resposta inflamatória e disfunção mitocondrial em...

177
INSTITUTO OSWALDO CRUZ Doutorado em Biologia Celular e Molecular Resposta Inflamatória e Disfunção Mitocondrial em Pacientes com Choque Séptico André Miguel Japiassú Rio de Janeiro Novembro de 2009

Upload: vannhu

Post on 03-Aug-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

INSTITUTO OSWALDO CRUZ

Doutorado em Biologia Celular e Molecular

Resposta Inflamatória e Disfunção Mitocondrial em

Pacientes com Choque Séptico

André Miguel Japiassú

Rio de Janeiro

Novembro de 2009

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Instituto Oswaldo CruzCurso de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular

André Miguel Japiassú

Resposta Inflamatória e Disfunção Mitocondrial em Pacientes

com Choque Séptico

Orientadores: Prof. Dr. Hugo Caire de Castro Faria Neto

Dr. Fernando Augusto Bozza

Rio de Janeiro2009

ii

Tese apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz,

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Doutor em Ciências.

iii

Instituto Oswaldo CruzCurso de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular

André Miguel Japiassú

Resposta Inflamatória e Disfunção Mitocondrial em Pacientes

com Choque Séptico

Orientadores: Prof. Dr. Hugo Caire de Castro Faria Neto

Dr. Fernando Augusto Bozza

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Dumith Chequer Bou-Habib - Presidente

Prof. Dr. Gilberto Friedman

Dr. Aurélio Vicente Graça de Souza

Rio de Janeiro, 8 de Dezembro de 2009

iv

ÍNDICE

PáginaLista de abreviaturas viLista de figuras e tabelas xResumo xvAbstract xvi1 - Introdução 1

1.1 - Definições de sepse 11.2 - Epidemiologia da sepse 41.3 - Escores prognósticos 91.4 - Resposta endócrino–metabólica: Papel do cortisol 101.5 - Resposta inflamatória sistêmica e mediadores solúveis 131.6 - Disfunção mitocondrial na sepse 23

2 - Objetivos 293 - Painel de biomarcadores em pacientes com choque séptico 30

3.1 – Introdução 303.2 – Métodos 313.3 – Resultados 36 3.3.1 – Perfil de citocinas como marcadores de gravidade na sepse: análise multiplex 36 3.3.2 – Cinética de biomarcadores em pacientes com choque séptico 383.4 – Conclusões Parciais 63

4 - Disfunção Mitocondrial em Células Mononucleares do Sangue Periférico 644.1 – Introdução 644.2 – Métodos 654.3 - Resultados 684.4 – Conclusões Parciais 77

5 - Discussão 786 – Conclusões Finais 907 - Referências Bibliográficas 91Anexo 1: Protocolo de coleta de dados clínicos e escore SOFA 107Anexo 2: Termo de consentimento livre e esclarecido 110Anexo 3: Artigo Original “Cytokine profiles as markers of disease severity in sepsis: a multiplex

analysis”, publicado na revista Critical Care em abril de 2007

112

Anexo 4: Artigo de revisão “Revisiting steroid treatment for septic shock: molecular actions and

clinical effects - A review”, publicado em Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, em agosto de

2009

120

Anexo 5 – Artigo original “Sepsis is a major determinant of outcome in HIV/AIDS critically ill

patients”, a ser submetido em novembro de 2009

138

v

Lista de abreviaturas:

ACCP/SCCM – Colégio Americano de Médicos do Tórax/Sociedade Americana de Medicina

Intensiva (American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine)

ACTH – Hormônio adreno-corticotrófico (Adrenocorticotropic Hormone)

ADP – adenosina 5´-difosfato

Akt – família de proteínas de sinalização intracelular

AP1 - proteína de ativação 1 (activating protein-1)

APACHE II – Avaliação de Fisiologia Aguda e Saúde Crônica (Acute Physiology and

Chronic Health Evaluation)

APC - Proteína C Ativada (activated protein C)

ANOVA – analysis of variance

ANT – trocador de nucleotídeos adenínicos

ATP – adenosine 5´-trifosfato

AUROC – Area under the receiver-operating-characteristic curve

BASES - Brazilian Sepsis Epidemiological Study

CARS - Compensatory Antiinflammatory Response Syndrome

CD – grupo de diferenciação

CDC – Centers for Diseases Control and Prevention

cDNA – DNA complementar

CIRCI - critical illness-related corticosteroid insufficiency

CLP - ligadura e punção cecal (cecal ligation and puncture)

CURB 65 – escore de avaliação de gravidade para pneumonia comunitária (Confusão, Uréia,

Respiração, Blood pressure e idade acima de 65 anos)

Cyt c - citocromo c

DNA – ácido desoxirribonucléico

EGTA – ácido tetraacético etileno glicol (ethylene glycol tetraacetic acid)

ELISA - Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay

EPCR - proteína C de células endoteliais (Endothelial Cell Protein C Receptor)

vi

EUA – Estados Unidos da América

FCCP - carbonil cianeto p-(trifluorometoxi)fenilhidrazona

FiO2 – fração inspirada de oxigênio

G-CSF/GM-CSF - fator estimulador de colônias de granulócitos/granulócitos-monócitos

(granulocyte/ granulocyte-macrophage colony-stimulating factor)

GR – receptor de glicocorticóide (glucocorticoid receptor)

GRE – elementos responsivos a glicocorticóides (glucocorticoid responsive elements)

gp130 – glicoproteína 130

HBSS – solução salina balanceada de Hank

HCl – ácido clorídrico

HLA – antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen)

HMGB-1 - high mobility group box 1

ICAM-1 – molécula de adesão intercelular 1 (intercellular adhesion molecule-1)

ICD-9 CM - The International Classification of Diseases/WHO, 9th Revision, Clinical

Modification

IL – interleucina (interleukin)

IL-1ra – antagonista do receptor de IL-1 (Interleukin 1 receptor antagonist)

IL-6R – receptor de IL-6 (Interleukin 6 receptor)

IFN – interferon (interferon)

JAK – cinase da família Janus (Janus kinase)

JNK - c-Jun N-terminal kinase

LPS – lipopolissacarídeos (lipopolysaccharide)

KD – constante de dissociação

kDa – quilodaltons

KCl – cloreto de potássio

MCP-1 – proteína quimiotática para monócito-1 (monocyte chemoattractant protein-1)

MgCl2 – cloreto de magnésio

MIF - fator inibidor da migração de macrófagos (macrophage migration inhibitory factor)

MIP-1 – proteína inflamatória de macrófago-1(macrophage inflammatory protein-1)

vii

mmHg – milímetros de mercúrio

Mn-SOD – superóxido dismutase associada a Manganês

mRNA – RNA mensageiro

NFkB - fator nuclear-kB (nuclear factor-κB)

NK – natural killer (célula)

NO – óxido nítrico (nitric oxide)

O2 - oxigênio

OMS - Organização Mundial da Saúde

ONOO - peroxinitrito

p38 – família de proteínas de sinalização intracelular

PAI-1 - inibidor do ativador do plasminogênio (plasminogen-activator-inhibitor-1)

PaO2 – pressão parcial arterial de oxigênio

PAR-1 - receptor ativado por protease-1 (protease-activated receptor-1)

PBMC – peripheral blood mononuclear cell

PCRt - proteína C reativa titulada

PCT – procalcitonina (procalcitonin)

PROGRESS - Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis

PROWESS - Recombinant Human Protein C Worldwide Evaluation in Severe Sepsis

PTP – poro de transição de permeabilidade

ROC - Receiver Operating Characteristic

RNA - ácido ribonucléico

SAPS II - Simplified Acute Physiologic Score II

SARA – Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (Acute Respiratory Distress Syndrome-

ARDS)

SDOM - Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla

SIDA – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

sIL-6R - receptor solúvel de IL-6 (soluble interleukin 6 receptor)

viii

SIRS – Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica (Systemic Inflammatory Response

Syndrome)

SOFA – Avaliação de Disfunção Orgânica relacionada à Sepse (Sepsis-related Organ Failure

Assessment)

STAT – proteínas sinalizadoras e ativadoras de transcrição (signal transducers and activators

of transcription)

sTNF-R – receptor solúvel de TNF (soluble TNF receptor)

sTREM-1 - TREM-1 solúvel (soluble triggering receptor expressed on myeloid cells)

TF - fator tecidual (Tissue Factor)

TGFβ - transforming growth factor

Th-1/Th-2 – type 1/type 2 helper T cells

TLR – receptor tipo Toll (Toll-like receptor)

TNF - fator de necrose tumoral – (tumor necrosis factor)

TNFR – receptor de TNF (TNF receptor)

TYK2 – tirosina cinase (tyrosine kinase)

UQ - ubiquinona

UTI – Unidade de Tratamento Intensivo

ix

Lista de Figuras e Tabelas:

Tabela e Figuras PáginaTabela 1.1: Mortalidade hospitalar comparativa entre diferentes estudos

epidemiológicos referentes à sepse, sepse grave e choque séptico.

8

Figura 1.1: Esquema da cadeira transportadora de elétrons na membrana interna

mitocondrial.

27

Quadro 3.1 – Critérios de SIRS/sepse. 31Tabela 3.1 – Concentrações de citocinas em pacientes com sepse grave e choque

séptico.

37

Tabela 3.2 – Desempenho das citocinas para predição de mortalidade precoce. 37Tabela 3.3 – Desempenho das citocinas para predição de mortalidade em 28 dias. 37Tabela 3.4 – Características demográficas e clínicas de pacientes com choque

séptico de acordo com o desfecho em 28 dias.

39

Figura 3.1 – Comparação dos níveis de escore SOFA e citocinas entre pacientes

controles, sépticos sobreviventes e sépticos não-sobreviventes em 28 dias.

41

Tabela 3.5 – Níveis plasmáticos de citocinas e cortisol nos dias 1, 3, 5 e 7 após início

de choque séptico.

44

Figura 3.2 – Padrões de cinética de citocinas nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de

choque séptico.

45

Tabela 3.6 – Comparação dos níveis de citocinas, proteína C reativa e cortisol no 1º

dia de choque séptico entre sobreviventes e não-sobreviventes.

46

Tabela 3.7 – Comparação da média dos níveis plasmáticos de citocinas, cortisol e

proteína C reativa nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de choque séptico.

48

Tabela 3.8 - Comparação dos níveis máximos dos níveis plasmáticos de citocinas,

cortisol e proteína C reativa nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de choque séptico.

49

Figura 3.3 – Evolução do escore SOFA e cinética de leucócitos totais, proteína C

reativa, cortisol e citocinas ao longo dos primeiros 7 dias de choque séptico, de

acordo com a mortalidade em 28 dias.

50

Figura 3.4 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) com análise de

sensibilidade e especificidade de citocinas e escores SAPS II e SOFA medidos no 1º

dia de choque séptico para predição de mortalidade até 28 dias.

54

Figura 3.5 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) com análise de

sensibilidade e especificidade da média dos níveis de citocinas e escores SAPS II e

SOFA medidos durante a 1ª semana de choque séptico para predição de mortalidade

até 28 dias.

55

Figura 3.6 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) com análise de

sensibilidade e especificidade dos níveis máximos de citocinas e escores SAPS II e

SOFA medidos durante a 1ª semana de choque séptico para predição de mortalidade

até 28 dias.

56

Tabela 3.9 - Comparação dos níveis de citocinas, proteína C reativa e cortisol no 1º

dia de choque séptico de acordo com mortalidade precoce (menos de 3 dias).

58

x

Figura 3.7 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) com análise de

sensibilidade e especificidade para predição de mortalidade precoce (menos de 3

dias) de pacientes com choque séptico.

59

Figura 3.8 – Níveis plasmáticos de cortisol se correlacionaram com os níveis de MIF

apenas em pacientes com choque séptico que não receberam esteróides venosos.

61

Figura 3.9 – Correlação entre o escore Sequential Organ Failure Assessment

(SOFA) e citocinas e cortisol plasmático em pacientes com choque séptico.

62

Tabela 4.1 – Características demográficas, gravidade de doença e desfecho

hospitalar de pacientes com choque séptico e controles.

69

Figura 4.1 – Consumo de oxigênio mitocondrial associado à síntese de ATP em

células mononucleares de sangue periférico (PBMC) em pacientes com choque

séptico e controles.

71

Figura 4.2 – Consumo de oxigênio mitocondrial em PBMC humanos e mortalidade

hospitalar.

73

Figura 4.3 – Correlação entre consumo de oxigênio mitocondrial em PBMCs

humanos e escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA).

74

Figura 4.4 – Conteúdo funcional de F1Fo-ATP sintase e trocador de nucleotídeo

adenínico (ANT) em PBMCs humanos.

76

Figura 5.1 – Representação esquemática do mecanismo proposto pelo qual o choque

séptico causa disfunção mitocondrial em PBMCs.

87

xi

xii

Para minha família, meu pilar.

Ao meu pai, saudades.

Ao meu filho, amor e esperança.

Agradecimentos

Este trabalho é fruto de esforço conjunto de uma grande equipe, entre profissionais que atuam

em laboratórios de pesquisa e em hospitais. A aproximação entre as equipes profissionais que

estão à beira do leito e os pesquisadores de laboratórios de pesquisa faz com que o

conhecimento de fenômenos presentes na prática clínica sejam entendidos de forma mais

completa. Servi de elo entre estes diversos profissionais e pretendo seguir estreitando a

relação entre bancada e beira do leito.

Agradeço a Fernando Bozza, amigo e orientador, que serve de exemplo para os intensivistas

que querem trabalhar com pacientes e têm curiosidade de entender a sepse amplamente.

Hugo Caire foi grande incentivador e facilitador do meu trabalho, e fiz grande amigo, além da

orientação da tese.

Patrícia Bozza tem espírito empreendedor e incrível capacidade de compreensão e

esclarecimento de processos e pessoas, fazendo com que coisas complicadas se tornem

simples; agradeço a grande ajuda em momentos difíceis do trajeto.

A Vera Koatz, pelo início da vida em pesquisa e seus conselhos, in memorian.

À equipe do laboratório de Imunofarmacologia, que me ajudou em todos os momentos da

tese; especialmente, Rachel Gomes, que participou técnica e intelectualmente em dosagens e

artigos publicados; Edson Assis, que foi companheiro e incentivador, nos momentos mais

tensos e complicados; Rodrigo Amâncio, que é parte do nosso time e grande amigo; Adriana

Broxado, a quem admiro pelas realizações e presteza para ajudar a quem quer que seja; e

Rose, que não deixa faltar absolutamente nada para que tenhamos rendimento máximo.

O pessoal do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ me acolheu muito bem e foi

fundamental para realizasse grande parte do trabalho da tese. Marcus Oliveira foi meu terceiro

orientador e ensinou muita Bioquímica. Joana D´Ávila realizou grande parte dos

experimentos que deram início à linha de pesquisa. Ana Paula Santiago desenvolveu

experimentos, me ensinou técnicas de bancada e se tornou amiga durante este ano. E Antonio

Galina, que atua como um guru e resolve problemas complexos quando nossa capacidade se

esgota. E aos pesquisadores Juliana e Wagner do Laboratório de Bioenergética Aplicada, que

nos auxiliaram de forma tão prestativa na parte técnica dos experimentos.

Bruna Fonseca, do Laboratório de Tecnologia Diagnóstica de Biomanguinhos-FIOCRUZ,

trabalhou conosco na dosagem multiplex de citocinas e graças a ela estes resultados foram

possíveis.

Ingebourg Georg, do Laboratório de Imunologia do IPEC-FIOCRUZ, possibilitou as

dosagens de proteína C reativa e cortisol que foram fundamentais para nossos resultados.

xiii

Ângela Santos, do mesmo laboratório, realizou todas estas dosagens comigo, com muita

paciência para agüentar um médico se “intrometendo” na rotina daquele laboratório.

Meus amigos formados nos hospitais por onde passei e coletei as amostras clínicas me deram

suporte para que realizasse meu doutorado. No hospital do Fundão (UFRJ), tenho

praticamente uma família que sempre me apoiou e agradeço a Ricardo Amorim, Rosa Vianna,

Analucia Mattera, Rosane Goldwasser, Cid Marcus David, toda equipe de enfermagem, e

residentes (Renata Carnevale e Fred Mohilla especialmente) que participaram na coleta de

dados e amostras clínicas. No Hospital Quinta D´Or, Roberto Costa, Odilon Neto, Alex

Coscia, Alessandra Longo, Renata Breves, Haroldo Falcão, Vera Veríssimo, Andre

Albuquerque e Jose Valério, que me deram apoio para trabalhar e continuar na pesquisa. No

IPEC-FIOCRUZ, me sinto bem acolhido na companhia de meus colegas infectologistas, a

quem agradeço através de Maria Isabel Fragoso e Lourdes Benamor como representantes

deste grupo, além de toda a equipe multiprofissional que me faz sentir em casa. Paula Luz

(IPEC) foi uma professora paciente na análise estatística de meandros do trabalho e nos

ajudou muito. Emersom Mesquita é companheiro e se inseriu durante este tempo na nossa

equipe. E na Casa de Saúde São José, Gustavo Nobre e Marcelo Kalichsztein, que deram a

oportunidade para fazer pesquisa profissionalmente na vida privada, e Gustavo Almeida,

Pedro Kurtz, Michel Cukier, Bruno Oliveira, Carlos Roberto Gondim e Ronaldo Vegni que

me ajudam na pesquisa além de suas atividades assistenciais.

Pacientes e familiares sempre foram compreensíveis em relação à pesquisa e agradeço a

todos, pois através deles é possível entender melhor os fenômenos da fisiopatologia da sepse.

Finalmente à minha família, que sempre teve paciência e me deu o apoio necessário para me

manter são neste longo período. Roberta minha companheira e incentivadora. Minha mãe

Gloria, exemplo e conselheira. Henrique, Ricardo, Maria Augusta, João Ricardo, Akeo, Gesy,

Claudia, Maria Luiza, Deco, Flavia, Ana Beatriz e Maria – amo vocês.

xiv

Resumo

A sepse representa um problema clínico de alta relevância, principalmente devido a sua

grande incidência em pacientes hospitalizados e aos seus altos índices de mortalidade. A

determinação precisa e a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesse

processo será de grande valia para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas

visando a prevenção ou resolução da Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla (SDOM) e

redução da morbi-mortalidade. A inflamação sistêmica associada à sepse envolve a ativação

do sistema imune e neuroendócrino. A sepse leva tanto à produção excessiva de mediadores

pró-inflamatórios, incluindo-se citocinas, radicais do oxigênio e mediadores lipídicos, quanto

à produção de hormônios de estresse oriundos do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Por outro

lado, há evidência de que ocorre inibição da atividade mitocondrial e consequentemente

redução da fosforilação oxidativa em diferentes tipos celulares de diversos tecidos.

Neste trabalho, demonstramos a cinética de um painel de citocinas durante a primeira semana

de choque séptico, analisando o desenvolvimento de disfunções orgânicas e a mortalidade.

Níveis significativamente maiores de citocinas permanecem após o primeiro dia de choque

séptico. Estabelecemos quatro padrões de cinética de biomarcadores nos primeiros sete dias

de choque séptico: queda exponencial (ex. IL-6), curva Gaussiana (ex. IL-10), níveis

crescentes (ex. IL-8) e níveis estáveis (ex. MIF). Maiores níveis de IL-6, IL-8, IL-10 e MCP-1

se associam com mortalidade precoce. Níveis elevados de MIF no 1º dia, média elevada de

IL-6 e níveis máximos de cortisol na primeira semana são bons preditores de mortalidade em

28 dias em pacientes com choque séptico. Há boa correlação entre a gravidade de disfunções

orgânicas com os níveis de MIF, IL-8, cortisol e MIP-1β.

Verificamos que células imunes circulantes apresentam disfunção mitocondrial, com redução

do consumo de oxigênio associado à síntese de ATP. O mecanismo desta disfunção se associa

à redução do conteúdo funcional da F1Fo-ATP sintase. A disfunção mitocondrial de células

mononucleares de sangue periférico se correlacionou com o grau de disfunções orgânicas e

com a mortalidade hospitalar de pacientes com choque séptico.

Foram identificados marcadores imunológicos e bioquímicos associados com a evolução de

pacientes com choque séptico para Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla.

xv

Abstract

Sepsis is a highly relevant clinical syndrome, due to its high incidence on hospitalized

population and high rate of mortality. The precise knowledge and understanding of

pathophysiological mechanisms of sepsis will be useful to the development of new diagnosis

and treatment strategies, leading to prevention or resolution of Multiple Organ Dysfunction

Syndrome (MODS) and reduction of morbi-mortality. Systemic inflammation associated with

sepsis involves the activation of the immune and neuroendocrine system. Sepsis triggers

increased production of proinflammatory mediators, including cytokines, oxygen free

radicals, lipid mediators and the production of stress hormones from the hypothalamus-

hypophysis-adrenal axis. Despite of excessive activation of inflammation, there is evidence of

mitochondrial dysfunction, with consequent oxidative phosphorylation inhibition in different

cell types from several tissues.

In our work, we performed the kinetics of a cytokine panel during the first week of septic

shock, analyzing also the evolution of organ dysfunctions and mortality. Highly significant

levels of cytokines persist beyond the first day of septic shock. Four patterns of kinetics were

established during the first seven days of septic shock: exponential decay (ex. IL-6), Gaussian

curve (ex. IL-10), increasing levels (ex. IL-8) and stable levels (ex. MIF). Higher levels of IL-

6, IL-8, IL-10 and MCP-1 were associated with early mortality. High MIF levels on the first

day, high mean levels of IL-6 and maximal levels of cortisol in the first week are good

predictors of 28th day mortality for septic shock patients. There is good correlation of organ

dysfunction severity and MIF, IL-8, cortisol and MIP-1β levels.

Mitochondrial dysfunction is present on circulating immune cells, with lower oxygen

consumption related to ATP synthesis. The mechanism of such dysfunction is associated with

reduction of F1Fo-ATP synthase functional content. Mitochondrial dysfunction of peripheral

blood mononuclear cells was correlated with severity of organ dysfunctions and hospital

mortality of septic shock patients.

There was identification of immunological and biochemical markers related to septic shock

patients evolution to Multiple Organ Dysfunction Syndrome.

xvi

1

1. Introdução

1.1 - Definições de sepse

A sepse representa um problema clínico de alta relevância, principalmente devido a

sua grande incidência em pacientes hospitalizados e aos seus altos índices de mortalidade

(Angus e cols., 2001). Sua incidência anual tem aumentado de maneira preocupante nas

últimas décadas, sendo estimada, nos Estados Unidos da América, em 2000, em 751.000

casos que causaram 215.000 mortes. Estima-se que o Brasil tenha cerca de 600.000 casos de

sepse anualmente (Sales Júnior e cols., 2006). Apesar dos constantes avanços obtidos na

terapêutica de suporte, assim como na antibioticoterapia, sua mortalidade continua sendo

extremamente elevada, variando de 40 a 70 % (Christaki & Opal, 2008). Por este motivo, a

determinação precisa e a compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesse

processo será de grande valia para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas

visando a redução da morbidade e da mortalidade na sepse.

A inflamação sistêmica associada à sepse envolve a ativação do sistema imune e

neuroendócrino. A sepse desencadeia uma produção excessiva de mediadores pró-

inflamatórios, incluindo citocinas, radicais do oxigênio e mediadores lipídicos, quanto a

produção de hormônios de estresse oriundos do eixo hipotálamo/hipófise/supra-renal

(Vanhorebeek & van den Berghe, 2006). Em estudos com animais de experimentação,

utilizando-se anticorpos neutralizantes ou proteínas recombinantes, ficou demonstrado que

algumas citocinas têm um papel central na sepse, podendo-se ressaltar fator de necrose

tumoral (TNF-α), interleucina (IL)1β, IL-6, IL-8, IL-10 e fator de inibição de migração de

macrófagos (MIF). Existe ainda uma importante interação entre moléculas de reconhecimento

de patógenos, conhecidas como receptores toll-like (TLR), e a produção de citocinas na sepse

(Bochud & Calandra, 2003).

Em 1991, realizou-se a Conferência de Consenso da ACCP/SCCM para o

estabelecimento de definições sobre sepse (Bone e cols., 1992). O termo Síndrome de

Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) foi criado, com o objetivo de indicar uma série de

manifestações clínicas secundárias a insultos diversos, sendo que o mais freqüente é a

infecção. Sepse passou a ser definida como SIRS, acompanhada de um processo infeccioso

conhecido. Novas terminologias como sepse severa, choque séptico, hipotensão relacionada à

sepse e Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla (SDOM) passaram a ser usadas, e outros

estudos surgiram afirmando que estas terminologias representariam a evolução de um mesmo

2

processo (Rangel-Frausto e cols., 1995; Brun-Buisson e cols., 1995).

Após o Consenso de 1991, surgiram críticas à excessiva sensibilidade e à baixa

especificidade da nova terminologia. As variáveis utilizadas para definir sepse e SIRS como

temperatura corporal, frequência cardíaca e respiratória e leucometria, não possuem poder

preditivo para avaliar mortalidade em pacientes hospitalizados com febre. Uma reunião para a

discussão de novos critérios para sepse foi realizada no final de 2001 com estudiosos da área.

Foi sugerida a criação de um sistema de critérios mais específico, que incluiria fatores

predisponentes para o desenvolvimento de sepse, extensão da infecção (localizada ou

sistêmica), presença e magnitude de disfunções orgânicas e parâmetros de avaliação da

resposta imune (proteína C reativa titulada - PCRt, procalcitonina, IL-6). Deste modo, não se

limitaria apenas ao diagnóstico da sepse, mas também se atribuiria importância à gravidade da

infecção (Levy e cols., 2003). O novo sistema é chamado PIRO:

P – Predisposição: os pacientes com patologias associadas importantes têm maior chance de

apresentar quadros graves de infecção; além disto, parece existir um espectro de

apresentações de uma mesma infecção de acordo com a predisposição genética do indivíduo

(por exemplo, portadores de determinados polimorfismos para TNF-α, IL-10 ou CD14);

I – tipo de Infecção: demonstração de bactérias ou outros microorganismos em sítios

possíveis de infecção, em meios de culturas ou sorologias;

R – Resposta à infecção: presença de marcadores da resposta inflamatória, fisiológicos (ex.

choque) e laboratoriais (ex. PCRt);

O – Órgãos com disfunção: evidência clínica (hipotensão, oligúria, torpor) ou laboratorial

(elevação da creatinina, piora da troca gasosa, elevação de bilirrubinas ou trombocitopenia)

de disfunção de 1 ou mais órgãos.

Os pacientes com sepse grave e choque séptico estão predispostos a desenvolver

múltiplas disfunções orgânicas. Existe um efeito cumulativo do número de disfunções de

órgãos e sistemas em relação à sobrevida (Padkin e cols., 2003; Flaaten e cols., 2004;

Tanriover e cols., 2005; Vincent e cols., 2006; Engel e cols., 2007; Cheng e cols., 2007;

Rezende e cols., 2008). Pacientes com mais de 3 ou 4 disfunções apresentam mortalidade

acima de 60% (Vincent e cols., 2006). Assim sendo, estes pacientes constituem um subgrupo

de pacientes com sepse, que desafiam médicos e pesquisadores com sua alta letalidade. Por

isso criou-se o termo SDOM há mais de 20 anos, com prevalência de aproximadamente 15%

nos pacientes internados em unidades de tratamento intensivo (UTI) (Tilney e cols., 1973). A

3

aplicação vigorosa de suporte orgânico tem prevenido a letalidade precoce, mas por outro

lado estende a internação no UTI e cria oportunidade para o aparecimento de novos insultos e

progressão lenta da SDOM (Mongardon e cols., 2009). O manuseio clínico é baseado no

suporte de disfunções orgânicas, como hemodiálise para disfunção renal e ventilação

mecânica para dano pulmonar agudo, até que o paciente se recupere espontaneamente.

Sistemas de avaliação de disfunções orgânicas, como o escore Sequential Organ Failure

Assessment (SOFA), carecem de biomarcadores que se correlacionem com a evolução para

SDOM. A estratificação através do sistema PIRO pode ser interessante se conseguir

relacionar todos seus aspectos, mas os critérios de resposta do hospedeiro e de disfunções

orgânicas não foram aprofundados com o melhor conhecimento de fisiopatologia da sepse.

Por exemplo, critérios de resposta à infecção têm sido limitados à presença de taquicardia ou

hipotensão (Lisboa e cols., 2008; Rubulotta e cols., 2009), e não conseguiram identificar

biomarcadores para ajudar na predição do diagnóstico ou gravidade da sepse (Bozza e cols.,

2005).

Existem algumas teorias para o desenvolvimento da SDOM. Há dúvida se a SDOM é

um processo patológico irrecuperável ou adaptativo a um estresse inflamatório grave e

prolongado. Não se sabe se SDOM representa causa de morte ou ocorre interrupção ou não

prescrição de terapêuticas após tempo prolongado de internação na UTI (Sprung e cols.,

2003; Soares e cols., 2007). Os escores de avaliação para disfunções orgânicas, como SOFA

(Vincent e cols., 1996) e MODS (Marshall e cols., 1995), são incapazes de predizer o

prognóstico de cada paciente. Cortes histológicos de tecidos de pacientes que morrem de

SDOM apresentam pouco infiltrado inflamatório ao se comparar com tecidos de pacientes

politraumatizados que faleceram (Hotchkiss & Karl, 2003). Falências respiratória (Síndrome

de Angústia Respiratória Aguda - SARA) e renal (necrose tubular aguda) são disfunções

principalmente funcionais, já que a capacidade de recuperação destes tecidos é quase total

após meses. Pacientes mais graves permanecem maior tempo hospitalizados e recebem maior

número de intervenções invasivas, predispondo ao desenvolvimento de novas infecções. Uma

das teorias para este fenômeno é o desligamento bioenergético causado por lesão ou inibição

da atividade mitocondrial e consequentemente redução da respiração fosforilativa (Singer e

cols., 2004; Belikova e cols., 2007). Este desligamento bioenergético pode ser parte de um

processo patológico, no qual se desenvolve a SDOM, ou uma resposta adaptativa, na qual o

metabolismo corporal é reduzido enquanto a infecção é combatida e o organismo se torna

apto à recuperação e reversão de disfunções orgânicas/teciduais (Rudiger e cols., 2008).

Apesar das diferentes teorias relacionadas ao desenvolvimento da SDOM, a evolução de

4

disfunções orgânicas, biomarcadores, bioenergética e mortalidade não foram claramente

evidenciados no âmbito clínico.

1.2 - Epidemiologia da Sepse

Diferentes autores procuraram avaliar as definições de 1992, especialmente os

aspectos da epidemiologia clínica e microbiológica, suas inter-relações e impacto na

sobrevida dos pacientes.

Podemos dividir os estudos sobre epidemiologia da sepse em dois grandes grupos, os

estudos retrospectivos e os prospectivos. Entre os retrospectivos estão incluídos os de Angus

e Martin. Estes são grandes estudos populacionais baseados em bancos de dados de

internações hospitalares e utilizam códigos de diagnóstico pós-alta (ex. ICD-9CM - The

International Classification of Diseases/WHO, 9th Revision, Clinical Modification). Como

estes códigos são utilizados para pagamentos de internações e procedimentos hospitalares, e

não incluem características fisiológicas necessárias ao diagnostico de sepse, talvez sofram de

imprecisões e vieses difíceis de serem quantificados. Angus e colaboradores analisaram

6.621.559 internações hospitalares no ano de 1995 em 847 hospitais e identificaram 192.980

casos de sepse grave, estimando em 751.000 casos/ano nos EUA (300 casos por 100.000

habitantes ou 2,26 casos por 100 internações hospitalares) sendo que em torno de 383.000

(51,1%) receberam cuidados intensivos. A mortalidade hospitalar foi de em 28,6% e a

mortalidade na terapia intensiva de 34,1% (Angus e cols., 2001). Outro estudo analisou dados

de 750 milhões de internações hospitalares nos EUA entre 1979 e 2000, identificando

10.319.418 casos de sepse, com um importante incremento na incidência de sepse nestes 22

anos, em 1979 a incidência era de 82,7 casos/100.000 habitantes, contra 240,4/100.000 em

2000 (Martin e cols., 2003), mas apresentou um declínio significativo, de 27,8% entre 1979-

1984 para 17,9% entre 1995-2000. Embora sejam retrospectivos, são úteis para dimensionar o

problema da sepse dentro do contexto da saúde pública, especialmente devido aos seus

grandes números.

Quanto aos estudos prospectivos, embora tenham um número menor de pacientes

incluídos, estes estudos provavelmente são mais detalhados na descrição da gravidade dos

casos e precisos na análise de desfecho. O primeiro grande estudo prospectivo observacional

acompanhou 3708 pacientes admitidos em um hospital universitário durante 9 meses (Rangel-

Frausto e cols., 1995). Sessenta e oito porcento preenchiam mais de dois critérios para SIRS e

foram acompanhados por 28 dias. Durante o acompanhamento, 17% desenvolveram sepse,

5

13% sepse grave e 13% choque séptico. A mortalidade apresentou um aumento progressivo

entre SIRS, sepse, sepse grave e choque séptico: 7%, 16%, 20%, e 46%, respectivamente. Os

estágios de SIRS, sepse e choque séptico representam um contínuo hierárquico de intensidade

da resposta inflamatória sistêmica. Recente estudo alemão estratificou o risco de desenvolver

sepse grave a partir de sinais de SIRS: havia aumento cumulativo de 2 vezes de chance de

sepse por critério de SIRS (Engel e cols., 2007). Um estudo francês prospectivo e

multicêntrico identificou incidência, fatores de risco e mortalidade de 1052 pacientes com

sepse grave durante 2 meses (Brun-Buisson e cols., 1995). A incidência para sepse grave foi

de 90/1000 admissões na terapia intensiva, e 69/1000 para choque séptico. A mortalidade em

28 dias foi de 56% para pacientes com sepse grave e de 71% para pacientes com choque

séptico.

Estudos regionais sobre a epidemiologia da sepse grave foram publicados nos últimos

15 anos, com resultados heterogêneos. No EPISEPSIS, estudo realizado em 205 unidades de

terapia intensiva na França, durante um período de duas semanas em 2001, foram avaliadas

3738 admissões, sendo que 546 pacientes (14,6%) apresentavam critérios de sepse grave ou

choque séptico. A mortalidade foi de 35% em 30 dias e 41,9% em dois meses (Brun-Buisson

e cols., 2004). No Reino Unido a incidência de sepse grave foi 51/100.000 habitantes, com

prevalência de 27% de todas as internações hospitalares de 1995 a 2000 (Padkin e cols.,

2003). Os autores britânicos estimaram que 46% das diárias de UTI são utilizadas pelos

pacientes sépticos. Na Alemanha, a incidência nacional de sepse grave foi de 76 a 110 casos

por 100.000 habitantes, com mortalidade de 55% (Engel e cols., 2007). Na Espanha, a região

de Valencia apresentou incidência crescente da sepse grave em 4,7 a 5,4 casos por 100.000

habitantes entre 1995 e 2004 (Ballester e cols., 2008), enquanto é de 25/100.000 habitantes

em outras 14 regiões do mesmo país (Blanco e cols., 2008). A mortalidade hospitalar foi 42 e

54%, respectivamente nestes dois estudos espanhóis. Na Noruega a incidência de sepse grave

foi de 1,49 casos por 1000 habitantes, com 9,5 casos por 1000 internações hospitalares, e

idosos e aqueles com mais de 2 disfunções orgânicas apresentaram pior prognóstico (Flaatten,

2004). No estudo conduzido pelo Anzics Clinical Trials Group, da Oceania foram avaliados

5878 pacientes, dos quais quase 12% apresentaram sepse grave, com mortalidade hospitalar

de 37,5% (Finfer e cols., 2004).

Estudos em países em desenvolvimento mostraram alto grau de disfunções orgânicas e

alta mortalidade de pacientes com sepse grave: na Turquia, a mortalidade hospitalar foi 87%

(Tanriover e cols., 2005); mortalidade hospitalar de 51,2% na República Eslovaca (Záhorec e

cols., 2005); mortalidade de 50% de pacientes em hospital terciário na Tailândia (Khwannimit

6

e cols., 2009); 48,7% de pacientes cirúrgicos com sepse grave morreram em estudo

multicêntrico chinês (Cheng e cols., 2007).

Os dados referentes à epidemiologia da sepse no Brasil são recentes. O Brazilian

Sepsis Epidemiological Study (BASES) avaliou 1383 pacientes internados em cinco unidades

de terapia intensiva (três em São Paulo e duas em Santa Catarina) durante um período de

cinco meses (Silva e cols., 2004). Do total de 1383 pacientes incluídos, 415 pacientes (30,5%)

desenvolveram sepse, 241 (17,4%) sepse grave e 203 (14,7%) choque séptico. A taxa de

mortalidade encontrada foi de 33,9%, 46,9% e 52,2%, para sepse, sepse grave e choque

séptico, respectivamente. O estudo Sepse Brasil foi realizado em 75 UTIs de todas as regiões

brasileiras (Sales Júnior e cols., 2006). A incidência de sepse foi 16,7% (521 de 3128

pacientes admitidos em UTIs). Ocorreu sepse em 19,6% dos pacientes, sepse grave em 29,6%

e choque séptico em 50,8%. A idade média da população foi 61 anos, com leve predomínio

do sexo masculino e com tempo de internação na UTI 15 dias. Houve diferenças regionais:

pacientes da região Sudeste eram mais idosos e tiveram menor mortalidade que outros das

regiões Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Grande parte dos pacientes tinha comorbidades

significativas (60%) e foi admitida por doenças não-cirúrgicas e pneumonia (65%). A

mortalidade global foi 46,6%, mas aumentou gradativamente de 16,7% com sepse, para

34,4% na sepse grave e 65,3% no choque séptico. Finalmente o estudo multicêntrico global

PROGRESS (Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis) também pôde

fornecer dados sobre características e prognóstico da sepse grave do Brasil, já que 982

brasileiros de 12750 pacientes foram incluídos. Os pacientes brasileiros apresentavam

características demográficas e gravidade de doença aguda (expressa por escores prognósticos)

semelhantes a de outros países (Argentina, Canadá, Índia, Alemanha e Austrália), mas

ficaram internados no hospital por mais tempo (média 33 dias contra 28 dias no grupo global)

e apresentaram maior mortalidade hospitalar (67,4% no Brasil, versus média geral de 49%).

Tomadas em conjunto destes 4 estudos, a taxa de mortalidade por sepse grave no Brasil é

57,9% (1008 óbitos do total de 1731 pacientes). Finalmente, Rezende e colaboradores

avaliaram a apresentação de sepse grave em 342 pacientes no Serviço de Emergência de um

hospital terciário de São Paulo. A incidência foi 6,4%, com elevação nos meses de inverno, e

presença de 2 ou mais disfunções orgânicas em 28% dos pacientes sépticos. A mortalidade

hospitalar foi 64%, e esteve associada a fatores como idade acima de 70 anos, sexo

masculino, pneumonia, presença de disfunções orgânicas e acidose metabólica.

As diferenças de mortalidade por sepse grave de estudos ao redor do mundo estão

representadas na Tabela 1.1. A mortalidade de 18,9% foi calculada a partir da relação entre

7

óbitos e casos de sepse grave de todos os estudos desde 1991 até o primeiro semestre de

2009; nesta análise está incluído o estudo de Martin e colaboradores (2003), que representa a

maioria absoluta em relação aos outros estudos. Se excluirmos os estudos anteriores ao

consenso de 1992 e o estudo de Martin (que possui coorte que foi acompanhada desde 1979),

a taxa de mortalidade hospitalar foi 32,5%. A análise de estudos exclusivamente brasileiros

demonstra mortalidade hospitalar de 59,1%.

8

Tabela 1.1: Mortalidade hospitalar comparativa entre diferentes estudos epidemiológicos

referentes à sepse, sepse grave e choque séptico.

Mortalidade Autor Principal Ano N pacientes País

Sepse Sepse Grave Choque

Séptico

Greenman 1991 226 EUA 41%

Ziegler 1991 543 EUA 43%

Rangel-Frausto 1995 467 EUA 16% 20% 46%

Brun-Buisson 1995 1052 França - 56% 71%

Salvo 1995 67 Itália 36% 52% 81,8%

Sands 1997 1342 EUA 34%

Angus 2001 192980 EUA 28,6%

Alberti# 2002 3239 Europa 17-50% 25,5-56,3% 45,7-66,8%

Martin* 2003 4068819 EUA 17,9%

Annane 2003 8251 França - - 61,2%

Padkin 2003 15362 Reino Unido 47,3%

Brun-Buisson 2004 546 França - 41,9% -

Finfer 2004 691 Anzics1 - 37,5% -

Silva 2004 241 Brasil 33,9% 46,9% 52,2%

Flaatten 2004 6665 Noruega 13,5% 27% 29,3%

Sundararajan 2005 33741 Austrália 10,2% 31,1% -

Adrie 2005 713 França - 39% -

Tanriover 2005 63 Turquia - 87,3% -

Záhorec 2005 124 Rep. Eslovaca - 51,2% -

Sales Júnior 2006 521 Brasil 16,7% 34,4% 65,3%

Cheng 2007 318 China - 48,7% -

Engel 2007 415 Alemanha - 55,2% -

Moreno† 2008 2052 Global 35,4% 44,9% 52,5%

Ballester 2008 33767 Espanha - 42,5% -

Blanco 2008 311 Espanha - 54,3% -

Rezende 2008 342 Brasil - 64% -

PROGRESS 2009 12570 Global - 49,6% -

9

PROGRESS †† 2009 969 Brasil - 67,4% -

Kwannimit 2009 390 Tailândia - 21,8% 44,2%

Total 91-2009 4383114 - 18,9% -

Excluindo-se

Martin 2003

91-2009 305275 ‡

32,5% ‡

Estudos

brasileiros

2004-09 2073 ‡‡ 59,1% ‡‡

1Anzics - Australian and New Zealand Intensive Care Society; EUA – Estados Unidos da

América; PROGRESS - Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis; # -

mortalidade foi classificada de acordo com presença ou ausência de infecções adquiridas na

enfermaria e na UTI; * - correspondente ao ultimo período de observação do estudo (1995-

2000); † - parte do estudo multicêntrico SAPS 3; †† - parte do estudo multicêntrico

PROGRESS, com dados do desfecho de pacientes sépticos oriundos do Brasil; ‡ - Taxa

calculada excetuando o estudo de Martin e cols., 2003; ‡‡ - Taxa calculada apenas com

estudos brasileiros.

1.3 - Escores Prognósticos

Simplified Acute Physiology Score (SAPS) II

O escore prognóstico SAPS II foi criado no início da década de 90, com o intuito

de adaptar escores preexistentes (como o Acute Physiology and Chronic Health Evaluation –

APACHE II) à realidade de países europeus (Knaus e cols., 1985; Le Gall e cols., 1993). O

escore SAPS II usa um sistema de pontos baseado nos valores iniciais de 12 medidas

fisiológicas rotineiras (pressão arterial sistólica, frequência cardíaca, temperatura corporal,

oxigenação, débito urinário, ureia sérica, leucometria, sódio, potássio, bicarbonato e

bilirrubinas séricas), idade, admissão clínica ou cirúrgica e doenças preexistentes (neoplasias

metastáticas ou hematológicas e Síndrome de Imunodeficiência Adquirida - SIDA). Cada

parâmetro recebe uma pontuação específica, baseada em estudos de validação com milhares

de pacientes internados em UTI. Os valores anotados são os piores ao longo de 24 horas de

internação no CTI e a pontuação final varia entre 0 e 161 pontos. Uma equação logarítmica é

usada com a pontuação final para estimar a probabilidade de óbito. O escore tem sido usado

universalmente para estratificar e comparar vários grupos de pacientes gravemente doentes,

incluindo pacientes sépticos na entrada de protocolos de pesquisa. Porém este indicador não

10

tem validade para prever desfechos de morbidade (ex. uso de ventilação mecânica) ou

mortalidade que não seja a hospitalar.

Sequential Organ Failure Assessment (SOFA)

O escore SOFA foi criado em 1994 para descrever quantitativa e objetivamente o

grau de disfunção orgânica ao longo da internação de pacientes graves. Secundariamente, é

possível medir os efeitos de novas terapêuticas no curso da sepse e disfunções orgânicas com

a evolução deste escore (Vincent e cols., 1996). Os sistemas avaliados são: respiratório,

cardiovascular, hepático, coagulação, renal e neurológico. É dada uma pontuação de 0

(normal) a 4 (mais alterado) pontos dependendo do grau de alteração de cada órgão/sistema e

o pior valor é anotado diariamente. A pontuação varia entre 0 e 24 pontos. O sistema

cardiovascular é avaliado de acordo com a pressão arterial média e a necessidade e

intensidade de aminas vasopressoras. A função respiratória é avaliada pela relação da pressão

parcial arterial de oxigênio pela fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2). A creatinina e a

diurese são utilizadas na avaliação da função renal. A queda na quantidade de plaquetas

discrimina a disfunção no sistema hematológico. A dosagem de bilirrubinas totais expressa a

função hepática. A disfunção neurológica é avaliada pela queda do escore de coma de

Glasgow.

Embora este indicador tenha sido criado para avaliar a gravidade de pacientes

com sepse, ele foi avaliado em relação ao prognóstico de pacientes com sepse grave.

Pacientes com pontuação acima de 11 pontos em qualquer momento da internação ou média

de pontuações acima de 5 pontos durante a permanência na UTI têm probabilidade de óbito

maior que 80% (Ferreira e cols., 2001).

Embora este escore seja eficaz no acompanhamento da gravidade de pacientes

sépticos, ele carece de acurácia para diagnóstico e prognóstico. Da mesma maneira, alguns

sistemas orgânicos não são contemplados neste escore, como o endócrino e o gastrointestinal.

São necessários mais estudos para o aperfeiçoamento deste escore, com o acréscimo de mais

parâmetros relacionados ao diagnóstico, gravidade e prognóstico de pacientes com sepse.

1.4 - Resposta endócrino–metabólica: Papel do cortisol

O cortisol é um hormônio glicocorticoide, secretado pela zona fasciculada das

glândulas adrenais a partir de estímulo do hormônio pituitário ACTH (adrenal corticotrophic

11

hormone). O cortisol estimula a gliconeogênese, lipólise e tem efeitos antiinflamatórios. Ele

faz parte da resposta fisiológica a estímulos inflamatórios por trauma e infecções, que são

acompanhados por alterações metabólicas em condições de jejum, com utilização de reservas

de energia (glicogêneo e ácidos graxos) principalmente para manutenção da função de órgãos

vitais como o cérebro e o sistema imune (Campbell, 2005). A resposta metabólica ao estresse

provoca alterações endócrinas, com efeito importante sobre o eixo hipotálamo-hipófise-

adrenal. Mudanças agudas no padrão de liberação de hormônios deste eixo incluem aumento

dos níveis plasmáticos de CRH (corticotropin releasing hormone), ACTH e cortisol, que

acompanham a maior liberação de citocinas também. No entanto, ao longo de dias após o

insulto primário ocorre uma redução progressiva e prolongada de atividade deste eixo e de

outros hormônios também, como os do eixo somatotrópico e tiroidiano (van den Berghe,

2000). Existe dúvida se isto significa uma exaustão do sistema endócrino, como uma

disfunção temporária, ou uma resposta adaptativa à necessidade de reduzir o metabolismo

corporal em face da invasão de microorganismos e inflamação sistêmica.

A relação entre o sistema imune e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal foi descrita

ainda no século XIX, quando Brown-Séquard notou maior chance de morte em pacientes

cirúrgicos que não apresentavam uma resposta adrenal normal (Brown-Séquard CE, 1856).

Estímulos adrenérgicos, citocinas e CRH são responsáveis pelo aumento dos níveis de

cortisol logo após cirurgias, traumas e sepse (Rivier & Vale, 1983; Harbuz e cols., 1992). Ao

longo de dias, os níveis de ACTH permanecem baixos, em contraste aos de cortisol ainda

elevados, podendo significar a regulação da produção e secreção de cortisol por outras

moléculas como endotelina, citocinas e receptores TLR2 e TLR4 (Vermes e cols., 1995;

Bornstein e cols., 2004; Emonts e cols., 2007).

O cortisol exerce uma série de efeitos moleculares que estão implicados na

resposta metabólica e inflamatória à sepse (Japiassú e cols., 2009). Os efeitos do cortisol são

mediados pelo receptor de glicocorticoide citossólico (GR), que se dissocia do complexo com

chaperonas e imunofilinas e é transportado ao núcleo, onde se liga a elementos responsivos a

glicocorticoides (GRE), que são regiões específicas em genes promotoras (Rhodes & Yamada

1995). O GR se liga a fatores de transcrição como proteína de ativação 1 (AP1), proteínas

sinalizadoras e ativadoras de transcrição (Stat) 3 e fator nuclear-kB (NF-kB), regulando a

produção de RNA mensageiro (mRNA) de citocinas e kinases (JNK e p38), regulando a

sinalização intracelular e os níveis de citocinas no plasma e nos tecidos (Meduri e cols.,

2005). Outros efeitos da ação do cortisol incluem efeitos anti-apoptóticos (por exemplo, em

timócitos) e inibição da vasodilatação generalizada da sepse (inibição de canais de potássio

12

adenosine 5´-trifosfato [ATP] sensíveis) (Bren e cols., 1999; d´Emmanuele di Villa Bianca e

cols., 2003; Delfino e cols., 2004).

A disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal tem sido implicada no

prognóstico do pacientes com sepse grave e choque séptico, e serviu de base para o

tratamento com corticoides sintéticos nos casos mais graves. A insuficiência corticosteróide

associada a doença grave (critical illness-related corticosteroid insufficiency - CIRCI) é

definida como níveis paradoxalmente reduzidos de cortisol plasmático em doenças agudas

graves ou ausência de aumento de cortisol após estímulo com agonistas de ACTH (Marik e

cols., 2008). Níveis reduzidos de cortisol plasmático foram demonstrados na sepse,

pancreatite aguda grave, queimaduras extensas e insuficiência hepática (Murphy e cols.,

1993; Marik e cols., 2005; Widmer e cols., 2005; Annane e cols., 2006; Ho e cols., 2006). No

entanto, os casos mais graves e letais de sepse foram associados a níveis aumentados de

cortisol sérico (Melby & Spink, 1958; Salluh e cols., 2008b). Annane e cols (2000)

demonstrou que pacientes com níveis altos de cortisol plasmático e resposta deficiente ao

teste da cortrosina (com elevação menor que 9 µg/dl de cortisol após infusão de ACTH

sintético) têm pior prognóstico, comparativamente a pacientes com menores níveis de cortisol

e resposta adequada ao teste. Estes autores indicaram que a resposta à estimulação da

secreção de cortisol pela administração de ACTH sintético era mais relevante que os níveis

basais de cortisol em pacientes com sepse grave (Annane e cols., 2000).

A CIRCI também pode ser interpretada como um processo dinâmico, no qual

pode cursar com uma “exaustão” adrenal, com níveis aumentados precocemente após o início

da sepse e disfunção adrenal progressiva após alguns dias. Guzman & Guzman (2007)

observaram uma pequena coorte de pacientes que apresentaram níveis muito reduzidos de

cortisol plasmático após uma média de 6 dias da primeira dosagem ter sido normal ou alta

(inicialmente cortisol médio 42 µg/dl e repetição com nível médio 10 µg/dl); a terapia com

esteroides venosos foi eficaz na retirada de aminas vasopressoras nestes pacientes com

exaustão adrenal nesta pequena coorte.

Permanece desconhecida a relação entre diagnóstico de disfunção adrenal e o

benefício do tratamento com corticoides sintéticos (Japiassú e cols., 2009). Os estudos mais

recentes que avaliaram tanto a função adrenal quanto o tratamento não foram capazes de

identificar relação lógica entre função e resposta ao tratamento (Annane e cols., 2002; Elsouri

e cols., 2006; Morel e cols., 2006; de Jong e cols., 2007; Sprung e cols., 2008). Salluh e

colaboradores realizaram dois estudos sobre a função adrenal e pneumonia comunitária grave:

o cortisol plasmático foi o mais importante biomarcador preditor de mortalidade nesta

13

população; e o tratamento com esteroides sintéticos não parece ter mostrado benefício (Salluh

e cols 2008a; Salluh e cols., 2008b). Outro ponto aberto no estudo da função adrenal e sepse é

a relação entre as diversas citocinas e o cortisol plasmático. O cortisol age como contra-

regulador das ações do fator inibidor de migração de macrófagos (MIF), que age na

amplificação da resposta inflamatória induzindo a produção e liberação de citocinas como

TNF-α e IL-1 (Calandra e cols., 1995). MIF e cortisol apresentaram correlação positiva no

início do quadro de sepse, sendo maior nos pacientes que morrem (Beishuizen e cols., 2001).

Entretanto, outro estudo demonstrou correlação negativa em pacientes adultos e pediátricos

com sepse grave (Emonts e cols., 2007).

1.5 - Resposta inflamatória sistêmica e mediadores solúveis

Após a interação inicial patógeno-hospedeiro e o reconhecimento dos padrões

moleculares de patógenos, há ativação de genes relacionados à resposta inflamatória em

células da imunidade inata, na tentativa de coordenar os mecanismos de defesa tanto

humorais quanto celulares. As células mononucleares desempenham um papel chave neste

processo, tanto na produção de moléculas pró-inflamatórias quanto no desencadeamento de

mecanismos contra-reguladores. Alguns mediadores solúveis liberados nesta ocasião, efetores

da resposta imune, servem como marcadores gerais de atividade ou de funções específicas da

resposta imune.

Fator de Necrose Tumoral (TNF) e Interleucina-1 beta (IL-1β)

TNF-α e IL-1 são protótipos de citocinas pró-inflamatórias responsáveis por

muitos dos efeitos fisiopatológicos observados no choque endotóxico. Apesar de seus

receptores serem diferentes, TNF-α e IL-1β agem sinergicamente em várias situações. TNF-α

/IL-1β são liberados após 30-90 min do estímulo e ativam tanto uma segunda leva de

mediadores proteicos e lipídicos e radicais livres de oxigênio, bem como, são responsáveis

pelo aumento da expressão de moléculas de adesão, que vão resultar em migração celular

para os tecido (Thijs & Hack 1995). O TNF-α é produzido por várias células do sistema

imune, como linfócitos T, células NK ou mastócitos, mas tem como sua principal célula

produtora, o macrófago, especialmente após estímulos com LPS. É produzido como um

precursor de 26 kD e clivado em um peptídeo de 17 quilodaltons (kDa), sendo bioativo como

um homotrímero de 51 kDa. As respostas ao TNF-α são mediadas por dois receptores

14

(TNFR) trans-membranas distintos: o TNFR-I, de peso molecular de 55 kDa, também

chamado de p55 (CD 120a), e o TNFR-II, de peso molecular de 75 kDa conhecido como p75

(CD 120b).

Muitos dos efeitos biológicos do TNF-α parecem estar ligados a ativação do

receptor TNFR-I. Entre as principais ações do TNF-α estão: aumento da expressão de

moléculas de adesão na célula endotelial e indução da secreção de quimiocinas por

macrófagos e células endoteliais, levando a migração celular para o sítio de infecção. O

aumento da expressão de fator tecidual (TF) e do inibidor do ativador do plasminogênio (PAI-

1), assim como a inibição da trombomodulina, o que leva a um estado de pró-coagulante

(Hoffman & Cooper, 1995). As alterações hemodinâmicas observadas na sepse, como

diminuição da resistência vascular periférica, aumento da permeabilidade capilar e efeito

inotrópico negativo são observadas após administração de TNF-α. Em adição, TNF-α pode

levar à morte celular por necrose ou apoptose dependendo do tipo celular e do estado

metabólico.

Interleucina-6 (IL-6)

A interleucina 6 (IL-6) é uma glicoproteína de 21 a 28 kDa, originalmente

descrita como uma linfocina derivada de células T, que induzia a transformação de células B

ativadas em plasmócitos. Praticamente todas as células do corpo podem produzir IL-6 após

estímulos adequados, mas as principais produtoras são as células do sistema imune, como

linfócitos T, monócitos/macrófagos, endotélio e neutrófilos. Alguns estímulos importantes

para sua síntese e secreção são: endotoxina, TNF-α, IL-1 e o fator de crescimento de colônias

de granulócitos (G-CSF). Drogas que reduzem a atividade de TNF-α (por exemplo,

anticorpos anti-TNF) diminuem também os níveis séricos de IL-6. Glicocorticoides diminuem

a produção e secreção de IL-6 induzida por LPS, talvez em parte pela inibição mútua de IL-

1β e TNF-α. Em voluntários sadios, a administração de LPS na circulação sistêmica, leva a

um pico plasmático de IL-6 em 2 a 3 horas, retornando ao normal em 5 a 6 horas. Em

situações de injuria mais intensa esta cinética tende a ser mais prolongada (Barton 1997).

A IL-6 atua através da ligação com seu receptor transmembrana (IL-6R), ou com

o receptor solúvel (sIL-6R). O complexo receptor IL-6R, que é o responsável pela

intermediação das diferentes atividades biológicas da IL-6, é composto por duas

glicoproteínas distintas ligadas à membrana celular: uma é o receptor de reconhecimento IL-

6R, de 80 kDa; e a outra é a gp130, que funciona como elemento de transdução de sinais, de

15

130 kDa. O receptor solúvel (sIL-6R) liga-se à IL-6 e prolonga sua meia-vida plasmática.

Este complexo (IL-6/sIL-6R) é capaz de ativar células através da ligação direta com a

proteína gp130. A sinalização intracelular via IL-6R ou sIL-6R se dá pela formação de um

dímero de gp130, que ativa a fosforilação de JAKs (Janus kinase) e facilita o ancoramento

dos fatores STAT-1/STAT-3, com sua subsequente fosforilação. Subunidades monoméricas

de STAT formam homo e heterodímeros translocam-se para o núcleo, iniciando a expressão

gênica. (Jones e cols., 2001).

Entre as ações mais importantes da IL-6 está a indução de proteínas de fase aguda

no fígado, sendo capaz de aumentar, por exemplo, a síntese de proteína C reativa de 10 a 100

vezes. Outra ação importante no contexto da sepse é a ativação do gene para ICAM-1

(intercellular adhesion molecule-1) em células endoteliais, induzindo maior migração de

neutrófilos para o foco infeccioso. A IL-6 é capaz de modular a respostas de linfócitos,

levando à ativação de linfócitos T e diferenciação de linfócitos B. Existem algumas

evidências que a IL-6 inibe a apoptose de neutrófilos, aumentando sua sobrevida. Outra

propriedade da IL-6 é a ativação da fosfolipase A2, o que leva à maior disponibilidade de

ácido araquidônico e formação de eicosanoides.

A IL-6 pode induzir febre (em uma intensidade menor que IL-1 e TNF-α), no

entanto a administração de IL-6 é bem tolerada, não provocando uma resposta "sepsis-like"

tal como outras citocinas pró-inflamatórias. IL-6 induz a síntese de antagonista de receptor de

IL-1 (IL-1ra) e receptor solúvel de TNF-α (sTNFr), bem como inibe a síntese de IL-1 e TNF-

α induzida por LPS (Barton, 1997). Há indícios de ativação da coagulação por IL-6 após a

administração de endotoxina, sendo que, animais tratados com anticorpo neutralizantes anti-

IL-6 tiveram este efeito atenuado (van der Poll e cols., 1994), apesar que estes resultados não

foram confirmados em um estudo recente em humanos (Derhaschnig e cols., 2004).

IL-6 é bom preditor de desenvolvimento de SDOM e de mortalidade hospitalar

em pacientes com trauma grave e sepse (Pinsky e cols., 1993; Bernard e cols., 2001; Frink e

cols., 2009). A IL-6 apresenta cinética de aumento até 2-3 dias após o início de quadro de

SIRS/sepse (Oda e cols., 2005). Pacientes não-sobreviventes permanecem com níveis maiores

de IL-6 do que os sobreviventes, e ainda existe correlação desta citocina com o escore SOFA

(Oda e cols., 2005). Elevações persistentes de IL-6 até a alta hospitalar se associaram com

aumento da mortalidade após 1 ano em pacientes internados por pneumonia comunitária

grave (Yende e cols., 2008).

Interleucina 10 (IL-10)

16

A interleucina 10 é o protótipo da citocina antiinflamatória, e desempenha um

papel fundamental na regulação do processo inflamatório tanto local e quanto sistêmico. Ela é

produzida por linfócitos T CD4+ (Th2), linfócitos T CD8+ e células B,

monócitos/macrófagos, neutrófilos e células epiteliais. É produzida como um monômero de

18-20 kDa, que forma um homodímero em solução. Entre os principais estímulos para sua

produção estão LPS e citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α e IL-1β.

A IL-10 se liga ao seu receptor celular, e ativa a fosforilação de JAK1 e tirosina

cinase (TYK) 2 (ambas são Janus family kinases) e a de STAT-3, culminando com inibição

da translocação nuclear de NF-kB. A síntese de IL-10 é inibida por IL-4, IL-1β e IFN-γ (Opal

e cols., 1998). Alguns hormônios exercem um efeito indutor da produção de IL-10, entre

outros, a adrenalina e glicocorticoides.

A IL-10 antagoniza a diferenciação de células T em T helper (Th) 1, em parte por

suprimir a síntese de interferon-γ, IL-12 e IL-18. Sua principal ação na sepse é a supressão da

expressão e síntese de citocinas pró-inflamatórias. IL-1, TNF-α, IL-6, IL-8, IL-12, IL-18, G-

CSF e GM-CSF, MIP-1β (macrophage inhibitor protein-1 beta) e óxido nítrico (NO) são

algumas substâncias que têm sua síntese inibida por IL-10. Animais geneticamente

deficientes para IL-10 exibem uma produção exagerada de TNF-α após estímulo com LPS

(Berg e cols., 1995). Entre os principais efeitos da IL-10 podemos destacar uma potente

indução de desativação de macrófagos e neutrófilos. Além da inibição da síntese de citocinas

pró-inflamatórias, a IL-10 diminui a síntese de radicais livres de oxigênio, NO e

prostaglandinas, bem como, reduz a degranulação e quimiotaxia de neutrófilos e se contrapõe

ao aumento de sobrevida de neutrófilos induzida por TNF. Em relação aos linfócitos, induz

crescimento e diferenciação de linfócitos B em plasmócitos, estimula a síntese de

imunoglobulinas, promovendo a resposta imune humoral.

Muitos dos componentes de uma fase de “imunoparalisia” podem ser atribuídos a

IL-10. Sua administração prévia ao estímulo inflamatório pode reduzir a resposta inflamatória

exagerada, mas se dada posteriormente ao início de uma infecção, pode piorar o prognóstico.

A administração exógena de IL-10 pode ter efeitos variáveis, dependendo do momento do

início do processo inflamatório, da bactéria causadora e do sítio primário de infecção (Opal &

Huber 2000, Oberholzer e cols. 2002).

Os níveis de IL-10 se elevam nos pacientes com SIRS/sepse, acompanhando

outras citocinas como TNF-α, IL-6 e IL-8 (Oberholzer e cols., 2005; Maier e cols., 2007).

17

Níveis elevados de IL-10 podem se manter elevados prolongadamente, chegando a predizer

pior prognóstico na alta de pacientes com pneumonia (Kellum e cols., 2007).

Quimiocinas (MCP-1/CCL2 e IL-8/CXCL8)

Existe um grupo de “citocinas quimiotáticas”, denominadas de quimiocinas, que

regulam o tráfego de vários leucócitos através de interações com seus receptores. As

quimiocinas foram classificadas de acordo com a posição dos resíduos de cisteínas, altamente

conservadas em suas estruturas. Até o momento existem quatro famílias, CXC (um resíduo de

aminoácido não conservado, entre as duas cisteínas na região N-terminal conservada), CC

(duas cisteínas encontram-se em justaposição), C (apenas um único resíduo de cisteína na

região conservada), CX3C (três resíduos não conservados, entre as duas cisteínas) (Baggiolini

e cols. 1997).

As quimiocinas atuam através de seus receptores conhecidos como receptores

com sete regiões transmembranas, estes são acoplados à proteína G e até o momento, foram

identificados 18 receptores para as quimiocinas (Murdoch & Finn 2000). Existe uma relação

promíscua entre esses receptores e as quimiocinas. Uma única quimiocina pode ligar-se a

vários receptores, bem como um único receptor pode promover a sinalização para diferentes

quimiocinas.

Algumas quimiocinas têm papel fisiopatológico na sepse, entre estas nos

deteremos em duas: MCP-1/CCL2 e IL-8/CXCL8.

Monocyte Chemoattractant Protein (MCP) 1/CCL2

A proteína quimiotática para monócitos-1 (MCP-1/CCL2) é uma CC quimiocina,

com 76 aminoácidos, com atividade sobre monócitos, células T, células NK, basófilos e

mastócitos. Foi originalmente identificada como um mediador do recrutamento e ativação

monocitária (Yoshimura e cols. 1989). Em adição à suas propriedades quimiotáticas, relatos

recentes sugeriram que esta quimiocina ativa células da linhagem monocítica, aumentando a

expressão da molécula de adesão CD11b/CD18. O MCP-1/CCL2 tem sido implicada em

doenças caracterizadas por um rico infiltrado monocítico como na aterosclerose, na artrite

reumatoide e na esclerose múltipla (Daly & Rollins 2003, Mahad & Ransohoff 2003,

Sheikine & Hansson 2004).

18

Diferentes autores demonstraram níveis elevados desta quimiocina no plasma de

pacientes sépticos (Bossink e cols., 1995). A administração de E.coli em babuínos resultou

em elevação dos níveis plasmáticos de MCP-1/CCL2 após 2h da administração, atingindo seu

pico entre 4-6 h, os níveis de MCP-1/CCL2 se correlacionaram aos de IL-8 (r=0.826 ) (Jansen

e cols., 1995). A administração exógena da MCP-1/CCL2 protegeu camundongos submetidos

a um modelo de infecção letal por Pseudomonas aeruginosa ou Salmonella typhimurium,

promovendo um controle da infecção e do crescimento bacteriano mais eficientes (Nakano e

cols. 1994).

O mecanismo pelo qual esta quimiocina exerce seus efeitos ainda não é

conhecido, mas a administração da proteína recombinante, em um modelo de endotoxemia,

protegeu estes animais, promovendo um decréscimo nos níveis de IL-12 e TNF,

acompanhado do aumento nos níveis da citocina antiinflamatória IL-10, sugerindo que a

MCP-1/CCL2 interfere no balanço entre citocinas pró e antiinflamatórias (Zisman e cols.,

1997). Já a neutralização da MCP-1/CCL2 resultou num impressionante aumento da

mortalidade em camundongos que receberam injeção de LPS. Entretanto, quando foi

administrada MCP-1/CCL2 recombinante, houve um acentuado aumento na sobrevida desses

animais (Zisman e cols., 1997). Matsukawa e colaboradores (Matsukawa e cols., 2000)

encontraram resultados semelhantes no modelo de peritonite polimicrobiana em

camundongos (CLP), onde a neutralização do MCP-1/CCL2 resultou em aumento de

mortalidade dos animais. Os autores justificam este achado por uma modificação do balanço

de citocinas pró e antiinflamatórias, onde o MCP-1 favorece uma resposta antiinflamatória e

imunomoduladora.

Nós recentemente observamos que animais geneticamente deficientes de MCP-

1/CCL2 são mais suscetíveis a uma dose sub-letal de LPS ou a peritonite polimicrobiana

induzida pela CLP (Gomes e cols., 2006). Esta maior suscetibilidade esteve associada a uma

redução na produção de IL-10 e um aumento na secreção do MIF.

O MCP-1 também parece participar dos efeitos antiinflamatórios da Proteína C

Ativada Recombinante Humana (APC) na sepse (Riewald e cols., 2002; Brueckmann e cols.,

2003; Riewald e cols., 2003). Os efeitos da APC se devem a ativação do receptor de proteína

C de células endoteliais (EPCR) e do receptor ativado por protease-1 (PAR-1). A ativação de

PAR-1 pela APC ocorre de maneira dependente de EPCR que funciona como um co-receptor

para a ativação de PAR-1. De fato, a sinalização pelo PAR-1 leva a indução de genes

protetores pela APC. Entre estes genes induzidos pela proteína C ativada se destaca o gene da

19

MCP-1/CCL2, que é seletivamente ativado por PAR-1 e parece ser um dos candidatos mais

importantes para o efeito da APC na sepse.

Interleucina-8 (IL-8)/CXCL8

A IL-8/CXCL8 foi inicialmente caracterizada como um fator quimiotático para

neutrófilos, a partir de sobrenadante de monócitos humanos estimulados com LPS.

Posteriormente foi purificada e clonada e desde então uma família de quimiocinas

estruturalmente relacionada foi identificada (CXC) (Walz e cols., 1987; Yoshimura e cols.,

1987; Schroder e cols., 1988; Schroder & Christophers, 1989).

Estudos de espectroscopia por ressonância nuclear magnética e cristalografia por

Raios-X sugerem que a IL-8/CXCL8 concentrada ou cristalizada ocorra como homodímero.

No entanto, em concentrações fisiológicas, diferentes autores sugerem que a forma funcional

é monomérica (Burrows e cols., 1994; Paolini e cols., 1994).

IL-8/CXCL8 pode ser produzida por leucócitos como monócitos, células T,

neutrófilos e células NK, bem como por células somáticas, como células endoteliais,

fibroblastos e células epiteliais. A IL-8/CXCL8 não é produzida constitutivamente, mas é

induzida por citocinas pró-inflamatórias como IL-1 e TNF (Strieter e cols., 1990). A IL-

8/CXCL8 também pode ser induzida por bactérias, vírus e seus produtos, o que pode resultar

em elevadas concentrações de IL-8/CXCL8 em fluidos dos sítios de infecção (Meduri e cols.,

1995).

A neutralização da IL-8/CXCL8 inibiu profundamente o recrutamento de

neutrófilos, induzido por LPS no modelo de pleurisia em coelhos (Broaddus e cols., 1994),

indicando que este fator é importante no modelo de inflamação aguda. Alguns trabalhos

demonstraram que durante a sepse há um aumento desta quimiocina no sangue (Marty e cols.,

1994). Estudos demonstraram que a proteína murina KC, foi capaz de induzir os mesmos

efeitos biológicos da IL-8 humana, tais como quimiotaxia de neutrófilos e aumento da

expressão da molécula de adesão CD11b/CD18 por essas células, sendo denominada então de

proteína murina homóloga funcional da IL-8 humana.

IL-8 está associada com o desenvolvimento de disfunção do tecido pulmonar em

pacientes com SIRS/sepse. Donnelly e colaboradores (1993) correlacionaram o aumento nos

níveis desta quimiocina no lavado bronco-alveolar de pacientes, com o desenvolvimento da

SARA. Além disto, demonstraram que os macrófagos alveolares são células importantes na

20

produção de IL-8, para subsequente influxo de neutrófilos. Estudos clínicos demonstraram

um aumento nos níveis da IL-8 no soro de pacientes sépticos (Oberholzer e cols., 2005;

Bozza e cols., 2007; Livaditi e cols., 2006) e nos pulmões de pacientes com a Síndrome da

Angústia Respiratória Aguda (SARA) (Chollet-Martin e cols., 1993; Meduri e cols., 1995;

Wiedermann e cols., 2004).

Interleucina 4 (IL-4)

A interleucina 4 (IL-4) é uma citocina produzida por linfócitos T, mastócitos e

basófilos e estimula a diferenciação e proliferação de células linfocitárias e a secreção de

imunoglobulina E por linfócitos B. Wu e cols (2008) verificaram níveis elevados de IL-4 em

pacientes com sepse grave. Embora os níveis de mRNA para IL-4 tenham sido elevados em

células monucleares de sangue periférico (PBMC) de pacientes que morreram por sepse

grave, os níveis séricos desta citocina no momento da admissão na UTI não se

correlacionaram com mortalidade.

Interleucina 5 (IL-5)

Interleucina 5 (IL-5) é uma citocina produzida por linfócitos T helper e

mastócitos, com função de estimular a diferenciação de células B e incrementar a secreção de

imunoglobulinas. A IL-5 também age na ativação de eosinófilos. O seu gene está localizado

próximo a outros de codificação de IL-3, IL-4 e GM-CSF, que são frequentemente co-

expressados em linfócitos T (van Leeuwen BH e cols., 1989). Esta citocina participa na

resposta inflamatória em vias aéreas de pacientes asmáticos (Bradding e cols., 1994). Seus

níveis em pacientes com sepse podem estar elevados, mas não parecem se associar com o

prognóstico dos pacientes (Bozza e cols., 2007).

Fator estimulante de colônias de granulócitos (G-CSF)

O G-CSF é uma glicoproteína que age como citocina, produzida em diferentes

tecidos para estimular hematopoiese e liberação de granulócitos na corrente sanguínea. O G-

CSF também estimula a diferenciação, função, proliferação e sobrevida de neutrófilos. Regula

estas funções através das vias de transdução/sinalização Janus kinase e Akt. O G-CSF é

produzido por células endoteliais, macrófagos e outras células do sistema imune, e está

21

envolvido em funções como quimiotaxia e fagocitose de neutrófilos. Este fator parece agir na

melhora da resposta microbicida de neutrófilos, incrementando a resposta imune inata

(Terashima e cols., 1995). Níveis elevados de G-CSF podem estar associados a maior

resposta inflamatória e aumento de citocinas em diversos tecidos.

G-CSF foi medido em pacientes com sepse grave e foi detectado em níveis

elevados nos primeiros dias após o início do quadro (Presneill e cols., CCM 2000). O G-CSF

se correlacionou com os níveis de IL-6, mas não foi preditor da evolução para SDOM nem da

mortalidade em 30 dias. Os seus níveis foram significativamente maiores nos pacientes com

choque séptico e apresentou cinética com queda exponencial a partir dos 2 primeiros dias

após o diagnóstico.

Fator inibidor da migração de macrófagos (MIF)

O fator inibidor da migração de macrófagos (MIF) foi originalmente descrito como

um produto de células T ativadas que inibe a migração de macrófagos peritoneais de cobaias

in vitro (David, J, 1966; Bloom & Bennett, 1966). Posteriormente, o MIF foi clonado e a sua

sequência do cDNA obtida (Weiser e cols., 1989). O MIF encontra-se pré-formado em

macrófagos, linfócitos e nas células corticotrópicas da glândula pituitária, sendo liberado em

grandes quantidades na circulação sanguínea após administração de LPS (Berhagen e cols.,

1993; Calandra e cols., 1994). Além disso, o MIF parece desenvolver um papel essencial na

sepse, uma vez que a sua inoculação simultânea com LPS causa um aumento na letalidade e a

sua neutralização com anticorpos, apresenta um papel protetor no choque endotóxico

(Berhagen e cols., 1993; Calandra e cols., 2000; Lehmann e cols., 2001). O MIF estimula a

produção de TNF-α por macrófagos e contrapõem os efeitos inibitórios dos glicocorticoides

na produção de citocinas como TNF-α, IL-6, IL-8 e na ativação celular (Calandra e cols.,

1995; Bacher e cols., 1996). A identificação do MIF como um hormônio de estresse capaz de

reverter os efeitos inibitórios de glicocorticoides, sugere um mecanismo utilizado pelo

sistema nervoso central na regulação da resposta inflamatória sistêmica.

Os estudos experimentais com modelos geneticamente deficientes para MIF

confirmaram o papel central desta citocina na sepse. Estes animais além de serem mais

resistentes que os controles a altas doses de LPS também fazem uma melhor eliminação de

bactérias Gram-negativas (Pseudomonas aeruginosa) instiladas no pulmão (Bozza e cols.,

1999). Apesar do seu papel proeminente como citocina pró-inflamatória, a deficiência do

gene de MIF aumenta a capacidade dos animais em eliminar Pseudomonas aeruginosa

22

instilada em pulmões. Este resultado foi confirmado e estendido com a descoberta que a

neutralização do MIF, com anticorpos, levou a uma melhor taxa de sobrevida em

camundongos com choque séptico induzido por CLP e infecção peritoneal com E coli.

Recentemente, foi demonstrado que o MIF regula a expressão de TLR4, molécula transdutora

de sinal do complexo do receptor de LPS (Roger e cols., 2001). Em modelos experimentais, a

expressão reduzida de TLR4 em macrófagos deficientes em MIF está relacionada a uma

produção diminuída de TNF-α por estas células quando estimuladas por LPS. No entanto,

ainda não foi demonstrado se o MIF regula a expressão de TLR-4 em humanos com sepse.

Em um estudo prospectivo, nós observamos uma correlação entre níveis séricos

maiores de MIF e pior prognóstico em pacientes sépticos (Bozza e cols., 2004). Níveis

plasmáticos de MIF e IL-6 diferiram significativamente entre pacientes que sobreviveram e

que faleceram. Do mesmo modo, uma diferença significativa dos níveis de MIF foi observada

quando se analisou apenas os pacientes do grupo com choque séptico. Beishuizen e cols

(2001), estudando 32 pacientes com choque séptico, observaram uma correlação significativa

entre níveis elevados de MIF na admissão e a letalidade. De fato, a análise com regressão

logística múltipla mostrou que o MIF foi um fator preditor de desfecho adverso em pacientes

com choque séptico. Gando e colegas estudaram 17 pacientes graves com SIRS e observaram

também uma correlação entre níveis maiores de MIF e letalidade (Gando e cols., 2001). No

estudo de Bozza e cols (2004), foram avaliados níveis de MIF e IL-6 prospectivamente, em

uma série de pacientes com sepse. Eles observaram que estas citocinas estão aumentadas em

pacientes com choque séptico e sepse, comparativamente a indivíduos saudáveis. Apesar de

diferenças importantes entre os níveis de MIF e IL-6 entre pacientes que sobreviveram e que

morreram, apenas os níveis de MIF mostraram um bom poder discriminativo para predizer a

letalidade relacionada a sepse. As concentrações elevadas de MIF parecem ser um marcador

precoce de mau prognóstico em pacientes sépticos internados no UTI.

MIF e glicocorticoides têm ações contrarregulatórias e ambos estão elevados

precocemente nos casos de sepse (Gando e cols., 2001; Emonts e cols., 2007). A relação entre

os níveis circulantes de MIF e de cortisol permanece controversa em estudos clínicos. Níveis

séricos de MIF foram correlacionados a maiores níveis de cortisol, demonstrando a integração

entre resposta inflamatória e sistema endócrino (Beishuizen e cols., 2001). Emonts e cols

verificaram, no entanto que os níveis de MIF parecem se correlacionar negativamente com os

de cortisol e positivamente com de ACTH. Maxime e cols (2005) demonstraram que o

tratamento com corticoides sintéticos (hidrocortisona ou metilprednisolona) reduziu os níveis

23

de MIF em sobrenadante de cultura de PBMCs de pacientes com choque séptico, o que pode

explicar o sucesso deste tratamento em parcela de pacientes com choque séptico.

Níveis de MIF permanecem elevados durante os primeiros dias de pacientes com sepse. Os

níveis permaneceram elevados por mais de 10 dias, comparativamente a pacientes internados

por outras razões (Beishuizen e cols., 2001). Níveis crescentes de MIF nas primeiras 48 horas

após o início de sepse grave foram fortemente associados com mortalidade precoce (Chuang e

cols., 2007).

O comportamento do MIF comparativamente a outros biomarcadores só foi melhor

estudado com IL-6, e teve desempenho melhor para predizer mortalidade em 28 dias. A

comparação entre o poder prognóstico do MIF em relação a um painel de citocinas não é

conhecida. Sua relação com cortisol plasmático ao longo do tempo e seus níveis após

tratamento com corticoides sintéticos também não foi explorada.

1.6 - Disfunção mitocondrial na sepse

A hipóxia tecidual é considerada uma das principais causas da supressão metabólica

associada à sepse e pode ser causada por hipoxemia, anemia ou perfusão inadequada.

Recentemente, um novo mecanismo foi proposto para explicar este quadro, chamado de

“hipóxia citopática” (Fink e cols., 2001). Este termo define a relação entre a baixa produção

de ATP e valores de pO2 normais ou até supranormais nos tecidos. Desta forma, mesmo na

presença de níveis adequados de O2 nas proximidades das mitocôndrias, estas não são capazes

de utilizá-lo para desempenhar suas funções normais. Sabe-se que após a reposição volêmica

e o equilíbrio do choque séptico, os níveis de pO2 teciduais são elevados, tanto quanto em

voluntários saudáveis (Boekstegers e cols., 1994). Disfunções de enzimas da cadeia

respiratória, como a citocromo c oxidase, são associadas a altos níveis teciduais de NO, que

também age na fisiopatologia do choque na sepse (Takehara e cols., 1995; Landry, 2001). A

partir da produção aumentada de NO, ocorre maior formação de peroxinitrito que, além de

inativar a citocromo c oxidase e induzir maior lesão de isquemia-reperfusão, inibe a F0F1-

ATPase e a aconitase (enzima do ciclo de Krebs que cataliza a reação de citrato em isocitrato)

(Castro e cols., 1994). A ativação da poliADP ribosil polimerase (PARP), enzima reparadora

de DNA e indutora de apoptose, age como NADase e depleta seus estoques, reduzindo a

fosforilação oxidativa (Zingarelli e cols., 1996).

Diversos mecanismos foram propostos para explicar este fenômeno, incluindo a

diminuição da disponibilidade de substratos para o ciclo de Krebs (como o piruvato), a

24

inibição de enzimas tanto do ciclo de Krebs quanto dos complexos da cadeia transportadora

de elétrons e o colapso do gradiente de prótons resultado do desacoplamento da respiração

mitocondrial (Crouser, 2002a). Assim, acredita-se que a hipóxia citopática aconteça tanto em

pacientes quanto em animais sépticos ou com endotoxemia e que os mecanismos citados

acima estejam envolvidos na fisiopatologia destas doenças (Crouser, 2004).

As primeiras associações estabelecidas entre a má distribuição de O2 tecidual e a

mortalidade de pacientes com sinais clínicos de falência circulatória, incluindo doentes com

falência cardíaca, sepse e hipovolemia, foram feitas há mais de 40 anos (Broder e Weil,

1964). Este estudo correlacionou os altos níveis de lactato sanguíneo com a mortalidade dos

pacientes, e concluiu que a falta de O2 seria a causa primária da lesão tecidual e disfunção

orgânica presentes no choque séptico. Questões relacionadas à validade da medida de lactato

plasmático como reflexo de hipóxia tecidual também surgiram nesta época (Harris e cols.,

1962), embora a associação entre a acidose sanguínea e a mortalidade tenha sido validada em

estudos posteriores (Hodgin & Sanford, 1965).

Outros estudos indicaram a possibilidade dos mecanismos responsáveis pela acidose e

pela oxigenação tecidual serem distintos durante a sepse (Mizock, 1984; van Deuren, 1995).

Estudos mais recentes sustentam a ideia de que a hipóxia tecidual desempenha um papel

importante na patogênese da falência orgânica associada à sepse (Sielenkamper e cols., 2000).

Entretanto, o aumento da oxigenação tecidual na tentativa de evitar o dano isquêmico, se

mostrou ineficaz podendo até mesmo ser prejudicial ao paciente com sepse (Hayes e cols.,

1994; Gattinoni e cols., 1995). Levando em consideração as discrepâncias observadas,

concluiu-se que os não-sobreviventes da sepse exibiam uma diminuição da capacidade de

aumentar o consumo de O2 em resposta ao aumento da disponibilidade tecidual de O2 (Hayes

e cols., 1997). Assim, pelo fato de a mitocôndria ser a principal organela responsável pelo

consumo de O2, postulou-se que a função desta organela estaria comprometida de alguma

forma durante a sepse. As informações disponíveis até o momento são aparentemente

conflitantes uma vez que em alguns casos observa-se uma inibição do consumo de O2,

indicando um efeito sobre os complexos da cadeia transportadora, enquanto que em outros

casos o desacoplamento é prevalente, sugerindo uma perda da eficiência da fosforilação

oxidativa, seja pela ativação de proteínas desacopladoras ou pela abertura de poro de

transição de permeabilidade ou ainda por alterações no metabolismo de adenosina 5´-

difosfato (ADP). A transportadora de elétrons na membrana interna mitocondrial está

representada na Figura 1.1.

Existem 5 estados metabólicos da respiração mitocondrial, a saber:

25

1 – sem consumo de oxigênio, antes da adição de substratos;

2 – adição de succinato (substrato para o complexo II) e início do consumo de oxigênio;

3 – adição de ADP e consumo de oxigênio máximo, associado à síntese de ATP;

4 – exaustão da fonte de ADP e desaceleração do consumo do oxigênio;

5 – cessação do consumo de oxigênio em condições de anóxia.

A disfunção mitocondrial na sepse pode se dar pelo desacoplamento e transição de

permeabilidade mitocondrial, com swelling e desacoplamento mitocondrial em resposta ao

LPS, tanto in vitro quanto in vivo. Estudos experimentais evidenciaram o desacoplamento em

modelos de injeção de endotoxina e choque hemorrágico (Mela e cols., 1971; Boczkowski e

cols., 1999). A respiração no estado 4 (induzido pela adição de inibidor da F1Fo-ATP sintase,

como oligomicina) foi relativamente aumentada em animais com indução da resposta

inflamatória, indicando desacoplamento. Esta alteração pode acontecer em tecidos musculares

(Boczkowski e cols., 1999), hepatócitos (Crouser e cols., 2002b) e no cérebro (D´Ávila e

cols., 2008). A alteração da estrutura morfológica de mitocôndrias hepáticas pode expressar

histologicamente a disfunção da organela, e ocorre por aumento da atividade de proteínas

desacopladoras ou pela abertura do poro de transição de permeabilidade (PTP) mitocondrial;

o tratamento com ciclosporina A, um inibidor da formação do PTP, é capaz de

restaurar/prevenir o dano a ultraestrutura de mitocôndrias (Crouser e cols., 2002b).

Clinicamente, foi demonstrado que estas alterações estruturais ocorrem em pacientes

que morrem com choque séptico, principalmente com desrregulação do controle da glicemia

(Vanhorebeek e cols., 2005).

Outro mecanismo importante é a inibição na atividade de enzimas mitocondriais.

Experimentalmente mostrou-se a redução do consumo de oxigênio em tecido hepático e

muscular em modelos murinos de sepse (Schumer e cols., 1970; Boveris e cols., 2002). A

respiração associada à síntese de ATP foi muito reduzida e a ultraestrutura mitocondrial se

alterou de maneira notável em vários tecidos após indução de sepse experimental, como

músculo esquelético, cardíaco e rim. Redução dos níveis de complexo I e IV e ATP foram

verificados clinicamente em tecidos muscular (Brealey e cols., 2002; Fredriksson e cols.,

2006) e hepático (Vanhorebeek e cols., 2005). Belikova e colaboradores demonstraram

redução do estado 3 (respiração induzida após adição de ADP) em PBMCs de pacientes com

sepse grave e menor expressão de human leukocyte antigen (HLA)-DR em monócitos

circulantes. Calvano e cols (2005) demonstraram que após injeção de endotoxina em

26

voluntários sadios, ocorre redução da expressão de genes codificadores de enzimas da cadeia

respiratória, como complexo I e F1F0-ATP sintase.

A menor quantidade e função de complexos da cadeia respiratória mitocondrial podem

ser efeitos da ação de óxido nítrico (NO) e espécies correlatas como o peroxinitrito (ONOO)

(Poderoso e cols., 1996; Cassina e cols., 1996). Além da hiporreatividade vasomotora

observada na sepse (Landry e cols., 1997), as espécies reativas de oxigênio atuam como

inibidores da atividade mitocondrial (Poderoso e cols., 1996). O estresse oxidativo ocasionou

o acúmulo precoce de produtos de peroxidação lipídica e de carbonilação de proteínas no

cérebro (Barrichello e cols., 2006), o que pode ajudar a explicar o desencadeamento da

encefalopatia ligada à sepse. Mecanismos de proteção anti-oxidativos estavam reduzidos

experimentalmente, como heat shock protein (HSP) 70 e a superóxido dismutase (Mn-SOD)

(Crouser e cols., 2006).

rotenonasuccinato + ADP oligomicin

FCC

ANT

AT

AD

atractilosídeo

potencial transmembrana

matriz

espaço intermembrana

ciclo de

Krebs

Figura 1.1 – Esquema da cadeia transportadora de elétrons na membrana interna mitocondrial.

Em verde, estão os complexos responsáveis pelo transporte de elétrons pela membrana

(complexo I – NADH desidrogenase; II – succinato desidrogenase; III – citocromo c redutase;

IV – citocromo c oxidase; V – F1FoATP sintase) e pelo efluxo de H+ para o espaço inter-

membranas. E amarelo, está representada a F1Fo-ATP sintase. Rotenona e oligomicina agem

como inibidores (seta tracejada) nos complexos I e IV, respectivamente. Succinato e ADP são

substratos para o complexo II. Carbonil cianeto p-(trifluorometoxi)fenilhidrazona (FCCP) é

um ionóforo de membrana que dissipa o gradiente de létrons e desacopla a respiração

mitocondrial (respiração sem síntese de ATP). UQ, ubiquinona; Cyt c, citocromo c; FAD –

dinucleotídeo flavina e adenina; NAD – dinucleotídeo nicotinamida e adenina; ADP –

adenosina difosfato; ATP – adenosina trifosfato.

27

28

Pacientes sépticos e politraumatizados frequentemente desenvolvem sinais de

disfunção orgânica múltipla ainda que os órgãos atingidos não tenham sido diretamente

afetados pelo insulto original. Esta falha orgânica é tradicionalmente atribuída ao efeito dos

mediadores inflamatórios circulantes que induzem modificações na circulação que resultam

em hipóxia e dano celular. Paradoxalmente, os tecidos oriundos de órgãos disfuncionantes

demonstram um perfil histológico frequentemente normal, com baixa incidência ou ausência

de células apoptóticas ou necróticas. Estes resultados sugerem que o comprometimento

orgânico é mais funcional do que estrutural e, portanto, potencialmente reversível (Brealey e

cols., 2004). A gravidade da sepse é acompanhada pela redução na utilização de oxigênio

embora os níveis teciduais deste gás não sejam alterados, sugerindo que o problema reside na

inibição do consumo de oxigênio e não na diminuição da perfusão tecidual. Entretanto a

natureza precisa do mecanismo pelo qual o consumo de oxigênio é inibido em pacientes

sépticos permanece obscura, já que a síntese de ATP parece estar reduzida na sepse,

colaborando para manutenção da SDOM.

29

2 - Objetivos

2.1 - Objetivo geral

- Estudar aspectos de inflamação e disfunções orgânicas (biomarcadores clínicos, citocinas,

cortisol e respiração mitocondrial) relacionados à gravidade e temporalidade da evolução da

Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla em pacientes com choque séptico.

2.2 - Objetivos específicos

- Analisar sequencialmente diferentes biomarcadores em pacientes com choque séptico;

- Analisar os níveis de diversos biomarcadores e a mortalidade precoce e mortalidade em 28

dias;

- Correlacionar os níveis de biomarcadores com o grau de disfunções orgânicas;

- Verificar se ocorre alteração da função mitocondrial de monócitos circulantes em pacientes

sépticos, e correlacionar com o prognóstico;

- Analisar possíveis mecanismos de disfunção mitocondrial em monócitos circulantes de

pacientes sépticos, comparativamente a pacientes controles.

30

3. Painel de biomarcadores em pacientes com choque séptico

3.1 – Introdução

Biomarcadores podem ser utilizados tanto para o diagnóstico quanto para o

acompanhamento do tratamento da sepse. Diferentes biomarcadores já foram estudados e se

correlacionam de modo distinto com o diagnóstico, com disfunções orgânicas específicas e

com o prognóstico da sepse. A interrelação entre vários dos biomarcadores clinicamente

utilizados e outros estudados experimentalmente não é bem conhecida. Um painel de

citocinas, quimiocinas e outros biomarcadores podem ajudar na detecção precoce da sepse,

auxiliando o diagnóstico e permitindo o início precoce do tratamento (Marshall & Reinhart,

2009). Este painel também pode ser útil para correlações com disfunções orgânicas

específicas e predizer o prognóstico a curto e médio prazo. É possível que um biomarcador

tenha bom desempenho para o diagnóstico da sepse, enquanto outro biomarcador seja melhor

para estratificação de gravidade ou predição de prognóstico. Dificilmente um biomarcador

isoladamente vai desempenhar boa acurácia para diagnóstico, análise de gravidade e

prognóstico simultaneamente. Finalmente, a visão mais ampla da resposta inflamatória

plasmática pode também fornecer conhecimento sobre a fisiopatologia da sepse grave, e

desvendar controvérsias tal como a do desequilíbrio entre resposta pró-inflamatória e

antiinflamatória, na figura dos conceitos de SIRS (Systemic Inflammatory Response

Syndrome) e CARS (Compensatory Antiinflammatory Response Syndrome).

Este estudo se destina a medir os níveis plasmáticos de 17 citocinas em pacientes com

sepse e choque séptico, simultaneamente através de uma plataforma multiplex, e correlacionar

os resultados com parâmetros clínicos avaliados no dia-a-dia do acompanhamento do paciente

séptico na UTI e melhorar a predição do prognóstico. Posteriormente, outros biomarcadores

são adicionados em população de maior gravidade (choque séptico) e faz-se o

acompanhamento através de medidas ao longo da primeira semana após o diagnóstico da

sepse. Através da cinética de parâmetros clínicos e citocinas, tenta-se encontrar padrões de

respostas inflamatórias associadas à mortalidade a curto e médio prazo.

31

3.2 – Métodos

3.2.1 – Pacientes

Foram incluídos pacientes com sepse grave ou choque séptico a partir das primeiras

24 horas do início do quadro, internados nas UTIs do Hospital Universitário Clementino

Fraga Filho (UFRJ), Hospitais Espanhol, Barra e Quinta D´Or e Casa de Saúde São José (Rio

de Janeiro), de acordo com os critérios de SIRS/sepse de Bone e cols., 1992 (Quadro 1), bem

como pacientes controle (internados em UTI com outros diagnósticos que não sepse ou

qualquer tipo de choque).

Quadro 3.1 – Critérios de SIRS/sepse, segundo Bone e cols., 1992.

1. Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS)

Dois ou mais dos seguintes critérios devem estar presentes :

Temperatura > 38o ou < 36o C

Frequência cardíaca > 90 batimentos por minuto

Frequência respiratória > 20 por minuto ou PaCO2 < 32 mmHg

Leucócitos > 12.000 ou < 4.000 mm3 ou > 10 % de bastões

2. Sepse

Critérios de SIRS , com a fonte de infecção presumida ou definida

3. Sepse grave

Sepse, disfunção orgânica, hipotensão ou hipoperfusão (incluindo, mas não se limitando, a

acidose láctica, oligúria ou alteração do estado mental)

4. Choque séptico

Hipotensão arterial – pressão arterial sistólica > 90 mmHg ou redução < 40 mmHg do usual

(apesar de reposição volêmica) – e alterações de perfusão tecidual e uso de vasopressores

Excluiu-se pacientes grávidas, menores de 18 anos ou que morreram com menos de 6

horas de permanência na UTI. Pacientes com neoplasias avançadas ou hematológicas e em

uso de quimioterapia também foram excluídos. Eles foram acompanhados clinica e

laboratorialmente através de coleta dos seguintes dados (pior valor dentro do mesmo dia):

pressão arterial, uso e dose de aminas vasopressoras, frequência cardíaca, frequência

respiratória, uso de ventilação mecânica, temperatura axilar, escala de coma de Glasgow,

leucograma, hematócrito, plaquetometria, dosagem de creatinina, bilirrubinas totais, gases

32

arteriais. Estes dados foram analisados também através de escores prognósticos: Simplified

Acute Physiology Score (SAPS) II ou Acute Physiology and Chronic Health Evaluation

(APACHE) II no 1o dia de entrada no estudo e Sequential Organ Failure Assessment (SOFA)

a cada 48 horas na primeira semana de choque séptico (Le Gall e cols., 1993; Vincent e cols.,

1996).

Materiais para culturas das fontes prováveis de infecção e hemoculturas (pelo menos 2

coletas de 10 ml de sangue de sítios de punção diferentes) foram coletados, conforme

recomendações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (Horan e cols., 2008).

A coleta de culturas foi direcionada de acordo com os prováveis sítios de infecção,

determinados pelos exames clínicos e laboratoriais dos pacientes. O tratamento com

antibióticos foi decidido pelos médicos da UTI, conjuntamente com as orientações da

Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.

Após a assinatura do consentimento pelo paciente ou por seu responsável, foram

coletadas amostras de 10 ml de sangue dos pacientes com sepse nos dias 1, 3, 5 e 7 após a

entrada no estudo. Os pacientes foram acompanhados até a alta hospitalar ou óbito.

Analisamos a letalidade precoce (até 3 dias após início do choque séptico) e em 28 dias. O

estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino

Fraga Filho (UFRJ), sob o número 69/2004. O termo de consentimento pós-informado

encontra-se em anexo.

3.2.2 – Dosagem de macrophage migration inhibitory factor (MIF)

Os níveis de MIF no plasma foram determinados pelo método Enzyme Linked Immuno

Sorbent Assay (ELISA), utilizando-se pares de anticorpos comercializados pela R&D e/ou

Pharmingen.

3.2.3 - Ensaio de citocinas Multiplex (Luminex®)

O ensaio é realizado com a coleta de sangue, com separação de plasma por

centrifugação (2000 rpm, por 15 minutos). Com o kit de citocinas (interleucina [IL] 1 beta,

IL-2, IL-4, IL-5, IL-6, IL-7, IL-8, IL-10, IL-12, IL-13, IL-17, interferon [IFN] gama,

granulocyte colony-stimulating factor [G-CSF], granulocyte-macrophage colony-stimulating

factor [GM-CSF], monocyte chemoattractant protein [MCP] 1, macrophage inflammatory

protein-1 [MIP] beta e tumour necrosis factor [TNF] alfa) foi realizado o ensaio de acordo

33

com as instruções do fabricante (Bio-Rad, Hercules, CA, USA). De modo breve, amostras (50

µL) diluídos em tampão para plasma, foram colocados em placas de 96 poços com filtro. As

amostras foram incubadas com microesferas ligadas a anticorpo (50 µL em 2.000

esferas/poço) em temperatura ambiente por 30 minutos, em agitador de placa (300 rpm), em

ambiente escuro; seguido de 3 lavagens com solução contendo anticorpos secundários (25

µL/poço) adicionados aos poços e depois incubados em temperatura ambiente em agitador de

placas, por mais 30 minutos. Estreptavidina-PE (16 µg/ml em tampão do ensaio) foram

adicionados aos poços (50 µL), e incubada em temperatura ambiente por mais 10 minutos.

Proteínas não associadas às microesferas foram filtradas pelos poços, usando vácuo e nova

lavagem com tampão foi realizada. Após a última lavagem, 125 µL de tampão foi adicionado

em cada poço e nova incubação foi feita com agitador de placa por 1 minuto a 500 rpm e

depois por 3 minutos a 300 rpm. A análise dos dados foi realizada de acordo com o software

Bio-Plex Manager (Bio-Rad). A detecção de citocinas exibe altos graus de precisão intra e

inter-ensaios (10 a 20% de variação). A detecção de citocinas pelo Luminex xMAP é

comparável a ELISA (correlação r entre 0,75 a 0,99); a detecção de IL-6 em 31 pacientes

sépticos obteve correlação 0,815 e p<0,001 (Vignali e cols., 2003).

3.2.4 - Cortisol plasmático

O cortisol plasmático foi medido através de ensaio imunoenzimático (Vidas-cortisol,

Biomérieux, Lyon, France), com limite de detecção de 195 µg/dl.

3.2.5 - Proteína C Reativa Titulada (PCRt)

Os níveis de PCRt foram medidos através de método nefelométrico – kit comercial

Minineph, The Binding Site Group Ltd, Birmingham, UK, com limite de detecção 112 mg/l

na diluição 1/40.

3.2.6 - Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas com os programas SPSS para Windows,

versão 11.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA) e GraphPad Prism para Windows, versão 4.0

(GraphPad Software, San Diego, CA, USA). As variáveis numéricas demográficas foram

expressas como mediana e intervalo interquartil (IQ 25-75%). Os valores das citocinas,

34

cortisol plasmático e PCRt foram mostradas como média e limites mínimo e máximo. Todas

as variáveis numéricas foram testadas para verificar a distribuição dos valores (teste de

normalidade). Se havia distribuição normal, usamos o teste t de Student para comparar as

médias, e com distribuição não-paramétrica aplicou-se o teste de Mann-Whitney. A

comparação de 3 ou mais grupos foi realizada com a análise de variância (ANOVA).

Variáveis categóricas foram analisadas com o teste qui-quadrado ou teste de Fisher.

Testamos as diferenças dos níveis de cada citocina e de cortisol e PCRt ao longo do 1º,

3º, 5º e 7º dias de choque séptico para avaliar a cinética (teste ANOVA ou Kruskall-Wallis), e

posteriormente comparamos as cinéticas entre sobreviventes e não-sobreviventes (desfecho

em 28 dias). Para efeito de comparação com dados clínicos, a evolução do escore SOFA

também foi demonstrada com as figuras de cinética dos biomarcadores.

O desfecho de interesse principal para a comparação dos níveis de biomarcadores foi a

mortalidade em 28 dias; secundariamente, os biomarcadores no subgrupo com mortalidade

precoce (definida com aquela ocorrida até 3 dias após o início do choque séptico) foram

analisados. Comparamos também os níveis de citocinas entre pacientes controles,

sobreviventes e não-sobreviventes do choque séptico (material suplementar). Fizemos

correlações entre os níveis dos biomarcadores no 1º dia de choque séptico e o grau de

disfunções orgânicas (escore SOFA), e entre os níveis de MIF e de cortisol plasmático (teste

de Pearson para variáveis de distribuição normal ou Spearman para variáveis não-

paramétricas). Para analisar os dados de cinética, testamos as comparações entre as médias e

os valores máximos de citocinas, cortisol e PCRt nos dias 1, 3, 5 e 7 de acordo com o

desfecho em 28 dias.

Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) foram construídas plotando valores

de sensibilidade e a diferença da unidade para a especificidade e calculando a maior área

abaixo da curva (AUROC). As áreas sob a curva ROC para mortalidade precoce e em 28 dias

foram calculados para biomarcadores e escores SAPS II e SOFA. As análises foram

realizadas com níveis no 1º dia de choque séptico, níveis médios e máximos de cada

parâmetro. O desempenho foi considerado bom se a AUROC fosse maior que 0,70. O cálculo

de ponto de corte foi calculado para os marcadores com AUROC acima de 0,65, através do

valor do parâmetro que apresentava o maior produto de sensibilidade vezes especificidade.

Realizamos regressão logística para identificar fatores independentemente associados

com a mortalidade em 28 dias, escolhendo na análise univariada os biomarcadores que foram

diferentes entre os grupos sobrevivente e não-sobrevivente em 28 dias (p valor inferior a 0,2)

e outros parâmetros que poderiam influenciar a mortalidade por choque séptico (idade e

35

escores SAPS II e SOFA). Razão de chances e intervalo de confiança de 95% foram

calculados para os fatores independentemente associados com a mortalidade em 28 dias.

Considerou-se que havia significância estatística se o p valor foi menor que 0,05.

36

3.3 – Resultados

3.3.1 – Perfil de citocinas como marcadores de gravidade na sepse: análise multiplex

(artigo publicado na revista Critical Care em 2007, volume 11, página R49)

3.3.1.1 - Características dos Pacientes

Sessenta pacientes foram incluídos; a mortalidade em 28 dias foi 48%. A idade foi de

64 anos (mediana, IQ 51-75), com predomínio do sexo masculino (60%). O escore SOFA no

1º dia foi 9 pontos (IQ 6-11), e 46 (76%) pacientes apresentavam choque séptico na inclusão

do estudo. O principal sítio de infecção foi pulmonar (60%); as culturas identificaram

microorganismos em 50 (83%) pacientes, com predomínio de bactérias Gram-negativas

(76%).

3.3.1.2 - Níveis plasmáticos de citocinas

O sistema multiplex verificou níveis detectáveis de citocinas em 69% das amostras.

Concentrações das interleucinas 6, 8 e 10 e MCP-1 foram detectadas em mais de 95% dos

ensaios. Os níveis de citocinas foram significativamente maiores nos pacientes com choque

séptico, quando comparadas aos pacientes com sepse grave (Tabela 3.1).

3.3.1.3 - Desempenho de citocinas para predição da mortalidade precoce e em 28 dias

A mortalidade precoce foi de 15%. Nestes pacientes, os níveis das citocinas IL-1β, IL-

4, IL-6, IL-8, MCP-1 e G-CSF apresentaram área sob a curva ROC acima de 0,70, com boa

discriminação para mortalidade precoce (Tabela 3.2).

Compararam-se os níveis de citocinas entre sobreviventes (n=31) e não-sobreviventes

(n=29). Pacientes sobreviventes apresentaram níveis significativamente menores das

seguintes citocinas: IL-1 beta (0,39 vs 1,30 pg/ml, p=0,05), IL-4 (0 vs 0,84 pg/ml, p=0,04),

IL-6 (1957 vs 6254 pg/ml, p=0,01), IL-8 (94,7 vs 281,4 pg/ml, p=0,001) e MCP-1 (268,4 vs

757,8 pg/ml, p=0,004).

Em relação à mortalidade até 28 dias, as citocinas que tiveram os melhores

desempenhos foram IL-8 e MCP-1, com áreas sob a curva ROC acima de 0,70 (Tabela 3.3).

37

Tabela 3.1 – Concentrações de citocinas em pacientes com sepse grave e choque séptico.

Valores são expressos em pg/ml e média (limites mínimo e máximo).

Citocina Sepse Grave

(n = 14)

Choque Séptico

(n = 46)

p valor

IL-1β 0,17 (0,00–0,79) 1,22 (0,01–7,33) 0,01

IL-6 1027(583–4854) 5632 (1889–12170) 0,007

IL-7 0,00 (0,00-0,00) 8,47 (0,60–13,56) <0,001

IL-8 52,6 (24.2–122,4) 145,3 (74,4–520,2) 0,01

IL-10 2,27 (0,95–11,72) 27,4 (6,8–116,3) <0,001

IL-13 0,27 (0,00–4,61) 7,21 (0,03–19,29) 0,008

IFN-γ 0,0 (0,0–22,8) 33,1 (0,0–116,7) 0,03

MCP-1 6,3 (0,0–372,2) 753,9 (324,6–1689,0) <0,001

Tabela 3.2 – Desempenho das citocinas para predição de mortalidade precoce. AUROC –

área sob a curva ROC.

Citocina AUROC (IC 95%) p valor

IL-8 0,78 (0,62–0,93) 0,01

IL-4 0,77 (0,59–0,94) 0,01

IL-6 0,76 (0,60–0,91) 0,01

MCP-1 0,74 (0,57–0,90) 0,02

G-CSF 0,73 (0,53–0,92) 0,04

IL-1β 0,71 (0,53-0,90) 0,04

Tabela 3.3 – Desempenho das citocinas para predição de mortalidade em 28 dias. AUROC –

área sob a curva ROC.

Citocina AUROC (IC 95%) p valor

IL-8 0,75 (0,63–0,88) 0,001

MCP-1 0,71 (0,59–0,84) 0,004

IL-6 0,68 (0,55–0,82) 0,01

IL-1β 0,65 (0,50–0,79) 0,05

38

Após análise multivariada através de regressão logística, o escore APACHE II e o logaritmo

dos níveis de MCP-1 foram independentemente associados com a mortalidade em 28 dias. A

razão de chances para mortalidade em 28 dias foi 1,41 (IC 95% 1,02-1,93) para o logaritmo

dos níveis de MCP-1 e 1,37 (IC 95% 1,12-1,66) para o escore APACHE II.

3.3.2 – Cinética de biomarcadores em pacientes com choque séptico

3.3.2.1 - Características dos Pacientes

Setenta e dois pacientes foram incluídos no estudo, porém 5 não foram incluídos na

análise final por conta de diagnóstico alternativo à sepse (2) e coleta de amostras clínicas

incompleta (3). As características gerais do grupo de 67 pacientes sépticos estão na Tabela

3.4. A idade foi de 69 anos (mediana, IQ 55-81), sendo 49% do gênero masculino. Patologias

cirúrgicas predominaram e foram responsáveis por 46 (68%) admissões desta população,

enquanto causas clínicas ocorreram em 21 (32%) dos pacientes. A maioria das internações

cirúrgicas foi por problemas gastrointestinais (84%) ou de vias biliares (7%), seguidas de

cirurgias torácicas (5%), ortopédicas (3%) e vasculares (1%). Em relação às causas clínicas,

insuficiência respiratória por pneumonias e doença pulmonar obstrutiva crônica foi mais

comum (47%); infecções de partes moles, leptospirose, coma e queimaduras extensas também

foram causas de internações.

O SAPS II mediano foi 53 pontos (IQ 45-60), com probabilidade óbito calculada em

53%. O escore SOFA no primeiro dia do choque séptico foi 9 pontos (IQ 6-11), com elevada

necessidade de suporte com ventilação mecânica invasiva (96%) e métodos dialíticos (36%).

O tempo mediano de internação na UTI foi 18,5 dias (IQ 10-31) e no hospital 33 dias (IQ 18-

64). A mortalidade neste grupo foi 10% nos primeiros 3 dias após o diagnóstico, 46% até 28

dias e 57% no hospital.

Infecções abdominais foram as responsáveis por sepse em 33 (49%) pacientes; outros

sítios de sepse foram o pulmonar (34%), bacteremia primária (9%), pele/tecidos moles (5%) e

trato urinário (3%). Houve isolamento de microorganismos em culturas coletadas em 48

(72%) pacientes. O predomínio de isolamento foi de bactérias Gram-negativas (78%),

seguido por Gram-positivas (29%) e isolamento de Candida sp em hemoculturas de 1 (2%)

paciente.

39

Tabela 3.4 – Características demográficas e clínicas de pacientes com choque séptico de

acordo com o desfecho em 28 dias. Valores são expressos como mediana (intervalo

interquartil). *-p<0.05, teste qui-quadrado ou teste t Student.

Todos pacientes

(n = 67)

Sobreviventes

(n = 36)

Não-sobreviventes

(n = 31)

Idade (anos) 69 (55-81) 70 (50-80) 69 (59-82)

Gênero masculino 33 (49%) 18 (50%) 15 (48%)

SAPS II (pontos) 53 (45-60) 51 (41-56) 58 (52-62)*

SOFA no 1º dia (pontos) 9 (6-11) 9 (6-10) 10 (8-13)*

Sítio de infecção

Abdominal

pulmonar

Sanguineo

Pele/tecidos moles

Trato urinário

37

21

5

2

2

20

11

3

1

1

17

10

2

1

1

Tipo de admissão

(clínica/cirúrgica)

18/49 10/26 8/23

Tempo de permanência

na UTI (dias)

18 (10-31) 31 (21-48)* 10 (4-15)

Tempo de permanência

no hospital (dias)

33 (18-64) 63 (41-93)* 18 (8-27)

40

3.3.2.2 - Níveis plasmáticos de citocinas e cortisol

Dez das dezessete citocinas apresentaram níveis de detecção no sistema multiplex

acima de 90% das 236 amostras de 67 pacientes sépticos e 11 pacientes controles: IL-5, IL-13

e IFN-γ (100%); IL-1β (99,5%); IL-8 (98,5%); IL-10 e MIP-1β (97,2%); IL-6 e G-CSF

(92,5%); e MCP-1 (91,6%).

Os níveis de citocinas e o escore SOFA foram maiores em pacientes com choque

séptico do que em pacientes controles (em período pós-operatório) (Figura 3.1). Observamos

que o comportamento dos biomarcadores varia quando se analisa a presença ou o prognóstico

da sepse. Algumas das citocinas demonstraram diferença significativa entre controles e

pacientes sépticos, embora não se faça diferenciação entre pacientes sépticos que

sobreviveram ou não (por exemplo, IL-10 e G-CSF). Escore SOFA e níveis de MIF, IL-6, IL-

8 e MCP-1 foram significativamente maiores em pacientes sépticos em relação aos controles,

além de aumentarem mais ainda naqueles que não sobreviveram.

controle sobrev não-sobrev0

10

20

SOFA

(pontos)

controle sobrev no-sobrev0

2500

5000

7500

10000

MIF

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

500

1000

1500

MCP-1

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

50

100

150

200

250

300

350

MIP-1b

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev

1

3

5

7

IL-1b

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

4.5

IL-5

(pg/ml)

p<0,001 p<0,001

p=0,003 p=0,21

p=0,20p=0,33

Figura 3.1 – Comparação dos níveis de escore SOFA e citocinas nas primeiras 24 horas de

inclusão no estudo entre pacientes controles pós-operatórios eletivos, sépticos sobreviventes e

sépticos não-sobreviventes em 28 dias. Legenda: sobrev – sobreviventes; não-sobrev – não-

sobreviventes.

41

controle sobrev no-sobrev0

5000

10000

15000

IL-6

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

400

800

1200

1600

IL-8

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

25

50

75

100

IL-10

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

IL-13

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

500

1000

1500

IFN-gamma

(pg/ml)

controle sobrev no-sobrev0

2500

5000

7500

10000

12500

G-CSF

(pg/ml)

p=0,14 p=0,005

p=0,37p=0,002

p=0,01p=0,03

Figura 3.1 – Comparação dos níveis de escore SOFA e citocinas nas primeiras 24 horas de

inclusão no estudo entre pacientes controles pós-operatórios eletivos, sépticos sobreviventes e

sépticos não-sobreviventes em 28 dias. Legenda: sobrev – sobreviventes; não-sobrev – não-

sobreviventes.

42

43

Em relação à cinética de biomarcadores em pacientes com choque séptico, as

interleucinas 5, 6, 8 e 10, MCP-1, MIP-1β e G-CSF demonstraram níveis significativamente

diferentes durante a cinética da primeira semana de choque séptico, quando se analisa os

níveis no grupo total de pacientes (p<0,05, teste ANOVA) (Tabela 3.5).

Todas as interleucinas (exceto IL-6), assim como MCP-1 e MIP-1β, apresentaram

níveis máximos da cinética no 3º dia de choque séptico. Uma queda exponencial foi vista na

análise de outras citocinas entre os dias 1 e 7 (exemplo, IL-6). No caso de outras citocinas,

valores estáveis permaneceram durante todo o período (exemplo, MIF). Assim, pudemos

identificar 4 padrões de comportamento de cinética no grupo: (A) queda exponencial a partir

do 1º dia (IL-6, IL-13, G-CSF e IFN-γ); (B) curva Gaussiana, com pico dos níveis de

citocinas em torno do 3º ou 5º dia (IL-1β, IL-5 e IL-10, MIP-1β, MCP-1 e cortisol); (C) níveis

crescentes durante a 1ª semana (IL-8); (D) níveis estáveis ao longo da 1ª semana (MIF)

(Figura 3.2).

3.3.2.3 - Níveis plasmáticos dos biomarcadores para mortalidade em 28 dias

A mortalidade em 28 dias foi 46%. Os biomarcadores se comportaram de modo

diferente quando se analisa apenas os níveis do 1º dia ou quando se vê a cinética como parte

da predição também. Na análise com valores plasmáticos de biomarcadores no 1º dia de

choque séptico, MIF e PCRt foram os biomarcadores que se diferenciaram entre

sobreviventes e não-sobreviventes (Tabela 3.6). Níveis de MIF em sobreviventes foram

menores que não-sobreviventes (2496 vs 3681 pg/ml, p=0,03). Os níveis de PCRt foram

menores em sobreviventes também (179,0 vs 316,8 mg/l, p=0,01).

44

Tabela 3.5 – Níveis plasmáticos de citocinas e cortisol nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de

choque séptico. Os valores das citocinas estão expressos em média e intervalo de valores

mínimo e máximo; unidade = pg/ml.

Citocina Dia 1

(n = 67)

Dia 3

(n = 51)

Dia 5

(n = 38)

Dia 7

(n = 31)

p valor

IL-1β 3,69

(1,43-114,2)

6,01

(1,44-109,4)

1,71

(1,48-2,79)

1,70

(1,34-3,09)

0,61

IL-5 4,39

(1,59-165,6)

7,41

(1,56-280,6)

2,02

(1,63-4,07)

1,98

(1,63-3,01)

0,02

IL-6 4090

(0-187923)

965

(0-21901)

205

(0-2254)

59

(0-707)

<0,001

IL-8 292,6

(0-7268,0)

363,6

(0-7268,0)

55,3

(0-287,2)

50,5

(0-632,4)

0,01

IL-10 32,6

(0-1082,0)

161,6

(0-7279,0)

4,1

(0-38,0)

2,9

(0-46,5)

0,004

IL-13 7,72

(0-428,30)

8,39

(0,04-

315,70)

1,25

(0,07-6,07)

1,21

(0,11-6,47)

0,54

IFN-γ 258,6

(0-6761,0)

278,4

(0-8554,0)

94,2

(0-325,1)

91,6

(0-382,8)

0,42

MCP-1 228

(0-1347)

297

(0-7408)

97

(0-677)

186

(0-3709)

<0,001

MIP-1β 22,6

(0-162,1)

26,5

(0-518,7)

15,8

(0-117,3)

15,4

(0-214,1)

0,008

G-CSF 1020,0

(0-11377,0)

461,7

(0-6628,0)

12,2

(0-121,6)

13,2

(0-211,5)

0,002

MIF 3056

(218-9293)

3026

(470-7186)

3169

(143-12725)

2883

(884-8676)

0,94

Cortisol 48,5

(3,4-195,0)

56,0

(1,4-195,0)

- 39,5

(1,7-195,0)

0,09

0 2 4 6 82000

3000

4000

dias

MIF (pg/ml)

0 2 4 6 80

1000

2000

dias

G-CSF (pg/ml)

0 2 4 6 80.0

2.5

5.0

7.5

10.0

dias

IL-1b (pg/ml)

0 2 4 6 80

2000

4000

6000

8000

dias

IL-8 (pg/ml)

A

B

C

D

Figura 3.2 – Padrões de cinética de citocinas nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de choque

séptico. (A) padrão de queda exponencial a partir do 1 dia (IL-6, IL-13, G-CSF e IFN-γ); (B)

curva Gaussiana, com pico dos níveis de citocinas em torno do 3º ou 5º dia (IL-1β, IL-5 e IL-

10, MIP-1β, MCP-1 e cortisol); (C) níveis crescentes durante a 1ª semana (IL-8); (D) níveis

estáveis ao longo da 1ª semana (MIF).

45

46

Tabela 3.6 – Comparação dos níveis de citocinas, proteína C reativa e cortisol no 1º dia de

choque séptico entre sobreviventes e não-sobreviventes. As unidades dos valores de citocinas

estão expressas em pg/ml, dos valores de cortisol em µg/dl e proteína C reativa em mg/l.

Citocina Sobreviventes

(n = 38)

Não-sobreviventes

(n = 31)

p valor

IL-1β 1,84 (1,44-3,67) 6,16 (1,43-114,20) 0,29

IL-5 1,81 (1,59-2,58) 1,95 (1,59-4,42) 0,28

IL-6 886 (0-8228) 1754 (0-14162) 0,22

IL-8 180 (0-2047) 457 (6-7268) 0,1

IL-10 8.6 (0-88) 26,7 (0-334,5) 0,17

IL-13 0,83 (0-6,48) 0,62 (0,05-2,45) 0,85

IFN-γ 140,7 (9,1-749,4) 186,7 (0-1368) 0,26

MCP-1 176,2 (0-1265) 314,6 (0-1347) 0,36

MIP-1β 24,9 (0-162.1) 19,9 (0-118,4) 0,35

G-CSF 989 (0-5370) 1171 (0-11377) 0,69

MIF 2496 (218-7651) 3681 (460-9293) 0,03

Cortisol 38,3 (3,4-132,0) 58,1 (3,8-195) 0,06

PCRt 179,0 (26,7-337,0) 316,8 (51-1250) 0,01

47

Uma vez que se analisam parâmetros da cinética dos biomarcadores, um painel

distinto de diferenças significativas em relação à mortalidade em 28 dias é visto. A média dos

níveis dos biomarcadores nos 1º, 3º, 5º e 7º dias é maior de modo geral naqueles que não

sobrevivem até o 28º dia, sendo que médias significativas maiores são encontradas para IL-6,

IL-8, IL-10, cortisol e PCRt (Tabela 3.7). Os valores médios em sobreviventes e não-

sobreviventes significativamente diferentes foram respectivamente: IL-6 351 vs 2282 pg/ml

(p=0,05); IL-8 83,8 vs 602,6 pg/ml (p=0,03); IL-10 61 vs 555 pg/ml (p=0,05); cortisol 34,6 vs

74,6 µg/dl (p<0,001); e PCRt 170,6 vs 293,2 mg/l (p=0,03).

Outra análise realizada foi do nível máximo dos biomarcadores durante a 1a semana

de choque séptico (Tabela 3.8). Novamente os níveis máximos são maiores no grupo de não-

sobreviventes, com exceção apenas de IL-5. Os biomarcadores com níveis plasmáticos

máximos significativamente maiores no grupo não-sobrevivente foram cortisol (100,5 vs 46,3

µg/dl, p<0,001) e PCRt (381,0 vs 250,5 mg/l, p=0,04).

48

Tabela 3.7 – Comparação da média dos níveis plasmáticos de citocinas, cortisol e proteína C

reativa nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de choque séptico. As unidades dos valores de citocinas

estão expressas em pg/ml, dos valores de cortisol em µg/dl e proteína C reativa em mg/l.

Citocina Sobreviventes

(n = 35)

Não-sobreviventes

(n = 26)

p valor

IL-1β 1,73 (1,51-2,70) 2,02 (1,51-4,54) 0,18

IL-5 1,95 (1,65-2,52) 1,88 (1,60-2,72) 0,20

IL-6 351 (0-4114) 2282 (0-16726) 0,05

IL-8 83,8 (1,0-877,6) 602,6 (8,9-3826,0) 0,03

IL-10 61,0 (0,8-635,7) 555,1 (6,3-4855,0) 0,05

IL-13 0,97 (0,12-3,64) 0,81 (0,22-2,65) 0,76

IFN-γ 105,1 (13,6-410,9) 169,2 (13,7-597,5) 0,11

MCP-1 93,3 (0-678,2) 290,6 (0-1393,0) 0,10

MIP-1β 15,7 (0-62,7) 20,2 (0-71,9) 0,30

G-CSF 388,4 (0,3-2691,0) 858,4 (0-9002,1) 0,53

MIF 2649 (529-7174) 3341 (1006-6872) 0,12

Cortisol 34,6 (5,7-110,7) 74,6 (3,8-195,0) <0,001

PCRt 170,6 (35,3-465,4) 293,2 (58,0-1250,0) 0,03

49

Tabela 3.8 - Comparação dos níveis máximos dos níveis plasmáticos de citocinas, cortisol e

proteína C reativa nos dias 1, 3, 5 e 7 após início de choque séptico. As unidades dos valores

de citocinas estão expressas em pg/ml, dos valores de cortisol em µg/dl e proteína C reativa

em mg/l.

Citocina Sobreviventes

(n = 35)

Não-sobreviventes

(n = 26)

p valor

IL-1β 1,85 (0-3,67) 9,49 (1,0-114,2) 0,71

IL-5 2,13 (0-4,06) 1,93 (0-4,42) 0,21

IL-6 942 (0-8228) 4659 (0-58562) 0,08

IL-8 197,7 (0-2047,0) 971,5 (0-7268,0) 0,15

IL-10 41,1 (0-1082,0) 520,5 (0-7279,0) 0,17

IL-13 3,61 (0-47,66) 15,70 (1,0-428,3) 0,46

IFN-γ 167,0 (0-749,4) 507,8 (0-8554,0) 0,49

MCP-1 212,5 (0-1356) 759,9 (0-7408) 0,12

MIP-1β 42,3 (0-395,5) 64,8 (0-518,7) 0,64

G-CSF 1095 (0-5370) 1245 (0-11377) 0,91

MIF 3599 (0-12725) 4158 (0-9293) 0,38

cortisol 46,3 (11.6-132,0) 100,5 (3,8-195,0) <0,001

PCRt 250,5 (0-694,3) 381,0 (72,0-1250,0) 0,04

A cinética de citocinas, cortisol e PCRt de acordo com a mortalidade em 28 dias é

demonstrado na Figura 3.3. O padrão de aumento é nitidamente visto nas curvas dos não-

sobreviventes para a maioria dos biomarcadores. Para a comparação com os parâmetros

clínicos, apresentamos também a evolução da leucometria total e do escore SOFA durante a

primeira semana de choque séptico.

1 3 5 70

3

6

9

12survivorsnonsurvivors

dias

SOFA

sco

re(p

onto

s)

sobreviventes não-sobreviventes

Figura 3.3 – Evolução do escore SOFA e cinética de leucócitos totais, proteína C reativa,

cortisol e citocinas ao longo dos primeiros 7 dias de choque séptico, de acordo com a

mortalidade em 28 dias. A cinética de sobreviventes é demonstrada através linhas tracejadas e

de não-sobreviventes linhas contínuas. SOFA – Sequential Organ Failure Assessment; PCR –

proteína C reativa; MIF – fator inibidor de migração de macrófagos; MCP-1 – proteína

quimioatractante de monócitos-1; MIP-1β – proteína inflamatória de macrófagos 1 beta; IL –

interleucina; IFN-γ – interferon-gama; G-CSF – fator estimulante de colônia de granulócitos.

(Continua página 51 e 52)

50

1 3 5 710000

12500

15000

17500

20000

dias

leucócitos

(por m

m3)

1 3 5 70

90

180

270

360

450

dias

PCR

1 3 5 70

25

50

75

100

125

dias

cortisol

(mcg/dl)

1 3 5 7500

1500

2500

3500

4500

5500

dias

MIF

(pg/ml)

1 3 5 70

250

500

750

1000

1250

dias

MCP-1 (pg/ml)

1 3 5 70

20

40

60

dias

MIP-1b

(pg/ml)

51

1 3 5 70

5

10

15

20

25

dias

IL-1b

(pg/ml)

1 3 5 70

5

10

15

20

25

30

35

dias

IL-5

(pg/ml)

1 3 5 70

1000

2000

3000

4000

dias

IL-6

(pg/ml)

1 3 5 70

500

1000

1500

dias

IL-8

(pg/ml)

1 3 5 70

500

1000

1500

2000

2500

dias

IL-10

(pg/ml)

1 3 5 70

10

20

30

40

dias

IL-13

(pg/ml)

1 3 5 70

250

500

750

1000

dias

IFN-gamma

(pg/ml)

1 3 5 70

600

1200

1800

dias

G-CSF

(pg/ml)

52

53

O desempenho dos biomarcadores foi comparado com a de escores aplicados

clinicamente nas UTIs, como SAPS II e SOFA. Encontramos comportamento heterogêneo

dos biomarcadores em relação à mortalidade em 28 dias, dependendo da análise dos níveis no

1º dia ou da cinética. A análise com níveis dos biomarcadores no 1º dia de choque séptico foi

semelhante à realizada anteriormente pelo nosso grupo com MIF e IL-6 (Bozza e cols., 2004)

e no sistema multiplex (Bozza e cols., 2007). Demonstrou que MIF obteve o melhor

desempenho, com AUROC 0,73 (IC95% 0,57-0,89, p=0,01), que foi muito semelhante ao

escore SAPS II (AUROC 0,73, IC95% 0,57-0,89, p=0,01). A IL-10 apresentou AUROC 0,70

(IC95% 0,53-0,86, p=0,03). O escore SOFA do 1o dia teve desempenho apenas mediano

AUROC 0.68 (IC95% 0,57-0,85, p=0,07) (Figura 3.4).

Com a análise dos valores médios e máximos durante a 1ª semana de choque séptico,

o desempenho passa a ser bom para cortisol e IL-6. Os níveis médios de cortisol

demonstraram AUROC 0,77 (IC95% 0,63-0,92, p=0,001) e os de IL-6 AUROC 0,70 (IC95%

0,54-0,86, p=0,02). Os valores de média do escore SOFA durante a 1ª semana apresentou

AUROC 0,70 (IC95% 0,56-0,84, p=0,01) (Figura 3.5).

Os níveis máximos de cortisol e IL-6 demonstraram boa performance para

mortalidade em 28 dias: cortisol AUROC 0,81 (IC95% 0,69-0,93, p<0,001) e IL-6 0,70

(IC95% 0,55-0,84, p=0,02). Nesta análise, o escore SOFA máximo da 1ª semana obteve

desempenho inferior a estes dois biomarcadores (AUROC 0,63, IC95% 0,49-0,78, p=0,10)

(Figura 3.6).

1 - especificidade

sens

ibili

dade

1 - especificidade

sens

ibili

dade

Ponto de corte S / E AUROC IC 95% p valor

MIF 3201 pg/ml 70/82 0,73 0,58-0,89 0,009

IL-8 27,3 pg/ml 85/50 0,67 0,51-0,84 0,05

IL-10 2,7 pg/ml 80/59 0,69 0,53-0,85 0,04

PCRt 192,2 mg/l 70/64 0,63 0,46-0,81 0,14

SOFA 9,5 pontos 55/68 0,63 0,46-0,80 0,15

SAPS II 52,5 pontos 70/68 0,73 0,57-0,89 0,01

Figura 3.4 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) de citocinas e escores SAPS II

e SOFA medidos no 1º dia de choque séptico para predição de mortalidade até 28 dias. O

quadro abaixo expressa pontos de corte com melhor sensibilidade e especificidade, áreas sob

a curva ROC com intervalo de confiança de 95% (IC95%) e p valor. S / E –

sensibilidade/especificidade; AUROC – área sob a curva ROC.

54

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

Ponto de corte S / E AUROC IC 95% p valor

Cortisol 38,5 µg/dl 81/68 0,773 0,63-0,91 0,001

IL-6 206,3 pg/ml 67/65 0,685 0,53-0,84 0,02

IL-8 30,9 pg/ml 76/52 0,677 0,53-0,83 0,03

PCRt 165,0 mg/l 62/68 0,642 0,47-0,81 0,08

SOFA 7,9 pontos 71/65 0,700 0,56-0,84 0,01

Figura 3.5 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) da média dos níveis de

citocinas e escores SAPS II e SOFA medidos durante a 1ª semana de choque séptico para

predição de mortalidade até 28 dias. O quadro abaixo expressa pontos de corte com melhor

sensibilidade (S) e especificidade (E), áreas sob a curva ROC com intervalo de confiança de

95% (IC95%) e p valor. S / E – sensibilidade/especificidade; AUROC – área sob a curva

ROC.

55

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

Ponto de corte S / E AUROC IC 95% p valor

Cortisol 59,3 µg/dl 76/75 0,81 0,69-0,93 <0,001

IL-6 235,9 pg/ml 81/56 0,70 0,55-0,84 0,02

PCRt 272,7 mg/l 57/69 0,61 0,45-0,78 0,17

SOFA 9,5 pontos 67/56 0,63 0,49-0,78 0,10

Figura 3.6 – Curvas Receiver Operating Characteristic (ROC) dos níveis máximos de

citocinas e escores SAPS II e SOFA medidos durante a 1ª semana de choque séptico para

predição de mortalidade até 28 dias. O quadro abaixo expressa pontos de corte com melhor

sensibilidade (S) e especificidade (E), áreas sob a curva ROC com intervalo de confiança de

95% (IC95%) e p valor. S / E – sensibilidade/especificidade; AUROC – área sob a curva

ROC.

56

57

Foi realizada análise multivariada para melhor discriminar quais os fatores

relacionados à mortalidade em 28 dias de maneira independente. Os parâmetros incluídos na

análise foram: idade; SAPS II; escore SOFA no 1º dia, médio e máximo; PCRt no 1º dia,

médio e máximo; cortisol no 1º dia, médio e máximo; MIF no 1º dia e médio; IL-6 no 1º dia,

médio e máximo; IL-8 no 1º dia, médio e máximo; IL-10 no 1º dia, médio e máximo; MCP-1

no 1º dia, médio e máximo. A fim de escolher o parâmetro que mais se diferenciou entre

sobreviventes e não-sobreviventes, foi escolhido o melhor momento de cada biomarcador (1º

dia, valor médio ou máximo). A regressão logística apontou que os níveis máximos de

cortisol (razão de chances 1,03 [IC95% 1,01-1,05]) e os níveis médios de IL-6 (razão de

chances 1,00 [IC95% 1,00-1,01]) na primeira semana foram independentemente associados

com a mortalidade em 28 dias.

3.3.2.4 - Níveis plasmáticos dos biomarcadores para mortalidade precoce (até 3dias)

A mortalidade nos primeiros 3 dias após início de choque séptico foi de 10%. Houve

aumento significativo dos seguintes biomarcadores nos pacientes não-sobreviventes no 1º dia

de choque séptico: IL-6 (1224 vs 2198 pg/ml, p=0,03); IL-8 (193 vs 1262 pg/ml, p<0,01); IL-

10 (30,7 vs 74,7 pg/ml, p=0,02); e MCP-1 (198,2 vs 538,1 pg/ml, p=0,02) (Tabela 3.9). Este

padrão visto para mortalidade precoce foi bem distinto do visto para mortalidade em 28 dias.

Para predição de mortalidade precoce o biomarcador que apresentou melhor

performance através da análise da área sob a curva ROC (AUROC) foi IL-8, com área de 0,81

(intervalo de confiança de 95% 0,64-0,98, p=0,02) (Figura 3.6). As interleucinas 6 e 10

apresentaram AUROC de 0,72 (IC95% 0,53-0,91, p=0,09) e 0,74 (IC95% 0,55-0,93, p=0,06),

respectivamente, com tendência à significância estatística. SOFA no 1º dia do choque séptico

teve desempenho ruim para mortalidade precoce AUROC de 0,58 (IC95% 0,31-0,86, p>0,2),

enquanto SAPS II apresentou AUROC 0,72 (IC95% 0,53-0,91, p=0,09), demonstrando

desempenho semelhante ou inferior às interleucinas 6, 8 e 10 (Figura 3.7).

58

Tabela 3.9 - Comparação dos níveis de citocinas, proteína C reativa e cortisol no 1º dia de

choque séptico de acordo com mortalidade precoce (menos de 3 dias). As unidades dos

valores de citocinas estão expressas em pg/ml, dos valores de cortisol em µg/dl e proteína C

reativa em mg/l.

Citocina Sobreviventes (60) Não-sobreviventes (7) p value

IL-1β 1,93 (1,44-6,29) 18,52 (1,55-114,2) 0,10

IL-5 1,86 (1,59-4,42) 1,75 (1,67-1,89) 0,66

IL-6 1224 (0-14162) 2198 (129-8228) 0,03

IL-8 193 (0-2047) 1262 (53-7268) <0,01

IL-10 30,7 (0-1082,0) 74,7 (4,8-334,5) 0,02

IL-13 1,24 (0-26.86) 61,72 (0,34-428,30) 0,20

IFN-γ 157,6 (9,1-1368,0) 1154,0 (18,2-6761,0) 0,19

MCP-1 198,2 (0-1347,0) 538,1 (62,7-1278,0) 0,02

MIP-1β 21,3 (2,5-48,4) 24,0 (0-162,1) 0,22

G-CSF 923 (0-5370) 2464 (0-11377) 0,18

MIF 2985 (218-9293) 3784 (984-5848) 0,34

Cortisol 47,5 (3,4-195.0) 47,5 (17,8-95,5) 0,99

PCRt 225,2 (26,7-1250,0) 329,9(72,0-723,1) 0,38

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

1 - especificidade

sens

ibilid

ade

Ponto de corte S / E AUROC IC 95% p valor

IL-8 105,6 pg/ml 86/72 0,84 0,71-0,97 0,004

IL-10 4,7 pg/ml 100/56 0,79 0,64-0,94 0,01

MCP-1 58,1 pg/ml 100/56 0,78 0,63-0,93 0,02

IL-6 359,1 pg/ml 86/64 0,76 0,62-0,89 0,03

SAPS II 59,5 pontos 71/74 0,74 0,55-0,92 0,04

SOFA 11,5 pontos 57/82 0,63 0,39-0,87 0,26

Figura 3.7 – Curvas Receiver Operating Characteristics (ROC) com análise de sensibilidade

e especificidade para predição de mortalidade precoce (menos de 3 dias) de pacientes com

choque séptico. O quadro abaixo expressa as áreas sob a curva ROC, com intervalo de

confiança de 95% (IC95%) e p valor. S / E – sensibilidade/especificidade; AUROC – área sob

a curva ROC.

59

60

3.3.2.5 - Correlação entre níveis plasmáticos de MIF e cortisol

A relação entre os níveis plasmáticos de MIF e cortisol no 1º dia de choque séptico foi

analisada. A princípio, não houve correlação significativa entre os níveis destes

biomarcadores no grupo total de pacientes. No entanto, como o estudo foi conduzido entre

2004 e 2009, as recomendações de tratamento de choque séptico que vigoraram durante a

maior parte deste período indicavam administração imediata com esteroides sintéticos no 1º

dia de tratamento. Trinta e nove (58%) pacientes receberam esteroides antes da primeira

coleta de plasma para o estudo. Pacientes que receberam esteroides venosos apresentaram

níveis plasmáticos ligeiramente maiores de MIF (3293 vs 2762 pg/ml, p=NS). No entanto, os

níveis de MIF plasmático só se correlacionaram positivamente nos pacientes que não

receberam esteroides venosos no 1º dia de tratamento do choque séptico (Figura 3.8).

3.3.2.6 - Correlação entre biomarcadores e escore SOFA

O escore SOFA pontua o grau de 6 disfunções orgânicas, como já explicado na

metodologia. Os níveis de biomarcadores no 1º dia de choque séptico foram correlacionados

com a pontuação deste escore também avaliado no mesmo dia. Os níveis de MIF, cortisol, IL-

8 e MP-1b foram os que obtiveram correlação significativa com o escore SOFA (Figura 3.9).

A

0 2500 5000 7500 100000

100

200

MIF (pg/ml)

cort

isol

(mcg

/dl)

B

0 2500 5000 7500 100000

100

200

MIF (pg/ml)

cort

isol

(mcg

/dl)

Figura 3.8 – Níveis plasmáticos de cortisol se correlacionaram com os níveis de MIF apenas

em pacientes com choque séptico que não receberam esteroides venosos. A – Níveis de

cortisol e MIF no 1o dia de choque séptico sem tratamento com esteroides (Pearson r=0.42,

p=0.047); B - Níveis de cortisol e MIF no 1o dia de choque séptico que usaram tratamento

com esteroides (Pearson r=-0.08, p=0.66).

61

0 5 10 15 200

2500

5000

7500

10000

SOFA

MIF

(pg/

ml)

0 5 10 15 200

50

100

150

200

250

SOFA

cort

isol

(mcg

/dl)

0 5 10 15 20

500

1500

2500

SOFA

IL-8

(pg/

ml)

0 5 10 15 200

100

200

SOFA

MIP

-1b

(pg/

ml

r = 0.41 p=0.002

r = 0.38 p=0.004

r = 0.37 p=0.005

r = 0.30 p=0.02

)

Figura 3.9 – Correlação entre o escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) e

citocinas e cortisol plasmático em pacientes com choque séptico: MIF (A), IL-8 (B), MIP-1β

(C) e cortisol levels (D). MIF e cortisol apresentaram distribuição paramétrica e se aplicou o

teste de Pearson; IL-8 e MIP-1β foram analisados com o teste de correlação de Spearman

(variáveis não-paramétricas).

62

63

3.4 – Conclusões Parciais

a. Um perfil de citocinas pode identificar com maior acurácia a gravidade e o

prognóstico de pacientes com sepse grave ou choque séptico;

b. Pacientes com choque séptico exibem níveis significativamente maiores de várias

citocinas (IL-1β, IL-6, IL-7, IL-8, IL-10, IL-13, IFN-γ e MCP-1) do que pacientes controles e

com sepse ou sepse grave;

c. Interleucinas 6, 8 e 10 e MCP-1 apresentaram alta sensibilidade e especificidade para

identificar pacientes com mortalidade precoce (menos de 3 dias);

d. MCP-1 se associou independentemente com mortalidade em 28 dias em população

mista de pacientes com sepse grave e choque séptico;

e. Os níveis de citocinas são significativamente diferentes durante a primeira semana de

choque séptico e identificamos 4 padrões de cinética (decrescente exponencial; Gaussiano;

crescente; estável);

f. Os biomarcadores de melhor desempenho para predição de mortalidade em 28 dias

são: MIF e IL-8 no 1º dia de choque séptico; média e níveis máximos de cortisol e IL-6

durante a primeira semana de choque séptico;

g. Níveis máximos de cortisol e média dos níveis de IL-6 durante a primeira semana se

correlacionaram independentemente com a mortalidade em 28 dias;

h. Os níveis de MIF, cortisol, IL-8 e MP-1β se correlacionaram significativamente com o

escore SOFA.

64

4 - Disfunção Mitocondrial em Células Mononucleares do Sangue Periférico

4.1 – Introdução

As evidências atuais apontam para a relevância da disfunção mitocondrial e

imunossupressão na patogênese da sepse. A função mitocondrial é afetada em monócitos de

pacientes com sepse (Adrie e cols., 2001; Belikova e cols., 2007), mas os mecanismos

responsáveis por esta disfunção e suas consequências clínicas ainda são desconhecidas.

Nós avaliamos a respiração mitocondrial em células mononucleares do sangue

periférico em 20 pacientes com choque séptico e 18 pacientes controles internados em 2

UTIs. As células mononucleares de pacientes com choque séptico exibiram significativa

redução da respiração induzida por adição de succinato e ADP (estado 3), que se associou

com o desfecho hospitalar e com o grau de disfunções orgânicas (escore SOFA). Apontamos

também para disfunção específica na F1Fo ATP-sintase, que foi inibida com menores doses

de oligomicina que as células de pacientes controles, enquanto as doses do inibidor do

trocador de nucleosídeos adenínicos (ANT) foram semelhantes em sépticos e controles. Este

mecanismo pode ser central na redução da capacidade bioenergética de células

mononucleares circulantes e pode contribuir para a supressão de resposta imune vista em

pacientes com Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla (SDOM) (Monnerat, 2005).

65

4.2 – Métodos

4.2.1 - Pacientes

Foram incluídos pacientes com diagnóstico de choque séptico nas primeiras 24 horas

de evolução, após obtenção de termo de consentimento livre e esclarecido de familiares e/ou

responsáveis, em 3 UTIs (Hospital Clementino Fraga Filho – UFRJ, Hospital Quinta D´Or e

Casa de Saúde São José, Rio de Janeiro, Brasil). Excluímos pacientes grávidas e menores de

18 anos.

Os critérios de SIRS/sepse estão detalhados anteriormente (Bone e cols., 1992).

Choque séptico foi definido como a presença de hipotensão persistente, apesar de reposição

volêmica adequada (40 ml/kg de soluções cristalóides ou 20 ml/kg de colóides, em 2 horas) e

necessidade de agente vasopressor para manter pressão arterial média acima de 70 mmHg. Os

dados demográficos, fisiológicos e laboratoriais foram coletados para cálculo dos escores

Simplified Acute Physiologic Score (SAPS) II no 1º dia de internação na UTI e Sequential

Organ Failure Assessment (SOFA) nas primeiras 24 horas de choque séptico (Le Gall e cols.,

1993; Vincent e cols., 1996). Dados de culturas de prováveis sítios de infecção e resultados de

microbiologia foram coletados. Os pacientes com choque séptico foram tratados de acordo

com o guideline Surviving Sepsis Campaign (primeira versão em 2004 e revisão em 2008),

incluindo reposição volêmica agressiva nas primeiras 6-12 horas de choque, antibioticoterapia

de largo espectro e início de esteroide venoso em hipotensões graves apesar de uso de

vasopressor(es). O desfecho principal foi a mortalidade hospitalar. O grupo controle se

constitui de pacientes internados nas mesmas UTIs, sem choque ou evidência de infecção;

majoritariamente foram internados para monitorização após cirurgias de médio e grande

porte.

4.2.2 – Células

Vinte mililitros de sangue total foram coletados de punção de veias periféricas. A

separação de células mononucleares de sangue periférico (PBMC) foi feita através de

gradiente de Ficoll. A seguir, o sangue foi diluído em solução de dextran 40 por 30 minutos e

o sobrenadante foi colocado por cima de solução de Ficoll-Hypaque a 100% e centrifugado

por 30 minutos, com rotação de 1050 rpm. As células mononucleares foram coletadas do

nível da coluna logo acima da solução de Ficoll, com diluição em sal balanceado de Hank

66

(HBSS) sem cálcio e magnésio, e nova centrifugação foi realizada por 8 minutos, a 1500

rotações por minuto. As células em forma de palheta eram diluídas para 2 ml de HBSS e

colocadas em recipiente com gelo (para temperatura a 0-4º C). A contaminação desta solução

com outros tipos celulares foi verificada através de citometria de fluxo com material de 1

paciente séptico e 2 controles, e neutrófilos e granulócitos representaram apenas 2,5% da

fração de células medidas. A avaliação da respiração mitocondrial era imediatamente

conduzida após isolamento de células mononucleares de sangue periférico (PBMCs).

4.2.3 – Medidas de consumo de oxigênio

A respiração mitocondrial em PBMCs foi realizada através de oxímetro com cubeta

com eletrodo de Clark (Yellow Springs Instrument, Model 5300, USA) nos experimentos de

2005 até 2008, e com oxígrafo de alta resolução (Oroboros Inc, Áustria) a partir de 2008. Para

o estudo do consumo de oxigênio, utilizamos tampão de respiração modificado (10 mM Tris-

HCl, pH 7,4, 0,32 M manitol, 5 mM fosfato inorgânico, 50 mM KCl, 4 mM MgCl2, 1 mM

ethylene glycol tetraacetic acid - EGTA), com quantidade de PBMC variável de 3,5 x 106

células a 1,0 x 107 células por cubeta e temperatura estável a 37º C. O experimento começava

com a adição através de seringa Hamilton de digitonina (0,005% w/v) para a permeabilização

de membranas celulares, rotenona (1µg/ml) para inibição do complexo I e adição de succinato

(2 mM) para dar início ao estado 2 de respiração mitocondrial. A seguir, foi adicionado ADP

(0,5 mM), e esperava-se a estabilização do fluxo de próton, atingindo o valor de consumo de

oxigênio no estado 3. Oligomicina (2 µg/ml), inibidora da atividade de F1Fo ATP sintase, foi

adicionada para induzir respiração mitocondrial tipo estado 4, que está relacionada ao escape

de prótons e redução do consumo de oxigênio. A respiração mitocondrial em PBMCs foi

essencialmente devido a atividade mitocondrial, já que era totalmente inibida após adição de

cianeto de potássio (1uM). A razão de controle respiratório foi obtida pela divisão dos

voalores de consumo de oxigênio no estado 3 pelo estado tipo 4, e indicava a integridade de

membrana interna mitocondrial (Chance e cols., 1955). Após estabilização da respiração

induzida por oligomicina, adicionamos carbonil cianeto p-(trifluorometoxi)fenilhidrazona

(FCCP) na concentração de 0,3 µM, para induzir a taxa de respiração máxima no estado

desacoplado.

Com o objetivo de acessar o conteúdo funcional de F1Fo-ATP sintase e do trocador de

nucleotídeos adenínicos (ANT), conduzimos uma titulação de oligomicina (inibidora da

F1Fo-ATP sintase) com doses de 0,5 ng/ml ou atractilosídeo (inibidor irreversível de ANT)

67

com doses de 0,25 nmol/ml após a respiração estado 3, até que houvesse estabilização da

respiração estado 4. Construímos gráficos com as taxas de respiração estado 3 contra as

mínimas doses de oligomicina ou atractilosídeo capazes de inibir totalmente a respiração

estado 4, calculando este valor com o encontro entre as curvas de respiração nos estados 3 e

4. Este cálculo estima o conteúdo funcional da F1Fo-ATP sintase e de ANT, e os valores

foram representados como ng oligomicina/ml/106 células e nmols atractilosídeo/ml/106

células (Trzcionka e cols., 2007).

4.2.4 – Análise estatística

A análise de dados foi realizada com o pacote GraphPad Prism para Windows, versão

4.0 (GraphPad Software, San Diego, USA). As variáveis clínicas foram expressas como

média e desvio padrão, o consumo de oxigênio foram expressas em barras com erro padrão de

cada condição. As comparações entre as variáveis numéricas foram realizadas através do teste

t de Student ou análise de variância (ANOVA), com pós-teste de Tukey para comparações

por pares. Correlações estatísticas entre o escore SOFA e a respiração mitocondrial nos

estados 3 e 4 foram feitas com o teste de Spearman. Significância estatística foi considerada

quando o p valor foi menor que 0,05.

68

4.3 – Resultados

4.3.1 – Características dos pacientes

Estudamos uma população de 18 pacientes em período pós-operatório (controles) e 20

pacientes com choque séptico, cujas características estão na Tabela 1. A idade foi similar nos

2 grupos, e como esperado, a gravidade de doença aguda foi maior no grupo com sepse

(SAPS II 51,5 ± 12,5 vs 27,1 ± 9,1 pontos, p<0,01). O grau geral de disfunção orgânica

também foi diferente estatisticamente, com escore SOFA no dia de estudo de 8,9 ± 3,4 pontos

nos pacientes sépticos e 1,9 ± 2,0 pontos nos pacientes controles (p<0,01). As fontes de

infecção foram abdominais em 10 pacientes sépticos, pulmonar em 7, bacteremia primária em

2 e urinária em 1 paciente. Todos os pacientes com sepse apresentavam choque no dia de

coleta de sangue, 95% usou ventilação mecânica e 46% necessitou suporte dialítico por

falência renal aguda durante a permanência na UTI. A mortalidade hospitalar foi de 50% no

grupo com choque séptico; todos pacientes do grupo controle tiveram alta hospitalar.

69

Tabela 4.1 – Características demográficas, gravidade de doença e desfecho hospitalar de

pacientes com choque séptico e controles. Variáveis contínuas foram expressas como media ±

desvio padrão.

Controle

(n = 18)

Choque Séptico

(n = 20)

Idade (anos) 70,3 ± 12,7 69,3 ± 14,0

Sexo masculino 12 11

Tipo de internação (cirúrgica/clínica) 16/2 15/5

Sítio de infecção

Abdominal

Pulmonar

Bacteremia primária

Urinário

-

-

-

-

10

7

2

1

SAPS II (pontos) 27,1 ± 9,1 51,5 ± 12,5

SOFA (pontos) 1,9 ± 2,0 8,9 ± 3,4

Ventilação mecânica 5 19

Terapia de suporte renal 0 9

Tempo de permanência na UTI (dias) 4,1 ± 3,8 22,4 ± 13,3

Mortalidade até 28 dias 0 9

Mortalidade hospitalar 0 10

70

4.3.2 – Respiração mitocondrial

Os exemplos de traçados de consume de oxigênio em paciente controle (linha cinza) e

com choque séptico (linha preta) estão na Figura 4.1A. Após permeabilização dos PBMCs, o

consumo de oxigênio acelera após a adição de ADP, porém a inclinação da reta durante

estado 3 no paciente séptico (linhas hachuradas) é menor que no controle. Entretanto, o

consumo de oxigênio durante o estado 4 e o desacoplamento são semelhantes nos 2 pacientes.

Na figura 4.1B, mostramos a quantificação da respiração mitocondrial nos PBMCs de

controles (barras brancas) e pacientes com choque séptico (barras pretas) em diferentes

estados metabólicos. Ocorre significativa redução do consumo de oxigênio induzida por

adição de ADP nos pacientes sépticos em relação aos controles (5,60 vs. 9,89 nmols

O2/min/107 células respectivamente, p<0,01). No entanto, não houve diferença entre os 2

grupos na respiração mitocondrial após adição de succinato (5,43 vs 4,09 nmols O2/min/107

células), oligomicina (1,58 vs 1,90 nmols O2/min/107 células) ou FCCP (9,78 vs 6,93 nmols

O2/min/107 células). A razão de controle respiratório foi significativamente menor no grupo

com choque séptico (controle = 7,10 vs choque séptico = 5,27, p=0,04) (Figura 4.1C).

A respiração mitocondrial de PBMCs foi significativamente diferente de acordo com o

desfecho hospitalar (Figura 4.2). Pacientes não-sobreviventes de choque séptico apresentaram

respiração mitocondrial estimulada por ADP (estado 3) sigficativamente menor que controles

e sobreviventes (não-sobreviventes=4,56 vs sobreviventes=6,64 vs controles=10,27 nmols

O2/min/107 células; p=0,004, ANOVA). Em relação à mesma análise da respiração

mitocondrial induzida por oligomicina (estado tipo 4), não houve diferença significativa entre

os grupos (controles=2,35 vs sobreviventes=1,88 vs não-sobreviventes=1,28 nmols

O2/min/107 células).

O consumo reduzido de oxigênio em PBMCs humanos se correlacionou

especificamente com o aumento do escore SOFA (Figura 4.3). O consumo de oxigênio

induzido por ADP se correlacionou negativamente com o escore SOFA do mesmo dia da

medida (Spearman r = - 0.46, p=0.005), com controles (triângulos brancos) demonstrando

maiores taxas respiratórias e menores pontuações do SOFA. Pacientes que não sobreviveram

ao choque séptico (quadrados pretos) demonstraram baixo consumo de oxigênio e alta

pontuação do escore SOFA, enquanto os sobreviventes (círculos cinzas) apresentaram

resultados híbridos. A respiração mitocondrial induzida por oligomicina não apresentou

correlação com o escore SOFA (Spearman r = - 0.12, p=0.49).

A

20 min.

50 n

mol

sO

2/mL

Sepse

Succ

ADP

oligo

FCCP

Controle

20 min.

50 n

mol

sO

2/mL

Sepse

Succ

ADP

oligo

FCCP

Controle

B C

71

0.0

2.5

5.0

7.5

10.0

12.5

cons

umo

O2

(nm

ol/m

in/1

07ce

ls)

*

succinate

C S

ADP

C S

oligo

C S

FCCP

C S 0

3

6

9

#Ta

xa d

e C

ontr

ole

Res

pira

tório

0

3

6

9

0.0

2.5

5.0

7.5

10.0

12.5

0.0

2.5

5.0

7.5

10.0

12.5

cons

umo

O2

(nm

ol/m

in/1

07ce

ls)

*

succinate

C S

ADP

C S

oligo

C S

FCCP

C S 0

3

6

9

#Ta

xa d

e C

ontr

ole

Res

pira

tório

0

3

6

9

C S

72

Figura 4.1 – Consumo de oxigênio mitocondrial associado à síntese de ATP em células

mononucleares de sangue periférico (PBMC) em pacientes com choque séptico e controles. A

– Traçados representativos de consumo de oxigênio de PBMC permeabilizados de pacientes

controle (linha cinza) e com choque séptico (linha preta), com adições de Succ (succinato) 10

mM; ADP (adenosina 5'-difosfato) 1 mM; oligo (oligomicina) 4 mg/mL; FCCP (carbonil

cianeto p-(trifluorometoxi)fenilhidrazona) 0,3 mM. As retas hachuradas indicam a taxa de

respiração estado 3 usada para comparações entre pacientes controles e com choque séptico.

B – Avaliação das taxas de consumo de oxigênio de PBMC permeabilizadas de controles (C)

(n=18, barras brancas) e pacientes com choque séptico (S) (n = 20, barras pretas) em

diferentes estados metabólicos. C – Taxa de controle respiratório (RCR) de PBMCs de

controles (n=18, barras brancas) e pacientes com choque séptico (n=20, barras pretas), obtida

pela divisão do consumo de oxigênio após adição de ADP (estado 3) pelo consumo após

oligomicina (estado tipo 4). Os dados foram expressos como barras com média ± erro padrão

para cada condição. * p<0,01 ANOVA e teste de Tukey.

3

6

9

12

73

Figura 4.2 – Consumo de oxigênio mitocondrial em células mononucleares de sangue

periférico e mortalidade hospitalar. Consumo de oxigênio de PBMCs de controles (barras

brancas), sobreviventes de choque séptico (barras cinzas) e não-sobreviventes (barras pretas)

foi verificada após estímulo com ADP (A) e oligomicina (B). As variáveis foram

representadas como barras com média ± erro padrão para cada condição. * p<0,05 ANOVA e

teste de Tukey.

cons

P(n

mol

/min

/107

cel

s)

cons

umo

O2

após

olig

o(n

mol

/min

/107

cel

s)

*

umo

O2

após

AD

3

6

9

12

3

6

9

12on

sP

(nm

ol/m

in/1

07 c

els)

cons

umo

O2

após

olig

o(n

mol

/min

/107

cel

s)

*

3

6

9

12

AD

apó

s um

o O

2c

Figura 4.3 – Correlação entre consumo de oxigênio mitocondrial em células mononucleares

de sangue periférico e escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA). Consumo de

oxigênio de PBMCs permeabilizados induzido por ADP em pacientes controles – em período

pós-operatório (triângulos brancos), sobreviventes (círculos cinzas) e não-sobreviventes

(quadrados pretos) de choque séptico foi comparado pelo teste de correlação de Spearman.

74

75

Uma análise do seguimento de 5 sobreviventes de choque séptico mostrou um

aumento de 2,9 vezes na respiração mitocondrial induzida por ADP depois de 1 semana do

início do quadro (1º dia: 4,33; 7º dia: 12,46 nmols O2/min/107 células). Houve significativa

recuperação da taxa de controle respiratório nestes 5 pacientes após 7 dias (dia 1: 2,48; dia 7:

3,52; p=0,02, teste t pareado).

Finalmente, determinamos o conteúdo do complexo F1Fo-ATP sintase funcional,

assim como de ANT nos PMBCs de pacientes controles e sépticos, através de experimentos

com adições sucessivas de oligomicina e atractilosídeo para indução do estado tipo 4. A

inibição do consumo de oxigênio de PMBCs de pacientes com choque séptico ocorreu após

adição de doses menores de oligomicina que nos pacientes controles, resultando em menores

valores da constante de dissociação (KD) nos sépticos (sépticos 0,21 vs controles 1,29;

p=0,03, valor de melhor discriminação em regressão não-linear) (Figura 4.4A). O conteúdo de

complexo F1Fo-ATP sintase, determinado pela menor quantidade de oligomicina necessária

para inibir totalmente o consumo de oxigênio após adição de ADP, foi significativamente

menor nos pacientes sépticos (0,51 vs 1,00 ng oligo/mL/106 células; p=0,02, teste t de

Student) (Figura 4.4B). O mesmo procedimento foi realizado com a inibição de ANT pelo

atractilosídeo (Figura 4.4C), porém não observamos diferenças do consumo de oxigênio

mitocondrial, com valores semelhantes de KD entre PBMCs de pacientes controles e sépticos

(0,002 vs 0,015, respectivamente). O conteúdo funcional de ANT também foi semelhante

entre controles e sépticos (controles 0,50 vs sépticos 0,26 nmols atractilosídeo/mL/106

células) (Figura 4.4D).

A B

0 1 2 3 41

10

100

controlseptic

oligomicina (ng/mL/106 cels)

% in

ibiç

ão d

e co

nsum

o O

2ap

ós A

DP

(nm

ol/m

in/1

07 c

els)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

cont

eúdo

F1F

o-A

TP s

inth

ase

(ng

olig

o/m

L/10

6ce

ls)

C S

*

0.00

0.25

0.50

0.75

cont

eúdo

AN

T(n

mol

sat

ract

ilosi

deo

/mL/

106

cels

)

0.0 0.4 0.8 1.2 1.6 2.00

20

40

60

80

100

atractilosideo (nmols/mL/106 cels)

controlseptic

C D

C S

% in

ibiç

ão d

e co

nsum

o O

2ap

ós A

DP

(nm

ol/m

in/1

07 c

els)

0 1 2 3 41

10

100

controlseptic

oligomicina (ng/mL/106 cels)

% in

ibiç

ão d

e co

nsum

o O

2ap

ós A

DP

(nm

ol/m

in/1

07 c

els)

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

cont

eúdo

F1F

o-A

TP s

inth

ase

(ng

olig

o/m

L/10

6ce

ls)

C S

*

0.00

0.25

0.50

0.75

cont

eúdo

AN

T(n

mol

sat

ract

ilosi

deo

/mL/

106

cels

)

0.0 0.4 0.8 1.2 1.6 2.00

20

40

60

80

100

atractilosideo (nmols/mL/106 cels)

controlseptic

C D

C S

% in

ibiç

ão d

e co

nsum

o O

2ap

ós A

DP

(nm

ol/m

in/1

07 c

els)

Figura 4.4 – Conteúdo funcional de F1Fo-ATP sintase e trocador de nucleotídeo adenínico

(ANT) em células mononucleares de sangue periférico. A – Titulação do consumo de

oxigênio induzido por ADP após sucessivas adições de oligomicina para alcançar estado tipo

4 em controles (círculos brancos, n=5) e pacientes com choque séptico (círculos pretos, n=9).

B – Conteúdo funcional de F1Fo-ATP sintase de PBMCs de controles (barra branca) e

pacientes sépticos (barra preta), demonstrado como quantidade de oligomicina necessária

para inibir totalmente a respiração mitocondrial no estado 3. C – Titulação do consumo de

oxigênio induzido por ADP após sucessivas adições de atractilosídeo para alcançar estado

tipo 4 em controles (círculos brancos, n=5) e pacientes com choque séptico (círculos pretos,

n=9). D – Conteúdo funcional de ANT de PBMCs de controles (barra branca) e pacientes

sépticos (barra preta), demonstrado como quantidade de atractilosídeo necessária para inibir

totalmente a respiração mitocondrial no estado 3. * p=0,02, teste Mann-Whitney.

76

77

4.4 – Conclusões Parciais

a. Ocorre redução significativa da respiração mitocondrial induzida após adição de ADP

em células mononucleares de sangue periférico de pacientes com choque séptico;

b. A respiração mitocondrial associada à síntese de ATP também se correlaciona

negativamente à gravidade de disfunções orgânicas;

c. Esta redução da respiração no estado metabólico associado à síntese de ATP é mais

acentuada em pacientes que não sobrevivem, e está associada à mortalidade hospitalar;

d. A disfunção da F1Fo-ATP sintase foi o mecanismo responsável pela redução da

respiração mitocondrial associada à síntese de ATP, demonstrada pela inibição por doses

menores de oligomicina nos pacientes com choque séptico do que em pacientes controles.

78

5 - Discussão

A sepse é a principal causa de morte nas unidades de Tratamento Intensivo ao redor

do mundo, estimando-se em 700.000 mortes anuais nos Estados Unidos e cerca de 400.000 no

Brasil (Angus e cols., 2001; Westphal 2009). O custo para cuidados de pacientes com sepse

grave no Brasil está estimado em 17 bilhões de reais por ano e cada paciente custa de 38 a 56

mil reais por internação hospitalar (Feijó e cols., 2009). Este gasto pode ser substancialmente

melhor empregado se a sepse for reconhecida adequadamente. Na fisiopatologia da sepse,

ocorre ativação sistêmica de células mediadoras de inflamação, como neutrófilos,

monócitos/macrófagos e linfócitos, com produção intensa de citocinas, mediadores lipídicos e

espécies reativas de oxigênio, associada com vasodilatação generalizada, aumento da

permeabilidade vascular e hipercoagulabilidade. As citocinas liberadas medeiam boa parte

destas alterações, seja no órgão alvo do sítio da infecção, ou em órgãos à distância. As

citocinas têm sido estudadas como biomarcadores do diagnóstico e do tratamento de

SIRS/sepse. Os biomarcadores podem auxiliar o raciocínio clínico para decisões de

manutenção ou modificação do tratamento do paciente séptico (Marshall & Reinhart, 2009).

Entre os biomarcadores mais utilizados estão o leucograma e a proteína C reativa (PCRt). O

leucograma está incluído nos critérios de SIRS propostos no início da década de 1990, e a

presença de leucopenia (abaixo de 4000/mm3) ou leucocitose (acima de 12000/mm3) ou a

presença de mais de 10% de bastões no exame provê 1 ponto do critério de SIRS. Povoa e

cols estudaram a PCRt em comparação ao leucograma para o diagnóstico de infecções na UTI

e verificaram que o diagnóstico é mais precoce cerca de 2 dias com o uso da PCRt. A PCRt

apresentou bom desempenho para o diagnóstico de infecção de pacientes internados em UTI.

As alterações do leucograma se mostraram semelhantes nos grupos com e sem infecção

(Póvoa e cols., 2005).

O sistema PIRO, proposto após reunião de consenso em 2001, inclui a avaliação de

critérios ampliados para o diagnóstico da sepse (Levy e cols., 2003). Este sistema foi criado

para ajudar na estratificação de diagnóstico e gravidade de pacientes com sepse, adaptando o

conceito do sistema TNM (tamanho do tumor, acometimento de linfonodos e presença de

metástases) para estratificação de neoplasias de órgãos sólidos. A presença de fatores

predisponentes, tipo de infecção, resposta do hospedeiro e disfunção orgânica depende

amplamente da população estudada, e existe uma lacuna de estudos que associam todos estes

parâmetros na literatura. Em relação à avaliação da resposta do hospedeiro, a inclusão de

biomarcadores como PCRt, procalcitonina e IL-6 pode tornar o diagnóstico mais específico,

79

já que os critérios de SIRS enfrentam críticas por estarem sujeitos a baixa especificidade

(Brun-Buisson e cols., 1995; Vincent, 1996). Os critérios de SIRS foram criados para tornar o

diagnóstico de sepse mais sensível, já que as definições até a década de 80 eram heterogêneas

ao redor do mundo e acarretava o reconhecimento tardio dos casos (Vincent, 1996). Porém,

ao longo dos anos, o diagnóstico de sepse passou a ser mais comum, pois houve uma

expansão do número de leitos de Tratamento Intensivo e aumento da prevalência de pacientes

em risco para sepse internados em hospitais. O contraponto mais discutido atualmente é a

baixa especificidade do diagnóstico da sepse, que pode acarretar erros de avaliação de casos

de febre ou choque de pacientes graves e também aumento do uso de antibióticos e resistência

bacteriana (Kumar, 2009). A melhora da identificação precisa de infecções no paciente grave

é um dos principais focos de pesquisa em sepse (Marshall & Reinhart 2009). Outro aspecto

avaliado no sistema PIRO é a avaliação de disfunções de órgãos e tecidos (Singh, 2006).

Disfunções cardiovascular e respiratória, expressas como choque e lesão pulmonar aguda,

respectivamente, ocorrem precocemente no quadro de sepse e aumentam o risco de

mortalidade precoce, enquanto disfunções renal e hepática aparecem após alguns dias e

predizem pior prognóstico no período de dias a semanas (Moreno e cols., 1999). A presença e

o grau de disfunções orgânicas não se correlacionam com o prognóstico com boa acurácia.

A avaliação sistematizada da aplicação do sistema PIRO em pacientes com sepse

ainda está em fase inicial. Somente após 8 anos, 3 estudos avaliaram o sistema PIRO,

validando seu uso para o prognóstico de sepse por pneumonia comunitária grave, pneumonia

associada a ventilação mecânica e em uma coorte de estudo epidemiológico da sepse grave

(Rello e cols., 2008; Lisboa e cols., 2008; Rubulotta e cols., 2009). Entretanto, em nenhum

destes estudos biomarcadores foram usados para o reconhecimento ou o prognóstico da sepse

grave. Este fato demonstra que ou não se avalia biomarcadores para diagnóstico de sepse

grave de modo sistemático nos estudos, ou ainda não se encontrou um biomarcador com bom

desempenho para este fim. Com este intuito, estudamos a avaliação de vários biomarcadores

simultaneamente para avaliar a gravidade da sepse e também seu prognóstico.

O sistema multiplex para dosagem de citocinas tem excelente eficiência para detecção

em amostras clínicas (Vignali, 2000). Em nosso estudo, a dosagem simultânea de 17 citocinas

em pacientes com diagnóstico recente de sepse grave e choque séptico identificou níveis

detectáveis em 69% das amostras, com melhor desempenho para IL-6, IL-8, IL-10 e MCP-1

(detectados em mais de 95% dos ensaios) (Bozza e cols., 2007). No estudo de cinética, IL-1β,

IL-5, IL-6, IL-8, IL-10, IL-13, IFN-γ, MIP-1β, G-CSF e MCP-1 foram detectados em mais de

90% das amostras. De modo geral, o aproveitamento de detecção de citocinas por este método

80

é igual ou superior a dosagem por técnicas tradicionais como ELISA. A eficácia do uso desta

técnica supera o uso de ELISA, pois permite a dosagem simultânea de um painel de 17

citocinas aliada à necessidade de pequenas alíquotas de amostras clínicas. Citocinas como

TNF-α, que estão associadas a alterações na sepse murina, são detectados em taxas menores

que 50% no plasma de pacientes sépticos (Marks e cols., 1990; Abraham e cols., 1998).

Verificamos também que as citocinas se comportaram de maneira heterogênea de

acordo com os desfechos analisados (correlação com disfunções orgânicas, mortalidade

precoce ou em 28 dias). A mortalidade precoce se associou com níveis elevados de IL-6, IL-

8, IL-10 e MCP-1, que apresentaram desempenho para predição deste desfecho melhor que os

escores de risco SAPS II e SOFA medido no 1º dia de choque séptico. Quando se analisa a

mortalidade em 28 dias, os melhores desempenhos são do MIF no 1º dia de choque séptico,

nível médio e máximo de cortisol e médio de IL-6 durante a primeira semana de choque

séptico. E os níveis de MIF, cortisol, IL-8 e MP-1b se correlacionaram significativamente

com o escore SOFA.

Estas citocinas também foram comparadas no nosso estudo com biomarcadores

aplicados na prática clínica como a PCRt. Os níveis de PCRt do 1º dia de choque séptico, a

média e o máximo da primeira semana foram maiores em pacientes que faleceram até 28 dias,

porém a sensibilidade e especificidade para mortalidade em 28 dias foram inferiores de outros

biomarcadores, como IL-6, IL-8 e cortisol plasmático. Outros estudos avaliaram isoladamente

PCRt ou procalcitonina (PCT), e verificaram que seus níveis estão aumentados em pacientes

com sepse grave, se dispondo para diagnóstico de infecção em pacientes graves (Luzzani e

cols., 2003; Povoa e cols., 2005). Mas o desempenho destes biomarcadores para o

prognóstico é ruim, principalmente porque sua especificidade é baixa (em torno de 45-50%)

(Clech e cols., 2004; Silvestre e cols., 2009). Algumas citocinas foram usadas como

marcadoras de diagnóstico e prognóstico de pacientes com sepse grave, como no estudo

Recombinant Human Protein C Worldwide Evaluation in Severe Sepsis (PROWESS), que

avaliou o tratamento de pacientes com sepse grave com APC recombinante. Os níveis séricos

de IL-6 se correlacionaram com o escore APACHE II e a mortalidade hospitalar (Bernard e

cols., 2001). Presneill e cols verificaram que os níveis de G-CSF estão muito elevados na

sepse e no choque séptico e são significativamente maiores que em pacientes sem sepse, mas

não prediz mortalidade (Presneill e cols., 2000). O GM-CSF não foi detectado na maioria dos

pacientes neste estudo. Isto aponta que talvez o G-CSF seja útil no diagnóstico, mas não na

predição de prognóstico. Níveis elevados de IL-4 também estavam presentes em pacientes

com sepse grave, porém seu desempenho de predição de prognóstico não foi satisfatório (Wu

81

e cols., 2008). Outros autores demonstraram que IL-8 medida no 1º dia de diagnóstico de

sepse se associou com a mortalidade em 28 dias, com melhor desempenho que o escore

APACHE II e que IL-6, IL-10 e IL-12 (Livaditi e cols., 2007). A nossa avaliação com várias

citocinas e PCRt permitiu a comparação com um biomarcador de uso amplo na prática diária

dos cuidados de pacientes graves.

O melhor desempenho com a análise dos níveis de biomarcadores no 1º dia de choque

séptico para marcar a mortalidade em 28 dias foi do MIF. Os níveis de MIF foram úteis na

identificação de pacientes com sepse, já que estava em níveis significativamente menores em

pacientes controles. MIF permitiu também a estratificação de gravidade, com níveis ainda

maiores em pacientes não-sobreviventes. Quando se comparou os níveis de MIF com o escore

SOFA (Figura 3.1), verificou-se grande semelhança das diferenças entre controles e pacientes

sépticos sobreviventes e não-sobreviventes. Um estudo anterior do nosso grupo já havia

demonstrado que os níveis de MIF são gradativamente maiores quanto maior a gravidade da

sepse (Bozza e cols., 2004). Seu desempenho foi melhor em relação ao prognóstico, com

AUROC de 0,79, enquanto a IL-6 apresentou AUROC 0,68 para mortalidade hospitalar. No

estudo de avaliação de cinética, a diferença dos níveis de MIF no 1º dia de choque séptico

marcaram a mortalidade em 28 dias, corroborando achados de estudos prévios. No entanto, a

cinética de MIF foi muito semelhante entre sobreviventes e não-sobreviventes, com curvas

estáveis durante a 1ª semana de choque séptico. Possíveis explicações para este fato são que

os estímulos para a liberação de MIF permaneçam aumentados durante um período

prolongado, como por exemplo níveis elevados de cortisol ou tratamento com esteroides

venosos (Maxime e cols., 2005; Emonts e cols., 2007). A quase totalidade dos pacientes na

nossa coorte recebeu esteroides sintéticos para o tratamento do choque séptico (58% no

primeiro dia do diagnóstico). Nossos resultados são antagônicos a outro estudo que

demonstrou uma cinética crescente de MIF nos 2 primeiros dias de sepse grave prediz

mortalidade em 3 e 7 dias (Chuang e cols., 2007). Verificamos que a cinética de cortisol

também foi marcada por níveis altos e estáveis, principalmente nos não-sobreviventes, e que

os níveis de MIF e cortisol no início do quadro estavam positivamente correlacionados (nos

pacientes sem tratamento com esteroides). O uso de esteroides sintéticos é uma explicação

para o aumento discreto dos níveis de MIF nos sobreviventes nos dias 5 e 7 após início do

choque séptico. Os níveis de MIF no 1º dia de choque séptico apresentaram sensibilidade de

70% e especificidade de 82% para o ponto de corte de 3201 pg/ml, e AUROC 0,73 para

mortalidade em 28 dias, e foi melhor que os escores SAPS II e SOFA, IL-6 e PCRt.

82

A cinética de citocinas durante a evolução da sepse grave demonstrou 4 padrões

distintos. Interleucinas 1, 5 e 10, MIP-1β e MCP-1 se comportaram com níveis elevados até o

3º dia, com posterior queda significativa. Um padrão de queda exponencial a partir do 1º dia

foi visto com IL-6, IL-13, IFN-γ e G-CSF. Níveis estáveis de MIF e crescentes de IL-8

completaram os diferentes perfis durante a 1ª semana de choque séptico. Estudos recentes

demonstraram cinéticas de algumas citocinas durante o início do acompanhamento de

pacientes com sepse. Oda e colaboradores demonstraram cinética de queda exponencial de

IL-6 durante a primeira semana de sepse, com queda mais rápida em pacientes que

sobrevivem (Oda e cols., 2005). Eles também correlacionaram os níveis de IL-6 com o escore

SOFA e os níveis séricos de plaquetas. Van Zoelen e cols demonstraram que os níveis da

citocina High Mobility Group Box-1 (HMGB1) estão elevados em pacientes sépticos com

pneumonia e peritonite nos dias 1 e 4 de acompanhamento, e esta citocina se correlacionou

com IL-6, IL-8 e IL-10 nas medidas de cinética (Van Zoelen e cols., 2007), que

permaneceram em níveis elevados durante as primeiras 72 horas da sepse. Oberholzer e cols

(2005) mediram os níveis de¨TNF-α, receptor solúvel de TNF (TNFR), e interleucinas 6, 8 e

10 por 4 dias em coorte de 124 pacientes após o início de sepse grave, e somente IL-6 foi

preditora independente de mortalidade. Porém neste estudo, as variações temporais de

cinética das citocinas não se alteraram significativamente neste período, talvez pelo curto

tempo de observação, já que algumas citocinas aumentaram até o 3º dia na nossa coorte. A

cinética de IL-6 no nosso estudo, por exemplo, apresentou queda exponencial em

sobreviventes, enquanto permaneceu elevada até o 3º dia em não-sobreviventes (Figura 3.3).

Os estudos com avaliação de cinética mais prolongada são escassos e corroboram

parcialmente nossos resultados. Maier e cols (2007) mediram semanalmente TNF-α, IL-6, IL-

8, IL-10 e TNFR no plasma de 352 pacientes com politrauma grave em vários hospitais da

Alemanha. Os níveis destas citocinas se associaram com a evolução da SDOM tardiamente, e

IL-6 e TNFR se associaram com mortalidade hospitalar. Não houve diferenças nas cinéticas

de IL-6, IL-8 e IL-10 entre sobreviventes e não-sobreviventes na 1ª semana após o trauma

grave, embora IL-6 tenha aumentado em torno do 4º dia nos não-sobreviventes. A dosagem

de citocinas foi realizada duas vezes na primeira semana e apenas uma vez por semana

posteriormente, não caracterizando a visualização de uma cinética detalhada. Os autores

recomendaram o uso de IL-6 e TNFR para prever o aparecimento de SDOM tardiamente. Wu

e cols (2009) estudaram a cinética de IL-6, IL-10, IL-12, transforming growth factor beta 1

(TGFβ-1) e IFN-γ durante a 1ª semana em 76 pacientes com sepse grave, dos quais menos

que 50% tinha choque séptico. A interleucina 6 foi associada com a presença de choque e IL-

83

10 foi associada independentemente com mortalidade. Medidas iniciais e cinéticas das outras

citocinas neste estudo não se diferenciaram entre sobreviventes e não-sobreviventes. Existem

diferenças entre estes 2 estudos e os nossos resultados. Nossa coorte incluiu pacientes mais

graves, o que torna os resultados mais significativos em população mais homogênea (todos

tinham choque séptico). O painel de biomarcadores no nosso trabalho é mais amplo, e inclui

biomarcadores aplicados no dia-a-dia na UTI, como PCRt, e também o cortisol, que está

envolvido no eixo imunoendócrino ativado na sepse. Outra diferença é na forma de analisar

os resultados. Traçamos um paralelo entre análises bem conhecidas de evolução do escore

SOFA para disfunções orgânicas e o prognóstico de pacientes com sepse. Ferreira e cols

(2001) estudaram valores do escore SOFA durante a internação de pacientes em UTIs gerais e

verificaram que a média de SOFA de todos os dias de internação e o valor máximo do escore

apresentaram melhor predição de mortalidade que o SOFA do 1º dia de acompanhamento.

Fizemos estas análises para todos os biomarcadores, assim como para o escore SOFA.

Encontramos resultados significativamente heterogêneos se a análise é realizada apenas com

dados do 1º dia de choque séptico (como na maioria dos estudos com biomarcadores na

sepse) ou com os valores médios e máximos durante a evolução na 1ª semana. É possível que

interações entre os diversos biomarcadores sejam mais elucidativas que a análise isolada de

cada um para com o desfecho. Para isso, seria necessário fazer análise combinatória entre os

vários parâmetros, para explorar amplamente todas as possibilidades. Uma opção é calcular a

relação entre duas ou mais citocinas (Mainer e cols., 2007). Fizemos a análise da relação entre

os valores de IL-6 e IL-10, partindo do princípio que pacientes com maior relação teria

padrão predominantemente pró-inflamatório e aqueles com menor relação teriam padrão anti-

inflamatório, porém não obtivemos resultados significativos. Isto é demonstrado pelos

gráficos de cinética, nos quais citocinas pró-inflamatórias apresentaram padrão semelhante de

cinética que as anti-inflamatórias.

Finalmente, os melhores desempenhos para os valores de cinética para predição de

mortalidade em 28 dias foram de cortisol plasmático. Nossos resultados são semelhantes aos

vistos em outros estudos. Melby e Spink (1958) já haviam demonstrado que o cortisol sérico é

significativamente maior em pacientes que morrem de choque séptico há 5 décadas. Annane e

cols (2000) demonstraram que pacientes sépticos com cortisol sérico maior que 34 µg/dl

apresentavam maior mortalidade, principalmente se não havia aumento do cortisol após

administração de análogo de ACTH, indicando disfunção adrenal. O cortisol é marcador de

gravidade e mortalidade em pacientes com pneumonia comunitária grave (Christ-Crain e

cols., 2007; Salluh e cols., 2008b). No estudo de Salluh e cols., o cortisol sérico no início da

84

internação para tratamento de pneumonia apresentou melhor desempenho (AUROC 0,77)

para mortalidade do que os escores APACHE II e o CURB-65 (escore que avalia confusão

mental, ureia plasmática, taquipneia, hipotensão arterial e idade superior a 65 anos) e

biomarcadores como PCRt e D-dímero. No nosso trabalho, o cortisol plasmático foi o

biomarcador com melhor desempenho com a análise dos valores médios e máximos durante a

1ª semana de choque séptico e foi independentemente associado à mortalidade em 28 dias.

O painel analisado no nosso estudo é a oportunidade de associar desfechos clínicos,

como a gravidade de disfunções orgânicas e a mortalidade, com diferentes padrões de

biomarcadores. Citocinas como IL-6 e IL-8 são boas preditoras da evolução para SDOM e

morte até 3 dias do diagnóstico de choque séptico. Outros marcadores são preditores de

prognóstico, tanto no primeiro dia de sepse (MIF), quanto durante a primeira semana (cortisol

e IL-6). A associação de alguns destes biomarcadores aos escores prognósticos já utilizados

no dia-a-dia nas UTIs pode elevar o desempenho de risco para SDOM e mortalidade.

A sepse está associada com alterações metabólicas e existem evidências que apontam

um papel crítico da atividade mitocondrial na patogênese da SDOM (Crouser e cols., 2006;

Belikova e cols., 2007; D´Ávila e cols., 2008). A disfunção mitocondrial pode ocorrer por

alterações da atividade de complexos da cadeia fosforilativa, dissipação do gradiente de

elétrons e desacoplamento da fosforilação oxidativa. Estas alterações parecem acontecer em

diferentes graus em diferentes tecidos. Por exemplo, no tecido cerebral as alterações de fluxo

de elétrons e de desacoplamento da respiração já foram demonstradas experimentalmente

(D`Ávila e cols., 2008). No tecido muscular, complexos I e IV estão em concentração

reduzida em pacientes com sepse grave (Brealey e cols., 2002; Fredriksson e cols., 2006). O

controle estrito da glicemia teve influência na arquitetura e na concentração de complexo IV

de hepatócitos de pacientes com sepse grave (Vanhorebeek e cols., 2005).

Estudos recentes associaram critérios de disfunção celular ou de tecidos com a

redução da atividade bioenergética vista na sepse grave. A redução da respiração mitocondrial

em estado 3 (induzida após adição de ADP) em PBMCs de voluntários saudáveis ocorreu

quando se incubou estas células com o plasma de pacientes com sepse grave, ao passo que a

expressão de antígeno HLA-DR também foi significativamente reduzida em monócitos de

pacientes sépticos (Belikova e cols., 2007). A fraqueza muscular generalizada decorrente de

polineuromiopatia também foi associada a redução de complexos mitocondriais I e IV e de

ATP em músculos intercostais e de perna (Fredriksson e cols., 2006). No entanto, a

correlação funcional de alterações mitocondriais com parâmetros clínicos e mortalidade não

foi analisada. Isto se deve talvez pela dificuldade de conseguir amostras de tecidos de

85

pacientes sépticos sem métodos invasivos, como biópsia de tecidos. A nossa escolha pelo

estudo de células mononucleares circulantes se impôs pela facilidade em acessá-las através de

punção venosa periférica, além de saber que elas podem participar da patogênese da

“imunoparalisia”, que deixa os pacientes com sepse grave mais predispostos a infecções

secundárias durante o decorrer de dias a semanas (Monnerat, 2005). Nossos resultados

mostraram que PBMCs de pacientes com choque séptico apresentaram redução significativa

da respiração mitocondrial no estado 3, que se inicia quando se adiciona ADP e expressa o

estado metabólico para síntese de ATP. Este resultado foi obtido com a comparação de

PBMCs de pacientes igualmente internados em UTI, em período recente de pós-operatórios

(24-48 horas). Curiosamente, a respiração mitocondrial nos outros estados metabólicos

(estado 2 após adição de succinato e estado 4 após oligomicina) não foi diferente entre células

de controles e sépticos. Isto indica que a principal alteração na respiração mitocondrial em

PBMCs está no estado associado à síntese de ATP. E esta alteração ocorre nas primeiras 24

horas após início do choque séptico, e pode ser um dos estímulos mais precoces para a gênese

da SDOM. Já havia evidência de redução do estado 3 em PBMCs, com incubação de células

de voluntários sadios com plasma de pacientes com sepse grave (Belikova e cols., 2007). Este

mesmo trabalho mostrou a presença de desacoplamento da respiração mitocondrial, após

adição de FCCP, entretanto as evidências são indiretas, já que, além de células de voluntários

saudáveis, o resultado estatístico foi obtido através de alteração da taxa de respiração

mitocondrial com porcentagem entre antes e depois da adição de FCCP. Nossos resultados

demonstram que não há alteração de desacoplamento energético, já que o nível de consumo

de oxigênio volta ao nível da respiração estado 3 tanto em pacientes sépticos quanto em

controles (Figura 4.1). A “saúde” mitocondrial, expressa pela relação entre estado 3 e 4,

também se mostrou significativamente reduzida em PBMCs sépticos.

A respiração mitocondrial no estado metabólico para síntese de ATP foi associada ao

grau de disfunções orgânicas e à mortalidade hospitalar. Quanto menor o consumo de

oxigênio após adição de ADP, maior o escore SOFA na população estudada (Figura 4.3).

Vemos de maneira clara que pacientes controles estão concentrados na parte esquerda do

gráfico, com maior consumo de oxigênio induzido por ADP e menores escores SOFA,

enquanto os pontos de pacientes sépticos que morreram estão na parte direita do gráfico, com

maior SOFA e menor consumo de oxigênio. Existe heterogeneidade de resultados entre os

pacientes com choque séptico que sobreviveram. Esta correlação entre disfunções orgânicas e

medidas de estruturas ou atividade mitocondrial foram feitas anteriormente com focos

diferentes. Brealey encontrou correlação entre as doses de noradrenalina usada no tratamento

86

do choque séptico e os níveis de complexo I mitocondrial em células musculares (Brealey e

cols., 2002). Níveis de complexos I e IV reduzidos se associaram à menor força muscular

respiratória em pacientes com ventilação mecânica (Fredriksson e cols., 2006).

O consumo de oxigênio induzido por ADP foi decrescente na análise da Figura 4.2,

quando se analisa pacientes controles, sobreviventes e não-sobreviventes, com diferença

significativa entre os 3 subgrupos (p<0,05, ANOVA). Em apenas 5 pacientes que

sobreviveram à sepse, a taxa de controle respiratório aumentou significativamente após 1

semana, indicando melhora na eficiência para síntese de ATP, porém sem comparação ainda

em pacientes que sobreviveram por 1 semana, mas faleceram no seguimento do estudo. A

biogênese mitocondrial é reconhecida como um mecanismo de reparo de processos

patológicos, porém sem evidências na sepse e na SDOM até o momento (Nisoli e cols., 2003;

Protti e cols., 2006).

A redução no consumo de oxigênio induzido por ADP em células mononucleares de

sangue periférico de pacientes sépticos foi causada pela disfunção da F1Fo-ATP sintase. O

estado metabólico 3, no qual ocorre síntese de ATP, é modulado pela função da enzima F1Fo-

ATP sintase e pela quantidade de substratos ADP e fosfato transportados para o citossol

mitocondrial pelo ANT e carreador de fosfato, respectivamente. Conduzimos experimento

com titulação de inibidores destas vias, com exceção do carreador de fosfato que não tem

inibidor específico atualmente, para apontar o provável mecanismo responsável pela redução

do estado 3 no choque séptico (Figura 4.4). Adições repetidas de pequenas doses de

oligomicina (inibidor da F1Fo-ATP sintase) e atractilosídeo (inibidor do ANT) foram

realizadas para encontrar a dose mínima destes para suprimir o consumo de oxigênio induzido

após ADP. O conteúdo funcional de ANT foi semelhante nos 2 grupos, enquanto o conteúdo

de F1Fo-ATP sintase foi significativamente menor em células mononucleares de sangue

periférico de pacientes com choque séptico. A representação esquemática dos mecanismos de

disfunção mitocondrial em células mononucleares de sangue periférico de pacientes com

choque séptico está na Figura 5.1.

Este resultado corrobora achado de proteômica de voluntários após injeção de LPS,

nos quais os genes envolvidos na fosforilação oxidativa, como da F1Fo-ATP sintase, têm

expressão reduzida (Calvano e cols., 2005). Alguns componentes da fosforilação podem ser

inibidos em condições de estresse oxidativo (Kantrow e cols., 2000). Doenças inflamatórias

podem influenciar na respiração mitocondrial através de mediadores, como as citocinas. A

adição de citocinas pode promover a inibição da F1Fo-ATP sintase em modelos

experimentais in vitro com adição de TNF-α (Shchepina e cols., 2002; Cortés-Hernández e

cols., 2005; Samavati e cols., 2008) e IL-6 (Berthiaume e cols., 2003).

ciclo de Krebs

espaço intermembrana

matriz

potencial transmembrana

ANT

ADP?

ATP

UCP

perfusãotecidual

hidrólise ATP ?

?

NO

Figura 5.1: Representação esquemática do mecanismo proposto pelo qual o choque séptico

causa disfunção mitocondrial em PBMCs. O retângulo amarelo representa a F1Fo-ATP

sintase, que apresenta conteúdo funcional reduzido. As setas vermelhas indicam possíveis

mecanismos que ainda permanecem desconhecidos para a respiração mitocondrial de PBMCs

na sepse. A participação de proteínas desacopladoras (UCP) e do conteúdo funcional do

trocador de nucleotídeos adenínicos (ANT) permanece inconclusiva. Os complexos da cadeia

transportadora de elétrons geram gradiente de prótons (H+) através da membrana interna

usando oxigênio como ponte de elétrons. Os números em romano indicam a classificação dos

complexos da cadeia fosforilativa. UQ, ubiquinona; Cyt c, citocromo c; F1Fo, F1Fo ATP

sintase; FAD – dinucleotídeo flavina e adenina; NAD – dinucleotídeo nicotinamida e adenina;

ADP – adenosina difosfato; ATP – adenosina trifosfato.

87

88

A perda do potencial de membrana mitocondrial já foi mostrada em casos de sepse

grave na fase mais tardia, que é correlacionada com o aparecimento de marcadores de

apoptose (Adrie e cols., 2001). O aumento da apoptose de PBMCs, especificamente

linfócitos, foi demonstrada em grupo de pacientes com sepse grave (Hotchkiss e cols., 2005).

A correlação entre a funcionalidade da maquinaria de fosforilação oxidativa mitocondrial e a

sinalização intracelular a partir de estímulo inflamatório ainda não foi explorada. É sabido

que a IL-6 tem ação indireta na inibição da F1Fo-ATP sintase através da sinalização a partir

de receptores celulares com tirosina quinase (Berthiaume e cols., 2003), mas as ações de

outros citocinas, como MIF e MCP-1 que estão associadas a maior mortalidade na sepse

grave, ainda não foram estudadas. A análise conjunta entre citocinas e atividade mitocondrial

dos nossos pacientes proporcionaram apenas correlação com tendência a significância

estatística de MIF com respiração mitocondrial no estado 3 (p=0,056; r=0,30). Interpretamos

que o tamanho da população para esta análise de correlação ainda é pequena, mas pode ser

promissora. Estudos experimentais podem ser conduzidos no sentido de entender o quanto a

sinalização intracelular após estímulos inflamatórios e infecciosos pode influenciar a

atividade mitocondrial. Atualmente a sinalização mais conhecida é de ativação de caspases

por citocromo c liberado por mitocôndrias, com ativação de apoptose (Hotchkiss e cols,

2005).

Nossos resultados são pioneiros na demonstração funcional da fosforilação de ADP

mitocondrial em células imunes de pacientes sépticos. No entanto, devemos aprofundar o

conhecimento sobre a disfunção da enzima F1Fo-ATP sintase em PBMCs com estudos

quantitativos da enzima nas células mononucleares circulantes (Western blot). Sabemos que o

conteúdo funcional está reduzido, mas resta saber se ocorre deficiência quantitativa ou

qualitativa, e verificar o peso destas alterações. Os experimentos com atractilosídeo, inibidor

do ANT, foram inconclusivos em relação à inibição da respiração mitocondrial, mesmo

usando doses muito pequenas sem diferenças entre pacientes sépticos e controles. Não se sabe

se o conteúdo deste trocador está reduzido em estados inflamatórios ou outro fator pode inibir

seu funcionamento in vitro.

A medida de concentrações de complexos da cadeia fosforilativa ficou limitada neste

estudo. A quantidade de células, e consequentemente o isolamento de mitocôndrias, é

limitada pela coleta de sangue, que se exagerada pode depauperar a condição clínica de

pacientes com choque. Trabalhos que utilizam amostras de tecidos têm a vantagem de isolar

mitocôndrias ou adquirir grande quantidade de células e dosar complexos e produtos de

mitocôndrias (Brealey e cols, 2002; Vanhorebeek e cols., 2005; Fredrikssen e cols., 2006).

89

Com o uso de oxígrafo de alta resolução a partir da segunda metade do nosso trabalho, passou

a ser possível armazenar parte das células extraídas de sangue total dos pacientes e

possibilitará a complementação destas medidas.

O cálculo de consumo de oxigênio em PBMCs intactos (sem permeabilização) pode

apontar para diferenças no uso de oxigênio entre pacientes sépticos e controles; as figuras que

mostram consumo de oxigênio sugerem haver alguma redução no consumo de oxigênio,

mesmo no estado 2 ou 4, embora seja muito mais visível no estado 3. A utilização de

oxigênio por mitocôndrias de PBMCs de pacientes sépticos pode ser deficiente por

mecanismos ainda desconhecidos.

A evolução da respiração mitocondrial ao longo do tempo pode identificar correlações

clínicas com determinadas disfunções orgânicas específicas e desfecho; temos dados de

recuperação clínica com aumento da respiração e na taxa de controle respiratório, mas não

sabemos se a ausência da recuperação nesta taxa também prediz ou acompanha prognóstico

ruim em não-sobreviventes. Não afastamos a participação de radicais livres de oxigênio na

inibição da F1Fo-ATP sintase, embora a respiração após adição de FCCP não aponte para

diferenças de desacoplamento energético entre controles e pacientes sépticos.

O tamanho amostral de 70 pacientes é comum a outros estudos (Oda e cols., 2005;

Bozza e cols., 2007; Wu e cols., 2009) e limita de certa forma alguns resultados. Este

tamanho amostral é relativamente pequeno para aprofundar certas análises de correlação com

disfunções orgânicas específicas, porque a variância dos resultados de alguns biomarcadores,

como IL-6 e MCP-1, é alta, diferentemente de estudos experimentais com animais isogênicos.

Nós transformamos alguns valores de citocinas para unidade logarítmica para poder analisar e

homogenizar os resultados (Bozza e cols., 2007).

Finalmente, espera-se que nossos resultados contribuam para o melhor conhecimento

de fisiopatologia da sepse grave, melhorem a acurácia do diagnóstico e da avaliação da

gravidade do quadro de sepse e possibilitem o entendimento mais amplo da evolução da

Síndrome de Disfunção Orgânica Múltipla associada à sepse.

90

6 - Conclusões finais:

- Um perfil temporal de citocinas ampliou o conhecimento de fisiopatologia da sepse em

relação a aspectos clínicos como disfunções orgânicas e mortalidade;

- Citocinas e outros biomarcadores apresentam quatro padrões de cinética durante a primeira

semana após início de choque séptico, o que corresponde a diferentes aplicações clínicas para

diagnóstico, gravidade e prognóstico de pacientes com choque séptico;

- Encontramos biomarcadores preditores de mortalidade precoce (IL-6, IL-8, IL-10 e MCP-1)

e mortalidade em 28 dias (MIF, cortisol e IL-6);

- Células mononucleares circulantes de pacientes com choque séptico apresentam disfunção

mitocondrial, que se correlaciona com a gravidade das disfunções orgânicas e mortalidade

hospitalar;

- A redução do conteúdo funcional da F1Fo-ATP sintase é o mecanismo responsável pela

disfunção mitocondrial em células mononucleares circulantes de pacientes com choque

séptico.

91

Referências bibliográficas

Abraham E, Anzueto A, Gutierrez G, Tessler S, San Pedro G, Wunderink R, Nogare A, Nasraway S, Berman S, Cooney R, Levy H 1988. Double-blind randomised controlled trial of monoclonal antibody to human tumour necrosis factor in treatment of septic shock – NORASEPT II. Lancet 351: 929-933.

Adrie C, Bachelet M, Vayssier-Taussat M, Russo-Marie F, Bouchaert I, Adib-Conquy M, Cavaillon JM, Pinsky MR, Dhainaut JF, Polla BS 2001. Mitochondrial membrane potential and apoptosis peripheral blood monocytes in severe human sepsis. Am J Respir Crit Care Med 164: 389-395.

Adrie C, Alberti C, Chaix-Couturier C, Azoulay E, De Lassence A, Cohen Y, Meshaka P, Cheval C, Thuong M, Troché G, Garrouste-Orgeas M, Timsit JF 2005. Epidemiology and economic evaluation of severe sepsis in France: age, severity, infection site, and place of acquisition (community, hospital, or intensive care unit) as determinants of workload and cost. J Crit Care 20:46-58.

Alberti C, Brun-Buisson C, Burchardi H, Martin C, Goodman S, Artigas A, Sicignano A, Palazzo M, Moreno R, Boulmé R, Lepage E, Le Gall R 2002. Epidemiology of sepsis and infection in ICU patients from an international multicentre cohort study. Intensive Care Med 28:108-121.

Alberti C, Brun-Buisson C, Goodman SV, Guidici D, Granton J, Moreno R, Smithies M, Thomas O, Artigas A, Le Gall J 2003. Influence of systemic inflammatory response syndrome and sepsis on outcome of critically ill infected patients. Am J Respir Crit Care Med 168:77-84.

Angus DC, Linde-Zwirble WT, Lidicker J, Clermont G, Carcillo J, Pinsky MR 2001. Epidemiology of severe sepsis in the United States: Analysis of incidence, outcome, and associated costs of care. Crit Care Med 29:1303-1310.

Annane D, Sébille V, Troché G, Raphaël JC, Gajdos P, Bellissant E 2000. A 3-level prognostic classification in septic shock based on cortisol levels and cortisol response to corticotropin. JAMA 283:1038-1045.

Annane D, Sebille V, Charpentier C, Bollaert PE, Francois B, Korach JM, Capellier G, Cohen Y, Azoulay E, Troché G, Chaumet-Riffaud P, Bellissant E 2002. Effect of treatment with low doses of hydrocortisone and fludrocortisone on mortality in patients with septic shock. JAMA 288:862-871.

Annane D, Aegerter P, Jars-Guincestre MC, Guidet B 2003. Current epidemiology of septic shock: the CUB-Rea Network. Am J Respir Crit Care Med 168:165-172.

Annane D, Maxime V, Ibrahim F, Alvarez JC, Abe E, Boudou P 2006. Diagnosis of adrenal insufficiency in severe sepsis and septic shock. Am J Respir Crit Care Med 174:1319-1326.

Bacher M, Meinhardt A, Lan HY, Mu W, Metz CN, Chesney JA, Calandra T, Gemsa D, Donnelly T, Atkins RC, Bucala R 1997. Migration inhibitory factor expression in experimentally induced endotoxemia. Am J Pathol 150:235-246.

Baggiolini M, Dewald B, Moser B 1997. Human chemokines: an update. Annu Rev Immunol 15:675-705.

92

Ballester JCA, Ballester F, González Sánchez A, Almela Quilis A, Colomer Rubio E, Peñarroja Otero C 2008. Epidemiology of sepsis in the Valencian Community (Spain), 1995-2004. Infect Control Hosp Epidemiol 29:630-634.

Barichello T, Fortunato JJ, Vitali AM, Feier G, Reinke A, Moreira JC, Quevedo J, Dal-Pizzol F 2006. Oxidative variables in the rat brain after sepsis induced by cecal ligation and perforation. Crit Care Med 34:886-889.

Barton BE 1997. IL-6: insights into novel biological activities. Clin Immunol Immunopathol 85:16-20.

Beale R, Reinhart K, Brunkhorst FM, Dobb G, Levy M, Martin G, Martin C, Ramsey G, Silva E, Vallet B, Vincent JL, Janes JM, Sarwat S, Williams MD 2009. Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis (PROGRESS): lessons from an international sepsis registry. Infection 37:222-232.

Belikova I, Lukaszewicz AC, Faivre V, Damoisel C, Singer M, Payen D 2007. Oxygen consumption of human peripheral blood mononuclear cells in severe human sepsis. Crit Care Med 35: 2702-2708.

Bernard GR, Vincent JL, Laterre PF, LaRosa SP, Dhainaut JF, Lopez-Rodriguez A, Steingrub JS, Garber GE, Helterbrand JD, Ely EW, Fisher CJ Jr 2001. Efficacy and safety of recombinant human activated protein C for severe sepsis. N Engl J Med 344:699-709.

Bernard N, Matecki S, Py G, Lopez S, Mercier J, Capdevila X 2003. Effects of prolonged mechanical ventilation on respiratory muscle ultrastructure and mitochondrial respiration in rabbits. Intensive Care Med 29:111-118.

Beishuizen A, Thijs LG, Haanen C, Vermes I 2001. Macrophage Migration Inhibitory Factor and Hypothalamo-Pituitary-Adrenal Function during Critical Illness. J Clin Endocrinol Metabol 86:2811-2816.

Berg DJ, Kuhn R, Rajewsky K, Muller W, Menon S, Davidson N, Grunig G, Rennick D 1995. Interleukin-10 is a central regulator of the response to LPS in murine models of endotoxic shock and the Shwartzman reaction but not endotoxin tolerance. J Clin Invest 96:2339-2347.

Bernhagen J, Calandra T, Mitchell RA, Martin SB, Tracey KJ, Voelter W, Manogue KR, Cerami A, Bucala R 1993. MIF is a pituitary-derived cytokine that potentiates lethal endotoxaemia. Nature 365:756-759.

Berthiaume F, MacDonald AD, Kang YH, Yarmush ML 2003. Control analysis of mitochondrial metabolism in intact hepatocytes: effect of interleukin-1beta and interleukin-6. Metab Eng 5:108-123.

Boczkowski J, Lisdero CL, Lanone S, Samb A, Carreras MC, Boveris A, Aubier M, Poderoso JJ 1999. Endogenous peroxynitrite mediates mitochondrial dysfunction in rat diaphragm during endotoxemia. FASEB J 13:1637-1646.

Boekstegers P, Weidenhöfer S, Kapsner T, Werdan K 1994. Skeletal muscle partial pressure of oxygen in patients with sepsis. Crit Care Med 22:640-650.

Bone RC, Balk RA, Cerra FB, Dellinger RP, Fein AM, Knaus WA, Schein RM, Sibbald WJ 1992. Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. The ACCP/SCCM Consensus Conference Committee. American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine Chest 101:1644–1655.

93

Bornstein SR, Schumann RR, Rettori V, McCann SM, Zacharowski K 2004. Toll-like receptor 2 and Toll-like receptor 4 expression in human adrenals. Horm Metab Res 36:470-473.

Bossink AW, Paemen L, Jansen PM, Hack CE, Thijs LG, Van Damme J 1995. Plasma levels of the chemokines monocyte chemotactic proteins-1 and -2 are elevated in human sepsis. Blood 86:3841-3847.

Boveris A, Alvarez S, Navarro A 2002. The role of mitochondrial nitric oxide synthase in inflammation and septic shock. Free Radic Biol Med 33:1186-1193.

Bouchud PY, Calandra T 2003. Pathogenesis of sepsis: new concepts and implications for future treatment. BJM 326:262-266.

Blanco J, Muriel-Bombín A, Sagredo V, Taboada F, Gandía F, Tamayo L, Collado J, García-Labattut A, Carriedo D, Valledor M, De Frutos M, López MJ, Caballero A, Guerra J, Alvarez B, Mayo A, Villar J 2008. Incidence, organ dysfunction and mortality in severe sepsis: a Spanish multicentre study. Crit Care 12:R158.

Bloom BR, Bennett B 1966. Mechanism of a reaction in vitro associated with delayed-type hypersensitivity. Science 153:80-82.

Bozza M, Satoskar AR, Lin G, Lu B, Humbles AA, Gerard C, David JR 1999. Targeted disruption of migration inhibitory factor gene reveals its critical role in sepsis. J Exp Med 189:341-346.

Bozza FA, Gomes RN, Japiassu AM, Soares M, Castro-Faria-Neto HC, Bozza PT, Bozza MT 2004. Macrophage Migration Inhibitory Factor Levels Correlate with Fatal Outcome in Sepsis. Shock 22:309-313.

Bozza FA, Bozza PT, Castro Faria Neto HC 2005. Beyond sepsis pathophysiology with cytokines: what is their value as biomarkers for disease severity? Mem Inst Oswaldo Cruz 100 Suppl 1:217-221.

Bozza FA, Salluh JI, Japiassu AM, Soares M, Assis EF, Gomes RN, Bozza MT, Castro-Faria-Neto HC, Bozza PT 2007. Cytokine profiles as markers of disease severity in sepsis: a multiplex analysis. Crit Care 11:R49.

Bradding P, Roberts JA, Britten KM, Montefort S, Djukanovic R, Mueller R, Heusser CH, Howarth PH, Holgate ST 1994. Interleukin-4, -5, and -6 and tumor necrosis factor-alpha in normal and asthmatic airways: evidence for the human mast cell as a source of these cytokines. Am J Respir Cell Mol Biol 10:471-480.

Brealey D, Brand M, Hargreaves I, Heales S, Land J, Smolenski R, Davies NA, Cooper CE, Singer M 2002. Association between mitochondrial dysfunction and severity and outcome of septic shock. Lancet 360: 219-223.

Brealey D, Karyampudi S, Jacques TS, Novelli M, Stidwill R, Taylor V, Smolenski RT, Singer M 2004. Mitochondrial dysfunction in a long-term rodent model of sepsis and organ failure. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 286:R491-497.

Brem AS, Bina RB, Mehta S, Marshall J 1999. Glucocorticoids inhibit the expression of calcium-dependent potassium channels in vascular smooth muscle. Mol Genet Metab 67: 53-57.

Broaddus VC, Boylan AM, Hoeffel JM, Kim KJ, Sadick M, Chuntharapai A, Hebert CA 1994. Neutralization of IL-8 inhibits neutrophil influx in a rabbit model of endotoxin-induced pleurisy. J Immunol 152:2960-2967.

94

Broder G, Weil MH 1964. Excess lactate: an index of reversibility of shock in human patients. Science 143:1457-1459.

Brown-Séquard CE 1856. Recherches expérimentales sur la physiologie et la pathologie des capsules surrénales. C R Acad Sci [D] Paris 43:422– 425.

Brueckmann M, Marx A, Weiler HM, Liebe V, Lang S, Kaden JJ, Zieger W, Borggrefe M, Huhle G, Konstantin Haase K 2003. Stabilization of monocyte chemoattractant protein-1-mRNA by activated protein C. Thromb Haemost 89:149-160.

Brun-Buisson C, Doyon F, Carlet J, Dellamonica P, Gouin F, Lepoutre A, Mercier JC, Offenstadt G, Régnier B 1995. Incidence, risk factors, and outcome of severe sepsis and septic shock in adults. A multicenter prospective study in intensive care units. French ICU Group for Severe Sepsis. JAMA 274:968-74.

Brun-Buisson C, Meshaka P, Pinton P, Vallet B 2004. EPISEPSIS: a reappraisal of the epidemiology and outcome of severe sepsis in French intensive care units. Intensive Care Med 30:580-588.

Burrows SD, Doyle ML, Murphy KP, Franklin SG, White JR, Brooks I, McNulty DE, Scott MO, Knutson JR, Porter D 1994. Determination of the monomer-dimer equilibrium of interleukin-8 reveals it is a monomer at physiological concentrations. Biochemistry 33:12741-12745.

Calandra T, Bernhagen J, Mitchell RA, Bucala R 1994. The macrophage is an important and previously unrecognized source of macrophage migration inhibitory factor. J Exp Med 179:1895-1902.

Calandra T, Bucala R 1995. Macrophage migration inhibitory factor: a counter-regulator of glucocorticoid action and critical mediator of septic shock. J Inflamm 47:39-51.

Calandra T, Echtenacher B, Roy DL, Pugin J, Metz CN, Hultner L, Heumann D, Mannel D, Bucala R, Glauser MP 2000. Protection from septic shock by neutralization of macrophage migration inhibitory factor. Nat Med 6:164-170.

Calandra T, Gerain J, Heumann D, Baumgartner JD, Glauser MP 1991. High circulating levels of interleukin-6 in patients with septic shock: evolution during sepsis, prognostic value, and interplay with other cytokines. The Swiss-Dutch J5 Immunoglobulin Study Group. Am J Med 91:23-29.

Calandra T, Roger T 2003. Macrophage migration inhibitory factor: a regulator of innate immunity. Nat Rev Immunol 3:791-800.

Calvano SE, Xiao W, Richards DR, Felciano RM, Baker HV, Cho RJ, Chen RO, Brownstein BH, Cobb JP, Tschoeke SK, Miller-Graziano C, Moldawer LL, Mindrinos MN, Davis RW, Tompkins RG, Lowry SF 2005. A network-based analysis of systemic inflammation in humans. Nature 437:1032-1037.

Campbell I 2005. Adrenocortical hormones. Anaesth Intensive Care Med 6:326-329. Cassina A, Radi R 1996. Differential inhibitory action of nitric oxide and peroxynitrite on

mitochondrial electron transport. Arch Biochem Biophys 328:309-316. Castro L, Rodriguez M, Radi R 1994. Aconitase is readily inactivated by peroxynitrite, but

not by its precursor, nitric oxide. J Biol Chem 269:29409-29415. Chance B, Williams GR 1955. Respiratory enzymes in oxidative phosphorylation. I. Kinetics

of oxygen utilization. J Biol Chem 217: 383-393.

95

Cheng B, Xie G, Yao S, Wu X, Guo Q, Gu M, Fang Q, Xu Q, Wang D, Jin Y, Yuan S, Wang J, Du Z, Sun Y, Fang X 2007. Epidemiology of severe sepsis in critically ill surgical patients in ten university hospitals in China. Crit Care Med 35:2538-2546.

Chollet-Martin S, Montravers P, Gibert C, Elbim C, Desmonts JM, Fagon JY, Gougerot-Pocidalo MA 1993. High levels of interleukin-8 in the blood and alveolar spaces of patients with pneumonia and adult respiratory distress syndrome. Infect Immun 61:4553-4559.

Christ-Crain M, Stolz D, Jutla S, Couppis O, Müller C, Bingisser R, Schuetz P, Tamm M, Edwards R, Müller B, Grossman AB 2007. Free and total cortisol levels as predictors of severity and outcome in community-acquired pneumonia. Am J Respir Crit Care Med 176:913-920.

Christaki E, Opal SM 2008. Is the mortality rate for septic shock really decreasing? Curr Opin Crit Care 14:580-586.

Chuang CC, Wang ST, Chen WC, Chen CC, Hor LI, Chuang AY 2007. Increases in serum macrophage migration inhibitory factor in patients with severe sepsis predict early mortality. Shock 27:503-506.

Clec'h C, Ferriere F, Karoubi P, Fosse JP, Cupa M, Hoang P, Cohen Y 2004. Diagnostic and prognostic value of procalcitonin in patients with septic shock. Crit Care Med 32:1166-1169.

Cortés-Hernández P, Domínguez-Ramírez L, Estrada-Bernal A, Montes-Sánchez DG, Zentella-Dehesa A, de Gómez-Puyou MT, Gómez-Puyou A, García JJ 2005. The inhibitor protein of the F1F0-ATP synthase is associated to the external surface of endothelial cells. Biochem Biophys Res Commun 330:844-849.

Crouser ED, Julian MW, Blaho DV, Pfeiffer DR 2002a. Endotoxin-induced mitochondrial damage correlates with impaired respiratory activity. Crit Care Med 30: 276-284.

Crouser ED, Julian MW, Joshi MS, Bauer JA, Wewers MD, Hart JM, Pfeiffer DR 2002b. Cyclosporin A ameliorates mitochondrial ultrastructural injury in the ileum during acute endotoxemia. Crit Care Med 30: 2722-2728.

Crouser ED 2004. Mitochondrial dysfunction in septic shock and multiple organ dysfunction syndrome. Mitochondrion 4:729-741.

Crouser ED, Julian MW, Huff JE, Mandich DV, Green-Church KB 2006. A proteomic analysis of liver mitochondria during acute endotoxemia. Intensive Care Med 32:1252-1262.

Daly C, Rollins BJ 2003. Monocyte chemoattractant protein-1 (CCL2) in inflammatory disease and adaptive immunity: therapeutic opportunities and controversies. Microcirculation 10:247-257.

Damas P, Ledoux D, Nys M, Vrindts Y, De Groote D, Franchimont P, Lamy M 1992. Cytokine serum level during severe sepsis in human IL-6 as a marker of severity. Ann Surg 215:356-362.

David JR 1966. Delayed hypersensitivity in vitro: its mediation by cell-free substances formed by lymphoid cell-antigen interaction. Proc Natl Acad Sci U S A 56:72-77.

D’Avila JCP, Santiago APSA, Amâncio RT, Galina A, Oliveira MF, Bozza FA 2008. Sepsis induces brain mitochondrial dysfunction. Crit Care Med 36:1925-1932.

96

de Jong MF, Beishuizen A, Spijkstra JJ, Groeneveld AB 2007. Relative adrenal insufficiency as a predictor of disease severity, mortality, and beneficial effects of corticosteroid treatment in septic shock. Crit Care Med 35:1896-1903.

Delfino DV, Agostini M, Spinicelli S, Vito P, Riccardi C 2004. Decrease of Bcl-xL and augmentation of thymocyte apoptosis in GILZ overexpressing transgenic mice. Blood 104:4134-4141.

d'Emmanuele di Villa Bianca R, Lippolis L, Autore G, Popolo A, Marzocco S, Sorrentino L, Pinto A, Sorrentino R 2003. Dexamethasone improves vascular hyporeactivity induced by LPS in vivo by modulating ATP-sensitive potassium channels activity. Br J Pharmacol 140:91-96.

Dellinger RP, Carlet JM, Masur H, Gerlach H, Calandra T, Cohen J, Gea-Banacloche J, Keh D, Marshall JC, Parker MM, Ramsay G, Zimmerman JL, Vincent JL, Levy MM 2004. Surviving Sepsis Campaign guidelines for management of severe sepsis and septic shock. Intensive Care Med 30:536-555.

Derhaschnig U, Bergmair D, Marsik C, Schlifke I, Wijdenes J, Jilma B 2004. Effect of interleukin-6 blockade on tissue factor-induced coagulation in human endotoxemia. Crit Care Med 32:1136-1140.

Donnelly SC, Strieter RM, Kunkel SL, Walz A, Robertson CR, Carter DC, Grant IS, Pollok AJ, Haslett C 1993. Interleukin-8 and development of adult respiratory distress syndrome in at-risk patient groups. Lancet 341:643-647.

Elsouri N, Bander J, Guzman JA 2006. Relative adrenal insufficiency in patients with septic shock; a close look to practice patterns. J Crit Care 21:73-77.

Emonts E, Sweep FCGJ, Grebenchtchikov N, Geurts-Moespot A, Knaup M, Chanson AL, Erard V, Renner P, Hermans PWM, Hazelzet JA, Calandra T 2007. Association between High Levels of Blood Macrophage Migration Inhibitory Factor, Inappropriate Adrenal Response, and Early Death in Patients with Severe Sepsis. Clin Infect Dis 44:1321-1328.

Engel C, Brunkhorst FM, Bone HG, Brunkhorst R, Gerlach H, Grond S, Gruendling M, Huhle G, Jaschinski U, John S, Mayer K, Oppert M, Olthoff D, Quintel M, Ragaller M, Rossaint R, Stuber F, Weiler N, Welte T, Bogatsch H, Hartog C, Loeffler M, Reinhart K 2007. Epidemiology of sepsis in Germany: results from a national prospective multicenter study. Intensive Care Med 33:606-618.

Feijó J, Westphal GA, Filho MC, Martins SF, Silva FN, Bagnati F, Araújo JP, Kaepfer KM, Bork JC. Avaliação institucional de uma nova metodologia para identificação precoce da sepse em pacientes hospitalizados em um hospital público. Disponível em http://www.saudebrasilnet.com.br/votasepse/trabalhos/005_PR.pdf, em 03/11/2009.

Ferreira FL, Bota DP, Bross A, Mélot C, Vincent JL 2001. Serial evaluation of the SOFA score to predict outcome in critically ill patients. JAMA 286:1754-1758.

Finfer S, Bellomo R, Lipman J, et al. Adult-population incidence of severe sepsis in Australian and New Zealand intensive care units. Intensive Care Med, 2004;30:589-596.

Fink MP 2001. Cytopathic hypoxia. Mitochondrial dysfunction as mechanism contributing to organ dysfunction in sepsis. Crit Care Clin 17:219-37.

Flaatten H 2004. Epidemiology of sepsis in Norway in 1999. Crit Care 8:R180-184.

97

Fredriksson K, Hammarqvist F, Strigård K, Hultenby K, Ljungqvist O, Wernerman J, Rooyackers O 2006. Derangements in mitochondrial metabolism in intercostal and leg muscle of critically ill patients with sepsis-induced multiple organ failure. Am J Physiol Endocrinol Metab 291:E1044-E1050.

Frink M, van Griensven M, Kobbe P, Brin T, Zeckey C, Vaske B, Krettek C, Hildebrand F 2009. IL-6 predicts organ dysfunction and mortality in patients with multiple injuries. Scand J Trauma Resusc Emerg Med 17:49.

Gando S, Nishihira J, Kobayashi S, Morimoto Y, Nanzaki S, Kemmotsu O 2001. Macrophage migration inhibitory factor is a critical mediator of systemic inflammatory response syndrome. Intensive Care Med 27:1187-1193.

Gattinoni L, Brazzi L, Pelosi P, Latini R, Tognoni G, Pesenti A, Fumagalli R 1995. A trial of goal-oriented hemodynamic therapy in critically ill patients. SvO2 Collaborative Group. N Engl J Med 333:1025-1032.

Gomes RN, Bozza FA, Amâncio RT, Japiassú AM, Vianna RC, Larangeira AP, Gouvêa JM, Bastos MS, Zimmerman GA, Stafforini DM, Prescott SM, Bozza PT, Castro-Faria-Neto HC 2006. Exogenous platelet-activating factor acetylhydrolase reduces mortality in mice with systemic inflammatory response syndrome and sepsis. Shock 26:41-49.

Greenman RL, Schein RM, Martin MA, Wenzel RP, MacIntyre NR, Emmanuel G, Chmel H, Kohler RB, McCarthy M, Plouffe J 1991. A controlled clinical trial of E5 murine monoclonal IgM antibody to endotoxin in the treatment of gram-negative sepsis. The XOMA Sepsis Study Group. JAMA 266:1097-1102.

Guzman JA, Guzman CB 2007. Adrenal exhaustion in septic patients with vasopressor dependency. J Crit Care 22:319-323.

Harbuz MS, Rees RG, Eckland D, Jessop DS, Brewerton D, Lightman SL 1992. Paradoxical responses of hypothalamic corticotropin-releasing factor (CRF) messenger ribonucleic acid (mRNA) and CRF-41 peptide and adenohypophysial proopiomelanocortin mRNA during chronic inflammatory stress. Endocrinology 130:1394-1400.

Harris P, Bateman M, Gloster J 1962. Relations between the cardio-respiratory effects of exercise and the arterial concentration of lactate and pyruvate in patients with rheumatic heart disease. Clin Sci 23:531-543.

Hayes MA, Timmins AC, Yau EH, Palazzo M, Hinds CJ, Watson D 1994. Elevation of systemic oxygen delivery in the treatment of critically ill patients. N Engl J Med 330:1717-1722.

Hayes MA, Timmins AC, Yau EH, Palazzo M, Watson D, Hinds CJ 1997. Oxygen transport patterns in patients with sepsis syndrome or septic shock: influence of treatment and relationship to outcome. Crit Care Med 25:926-936.

Ho JT, Al-Musalhi H, Chapman MJ, Quach T, Thomas PD, Bagley CJ, Lewis JG, Torpy DJ 2006. Septic shock and sepsis: a comparison of total and free plasma cortisol levels. J Clin Endocrinol Metab 91:105-114.

Hodgin UG, Sanford JP 1965. Gram-negative rod bacteremia. An analysis of 100 patients. Am J Med 39:952-60.

Hoffman M, Cooper ST 1995. Thrombin enhances monocyte secretion of tumor necrosis factor and interleukin-1 beta by two distinct mechanisms. Blood Cells Mol Dis 21:156-167.

98

Horan TC, Andrus M, Dudeck MA 2008. CDC/NHSN surveillance definition of health care–associated infection and criteria for specific types of infections in the acute care setting. Am J Infect Control 36:309-332.

Hotchkiss RS, Karl IE 2003. The pathophysiology and treatment of sepsis. N Engl J Med 348:138-150.

Hotchkiss RS, Osmon SB, Chang KC, Wagner TH, Coopersmith CM, Karl IE 2005. Accelerated lymphocyte death in sepsis occurs by both the death receptor and mitochondrial pathways. J Imunnol 174: 5110-5118.

Hubbard WJ, Bland KI, Chaudry IH 2004. The role of the mitochondrion in trauma and shock. Shock 22: 395-402.

Jansen PM, van Damme J, Put W, de Jong IW, Taylor FB, Jr., Hack CE 1995. Monocyte chemotactic protein 1 is released during lethal and sublethal bacteremia in baboons. J Infect Dis 171:1640-1642.

Japiassú AM, Salluh JI, Bozza PT, Bozza FA, Castro-Faria-Neto HC 2009. Revisiting steroid treatment for septic shock: molecular actions and clinical effects--a review. Mem Inst Oswaldo Cruz 104:531-548.

Jones SA, Horiuchi S, Topley N, Yamamoto N, Fuller GM 2001. The soluble interleukin 6 receptor: mechanisms of production and implications in disease. Faseb J 15:43-58.

Kantrow SP, Tatro LG, Piantadosi CA 2000. Oxidative stress and adenine nucleotide control of mitochondrial permeability transition. Free Radic Biol Med. 28: 251-260.

Karlsson S, Varpula M, Ruokonen E Pettilä V, Parviainen I, Ala-Kokko TI, Kolho E, Rintala EM 2007. Incidence, treatment, and outcome of severe sepsis in ICU-treated adults in Finland: the Finnsepsis study. Intensive Care Med 33:435-443.

Kellum JA, Kong L, Fink MP, Weissfeld LA, Yealy DM, Pinsky MR, Fine J, Krichevsky A, Delude RL, Angus DC 2007. Understanding the inflammatory cytokine response in pneumonia and sepsis: results of the Genetic and Inflammatory Markers of Sepsis (GenIMS) Study. Arch Intern Med 167:1655-1663.

Knaus WA, Draper EA, Wagner DP, Zimmerman JE 1985. APACHE II: a severity of disease classification system. Crit Care Med 13:818-829.

Khwannimit B, Bhurayanontachai R 2009. The epidemiology of, and risk factors for, mortality from severe sepsis and septic shock in a tertiary-care university hospital setting. Epidemiol Infect 137:1333-1334.

Kumar A 2009. Optimizing Antimicrobial Therapy in Sepsis and Septic Shock. Crit Care Clin 25:733-751.

Landry DW, Levin HR, Gallant EM, Ashton RC Jr, Seo S, D'Alessandro D, Oz MC, Oliver JA 1997. Vasopressin deficiency contributes to the vasodilation of septic shock. Circulation 95:1122-1125.

Landry DW, Oliver JA 2001. The pathogenesis of vasodilatory shock. N Engl J Med 345:588-595.

Le Gall JR, Lemeshow S, Saulnier F 1993. A new Simplified Acute Physiology Score (SAPS II) based on a European/North American multicenter study. JAMA 270:2957-2963.

Lehmann LE, Novender U, Schroeder S, Pietsch T, von Spiegel T, Putensen C, Hoeft A, Stuber F 2001. Plasma levels of macrophage migration inhibitory factor are elevated in patients with severe sepsis. Intensive Care Med 27:1412-1415.

99

Levy MM, Fink MP, Marshall JC, Abraham E, Angus D, Cook D, Cohen J, Opal SM, Vincent JL, Ramsay G 2003. 2001 SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference. Intensive Care Med 29:530-538.

Levy RJ 2007. Mitochondrial dysfunction, bioenergetic impairment, and metabolic down-regulation in sepsis. Shock 28:24-28.

Levy RJ, Vijayasarathy C, Raj NR, Avadhani NG, Deutschman CS 2004. Competitive and noncompetitive inhibition of myocardial cytochrome C oxidase in sepsis. Shock 21:110-114.

Lisboa T, Diaz E, Sa-Borges M, Socias A, Sole-Violan J, Rodríguez A, Rello J 2008. The ventilator-associated pneumonia PIRO score: a tool for predicting ICU mortality and health-care resources use in ventilator-associated pneumonia. Chest 134:1208-1216.

Livaditi O, Kotanidou A, Psarra A, Dimopoulou I, Sotiropoulou C, Augustatou K, Papasteriades C, Armaganidis A, Roussos C, Orfanos SE, Douzinas EE 2006. Neutrophil CD64 expression and serum IL-8: sensitive early markers of severity and outcome in sepsis. Cytokine 36:283-290.

Luzzani A, Polati E, Dorizzi R, Rungatscher A, Pavan R, Merlini A 2003. Comparison of procalcitonin and C-reactive protein as markers of sepsis. Crit Care Med 31:1737-1741.

Mahad DJ, Ransohoff RM 2003. The role of MCP-1 (CCL2) and CCR2 in multiple sclerosis and experimental autoimmune encephalomyelitis (EAE). Semin Immunol 15:23-32.

Maier B, Lefering R, Lehnert M, Laurer HL, Steudel WI, Neugebauer EA, Marzi I 2007. Early versus late onset of multiple organ failure is associated with differing patterns of plasma cytokine biomarker expression and outcome after severe trauma. Shock 28:668-674.

Marks JD, Marks CB, Luce JM, Montgomery AB, Turner J, Metz CA, Murray JF 1990. Plasma tumor necrosis factor in patients with septic shock. Mortality rate, incidence of adult respiratory distress syndrome, and effects of methylprednisolone administration. Am Rev Respir Dis 141:94-97.

Marik PE, Gayowski T, Starzl TE 2005. The hepatoadrenal syndrome: a common yet unrecognized clinical condition. Crit Care Med 33:1254-1259.

Marik PE, Pastores SM, Annane D, Meduri GU, Sprung CL, Arlt W, Keh D, Briegel J, Beishuizen A, Dimopoulou I, Tsagarakis S, Singer M, Chrousos GP, Zaloga G, Bokhari F, Vogeser M 2008. Recommendations for the diagnosis and management of corticosteroid insufficiency in critically ill adult patients: consensus statements from an international task force by the American College of Critical Care Medicine. Crit Care Med 36:1937-1949.

Marshall JC, Cook DJ, Christou NV, Bernard GR, Sprung CL, Sibbald WJ 1995. Multiple organ dysfunction score: a reliable descriptor of a complex clinical outcome. Crit Care Med 23:1638-1652.

Marshall JC, Reinhart K 2009. Biomarkers of sepsis. Crit Care Med 37:2290-2298. Martin GS, Mannino DM, Eaton S, Moss M 2003. The epidemiology of sepsis in the United

States from 1979 through 2000. N Engl J Med 348:1546-1554. Marty C, Misset B, Tamion F, Fitting C, Carlet J, Cavaillon JM 1994. Circulating interleukin-

8 concentrations in patients with multiple organ failure of septic and nonseptic origin. Crit Care Med 22:673-679.

100

Matsukawa A, Hogaboam CM, Lukacs NW, Lincoln PM, Strieter RM, Kunkel SL 1999. Endogenous monocyte chemoattractant protein-1 (MCP-1) protects mice in a model of acute septic peritonitis: cross-talk between MCP-1 and leukotriene B4. J Immunol 163:6148-6154.

Maxime V, Fitting C, Annane D, Cavaillon JM 2005. Corticoids Normalize Leukocyte Production of Macrophage Migration Inhibitory Factor in Septic Shock. J Infect Dis 191:138–144.

Meduri GU, Kohler G, Headley S, Tolley E, Stentz F, Postlethwaite A 1995. Inflammatory cytokines in the BAL of patients with ARDS. Persistent elevation over time predicts poor outcome. Chest 108:1303-1314.

Meduri GU, Muthiah MP, Carratu P, Eltorky M, Chrousos GP 2005. Nuclear factor-kappaB- and glucocorticoid receptor alpha- mediated mechanisms in the regulation of systemic and pulmonary inflammation during sepsis and acute respiratory distress syndrome. Evidence for inflammation-induced target tissue resistance to glucocorticoids. Neuroimmunomodulation 12:321-38.

Mela L, Bacalzo LV Jr, Miller LD 1971. Defective oxidative metabolism of rat liver mitochondria in hemorrhagic and endotoxin shock. Am J Physiol 220:571-577.

Melby JC, Spink WW 1958. Comparative studies on adrenal cortical function and cortisol metabolism in healthy adults and in patients with shock due to infection. J Clin Invest 37:1791-1798.

Mizock B 1984. Septic shock. A metabolic perspective. Arch Intern Med 144:579-585. Mongardon N, Dyson A, Singer M 2009. Is MOF an outcome parameter or a transient,

adaptive state in critical illness? Curr Opin Crit Care 15:431-436. Monneret G 2005. How to identify systemic sepsis-induced immunoparalysis. Advances in

Sepsis 4:42-49. Morel J, Venet C, Donati Y, Charier D, Liotier J, Frere-Meunier D, Guyomarc'h S, Diconne

E, Bertrand JC, Souweine B, Papazian L, Zeni F 2006. Adrenal axis function does not appear to be associated with hemodynamic improvement in septic shock patients systematically receiving glucocorticoid therapy. Intensive Care Med 32:1184-1190.

Moreno R, Vincent JL, Matos R, Mendonça A, Cantraine F, Thijs L, Takala J, Sprung C, Antonelli M, Bruining H, Willatts S 1999. The use of maximum SOFA score to quantify organ dysfunction/failure in intensive care. Results of a prospective, multicentre study. Intensive Care Med 25:686-696.

Moreno RP, Metnitz B, Adler L, Hoechtl A, Bauer P, Metnitz PG 2008. Sepsis mortality prediction based on predisposition, infection and response. Intensive Care Med 34:496-504.

Murdoch C, Finn A 2000. Chemokine receptors and their role in inflammation and infectious diseases. Blood 95:3032-3043.

Murphy JF, Purdue GF, Hunt JL 1993. Acute adrenal insufficiency in the patient with burns. J Burn Care Rehabil 14:155-157.

Nakano Y, Kasahara T, Mukaida N, Ko YC, Nakano M, Matsushima K 1994. Protection against lethal bacterial infection in mice by monocyte-chemotactic and -activating factor. Infect Immun 62:377-383.

Nicholls DG, Ferguson SJ: Bioenergetics 3, 3 ed. London, Academic Press, 2002.

101

Nisoli E, Clementi E, Paolucci C, Cozzi V, Tonello C, Sciorati C, Bracale R, Valerio A, Francolini M, Moncada S, Carruba MO 2003. Mitochondrial biogenesis in mammals: the role of endogenous nitric oxide. Science 299:896-899.

Oberholzer A, Oberholzer C, Moldawer LL 2002. Interleukin-10: A complex role in the pathogenesis of sepsis syndromes and its potential as an anti-inflammatory drug. Crit Care Med 30 Supl 1:S58-S63.

Oberholzer A, Souza SM, Tschoeke SK, Oberholzer C, Abouhamze A, Pribble JP, Moldawer LL 2005. Plasma cytokine measurements augment prognostic scores as indicators of outcome in patients with severe sepsis. Shock 23:488-493.

Oda S, Hirasawa H, Shiga H, Nakanishi K, Matsuda K, Nakamua M 2005. Sequential measurement of IL-6 blood levels in patients with systemic inflammatory response syndrome (SIRS)/sepsis. Cytokine 29:169-175.

Opal SM, Wherry JC, Grint P 1998. Interleukin-10: potential benefits and possible risks in clinical infectious diseases. Clin Infect Dis 27:1497-1507.

Opal SM, Huber CE 2000. The role of interleukin-10 in critical illness. Curr Opin Infect Dis 13:221-226.

Padkin A, Goldfrad C, Brady AR, Young D, Black N, Rowan K 2003. Epidemiology of severe sepsis occurring in the first 24 hrs in intensive care units in England, Wales, and Northern Ireland. Crit Care Med 31:2332-2338.

Paolini JF, Willard D, Consler T, Luther M, Krangel MS 1994. The chemokines IL-8, monocyte chemoattractant protein-1, and I-309 are monomers at physiologically relevant concentrations. J Immunol 153:2704-2717.

Pinsky MR, Vincent JL, Deviere J, Alegre M, Kahn RJ, Dupont E 1993. Serum cytokine levels in human septic shock. Relation to multiple-system organ failure and mortality. Chest 103:565-575.

Poderoso JJ, Carreras MC, Lisdero C, Riobó N, Schöpfer F, Boveris A 1996. Nitric oxide inhibits electron transfer and increases superoxide radical production in rat heart mitochondria and submitochondrial particles. Arch Biochem Biophys 328:85-92.

Póvoa P, Coelho L, Almeida E, Fernandes A, Mealha R, Moreira P, Sabino H 2005. C-reactive protein as a marker of infection in critically ill patients. Clin Microbiol Infect 11: 101–108.

Presneill JJ, Waring PM, Layton JE, Maher DW, Cebon J, Harley NS, Wilson JW, Cade JF 2000. Plasma granulocyte colony-stimulating factor and granulocyte-macrophage colony-stimulating factor levels in critical illness including sepsis and septic shock: relation to disease severity, multiple organ dysfunction, and mortality. Crit Care Med 28:2344-2354.

Protti A, Carré J, Frost MT, Taylor V, Stidwill R, Rudiger A, Singer M 2007. Succinate recovers mitochondrial oxygen consumption in septic rat skeletal muscle. Crit Care Med 35:2150-2155.

Rangel-Frausto MS, Pittet D, Costigan M, Hwang T, Davis CS, Wenzel RP 1995. The natural history of the systemic inflammatory response syndroms (SIRS). JAMA 273:117-123.

Rello J, Rodriguez A, Lisboa T, Gallego M, Lujan M, Wunderink R 2009. PIRO score for community-acquired pneumonia: a new prediction rule for assessment of severity in

102

intensive care unit patients with community-acquired pneumonia. Crit Care Med 37:456-462.

Rezende E, Silva JM Jr, Isola AM, Campos EV, Amendola CP, Almeida SL 2008. Epidemiology of severe sepsis in the emergency department and difficulties in the initial assistance. Clinics (São Paulo) 63:457-464.

Rhodes C, Yamada Y 1995. Characterization of a glucocorticoid responsive element and identification of an AT-rich element that regulate the link protein gene. Nucleic Acids Res 23:2305-2313.

Riewald M, Petrovan RJ, Donner A, Mueller BM, Ruf W 2002. Activation of endothelial cell protease activated receptor 1 by the protein C pathway. Science 296:1880-1882.

Riewald M, Petrovan RJ, Donner A, Ruf W 2003. Activated protein C signals through the thrombin receptor PAR1 in endothelial cells. J Endotoxin Res 9:317-321.

Rivers E, Nguyen B, Havstad S, Ressler J, Muzzin A, Knoblich B, Peterson E, Tomlanovich M 2001. Early goal-directed therapy in the treatment of severe sepsis and septic shock. N Engl J Med 345:1368-1377.

Rivier C, Vale W 1983. Modulation of stress-induced ACTH release by corticotropin-releasing factor, catecholamines and vasopressin. Nature 305:325-327.

Roger T, David J, Glauser MP, Calandra T 2001. MIF regulates innate immune responses through modulation of Toll-like receptor 4. Nature 414:920-924.

Rubulotta F, Marshall JC, Ramsay G, Nelson D, Levy M, Williams M 2009. Predisposition, insult/infection, response, and organ dysfunction: A new model for staging severe sepsis. Crit Care Med 37:1329-1335.

Rudiger A, Stotz M, Singer M 2008. Cellular processes in sepsis. Swiss Med Wkly 138:629-634.

Sales Junior JA, David CM, Hatum R, Souza PCSP, Japiassú A, Pinheiro CTS, Friedman G, Silva OB, Dias MD, Koterba E, Dias FS, Piras C, Luiz RR 2006. Sepse Brasil: estudo epidemiológico da sepse em unidades de terapia intensiva brasileiras. Rev Bras Ter Intens 18:9-17.

Salluh JI, Povoa P, Soares M, Castro-Faria-Neto HC, Bozza FA, Bozza PT 2008a. The role of corticosteroids in severe community-acquired pneumonia: a systematic review. Crit Care 12:R76.

Salluh JI, Bozza FA, Soares M, Verdeal JCR, Castro-Faria-Neto HC, Silva JRL, Bozza PT 2008b. Adrenal response in severe community-acquired pneumonia: Impact on outcomes and disease severity. Chest 134:947-954.

Salvo I, de Cian W, Musicco M, Langer M, Piadena R, Wolfler A, Montani C, Magni E 1995. The Italian SEPSIS study: preliminary results on the incidence and evolution of SRIS, sepsis, severe sepsis and septic shock. Intensive Care Med 21 Supl 2:S244-S249.

Samavati L, Lee I, Mathes I, Lottspeich F, Hüttemann M 2008. Tumor necrosis factor alpha inhibits oxidative phosphorylation through tyrosine phosphorylation at subunit I of cytochrome c oxidase. J Biol Chem 283:21134-21144.

Sands KE, Bates DW, Lanken PN, Graman PS, Hibberd PL, Kahn KL, Parsonnet J, Panzer R, Orav EJ, Snydman DR, Black E, Schwartz JS, Moore R, Johnson BL Jr, Platt R 1997. Epidemiology of sepsis syndrome in 8 academic medical centers. JAMA 278:234-240.

103

Schroder JM, Christophers E 1989. Secretion of novel and homologous neutrophil-activating peptides by LPS-stimulated human endothelial cells. J Immunol 142:244-251.

Schroder JM, Mrowietz U, Christophers E 1988. Purification and partial biologic characterization of a human lymphocyte-derived peptide with potent neutrophil-stimulating activity. J Immunol 140:3534-3540.

Schumer W, Erve P, Kapica SK, Moss GS 1970. Endotoxin effect on respiration of rat liver mitochondria. J Surg Res 10:609-612.

Shchepina LA, Pletjushkina OY, Avetisyan AV, Bakeeva LE, Fetisova EK, Izyumov DS, Saprunova VB, Vyssokikh MY, Chernyak BV, Skulachev VP 2002. Oligomycin, inhibitor of the F0 part of H+-ATP-synthase, suppresses the TNF-induced apoptosis. Oncogene 21:8149-8157.

Sheikine Y, Hansson GK 2004. Chemokines and atherosclerosis. Ann Med 36:98-118. Sielenkämper AW, Yu P, Eichelbrönner O, MacDonald T, Martin CM, Chin-Yee IH, Sibbald

WJ 2000. Diaspirin cross-linked Hb and norepinephrine prevent the sepsis-induced increase in critical O2 delivery. Am J Physiol Heart Circ Physiol 279:H1922-H1930.

Silva E, Pedro Mde A, Sogayar AC, Mohovic T, Silva CL, Janiszewski M, Cal RG, de Sousa EF, Abe TP, de Andrade J, de Matos JD, Rezende E, Assunção M, Avezum A, Rocha PC, de Matos GF, Bento AM, Corrêa AD, Vieira PC, Knobel E 2004. Brazilian Sepsis Epidemiological Study (BASES study). Crit Care 8:R251-260.

Silvestre J, Póvoa P, Coelho L, Almeida E, Moreira P, Fernandes A, Mealha R, Sabino H 2009. Is C-reactive protein a good prognostic marker in septic patients? Intensive Care Med 35:909-913.

Sims NR, Blass JP 1986. Expression of classical mitochondrial respiratory responses in homogenates of rat forebrain. J Neurochem 47:496-505.

Singer M 2007. Mitochondrial function in sepsis: acute phase versus multiple organ failure. Crit Care Med 35 Supl 9:S441-S448.

Singh S, Evans TW. Organ dysfunction during sepsis. Intensive Care Med 2006; 32:349-360. Soares M, Terzi RG, Piva JP 2007. End-of-life care in Brazil. Intensive Care Med 33:1014-

1017. Sprung CL, Cohen SL, Sjokvist P, Baras M, Bulow HH, Hovilehto S, Ledoux D, Lippert A,

Maia P, Phelan D, Schobersberger W, Wennberg E, Woodcock T 2003. End-of-life practices in European intensive care units: the Ethicus Study. JAMA 290:790-797.

Sprung CL, Annane D, Keh D, Moreno R, Singer M, Freivogel K, Weiss YG, Benbenishty J, Kalenka A, Forst H, Laterre PF, Reinhart K, Cuthbertson BH, Payen D, Briegel J 2008. Hydrocortisone therapy for patients with septic shock. N Engl J Med 358:111-124.

Strieter RM, Chensue SW, Basha MA, Standiford TJ, Lynch JP, Baggiolini M, Kunkel SL 1990. Human alveolar macrophage gene expression of interleukin-8 by tumor necrosis factor-alpha, lipopolysaccharide, and interleukin-1 beta. Am J Respir Cell Mol Biol 2:321-326.

Sundararajan V, Macisaac CM, Presneill JJ, Cade JF, Visvanathan K 2005. Epidemiology of sepsis in Victoria, Australia. Crit Care Med 33:71-80.

Takehara Y, Kanno T, Yoshioka T, Inoue M, Utsumi K 1995. Oxygen-dependent regulation of mitochondrial energy metabolism by nitric oxide. Arch Biochem Biophys 323:27-32.

104

Tanriover MD, Guven GS, Sen D, Unal S, Uzun O 2006. Epidemiology and outcome of sepsis in a tertiary-care hospital in a developing country. Epidemiol Infect 134:315-322.

Terashima T, Soejima K, Waki Y, Nakamura H, Fujishima S, Suzuki Y, Ishizaka A, Kanazawa M 1995. Neutrophils activated by granulocyte colony-stimulating factor suppress tumor necrosis factor-alpha release from monocytes stimulated by endotoxin. Am J Respir Cell Mol Biol 13:69-73.

Thijs LG, Hack CE 1995. Time course of cytokine levels in sepsis. Intensive Care Med 21 Supl 2:S258-S263.

Tilney NL, Bailey GL, Morgan AP 1973. Sequential system failure after rupture of abdominal aortic aneurysms: an unsolved problem in postoperative care. Ann Surg 178:117-122.

Trzcionka M, Withers KW, Klingenspor M, Jastroch M 2008. The effects of fasting and cold exposure on metabolic rate and mitochondrial proton leak in liver and skeletal muscle of an amphibian, the cane toad Bufo marinus. J Exp Biol 211:1911-1918.

Van den Berghe G 2000. Novel insights into the neuroendocrinology of critical illness. Eur J Endocrinol 143:1-13.

Van der Poll T, Levi M, Hack CE, ten Cate H, van Deventer SJ, Eerenberg AJ, de Groot ER, Jansen J, Gallati H, Buller HR 1994. Elimination of interleukin 6 attenuates coagulation activation in experimental endotoxemia in chimpanzees. J Exp Med 179:1253-1259.

Van Deuren M, van der Ven-Jongekrijg J, Bartelink AK, van Dalen R, Sauerwein RW, van der Meer JW 1995. Correlation between proinflammatory cytokines and antiinflammatory mediators and the severity of disease in meningococcal infections. J Infect Dis 172:433-439.

Van Leeuwen BH, Martinson ME, Webb GC, Young IG 1989. Molecular organization of the cytokine gene cluster, involving the human IL-3, IL-4, IL-5, and GM-CSF genes, on human chromosome 5. Blood 73:1142-1148.

Van Zoelen M, LAterre PF, Van Veen S, Van Till JW, Wittebole X, Bresser P, Tanck MW, Dugernier T, Ishizaka A, Boermeester MA, Van der Poll T 2007. Systemic and local high mobility group box 1 concentrations during severe infection. Crit Care Med 35:2799-2804.

Vanhorebeek I, De Vos R, Mesotten D, Wouters PJ, De Wolf-Peeters C, Van den Berghe G 2005. Protection of hepatocyte mitochondrial ultrastructure and function by strict blood glucose control with insulin in critically ill patients. Lancet 365:53-59.

Vanhorebeek I, Van den Berghe G 2006. The neuroendocrine response to critical illness is a dynamic process. Crit Care Clin 22:1-15.

Vermes I, Beishuizen A, Hampsink RM, Haanen C 1995. Dissociation of plasma adrenocorticotropin and cortisol levels in critically ill patients: possible role of endothelin and atrial natriuretic hormone. J Clin Endocrinol Metab 80:1238-1242.

Vignali DA 2000. Multiplexed particle-based flow cytometric assays. J Immunol Methods 243:243-255.

Vincent JL, Moreno R, Takala J, Willatts S, De Mendonça A, Bruining H, Reinhart CK, Suter PM, Thijs LG 1996. The SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score to describe organ dysfunction/failure. Intensive Care Med 22:707-710.

105

Vincent JL 1997. Dear SIRS, I'm sorry to say that I don't like you... Crit Care Med 25:372-374.

Vincent JL, Sakr Y, Sprung CL, Ranieri VM, Reinhart K, Gerlach H, Moreno R, Carlet J, Le Gall JR, Payen D 2006. Sepsis in European intensive care units: results of the SOAP study. Crit Care Med 34:344-353.

Walz A, Peveri P, Aschauer H, Baggiolini M 1987. Purification and amino acid sequencing of NAF, a novel neutrophil-activating factor produced by monocytes. Biochem Biophys Res Commun 149:755-761.

Yende S, D'Angelo G, Kellum JA, Weissfeld L, Fine J, Welch RD, Kong L, Carter M, Angus DC 2008. Inflammatory markers at hospital discharge predict subsequent mortality after pneumonia and sepsis. Am J Respir Crit Care Med 177:1242-1247.

Yoshimura T, Matsushima K, Oppenheim JJ, Leonard EJ 1987. Neutrophil chemotactic factor produced by lipopolysaccharide (LPS)-stimulated human blood mononuclear leukocytes: partial characterization and separation from interleukin 1 (IL 1). J Immunol 139:788-793.

Yoshimura T, Yuhki N, Moore SK, Appella E, Lerman MI, Leonard EJ 1989. Human monocyte chemoattractant protein-1 (MCP-1). Full-length cDNA cloning, expression in mitogen-stimulated blood mononuclear leukocytes, and sequence similarity to mouse competence gene JE. FEBS Lett 244:487-493.

Weiser WY, Temple PA, Witek-Giannotti JS, Remold HG, Clark SC, David JR 1989. Molecular cloning of a cDNA encoding a human macrophage migration inhibitory factor. Proc Natl Acad Sci U S A 86:7522-7526.

Westphal GA, Feijó J, Andrade PS, Trindade L, Suchard C, Monteiro MAG, Martins SF, Nunes F, Filho MC 2009. Estratégia de detecção precoce e redução de mortalidade na sepse grave. Rev Bras Ter Intens 21:113-123.

Wiedermann FJ, Mayr AJ, Kaneider NC, Fuchs D, Mutz NJ, Schobersberger W 2004. Alveolar granulocyte colony-stimulating factor and alpha-chemokines in relation to serum levels, pulmonary neutrophilia, and severity of lung injury in ARDS. Chest 125:212-219.

Widmer IE, Puder JJ, Konig C, Pargger H, Zerkowski HR, Girard J, Muller B 2005. Cortisol response in relation to the severity of stress and illness. J Clin Endocrinol Metab 90:4579-4586.

Wu HP, Wu CL, Chen CK, Chung K, Tseng JC, Liu YC, Chuang DY 2008. The interleukin-4 expression in patients with severe sepsis. J Crit Care 23:519-524.

Wu HP, Chen CK, Chung K, Tseng JC, Hua CC, Liu YC, Chuang DY, Yang CH 2009. Serial cytokine levels in patients with severe sepsis. Inflamm Res 58:385-393.

Záhorec R, Firment J, Straková J, Mikula J, Malík P, Novák I, Zeman J, Chlebo P 2005. Epidemiology of severe sepsis in intensive care units in the Slovak Republic. Infection 33:122-128.

Ziegler EJ, Fisher CJ Jr, Sprung CL, Straube RC, Sadoff JC, Foulke GE, Wortel CH, Fink MP, Dellinger RP, Teng NN 1991. Treatment of gram-negative bacteremia and septic shock with HA-1A human monoclonal antibody against endotoxin. A randomized, double-blind, placebo-controlled trial. N Engl J Med 324:429-436.

106

Zingarelli B, O'Connor M, Wong H, Salzman AL, Szabó C 1996. Peroxynitrite-mediated DNA strand breakage activates poly-adenosine diphosphate ribosyl synthetase and causes cellular energy depletion in macrophages stimulated with bacterial lipopolysaccharide. J Immunol 156:350-8

Zisman DA, Kunkel SL, Strieter RM, Tsai WC, Bucknell K, Wilkowski J, Standiford TJ 1997. MCP-1 protects mice in lethal endotoxemia. J Clin Invest 99:2832-2836.

107

Anexo 1 – Protocolo de coleta de dados e pontuação do escore Sequential Organ Failure

Assessment (SOFA).

PROTOCOLO CHOQUE SÉPTICO – SDOM

No: ___ NOME: ____________________ IDADE: __ anos SEXO: __ PRONT: ______

internação na UTI: __/__/____ inclusão no estudo em: __/__/____ origem: __________

DIAGNÓSTICO: ________________________________________________________

choque séptico __ / sepse grave __; sítio de infecção: ___________

culturas: _______________________________________________________________

germe: ________________________________________________________________

antibioticoterapia: _______________________________________________________

__ __ __ __/___; SAPS II: ___ prob óbito: ___ %

SOFA D1= D3= D5= D7=

PaO2/FiO2

PAM

aminas

plaquetas

creatinina

bilirrubinas

Glasgow

leucócitos

PCRt

vent mec

corticoide

Swan-Ganz

hemodiálise

insulina

lactato

DESFECHO: ____________ data: __/__/____

108

Escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA).

Sistema 0 ponto 1 ponto 2 pontos 3 pontos 4 pontos

Respiratório

PaO2/FiO2

> 400 301-400 201-300 101-200 < 100

Cardiovascular PAM > 70

mmHg

PAM < 70

mmHg

Uso de

dobutamina

Dopamina <

15 µg/kg/min

OU

Noradrenalin

a < 0,1

µg/kg/min

Dopamina >

15 µg/kg/min

OU

Noradrenalin

a > 0,1

µg/kg/min

Renal Creatinina

< 1,2 mg/dl

Creatinina

1,2-1,9

mg/dl

Creatinina

2,0-3,4

mg/dl

Creatinina

3,5-4,9 mg/dl

OU diurese <

500 ml/dia

Creatinina >

5,0 mg/dl OU

diurese < 200

ml/dia

Hematológico

(plaquetometria

, 1000/mm3)

> 150 100-150 50-100 20-50 < 20

Hepático

(bilirrubinas

totais séricas,

mg/dl)

< 1,2 1,2-1,9 2,0-5,9 6,0-11,9 > 12,0

Neurológico

(escala de

Glasgow,

pontos)

15 13-14 10-12 6-9 < 6

Referência: os escores prognósticos SAPS II e SOFA estão descritos no site

http://www.sfar.org/t/spip.php?article60 , onde se pode calcular estes e outros escores

aplicados na Medicina Intensiva.

109

110

Anexo 2: Termo de Consentimento LIVRE E ESCLARECIDO

TÍTULO

Inflamação na Síndrome de Disfunção Múltipla Orgânica – envolvimento de citocinas, proteínas da

coagulação e disfunção mitocondrial.

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS

Durante as infecções graves, nosso organismo produz várias substâncias envolvidas no combate aos

microorganismos, estas substâncias podem por outro lado ter efeitos prejudiciais, quando em excesso.

Este estudo visa entender melhor os fenômenos ligados às infecções graves e futuramente contribuir

para o desenvolvimento de novas terapias para estas infecções.

PROPOSTA DO ESTUDO

O Sr(a) _________________________________ está sendo convidado a participar deste estudo, para

estudar a presença de substâncias produzidas pelo nosso organismo em resposta a infecções graves.

EXPLICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS

Será realizada a coleta de uma amostra de sangue de 10 (dez) ml, através de uma punção de veia

periférica, utilizando-se material estéril e descartável. Este procedimento é semelhante à coleta de

sangue para exames laboratoriais de rotina. Será coletado nos dias 1, 3, 5, 7 e 14 após início do estudo.

BENEFÍCIOS

No seu caso não há benefícios diretos, mas este estudo poderá ajudar a entender melhor os fenômenos

ligados às infecções graves e futuramente contribuir para o desenvolvimento de novas terapias para

estas infecções.

DESCONFORTOS E RISCOS

Os desconfortos que podem ocorrer são aqueles relacionados a uma retirada normal de sangue para

exame, como dor no local da punção venosa e formação de um hematoma local. Este estudo não

implica em riscos, nem em qualquer modificação do tratamento empregado ou administração de

medicamentos experimentais.

PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA NO ESTUDO

A participação neste estudo é voluntária. Você pode se recusar a participar, bem como cancelar sua

participação a qualquer momento do estudo. Esta decisão não afetará de nenhuma maneira os cuidados

médicos que lhe serão oferecidos.

111

CONFIDENCIALIDADE

O seu nome não será mencionado em publicações ou relatórios produzidos para este estudo.

Entretanto seu prontuário médico poderá ser consultado pelos profissionais envolvidos no estudo.

SE VOCÊ TEM DÚVIDAS

Se você tiver qualquer dúvida sobre o estudo, por favor telefone para o Dr. André Japiassú no telefone

2562-1311 ou Dr. Fernando Bozza no telefone 3865-9620.

CONSENTIMENTO PARA A PARTICIPAÇÃO NO ESTUDO

A sua assinatura significa que você leu este formulário ou que ele foi lido para você, que lhe foram

dadas todas as explicações sobre o estudo, que você recebeu respostas para as suas dúvidas, está

satisfeito com as informações que lhe foram dadas e concordou com a participação no estudo.

____________________________ ______________________

Assinatura (Paciente) Data

Se o paciente não é capaz de consentir:

A sua assinatura, como representante legal do paciente, significa que você leu este formulário ou que

ele foi lido para você, que lhe foram dadas todas as explicações sobre o estudo, que você recebeu

respostas para as suas dúvidas, está satisfeito com as informações que lhe foram dadas e concordou

com a participação do paciente no estudo.

________________________ não é capaz de dar o seu consentimento.

Nome do Paciente (em letra de forma)

_______________________________ __________________________

Nome do Representante Legal Grau de parentesco com o paciente

(em letra de forma)

____________________________ ______________________

Assinatura (Representante legal) Data

Anexo 3 – Artigo Original “Cytokine profiles as markers of disease severity in sepsis: a

multiplex analysis”, publicado na revista Critical Care, em 2007, volume 11, página R49

(participação como 3º autor).

112

113

114

115

116

117

118

119

Anexo 4 – Artigo de revisão “Revisiting steroid treatment for septic shock: molecular actions

and clinical effects - A review”, publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,

em 2009, volume 104, páginas 531-548.

120

121

122

123

124

125

126

127

128

129

130

131

132

133

134

135

136

137

138

Anexo 5 – Artigo submetido à publicação na revista Critical Care, em 2 de fevereiro de 2010.

“Sepsis is a major determinant of outcome in HIV/AIDS critically ill patients”

Japiassú AM, Amâncio RT, Mesquita EC, Medeiros DM, Bernal HB, Nunes EP, Luz PM,

Grinsztejn B, Bozza FA

Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ,

Brazil.

Laboratório de Imunofarmacologia, Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, RJ, Brazil.

Address requests for reprints to: Fernando A. Bozza MD, PhD. ICU, Instituto de Pesquisa

Clínica Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Av. Brasil, 4365, Manguinhos, Rio de

Janeiro, RJ, Brazil, 21040-900, Phone: (+55-21) 3865-9595; Fax: (+55-21) 2290-4532, E-

mail: [email protected] or [email protected]

Keywords: HIV, AIDS, Sepsis, prognosis, intensive care.

Text word count: 3405 words

139

Abstract (338 words)

Background: Natural history of HIV/AIDS has been changing over the last years, with a

significant improvement in survival and quality of life of patients. However, new challenges

have arisen to the management of the critically ill HIV/AIDS patients. Severe sepsis has

emerged as a common cause of ICU admission for those living with HIV/AIDS.

Contrastingly, HIV/AIDS patients have been systematically excluded from sepsis studies,

limiting the understanding of the impact of sepsis in this population. We prospectively

followed HIV/AIDS critically ill patients to evaluate the consequences of severe sepsis on the

short- and long-term survival.

Methods: We collected demographic data and HIV/AIDS characteristics at ICU admission.

Severity of illness, incidence of severe sepsis, sites of infection and microbiologic results

were registered. Twenty-eighth day, hospital and 6-month outcomes were obtained for all

patients. We calculated the Kaplan-Meier survival function stratified by sepsis, and Cox

proportional hazards regression analysis measured the effect of sepsis, as well as potential

factors, on 28-day and 6-month mortalities.

Results: During the 2-year study period, 88 HIV/AIDS critically ill patients were admitted to

the ICU. The three main causes of ICU admission were acute respiratory failure (29%), severe

neurological dysfunction (23%) and severe sepsis (20%). Seventy percent of patients had

opportunist infections, median CD4 count was 75 cells/mm3 and 45% were on antiretroviral

therapy. Severe sepsis occurred on 44 (50%) patients, mainly due to lower respiratory tract

infections. Length of stay (11 vs 7 days, p=0.03) and hospital mortality (66% vs 34%,

p=0.002) were significantly higher for septic HIV/AIDS patients, and severe sepsis

determined the highest hazard ratio for 28-day (adjusted HR 6.83, 95%CI 1.87-24.8) and 6-

month (adjusted HR 5.20 95%CI 1.38-9.97) mortalities. The survival of septic and non-septic

patients was significantly different at 28-days and 6-months follow-up times (log-rank and

Peto test p<0.001).

Conclusions: Severe sepsis has emerged as a major cause of admission and mortality for

hospitalized HIV/AIDS patients. We found that severe sepsis is the main risk factor for

hospital mortality, significantly impacting short- and longer-term survival of HIV/AIDS

critically ill patients.

140

Introduction

The long-term survival of patients with human immunodeficiency virus (HIV) has markedly

improved since the introduction of highly active anti-retroviral therapy (HAART). Estimates

for 2007 indicate that 33 million individuals were living with HIV; and it is expected that this

number will continue to grow, in particular in third world urban centers [1]. Recent studies

have analyzed HIV/AIDS critically ill patients’ characteristics, especially comparing pre and

post-HAART eras, with an emphasis on causes of admission and risk factors for mortality [2-

7]. Sepsis has emerged as an important cause of ICU admission for HIV/AIDS patients, and

its incidence has increased since the 1980s, contrary to the decreasing trend observed for

acute respiratory insufficiency and P jiroveci pneumonia [8]. Other studies have shown that

bacterial infections are common causes of mortality in patients with HIV, irrespective of

HAART use [9,10,11].

Epidemiological studies have shown that a fraction of 1-10% of the septic patients are

composed of individuals with HIV/AIDS; with the variation being mostly due to regional

differences in the prevalence of HIV and ICU admission practices [12-19]. In general,

HIV/AIDS septic patients are younger, have similar number of organ failures, but have lower

rates of ICU admission when compared to other patients with severe sepsis, including those

with worse prognosis, such as metastatic cancer or severe liver disease [20].

Despite the significant increases in survival and quality of life, HIV/AIDS patients have been

systematically excluded from sepsis studies, limiting the understanding of the impact of sepsis

in this population. To date, few studies have evaluated the effect of severe sepsis on survival

of HIV/AIDS critically ill patients. In this study, we prospectively followed HIV/AIDS

critically ill patients to evaluate the impact of severe sepsis on the short- and long-term

survival.

Patients and Methods

Design and Setting

This prospective cohort study was conducted at the ICU of the Instituto de Pesquisa Clínica

Evandro Chagas (IPEC), Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brazil. IPEC has provided

care to HIV/AIDS patients in Rio de Janeiro since 1986 and, currently, more than two

thousand adult patients are actively followed at the HIV/AIDS clinic.

At our institution, generally only patients for whom potentially lifespan-extending treatment

is available are considered for ICU admission. Critically ill unstable patients, with indication

141

for intensive care and monitoring and/or need for immediate procedures or interventions are

eligible for ICU admission. Treatment-limitation decisions are made in the ICU when patients

do not recover from acute illness despite intensive care, or control of baseline condition has

not been achieved. These decisions are shared by ICU team, HIV/AIDS specialist and family

members.

This study was supported by institutional funds. The institutional review board approved the

study and waived the need for informed consent. The study conduct did not interfere with

patient management decisions.

Participants, Data Collection and Definitions

All consecutive HIV-infected patients admitted to the ICU from June 2006 to May 2008 were

included in this study. AIDS cases and the occurrence of AIDS-defining diseases were

defined by the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) definitions, and HAART

was initiated when CD4 cell count was below 200-350 cells/mm3 [21]. Time since AIDS

diagnosis was calculated from AIDS onset until ICU admission. Recent AIDS onset was

defined as those occurring 2 months prior to admission. The CD4 cell count was considered

when obtained within 3 months of ICU admission or measured during the first week of ICU

entry. HAART was defined as the regular use of at least 2 nucleoside reverse transcriptase

inhibitor (NRTI) plus a protease inhibitor (PI) or a nonnucleoside reverse transcriptase

inhibitor (NNRTI) or a PI and a NNRTI in combination [20].

In case of multiple ICU admissions, only the first was considered. ICU causes of admission

were divided into acute respiratory insufficiency, sepsis, severe neurological disturbances,

heart disease, complications of solid organ or hematological neoplasms, metabolic

disturbance, and gastrointestinal complications. Readmissions were defined for patients

returning to ICU during the same hospitalization.

A standardized data entry form was created for the collection of demographic data, main

admission diagnosis, opportunistic infections, comorbidities, location before ICU admission

(emergency room, ward or other hospital), laboratory results based on computerized

laboratory records review, ICU and hospital length of stay. The following variables were

collected during the first day of ICU stay: expanded Simplified Acute Physiology Score

(SAPS) II [22,23], Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) score [24], and use of

vasopressor agents. Performance Status (PS) was calculated based on patient or surrogate

information [25]. During ICU stay, the need for mechanical ventilation for more than 24

hours, use of renal support devices, development of shock (use of vasopressor agent to

142

maintain mean arterial pressure higher than 70 mmHg) and Acute Lung Injury (defined as

PaO2/FiO2 ratio less than 300) were also recorded.

Sepsis definitions were based on ACCP/SCCM Consensus Conference [26]; sepsis was

present if there was a presumed or confirmed infection, associated with at least two of the

following: tachycardia > 90 beats per minute; tachypnea > 30 cycles per minute (or

hypocapnia less than 32 mmHg); fever (> 38º C) or hypothermia (< 36º C); and leucocytosis

(> 12000/mm3) or leucopenia (< 4000/mm3) or presence of more than 10% immature forms.

Severe sepsis was defined if there was any organ dysfunction, sepsis-induced hypotension or

elevated serum lactate levels. Septic shock was defined by sepsis with hypotension that

persisted after adequate infusion of fluids and need of vasopressor agents.

Infections were classified as community-acquired or nosocomial, according to the cutoff time

point 48 hours of hospital admission. Definitions of lower pulmonary tract infection,

bloodstream infection, and urinary tract infection were made following the CDC definitions

[27]. Appropriate biological material was sampled from suspected sites of infection.

Microbiological data were collected and analyzed according to the local Infection Control

Committee.

Statistical Analysis

Continuous variables were summarized as medians and interquartile ranges. We compared the

distribution of continuous variables using the t-test, and of categorical variables using the χ2

test. We calculated the Kaplan-Meier survival function stratified by sepsis. The log-rank and

Peto tests were used to evaluate if the estimated survival functions are significantly different

by strata. Two outcomes were of interest: mortality within 28 days and 6 months from entry

to the ICU. We used Cox proportional hazards regression analysis to measure the effect of

sepsis, as well as other factors, on 28-days and 6-months mortalities. We also estimated the

effect of sepsis while controlling for potential confounders such as age, CD4 cell count, time

since AIDS diagnosis, HAART, location before ICU, and cardiovascular and respiratory

dysfunctions, in a multivariate model. The proportionality assumption in Cox’s regression

was evaluated by the estimating the correlation between survival time and Shoenfeld's

standardized residuals. We used the statistical software R, version 2.9 (www.r-project.org) for

all statistical analysis.

Results

143

Patient characteristics

During the 2-year study period, there were 107 ICU admissions of HIV/AIDS critically ill

patients; 19 of which were readmissions. We analyzed the first ICU admission of 88 patients;

their characteristics are shown in Table 1. Briefly, median age was 40 years, and there was a

male predominance (76%). Median CD4 cell count was 75 (interquartile range: 32-227)

cells/mm3. The median time since AIDS diagnosis was 40 months. Twenty-five patients

(28%) had recently been diagnosed with AIDS; forty patients (45%) were using HAART. The

percentage of patients using the three drug classes was: NRTI (97%), PI (67%) and NNRTI

(35%). HAART use was not found to impact hospital survival (50% mortality for HAART

and non-HAART subjects).Patients not using HAART were younger (37 vs 43 years, p=0.03),

had more opportunistic infections (83% vs 55%, p<0.01), and less time since AIDS diagnosis

(3.5 vs 68.5 months, p<0.01).

Acute respiratory failure was the cause of ICU admission for 29% of the patients, which was

caused by bacterial pneumonia (n=10), Pneumocystis jiroveci pneumonia (n=8), tuberculosis

(n=6) and cardiogenic pulmonary edema (n=2). Severe neurological complications were the

cause of ICU admission in 20 patients (23%). Other causes of ICU admission were: severe

sepsis (n=18), decompensate heart disease (n=9), gastrointestinal complications (n=6),

metabolic dysfunction secondary to renal dysfunction or lactic acidosis related to drug

adverse effects (n=5), and complications of high-grade non-Hodgkin´s lymphoma (n=4)

(Table 1). Sixty-two patients (70%) had at least one opportunistic infection; P jiroveci

pneumonia and neurotoxoplasmosis were the most frequent opportunistic infections.

In-hospital mortality

We observed 49% in-hospital mortality. Patients with non-Hodgkin´s lymphoma and

gastrointestinal complications presented high mortality (100% and 83%, respectively), while

patients presenting with acute respiratory failure, neurological disorders and sepsis had

moderate mortality (46%, 45% and 50%, respectively). SAPS II (54 vs 44 points, p < 0.001)

and SOFA score on day 1 (7 vs 4 points, p < 0.001) were significantly higher for nonsurvivors

(Table 2). Early shock (use of vasopressor agents in the first 24 hours since admission) was

more common in nonsurvivors (30 vs 13%, p < 0.05). Nonsurvivors used more life-support

devices, such as mechanical ventilation (84 vs 38%, p < 0.01) and renal support therapy (30

vs 7%, p < 0.01). Severe sepsis or septic shock was observed with higher frequency for the

nonsurvivor group (67 vs 33%, p < 0.01). Other demographic characteristics such as age,

gender, admission from emergency or ward, and Performance Status were similar in the two

144

groups. There was no statistically significant difference between the two groups regarding

CD4 cell counts, time since AIDS diagnosis and HAART use.

Severe sepsis in HIV/AIDS patients

Forty-four patients (50%) presented with severe sepsis at ICU admission or during ICU stay.

In comparison with non-septic patients, septic patients were more likely to come from wards

(75% vs 45%, p<0.01), spent more time in ICU (11 vs 7 days, p=0.03), were more severely ill

(SAPS II, 56 vs 44 points, p<0.001; and SOFA on day 1, 7 vs 3 points, p<0.001), and needed

mechanical ventilation more often (86 vs 34%, p<0.001). We did not observe differences on

CD4 cell count or time since AIDS diagnosis between septic and non-septic groups. Hospital

mortality was significantly higher in septic when compared to non-septic patients (66% vs

34%, p=0.002). Lung was the most common site of infection (52%), followed by primary

bloodstream infections (38%), venous catheter-related bacteremia (7%) and urinary tract

infections (3%) (Table 3). In 90% of the cases, nosocomial infections were the source of

sepsis in our cohort. Microbiology of infections was mostly composed of Gram-negative rods,

such as Pseudomonas aeruginosa (10), Klebsiella pneumoniae (6), Enterobacter sp (5),

Escherichia coli (3), Acinetobacter sp (3), Serratia marcenses (3), and Staphylococcus sp (9).

Mycobacterium tuberculosis was the main ethiologic agent of severe sepsis in 6 (14%)

patients. There were also single cases of S maltophilia, C difficile, C freundi, B cepacia, and

Candida sp. Bacteremia was detected in 43% (19) of the septic patients, irrespectively of the

site of infection.

28th day and 6-month survival

The survival expectation of septic and non-septic patients was significantly different both at

28-days and 6-months follow-up timepoints (Figure 1, p-values for log-rank and Peto tests <

0.001). Using Cox proportional hazards regression, we estimated that the hazard of death at

28-days for septic patients was 4-times higher than for non-septic patients (HR 4.17 95%CI

1.96-8.90). Other factors associated with an increased hazard of death at 28-days were being

in a hospital ward before entry to the ICU, and cardiovascular and respiratory dysfunctions

(Table 4). The effect of sepsis on 28-days mortality was even stronger in the multivariate

model, that is, when controlling for confounders. The adjusted hazard of death at 28-days was

almost 7-fold higher (HR 6.83 95%CI 1.87-24.8) for septic patients compared to non-septic

when controlling for age, CD4 cell count, time since AIDS diagnosis, HAART, location

before ICU, and cardiovascular and respiratory dysfunctions. When considering 6-months of

145

follow-up, sepsis also determined the highest hazard of death both in the crude (HR 3.25

95%CI 1.75-6.16) and adjusted (HR 5.20 95%CI 1.38-9.97) analyses (Table 4). No significant

difference of 28-day or 6-month mortality was retrieved when on-admission or ICU-acquired

severe sepsis was analyzed separately. When comparing the two follow-up periods, 28-days

and 6-months, we noticed that, although the effect of sepsis was stronger early during follow-

up, it remained significant at 6 months.

Discussion

The improvement of HIV/AIDS management has led to changes in the observed clinical

manifestations and outcomes of these patients in critical care units, with a decreasing trend in

admissions due to opportunistic infections while an opposing trend has been observed for

other infectious and metabolic diseases [28]. The current phase of the HIV/AIDS epidemic

poses new challenges to the management of the HIV/AIDS critically ill. Severe sepsis has

emerged as a common cause of hospital admission for those living with HIV/AIDS [2,8,29].

In this prospective study, we demonstrated that severe sepsis is the main risk factor for

hospital mortality, significantly impacting short- and long-term survival of HIV/AIDS

critically ill patients.

Half of our patients presented with severe sepsis, either as the admission cause or by

developing this condition during ICU stay. An increasing incidence of severe sepsis as the

cause of ICU admission in the HIV/AIDS population has been observed in the last 2 decades.

Casalino et al reported that severe sepsis at ICU admission increased from 16% in the pre-

HAART era to 22% in the post-HAART era [29]. Huang et al showed that severe sepsis was

the only cause of ICU admission for HIV/AIDS patients that increased from the period 1981-

1985 to 2000-2003, while respiratory failure significantly decreased [8]. Overall, severe septic

patients constitute a varying fraction of HIV/AIDS ICU population, ranging from 12% to 31%

of these patients [2-7, 29-32]. Although our observed fraction of severe septic patients at ICU

admission is within the range reported in the literature, we found that an additional significant

proportion of patients developed severe sepsis during ICU stay. This finding emphasizes the

importance of severe sepsis development in the ICU, and points out to a subgroup of patients

that is being overlooked in studies that only considering those who presented with severe

sepsis at ICU admission.

Sepsis related mortality was increased in both short and longer-term follow-up. Indeed, septic

patients had significantly higher in-hospital mortality than non-septic patients. Thyrault et al

146

studied a cohort of septic AIDS patients and reported 46% 28-days mortality and only 4%

survival after 1 year [33]. Although the results of the latter study are relevant, it is important

to note that it was conducted during the pre-HAART era, when the long-term prognosis of

AIDS patients after hospitalizations was very poor. A 4-year retrospective cohort study

conducted in the early HAART period (1995-1999), reported 68% in hospital mortality for

AIDS critically ill patients with bacterial sepsis [2]. The latter study identified bacterial cause

of sepsis and APACHE III score greater than 80 points as risk factors for hospital mortality.

We also found that cardiovascular and respiratory dysfunctions increased the hazards of

death, especially in the short-term. Respiratory dysfunction is closely associated to

mechanical ventilation use and the presence of severe sepsis. Cardiovascular dysfunction

could also be related to the presence of shock and use of vasoactive agents, which are more

frequent in septic patients. Use of mechanical ventilation [3,5,29,32,34], higher APACHE II

or SAPS II scores [2,29,32,34], use of HAART during ICU stay [32], and opportunistic

infections [3,5,34] have been found to impact hospital mortality in a heterogeneous group of

studies. Low CD4 cell counts, time since AIDS diagnosis, HAART treatment or AIDS stage

of disease, on the other hand, were not identified as risk factors for mortality in the post-

HAART era [4,6,34]. In our cohort, almost 30% of patients had a recent AIDS diagnosis and

were, therefore, HAART naïve, and an additional 16% of the patients were non-compliant

HAART users. We found that these groups, who correspond to almost 50% of the patients in

our study, were not subject to higher hospital mortality. Recent data has shown a greater

impact of ICU care rather than HIV/AIDS management as major risk factors for death.

Ventilatory management with lower tidal volumes was shown to be protective for mortality

due to acute lung injury in critically ill patients, and this strategy was associated with lower

mortality among HIV/AIDS patients with respiratory insufficiency [35].

Severe sepsis was strongly associated with worse outcomes, and was caused by bacterial

infections, mainly of nosocomial origin. Nosocomial infections appear to be more common in

patients with acquired immunodeficiency syndrome (AIDS) compared to those not HIV-

infected [36]. Nosocomial infections have been associated with immunosuppression level,

prior antibiotic use and greater exposure to invasive devices such as intravenous catheters

[37]. The CD4 cell count in our cohort was very low, and this could be associated with greater

use of antibiotic for opportunistic infections prophylaxis or for treatment of bacterial

infections contributing to a high rate of antibiotic resistance and consequently, the

development of nosocomial infection. Pneumonia and bloodstream infections were the main

sites of infections for almost all septic patients, and hospital-acquired bacteria composed the

147

major part of the microbiology of severe infections. Lower tract respiratory infection was also

the main site of infection on two other studies. Thyrault et al reported on the characteristics of

28 septic shock AIDS patients admitted to ICU, mostly due to nosocomial pneumonia caused

by Gram-negative and Gram-positive bacteria [33]. Rosenberg et al verified that pneumonia

was the cause of 65% of bacterial sepsis in HIV/AIDS critically ill patients, mainly caused by

P aeruginosa, S aureus and K pneumoniae [38]. A high incidence of nosocomial bacteremia

was also common in HIV/AIDS patients with lower CD4 cell count [39,40]. In our

population, bacteremia was diagnosed in 43% of the patients. Bloodstream infections can

negatively impact on HIV/AIDS patients´ outcomes, with higher mortality rates occurring in

this group than among those without bacteremia [37, 40-43]. Microbiology of the septic

patients in our study was very similar to the reported non-HIV infected patients. We observed

a predominance of Gram-negative and Gram-positive bacteria, but also Mycobacterium

tuberculosis, which was the main pathogen associated with severe sepsis in 5 out of 44

patients in our cohort. Tuberculosis, which is highly prevalent in developing countries, has

been found to cause sepsis with a high rate of bacteremia in AIDS patients [40, 44-48].

The main contribution of our study relies on the fact that sepsis is the most important risk

factor for mortality in patients with HIV/AIDS admitted to ICU, irrespective of HAART use.

Other studies have not evaluated the diagnosis of severe sepsis or septic shock as independent

variable on survival analysis, whereas they remained giving greater worth to the presence of

opportunistic infections or immunosuppression surrogates (CD4 cell count or viral load).

Otherwise, our study has limitations. The study was conducted in a single center specialized

in HIV/AIDS patients care, and a multicenter study is needed to confirm our findings

regarding severe sepsis on HIV/AIDS critically ill patients. Although there was no

prospective comparison with a cohort without HIV, there are similarities in the microbiology

of infections and incidence of organ dysfunctions with non HIV/AIDS population reported in

the literature [20,49,50]. The high frequency of nosocomial infection does not allow us to

extrapolate our results to community-acquired septic patients. The long-term effects of sepsis

were not evaluated with quality of life questionnaires or with functional capacity examination.

The incidence of sepsis is increasing worldwide, with a projected increase of more than 15%

for the next decade [12,36]. Although international efforts sought to reduce sepsis mortality,

increased survival has not been observed in low-and middle-income countries (LMIC) [18,51-

53]. New strategies to reduce the impact of sepsis, especially in LMIC are timely. Those

strategies should be able to deal with specific subgroups of patients, including the HIV/AIDS

population. In this setting, the prevention of both nosocomial and community-acquired

148

infections should be incorporated into sepsis guidelines as a cost-effective measure for

LMICs. Finally, biomarkers and functional immunoassays must be studied in order to

understand the difference on sepsis pathophysiology between general septic patients and the

HIV/AIDS septic patients.

In conclusion, we demonstrated that severe sepsis was the main risk factor for hospital

mortality in our cohort, significantly impacting short- and longer-term survival of HIV/AIDS

critically ill patients. Mortality was shown to be more dependent on critically illness factors as

the presence of sepsis and the severity of organ dysfunction than the HIV/AIDS related

characteristics, such as the level of immunodeficiency, use of HAART or time since AIDS

diagnosis. A high level of suspicion related to sepsis diagnosis coupled with initiatives related

to nosocomial infection and sepsis prevention could contribute to decrease mortality in

critically ill HIV/AIDS patients.

List of abbreviations:

HIV/AIDS; Human Immunodeficiency Virus/ Acquired Immunodeficiency Syndrome;

HAART: Highly Active Anti-retroviral Therapy; NRTI: nucleoside reverse transcriptase

inhibitor; PI protease inhibitor, NNRTI: nonnucleoside reverse transcriptase inhibitor

APACHE: Acute Physiology and Chronic Health Evaluation Score; SAPS: simplified acute

physiology score; ICU: intensive care unit; SOFA: Sequential Organ Failure Assessment.

ACCP/SCCM: American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine;

CD4: cluster of differentiation 4; PS: Performance Status

Competing interests:

The authors declare that they have no competing interests.

Authors' contributions

All authors made substantial contribution to the study design and methods. AMJ, DMM and

FAB conceived of the study. AMJ, RTA, ECM and HBB collected clinical and

microbiological data. PML performed the data analysis. AMJ, PML and FAB drafted the

149

manuscript and DMM, EPN and BG critically revised it for important intellectual content. All

authors read and approved the final version of the manuscript.

References

1. Karim SSA, Karim QA, Gouws E, Baxter C: Global Epidemiology of HIV-AIDS.

Infect Dis Clin N Am 2007, 21:1-17.

2. Afessa B, Green B: Clinical Course, Prognostic Factors, and Outcome Prediction

for HIV Patients in the ICU. The PIP (Pulmonary Complications, ICU Support, and

Prognostic Factors in Hospitalized Patients with HIV) Study. Chest 2000, 118:138-145.

3. Morris A, Creasman J, Turner J, Luce JM, Watcher RM, Huang L: Intensive Care of

Human Immunodeficiency Virus–infected Patients during the Era of Highly Active

Antiretroviral Therapy. Am J Resp Crit Care Med 2002, 166:262-267.

4. Narasihman M, Posner AJ, DePalo VA, Mayo PH, Rosen MJ: Intensive Care in

Patients With HIV Infection in the Era of Highly Active Antiretroviral Therapy. Chest

2004, 125:1800–1804.

5. Khouli H, Afrasiabi A, Shibli M, Hajal R, Barrett CR, Homel P: Outcome of

Critically Ill Human Immunodeficiency Virus–Infected Patients in the Era of Highly

Active Antiretroviral Therapy. J Intensive Care Med 2005, 20:279-285.

6. Palacios R, Hidalgo A, Reina C, de la Torre MV, Márquez M, Santos J: Effect of

antiretroviral therapy on admissions of HIV-infected patients to an intensive care unit.

HIV Med 2006, 7:193-196.

7. Powell K, Davis JL, Morris AM, Chi A, Bensley MR, Huang L: Survival for

Patients With HIV Admitted to the ICU Continues to Improve in the Current Era of

Combination Antiretroviral Therapy. Chest 2009, 135:11-17.

8. Huang L, Quartin A, Jones D, Havlir DV: Intensive Care of Patients with HIV

Infection. N Engl J Med 2006, 355:173-181.

9. Rosen MJ, Narasimhan M: Critical care of immunocompromised patients: Human

immunodeficiency virus. Crit Care Med 2006, 34:S245-S250.

10. Davaro RE, Thirumalai A: Life-Threatening Complications of HIV Infection. J

Intensive Care Med 2007, 22:73-81.

11. Grinsztejn B, Veloso VG, Friedman RK, Moreira RI, Luz PM, Campos DP, Pilotto

JH, Cardoso SW, Keruly JC, Moore RD: Early mortality and cause of deaths in patients

using HAART in Brazil and the United States. AIDS 2009; 23:2107-14.)

150

12. Angus DC, Linde-Zwirble WT, Lidicker J, Clermont G, Carcillo J, Pinsky MR:

Epidemiology of severe sepsis in the United States: Analysis of incidence, outcome, and

associated costs of care. Crit Care Med 2001, 29:1303-1310.

13. Martin GS, Mannino DM, Eaton S, Moss M: The Epidemiology of Sepsis in the

United States from 1979 through 2000. N Engl J Med 2003, 348:1546-1554.

14. Annane D, Aegerter P, Jars-Guincestre MC, Guidet B: Current Epidemiology of

Septic Shock. Am J Resp Crit Care Med 2003, 168:165-172.

15. The EPISEPSIS Study Group: EPISEPSIS: a reappraisal of the epidemiology and

outcome of severe sepsis in French intensive care units. Intensive Care Med 2004, 30:580-

588.

16. Ballester JCA, Ballester F, Sánchez AG, Quilis AA, Rubio EC, Otero CP:

Epidemiology of Sepsis in the Valencian Community (Spain), 1995–2004. Infect Control

Hosp Epidemiol 2008, 29:630–634.

17. Blanco J, Muriel-Bombín A, Sagredo V, Taboada F, Gandía F, Tamayo L, Collado J,

García-Labattut A, Carriedo D, Valledor M, et al.: Incidence, organ dysfunction and

mortality in severe sepsis: a Spanish multicentre study. Crit Care 2008, 12:R158.

18. Khwannimit B, Bhurayanontachai R: The epidemiology of, and risk factors for,

mortality from severe sepsis and septic shock in a tertiary-care university hospital

setting. Epidemiol Infect 2009, 137;1333–1341.

19. Beale R, Reinhart K, Brunkhorst FM, Dobb G, Levy M, Martin G, Martin C, Ramsey

G, Silva E, Vallet B, et al.: Promoting Global Research Excellence in Severe Sepsis

(PROGRESS): lessons from an international sepsis registry. Infection 2009, 37:222-232.

20. Mrus JM, Braun LA, Yi MS, Linde-Zwirble WT, Johnston JA: Impact of HIV/AIDS

on care and outcomes of severe sepsis. Crit Care 2005, 9:R623-R630.

21. US Department of Health Human Services, Centers for Disease Control and

Prevention (CDC): Impact of expanded AIDS surveillance case definition on AIDS case

reporting. Morb Mort Wkly Rep 1993, 16:308–311.

22. Le Gall JR, Lemeshow S, Saulnier F: A new Simplified Acute Physiologic Score

(SAPS II) based on an European/North American multicenter study. JAMA 1993,

270:2957-2963.

23. Le Gall JR, Neumann A, Hemery F, Bleriot JP, Fulgencio JP, Garrigues B, Gouzes C,

Lepage E, Moine P, Villers D: Mortality prediction using SAPS II: an update for French

intensive care units. Crit Care 2005, 9:R645-R652.

151

24. Vincent JL, Moreno R, Takala J, Willatts S, de Mendonça A, Bruining H, Reinhart

CK, Suter PM, Thijs LG: The SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score to

describe organ dysfunction/failure. Intensive Care Med 1996, 22:707-710.

25. Zubrod CG, Schneiderman M, Frei E III: Appraisal of methods for the study of

chemotherapy of cancer in man: Comparative therapeutic trial of nitrogen mustard and

triethylene thiophosphoramide. J Chron Dis 1960, 11:7–33.

26. Bone RC, Balk RA, Cerra FB, Dellinger RP, Fein AM, Knaus WA, Schein RM,

Sibbald WJ: Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of

innovative therapies in sepsis. The ACCP/SCCM Consensus Conference Committee.

American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine. Chest 1992,

101:1644-1655.

27. Horan TC, Andrus M, Dudeck MA: CDC/NHSN surveillance definition of health

care–associated infection and criteria for specific types of infections in the acute care

setting. Am J Infect Control 2008, 36:309-332.

28. Pacheco AG, Tuboi SH, May SB, Moreira LFS, Ramadas L, Nunes EP, Merçon M,

Faulhaber JC, Harrison LH, Schechter M: Temporal Changes in Causes of Death Among

HIV-Infected Patients in the HAART Era in Rio de Janeiro, Brazil. J Acquir Immune

Defic Syndr 2009, 51:624-630.

29. Casalino E, Wolff M, Ravaud P, Choquet C, Bruneel F, Regnier B: Impact of

HAART advent on admission patterns and survival in HIV-infected patients admitted to

an intensive care unit. AIDS 2004, 18:1429-1433.

30. Casalino E, Mendoza-Sassi G, Wolff M, Bédos JP, Gaudebout C, Regnier B, Vachon

F: Predictors of Short- and Long-term Survival in HIV-Infected Patients Admitted to

the ICU. Chest 1998, 113:421-429.

31. Dickson SJ, Batson S, Copas AJ, Edwards SG, Singer M, Miller RF: Survival of

HIV-infected patients in the intensive care unit in the era of highly active antiretroviral

therapy. Thorax 2007, 62:964-968.

32. Croda J, Croda MG, Neves A, Santos SS: Benefit of antiretroviral therapy on

survival of human immunodeficiency virus-infected patients admitted to an intensive

care unit. Crit Care Med 2009, 37:1605-1611.

33. Thyrault M, Gachot B, Chastang C, Souweine B, Timsit JF, Bédos JP, Regnier B,

Wolff M: Septic shock in patients with the acquired immunodeficiency syndrome.

Intensive Care Med 1997, 23:1018-1023.

152

34. Vincent B, Timsit JF, Auburtin M, Schortgen F, Bouadma L, Wolff M, Regnier B:

Characteristics and outcomes of HIV-infected patients in the ICU: impact of the highly

active antiretroviral treatment era. Intensive Care Med 2004, 30:859-866.

35. Davis JL, Morris A, Kallet RH, Powell K, Chi AS, Bensley M, Luce JM, Huang L:

Reduced Mortality in HIV-infected Patients with Low Tidal Volume Ventilation Is

Associated with Acute Ling Injury. Thorax 2008, 63:988-993.

36. Angus DC, Wax RS: Epidemiology of sepsis: an update. Crit Care Med 2001; Suppl

7:109-116.

37. Petrosillo N, Pagani L, Ippolito G; Gruppo HIV e Infezioni Ospedaliere: Nosocomial

infections in HIV-positive patients: an overview. Infection 2003, Suppl 2:28-34.

38. Rosenberg AL, Seneff MG, Atiyeh L, Wagner R, Bojanowski L, Zimmerman JE: The

importance of bacterial sepsis in intensive care unit patients with acquired

immunodeficiency syndrome: Implications for future care in the age of increasing

antiretroviral resistance. Crit Care Med 2001, 29:548-556.

39. Meynard JL, Guiguet M, Fonquernie L, Lefebvre B, Lalande V, Honore I, Meyohas

MC, Girard PM: Impact of highly active antiretroviral therapy on the occurrence of

bacteremia in HIV-infected patients and their epidemiologic characteristics. HIV Med

2003, 4:127-132.

40. Arthur G, Nduba VN, Kariuki SM, Kimari J, Bhatt SM, Gilks CF: Trends in

bloodstream infections among human immunodeficiency virus-infected adults admitted

to a hospital in Nairobi, Kenya, during the last decade. Clin Infect Dis 2001, 33:248-256.

41. Hung CC, Hsueh PR, Hsieh SM, Liu CJ, Chen MY, Luh KT: Bacteremia and

fungemia in patients with advanced human immunodeficiency vírus (HIV) infection in

Taiwan. J Formos Med Assoc 1998, 97:690-697.

42. Tumbarello M, Tacconelli E, Donati KG, Citton R, Leone F, Spanu T, Cauda R: HIV-

Associated Bacteremia: How It Has Changed in the Highly Active Antiretroviral

Therapy (HAART) Era. J Acquir Immune Defic Syndr 2000, 23:145-151.

43. Vidal F, Mensa J, Martínez JA, Almela M, Marco F, Gatell JM, Richart C, Soriano E,

Jiménez de Anta MT: Pseudomonas aeruginosa Bacteremia in Patients Infected with

Human Immunodeficiency Virus Type 1. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 1999, 18:473–

477.

44. Grinsztejn B, Veloso VG, Pilotto JH, Campos DP, Keruly JC, Moore RD:

Comparison of clinical response to initial highly active antiretroviral therapy in the

153

patients in clinical care in the United States and Brazil. J Acquir Immune Defic Syndr

2007, 45:515-520.

45. Schmaltz CA, Santanna FM, Neves SC, Velasque LD, Lourenço MC, Morgado MG,

Rolla VC, Lopes GS: Influence of HIV Infection on Mortality in a Cohort of Patients

Treated for Tuberculosis in the Context of Wide Access to HAART, in Rio de Janeiro,

Brazil. J Acquir Immune Defic Syndr, in press.

46. Pacheco AG, Durovni B, Cavalcante SC, Lauria LM, Moore RD, Moulton LH,

Chaisson RE, Golub JE: AIDS-Related Tuberculosis in Rio de Janeiro, Brazil. PLoS One

2008, 3:e3132.

47. Waddell RD, Lishimpia K, von Reyn CF, Chintua C, Babooa KS, Kreiswirthb B,

Talbotc EA, Karagas MR: Study Group Bacteremia due to Mycobacterium tuberculosis

or M. bovis, Bacille Calmette-Guerin (BCG) among HIV positive children and adults in

Zambia. AIDS 2001, 15:55-60.

48. Grinsztejn B, Fandinho FC, Veloso VG, João EC, Lourenço MC, Nogueira SA,

Fonseca LS, Werneck-Barroso E: Mycobacteremia in patients with the acquired

immunodeficiency syndrome. Arch Intern Med 1997; 157:2359-63.)

49. Silva E, Pedro MA, Sogayar ACB, Mohovic T, Silva CLO, Janiszewski M, Cal RGR,

Sousa EF, Abe TP, Andrade J et al.: Brazilian Sepsis Epidemiological Study (BASES

study). Crit Care 2004, 8:R260.

50. Sales-Júnior JA, David CM, Hatum R, Souza PCSP, Japiassú A, Pinheiro CTS,

Friedman G, Silva OB, Dias MD, Koterba E et al.: An Epidemiological Study of Sepsis in

Intensive Care Units. Sepsis Brazil Study. Rev Bras Ter Intens 2006, 18:9-17.

51. Dellinger RP, Levy MM, Carlet JM, Bion J, Parker MM, Jaeschke R, Reinhart K,

Angus DC, Brun-Buisson C, Beale R et al.: Surviving Sepsis Campaign: international

guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2008. Crit Care Med 2008,

36:296-327.

52. Becker JU, Theodosis C, Jacob ST, Wira CR, Groce NE: Surviving sepsis in low-

income and middle-income countries: new directions for care and research. Lancet Infect

Dis 2009, 9:577-582.

53. Cheng AC, West TE, Limmathurotsakul D, Peacock SJ: Strategies to Reduce

Mortality from Bacterial Sepsis in Adults in Developing Countries. PLoS Med 2008,

5:1173-1179.

154

Table 1 – Demographics, HIV/AIDS characteristics and causes of admission to ICU of all

patients.

Patients (n = 88)

Age (years) 40 (31-47)

Male gender 67 (76%)

Time since AIDS diagnosis (months) 40 (2-90)

Recent AIDS diagnosis 25 (28%)

CD4 cell count (per mm3) 75 (32-227)

HAART 40 (45%)

Cause of admission

Acute respiratory failure

Coma/torpor

Sepsis

Decompensate heart disease

Gastrointestinal diseases

Metabolic disturbance

High-grade lymphoma

26 (29%)

20 (23%)

18 (20%)

9 (10%)

6 (7%)

5 (6%)

4 (5%) Continuous values are shown as median and interquartile interval. ICU – intensive care unit;

AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome; HAART – highly active antiretroviral

therapy.

155

Table 2 – Comparison of patients according to hospital survival.

Survivors

(n = 45)

Non-survivors

(n = 43)

Age (mean ± SD) 42 (35-50) 38 (29-46)

Male gender (%) 36 (80%) 31 (72%)

Location before ICU (ward, %) 24 (53%) 29 (67%)

Performance status 3 or 4 1 (0-2) 2 (1-3)

CD4 count < 50 mm3 (%) 20 (44%) 21 (49%)

Length of time from AIDS diagnosis 39 (2-92) 50 (2-85)

Recent (< 3 months) AIDS diagnosis 13 (29%) 13 (30%)

HAART prescription 20 (44%) 20 (46%)

SAPS II expanded (points) 44 (37-54) 54 (46-67)†

SOFA D1 (points) 4 (1-7) 7 (4-10)†

Mechanical ventilation 17 (38%) 36 (84%)†

Use of vasopressors on day 1 6 (13%) 15 (30%)*

Renal support 3 (7%) 13 (30%)†

Severe sepsis / septic shock (%) 15 (33%) 29 (67%)†

ICU length of stay (days) 9 (5-17) 10 (4-14)

Hospital length of stay (days) 24 (12-58) 15 (10-24)

ICU – Intensive Care Unit; HAART – Highly Active Anti-Retroviral Therapy; AIDS –

Acquired Imunodeficiency Syndrome; SAPS – Simplified Acute Physiology Score; SOFA –

Sequencial Organ Failure Assessment. Significant differences are shown as * p<0.05; †

p<0.01.

156

Table 3 – Site of infection and microbiological data of septic shock AIDS patients.

Site of infection N

Pulmonary 23 (52%)

Primary bacteremia 17 (38%)

Venous catheter-related infection 3 (7%)

Urinary tract infections 1 (3%)

Microbiology of infection N

P aeruginosa 10 (23%)

K pneumoniae 6 (13%)

M tuberculosis 6 (13%)

Enterobacter sp 5 (11%)

S aureus 5 (11%)

Staphylococcus negative-coagulase 4 (9%)

E coli 3 (7%)

A calcoaceticus 3 (7%)

S marcenses 3 (7%)

Other 5 (11%)

157

Table 4 – Crude and adjusted hazard ratios (HR) and 95% confidence intervals for factors

associated with 28-days and 6-months mortality as estimated using Cox proportional hazards

regression.

28-days mortality 6-months mortality

Crude HR

(95% CI)

Adjusted HR

(95% CI)

Crude HR

(95% CI)

Adjusted HR

(95% CI)

Age (< 40 years) 1.96

(0.99-3.89)

1.52

(0.84-2.77)

Location before

ICU (ward)

2.28*

(1.10-4.73)

1.93*

(1.02-3.64)

Cardiovascular

dysfunction

2.97*

(1.23-7.13)

2.12*

(1.05-4.30)

Respiratory

dysfunction

2.21*

(1.01-4.86)

1.58

(0.82-3.02)

Severe

sepsis/Septic shock

4.17†

(1.96-8.90)

6.83†

(1.87-24.8)

3.25†

(1.75-6.16)

5.20†

(1.38-9.97)

Time since AIDS

diagnosis (< 60

days)

0.96

(0.46-2.00)

0.95

(0.49-1.84)

CD4 count (< 50

cells/mm3)

1.16

(0.51-2.65)

1.55

(0.76-3.18)

HAART 1.31

(0.68-2.52)

1.21

(0.67-2.18)

ICU – Intensive Care Unit; HAART – Highly Active Anti-Retroviral Therapy; AIDS –

Acquired Imunodeficiency Syndrome. Significant differences are shown as * p<0.05; †

p<0.01. Adjusted HR include adjustments for age, CD4 count, time since AIDS diagnosis,

HAART, location before ICU, and cardiovascular and respiratory dysfunctions.

Figure 1 – Kaplan-Meyer plot of survival up to 28-days (top) and 6-months (bottom) of septic

and non-septic AIDS patients admitted to ICU.

0 5 10 15 20 25

0.0

0.4

0.8

Days

Sur

viva

l

Non-septicSeptic

0 50 100 150

0.0

0.4

0.8

Days

Sur

viva

l

Non-septicSeptic

158

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo