resumo direito penal_2 bimestre

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PRINCÍPIOS PENAIS São os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico. Os princípios, dentro do direito penal, possuem uma importância de enorme destaque. Afinal, constituem verdadeiras garantias do cidadão perante o poder punitivo estatal. A maioria desses princípios encontra previsão no artigo 5° da Constituição Federal, sendo, portanto, cláusulas pétreas do ordenamento jurídico brasileiro. 1 - Princípio da Intervenção mínima . (última ratio- o último recurso a ser utilizado, pois tolhe a liberdade do cidadão) O Direito Penal é o ramo do Direito que apresenta a pior sanção: a pena, a possibilidade de privação da liberdade. Assim sendo, apenas os bens jurídicos mais importantes devem ser tutelados pelo Direito Penal. Por isso se fala que o Direito Penal é a ultima ratio, pois uma conduta só deve ser criminalizada se constituir meio necessário e indispensável para a proteção de determinado bem jurídico. Logo, todos os meios políticos e jurídicos de controle social devem ser esgotados antes que se busque a tutela do bem pela via do Direito Penal, ou seja, o Direito Penal deve atuar somente quando os demais ramos do direito se revelarem incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade. Do princípio da intervenção mínima decorrem outros dois que é a fragmentariedade e a subsidiariedade. 2 - Princípio da Fragmentariedade Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo Direito Penal, como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. O direito penal limita-se a castigar as ações mais graves praticados contra os bens jurídicos mais

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Page 1: Resumo Direito Penal_2 Bimestre

PRINCÍPIOS PENAIS

São os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do

sistema jurídico. Os princípios, dentro do direito penal, possuem uma

importância de enorme destaque. Afinal, constituem verdadeiras garantias do

cidadão perante o poder punitivo estatal. A maioria desses princípios encontra

previsão no artigo 5° da Constituição Federal, sendo, portanto, cláusulas pétreas do

ordenamento jurídico brasileiro.

1 - Princípio da Intervenção mínima. (última ratio- o último recurso a ser utilizado,

pois tolhe a liberdade do cidadão)

O Direito Penal é o ramo do Direito que apresenta a pior sanção: a pena, a

possibilidade de privação da liberdade. Assim sendo, apenas os bens jurídicos

mais importantes devem ser tutelados pelo Direito Penal. Por isso se fala que o

Direito Penal é a ultima ratio, pois uma conduta só deve ser criminalizada se

constituir meio necessário e indispensável para a proteção de determinado bem

jurídico.

Logo, todos os meios políticos e jurídicos de controle social devem ser esgotados

antes que se busque a tutela do bem pela via do Direito Penal, ou seja, o Direito

Penal deve atuar somente quando os demais ramos do direito se revelarem

incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria

sociedade.

Do princípio da intervenção mínima decorrem outros dois que é a fragmentariedade

e a subsidiariedade.

2 - Princípio da Fragmentariedade

Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo Direito Penal,

como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. O direito penal limita-se a

castigar as ações mais graves praticados contra os bens jurídicos mais importantes,

decorrendo daí o seu caráter fragmentário, uma vez que se ocupa somente de uma

parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica.

O princípio da fragmentariedade indica que nem todas as lesões a bens jurídicos

protegidos devem ser tuteladas e punidas pelo direito penal. Apenas alguns bens

jurídicos devem ser penalmente tutelados, apenas uma parte, apenas alguns

FRAGMENTOS, apenas os mais graves.

3- Princípio da Subsidiariedade

A atuação do Dieito Penal é Cabível unicamente quando os outros ramos do direito

e os demais meios estatais de controle social tiveram se relevado impotentes para o

controle da ordem pública.

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4- Princípio da Alteridade ou transcendental

Esse princípio proíbe a incriminação de atitude meramente interna do agente, bem

como do pensamento ou de condutas moralmente censuráreis, incapazes de

invadir o patrimônio jurídico alheio.

Ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si mesmo, ou seja,

impossibilidade de punição a autolesão (ex.suicídio), bem como a atipicidade da

conduta de consumir drogas.

O princípio da alteridade, também em sintonia com o princípio da insignificância,

veda a incriminação de conduta meramente subjetiva ou que não ofenda a

nenhum bem jurídico.

Por exemplo: a tentativa de suicídio ou a autolesão  não serão considerados crimes

se não provocarem outros danos materiais a terceiros  e se não houver intenção de

fraude contra seguradora.

5- Princípio da Responsabilidade subjetiva

No Direito Penal a responsabilidade é subjetiva (provar culpa ou dolo), ou seja,

por força do princípio da responsabilidade subjetiva não basta que o fato seja

materialmente causado pelo agente: para que se possa fazê-lo responsável se

requer, ademais, que o fato tenha sido querido (dolo) ou, pelo menos, que tenha

sido previsível o resultado (culpa). Não há responsabilidade objetiva no DP. Deste

modo, ninguém pode ser responsabilizado sem que reúna todos os requisitos da

culpabilidade.

6- Princípio da Humanidade

Esse princípio visa à vedação de penas degradantes, e adoção de penas

perpétuas. Determina a inconstitucionalidade de qq pena ou consequência do delito

que crie uma deficiência física (morte, amputação, castração ou esterilização,

intervenção neurológica, etc) como também qualquer consequência jurídica

inapagável do delito.

Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que

atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem à constituição físico-

psíquica dos condenados".

Ex.: infraestrutura das penitenciárias – impedir a degradação e a dessocialização

dos condenados são corolários deste princípio.

Resumo: Na Constituição Federal no art. 1° inciso III, está previsto a dignidade da pessoa humana, no art. 5° incisos III e XLIX, está previsto o principio da humanidade. Do inciso III, do art. 5° que diz "ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante", ficam estabelecidas certas garantias

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processuais que de o processo penal não pode expor o homem a situações degradantes e torturante, não pode ele mesmo assumir forma desumana, não pode aplicar penas de tortura ou pena de morte, cabendo assim a todos direitos que devem ser providenciados pelo Estado como: um processo acusatório rápido, limitação a prisão preventiva, separação de presos condenados dos processados e dos provisórios, bem como a integridade física e moral do preso (art. 5° inciso XLIX), pois o processo penal priva o homem da sua liberdade mais não da sua dignidade.

7 – Princípio da personalidade da pena ou da intranscedencia

Ninguém pode ser responsabilizado por fato cometido por terceira pessoa. Assim a

pena não de passar da pessoa condenado.************Ninguém pode ser

responsabilizado por fato cometido por outra pessoa. A pena não pode

passar da pessoa do condenado (CF, art. 5º, XLV).

8- Princípio da Individualidade da pena

Este princípio determina que as sanções impostas aos infratores devem ser

personalizadas e particularizadas de acordo com a natureza e as circunstâncias dos

delitos e à luz das características pessoais do infrator. Assim, as penas devem ser

justas e proporcionais, vedado qualquer tipo de padronização.

Ex: crime é cometido por vários infratores, cada um receberá sua pena diferente,

levando em consideração vários fatores (idade – maior/menor 18 anos,

primário/reincidente, etc)

9- Princípio da Proporcionalidade

A pena deverá guardar proporção com a gravidade da ofensa, ou seja, é aplicar a pena de acordo com a gravidade do delito, podendo trabalhar dentre o mínimo e o máximo, porém dentro da proporção.

******as penas devem ser aplicadas de acordo com a gravidade da infração penal cometida, levando – se em conta as circunstâncias pessoais do condenado. Como, por exemplo, bons antecedentes, primariedade, reincidência e menoridade relativa (maior de 18 e menor de 21 anos).Exemplo: Art. 157 do CP

        Indivíduo A  -  6 anos        Indivíduo B  -  7 anos        Indivíduo C – R – 6 anos e 6 meses

10- Princípio da Adequação Social

Para essa teoria, o Direito Penal somente tipifica condutas que tenham certa

relevância social. O tipo penal pressupõe uma atividade seletiva de comportamento,

escolhendo somente aqueles que sejam contrários e nocivos ao interesse público,

para serem erigidos à categoria de infrações penais; por conseguinte, as condutas

aceitas socialmente e consideradas normais não podem sofrer este tipo de

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valoração negativa, sob pena de a lei incriminadora padecer do vício de

inconstitucionalidade.

Não se pode confundir o princípio em análise com o da insignificância. Na

adequação social, a conduta deixa de ser punida por não mais ser considerada

injusta pela sociedade; na insignificância, a conduta é considerada injusta, mas de

escassa lesividade.

11- Princípio ofensividade ou lesividade

Não há crime quando a conduta não tiver oferecido ao menos um perigo

concreto, real, efetivo e comprovado de lesão ao bem jurídico. Portanto, não

existe infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de

lesão ao bem jurídico. Assim, para que haja um crime não basta que este

esteja somente descrito na lei, tem que lesar concretamente o bem jurídico

tutelado.

Ex: Para ser crime – formalmente (descrita na lei) _ materialemnte (lesar ou por em perigo o bem jurídico tutelado

Exemplo: lei 10826/03 – art. 12 = arma de fogo – perigo ao bem jurídico tutelado (a segurança). Porte ilegal de armaUma arma de fogo dentro de casa gera insegurança.Se esta arma, a qual não tenho porte, estiver dentro de um cofre, trancada com chave, que somente eu tenho acesso. É crime? Não, pq não está colocando em risco o bem jurídico tutelado.E eu se eu estiver, andando com esta arma na rua, e eu não tenho porte, mas ela não tem munição. Segundo o entendimento do STF tb não está colocando em risco a segurança. Para o prof., há perigo pois mesmo sem munição a arma pode ser utilizada para outros tipos de crime.

LESÃO=LESIVIDIDADE↑

CRIME ----------------BEM JURÍDICO TUTELADO (ex. porte ilegal de arma = segurança) ↓ PERIGO DE LESÃO

12- Princípio da insignificância ou da criminalidade da bagatela

Ainda que pratique uma conduta que lese o bem jurídico, este tem que ter significância, ou seja, não há diminuição do patrimônio. Ex, furto de dois ou três alfinetes de uma alfaiataria.A lesão é tão diminuta que o crime não se considera caracterizado. Não basta que o valor seja reduzido, possui outros requisitos de ordem objetiva e subjetiva. O que é insignificante para mim pode não ser para outra pessoa. Tem que levar em consideração o que o valor vale para a vítima.

Ex. cidadão que roubo uma barra de ferro de 1m que estava joganda, abandonada, da estrada de Ferro America Latina - princípio da insignificância.Ex. na área tributária – se eu dever até 20.000,00 para a União esta não vai me executar. Fica a dívida mas não executa – princ.. insignificância. A dívida fica pendente esperando o devedor pagar ou até prescrever. Comparando isto com o D.P. Se no direito administrativo que é inferior ao Direito Penal, 20.000,00 é insignificante, o DP não pode prender por sonegação se for dívida abaixo de 20.000,00.

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Ex. Na área ambiental – este princípio tb é muito usado. Ex. matar capivara. Segundo a lei matar animal silvestre é crime. Se matar uma capivara – é insignificante. Até porque , há muita capivara causando dano a natureza. Só não pode matar jacaré.

Funciona como causa de EXCLUSÃO DA TIPICIDADE.O cabimento do princípio deve ser analisado em cada caso concreto, de acordo com as suas especificidades, e não no plano abstrato. A análise há de ser efetuada levando-se em conta o contexto em que se deu a prática da conduta, especialmente a importância do objeto material, a condição econômica da vítima, as circunstâncias do fato e o resultado produzido, bem como as caraterísticas pessoais do agente.Com a caracterização desse princípio, opera-se tão somente a tipicidade formal, isto é, adequação entre o fato praticado pelo agente e a lei penal incriminadora.. Não há, entretanto, tipicidade material, compreendida como o juízo de subsunção capaz de lesar ou ao menos colocar em perigo o bem jurídico penalmente tutelado.

13- Princípio da retroatividade e irretroatividade –

Art. 1º - legalidade = para ser crime tem que estar descrito na lei +

Anterioridade = a lei tem que ser existente. A lei tem que ser anterior ao fato.

Art. 2° --------+ 2 outros princípios = analisa a lei penal no tempo (ver abx resumo).

Lei é revogada somente por outra lei (e não por desuso) = surge:

- retroatividade benefíca e a irretroatividade.

Art. 2º no caput – abolitio criminis

No § = novatio legis in mellis

Princípio da Retroatividade da Lei Penal (art. 2º. Do CP; Art. 5º., XL da CF:  CF: A Carta Magna, em seu artigo 5º, inciso XL, preceitua que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” 

“novatio legis in mellius ou lex mitior” – lei nova é mais favorável que a anterior. “abolitio criminis” – abolição do crime, a lei nova já não incrimina fato que antes era

considerado ilícito penal, ou seja, aquilo que era considerado crime, para o Estado não importa mais.

Significa que a lei penal nova mais benéfica, sempre retroagirá para abranger situações já consolidadas, transitadas ou não em julgar. Toda a lei penal nova que dê tratamento mais favorável ao sujeito retroagirá. Pode ainda ocorrer que nova lei deixe de considerar crime fato anteriormente tipificado como ilícito penal, é chamado de“abolitio criminis”, havendo descriminalização e neste caso julga – se extinta a punibilidade em razão da abolição de crime, permanecendo os efeitos civis. 

Irretroatividade da Lei Penal:  se a lei penal for mais severa, ela não retroage, ou seja, não se aplica a fatos anteriores à sua vigência, sendo portanto, irretroativa. Lei posterior de qualquer modo agravar a situação do réu não retroage, só sendo aplicada para aqueles que praticarem a conduta a partir da data de sua vigência, ao contrário da  “abolitio criminis”, pode a nova lei, considerar fato anteriormente não incriminar como crime, ou seja, a conduta que nos era considerada como crime, passa a ser. Sendo lei mais severa não alcançar o fato praticado antes da sua vigência, até porque há o princípio da anterioridade.

Ultratividade da Lei Penal:  a lei penal embora revogada continua a ser aplicada, pois a conduta / fato ocorreu na sua vigência. O fenômeno da Ultratividade só ocorre se a lei penal nova for mais severa. (data da conduta), ou seja, que se dá quando uma lei penal continua sendo aplicada a uma conduta, mesmo após ter cessado sua vigência.

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Exemplo: Há uma lei em vigor dizendo que para o crime de lesão corporal a pena é de 6 meses a 1 ano de detenção. O Agente “A” pratica o delito em 15/10/2001. em 05/09/2002 surge uma lei penal mais severa determinando para o referido crime a pena de reclusão (regime de penas) de 06 meses a 1 ano. A lei nova mais severa só será aplicada para aqueles que a transgredirem a ´partir de 05/09/2002. esta lei jamais retroagirá assim quando o agente “A” for julgado, o juiz deve verificar a data da conduta do agente, pois no caso deve ser aplicada a pena da lei já revogada.Obs: às vezes, o fato criminoso verificou – se sob a vigência de uma lei e o julgamento se realiza muitos anos mais tarde quando já está em vigor outra lei mais severa ou mais benigna, será aplicada a mais benigna.O que importa é a data do fato

Princípio da Anterioridade da Lei – ART. 1º. do CP “Nullum crime, nulla poena, sine previa lege”( ninguém pode ser punido sem que não esteja descrito em lei o tipo penal). Significa que uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta. (Lei anterior a conduta)Exemplo: Em 10/01/19997 passa a vigorar uma lei que define como crime o fato de alguém furar a orelha de criança menor de 8 anos de idade. Assim, ninguém pode ser condenado por tal crime se tiver praticado até 09/01/1997. 

A LEI PENAL NO TEMPO

Artigo 2º do CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Em Direito, a regra geral é que se aplique a lei vigente á época do fato, é o princípio denominado “ tempus regit actum” , ou seja, aplica-se ao crime a lei que estiver vigorando quando de seu cometimento.  Daí, em tese, a lei não poderia alcançar fatos ocorridos anteriormente a sua vigência ou aplicar-se a fatos posteriores a sua revogação. 

Entretanto temos dois dispositivos legais a excetuar tal princípio. 

Preceitua o artigo 2º do CPB : “ Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.   Parágrafo único: a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado” . Como solidificador de tal dispositivo, há a imperiosa imposição constitucional prevista no art. 5º XL, CF - “ a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” . Depreende-se, portanto, de tais disposições que é possível a retroatividade da lei penal mais benéfica, como também a ultratividade. Tais institutos são de suma importância , pois, havendo o princípio do “ tempus regit actum” harmonizado com o princípio da reserva legal, nada a ser questionado quando, por exemplo, determinada pessoa pratica um crime sob a égide de determinada ordem e é julgado , condenado e a pena executada  sob o manto de tal lei. 

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Porém, o problema reside quando, por exemplo, praticado um delito sob vigência de determinada lei, esta  for modificada sem que o curso das conseqüências jurídicas  tenha se esgotado.  Surge de tal circunstância um conflito de lei penal no tempo. 

A solução de tais conflitos, advém da Extratividade da Lei Penal mais benéfica, que por sua vez é extraído dos dispositivos citados ( art. 2º CPB e 5º XL CF). 

Extratividade:  é a possibilidade de aplicação de uma lei a situações ocorridas fora de sua vigência, podendo ser retroativa ou ultrativa. 

Retroatividade:  É a aplicação de uma lei penal benéfica a um fato ocorrido antes do período de sua vigência. 

Ultratividade: É a aplicação de uma lei penal benéfica já revogada a um ocorrido durante o seu período de vigência.   As hipóteses de conflitos de leis penais no tempo são: 

I – Novatio legis incriminadora. Trata-se de quando lei nova torna típico fato anteriormente não incriminado.Neste caso, a lei nova não poderá ser aplicada a fatos anteriores em decorrência do princípio da anterioridade do art. 5º XXXIX CF e do art. 1º do CPB. A lei nova que passa a tipificar fato que não o era e, portanto irretroativa. 

II – Abolitio criminis. Trata-se de quando lei nova deixa de incriminar fato que antes era considerado ilícito penal. É , portanto, lei mais benéfica.De acordo com o art. 2º , caput, CPB “ ninguém será punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime....”Diante de tal, aplica-se a retroatividade da lei nova. Tal aplicação é decorrente da idéia de que a lei nova seria mais perfeita que a anterior, demonstrando nesse caso que o Estado não tem mais interesse em punir autor de determinado fato. Este dispositivo alcança, inclusive, os fatos já definitivamente julgados, incluindo a sentença e todos efeitos penais. É , de acordo com artigo 107, III do CPB, causa extintiva da punibilidade. Se autor estiver preso será posto em liberdade e volta a ser primário ( se for o caso). Restam porém, os efeitos civis do ato do autor. 

III – Novatio legis in pejus. É a edição de nova lei prejudicial ao acusado, ou seja, edição de lei mais severa que a anterior. E decorrência da previsão da CF em seu art. 5º XL ( A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu) ----- em tal circunstância ocorre a irretroatividade da lei. Assim seria, por exemplo: caso lei nova mantenha a redação de lei anterior e altere a pena de detenção para reclusão, ou aumente o limite da pena em abstrato, ou acrescente causa de aumento de pena, ou acrescentem circunstância qualificadora, exijam mais requisitos para benefícios, etc. 

IV – Novatio legis in mellius. É o surgimento de lei nova benéfica ao réu, ou seja, edição de lei mais benigna que a anterior. De acordo com o art. 2º , parág. Único: a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se a fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. ---- Em tais circunstâncias ocorre a retroatividade da lei. Assim, p. exemplo, quando lei pena comina pena menos rigorosa ( qualidade ou quantidade), acrescenta circunstância atenuante, elimina agravante, etc. 

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V – Lei intermediária. Supondo-se que haja  três lei sucessivas, deve-se aplicar sempre a que for mais benigna ao acusado, assim, por exemplo, A pratica fato durante vigência de Lei  A  e durante o processo surge Lei  B e no momento da sentença passa a vigorar Lei C, o juiz deverá aplicar a que for mais benigna das três . 

VI – Combinação ou conjugação de leis. Pode ocorrer situação em que não se é possível detectar qual lei é mais favorável ao acusado, uma vez que , uma lei pode favorecer o réu em um aspecto e a outra lei em outro aspecto, por exemplo: Lei A prevê pena mais branda porém sem sursis enquanto lei A prevê pena mais severa , mas com sursis e ainda uma terceira que imponha somente multa, mas bem alta, qual aplicar ? Surgem duas questões de ordem doutrinária:

1) - Para alguns autores admitem a combinação de leis, ou seja, aplicar os dispositivos que sejam mais benéficos ao réu, entendendo que no caso, o julgador estaria somente fazendo uma integração dentro dos ditames legais, como ainda, de que se o julgador está afeto a escolher o todo para o réu ter tratamento penal mais favorável, nada obste que possa selecionar parte de um todo e de outro para adequar-se a CF que manda aplicar o que for mais favorável. TJ aceita combinar as leis.

2) Outros autores não admitem a combinação de leis, entendendo que fazendo tal combinação, o juiz estaria vestindo-se de legislador, criando uma nova lei distinta das demais, ou seja, uma terceira. Para os que não admitem a combinação das leis, aplica-se o que for mais benéfica (lei nova ou lei velha). É o entendimento do supremo.

VII – Leis temporárias ou excepcionais Art. 3º –  lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

CARACTERÍSITCAS- autorrevogáveis;- criada por prazo determináveis;-abolição dos efeitos penais, mas não civis- é ultrativa

Temporária = têm vigência previamente determinada, seu tempo de duração no próprio texto.

Excepcionais = norma feita para vigorar em determinada situação anormal ( ex. calamidade pública, terremoto, guerra, inundações, epidemia ) .

Ocorre o fenômeno da ultratividade da lei penal, ou seja, essas leis mesmo após o termino da sua vigência caso seja constatado que na época ela foi infringido, o agente será processado, caracterizando o fenômeno puro da ultratividade, pois o mesmo após a sua revogação elas são aplicadas, a não ser que tenha ocorrido a prescrição da pretensão punitiva do Estado. (são as que possuem vigência previamente fixada pelo legislador).

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Obs: Sobre essas leis não se aplica o princípio da retroatividade, pois perderiam toda a sua forma intimidativa, caso o agente já soubesse de antemão que após cessada a vigência acabaria não sofrendo nenhuma punição em razão do princípio da retroatividade.

****Norma Penal em Branco

TEMPO DO CRIME

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda

que outro seja o momento do resultado.

► Importância:

a) determina o momento da prática do crime, para se aplicar a lei vigente

durante a sua prática;

b) capacidade do agente para que se avalie a questão da menoridade ou não

do agente (imputabilidade é a aferida ao tempo da conduta, não se podendo

punir um adolescente que, às vésperas de completar 18 anos, atira na vítima,

que vem a falecer depois de atingir a maioridade penal)

c) quanto a prescrição – prazo que o Estado tem para punir o criminoso.

► Teorias:

1) da atividade ou da ação: considera praticado o crime no momento da ação

ou omissão (=conduta) do agente, pouco importando quando se deu o

resultado;

2) do resultado: considera praticado o crime no momento do resultado;

3) mista ou unitária: é considerado tempo do crime tanto o momento da

ação/omissão como a do resultado.

► Teoria adotada pelo CPB: teoria da atividade, onde o tempo da infração

penal é tanto o da ação como o da omissão, independentemente do resultado.

Exceção: crime permanente, continuado e habitual.

►Crimes

►crimes materiais: são aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico (há uma modificação no mundo exterior perceptível pelos sentidos), sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação (ex: o homicídio, neste crime o resultado exterior é a morte de alguém – a conduta é “matar alguém”, e o resultado naturalísito ocorre com o falecimento da vítima, operando-se com ele a consumação). (exige resultado naturalístico)

►Crimes formais (ou consumação antecipada ou de resultado cortado): são aqueles (assim como nos crimes materiais) onde há uma conduta e um resultado

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naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. O crime está consumado com a mera prática da conduta. Ex. art. 317 (corrupção passiva ) e art. 333 (corrupção ativa); art. 159 (extorsão mediante sequestro); art. 147 (ameaça). (o resultado está previsto mas não é exigido)

►Crimes de mera conduta (ou de simples atividade): são aqueles em que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado. Ex. art. 233 – ato obsceno; porte ilegal de armas – não existe o resultado. (o resultado não está previsto e nem é exigido)

►Crime Permanente: são aqueles em que o momento consumativo se alonga no tempo sob a dependência da vontade do agente, se iniciado sob a eficácia de uma lei e prolongado sob outra, aplica-se esta, mesmo que mais severa. Crime habitual: Dá-se a mesma solução.

LUGAR DO CRIME (espaço)

Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou

omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o

resultado.

Objetivo da norma: estabelecer o ponto do território em que realmente foi cometido o

fato punível e daí o sistema penal que tem de regê-lo”.

►TEORIAS

- Atividade – lugar do crime é aquele em que foi praticada a conduta

(ação/omissão)

- Resultado- lugar do crime é aquele em que se produziu ou deveria produzir-se o

resultado, pouco importando o local da prática da conduta.

- Mista (ubiquidade) –lugar do crime é tanto aquele em que foi praticada a

conduta (ação/omissão) quanto aquele em que se produziu ou deveria produzir-se o

resultado.

- Teoria adotada pelo CPB – teoria mista (art. 6°) – qualquer lugar

onde uma parte do crime aconteceu no território brasileiro.

Inclusive se for de passagem. Ex. Droga sai da Bolivia, irá passar

pelo Brasil para ir à Europa.

****A discussão acerca do local do crime tem pertinência somente em relação aos

crimes à distância, isto é, aqueles em que a conduta é praticada em um país e o

resultado vem a ser produzido em outro país.

Exceções – diplomatas, etc.

O Brasil aplica as seguintes teorias:

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Para saber o Tempo do Crime, utilizamos a Teoria da ATividade -tempo

=atividade.

Para saber o LUgar do Crime, utilizamos a Teoria da Ubiquidade – lugar

= ubiquidade.

Art. 5º -Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - E também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

A lei penal brasileira aplica-se no território nacional, de regra, a todos, independentemente da condição de estrangeiro ou nacional. A exceção a que se refere o termo “tratados e regras de direito internacional” são os agentes diplomáticos, que somente podem ser julgados pelo governo que representam.

Porém, as embaixadas e as representações estrangeiras são territórios do país onde estão instaladas.

Portanto, adota-se como regra a aplicação da lei penal brasileira no território nacional. Entretanto, em determinadas hipóteses, permite a aplicação de lei penal estrangeira a fatos cometidos no Brasil (princípio da Territorialidade temperada).

O território nacional, em sentido estreito, inclui o solo; o subsolo; as águas interiores; o mar territorial (que é a extensão de 12 milhas mar-à-dentro, a contar da baixa maré); e o espaço aéreo (sobre a base territorial - terra + mar territorial - faz-se, imaginariamente, uma coluna vertical. Aí, o espaço aéreo correspondente ao território nacional)

Em sentido amplo, considera-se território nacional, apesar de estar fora do território próprio:

1- Embarcação ou aeronave brasileira pública (em qualquer lugar do globo).

2- Embarcação ou aeronave brasileira privada a serviço do Estado brasileiro (em qualquer lugar do globo).

3- Embarcação ou aeronave brasileira mercante ou privada, desde que não estejam em território alheio.

Nas hipóteses mencionadas nos números 1 e 2, a embarcação ou aeronave brasileira está representando o Estado brasileiro. Assim, em qualquer lugar do globo (sobrevoando ou em pouso; navegando ou

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aportada em território estrangeiro ou não) é considerada território nacional.

Com isso, se dentro dela (aeronave ou embarcação) ocorre atividade ou resultado o crime foi cometido no território nacional. Território por extensão, assimilação, é certo. Mas, território nacional.

Já no caso do número 3, a embarcação ou aeronave, em que pese brasileira, não está a serviço do Estado brasileiro. Com isso, em respeito à bandeira que ostenta será considerada território nacional, quando, apesar de fora do território próprio, não tenha ingressado em território estrangeiro.

Portanto, está sobrevoando ou em pouso, navegando ou aportada em território de ninguém (águas de ninguém ou terras de ninguém- sem soberania)

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

Inciso I – extraterritorialidade incondicionada - quando, para a sua

aplicação, não é necessária a implementação de qualquer condição.

Assim, basta à prática do fato delituoso, para, daí, aplica-se a lei penal

brasileira fora do território nacional.

Inciso II – extraterritorialidade condicionada - será, quando para sua

aplicação fora do território nacional, a lei exigir a superação de certas

condições.

A extraterritorialidade incondicionada é prevista para os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República

Aqui, adota-se o princípio da proteção ou da defesa, segundo o qual a lei penal será

aplicada para proteger ou defender o bem jurídico nacional: a VIDA ou a LIBERDADE do

Chefe do Executivo

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,

de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade

de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.

Adota-se, aqui, também o princípio da proteção ou da defesa, já que, para aplicação da lei

penal brasileira, leva-se em conta a nacionalidade do bem jurídico protegido (fé pública ou

patrimônios nacionais).

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço

Page 13: Resumo Direito Penal_2 Bimestre

Mais uma vez adotado, para aplicação da lei penal brasileira no exterior, o princípio da

proteção ou da defesa

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil

Há uma divergência quanto ao princípio adotado. Mas, Aplica-se o princípio da

personalidade ativa ou do domicílio.

A extraterritorialidade condicionada é prevista para os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir.

Aplica-se o princípio da justiça universal segundo o qual será ao criminoso

aplicada a lei do país onde se encontrar, apesar de o crime ter sido cometido noutro

lugar.

b) praticados por brasileiro.

Aplica-se o princípio da personalidade ativa, segundo o a qual será ao nacional

aplicada a lei penal brasileira, quando no exterior cometer crime.

c) “praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes

ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não

sejam julgados”.

Aplica-se o princípio da bandeira ou da representação, segundo o qual ao fato

cometido dentro de embarcação ou aeronave nacionais, será aplicada a lei penal

brasileira.

Nos casos previstos no parágrafo anterior, aplicação da lei brasileira

somente é possível se obedecidos os seguintes requisitos:

a) entrar o agente no território nacional.

É necessário que o agente ingresse no território nacional. Não se exige a

permanência. Basta, portanto, a simples passagem, mesmo que ilegal. A entrada no

território nacional pode também ser compulsória (extradição pedida pelo Brasil) ou

voluntária.

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado.

O fato delituoso deve ser também punível no país onde foi praticado. Se praticado

em país que entende lícita a conduta, a esta, apesar de punível no Brasil, não será

aplicada a lei penal. Exemplo clássico é o crime de bigamia. Caso a conduta seja

cometida em países que admitem inclusive a poligamia masculina (vários

casamentos), não será, em que pese para ela criminosa a conduta, aplicada a lei

penal brasileira

Page 14: Resumo Direito Penal_2 Bimestre

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira

autoriza a extradição.

Necessário que o crime praticado no exterior seja daqueles que a lei brasileira

admite a extradição. O Estatuto do Estrangeiro trata das condições de

admissibilidade da extradição.

A Lei 6.815/80, (Estatuto do Estrangeiro) prevê, no art. 77, os casos em que a

extradição não pode ser concedida.

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí

cumprido a pena;

Caso o agente foi absolvido no estrangeiro, não se admite a aplicação da lei penal

brasileira. O mesmo ocorre quando, condenado, lá cumpriu a pena imposta.

Observe que o fato de lá ter sido julgado não impede a aplicação da lei penal

brasileira, quando não houve o cumprimento da pena. Se condenado, não cumpriu a

pena, admite-se a aplicação da lei penal brasileira. Caso, entretanto, lá absolvido,

não se permite a aplicação da lei penal nacional.

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro

motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Se o agente foi perdoado no exterior ou, por outro motivo qualquer, estiver extinta a

punibilidade, não se aplicará a lei penal brasileira. Aqui, levar-se-á em conta a lei

mais favorável. Portanto, se extinta a punibilidade, por qualquer motivo, não se

aplicará a lei penal brasileira.

DA EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA DO ART. 7º, § 3º. -

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por

estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as

condições previstas no parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Finalmente, em complemento aos requisitos enumerados no parágrafo

anterior, a lei ainda prevê o cumprimento das seguintes condições caso

o crime tenha sido cometido por estrangeiro contra brasileiro no

exterior (trata-se de aplicação do princípio da personalidade

passiva):

Page 15: Resumo Direito Penal_2 Bimestre

a) não foi pedida ou foi negada a extradição

É o caso do crime cometido contra brasileiro, no exterior, por estrangeiro. Pensemos

que este (o estrangeiro) tenha, após o crime, ingressado no território nacional

(compulsória ou voluntariamente). A ele será aplicada a lei penal brasileira, se,

estando aqui, não foi requerida pelo país onde foi praticado o crime a sua extradição

ou, tendo sido, não foi ela deferida. Trata-se de hipótese pouco provável.

b) houve requisição do Ministro da Justiça

É uma das raríssimas hipóteses de ação penal pública que conta com essa condição

de procedibilidade. Além da condição anterior, necessária a requisição do Ministro

da Justiça para que se possa aplicar a lei penal brasileira ao estrangeiro que, no

exterior, praticou crime contra o brasileiro.

A eficácia da lei brasileira fora dos limites do território nacional deve obedecer

a um dos seguintes critérios (princípios):

a) princípio da defesa, real ou de proteção: aplica-se a lei do país a que pertencer

o bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão pelo crime.

b) princípio da personalidade: aplica-se a lei penal do país de nacionalidade do

autor (personalidade ativa) ou da vítima do crime (personalidade passiva);

c) princípio do domicílio: aplica-se a lei penal do país em que o agente for

domiciliado, mesmo que seja estrangeiro nesse país;

d) princípio da representação, da bandeira, subsidiário ou de proteção: adota-

se a lei do país em que estiver registrada a embarcação ou aeronave;

e) princípio cosmopolita ou da justiça penal internacional: aplica-se a lei penal

do país, mesmo que o crime tenha sido cometido fora de seu território, não envolva

seus cidadãos nem afeta seus bens jurídicos.

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no

Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada,

quando idênticas.

Este artigo dispõe sobre a não incidência do bis in idem, ou seja, o agente não

pode cumprir a pena de mesma natureza duas vezes. 

Como visto, o CP adotou, quanto ao lugar do crime, a teoria da ubiquidade, ou seja,

considera-se praticado o crime tanto onde foi realizada a ação ou omissão quanto

onde foi produzido o resultado. A adoção dessa teoria poderia levar a situações em

que uma pessoa é condenada pelo mesmo crime no Brasil e em algum país

estrangeiro. A mesma situação pode acontecer nos casos de extraterritorialidade

Page 16: Resumo Direito Penal_2 Bimestre

incondicionada, nos quais a pessoa que cometer um crime em país estrangeiro pode

ser processada e julgada no Brasil mesmo que tenha sido condenado naquele país.

Por isso, o CP prevê que a pena cumprida em país estrangeiro sempre deve ser

considerada no Brasil. Nesse sentido, existem duas situações:

a) a pena cumprida no estrangeiro tem a mesma natureza da pena a ser

cumprida no Brasil: na sentença, o juiz deve fazer a computação, ou seja, subtrair

a quantidade de uma pena pela de outra. Assim, se a pessoa já cumpriu quatro anos

de reclusão na Argentina e aqui foi condenada pelo mesmo crime à pena de dez

anos, deverá cumprir apenas seis anos. Porém, se a pena cumprida no estrangeiro

for maior que a determinada no Brasil, não restará nada a cumprir, havendo extinção

de punibilidade;

b) a pena cumprida no estrangeiro tem a natureza diversa da pena a ser

cumprida no Brasil: na sentença, o juiz deve atenuar a pena imposta. Assim, se a

pessoa recebeu na Argentina como pena o pagamento de multa, no Brasil a pena de

reclusão, o juiz pode atenuar a pena.

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na

espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos

civis;

II - sujeitá-lo a medida de segurança.