resumo: o segredo da pirâmide

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO DISCIPLINA: TEORIA DO JORNALISMO MESTRANDO: THIAGO AMORIM CAMINADA GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2012. 240p. Capítulo I Em “O funcionalismo e a comunicação: considerações preliminares” Adelmo Genro Filho apresenta a visão funcionalista de Èmile Dürkheim na sociologia que entende os fatos sociais como coisas, objetividade pura. A partir dessa visão, situa os primeiros estudos de comunicação de massa, desenvolvidos pela escola de Chicago, como análises do desenvolvimento do jornalismo separadas do seu contexto histórico e social. Ao buscar a função social do jornalismo, Genro Filho contextualiza sua origem na ascensão burguesa e advento do capitalismo. À medida que a sociedade tornou-se mais complexa houve maior necessidade de informação e como não era mais possível que os indivíduos presenciassem todos os fatos interessantes, criou-se a indústria das notícias e, consequentemente a notícia tornou-se um produto, fruto desse processo industrial.

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Resumo do livro "O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo" de Adelmo Genro Filho

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Page 1: Resumo: O segredo da pirâmide

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO

DISCIPLINA: TEORIA DO JORNALISMO

MESTRANDO: THIAGO AMORIM CAMINADA

GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do

jornalismo. Florianópolis: Insular, 2012. 240p.

Capítulo I

Em “O funcionalismo e a comunicação: considerações preliminares” Adelmo

Genro Filho apresenta a visão funcionalista de Èmile Dürkheim na sociologia que

entende os fatos sociais como coisas, objetividade pura. A partir dessa visão, situa os

primeiros estudos de comunicação de massa, desenvolvidos pela escola de Chicago,

como análises do desenvolvimento do jornalismo separadas do seu contexto histórico e

social.

Ao buscar a função social do jornalismo, Genro Filho contextualiza sua origem

na ascensão burguesa e advento do capitalismo. À medida que a sociedade tornou-se

mais complexa houve maior necessidade de informação e como não era mais possível

que os indivíduos presenciassem todos os fatos interessantes, criou-se a indústria das

notícias e, consequentemente a notícia tornou-se um produto, fruto desse processo

industrial.

Ao apresentar este panorama, o autor critica a visão simplista e reducionista do

jornalismo e sua relação com a sociedade, apresentando duas visões de jornalismo:

como instrumento de dominação ideológica imposto pela burguesia e como reordenador

da ordem social estabelecida. Deste modo, “ficam obscurecidas as contradições [da

função jornalística]: sua inclusão na luta de classes e os limites e possibilidades que daí

decorrem” (p. 34).

Capítulo II

Depois das críticas apontadas pelo autor aos teóricos que se ocuparam do

jornalismo, no capítulo “Do pragmatismo jornalístico ao funcionalismo espontâneo”

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Genro Filho faz suas ressalvas aos jornalistas “práticos” que apresentam suas

experiências profissionais em livros ou manuais. Utilizando exemplos de autores norte-

americanos e brasileiros, Genro Filho classifica essas teorizações como funcionalistas

devido à defasagem do acúmulo teórico e ao caráter insolente e prosaico da atividade

jornalística.

Concentra sua argumentação na desconstrução do mito da objetividade do

profissional das notícias perante o fato. O autor argumenta que a ação de reportar exige

uma interpretação do objetivo, subjetivando-o, para que depois ele seja novamente

objetivado nos noticiários e que, além disso, toda a ação pessoal do repórter já carrega

valores subjetivos que impedem essa imparcialidade. Por fim, Genro Filho ainda

argumenta que o fato jornalístico, antes de tudo, é um fato social, melhor dizendo, um

fenômeno social que envolve diversos fatos e que os julgamentos éticos, ideológicos e

as interpretações são uma pré-condição da sua existência.

Adelmo Genro Filho acredita: “Embora o jornalismo expresse e reproduza a

visão burguesa do mundo, ele possui características próprias enquanto forma de

conhecimento social e ultrapassa, por sua potencialidade histórica concretamente

colocada, a mera funcionalidade ao sistema capitalista.” (p. 42)

Capítulo III

Em “O jornalismo como forma de conhecimento: os limites da visão

funcionalista”, Genro Filho concorda com a visão de Roberto Park, no ensaio “A notícia

como forma de conhecimento” (1940), mas somente na afirmação de que o jornalismo

é, de fato, uma forma de conhecimento. Para o autor a concepção de Park é limitada e

conservadora, já que o jornalismo tem um papel desalienante e humanizador.

Genro Filho justifica que a concepção de grau de conhecimento utilizada por

Park para definir o papel do jornalismo como “conhecimento de trato” estaria reduzindo

o conhecimento produzido pelas notícias, porque este grau estaria ligado a reproduzir e

reforçar a dinâmica social vigente. Para o autor, o jornalismo não seria um grau, mas

sim um gênero de conhecimento e “o aspecto central desse gênero de conhecimento é a

apropriação do real pela via da singularidade” (p. 52). Ainda para Park, o

conhecimento do jornalismo teria a mesma função que a percepção, Genro Filho

discorda ao afirmar que na percepção a imediaticidade do real é o ponto de partida, já

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para o jornalismo a imediaticidade seria o ponto de chegada pela qual os meios

reconstroem a realidade.

Para o autor, o jornalismo não constrói um conhecimento igual ao conhecimento

científico. O conhecimento jornalístico aborda o fato pela singularidade e o

conhecimento científico pela universalidade. Esta singularidade do fato jornalístico

também o diferencia da arte, pois a relação entre o conhecimento e a particularidade no

jornalismo se dá através da efemeridade do singular já que para a arte o particular é

cristalizado. “A complexidade do fato jornalístico decorre da contradição inerente à

produção do próprio mundo social” (p. 61) através da relação dicotômica objetiva-

subjetiva.

Capítulo IV

Para iniciar o capítulo “Do funcionalismo à teoria geral dos sistemas”, Adelmo

Genro Filho refuta a Teoria dos Sistemas que busca definir leis gerais e princípios que

regem os sistemas. Esta teoria buscou substituir a dialética, porém o autor aponta o

sistemismo como redutor do papel do sujeito relegando-o a um mero componente

dentro de um sistema, além de estudar os conflitos sempre dentre possíveis soluções,

nunca propondo uma ruptura da ordem vigente. Genro Filho argumenta, sob a ótica

marxista, que existe uma distancia entre a natureza dos homens (agentes

autoconstrutores) e a natureza em si.

Adelmo Genro Filho faz esta argumentação para incluir a Teoria da Informação

e a Teoria Cibernética dentro dos estudos de jornalismo, em que seria necessária a

aceitação das teses dessa corrente sociológica da Teoria dos Sistemas. Para o autor, essa

abordagem serve à dominação capitalista ao apresentar a relação de dominação exercida

pela burguesia como parte de um sistema econômico e social em que a classe dominada

é apenas um elemento desse sistema. Genro Filho, no entanto, acredita no movimento

dialético, em que existem contradições na sociedade e essas contradições possibilitam

diferentes possibilidades de ação. Portanto, a sociedade não caberia nos modelos

cibernéticos. O autor argumenta ainda que os projetos humanos são condicionados pela

realidade social e não determinados, como postula a Teoria Cibernética.

Para Genro Filho, a debilidade da relação entre a Teoria da Informação e o

jornalismo estaria na dicotomia quantidade X qualidade. Enquanto para a Teoria da

Informação, quanto maior for o grau de imprevisibilidade maior será o destaque dado

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pelos jornais, ou seja, a relação de quantidade seria determinante. Porém para o

jornalismo a relevância social do fato o torna mais importante que a sua singularidade,

ou seja, a relação do jornalismo seria mais forte com a qualidade. Por isso, “o singular é

a matéria-prima do jornalismo, a forma pela qual se cristalizam as informações que ele

produz, o critério de notícia vai depender (contraditoriamente) da universalidade que ele

expressar.” (p. 80) Genro Filho mostra, ainda, a relação do jornalismo com os

acontecimentos previsíveis (mas não determinados em sua forma e conteúdo), pois estes

acontecimentos estariam dentro de um contexto de significação histórica.

Ao apresentar suas críticas ao trabalho de Camilo Taufic (1974), o autor faz suas

considerações sobre o papel político do jornalismo. A verdade é apresentada como

problema que não pode ser abandonado, mas a visão de jornalismo como um

instrumento ideológico inserido na sociedade deve refutar a ideia de “jornalismo

objetivo, imparcial ou neutro” (p. 88), afinal, Como instrumento ideológico, o

jornalismo é apresentado como emancipador e não como direcionador político de ação

imediata da concepção leninista. Os meios de comunicação são entendidos por Genro

Filho “como formas centralizadas de emissão de informações e produção cultural” (p.

89) e o papel emancipatório do jornalismo seria exercido através da dominação desse

media pelas organizações revolucionárias. Em síntese, “as possibilidades de

manipulação proporcionadas pelos maios de comunicação de massa, são tão

significativas quanto as potencialidades de desalienação e de autoconstrução consciente

se tais meios forem pensados numa perspectiva revolucionária e efetivamente

socialista.” (p. 90)

Capítulo V

No extenso capítulo “A tradição de Frankfurt e a extinção do jornalismo”

Adelmo Genro Filho aborda os principais conceitos da Escola de Frankfurt e os

relaciona com o jornalismo, inclusive utilizando autores fora dessa corrente de

pensamento para analisar, criticar e complementar o pensamento frankfurtiano.

Ao iniciar o capítulo, Genro Filho apresenta o conceito principal da Escola de

Frankfurt: a Indústria Cultural. O conceito consiste na total mercantilização da cultura,

desde a sua produção até a comercialização. Toda produção e reprodução cultural é

tecnicamente produzida para ser transmitida através dos meios de comunicação de

massa. Adorno e Horkheimer apontam para o empobrecimento da “arte superior” e a

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esterilização da “arte inferior”. Toda essa lógica de produção e consumo atendendo à

lógica de dominação capitalista e manutenção do status quo.

Nesta corrente de pensamento os meios de comunicação de massa estão a

serviço dos interesses da burguesia. Dessa maneira, o jornalismo é considerado como

um instrumento de manipulação das massas. Para Adorno e Horkheimer a possibilidade

desalienante dos meios de comunicação de massa é impedida, pois, nas palavras de

Genro Filho, os meios comporiam uma orquestrada afinada.

Em seguida, Genro Filho aponta os problemas desse conceito de indústria

cultural para entender o jornalismo. O autor aponta que as potencialidades das

tecnologias de comunicação de massa são pouco exploradas pelos teóricos, a

questionabilidade da onipotência dos meios de comunicação e a erudição na exploração

dos conceitos de cultura como alguns dos buracos deixados pelos frankfurtiano. Porém,

o argumento central de Adelmo Genro Filho para descredenciar o conceito indústria

cultural é a impossibilidade de um único conceito dar conta da manifestação cultural

como um todo na sociedade capitalista. Para o autor, a cultura não pode ser

completamente dominada pelo capitalismo, pois deixaria de ser práxis e ao deixar de ser

uma práxis, deixaria de ser cultura.

Genro Filho apresenta em seguida o pensamento de Jürgen Habermas (em sua

obra Mudança Estrutural da Esfera Pública, 1984) autor considerado da segunda

geração da Escola de Frankfurt e que dentre seus companheiros foi quem mais se

escreveu especificamente sobre jornalismo. Habermas observa que a constituição do

jornalismo tal como conhecemos passou por três fases: a primeira fase mais artesanal

em que os relatos eram sobre as comercializações e os interesses do editor centravam-se

no aumento do lucro; a segunda fase com textos bem literários e forte engajamento

político; já na terceira (fase atual) o modo de produção industrial da notícia marcado

pelo retorno aos interesses econômicos. Para o teórico alemão, a moderna fase do

jornalismo é considerada “publicitário-comercial ideológico-manipulatório” (p. 109) e o

caminho para o fazer jornalístico seria o resgate da fase de engajamento político. Genro

Filho refuta a hipótese habermasiana ao justificar que a notícia no seu formato atual

seria fruto da demanda social em consumir informação no formato jornalístico.

Na sequência, o autor considera que o jornalismo estaria além dos interesses da

manutenção da ordem social burguesa e, portanto, seu modelo de informação

sobreviveria ao colapso do capitalismo. A visão populista de Armand Marttelart, ao

estudar os casos latino-americanos, em defesa da identidade nacional ao enquadrar o

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jornalismo como instrumento a favor do imperialismo também é refutada. O teórico

belga afirma que o caminho contra a manipulação estaria na construção de meios de

comunicação alternativos instrumentalizados pelo povo, já para Genro Filho a solução

estaria na dominação do proletariado aos meios de comunicação de massa e suas

eficientes técnicas de difusão de informação.

Para Genro Filho é inaceitável o reducionismo aplicado à notícia como

mercadoria e da sua linguagem como linguagem usual. Para ele, o jornalismo tem uma

linguagem própria de rememoração do presente através da “simulação”. “Simulação”

não como falácia, mas como relato de imediaticidade e sua relação fenomênica e

singular com a realidade. O autor aponta que a linguagem jornalística estaria em uma

posição entre a linguagem comum e a linguagem científica. A partir daí, podemos

encarar o jornalismo como uma forma de conhecimento, advinda de uma profissão que

reúne um saber e um fazer específico.

“O desenvolvimento capitalista impõe o surgimento de uma forma de

conhecimento social cristalizado no singular, recolocando uma qualidade inteiramente

nova a questão da relação dos indivíduos com os fenômenos que se propõem de maneira

imediata na experiência cotidiana” (p. 142) chamada jornalismo.

Capítulo VI

Adelmo Genro Filho abre o capítulo “Jornalismo como ideologia: o

reducionismo como método” analisando o lead. Para o autor, o lead, como característica

do jornalismo moderno, não se dá simplesmente pela facilidade de leitura, mas porque

sua estrutura “situa o fenômeno como uma totalidade empírica que estivesse se

manifestando diretamente aos sentidos” (p. 146) daquele que consome a notícia. O lead

permite a reprodução do real como singular-significativo através do percurso do

abstrato para o concreto. Dessa forma, a notícia reproduz o fenômeno em sua

singularidade em relação com o particular e de forma abrangente com o universal. “É na

face aguda do singular e nas feições pálidas do particular que o universal se mostra

como alusões e imagens que se dissolvem antes de se formarem.” (p. 146)

Retomando os já apresentados três períodos históricos do jornalismo através de

Vladimir Hudec (1980), Genro Filho identifica três dimensões do jornalismo. Na

primeira, a universalidade da informação jornalística destinada não a um público, mas a

toda sociedade. Na segunda a dimensão ideológica exercida de forma explicita ou

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implícita no jornalismo ao atender os interesses da classe dominante. Por fim, a terceira

dimensão supera as demais ao transformar a notícia em mercadoria valorizadora do

espaço publicitário e de seu papel na sociedade. É interessante a visão do autor ao

reconhecer as três fases do jornalismo nas páginas dos jornais contemporâneos através

da separação entre notícia (3ª fase), opinião (2ª fase) e publicidade (1ª fase). Em síntese,

é “a especificidade do jornalismo como forma de conhecimento e sua universalidade

como fenômeno que ultrapassa as fronteiras da dominação burguesa” (p. 151)

Ao final do capítulo Genro Filho apresenta três níveis em que a realidade é

apresentada é apreendida através de sua singularidade e particularidade. No primeiro

nível apresenta as possibilidades objetivas do fato em relação ao futuro. No segundo, a

tendência à particularização dos fatos e no terceiro nível a contradição que existe dentro

dele. Essas duas últimas fases “os fatos terão de ser tratados, basicamente, enquanto

objetividade, ouvindo e respeitando aquilo que eles têm a dizer”. (p. 159)

Capítulo VII

O pensamento epistemológico de Adelmo Genro Filho ao propor uma teoria do

jornalismo é explicado em “O singular como categoria central da teoria do jornalismo”.

Para a teoria Genro Filho utiliza os conceitos de singularidade, particularidade e

universalidade da filosofia. As categorias criadas por Hegel foram utilizadas por Georg

Lukács (1968) para propor uma estética marxista em que a arte e a ciência refletiriam a

mesma realidade. Refutando esta tentativa e utilizando esses três conceitos, Genro Filho

propõe uma teoria do jornalismo como forma de conhecimento.

O singular se apreende através de experiências vividas de modos mais ou menos

diretos em uma relação de imediaticidade com o particular e o universal. O particular é

entendido como mais amplo que o singular e menor que o universal e está entre essas

duas categorias e se apresenta como uma realidade dinâmica e efetiva. O universal

contempla todos os fenômenos singulares e particulares que o constituem. Essa três

realidades se relacionam dialeticamente.

Portanto, como já foi aqui dito anteriormente “o singular é a matéria-prima do

jornalismo, a forma pela qual se cristalizam as informações, ou pelo menos, para onde

tende essa cristalização e convergem as determinações particulares e universais” (p.

172). Enquanto o conhecimento científico cristaliza o universal em relação com o

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singular e o particular, o conhecimento jornalístico cristaliza o singular em relação com

o particular e o universal.

Capítulo VIII

Em “Capitalismo e jornalismo: convergências e divergências”, é evidenciado o

papel ambivalente do jornalismo. O conceito de cidadania burguesa, na visão marxista,

apresenta os aspectos formais de uma cidadania igualitária que necessita ser

concretizada e aspectos concretos de exploração e opressão que devem ser extintos.

Nessa perspectiva, o jornalismo cumpriria um papel paradoxal: tanto informa, esclarece

e atende as necessidades e diretos do cidadão, quanto estabelece uma ordem estrutural

de manipulação da classe dominante. “É essa contradição que forma a base histórica

para que o jornalismo seja um fenômeno ambivalente, já que esse conflito atravessa a

lógica jornalística.” (p. 180)

Em seguida, Genro Filho reafirma que sem a produção industrial de notícias não

pode existir jornalismo, pois o modo de informar jornalístico, além de ter atendido às

necessidades da expansão burguesa, atende as necessidades sociais dos sujeitos por

informação. Partindo dessa perspectiva, Genro Filho apresenta o pensamento de Walter

Benjamin e sua reflexão sobre a reprodutibilidade técnica em massa que possibilitou o

consumo de diversos bens culturais, entre eles o jornalismo. Essa potencialidade de

reprodução em massa da cultura vai além da manipulação burguesa e retorna ao

entendimento do jornalismo como uma forma de conhecimento. Sendo assim, é

reafirmada a importância e sobrevivência do jornalismo para além da sociedade

capitalista. “Enquanto se aprofundam as contradições do capitalismo, o jornalismo tende

a refletir espontaneamente aspectos críticos da própria objetividade que reproduz. A

solução é o controle mais estrito e ideologicamente mais cuidadoso dos meios de

comunicação e das informações elaboradas” (p. 188)

Capítulo IX

Pode-se dizer que em “O segredo da pirâmide ou a essência do jornalismo”

Adelmo Genro Filho “desvenda” o segredo da pirâmide, mas antes disso, o autor faz

suas considerações à objetividade jornalística. Genro Filho concorda com os autores que

afirmam a impossibilidade de se obter uma objetividade plena, mas observa que o tema

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não é aprofundado. Para o autor, o problema da objetividade se dá na subjetivação

humana diante da objetividade. A indeterminação da realidade subjetiva, a infinitude do

processo de conhecimento, a subjetividade humana que permeia todo conhecimento

científico, a relação sujeito-objeto (em que o sujeito transforma o objeto, mas o objeto

também transforma o sujeito) e o fato jornalístico ser recortado arbitrariamente de um

todo que constitui a realidade são apresentadas como teses importantes para a discussão

do jornalismo.

Partindo dessas considerações, Genro Filho chega às técnicas de redação mais

tradicionais e que coexistem nas páginas dos jornais desde o século XIX: o lead e a

pirâmide invertida. “Somente uma visão realmente teórica do jornalismo pode, ao

mesmo tempo que oferecer critérios para a operação redacional, não constranger as

possibilidades criativas mas, ao contrário, potencializá-las e orientá-las no sentido da

eficácia jornalística da comunicação.” (p. 200)

Tomando os conceitos já explorados anteriormente de singular, particular e

universal, o autor propõe que “a pirâmide invertida deve ser revertida, quer dizer;

recolocada com os pés na terra. Nesse sentido, a notícia caminha não do mais

importante para o menos importante (ou vice-versa), mas do singular para o particular,

do cume para a base.” (p. 201) Este seria, portanto, o segredo da pirâmide. E é na

relação de equilíbrio entre o singular e o particular que, na visão de Genro Filho, se

contempla um nível de eficácia jornalística. O “triângulo equilátero [formado por três

lados iguais, com ângulos iguais] como padrão estrutural da notícia diária” seria a

ilustração ideal de um jornalismo como forma de conhecimento, em que o singular e o

particular são apresentados de forma equilibrada e dão visibilidade ao universal.

Enquanto a estrutura da pirâmide deve ser revertida, o lead deve ser encarado

como o epicentro do singular, ou “princípio organizador da singularidade” (p. 205), mas

não obrigatoriamente o primeiro parágrafo da notícia. Genro Filho qualifica o lead

como uma representação sintética das informações mais importantes sobre um fato.

Exatamente por isso, o lead torna a notícia mais comunicativa e interessante.

Ao buscar uma definição sobre o que é reportagem, Genro Filho utiliza os

mesmos valores do singular, particular e universal e a estrutura da pirâmide. Para o

autor, tal como na notícia a reportagem parte do singular, mas é na relação com o

particular que nascem as diferenças. Na reportagem, o particular é aprofundado e ganha

sua autonomia do singular. “A reportagem não nega a preponderância da particularidade

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no jornalismo em geral, mas implica um gênero no qual se eleva do singular uma

particularidade relativamente autônoma que coexiste com ele.” (p. 209)

Capítulo X

Em “Jornalismo e Comunismo: considerações finais” Genro Filho apresenta a

relação do singular e particular com o universal no jornalismo. Dessa forma, o autor

justifica que o jornalismo não é simplesmente uma fragmentação da realidade, mas que

existe relação com o todo através do universal que é projetado pelos jornais no

desvendamento do singular contextualizado na sua particularidade. Para Adelmo, a

informação jornalística permite uma experiência “pré-formada” pelos mediadores, mas

que convida o público a completar essa experiência como se estivesse sendo vivida na

imediaticidade.

Essa suposta fragmentação da realidade executada pelo jornalismo atenderia aos

interesses hegemônicos, visto que a realidade é apresentada como tal através de um

processo de reificação. A reificação apresenta o mundo como algo natural e já

estaticamente estabelecido. Adelmo vem rejeitar esta hipótese ao dizer que existe um

dinamismo no relato jornalístico, em que a realidade e os atores sociais são apresentados

em constante movimento que gera diversas possibilidades de combinações entre as

informações dos meios de comunicação. Ainda dentro das questões sobre fragmentação,

Adelmo observa que a própria realidade se apresenta fragmentada. Só através do

conhecimento é que a realidade vai se totalizando na percepção do indivíduo.

O jornalismo é apresentado por Adelmo como práxis, “concebendo-o enquanto

estrutura de comunicação historicamente condicionada e forma social de conhecimento

articulada à autoprodução histórica do homem.” (p. 227). O jornalismo enquanto

apresenta a realidade dentro de uma ordem atende à ideologia dominante do sistema

capitalista e que, ao mesmo tempo, pode ter caráter desalienante e atender a ideologia

revolucionária.

Para concluir o livro, Genro Filho reconstrói a frase “A imprensa em geral é a

construção da liberdade humana” de Karl Marx para “A consumação da liberdade

humana exige o desenvolvimento da imprensa em geral” (p. 233). O autor situa o

jornalismo na função de emancipador do ser humano ao dar significado à realidade

através do singular e “a realização do comunismo, portanto, não pode ser pensada sem o

pleno desenvolvimento dessa forma de apropriação da realidade” (p. 233).