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I M P R E S S O PODE SER ABERTO PELA ECT circulação GRATUITA Editora Mês Ano 1 - nº 3 Março de 2011 EXCLUSIVO: Pesquisa revela o que os moradores pensam sobre Curitiba Prefeitura: Quem serão candidatos na Capital? Conheça alguns nomes Paraná: Veja por que o Estado está perdendo em competitividade

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Revista mensal do Paraná. Distribuição gratuita. Anuncie: [email protected]

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Editora MêsAno 1 - nº 3Março de 2011

EXCLUSIVO: Pesquisa revela o que os moradores

pensam sobre Curitiba

Prefeitura: Quem serão candidatos na

Capital? Conheça alguns nomes

Paraná: Veja por que o Estado está

perdendo em competitividade

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entrevista Ricardo Costa de Oliveira

Por que o interesse em estudar as famí-lias políticas do PR?

Ricardo Costa de Oliveira (RCO) - A família virou o centro da vida política no Paraná. E, na verdade, todo sistema político está pautado por redes de nepo-tismo. São grandes estruturas de paren-tesco que controlam meios de produção administrativa no meio da política. Nós temos grandes famílias com suas redes de poder controlando o Poder Executivo, o Poder Legislativo, parte do Poder Judici-ário e, também, de maneira muito geral, controlando instituições como o Tribunal de Contas. Tendo grande papel em órgãos como o Ministério Público e também em outros aparelhos de poder como os car-tórios, tabelionatos. É um fenômeno so-ciológico. Comecei há mais de 20 anos

“Nós formamos uma casta de políticos profissionais”Chefe do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o professor Ricardo Costa de Oliveira fala sobre o nepotismo na política paranaense, tema de seu novo livro “A Teia do Nepotismo”. A obra, que deve ser lançada no primeiro semestre, vai trazer um olhar crítico sobre as famílias paranaenses que estão no poder do Estado há trezentos anos. Em entrevista exclusiva à Revista MÊS, Ricardo Costa de Oliveira conta detalhes do estudo que vem fazendo há mais de vinte anos e como essas famílias estão no centro do poder da política paranaense. Leia mais:

fazendo um resgate entre parentesco e poder político no Brasil meridional. É um estudo fundamentado na linguagem genealógica. No livro com o nome de “O Silêncio dos Vencedores”, eu demonstro a conexão de parentesco e poder político no Paraná ao longo de mais de 300 anos. Depois, é renovado com outras famílias de imigrantes, novas na política, mas que mantêm a mesma prática de dominação.

Do que trata “A Teia do Nepotismo”, seu novo livro?

RCO - A Teia do Nepotismo é a atual for-ma de dominação de parentesco no Paraná. E aí nós temos que analisar a família cen-

tral que está no Poder Executivo: a Família Richa. A Família Richa é uma família nova no Paraná. Ela começa com José Richa, que é um imigrante de origem libanesa. José Richa foi um self-made man no cam-po da política, uma vez que ele começa dentro das estruturas tradicionais ligadas ao então grande político paranaense Ney Braga. Ele começa como um assessor nos quadros do “Neyismo”, que era uma escola tradicional da velha classe domi-nante paranaense. Beto Richa [o filho] também se casa dentro de uma das fa-mílias mais importantes na economia do Paraná, que é Família Andrade Vieira, do Banco Bamerindus. Beto Richa conhece Fernanda Andrade Vieira, que é filha de

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Estamos no século XXI e o nepotismo só piorou

no Paraná

um dos donos controladores do Bamerin-dus – o Thomaz Edison Andrade Vieira –, exatamente na casa de veraneio dos donos do Bamerindus, em Guaratuba. Isto mostra a conexão entre o novo poder político – a Família Richa, e o tradicional poder econômico financeiro da Família Andrade Vieira. Hoje, Fernanda Andrade Vieira é secretária do Governo do Estado. O irmão de Beto Richa, José Richa Filho [Pepe], é o principal secretário de Infra-estrutura e de Logística, de um modo que toda a negociação com as empreiteiras, com as obras públicas são feitas através do seu irmão. Isso aí em muitas democra-cias seria proibido. Também, José Richa é secretário de Governo do Estado, e a mulher, Morgana Richa, é membro inte-grante do Conselho Nacional de Justiça. Se o Judiciário deveria estar vigiando e modernizando as instituições, combaten-do o nepotismo, aí é um problema, como é que pode alguém do Conselho Nacional de Justiça fazer parte de uma família que é protagonista do nepotismo político no Estado do Paraná? Qual é a relação entre os dois livros?

RCO - É a continuidade, porque “O Si-lêncio dos Vencedores” ele é um livro que analisa as relações entre parentesco de poder político no Paraná até o final do século XX. Já estamos no século XXI e o nepotismo só piorou no Paraná. Nós ti-vemos o governo de Requião de Mello e Silva que era outra imensa rede de nepo-tismo. E essas conexões de parentescos, elas não estão apenas no Poder Executivo, elas atuam de maneira muito forte e estru-turada no Poder Legislativo. É um caso de polícia. De acordo com os membros jurídicos, houve um desvio de mais de um bilhão de reais da Assembleia Legislati-va nos últimos anos. Então é uma quan-tia fantástica e o poder político é pautado exatamente em termos de relação de pa-rentesco. É uma grande conexão de inte-resses de famílias e de mediações dentro do poder público.

Em quais órgãos esta rede está mais instalada?

RCO - A rede para existir, se reproduzir, ela tem que estar inserida no Poder Exe-cutivo, que é o principal poder para per-mitir a existência da rede de nepotismo. Roberto Requião de Mello e Silva colo-cou toda a sua família. [A família] tem de ter a caneta de poder do orçamento para fazer negócios, atividades, ter relações

com fornecedores, com as empreiteiras, com dinheiro nas eleições. Você tem re-gras muito claras que combatem o nepo-tismo em democracias modernas.

Em entrevista, já mencionou que Ro-berto Requião praticava nepotismo mi-litante, e com Beto Richa no governo, o nepotismo está no próprio centro do poder. Quais as semelhanças e as dife-renças entre as duas administrações?

RCO - Roberto Requião é intelectual-mente mais elaborado e mais consis-tente que Beto Richa. Roberto Requião de Mello e Silva vem também de uma tradicional família de políticos que vêm do nordeste. Chegaram pelo nepotismo. Eu encontrei uma carta no museu, em Lages, que fala do bisavô de Requião, Justiniano de Mello e Silva, ele está pe-dindo um emprego, porque ele é parente de importantes políticos no Império. Eles sempre tiveram essa cultura [do nepotis-mo]. Ele [Requião] é um dos principais parlamentares, tem muito carisma, tem um discurso à esquerda, sensibilidade

social, mas ele fez um governo pautado no nepotismo. E permitiu toda a rede de nepotismo na Assembleia Legislativa, em seu secretariado. Governo Requião tam-bém é um governo que destruiu os parti-dos. Esta é outra importante condição do nepotismo: destruir os partidos políticos. Só deve existir a família que manda. Da mesma maneira que hoje Beto Richa ten-ta controlar o PSDB com a sua família, já colocando o seu filho que é secretário municipal, Marcello Richa, controlando a juventude do PSDB. Para o nepotismo, o que vale é família, redes de interesses, uma rede de dependências pessoais que atravessa o poder.

Enquanto na Ditadura os brasileiros lutaram pela democracia, hoje perce-bemos as mesmas famílias se perpetu-ando no poder. Vivemos numa real de-mocracia ou falsa sensação?

RCO - É uma democracia formal, porque nós sabemos o abuso e a influência do po-der econômico nas eleições. Se você con-trola a Assembleia Legislativa, terá muito dinheiro para gastar em suas eleições. Houve campanhas para deputado federal com R$ 25 milhões. Houve campanhas para deputado estadual com R$ 8 mi-lhões. Quer dizer, um político profissional que tenha tanto dinheiro, praticamente, compra a sua eleição. Porque nós temos, lamentavelmente, ainda toda a carência dos currais eleitorais. É preciso a refor-ma política, é preciso espaço para novas lideranças que venham dos movimentos sociais, das associações empresariais, que venham da boa política na base. Temos que mudar pela democracia, pelo voto, pela participação, exigindo transparência, moralidade e instituições que funcionem.

A forma como o aparelho do Estado está colocada propicia o nepotismo?

RCO - Propicia. E quem controla o poder quer manter o nepotismo ao nomear ir-mãos e parentes para os principais cargos. Ao nomear parlamentar que, por sua vez, irão nomear seus próprios parentes. É im-pressionante o número de deputados, de secretários que também têm parentes den-tro do governo, tanto no governo Roberto Requião de Mello e Silva, como no atual governo de Beto Richa. Porque cada se-cretário, cada deputado da base de apoio quer também indicar seus parentes, suas redes de dependência. Foi assim com Ro-berto Requião de Mello e Silva. É assim com Beto Richa.

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O senhor declarou que o nepotismo só cresce em meio a grandes carências pessoais, de um eleitorado pobre e sem cidadania, assim é o Paraná?

RCO - É um fato político. Basta analisar as votações dos deputados mais vincu-lados ao nepotismo. Vamos observar os municípios em que o jovem Alexandre Curi recebeu a maior votação. Teve uma excelente votação Alexandre Curi: 134 mil votos. Teve uma votação nos municípios mais carentes, onde há aquela relação de clientelismo em que o prefeito, o verea-dor, para receber dinheiro do orçamento da Assembleia Legislativa, tem que apoiar os políticos mais tradicionais. É uma rede de clientelismo. Uma rede baseada no atraso. Quanto mais dinheiro tem um candidato, maior a probabilidade que ele se eleja. Um candidato só com as suas ideias, não irá se eleger. O Poder Legislativo no Brasil está inflacionado no sentido orçamentário. A Assembleia Legislativa poderia funcionar muito bem com metade do orçamento. E a outra metade poderia ser investida nos municípios com menor Índice de Desen-volvimento Humano [IDH], nas regiões mais pobres e carentes. O mesmo para as Câmaras Municipais, também em Brasí-lia. Aquilo ali é um trem da alegria. Ilha da fantasia. Cada parlamentar na verdade se tornou “para lamentar”. É uma socie-dade anônima. Movimentam muito di-nheiro: R$ 200 mil reais por mês, sendo um deputado federal; R$ 140 mil, um deputado estadual. O parlamentar é para fazer política, é para defender suas ideias, elaborar políticas públicas, não ser um despachante de redes de nepotismo.

Hoje podemos dizer que política é um negócio de família?

RCO - Seguramente. Política é negócio de família e nós formamos uma casta de políticos profissionais. Filhos, netos de políticos, se elegem pautados em redes políticas tradicionais e no abuso do poder econômico. Você está no poder do Estado, você reúne dinheiro para manter a sua fa-mília na política. Então, muitas denúncias de Caixa 2, de irregularidades procedem. Política virou um negócio de família. Não apenas de direita, mas também em alguns setores de esquerda. E a esquerda tem um papel importantíssimo em modernizar o Brasil. O Paraná é um estado controlado por oligarquias e por semicastas de polí-ticos profissionais. O Brasil hoje é mui-to mais moderno, temos mídias, temos movimentos sociais, mas a reprodução

do poder político é muito pautada no pa-rentesco e nessas redes de nepotismo que produzem e reproduzem a desigualdade social e produzem todos esses atos que corrompem o sistema político, legislativo e judiciário.

A cobrança de setores da sociedade pela transparência tem ajudado a mu-dar essa consciência?

RCO - É o que contribui. O conjunto dos movimentos sociais, da população organizada, da imprensa. No Paraná, a imprensa teve uma força muito impor-tante ao mostrar toda a rede de corrup-ção, de irregularidades na Assembleia Legislativa. Rede que já vinha de déca-das. A imprensa moderna tem um papel decisivo. É preciso uma imprensa inde-pendente e autônoma.

Para mudar, precisamos de uma refor-ma política?

RCO - A reforma política é um dos ins-trumentos, mas é preciso uma mudan-ça na cultura política, uma mudança na consciência política, uma revolução nas atitudes no Brasil. Porque, nós temos que querer como objetivo a construção ins-titucional. Instituições que funcionem, com a burocracia meritocrática, com ra-cionalidade, transparência, legalidade, impessoalidade e todos os elementos que estão previstos na constituição. É preciso

construir partidos modernos, que não se-jam feudos de famílias. Tudo isso, passa pela cidadania, pela educação, pela cons-ciência e pela organização e mobilização da sociedade. Os políticos profissionais, sob vários aspectos, representam uma verdadeira praga. Já avançamos muito e acho que ainda temos muito espaço para avançar na área de reforma política, na educação, cidadania, saúde. Mas sempre controlando esta casta maléfica de políti-cos profissionais e suas famílias que mo-nopolizam o poder no Brasil e no Paraná.

Quais mecanismos seriam eficazes?

RCO – Mecanismo é organização, mo-bilização e o voto. Acho que nós con-quistamos a democracia no Brasil nos anos 80 e não merecemos esta casta de políticos profissionais que nós temos hoje em dia, políticos que defendem as desigualdades e mantêm esquemas de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná e nas Câmaras Municipais. Preci-samos de gente nova no Parlamento, não apenas filhotes de políticos profissionais, mas pessoas que representem os movi-mentos sociais e os municípios pobres. É impressionante como municípios pobres não têm representantes autênticos, com poucas exceções. Isso é o que fará dife-rença, a organização popular da socieda-de e sempre com o aumento da educação que em última instância é o que fará a diferença civilizatória.

O cientista político Ricardo Costa de Oliveira faz duras críticas a condução da política paranaense

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PANETTIEREAv. Cândido Hartmann, 3515Sto Inácio / Curitiba

PRESTINARIARua Euclides da Cunha, 699Bigorrilho / Curitiba

BABILÔNIAAl. Dom Pedro II, 541Batel / Curitiba

REQUINTEFrancisco Rocha, 1809Champagnat / Curitiba

Rua Recife, 34Cabral / Curitiba

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MATÉRIA DE CAPA 14

A TRAgÉDIA DAS ágUAS DE MARçO

4 ENTREVISTA

12 MIRANTE

22 COLUNA

23 MENSAgENS DOS LEITORES

40 5 PERgUNTAS PARA: CARLOS EChEVERRIA

64 LIVROS

65 áLBUNS

66 OPINIÃO

67 FOTOgRAMA

CIDADES 24 “QUANTAS CURITIBAS

cabem numa só curitiba?”

29 MODELO EM DECADêNCIA

ECONOMIA38 gALINhA DE OVOS DE OURO

PODE VIRAR BANQUETE

COMPORTAMENTO31 MULhERES QUE LIDERAM

O PARANá

EDUCAçÃO34 DE MALAS PRONTAS PARA

O EXTERIOR

SAÚDE36 PROBLEMA COM

hORMôNIOS NÃO É COISA (Só) DE MULhER

INTERNACIONAL41 CRISE DO PETRóLEO EM

PLENO SÉCULO XXI?

TURISMO48 É O MOMENTO DE PARAR

POLÍTICA18 TUDO É POSSÍVEL NO

jOgO DA PRÉ-ELEIçÃO

20 A DISPUTADA CADEIRA DO LEgISLATIVO

CULINáRIA E gASTRONOMIA50 ROTA DAS MASSAS

sumárioEditora MêsAno I – nº 3Março de 2011

ESPORTE52 ELES TêM MUITO A CONQUISTAR

TURISMO, CULTURA E LAZER56 hISTóRIA E CULTURA PRESERVADAS

58 LONgE DOS ShOwS INTERNACIONAIS

MEIO AMBIENTE54 RIOS: ChEIOS DE LIXO E QUASE SEM VIDA

AUTOMóVEL62 A PAIXÃO PELO SEDÃ COMPACTO DA PEUgEOT

MODA E BELEZA60 A MODA QUE O PARANá FAZ

TECNOLOgIA46 ONDE VOCê ESTá?

AgRICULTURA42 INOVAR ALÉM DA PORTEIRA

44 DO PARANá PARA O MUNDO

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unca antes as pessoas estiveram tão ligadas umas às outras em conexões es-treitas e, ao mesmo tempo, em relações tão frágeis. A internet, sem dúvida ne-

nhuma, é a maior ferramenta para que a sociedade tenha se configurado desse modo. Ela tem sido instrumento de queda de governos totalitários, da construção coletiva do conhecimento e tem dado provas de mobilização contra catástrofes.

Vive-se numa nova fase da aldeia global de Marshall McLuhan. Nada parece tão pa-radoxalmente correto para definir o mundo dos tempos atuais. Uma aldeia, onde todo mundo se encontra no Facebook, Twitter ou Foursquare. Em um lugar em que todos dependem reciprocamente de relações econômicas, políticas e sociais. E tão global, em que a multidão de pessoas e o vai e vem das cidades se torna cada dia mais com-plexo e cheio de abismos entre mim, você e o outro.

Em meio a isso tudo, esta edição da Revista MÊS traz a você a força das Águas de Março, que levaram uma verdadeira tragédia ao litoral paranaense. Histórias sofridas, num cenário de destruição.

Também vamos tratar sobre as relações humanas e suas fronteiras. Vamos falar sobre Curitiba, nossa aniversariante, e as várias cidades dentro de uma só; dos investimentos privados no território paranaense; da gastronomia da Itália; das mulheres.

E vamos mais a fundo, buscando tratar das contrariedades dessa sociedade, que ao mesmo tempo, que muitos paranaenses, princi-palmente de Curitiba, estão de malas prontas para viver novas experiências em outros países, a cidade tem dificuldades em receber estrangeiros: os artistas internacionais para grandes shows de música.

Sobre a Capital, vamos trazer também os problemas no transporte coletivo urbano da cidade, que antes era modelo de futuro. Futuro que já devia ter chegado. No entanto, em alguns setores da sociedade, essa máxima costuma não vingar.

A política - é uma delas - que em vez de renovar-se a cada eleição, mostra-se hermética. Famílias inteiras servem-se do Poder sem dar espaço a novas caras políticas, nascidas em outros berços, que não os de ouro. Por isso, já é hora de pensar em quem os curitibanos vão escolher para governar a Prefeitura de Curitiba. Alguns nomes já estão postos para análise.

Tão ligados e tão distantes do ideal. É o efeito borboleta. Consolidando a teoria do caos, é preciso que os moradores dessa aldeia pos-sam viver esse processo conturbado para que sejam capazes de transformá-la, verdadeiramente, em uma aldeia igual.

Boa leitura!

editorial

expedienteA Revista MÊS é uma publicação mensal de atualidades distribuída gratuitamente.É produzida e editada pela Editora MÊS EM REVISTA LTDA.Rua Comendador Araújo, 565, Centro – Curitiba (PR) – Fone / Fax: 41 3223-5648 – e-mail: [email protected] REDAÇÃOEditora-executiva e Jornalista responsável: Arieta Arruda (MTB 6815 / PR); Repórteres: Mariane Maio e Iris Alessi; Diagramação: Tércio Caldas; Projeto Gráfico: Carlos Nascimento Neto; Fotografia: Roberto Dziura Jr.; Revisão: Larissa Marega; Direção comercial: Paula Camila Oliveira; Departamento comercial: Sandro Alves – [email protected] – Fone: 41 3223-5648; Produção gráfica: Prol Editora Gráfica; Colaboraram nesta edição: Tiago Oliveira, Wallace Nunes, Bruno Cassucci, Eduardo Bentivoglio, Christiane Yared, Analu Koni

Vivendo em uma “Aldeia Global”N

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mirante

Na onda do KassabA criação do PSD (Partido Social Democrático) articulada pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab deve mexer com o quadro político também aqui no Paraná. A possível fusão desse novo partido com o Partido Socialista Brasileiro (PSB) deve mexer com as alianças em Curitiba. Também pelo menos um prefeito de uma grande cidade da Região Metropolitana já está de malas prontas para deixar o seu partido e ingressar na nova legenda. A conferir.

Me dá um partido aíA marchinha de Carnaval bem que pode-ria servir de inspiração à campanha reali-zada nos últimos meses pelo ex-deputado e candidato derrotado ao Senado, Gustavo Fruet (PSDB). Fruet está em campanha aberta para encontrar um partido que lhe garanta o espaço de candidato a prefeito de Curitiba nas eleições de 2012. Como não tem assegurado o apoio do governa-dor Beto Richa (PSDB), que deve apoiar o prefeito Luis Ducci (PSB), Fruet anda batendo em tudo quanto é porta em busca de uma legenda. Foram procurados parti-dos até então inimagináveis.

Salário de jornalistasO deputado federal Dr. Rosinha (PT) usou a tribuna da Câmara dos Deputados para criticar o congelamento de 14 anos dos salários dos jornalistas do Paraná. Em seu pronunciamento, o parlamentar petista lembrou que durante esse tempo os salários da categoria não tiveram um “centavo” de ganho real.

Trabalho

Quarta de cinzas e debatesOs senadores paranaenses Gleisi Hoffmann (PT) e Alvaro Dias (PSDB) protagonizaram um belo debate no Plenário do Senado Federal na quarta-feira de cinzas. O tema foi a política econômica brasileira. De um lado, o tucano afir-mando que durante o governo do ex-presidente Lula não houve crescimento significativo no Brasil. De outro, a senadora petista comparou o crescimento médio nos governos FHC (2,3%) e Lula (4%) para mostrar a diferença dos resul-tados das políticas econômicas defendidas por tucanos e petistas. Nesse ponto numérico, não resta dúvida, ganhou o governo Lula.

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Primeiro de abril Diz o ditado popular que primeiro de abril é o dia dos bobos ou o dia da mentira. Então sempre é bom duvidar de tudo que acontece nesses dias. Pois, em 2009, a mesa diretora da Assembleia Legislativa do Paraná levou o dita-do ao pé da letra. Em 01/04/2009 a direção da Assembleia – tendo à frente os deputados Nel-son Justus (DEM), Alexandre Curi (PMDB) e o ex-diretor-geral Bibinho – ao divulgar uma lista de funcionários da Alep omitiu cerca de 70 nomes. Entre os nomes omitidos constavam fantasmas e parentes de deputados. A acusa-ção é do Ministério Público Estadual que foi divulgado recentemente.

Pagador de promessasO senador Roberto Requião (PMDB) está cobrando do go-vernador Beto Richa (PSDB) a equiparação dos salários dos professores, funcionários e agentes profissionais prometida pelo então candidato tucano. Richa afirmou durante a campanha eleitoral incorporar o auxílio-transporte e um reajuste de 26%. A cobrança foi levantada por Requião em seu Twitter: “Será que o novo governador será um bom pagador de promessas?”, questiona o atual senador.

Investimentos em CuritibaO prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), esteve em Brasília (DF) buscando recursos para investimentos na Capital. Com o apoio do ministro das Comu-nicações, Paulo Bernardo (PT), teria conseguido garantias de que os recursos federais virão para as obras do metrô. Será uma atitude republicana ou algum sinal para alianças futuras? Há quem diga que PT e PSB juntos nas eleições municipais de 2012 não seja im-possível de ocorrer.R

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hora de reconstruirCatástrofes naturais estão cada vez mais frequentes ao redor do mundo. Este mês, o Paraná foi fortemente castigado por chuvas que causaram destruição e mortes no litoral do Estado. Outro cenário de devastação muito grave foi o Japão, que sofreu com terremotos avassaladores, acrescidos de tsunamis que lavaram cidades inteiras. A maior preocupação agora é com a Usina Nuclear de Fukushima. Também será preciso planejar a reconstrução do Japão, assim como é preciso ficar alerta, com mais investimentos em prevenção e cui-dados com o meio ambiente. A natureza está dando seu recado.

Leão à vistaO leão do Imposto de Renda está reinando. Até o dia 29 de abril, a Receita Federal disponibiliza o programa para os contribuintes declararem seus rendimentos à União. Para este ano, os cidadãos precisam ficar atentos às novidades. Limite maior, fim do formulário de papel, casais homossexuais po-derão incluir seus parceiros na declaração, estas são algumas das novas regras. Então não deixe para a última hora. Entre na página da Receita Federal (www.receita.fazenda.gov.br) e saiba como ficar quites com o leão.

“O secretário Hauly deu a entender que o governo não vai conceder reajustes ao funcionalismo nos próximos quatro anos. Estamos diante do primeiro estelionato eleitoral do governo do PSDB no Paraná”

Deputado estadual, Enio Verri (PT)

“Não assumo a responsabilidade de equacionar sozinho a demanda dos servidores, que considero legítima”

Secretário de Estado da Fazenda, Luiz Carlos Hauly (PSDB)

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o dia 11 de março, sexta-feira, o morador da comunidade de Floresta, em Morretes (PR), Daniel Delfino dos Santos,

havia saído de sua casa para trabalhar, como fazia costumeiramente há três anos.

Morretes, importante cidade histórica, ficou marcada pelos desastres causados por rios caudalosos e fortes chuvas, que abalaram todo o litoral paranaense

NIris Alessi - [email protected]

A tragédia das águas de marçoDepois do almoço, perto das 13h, já no trabalho novamente, ouviu - junto com o patrão - um barulho muito forte. Um estrondo. O patrão de Santos comentou: esse barulho não é de trovão!

A suspeita estava certa. A chuva não dava trégua havia três dias nos morros que cer-cam a comunidade. Na noite anterior, na quinta-feira (10), a chuva caiu sem parar, o rio que corta a região já estava alto e dava indícios de que iria aumentar sua força. O morador, ao ver que depois do forte barulho o rio continuava a subir, avi-sou ao patrão que iria voltar até sua casa para socorrer os objetos.

Tarde demais. Segundo Santos, quando ele chegou em casa não tinha mais como salvar muita coisa. A água já estava baten-do próximo ao joelho. Sua força tratava de levar água para dentro de casa, sem a menor cerimônia. Rapidamente, cerca de 20 minutos depois, a água que entrava já batia na altura do peito de Daniel.

Em pouco mais de meia hora, tudo já ha-via sido levado pela combinação do grande volume da chuva e da força da água do rio Jacareí. Lama, galhos e árvores inteiras des-ceram morro abaixo. Os moradores, prin-cipalmente, mulheres e crianças da região foram resgatados às pressas por helicópte-

matéria de capa

OUTRAS CIDADES TAMBÉM ATINgIDASAlém dos municípios do Litoral do Esta-do, outras cidades foram atingidas pelas águas de março. Segundo a Defesa Civil, a cidade de Honório Serpa, no Sudoeste do Paraná, está em situação de emergência. Por lá, 4 mil pessoas foram afetadas pelas

fortes chuvas, uma pessoa morreu e as es-tradas rurais e 12 pontes foram danificadas.

Em Mangueirinha (PR), cidade que faz divisa com Honório Serpa, as enxurradas também deixaram seu rastro de destruição.

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ros e por outros voluntários. Apenas alguns homens ficaram no local para cuidar das poucas casas que ainda resistiam. O medo era agora dos saqueadores. “Estamos cui-dando, porque tem muita gente mexendo, muita gente roubando, estourando porta de casa que ficou. E nós estamos por isso [cui-dar das casas]”, lamenta o morador.

Em meio a tudo isso, a situação só não foi mais grave, pois o horário em que ocorreu a inundação propiciou uma ação mais rá-pida das pessoas. “Sorte do povo da Flo-resta é que a enchente foi durante o dia”, acredita a primeira-dama e secretária de Assistência Social de Morretes, Rosânge-la Franquetto da Silva.

Areia e troncosEsta comunidade - o distrito de Floresta - foi a mais atingida em Morretes, cidade que aliás teve o maior número de pessoas afetadas pelas chuvas no Estado. Quase a totalidade da população foi atingida. Se-gundo a Defesa Civil do Paraná, em todo o município de Morretes, foram 15.178 pessoas afetadas pela chuva, o que repre-senta mais de 95% de toda a população.

Em Floresta, viviam cerca de 170 famí-lias por lá e está quase impossível iden-tificar onde passava a estrada e onde era o curso normal do rio. Também é difícil imaginar como era a região antes, tama-nho foi o estrago.

O local, que está quase isolado, se trans-formou num grande monte de areia e troncos de árvores de todos os tamanhos, que parecem ter ficado depositados ao longo do curso do rio Jacareí, que corta a estrada, a BR-277. Não há mais acesso para carros à comunidade e para chegar a pé também é necessário passar por uma trilha em meio ao mato fechado que liga Floresta ao Mundo Novo do Saquarema

ou seguir o rastro deixado pelo rio até a rodovia. Uma longa caminhada. Foi neste segundo caminho, que a equipe da Defesa Civil de Paranaguá optou para levar ces-tas básicas aos moradores isolados que ficaram para cuidar das residências.

Mundo Novo do SaquaremaA devastação das águas não deixou mar-cas apenas em Floresta. Outra comunida-de bastante atingida foi o Mundo Novo do Saquarema. A presidente da Associa-ção de Moradores da Comunidade, Eliane Schonrock, relata o pavor que sentiu ao ver a água subir. “A correnteza era mui-to forte. Ilhada sem poder pedir socorro, porque o barulho da água era muito forte. Foi terrível”, relembra Eliane, que tam-bém disse ter ouvido um ruído que se as-semelhava a um motor e que quando “es-tourou”, percebeu uma grande quantidade de água descendo dos morros.

Eliane conta que tudo foi muito rápido. A correnteza da enchente também trouxe troncos de árvores e tudo mais que a água podia carregar. No momento que come-çou a alagar, ela deixou a casa para salvar

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A tragédia das águas de março

um dos cachorros que estava preso. Com isso, ficou ilhada na lavanderia da pro-priedade em cima de um carrinho de mão, com um dos cães e, num outro carrinho, estavam outros três animais de estimação. De longe, ela viu a água atingir o gali-nheiro e sua casa, levando tudo que havia no piso da residência. “Foi tudo embora”. Eliane recorda que no dia, os telefones celulares estavam sem sinal, dificultando ainda mais o pedido de ajuda.

No local, uma propriedade agrícola, a moradora viu os animais de criação sendo levados pela água sem a possibilidade de socorrê-los. As ferramentas de trabalho na lavoura e implementos agrícolas tam-bém forram carregadas pela correnteza.

EnchentesAs enchentes na região são comuns, se-gundo a presidente da Associação de Mo-radores. Antes, comumente a água atingia e passava sobre as pontes da comunidade, mas desta vez as pontes também foram levadas. A catástrofe também chegou às áreas urbanas. No bairro Vila Ferroviária, próximo ao centro de Morretes, as casas foram inundadas.

Em todo o município de Morretes foram 15.178

pessoas afetadas pelas chuvas

Segundo Notificação Preliminar de De-sastres da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, 50 casas foram danificadas, 2 mil pessoas afetadas, além de estradas que também foram danificadas. Resultados apurados até o fechamento desta edição.

Em São José dos Pinhais (PR), município da Região Metropolitana de Curitiba, 400 pes-soas foram afetadas pelas fortes chuvas devi-do a uma queda de barreira que interditou a via que dá acesso à Colônia Castelhano. No Sudeste, o município de Rio Azul (PR)

também foi atingido. As enxurradas da-nificaram 25 residências e deixaram 120 pessoas desalojadas. Ao todo, mais de 30 mil paranaenses foram atingidos pe-las fortes chuvas. Resultados apurados até o fechamento desta edição.

A força das águas arrasou a Igreja na comunidade de Floresta, em Morretes (PR)

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matéria de capaA moradora do bairro, Célia Maria Pereira, nascida na cidade, viu a enchente atingir mais de um metro de altura e estragar sua casa, incluindo o portão, que foi derruba-do pela força da água. Segundo ela, o que ocorreu foi a combinação rara da inunda-ção dos rios Marumbi e Nhundiaquara e a maré alta, fazendo com que os rios não tivessem a vazão normal para o mar.

Os objetos da casa de Célia - que estavam na garagem - foram colocados sobre uma bancada para minimizar os estragos, mas a água subiu acima da altura de onde eles estimavam e muitas coisas estragaram. “No centro da cidade de Morretes todo mundo perdeu”, ressalta Célia que recor-da a impotência diante da situação por não saber o que salvar.

No dia da tragédia, segundo Célia, não havia chovido forte no bairro onde mora, estava apenas nublado. Para ela, essa foi uma das piores enchentes da cidade, no entanto, relatos de vizinhos acreditam que em 1969 a enchente foi pior.

AlertaImpressões à parte, o estrago foi tão gran-de na cidade que foi necessário a Pre-feitura decretar “estado de calamidade pública”. De acordo com a procuradora Geral do Município, Jéssica Ronchini Montalvão, a Defesa Civil de Morretes já estava em alerta, pois chovia em grande intensidade há alguns dias.

Quando esse tempo se apresenta, as auto-ridades - em caso de suspeita de enchente – preparam o ponto de abrigo principal, que é o Colégio Estadual Rocha Pombo. Este local fica preparado para receber as pessoas, que eventualmente fiquem desa-brigadas. Depois do desastre do dia 11 de março, cerca de 700 pessoas ficaram abri-gadas no Colégio. No dia seguinte após a enchente, logo que a água baixou, muitas

pessoas retornaram às suas casas para con-tabilizar os estragos e retomar sua rotina ou foram para casa de parentes, em busca de solidariedade para reconstruir sua vida.

AtingidosNa região central de Morretes, o que an-tes era formada por uma arquitetura his-tórica e colorida, deu lugar às marcas da água suja que atingiram as paredes das casas no dia da enchente. Apesar de não haver ocorrências de mortes ou feridos, na região central, “95% da população foi atingida. Todo mundo perdeu a maioria dos móveis, perdeu colchão, alimentos, a [distribuição] de água ficou três dias para normalizar”, enfatiza a procuradora Geral do Município.

Os locais atingidos não foram apenas Flo-resta, Mundo Novo do Saquarema e Vila dos Ferroviários, mas também Vila Rocio, Vila das Palmeiras, Vila Santo Antônio, Vila Freitas, Sambaqui e Morro Alto, onde as pessoas foram resgatadas por tratores da Prefeitura, pois duas pontes que ligam à re-gião foram totalmente destruídas.

A primeira-dama e secretária de Assistên-cia Social de Morretes, Rosângela Fran-

quetto da Silva, diz que a única região que não foi atingida é onde está localizado o Colégio Estadual Rocha Pombo que fica próximo à Igreja. Também foram afetados edifícios administrativos, como a Prefei-tura e o Fórum da cidade.

MortesUm grande número de pessoas teve pre-juízos materiais e uma morte foi registra-da em decorrência da tragédia. “De todas as tristezas que a gente sofreu, a gente tem a alegria de ter sobrevivido muita gente, de termos um caso de morte na ci-dade. Um só”, ressalta Rosângela.

O Comandante do Corpo de Bombeiros de Guaratuba e Comandante das Opera-ções da Defesa Civil de Morretes, Capi-tão Fabrício Frazatto dos Santos, confir-ma que a região da Floresta foi o local onde houve o maior desastre. “Foi ali que ocorreu a morte. Posteriormente, a isso não teve um evento tão desastroso quanto aquele lá. Isso minimizou o ris-co, minimizou a quantitativa de pessoas mortas e de pessoas machucadas”, com-pleta o Capitão. A morte confirmada é de uma senhora da terceira idade, que mora-va na área rural de Floresta.

SOLIDARIEDADE

As famílias do litoral paranaense vão precisar da ajuda e da solidariedade para poder recons-truir o que a água da chuva levou. Por isso, a doação de mantimentos, principalmente, os de consumo fácil como bolacha e barras de cereais, por exemplo, produtos de higiene pessoal, limpeza, água, colchões, roupas de cama e roupas são muito importantes.

Saiba como ajudar os atingidos pela enchente

As doações podem ser feitas nas re-des de supermercados BIG, Merca-dorama, Condor e Mufatto. Também nos postos do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar ou ainda diretamente no barracão da Defesa Civil em Curi-tiba na Rua Sergipe, número 1712, Vila Guaíra.

Pres. da Associação de Moradores, Eliane Schonrock, lembra com pavor os momentos da enchente

Dinheiro:Banco Itaú, agência 4143, conta corrente 00736-9. Banco do Brasil, agência 3041-4, conta 25.101-1. CNPJ do Provopar Ação Social: 76.793.397/0001-88.Para mais informações, ligue (41) 3350-2607.

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DonativosMesmo registrando apenas uma morte, os estragos e prejuízos na cidade impres-sionam. De acordo com números da De-fesa Civil, 2.450 residências foram da-nificadas e 85 destruídas; 1.180 pessoas ficaram desabrigadas, em abrigos ou em casas de parentes.

Como muitas famílias perderam tudo, as autoridades locais aguardam donativos de alimentos de fácil consumo, água, produ-tos de higiene pessoal e limpeza, colchões e roupas de cama. Segundo a Procuradora Geral do Município, após pouco mais de cinco dias do desastre, Morretes já havia re-cebido mais de 200 toneladas de donativos que atenderam as pessoas alojadas no Colé-gio e também foram encaminhados para as regiões mais afastadas. E a ajuda não deve parar de chegar. Muitos voluntários ajudam na triagem das roupas, calçados e alimen-tos. A solidariedade pode ser vista em cada etapa da recuperação dessa tragédia.

Um dos locais que estava recebendo doa-ções levadas por voluntários e a Defesa Civil foi a comunidade de Mundo Novo do Saquarema, onde vivem, segundo a presidente da Associação de Moradores, 74 famílias. Os moradores receberam água, comida, produtos de limpeza, higie-ne pessoal e roupas.

BR-277Para chegar até Morretes, a reportagem da Revista MÊS desceu a Serra do Mar pela Estrada da Graciosa, pois a BR-277, que liga Curitiba à Paranaguá e aos mu-nicípios do litoral, estava com trânsito lento nos dois sentidos próximos a entra-da de Morretes.

Durante o trajeto para chegar em Mor-retes era possível ver alguns clarões na Serra do Mar, resultado de notórios des-barrancamentos. Na sexta-feira anterior a enchente, a equipe da MÊS havia feito o mesmo trajeto (de trem), como opção de turismo da região, e constatou que essas aberturas na mata atlântica não existiam.

O trânsito também mudou nos dias sub-sequentes à catástrofe. Segundo a conces-sionária que administra a rodovia, Ecovia, a lentidão é grande e a cada dia são quilô-metros e mais quilômetros de congestio-namento, devido a queda de duas pontes no sentido Paranaguá – Km 18, ponte so-bre o Rio Jacareí e Km 24, ponte sobre o

VOLTA PRA CASA

Lavar e desinfetar utensílios e a caixa de água;

Tratar a água para consumo humano direto ou preparo de alimentos. Para cada 1.000 litros deve-se usar 100 ml de hipoclorito de sódio a 2,5% ou de água sanitária – isto equivale a 2 copinhos de café (descartáveis)

Evitar contato com água e lama, usan-do sempre botas e luvas de borracha;

Não brincar ou nadar em lagos, cavas, córregos e nem nas águas de enchente;

Dicas e cuidados, em caso de enchentes

Rio Sagrado I – além do Km 26, na ponte sobre o Rio Sagrado II, que teve a cabe-ceira destruída com a força das águas, mas que já foi reconstruída e no Km 29, ponte sobre o Rio Sagrado III, que está com problemas na estrutura. Segundo a Ecovia, as pontes estão em constante mo-nitoramento dos técnicos.

No sentido Curitiba-Paranaguá, o lado que mais teve estragos foi o direito da ro-dovia, justamente o lado no qual ficam as áreas rurais mais atingidas pela enxurra-da. O desmoronamento das pontes deixou as comunidades por mais tempo isoladas.

Litoral paranaenseApesar de ter sido o município mais atin-gido, Morretes não foi o único do litoral paranaense que sofreu com as fortes chu-

Inutilizar alimentos naturais ou pre-parados assim como medicamentos que entraram em contato com a água da en-chente;

Lavar a residência com água limpa e água sanitária; não esqueça das luvas e botas de borracha;

Não use água de fontes naturais e po-ços rasos depois de enchentes, pois po-dem estar contaminados.

Atenção com a rede elétrica. Não faça nada sem consultar a Copel.

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde do Paraná.

vas após o feriado de Carnaval. Antonina (PR) também decretou “estado de calami-dade pública”. Na cidade histórica, foram 7.550 pessoas atingidas pelos desbarran-camentos e enchentes. A Defesa Civil confirmou duas mortes no município até o fechamento desta edição.

Outros dois municípios que decretaram situação de emergência foram Paranaguá (PR) e Guaratuba (PR). Na cidade portuá-ria, foram 4.000 moradores afetados e um óbito confirmado. Já em Guaratuba, 1.590 pessoas sofreram com a ação das chuvas.

O Governo do Estado estima que o valor dos prejuízos possa ultrapassar R$ 87,9 milhões para a reconstrução de pontes, estradas, ruas, prédios públicos, casas danificadas ou destruídas, além de pre-juízos agrícolas.

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política

oi dada a largada para a corrida eleitoral das Prefeituras. Apesar de ainda precipitado, este tema político repercute cada vez mais

entre os partidos e os cidadãos. Depois de uma recente mudança no Governo do Es-tado, os paranaenses já começam a espe-cular com quem ficará, no ano que vem, o comando da Capital, oitava maior cidade do País. Por aqui, os partidos já estão se articulando. Um pouco longe da opinião pública, os nomes já estão sendo cotados.

Tudo é possível no jogo da pré-eleiçãoMais de um ano antes das eleições para a prefeitura de Curitiba e partidos afirmam lançar candidaturas próprias, mas não descartam alianças

FApós entrevistas com os presidentes mu-nicipais dos principais partidos políticos do Estado, a conclusão é de que tudo é possível e de que o ex-deputado federal, Gustavo Fruet (PSDB), será peça funda-mental deste quebra-cabeça eleitoral.

Hoje, no partido do prefeito Beto Richa (PSDB), Fruet não é nome certo da si-gla para concorrer à disputa da prefeitu-ra de Curitiba. Mesmo com mais de 2,5 milhões de votos na última eleição para uma das vagas do Senado, sendo destes quase 650 mil na Capital, Gustavo “dis-

Mariane Maio - [email protected]

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puta internamente” com o atual prefeito Luciano Ducci (PSB). Apesar de ser de outro partido, Ducci foi vice-prefeito do atual governador.

Para o então presidente do PSDB de Curi-tiba, o vereador João Cláudio Derosso, o partido não está dividido. “O que está acontecendo é que temos nomes de im-portância política para o pleito. Luciano Ducci faz parte do grupo político que vem desde 2004, quando eleito vice, do então prefeito Beto Richa. Existe uma aliança que foi construída, uma harmonia muito grande entre os partidos”, diz, garantindo que ainda não há um acordo do partido em apoiá-lo.

PDT, PSC e PVEnquanto os tucanos não se definem, outros partidos estão de olho na “força” política de Gustavo Fruet. O PDT é um deles. Segundo Wilson Picler, presidente do partido em Curitiba, a proposta foi fei-ta à Fruet. “Ele tem nosso convite, mas respeitamos a sua decisão. Estamos no processo de atrair novas lideranças e fi-liados ao partido”, afirma. Além disso, Pi-cler anunciou sua pré-candidatura e disse que outros nomes estão sendo discutidos.

Já Antônio Borges dos Reis, presidente do PSC de Curitiba, foi enfático ao frisar que o partido tem candidato. “O Ratinho Jr. com toda a votação que ele teve no Estado, não existe, no partido, ninguém melhor”, garante. O objetivo com esta

candidatura é fortalecer a bancada de vereadores. Atualmente, o partido conta com apenas um representante na Câmara e pretende chegar a seis ou mais.

Garantindo sair com candidatura própria, a dúvida fica em torno de uma possível composição que indique o vice. “Se hou-ver possibilidade de coligação será na chapa majoritária. De maneira nenhuma vamos aceitar na proporcional”, afirma dizendo que o PSC já foi procurado por diversos partidos para conversas. O Parti-do Verde, representado pelo Melo Viana, também foi procurado pela Revista MÊS para ser ouvido, mas não foi possível agendar a entrevista.

PMDBBoatos sobre um possível convite do PMDB para Gustavo Fruet também exis-

tem, mas o partido nega que tenha havido um pedido formal. “Existem ações isola-das, mas o diretório do PMDB não for-malizou nenhum pedido para ninguém”, garante o deputado federal João Arruda, que deve ser o responsável por uma co-missão política do partido que comandará as eleições municipais em 2012.

O presidente do diretório municipal do partido, Doático Santos, disse que, caso essa aliança se efetive, terá de haver uma conversa antes. “Acho que temos algumas questões que precedem o entendimento. Primeiro ele atacou fortemente na campa-nha eleitoral nosso líder Roberto Requião. A mesma coisa em relação aos governos. Ele foi contra o governo do Lula e é contra o da Dilma. Teria de haver uma autocríti-ca”, argumenta. “O PMDB sofre pela falta de sintonia que existe entre município, es-tado e País”, afirma João Arruda.

Tanto para Arruda, quanto para Doático Santos esta é uma situação muito delicada. “Não podemos imaginar como mero bal-cão de negócios. Vamos calcular quantos votos ele tem e ver se é interessante. O par-tido não vai querer se oferecer como uma sublegenda para os tucanos. Politicamente eles pensam igual”, diz o presidente do PMDB. A sigla afirma contar com diversos nomes que já fazem parte do quadro. Entre eles estão Requião, Rafael Greca, Marcelo Almeida e Alexandre Curi.

PTOs deputados federais Dr. Rosinha e Ân-gelo Vanhoni, além do deputado estadual, Tadeu Veneri, são alguns nomes que já

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A principal disputa fica entre o atual prefeito Luciano Ducci (PSB) e do

ex-deputado Gustavo Fruet (PSDB)

DEROSSO (PSDB) “O que está acontecendo é que temos nomes de importância política para o pleito”, afirma em relação a Ducci e Fruet

ROSELI ISIDORO (PT)“É natural que no momento da disputa você procure os melhores quadros, que tenham densidade eleitoral”

DOáTICO SANTOS (PMDB)“O partido não vai querer se oferecer como uma sublegenda para os tucanos. Politicamente eles pensam igual”`

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política

surgem como possibilidade no Partido dos Trabalhadores. Outro quadro forte do par-tido seria o nome da senadora Gleisi Hoff-mann. No entanto, a senadora já declarou que não entrará na disputa e o partido tam-bém concorda que esse não é o momento, mas também afirma que essa discussão ainda será feita na ocasião oportuna.

“É natural que no momento da disputa você procure os melhores quadros, que tenham densidade eleitoral. Eu particu-larmente acho que ela não sai candidata e acho que ela não deve fazê-lo. A Gleisi se preparou para o Senado e tem uma grande responsabilidade que é ajudar no desen-volvimento do Estado. Mas tudo isso vai depender muito da discussão que a execu-tiva faça e que o PT estadual faça seu de-bate”, explica Roseli Isidoro, presidente municipal do PT.

Roseli diz que é possível que no momento das definições haja três ou quatro nomes disputando internamente a vaga. Para ela, o mais importante no momento é read-quirir a capacidade fundamentalmente de dialogar com a cidade. “Temos feito uma reflexão que ao longo dessas duas últimas décadas não conseguimos dialogar com a sociedade curitibana. Tivemos o governo Lula impactando nas políticas na cidade de Curitiba e vemos um eleitorado reti-cente em votar no PT que votou positiva-mente no Governo Lula”, diz.

Possibilidades abertasMesmo com as indefinições, todos os par-tidos afirmam que pretendem lançar candi-datos próprios. Ao mesmo tempo nenhum deles descarta a possibilidade de conversas e coligações com outras legendas. É o mo-mento de se afirmar e ao mesmo tempo não descartar nenhuma futura possibilidade. A precocidade do tema, já que os registros das candidaturas serão feitos na metade do próximo ano, fazem com que as especu-lações, na maioria das vezes, não passem disso. Muito ainda deve acontecer até que os candidatos sejam dados como certos. Mas o eleitor curitibano precisa estar de olho desde já para fazer uma escolha cons-ciente nas urnas em 2012.

A disputada cadeira do LegislativoApesar do fim das eleições, a disputa por cadeiras no Legislativo continua; agora, nos Tribunais de Justiça

eleição para cargos no Le-gislativo – Assembleias e Congresso Nacional – se encerrou há mais de cinco

meses, mas a disputa pelas vagas con-tinua. Agora, nos Tribunais de Justiça. São as vagas de políticos licenciados, que deixaram o cargo para o qual foram

Aeleitos, para assumirem cargos no Poder Executivo. Os suplentes estão de olho nessas cadeiras.

No Paraná, um caso que está em voga e vem chama a atenção é a discussão de quem deveria assumir a vaga deixada pelo então secretário estadual do Traba-lho, Emprego e Promoção Social, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB).

Iris Alessi - [email protected]

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“Ele [Fruet] tem nosso convite, mas respeitamos

a sua decisão”, afirma Wilson Picler (PDT)

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Quem deveria ocupar a vaga dele? A dis-puta ficou por conta dos suplentes da coli-gação, Elton Welter (PT) e Gilberto Martin (PMDB). Welter seria o primeiro suplen-te da coligação e até chegou a assumir a cadeira deixada por Romanelli por alguns dias, mas devido a uma liminar da Justiça, Martin garantiu a posse na Assembleia Es-tadual no dia 14 de fevereiro. “Não creio que possa haver recursos nesse fato”, de-clarou Martin no dia que foi cumprida a liminar que garantia sua posse.

ColigaçõesOs dois – Martin e Welter – participavam da mesma aliança no pleito passado. An-

tes juntos em função da coligação, agora separados pela disputa de uma vaga a de-putado estadual.

No processo eleitoral do ano passado, alguns partidos optaram pela formação de coligações partidárias. Segundo a Lei Eleitoral (Lei nº. 9.504/97), no primeiro parágrafo do artigo sexto, “a coligação terá denominação própria, que poderá ser a junção de todas as siglas dos partidos que a integram, sendo a ela atribuídas as prerrogativas e obrigações de partido polí-tico no que se refere ao processo eleitoral, e devendo funcionar como um só partido no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos interesses interpartidários.”

Assim, os partidos coligados (PMDB, PDT, PT, PCdo B, PSC e PR) formaram uma única pessoa jurídica para as Elei-ções de 2010. Para o professor de Ciências Políticas do Grupo Uninter, Luiz Domin-gos Costa, “essa regra está deixando de existir. A gente está contrariando as regras do sistema político”, destaca o professor que lembra que são as mesmas regras há vários pleitos. A opinião é a mesma do advogado de Elton Welter, Guilherme de Salles Gonçalves. “Querem mudar a regra do jogo após o final do jogo”.

Caso na justiçaAté que a decisão e o entendimento final sobre a questão sejam definidos, pode ha-ver uma dança das cadeiras entre Martin e Welter. Costa entende que a dúvida jurí-dica é ruim para o início dos trabalhos de uma legislatura. Para ele, o litígio altera a situação da composição que se transforma em “um espiral, uma incerteza jurídica que é maléfica para o início de um traba-lho”, completa.

O envolvimento do Poder Judiciário se deu pela solicitação de Gilberto Martin

e do PMDB por entenderem que a vaga deixada por Romanelli é do partido e não da coligação. Costa diz que é pre-ciso que o Poder Legislativo regularize algumas de suas atividades. Segundo ele, a interferência do Judiciário é “um pouco indevida”, mas que “o Judiciário tenta, a partir da decisão, dar um ulti-mato para o Legislativo”.

RegulamentaçãoA fim de regular de vez a discussão em torno de quem deve assumir a vaga de um parlamentar licenciado para assumir cargos no Governo (Federal, Estadual ou Municipal), o deputado federal Ro-naldo Caiado (DEM-GO) propôs uma Emenda Constitucional que visa estabe-lecer que os suplentes mais votados das coligações tenham o direito de assumir a vaga.

Enquanto isso não é aprovado, a coliga-ção tem servido somente na prática para organizar o tempo de televisão e rádio, acredita o professor. “Agora o que está acontecendo é a ignorância da existência da coligação”, declara o advogado Gon-çalves. Assim, a decisão que for tomada como definitiva abrirá precedentes para outros suplentes.

Para o professor Costa há um equívoco jurídico grosseiro. “Não sei como o STF chega a uma decisão dessas”. De fato, é necessário que haja um entendimento en-tre a Lei e as regras eleitorais para que de-bates como o dos suplentes Elton Welter e Gilberto Martin não atrapalhem os traba-lhos no Legislativo, ao transformarem a Casa de Lei em um festival de interferên-cias do Poder Judiciário.

* Até o fechamento desta edição, a Justiça ainda não tinha mudado sua decisão, deixando

no cargo Gilberto Martin (PMDB).

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A dança das cadeiras deve continuar também em outros

casos na Assembleia Legislativa

Elton Welter até chegou a ser empossado na vaga deixada por Romanelli, mas já deixou a cadeira por decisão da Justiça

Gilberto Martin tomou

posse como deputado

estadual por meio de uma

liminar na Justiça

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sobre a política

Por Tiago Oliveira [email protected]

Curitiba. Uma cidade sem oposição

Que o governador Beto Richa (PSDB) é habilidoso ninguém contesta. Que ele é de uma família com forte presença na política paranaense, da mesma forma. Agora vamos ser sinceros, o crescimento meteórico de sua trajetória política deve ser creditado, em bom tamanho, a inexistência sistemática de movimentos oposicionistas na cidade de Curitiba, onde com um mandato e meio de prefeito se projetou para a política estadual. E o mesmo ocorre neste momento em relação ao prefeito Luciano Ducci (PSB).

Parece que na política curitibana ser governo significa ser o proprietário da verdade absoluta. E não estou dizendo aqui que os governantes sejam déspotas. Inexplicavelmente quem deveria fazer o papel de oposição na cidade se joga para um canto do ringue e lá fica assistindo aos passos do governante de plantão.

Durante a gestão de Beto Richa, na Prefeitura, o PMDB - que estava à frente do Governo do Estado - furtava-se a fazer oposição. Sabemos que a composição interna do partido não estimula muito a tomada de uma posição partidária, e com o governador alternando humores, ficava muito mais difícil esperar algo do partido.

Mas e o PT. Bem, este parece que se esqueceu de como se faz oposição. E olha que as experiências do Partido, em governos municipais e no estadual, nem são lá tão grandes assim, fator que poderia explicar certa acomodação da sigla. Durante o tempo em que Beto Richa esteve à frente do governo municipal da Capital - salvo na questão do lixo - em nenhum outro momento podemos dizer: o PT fez oposição ao governo. Não se trata da oposição irresponsável, da crítica pela crítica. Falo de pontuar discordâncias, alertar à população sobre erros, equívocos ou divergências administrativas. Parece aos olhos do morador de Curitiba que todos concordam com tudo.

Ou eu sou muito desligado ou não vemos qualquer movimento do partido de Lula questionar a debilidade no planejamento do tráfego em nossa

cidade que produz frequentes congestionamentos todos os dias em várias horas do dia. Não percebemos qualquer movimento desse partido em questionar os problemas enfrentados cotidianamente pelos usuários do transporte coletivo, que não vivem todos os seus dias na “obra de ficção” construída desde os tempos de Lerner. Isso sem falar das ruas esburacadas, com asfalto ou não, que todos passamos com nossos carros.

O Partido dos Trabalhadores, assim como outros partidos, perderam a capacidade de indignar-se e de expressar a indignação da população. Na Câmara de Vereadores, limitam-se talvez aos seus gabinetes e discursos na tribuna que pouco ecoam na sociedade. Nas ruas, perderam o diálogo com os movimentos sociais e, por que não dizer, com a própria população.

Essa realidade é muito ruim para a política paranaense e péssimo para a população. Quem vai dar voz aos descontentes? Quem representará aqueles que não concordam com o que os governos municipais fazem? Teremos oposição na cidade ou estamos condenados a viver a tese do pensamento único? Espero que o PT, assim como o PSC, o PCdoB e outros partidos que não estejam no governo cumpram este papel. Com responsabilidade e compromisso com a melhoria, cada vez mais, da qualidade de vida de todos os curitibanos.

A Capital paranaense sofre da inexistência sistemática de

movimentos oposicionistas

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MENSAgENS DOS LEITORES

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Leitor e Leitora sinta-se à vontade para fazer críticas e sugestões, assim como elogios - que todo mundo gosta! Aqui será o espaço em que você poderá interagir ainda mais com a revista MÊS. As cartas da Revista são de mensagens enviadas à redação por correspondência, por e-mail ou de recados deixados em nosso perfil no Twitter: @mes_pr ou no Facebook: MÊS Paraná. Participe!

Saudações deste leitor. Conhe-ci esta maravilhosa publicação de conteúdo inteligente e muito interessante na banca da praça da Ucrânia, onde estava à disposição gratuitamente aos leitores. Li e gostei bastante. Parabéns aos seus editores e idealistas.

Célio Borba, Curitiba

Acompanhamos a revista. Estão de parabéns. Os textos são ótimos.

Suéllen Moro

Olá!!! Ganhei dias atrás uma revista de vocês e gostei muito do conteúdo dela.

Alecsandra joucoski, Professora de Música

Gostei muito da revista, achei muito linda. E tenho certeza que minhas clientes vão adorar. Quero muito receber mais!

Paula gisele Rudek, proprietária de salão de Beleza

ERgAM AS ARAUCáRIASParabéns pela reportagem sobre araucárias. Eu já havia escrito para o jornal Gazeta do Povo sugerin-do uma campanha de plantio de araucárias nas praças de Curitiba, precisamos preservar o símbolo do estado. Fica difícil explicar para um visitante porque não há araucárias nas praças. Beijos,

Alice Argenta

ENTREVISTA CARLINhOS NEVESEle [Carlinhos Neves] teve acesso à matéria e elogiou bastante a postura da revista com relação à entrevista feita com ele. Obrigado, um grande abraço e sucesso a todos da revista!

Luiz gustavo OliveiraAssessoria de imprensa - Categoria de Formação

Andressa Savi - @andsavi até eu virei adepta! RT @mes_pr Corrida de rua é o esporte que mais cresce no País, segundo pesquisa. Veja na pág. 54 http://ow.ly/41YvB

Irisbel Correia - @Irisbel Adorei a revista

Para receber, assim como a Paula, é só enviar seu endereço para o e-mail: [email protected]

Gostaria de parabenizar esta revista pelo seu conteúdo de in-formações e espero que continue com esta linha editorial. Espero continuar lendo mensalmente. Quero agradecer, pois é mais um meio de informação para a popu-lação. Estão de parabéns a todos da confecção desta revista . Um abraço a todos.

Cleuso Ilton de Paula, Publicar do Brasil

Por algo que pagaria com prazer, recebi grátis. Parabenizo a todos vocês da MÊS pela edição de fevereiro.Vida longa à MÊS.

Edson Figueiredo Curitiba

Capa Mês Paraná 20.2 x 26.5.indd 1 15/02/11 11:26

Editora MêsAno 1 - nº 2Fevereiro de 2011

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esquisa exclusiva, realizada pelo Instituto Paraná Pesqui-sas a pedido da Revista MÊS, mostra o valor que os curiti-

banos dão à cidade e suas preocupações com relação a ela. Cerca de 95% das pessoas afirmam gostar de morar na Ca-pital paranaense. Entre os entrevistados, 84% consideram a qualidade de vida da cidade Ótima ou Boa, 12% acreditam que a qualidade é Regular e somente 2,98%

A Capital paranaense chega aos 318 anos com grandes desafios de uma metrópole que quer manter a qualidade de vida de seus moradores

PIris Alessi - [email protected]

Colaborou Arieta Arruda - [email protected]

“Quantas Curitibas cabem disseram que a cidade é Ruim ou Péssi-ma. No entanto, nem tudo são flores. A cidade enfrenta graves problemas na Se-gurança Pública (54%), na Saúde (35%) e no problema das Drogas (27%), conforme indica a opinião dos entrevistados no le-vantamento. A pesquisa foi feita entre os dias 24 e 27 de fevereiro entre os morado-res de Curitiba, maiores de 16 anos. Para isso, foram ouvidas 404 pessoas, sendo a margem de erro de 5%.

Essas impressões traçam uma fotografia da cidade que comemora este mês 318 anos. Em seu aniversário, comemorado no dia 29 de março, a cidade vai contar com uma população de mais de 1,7 mi-lhão de habitantes – em sua maioria de mulheres (52,35%) – segundo o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Curitiba hoje é a oitava cidade mais po-pulosa do Brasil e está em primeiro lugar no ranking entre os três estados do Sul do País. Nesse cenário, a Capital do Paraná tenta vencer os desafios diários de uma grande cidade, como a segurança, a saúde e os problemas com o meio ambiente, para poder crescer com sustentabilidade e man-ter o alto nível de qualidade de vida, carac-terística tão valorizada pelos moradores.

“A cidade nunca está pronta. Ela sem-pre está necessitando de ajustes. Seja ela uma cidade com 318, com 500, com 1000 anos, seja com 10”, ressalta o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Cléver Tei-xeira de Almeida. O presidente observa que a cidade precisa estar sempre buscan-do soluções para os problemas que vão surgindo ou até fazer previsões de futuras

numa só curitiba?”

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dificuldades, para que esses desafios se-jam solucionados sem atrapalhar o desen-volvimento sustentável da cidade.

Um dos desafios, apontado por uma mo-radora, é o grande movimento de carros nas ruas. “O que está terrível é o trânsito. A cidade cresceu muito e se tornou muito movimentada”, afirma a bibliotecária nas-cida em Curitiba, Moema Bassfeld. Prova de que o número de carros em Curitiba cresceu em grandes proporções é a taxa de habitantes por carro. Segundo dados do Ippuc no final de dezembro de 2010 havia na cidade mais de 1,1 milhão de veículos.

Crescimento da RMCEsse grande movimento também está rela-cionado a outro fator. Atualmente, Curitiba não pode ser pensada apenas como uma única cidade. A Região Metropolitana da Capital, formada por 26 municípios, cres-ceu muito, o que trouxe mais gente e carros circulando pelas ruas da Capital. Segundo o Censo 2010, a taxa de crescimento popula-cional de Curitiba foi de 10,05% em relação ao de 2000. Considerando os 26 municípios da Região Metropolitana, a taxa aumenta para 14,46%. Tirando Curitiba da conta, a taxa salta para 20,38% nos últimos 10 anos.

“A região metropolitana começou a crescer mais que Curitiba. Os problemas urbanos

não são mais urbanos, são metropolitanos. Todos os problemas hoje – transporte, saúde, educação, lixo, saneamento, cap-tação de água – não são mais problemas deste ou daquele município”, explica o professor doutor em Ciências Sociais, Dennison de Oliveira.

Primeiros desbravadoresMas para entender a que ponto a cidade chegou é preciso conhecer sua trajetória e, assim, ser possível traçar novas pers-pectivas. Curitiba demorou a se desenvol-ver. Os primeiros povoadores chegaram à região em que hoje está localizada Curiti-

O Paço da Liberdade foi restaurado há dois anos. Antes funcionava a Prefeitura, agora tornou-se espaço cultural

Mesmo sendo um crítico da cidade, Dennison de Oliveira, ressalta que é

uma das melhores para se viver no BR

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ba, por volta de 1640, estima o professor pós-doutor em História, Magnus Roberto de Mello Pereira. “Alguém escolheu a data da fundação da segunda ou terceira Câmara Municipal, poderia ter escolhi-do a data da Igreja, mas ninguém sabia. Então escolheram alguma que alguém sa-bia”, avalia Pereira. A data escolhida para seu aniversário foi a fundação da Câmara Municipal em 29 de março de 1693.

As primeiras ocupações no território curi-tibano chegaram por conta da exploração de minas de ouro. A primeira expedição veio chefiada por Eleodoro Ébano Perei-ra. Outros nomes como de Balthazar Car-rasco dos Reis e Matheus Martins Leme, apareceram na sequência da história de Curitiba e até hoje são lembradas por no-mes de ruas movimentadas da cidade.

O professor Pereira afirma que há 43 anos, antes da data de fundação da cidade, mapas rudimentares já registravam o pe-lourinho no planalto, que hoje é a região do Largo da Ordem na cidade. Outros his-toriadores apontam que o pelourinho foi erguido por Gabriel de Lara, em 1668, na povoação de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. E, só em 1693, que o povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba foi elevado à condição de Vila e recebeu o nome de Vila de Curitiba no ano de 1701. Para o nome da cidade, há algumas histórias sobre a origem. A mais conhecida delas é de que o nome veio da palavra: kur yt yba, que significa em Gua-rani “grande quantidade de pinheiros”.

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O ciclo da erva-mateA história da cidade começa com pouca movimentação na cidade. Apesar de ter, durante o século XVII, sua atividade eco-nômica pautada na mineração, o povoado ainda não tinha um crescimento muito expressivo. O professor Oliveira explica que a densidade populacional do Para-ná era muito baixa até próximo a 1850, época do Brasil Imperial. “Na emancipa-ção do Paraná, que data 1853, o Paraná tinha uma densidade demográfica igual da Amazônia hoje: dois habitantes por quilô-metro quadrado”, completa.

Foi com a emancipação política do Pa-raná, que Curitiba se tornou a Capital da Província. A cidade servia de ponto de pa-rada para os tropeiros condutores de gado que seguiam caminho de Viamão (RS) até Sorocaba (SP). A economia da região gi-rava em torno da locação de pasto para os tropeiros. Essa história segue assim até o início do século XIX, quando começa o ciclo da erva-mate.

“A industrialização da erva-mate tem uma série de efeitos benéficos. Ela de-manda uma modernização social”, relata o professor Dennison sobre o ciclo da

erva-mate em Curitiba. A modernização se deu pela demanda de mão-de-obra es-pecializada para os postos de trabalhos abertos nas indústrias de beneficiamento e transporte do produto.

O ciclo da erva-mate teve importante papel para o desenvolvimento industrial da cidade e, paralelo a isso, desenvol-via-se a extração da madeira. Em 1880, iniciou a construção da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá, inaugu-rada em fevereiro de 1885, a estrada teve participação determinante na ex-portação da madeira.

Com projeto arquitetônico de Domingos Bongestabs, a Ópera de Arame é um dos

cartões-postais da cidade

De clima “maluco” pela própria naturezaAo andar por Curitiba é muito comum ouvir as pessoas reclamarem que na cidade as quatro estações do ano acon-tecem em apenas um dia. Essa carac-terística faz parte do cotidiano dos curitibanos. “As variações de tempera-tura são normais em Curitiba e estão associadas aos sistemas meteorológi-cos presentes na região. O ingresso de uma frente fria, por exemplo, ocasiona um forte aquecimento nas horas que

antecedem a sua chegada, aumento da nebulosidade e da velocidade do ven-to”, afirma o meteorologista do Insti-tuto Meteorológico Simepar, Marcelo Brauer Zaicovski.

Os curitibanos – e os que adotaram a cida-de – parecem gostar dessa característica peculiar. Na pesquisa feita pela Paraná Pesquisas, sob encomenda para a Revista MÊS, 70% dos entrevistados dizem gos-

tar do clima da cidade e somente 18% res-ponderam que não gostam.

A curitibana Moema Bassfeld vê vantagens no clima. “A gente tem o privilégio de ter o guarda-roupa mais variado do País”, comen-ta a bibliotecária que diz estar sempre prepa-rada para a mudança de tempo inesperada.

Nas estações de outono e primavera, comumente, na cidade chove bastante.

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A ferrovia foi outro fator que fez diferen-ça no desenvolvimento industrial da cida-de, conta o professor Oliveira. “Porque é no entorno imediato da estação é que vão se instalar as indústrias. A indústria depende da matéria-prima para receber e exportar o produto acabado”.

ImigrantesOs imigrantes foram chegando em massa a partir do século XIX e tiveram sua impor-tância para a cidade. Os primeiros alemães chegaram à cidade em 1833. Os habitantes do Estado, antes do início da chegada dos alemães, eram basicamente índios, mame-lucos, portugueses e espanhóis. “A elite curitibana que quis trazer os imigrantes da Europa. [...] Os imigrantes eles conheciam técnicas agrícolas melhores que as locais”, comenta Pereira, que ressalta a importân-cia de todos os povos que vieram para cá, mas desmitifica a “branquitude” de Curitiba, lembrando de um dos primeiros retratos feitos da cidade por Jean Baptiste Debret (1827), onde há apenas um homem negro no Alto São Francisco.

Depois dos alemães, vieram os poloneses (1871), os italianos (1972) e os ucrania-nos (1895). Segundo a coordenadora do Memorial da Imigração Polonesa no Bra-sil, a polonesa Danuta Lisicki de Abreu, os primeiros poloneses, que formavam 35 famílias, chegaram à Curitiba e se instala-ram no bairro do Pilarzinho.

Esses imigrantes também trouxeram, além das técnicas agrícolas, conhecimen-to para trabalhar com ferro para a cons-trução de carroças e utensílios. “É um povo que se deu muito bem com o italia-no”, comenta Danuta sobre a chegada dos poloneses. Para ela, a vinda para o “novo mundo” trouxe a liberdade que eles não tinham na Europa.

Outros povos, como os franceses, suí-ços, japoneses, sírios e libaneses tam-bém desembarcaram em Curitiba entre o final do século XIX e início do século XX. Os traços dessas várias coloniza-ções estão espalhados, atualmente, em praças, parques da cidade e nos traços físicos dos curitibanos.

Esse movimento de “estrangeiros” conti-nua em alta no cenário da Capital parana-ense. A pesquisa, realizada em fevereiro, aponta que 46% dos entrevistados não nasceram na cidade, quase equiparando--se aos 51% dos entrevistados que se de-clararam curitibanos legítimos.

Planos UrbanísticosA influência dos imigrantes não ficou ape-nas na cultura curitibana, mas também foi de grande valia para planejar a cidade. Conforme Oliveira, no início do século XX, Curitiba sofre a primeira reforma urbana, no período de Cândido de Abreu,

numa época que as reformas estavam em alta na República brasileira.

Depois, na década de 1940, outro plano diretor foi instalado. O plano foi trazido pelo arquiteto e urbanista francês Alfredo Agache. Esse plano previa a divisão da cidade em grandes centros (educacional, militar, político, industrial, etc). “Real-mente o começo do urbanismo moderno de Curitiba é Agache”, salienta Oliveira. O Plano Agache, segundo o professor, é que estabelece o zoneamento funcional da cidade. “Ele que vai criar essa ideia de zona residencial”, completa.

Depois do Plano Diretor de Agache, uma nova mudança aconteceu com Plano Di-retor de 1970, que trouxe para a cidade novas perspectivas de crescimento. Nesse novo plano, a cidade foi pensada de forma integrada, incluindo o transporte coletivo. O desenvolvimento dos detalhes do Pla-no Diretor ficou por conta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Danuta: a característica de ser um povo fechado vem dos imigrantes poloneses

Segundo Zaicovski, essas chuvas de-vem-se à passagem de frentes frias e à formação de nuvens de chuva em decor-rência da umidade e do calor. A média anual de chuva em Curitiba é de 1.483,4 milímetros, segundo informações das Normas Climatológicas da estação me-teorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), instalada no Centro Politécnico da UFPR (Universi-dade Federal do Paraná).

Muitas pessoas também têm dificuldades com o frio rigoroso do inverno. Isso não foi problema para a jornalista Domitila Trinda-de. “Eu gosto do clima. Gosto do frio. Não tenho problema com isso”, diz Domitila.

Curitiba está na faixa de clima subtropical, em que a média de temperatura anual não ultrapassa os 20°C. A mais alta tempera-tura registrada em Curitiba foi, segundo o Simepar, 34,8°C em fevereiro de 1975 e

em janeiro de 2006. Já a mais baixa, foi registrada em setembro de 1972: -5,4°C.

“No inverno, o ingresso de massas de ar frio proporcionam quedas acentuadas nas tem-peraturas, com condição para formação de geadas, principalmente, nos meses de junho e julho”, observa Zaicovski. Por isso, mo-radores de Curitiba precisam se acostumar com o céu fechado e as temperaturas baixas de metrópole de muitas faces.

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Curitiba (Ippuc). Da década de 1970 até 2004, Curitiba se desenvolveu sobre o mesmo plano diretor. Em 2004, o Ippuc ajustou o Plano Diretor para as novas ne-cessidades da cidade.

Qualidade de vidaDentro do Planejamento Urbano da cida-de foram pensados vários aspectos que deram para os moradores da cidade al-guns diferenciais. Um deles é a quantida-de de área verde por habitante: 51 metros quadrados. Muitas dessas áreas verdes, como os parques São Lourenço e Barigui, foram criadas com o objetivo de evitar fu-turos problemas de enchentes e também desenvolver áreas de esporte e lazer. Este item se configura como terceiro item mais preferido pelos moradores, que elegeram os parques e o meio ambiente como sendo o que mais gostam na cidade. Em primei-ro apareceu a qualidade de vida (35%) e, em segundo, a mobilidade urbana (27%).

O presidente do Ippuc relata que um dos desafios é manter e elevar a qualidade de vida das pessoas que residem na cidade. Os pontos turísticos têm grande importân-cia nisso, promovendo opções de lazer e embelezamento da cidade. Na capital pa-ranaense, há uma linha turismo que inte-gra alguns dos principais pontos turísticos da cidade, como Jardim Botânico, Ópera de Arame, o Setor Histórico, o Passeio Público, dentre outras atrações. “Gosto da limpeza, dos parques. Porque eu acho que

é uma característica de Curitiba”, enalte-ce a curitibana Moema. Segundo dados da Secretaria de Estado de Turismo do Para-ná, em 2007, 35% das pessoas que visita-ram a cidade vieram por motivo de lazer.

Curitiba agrada até os mais críticos da cidade, como o professor Oliveira. “Se fosse para morar no Brasil eu ia continu-ar optando por Curitiba, porque ainda é uma cidade que tem essas virtualidades, uma cidade boa para se morar”, afirma o professor, que fala da relevância de a ci-dade tentar manter as virtudes em vários aspectos da cidade.

Essa qualidade de vida de Curitiba é o que atrai também a jornalista Domitila Trin-dade. Nascida em Maceió (AL), depois de passar por várias cidades, veio para Curitiba por causa da vida cultural, que não tinha em Vitória (ES). “Acho que se Curitiba tivesse praia, seria a cidade mais perfeita do mundo”, conclui.

IdentidadeComo Domitila, muitas outras pessoas op-tam por morar e se estabelecem em Curi-tiba por diversos motivos, que segundo a pesquisa, são na maioria para acompanhar a família, como disseram 51% das pessoas ou por motivos profissionais, conforme in-dicou cerca de 33% dos entrevistados.

Os curitibanos sempre tiveram a carac-terística de ser um povo sisudo. Para

Danuta, essa característica é um atri-buto dos imigrantes, principalmente, os poloneses. Esse traço cultural, tam-bém foi identificado no levantamento do Paraná Pesquisas. Entre as palavras mencionadas na pergunta estimulada: Qual a que melhor define o morador de Curitiba?, as palavras fechado/introver-tido foram citadas por 34% das pessoas, já a palavra conservador aparece 25% e as palavras: simpático e arrogante estão quase lado a lado com, aproximadamen-te, 12% das opiniões.

“Todo mundo acha que a gente é fecha-do, eu acho que a gente é mais reserva-do”, explica Moema. Já Domitila ressal-ta que nunca teve dificuldade de fazer amigos na cidade.

Para o professor Oliveira, que recorda de que nas décadas de 1970 e 80, grande par-te da população de Curitiba era imigrante, a cidade é marcada pela falta de identida-de própria. “E eu não acho que isso seja ruim não, porque esse entra e sai, essa ro-tatividade elevada é muito bacana, porque você tem uma diversidade cultural muito grande em Curitiba”, conclui.

Tentando responder a pergunta feita pelo poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989) em seu poema “Imprecisa Premis-sa” que deu título a esta reportagem – por suas variadas características – é quase impossível abranger e numerar “quantas Curitibas cabem numa só Curitiba”.

O pelourinho, onde hoje é o Largo da Ordem, foi

erguido antes da data de comemoração de

aniversário da cidade

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O sistema de transporte coletivo de Curitiba, antes visto como exemplo, parece estar perdendo o destaque; pesquisa mostra que 75% dos usuários estão insatisfeitos

modelo de transporte coleti-vo de Curitiba, reconhecido internacionalmente, parece estar perdendo o seu brilho e

sua posição de destaque nas “passarelas”, ou melhor, nas canaletas da cidade. Segun-do pesquisa realizada por três alunos de Engenharia Civil da Universidade Fede-ral do Paraná (UFPR), apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no final de 2010, o sistema de transporte cole-tivo, que se caracteriza por vias exclusivas para ônibus, já não é mais o mesmo. O re-sultado do trabalho, que detalhou 11 itens do sistema em seis linhas das vias expres-sas, mostrou que 75% dos entrevistados consideram o serviço insatisfatório.

Os então estudantes conversaram com 2.036 pessoas entre maio e setembro de 2010. Setenta e seis por cento das entre-

Oformandos acreditavam que o sistema já não era satisfatório como antigamente. “Acreditamos que não houve melhorias. Há mais de 20 anos implantado, qualquer sistema precisa ser adaptado. Precisa de uma entrevista aos usuários para saber os pontos que precisam ser melhorados”, diz um dos autores do TCC, Jhonnatan Preis-ner de Souza.

QualidadeApesar de a Urbanização de Curitiba (URBS) afirmar que a cidade continua sendo referência internacional e não co-mentar o resultado do estudo por não ter tido acesso por completo ao trabalho, en-contrar usuários que reclamam do sistema ou evidências de que algo está errado é uma tarefa bastante simples.

Durante quase uma hora, que a reporta-gem da Revista MÊS ficou dentro de

Modelo em decadênciaMariane Maio - [email protected] vistas foram feitas fora do horário de pico,

com o cuidado desse fator não influenciar negativamente o resultado. Durante as en-trevistas, os usuários eram questionados quanto à acessibilidade, frequência de ser-viço, confiabilidade dos horários, confor-to, tempo de espera, tempo no interior do veículo, transferência (entre linhas), tempo total de viagem, amenidades nos pontos de parada, fluidez no movimento e segurança (em relação a acidentes). Segundo a enge-nheira civil, professora e orientadora do trabalho, Márcia de Andrade Pereira, foi a primeira vez que um estudo abordou esses itens, tornando-se assim muito mais que uma pesquisa de opinião.

“A ideia era estudar exatamente como es-tava um tipo de transporte coletivo que, na visão de Curitiba, é um modelo inter-nacional, nesse sistema que foi implanta-do na década de 70”, afirma a professora. Ao decidir por este trabalho, os então

Roberto Dziura Jr.

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um dos tubos, sete ônibus passaram. Os veículos, que deveriam passar, em média, a cada sete minutos, chegaram ao tubo às 8h51, 8h56, 9h14, 9h15, 9h23, 9h40 e 9h48. Intervalos de 1 a 17 minutos, em parte, inexplicáveis para o serviço que conta com uma via exclusiva para circu-lar. Assim, muitos dos ônibus chegam lo-tados de pessoas e outros veículos passam vazios, devido ao descompasso no tempo de parada em cada estação de tubo.

Para Jean Alberti, também autor do TCC, a prioridade das canaletas não é tão efe-tiva na prática. “Existe a faixa exclusiva para eles, mas quando interagem com o transporte individual acabam ficando em segundo plano. Não dão prioridade para o transporte público ainda, apesar da faixa”, explica. Algumas soluções para resolver esses problemas seriam a sincro-nização dos semáforos e a construção de uma terceira faixa para ultrapassagens, como já está sendo feito na avenida Ma-rechal Floriano Peixoto.

A secretária de uma escola de inglês, Lilian Sass, é uma das passageiras que concorda que apesar de Curitiba ainda ser destaque diante do sistema de outras ca-pitais, o serviço oferecido decaiu. “Perto das outras capitais que conheço, Curitiba ainda é a melhor, mas ficou muito a de-sejar nos últimos anos. Antigamente era bem melhor. Tinha mais ônibus. A popu-lação aumentou muito. Eles não evoluí-ram junto com a cidade”, reclama a se-

cretária, que demora cerca de uma hora para chegar ao trabalho, tempo três vezes maior que de carro.

JustificativaSegundo a URBS, aproximadamente 600 mil passageiros são transportados por dia útil apenas pelos ônibus expressos. A fro-ta atual é de 185 veículos para atender a via rápida. “O que aconteceu é que nosso transporte, que ainda é copiado mundo afora, enfrenta hoje um trânsito muito mais intenso. Para você ter ideia, em 1974, a frota geral da cidade era de 96 mil veí-culos. Hoje é de 1,2 milhão de veículos. O crescimento da frota geral da cidade foi de quase 70% na última década. É evidente que o trânsito tem impacto sobre a efici-ência do transporte” justifica Lubomir Fi-cinski, diretor de Transporte da URBS.

Dentre os investimentos feitos no sistema de transporte público da cidade, a implan-tação do sexto eixo (Linha Verde), a refor-ma dos terminais e a ampliação em 40% na capacidade do terminal Pinheirinho, foram citados como os mais recentes fei-tos para a melhoria do sistema de expres-sos. Para a professora Márcia isso não foi suficiente. “O sistema de transporte em Curitiba não teve uma evolução como se

imaginava. Na década de 70, foi criado esse sistema, só que talvez não tenha tido um acompanhamento necessário durante todo esse tempo para que ele mantivesse esse título de ‘cidade transporte’. Para os usuários não está satisfazendo”, diz.

Tentando justificar os fatos e garantir um bom funcionamento do sistema no futu-ro, a URBS promete mudanças, como o alargamento das canaletas, a ampliação em 50% da capacidade dos corredores ex-clusivos, reformas dos terminais, constru-ção de novos eixos e a renovação da frota. “Muitas melhorias estão a caminho para este e os próximos três anos. Uma série de melhorias importantes que mais uma vez vão colocar Curitiba na vanguarda”, garante Ficinski.

Enquanto as mudanças não são implanta-das, essa “parada no tempo” do transporte público está trazendo consequências para todo o trânsito da cidade. “O transporte individual vai afetando o transporte pú-blico e vice-versa. Nenhum dos dois fun-ciona direito”, diz Jean. Outra mudança diz respeito ao público que escolhe esse tipo de serviço. “Hoje o transporte é vis-to mais para a pessoa popular. Para quem tem mais aquisição, ele já não é bem vis-to. A gente quer mostrar que se melhorar o sistema de ônibus e torná-lo atrativo, até as pessoas que andam de carro podem preferir deixar os seus carros em casa para utilizar o transporte público”, exem-plifica a estudante Renata Perini.

Evidências de que o sistema de transporte público não atende mais as necessidades dos curitibanos são recorrentes

Acessibilidade, conforto, tempo de espera e

segurança foram itens questionados na pesquisa

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O TRANSPORTE COLETIVO DE CURITIBA?Participe! Enviando sua mensagem pelos canais de comunicação da Revista MÊS. E-mail: [email protected] / Twitter: mes_pr / Facebook: Mês Paraná

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Mãe, passista, atleta, manicure, diplomata, dona da boutique, en-

fermeira, acrobata [...] Cinco filhos pe-quenos pra criar. Passa o dia no trampo pau e pau. Ainda arranja um tempinho pra sambar”, parafraseando a música “Ela é bamba”, a cantora Ana Carolina faz uma homenagem a todas as mulheres, que con-seguem – mesmo com diversos percalços da vida contemporânea – mostrar a força e a versatilidade desse gênero, que por muito tempo foi considerado frágil e cen-surado à vida social e profissional.

Mas não são apenas as mulheres que can-tam essa homenagem. O conhecido músi-co Erasmo Carlos também já fez questão de enaltecer o sexo feminino. “Dizem que

Executiva, política, delegada, ruralista, mãe e esposa; independentemente do caminho escolhido, as mulheres têm alcançado a trajetória desejada

Mulheres que lideram o Paraná

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a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda! Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas”, cantarola na música “Mulher”. Por isso, no mês de março – em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres (8 de março) – elas são também destaque nas páginas a seguir da Revista MÊS.

A evolução será mostrada a partir de fi-guras paranaenses. Mulheres de fibra. Ocupando cargos de liderança, elas mos-tram a que vieram e apresentam uma for-ma sensível de lidar com as diversidades desse “mundo cão”. Conheça: Margaret Groff, Charis Negrão Tonhozi, Maria Iraclézia de Araújo, Gleisi Hoffmann e Dayse Hess Amorim, algumas das mu-lheres que lideram o Paraná em diferen-tes áreas de atuação.

Coisa de Mulher?

Com o pensamento ainda calcado no pas-sado, a “estrutura familiar e cultural é machista”, afirma a doutora Maria Cecí-lia Pilla, coordenadora do curso de His-tória da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Por isso, alguns homens ainda acham que determinados trabalhos são de responsabilidade das mulheres, como os serviços da casa e as atividades rela-cionadas aos filhos. Essa realidade acaba fazendo com que elas assumam jornadas duplas. Paralelo a isso, as mulheres são excluídas de alguns trabalhos, por serem consideradas incapazes. “O biológico é diferente. Mas isso não pode ser razão de sermos excluídas de determinados cam-pos”, conclui.

“Poder amamentar? Isso para mim é um verdadeiro luxo”, diz Dayse Hess, que abandonou a carreira para cuidar dos filhos e marido

Mariane Maio - [email protected]

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em Cascavel (PR), onde implantou a De-legacia da Mulher.

Charis também faz parte da primeira turma de delegadas do Paraná. “Fiz faculdade de Direito. Naquela época não existia a pos-sibilidade de fazer concurso para delegada de Polícia, porque não existia a carreira feminina no Paraná. Coincidentemente, eu me formei em janeiro de 86 e, em feverei-ro, abriu o edital de concurso para delegada de Polícia”, conta ela, dizendo que quando optou por Direito e não por Medicina, sua mãe ficou aliviada, pois achava que a car-reira de médica era muito desgastante para uma mulher. Pura ilusão.

Quebrando paradigmas também está Ma-ria Iraclézia de Araújo, que é a primeira mulher do Brasil a ocupar o cargo de pre-sidente de uma Sociedade Rural, em Ma-ringá (PR). O campo, que também sempre foi considerado um terreno masculino, abriu os portões para o pensamento e a gestão feminina. “Sou filha de produtor rural e cresci em meio à rotina do cam-po, onde desenvolvi grande interesse pela agricultura e pecuária”, afirma Iraclézia, que começou na SRM como estagiária, hoje é presidente reeleita e ainda cuida da sua propriedade rural.

A área da política também tem mudado sua cara. Com a eleição da presidente Dilma Rousseff (PT), a figura femini-na nessa área se fortaleceu. Destaque no Paraná para a senadora Gleisi Hoffmann (PT), eleita em 2010 com quase 3,2 mi-lhões de votos. Gleisi não só conseguiu se eleger, como entrou para a História do Paraná, como a senadora com mais votos

início de 2011, a chefia da Ouvidoria da Polícia do Paraná. Esta conquista é resul-tado de uma grande jornada. Charis foi também a primeira mulher a comandar a Corregedoria da Polícia Civil (PC), a assumir a direção da Escola Superior de PC do Paraná, a ser assessora civil da Se-cretaria de Segurança Pública, a tomar o assento no Conselho da Polícia Civil do Estado, a ser Delegada de Polícia Civil do Paraná e a primeira delegada de Polícia

A engenheira civil e diretora financeira--executiva, Margaret Groff, é uma dessas mulheres que arrumam um jeito de dar conta de tudo. Mulher de destaque inter-nacional, Margaret controla o orçamento bilionário de uma das maiores usinas hi-drelétricas do mundo, a Itaipu Binacional. Devido às responsabilidades do cargo, reuniões, viagens e trabalhar fora do ex-pediente são situações bastante comuns. Mas sua rotina não acaba por aí. “Meu marido não se preocupa com a casa, com a educação dos nossos filhos, que escola vai estudar, se vai fazer piano, inglês, fu-tebol. E isso eu tenho de me preocupar, de resolver. Essa é a diferença entre os homens e as mulheres na minha geração”. Acumular funções e agregar diferentes campos de atuação.

Para conseguir conciliar, Margareth pre-cisou arrumar uma saída. “Sempre quis ser bem sucedida profissionalmente. Disso nunca abri mão. Mas também que-ria ser mãe. Sempre imaginava como ia resolver essas duas questões”. A forma encontrada foi contratar e capacitar uma pessoa que ajuda no cuidado com seus filhos. “Tinha de ter alguém na minha casa, que fizesse meu papel. Com isso, criei uma estabilidade emocional dentro da minha casa”, diz.

Terreno masculinoPioneira em um setor extremamente mas-culino, a delegada Charis Negrão Tonhozi é outra que não brinca em serviço. Foi a primeira mulher do Estado a assumir, no

“Cresci em meio à rotina do campo”, diz Iraclézia, a 1ª presidente de uma Sociedade Rural no Brasil

Charis Negrão Tonhozi comenta que antes nem existia a possibilidade de se candidatar ao cargo de delegada

“A estrutura familiar e cultural é machista”,

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em um apartamento bem bacana, eu tinha sido promovida a editora no jornal. Cho-rei a noite toda, mas sabia que deveríamos ir e acordei certa disso no outro dia”, con-ta a jornalista Dayse Hess Amorim, que morava na época em Maringá (PR).

E foi assim: Dayse acompanhou seu mari-do na mudança para Londres (Inglaterra), onde moram atualmente com dois filhos. De acordo com ela, ter esse tempo dispo-nível para os filhos é algo extremamente importante. “Tenho orgulho e agradeço a Deus por poder passar uma tarde brin-cando com o Bernardo no chão da sala, de ir aos parques e empurrar o balanço. E agora também curto isso com a Catarina. E poder amamentar então? Isso para mim é um verdadeiro luxo”, afirma.

A decisão de deixar um pouco de lado sua vida profissional e alguns de seus sonhos foi algo natural. “Decidir parar por um tempo na minha profissão para acompanhar meu marido foi uma decisão fácil. Depois que você encontra a pessoa ideal para dividir a sua vida, tudo flui com naturalidade. Sem esse amor, tudo seria difícil, ou melhor, não seria”, ga-

rante Dayse.

EvoluçãoAo conhecer essas histórias, in-dependentemente do preconcei-to e pressões sofridas, é notá-vel a evolução das mulheres ao longo da História. “A mudança é um processo”, afirma a doutora Maria Cecília. Por isso, sejam mulheres do Paraná, do Brasil ou de qualquer lu-gar do mundo, essa evo-lução precisa continuar no equilíbrio entre gê-neros e em busca de direitos universais, os direitos humanos.

no Estado, ultrapassando até mesmo o go-vernador eleito, Beto Richa (PSDB).

Apesar deste espaço conquistado, Gleisi acredita que o preconceito ainda existe. “Como disse o Lula, eu não posso errar. Senão vou ferir a autoestima feminina. As dificuldades de você ser interlocutora em temas que são considerados quase que masculino, mesmo que não seja algo fron-tal, é velado”, aponta.

Para ela, esses desafios se devem à traje-tória difícil das mulheres no âmbito políti-co. “Começamos a votar na década de 30. Antes éramos consideradas incapazes de discernir, portanto, de votar. A política se especializou na linguagem masculina e nós fomos fazer outras coisas na vida. Depois fomos vendo que precisamos atuar na po-lítica, porque muitos dos nossos interesses tinham decisão na política”, afirma.

Poder de escolhaSer profissionalmente e pessoalmente bem sucedida e, ainda, conseguir alcançar postos, antes exclusivamente masculinos, são sem dúvida grandes conquistas femi-ninas. Mas para a doutora Maria Cecília Pilla, a maior de todas as conquistas é a liberdade de escolha. Ser uma grande exe-cutiva, esposa, com filhos e casa para to-mar conta, nem sempre é a preferência da maioria. Existem aquelas que, por opção, decidem dar um tempo em sua carreira para se dedicar ao marido e aos filhos e fazem isso tranquilamente.

“A proposta para o Cleber [marido] as-sumir um cargo no escritório em Lon-dres chegou na semana seguinte que compramos os móveis para o quarto do nosso primei-ro filho, o Bernardo, em 2008. A noite em que ele me falou, foi a mais difícil. Estava grávida do meu primeiro filho, estávamos morando

“Como disse Lula, não posso errar. Senão vou ferir a autoestima feminina”, diz Gleisi Hoffmann

“Sempre quis ser bem sucedida

profissionalmente. Disso nunca abri mão.

Mas também queria ser mãe”, afirma

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ais de 240 mil estudantes brasileiros devem deixar o País este ano para se aven-turar em um intercâmbio

em algum lugar do mundo. Essa é a ex-pectativa dos organizadores do Salão do Estudante, a maior feira de cursos no ex-terior da América Latina, realizada no fi-nal de fevereiro, em Curitiba. Em 2010, esse número chegou a alcançar 193 mil pessoas. “Cada ano está crescendo mais, porque o Dólar está muito fraco em re-lação ao Real. Cada dia o Real fica mais forte e é mais barato para as pessoas via-jarem”, explica o inglês Samir Zaviri, diretor internacional da Feira.

Intercâmbio deve ser a opção de milhares de estudantes em 2011; crescimento do setor em relação a 2010 deve ser de 25% no País

M

De malas prontas

Não existem dados em relação a quan-tos paranaenses procuram estes cursos, mas Zaviri disse que dentre as feiras realizadas no País (Salvador, Rio de

educação

Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis), a capital pa-ranaense perde apenas para o Rio de Janeiro e para São Paulo. “Paraná é

Mariane Maio - [email protected]

VIAjAR É PRECISO

Curso de Idioma - Os cursos de idio-mas são os mais procurados pelos bra-sileiros. Os países que têm a língua inglesa como idioma nativo são os pre-feridos. Estados Unidos, Canadá, Ingla-terra, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia configuram o topo da lista. Quem optar por escolher este programa,

para o exterior

Ficou com vontade de viajar? Veja abaixo algumas opções de programas e escolha o seu:

deve se informar das regras e oportunida-des de cada país. Em alguns, o trabalho é permitido durante os estudos, como é o caso da Inglaterra. Já em outros, deve ser feito após o curso, como no Canadá.

High School (Colegial) - Esta opção de programa é destinada para os alunos que

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Paranaenses tomaram gosto pelo intercâmbio

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muito forte no Brasil. O nível de pes-soas que visita a feira é muito alto e os resultados dos expositores são muito bons”, garante o diretor.

Para Samir, as vantagens de fazer um intercâmbio são inúmeras. “Conhecer uma cultura diferente, aprender a viver sozinho, ser mais independente e ter destaque no currículo quando voltar. Uma qualificação internacional ajuda a procurar um trabalho melhor”, afirma.

Mudança de vidaA turismóloga Fabiana Pereira da Sil-va viu isso na prática. Depois de for-mada, Fabiana resolveu fazer um in-tercâmbio para os Estados Unidos para aprender a língua inglesa. Na época, ela escolheu um programa de Au Pair, em que trabalha como babá na casa de uma família e ao mesmo tempo estuda uma língua. Um ano depois, de volta ao Brasil, ela percebeu que o mercado de trabalho em sua área não oferecia tantas oportunidades. Em exatamen-te três meses, já estava com as malas prontas novamente, mas desta vez para a Austrália, a fim de aperfeiçoar a lín-gua já aprendida.

A partir desse momento foi um cami-nho aparentemente sem volta. Emen-dou uma especialização na “terra dos cangurus”, conseguiu um visto de tra-balho e entrou no mercado de educa-ção. Hoje, há seis anos fora do Brasil, Fabiana mora em Londres e é gerente

“Cada dia o Real fica mais forte e é mais barato para as pessoas viajarem”, afirma

Samir Zaviri diretor do Salão do Estudante

pretendem fazer o colegial, nosso ensi-no médio, fora do País. Lá o aluno fre-quentará as aulas como um aluno local. O estudante pode optar em estudar em colégios públicos ou particulares, ficar em casa de família ou em um internato.

Au Pair - Quem escolher esta opção traba-lhará cuidando de crianças em uma casa de família e estudará ao mesmo tempo. O tra-balho é remunerado e a pessoa ainda ganha hospedagem e alimentação. Estados Unidos,

França, Holanda, Áustria e Alemanha são alguns dos países que oferecem o programa.

Trabalho Voluntário - Esta é uma oportu-nidade para quem quer conhecer uma nova cultura, aperfeiçoar um idioma e ainda fazer algo pelo planeta. Normalmente, os projetos duram de duas a doze semanas e nas taxas dos programas já estão incluídos acomodação, transporte e alimentação. A África do Sul é um país bastante procurado para a realização desse programa.

de marketing da London School of Bu-siness & Finance. Ela é responsável por vender os cursos da escola para o mer-cado brasileiro.

“Eu sempre falo que um dia que tiver um filho, a primeira coisa que vou fa-zer é mandar fazer um colegial no ex-terior. Hoje em dia, o inglês não é mais um diferencial”, diz a gerente. É o que pretende fazer a vendedora Lairce Ei-chenberg. Ela conta que foi ao Salão para buscar informações para o futu-ro dos filhos. “Acho que o que pode-mos deixar é o estudo. Dinheiro não adianta, você tem de ensinar como ga-nhar”, afirma. Seu filho, o adolescen-te, Mateus Eichenberg, pretende fazer um programa de High School (Ensino Médio) na Inglaterra, e depois, quem sabe, uma faculdade.

AperfeiçoamentoApesar de a maioria das pessoas procu-rar os intercâmbios para aprender uma língua, muitas delas fazem essas viagens também para aperfeiçoá-la e, outras, para buscar experiências profissionais. Para aperfeiçoar um idioma já aprendi-do no Brasil, a estudante de engenharia química, Ticiane Mara Dibas, foi para os Estados Unidos duas vezes para tra-balhar. É o chamado Work and Travel. A estudante ficou por quatro meses em uma estação de esqui e depois mais qua-tro meses em um cassino.

“Eu tinha estudado inglês aqui no Bra-sil. Terminei, fiz um curso e depois que-ria ir pra lá para ter experiência de ver a cultura e melhorar o inglês. Para mim, o melhor jeito de aprender é convivendo com pessoas que falam, que tem como língua nativa”, conclui Ticiane.

O estudante de Direito Rafael Hilgens-tiler também aproveitou um intercâm-bio cultural para a Austrália, que fez pelo Rotary, para aperfeiçoar a língua inglesa. “Depois que tive essa experiên-cia vi que muda muito a cabeça. Depois que fiz o primeiro intercâmbio parece que o mundo fica pequenininho”, diz ele, comentando que pretende depois de formado fazer outro intercâmbio mais focado na área profissional.

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ansaço, desânimo, insônia, ir-ritabilidade, distúrbios de me-mória e falta de desejo sexu-al. Não. Não estamos falando

de uma mulher na tensão pré-menstrual (TPM) ou na menopausa. Esses sintomas, que são comumente conhecidos pelo sexo feminino, também atingem os homens. De acordo com o urologista Marcos Gen-

nari, 25% dos homens, aproximadamente, devem sofrer com esses sintomas a partir dos 50 anos de idade.

O distúrbio androgênico do envelheci-mento masculino (DAEM), conhecido popularmente como andropausa, é cau-sado por uma perda gradativa da testos-terona, o hormônio sexual masculino. Já se sabe que a partir dos 40 anos todos os homens sofrem redução de 1%, ao ano, desse hormônio. Mas os sintomas demo-ram algum tempo para aparecer. “Desde os 40 anos ele começa a ter gradativamen-te uma perda de testosterona. Mas essa perda é muito pequena, então só vai se manifestar lá na frente”, explica Gennari.

Essa queda progressiva do hormônio, natu-ral do envelhecimento, é tão reduzida que

Um quarto dos homens com mais de 50 anos sofre do distúrbio androgênico do envelhecimento masculino, causador do cansaço e da falta de libido

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Problema com hormônios não é coisa (só)

de mulher

saúde

muitos homens nem percebem a diferença ao chegar à terceira idade. “As condições sociais, culturais e de trabalho não exigem dele, naquela época da vida, a necessidade de estar a pleno vapor, igual quando ele ti-nha 40 anos”, esclarece o urologista.

DescobertaEsse não foi o caso do diretor do Institu-to Chico Mendes, Vito Passera (70). Há aproximadamente um ano ele afirma sentir falta de libido, irritação e ainda cansaço generalizado. “Antes eu acordava às 6h, trabalhava o dia todo e à noite ainda tinha vontade de sair. Hoje a cada duas horas te-nho de deitar meia hora e depois voltar”.

Seo Vito conta que depois de curar uma infecção, seu médico urologista o alertou

Mariane Maio - [email protected]

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ção

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aumentada) também não podem fazer o tratamento, pois podem aumentar ainda mais a próstata e impedir a urina.

Gennari explica que o tratamento nem sempre é acessível a todos. Mas existem algumas opções mais em conta. As mais comuns são as aplicações a cada sete dias, que custam cerca de R$ 8. Já as trimes-trais chegam as custar R$ 400, um valor quase quatro vezes maior. Para acompa-

nhar o quadro, o paciente deve se consul-tar com um urologista a cada seis meses. “Muitas vezes se fizer a reposição hormo-nal vai ter mais qualidade de vida por uma década”, garante o médico.

Sentindo na PeleO distúrbio, que é desconhecido pela maioria dos homens, apesar de apresentar sintomas parecidos com os sofridos pelas mulheres na menopausa, tem pontos di-ferentes. “A menopausa é tida com uma parada súbita e quase abrupta dos hormô-nios femininos, que são os estrogênios. No homem isso não acontece. Há uma parada gradativa e lenta ao longo das dé-cadas até a idade final”, observa o Marcos Genarri. Por isso, dar o nome do distúrbio de andropausa é incorreto.

Apesar dessa diferença entre os sexos, quem sente na pele, afirma mudar o con-ceito que tinha anteriormente do sexo oposto. “Os homens pensam que é frescu-ra. Mas agora acho bastante real. Compre-endo muito mais as mulheres”, afirma seo Vito. Para ele, se houvesse a possibilidade de voltar no tempo, muita coisa seria dife-rente. “Se pudesse pediria desculpa a mui-tas mulheres. A gente julga uma coisa, mas isso [os sintomas] não depende delas”.

de que poderia estar sofrendo do DAEM. Após a primeira reação de choque, por desconhecer o distúrbio, ele já está mais confiante. “Foi uma luz no fim do túnel”.

A possibilidade do tratamento também animou a sua esposa, 21 anos mais jo-vem. Passera tinha acabado de convi-ver com os sintomas da menopausa da mulher e agora a compreende melhor. “O fato de não se interessar mais sexu-almente preocupa. Não é que você não consegue, mas não tem vontade. Não liga para o sexo oposto. Minha esposa não me acusa, mas ela sente”.

Para o urologista, normalmente os ho-mens têm dois tipos de reação ao desco-brirem o DAEM. “Alguns homens acham que com [injeção] o hormônio vão regre-dir no tempo e voltar a ser mais jovens. Outros querem se livrar desse problema. Quando eles veem que tem um diagnósti-co e que pode ser revertido, a sensação é de uma esperança grande”.

Diagnóstico e TratamentoO DAEM é de difícil identificação se o paciente não souber da existência, por isso cabe também ao médico urologista inves-tigar esses sintomas durante uma consulta de rotina. “É paulatino, vai se instalando gradativamente”, explica Gennari.

Além de investigar clinicamente os sin-tomas, é feito um exame de dosagem dos níveis de testosterona. O tratamento é fei-to com aplicações, em sua maioria inje-táveis, de testosterona. Por isso, antes de iniciar o tratamento, o médico deve des-cartar a possibilidade de o paciente estar com câncer de próstata.

“A testosterona é um hormônio que ali-menta o câncer de próstata. Não que o paciente vá desenvolver um câncer. Mas a testosterona pode aumentar grande-mente a velocidade de evolução de um já instalado”, esclarece Gennari. Além dessa contraindicação, pacientes com hiperplasia prostática benigna (próstata

A partir dos 40 anos todos os homens sofrem redução de 1% ao ano

da testosterona

O acompanhamento do paciente com DAEM deve ser feito a cada seis meses

por um urologista

Para reverter o quadro, é preciso injeção de hormônios D

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á pouco mais de uma década, o Paraná era visto no cenário nacional como bom exem-plo de lugar para se investir.

Grandes indústrias, empresas multinacio-nais e pequenos negócios encontravam no Paraná argumentos atraentes para instala-rem suas unidades de negócios. No entan-to, o Estado não foi suficientemente capaz de segurar o tranco e, hoje, apresenta gar-galos capazes de colocar em risco novos investimentos, que já fazem o Paraná per-der em competitividade. É hora de mudar.

Segundo Carlos Echeverria, diretor do Departamento de Recursos Humanos da Associação Paranaense de Cultura (APC), o custo da mão-de-obra no Paraná deixou de ser de classificação de Low Cost (custo baixo). Por conta disso e de outros fato-res, os investimentos já estão indo para outras localidades. “Se continuar assim é matar a galinha dos ovos de ouro. Em vez de escolher um ovinho de ouro a cada dia,

nós vamos ter um banquete com a gali-nha, mas daí acabou”, observa Echever-ria. Ele foi o responsável por apresentar, recentemente, um estudo para o Governo Estadual com as 17 maiores empresas do Paraná, analisando aspectos econômicos, principalmente, no quesito mão-de-obra, que é uma das engrenagens mais pesadas no custo das empresas.

A pesquisa intitulada “Os desafios da mão-de-obra especializada e a competiti-vidade do Paraná” sinalizou – ao Governo e às próprias empresas – as dificuldades que o Estado já enfrenta e que irá encon-trar nos próximos quatro anos. O universo aglomerado por essas 17 empresas conta-biliza 66.740 pessoas empregadas, repre-sentando uma folha de pagamento de R$ 3,02 bilhões ao ano. Juntas possuem um faturamento anual de R$ 21,96 bilhões.

ProblemasA intenção dessas organizações seria de investir no próximo quadriênio o valor es-

h

galinha de ovos de ouro pode virar banqueteSetor privado sinaliza importantes investimentos no Paraná, mas para que isso ocorra é preciso que empresas e Governo Estadual ajam com urgência

timado de R$ 13,19 bilhões, projetando um crescimento de 49,6% no faturamento anual. De olho nesses números, a situação parece favorável, não é mesmo? Seria, se o estudo não apontasse justamente a dificul-dade em suportar tamanho volume de in-vestimentos, com relação à falta de mão-de--obra qualificada, infraestrutura deficitária e poucos incentivos governamentais condi-zentes com a expectativa do setor privado.

Será preciso contratar mais de 18,7 mil pessoas, sendo 43% dessa demanda (7,9 mil pessoas) de formação técnica, 30% de graduados em 3º grau e 27% no ensi-no médio. “De primeiro grau para baixo, a projeção é zero. Isso mostra o nível de profissional que a gente precisa. Automa-ção e sofisticação do sistema de produção demandam uma qualificação mínima”, in-dica o coordenador do estudo.

Outro ponto a ser considerado é a falta de investimentos em telecomunicações e energia, que estão prejudicando a vinda de novos investimentos, de acordo com o eco-

economia

Arieta Arruda - [email protected]

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tarina e no interior no Paraná, em 2012, com foco em Londrina, Maringá e Cas-cavel. Na geração de empregos, Westphal anuncia o aumento de mais de mil vagas de empregos diretos e indiretos.

Já o Grupo Ipiranga deve injetar cerca de R$ 200 milhões no Paraná nos próxi-mos cinco anos, com a expansão de rede de postos de combustíveis e modernizar o Grupo no Estado. A ALL quer colocar na economia paranaense mais R$ 150 milhões ao ano, com o aumento da pro-dutividade e da segurança da operação de transporte ferroviário de cargas.

A Volvo também anunciou novidades neste início de ano, com investimentos da ordem de R$ 50 milhões na construção de um centro de logística e mais R$ 25 mi-lhões na nacionalização da fabricação de alguns de seus produtos, no Paraná. No mesmo setor, a Renault tem planos de in-vestir cerca de R$ 1 bilhão até 2013.

Aproveitando o fenômeno do Pré-Sal que já começa a movimentar a economia em todo o País, a empresa Techint Engenha-ria e Construção anunciou a construção de duas plataformas fixas de petróleo em Pon-tal do Paraná (PR), o que deve gerar volu-mes suntuosos de investimentos e geração de empregos de mão-de-obra específica.

Novas perspectivas estão à vista. Con-sulta feita pela consultoria KPMG com possíveis investidores de outros países, mostra que dos 500 entrevistados, 66% pretendem investir no Brasil, com foco nos consumidores brasileiros. Outros 41% já são investidores no Brasil e que-rem expandir suas operações e somente 10% não vão investir. Muitos desses in-vestimentos podem chegar ao Paraná.

Soluções Perspectivas de investimentos o Paraná tem; o diagnóstico das deficiências tam-bém. Basta saber se o Governo Estadual, as organizações e sindicatos serão capazes de encontrar um denominador comum, em que o resultado será favorável a todo o Paraná e não afugente novos investido-res privados. Para isso, será preciso equa-cionar algumas questões, como a mo-dernização da infraestrutura do Estado, criação de uma política de incentivos fis-cais, canal facilitador das empresas com o Governo; formar mão-de-obra técnica e especializada no interior e na capital e incrementar o ensino de idiomas.

nomista Luiz Afonso Cerqueira, membro do Conselho Consultivo do Instituto Brasi-leiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR).

AlertaPor conta desse quadro, a luz vermelha se acende para trabalhadores e empresas. “Esse é o alerta, já somos o ABC da vez, temos de fazer alguma coisa. Esse abis-mo cada dia vai ficando maior”, comenta Echeverria ao comparar o Paraná com a situação que passou a região do ABC pau-lista na década de 1980, com inúmeras greves de metalúrgicos e empresas ame-açando fechar as portas.

Fato é que essa região paulista, atualmen-te, já é mais atraente para grandes inves-timentos do que o Paraná. Mostra disso é o levantamento que indica onde estão os quatro maiores pisos salariais de metalúr-gicos, três estão no Paraná. “Crescemos menos da metade da média nacional e o custo cresceu 2% a mais do que a média. Menos atividade e encarecendo cada vez mais a mão-de-obra. Isso é uma fórmula perniciosa para nós [empresas]”, explica Carlos Echeverria.

galinha de ovos de ouro pode virar banquete

Segundo o secretário da Indústria, do Co-mércio e Assuntos do Mercosul, Ricardo Barros, o Governo do Estado está discu-tindo com o empresariado para a busca de novos investimentos. “Estamos discutindo com eles qualificação de mão-de-obra, in-fraestrutura e também incentivos fiscais. Este conjunto de alterações que estamos propondo se chama Paraná Competitivo e será o instrumento para a decisão des-sas empresas”. Sem denominar as organi-zações, o secretário disse que os setores: automotivo, de bebidas, madeireiro e de agroindústrias devem ser os destaques dos próximos investimentos no Estado.

InvestimentosApesar de ainda o Estado dar pouco su-porte à atração de empresas, em levanta-mento feito pela Revista MÊS algumas empresas pretendem investir no Paraná nos próximos anos. São empresas como o Grupo Thá, América Latina Logística (ALL), Techint, Volvo, Renault, Grupo Ipiranga e um grupo francês, um indiano, outro japonês e ainda um sueco que já si-nalizou a intenção de aplicar recursos em território paranaense.

O Grupo Thá, fundado em 1895 no Pa-raná, atua no setor imobiliário, com in-corporadora, engenharia e imobiliária e declarou à reportagem da MÊS os investi-mentos para os próximos anos. Segundo o presidente do Grupo, Sandro Westphal, “a incorporadora teve o faturamento de R$ 500 milhões, em 2010 e, em 2011, pre-tendemos chegar a R$ 700 milhões. É um crescimento orgânico”. Já no crescimento estratégico, o presidente conta que pre-tende expandir os negócios em Santa Ca-

Presidente do Grupo Thá, Sandro Westphal, anuncia investimentos para o interior do Estado

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Custo Paraná Diretor do Departamento de Recursos Humanos da Associação Paranaense de Cultura (APC), coordenou um estudo com as 17 maiores empresas do PR e descobriu diversas fragilidades quando o assunto é mão-de-obra e novos investimentos no Estado

5 perguntas para: Carlos Echeverria

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É interessante a empresa formar mão-de-obra?

CE - É interessante. Tem momentos que dá e tem momentos que não dá. Depende do perfil dessa mão-de-obra, depende da posição de que você está necessitando. E depende também de um fator crucial que é o tempo. Falamos muito com o pesso-al do Governo, de que o nosso relógio anda mais rápido que o do setor público. As empresas privadas têm outra dinâ-mica, têm a nossa sobrevivência. Esses fatores forçam as organizações a buscar essa mão-de-obra fora nos grandes cen-

tros, que têm um custo de vida maior do que nós aqui. Por outro lado, tem outra vertente que é o custo de retenção. Tudo isso chega num resultado de que o custo “Paraná” se encarece. Isso se reflete na economia como um todo.

O ensino técnico é alternativa para jovens?

CE - A gente observa que ano a ano o número de inscritos vem crescendo. Para você ter uma ideia, de 2010 para 2011, cresceu em inscritos 60%, por aí você percebe a reação do mercado. Se as em-presas já estão buscando mais, a juventu-de tá percebendo isso. Pode ter determi-nadas posições que até supere [o salário]. As organizações se baseiam no próprio mercado, não pode inventar uma coisa dissociada de uma realidade de mercado. Quanto mais raro um profissional no mer-cado, mais valorizado.

Quais as soluções?

CE - Uma sugestão nossa para o Governo do Estado é de que eles sejam os inter-locutores perante aos órgãos de classe. É maravilhoso para a economia, que os trabalhadores daqui tenham ótimos salá-rios. É um dinheiro que tá injetando e tá girando a economia, só que isso precisa ter um equilíbrio. As organizações não apenas sugeriram coisas, mas também se posicionaram no que elas estão dispostas a contribuir. Uma das coisas é formar uma parceira na formação de mão-de-obra. A proposta do grupo é de ser ponto de apoio do governo do Paraná nas questões relati-vas ao trabalhador e sua formação.

Como surgiu o estudo?

Carlos Echeverria (CE) - Em outubro do ano passado, a gente estava vivendo em plenas eleições, as empresas decidiram compor informações relativas à mão-de--obra e subsidiar o novo Governo [Esta-dual]. Isso seria relevante no momento de fazer um planejamento de um novo man-dato. Isso realmente foi impactante, não apenas para eles [Governo], mas também para nós. Porque cada organização conhe-ce a sua realidade, mas na medida em que você consolida isso em 17 empresas de renome, aí a situação ficou bastante gri-tante. Não apenas na quantidade de pesso-as que empregamos, mas a projeção para os próximos quatro anos.

Quais as dificuldades apontadas?

CE - As dificuldades que temos hoje são na captação de mão-de-obra. Já é muito di-fícil, hoje, contratar engenheiro mecânico, civil, jornalista, profissionais da tecnolo-gia da informação, médicos do trabalho e o que também apareceu são profissionais de nível técnico. Só nós vamos precisar de oito mil, a gente já tem dificuldade no presente. Fechamos 2010 com essa reali-dade. Imagine nos próximos quatro anos? Quando encontra, se encontra com baixa qualificação. Isso força as organizações a buscar essa mão-de-obra fora.

Echeverria sugere ao Estado que seja um

interlocutor junto aos sindicatos

Arieta Arruda - [email protected]

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internacional

Crise do petróleo em pleno século Com a possível falta de petróleo no mundo árabe, países ocidentais temem crise financeira; revoltas no Oriente assustam o Ocidente, o maior consumidor de energia

sível dizer que os produtos derivados do petróleo são utilizados sob as mais diver-sas formas, praticamente em tudo.

Enquanto poucas regiões de produção deram início à era do petróleo – Estados Unidos, México, Venezuela, Romênia, a área próxima a Baku (então parte do Im-pério Russo) e as Índias Orientais Holan-desas – é o Oriente Médio que tem satis-feito a sede de petróleo do planeta desde a Segunda Guerra.

É nessa região e no Norte da África que se produz 29 milhões de barris por dia, o que significa 36% do petróleo produzido no planeta. EUA, Japão, China e Índia são os maiores clientes.

“Se a revolta no mundo árabe sacramentar de fato as principais economias do mundo declinará e, por conseguinte, outras deze-nas de países cairão no mar da crise sem precedentes”, diz o professor de economia internacional da FESPSP, Paulo Miadaira.

Para entender: os revolucionários árabes desconfiam do sentimento colonizador dos Estados Unidos que são aliados de primeira hora de Israel. Uma eventual to-mada de controle de uma nação petrolífe-ra, por exemplo, o Irã, por grupos radicais

uando todos se perguntam o porquê da cotação do preço do barril de petróleo estar nas alturas – atualmente, na

casa dos US$ 100 – logo vem a resposta: especulação. Entretanto, se for aprofun-dada a situação, por causa das revoltas das populações de língua árabe – os gran-des produtores de petróleo – é possível crer que uma nova crise está por vir.

Os europeus têm medo de que a expansão da crise no mundo árabe leve a um au-mento significativo do preço do petróleo, o que por sua vez, estimula a inflação e leva ao aumento da taxa de juros, esfrian-do a recuperação da economia depois da crise financeira internacional.

A importância do petróleo para a existência do ser humano ainda é imensa. Se o pre-cioso líquido negro viesse a faltar às cida-des, as indústrias, os meios de transportes parariam por um efeito cascata. Seria uma súbita paralisia que bloquearia quase todas as atividades urbanas. Não apenas porque faz mover os automóveis, os navios, os aviões, mas também, porque ele tem uma infinidade de aplicações e empregos, além do campo de transportes. Tanto que é pos-

Wallace Nunes - [email protected]

Qreligiosos colocaria abaixo as economias ocidentais.

Refém dos sauditasA Arábia Saudita, dona da maior reser-va mundial, tem papel fundamental na posição e crescimento do mercado de petróleo. É este país islâmico, com 99% de fervorosos religiosos, que produz o combustível que alimenta o mundo. Uma eventual revolta paralisará automatica-mente os países ocidentais. “Daí o mundo buscar novos caminhos para energia reno-váveis”, explica o professor.

Entre 2005 e 2009, os sauditas usaram cerca de 2,3 milhões de barris diários, dei-xando aproximadamente 8,3 milhões para a exportação. Apenas se a Arábia conti-nuar a fornecer pelo menos essa quantia para os mercados internacionais o mundo poderá manter seu padrão de consumo de petróleo. Mas isso não vai acontecer por-que já viram a força que possuem.

Traçar alguma trajetória para os atuais acontecimentos no Oriente Médio é “cho-ver no molhado”, diz Paulo Miadaira. Nenhuma região é capaz de substituir o Oriente Médio como principal exportador de energia do planeta.

XXI?

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Inovar além da porteiraNova realidade no mercado agropecuário exige dos produtores rurais paranaenses uma nova postura: mais profissionalismo e empreendedorismo dentro e fora das lavouras

importância, a agricultura tem diminuído sua participação no PIB paranaense, em relação ao brasileiro e em relação à pró-pria economia estadual, se comparada a outros setores. Os dados sinalizam que é preciso mudar o modelo de negócio para avançar em competitividade.

“O agricultor paranaense é competitivo e inovador dentro da porteira, porém não é estruturado para comercializar sua produ-ção”. É o que mostra a análise do Plano Diretor para o Agronegócio do Paraná, realizado no ano passado, pela Faep.

O estudo aponta que o modelo do agro-negócio paranaense, que vem desde a dé-cada de 1970, está “esgotado”. Por isso, é preciso intensificar a produção com pro-dutos mais dinâmicos, como soja, carne

o Paraná, sete milhões de pessoas, do total de 10 mi-lhões de paranaenses, depen-dem direta ou indiretamente

do campo, segundo dados do IBGE (Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). Apesar de tamanha

de frango, açúcar, etanol, algodão, óleo de soja e celulose.

Dados do Plano Diretor também demons-tram outros caminhos a seguir. Um deles é fomentar e apoiar novas agroindústrias, para agregar mais valor aos produtos das lavouras paranaenses. Além disso, é pre-ciso aumentar a renda do produtor rural, ter mais competitividade nas cadeias produtivas agropecuárias, focar no de-senvolvimento agroindustrial, organizar a comercialização e tornar o homem do campo um profissional mais qualificado.

Qualificação e mais informação no cam-po. Para isso acontecer, uma das alterna-tivas está sendo oferecida por entidades interessadas em fomentar o setor. É o caso do Senar-PR, que em parceria com o

agricultura

Arieta Arruda - [email protected]

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a produção é se unir com seus pares. “Se o agricultor está numa cooperativa isso diminui os custos, a logística, questões administrativas, de gestão e econômicas”. O Sebrae-PR foi responsável por dar assis-tência técnica em gestão para 150 agroin-dústrias, em 2010. Já este ano, estimam au-mentar o atendimento para 280, no Paraná.

Choque de gestãoEssa mudança de mentalidade em transfor-mar a sua “terrinha” em um negócio ren-tável, ainda é difícil para o agricultor. No entanto, é essencial para sua sobrevivên-cia. “Tem de entender que é um negócio. Ainda existem alguns que pensam em tra-balhar como os pais e avós, o que não está errado, mas precisa estar atrelado à gestão. O mercado está mais exigente e o consu-midor quer um produto de qualidade”. Por isso, é preciso que o agricultor melhore de forma contínua o processo de gestão de sua propriedade, que é seu negócio rural.

É o alerta também do analista de mercado, Fernando Muraro, da Agência Rural. “A noção básica é que o mercado do agrone-gócio tornou-se, nos últimos cinco anos, mais sofisticado”, graças aos fundos de investimento no mercado de commodities que cresceu, por exemplo, de US$ 301 bi-lhões, em 2005, para US$ 777 bilhões, em 2009. O mercado dessa forma ficou mais competitivo e complexo. (veja gráfico)

Essa realidade se aplica às grandes e pe-quenas propriedades. De acordo com Mu-raro, algumas atitudes podem contribuir para melhorar o ganho na comercializa-ção do produto, um dos principais proble-mas do agricultor paranaense, conforme apontado pela Faep. “A Agência Rural

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O modelo do agronegócio paranaense, que vem

desde a década de 1970, está “esgotado”

Sebrae-PR, oferece capacitação aos pro-dutores rurais desde 2003. Entre 2006 e 2009, período de nacionalização do curso, já passaram pela capacitação mais de 1,3 milhão de pessoas.

A principal dificuldade apresentada pelos agricultores paranaenses que chegam a fazer curso é perceber a natureza do pró-prio negócio. “Ao entender melhor onde ele está, ele começa a olhar diferente sobre o seu negócio, quando faz o diag-nóstico da propriedade”, comenta Adria-na Terezinha Salvadori, coordenadora do Programa Empreendedor Rural do Senar--PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). De acordo com ela, o curso é uma ferramenta de gestão.

CustosAssim, como em outros mercados, o custo de produção deve ser trabalhado na lógica de quanto menos se gasta para produzir, mais se pode ganhar na venda do produto. “Ele [produtor] está no mercado ‘perfeito’, quando não coloca o preço. É o mercado que impõe o preço. Então, para ter mais lu-cros, precisa diminuir os custos, pois tem margens pequenas”, afirma Adriana.

Ao entender o seu negócio e empreender, é possível ganhar mais. Para Andreia Clau-dino, coordenadora estadual de Agronegó-cio do Sebrae-PR, uma forma de otimizar

Para Andrea Claudino, uma forma de otimizar a produção é se unir com seus pares

Fundos de índice no mercado de commodities

Total em bilhões de US$ Ano

777 ........................................... 2009

531 ........................................... 2008

600 ........................................... 2007

423 ........................................... 2006

301 ........................................... 2005

228 ........................................... 2004

151 ........................................... 2003

102 ........................................... 2002

83 ............................................. 2001

66 ............................................. 2000

34 ............................................. 1999

16 ............................................. 1998

7................................................ 1997

2................................................ 1996

1................................................ 1995

Fonte: AG Rural

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recomenda que se venda a produção em quatro vezes durante o ano, uma venda parcelada, pois a probabilidade de ganhar mais é quatro vezes maior”. Outro fator recomendado é ficar atento na hora de comprar os insumos. “Comprar antecipa-damente, evitar comprar os insumos no segundo semestre”.

Outro importante fator é entender as ca-racterísticas da propriedade. A média das 370 mil propriedades do Estado é de 41,2 hectares. Por um lado, esse valor mostra a dificuldade no crescimento do cultivo de grãos, mas por outro, abre oportunidades para as culturas de frutas, de olericultu-ras (cultivo de tomate, batata, folhosas e mandiocas), flores, plantas medicinais e produção de suínos, aves e leite.

AgricultorPor conta de todo esse cenário, muitos agricultores já estão buscando o aperfei-çoamento da gestão de sua propriedade rural. “Na região, é fraco o acompanha-mento técnico, então o curso é importan-te para ir trocando informações e ideias. É mais incentivo”, afirma Altamiro Pe-reira Santana, dono de uma propriedade de cinco mil metros, onde planta horta-liças, em Alto Paraná (PR). Santana se mostra consciente e também acredita que falta planejamento do produtor parana-ense. “Os produtores têm pouco planeja-mento, começam a fazer o investimento e não dá retorno, porque eles não têm o planejamento. Precisam ter uma noção do que pode e o que não pode”, observa o produtor.

É o que está fazendo Aldo Biela, traba-lhador rural em uma granja, em Umua-rama (PR). Fez um curso de gestão junto com seu tio, José Vicente Biela, dono da propriedade, para melhorar seu negócio: a criação de codornas. “Foi muito bom, fizemos o estudo de mercado, como ven-der e ver a viabilidade do negócio. O curso ajudou muito a ter mais visão. Sem aprendizado não dá certo”. Agora, os dois já pensam em expandir o negócio e inves-tir em maquinário para beneficiar os ovos e vender em estabelecimentos comerciais do município.

Além da mudança de comportamento dos agricultores, é preciso que as entidades envolvidas incentivem a pesquisa agro-pecuária, a inovação tecnológica e que a assistência técnica seja mais presente no cotidiano do agricultor.

agricultura

Do Paraná para o mundoOs produtores paranaenses de frango estimam que em 2011 o Estado exportará mais que no ano anterior; um recorde à vista

Paraná não é destaque ape-nas na produção de grãos, que este ano deve contabili-zar recordes em sua colheita

2010/2011. O Estado também é campeão no abate de frangos. Segundo números do Sindicato das Indústrias de Produtos Aví-colas do Estado do Paraná (Sindiavipar), foram mais de 1,3 bilhão de frangos, o que representa pouco mais de 28% de toda a produção nacional. Este resultado é reflexo dos investimentos que fizeram as empre-sas paranaenses. A lição de casa foi feita e agora os produtores paranaenses estão de olho lá fora, no comércio exterior.

Europa, Ásia e Oriente e Médio. Esses são alguns dos destinos da carne de fran-go produzida no Paraná. Em 2010, as exportações desse produto no Estado fo-ram destaque. Os embarques paranaenses representaram 26,19% de toda a carne de

Ofrango exportada no País, deixando o Pa-raná atrás somente, por ligeira diferença, de Santa Catarina (26,71%). Os produto-res daqui exportaram pouco mais de um milhão de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Mi-nistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/Mdic).

O bom desempenho anterior do nosso frango no mercado internacional faz com que as estimativas de exportações, neste ano, fiquem em alta. “As expectativas são as melhores possíveis. O Paraná continua firme como o maior produtor de frango. Há um crescente nas exportações”, afirma o presidente do Sindiavipar, Domingos Martins. O presidente do Sindicato esti-ma para este ano um crescimento no bom estilo “chinês”, entre 5 e 10%.

Bons ventos para as exportações também esperam a Copagril. De acordo com o presidente da cooperativa, Ricardo Silvio

Iris Alessi - [email protected]

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Chapla, o objetivo é manter o mesmo de-sempenho de 2010. Segundo ele, o próximo recorde é um resultado automático. “O con-sumo de carne de frango, felizmente, tem crescido e automaticamente têm crescido as exportações”, completa o presidente.

Apesar de ainda não ter números para ava-liar o desempenho de 2011, o analista de mercado da Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab), Wander Sousa, diz que a expectativa é que o desempenho do ano anterior se mantenha e haja um crescimen-to de 5% no volume da carne exportada.

InvestimentosPara manter o produto em alta no mer-cado externo, o gerente comercial da Copacol, Valdemir Paulino, afirma que é preciso que as indústrias direcionem o produto para vários mercados. Para ele, é necessário “explorar o que cada mercado pode oferecer e ter flexibilidade na linha de produção”.

A Cooperativa, localizada na região Oeste do Estado, exportou, em 2010, 60 mil to-neladas de frango e teve um faturamento de US$ 123 milhões. Em 2011, a empresa espera manter o volume exportado e che-gar a um valor de US$ 130 milhões. Outra cooperativa da região Oeste, a Copagril,

vendeu para o mercado internacional cer-ca de 70 mil toneladas no ano passado. Os principais mercados compradores da Co-pagril são Japão, Hong Kong e Europa. A cooperativa está no aguardo da confirma-ção para iniciar as vendas diretas também para a China. “É uma opção a mais que a gente tem. Todo mundo já sabe o que é o potencial da China”, comenta Chapla.

Segundo o presidente do Sindiavipar, atualmente os aviários paranaenses são climatizados e têm piso de concreto, para que o frango tenha uma maior qualidade para o mercado internacional, que é cada vez mais exigente. Por exemplo, no Ja-pão, que hoje é um dos maiores importa-dores do frango brasileiro, há uma grande exigência de corte das aves.

Por isso, além dos investimentos nos avi-ários, as indústrias paranaenses investem em equipamentos para a desossa das aves. “Hoje essa desossa é feita manualmente.

Este ano, vamos investir em equipamentos para a desossa”, relata o gerente da Copacol que ressalta que há falta de mão-de-obra no mercado. O presidente do Sindicato acredi-ta que “esse talvez seja o grande problema. Nós da agricultura precisamos de muita gente”, afirma Domingos Martins.

Recuperação do PreçoApesar de grandes perspectivas, o Real valorizado ainda traz muitas dificuldades para os setores exportadores. No entanto, de 2009 para 2010, o preço do produto teve uma valorização. De acordo com Sousa, “o preço teve uma recuperação em Dólar, em 2010”. Mesmo com um crescimento de 5% nas vendas externas em relação a 2009, o aumento em receita foi de 17%. Em 2009, segundo a Conab, o valor do frango era de US$ 1.600 por tonelada, já em 2010, o va-lor passou para US$ 1.782.

A Copacol manteve em 2010 o mesmo volume de exportação do ano anterior. “Conseguimos manter o volume e em termos de receita aumentamos em quase 20%”, afirma Paulino. A cooperativa pa-ranaense seguiu a tendência nacional na exportação do produto.

Bom desempenho do nosso frango em

outros países faz com que as estimativas de

exportações, neste ano, fiquem em alta

A expectativa do presidente do Sindiavipar, Domingos Martins, é que este ano o PR exporte de 5 a 10% a mais que em 2010

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tecnologia

Brasil já se tornou conhe-cido pela invasão às redes sociais. É o famoso “chegar, chegando”. Foi assim com o

Orkut, o Twitter e ao que tudo indica está começando o processo com o Facebook.

Mas um novo tipo de rede social parece ainda não ter emplacado no País. São as redes de geolocalização.

A mais famosa delas, o Foursquare, promete se tornar a mais nova febre no mundo. Segundo dados divulgados no blog dessa rede social, em 2010, um ano depois da sua criação, o serviço teve um crescimento de 3.400%, passando dos seis milhões de usuários.

Apesar desse crescimento meteórico no mundo, no Brasil, usuários e especialis-tas ainda são cautelosos em falar sobre um possível boom. O especialista em tecnologia web e diretor executivo da Rede Magic, Antônio Borba, aponta vá-rios fatores possíveis para o Foursquare ter se tornado moda em outros países, como o comportamento e o número de celulares com GPS.

“Podemos, daqui a pouco, com o au-mento das vendas de smartphones, ou o

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Onde você está?Apesar do crescimento do programa de geolocalização, o Foursquare parece ainda não ter chegado ao Brasil; usuários e especialista discutem sua utilidade

Mariane Maio - [email protected]

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Foursquare acrescentar novas funções, ser a nova onda. Boa parte do buzz (es-tratégia de marketing, em que os indi-víduos são incentivados a enviar men-sagens para outros) do programa tem a ver com as marcas fazendo campanhas. A Diesel estava dando uma camiseta grátis para todo mundo que tivesse nas imediações deles em Nova Iorque. Isso atrai mais pessoas”, explica.

Para o empresário curitibano Bruno Mol-teni, e usuário do Foursquare, o programa tem muito o perfil do brasileiro. Para ele, a não adesão em massa da ferramenta tem um motivo estrutural. “Quem sabe é pelo fato de nem todos os brasileiros terem um smartphone com acesso à internet”, diz. Mesmo com esse empecilho, Molteni é otimista. “Acredito que em pouco tempo deve cair no gosto dos brasileiros e se tor-nar mais uma febre”.

Atualmente, disponível apenas em in-glês, espanhol, francês, alemão, italiano e japonês, o Foursquare deve possivel-mente lançar sua versão em português em 2012. Talvez com essa “ajudinha” o programa possa despertar a curiosidade de mais brasileiros.

Funcionamento“Você informa onde está. Teoricamente faz com que seus amigos saibam e você saiba onde eles estão. Se estou na rua e quero achar algum ponto, posso achar lugares próximos e ver review dos usuários sobre aqueles lugares. Então, se torna interessan-te porque me ajuda a achar o que preciso, a manter contato com os amigos e sociabi-lizar com as pessoas”. É assim que Borba resume o funcionamento da ferramenta.

O que pode parecer um pouco sem utili-dade para quem não utiliza o programa, já ajudou bastante Molteni. “Como viajo bastante a trabalho, acabo encontrando muitas dicas de lugares por onde passo. Já encontrei dicas de ótimos restaurantes, lanchonetes e salas vip para espera em ae-roportos. Esses dias estava almoçando em um restaurante em São Paulo que era em frente ao escritório de um amigo que não via há algum tempo. No final acabamos almoçando juntos”, conta.

Já para o maringaense Renato Sordi, o programa não teve tanta funcionalidade. “Entendo que em uma rede social de loca-lização você compartilha informações so-bre lugares, sobre o que é legal e o que não é. Indica lugares que gosta e sabe das su-gestões dos outros. Em Maringá, existiam poucas marcações e pessoas utilizando. Não encontrei utilidade para o programa.

Em 2010, o Foursquare teve um crescimento de 3.400%, passando dos 6 milhões de

usuários no mundo

É bacana marcar no mapa, mas tem que ter com quem interagir”, explica. Morador recente de Curitiba, Sordi afirma que pôde voltar a utilizar o programa, para saber se na capital a “movimentação” é maior.

O ato de informar onde você está chama-se check-in. As pessoas que mais fizerem che-ck-in em um mesmo lugar tornam-se mayor (prefeito) do local. Ter este status pode ser-vir para mostrar a outras pessoas que você costuma frequentá-lo e também pode trazer outras vantagens. Algumas marcas já es-tão oferecendo descontos e brindes para os “prefeitos” de seus estabelecimentos.

Na práticaApesar de usar a ferramenta há aproxima-damente seis meses, fazer check-in cerca de duas vezes ao dia, se aproveitar das pos-sibilidades que o Foursquare traz, além do número reduzido de pessoas que utilizam o programa, faz com que, na prática, as relações de Bruno Molteni, por exemplo, sejam estreitas. Nos perfis de suas outras redes sociais, ele tem mais de 600 amigos, já no Foursquare conta com apenas 40.

Esse excesso de redes sociais pode ser um dos empecilhos de audiência do Fours-quare, afirma Borba. “Você tem amigos no Google, Orkut e Facebook”, comenta o especialista, explicando da dificuldade de manter-se conectado e interagindo em todas elas. Para ele, o ideal é que houves-se uma mudança dessa realidade. “Não precisamos de mais redes sociais. O ideal é que as redes sociais fossem integrando novas funções e não que a gente fosse co-locando mais redes na nossa vida. A gente mal tem tempo de atualizar perfil. Come-ça a ser um problema”.

OUTRAS OPçõES

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Na onda das redes de geolocalização, pelo menos outras duas já foram lan-çadas nos últimos anos. A primeira delas, o Google Latitude chegou com o peso de ser da família Google. A in-tegração entre os programas da mar-ca é um grande diferencial. Segundo informações do programa, você uti-liza sua conta Google para convidar amigos. O Gtalk, programa de bate papo do Google, também é integra-do ao Latitude, permitindo que você faça uma ligação ou mande um SMS ao seus amigos, sem ter de se desco-nectar do programa.

Outro grande que entrou na briga por esse mercado foi o Facebook, lançan-do o Facebook Places, em agosto de 2010. Ainda indisponível no Brasil, a marca quer aproveitar a grande popu-laridade que tem e angariar usuários para essa mais nova ferramenta. A possibilidade dessa integração anima também os usuários. O Faceboock já conta com mais de 500 milhões de usuários no mundo. Tudo indica que a briga será boa.

“Não precisamos de mais redes sociais”, afirma o especialista em tecnologia web, Antônio Borba

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48 | REVISTA MÊS | MARÇO DE 2011

É o momento de pararTurismo não precisa ser sinônimo de agitação; no Paraná, existem opções para descansar, desestressar e desintoxicar

Mariane Maio - [email protected]

turismo, muitas vezes, sig-nifica sair da rotina, trocar hábitos, não ter relógio para se guiar e nem direção certa

a seguir. É um momento de descontra-ção, sem preocupações, nem cobranças. É quase um consenso de que no turismo é hora de apertar o stop no botão do “pi-loto automático” e repensar na vida, abrir a cabeça, arejar as ideias. Tudo isso não precisa estar aliado a grandes exageros e à agitação. Estar fora da rotina pode ser uma temporada para relaxar e colocar o corpo em sintonia com a mente.

Pode ser o momento do “des”: descansar, desestressar e desintoxicar. Isso é o que procura a maior parte das pessoas que vão a um SPA ou a uma clínica naturista, além do objetivo principal, e quase unânime, melhorar a forma física.

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turismo

O estado do Paraná conta com algumas opções desse tipo. E para saber se a teoria, realmente, se efetiva na prática a Revista MÊS foi conferir um deles, a Lapinha SPA. Localizado na cidade da Lapa (85 km de Curitiba), o espaço foi fundado em 1972, tornando-se o primeiro SPA do Brasil, se-gundo Marianne Brepohl, responsável pelo Marketing da empresa e bisneta da funda-dora, Dona Margarida Bornschein Langer.

Mudança de hábitoA professora de literatura Livia Petry, de Porto Alegre (RS), é uma dessas pesso-as que aproveitou as férias para mudar seus hábitos. Trinta quilos acima do peso, Livia disse ter procurado o SPA por ele oferecer uma proposta de “curar e trazer saúde por meio da alimentação”.

Nos 21 dias que passaria na Lapinha, a professora tinha a intenção de perder 10

quilos, mas depois que chegou ao local percebeu que o processo seria um pouco mais longo. “Vi que precisava mais re-laxar e reeducar [os hábitos] e não fazer uma dieta super-restritiva, pois depois que eu voltasse passaria a comer tudo de novo”, explica.

A receita está na mudança dos hábitos diários e o emagrecimento será consequ-ência, acredita Marianne. “Quem vem, procura mudança de estilo de vida, bus-ca a harmonia entre o corpo, a alma e o espírito. Uma coisa tem de conviver bem com a outra”, afirma. Para o médico e nutricionista Daniel Boarim, o objetivo é justamente esse. “Não tratamos da doença e sim da saúde. Se não cuidar do corpo como um todo não adianta”, garante.

A aposentada Priscila Thomé, de São Paulo (SP), parece ter aprovado o méto-do. Velha conhecida da Lapinha, Priscila tem até uma mala com roupas que ficam guardadas no SPA. Ela conta que procura frequentar o local de uma a duas vezes ao ano. “Não quero emagrecer. Venho pela

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REVISTA MÊS | MARÇO DE 2011 | 49

possuem televisão, nem rádio ou qualquer equipamento eletrônico.

Além disso, o televisor disponível na sala é desligado no meio da noite e o acesso à internet também é cortado. O silêncio, no começo, pode ser até perturbador para quem é acostumado ao movimento das grandes cidades, mas depois de uns dias, passa a colaborar para que a noite fique mais tranquila.

Volta para casaEsse processo, do retorno à vida rotineira, nem sempre é fácil. Longe do ambiente propício ao relaxamento e bem perto das tentações e estresses diários, abandonar os hábitos criados em um SPA pode ser algo natural. Para que isso não ocorra, a coor-denadora de Marketing do Lapinha acon-selha que os objetivos sejam específicos.

“A gente não quer que você leve daqui tudo, porque seria viver em uma utopia. Sabemos que não é possível. Por isso, pedimos para levar uma micromudança. Se levar duas ou três [mudanças], você consegue. Já se levar 10, você abando-na”, adverte.

Segundo o estudante de agronomia Patri-ck Cebula, de Araucária, os bons resulta-dos obtidos no SPA animam. “A volta vai ser diferente. Pretendo continuar como estava aqui”, afirma. Segundo Livia Pe-try, os novos hábitos serão incorporados em sua nova rotina. “[Perto de casa] tem um restaurante com comida natural. Acho que vou conseguir seguir a dieta. Mas o mais importante não é só a questão da ali-mentação. Ter uma rotina de exercício é algo que vou levar”, garante.

saúde. Temos de envelhecer da melhor forma possível”, diz.

AlimentaçãoNa Lapinha, a alimentação é ovo-lacto--vegetariana, ou seja, quem vem à clínica consome ovos, derivados do leite e vege-tais, com alimentos de origem orgânica, a carne fica de fora. A maior parte dos alimentos é produzida pelo próprio SPA, que fica em uma fazenda de 550 hectares.

A adaptação a essa alimentação “dife-rente” não parece ter sido problema para Isac Fialla, empresário e vice-prefeito de Araucária. Fialla disse precisar emagre-cer 10 quilos. Com uma dieta restritiva, com apenas frutas, sucos e sopas, o vice--prefeito conseguiu perder sete quilos em sete dias. “Saí de uma dieta normal para 500 kcal e não estou sentindo diferença. [Como político] eu tinha muito evento e acabava comendo bastante”, explica. Com problemas de obesidade na família, um irmão chegou a pesar 300 kg e o outro 180 kg, Fialla resolveu que precisava en-trar em forma.

Mudanças além da mesaA atividade física é outro pilar bastante ex-plorado por lá. As opções começam logo cedo, às 6h20, com um alongamento e uma caminhada longa. Durante o dia, outras ati-vidades são oferecidas, como hidroginás-tica, ginástica localizada, passeio de bike, nordic walking (um estilo de caminhada com bastão), natação, pilates e tênis.

Mas não são só os exercícios que têm vez no SPA. Momentos de aprendizagem tam-bém estão incluídos no pacote. Ao longo

da semana são oferecidas palestras, aulas de culinária, reflexão bíblica e exibições de filmes.

Para quem quer relaxar e cuidar da esté-tica, é possível aproveitar a estrutura da clínica com fisioterapeutas, massotera-peutas e esteticistas. Lá você pode fazer massagens, com pedras quentes, tailande-sa, subaquáticas ou aproveitar os serviços de um salão de beleza.

Para que o corpo entre no ritmo dos hábi-tos saudáveis, uma questão que é levada bastante a sério no SPA são os horários. Eles seguem a Ordenoterapia (terapia do biorritmo) estipulando horários para acor-dar, fazer exercícios, se alimentar e dor-mir. A indicação é que o hóspede acorde no máximo às 8h e vá dormir às 21h. Para ajudar nesse processo, os quartos não

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Estar fora da rotina pode servir para relaxar e colocar o corpo em sintonia com a mente

A alimentação ovo-lacto-vegetariana e orgânica contribui para a dieta e desintoxicação dos hóspedes

As atividades começam cedo, às 6h20, o grupo faz alongamento e sai para uma longa caminhada

Priscila Thomé já incluiu em sua vida os hábitos adquiridos no SPA

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culinária&gastronomia

uritiba é uma cidade cosmopo-lita em certas características, mas não se esquece de reservar um apreço especial à tradição

da gastronomia italiana. Mais de 500 esta-belecimentos entre pizzarias, cantinas e res-taurantes italianos marcam esse traço local.

As opções variam entre gostos, preços e localização. Por toda a cidade, sempre existe um cantinho para se apreciar uma massa e um bom vinho, bebida que inclu-sive harmoniza de forma muito elegante com esse tipo de culinária.

“Os curitibanos têm tradição com a co-mida italiana”, afirma o chef Beto Mada-losso, da tradicional família Madalosso,

Curitiba apresenta quase 500 estabelecimentos com opções da gastronomia italiana, que já se tornou a marca da cidade

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Rota das massasArieta Arruda - [email protected] dona de seis estabelecimentos conceitua-

dos na Capital, que atendem cerca de duas mil pessoas por dia.

Aliás, foi no segundo maior restaurante do mundo – segundo o Guiness Book – o Restaurante Madalosso, que foram en-contrados alguns dos motivos que levam os curitibanos e turistas a consumir com gosto esse tipo de gastronomia. “Quando falamos em comida italiana, faz pensar que são só massas. Mas tem muita salada, tem variedade de pratos. Traz a lembrança de infância do almoço de família”, disse o médico Henrique Schauez, no almoço junto com sua irmã, Ana Flora, que são descendentes de italianos.

Almoçando também estava a vendedora Lia Vaciski, em uma refeição de fim de

semana. “Gosto de reunir a família em torno da mesa”, resume Lia. O turista paulista Leonardo Batochio também trou-xe seus familiares para se aventurar pelas massas de Curitiba. “Vim pela tradição.”

Segundo Bruno Draghi, proprietário do Armazém Italiano e também diretor da Abrasel-PR (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná), o per-fil que frequenta esse tipo de restaurante se diferencia conforme o dia da semana. “Geralmente executivos e casais [no meio da semana] e no fim de semana: famílias.”

Uma mesa farta, alegre e festiva, parece ser a cena típica que se forma em torno da comida italiana. Essa fartura pode ser medida na infinidade de pratos que acom-panham a massa em restaurantes com ro-dízio ou mesmo os que servem à La Carte.

Bruno Draghi aponta outros fatores para que a tradição da gastronomia italiana não se perca na cidade. “A comida italiana é uma comida originalmente muito bara-ta. É a base de berinjela, farinha, toma-te, azeite, massa. Então, é muito barata.

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É uma comida que todo mundo gosta. É quase que um ritual. Tem também um componente, com as músicas, os filmes românticos, o ambiente mais fechado, mais aconchegante. Isso remete ao ro-

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UM POUCO DE hISTóRIA A relação dos italianos com Curiti-ba remonta quase dois séculos. Esse povo colonizou a Capital desde 1872, quando chegaram por aqui os primeiros italianos. Muitos deles começaram a trabalhar na produção de hortaliças, de-monstrando já sua forte afinidade com a alimentação. Algumas das terras que abrigaram os italianos são locais que deram origem a bairros tradicionais da cidade. Pilarzinho, Água Verde, Umba-rá são alguns dos exemplos. Mas Santa Felicidade é o ícone dos bairros italia-nos em Curitiba, com a forte presença dos restaurantes e características pre-sentes na arquitetura e nos traços cul-turais locais.

Preparo:Aquecer uma panela e derreter a manteiga. Cuidar para não deixar a manteiga queimar. Em seguida, acrescentar o trigo e mexer sem parar até dourar. Colocar o leite e mexer devagar por cerca de 20 minutos ou até encorpar. Temperar com noz moscada, pimenta-do-reino e sal a gosto. Colocar o molho sobre o rondelli, polvi-lhar queijo parmesão e gratinar em forno pré-aquecido.

A família Vaciski senta à mesa para uma típica refeição italiana, muita fartura e sabor

RECEITA

RONDELLI DE ESPINAFRE AO MOLhO BRANCO

Preparo:Peneirar a farinha e colocar sobre uma superfície lisa para trabalhar a massa. Fazer um buraco no centro, juntar os ovos e o espinafre em pó e misturar. Amassar com a palma das mãos, até obter uma bola de massa lisa, elástica e que não grude na superfície. Dividir a massa em quatro partes e passar pelo cilindro ou o rolo. Cortar a massa em retângulos de 14 cm de largura por 21 cm de comprimento. Deixar secar por 5 minutos e cozinhar os retângulos em água fervente com sal até amolecer. Retirar da água quente, mergulhar em água fria rapidamente, e secar com um pano limpo.Sobre um retângulo, colocar as fatias de queijo e enrolar a massa mantendo o quei-jo no recheio e formando um cilindro. Cortar o cilindro em rodelas de 1,5 a 2 cm de largura e colocar em forma untada com óleo vegetal. Reservar.

Massa de espinafreIngredientes:1kg de trigo

3 ovos inteiros60g de espinafre em pó

300g de queijo mozarela3 a 4 colheres de óleo vegetal

Sal a gosto

Molho Branco1L de leite integral

2 colheres de manteiga 3 colheres de trigo

Sal a gostoNoz-moscada a gosto

Pimenta-do-reino branca moída na hora50g de queijo parmesão ralado

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mantismo antigo”, tornando-se atraente, também, para os casais apaixonados.

Tradição, paladar acessível, custo rela-tivamente baixo e fartura, não importa

o motivo, mas o gosto pela gastronomia italiana deve continuar a ser senso co-mum entre os moradores de Curitiba em uma grande rota de massas. Então, Buon appetito!

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52 | REVISTA MÊS | MARÇO DE 2011

esporte

omes despretensiosos como Ferrugem, Piolho e Gugu em nada remetem à audácia e per-sistência de grandes skatistas

paranaenses. Mas eles provam isso arre-piando em pistas de skate do mundo todo. A modalidade “street” dos esportistas Ro-dil Junior (Ferrugem), Carlos de Andrade (Piolho), Rodolfo Ramos (Gugu), Danilo do Rosário, Marcelo Kosake, Daniel Viei-ra e Danilo Cerezini se caracteriza pelo uso de obstáculos na rua. Mais do que vencer esses desafios no meio urbano, os atletas paranaenses estão vencendo com-petições nacionais e internacionais e le-vando o nome do Paraná e do Brasil para bem longe.

No ano passado, o cascavelense Gugu sagrou-se campeão mundial e o curitiba-no Ferrugem ganhou pela 11ª vez o título brasileiro. Este último também liderou o mundial, mas na última etapa rodou. Fi-cou em segundo lugar, pois teve de esco-lher entre a competição nacional e a in-ternacional, que foi realizada na mesma data. Por questões do contrato com o pa-

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Roberto Dziura Jr. - [email protected]

Se depender dos novos praticantes, o skate

paranaense continuará revelando talentos

trocinador, Ferrugem teve de correr para pegar a taça do Brasileiro e contentar-se em ser o vice no Mundial.

No amador, já tem uma garotada nova surgindo, como Adriano Lachovski, que venceu recentemente o Campeonato Bra-sileiro de Street Skate Amador.

Além de fortes marcas skatewear locali-zadas em Curitiba, outro fator para o forte desempenho dos atletas paranaenses está na quantidade de pistas, são cerca de 20, entre elas as tradicionais do Parque Am-biental e a pista do Gaúcho (construída em 1973, uma das mais antigas do Brasil). Outras cidades do Estado como Cascavel,

O Paraná continua exportando campeões no mundo do skate; atleta como Ferrugem, bicampeão mundial e 11 vezes brasileiro, garante viver seu melhor momento

Eles têm muito a

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nha dedicação e a Deus consegui ter o melhor que o skate pode trazer”. Ale-xandre Wolf, gerente da Drop Dead Skate Park, tem opinião diferente em rela-ção ao preconceito. “Antes as pessoas tinham uma visão descriminalizado-ra do esporte. Hoje isso mudou. A nossa pista, por exemplo, na escola de skate aos sábados, polí-ticos e empresários trazem os seus filhos para a aula”.

Se depender dos novos praticantes, o skate paranaense continuará por mui-tos anos revelando talentos. Ferrugem lembra que antes os patrocínios vinham aos poucos. “Hoje os amadores conse-guem viver do es-porte”. Para Wolf, outro fator que tem contribuído para esse cenário favorável é a existência de peri-ódicas competições com os amadores.

Yuri Facchini tem 15 anos de idade e é um daqueles que já faturou mais de 100 troféus. Ele anda desde os oito e começou ao ver seus irmãos praticarem o

esporte. Com apoio dos familiares, compe-te na categoria Amador 1 e pretende ficar mais um tempo antes de se profissionali-zar. Outro que vive do esporte é Guilherme Trakinas, 22 anos, praticante há 11. Tam-bém amador, ele só participa de competi-ções mais importantes nesta categoria, mas vive de fazer fotos e vídeos de skate para o seu patrocinador.

Pelas ruas de Curitiba e outras cidades pa-ranaenses é possível encontrar essas feras voando alto com uma “prancha de rodas” debaixo dos pés.

anos e depois participar sem a obrigação de vencê-las”, esclarece.

Mesmo com bons resultados de skatistas paranaenses, o esporte continua sendo visto com certo preconceito por parte da socie-dade, acredita Ferrugem. “Apenas os famo-sos passam credibilidade. Eu, por exemplo, nunca fumei ou bebi, mas tem gente que co-meçou comigo em 1990 que até preso foi. Ninguém cai no alcoolismo ou no mundo das drogas se tiver a orientação familiar. O maior mérito é ser certo. Graças a mi-

Francisco Beltrão, Irati e Pato Branco também possuem conceituados lugares para a prática.

Nas pistas de Curitiba é costumeiro ver o treino dos campeões. Em uma manhã de sábado, a pista do Gaúcho está cheia de praticantes, todos com olhos voltados para Ferrugem que realiza suas manobras com precisão e velocidade. Além dos 11 títulos brasileiros, ele é bicampeão mun-dial e venceu sete X Games, competição conhecida como as “Olimpíadas” dos es-portes radicais.

Com 32 anos, Ferrugem começou no skate aos 10 anos. Para ele, o sucesso dos atle-tas paranaenses em competições é fruto da disciplina e muitas horas em cima do ska-te. “É muita dedicação de uma rapaziada que levou o hobby a sério. Para conseguir atingir o ponto máximo são necessárias muitas horas de treino e disciplina”.

E disciplina é o mantra de Ferrugem. Ca-sado há um ano e pai da pequena Victoria, de apenas seis meses, hoje concilia a vida de esportista e empresário, com o cuidado à família. Está chegando a hora de parar. Esse rumo familiar fez o campeão repen-sar sua vida e planeja competir somente por mais dois anos. “O atleta tem que pa-rar no seu auge. Sei que estou em um bom momento e planejo continuar com a dedi-cação nas competições nos próximos dois

Ferrugem na pista do Gaúcho ensina a receita do sucesso: “muita dedicação, disciplina e horas de treino” para conquistar resultados expressivos

Alexandre Wolf garante que skatistas amadores conseguem viver do esporte

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meio ambiente

Rios: cheios de lixo e quase sem vidaAs fortes chuvas do início do ano, o assoreamento dos rios e o lixo jogado pela população têm causado muitos transtornos em Curitiba e RMC

É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a

ouve”, escreveu o escritor francês Victor Hugo. O meio ambiente tem dado sinais de alerta para os homens, no entanto a si-tuação caminha para desfechos cada dia mais graves, em tragédias quase anun-ciadas. Curitiba e Região Metropolita-na (RMC), também foram atingidas por fortes chuvas, que são comuns nesta épo-ca do ano, mas que devido a ocupações irregulares em várzeas e ao descuido da população ao jogar lixo em lugares ina-dequados, têm gerado graves transtornos sociais e econômicos para a região.

Em média, o volume de chuva em feverei-ro é de 158 milímetros. Apenas no dia 14 de fevereiro foi registrado pelo Instituto Tecnológico Simepar um volume de 68,9 milímetros em 24 horas, o que representa

43,6% do total no mês. Essas chuvas inten-sas do período ocorrem, conforme o Insti-tuto, com frequência quase todos os anos. Entretanto, a forma com que a população e os órgãos públicos lidam com essa rea-lidade é que precisa ser repensada, sob a ameaça de ocorrerem novos desastres.

Até pouco mais da metade do mês de fe-vereiro, a Defesa Civil de Curitiba reali-zou 267 solicitações de atendimento. As inundações causaram o maior volume de pedidos: 167. Outros problemas que leva-ram a população a solicitar atendimento da Defesa Civil foram o risco de desmorona-mento (32 solicitações), quedas de árvores (7), erosão (7), destelhamento (3), dentre outros que tiveram menor ocorrência.

Além da grande quantidade de chuvas, as construções próximas aos rios – em áreas de várzea – também ajudam para que pontos de alagamentos aconteçam. “O rio extrava-sa muito rapidamente e não tem para onde a água escoar”, afirma a gerente da Bacia do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira do Instituto das Águas do Paraná, Olga Polatti.

Segundo Olga, para haver uma solução dos problemas de enchentes e inunda-

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ções são necessárias algumas medidas, como a retirada da população das áreas de risco, a elaboração de um Plano Dire-tor de Macrodrenagem na Região Metro-politana de Curitiba – plano que orienta e mostra quais obras são importantes para a Região – e um controle de ocupa-ções dessas áreas.

Margens dos RiosMuitas famílias curitibanas ainda moram em áreas consideradas de risco, muitas vezes, por falta de opção. De acordo com informações da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), na Capital paranaense há cerca de 6.200 famílias vi-vendo em áreas de várzeas. Essa popula-ção sem a assistência adequada do Estado não conseguirá sair desses locais e con-tinuarão vivendo em áreas onde os rios deveriam escapar, quando há um grande volume de chuva. Para a bióloga da So-ciedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Elenise Sipinski, muitos problemas se devem por conta da “ocupação das áreas de risco pró-ximas aos rios para onde a água escoava”. Isso dificulta até o trabalho de limpeza desses locais depois de fortes temporais.

Iris Alessi - [email protected]

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Segundo o diretor do Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria Munici-pal de Obras de Curitiba, Augusto Meyer Neto, a grande quantidade de famílias que ainda moram nos leitos dos rios “muitas vezes impede de fazer o trabalho de alar-gamento e afundamento dos rios”.

Na Prefeitura, está em fase de elaboração o Plano Diretor de Drenagem. “É um ins-trumento de planejamento que irá subsi-diar as ações e projetos de obras. Inclu-sive servindo de material para busca de recursos junto ao Governo Federal”, diz Meyer. Segundo ele, o Plano não vai re-solver todos os problemas de drenagem da cidade, mas apontar as necessidades. Além do Plano de Drenagem, a Prefeitura de Curitiba está buscando recursos jun-to a União, por meio da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para a construção de cinco ba-cias de retenção de água. Para o manejo

seu leito. Assim, as enchentes são inevitá-veis e constantes.

“A nossa Região Metropolitana está bem feia”, lamenta a gerente do Instituto das Águas ao referir-se à qualidade dos rios na RMC. Hoje, muitos dos rios da região, como o Iguaçu, o Barigui, Atuba e o Belém, por exemplo, se enquadram na classe quatro ou em classes mais altas no quesito qualida-de da água. Significa dizer que a água des-ses rios é imprópria para consumo humano.

Estudos preliminares do Instituto das Águas do Paraná mostram que seria ne-cessário um investimento da ordem de R$ 1,3 bilhão na Bacia do Alto Iguaçu e dos afluentes do Alto Ribeira para melhorar “um pouco a qualidade das águas”, ad-verte Olga.

Os planos e ações entre Governos Esta-dual e Municipal devem ajudar na melho-ria da qualidade da água e na redução de pontos de alagamento. Porém, para que a mudança seja efetiva é necessária e edu-cação do cidadão para que o lixo tenha seu destino correto. Ela diz acreditar que “essas catástrofes vão ensinar as pessoas” a preservarem o meio onde vivem.

de águas pluviais já estão reservados R$ 144,41 milhões anunciados pelo Ministé-rio do Planejamento.

Qualidade da águaAlém do grande número de famílias que moram nas beiras dos rios, outra ques-tão que contribui para o assoreamento é o acúmulo de lixo. Segundo Meyer, há diversas equipes limpando os rios e cór-regos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “Estamos fazendo a compra de escavadeiras hidráulicas para limpar constantemente os rios”, completa o di-retor. Mas a situação é grave. Em média, por mês, são retiradas cerca de 50 tonela-das de lixo dos rios e galerias de Curitiba. São materiais que poderiam ser reciclados e direcionados a aterros sanitários para tratamento adequado. Para isso, é preciso a colaboração da população.

De acordo com Olga, os sedimentos que deveriam ser levados naturalmente pela correnteza do rio, não são suficientemen-te carregados, causando o assoreamento, processo em que há o acúmulo de mate-riais no fundo do rio. Isso o deixa com menor espaço para acomodar a água em

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São retirados por mês cerca de 50 toneladas de lixo dos rios e galerias de Curitiba

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azer uma viagem à Lapa é como se estivéssemos fazendo uma viagem no tempo. Um tempo da Revolução Industrial, do Tropei-

rismo e do Brasil Colônia. No Paraná, a cidade da Lapa surgia em meio a essas características e transformações sociais e econômicas. Hoje, a cidade paranaense conta, de forma preservada, um precioso capítulo da História. Todo esse patrimô-nio fez da Lapa a Capital Brasileira da Cultura neste ano.

Fundada em 1769, primeiramente com o nome de Capão Alto, originou-se de um povoado às margens de uma estrada, cami-nho seguido pelas tropas que saíam de Via-mão (RS) com destino à Sorocaba (SP). O lugarejo dos Campos Gerais ganhou mui-

turismo&cultura

FCom muita história para contar, a Lapa espera trazer mais turistas em 2011, ano em que a cidade é a Capital Brasileira da Cultura

tos nomes, até que em 1972 ganhou a ca-tegoria de cidade, já com o nome de Lapa.

A cidade carrega consigo um pedacinho da História do Paraná e do Brasil, já que foi importante palco da Revolução Fede-ralista de 1894. Foi na cidade paranaense que houve o confronto entre os republi-canos e os federalistas do Sul, chamados de maragatos. Foi nessa revolução que se realizou o Cerco da Lapa quando os repu-blicanos, comandados pelo general Car-neiro, resistiram por 26 dias ao ataque dos maragatos dando tempo para que o mare-chal Floriano Peixoto reunisse as tropas para lutar contra os federalistas.

Hoje, o Centro Histórico da Lapa é tom-bado pelo Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional (IPHAN) por conta dessas e tantas outras histórias. São

14 quarteirões e 235 prédios preservados que contam parte da vida de nosso Esta-do. Por isso, a cidade é voltada ao turismo histórico-cultural. Sua história inicia-se no Ciclo do Tropeirismo, indica o embai-xador honorário da Lapa, Márcio Assad.

A cidade paranaense é a quinta cidade brasileira e a primeira paranaense a rece-ber o título de Capital Brasileira da Cul-tura. O resultado foi divulgado no final do ano passado. Para a presidente do Insti-tuto Histórico e Cultural da Lapa, Maria Inês Borges da Silveira, esta “foi uma conquista relevante”. Maria Inês lembra que no concurso em 2010, a cidade con-correu com outras importantes cidades, como Gramado (RS) e Ouro Preto (MG). Agora, ela espera que em 2014 a Lapa chegue mais longe e seja escolhida a Ca-pital Cultural da América Latina.

história e cultura preservadasIris Alessi - [email protected]

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confira o calendário de eventos da Lapa:

Exposições 201125.02 a 08.04 - artista plástico lapeano Alceu Gonçalves

03.06 a 01.08 - III Mostra de Artes e Artesanato - de artistas lapeanos e de Curitiba e região metropolitana

07.10 a 16.11 - II Exposição Jovem Talento - exposição de obras/trabalhos de alunos de oficinas ministradas gratuitamente pelo artista plástico Geraldo do Valle

Local: Casa de Musica João Francisco Mariano

O ano da lapaTer sido escolhida a Capital Brasileira da Cultura de 2011 tem muita importância para o turismo da cidade. Segundo Már-cio Assad, esse título vai contribuir para mais um capítulo da história lapeana, junto à comemoração deste mesmo ano de 120 anos da chegada do trem à cidade e 242 anos de sua fundação.

“Esse título é um reconhecimento a toda uma sequência de trabalho que a Lapa vem desenvolvendo na área da cultura. Então, é o momento de o Brasil devolver a Lapa aquilo que a Lapa deu para o Brasil”, com-pleta Assad, referindo-se ao episódio do Cerco da Lapa.

Com o destaque, os incentivadores do tu-rismo na cidade estão otimistas. Em visita da Revista MÊS à Lapa, foi possível ver muitos turistas encantados. É o caso da professora de Artes, Magda Walkiria Mar-tins Dias. Ela já conhecia a cidade, mas desta vez veio fazer uma visita turística. “É um passeio de cunho histórico, que tem

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relação com o Paraná e as outras regiões. Nós ficamos mais próximos de nossa his-tória”, ressalta a professora.

RiquezaE toda a riqueza da história da Lapa não fica apenas nas fachadas dos prédios tom-bados. Na cidade é possível visitar sete museus em atividade, o que ajuda a contar a vida da cidade com ricos detalhes.

Ao entrar nos museus, a sensação de volta ao passado é ainda mais forte. No prédio onde era a cadeia, por exemplo, hoje fun-ciona a Câmara Municipal, no pavimento superior e, no térreo, um museu de armas usadas durante o episódio do Cerco da Lapa. Além disso, o museu contempla também arsenais bélicos utilizados nas 1ª e 2ª Guerras Mundiais.

A cidade também recebe, com frequência, exposições de pinturas em tela e artesa-nato. A secretária Municipal de Cultura e Turismo, Valéria Borges da Silveira, con-ta que a metade das exposições é formada

por artistas lapeanos. “Mas também há a parceria com entidades de artistas de ou-tras cidades. Principalmente, de artistas de regiões próximas à Lapa”.

Outro espaço que o turista não deve dei-xar de visitar é o Teatro São João que re-cebeu a visita do Imperador Dom Pedro II, em 1880. E foi esse teatro que cativou a turista Nilza Oliveira da Silva, em sua primeira visita à cidade. “Nós ficamos olhando o Teatro São João de perto e nos sentimos em outra dimensão.”

Há muitas outras riquezas que não devem deixar de ser visitadas na Lapa, como a Igreja Matriz de Santo Antônio, a cons-trução mais antiga da cidade de 1784; o Pantheon dos Heróis, que abriga os res-tos mortais dos federalistas que lutaram na Revolução Federalista; a “Rua das Tropas”, caminho por onde passavam os tropeiros; o Parque do Monge (fechado atualmente para reformas), que abriga a Gruta do Monge entre muitos outros atra-tivos que fizeram da Lapa a Capital Brasi-leira da Cultura deste ano.

Museu de Armas com arsenal bélico usado no episódio do Cerco da Lapa e também nas

Guerras Mundiais

Um pedacinho das 14 quadras tombadas pelo IPHAN no Centro Histórico da Lapa

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s grandes shows internacio-nais são sempre cercados de muita expectativa e an-siedade. Esses eventos têm

um clima todo especial, afinal, não come-çam apenas quando as luzes se acendem e os músicos entram no palco. O evento começa muitos dias antes, na expectativa com a compra dos ingressos e nas horas aguardadas na fila para garantir o melhor lugar do show. São pequenos detalhes que fazem parte da atmosfera de um grande evento de música.

Curitiba já teve muitos shows cercados dessas expectativas e euforia. Mas nos úl-timos anos, cenas como essas não são mais vistas na capital paranaense. Entre 2009,

cultura&lazer

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Longe dos shows internacionaisNos últimos anos, grandes nomes da música mundial têm passado longe dos palcos curitibanos. Resultado: perde os fãs, o turismo da Capital e a economia

2010 e início de 2011 passaram pelo Brasil grandes nomes da música como Madonna, Elton John, Alanis Morissete, Iron Mai-den, Rolling Stones, Beyoncé, ColdPlay, Guns’n’Roses, Paul McCartney, Black Eyed Peas, Shakira e Amy Winehouse. Outros nomes como U2 e Ozzy Osbourne também desembarcarão em terras tupini-quins, este ano, e nem de perto passarão por Curitiba, que era antes lembrada por sua efervescência cultural na área musical.

Muitos desses shows migraram para Flo-rianópolis (SC). E foi a ida de algum de-les para a capital catarinense que intrigou a professora Thais Eastwood quando per-cebeu que alguns shows aconteceriam lá e não aqui. “Me admira de [os shows] irem para Florianópolis, porque lá tem menos habitantes. Não sei se [deixaram de vir

para Curitiba] porque a gente está mais perto de São Paulo”, indaga a professora que viajou à Santa Catarina para assistir ao Black Eyed Peas e já se prepara para ir até o Rio de Janeiro para acompanhar o Rock in Rio, no segundo semestre.

A procura por shows em outros estados não é apenas de Thais. Alexandre Buga, fundador do Curitiba Underground, em-presa que organiza excursões para outros estados, contou que em 2010 organizou excursões para os shows do AC/DC, Me-tallica e Kiss, fechou 40 ônibus que segui-ram com destino a São Paulo.

Pedreira Paulo LeminskiEspecula-se que um dos motivos que pode ter afastado os grandes shows inter-nacionais de Curitiba é o fechamento da Pedreira Paulo Leminski. O lugar, inau-gurado em 1990 – no espaço onde antes funcionava uma antiga usina de asfalto – foi palco de muitos dos grandes even-

Iris Alessi - [email protected]

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tos na capital paranaense como shows de Paul McCartney, Pearl Jam, Ramones, Davis Bowie, Björk, entre outros.

O espaço cultural está fechado desde março de 2008, após uma Ação Civil Pú-blica do Ministério Público (MP) acata-da pelo o juiz Douglas Marcel Perez, da 4.º Vara de Fazenda Pública de Curitiba. Essa ação está baseada no pedido de 134 moradores da região, representados pela Associação de Moradores do Abranches (Amada), que reclamavam da desordem e do barulho nos dias de shows. Segundo o assessor jurídico da Associação, João Carlos Flor, hoje a Amada está como ex-pectadora, por conta de a ação já estar no MP “a Associação não pode fazer mais nada. [Um acordo] não vai ter eficácia nenhuma, porque a ação é do Ministério Público”, ressalta Flor.

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PerdasO vereador do Partido dos Trabalhadores (PT), Jonny Stica, entende que Curitiba não está perdendo apenas os shows com a Pedreira fechada. “A economia local aca-ba sendo afetada, pois se houvesse shows internacionais aqui em Curitiba, pessoas de outras cidades viriam pra cá e busca-riam hotéis, restaurantes e transporte. E ainda tem a arrecadação da cidade, que deixa de gerar impostos com a passagem dos shows”, afirma o vereador que lidera a campanha “A Pedreira é Nossa!”.

Para que o espaço seja reaberto ainda será necessário uma perícia, que será realiza-da pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias (IBAPE-PR) e deve durar 120 dias. Somente após a perícia é que será possível marcar uma audiência de recon-ciliação entre as partes para a reabertura do local.

De acordo com Carlos Flor, não é o caso de fechar de forma definitiva para esse tipo de evento, mas sim repensar como isso está sendo feito, já que muitos festi-vais ultrapassavam a hora acordada entre a Fundação Cultural e os moradores. Para ele, os maus produtores dos eventos é que transformaram o local em um problema. “E aí que deturpou o quadro e prejudicou os bons [produtores]”.

A reportagem da Revista MÊS tentou contato com as produtoras CWB Bra-sil e Seven Shows, para saber como as produtoras veem a falta de espetáculos internacionais de música em Curitiba, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Poucas opçõesApesar de a Pedreira Paulo Leminski con-tinuar sem poder receber shows, Curitiba ainda tem recebido alguns artistas inter-nacionais nos grandes teatros da capital, mas para a expectadora Thais é mais difí-cil assistir a esses eventos, pois o valor é mais alto. Além disso, para ela na Pedrei-ra havia um diferencial. “A estrutura era muito boa. Eu gostava bastante dos shows que aconteciam lá. Tinha mais espírito de show”, observa a professora.

Para shows grandes, a Pedreira era “o lu-gar”, afirma Buga. “A maioria das bandas nunca tocaram num lugar como a Pedrei-ra”, completa o fundador do Curitiba Un-dergroung, lembrando da arquitetura pe-culiar do lugar. Ele lembra que os shows poderiam também acontecer em estádios de futebol, mas isso é complicado, pois há toda a questão de proteção do gramado e, muitas vezes, a rivalidade entre os clubes fazem com que os torcedores de um time não queiram assistir ao show no estádio do time adversário.

Curitiba tem dois grandes estádios em fun-cionamento: do Coritiba e do Atlético. O vereador do PT acredita que, no entanto, “o custo para o aluguel dos locais é caro e não tem a mesma mística da Pedreira”. Outro espaço que tem sido muito utilizado é o Expotrade, que recebeu recentemente o show do Scorpions e vai receber, em abril, o show da banda Iron Maiden. O local fica próximo à Curitiba, em Pinhais (PR). En-quanto um novo espaço não é aberto ou a Pedreira não volta a funcionar, resta aos fãs viajar ou pagar mais caro para assistir aos shows internacionais.

Shows internacionais têm migrado para Florianópolis,

em Santa Catarina

A Pedreira Paulo Leminski segue fechada para shows; abertura só poderá acontecer depois de perícia

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A moda que o Paraná faz

Paraná tem uma produção do setor têxtil de causar in-veja a muitos outros estados. Segundo dados da Fiep (Fe-

deração das Indústrias do Estado do Para-ná), são mais de 6 mil indústrias de vestu-ário, produzindo mais de 150 milhões de peças, com um faturamento de R$ 4 bi-lhões ao ano, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste do Estado. Apesar do expressivo contexto econômico, a moda,

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Estilistas e marcas paranaenses apresentam suas coleções para Outono/Inverno 2011 e mostram uma moda cosmopolita e “antenada” nas novas tendências

moda&beleza

Arieta Arruda - [email protected] o conceito e a produção de tendências ainda eram tímidos. Passado. O Paraná vive outro momento, de mais maturidade no incentivo à criatividade e tendências locais. “O talento dos estilistas, alinhado à qualidade e ao design, será destaque”, afirma o produtor Paulo Martins, coor-denador do V Paraná Business Colletion (PBC), realizado entre os dias 14 e 19 de fevereiro, em Curitiba (PR).

Dessa forma, é possível ver como o fres-cor do invencionismo paranaense impres-

O café foi a inspiração do estilista

paranaense Fábio Bartz

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so em roupas e conceitos estão se desta-cando na moda nacional. Nomes como o de Fábio Bartz, Jefferson Kulig e Silmar Alves mostram o tom deste Outono/In-verno 2011 para os paranaenses.

O curitibano Jefferson Kulig trouxe uma roupa feminina urbana, sofisticada e com referências do punk, ao empregar taxi-nhas e tecidos tecnológicos sintéticos, como o TK renda e TK veludo. “Eu tenho de criar um tecido tecnológico para que você fique linda, maravilhosa, para que eu consiga ajustar a roupa em seu corpo e você tenha mobilidade, sem que te pren-da”, afirma o estilista logo depois do des-file que abriu o evento de moda.

A cartela de cores, apresentada pelo es-tilista, foi desde o preto, inédito em sua coleção, passando pelo verde, laranja, grafite e off-white. Uma mistura de ou-tros tecidos, como o couro, casca de tatu, pele de carneiro foram aplicados a peças amplas e confortáveis. As roupas dese-nhadas por Kulig trazem uma tendência marcada pelo cotidiano. “A mulher hoje não quer passar roupa. Hoje ela pode tudo. Quando eu comecei [na moda], a mulher não era tão exigente como hoje. É uma mulher tecnológica, gosta de luxo, sofisticação. Ela não quer ser víti-ma da moda”, conclui o estilista.

Fábio Bartz, outro nome da moda para-naense, também marcou presença no Pa-raná Business Collection. Seu desfile foi uma inspiração no café, produto bastante cultivado no Norte do Estado. O aroma, as sacas de café na passarela e a música com esse tema, completaram o contexto do desfile. Os looks apresentados para ho-mens e mulheres, lançando a coleção “Fa-zendas do Brasil”, colocaram o café em cores, com o rosa, o caqui, o bordeaux, o marrom, a estampa com a fórmula do pro-duto, o coador, e nos tecidos, com a sarja resinada, muito algodão e a falsa ráfia.

“Tudo foi muito pensado a partir de uma pesquisa aprofundada sobre a história do café no Brasil. Até os recortes em zig zag detalhados nas saias buscam ilustrar a fu-maça da queima do produto.” Com um ar de conforto – ao estilo art déco – algumas peças vieram com capuz. Macacões, calças ajustadas ao corpo, casacos e blazers des-pojados também desfilaram na passarela.

Ao falar sobre a sua moda, Bartz mostra que a referência regional do café não tem relação com o estilo criado para a próxi-

ma tendência. “Não faço moda pensando em ser regionalista, tento fazer uma rou-pa cosmopolita”.

Já o estilista paranaense Silmar Alves, priorizou ícones do Estado. Sua coleção Outono/Inverno 2011 trouxe como tema a Lapa (PR), cidade histórica, cheia de riquezas, artesanato e cultura do Paraná. Marcou presença em suas peças as fitas, franjas, bordados e tecidos esvoaçantes e

estruturados, que tiveram mãos parana-enses para a confecção, com a inclusão social defendida pelo estilista. Um luxo romântico e despretensioso.

Assim, a moda paranaense se renova e promete trazer mais novidades em bre-ve. O PBC realizou o VIII Prêmio João Turin, com o tema “Minha Cidade Vira Moda”, que revela talentos e tendências para a moda do Estado. Entre 12 finalis-tas, no prêmio que teve 200 inscritos, o ganhador foi Hildo Paulino Fabri Neto, de Curitiba. “É um pontapé inicial para a minha vida profissional. Uma chance única que reconhece o meu trabalho e ajudará a apresentar o meu nome ao mer-cado paranaense”, finalizou.

A moda paranaense se renova e promete trazer mais novidades em breve

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Luxo e estilo romântico marcaram coleção de

Silmar Alves

Jefferson Kulig mostrou a mulher moderna no uso de tecidos tecnológicos

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Mas para não fugir do assunto, a MÊS testou o 207 Passion. Entendemos que o teste do veículo é verificado de fato após seu lançamento. É um sedã com-pacto. Robusto, é um modelo de entrada que vem com um bom conjunto de equi-pamentos de série como, por exemplo, trava com telecomando na chave, direção hidráulica , vidros elétricos dianteiros e ar-condicionado. O modelo top de linha, também vem com quatro airbags, bancos de couro e ABS.

Produzido a partir das linhas do 206, o 207 é forte. A versão Passion dispõe de cinco modelos diferentes, com motores 1.4 e 1.6 flex e opções de câmbio manual ou automático sequencial Tiptronic, am-bos de 4 marchas.

automóvel

empos atrás, quando a Peu-geot desembarcou no Brasil, todos sabiam que não era pre-ciso muito tempo para que a

montadora caísse no gosto dos brasilei-ros. Veículos modelos 206 inundaram as ruas do País, mas a leveza e pouca robus-tez geraram certa desconfiança em alguns consumidores.

Observando a atitude dos compradores, a montadora francesa logo de adequou e, definitivamente, cativou o Brasil. Os anos se passaram e a família cresceu 106, 206, 307, 309. Tantos números de modelos cada vez mais sofisticados, produzidos ou não por aqui.

TA paixão pelo sedã compacto da PeugeotEles sãos os franceses que conquistaram o Brasil com o modelo 206. A MÊS testou o 207 Passion e percebeu que a montadora já sabeo gosto dos brasileiros

Wallace Nunes - [email protected]

Fonte: Volkswagen

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PreçoO 207 Passion XR (o mais básico) com pintura sólida, sai por R$ 39.490. A ver-são top de linha, o 207 Passion XS Auto está sendo vendida por R$ 54.400. O au-tomóvel briga com Siena, da Fiat, o Pris-ma, da GM, e o Voyage da VW.

Espaçoso, tem comprimento de 4.235 mm, sendo 363 mm maior em relação ao 207 hatch. A largura é de 1.669 mm e a altura de 1.447 mm.

Estruturalmente, o 207 Passion passou por modificação para abrigar o terceiro volume, já que o carro tem o mesmo blo-co dianteiro e o assoalho do 207 hatchba-ck. Por isso, o assoalho traseiro ganhou 35 centímetros. A carroceria do modelo é formada por uma peça única que inte-gra as laterais, os pára-lamas traseiros, as ligações com o teto, os lados do porta--malas e o vidro. O porta-malas de 420 litros é baixo, proporcionando comodi-dade para carregar e descarregar. O piso do porta-malas de carpete tem um gancho que permite mantê-lo levantado, deixan-do as mãos livres para alcançar o compar-timento do estepe.

FICHA TÉCNICAMOTOR: Quatro tempos, quatro cilin-dros em linha, transversal, refrigeração a água, 1.587 cm³

POTÊNCIA: 110 cv (gasolina) e 113 cv (álcool) a 5.600 rpm

TORQUE: 4,2 kgm (gasolina) e 15,5 kgm (álcool) a 4.000 rpm

CÂMBIO: Automático dequatro velocidades

TRAÇÃO: Dianteira

DIREÇÃO: Por pinhãoe cremalheira; hidráulica

RODAS: Dianteiras e traseiras em aro 15”, de liga-leve

PNEUS: Dianteiros e traseiros 185/60 R15

COMPRIMENTO: 4,24 m

ALTURA: 1,45 m

LARGURA: 1,67 m

ENTREEIXOS: 2,44 m

PORTA-MALAS: 420 l

PESO (em ordem de marcha): 1.177 kg

TANQUE: 50 l

SUSPENSÃO: Dianteira independente, com braços duplos e sistema antimergulho; traseira com eixo de torção

FREIOS: Discos ventilados na dianteirae sólidos na traseira

CORES: Não informadas

PREÇO: R$ 45 mil (estimado)

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Infanto-juvenil

Quem é você, Alasca?John Green - Editora WMF Martins Fontes

Para quem se interessa por uma boa ficção infanto-juvenil, principalmente, aquelas que revisitam essa época tão turbulenta da vida que é a adolescência, o escritor John Green realiza um feito e tanto ao contar a história de Miles Halter em Culver Creek, lugar onde ele encontra Alasca Young, “a garo-ta mais linda da história da humanidade”. Em busca do Grande Talvez - as últimas palavras do poeta Fraçois Rabelais -, Miles tenta absorver o que a vida pode lhe propor-cionar a partir desse encontro com a garota de seus sonhos.

Literatura latino-americana

Museu do Romance da EternaMacedonio Fernández Editora Cosac Naify

Inédito no Brasil, a obra modernista do escritor argentino, morto em 1952 antes de concluir o livro, foi publicada originalmente em 1967 e tornou-se um marco da literatu-ra do Sul das Américas. Antes de a história começar, o leitor é brindado com mais de 50 prólogos que o introduzem ao universo inacabado - mas não incompleto - de Fernán-dez. A diagramação é inconstante, radical, e traduz a sensação de indefinição que o livro proporciona. Com tradução de Gênese An-drade, é a oportunidade de se ler em língua portuguesa o autor que influenciou grandes nomes da literatura argentina.

Eduardo Bentivoglio - [email protected] Maio - [email protected]

livros do mês

Artes plásticas

Sergio RomagnoloTextos de Agnaldo Farias e Oswaldo Corrêa da Costa - Editora WMF Martins Fontes

É difícil condensar 35 anos de carreira em um livro de 240 páginas, ainda mais tratando-se de uma carreira densa e produtivamente rica como a do artista plástico pau-listano Sergio Romagnolo. Primorosamente ilustrado por suas obras - que transita entre releituras de ícones da cultura pop pós-moderna e figuras, esculturas, pinturas, desenhos e vídeos de arte experimental con-temporânea - o livro conta com o primeiro capítulo de um romance que Sergio está escrevendo, intitulado A Feiticeira e as Máquinas, onde o autor dialoga com seu trabalho. A mistura de estímulos visuais e palavras tornam-se inspiradoramente poética.

Não-Ficção

onde fica o meio ambiente?Como já dizia a velha máxima “a união faz a força”. No livro “Onde fica o meio ambiente?”, da autora Shirley Souza, os personagens Larissa, Norio, Diego e Luana tiveram de apren-der que apenas com a união conseguiriam mudar a realidade do local onde vivem. As ações individuais de cada um em projetos de defesa do meio ambiente, apesar de importantes e válidas, não conseguiam fazer efeito diante de algo tão maior. “Cada vez mais ouvi-mos falar que precisamos proteger o meio ambiente, usar racionalmente os recursos naturais, preservar as condições de vida em nosso planeta. No entanto, rapidamente, concluímos que esse assunto não nos diz respeito. Só pode ser de responsabilidade de nossos governantes”, diz a apresentação do livro.

Editora: PaulusAutora: Shirley Souza Páginas: 126Preço: RS 22,00

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REVISTA MÊS | MARÇO DE 2011 | 65

Eduardo Bentivoglio - [email protected] Alessi - [email protected]

álbuns do mês

MPBSeu jorge and Almaz Warner Music

O projeto de Seu Jorge, Antonio Pinto, Lucio Maia e Pu-pillo - os dois últimos, integrantes da Nação Zumbi - soa tão bem quanto se pode imaginar. Para quem espera uma explosão de criatividade encara releituras de clássicos da música pop, desde o R&B americano até o brasileiríssimo mangue beat. Nada original de fato, mas, coincidentemente, com uma originalidade única. Reverberações, slow tempos e a inconfundível pegada grave de Jorge Mário da Silva levam todo o disco, revisitando diversas épocas da história nem tão recente da música ocidental. Destaques para “The Model”, dos vanguardistas alemães da música eletrônica Kraftwerk, “Everybody Loves the Sunshine”, de Roy Ayers, e a poderosa “Cristina”, do mestre Tim Maia.

Rock / AlternativoRadioheadThe King of Limbs - lançamento próprio

Trinta e sete minutos divididos em oito faixas. Parece pouco para quem aguardou quatro anos por algum material inédito do Radiohead. Mas quem teve a oportunidade de ouvir The King of Limbs sabe que foi tempo mais do que suficiente para trazer à tona toda a criatividade incontida na mente desses cinco britânicos. Os sensíveis, como em quase todos os trabalhos do grupo, terão mais facilidade para se identificar com a introspectiva obra. Diferenciais são muitos, mas o destaque fica com o líder e vocalista Thom Yorke que, em faixas como “Little by Little” e “Give Up the Ghost”, tira do coração toda a sutile-za e a força para interpretar as composições mais adequadas ao nosso confuso tempo. Segundo os integrantes, o disco é ambientado na floresta e em suas lendas e mistérios, mas, para alguns refere-se, talvez, à floresta interior que cada um possui dentro de si.

Pop Rock NacionalSabonetesUniversal Music

O disco de estreia do quarteto curitibano não se envergonha de produzir canções do mais puro pop rock em meio às contra--investidas da cena independente nacional. A sinceridade dos timbres e melodias não conseguem se disfarçar pela pseudo-rasgada na voz de Artur, o vocalista, na abertura de “Haicai”, já que a consequente leveza da faixa demonstra tudo ao que o grupo se propõe, por enquanto. “Descontrolada” puxa as influências próprias do momento da jovem música nacional, ritmo despojado em compassos eletrônicos, enquanto “Hotel” remete às baladas da primeira fase da banda gaúcha Cachorro Grande - em ótima for-ma, por sinal. Um álbum nada escorregadio.

O Iron Maiden, tradicional banda de rock, desembarca no Brasil no final de março para os shows da turnê The Final Frontier World Tour. A “Donzela” vem com for-ça total para a que pode ser a úl-tima turnê da banda. Os ingleses são muito esperados pelo público e também por outros músicos, que sempre demonstram muito entusiasmo por aqui. Com mais de 30 anos de carreira, a banda promete se apresentar nas cida-des de São Paulo (26/03), Rio de Janeiro (27/03), Brasília (30/03), Belém (01/04), Recife (03/04) e Curitiba (05/04). À bordo do Ed Force One um Boeing 757 - pilotado pelo vocalista da banda Bruce Dickinson – a banda trará ao Brasil um som da pesada, com mais de 10 toneladas em equipamentos. No novo show, a banda tocará músicas do novo disco The Final Frontier, lançado em agosto de 2010 e clássicos como Fear of The Dark e Hallo-wed be Thy Name.

CLARISSA BRUNS

No Brasil para a Fronteira Final

A sonoridade paranaense está presente no CD Clarissa Bruns, que leva o nome da cantora. O trabalho da curitibana formada em Misicoterapia, conta com a participação dos cantores Jorge Vercillo e Fátima Guedes. Com uma mistura de MPB e samba, o som de Clarissa mostra influências da bossa nova, soul music e da música latina. Clarissa assina oito, das 10 faixas do disco, embalando casais apaixonados e amantes da nova MPB.

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opiniãoPor Christiane YaredPresidente do Instituto Paz no Trânsito

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jovem é o que mais morre e mais mata no trânsito. Colisões, atropelamentos e outras formas de violência viária acontecem a cada 57 segundos no País. A desatenção, a

falta de informação ou de responsabilidade causam uma morte a cada 22 minutos no Brasil. E não é preciso ir muito longe para conferir essa informação do Ministé-rio da Saúde. A violência gerada por imprudência está estampada a cada esquina, em histórias trágicas que se repetem todos os dias.

Na madrugada do dia 7 de maio de 2009, às 2h20, a morte chegou a minha casa. Um acidente provocado por um jovem deputado, completamente bêbado, em altíssima velocidade, cei-fou as vidas de meu filho, Gilmar Rafael Yared e de seu amigo, Carlos Murilo.

A dor de enterrar um filho é algo sem precedentes, que nos tira o fôlego e desorienta. Nos primeiros dias, nada parece ser real e, com o passar deles, é que perdemos a esperança. Os filhos mortos não voltam, mas os que estão vivos precisam de segurança.

Meu filho falava quatro línguas, estava cursando duas faculdades e tinha 26 anos. Eu o eduquei. Mas, se eu ensinar o meu filho e você não ensinar o seu, ele pode matar o meu. É preciso entender que, quando o assunto é trânsito, estamos todos ligados.

As notícias do acidente correram os jornais e, assim, o país inteiro. Recebemos tanto amor dos que nos conhe-ceram, de pessoas que jamais imaginamos, oriundas de todos os cantos do País. Eles se tornaram amigos. E nos

fizeram enxergar nossa dor em outras histórias pareci-das, entendendo, assim, a necessidade de ajudar.

O trauma vivido foi a pedra fundamental para a cons-trução de um importante projeto, que visa oferecer su-porte às famílias que passam por situações similares: o Instituto Paz no Trânsito, que também conta com outros membros preocupados com a falta de segurança no setor.

Algo precisava ser feito, fundamentamos o IPTRAN em educação, fiscalização e punição e estruturamos um núcleo de apoio às vítimas (NAVi), que atende com auxílio psicológico, encaminhamento a advogados e

restauração de lares. Damos palestras sobre a segurança no trânsito e a importância de educar o jovem.

Lutamos por leis mais segu-ras e rígidas que punam os assassinos de trânsito. Carre-

gamos a bandeira da paz. Vamos colher os frutos dessas sementes que são plantadas em cemitérios – os nossos filhos, cujo sangue lava as ruas e rodovias deste País.

Este é o momento da sociedade brasileira juntar esfor-ços e cobrar das autoridades competentes ações sérias. Políticos, Legisladores, a Senhora Presidente da Repú-blica e a sociedade precisam colocar um ponto final nes-sa guerra que não gera vencedores.

A minha história não precisa se repetir com o seu filho. E é por esta razão que o Instituto Paz no Trânsito pede atitude de paz a cada cidadão. Trata-se de uma mudança de comportamento, e, mais do que isso, de uma opção pela vida.

O

Se você não educa o seu filho, ele pode matar o meu

A desatenção e falta de responsabilidade causam uma morte

a cada 22 minutos no Brasil

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FOTOgRAMAAnalu Koni

“O GRANDE sol na eira, talvez seja o remédio... Não quero quem me queria, amarem-me faz tédio”. (Fernando Pessoa)

Page 68: Revista MÊS, edição 3

Rua Desembargador Motta, 2981 / Curitiba / 41 3323-1303

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