resenha
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Resenha
Por *Ana Carolina dos Santos
O presente texto analisará de maneira breve o livro “44 Cartas do Mundo
Líquido Moderno” do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Trata-se de uma coletânea
de cartas que foram escritas entre 2008 e 2009 para a revista semanal La Repubblica
dele Donne e que depois foram reunidas tornando-se um livro.
Através dessa obra o autor analisa de forma perspicaz e atual as várias relações
existentes na sociedade, tais como, as relações sociais, individuais, amorosas, sexuais
entre outras, e fala da maneira como elas compõem o mundo pós- moderno.
Esse mundo que nós ouvimos falar nos livros de história, na televisão, nas salas
de aula, e que tantos estudiosos classificam como pós- moderno, ele denomina como
“líquido”, pois é volátil, que não se pode aprisionar e modifica-se rápido e
constantemente, onde tudo é temporário.
Bauman selecionou algumas das cartas escrita ao longo de quase dois anos e a
escolha do número “Quarenta e Quatro” como título da obra não se deu por acaso, por
isso, ele fez questão de explicar o porquê logo de início e qual era o seu significado.
Quarenta e quatro cartas do mundo líquido moderno é um livro de estrutura
diferente dos demais que conhecemos. A divisão dos capítulos na verdade se dá por
cartas, as quais podem ser lidas aleatoriamente como crônicas semanais de um jornal,
ou como livro contínuo, o fato é, que as histórias possuem ligações, mas ao mesmo
tempo são independentes e livres.
Isso desperta no leitor o desejo de descobrir o elo entre cada uma delas, e se a
seguinte aprofundará o tema da anterior, ou se apresentará uma nova visão, um novo
assunto.
O sociólogo mostra-se um bom observador ao discorrer, sobre as redes sociais
como o twetter e o facebook e a suas influências e consequências. Fala da difícil relação
entre o público e privado, da vontade e desejos. Aborda aspectos que eram considerados
extremamente íntimos, mas hoje não são, quando , por exemplo, escreve em uma das
suas cartas sobre o sexo virtual. Discursa também sobre o uso de remédios, o
consumismo desenfreado, e o que de fato estamos consumindo, procurando mostrar os
efeitos das constantes e rápidas mudanças de comportamento, que podem acarretar uma
solidão mesmo estando em meio à multidão.
De jeito claro e sucinto, porém não superficial, a leitura das duzentos e dezenove
páginas que compõe o livro evidencia como hoje se manifestam as regras de
sociabilidade e convivência, e a dificuldade de adaptação a tudo isso, já que essas regras
se transformam rapidamente não permitindo muitas vezes uma real assimilação.
Engana-se, porém, quem pensa que se trata de um mero falar teórico e
enfadonho de um sociólogo que quer dar apenas mais um parecer acerca da sociedade,
pelo contrário, ele por diversas vezes embasa seus posicionamentos fazendo paralelos,
com outros sociólogos como Max Weber, ou filósofos como Michel Foucault entre
outras referências que falam do mesmo assunto, ainda que de enfoque diferente.
Todavia isso não exige que o leitor tenha prévio conhecimento do assunto, bem como
conhecer os outros pensadores para que possa se compreender a essência de cada carta.
O livro pode ser encarado como um manifesto, uma chamada a reflexão, a
mudança de postura. Determinadas cartas tem o poder de gerar no leitor a sensação de
estar diante de um espelho que evidencia a sua realidade, a sua vida, mostrando por
vezes o sentido implícito em suas atitudes e escolhas.
Quer você seja um estudante, uma dona de casa, uma mãe solteira ou casada,
uma pessoa de sucesso, mulher ou homem (ainda que o direcionamento do livro tenha
sido o público feminino), você encontrará nessa leitura um desafio, uma nova maneira
de encarar a vida.
*Graduanda do 2º período de Direito na Universidade Federal de Juiz de fora
Referência bibliográfica
BAUMAN, Zygmunt. 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno. 1 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.