdade o tema é geral, mas é claro

que tem alguns assuntos enfocados que são

de suma importância para a gestão munici-

pal. Lógico, o Decreto 7.508, a discussão do

COAP, das RENASES e da operacionaliza-

ção do CGRs (Colegiados de Gestão Regio-

nal) dentro do Brasil vão estar na tônica de

quase todas oficinas, cursos e minicursos

que ocorrerem, pois quase tudo se refere

a isto. Com o cancelamento das portarias

NOB-SUS (Norma Operacional Básica do

Sistema Único de Saúde) e NOAS-SUS (Nor-

ma Operacional da Assistência à Saúde) e

mesmo das portarias do Pacto obtidas agora

nas duas últimas tripartites, nós estamos

sob a égide integral do decreto, falando tam-

bém da questão da Lei 141 como todos os

novos dispositivos legais que ela irá trazer.

Então eu acho que a tônica do Congresso vai

girar em cima destes dois temas.

REVISTA COSEMS/RS – Os congressos têm a fun-ção de mostrar para a mídia e a sociedade que, apesar das dificuldades, existem várias experi-ências do SUS que dão certo. Este objetivo tem sido concretizado? ACFN – Nas mostras de experiências exito-

sas vamos levar centenas de trabalhos, ex-

tremamente selecionados em mais de mais

de 1.500 mil recebidos pela organização do

evento e inscritos por todos os Cosems do

Brasil. Os exemplos abordam os mais diver-

sos temas: saúde mental, Atenção Básica,

Regulação, Odontologia, dentro do CONAC,

o fortalecimento das equipes dos PSFs, dimi-

nuição da mortalidade infantil e mortalidade

materna. Então são exemplos muito exitosos

que podem e devem ser copiados por outros,

sabendo assim aquilo que já deu certo, sendo,

de fato um dos grandes ícones do Congresso.

Além de ser um motivador para as equipes

que tiveram seus trabalhos aprovados, de po-

derem ir e apresentá-los para o país.

REVISTA COSEMS/RS – Com a realização do 28º Congresso podemos afirmar que o diálogo

sobre a efetivação do SUS e a saúde pública está acontecendo?ACFN – O diálogo tem de ser permanente e

constante. O Congresso é um dos elementos

para que este diálogo se efetive entre ges-

tores dos três níveis de governo, sociedade,

controle social e as demais instituições que

compõem o sistema. É claro que isto nós

temos conseguido dentro do Conasems, efe-

tivar este diálogo, esta articulação e interlo-

cução, além da Câmara, do Senado e das en-

tidades de classe. Desta forma, poderemos

mostrar o SUS que dá certo e os esforços

que todos têm convergido para que nós pos-

samos concretizar esta maior política de al-

cance social que a população brasileira tem

a seu alcance, que é o SUS.

agenda ainda acaba sendo a atenção básica

concretizada, sendo a ordenadora do cui-

dado e coordenadora das redes de atenção

e a efetivação do Decreto 7508. Temos um

trabalho permanente de efetivação do SUS

como um todo, no aumento do acesso, do

número de leitos, da oferta e da regulação.

Estas são as nossas lutas na agenda.

REVISTA COSEMS/RS – O 27º Congresso, assim como em edições anteriores, tem como principal foco o Pacto pela Saúde. Do ano passado para cá, o que poderemos destacar como avanço na luta para que o cuidado com a saúde seja efetivado na sua integralidade? Ou seja, o que avançou no documento norteador aprovado no 27º Congres-so Nacional da entidade?

ACFN – Nosso maior avanço foi conse-

guir dar uma maior visibilidade positiva ao

SUS, da gestão municipal da saúde como

um todo, operacionalizada dentro dos mu-

nicípios, e o avanço integrado da atenção

primária dentro das redes. Tivemos pro-

gressos no projeto conjunto que o Ministé-

rio acatou, o do financiamento de atenção

básica com o Programa de Melhoria da

Atenção e Qualidade, o PMAQ. Os municí-

pios que estão fazendo bem-feito são finan-

ciados, deixando muito claro a questão do

cuidado ordenado da Atenção Básica, co-

meçando, é claro, pela Rede Cegonha. Com

isto, a gente consegue alcançar um dos ob-

jetivos do milênio que é a diminuição da

mortalidade materna e infantil, passando

pelos avanços na saúde mental com as por-

tarias do crack e da drogadição e no acesso

a estes processos. Estes foram avanços sig-

nificativos que nós tivemos desde a reali-

zação do último Congresso. Para este ano,

nossa expectativa é a troca de gestões mu-

nicipais e já estamos elaborando a monta-

gem de planos de governo que não fujam às

diretrizes nacionais. Que ninguém tenha

que inventar a roda, mas que nós possa-

mos fazer com que a roda que existe possa

estar integralmente nos trilhos, nos 5.565

municípios do Brasil. Vamos montar pla-

nos de gestão em consonância com o SUS,

sem invenção maior.

Creio que os desafios da agenda ainda

acaba sendo a atenção básica concretizada. Temos um trabalho permanente de efetivação do SUS como um todo, no aumento do acesso,

do número de leitos, da oferta e da regulação.

Estas são as nossas lutas na agenda

REVISTA COSEMS/RS – Os desafios da agenda continuam os mesmos?

ACFN – Os desafios são sempre per-

manentes. Acho que o grande desafio

ainda é a municipalização integrada e o

financiamento, por isto a importância da

Lei Complementar nº141 (de 13 de janeiro

de 2012 e que dispõe sobre os valores mí-

nimos a serem aplicados anualmente por

União, Estados, Distrito Federal e Municí-

pios em ações e serviços públicos de saúde)

e que hoje está regulamentada, um sonho

antigo da Emenda Constitucional 29, mas

que trouxe ainda uma frustração aos ges-

tores, tanto municipais quanto estaduais

que esperavam muito mais dentro desta

regulamentação. Creio que os desafios da

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