resenha guerreiro ramos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS SOCIOLOGIA BRASILEIRA Docente: Telma Alunos: Gustavo de Melo e Renata Borges Escola Sociológica do Rio de Janeiro

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Page 1: Resenha Guerreiro Ramos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

SOCIOLOGIA BRASILEIRA

Docente: Telma

Alunos: Gustavo de Melo e Renata Borges

Escola Sociológica do Rio de Janeiro

Page 2: Resenha Guerreiro Ramos

Introdução

No trabalho a seguir serão apresentadas análises de obras produzidas por

sociólogos que foram fundamentais para a sociologia do Rio de Janeiro. A partir do

texto: Guerreiro Ramos E O Desenvolvimento Nacional de Márcio Ferreira de Souza

será apresentada uma resenha destacando pontos fundamentais da produção de

Guerreiro Ramos.

A respeito do texto Uma Polêmica Esquecida: Costa Pinto, Guerreiro Ramos e

o Tema das Relações Raciais de Marcos Chor Maio, apresentaremos as

contraposições e aproximações das produções de dois notórios sociólogos baianos

Guerreiro Ramos e Luiz de Aguiar Costa Pinto.

Faremos também considerações acerca da fundação e história do Instituto

Superior de Estudos Brasileiros.

Pretendemos também destacar a história da fundação e consolidação da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostrando como deixou de ser a

Universidade do Brasil e se tornou a UFRJ.

Esse trabalho foi feito com objetivo de compreendermos parte da história da

produção sociológica feita no Rio de Janeiro desde a fundação da Universidade do Rio

de Janeiro e passando por estudos de Guerreiro Ramos que é um dos sociólogos

mais importantes do país.

Page 3: Resenha Guerreiro Ramos

1. Resenha : Guerreiro Ramos e a Crítica à Sociologia Brasileira (Márcio

Ferreira de Souza)

O autor Márcio Ferreira de Souza faz uma análise sobre os estudos de

Guerreiro Ramos acerca do desenvolvimento nacional no qual ele atribui um papel

importante dos intelectuais neste desenvolvimento.

Márcio Ferreira de Souza traz ao texto duas concepções de intelectuais que se

contrapõem: a de Sartre e a de Bobbio.

Sartre interpreta o intelectual e a sua função na sociedade e o chama de

“homem-contradição”, pois está dividido entre ciência e a política. Afirma que em

sentido técnico o “especialista do saber prático” é submisso à ideologia dominante, ao

se rebelar, torna-se um “intelectual” (Sartre, 1994). Sartre analisa os intelectuais de

forma mais objetiva.

Márcio Ferreira de Souza afirma que Sartre e Bobbio se aproximam na análise

dos intelectuais ao apontar que “o problema dos intelectuais é a relação entre os

intelectuais e o poder” (Bobbio, 1997:112). Porém, Bobbio possuía uma visão mais

ampla acerca dos intelectuais, para ele, em qualquer momento da história da

sociedade, estas possuirão e possuíram pessoas que as representassem no poder a

partir de signos e símbolos. Bobbio adota em sua análise uma visão claramente

weberiana em que há uma distinção entre a ciência e a política.

O autor traz que Guerreiro Ramos compartilha com Weber quando o mesmo

desconstrói a idéia de neutralidade cientifica e que as análises devem ser feitas livres

de juízos de valor, porém, o objetivo da ciência que é alcançar a “verdade” é

determinado a partir de juízos de valor.

Já para Mannheim (1992), os intelectuais não constituem uma classe, mas

fazem parte de uma camada social e eles fazem parte de várias classes diferentes,

sendo assim, capazes de buscar a “sínteses das ideologias” que os diversos grupos

em luta entre si estão procurando.

Sartre, Weber e Mannheim, foram fundamentais para formação intelectual de

Guerreiro Ramos, que também analisou o papel dos intelectuais frente à visão que

apresentaram da nação.

Guerreiro preocupou-se com o conceito de intelligentzia que difere o intelectual

escritor, sábio, professor, do que ele chama de intelectual verdadeiro, aquele que

Page 4: Resenha Guerreiro Ramos

inspirado pela produção e divulgação de idéias que possam colaborar “para a reforma

social ou para o processo revolucionário.”

No contexto de discussões acerca da política nacionalista, a qual Guerreiro

Ramos defendia, este autor criou a “sociologia dos intelectuais”. Que era uma visão

crítica sobre este contexto.

Guerreiro Ramos publica sua Cartilha Brasileira do Aprendiz de Sociólogo,

nesta cartilha já continham ferramentas que seriam expostas posteriormente em A

Redução Sociológica. Na obra Introdução Crítica à Sociologia Brasileira, Guerreiro

analisa a sociologia brasileira a partir de instruções que continham na Cartilha.

Em Introdução Crítica à Sociologia Brasileira, Guerreiro Ramos destaca sua

preocupação fundamental que ele tinha sobre a efetivação de uma sociologia

autenticamente brasileira.

Guerreiro critica Descartes e Durkheim, no aspecto que esses autores tinham a

idéia de que um “eu” se depara com a realidade social e histórica como se fosse

atingi-la por um pensamento livre de julgamentos de valores e pré-noções. Critica isso

porque discorda da neutralidade científica. Para Guerreiro, o sujeito e o objeto se

compenetram ou são fases do mesmo fenômeno.

Para Guerreiro Ramos, a sociologia brasileira não é capaz de ter uma

interpretação objetiva sobre a sociedade brasileira, e a sociologia se desenvolve a

partir de influências exógenas, o que trava o desenvolvimento um pensamento

cientifico autentico.

Nas obras Introdução Crítica à Sociologia Brasileira e em A Redução

Sociológica, Guerreiro Ramos discorre sobre as questões sociológicas da sociologia

produzida no Brasil. E apresenta características que apontam a falta de autenticidade

dessa produção: simetria e sincretismo, o dogmatismo, o dedutismo e a alienação.

Apresenta também que o sociólogo brasileiro muito se aproxima dos estrangeiros, que

nos olham a partir de suas realidades e contextos e a partir disso nos “interpretam”

Guerreiro define o sincretismo e a simetria como o processo em que as

orientações e as tendências surgem na mesma ordem e ritmo que surgem na Europa;

o dogmatismo como uma adoção extensiva de discursos de autoridades, utilização de

autores renomados para avaliar os fatos; o dedutismo segundo o autor: “é a abstração

da contingência histórica, é identificação presente do nosso país como presente de

países outros em fase superior do desenvolvimento ou de qualquer modo, de

Page 5: Resenha Guerreiro Ramos

formação histórica diferente da nossa (Ramos, 1992:40); a alienação o autor define

como tentativas de esforços promotores da autodeterminação de nossa sociologia.

Guerreiro Ramos define a sociologia como um método universal , como uma

ciência universal, mas afirma que essa universalidade não impede que a sociologia se

diferencie nacionalmente, porque a autenticidade é fruto de análises feitas em

circunstâncias distintas que os sociólogos se encontram.

Guerreiro classifica os intelectuais que produziram teorias sobre o Brasil antes

da sociologia ser institucionalizada e, para ele, esses intelectuais tentavam fazer uma

teorização da realidade brasileira que eram caracterizadas pelas inclinações positivas

da evolução da sociedade. Para ele, esses intelectuais eram de “famílias” de

pensadores do Brasil. E ao mesmo tempo que ele fazia essa análise crítica, Guerreiro

propunha um projeto de emancipação do Brasil. E preocupava-se em analisar a

inteligência brasileira, essa necessidade de Guerreiro, estava ligada a sua visão do

nacionalismo.

Segundo Guerreiro Ramos, os positivistas foram os primeiros que

problematizaram entre nós a “formulação de uma teoria da sociedade como

fundamento da ação política e social”. Os positivistas também atuaram através do

Partido Republicano.

É feita também uma análise a respeito dos intelectuais do período da Primeira

Guerra Mundial e Guerreiros os chama de “ideólogos da ordem e progresso.“

Guerreiro apresenta três direções sobre a teorização nacional no período de

1930 a 1937: direção acadêmico-normativa, vertente psicológica do processo social,

que o autor concorda com a idéia de “salvação da sociedade” a partir da razão;

direção indutiva que inclui autores quase sempre desprovidos de instrumentos

metodológicos, mas que conseguiram destacar alguns aspectos fundamentais dos

fatos; direção pragmático-partidária que inclui obras e documentos que expuseram as

bases do Integralismo Brasileiro e do Partido Comunista do Brasil.

Essas orientações são mais detalhadas na obra de Guerreiro chamada Três

Momentos Ideológicos, que destaca que elas constituem como uma família de

pensadores católicos e o autor denomina essa corrente com ideologia da ordem ou

integrismo.

A classificação feita por Guerreiro Ramos acerca dos três momentos

ideológicos do Brasil foi feita da seguinte maneira: Ideologia da Ordem (Integrismo):

Page 6: Resenha Guerreiro Ramos

caracterizada por princípios conservadores, compromisso com as formas temporais da

Igreja, identificação na sociedade de forças do bem e do mal, a política vista como

questão moral; Jeunesse Dorée: concepção da humanidade e da sociologia como

termos propriamente psicológicos, valorização do costume e da tradição, solução

frente às questões do mundo por meio de operações psicológicas, como: cristianismo,

primado das elites letras e melhoria do caráter nacional; Inconsciente Sociológico: não

possuíam instrumentos técnicos, sendo sociólogos sem ter consciência disso,

confusão entre condição e natureza, carência de uma teoria social orgânica,

recorrência ao psicologismo e seguidores do empirismo- indutivista.

O Integrismo representado por autores como Jackson de Figueiredo, Hamilton

Nogueira, Durval de Morais, Padre Assis Memória, entre outros. Jeunesse Dorée

representada por Alceu Amoroso Lima, Afonso Arinos e Otávio de Farias. O

Inconsciente Sociológico representado pelos autores Martins de Almeida, Virgínio

Santa Rosa, Azevedo Amaral, Oliveira Vianna, José Maria dos Santos e Caio Prado

Júnior.

Considerações Sobre o ISEB

Em julho de 1955 foi criado, oficialmente, o Instituto Superior de Estudos

Brasileiros (ISEB), por decreto legalizado pelo presidente em exercício, João Café

Filho. Porém, sua gestação iniciara em 1953, sob o governo Vargas, quando se

formou o “grupo de Itatiaia”.

O grupo de Itatiaia era formado por intelectuais do Rio de Janeiro e de São

Paulo, que se reuniam a fim de discutir os problemas nacionais, porém teve pouca

desenvoltura, pois enfrentavam conflitos ideológicos marcantes.

Cria-se em 1953 o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política

(IBESP), fundado pelos cariocas, tinha o objetivo de estabelecer uma entidade privada

especializada no estudo e planejamento de questões da realidade nacional.

Propõem-se três fases do ISEB: num primeiro momento, o Instituto se

caracterizaria por uma composição heterogênea dos seus membros. A partir do

governo Kubitschek, o ISEB se estabelece como atividade fixa e com melhores

estruturas. No ano de 1956 lança uma obra inaugural, Introdução aos Problemas

Brasileiros.

Num segundo momento, entre 1956 e 1960, a ideologia desenvolvimentista é

“hegemônica” no interior do ISEB. Esse é o momento que inicia uma crise interna na

Page 7: Resenha Guerreiro Ramos

Instituição. A evolução do ISEB em consequência de seus objetivos, de sua

composição política heterogênea, de sua estreita inserção nas lutas políticas da

sociedade brasileira nos anos 1955-1964, não esteve livre de graves conflitos internos;

o mais grave deles ocorreu em 1958 quando Hélio Jaguaribe e Ewaldo Correia Lima

(que ocupavam cargos no Instituto) abandonaram o ISEB após os ásperos debates

que se seguiram à publicação pelo ISEB do livro de Jaguaribe: O Nacionalismo na

Realidade Brasileira, no qual defendia uma posição aberta em relação ao capital e

investimentos estrangeiros. A saída dos dois foi acompanhada de outras demissões

de membros do Conselho Curador e do Conselho Consultivo do Instituto, entre os

quais, Anísio Teixeira e Roberto de Oliveira Campos. Pouco tempo depois abandonou

igualmente o Instituto Alberto Guerreiro Ramos.

O terceiro momento é marcado pela participação dos membros no movimento

político pelas “Reformas de Base”. Com o golpe de 1964 o ISEB perde o apoio do

governo e acaba extinto por um ato de Ranieri Mazzilli.

Do grande número de intelectuais que fizeram parte do ISEB, são considerados

“isebianos históricos” Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Roland Corbisier, Álvaro

Vieira Pinto, Cândido Mendes e Nélson Werneck Sodré. Do pensamento destes

intelectuais pode-se verificar a ideologia nacional-desenvolvimentista como

hegemônica, mas, apesar desta característica, receberá tratamentos e compreensões

que ora se identificam, ora se contrapõem.

Cap. 4 – A Redução Sociológica e o Desenvolvimento Nacional

Fundamentos da Redução Sociológica

A redução sociológica é uma contribuição do próprio Guerreiro Ramos para a

ideologia do desenvolvimento nacional. Sua proposta é normativa, com intuito de

aplicar o pensamento sociológico à resolução de problemas sociais. Para Guerreiro,

ser um sociólogo não é apenas conhecer a literatura sociológica, este não passa de

um “alfabetizado em sociologia”. O sociólogo de verdade, deve buscar na sociologia

soluções e estudos das questões sociais e nacionais.

A sociologia não pode ser uma ciência elitista, mas sim uma ferramenta para

lapidar e transformar a sociedade. O povo brasileiro está vivendo uma nova etapa no

seu processo histórico, esta etapa determinará os fatores para a formação da

consciência crítica no Brasil.

Page 8: Resenha Guerreiro Ramos

A “redução sociológica” é definida por Guerreio Ramos como:“ atitude

metodológica que tem por fim descobrir os pressupostos referenciais, de natureza

histórica dos objetos e fatos da realidade social”.

O sociólogo entra em sintonia com o contexto e propostas dos anos 50,

refletindo uma conexão entre a sociologia e a implementação do Estado de bem-estar,

o que vai garantir um sucesso da disciplina nessa década.

Guerreiro atribui à redução sociológica três sentidos em sua aplicação:

- redução tratada como “método de assimilação crítica da produção sociológica

brasileira” : Neste sentido o autor se preocupa com os rumos da sociologia no Brasil,

abordando a questão da colonização e as consequências que esta visão do mundo

acarretou no campo ideológico, social, político e cultural. Deve-se superar a visão

colonialista e criar uma nova consciência crítica a respeito da nova realidade.

- redução como atitude parentética: é aquela capaz de transcender a organização,

defender o indivíduo contra a alienação e rotinização. Busca fazer dele um ser livre e

autônomo.

- o terceiro sentido estabelece a redução como superação da sociologia nos termos

institucionais e universitários.

No texto apresentam-se as principais influências do pensamento de Guerreiro

Ramos, demonstrando o conhecimento do sociólogo e as bases para suas

elaborações. Vários outros autores são citados, Mannheim Husserl, Marx, Hans Freyer

e etc. Sendo o último, considerado a maior influência de todas. Guerreiro atesta que,

para assumir a atitude sociológica científica, não basta a informação e o conhecimento

das idéias e dos sistemas. O sociólogo será aquele que praticar a redução sociológica.

Após estabelecer os antecedentes filosóficos e sociológicos da redução

sociológica, Guerreiro prossegue formulando as quatro leis da redução:

A lei do comprometimento

A lei do comprometimento procura incitar o conhecimento do social aos

objetivos derivados da cultura nacional. A sociologia engajada de Guerreiro Ramos

exige que nos países periféricos, a idéia e a prática da redução sociológica somente

podem ocorrer ao cientista social que tenha adotado sistematicamente uma posição

de engajamento ou de compromisso consciente com o seu contexto. A posição

engajada corresponde ao fato de que cabe à redução sociológica a busca dos

Page 9: Resenha Guerreiro Ramos

significados existenciais da comunidade. Esta concepção dista de um endosso

entusiástico das heranças históricas ou dos traços exóticos da cultura.

A lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira

O conhecimento estrangeiro é fundamental para o avanço universal da ciência

e para a interpretação crítica que as sociedades podem fazer sobre si mesmas. A

utilização de produção científica estrangeira é fundamental para a elaboração teórica,

de acordo com Guerreiro Ramos, mas ela deve ser condicionada por fatores

particulares da sociedade em que vive.

A lei da universalidade dos enunciados gerais da ciência

A redução sociológica só admite a universalidade da ciência tão somente no

domínio dos enunciados gerais. A ciência não deve ser feita imbuída de jacobinismo,

deve representar a conquista do esforço universal dos cientistas. Uma sociologia

nacional não postula que a sociologia varie de nação para nação, mas que o contexto

e a cultura nos quais o conhecimento social é construído importam. O que explica o

insucesso de uma sociologia nacional no Brasil, segundo Guerreiro Ramos, é a

situação colonial. A situação colonial postula que o Brasil viveria uma essência

alienada, em que a mentalidade dos analistas seria condicionada por fatores

exclusivamente externos.

A lei das fases

A razão dos problemas de uma sociedade particular é sempre dada pela fase

em que tal sociedade se encontra. Existe uma razão histórica que conforma e

estabelece as fases em que os problemas relativos à sociedade se configuram. A idéia

de fase não corresponde à existência de um pensamento linear em termos de causa e

efeito, mas à compreensão de momentos históricos que formam os problemas centrais

com os quais as sociedades se debatem.

O Debate com Florestan Fernandes e as Réplicas às Críticas à Redução Sociológica

O pensamento social brasileiro tem dois nomes de destaque, Florestan

Fernandes e Guerreiro Ramos, são responsáveis pelo novo direcionamento que vai

seguir o pensamento social brasileiro.

Page 10: Resenha Guerreiro Ramos

Florestan sempre pregou a defesa de uma sociologia institucional, da qual a

USP era a grande defensora, e, por outro lado, existia uma sociologia com base no

engajamento político, defendida por Guerreiro Ramos.

O debate travado entre os dois é referente principalmente, ao paradigma

sociológico, ao modo de se fazer sociologia no Brasil. O embate se dá em relação a

questões epistemológicas e também politico-ideológicas. Os dois divergiram em vários

aspectos, dentre os quais se destacam: a visão da sociologia enquanto ciência, a

função da disciplina e o papel de seus articuladores enquanto membros

comprometidos com a nação.

O valor das ciências sociais em Florestan está na sua organização institucional.

Neste ponto, defende a posição de que ciência é realizada dentro da academia e por

acadêmicos. Guerreiro discordava desta institucionalização e afirmava que a

academia não garante a qualidade dos trabalhos.

Florestan parte do universal para o particular, defendendo o comprometimento

com os padrões e procedimentos universais da ciência. Guerreiro defende que, se a

temática é particular, a partir do particular pode se chegar ao universal.

2. Considerações sobre as produções sociológicas de Guerreiro Ramos e Luiz

de Aguiar Costa Pinto

A partir do texto Uma Polêmica Esquecida: Costa Pinto, Guerreiro Ramos e o

Tema das relações Raciais de Marcos Chor Maio, pretendo discorrer a respeito da

produção sociológica do Rio de Janeiro.

Alberto Guerreiro Ramos nasceu na Bahia em 1925, era de família pobre,

mulato, morou em várias cidades pobres da Bahia, deu aulas particulares enquanto

cursava o ensino secundário para ajudar na renda familiar. Luiz de Aguiar Costa Pinto

possuía uma situação diferente. Era filho de um médico bem sucedido, neto de um

Senador da Republica, era o típico integrante da elite branca baiana. Ambos foram

para o Rio de Janeiro fazer faculdade e suas trajetórias se cruzaram no processo de

suas produções acerca da realidade brasileira.

Guerreiro Ramos era amigo de Afrânio Coutinho e trabalhou para Isaías Alves,

que era político e intelectual que possuía muita influência no campo da educação.

Guerreiro atuou como militante do movimento integralista e depois do Centro de

Cultura Católico e em 1942 foi retirado das duas cadeiras que ocupava na

Universidade do Brasil, tanto a de sociologia quanto a de ciência política. Ele alegava

que foi retirado por conta desse passado militante. Ao sair da carreira universitária,

assumiu o cargo administrativo do Departamento de Administração do Serviço Público.

Page 11: Resenha Guerreiro Ramos

Com a volta de Getúlio ao poder, foi convidado para trabalhar na acessória econômica

do gabinete civil da Presidência da República. Esse cargo foi fundamental para

Guerreiro compreender a realidade brasileira.

Costa Pinto ao terminar o seu curso na Faculdade Nacional de Filosofia e foi

convidado para auxiliar o professor Jacques Lambert, e a partir da influência dele,

publicou dois livros: Problèmes Démographiques Contemporains (Lambert e Costa

Pinto, 1944) e Lutas de Famílias no Brasil (Costa Pinto, 1949b). Em 1946 assumiu o

cargo de professor na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade

do Brasil.

A visibilidade internacional de Costa Pinto veio, quando a ONU, através da

UNESCO, desenvolveu um projeto de combate ao racismo no ano de 1950. Na 5ª

Conferência Geral da UNESCO, Costa Pinto divulgou seus questionamentos a

respeito da validade do conceito de raça e declarou que não acreditava que a

discriminação e as questões raciais não eram independentes e sim frutos de um

processo de dominação das sociedades de classe e com o poder imperialista. Esta

declaração tornou Costa Pinto internacionalmente notado. Em 1950 foi convidado por

Anísio Teixeira e Charles Wagley para participar do Projeto Columbia University/

Estado da Bahia, proposto por Anísio Teixeira que era secretário de Educação e

Saúde. Em agosto de 1950, junto com outros sociólogos e antropólogos, participou

dos debates do 1º Congresso do Negro Brasileiro, evento organizado pelo Teatro

Experimental do Negro (Nascimento, 1982). Em abril de 1951, fez parte do projeto

sobre relações raciais no Brasil patrocinado pela UNESCO.

Essas participações do Brasil em projetos a respeito da questão racial, as

interpretações feitas por brasileiros e estrangeiros a respeito da realidade dos negros

no país, forjaram uma “democracia racial” e reproduziram o Brasil como um país capaz

de dar uma “lição” aos outros com relação à civilização. E com contatos estabelecidos

a partir da UNESCO, Costa Pinto teve o auxilio do antropólogo Édison Carneiro para

realizar as pesquisas no Rio de Janeiro. Posteriormente Costa Pinto lançou o livro O

Negro no Rio de Janeiro: Relações de Raça numa Sociedade em Mudança.

As primeiras interpretações feitas por Alberto Guerreiro Ramos a respeito das

questões raciais foram fortemente influenciadas pela sociologia americana e

principalmente a de Donald Pierson. Nessa aproximação com a sociologia americana,

Guerreiro Ramos começou a interpretar que as questões raciais tinham mais origem

com as questões econômica e cultural. Guerreiro viveu em constante conflito entre o

seu lado acadêmico e o seu lado de funcionário administrativo.

Page 12: Resenha Guerreiro Ramos

O sociólogo se engajou politicamente no Teatro Experimental do Negro (TEN),

liderado por Abdias Nascimento, que visionava resgatar as discussões sobre os

negros em outro patamar da que existia na década de 30.

De 1940 a 1950, o TEN viveu uma ambigüidade ideológica. Por um lado, em

alguns momentos, sua liderança política defendia a igualdade dos negros, os direitos à

cidadania plena. Em outros momentos concordava com a idéia de incapacidade

temporária dos negros e que por isto eles deviam seguir os caminhos determinados

pelas classes “superiores”.

Guerreiro Ramos teve forte influência do catolicismo e participou da Ação

Integralista Brasileira, assim como Abdias Nascimento. Ramos começou sua militância

depois de j[á estar estabelecido profissionalmente e afirmava que o problema dos

negros devia ser analisado a partir de diferenças regionais e de classe, e de um forte

ressentimento dos negros de classes inferiores com relação aos de classe superior e

eu disto havia uma “psicologia diferencial do negro brasileiro.”. Afirmava também que a

preocupação dos negros já não estava na valorização das “sobrevivências africanas” e

sim na ascensão sócio/cultural.

O autor afirmava que a solução para os negros era transformar as lutas de

classe em um processo de cooperação. Esse tipo de pensamento se relaciona a

quando ele era militante católico, parte do Partido Integralista.

Em 1949, guerreiro se tornou diretor do Instituto Nacional do Negro, órgão do

TEN que se dedicava a pesquisas sociologias, para ampliar as atividades do

movimento negro, dando foco aos aspectos pedagógicos e culturais. Para Guerreiro

Ramos, o melhor caminho para os negros era conciliar com a idéia integracionista

para conseguirem alcançar o status de classe média e superior. Essa seria para o

autor a formação de uma “elite negra”

“O TEN, segundo ele, deveria transformar-se em uma elite política e intelectual

negra que tivesse por missão superar o descompasso existente entre a simbólica

condição de cidadão livre adquirida pelo negro após a Abolição e sua adversa situação

econômica e sociocultural, ainda presente sessenta anos depois. A solução seria uma

pedagogia da cidadania que, além de socializar os negros nas novas condições

geradas pela Abolição, alterasse a estrutura de dominação da sociedade brasileira

(Guerreiro Ramos, 1953b, p. 2).

Para eliminar esse suposto perigo, o TEN formaria uma intelligentzia com o

objetivo de "ganhar a confiança dos poderosos desta terra. Que eles reconheçam em

Page 13: Resenha Guerreiro Ramos

nosso movimento uma expressão de elite, um princípio de equilíbrio e de harmonia

social" (Guerreiro Ramos, 1950e, p. 50).” (Marcos Chor Maio, 1997, p. 13)

O conceito de intelligentzia difere o intelectual escritor, sábio, daquele que se

inspira e divulga idéias que possam colaborar “para a reforma social ou para o

processo revolucionário”. Para Guerreiro, a intelligentsia negra devia fazer com que

essa ascensão social ocorresse e sem conflitos da “massa negra.”

Para ele, o Brasil era o único país que podia dar uma solução adequada à

questão racial. Ele afirmava que os negros brasileiros gozavam da democracia racial e

n ao só plenamente por conta da desigualdade de distribuição de bens econômicos e

culturais.

Guerreiro apontava que a democratização racial viria a partir de uma

articulação da intelligentzia negra com a elite branca.

Propunha que os negros assimilassem as religiões das elites brancas, pois a

preservação das suas eram sinal de atraso, e ao espírito do capitalismo, pois essa

assimilação aproximaria os negros com os brancos. Para ele, esta era a maneira de

construir uma identidade nacional.

Luiz de Aguiar Costa Pinto no seu livro O Negro no Rio de Janeiro: Relações

de Raça numa Sociedade em Mudança, critica a concepção de que o negro está

vinculado ao cenário tradicional de relações raciais de base agrária. Denuncia e

chama de mito a democracia racial brasileira. O autor também diferencia os padrões

brasileiros e americanos das relações e afirma que elas são “de grau e não de

espécie. Costa Pinto faz a crítica também de que os estudos estão direcionados às

“sobrevivências africanas.”

Costa Pinto defende que cabe serem estudadas as relações e os conflitos

étnicos a partir das estruturas dos quais estão envolvidos. Para o autor, a sociedade

está acomodada e com isso não se incomoda com os conflitos e acaba tornando-os

mascarados e a partir disso cria-se a falsa idéia de que não há preconceito racial no

Brasil.

O autor aponta indicadores demográficos, ecológicos e educacionais a respeito

das desigualdades. Discute sobre os estereótipos que os negros sofrem e

posteriormente discorre sobre os movimentos sociais negros.

Costa Pinto fala da migração interna do país e observa o caráter limitado da

mobilidade social, já que a migração traz e quase implica proletarização. Observa que

os negros que chegam às cidades (no caso o Rio de Janeiro) passam a desejar as

coisas que a classe trabalhadora deseja. Observa também que nas áreas proletárias,

existem muito mais negros e mulatos do que brancos. Costa Pinto exemplifica isso

usando as favelas como segregação étnica.

Page 14: Resenha Guerreiro Ramos

O sistema educacional é analisado como reflexo das desigualdades. E observa

também que a elite branca estimula a educação para os negros de uma forma

controversa: elogia a educação como forma de ascensão social, mas a vê como uma

ameaça diante da possibilidade da criação de uma elite negra que ambicione as

mesmas posições que os brancos ocupam.

Mas um ponto também analisado por Costa Pinto é que as elites negras

querem ascender como negras, e não mais se embranquecerem. Porém, Costa Pinto

critica que a “elite negra” não consegue diferenciar a aparência étnica da consciência

de classe.

Na obra o autor discorre sobre o Teatro Experimental do Negro e o define “a

mais legítima expressão ideológica da pequena burguesia intelectualizada e

pigmentada no Rio de Janeiro e, por sem dúvida, no país" (Costa Pinto, 1953, p. 278).

O autor também fala sobre a conscientização do “negro-massa”, o que não é

parte da elite negra, e define que ele é o ator fundamental na reforma social em

caráter universal, quando conseguisse identificar a sua posição na história.

Guerreiro Ramos e Costa Pinto concordam ao fazer a crítica sobre a produção

etnográfica sobre as “sobrevivências africanas”, sobre a visão do racismo como

indicador da permanência do atraso e concordam também a respeito da preocupação

com a integração do negro à sociedade capitalista em via de desenvolvimento. Ambos

foram influenciados em suas analises pelo contexto internacional e compararam o

Brasil e os Estados Unidos nos aspectos étnicos. Porém, ambos se diferenciam em

vários aspectos.

Costa Pinto criticava enfaticamente o que chamava de “mito da democracia

racial” e diferenciava o racismo do Brasil com o dos Estados Unidos no sentido da

intensidade que ocorria nos dois países.

Já Guerreiro Ramos acreditava que existia uma cultura democrático-racial no

Brasil e que esta devia ser aprimorada com a concorrência de uma intelligentsia negra.

O sociólogo acredita nisso mesmo assumindo que existe racismo no país. Guerreiro

Ramos diferenciava o racismo do Brasil com o dos Estados Unidos de forma

qualitativa. Os dois autores também discordavam a respeito da superação do racismo.

Costa Pinto afirmava que o racismo seria superado a partir do proletariado

negro que se inseriria no capitalismo e a partir disso atuaria em reformas estruturais

na sociedade. Porém, este autor não mostrou em suas análises como os operários se

moviam em prol desta mudança.

Sobre a sociologia produzida por Guerreiro Ramos é importante a influência da

psicologia social em suas análises, visionando a valorização positiva da identidade

negra em face da persistência da inferioridade social dos negros.

Page 15: Resenha Guerreiro Ramos

Outro aspecto importante de natureza integracionista, foi o questionamento

feito pelo sociólogo: como integrar plenamente o negro ao mundo da cidadania? Pois

Guerreiro Ramos não considerava que a abolição tinha garantido isso aos negros.

Considerava que isso ainda aconteceria e que cabia à elite negra induzir a “massa

negra” a lutar por direitos sociais e sensibilizar a classe dominante branca diante

dessas necessidades.

3. A Universidade do Rio de Janeiro

A Universidade do Rio de Janeiro (URJ) foi criada no dia 7 de setembro de

1920 através do decreto 14.343. Foi a primeira universidade do país. Até então, o

ensino superior era proibido por lei e as famílias enviavam seus filhos para

universidades européias.

A universidade se deu a partir da reunião de três escolas que foram criadas

após a vinda da Família Real e da Corte Portuguesa para o Brasil: a Escola de

Engenharia, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Medicina. Isto não implicou na

troca de conhecimentos entre as áreas, isso se deu posteriormente a partir de um

“sentimento universitário”.

A URJ em 5 de julho de 1937 se tornou a Universidade do Brasil (UB) por

causa de uma reorganização da Lei nº 452. A partir dessa mudança foram

incorporadas unidades e institutos nas áreas de Química, Filosofia, Ciência e Letras,

Metalurgia, Música, incorporou-se também o Museu Nacional e o Instituo Oswaldo

Cruz.

A Universidade do Brasil foi criada para servir de modelo para as instituições já

existentes e as que viriam a existir. E nenhum curso poderia existir no país se não

existisse na UB. Os processos de seleção para os alunos eram bastante rigorosos,

pois, tinham como objetivo obter somente os melhores estudantes do país. Ou seja,

era uma instituição bastante elitista.

Com as mudanças sociais, econômicas e politicas que ocorreram na década de

60, o movimento estudantil fez muita pressão para uma reforma no ensino superior no

Brasil. Em 1965, já na ditadura os nomes das instituições universitárias foram

padronizados. E em 20 de agosto do mesmo ano, foi sancionado na Lei nº 4.759 que

as Escolas Técnicas Federais da União seriam, então, classificadas como “federais”.

Com isso UB foi reorganizada e transformada na Universidade do Rio de Janeiro

(UFRJ), estruturada pelos: Centro de Ciências da Saúde (CCS), Centro de Letras e

Page 16: Resenha Guerreiro Ramos

Artes (CLA), Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Centro de Ciências da

Matemática e da Natureza (CCMN), Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas

(CCJE) e Centro de Tecnologia (CT).

4. História do ISEB

Em julho de 1955 foi criado, oficialmente, o Instituto Superior de Estudos

Brasileiros (ISEB), pelo Decreto nº 37.608, legalizado pelo presidente em exercício,

João Café Filho. Porém, sua gestação iniciara em 1953, sob o governo Vargas,

quando se formou o “grupo de Itatiaia”.

O grupo de Itatiaia era formado por intelectuais do Rio de Janeiro e de São

Paulo, que se reuniam a fim de discutir os problemas nacionais, porém teve pouca

desenvoltura, pois enfrentavam conflitos ideológicos marcantes. Em 1953, cria-se por

este grupo o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP), tinha o

objetivo de estabelecer uma entidade privada especializada no estudo e planejamento

de questões da realidade nacional. A atuação do IBESP consistia em ministrar cursos

sobre realidade brasileira no auditório do Ministério da Educação e Cultura. O IBESP

contava com o apoio de Anísio Teixeira e tinha como sede o escritório de advocacia

de Hélio Jaguaribe e Reinaldo Reis, localizado na rua do Ouvidor, cidade do Rio de

Janeiro.

Em 1955, o mesmo grupo de intelectuais do IBESP, a partir do convênio

firmado com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, teve a

idéia de criação de um centro de estudos, tendo por modelo o francês Collège de

France e o latino-americano Colégio de México, assim o ISEB foi finalmente criado em

1955.

Criado ainda no governo Café Filho, o ISEB iniciou suas atividades quando

Juscelino Kubitschek assumia a presidência da República e quando o país acelerava a

sua industrialização, com a ampliação dos investimentos privados nacionais e

estrangeiros, além do investimento estatal. Os intelectuais do ISEB apoiaram a política

de desenvolvimento, por considerá-la muito próxima das idéias que vinham

formulando. O atual presidente prestigiou o ISEB, definindo-o como um centro de

cultura, estudos e pesquisa, que se diferenciava dos demais órgãos universitários por

estar voltado para o estudo dos problemas brasileiros.

Page 17: Resenha Guerreiro Ramos

Como incentivador de uma ciência nacional e elaborador e difusor de

ideologias, o ISEB permitia que a produção científica e a produção ideológica não

fossem vistas como atividades antagônicas para se tornarem complementares, e era

na política de planejamento que se encontrava a síntese desses dois propósitos

aparentemente díspares.

Para esses intelectuais, o Brasil só poderia ultrapassar a sua fase de

subdesenvolvimento pela intensificação da industrialização. A política de

desenvolvimento deveria ser uma política nacionalista, a única capaz de levar à

emancipação e à plena soberania. Sua implementação introduziria mudanças no

sistema político, determinando a substituição das antigas elites dirigentes do país. Em

um país de economia desenvolvida, a nova liderança política deveria ser representada

pela burguesia industrial nacional, que teria o apoio do proletariado, dos grupos

técnicos e administrativos. Em oposição a esses grupos estavam os interesses ligados

à economia de exportação de bens primários. O investimento de capitais e de técnica

estrangeiros era considerado obstáculo ao desenvolvimento industrial nacional, já que

o capital estrangeiro era visto como interessado não nos setores industriais, e sim nos

setores extrativos e de serviços.

A partir da identificação de dois grupos defensores de interesses divergentes, o

ISEB propunha a formação de uma "frente única" integrada pela burguesia industrial e

seus aliados para lutar contra a burguesia latifundiária mercantil e o imperialismo. A

luta seria travada, em suma, entre nacionalistas e "entreguistas”.

Propõem-se três fases do ISEB: num primeiro momento, o Instituto se

caracterizaria por uma composição heterogênea dos seus membros. A partir do

governo Kubitschek, o ISEB se estabelece como atividade fixa e com melhores

estruturas. No ano de 1956 lança uma obra inaugural, Introdução aos Problemas

Brasileiros.

Num segundo momento, entre 1956 e 1960, a ideologia desenvolvimentista é

“hegemônica” no interior do ISEB. Esse é o momento que inicia uma crise interna na

Instituição. A evolução do ISEB em consequência de seus objetivos, de sua

composição política heterogênea, de sua estreita inserção nas lutas políticas da

sociedade brasileira nos anos 1955-1964, não esteve livre de graves conflitos internos

o mais grave deles ocorreu em 1958 quando Hélio Jaguaribe e Ewaldo Correia Lima

(que ocupavam cargos no Instituto) abandonaram o ISEB após os ásperos debates

que se seguiram à publicação pelo ISEB do livro de Jaguaribe: O Nacionalismo na

Page 18: Resenha Guerreiro Ramos

Realidade Brasileira, no qual defendia uma posição aberta em relação ao capital e

investimentos estrangeiros. A saída dos dois foi acompanhada de outras demissões

de membros do Conselho Curador e do Conselho Consultivo do Instituto, entre os

quais, Anísio Teixeira e Roberto de Oliveira Campos. Pouco tempo depois abandonou

igualmente o Instituto Alberto Guerreiro Ramos.

O terceiro momento é marcado pela participação dos membros no movimento

político pelas “Reformas de Base”. Com o golpe de 1964 o ISEB perde o apoio do

governo e acaba extinto por um ato de Ranieri Mazzilli.

Do grande número de intelectuais que fizeram parte do ISEB, são considerados

“isebianos históricos” Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Roland Corbisier, Álvaro

Vieira Pinto, Cândido Mendes e Nélson Werneck Sodré. Do pensamento destes

intelectuais pode-se verificar a ideologia nacional-desenvolvimentista como

hegemônica, mas, apesar desta característica, receberá tratamentos e compreensões

que ora se identificam, ora se contrapõem.

O ISEB não conseguiu sensibilizar os grupos mais representativos das ciências

sociais no Brasil. Os cientistas sociais da Universidade de São Paulo e da

Universidade do Brasil (atual UFRJ) não atribuíram aos intelectuais do ISEB

legitimidade para exercer o papel de analistas e formuladores de soluções para a

sociedade, por os considerarem carentes de formação científica em sociologia, ciência

política, economia, história e antropologia. Os "isebianos" eram percebidos como

intelectuais de formação jurídica, bacharelesca, desprovidos de instrumentos teóricos

e metodológicos indispensáveis para o exame científico da sociedade. De fato, a

maioria dos integrantes do ISEB era de advogados com interesses intelectuais

voltados basicamente para a filosofia. A desconfiança em relação ao ISEB se

manifestou também por parte de alguns jornais e associações empresariais, que

identificavam os intelectuais do órgão como ligados aos movimentos de esquerda e

aos comunistas.

A luta interna estava ligada a uma tentativa de ajustamento entre a proposta de

desenvolvimento do ISEB e a política que estava sendo implementada pelo governo.

Para alguns, o ISEB deveria aceitar a maior participação do capital estrangeiro no

desenvolvimento, tal como estava definida na proposta do governo. Outros, ao

contrário, acreditavam que era preciso radicalizar a posição nacionalista. O grupo mais

nacionalista conseguiu impor as suas posições. Passada a crise, o ISEB deu uma

nova orientação às suas atividades e ampliou seus cursos, até então dirigidos

Page 19: Resenha Guerreiro Ramos

principalmente a alunos indicados por órgãos do serviço público. A idéia, agora, era

atingir um público mais amplo, formado por estudantes e membros de sindicatos e de

grupos já identificados com a ideologia nacionalista. Nessa fase, o ISEB dedicou-se à

mobilização política, aliando-se a outros grupos nacionalistas e assumindo uma

posição mais agressiva em defesa do controle dos lucros das empresas estrangeiras,

da melhor distribuição de renda, da extensão dos benefícios do desenvolvimento a

todas as regiões do país e da transformação da estrutura agrária.

Três dias após o Golpe militar de 31 de março de 1964, foi decretada a

extinção do ISEB e, em seguida, instaurado um inquérito policial-militar (IPM) para

apurar suas atividades. Diretores e professores do Instituto foram investigados.

5. Base metodológica utilizada

Pode-se afirmar que Guerreiro Ramos teve como pilar três referências

fundamentais: Teoria Crítica, Existencialismo e a Fenomenologia.

A Atitude metódica utilizada para a elaboração e aplicação da redução

sociológica consiste nos seguintes elementos: Realidade com pressuposto, Noção de

mundo, Perspectivismo, Suportes coletivos, Procedimento crítico-assimilativo da

experiência estrangeira, Atitude altamente elaborada.

São também elaboradas leis da redução sociológica:

Lei do comprometimento

Lei do caráter subsidiário da produção científica estrangeira

Lei da universalidade dos enunciados gerais da ciência

Lei das fases

Guerreiro Ramos aponta algum dos pontos críticos da sociologia brasileira:

Simetria e sincretismo

Dogmatismo

Dedutivismo

Alienação

Inautenticidade

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Conclusão

A partir deste trabalho e de todas as etapas de seu desenvolvimento, podemos

aprender um pouco mais sobre a sociologia brasileira e sua marcante evolução. A

atividade contribuiu para o enriquecimento do intelecto de todos os participantes, pois

pouco se aborda a respeito dessa temática no ambiente acadêmico.

A sociologia é uma ciência muito complexa, e para a realidade brasileira ela

tem suas particularidades. Mesmo vindo a aparecer como método sistemático

cientifico no Brasil somente na década de 30, o pensamento sociológico sempre

existiu, tanto nas idéias abolicionistas como nas republicana. O estudo da

particularidade da sociedade brasileira sempre foi meta de estudo dos sociólogos, pois

o Brasil é um caso a parte a ser estudado pela sociologia.

Somente a partir deste estudo foi possível analisar cada etapa do

desenvolvimento da ciência na mente de seus intelectuais e também como era

repassado no ambiente acadêmico. As duas grandes escolas, São Paulo e Rio de

Janeiro, são os dois modelos da sociologia nacional e de como se deu todo o

processo até os dias de hoje.

O Rio de Janeiro foi palco de uma evolução intelectual importante para todo o

país. Os grandes sociólogos formados por esta escola buscaram mais que a reflexão,

acreditava-se que sociologia se faz aplicando o conhecimento à resolução dos

problemas e conflitos sociais nacionais. A sociologia não era apenas uma ciência

institucionalizada, tinha seu engajamento político e assim foi transformando a história

da sociedade brasileira.

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Bibliografia

Artigo Scielo: “Uma Polêmica Esquecida: Costa Pinto, Guerreiro Ramos e o Tema das Relações Raciais” – Marcos Chor, Maio Dados vol. 40 no. 1 Rio de Janeiro 1997

O ISEB e a construção de Brasília: correspondências míticas – Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?

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Desenvolvimentismo e pragmatismo: o ideário do MEC nos anos 1950 –

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-

15742006000300010&lng=pt&nrm=iso

História da UFRJ – Disponível em: http://www.sibi.ufrj.br/ufrj_historia.html

Artigo FGV: “Consciência crítica com ciência idealista: paradoxos da redução sociológica na fenomenologia de Guerreiro Ramos” - José Henrique de Faria

Souza, Márcio Ferreira de, 1968 – Guerreiro Ramos e o Desenvolvimento Nacional: a

Construção de Um Projeto Para a Nação – Belo Horizonte, MG: Argvmentvm, 2009.